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EDIÇÃO Por CLEONICE BERARDINELLI http://www.e-book.uefs.br http://www.linguagens.ufba.br https://issuu.com/e-book.br/docs/folhetim4 Uma publicação e-book.br Dezembro | 2017 FOLHETIM 4 4 Ano 2 | Número 4 DOS POEMAS DE ÁLVARO DE CAMPOS ISSN 2525-8591

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EDIÇÃO

PorCLEONICE BERARDINELLI

http://www.e-book.uefs.brhttp://www.linguagens.ufba.br

https://issuu.com/e-book.br/docs/folhetim4

Uma publicaçãoe-book.br

Dezembro | 2017

FOLH

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Ano 2 | Número 4

DOS POEMASDE ÁLVARO DE CAMPOS

ISSN 2525-8591

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4 4 Folhetim / publicação semestralda e-book.br, destinadada

a disponibilizar um artigopor número nos seus dois sites

e na plataforma issuu.com.Por se propor como um instrumento

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ISSN 2525-8591

Número publicado em homenagema D. Cleonice Berardinelli

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4 4 Ano 2 | N. 4 | Dez. 2017

ISSN 2525-8591

CONSELHO EDITORIAL

Adriano Eysen (UNEB)Cid Seixas (UFBA / UEFS)

Dante Lucchesi (UFF)Flávia Aninger Rocha (UEFS)

Moanna Brito S. Fraga (UESB)Myriam Barbosa da Silva (UFBA)

Editor:Cid Seixas

Nossos sites:www.e-book.uefs.br/folhetim

www.linguagens.ufba.br/folhetimE-mail do editor:

[email protected]

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e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO LIVRO DIGITAL

Cleonice Berardinelli

EDIÇÃO DOS POEMASDE ÁLVARO DE CAMPOSEDIÇÃO DOS POEMASDE ÁLVARO DE CAMPOS

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CLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLI

CLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLICLEONICE BERARDINELLI CLEONICE BERARDINELLI

Cleonice Berardinelli, da Academia Brasileirade Letras, é Professora Emérita da UFRJ, Pro-fessora Plena da PUC-Rio e Titular da CátedraPadre António Vieira de Estudos Portugueses.Livre-Docente pela Universidade do Brasil (atualUFRJ). Doutor Honoris Causa da Universidadede Lisboa. Publicou, dentre outros livros, Sone-tos de Camões (1980), Estudos de LiteraturaPortuguesa (1985), Poemas de Álvaro de Cam-pos (1999), Estudos Camonianos (2000),Fernando Pessoa : outra vez te revejo (2004),diversas Antologias com estudos críticos e no-tas, ensaios em obras coletivas e periódicos.

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SUMÁRIO

A Edição dos Poemasde Álvaro de Campos .................................... 9A passagem das horas ............................... 11Saudação a Walt Whitman ...................... 22Depus a máscara e vi-me no espelho ........... 32Notas ..................................................... 40Explicit .................................................. 42

SUMÁRIO

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Dona Cleonice, com o fardãoda Academia Brasileira de Letras,

e lendo poemas de Pessoa,com Maria Bethânia.

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A EDIÇÃO DOS POEMASA EDIÇÃO DOS POEMAS

Em 1987, convidada pelo Professor Ivo Cas-tro, coordenador da Edição Crítica das Obrasde Fernando Pessoa a ser editada pela Impren-sa Nacional-Casa da Moeda, pus-me a trabalharna Biblioteca Nacional de Lisboa, buscando noEspólio III, lá existente, os textos poéticos deÁlvaro de Campos, com atribuição de FernandoPessoa, ou aqueles que, sem atribuição, me pa-reciam, por vários motivos, ser de sua “autoria”.Em 1990 vinha à luz o volume a que se chamouII, por ser de textos do heterônimo, mas que, naverdade, era o primeiro da coleção. Este volu-me constituiu, pois, o primeiro da Série Maior,com Aparato Genético. Em 1992, reapareceu,com acréscimos e correções, na Série Menor,

DE ÁLVARO DE CAMPOSDE ÁLVARO DE CAMPOS

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destituída do Aparato. Em 1999, por acordo en-tre a Imprensa Nacional, de Portugal, e a editoraNova Fronteira, do Rio de Janeiro, foi lançado ovolume em que se retomava o molde da SérieMenor, novamente revista e com notasexplicativas. As três, sob minha responsabilida-de.

É desta que transcrevo alguns versos de “APassagem das Horas”, “Saudação a WaltWhitman” e “Depus a máscara e vi-me ao espe-lho”, aos quais dei nova leitura, desde a ediçãode 15 de outubro de 1990, data do centenário deÁlvaro de Campos, segundo biografia criada porFernando Pessoa. Quase quinze anos se tinhampassado quando, na Universidade de Feira deSantana, tive a oportunidade de, a convite docolega e amigo Prof. Francisco de Lima, emnome da comissão organizadora do VII CELL,apresentar a um número considerável de estu-dantes vivamente interessados e atentos, algu-mas das alterações feitas por mim na leitura dospoemas em edições anteriores, à vista de trans-parências projetadas em telão. São estas as quelhes trago agora, neste volume que enfeixa ascomunicações e conferências com que partici-pamos – professores de vária procedência – dobem sucedido encontro de língua e literatura, deoutubro de 2004. Começarei por uma longa odesensacionista –

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“A Passagem das Horas”

Poema da mais alta significação do períodosensacionista de Fernando Pessoa-Álvaro deCampos, “A Passagem das Horas” é escrita ecitada num período que, com segurança, se podedelimitar entre 1916 e 1923.

Sempre tive a impressão de que alguns de seusversos não se engrenavam bem, mas atribuía-oao fato de apresentarem as odes sensacionistasde Álvaro de Campos enumerações algo caóti-cas e insistentes reiterações vocabulares oufrasais que buscavam dar “o canto das máqui-nas e da civilização moderna”, como dizia o pró-prio Pessoa em carta a Côrtes-Rodrigues. (Pes-soa, 2004, p. 413) Quando, pela primeira vez,tive em mãos as folhas do Espólio, verifiqueique a numeração das cotas tinha sido feita a partirda edição da Ática. Como se tratava de novefolhas datilografadas, com aspecto muito seme-lhante, nelas procurei os sinais que tinham au-torizado a ordenação proposta pela Ática. Nes-sa busca, deparei-me com alguns pontos, nãoduvidosos, senão definitivamente contestados.Para não estender-me mais, esclareço desde jáque só apontarei as divergências mais flagran-tes.

Explico: o texto publicado pela Ática, e uni-versalmente reproduzido, começa pela cota 70-

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13r. Desta à 70-14r. nada há a contestar. Passo àfolha 70-16, numerada, à máquina, no rosto (3)e no verso (4). Onde estariam as páginas 1 e 2,que esta numeração solicita? Não duvidei de queestivessem na folha 70-17, mas na ordem inver-sa da Ática.

Deixei-as de parte, temporariamente, comoa 70-18. No rosto da folha 70-19, porém, [ver afigura 1] surpreendeu-me que, à frente de umaúnica sílaba imitativa do som do vento “Ho...”,houvesse a indicação “growing as above”, en-quanto no verso da mesma folha (70-19v) [ver afig. 2] se lia “Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho” e, em se-guida, “in growing type, wind sound”; na linhaabaixo “three or four times over and growing inlength”. Claro estava que a folha tinha sido lidaao contrário e que era necessário inverter as pá-ginas: a indicação “growing as above” (= cres-cendo, como acima) não podia preceder as indi-cações da outra página, às quais se referia.

Duas convicções me ficaram da leitura aten-ta dos textos datilografados: a ordem propostapelos editores da Ática e seguida por todos eraseguramente errônea em dois pontos, e discutí-vel nos outros; esta constatação autorizava-mea tentar reordenar o extenso e importante poe-ma. [Ver, a fig. 3]

A partir da constatação acima, modifiquei-lhe fortemente a estrutura, acrescentando-lheapenas 47 versos.

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Segundo em extensão dos poemas do enge-nheiro – 554 versos – , situa-se entre a “OdeMarítima”, com 904, e a “Saudação a WaltWhitman”, com 340. No Espólio de FernandoPessoa, depositado na Biblioteca Nacional (Lis-boa), existem numerosos testemunhos do pro-cesso de escrita do poema: além de quinze pági-nas datilografadas, com mais de trezentos ecinquenta versos, em que se inserem alguns ver-sos manuscritos que na maioria conseguimos1 ler, existem ainda cinco outros testemunhosmanuscritos de extensão bastante variável (71-3rv, 71-24r e 711-6) – entre 2 e 33 versos. Umdeles (66A-29, com 27 versos2 ) foi por mim in-tegrado no texto, o que constitui uma das prin-cipais novidades desta edição.

Nos testemunhos encontrados, o de data maisantiga é de agosto de 1916, e o mais recente, deabril de 1923, o que leva à conclusão de que opoema teve uma longa gestação, pelo menos deagosto de 1916 a abril de 1923, não chegando àforma final, o que explicaria não ter completa-do o elenco pensado para Orpheu 3.

Nos manuscritos inéditos, colhi duas obser-vações: um tinha como subtítulo “end of morninghymn”, o que significa que o poeta inserira em“A Passagem das Horas” algo que se poderiachamar “Hino da Manhã”; noutro havia a indi-cação “part II”, a apontar para uma divisão dopoema em duas partes.

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EDIÇÕES ÁTICA E NOVA AGUILAR A PASSAGEM DAS HORAS

372 Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente,Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros

em fumo,Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linha

375 De si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca...Ho——

Ave, salve, via a unidade veloz de tudo!Ave, salve, viva a igualdade de tudo em seta!Ave, salve, viva a grande máquina universo!

400 Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis![...]

410 Ah, não estar parado nem a andar,Não estar deitado nem de pé,Nem acordado nem a dormir,Nem aqui nem noutro ponto qualquer,Resolver a equação desta inquietação prolixa,

415 Saber onde estar para poder estar em toda a parte,Saber onde deitar-me para estar passeando por tôdas as ruas...

Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho

Cavalgada alada de mim por cima de tôdas as coisas,Cavalgada estalada de mim por baixo de tôdas as coisas,

420 Cavalgada alada e estalada de mim por causa de tôdas as coisas...

Figura 3 (a)

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EDIÇÃO NOVA FRONTEIRA A PASSAGEM DAS HORAS

317 Ah, não estar parado nem a andar,Não estar deitado nem de pé,Nem acordado nem a dormir,

320 Nem aqui nem noutro ponto qualquer,Resolver a equação desta inquietação prolixa,Saber onde estar para poder estar em toda a parte,Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas,Saber onde

325 Ho-ho-ho-ho-ho-ho-hoHO-HO-HO-HO-HO-HO-HOHO-HO-HO-HO-HO-HO-HOHO-HO-HO-HO-HO-HO-HO

Cavalgada alada de mim por cima de todas as cousas,330 Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as cousas,

Cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as cousas...[...]

360 Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente,Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros

[em fumo,Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linhaDe si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca...

Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho365 HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO

HO-HO-HO-HO-HO-HO-HOHO-HO-HO-HO-HO-HO-HO

Figura 3 (b)

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Com essas ideias em mente, procurei estabe-lecer um encadeamento semântico entre as fo-lhas que não estavam obrigatoriamente, isto é,materialmente, ligadas entre si.

Havia duas folhas iniciadas pelo título “APassagem das Horas” e pelo mesmo verso, “Sen-tir tudo de todas as maneiras”, que exprime umanecessidade quase obsessiva do Sensacionismo,e é retomado no belo poema “Afinal, a melhormaneira de viajar é sentir”. Em resposta a uminquérito literário feito em abril de 1916,Fernando Pessoa fala de Orpheu e do MovimentoSensacionista; a respeito deste, diz: “A uma arteassim cosmopolita, assim universal, assim sin-tética, é evidente que nenhuma disciplina podeser imposta, que não a de sentir tudo de todas asmaneiras”. (Pessoa, 2004, p. 428). Em prosa ouverso, a mesma afirmação que, por isso mesmo,deveria iniciar o poema, de mais a mais sendoprecedida de título; mas, se ela aparecia duasvezes, como escolher?

As cotas 70-17 e 70-163  (v. fig. 2 e 1), agorajá postas em ordem conveniente, notei que for-mavam um todo; seu último verso4, escrito noquarto superior da página, é nitidamente con-clusivo: “E depois deem-me a cela que quise-rem que eu me lembrarei da vida”. A não utili-zação dos três quartos finais da página comple-ta a ideia de fecho, total ou parcial. Deixei-as de

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lado e tomei a folha 70-15, iniciada do mesmomodo.

Dos cinco últimos versos, quatro repetiamanaforicamente “Meu coração”; o quinto era:“Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração”. Afolha 70-13 (pela qual se iniciava o poema naÁtica) abria-se por versos que continuavam estesentido interrompido: “Trago dentro do meucoração”, e seguintes. Esta folha e a 70-14,inseparáveis, terminavam com um belíssimohino à noite. Confrontadas as folhas restantes,pareceu-me que apenas uma se encadearia aqui:depois da noite, o “Clarim claro da manhã aofundo / Do semicírculo frio do horizonte,” (v.199-200, cota 70-20)5 . Manhã que passa aomeio-dia de sol a pino, cheio de “rumor tráfegocarroça” e, na confusão desse tráfego, obsessi-va, a palavra “rua”, numa enumeração caóticada qual é abolida a pontuação (caso único emqualquer Pessoa) e que nos leva à folha 70-18:“Viro todos os dias as esquinas de todas as ruas,”(v. 244). Nessa hora plena do meio-dia – fim damanhã –, permiti-me introduzir o texto fortemen-te expressivo subintitulado “end of the morninghymn”, que fecha o período matinal crescendoem agressividade “para o destino, para Deus”(66A-29). Daqui passei às folhas 70-19v e 19r,por esta ordem, já explicada: nelas se retoma a

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manhã, como que a resumir: “Todas as madru-gadas são a madrugada e a vida.” (v. 298). E surgeo ruído crescente do vento, a instigar e excitar opoeta, cavalgando ele mesmo em meio a todasas coisas, cada vez mais identificado com elas,seus nervos identificados às máquinas. Na últi-ma folha, 70-21, a paroxística violência com quechama as coisas a si e sente que começa aentardecer, dentro e fora de si: “Declina dentrode mim o sol no alto do céu.” (v. 410). E, comoquase sempre em Álvaro de Campos, o tom vaibaixando e a cavalgada se desmantela, desarti-cula, essa “Cavalgada eu, cavalgada eu, caval-gada o universo-eu.” (v. 423).

Como se vê, resulta daqui uma nova ordena-ção dos testemunhos, que é 70-19v, 70-19r, 70-21. Esta ordenação suscita uma nova leitura: opoema se abre com o lema do Sensacionismo,sem implicação de tempo, “num só momentodifuso, confuso, completo e longínquo”, até overso 141. O primeiro momento fixado é a tarde(v. 142-3); Chega a noite, a madrugada, a ma-nhã plena, o meio-dia e novamente a tarde (v.410-1). Assim se estabelece o ciclo ininterruptodo fluir irrecorrível do tempo, da inexorávelpassagem das horas.

No entrosamento tão justificável destes tex-tos, não havia brecha onde inserir as duas folhas(70-17 e 16), a primeira das quais tem o mesmo

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verso inicial da 70-15 que eu deixara de lado àespera de ulterior decisão. Foi aí que me ocor-reu a sugestão (?) do poeta, ao classificar umpequeno texto na “parte II”. Por que não consi-derar que, na longa elaboração do poema, dan-do-se conta de que os textos em parte se repeti-am – sendo um a versão semelhante e compactado outro –, não teria o poeta optado (ou tendidoa optar) pelo desdobramento em duas partes?Desta segunda parte desapareceu a noção de tem-pos em sucessão. O verbo no infinitivo, com sen-tido optativo, transmite a ideia de continuidadedo desejo: “Obter tudo por suficiência divina –”e “Poder rir, rir, rir despejadamente,” rematan-do com o imperativo: “deem-me a cela que qui-serem que eu me lembrarei da vida.” (v. 114,123, 129). A cela, como metáfora de fechamen-to, o fechamento num lugar de onde se lembra avida, que está no espaço da morte, onde já nãopode haver tempo, restando apenas lembrar apassagem de horas que é a vida.

Não se poderá saber – a não ser que apare-çam outros testemunhos – se esta ordenação éválida. Sabe-se já que a que se seguia até aquitem seguramente dois pontos indefensáveis. Norestante, não sei que critérios se seguiram, ou seo texto foi, tal como está, para o revisor/tipógra-fo. Aqui apresento os critérios que adotei, cons-ciente de que são discutíveis.

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“Saudação a Walt Whitman”

Este é o poema de Campos de que há maiornúmero de fragmentos mais ou menos extensos,denotativos da importância que lhe atribuíaFernando Pessoa e do afã que punha em sua ela-boração. Deixou-o incompleto, tal como “A Pas-sagem das Horas”, e isso deve explicar o não tê-los publicado, como fez às outras duas grandesodes sensacionistas - a “Ode Marítima” e a “OdeTriunfal”.

Na Ática e edições subsequentes, a “Sauda-ção” tem 217 versos, que devem ter tido comoorigem as sete folhas datilografadas que têm noEspólio as cotas 70-5 a 70-11. O seu texto é dosmais lacunares deste heterônimo: em várias fo-lhas se interrompe o datiloscrito a meio da pági-na, que se completa em manuscrito por vezesquase ilegível. O ter sido deixado inacabado e asignificativa quantidade de textos experimentais– algo como o que em música se chama de vari-ações sobre um mesmo tema, nos quais o poetabuscaria afinar o instrumento, até conseguir aharmonia desejada – despertam o desejo de ten-tar completá-lo, em parte ao menos, tarefa emque é preciosa a existência do seguinte projetoencontrado no Espólio, bastante elucidativo daestruturação do poema [A SEGUIR] e de um Es-quema incompleto do mesmo, que o confirma,

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além de um breve projeto em inglês, bem con-soante com os anteriores.

Introdução. Maneira como saúdo Walt Whitman.

Descrição de quem era Walt Whitman e de porque é queo saúdo.

Por isso em natural e artificialEm feito e por fazer te saúdo, em pensamentoE em irrealizar-te universal parto a saudar-teEmerjo de mim até ti para me encontrarE pra saudar-te, procuroComo quem procura palavras estranhas no dicionário, eas esquece,Todas as formas psíquicas de minha consciência de mim!

Falência da saudação. Porque falha. Natureza do artis-ta em geral, e sua fraqueza essencial. Fraqueza minhapropriamente

E eu, que nem sequer sou O Artista, mas Um Artista,Não um Poeta, mas simplesmente Álvaro de Campos.

ConclusãoConclusão a rodas partidas!Final a motores parados.Pane no génio por nascer!Dérapage da consciência em mim,Folgas, falhas, loquéis no encontro comigoParafusos que faltam no meu dinamismo.

(Pessoa, 1999: 65-66)

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A incompletude dos testemunhos datilogra-fados, o número considerável de outros, quasetodos manuscritos, por um lado; por outro, osprojetos de estruturação do poema, um dos quais(o que acima se transcreve) o mais completo queencontramos entre os milhares de papéis, leva-ram-me a dubitar a sequência das folhas na Ática,já que nenhuma indicação do Autor orientou oseditores nessa tarefa. Examinando-as cuidado-samente, verifiquei que só não se pode contes-tar o encadeamento de 70-5v a 70-6r, ligadas pelareiteração de “Não sei se” e estando 70-5v escri-ta até ao fim. As outras folhas podem ser dispos-tas em mais de uma ordem, até porque os váriosfragmentos ou partes do poema, como acontececom frequência nas odes sensacionistas, repe-tem-se em parte, num processo de reiteraçãointensiva, que faz mais lenta a marcha do dis-curso, dando-lhe, porém, maior agressividade.O poderem ser intercambiáveis cria a desconfi-ança não só na ordem proposta pelos primeiroseditores como nas que se possam propor, inclu-sive a minha.

Logo no começo da ode, no rosto da folha70-5 [VER A FIG. 4 NA PÁGINA SEGUINTE], FernandoPessoa introduziu alterações de ordenação pou-co claras, contornando os versos 5-12 e 25-32(do testemunho) com retângulos a tinta, marca-dos, respectivamente, com (a) e (b)6 . Esses dois

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blocos foram unidos tanto pela Ática (são os seusversos 17-32) como por mim (versos 5-24). Di-ferimos no ponto do poema em que os inseri-mos. A decisão que tomei, diversa da dos pri-meiros editores, não a pretendo indiscutível, masdefensável por razões de ordem sintática e se-mântica, e por baseá-la na sequência de itens doprojeto. Em minha leitura, há a caracterizaçãode Whitman (v. 5-24), seguida de um breveautorretrato de Campos (v. 25-28), que transitapara a correspondência afetiva entre os dois:“compreendo-te e amo-te” (v. 29); “Sei que meamaste também, que me conheceste,” (v. 31);“cá estamos de mãos dadas” (v. 35). É este amorcorrespondido que se patenteia no verso 37:“Quantas vezes eu beijo o teu retrato!” [VER PÁ-GINAS SEGUINTES, 28-29, COM O CONFRONTO DOS TEX-TOS]

Volte-se, pois, à passagem do v. 4 aos seguin-tes, sempre na nossa edição: “Saúdo-te, Walt,saúdo-te, meu irmão em Universo, / Ó sempremoderno e eterno, cantor dos concretos absolu-tos”, etc. É um encadeamento perfeito, pois asérie de mais de vinte vocativos definidores deWhitman, que se inicia no v. 4, estende-se atéao v. 24, completando a grande oração principalque nos seus três elementos fundamentais – su-jeito, verbo, complemento direto – resume a

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“Saudação”: “Saúdo-te, Walt, saúdo-te”, onde,pela primeira vez, aparece o vocativo. Sintati-camente má, com a vírgula posta após o v. 4,seria a passagem deste, “Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,” ao v. 13 do teste-munho (v. 25 da nossa edição): “Eu, de monóculoe casaco exageradamente cintado, / Não sou in-digno de ti”. Na leitura anterior, havia uma que-bra da descrição de Whitman pela intromissãoda autodescrição do heterônimo, seu cantor.

No empenho de restituir ao poema asequência determinada por Pessoa – se, na ver-dade, ele chegou a determiná-la, sendo as váriasfolhas mais que as peças de um puzzle a sermontado –, ou de atribuir-lhe a ordem que eleplaneara no projeto atrás mencionado, atenteinos seus cinco itens, verificando que em três eleinsiste no saudar: no primeiro, como; no segun-do, porquê; no terceiro, novamente porquê emais como e com quê. Nos dois finais, fala da“Falência da saudação”, sendo o último umasucessão de metáforas do falhanço daquele quese definira, no item anterior, não “O Artista, masUm Artista, / Não um Poeta, mas simplesmenteÁlvaro de Campos”. Assim, pois, todos os frag-mentos do saudar devem preceder os outros: omais problemático é como ordená-los dentrodesse primeiro espaço do poema.

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[Confronto das textos]

EDIÇÕES ÁTICA E NOVA AGUILARSAUDAÇÃO A WALT WHITMAN

PORTUGAL-INFINITO, onze de junho de mil novecentos e quinze. . .He-lá-á-á-á-á-á-á!

De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,

5 Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser. . .Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,

10 E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,Sei que me amaste também, e que me conheceste, e estou contente.Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,Quer pela Rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a Rua do Ouro,

15 E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.

Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,Concubina fogosa do universo disperso,Grande pederasta roçando-te contra a diversidade das coisas,

20 Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando Deus!

25 Cantor da fraternidade feroz e terna com tudo,Grande democrata epidérmico, contíguo a tudo em corpo e alma,Carnaval de todas as ações, bacanal de todos os propósitos,Irmão gêmeo de todos os arrancos,Jean-Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas,

30 Homero do insaisissable do flutuante carnal,Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,Milton-Shelley do horizonte da Eletricidade futura!Incubo de todos os gestos,Espasmo pra dentro de todos os objetos-força,

35 Souteneur de todo o Universo,Rameira de todos os sistemas solares. . .

Quantas vezes eu beijo o teu retrato!Lá onde estás agora (não sei onde é mas é Deus)Sentes isto, sei que o sentes, e os meus beijos são mais quentes (em gente)

40 E tu assim é que os queres, meu velho, e agradeces de lá –,

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[Confronto das textos]

EDIÇÃO NOVA FRONTEIRASAUDAÇÃO A WALT WHITMAN

PORTUGAL-INFINITO, onze de junho de mil novecentos e quinze...He-lá-á-á-á-á-á-á!

De aqui, de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,

5 Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,Concubina fogosa do universo disperso,Grande pederasta roçando-te contra a diversidade das cousas,Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,

10 Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando-te em Deus!

Cantor da fraternidade feroz e terna com tudo,Grande democrata epidérmico, contíguo a tudo em corpo e alma,

15 Carnaval de todas as acções, bacanal de todos os propósitos,Irmão gémeo de todos os arrancos,Jean-Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas,Homero do insaisissable do flutuante carnal,Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,

20 Milton-Shelley do horizonte da Eletricidade futura!Incubo de todos os gestos,Espasmo pra dentro de todos os objectos de fora,Souteneur de todo o Universo,Rameira de todos os sistemas solares, paneleiro de Deus!

25 Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,

30 E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,Sei que me amaste também, e que me conheceste, e estou contente.Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,Quer pela rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a rua do Ouro,

35 E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.

Quantas vezes eu beijo o teu retrato!Lá onde estás agora (não sei onde é mas é Deus)Sentes isto, sei que o sentes, e os meus beijos são mais quentes (em gente)

40 E tu assim é que os queres, meu velho, e agradeces de lá –,

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Já ficou dito que as primeiras folhas (70-5 e70-6) se encadeiam naturalmente, sem contes-tação plausível. Nelas se faz a descrição dos doispoetas – destinador e destinatário –, dentro doque se chama, no projeto, “Introdução”. (Com-pletam a autodefinição de Campos (v. 25-36),agora visto como poeta, os versos de cota 71-3,que transcrevi entre os Textos Suplementares,intitulado dubitativamente “Passagem das Ho-ras ou Walt Whitman7 .

Ainda tendo como roteiro o projeto já men-cionado, procurei a coerência entre as folhas,alterando-lhes por vezes a posição anterior e in-serindo entre elas quatro textos que completa-vam o poema e que eram naturalmente pedidospor ele. Assim, diante da insistência no ato desaudar, reiterado nos três primeiros itens do pro-jeto (1.”como saúdo Walt Whitman”, 2. “por-que é que eu o saúdo”, 3. “parto a saudar-te”),escolhi um dos textos iniciados por “Para sau-dar-te” – datilografado, terminado em ponto – eo inseri no lugar que me pareceu adequado: v.131-145.

O mesmo fiz com o texto cujo incipit é oquestionamento em que se inicia a “Falência dasaudação”, prevista no item 4. Walt já está mor-to e o amigo lhe pede que o espere na “Esta-ção”, esteja ela onde estiver: v. (289-312) e, che-gada ao último item do Projeto, “Conclusão:

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Conclusão a rodas partidas! Final a motores pa-rados”, deparam-se-me catorze versos começa-dos por: “O fim a motores partidos!” Encerra-vam a “falência” e a passagem para a morte,morte-viagem, viagem de comboio, com Walt.A companhia deste é, porém, a grande compen-sação. Ir com Walt é ir para permanecer emmovimento, até a um fim que não o é, pois oterminus está situado no “Não-Parar”:

Quando parte, Walt, o último comboio pra aí?Que Deus fui para as minhas saudades seremestas ânsias?Talvez partindo regresse. Talvez, acabando,chegue,Quem sabe? Qualquer hora é a hora.Partamos,Vamos! A estada tarda. Partir é ter ido.

Partamos para onde se fique.Ó estada para não-haver-estadas!Terminus no Não-Parar!

(Pessoa, 1999: 77)

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Assim se fecha a ode, na minha proposta deleitura. Como em “A Passagem das Horas”, trazalgumas certezas, mas também algumas dúvi-das. Não tem, seguramente, as incoerências queapontamos nas edições anteriores.8 

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“Depus a máscara e vi-me ao espelho”

Na onda crescente da preparação de ediçõesfidedignas de Pessoa e seus heterônimos, a pri-meira a aparecer, em 1986, foi a fac-similada deO Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro,com apresentação e texto crítico de Ivo Castro,cujas primeiras palavras são: “Pessoa existe nosseus papéis. [...] só resta uma forma de até elechegar: lê-lo. Ler o que escreveu. Mas ler o queefectivamente escreveu.”(Pessoa, 1986: 9).

É a palavra clara, direta, objetiva do linguista,diante do texto. O que o preocupa não é o fatode que o texto pessoano é gerador de mitos, deque os heterônimos são textos antes de ser “po-etas”, antes de ter biografias. Não é ele um críti-co, interessado em analisar as vertentes da críti-ca diante “da criação ou da invenção dosheterônimos”, dividindo-se entre “[...] a versãodo artifício puro ou do jogo, e outra, mais clás-sica, embora levada a extremos de extravagân-cia, do desdobramento de personalidade.” (Lou-renço, 1986: 58-59)

Apontando essas duas vertentes, acrescentaEduardo Lourenço:

Não entraremos numa discussão que, emboa verdade, não tem sentido. Para os nossospropósitos basta admitir a eficácia criadora

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do mito, a sua efetiva encarnação em poemas-autores, suficientemente autónomos para tertrazido à vida esses irmãos, mais do que fi-lhos, de Pessoa, que nós chamamos, como eleo fez, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvarode Campos. É exato que Fernando Pessoa osdotou de uma biografia, de um corpo, de umdestino. Mas o verdadeiro corpo de cada um,o que basta, é o dos poemas que eles são.(Ibidem)

Como se vê, têm-se duas visões e duas preo-cupações nas palavras dos dois autores citados:Eduardo Lourenço busca o significado de umsigno em que confia, como confiávamos todosnós até à década de 1980 – o texto que, dadopela Ática, nos chegou, com poucas alteraçõese alguns acréscimos –; Ivo Castro, tendo tidoacesso a um manuscrito que pertencera a umprimo do poeta, e que continha uma versão pos-terior e bastante corrigida dos versos escritos empequenos pedaços de papel (origem do textoconhecido de O Guardador de Rebanhos), pôsem dúvida o signo que até agora circula. Estáele, pois, em busca do verdadeiro significante,aquele que efetivamente foi produzido por Pes-soa, aquele que se encontra no Espólio. Diantedessa denúncia, instala-se a dúvida e a conclu-são dela decorrente: se há erros a corrigir na

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transmissão dos textos, alterar-se-lhes-á, em par-te ou in totum, o signo, e, consequentemente, osigno maior, isto é, o poema. Eis um exemplo:um poema bastante conhecido, de Álvaro deCampos, de atribuição indiscutível, datado de11 de agosto de 1934, escrito, pois, pelo poetaem sua plena maturidade, no ano anterior ao dasua morte. Vejamo-lo, tal como se lê no teste-munho encontrado no Espólio III, sob a cota 69-25: [fig. 6] é um manuscrito a tinta azul, escritode um lado só do papel. É dos mais legíveis,mas algumas palavras apresentam dificuldadede leitura: uma delas é fica, lida como foi; outraé normalidade, lida como personalidade, ambasalterando o sentido do verso. Outras divergênci-as se encontram – menos aceitáveis porque nãotrazem problemas de leitura – que consistem emalterações da pontuação e do espacejamentoentre as estrofes. Passo à leitura da Ática, emconfronto com a nossa. (VER QUADRO SEGUINTE,NA PÁGINA 35)

Neste poema – que sempre me intrigou, poisnão conseguia entender como o poeta tornava apôr a máscara e ficava sem ela –, impressiona-ram-me, de partida, as mudanças feitas na pon-tuação. As reticências dos dois primeiros versostransformaram-se em pontos, bem como em vír-gula o ponto do v. 9; a do v. 6 desapareceu.

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Depus a máscara e vi-me ao espelho.–Era a criança de há quantos anos.Não tinha mudado nada. . .É essa a vantagem de saber tirar a máscara.

5 É-se sempre a criança,O passado que foiA criança.Depus a máscara, e tornei a pô-la.Assim é melhor,

10 Assim sem a máscara.E volto à personalidade como a um términus de linha.

EDIÇÕES NOVA FRONTEIRA

Depus a máscara e vi-me ao espelho...Era a criança de há quantos anos...Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara. 5 É-se sempre a criança,

O passado que fica,A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô-la.Assim é melhor.

10 Assim sou a máscara.

E volto à normalidade como a um terminus de linha.

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Recuperei, na minha edição, o que o poeta,efetivamente, escrevera. Sem a mesma certeza,mas, segundo me parece, com grande probabili-dade de acertar, pus espaço maior entre os ver-sos 3 e 4, 7 e 8, 10 e 11, pois, no original, há umligeiramente maior espaçamento entre eles.

Todas as alterações causadas por esta últimaleitura são importantes, como tentarei pôr emevidência, mas é claro que uma delas excede atodas: é, no penúltimo verso, a substituição desem por sou. A recuperação da forma correta,não a fiz eu, mas Ivo Castro, a quem ficamosdevendo a verdadeira versão do poema.

Como se pode ver pela fotocópia do manus-crito, as reticências ao fim dos dois primeirosversos parecem um ponto seguido de travessão,pois os pontos finais estão emendados, mas, sese atentar bem, ver-se-á que não se trata de umalinha da mesma espessura, produzida num sógolpe de pena – há no traçado duas pausas quecorrespondem aos pontos (na ampliação isso setorna indiscutível).

Além do fato de não serem fiéis ao original,que importância tem o de terem os editores subs-tituído pontos por travessão?

Nessa primeira estrofe (assim a considerei),o poeta faz o relato emocionado de algo que lheteria sucedido sem que o premeditasse, e cujaconsequência o surpreendera. Voluntária, co-

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mandada pela vontade, só a primeira ação: “De-pus a máscara”. Ver é apenas uma decorrênciade estar diante do espelho. Note-se que ele nãodisse “olhei-me”. Viu-se quase por acaso, semsaber o que veria. E as reticências criam o climade expectativa, de surpresa diante da inespera-da visão da criança que fora, “há quantos anos...”,muitos, não contados. Aqui as reticências retra-tam a indefinição, a extensão dos anos que pas-saram, tantos, que é surpreso que o sujeito líricoconstata: “Não tinha mudado nada...”.

Na segunda estrofe, e agora em plena consci-ência, reflete sobre a revelação recebida e con-clui pela positividade da descoberta: “a vanta-gem de saber tirar a máscara” é poder recuperara criança que foi e ainda é, recobrando, não opassado que passou, mas o que “fica”. Contra-pondo as duas versões do poema, quero ressal-tar que o que está na Ática é empobrecedor. Osexto verso sofreu duas deturpações: teve seuverbo substituído por outro, em tempo diferen-te, e perdeu a sua vírgula final. Esta foi suprimi-da voluntariamente (não é possível ignorá-la,pois é nítida e de tamanho exagerado, sobretu-do se comparada com a do verso anterior, quena cópia é quase invisível) para justificar a con-tinuidade de sentido: “O passado que foi / A cri-ança.” Acresce que o pretérito perfeito “foi” põeo passado no passado, quando o poema o

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presentifica na criança que volta na imagem aoespelho. Tal como está no testemunho, o acentoé posto na criança que é, ao mesmo tempo, apos-to e elemento a que este se apõe, situada nosversos 5 e 7, a cercar o passado que fica e quetem as mesmas funções, igualados ambos na re-cuperação poética.

A terceira estrofe retoma anaforicamente aprimeira, e repete-lhe ritmicamente o primeiroverso – são, ambos, decassílabos sáficos, quepoderiam decompor-se em dois tetrassílabos –;repete-lhe ainda, literalmente, o seu primeirotetrassílabo: “Depus a máscara”. Fica por aí arepetição, pois, enquanto no verso 1 a retiradada máscara leva o sujeito lírico à abertura, à des-coberta, no verso 8 ele volta atrás, fechando-senovamente em seu disfarce. Se cantara “a van-tagem de saber tirar a máscara”, agora diz que“torn[ar] a pô-la” “é melhor”. Assume-a: “As-sim sou a máscara.” E o último verbo que em-prega reitera o movimento regressivo de “tor-nei”, agravado num presente durativo que nãose sabe quanto durará: “volto”. E volta a quê?Ao que chama “normalidade” e compara a “umterminus de linha.” Assumida a máscara, esta éa sua normalidade. A ela volta, consciente deque nada haverá a percorrer para a frente, poisela é término de linha. Mas consciente tambémde que, sem a possibilidade de prosseguir, resta-

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lhe a de seguir pelo imaginário, retomando ocaminho de volta, despindo-se da máscara quese impôs e redescobrindo a criança no passadoque fica, que foi e sempre será seu. O caminhopossível é o próprio poema, “calhas de roda”onde gira o “comboio de corda” da sua imagi-nação. A máscara será para sempre a redomaposta para preservar a criança, mas que poderáser “deposta” cada vez que seja preciso trazê-lade novo.

A máscara de Álvaro de Campos, em relaçãoa ele mesmo, seria a face da sua idade madura, adisfarçar, talvez, o mais fundo do seu eu, a cri-ança que foi e é.

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1 Uso aqui o plural nós, pois que esta e outrasleituras extremamente difíceis do manuscri-to pessoano foram feitas com o apoio dosmembros da equipe, sobretudo do Prof. Dr.Ivo Castro, seu coordenador.

2 Leu-se pouco acima que acrescentei ao poe-ma 47 versos. Agora lê-se que o único ma-nuscrito por mim encontrado e integrado nes-ta edição (66A-29) tinha 27 versos. Explica-se: os vinte a mais foram versos de difícil lei-tura – somente agora decifrados – mais osque foram acrescidos na imitação do som dovento: “Ho-ho-ho-ho...” (v. 325-328 e 364-367).

3. Cf. fig. 2 e 1.4. Na folha 16v.5 Estes dois versos também estão no que poderá

ser um incompleto Projeto das Odes.6 Veja-se neste testemunho, bem claramente

traçadas, as linhas que limitam os dois retân-gulos.

NOTASNOTAS

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7 Chamo Textos Suplementares àqueles que,embora encaixáveis no corpo do poema, re-petem em parte os que lá pus. Este é o TextoSuplementar 7a.

8 Um acompanhamento mais de perto das alte-rações por mim propostas encontra-se na mi-nha edição pela Nova Fronteira.

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O texto presenteresulta da conferênciaMINHA EDIÇÃO DOS POEMAS

DE ÁLVARO DE CAMPOS,proferida em outubro de 2004,

na Universidade Estadualde Feira de Santana,

e publicada em Légua & meiaRevista de Literatura

e Diversidade Cultural,Ano 4, n. 3, 2005, p. 7-25.

EXPLICIT

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PorCLEONICE BERARDINELLI

DOS POEMASDE ÁLVARO DE CAMPOS

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