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DOMESTICAÇÃO, TÉCNICA E PAISAGEM AGRÁRIA NA PECUÁRIA TRADICIONAL DA CAMPANHA RIO-GRANDENSE (SÉCULO XIX) 63
DOMESTICAÇÃO, TÉCNICA E PAISAGEM AGRÁRIA NA PECUÁRIA TRADICIONAL DA CAMPANHA RIO-
GRANDENSE (SÉCULO XIX)
Luís Augusto Ebling Farinatti Prof. Departamento de História da UFSM
Doutor em História Social pela UFRJ [email protected]
Introdução
A paisagem agrária da Campanha rio-grandense exibe as marcas de importantes transformações ocorridas,
principalmente, a partir das décadas finais do século XIX.2 Foi somente depois daquela época que se agregaram elementos
2 No tocante às obras de pesquisa histórica, o termo “Campanha”, para designar uma área específica do território sul-riograndense, vem sendo empregado de forma variada. Dependendo do autor, esse termo pode abarcar grande parte da fronteira-oeste, desde São Borja até Jaguarão, ou mesmo indicar toda a parcela meridional do Rio Grande do Sul, englobando as áreas ao sul dos rios Ibicuí (a oeste) e Jacuí (a leste). O mais comum, porém, tem sido designar por “Campanha” as regiões próximas à fronteira do Brasil com o Uruguai, em uma faixa que, partindo da linha de fronteira, alarga-se para o interior do Rio Grande do Sul. É assim que o utilizamos aqui. Uma síntese das diversas configurações da área da Campanha, segundo critérios diferenciados, encontra-se em Costa (1988).
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como as cercas de arame, o verde-claro dos arrozais, os bosques de árvores exógenas (como o onipresente eucalipto),
açudes, banheiros sanitários, pastagens artificiais, refinamento de raças animais e melhoramento genético.
A importância dessas transformações tendem a dar a impressão de que os períodos anteriores foram de estagnação e
de uma economia quase natural, que pouco ou nada teria produzido do ponto de vista técnico e que também não haveria
interferido de modo significativo no ambiente. Contudo, trabalhos recentes tem demonstrado uma realidade muito diversa.
Neste artigo, pretendemos investigar o mundo da pecuária tradicional praticada na Campanha Riograndense durante a maior
parte do século XIX, com ênfase em seu repertório técnico e em sua lógica produtiva. Realizamos, também, reflexões
introdutórias sobre as relações entre aquela economia e o ambiente. Temos consciência de que estudos que trilhem
especificamente a seara da história ambiental exigiriam muito mais pesquisa e seguem sendo uma necessidade para a região
analisada aqui. Iniciaremos por uma rápida retomada do sistema agrário que lhe precedeu a criação de gado luso-brasileira
tradicional: a pecuária praticada pelos guaranis dos povos missioneiros, durante o século XVIII.
O contexto pastoril-missioneiro
No século XVIII, a área que, na centúria seguinte, viria a ser a Campanha Rio-grandense, estava incluída em uma
vasta região que pertencia à jurisdição reivindicada pelos 30 Povos das missões jesuítico-guaranis. Esses 30 povos
estendiam-se pelas margens dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai. Nas áreas a leste deste último rio ficavam, ao norte do rio
Ibicuí, os Sete Povos Orientais e, ao sul, onde hoje se localiza a Campanha Rio-grandense, estavam situadas as estâncias
pecuárias pertencentes aos Povos. Além de abrigar essas estâncias, aquela região continuava a ser palmilhada por grupos
indígenas charruas e minuanos, refratários à cristianização e que sobreviviam hora fazendo aliança, hora entrando em
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conflito com as diferentes frentes coloniais. Por fim, consistia em uma imensa zona de fronteira, que sofria pressões de
frentes colonizadoras que vinham do leste (portuguesa) e sul (espanhola).
Em um texto recente e bastante sugestivo, a historiadora uruguaia María Inés Moraes (2006 e 2008) propôs uma
releitura da ocupação e da construção de paisagens agrárias, nos séculos XVII e XVIII, na região localizada entre as áreas de
colonização portuguesa (a leste) e os rios Ibicuí (ao norte), Uruguai (a oeste) e Negro (ao sul). Moraes problematiza a
corrente majoritária na historiografia uruguaia, que tende a ver a ocupação colonial ao norte dos rios Negro e Yí como tardia.
Ao contrário, a autora propõe um redimensionamento da importância das atividades tanto dos guaranis missioneiros, quanto
dos demais indígenas e dos diversos súditos das coroas ibéricas que exerciam papéis sociais e econômicos diversificados
naquela área. Eles levavam adiante formas de produção pecuária diversas das desenvolvidas nas zonas “atlânticas”, como
as do entorno de Montevidéu, por exemplo.3
Segundo Moraes (2008), a “paisagem pastoril-missioneira” era parte de uma economia missioneira formada por um
conjunto que englobava a exploração de recursos florestais, agrícolas e pecuários. Desenvolveu-se para resolver os
problemas de abastecimento de uma população missioneira em expansão. Para tanto, os missioneiros empregaram técnicas
diversas. As “vacarias” eram expedições que podiam ter objetivos variados. Algumas delas destinavam-se a arrear gado e
colocá-lo em áreas onde estivessem menos sujeitas à exploração de agentes concorrentes. Outras, tinham por objetivo a
faina do couro, tendo ocorrido principalmente após a expulsão dos jesuítas (1768), quando os Povos estavam sob
3 Outras obras tem apresentado esse cuidado metodológico existente na obra de Moraes, procurando estudar as Missões respeitando sua
historicidade e fora de marcos anacrônicos dos Estados Nacionais que só viriam a surgir depois. Entre outros: MAEDER e BOLSI (1982), WILDE
(2001), PANIÁGUA (2003), NEUMANN (2004), MORAES (2006 E 2008), GARCIA (2007).
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administração civil e os mercados atlânticos de couro haviam se expandido fortemente. Por fim e talvez mais importante aqui:
havia vacarias que serviam especificamente para arrebanhar animais bravios e levá-los para serem costeado nas estâncias
dos Povos, a fim de que pudessem abastecer de carne a população missioneira (MORAES, 2008, p. 32).
Este último tipo de vacarias ligava-se diretamente à constituição de estâncias pelos Povos Missioneiros. Essas
estâncias consistiam em imensas áreas que eram colocadas sob o controle de um povo específico, destacando-se as
estâncias dos Povos de Japejú e São Miguel. Localizavam-se ao sul do rio Ibicuí, na região que, no século seguinte,
conformaria a Campanha do Rio Grande do Sul. Dentro delas, organizavam-se unidades menores de exploração,
normalmente aproveitando a confluência de rios a arroios. Esses postos consistiam em locais dotados de currais, praça,
capela e moradia para os trabalhadores. Entre eles, uma rede de caminhos terrestres e portos fluviais procurava ensejar a
integração do espaço missioneiro. Como bem destacou Moraes (2008), essa pecuária missioneira consistiu em um sistema
pastoril diferente daquele que era levado a cabo nas regiões coloniais hispânicas e lusitanas. Entre outros aspectos, essa
especificidade residia no fato de produzirem voltadas para um mercado interno de abastecimento de carne dos Povos
missioneiros, cuja demografia esteve em expansão ao longo dos dois primeiros terços do século XVIII (a orientação externa e
atlântica do mercado, principalmente destinado à comercialização de couros, somente teria preeminência após 1770). Além
disso, a apropriação dos recursos, a organização do trabalho e a distribuição dos produtos se fazia em marcos comunais,
dentro do tupambaé missioneiro. Nesse sentido, longe de ser uma atividade “natural”, a pecuária missioneira consistiu em um
ativo emprego de técnicas e trabalho para disponibilizar à população das Missões um aporte de energia extremamente
significativo. Nas palavras de Moraes (2008, p. 23):
El mundo rural mas allá del Yí o del Negro no era un patio trasero del agro de las jurisdicciones de Montevideo y
Buenos Aires, es decir no era una versión más débil, más atrasada, más despoblada, del mismo paisaje agrario del sur
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rioplatense. Era otro mundo rural, más antiguo, con raíces demográficas, económicas, institucionales y culturales
distintas.(grifo da autora)
Assim, a paisagem pastoril-missioneira foi um sistema de criação de gado com especificidades marcantes e que não
pode ser considerada apenas uma versão anômala dos padrões criatórios de outras regiões coloniais. Respeitado esse
caráter específico, é preciso notar, porém, que alguns traços gerais eram análogos em todos esses casos. Um dos pontos
que merece destaque é o caráter variado dos rebanhos que eram criados nas estâncias missioneiras. Assim como nas
estâncias platinas e rio-grandenses, o gado bovino era o principal, mas também havia produção de mulas visando os
mercados de Potosi e das Minas Gerais. Por sua vez, os cavalares estavam presentes tanto para servir de montaria no
sistema de pastoreio a cavalo empregado pelos missioneiros, quando para serem utilizados como matrizes na produção de
muares. Um traço um pouco mais específico era o alto número de ovinos presentes nas estâncias missioneiras, destinados,
principalmente, à produção de lã para as atividades de fiação e tecelagem desenvolvidos nos próprios Povos.
Um outro ponto, bastante genérico, mas nem por isso menos importante, que pode ser considerado semelhante entre
os diversos sistemas pecuários praticados na região platina e no Rio Grande do Sul é seu caráter extensivo, e o fato de que
seu conjunto de técnicas orientava-se para promover e controlar diferentes níveis de domesticação dos animais. Voltaremos
a esse tema, adiante.
O período que começa com a expulsão dos jesuítas e a passagem dos Povos para administração laica (1767),
especialmente após 1780, estendendo-se até os conturbados anos iniciais do século XIX, foi uma época de erosão desse
sistema pastoril construído nas décadas anteriores. Isso se deu, entre outros fatores, em razão da má administração dos
Povos, combinada com o recrudescimento da pressão das frentes coloniais hispano-platina e luso-brasileira sobre o território
missioneiro, especialmente e antes de tudo, sobre suas estâncias. A dispersão dos guaranis para fora do complexo
missioneiro avultou-se e esteve acompanhada por um declínio da produção pecuária. Nesse período, ficaram cada vez mais
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comuns as vacarias para a retirada do couro, promovidas por bandos de arreadores de origens diversas e, por vezes, por
guaranis contratados a particulares. Essa atividade era verdadeiramente predatória e tinha alto potencial destrutivo para os
rebanhos.
Moraes (2008) apontou que a paisagem pastoril-missioneira modificou sensivelmente a organização ecológica e
territorial de uma região que ainda havia sido pouco tocada pelas forças da colonização. O período final de sua
desarticulação ocorreu nas primeiras décadas do século XIX. Em 1801, os Sete Povos da margem oriental do rio Uruguai
foram conquistados pelos luso-brasileiros. O território que havia pertencido às estâncias missioneiras, localizadas ao sul do
Ibicuí, também saiu do domínio dos Povos e foi repartido como espólio da conquista.
A pecuária tradicional rio-grandense no século XIX
A conquista luso-brasileira dos territórios missioneiros, localizados no lado oriental do Rio Uruguai, foi caracterizada
por um avanço de povoadores e guerreiros que promoviam contínuas atividades de arreadas de gado e apossamento de
terras. Quando findaram as guerras cisplatinas e o Estado Oriental do Uruguai emergiu definitivamente como nação soberana
(1828), a questão da fronteira daquele país com o Império do Brasil ainda não estava totalmente resolvida (GOLIN, 2004).
Mesmo que não fosse ponto pacífico, ficou estabelecido que o limite nacional no sudoeste ficaria marcado pelo rio Quarai e
daí em uma fronteira seca que passaria pela paróquia de Santana do Livramento.
Contudo, não obstante o estabelecimento desses limites, a ampla região formada pelas pastagens que iam desde a
Campanha Rio-Grandense até as margens dos rios Yí e Negro, no centro da República do Uruguai, formavam uma paisagem
agrária contínua, onde havia permamente fluxo de pessoas, gado, mercadorias e informações (SOUZA e PRADO, 2004).
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Naturalmente, o fato de que se buscavam instituir diferentes soberanias nacionais de cada lado da linha divisória, não podia
ser negligenciado. Os sujeitos históricos elaboravam continuamente, e de modo diverso de acordo com sua posição social, as
estratégias para lidar com essa a existência desse limite nacional de permeio àquela grande zona fronteiriça (THOMPSON
FLORES e FARINATTI, 2009).
Por outro lado, como apontou Moraes (2008), ainda que a paisagem pastoril-missioneira, tal como existira no século
XVIII, tenha se desagregado, muitos de seus traços econômicos, demográficos e culturais seguiram presentes na região por
todo o século XIX. De fato, os registros de batismo das recém-criadas paróquias luso-brasileiras da Campanha indicam uma
presença demográfica expressiva de egressos das Missões. Os guaranis formavam 55% das mães e 44% dos pais que
levaram seus filhos a batizar na Capela de Alegrete, entre 1821 e 1828 (FARINATTI e RIBEIRO, 2010, p. 8). Essa população
e seus descendentes foram essenciais como povoadores, trabalhadores e soldados na constituição da sociedade que se
erigiu na Campanha, na primeira metade do Oitocentos. Mas quais eram as características do mundo agrário no renovado
contexto de dominação luso-brasileira na região?
Por muito tempo, as descrições do mundo agrário rio-grandense do século XIX evocavam uma região dominada quase
que exclusivamente por enormes latifúndios pecuários. A sociedade ali existente seria formada por uma dicotomia entre os
grandes senhores e os peões que trabalhavam em suas estâncias. Estes formariam um estrato impreciso de homens livres
pobres, que viveriam entre o trabalho assalariado nos estabelecimentos pecuários e atividades ilícitas, como o contrabando e
o roubo de gado.
Contudo, nos últimos anos, vem crescendo o número de novas pesquisas que colocam em questão esse quadro
demasiadamente simplificador. No que se refere à Campanha, especificamente, os trabalhos apontaram que, em relação às
demais regiões da província, no século XIX, a presença de grandes estabelecimentos pecuários, bem como a especialização
na criação de gado bovino, eram, de fato, mais marcantes. Entretanto, sua estrutura social estava longe das formas pelas
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quais vinha tradicionalmente sendo descrita. Uma pequena elite de grandes estancieiros ocupava, sim, as posições cimeiras
da hierarquia sócio-econômica. Porém, ao lado deles, havia uma miríade de médios e pequenos criadores de gado e, em
menor escala, também lavradores. Eles produziam a partir de variadas formas de acesso à terra (posse, propriedade,
arrendamento, produção “a favor” nos campos onde estavam agregados) e, muitas vezes, era das famílias desses pequenos
produtores que saíam os peões para o trabalho nas estâncias. Esses peões, porém, não estavam sozinhos. Ao lado deles, os
escravos tinham grande importância no costeio do gado, principalmente nas grandes estâncias, além de trabalharem em
diversas outras atividades (BELL, 1998; ZARTH, 2002; GARCIA, 2005; FARINATTI, 2010; LEIPNITZ, 2010).
No que se refere às unidades produtivas de maior envergadura econômica, a produção estava francamente orientada
para a criação de novilhos para serem encaminhados, em pé, às charqueadas, especialmente as do leste da província do Rio
Grande do Sul. A história da instalação das grandes estâncias, na primeira metade do século XIX, é a história da instituição
de uma ordem assentada na propriedade privada da terra e do gado sobre um espaço onde antes havia a propriedade
comunal missioneira ou das tribos nômades charruas e minuanos, e também a atividade difusa das arreadas e retirada do
couro por bandos de changadores. Não houve nada de automático e mecânico nesse processo. A reivindicação de soberania
do Império sobre aqueles territórios e a vigência de uma ordem legal assente na propriedade privada não tinham como
garantir, de per se, sua própria aplicação. Outras lógicas de acesso a recursos que não a puramente mercantil, como a
recompensa e redistribuição por atividades guerreiras, e também o acesso costumeiro e comunal seguiam presentes, ainda
que, provavelmente, estivessem enfraquecendo ao longo do século. Além disso, aquele estava longe de ser um Estado
pelnamente burocratizado e a garantia dos direitos formais e costumeiros passavam pelo estabelecimento de vínculos
pessoais com vizinhos e membros mais poderosos da hierarquia social. Este é, porém, todo um tema de pesquisa que recém
começa a ser levantado pelos historiadores.
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Essa pecuária tradicional, realizada em campos não-cercados, teve seus traços principais reiterados ao longo da maior
parte do Oitocentos. Foi somente a partir da década de 1870, e mais fortemente no final do século, que fatores como o final
da escravidão, a difusão do cercamento dos campos, a introdução de novas raças animais e a expansão das ferrovias para a
Campanha modificaram de modo mais sensível aquele contexto, ainda que muito de suas características não tenham
desaparecido senão muito tempo depois. Porém, essa situação não deve incentivar a retomada da velha ideia segundo a
qual a pecuária tradicional consistiu em um sistema de produção quase natural, que pouco ou nada modificou o meio
ambiente ou os âmbitos social, econômico e institucional da região da Campanha. Como deve ter ficado claro, isso não foi o
caso da pecuária missioneira do século XVIII e também não se aplica ao sistema de criação de gado luso-brasileiro
tradicional do século seguinte. Vamos nos deter um pouco mais, agora, nas características próprias deste último.
Domesticação e técnica pecuária
Como já foi dito, o agro da Campanha Rio-grandense era muito mais complexo do que um punhado de enormes
estabelecimentos pecuários e, ao longo do século XIX, muitos dos subalternos tinham acesso a alguns meios de produção.
Todavia, a importância econômica das grandes estâncias, pertencentes a uma pequena elite de famílias abastadas, é
inegável. Em Alegrete, o maior município da Campanha, em uma amostra de 206 inventários post mortem abertos entre 1831
e 1865, os 16 mais abastados senhores eram cerca de 8% dos titulares dos inventários, porém concentravam cerca de 60%
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da fortuna e 53% de todo o gado relacionado naqueles processos.4 Considerando que os inventários post mortem são uma
fonte histórica que tende a sobre-representar as camadas mais abastadas da população, essa disparidade devia ser mesmo
maior. Ainda que pudessem desempenhar também outras atividades, como o comércio de tropas ou de mercadorias, todos
os titulares daquelas fortunas eram abastados estancieiros, possuindo pelo menos uma grande estância (com mais de 2.000
reses e mais de 6.000 ha.), sendo que alguns deles possuíam, também, terras na República do Uruguai (FARINATTI, 2010,
p. 56).
Tomando as grandes estâncias como unidades produtivas, a regra geral é a da predominância da atividade pecuária.
Uma agricultura subsidiária, para sustento próprio ou para venda em mercados locais e regionais também era praticada.
Como já foi dito, a predominância clara era do gado vacum, destinado à criação para venda às charqueadas. A criação de
muares, destinados à feira de Sorocaba, esteve presente, declinando ao longo do século. O contrário se deu com os ovinos,
que tenderam a estar mais presentes após 1860, quando os mercados para a lã começavam a encorpar-se. Assim como no
caso da pecuária missioneira, e também no caso da pecuária platina, os cavalares marcavam presença principalmente para a
montaria, para o pastoreio das reses bovinas, e para a produção de mulas. Além disso, alguns estancieiros vendiam para o
exército, naquele século onde o estado de guerra era crônico (FARINATTI, 2010).
Assim, o estímulo do mercado de gado em pé para as charqueadas e, de modo indireto, o impulso da demanda de
charque nos portos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, tinham uma força bastante efetiva na moldagem da organização
das estâncias, do ponto de vista de sua racionalidade produtiva. Tratava-se de organizar estabelecimentos adequados,
4 Os inventários post mortem tem sido largamente utilizado pela história social e econômica. Entre muitos outros aspectos, sua importância reside no fato de que contém uma descrição e avaliação dos bens do falecido, permitindo realizar estudos sobre a economia, a cultura material e reconstruir hierarquias de fortunas.
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principalmente, a esse fim. Essa organização refletiu a experiência acumulada tanto pela produção pastoril luso-brasileira no
leste do Rio Grande de São Pedro, quando pela própria pecuária missioneira. A chave unificadora das técnicas empregadas
no pastoreio parece ter sido o controle e a regulagem de diferentes níveis de domesticação dos animais.
Como apontou Jacques Barrau (1989), a domesticação pode ser entendida como um processo de intervenção humana
nos aspectos fundamentais da vida animal e vegetal: proteção, nutrição e reprodução. Na visão do autor, a domesticação não
é considerada uma linha precisa entre o mundo natural e a cultura, mas sim é vista como um continuum, como um gradiente.
É justamente o grau de intervenção humana em cada um daqueles processos que determina o grau da domesticação. O
objetivo costuma ser a modificação das espécies de modo a potencializar características úteis aos seres humanos e a
eliminar as que lhes são um entrave. Ao mesmo tempo, essa intervenção vai tornando as espécies atingidas cada vez mais
dependentes dos seres humanos, chegando ao ponto de que a população domesticada não consiga mais realizar, sozinha,
uma daquelas três funções indispensáveis à sua sobrevivência (BARRAU, 1989).
Para o caso dos animais vacuns e cavalares existentes na região, nos séculos XVII e XVIII, Moraes (2008, p. 30)
apontou que se dividiam em três grupos. Os silvestres eram aqueles que, tendo escapado ao controle do homem, produziram
descendência que não conheceu esse controle.5 Os alçados eram os animais domesticados que se evadiam por alguma
razão, como secas e guerras. Por fim, a autora nomeia como plenamente domesticados aqueles animais que permaneciam
sob o controle humano, ficando “sujeitos a rodeio”. Uma divisão semelhante parece ter estado presente, também, nas áreas
controladas pelos luso-brasileiros e pelos colonos hispano-platinos, naquele mesmo período.
5 No caso dos vacuns eram chamados “cimarrones”, ou, no vocábulo aportuguesado, “gado chimarrão”. No caso dos cavalares, eram os “baguais” (MORAES, 2008, p. 30)
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No mundo agrário da Campanha no século XIX a tônica geral era semelhante, porém, houve um refinamento no modo
como os próprios contemporâneos categorizaram essa divisão. Com o processo de conquista e colonização luso-brasileira ao
sul do Ibicuí, nas primeiras décadas do século XIX, foram realizadas grandes arreadas de gado e fundação de
estabelecimentos de envergaduras econômicas diversas. Ao longo do século, diminuiu muito o número de animais vacuns
totalmente selvagens. Não há como fazer uma estimativa segura, mas é provável que já não fossem significativos na década
de 1830. Como veremos adiante, o mesmo não ocorreu com os cavalares, cujas manadas selvagens continuavam a cruzar a
Campanha em meados do Oitocentos. O gado alçado, por sua vez, seguiu a existir em todo o período, em virtude dos efeitos
nocivos das guerras ou de fenômenos naturais.
Contudo, os habitantes da Campanha construíram categorias também para designar diferentes graus de domesticação
dentro do conjunto de animais domesticados. Trata-se de dividir vacuns, cavalares e muares em animais “mansos” e “xucros”.
No caso dos vacuns existentes na amostra de inventários de Alegrete, já referida, essa divisão entre reses de criar “xucras” e
“mansas” está explícita na quase totalidade dos rebanhos inventariados (cerca de 94%), repetindo um padrão já encontrado
nos tempos coloniais tanto no Rio Grande de São Pedro quanto nas áreas vizinhas, de colonização espanhola. Esses
estudos encontram o vocábulo “xucro” como sinônimo, ora de gado selvagem, ora de gado “alçado” (GELMAN, 1998;
OSÓRIO, 2007). Esse, porém, não parece ter sido o caso do gado descrito nos inventários da amostra pesquisada. O
significado que a expressão “xucro” assumia no contexto em análise, pode ser melhor compreendido a partir do único
inventário da amostra em que foram descritas reses “alçadas”. Trata-se do inventário de dona Maria Mância Ribeiro, esposa
do General Bento Manoel Ribeiro, aberto em 1854.
No processo constava a presença de 200 reses mansas, 340 reses de gado xucro “costeado” e aproximadamente 700
reses de gado alçado. As primeiras valiam 9$000 e as segundas 7$000, dentro da média de preços correntes para reses
mansas e xucras nos inventários cujas avaliações de bens ocorreram naquele ano. As reses alçadas, porém, apresentam
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uma avaliação de 5$000, portanto inferior e não compatível com nenhum preço de reses xucras dos outros processos.6 Ali
está presente uma clara graduação em termos de domesticação que aparece como critério para a categorização dos animais
criados. Ela também se reflete no preço, demonstrando a incorporação de trabalho ao valor do animal como mercadoria. O
que variava era o nível de domesticação dos animais. Com gado manso se faziam com mais facilidade todos os
procedimentos atinentes à criação, denotando a aplicação de um grau mais intenso de trabalho. O gado xucro “costeado” era
aquele que se procurava, na medida do possível, manter dentro dos limites dos campos de seus proprietários, e sobre os
quais certamente se efetuava a castração e a marcação. Em 1832, o futuro Conde de Piratini recomendava que o gado
manso fosse marcado na perna, do lado esquerdo, e o gado xucro na anca, do mesmo lado (CESAR, 1978, p. 38). Essa
distinção parece ter perdurado, pois consta nas memórias que o médico Severino de Sá Brito escreveu sobre o mundo da
Campanha durante sua infância, na década de 1870 (SÁ BRITO, s/d, p. 64).7
Ao gado xucro era aplicada uma intensidade menor de manejo, sem garantir um nível mais forte de controle. Contudo,
havia um limite para essa diminuição da intensidade do costeio. Além desse limite, poderia haver o extravio desse gado ou o
fato de que, mesmo que permanecesse dentro das terras de seu dono, ele voltasse a se tornar bravio e os animais jovens
que ali nascessem não fossem marcados e castrados. O gado estaria se tornando alçado. Assim, a palavra “xucro” não pode
ser tomada aqui como sinônimo exato de gado não-domesticado. A designação de “reses xucras” até podia incluir dentro
desse rebanho reses realmente alçadas, mas, em maioria, designava reses com um certo grau de domesticação, localizado
entre os extremos ocupados pelo que se considerava gado manso, de um lado, e alçado, de outro.
6 “Inventários post mortem. Alegrete. Cartório de Órfãos e Ausentes: M. 11, N. 152, A. 1854. APRS”.
7 CESAR, Guilhermino. O Conde de Piratini e a Estância da Música..., 1978, p. 38. BRITO, Severino de Sá. Trabalhos e costumes dos gauchos, s/d , 2.ed., p. 64.
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De fato, era corrente a prática de deixar uma grande parte do rebanho como xucro, exigindo uma aplicação de trabalho
menor, como uma forma dos criadores conseguirem economizar mão-de-obra, em um contexto onde ela não era abundante
(BELL, 1998). Essa era uma prática adequada, sobretudo, aos criadores que detinham maiores rebanhos, onde a aplicação
de trabalho exigida era muito maior. Estima-se que um ou dois trabalhadores pudessem costear algo entre 400 e 600 reses, o
que podia ser resolvido com trabalho familiar, exceção feita aos intensos períodos de marcação e castração. Estas
atividades, porém, não ocupavam mais do que algumas semanas no ano. De fato, os dados da amostra de inventários
estudada década à década, apontam que a proporção de reses mansas variava de acordo com a dimensão do rebanho. Nos
estoques vacuns de até 100 reses, esse número chegou a 100% na década de 1850. Já nos que tinham até 500 reses,
encontramos uma média de 35% de reses mansas naquela mesma década. Por sua vez, nas grandes estâncias, com
rebanhos que superavam as 2.000 reses, a média de animais mansos foi de apenas 10%.8
O universo das técnicas agrárias reflete essa busca por controlar os graus de domesticação. As tarefas atinentes ao
manejo do gado estavam, naquele sistema extensivo e dependente das boas condições das pastagens naturais, fortemente
ligadas ao ciclo das estações. As grandes atividades das estâncias eram os rodeios. Essa palavra assumia um duplo
significado. Por um lado, designava os locais específicos, dentro das estâncias, onde eram reunidos os gados que estavam
aquerenciados em suas redondezas. Ao mesmo tempo, fazer ou parar “rodeio” queria dizer partir com um número suficiente
8 Inventários post mortem. Cartórios de Órfãos e Ausentes, do Cível e Crime e da Provedoria, 1831-1865. Alegrete. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS).
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de trabalhadores e reunir, no lugar de mesmo nome, todo o gado que pastava nos arredores daquele local. Nessas ocasiões,
o gado era reconhecido, contado e podiam-se realizar curas em feridas e bicheiras.9
Há informações conflitantes quanto à periodicidade em que se realizava essa tarefa. Em 1832, o futuro Conde de
Piratini recomendou a seu capataz que se fizessem rodeios o mais amiúde possível sem que se possa compreender
exatamente ao que essa expressão se refere. Para o historiador Guilhermino César, trata-se de uma advertência que denota
um estancieiro excepcionalmente zeloso porque não era prática corrente parar mais de dois rodeios por ano.10 Contra todas
as outras referências e, ao que parece, com muito exagero, o Visconde de São Leopoldo sugeriu que eles eram feitos todas
as semanas.11 Severino de Sá Brito referiu que se paravam rodeios em pelo menos três épocas por ano, nas oportunidades
da marcação, da castração e da formação de tropas para as charqueadas (SÁ BRITO, s/d). Creio que se essa informação
ajuda a compor uma freqüência mínima de três ou até duas oportunidades por ano (caso a marcação e a castração fossem
realizadas na mesma época) para a realização dos rodeios, afinal, marcar, castrar e vender os animais eram procedimentos
obrigatórios para qualquer estabelecimento de criação em um ano de condições normais de produção. Além delas, variando
de acordo com a disponibilidade de trabalhadores, as dimensões do rebanho e os cálculos dos criadores, podia-se reunir o
gado um maior número de vezes ao longo do ano.
9 Stephen Bell elaborou uma ótima descrição dessas atividades, baseado principalmente em um informe sobre a criação de gado elaborado pelo Visconde de São Leopoldo, que fora Presidente da Província do Rio Grande do Sul: “Informe do Visconde de São Leopoldo, sem indicação de destinatário, sobre a criação de gado na Província do Rio Grande do Sul, 1842)”. Manuscritos, II-36, I, 18. BN (de agora em diante o título do documento será grafado apenas “Informe...”) (BELL, 1998)
10 César baseia-se em Nicolau Dreys para afirmar a periodicidade de duas épocas por ano em que se fazia rodeios (CESAR, 1978, p.38).
11 “Informe...” Manuscritos, II-36, I, 18, Art. 4. BN.
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A marcação e a castração eram realizadas no outono, no inverno ou no início da primavera, o que dava tempo para as
feridas geradas por essas atividades cicatrizarem e evitava que os insetos, comuns no verão, depositassem ali suas larvas
gerando bicheiras.12 Ambas as atividades eram as que exigiam um incremento mais significativo de trabalhadores,
representando os picos estacionais de demanda de mão-de-obra nos estabelecimentos pecuários. Por sua vez, as tropas que
partiam das estâncias rumo às charqueadas eram formadas em uma longa temporada, que ia de novembro até inícios de
maio do ano seguinte, quando o bom pasto começava a escassear de novo e se principiava a preparação para as atividades
de marcação e castração.
Por fim, naquele mundo onde não existiam cercas artificiais nas divisas dos estabelecimentos de criação, o problema
da evasão de gado era uma constante. Em tempos de seca, os rios e arroios tornavam-se rasos ou mesmo vazios, sendo
facilmente vadeados pelas reses que partiam em busca de água e pasto. Ainda, os períodos de guerra, tão freqüentes na
região e época tratada, traziam problemas adicionais. A prática voraz de recrutamentos arrancava seguidamente
trabalhadores às lides produtivas. Sem trabalhos de marcação e castração, perdia-se o controle da produção anual. Sem
operações de manejo regular, o gado ia-se desacostumando ao costeio e tornando-se mais bravio. Da mesma forma, o
problema da dispersão do gado pela falta de água e alimento propiciada por uma seca, por exemplo, era catalisado se a
unidade produtiva não pudesse contar com trabalhadores para evitar sua dispersão. Além de tudo, nas épocas de guerra, a
passagem dos exércitos e a existência de bandos de desertores podiam desfalcar verdadeiramente os rebanhos. Por todos
12 Em 1832, o futuro Conde de Piratini ordenava que a marcação fosse feita “o mais cedo que for possível a fim de não encontrar este trabalho com outros que se acumulam para o tempo de inverno...” (CESAR, 1978, p. 38). Dez anos depois, o Visconde de São Leopoldo afirmou que a marcação era praticada uma vez por ano, na estação fresca do outono. “Informe...”. Manuscritos, II-36, I, 18, art. “4”, BN. Severino de Sá Brito lembra que, na estância onde cresceu durante segunda metade do século XIX, a marcação era realizada no inverno e que, durante esses afazeres, se passavam alguns dias e eram feitos diversos rodeios BRITO, s/d ).
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esses motivos, era preciso fazer repontes, pastoreando o gado o mais amiúde possível e também efetuar recrutas ou
reculutas, ou seja, partir à procura do gado já evadido, em campos vizinhos e além.13
Esses trabalhos envolviam montaria. Os cavalos eram indispensáveis para a viabilidade da criação bovina. Todo o
trabalho de manejo do gado era feito a cavalo, de modo que os equinos ocupavam um lugar obrigatório dentro das estâncias.
Os cavalos eram, também, o grande meio de transporte para vencer as lonjuras do pampa. Para as cargas e viagem com
mais bagagem, empregavam-se carretas, com juntas de bois mansos. Para o transporte individual, sempre cavalos. Saint-
Hilaire observou que “toda a gente, mesmo pobre, inclusive os escravos, não dão um passo sem ser a cavalo” (SAINT-
HILAIRE, 1997, p.52). Além disso, podiam-se criar cavalos com fins comerciais, ainda que este ficasse sempre abaixo do
gado bovino. Podia-se vender o couro dos eqüinos ou comercializar os animais em pé. A demanda tendia a aumentar,
principalmente, nos períodos de guerra, pois os cavalos eram essenciais nos tipos de combates travados na região. Como a
guerra no sul era crônica, abastecer os exércitos de cavalos tornava-se um bom negócio. Por outro lado, isso também
ampliava os roubos e as requisições (dificilmente ressarcidas) por parte de exércitos e bandos armados.
Nos inventários, aparecem, de um lado, os “cavalos mansos”, em geral cavalos de serviço, empregados no costeio do
gado vacum. De outro, uma designação genérica de “éguas xucras” ou “animais cavalares”. Esta consistia em uma manada
de éguas, potros e alguns reprodutores, todos ainda não domados, que os criadores buscavam aquerenciar e manter dentro
dos limites de sua propriedade. Esse era o reservatório de animais de onde sairiam, depois de domados, os cavalos de
serviço. Nessa manada, também estavam os ventres para a produção de mulas ou para a produção comercial de potros.
13 O futuro Conde de Piratini dispôs que seu capataz não negasse rodeios a quem os pedisse, havendo gente para os parar. Guilhermino César explica que os donos de reses evadidas, ao providenciarem recrutas, podiam “pedir rodeio” ao dono do campo onde supunha encontrá-las. “Reunido o gado, com o concurso das duas partes, procede-se à busca.” Negar rodeio era sinônimo de má fé e era condenado por códigos de posturas de vários municípios riograndenses (CESAR, Guilhermino.1978).
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A doma dos cavalos era uma atividade assaz valorizada. Enquanto a diferença de preços, presentes na amostra de
inventários trabalhada, entre os bovinos xucros e os mansos oscila entre 10 e 20%, a doma poderia elevar em até 300% o
preço dos animais cavalares.14 A verdade é que, até meados do século XIX, por suas poucas possibilidades comerciais, as
éguas e cavalos xucros tinham valor reduzido. Por outro lado, cavalos bem domados podiam valer mesmo mais do que uma
rês mansa em ponto de abate. Os peões domadores eram melhor remunerados e os escravos que exerciam essa função
eram mais valorizados. A doma era uma atividade que envolvia sério risco, implicava em grande agregação de valor ao
animal e beneficiava-se do grande prestígio que a destreza nas lides campeiras gozava no contexto daquela cultura.
A domesticação era, portanto, a clivagem essencial que instaurava a classificação dos animais cuja criação era o
objetivo das estâncias. Do ponto de vista técnico, o controle dos graus de domesticação dos rebanhos parece mesmo ter sido
a chave para a administração das grandes estâncias da pecuária tradicional sulina.
As estâncias oitocentistas como centros de domesticação
Se tomarmos o controle dos níveis de domesticação como orientação técnica geral, podemos perceber uma lógica que
organiza a estância como um centro de domesticação. Essa lógica era evidente no caso dos principais animais de criação,
mas acabava por transbordar esses limites e instaurava-se nas relações dos homens com outros animais e plantas na
Campanha.
14 Inventários post mortem. Cartórios de Órfãos e Ausentes, do Cível e Crime e da Provedoria, 1831-1865. Alegrete. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS).
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Observando a descrição contida nos inventários post mortem estudados, é possível perceber que as grandes
estâncias costumavam obedecer um padrão de organização espacial.15 Um conjunto variável de construções formava um
domus, nos vários sentidos da palavra: o lar doméstico da família proprietária; o local de residência dos donos daquele
domínio, de onde vinha um impulso de dominação e direção; o núcleo do centro de domesticação que era a estância, sob o
aspecto da técnica pecuária. Ali estava a casa principal que, no Oitocentos, era quase sempre feita de pedras e coberta de
telhas e, com o correr do século, assoalhada e, nos casos mais afortunados, também forrada. Por vezes, a cozinha se
localizava em construção separada, em virtude do risco de incêndio e, talvez, também para evitar a presença de fumaça e
fuligem dentro da casa principal. Por sua vez, as senzalas podiam tomar a forma de construções anexas à casa principal ou
mesmo separadas e próximas a ela. Ao invés de senzala, podia haver a presença de pequenos ranchos cobertos de capim,
também próximos a esse complexo principal, que abrigavam os escravos.
Em geral, próximas à casa principal e feitas de pau-à-pique barreado ficavam construções que abrigavam atafonas
para o fabrico de farinha de trigo ou mandioca, galpões e paióis, sendo, estes últimos, mais raros na Campanha do que no
centro-norte do Rio Grande do Sul (FARINATTI, 2010). Nas proximidades, currais e mangueiras, feitos de pedras, madeira ou
barro eram o espaço por excelência da reunião e manejo do gado, passo decisivo na intensificação do grau de domesticação
desses animais. As maiores estâncias costumavam, também, contar com pomares que envolviam dezenas e até centenas de
árvores frutíferas. Todas as árvores relacionadas, que receberam atribuição de valor monetário no inventário, tinham chegado
à América com a colonização, sendo as principais as laranjeiras, as limeiras e os pessegueiros. Um outro espaço presente
eram lavouras de dimensão variada, descritas nos inventários normalmente como “plantações”. Sempre cercadas (em grande
15 Todas as informações referentes ao espaço das estâncias, contidas neste item, estão baseadas na análise da amostra de inventários post mortem de Alegrete (1831-1865), tantas vezes já referidas ao longo deste trabalho.
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parte com tramados de plantas de espinho) para evitar a entrada do gado, ali se produzia trigo, feijão, milho, por vezes
mandioca, abóboras, favas e outras culturas. Por fim, pequenos potreiros e piquetes cercados destinados aos animais de
tração (“bois mansos”), às vacas de leite e aos cavalos em serviço, compunha o complemento desse conjunto de construções
principais das grandes estâncias. O “gado menor”, como aves de criação e porcos nunca aparece nos inventários, mas, ao
menos no caso das aves, é possível ter uma ideia de sua existência por outros documentos, como as instruções que o Conde
de Piratini enviou a seu capataz da Estância da Música, em 1832 (CESAR, 1978).
Além desse complexo do domus, que aglutinava domicílio e núcleo da domesticação, as maiores estâncias, ou
aquelas onde havia extremidades onde não existiam limites naturais como rios e arroios, também contavam com a presença
de outros agrupamentos satélites, como estâncias menores (que podiam ser moradias de filhos casados) ou, mais
comumente, postos (onde vivia o peão posteiro e, se fosse o caso, também sua família). Além da casa e plantações, também
podia haver currais e mangueiras nesses postos, reproduzindo, de modo bem mais modesto, parte da estrutura do domus
principal.
Se relacionarmos essa estrutura às diferenças de grau de domesticação entre o gado vacum, encontraremos o gado
presente no domus e manejado quase que diariamente, como animais de tração (“bois mansos”), vacas leiteiras e cavalos de
serviço. Depois, as “reses de criar mansas” consistindo em um conjunto de animais vacuns manejados frequentemente nos
currais e pontos de rodeio. Finalmente, um grupo de “reses de criar xucras”, tanto maior quanto maior eram os rebanhos
daquele estabelecimento. Estas, como já dissemos, estavam aquerenciadas nas terras da estância, eram marcadas e os
machos eram castrados, mas seu manejo era muito mais eventual. Estas reses eram as que corriam mais risco de alçar-se
em casos de secas ou falta de trabalhadores ocasionada, por exemplo, pelos recrutamentos executados nos freqüentes
tempos de guerra.
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Esse verdadeiro continuum de variados graus de domesticação com o qual operava a grande estância oitocentista
encontrava seu limite exterior nos animais alçados e, principalmente, nos animais selvagens que cruzavam a Campanha.
Parte importante de relação para com eles tinha como referência, novamente, a lógica pecuária que orientava os
estabelecimentos de criação. Se a domesticação implica na interferência humana na proteção dos animais envolvidos, isso
tinha diretamente a ver com, pelo menos, dois tipos de animais selvagens que, em suas formas domesticadas eram parte
constituinte das estâncias: os cavalos e os cães.
Ao que tudo indica, no entanto, as manadas de cavalos selvagens perduraram por mais tempo do que as manadas
bovinas. Essas “eguadas” ou “bagualadas” bravias eram um transtorno para os estancieiros, pois ao cruzarem por seus
campos misturavam-se aos cavalos da estância e podiam levá-los à fuga. Além disso, suas correrias dispersavam o gado
bovino podendo também levá-los à evasão. Ainda, ao se misturarem aos cavalos mansos, montados por homens, podiam
fazê-los sair em disparada pondo risco a própria vida dos cavaleiros. Uma das formas empregadas para enfrentar esse
problema, choca nossa sensibilidade atual. Eram feitas reuniões de gente para a matança desses animais. O objetivo dos
homens era matar o maior número possível de éguas e cavalos. Os que desejassem poderiam laçar animais e ficar com eles
vivos, ou então ficar com o couro dos que fossem abatidos, mas o objetivo primordial da atividade era a pura eliminação física
e não o “aproveitamento econômico” da manada. Essa prática foi rememorada literariamente no conto “Correr Eguada”, de
Simões Lopes Neto (LOPES NETO, 1987). As observações de Saint-Hilaire sobre os perigos trazidos pelas “bagualadas” e
sobre as formas de caçá-los demonstram que a descrição contida no conto assentava-se sobre uma prática real (SAINT-
HILAIRE, 1997, p.123).
Por outro lado, é impossível falar-se em estâncias, na relação entre humanos e animais, sem mencionar os cães.
Mesmo porque, matilhas de cães selvagens cruzavam a Campanha e o norte da Banda Oriental desde muito tempo antes da
chegada dos luso-brasileiros. Tinham a mesma origem das vacas e cavalos “cimarrones” ou “chimarrões”, aliás, ganharam o
DOMESTICAÇÃO, TÉCNICA E PAISAGEM AGRÁRIA NA PECUÁRIA TRADICIONAL DA CAMPANHA RIO-GRANDENSE (SÉCULO XIX) 84
mesmo nome desses. Atacavam os rebanhos bovinos e foram considerados uma verdadeira praga pelos estancieiros, que os
caçaram sem trégua. Seu extermínio foi obra das primeiras décadas do século XIX, quando a produção regular de gado
expandia-se pela Campanha. Saint-Hilaire os avistou, em 1821, quando cruzava a fronteira do Rio Grande com a Cisplatina:
“Esses animais, originalmente evadidos das habitações, nada possuem que os distinga de modo particular (...) começam a
rarear entre o Rio Grande e Santa Teresa, porque os fazendeiros, cujos rebanhos eles devoram, os exterminam”.16
De outra parte, os cães domésticos acompanharam a expansão da estância. Reparavam a casa e participavam das
lides pecuárias, fossem bovinas ou ovinas. Quanto às primeiras, esse fato não surpreende a qualquer um que já tenha tido a
oportunidade de participar de uma atividade pecuária em muitos dos campos gaúchos, ainda hoje. Os cães pastoreiam,
ajudam a conduzir o gado para o local desejado pelos homens e evitam que se evada. Em 1842, o Visconde de São
Leopoldo descreve a participação dos cães nas lides campeiras, ao lado dos peões.17 Além disso, os cães parecem ter sido
essenciais na criação de ovelhas. O Conde de Piratini recomenda a seu capataz que “quando houverem ovelhas na estância,
devem ser acompanhadas de cães próprios para isso (...)” (CESAR, 1978, p. 42).
Cabe deixar claro que tratamos, aqui, de uma lógica importante na estruturação das estâncias, mas que essa
racionalidade não era a única que compunha a modelagem daqueles estabelecimentos. Ela existiu muito mais como
referência técnica do que como realidade completa no espaço agrário. Em algumas estâncias e em algumas épocas mais do
que em outras, como dissemos, os muares e ovinos ganharam maior protagonismo, impondo exigências um tanto diferentes
para seu manejo. Além disso, as grandes estâncias costumavam abrigar estabelecimentos agrários e casas de moradia
16 SAINT-HILAIRE, August. Op. cit., 1997, p. 121.
17 VISCONDE DE SÃO LEOPOLDO apud BELL, Stephen. Op. cit., 1998, p. 42.
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pertencentes a uma série de outros sujeitos: filhos do proprietário, que já haviam constituído seus próprios núcleos familiares;
escravos que ganhavam direito à manter produção própria; agregados que mantinham pequenas produções com mão-de-
obra familiar. Todos esses agentes tinham também suas plantações e rebanhos, ainda que, comumente, eles fossem muito
mais modestos do que o do proprietário. Os rebanhos xucros de todos eles misturavam-se, podendo também juntar-se aos
dos vizinhos, naquele agro sem cercas e sem divisórias precisas a marcar os limites de cada estância. Todo esse contexto,
permeado de conflitos latentes e efetivos, foi o ambiente em que se instalaram, na Campanha, os direitos de propriedade
privada sobre terras e gado, em meio a um universo complexo de relações sociais e a uma hierarquização social desigual
(GARCIA, 2005, FARINATTI, 2010, LEIPNITZ, 2010).
A produção do espaço agrário se fazia na confluência desse conjunto heterogêneo de atores e das diversificadas
relações sociais que eles tramavam, combinado àquelas diversas racionalidades apontadas acima, da qual a lógica do
controle sobre os graus de domesticação de vacuns e cavalares era das mais importantes.
Considerações Finais
Parece óbvio que a intensidade da domesticação e seu impacto no ambiente da Campanha foi muito mais evidente a
partir das transformações modernizantes de fins do século XIX, e cada vez mais ao longo do século XX, até os dias atuais.
Porém, a reorganização a criação de um espaço propriamente agrário, a criação de um ager em meio a um pagus no
território que viria a ser a Campanha rio-grandense foi forte e efetiva já nos séculos XVII e, principalmente, XVIII com a
propagação das estâncias missioneiras. Depois, a criação de estabelecimentos pecuários sob a conquista luso-brasileiras, no
Oitocentos, redefiniu esse processo.
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Estabelecendo-se como um centro de domesticação, a grande estância também funcionava como um pólo difusor de
uma cultura material colonial e de animais e plantas de origem extra-americana (na maior parte das vezes européia, mas
também africana e asiática). Ao arrebanhar o gado que estivera sob controle missioneiro ou ao trazer animais do Rio Grande
de São Pedro e, ao submetê-los ao manejo pecuário, os criadores luso-brasileiros promoveram sua reprodução e
protegeram-nos dos ataques de predadores. Ao mesmo tempo, através de atividades como a castração e o pastoreio regular
modificaram a estrutura das populações animais e estimularam características úteis aos propósitos humanos, como a
propensão ao manejo, traduzida nos vocábulos “manso” e “xucro”. De todos os aspectos da domesticação, possivelmente a
influência na nutrição dos animais tenha sido a realizada com menor intensidade, porém isso estava dentro de um sistema de
organização dos recursos produtivos e do trabalho que seguia uma racionalidade própria, estando vinculada à reprodução de
uma ordem social extremamente desigual.
Esperamos haver ficado claro que a construção do complexo pastoril oitocentista redefiniu e remodelou muitas bases
do ambiente na Campanha. Nesse sentido, as relações entre homens, animais e plantas, naquele contexto, não parecem
itens que possam ser negligenciados pelos historiadores. Parece-nos claro que uma atenção dirigida a esses aspectos pode
estimular reflexões importantes no que se refere à cultura, à sociedade e à economia construídas naquele contexto.
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