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REVISTA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES DOSSIÊ ESPECIAL A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA NA ALEMANHA 2015 . SUPLEMENTO REVISTA PORT.COM . EDIÇÃO FEVEREIRO

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"A Emigração Portuguesa na Alemanha" é o tema do Dossiê Especial da edição de fevereiro da Revista PORT.COM, Revista de Portugal e das Comunidades

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R E V I S T A D E P O R T U G A L E D A S C O M U N I D A D E S

DOSSIÊ ESPECIAL

A EMIGRAÇÃO PORTUGUESANA ALEMANHA

2015 . SUPLEMENTO REVISTA PORT.COM . EDIÇÃO FEVEREIRO

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Entrevista

Luís de Almeida Sampaio é o Embaixador de Por-tugal na Alemanha. Com 57 anos, e mais de trinta anos de carreira diplomática, representa uma co-munidade que “faz parte ativa de uma população cosmopolita, moderna e sofisticada”, composta por “excelentes embaixadores” de Portugal, com trabalhadores nos serviços e no comércio mas tam-bém “no mundo académico, intelectual e artístico”. A Port.Com falou com o diplomata ligado a esta vasta comunidade residente num país que é “um dos principais parceiros económicos e comerciais de Portugal, o segundo maior emissor de turistas para o país, um dos maiores investidores diretos e um dos maiores recetores das exportações [portu-guesas]”. Nos últimos 50 anos muita coisa mudou, mas para Luís de Almeida Sampaio há algo que se mantém inalterado: os portugueses na Alemanha são, como sempre foram, uma “comunidade exem-plar, prestigiada e motivo de orgulho para todos os portugueses”.

PORT.COM (P.C): É Embaixador de Portugal na Alemanha desde 2012. Como é que definiria a comunidade portuguesa aí residente?

Luís de Almeida Sampaio (LAS): É uma comu-nidade exemplar, prestigiada e motivo de orgulho para Portugal e todos os portugueses.

P.C.: É possível traçar um perfil geral do emi-grante atual?

LAS: O emigrante atual é essencialmente um tra-balhador no setor dos serviços e na dimensão co-mercial da economia alemã mais do que um operá-rio especializado, ao contrário do que acontecia há alguns anos. Para além disso, em certas regiões da Alemanha como, por exemplo, em Berlim e na área da grande capital alemã, os portugueses desempe-nham relevantes funções no mundo académico, intelectual e artístico, fazendo parte ativa de uma população cosmopolita, moderna e sofisticada que é o padrão das grandes metrópoles alemãs.

“OS LUSODESCENDENTES ASSUMEM AS ORIGENSCOMO UMA MAIS-VALIA

E UM ORGULHO”

Luís de Almeida Sampaio, Embaixador de Portugal na Alemanha

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DOSSIÊ ESPECIAL

P.C.: Quais são as principais zonas de im-plantação da comunidade no país?

LAS: Os portugueses estão dispersos e simul-taneamente integrados um pouco por todo o ter-ritório alemão mas é na Renânia do Norte Veste-fália, no Baden-Vurtemberga, em Hamburgo e em Osnabrück, que essencialmente se concentra a nossa comunidade. Não é por acaso que, pa-ra além da Secção Consular da Embaixada de Portugal em Berlim, há também Consulados-Gerais de Portugal em Düsseldorf, Estugarda e Hamburgo. Destes Consulados-Gerais erradia o apoio consular às comunidades portuguesas na Alemanha.

P.C.: Ainda existem os típicos “bairros de portugueses” ou a comunidade está inserida, também residencialmente, na sociedade?

LAS: A comunidade portuguesa está inserida e integrada, na sociedade alemã. Exemplo típico é o chamado “Bairro Português de Hamburgo” (Portugiesenviertel) que, apesar do nome e da proliferação de dezenas de restaurantes e cafés portugueses, neste local, é hoje habitado por mais alemães do que por portugueses.

P.C.: Qual é a relação dos lusodescendentes com Portugal? Sentem-se também um boca-dinho portugueses ou são já completamente alemães?

LAS: Os lusodescendentes continuam profun-damente ligados, do ponto de vista emocional, cultural e familiar, a Portugal e às suas origens. Nunca serão completamente alemães e assumem as suas origens como uma mais-valia e um motivo de orgulho.

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P.C.: Os lusodescendentes falam português? Conhecem o país? A sua história, sua cultura?

LAS: De forma não unívoca, porque há diferen-ças de região para região, ou de cidade para cidade, a maioria dos lusodescendentes preserva, designa-damente através da língua, a ligação a Portugal. Para além disso, o sistema de ensino do português na Ale-manha, com dezenas de professores espalhados pelo território alemão, procura dar resposta ao objetivo de valorizar e preservar o Português como língua de herança cultural.

P.C.: Ainda há o estigma do emigrante que chega ao país à procura de uma vida melhor?

LAS: Não há estigmas em relação aos portugueses na Alemanha. Os portugueses que vivem e trabalham na Alemanha são cidadãos da União Europeia, parti-lham o destino europeu com os alemães, fazem parte da grande família europeia.

P.C.: A comunidade portuguesa na Alemanha celebrou em 2014 o seu 50.º aniversário. O que é que mudou ao longo deste último meio século na emigração de portugueses para esse país?

LAS: Mudou exatamente o facto de os portugueses serem hoje cidadãos da União Europeia. Quando a vaga de maior emigração começou, nos anos sessenta do século passado, os portugueses que chegavam à Alemanha eram oriundos de um país que, para além das dificuldades económicas e sociais que passava, não era uma democracia nem integrava as comuni-dades europeias. Muito mudou para além disso, des-de logo a crescente maior e melhor qualificação dos portugueses emigrantes na Alemanha, mas eu diria que o aspeto mais estruturalmente significativo é esta pertença à Europa, à União Europeia, à nossa casa comum. É assim que os portugueses na Alemanha são vistos: como cidadãos europeus.

P.C.: Os emigrantes são bons embaixadores de Portugal na Alemanha?

LAS: São excelentes embaixadores. A imagem que projetam e a contribuição que dão para o apro-fundamento das relações bilaterais entre Portugal e a Alemanha é ímpar e eu tenho dela bem consci-ência na minha atividade diplomática quotidiana.

P.C.: Qual é a imagem de Portugal na Alema-nha? Alterou-se com o programa de ajustamen-to económico?

LAS: Portugal é visto como uma história de su-cesso, na ultrapassagem da crise económica e fi-nanceira que a Europa atravessa. Na Alemanha há a convicção de que Portugal vai vencer e que os nossos sacrifícios no cumprimento do programa de ajustamento económico e financeiro, com todas as exigências e desafios, é bem o exemplo de como uma nação antiga como a nossa sabe enfrentar os desafios que o presente nos coloca e vencê-los com grande categoria. A imagem é muito boa e a expectativa de que vamos ultrapassar a crise, rea-lizar as reformas estruturais inadiáveis e projetar um futuro com mais crescimento económico e eficaz combate ao desemprego, são hoje as marcas mais sublinhadas na Alemanha quando se fala de Portugal e dos portugueses.

“A Língua Portuguesa é um bem precioso do ponto de vista estra-tégico mundial. O português é a próxima língua da globalização, falado por mais de 250 milhões de pessoas no mundo.”

Entrevista

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DOSSIÊ ESPECIAL

P.C.: E como é que os emigrantes veem o Por-tugal atual?

LAS: Com expectativa. Claro que com preocupa-ção pela dimensão dos desafios que enfrentamos e com simpatia e solidariedade pelos sacrifícios que nos são impostos, mas sempre com a certeza de que estamos no caminho certo.

P.C.: A maioria dos emigrantes pensa regres-sar a Portugal depois da reforma ou vai manter-se na Alemanha?

LAS: Eu diria que há uma tendência crescente nas gerações mais recentes para a integração plena na sociedade alemã o que implica, naturalmente, que o número daqueles que têm como principal objeti-vo regressar a Portugal vá lenta mas paulatinamen-te diminuindo. Mas também isso é reflexo do facto de na Alemanha, ou em Portugal, nos sentirmos na Europa, na nossa casa.

P.C.: Como é que estão as relações comerciais entre Portugal e a Alemanha?

LAS: Têm evoluído muito significativamente. A Alemanha é um dos principais parceiros econó-micos e comerciais de Portugal, o segundo maior emissor de turistas para o nosso país, um dos maio-res investidores diretos e um dos maiores recetores das nossas exportações.

P.C.: Quais são os produtos e serviços portu-gueses mais apreciados pelos alemães?

LAS: O turismo, a indústria agroalimentar, desig-nadamente as frutas e legumes, o vinho, mas tam-bém o calçado, os componentes para a indústria aeronáutica e automóvel, as energias renováveis, a nanotecnologia. Já para não falar de setores que se reconverteram de uma forma notável e que são hoje uma história de grande sucesso, quando há

alguns anos eram considerados condenados como o calçado ou os têxteis-lar.

P.C.: Há um conjunto de empresas alemãs que têm um ótimo relacionamento com Portugal: A Bayer e a Siemens, por exemplo, estão em Portugal há mais de um século; a Volkswagen tem, há dezenas de anos, uma grande instalação em Palmela. Acha que a Alemanha vê Portugal como um país onde vale a pena investir?

LAS: Esses são os exemplos que contam e que têm servido para multiplicar a densidade do nosso relacionamento económico bilateral. Basta pen-sar que o maior investimento direto estrangeiro

“Ser Embaixador de Portugal na Ale-manha é, simultaneamente, um fasci-nante desafio e uma enorme respon-sabilidade, que eu cumpro com muito entusiasmo todos os dias.”

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realizado em Portugal desde o início do programa de ajustamento económico e financeiro - ou seja, como popularmente se diz, durante o período da presença da “Troika” em Portugal - foi justamente um investimento alemão, o novo investimento da Volkswagen na Autoeuropa de Palmela, num valor superior a 670 milhões de euros.

P.C.: E relativamente à língua? Começa a ha-ver, por parte dos alemães, interesse em apren-der português?

LAS: A Língua Portuguesa é um bem precioso do ponto de vista estratégico mundial. O português é a próxima língua da globalização. Falado por mais de 250 milhões de pessoas no mundo, é a ponte, a porta e a chave, para mercados na América Latina, no Atlântico e na África, que ninguém conhece tão bem como os portugueses e as empresas portugue-sas. É evidente que na Alemanha há a consciência crescente da importância estratégica da Língua Portuguesa.

P.C.: Como é o dia-a-dia de um embaixador?LAS: O Embaixador de Portugal na Alemanha

está na primeira linha no exercício da nossa política externa. Não há descanso, nem fins de semana ou feriados. É a imagem de Portugal, a promoção dos nossos interesses empresariais, políticos, diplomá-ticos e económicos que está em causa. Ser Embai-xador de Portugal na Alemanha, especialmente na Alemanha de hoje, é, simultaneamente, um fasci-nante desafio e uma enorme responsabilidade, que eu cumpro com muito entusiasmo todos os dias.

P.C.: Há uma relação de proximidade entre o embaixador e a comunidade ou trata-se de uma relação mais institucional?

LAS: Eu tenho a maior proximidade possível com

as comunidades portuguesas, em todas as minhas deslocações pela Alemanha e, em grande número das minhas atividades na capital, dirijo-me, con-grego e mobilizo as comunidades portuguesas e tenho a convicção de que isso é reconhecido e respeitado pelos nossos compatriotas.

P.C.: De que forma é que a Comunidade é ou pode ser apoiada nos seus esforços no que con-cerne ao seu papel no reforço das relações luso-alemãs?

Luís de Almeida Sampaio nasceu no Porto, há 57 anos. Depois de estudar Direito em Coimbra e História do Século XX em França, ingressou na carreira diplomática há mais de trinta anos.

Entrevista

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DOSSIÊ ESPECIAL

LAS: Faz parte da minha ação de todos os dias promover o papel da Comunidade Portuguesa no quadro do reforço das relações luso-alemãs, constituindo, pois, uma das prioridades do meu mandato, assim como do desempenho das mi-nhas f unções. A Embaixada de Por tugal em Berlim e os Consulados-Gerais de Portugal na Alemanha sabem bem a importância e a energia que devotamos sempre a estas questões.

P.C.: Como é viver na Alemanha?LAS: A Alemanha é um país com grande qua-

lidade de vida, com uma população vibrante e tolerante, com a consciência de que tem uma especial responsabilidade no contexto atual da vida da Europa e onde dá gosto trabalhar e viver. Do ponto de vista cultural a Alemanha é um país

fascinante e de oferta quase inesgotável. É um privilégio, a que dou valor permanentemente, trabalhar e viver na Alemanha.

P.C.: Quais são as principais diferenças en-tre os dois países?

LAS: Portugal é um país voltado para o Atlânti-co, hoje reconciliado com a Europa, com apenas um vizinho, partilhando simultaneamente o espaço global representado, designadamente, pela Língua Portuguesa e o destino europeu que escolhemos desde a consolidação da nossa de-mocracia em 1976 com o início da caminhada que levou à nossa integração europeia. Somos um país de dimensão média e com grandes res-ponsabilidades que vão muito para além da nos-sa contingência geográfica e populacional. A Alemanha está no centro da Europa, com tudo o que isso implica, desde logo ao nível da perceção que os alemães têm de si próprios e do seu país. A Alemanha é o motor económico e, cada vez mais, político, da União Europeia. Além disso, a Alemanha é um Estado Federal por isso há mui-tas Alemanhas na Alemanha e há vincadíssimas diferenças entre o norte e o sul ou entre o oes-te e o leste, o que é também simultaneamente um grande desafio e uma fonte permanente de aprendizagem para quem aqui exerce funções como as minhas.

P.C.: De que é que sente mais saudades de Portugal?

Portugal tem muitas coisas que a Alemanha não tem - e o inverso também é verdadeiro - mas quando vou a Lisboa e passeio perto de minha casa, junto ao rio, na zona de Belém, digo fre-quentemente, de mim para mim, que, uma luz como a nossa, a Alemanha não tem.

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Em 2013, a emigração portuguesa para a Alemanha aumentou 50%. O país considerado o “motor económico eu-ropeu” é, agora, a casa de cerca de mais 140 mil portugueses. A crise laboral,

económica, financeira e política em Portugal levou ao aumento de emigrantes portugueses na Alema-nha – uns saem pela insegurança, outros porque já foram atingidos pelo desemprego.

MIGUEL CARVALHO, 30 ANOS ENGENHEIRO DE SOFTWARE

Miguel Carvalho mudou-se com a sua cara-metade para Hamburgo, em 2011, pela mesma razão que leva centenas de portugueses a saírem todos os anos de Portugal – a falta de condições laborais. A adaptação ao novo país não foi difícil, “o mais complicado é a

constante necessidade de aprendizagem, desde leis, sistema de saúde, finanças, entre outros e… encontrar casa. O mercado imobiliário é muito competitivo, a oferta é pouca, e a que existe é normalmente gerida

Comunidades

A PORT.COM falou com cinco portugueses que estão a morar atualmente na Alemanha, e que fazem da sua vida um ponto de

encontro entre Portugal e a Alemanha.

PONTO DE ENCONTRO ENTRE PORTUGAL

E A ALEMANHA

Por Márcia de Oliveira

Sinto muita falta do que aqui chamam “ser espontâneo”, diz Miguel Carvalho.

hamburgo

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DOSSIÊ ESPECIAL

por agentes imobiliários, aos quais se tem de pagar a “módica” quantia de 2,38 vezes do valor da renda mensal sem despesas (aqui chamada de renda fria)”.

O que em Portugal são hábitos comuns, rapidamen-te se perdem na Alemanha. “Um hábito que posso di-zer que mudou, foi o de me encontrar com amigos ao fim-de-semana no café. Aqui combinam-se mais fes-tas em casa uns dos outros, o que acaba de certa forma por substituir a cultura de ir ao café portuguesa”.

Família, amigos e sol são as três coisas de que mais sente saudades em Portugal. “Também sinto muita falta do que aqui chamam de “ser espontâneo”, que para mim é uma das melhores características do por-tuguês. Outra coisa da qual também sinto falta é de alguns dos nossos produtos alimentares, isto é, legu-mes, fruta e carne”. Mas viver na Alemanha também tem os seus pontos positivos: “A cidade é muito orga-nizada. O que me faz gostar muito de viver aqui, é a forma como as pessoas aproveitam a vida ao ar livre”. E a comunidade portuguesa é unida? “Haverá certa-

mente grupos da comunidade que são muito unidos, mas não posso considerar, de forma alguma, que a comunidade portuguesa é unida. Existem muitas quezílias e “quintalinhos” entre as pessoas que gerem as iniciativas e atividades culturais dentro da comu-nidade. Desde marcarem festas propositadamente para a mesma data, de forma a “roubarem” público uns aos outros, até ao facto de apenas darem espaço e atenção às atividades/opiniões que lhes convêm, há um pouco de tudo. Acrescentando a isto a enorme diferença geracional existente entre a nossa e a ge-ração mais velha, havendo de certa forma uma falta de compreensão entre ambas as partes, faz com que sejamos rejeitados por instituições das quais à partida esperávamos ter apoio incondicional na realização de eventos culturais. Mais bizarra se torna ainda a situa-ção, ao verificar que alguns amigos acabaram por ter que recorrer ao Instituto Cervantes para promover/realizar os seus eventos culturais, dado terem sido rejeitados/ignorados pelo Instituto Camões”, destaca.

O mercado laboral alemão é favorável, por isso, “por enquanto, limitamo-nos aos regressos temporários a Portugal para gozar da companhia da família, rever os amigos e aproveitar o muito e bom que o país tem para oferecer ao nível de sol, praia e turismo”.

SOFIA RODRIGUES , 25 ANOSEMPREGADA DE MESA

Na área da hotelaria também existem muitos portugueses que procuram novas oportunidades fora do nosso país. É o caso de Sofia Rodrigues que, depois de terminar a licenciatura em 2013, viu o mercado de trabalho em Portugal fechar-lhe as portas. “Procurei em diversos locais e não consegui arranjar nada. Por isso decidi tentar a minha sorte

Anos 60 e 70

. Pouco qualificados

. Integração mais difícil

. Executantes

. Mal necessário para os alemães. Regresso como objetivo possível. Quando chegaram só fala-vam português

Vaga atual

. Qualificações elevadas

. Europeizados e de fácil integração. Criadores. Bem-vindos. Projeto de vida e procura de carreira internacional. Fala mais que uma língua

O que distingue, em traços gerais, os “velhos” dos “novos” emigrantes:

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em Colónia”, diz. A língua foi o maior obstáculo que encontrou, mas isso não a fez desistir. “O estilo de vida e as condições económicas são demasiado ali-ciantes para pensar em voltar para já para Portugal, apesar de ter saudades da rotina portuguesa, dos pastéis de nata, da família e dos amigos. E isso é o que custa mais”.

PEDRO LOPES, 32 ANOSEMPRESÁRIO

Pedro Lopes é o homem dos sete ofícios: faz 20 horas por semana de tutoria a um pré-adolescente com problemas de integração, desenvolve uma vez por semana um curso lúdico-criativo para crianças numa outra escola e, aos fins de semana, ainda tem um pequeno café onde vai desenvolvendo ativida-des culturais.

Chegou a Hamburgo em dezembro de 2012, depois de ter conhecido a namorada (alemã) em Lisboa. Tem saudades do sol, da família, da espon-taneidade de poder estar com amigos e do ritmo de vida português, mas já se adaptou à vida na Ale-

manha. “Levanto-me às 06H00, gosto de algumas especialidades locais como o fischbrötchen [sandes com peixe e cebola] ou franzbrötchen [bolo com manteiga e canela] e já comecei a ler em alemão” explica, salientando que “quando começamos a entrar dentro desta nova estrutura social que é a Alemanha e começamos a criar laços com diversas pessoas, a cidade começa a ganhar emoções que acabam por tornar a vida consideravelmente pra-zenteira”. O regresso a Portugal não está para um futuro imediato.

RAÚL PEREIRA, 29 ANOS, EMPREGADO DE MESA

Munique é a cidade que Raúl escolheu para viver desde outubro de 2012. “Mudei-me, porque, eu e a minha ex-namorada, decidimos embarcar numa nova aventura, dada a situação em Portugal em termos de trabalho”. O clima frio, a inexistência de mar, a falta de praias, a língua e, sobretudo, a gastronomia portuguesa, fizeram muita falta nos primeiros tempos, mas ao longo dos anos foi-se

O estilo de vida e as condições económicas são demasiado aliciantes para pensar em vol-tar, diz Sofia Rodrigues.

Pedro Lopes tem saudades do sol, da família e de poder estar com amigos mas já se habituou à vida na Alemanha.

hamburgoColónia

Comunidades

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adaptando. Os hábitos portugueses mantêm-se, até porque como diz “nunca irei ser um português-alemão. Os poucos motivos que me levam a gostar de viver aqui, são decididamente financeiros. Claro que podemos também falar da segurança que sen-timos quando, por exemplo, vamos sair à noite, ou em termos de saúde, que temos sempre ajuda do estado mesmo no privado”.

Quanto a voltar para Portugal, “por mim ia já amanhã. O que me leva a ficar aqui é apenas a segu-rança que tenho em termos de trabalho”.

MARGARIDA SILVAENFERMEIRA

Margarida é uma das muitas enfermeiras que tiveram de sair do país para ter uma oportunidade a nível profissional. Terminou a licenciatura em 2013, percorreu vários hospitais e lares de idosos mas nunca obtinha resposta. Ao fim de alguns meses em casa decidiu tentar concorrer para a Alemanha. “Já tinha lido imensas propostas e eram de facto bem melhores que em Portugal, bem como a possibili-

dade de evolução na carreira, algo que em Portugal não existe”. Estudou alemão durante cerca de quatro meses e mudou-se para Hamburgo em setembro do ano passado. “O primeiro mês foi mais complicado, é uma cultura bem diferente da nossa, o tempo, a complexidade da língua.. Penso que no início o mais difícil foi a língua e a mudança de hábitos, como por exemplo o horário de trabalho, aqui um enfermeiro começa o turno da manhã às 06H00”.

Gosta de viver em Hamburgo, porque está a exer-cer a sua profissão e é valorizada por isso. “Acho Hamburgo uma cidade muito bonita e muito bem organizada, mas tenho imensas saudades da minha família, dos meus amigos e da minha cidade. Cresci e vivi toda a minha vida a beira mar, e sinto sauda-des dessas pequenas coisas da vida. Um passeio sossegado na praia, muito sol e sem a agitação da multidão…”, desabafa.

Voltar para Portugal, de momento, é uma ques-tão complicada para a enfermeira. “Por um lado as saudades são muitas, mas por outro aqui tenho pos-sibilidade de progredir na carreira e ganhar maior estabilidade profissional”.

Raúl Pereira regressava a Portugal “já amanhã”, mas a segurança financeira fala mais alto.

“Aqui tenho possibilidade de progredir na car-reira e ganhar maior estabilidade profissional” afirma Margarida Silva

Hamburgomunique

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Comunidades

A 10 de setembro de 1964, como tan-tos outros portugueses, Armando Rodrigues de Sá embarcou num comboio em Lisboa rumo a uma nova vida na Alemanha. Quando

chegou à estação de Colónia-Deutz foi surpreendi-do com uma receção que incluiu banda de música, flores e uma motorizada: o acaso determinara o emigrante português como o milionésimo a chegar à Alemanha naquele dia, entrando para sempre para a História do país.

Cinquenta anos depois ( em 2014), no mesmo dia, foi a vez do seu neto, António de Sá, embarcar

em Santa Apolónia para refazer o percurso do avô. Foi a sua forma de homenagear uma figura que se tornou emblemática na Alemanha, mas permanece praticamente desconhecida em Portugal.

António de Sá foi acompanhado à estação de Santa Apolónia em Lisboa por representantes da Alemanha em Portugal, que participaram numa breve cerimónia. Depois António de Sá rumou à Alemanha na companhia da historiadora alemã residente em Portugal, Svenja Länder. Em Coló-nia, António de Sá participou nas celebrações em homenagem ao seu avô, ao lado dos dois filhos de Armando Rodrigues de Sá.

ARMANDO RODRIGUES DE SÁ SÍMBOLO DA EMIGRAÇÃO PORTUGUESA NA ALEMANHA

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DOSSIÊ ESPECIAL

O MILIONÉSIMO IMIGRANTE PORTUGUÊS

Armando Rodrigues de Sá nasceu em Vale de Madeiros, distrito de Viseu, a 4 de Janeiro de 1926. Trabalhava na Companhia Portuguesa de Fornos Elétricos. Era carpinteiro. E apesar de ter emprego decidiu tentar a sorte na Alemanha. Estávamos em 1964.

O dia era especial. Era dia 10 de setembro de 1964. Naquela manhã, chegavam à estação de Deutz, em Colónia, na Alemanha, dois comboios com 1106 trabalhadores estrangeiros: 933 espanhóis e 173 portugueses. E ao contrário do que acontecia ha-bitualmente, iam ter direito a um comité de boas vindas. Motivo: assinalar a chegada do milionésimo gastarbeiter – trabalhador convidado, em alemão.

O nome de Armando Rodrigues de Sá tinha sido selecionado previamente de uma lista de 20 portu-gueses por corresponder ao imigrante ideal para a sociedade alemã: tinha 38 anos, era casado, com dois filhos e ficaria no país temporariamente.

Nos anos seguintes, o anonimato em Portugal contrastava com o reconhecimento de que era alvo na Alemanha. Tornou-se um símbolo que repre-senta a história da imigração. Hoje, mesmo 36 anos depois de falecer, aparece nos livros escolares, é frequentemente referido em documentários te-levisivos e há vários filmes que recuperaram as imagens da chegada dele a Colónia.

A fotografia de Armando Rodrigues de Sá ainda figura nos manuais escolares da Alemanha a recordar o dia 10 de setembro de 1964, quando recebeu o título de milionésimo imigrante a en-trar no país, numa receção que incluiu banda de música e até a oferta de uma motorizada. Uma surpresa tão grande que ele pensou que «era a PIDE que o vinha prender».

António de Sá, neto de Armando de Sá, na viagem evocativa da aventura do avô

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Cultura

Contar a história da Alemanha é o argumento da Casa da Música, no Porto, para o “País Tema” de 2015. A história é contada através dos seus maiores compositores desde o século XVI até à atualidade, com destaque para os três compositores principais: Bach, Beethoven e Wagner.

Ao longo do ano será narrada toda a história ale-mã, partindo da transição do Renascimento para o período Barroco, com obras de Hassler, Schütz e também de Bach. Do Barroco, viaja-se até ao Clas-sicismo com concertos para piano de Beethoven. Do Classicismo parte-se para o Romantismo com a música de Weber e Wagner.

A abertura do Ano da Alemanha foi oficializada em janeiro com um concerto da Orquestra Sin-

fónica do Porto. O concerto marcou a estreia do novo maestro titular

da orquestra, o suíço Baldur Brönnimann. Este primeiro dia também foi assinalado pe-lo regresso do maestro Pedro

Burmester, num concerto para piano de Beethoven.

10.º ANIVERSÁRIO COM ESTREIA MUNDIAL

Este é também o ano em que a Casa da Música celebra dez anos de existência, com os momentos altos a acontecerem entre 9 e 12 de abril: a abertura fica a cargo de “Consagração da Casa”, a obra que Beethoven escreveu para a inauguração de um teatro em Viena e que desde então representa um hino para salas de concerto em todo o mundo.

Seguem-se a estreia mundial de uma encomen-da ao compositor português Pedro Amaral, obras-primas da música Barroca, música coral sinfónica, um showcase do Serviço Educativo que passa em revista alguns dos seus projetos mais marcantes, concertos da Banda Sinfónica Portuguesa e da Orquestra Jazz de Matosinhos e uma edição espe-cial do NOS Club, com a banda alemã Tangerine Dream.

ESTE É O ANODA ALEMANHA…

NA CASA DA MÚSICAQuer ouvir a história da Alemanha

e da “mais alemã das artes”? Até ao fim do ano pode fazê-lo na

Casa da Música do Porto.

A programação coloca em destaque a obra dos grandes mestres alemães da música clássi-

ca Bach, Beethoven e Wagner.

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DOSSIÊ ESPECIAL

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Cultura

Em 1993 nascia a edição ex-perimental do Portugal Post (PP), mas só em 1994 passou a ter uma edição re-gular, tendo sido publicado

ininterruptamente até aos dias de hoje. A comunidade portuguesa na Alemanha passou a ter um porta-voz e um órgão de informação atento aos seus problemas: revela as suas potencialidades, faz a pon-te entre a própria comunidade, impul-siona, divulga o que de melhor há no país, esclarece, denuncia situações de injustiça e dá voz ao movi-mento associativo, aos professores, pais e alunos.

“O Portugal Post é um exemplo de uma comuni-cação social posta ao serviço das preocupações, dos desafios e das esperanças de toda uma comunidade portuguesa que vive e trabalha na Alemanha. Não é apenas um jornal, mas sobretudo um elemento

incontornável na presença dos portu-gueses neste país (Alemanha)”, desta-ca Luís Almeida Sampaio, embaixador de Portugal em Berlim.

DEDICAÇÃO DE UMA VIDA À COMUNIDADE

PORTUGUESAMário dos Santos é o fundador des-

te que é o único jornal português da Alemanha e ainda se recorda bem do início desta longa viagem: “A vida da comunidade, na altura in-tensa e muito diferente da de hoje, não tinha eco em nenhum meio de informação. Sozinho, lancei mãos à obra valendo-me das minhas poupanças pessoais e publiquei, em 1993, uma edição experimental do Correio de Portugal (o título inicial do PP). Foi com esse número nos braços que percorri a Alemanha

PORTUGAL POST: O ELO DE LIGAÇÃO ENTRE PORTUGAL E A ALEMANHA

O jornal Portugal Post faz este mês 22 anos. São mais de duas décadas dehistórias da comunidade portuguesa na Alemanha, dos lusodescendentes e da nova onda de emigração provocada pela crise económica portuguesa.

Sempre em prol dos portugueses.

Por Márcia de Oliveira

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DOSSIÊ ESPECIAL

de lés-a-lés, distribuindo-o pelas associações, festas e encontros dos portugueses”. Em suma, era ele que escrevia, que fazia o grafismo e ia a todos os lados onde estivessem portugueses. “Nesses contactos comecei a conhecer e a compreender a comunidade, os seus inte-resses, as suas preocupações, etc… Tinha de perceber a comunidade e os seus interesses enquanto leitores. Tinha de me aproximar dos emigrantes se quisesse ir longe”, realça.

E foi tão longe que, para além da versão impressa, o PP criou também uma versão online. “Temos uma versão online desde 1998 que foi recentemente alte-rada. Agora, os leitores têm acesso ao jornal a partir da nossa página”.

A persistência e trabalho do jornalista, assim como dos colaboradores que considera como peças fun-damentais do jornal, resultaram no crescimento do órgão de comunicação social que, ao longo dos anos, se orgulha de nunca ter contado com apoios ou pa-

trocínios institucionais. “Nunca recebemos nada de qualquer entidade oficial. Houve quem insinuasse que o PP receberia dos partidos e até dos governos, mas fo-ram insinuações cujos objetivos me escapam. Em vez de conceder apoios, os governos deveriam conceder publicidade paga aos jornais das comunidades, como aliás fazem nos jornais em Portugal. Cumprimos uma informação social importante poucas vezes reconhe-cida; divulgamos gratuitamente informação oficial. Quem estiver atento sabe que é assim. Continuamos a depender da venda dos jornais e da publicidade. Foi sempre assim”, afirma o fundador. Quanto ao futuro, “imagino que o PP continuará a ser publicado durante muitos anos, enquanto houver comunida-de portuguesa ou descendentes dela”, conclui.

Mário dos Santos, fundador e diretor do Portugal Post

PUB

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LANDUNGSBRÜCKENO BAIRRO MAIS PORTUGUÊS

DA ALEMANHA

O Bairro Português em Hamburgo é, desde sempre, a imagem de marca da comunidade lusa na Alemanha. Mas, com a nova emigração,

surgiram visões diferentes sobre aquele espaço com selo lusitano.

Por Márcia de Oliveira

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DOSSIÊ ESPECIAL

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Bairro português

Em território alemão vivem cerca de 140 mil portugueses. Só em Hambur-go estão cerca de 10 mil. A distância de 2500 quilómetros entre a cidade e o nosso país tem de ser colmatada

de alguma forma, e é em Landungsbrücken, o famoso Bairro Português de Hamburgo, que os portugueses (e os alemães) encontram algum conforto para “matar” as saudades.

O galão e o pastel de nata não são as únicas mar-cas portuguesas no “little Portugal” alemão. Para além de haver dezenas de pastelarias, há outro fenómeno único: o bairro dos restaurantes por-tugueses. É um pequena rua com bandeiras por-tuguesas com restaurantes portugueses porta-sim-porta-sim. Há o Farol, a Casa Madeira, o Pes-

cador, o D. José, o Porto... Saindo da rua principal, ainda há o Cantinho do António, a Casa Benfica, a Varina, o Lusitano, entre outros. Este é o Kleine Portugiesenviertel, o pequeno bairro português, na Ditmar-Koel-Strasse, uma rua na zona turística perto do porto, onde a clientela dos restaurantes é sobretudo alemã, que procura os maravilhosos sabores portugueses.

O BAIRRO PORTUGUÊS VISTO PELOS NOVOS EMIGRANTES

Margarida Silva está em Hamburgo há poucos meses, mas já conseguiu perceber que os alemães “adoram os portugueses”. “Quando cheguei ao bairro português parecia que estava em Portugal:

EIN GALAO, BITTEUm galão, por favor

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o ambiente, a música, a boa disposição…tudo ca-racterísticas portuguesas”. Mas o mais engraçado, continua, “foi o facto de me parecer que os alemães frequentam mais aquela zona do que os próprios portugueses, adoram os portugueses e, principal-mente, a nossa gastronomia”. A enfermeira afirma que o bairro é um dos sítios que gosta mais, “até pe-la proximidade com o rio. O Hafen é um bom local para passear e sabe bem matar algumas saudades, nem que seja de ouvir a nossa língua”.

Os portugueses em Hamburgo têm muitas coisas em comum com outras comunidades de emigran-tes: há bailes, há comemorações de festas (Sto.

António, São João, já houve uma procissão de Fá-tima), às vezes com artistas portugueses, como Tony Carreira. Há igualmente equipas de futebol amadoras (Sporting, Porto e Benfica). Tudo para criar mais proximidade à cultura e gastronomia portuguesa. Mas esta nova vaga de emigrantes portugueses sente que falta algo. Miguel Carvalho mudou-se há quatro anos para Hamburgo, e diz que o bairro português gera diversos sentimentos nele. “É sem dúvida um bairro simpático onde, na generalidade, nos sentimos bem recebidos, até porque quase todos os seus cafés e restaurantes são geridos por portugueses. Se por um lado gosto

“Há o Farol, a Casa Madeira, o Pescador, o D. José, o Porto... Saindo da rua principal, ainda há o Cantinho do António, a Casa Benfica, a Varina, o Lusitano, entre outros”

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Bairro português

de lá ir de vez em quando comer uma nata ou jantar num dos restaurantes, onde sei que posso comer bons pratos típicos não muito germanizados, por outro lado, não deixo de ter um sentimento algo es-tranho, como se não pertencesse àquela realidade, já que o bairro e os seus restaurantes transmitem uma visão kitsch e ultrapassada do que é Portugal e a sua gastronomia atuais”, afirma à PORT.COM.

Para este engenheiro de software, “se é verdade que o que ali se observa é parte inquestionável do nosso ADN, é ainda mais verdade que Portugal mu-dou muito e tem hoje em dia uma cultura muito rica e diversificada, que vai muito para além do futebol, fado, música popular e galos de Barcelos”.

Esta opinião é reforçada por Pedro Lopes. “In-felizmente não são incomuns as histórias em que situações socialmente estranhas acontecem, tal-

vez derivado a um certo choque geracional, mas igualmente social. Confesso que foi dos primeiros sítios em Hamburgo onde fui à procura de um certo sentimento que pudesse ajudar a matar as sauda-des, mas cedo percebi que não seria bem ali que

O famoso Bairro Português de Hamburgo, Landungsbrücken, é um ponto de encontro de alemães e portugueses

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isso iria acontecer”, refere o empresário. E remata dizendo que, “assim sendo, poder-se-á igualmente falar de uma segunda comunidade de portugueses, de emigração relativamente recente mas que, por todo um conjunto de fatores, talvez não funcione de forma tão cerrada e não tão conjunta, sendo bastante difícil ligar a palavra comunidade a esta segunda vaga de emigrantes”.

A MODA DO GALÃO

Neste bairro, do tamanho de dois campos de fu-tebol, existem cerca de 40 estabelecimentos gastro-nómicos, dos quais cerca de metade estão nas mãos de portugueses. Aqui é natural ouvir os clientes a pedirem o galão tipicamente português: “Ein galao, bitte”. É algo que faz quem tem tempo para sair de casa e demorar meia hora no café antes de ir para o trabalho, com uma sandes, um croissant, ou um jornal a acompanhar. O pastel de nata, que também já foi “adotado” em vários outros sítios na cidade, fica para depois do almoço, ou ao lanche.

O Bairro Português costuma receber os festejos da comunidade portuguesa, como o Dia de Portugal e das Comunidades, 10 de junho.

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