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Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 1
Doutrina da Igreja
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PREFÁCIO
Doutrinas da Igreja é um manancial de conhecimentos, que veio
somar satisfatoriamente para o crescimento dos nossos obreiros.
O Mestre na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Bp. Josias Brito
esforçou-se exaustivamente por apresentar, em especial aos nossos
obreiros, um trabalho bem elaborado, que vale a pena compulsá-lo.
Companheiros e companheiras, alunos e alunas do nosso Seminário
em Teologia a nível Bacharel, vamos crescer no conhecimento! e juntos
faremos da nossa grande Igreja, uma potência mundial.
Juntos somos fortes!!
Bispo Cordeiro
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. .......................... 7
2. NOMES BIBLICOS DA IGREJA .................................................................................................... ............ 8
2.1. No Antigo Testamento ...................................................................................................................... 8
2.2. No novo Testamento .......................................................................................................................... 8
3. A FUNDAÇÃO DA IGREJA ....................................................................................................................... 10
3.1. Sobre quem a Igreja foi fundada? .................................................................................................... 10
3.2. A época da fundação ........................................................................................................................ 10
4. A NATUREZA DA IGREJA ................................................................................................................... .... 11
4.1. Definição ........................................................................................................................................... 11
4.2 A igreja é invisível, ainda que visível........................................................................... ..................... 11
4.3. A igreja é local e universal ................................................................................................................ 12
4.4. A igreja é militante e triunfante ......................................................................................................... 12
5. SIMBOLOS DA IGREJA ...................................................................................................................... ....... 13
5.1. O corpo de Cristo .............................................................................................................................. 13
5.2. O templo de Deus .............................................................................................................................. 13
5.3. A noiva de Cristo .............................................................................. ................................................. 14
5.4. A igreja é militante e triunfante ........................................................................ ................................. 14
6. PALAVRAS QUE DESCREVEM OS CRISTÃO ....................................................................................... 14
7. CARACTERÍSTICAS DISTINTAS DA IGREJA ....................................................................................... 15
8. A IGREJA E O REINO DE DEUS .............................................................................................................. 16
8.1. Qual é a relação entre a igreja e o Reino de Deus? ........................................................................... 17
8.2. A Igreja e Israel ................................................................................................................................. 18
9. A DOUTRINA DA IGREJA NA HISTÓRIA .............................................................................................. 20
9.1. A doutrina da igreja antes da Reforma .............................................................................................. 20
9.2. A doutrina da igreja durante e após a Reforma ................................................................................ 23
10. O PROPÓSITO DAIGREJA ........................................................................................................................ 26
11. OS OFICIAIS DA IGREJA .......................................................................................................................... 28
12. OS PODER DA IGREJA .............................................................................................................................. 33
13. A DISCIPLINA ECLESIÁSTICA ............................................................................................................... 34
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14. AS ORDENANÇAS DA IGREJA (Batismo e Ceia do Senhor) .................................................................. 34
14.1. Batismo ............................................................................................................................................. 35
14.2. A ceia do Senhor .............................................................................................................................. 41
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................... ................ 49
AVALIAÇÃO 1 ................................................................................................................................................. 51
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1. INTRODUÇÃO
A concepção reformada é que Cristo, pela operação do Espírito Santo, reúne homens
consigo, dota-os da verdadeira fé e, assim, constitui a igreja como Seu corpo, a communio
fidelium ou sanctorum (comunhão dos fiéis ou dos santos). Todavia, na Igreja Católica Romana
o estudo da igreja tem precedência sobre tudo mais, antecedendo até ao estudo da doutrina de
Deus e da revelação divina. O que se diz é que a igreja foi o instrumento da produção da Bíblia
e, portanto, tem precedência sobre ela; além disso, ela é despenseira de todas as graças
sobrenaturais. Não é Cristo que nos leva à igreja, mas a igreja que nos leva a Cristo. Toda a
ênfase recai, não sobre a igreja invisível como communio fidelium, mas sobre a igreja visível
como mater fidelium (mãe dos fiéis). A Reforma rompeu com este conceito católico romano da
igreja e centralizou a atenção na igreja como organismo espiritual, como outrora fora feito. Ela
deu ênfase ao fato de que não existe igreja fora da obra de Cristo e das operações renovadoras do
Espírito Santo; e ao fato de que, portanto, o estudo destas precede logicamente à consideração da
doutrina da igreja. (Louis Berkhof)
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2. NOMES BÍBLICOS DA IGREJA
2.1. No Antigo Testamento.
O Velho Testamento emprega duas palavras para designar a igreja, a saber, qahal (ou
Kahal), derivada de uma raiz qal (ou kal) obsoleta, significando “chamar”; e ‘edhah, de ya’adh,
“indicar” ou “encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado”. Às vezes estas duas palavras são
usadas indiscriminadamente, mas, de início, não eram estritamente sinônimas. ‘Edhah é
propriamente uma reunião resultante da combinação, e, quando aplicada a Israel, denota a
sociedade propriamente dita, formada pelos filhos de Israel ou por seus chefes representativos,
reunidos ou não. Por outro lado, Qahal denota propriamente a reunião de fato do povo.
Conseqüentemente, vemos ocasionalmente a expressão qehal ‘edhah, isto é, “assembléia da
congregação”, Ex 12.6; Nm 14.5; Jr 26.17. Vê-se que, às vezes, a reunião realizada era uma
reunião de representantes do povo, Dt 4.10; 18.16, comp. 5.22, 23; 1 Rs 8.1, 2, 3, 5; 2 Cr 5.2-6.
Synagoge é a versão usual, quase universal, de ‘edhah na Septuaginta, e é também a versão usual
de qahal no Pentateuco. Nos últimos livros da Bíblia [Antigo Testamento], porém qahal é
geralmente traduzida por ekklesia. Após o cativeiro a palavra qahal parece ter combinado as
nuanças de sentido de qahal e ‘edhah; e que, conseqüentemente, “ekklesia, como o principal
representante grego de qahal, naturalmente significaria para os judeus que falavam grego, tanto a
congregação de Israel, como uma assembléia da congregação”.
2.2. No Novo Testamento.
O Novo Testamento também tem duas palavras, derivadas da Septuaginta, ekklesia, de
ek e kaleo, “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”, e synagoge, de syn e ago, significando
“reunir-se” ou “reunir”. Synagoge é empregada exclusivamente para denotar, quer as reuniões
religiosas dos judeus, quer os edifícios em que eles se reuniam para o culto público, Mt 4.23; At
13.43; Ap 2.9; 3.9. O termo ekklesia, porém, geralmente designa a igreja neotestamentária,
embora nuns poucos lugares denote assembléias civis comuns, At 19.32, 39, 41. A preposição
ek, de ekklesia (ekkaleo), muitas vezes é interpretada no sentido de “dentre as massas do povo
comum” e indicando, em conexão com o uso escriturístico de ekklesia, que a igreja consiste dos
eleitos, chamados para fora do mundo da humanidade. Contudo, esta interpretação é duvidosa,
pois, originalmente, a preposição ek simplesmente denotava que os cidadãos gregos eram
chamados para fora das suas casas. Agora, não seria antinatural que aquela idéia inteiramente
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escriturística tivesse sido introduzida na palavra, pela revelação de Deus. Mas, na verdade, não
temos prova de que isso foi feito realmente. O verbo composto ekkaleo nunca é empregado desse
modo, e a palavra ekklesia nunca ocorre num contexto no qual se tivesse a noção da presença
daquele particular pensamento na mente do escritor. Deissmann simplesmente traduz ekklesia
pela expressão “a assembléia (convocada)”, considerando Deus como aquele que a convoca.
Dado que a idéia de igreja é um conceito caracterizado por muitas facetas, é natural que a
palavra ekklesia, aplicada a ela, nem sempre tenha exatamente a mesma conotação. No Novo
Testamento, Jesus foi o primeiro a fazer uso da palavra, e Ele a aplicou ao grupo dos que se
reuniram em torno dele, Mt 16.18, reconheceram-no publicamente como seu Senhor e aceitaram
os princípios do reino de Deus. Era a ekklesia do Messias, o verdadeiro Israel. Mais tarde, como
resultado da expansão da igreja, a palavra adquiriu várias significações. Igrejas locais foram
estabelecidas em toda parte, e eram também chamadas ekklesiai, desde que eram manifestações
da igreja universal de Cristo. Eis os usos mais importantes da palavra:
a. Com muita freqüência a palavra ekklesia designa um círculo de crentes de alguma
localidade definida, uma igreja local, independentemente da questão se esses crentes estão
reunidos para o culto ou não. Algumas passagens apresentam a idéia de que se acham reunidos,
At 5.11; 11.26; 1 Co 11.18; 14.19, 28, 35, enquanto que outras não, Rm 16.4; 1 Co 16.1; Gl 1.2;
1 Ts 2.14, etc.
b. Nalguns casos, a palavra denota o que se pode denominar ekklesia doméstica, igreja na
casa de alguma pessoa. Ao que parece, nos tempos apostólicos, pessoas importantes por sua
riqueza ou por outras razões separavam em seus lares um amplo cômodo para o serviço divino.
Acham-se exemplos deste uso da palavra em Rm 16.23; 1 Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2.
c. Num sentido mais geral, a palavra serve para denotar a totalidade do corpo, no mundo
inteiro, daqueles que professam exteriormente a Cristo e se organizam para fins de culto, sob a
direção de oficiais para isso designados. Este sentido da palavra está um tanto no primeiro plano
da Primeira Epístola aos Coríntios, 10.32; 11.22; 12.28, mas também parece que estava presente
na mente de Paulo quando escreveu a Epístola aos Efésios, embora nesta carta a ênfase seja à
igreja como organismo espiritual; cf. especialmente Ef 4.11-16.
d. Finalmente, em seu sentido mais compreensivo, a palavra se refere a todo o corpo de
fiéis, quer no céu quer na terra, que se uniram ou se unirão a Cristo como seu Salvador. Este uso
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da palavra acha-se principalmente nas cartas de Paulo aos efésios e aos Colossenses, mais
freqüentemente na primeira destas, Ef 1.22; 3.10, 21; 5.23-25, 27, 32; Cl 1.18, 24.
O vocábulo ekklesia significa “ajuntamento popular”, que eram as assembléias locais da
antiga Grécia, onde os magistrados decidiam a vida jurídica dos cidadãos (At 19.32, 41). No
Novo Testamento designa uma congregação local (At 9.31; 15.41; Rm 16.4) ou a comunidade
dos redimidos, a Igreja invisível e universal (1Co 1.2, 1.24; 1Pe 2.9,10). Nunca é usada para
designar um prédio, uma denominação ou à influência cristã na sociedade, mas a grupos locais
(At 8.1; Rm 16.16; 2Ts 1.4), e a todo povo de Deus, através dos séculos (Mt 16.18; 1Co 15.9; Ef
5.25ss).
3. A FUNDAÇÃO DA IGREJA
3.1. Sobre quem a Igreja foi fundada?
A igreja católica romana ensina que a igreja foi fundada sobre Pedro; para ela Pedro é a
“pedra” fundamental, sobre a qual a igreja está fundada, (se baseiam numa interpretação errônea
de Mt 16.18). Mas um exame cuidadoso de passagens paralelas nos revela que a pedra
fundamental sobre a qual a igreja está fundamentada é o próprio Cristo (cf. 1Co 10.4; 1Pe 2.8; Ef
2.20-22). Não é Pedro e tampouco sua confissão que são o fundamento, mas o próprio Cristo.
2. A época de sua fundação
As palavras de Jesus em Mateus 16.19 apontam para o futuro, “sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”. Jesus não edificou naquele momento, não começou ali em Pedro – a
Igreja ainda seria edificada. A igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecostes,
quando foi consagrada pela unção do Espírito. Assim diz Ladd:
“Na realidade a Igreja nasceu no Pentecostes, quando o Espírito Santo derramado sobre
o pequeno grupo de discípulos de Jesus, constituindo-os o núcleo do corpo de Cristo. Os
discípulos antes do Pentecostes devem ser considerados apenas o embrião da Igreja. A ekklesia
não é para ser vista apenas como a comunhão humana, resultado de uma fé e experiência
religiosa comum. É isto, porém mais do que isso: é a criação de Deus através do Espírito Santo”
(p.327).
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Assim como o tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória
divina (Êxodo 40:34), assim os primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e
consagrados como igreja pela descida do Espírito Santo. É muito provável que os cristãos
primitivos vissem esse evento o retorno da “Shekinah” (a glória manifesta no tabernáculo e no
templo) que, havia muito, partira do templo, e cuja ausência era lamentada pôr alguns dos
rabinos.
4. A NATUREZA DA IGREJA
4.1. Definição:
A Igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos. Essa definição
compreende que a igreja é feita de todos os verdadeiramente salvos. Paulo afirma: “cristo amou a
igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Ef 5.25). Aqui o termo “igreja” é usado para referir-se
a todos aqueles pelos quais Cristo morreu para redimir; todos os salvos pela morte de Cristo.
Isso, porém, inclui todos os verdadeiros cristãos de todos os tempos. O plano de Deus para a
igreja é tão grande que ele exaltou Cristo a uma posição de suprema autoridade por amor à
igreja: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu
à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef
1.22-23).
4.2. A igreja é invisível, ainda que visível.
Em sua realidade verdadeiramente espiritual como a comunidade de todos os cristãos
genuínos, a igreja é invisível. Isso se da porque não podemos ver a condição espiritual de
ninguém. Podemos ver os que freqüentam a igreja e perceber sinais externos de uma mudança
espiritual interior, mas não podemos de fato ver o coração das pessoas nem enxergar o estado
espiritual em que se encontram. Algo que só Deus pode fazer. Foi por isso que Paulo afirmou:
“O senhor conhece os que lhe pertencem” (2Tm 2.19). Mesmo em nossas igrejas e em nossa
vizinhança só Deus sabe, com toda certeza e sem errar, quem são os verdadeiros cristãos.
Podemos dar a seguinte definição: A igreja invisível é a igreja como Deus a vê. A verdadeira
igreja de Cristo certamente tinha também um aspecto visível. Podemos usar a seguinte definição:
A igreja visível é a igreja como os cristãos a vêem na terra. Nesse sentido a igreja visível inclui
todos os que professam a fé em Cristo e dão provas de tal fé na vida. Nesse sentido, poderíamos
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dizer hoje que a igreja visível é o grupo de pessoas que se reúnem toda semana para cultuar a
Deus como igreja e professar a fé em Cristo.
O Novo Testamento estabelece as seguintes condições para os membros da igreja: fé
implícita no Evangelho e confiança sincera e de coração em Cristo como o único e divino
Salvador (At 16.31); submeter-se ao batismo nas águas como testemunho simbólico da fé em
Cristo; e confessar verbalmente essa fé (Rm 10.9-10).
No princípio, praticamente todos os membros da igreja eram verdadeiramente
regenerados. “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que haviam de salvar”
(Atos 2:47). Entrar na igreja não era uma questão de unir-se a uma organização, mas de tornar-se
membro de Cristo, assim como o ramo é enxertado na árvore. No transcurso do tempo,
entretanto, conforma a igreja aumentou em número e popularidade, o batismo nas águas e a
catequese tomaram o lugar da conversão. O resultado foi um influxo na igreja de grande número
de pessoas que não eram cristãs de coração. E desde então, essa tem sido mais ou menos a
condição da cristandade. No transcurso da história da igreja vemos uma igreja, dentro da igreja,
cristãos verdadeiros no meio de cristãos apenas de nome. Portanto, devermos distinguir entre a
igreja invisível, composta de verdadeiros cristãos de todas as denominações, e a igreja visível,
constituída de todos os que professam ser cristãos – a primeira, composta daqueles cujos nomes
estão escritos no céu; a Segunda, compreendendo aqueles cujos nomes estão registrados no rol
de membros das igrejas.
4.3. A igreja é local e universal.
No Novo testamento a palavra “igreja” pode ser aplicada a um grupo de cristãos de
qualquer tamanho, desde um pequeno grupo que se reúne sempre em uma residência até ao
grupo de todos os cristãos na igreja universal. A igreja numa casa é chamada “igreja” em Rm
16.5 (“saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles”) e 1Cor 16.19. A igreja de uma
cidade inteira é também chamada “igreja” (1Cor 1.2; 2Cor 1.1 e 1Ts 1.1). Finalmente, a igreja do
mundo inteiro pode ser chamada “a igreja”. Podemos concluir que o grupo do povo de Deus
considerado desde o nível de grupo local até o universal pode corretamente ser chamado “a
igreja”.
4.4. A Igreja militante e triunfante.
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Aqui na terra a igreja é militante, isto é, convocada para uma guerra santa, e de fato nela
está emprenhada. Isto, naturalmente, não significa que ela deve gastar suas forças em lutas
sangrentas de autodestruição, mas, sim, que tem o dever de levar avante uma incessante guerra
contra o mundo hostil em todas as formas em que este se revele (corrupção, injustiça social,
exploração), e contra todos os poderes espirituais das trevas. A igreja não pode passar o tempo
todo em oração e meditação, embora estas práticas sejam tão necessárias e importantes, nem
tampouco deve parar de agir, no pacífico gozo da sua herança espiritual. Ela tem que estar
engajada com todas as suas forças nas pelejas do seu Senhor, combatendo numa guerra que é
tanto ofensiva como defensiva. Se a igreja na terra é a igreja militante, no céu é a igreja
triunfante. Lá a espada é permutada pelos louros da vitória, os brados de guerra se transformam
em cânticos triunfais, e a cruz é substituída pela coroa. A luta é finda, a batalha está ganha, e os
santos reinam com Cristo para todo o sempre. Nestes dois estágios da sua existência, a igreja
reflete a humilhação e a exaltação do seu celestial Senhor.
5. SÍMBOLOS DA IGREJA.
5.1. O Corpo de Cristo. O Senhor Jesus Cristo deixou este mundo há mais de dezenove
séculos, entretanto, ele ainda está no mundo. Com isso queremos dizer que sua presença se faz
sentir pôr meio da igreja, a qual é o seu corpo. Assim como ele viveu sua vida natural na terra,
em um corpo humano e individual, assim também ele vive sua vida mística em um corpo tomado
da raça humana em geral.
O uso desta ilustração faz lembrar que a igreja é um organismo e não meramente uma
organização. Uma organização é um grupo de indivíduos voluntariamente associados com um
propósito especial, tal como uma organização fraternal ou um sindicato. Um organismo é
qualquer coisa viva, que se desenvolve pela vida inerente. Usado figuradamente, significa a
soma total das partes entrelaçadas, na qual a relação mútua entre elas implica uma relação do
conjunto (cf. 1Co 12).
5.2. O templo de Deus – (I Pedro 2:5,6) - Um templo é um lugar em que Deus, que
habita em toda parte, se localiza a si mesmo em determinado lugar, onde o seu povo o possa
achar “em casa”. (Êxodo 25:8 e I Reis 8:27), assim como Deus morou no tabernáculo e no
templo, assim também vive, pôr seu Espírito, na igreja (Efésios 2:21,22- 1 Coríntios 3:16,17).
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Neste templo espiritual os cristãos, como sacerdotes, oferecem sacrifícios espirituais, sacrifícios
de oração, louvor e das boas obras.
5.3. A noiva de Cristo - Essa é uma ilustração usada tanto no Antigo como no Novo
Testamento para descrever a união e comunhão de Deus com o seu povo (II Coríntios 11:2,
Efésios 5:25-27, Apocalipse 19:7, 21:2, 22:17). Mas devemos lembrar que é somente uma
ilustração, e não se deve forçar sua interpretação. O propósito dum símbolo é apenas iluminar
um determinado lado da verdade e não o de prover o fundamento para uma doutrina.
5.4. Coluna e baluarte da verdade. Há apenas um lugar em que o nome é aplicado à
igreja, a saber, 1 Tm 3.15. Refere-se à igreja em geral, e, portanto, aplica-se a cada parte dela. A
figura expressa o fato de que a igreja é guardiã da verdade, cidadela da verdade e defensora da
verdade contra os inimigos do reino de Deus.
6. PALAVRAS QUE DESCREVEM OS CRISTÃOS
a. Irmãos – A igreja é uma fraternidade ou comunhão espiritual, no qual foram
abolidas todas as divisões que separam a humanidade. “Não há grego nem judeu” – a mais
profunda de todas as divisões baseadas na história religiosa é vencida; “não há grego nem
bárbaro” – a mais profunda de todas as divisões culturais é vencida; “não há servo ou livre” – a
mais profunda de todas as divisões sociais e econômicas é vencida: “não há mais macho ou
fêmea”- a mais profunda de todas as divisões humanas é vencida – Gálatas 3.28 e Colossenses
3.11.
b. Crentes – Os cristãos são chamados: “crentes”, porque sua doutrina característica é a
fé no Senhor Jesus.
c. Santos – São chamados “santos” (literalmente: separados – consagrados ou
piedosos), porque estão separados do mundo e dedicados a Deus.
d. Os eleitos – refere-se a eles como “eleitos”, ou os “escolhidos”, porque Deus
escolheu para um ministério importante ou destino glorioso.
e. Discípulos – São discípulos (literalmente aprendizes), porque estão sob preparação
espiritual com instrutores inspirados pôr Cristo.
f. Cristãos – São “cristãos” porque sua religião gira em torno da Pessoa de Cristo.
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g. Os do caminho – Nos dias primitivos muitas vezes eram conhecidos como “os do
caminho” (Versão Brasileira) (Atos 9:2) porque viviam de acordo com uma maneira especial de
viver.
7. CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS DA IGREJA
1. A Igreja verdadeira. Qual é a verdadeira igreja? Lutero e Calvino concordavam na
definição de uma igreja verdadeira como sendo “a congregação de santos na qual o evangelho
é ensinado corretamente e as ordenanças (batismo e ceia do Senhor) também são ministradas
corretamente”.
A igreja verdadeira não é igreja A nem a igreja B; mas é aquela que prega e ensina a
doutrina bíblica sem incoerência, e ministra o batismo e ceia do Senhor exatamente como são
ensinados na Bíblia. Igrejas que tem essas características, independente de placas, são
verdadeiras.
2. A pureza da igreja. Existem igrejas menos puras e igrejas mais puras. O que faz de
uma igreja mais pura ou menos pura? Tal fato fica evidenciado quando analisamos as cartas
paulinas. Por exemplo, as igrejas dos filipenses e a dos tessalonicenses demonstram serem
igrejas mais puras por não apresentarem grandes problemas morais e doutrinários. Isso é
evidenciado na alegria de Paulo ao escrever as cartas destinadas a elas (cf. Fp 1.3-11; 4.10-16;
1Ts 1.2-10; 3.6-10; 2Ts 1.3,4; 2.13; 2Co 8.1-5). Por outro lado, havia todo tipo de problemas
morais e doutrinários nas igrejas da Galácia (Gl 1.6-9; 3.1-5; 5.19-21), e em Corinto (1Co 3.1-4;
4.18-21; 5.1,2; 6.1-8; 11.17-22; 14.20-23; 2Co 1.23; 2.11; 11.3-5,12,15; 12.20-13.10). Como
base nesses exemplos fica bem que entre as igrejas verdadeiras existem as mais puras e as menos
puras.
2.1. Definição: “Pureza da igreja é o seu grau de isenção de doutrina e conduta
errôneas e o seu grau de conformidade com a vontade de Deus revelada à igreja”.
2.2. Sinais de uma igreja mais pura. Entre os fatores que tornam uma igreja mais pura
encontram-se:
➢ Doutrina bíblica (ou pregação correta da Palavra de Deus);
➢ Uso correto das ordenanças (batismo e ceia do Senhor);
➢ Aplicação correta da disciplina eclesiástica;
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➢ Adoração genuína (Ef 5.18-20; Cl 3.16,17). Uma obediência genuína consiste em
amar a Deus sobre todas as coisas, obediência, santidade e serviço, etc.
➢ Oração eficaz;
➢ Testemunho eficaz (Mt 28.18-20; Jo 13.34,35);
➢ Comunhão eficaz (At 2.42-47);
➢ Governo eclesiástico bíblico (1Tm 3.1-13);
➢ Santidade de vida entre os membros na igreja (1Ts 4.3; Hb 12.14);
➢ Cuidado pelos pobres (At 4.32-35);
➢ Amor por Cristo (1Pe 1.8; Ap 2.4).
O Novo Testamento nos encoraja a trabalhar pela pureza da igreja em todas as áreas e
evitar as falsas doutrinas (Ef 5.26,27; Cl 1.28; Tt 1.9,11; Jd 3). (Grudem p. 734).
3. A unidade da Igreja. Há uma grande ênfase no Novo Testamento sobre a unidade da
igreja. O alvo de Jesus é que haja um “rebanho e um pastor” (Jo 10.16), e Ele ora por todos os
futuros cristãos a fim de que todos sejam um (Jo 17.21). Essa unidade será um testemunho para
os não crentes (Jo 17.23).
“Unidade da igreja é o seu grau de isenção de divisão entre os verdadeiros cristãos”
(Grudem).
Paulo ordenou que a igreja vivesse em plena unidade espiritual verdadeira em Cristo (Ef
4.4-6). Embora o corpo de Cristo tem muitos membros, todos esses membros são “um corpo”
(1Co 10.17; 12.12-26).
Pelo fato de serem zelosos por proteger essa unidade, os autores do Novo Testamento
apresentam-nos serias advertências contra os que causam divisões (Rm 16.17,18), Paulo se opôs
a Pedro (Gl 2.11-14), aqueles que promovem divisões (Gl 5.20,21), e Judas adverte que os que
promovem divisões não tem o Espírito Santo (Jd 19). (Grudem p. 736).
8. A IGREJA E O REINO DE DEUS.
O reino de Deus é primariamente um conceito escatológico. Na Escritura, a idéia
fundamental do Reino não é a de um restaurado e teocrático reino de Deus em Cristo –
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essencialmente, um reino de Israel; tampouco é uma nova condição social dominada pelo
Espírito de Cristo e realizada pelo homem, mediante meios externos como boas leis, a
civilização, a educação, reformas sociais etc., como os modernistas querem que acreditemos. A
idéia primordial do reino de Deus na Escritura é a do governo de Deus estabelecido e
reconhecido nos corações dos pecadores pela poderosa influência regeneradora do Espírito
Santo, assegurando-lhes as inestimáveis bênçãos da salvação – um governo que, em princípio, é
realizado na terra, mas que não chegará à sua culminação antes do visível e glorioso retorno de
Jesus Cristo. Sua realização atual é espiritual e invisível. Jesus se apossou deste conceito
escatológico e lhe deu proeminência em Seus ensinos. Ele ensinou com clareza a realização
espiritual atual e o caráter universal do Reino. Além disso, Ele próprio efetuou essa realização
numa medida até então desconhecida e multiplicou grandemente as bênçãos atuais do Reino. Ao
mesmo tempo, Ele ofereceu a bendita esperança da futura manifestação desse Reino em glória
externa e com as perfeitas bênçãos da salvação.
O Reino é o governo dinâmico ou domínio de Deus e, derivadamente, a esfera na qual
tal soberania é experimentada. O Reino não deve ser identificado com as pessoas que pertence a
ele. Elas são o povo do domínio de Deus que entra no Reino, e é governada e orientada por Ele.
A Igreja é a comunidade do Reino, mas nunca o próprio Reino. Os discípulos de Jesus pertencem
ao Reino assim como o Reino lhes pertence, mas eles não são o Reino. O Reino é o domínio de
Deus; a Igreja é uma sociedade composta por pessoas. (Ladd p. 105).
8.1. Qual é a relação entre a Igreja e o Reino de Deus?
➢ Em primeiro lugar, o NT não iguala os crentes com o Reino. Os apóstolos pregam o
Reino de Deus, não a igreja (At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31).
➢ Em segundo lugar, o Reino cria a Igreja. A presença do Reino significou o cumprimento
da esperança messiânica do AT que fora prometida a Israel. Mas quando Israel como um
todo rejeitou a oferta, os que a aceitaram foram constituídos como o novo povo de Deus,
o verdadeiro Israel, a Igreja incipiente. A igreja não é senão o resultado da vinda do
Reino de Deus ao mundo por intermédio da missão de Jesus Cristo.
➢ Em terceiro lugar, a Igreja dá testemunho do Reino (Mt 10).
➢ Em quarto lugar, a Igreja é agencia do Reino. Os discípulos não somente proclamaram as
boas-novas a respeito da presença do Reino; eles também foram considerados como
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 18
agentes instrumentais do Reino, pelo fato das obras do Reino serem realizadas por eles
como se fossem realizadas por Jesus Cristo (Mt 10.8; Lc 10.17).
Portanto, não podemos identificar o Reino de Deus com a Igreja (como na teologia
católica), nem ver o Reino de Deus como inteiramente futuro, algo distinto da era da Igreja
(como a teologia dispensacionalista mais antiga). Em vez disso, devemos reconhecer que há uma
relação próxima entre o Reno de Deus e a Igreja. À medida que a Igreja proclama as boas novas
do Reino, pessoas virão para ela e começarão a experimentar as bênçãos do domínio de Deus em
suas vidas. O Reino manifesta através da Igreja, e assim, o futuro domínio de Deus irrompe no
presente (ele já está aqui: Mt 12.28; Rm 14.17; e não ainda plenamente aqui: Mt 25.34; 1Co
6.9,10). (Grudem p. 723).
8.2. A Igreja e Israel
Qual a relação entre a Igreja e Israel? Há distinção entre eles ou são uma só coisa? Entre
os protestantes tem havido diferentes opiniões a respeito desse assunto. Alguns (como os
teólogos dispensacionaliostas1) vêem uma distinção entre a Igreja e Israel, enquanto outros
vêem a Igreja como o verdadeiro povo de Deus, o Israel espiritual, composta de todos os crentes
sem distinção de raça, tanto judeus quanto gentios. Percebemos na Bíblia várias evidências que
nos levam a entender que a Igreja é o novo povo de Deus, o Israel espiritual. Vejamos algumas
considerações:
1 O Dispensacionalismo é um sistema teológico que apresenta duas distinções básicas: (1) Uma interpretação
consistentemente literal das Escrituras, em particular da profecia bíblica. (2) A distinção entre Israel e a Igreja no
programa de Deus.
(1) Os Dispensacionalistas afirmam que seu princípio hermenêutico é o da interpretação literal. “Interpretação
Literal” significa dar a cada palavra o significado que corriqueiramente teria no uso cotidiano. Símbolos e figuras de
linguagem, neste método, são todos interpretados de forma simples e óbvia, e de forma alguma se opõem à
interpretação literal. Mesmo os simbolismos e falas figurativas possuem em sua base significados literais.
(2) A Teologia Dispensacionalista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a Igreja. Os
Dispensacionalistas acreditam que a salvação foi sempre pela fé (Em Deus no Velho Testamento; especificamente
em Deus o Filho no Novo Testamento). Os Dispensacionalistas afirmam que a Igreja não substituiu Israel no
programa de Deus e que as promessas do Velho Testamento a Israel não foram transferidas para a Igreja. Eles crêem
que as promessas que Deus fez a Israel (por terra, muitos descendentes e bênçãos) no Velho Testamento serão
cumpridas no período de 1000 anos de que fala Apocalipse 20. Eles crêem que da mesma forma que Deus concentra
sua atenção na igreja nesta era, Ele novamente, no futuro, concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11).
Usando como base este sistema, os Dispensacionalistas entendem que a Bíblia seja organizada em sete
dispensações: Inocência (Gênesis 1:1- 3-7), Consciência (Gênesis 3:8- 8:22), Governo Humano (Gênesis 9:1 –
11:32), Promessa (Gênesis 12:1 – Êxodo 19:25), Lei (Êxodo 20:1 – Atos 2:4), Graça (Atos 2:4 – Apocalipse 20:3) e
o Reino Milenar (Apocalipse 20:4 – 20:6). Mais uma vez, estas dispensações não são caminhos para a salvação, mas
maneiras pelas quais Deus interage com o homem. O Dispensacionalismo, como um sistema, resulta em uma
interpretação pré-milenar da Segunda Vinda de Cristo, e geralmente uma interpretação pré-tribulacional do
Arrebatamento.
O problema deste sistema teológico está principalmente no literalismo bíblico, na separação entre Igreja e Israel.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 19
Jesus proclamou a salvação messiânica, ofereceu a Israel a possibilidade de
cumprimento de seu verdadeiro destino, foi realmente cumprida naqueles que receberam a sua
mensagem. Os que receberam a essa mensagem tornaram-se o verdadeiro Israel e os
representantes da nação como um todo. Os discípulos de Jesus são os recipientes da salvação
messiânica, o povo do Reino, o verdadeiro Israel.
O conceito dos discípulos de Jesus como verdadeiro Israel pode ser compreendido se for
levado em conta o contexto histórico do Antigo Testamento com a ideia de um remanescente
fiel. Os profetas consideravam Israel em sua totalidade como uma nação rebelde e desobediente,
e, consequentemente, destinada a sofre o julgamento divino. Contudo, ainda permanece dentro
da nação um fiel remanescente de crentes fieis. Neste conceito de remanescente encontramos a
representação do verdadeiro povo de Deus.
É verdade que Jesus não fez nenhuma referencia explicita ao conceito de remanescente.
Entretanto, na designação dos discípulos como “um pequeno rebanho” (Lc 12.32) não seria uma
referência expressa ao conceito vetero-testamentário de Israel como as ovelhas do pasto de Deus,
agora incorporada e aplicada aos discípulos (Is 40.11)? Israel, sob o ponto de vista ideal, ainda
continua a ser o rebanho de Deus (Mt 10.6; 15.24); contudo, é um rebanho desobediente,
obstinado, ovelha perdida. Jesus veio como pastor (Mc 14.27; cf. Jo 10.11), para salvar e buscar
o que havia perdido (Lc 19.10; cf. Ez 34.15ss.). A nação de Israel como um todo mostrava-se
surda à voz de seu pastor. Mas aquele que ouviram e seguiram o pastor constituíram o seu
rebanho, o verdadeiro Israel. (Ladd p. 102).
Paulo distingue claramente entre Israel empírico (ou seja, Israel como nação) e o Israel
espiritual – o povo como um todo e o restante fiel (Rm 11.5; 3.28ss.). A esses remanescentes
crentes foram acrescentados aos gentios crentes. A metáfora da oliveira sugere a união do povo
de Deus – Israel – é a Igreja. A oliveira é o único povo de Deus. Ramos naturais – judeus
incrédulos – foram quebrados, e os selvagens – gentios crentes – foram enxertados na árvore
(Rm 11.11-24). Isto torna perfeitamente claro que a igreja de Jesus Cristo vive da raiz e do
tronco do Israel do AT. (Ladd p. 499).
Tanto os salvos do AT como os do NT são incluídos em uma só igreja, ou no corpo de
Cristo. Pode-se sustentar que no futuro haverá uma conversão em massa do povo judeu (Rm
11.12,15,23,24,28-31), embora essa conversão resulte apenas em cristão israelitas que se tornam
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 20
parte da verdadeira igreja de Deus – eles serão enxertados na sua própria oliveira (Rm 11.24).
(Grudem p. 720).
Paulo reconhece que ainda que haja um sentido literal ou natural no qual os fisicamente
descendentes de Abraão devem ser chamados judeus, já também um sentido mais profundo e
espiritual no qual um verdadeiro judeu é quem tem a fé interiormente, cujo coração foi
purificado por Deus (Rm 4.11,12,16,18; 9.6-8; cf. Os 2.23). Portanto, a igreja é agora o povo
escolhido de Deus. Isso quer dizer que quando o povo judeu segundo a carne for salvo
futuramente, ele não formará um povo de Deus separado, nem uma oliveira separada, mas serão
enxertados na sua própria oliveira (Rm 11.24; cf. Gl 3.29; Fp 3.3). A Igreja não é um grupo
separado do povo judeu (Ef 2.12-20; 3.6). Ela incorpora em si mesmo todo o verdadeiro o povo
de Deus, e quase todos os títulos usados para o povo de Deus no AT são no NT aplicados á
Igreja. (Grudem p. 722).
O capítulo 8 de Hebreus demonstra que as promessas feitas no AT com respeito a Israel
se cumprem na Igreja. No contexto da nova aliança à qual os cristãos pertencem, o autor de
Hebreus faz uma citação de Jeremias 31.31-34 (cf. 8.8-10). Aqui é citada a nova aliança que o
Senhor faria com a casa de Israel e de Judá, e afirma que essa nova aliança foi feita com a Igreja.
De maneira semelhante, Tiago escreve uma carta geral a muitas das primeiras igrejas
cristãs e diz que está escrevendo às doze tribos que se encontram na dispersão (Tg 1.1). Pedro
também da mesma maneira (1Pe 1.1). Em 1Pe 2.4-10 é demonstrado que Deus concede à Igreja
quase todas as bênçãos prometidas a Israel no AT. A morada de Deus já não é o templo de
Jerusalém, porque os cristãos são o “novo templo de Deus” (v.5); os cristãos agora os
verdadeiros sacerdócio real com acesso ao trono de Deus; é a raça eleita (vv. 4,5,9); a nação
abençoada por Deus já não é Israel, porque os cristãos são agora a verdadeira nação santa.
9. A DOUTRINA DA IGREJA NA HISTÓRIA
9.1. A doutrina da igreja antes da Reforma
No período patrístico. Pelos chamados pais apostólicos e pelos apologetas a igreja é
geralmente apresentada como a communio sanctorum (comunhão dos santos), o povo de Deus
que Ele escolheu por possessão. Não se viu logo a necessidade de fazer distinções. Mas já na
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 21
segunda parte do século houve uma mudança perceptível. O surgimento de heresias tornou
imperativa a enumeração de algumas características pelas quais se conhecesse a verdadeira igreja
católica. Isso teve a tendência de fixar a atenção na manifestação externa da igreja. Começou-se
a conceber a igreja como uma instituição externa, governada por um bispo como sucessor direto
dos apóstolos e possuidor da tradição verdadeira. A catolicidade da igreja recebeu forte ênfase.
As igrejas locais não eram consideradas como unidades separadas, mas simplesmente como
partes componentes da igreja universal uma e única. O mundanismo e a corrupção crescentes na
igreja foram levando aos poucos a uma reação e deram surgimento à tendência em várias seitas,
como o montanismo2 em meados do segundo século, o novacianismo3 nos meados do terceiro e
o donatismo4 no início do quarto, de fazer da santidade dos seus membros a marca da igreja
verdadeira. Os pais primitivos da igreja assim chamados, ao combaterem esses sectários, davam
ênfase cada vez maior à instituição episcopal da igreja. Cabe a Cipriano a distinção de ser o
primeiro a desenvolver plenamente a doutrina da igreja em sua estrutura episcopal. Ele
considerava os bispos como reais sucessores dos apóstolos e lhes atribuía caráter sacerdotal em
virtude da sua obra sacrificial. Juntos aos bispos formavam um colégio, chamado episcopado,
que, como tal, constituía a unidade da igreja. Assim, a unidade da igreja baseada na unidade dos
bispos. Os que não se sujeitavam aos bispos perdiam o direito à comunhão da igreja e também a
salvação, desde que não há salvação fora da igreja. Agostinho não foi totalmente coerente em sua
concepção da igreja. Foi sua luta com os donatistas que o compeliu a refletir mais
profundamente sobre a natureza da igreja. De um lado, ele se mostra o predestinacionista que
concebe a igreja como a companhia dos eleitos, a communio sanctorum, que têm o Espírito de
Deus, e, portanto, são caracterizados pelo amor verdadeiro. O importante é ser membro vivo da
igreja assim concebida, e não apenas pertencer a ela num sentido meramente externo. A igreja
verdadeira é a igreja católica, na qual a autoridade apostólica tem continuidade mediante a
2 O Montanismo foi um movimento cristão fundado por Montano por volta de 156-157 (ou 172), que se organizou e
difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no Norte de África. O movimento caracterizou-se como uma
volta ao profetismo, pretendendo revalorizar elementos esquecidos da mensagem cristã primitiva, sobretudo a
esperança escatológica. Propunha um rigoroso ascetismo, visando à preparação para o momento final. (Wikipédia).
3 O Novacianismo ou Novacionismo foi um movimento considerado herético, criado pelo Antipapa Novaciano ou
Novácio, um clérigo da Ásia Menor. Novaciano não admitia que cristãos que haviam negado a fé e oferecido
sacrifícios aos deuses pagãos durante a perseguição de Décio, fossem perdoados e readmitidos na Igreja Católica
pelo Papa Cornélio. Por isso Novaciano se tornou antipapa. Cornélio excomungou ele e seus seguidores. Novácio
foi martirizado no período do imperador Valeriano I (253-260).
4 O Donatismo (cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de Cartago) foi uma
seita religiosa cristã, considerada herética e cismática pelo catolicismo. Surgiu nas províncias do Norte de África na
Antiguidade Tardia. Iniciou-se no início do século IV e foi extinta no final do século VII. Assim como o
Novacionismo, fundado pelo Antipapa Novaciano no século III, os donatistas eram rigorosos, e sustentavam que a
Igreja não devia perdoar e admitir pecadores, e que os sacramentos, como o batismo, administrados pelos traditores
(cristãos que negaram sua fé durante a perseguição de Diocleciano em 303-305 e posteriormente foram perdoados e
readmitidos na Igreja) eram inválidos.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 22
sucessão episcopal. É depositária da graça divina, que ela distribui por meio dos sacramentos.
Esta igreja é, de fato, um corpo misto, no qual têm lugar membros bons e maus. Em seu debate
com os donatistas, porém, Agostinho admitia que aqueles e estes não estavam na igreja no
mesmo sentido. Ele preparou também o caminho para a identificação católica romana da igreja
com o reino de Deus.
Na Idade Média. Os escolásticos5 não tinham muito que dizer acerca da igreja. O
sistema de doutrina desenvolvido por Cipriano e Agostinho estava completo, e precisava apenas
de uns pequenos retoques de acabamento para chegar ao seu desenvolvimento final. Diz Otten
(historiador católico romano): “Este sistema foi recebido pelos escolásticos da Idade Média e
depois foi passado por eles, praticamente nas mesmas condições em que o tinham recebido, aos
seus sucessores de após o Concílio de Trento6”. Incidentalmente, uns poucos pontos mais foram
desenvolvidos de algum modo. Mas, se houve pequeno desenvolvimento da doutrina da igreja
propriamente dita, a igreja mesma realmente se desenvolveu mais e mais, rumo a uma hierarquia
hermética e compactamente organizada e absoluta. As sementes deste desenvolvimento já
estavam na idéia da igreja apregoada por Cipriano e num aspecto da igreja como descrita por
Agostinho. A outra idéia, e mais fundamental, daquele grande “pai da igreja”, a da igreja como
communio sanctorum, em geral foi desconsiderada e, assim, ficou adormecida. Isto não quer
5 A Escolástica (ou Escolasticismo) é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos,
surgida da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos
valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que
comungava da mesma fé. Esta linha vai do começo do século IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da
Idade Média. Este pensamento cristão deve o seu nome às artes ensinadas na altura pelos escolásticos nas escolas
medievais. Estas artes podiam ser divididas em Trivium (gramática, retórica e dialéctica) e Quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música). A escolástica resulta essencialmente do aprofundar da filosofia.
6 Para tentar barrar o avanço do protestantismo, após a Reforma Protestante, o Papa Paulo III convocou um concílio
para a cidade italiana de Trento. O Concílio de Trento foi realizado entre os anos de 1545 e 1563. Vários assuntos
foram discutidos e várias ações entraram em execução.
Principais decisões tomadas durante a Contra-Reforma:
✓ Retorno da Inquisição: tinha como objetivo vigiar, perseguir, prender e punir aqueles que não estavam
seguindo a doutrina católica. Milhares de protestantes, judeus e integrantes de outras religiões foram
perseguidos e punidos pelo Tribunal do Santo Ofício.
✓ Criação do Índice de Livros Proibidos (Index Librorium Proibitorium): relação de livros contrários aos
dogmas e idéias defendidas pela Igreja Católica. Os livros apreendidos eram queimados. Quem fosse pego
com materiais deste tipo receberia punições severas. Vários escritores, muitos deles cientistas, foram presos
e condenados por escreverem livros com idéias não aceitas pelos católicos. Era uma forma de barrar o
avanço de outras doutrinas e manter o controle cultural nas mãos da Igreja Católica.
✓ Criação da Companhia de Jesus: os integrantes desta companhia eram os jesuítas. Estes foram
encaminhados aos continentes africano, americano e asiático. Tinham como objetivo principal transformar
os nativos em novos católicos, através da catequização (ensino da língua portuguesa, doutrina católica e
hábitos europeus). Os índios brasileiros foram catequizados por jesuítas como, por exemplo, Padre Manoel
da Nobre e José de Anchieta.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 23
dizer que os escolásticos negavam completamente o elemento espiritual, mas simplesmente que
não lhe davam a devida proeminência. A ênfase era mui definidamente à igreja como uma
organização ou instituição externa. Hugo de S. Victor fala da igreja e do estado como os dois
poderes instituídos por Deus para governarem o povo. Ambos são de constituição monárquica,
mas a igreja é o poder superior, porque ministra a salvação dos homens, ao passo que o Estado
só providencia o seu bem-estar temporal. O rei ou imperador é o chefe do estado, mas o papa é o
chefe da igreja. Há duas classes de pessoas na igreja, com direitos e deveres bem definidos; os
clérigos, dedicados ao serviço de Deus, que constituem uma unidade; e os leigos, que consistem
as pessoas de todas as esferas da vida e que constituem uma classe totalmente separada. Passo a
passo a doutrina do pecado foi-se desenvolvendo, até que, por fim, o papa se tornou virtualmente
um monarca absoluto. O crescimento desta doutrina foi auxiliado, em não pequena medida, pelo
desenvolvimento da idéia de que a igreja católica era o reino de Deus na terra, e, portanto, o
bispado romano era um reino terreno. Esta identificação da igreja visível e organizada com o
reino de Deus teve conseqüência de longo alcance:
➢ Exigia que tudo fosse colocado debaixo do poder da igreja: o lar e a escola, as ciências e
as artes, o comércio e a indústria, e tudo mais.
➢ Envolvia a idéia de que todas as bênçãos da salvação chegam ao homem unicamente por
meio das ordenanças da igreja, em particular, mediante sacramentos.
➢ Levou à gradual secularização da igreja, visto que esta começou a dar mais atenção à
política do que à salvação dos pecadores e, finalmente, os papas reivindicaram domínio
sobre os governantes seculares também.
9.2. A doutrina da igreja durante e após a Reforma
Durante o período da Reforma. Os Reformadores romperam com a concepção
católica romana da igreja, mas tiveram diferenças entre si nalgumas particularidades. A idéia de
uma igreja infalível e hierárquica, e de um sacerdócio especial, que dispensa a salvação por
intermédio dos sacramentos, não teve o apoio de Lutero. Ele considerava a igreja como a
comunhão espiritual daqueles que crêem em Cristo, e restabeleceu a idéia escriturística do
sacerdócio de todos os crentes. Ele defendia a unidade da igreja, mas distinguia dois aspectos
dela, um visível e outro invisível. Ele teve o cuidado de assinalar que não existem duas igrejas,
mas simplesmente dois aspectos da mesma igreja. A igreja invisível torna-se visível, não pelo
governo de bispos e cardeais, nem na chefia do papa, mas pela administração da Palavra e dos
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 24
sacramentos. Lutero admitia que a igreja visível sempre conterá uma mistura e membros fiéis e
ímpios. Contudo, em sua reação contra a idéia católica romana do domínio da igreja sobre o
estado, ele foi ao outro extremo e virtualmente sujeitou a igreja ao estado em tudo, menos na
pregação da Palavra. Os anabatistas7 não ficaram satisfeitos com a posição de Lutero e insistiam
numa igreja só de crentes. Em muitos casos, eles zombavam da igreja visível e dos meios de
graça. Além disso, exigiam completa separação de igreja e estado. Calvino e os teólogos
reformados estavam de acordo com Lutero quanto à confissão de que a igreja é essencialmente
uma communio sanctorum, uma comunhão de santos. Todavia, eles não procuravam, como os
luteranos, a unidade e a santidade da igreja primariamente nas ordenanças objetivas da igreja,
tais como os ofícios, a Palavra e os sacramentos, mas sobre tudo na comunhão subjetiva dos
crentes. Distinguiam, também, entre um aspecto visível e um aspecto invisível da igreja, embora
de maneira ligeiramente diversa. Ademais, encontravam as verdadeiras marcas da igreja, não
somente na correta administração da Palavra e dos Sacramentos, mas também na fiel
administração da disciplina da igreja. Mas, até mesmo Calvino e os teólogos reformados do
século dezessete fomentaram, em certa medida, a idéia de sujeição da igreja ao estado. Contudo,
estabeleceram uma forma de governo da igreja que propiciava maior grau de independência e
poder eclesiásticos que o que se conhecia na igreja luterana. Mas, enquanto que tanto os teólogos
luteranos como os reformados (calvinistas) procuravam manter a relação apropriada entre a
igreja visível e a invisível, outros perderam isto de vista. Os socinianos8 e os arminianos9 do
7 Anabatistas ("re-batizadores", do grego "ana" e "baptizo"; em alemão: Wiedertäufer) são cristãos da chamada "ala
radical" da Reforma Protestante. São assim chamados porque os convertidos eram batizados em idade adulta,
desconsiderando o até então batismo obrigatório da igreja romana. Assim, re-batizavam todos os que já tivessem
sido batizados em criança, crendo que o verdadeiro batismo só tem valor quando as pessoas se convertem
conscientemente a Cristo. Perseguidos pelo Estado e guerras, tiveram imigração em massa para a Rússia e América
do Norte. No final do século XIX e começo do XX surgiram colônias na América do Sul (Paraguai, Argentina,
Brasil, Bolívia), onde mantêm suas culturas e fé. Muitos Anabatistas conservadores vivem em comunidades rurais
isoladas e desconfiam do uso de tecnologia. Os principais remanescentes anabatistas são: os hutterites, mennonitas,
amishes, cuja postura em muito se assemelha ao estilo de vida dos cristãos descrito no Novo Testamento,
especialmente em Atos dos Apóstolos 4.34,35 (pacifismo, comunalismo na produção e consumo). Os Anabatistas
influenciaram ainda outras denominações religiosas, como os Quakers, Batistas, Dunkers e outras denominações
protestantes que afirmam a necessidade de uma adesão voluntária à Igreja
8 Os socinianos, precursores modernos Unitarianos, foram outro grupo radical da Reforma. Suas idéias
desenvolveram-se na Itália. Lelio Sozzini (Socinus) de Siena (1525-1562) foi atraído ao anti-trinitarianismo pela
morte do anti-trinitariano Servetus em Geneva. Fausto Sozzini (1539-1604), seu sobrinho, mudou-se para a Polônia
em 1579 e permaneceu lá até a sua morte. O Socinianismo desenvolveu-se rapidamente na Polônia, e Fausto deu o
Catecismo Racoviano ao movimento, que foi publicado em 1605. De acordo com os socinianos, Cristo deve ser
adorado como um homem que obteve a divindade por sua vida superior. Sua morte foi simplesmente um exemplo de
obediência que Deus deseja de seus seguidores. Pecado original, a deidade de Cristo, a Trindade, a predestinação
foram negadas. Os Jesuítas capazes de suprimir esse movimento na Polônia, mas as idéias socinianas espalharam-se
para a Holanda e Inglaterra, e daí para a América. A moderna igreja Unitariana é um descendente direto dos
socinianos da Polônia, que foram chamados unitarianos pela primeira vez na Transilvânia em 1600,
aproximadamente. (WWW.monergismo.ogr). 9 ARMINIANISMO. A posição de Jacob Armínio (1560-1609) e seus seguidores – frequentemente conhecidos
como remonstrantes – quanto à graça, o livre-arbítrio, à predestinação e à perseverança dos crentes. Visto que a
Doutrina da Igreja
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século dezessete, embora na verdade falassem de uma igreja invisível, esqueceram tudo que diz
respeito à vida real. Os primeiros concebiam a religião cristã simplesmente como uma doutrina
aceitável, e os últimos faziam da igreja primariamente uma sociedade visível e seguiam a igreja
luterana no sentido de entregarem ao estado o direito de ministrar a disciplina, e de reterem para
a igreja somente o direito de pregar o Evangelho e admoestar os membros da Igreja.
Durante e após o século dezoito. Durante o século dezoito o racionalismo também fez
sentir sua influência sobre a doutrina da igreja. Era indiferente em matéria de fé e não tinha
entusiasmo pela igreja, que ele colocou a par com outras sociedades humanas, até negava que
Cristo tivesse a intenção de fundar uma igreja no sentido geralmente aceito da palavra. Para
Schleiermacher10, a igreja era essencialmente a comunidade cristã, o corpo dos crentes animados
pelo mesmo espírito. Ele via pouca utilidade na distinção entre a igreja visível e a invisível, e via
a essência da igreja no espírito de companheirismo cristão. Quanto mais o Espírito de Deus
penetrar a totalidade dos crentes cristãos, menos divisões haverá, e mais perderão elas a sua
importância. Ritschl11 substituiu a distinção entre a igreja invisível e a visível pela distinção entre
o reino e a igreja. Ele considerava o reino como a comunidade do povo de Deus que age
motivado pelo amor, e a igreja como aquela mesma comunidade reunida para o culto. O nome
“igreja” restringe-se, pois, a uma organização externa com a função única de cultuar; e esta
função apenas capacita os crentes a familiarizar-se melhor uns com os outros. Isto certamente
está longe do ensino do Novo Testamento. Leva diretamente à concepção “liberal” moderna da
igreja como um mero centro social, uma instituição humana, e não uma lavoura de Deus.
doutrina da predestinação de seus opositores se fundamenta na primazia da graça, e de uma graça irresistivel,
Armínio respondeu propondo uma graça “preveniente” ou “preventiva”, que Deus dá a todos, e que os capacita para
aceitar a graça salvadora se assim decidirem. E, visto que a graça não é irresistivel, isso implica que é possível um
crente, mesmo depois de haver recebido a graça salvadora, cair dela. Foi contra todas essas propostas dos
arminianos que o Sínodo de Dordrecht, ou de Dort (1618-19) afirmou os cinco pontos principais do calvinismo
estrito, a depravação total da humanidade, a eleição incondicional, a expiação limitada por parte de Cristo, a graça
irresistivel, e perseverança dos fiéis. As teorias de Armínio foram adotadas por vários teólogos de tradição
reformada que não estavam dispostos a levar seu calvinismo às consequências que Dordrecht as havia levado. O
mais destacado entre eles foi João Wesley (1703-91). Entre os batistas ingleses, aqueles que aceitaram o
arminianismo receberam o nome de “batistas gerais”, porque insistiam que Cristo morreu por todos, enquanto que
aqueles que ensinavam a expiação limitada foram chamados “batistas particulares”. ( Dicionário de Teologia, p. 46,
47). 10 Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (Breslau, 21 de novembro de 1768 — Berlim, 12 de fevereiro de 1834) foi
pregador em Berlim na Igreja da Trindade, deu aula de Filosofia e Teologia em Halle an der Saale. É considerado
como o fundador do liberalismo teológico. 11 Albrecht Ritschl foi um grande teólogo do protestantismo liberal alemão. Nasceu em Berlim em 1822 e faleceu
em 1889. Tornou-se bispo e um grande pesquisador, estudando teologia em Bonn e em Halle. Foi professor em
Halle e em Göettingen.
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 26
10. O PROPÓSITO DA IGREJA
1. Adoração. Um dos principais propósitos da igreja é o ministério em relação a Deus: A
adoração. O Breve Catecismo de Westminster começa com a seguinte pergunta: “Qual o fim
principal do homem?”, com a resposta: “O fim principal do homem é glorificar a Deus...”. Esta
questão nos lembra que a igreja é uma comunidade de sacerdotes que leva a Deus um “sacrifício
de louvor” (Hb 13.15; 1Pe 2.5).
O Novo Testamento contém muitas expressões práticas da adoração (Mt 6.9; Mc 14.12ss;
Lc 1.46-55, 68-79; 2.14, 29, 32; 4.16; At 3.1ss; 4.24ss) e inúmeras doxologias12 (Rm 11.33-36;
16.27; 1Tm 1.17; 6.15ss; Jd 24s; Ap 1.5s), assim como citações dos primeiros hinos cristãos (Ef
1.13-14; 5.14; Fl 2.5-11; Cl 1.15-20; 1Tm 3.16) e formas litúrgicas (maranata significando “ó
Senhor, vem”, 1Co 16.22; amém, um termo hebraico significando “assim seja”, Rm 1.25; abba,
“Pai”, Rm 8.15). A adoração também é apresentada como fundamental na ordem celestial (Ap
4.8-11; 5.11-14; 7.9-12). Mas é nos Salmos que de maneira suprema a adoração é apresentada.
A adoração é constituída por:
(a) ofertas de louvor, que incluíam salmos, hinos e cântico espirituais (Ef 5.18-20; Cl
3.16-17) e orações (At 2.42; 4.23; 5.42, etc).
(b) A exposição da Palavra de Deus foi introduzida na prática cristã mediante a herança
que a igreja recebeu da sinagoga judaica, onde era o principal elemento (Lc 4.16-17; At 13.14
Senhor). Nos primeiros cultos cristãos, a Escritura era lida em público (Cl 4.16; 1Ts 5.27) e
também explicada (At 2.42s; 6.2). “É importante que nos identifiquemos com a convicção dos
Reformadores de que a pregação da Palavra de Deus não é um apêndice à adoração ou, pior
ainda, uma simples atividade humana que se segue à atividade divina da adoração, em louvor e
oração. O sermão é antes o ponto alto de nossa adoração, quando ouvimos a voz viva de Deus e
somos levados a entregar-nos a ele em consagração e serviço”.
(c) A oferta era outro elemento (1Co 16.1-4; 2Co 8-9). Ofertar não é apenas entregar
uma determinada quantia de dinheiro na igreja, é sim, um ato de gratidão e adoração, por isso
deve ser entregue com alegria.
(d) As ordenanças do evangelho (batismo e a ceia do Senhor) representam um outro
aspecto fundamental (1Co 11.17-34).
12 Vem dos termos gregos doxa, «louvor», «honra», «glória», e logos, «palavra», ou seja, algo dito que expressa
louvor, atribuindo glória e honra a alguém.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 27
Aspectos da adoração:
(a) Nos reunimos para celebrar uma pessoa, o Cristo vivo, para nos rejubilarmos na
vitória de nosso Senhor e para encontrar-nos com ele em Espírito através da Palavra (Mt 18.20;
28.20).
(b) O Espírito Santo dinamiza a adoração (Jo 4.24; Fl 3.3). Ele torna reais as coisas de
Deus (1Co 12.3), refreia os instintos indignos (1Co 14.32s, 40), inspira oração (Rm 8.26), induz
ao louvor (Ef 5.18s), leva à verdade (1Co 2.10-13), concede dons (Rm 12.4-8) e convence os
incrédulos (Jo 16.8; 1Co 14.24s).
A adoração é vista não como restrita aos atos de louvor e ministérios comunitários, mas
com uma atitude que deveria acompanhar todas as situações da vida (Cl 3.17, 22, 23). “Toda a
vida da comunidade cristã devia ser concebida como um festival em que com amor, alegria e
ousadia celebremos o que Deus fez por nós através de Cristo. Nessa celebração descobrimos que
estamos participando da adoração do céu, de modo que nos unimos ‘aos anjos e arcanjos, e a
toda companhia do céu’ ao dar glória a Deus. E, sendo a adoração a Deus, em essência, o
reconhecimento de sua dignidade, unimo-nos ao coro celestial entoando a dignidade divina tanto
como Criador como Redentor: ‘Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e
o poder, porque tu criaste, sim, por tua vontade vieram a existir e foram criadas’ (Ap 4.11) e
‘Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e
glória, e louvor’ (Ap 5.12)”.
2. Edificação: Esse é o ministério com relação aos cristãos. É papel de a igreja nutrir os
cristãos e levá-los á maturidade espiritual (Ef 4.12,13). Essa edificação consiste:
2.1. No ensino da Palavra de Deus. A igreja deve levar a sério o estudo e o ensino da
Palavra de Deus. Compartilhar a Palavra é essencial para o desenvolvimento de cada cristão.
2.2. Na comunhão (gr. koininia). A comunhão entre os cristãos e a glorificação de
Deus pela igreja acham-se intimamente ligadas (Rm 15.7). A igreja é a noiva de Cristo. Somos
membros uns dos outros”.
(a) Ela significa essencialmente participar juntos em algo, e está baseada numa
participação comum na vida de Deus (1Jo 1.3,7).
(b) Era uma característica da igreja desde o seu início (2Ts 1.3), mas não era
indiscriminada.
(c) Sua manifestação especial era o agape, o amor sacrificial, abnegado, pelos irmãos
(1Co 13; 1Jo 3.16), do qual Jesus falou como sendo um sinal nítido da nova comunidade (Jo
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 28
13.34s) e um meio de levar o mundo a ter fé na sua mensagem (Jo 17.23). Amor desta qualidade
é impossível ao ser humano, por isso o Novo Testamento fala constantemente dele como sendo
um dom do Espírito Santo (Rm 5.5), embora seja, contudo, intensamente prático (1Jo 3.17s; Rm
15.25s; 2Co 8-9).
O homem é um ser social; ele anela comunhão e interação. É natural que se congregue
com aqueles que participam dos mesmos interesses.
A igreja provê uma comunhão baseada na Paternidade de Deus e no fato de ser Jesus o
Senhor de Todos. É uma fraternidade daqueles que participam duma experiência espiritual
comum.
3. Ministério em relação aos de fora: evangelização e misericórdia. A obra da igreja
é pregar o Evangelho a toda criatura (Mt 28.19-20), e explanar o plano da salvação tal qual é
ensinado nas Escrituras. Cristo tornou acessível a salvação pôr provê-la; a igreja deve torná-la
real pôr proclamá-la. Todavia, a igreja não pode esquecer da misericórdia, ou seja, o cuidado
para com os pobres e necessitados (At 11.29; 2Co 8.4; Gl 6.9,10; 1Jo 3.17).
4. Sustentar uma norma de conduta moral. A igreja é “a luz do mundo”, que afasta a
ignorância moral; é o “sal da terra”, que preserva da corrupção moral. A igreja deve ensinar aos
homens como viver bem, e a maneira de se preparar para a morte. Deve proclamar o plano
salvífico de Deus para a humanidade. Contra as tendências para a corrupção da sociedade, deve
ela levantar a sua voz de admoestação. Em todos os pontos de perigo deve colocar uma luz como
sinal de perigo.
11. OS OFICIAIS DA IGREJA.
APÓSTOLO. Taylor define o termo apóstolo da seguinte maneira: enviado,
mensageiro, missionário; é usado(a) num sentido limitado aos 12 e a Paulo, como autoridades,
fundadores do cristianismo primitivo, órgãos de revelação cristã e testemunhas oficiais da
ressurreição de Cristo. Mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoraram a
Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons e graças apostólicas (At 14.4, 14; 1 Co 9.5,
6; 2 Co 8.23; Gl 1.19). Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da
igreja de todos os séculos.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 29
O termo apóstolo – significa alguém enviado com uma missão, ou mensageiro. Os
apóstolos tinham singular autoridade na igreja primitiva: autoridade para falar e escrever
palavras que eram “palavras de Deus” em absoluto. Não acreditar ou desobedecer a seus ensinos
era desobedecer e não crer no próprio Deus. (Grudem p. 760).
No NT o termo apóstolo é usado em dois sentidos diferentes:
(1) no sentido geral que todos nós somos por Cristo enviados ao mundo, participando
assim da missão apostólica da igreja (João 17:18; 20:21); neste sentido amplo todos nós somos
apóstolos (Graham p. 134). Não se refere aqui um ofício específico na igreja, mas simplesmente
com o sentido de mensageiro (veja Fp. 2:25; II Co. 8:23; Jo. 13:16).
(2) com frequência muito maior no NT, o termo apóstolo refere-se a um ofício especial,
“apóstolo de Jesus Cristo”. Nesse sentido estrito do termo, não há mais apóstolo hoje, e não
devemos esperar mais nenhum apóstolo. A razão disto baseia-se no que o NT diz sobre as
qualificações de um apóstolo e sobre quem foram eles:
(a) Foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo (Mc 3.14; Lc 6.13;
Gl 1.1);
(b) eram testemunhas da vida de Cristo e, principalmente, de Sua ressurreição (Jo 15.27;
At 1.21, 22; 1 Co 9.1);
(c) estavam cônscios de serem inspirados pelo Espírito de Deus em todo o seu ensino,
oral e escrito (At 15.28; 1 Co 2.13; 1 Ts 4.8; 1 Jo 5.9-12);
(d) tinham o poder de realizar milagres e o usaram em diversas ocasiões para ratificar a
sua mensagem (2 Co 12.12; Hb 2.4).
Paulo dá muita importância ao falar de que ele cumpriu esse requisito, mesmo que de
forma incomum (Cristo apareceu-lhe em uma visão na estrada de Damasco At. 9:5-6; 26:15-18; I
Co. 15:7-9). Esses versículos indicam que só podia ser apóstolo alguém que tivesse visto Jesus
após a ressurreição. (Grudem p. 760).
Como acabamos de ver não há mais apóstolo como ofício específico comissionado por
Cristo, este ofício foi restrito à igreja primitiva. No entanto, há hoje apóstolo no sentido
secundário de “missionário”.
O Dr. Merril C. Tenney sugeriu que um missionário atual pode ter este dom em seu
sentido secundário se ele for um implantador de igrejas. Para isto ele precisa:
Doutrina da Igreja
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a) ser enviado com uma mensagem.
b) ser responsável pela implantação de uma igreja.
c) exercer autoridade para introduzir e fortalecer novas maneiras de agir.
Ou é um descobridor de novos campos, um antecipador de iniciativas: um idealizador
de novas formas de atingir o povo. É uma espécie de pioneiro naquilo que faz.
PROFETAS. O Novo Testamento fala também de profetas, At 11.28; 13.1, 2; 15.32; 1
Co 12.10; 13.2; 14.3; Ef 2.20; 3.5; 4.11; 1 Tm 1.18; 4.14; Ap 11.6. Evidentemente o dom de
falar para a edificação da igreja era altamente desenvolvido nestes profetas, e ocasionalmente
eles serviam de instrumentos para a revelação de mistérios e para a predição de eventos futuros.
Os profetas diferiam dos ministros comuns no sentido de que eles falavam sob inspiração
especial.
EVANGELISTAS. Em acréscimo a apóstolos e profetas, são mencionados evangelistas
na Bíblia, At 21.8; Ef 4.11; 2 Tm 4.5. Filipe, Marcos, Timóteo e Tito pertenciam a esta classe.
Pouco se sabe destes evangelistas. Eles acompanhavam e assistiam os apóstolos, e às vezes eram
enviados por estes em missões especiais. Seu trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a
ordenação de presbíteros, Tt 1.5; 1 Tm 5.22, e o exercício da disciplina, Tt 3.10. Ao que parece,
sua obra era mais geral e algo superior à dos ministros regulares.
PRESBÍTERO (PASTORES/BISPOS). Pluralidade de presbíteros, padrão em todas as
igrejas do NT. Há um padrão bastante coerente de vários presbíteros como o principal grupo de
liderança das igrejas neotestamentária (veja At 11.30; 14.23; 15.2; 20.17; Tt 1.5; 1Tm 4.14; Tg
5.14; 1Pe5.1,2).
Duas importantes conclusões podem ser tiradas desses panoramas de dados do NT. (1)
nenhum texto sugere que qualquer igreja, não importa quão pequena, tivesse só um presbítero. O
padrão coerente do NT é a pluralidade de presbíteros em cada igreja (At 14.23) e em cada cidade
(Tt 1.5); e (2) não vemos uma diversidade de formas de governo eclesiástico no NT, mas um
padrão único e coerente, segundo o qual todas as igrejas tinham presbíteros que a dirigiam e
zelavam por ela (At 20.28; Hb 13.17; 1Pe 5.2,3). (Ibid p. 765).
1. Outros títulos dos presbíteros: pastores ou bispos. Presbíteros também são chamados
“pastores ou bispos” no NT. A palavra menos usada (pelo menos na forma substantiva) é
Doutrina da Igreja
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“pastor” (gr poimen). Esta palavra que se tornou tão comum, só ocorre referindo um oficial da
igreja, uma vez no NT, em Ef 4.11. Aqui aparece a palavra “pastores” e mestres. Segundo alguns
especialistas no grego este versículo deveria ser traduzido por “pastores-mestres” (um grupo) e
não pastores e mestres (sugerindo dois grupos). A associação com o ensino sugere que esses
pastores eram alguns presbíteros (ou talvez todos) que se encarregavam do ensino, porque um
dos requisitos dos presbíteros era ser “apto para ensina” (1Tm 3.1,2). (Ibid p. 766). A linguagem
de Efésios 4.11 sugere que ser pastor e mestre é exercer um único oficio, que contem uma função
dupla: a de pastorear ou supervisionar e rebanho e a de ensinar. É provável que este termo
designe lideres na igreja local e seja basicamente o mesmo que presbítero e episkopoi. (LADD p.
494).
Embora o substantivo pastor (poimen) não seja usado para referir-se aos oficiais da igreja
do NT, o verbo relacionado que significa “agir como um pastor” (de ovelhas) (gr poimainõ) é
aplicado aos presbíteros no discurso de Paulo aos presbíteros de Éfeso, (At 20.28, traduzindo
literalmente o verbo poimainõ). Assim Paulo exorta diretamente esses presbíteros a agir como
pastores.
O mesmo verbo é usado em 1Pe 5.2 onde Pedro diz aos presbíteros que devem pastorear
(poimainõ). No v.4 Jesus é chamado “o supremo pastor” (gr archipoimen), sugerindo claramente
que Pedro também via os presbíteros como pastores na igreja.
Outro termo usado para referir-se a presbítero é a palavra grega episkopos, que é
traduzida por bispo. Mas essa palavra parece muito claramente ser outro termo equivalente a
presbítero. Por exemplo quando Paulo chama os presbíteros de Éfeso (At 20.17), diz a eles:
atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos (gr
episkopos v. 28). Paulo prontamente refere-se como bispo. (GRUDEM p. 766). Há também um
paralelo em 1Tm 3.1,2 onde Paulo usa o termo episcopado, e 1Tm 5.17, onde aparece o termo
presbítero, é bom lembrar que Timóteo está com Efeso, e com base em Atos 20.17-38 há
presbítero ali, concluímos que os presbíteros tem as mesmas funções dos bispos, bispo aqui é
mais um sinônimo de presbítero.
1.1 As funções dos presbíteros. Uma das principais funções dos presbíteros é dirigir
as igrejas (1Tm 5.17; cf 3.4,5; 1Pe 5.2-5). Alem da responsabilidade de liderança, parece que os
presbíteros também tinham responsabilidade no ensino nas igrejas (Ef 4.11; 1Tm 3.2; 5.17; Tt
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 32
1.9). Os presbíteros (pastores ou bispos), tinham a responsabilidade de dirigir e ensinar nas
igrejas.
1.2 Qualificações dos presbíteros (1Tm 3.2-7; Tt 1.6-9). Devemos observar que
quando Paulo alista as qualificações dos presbíteros, é importante o fato de ele juntar requisitos
concernentes a traços do caráter e atitudes intimas com requisitos que não podem ser
preenchidos em curto espaço de tempo, senão em um período de muitos anos de vida (cristã).
MESTRES. É evidente que, originalmente, os presbíteros não eram mestres. A princípio,
não havia necessidade de mestres, separadamente, uma vez que havia apóstolos, profetas e
evangelistas. Gradativamente, porém, a didaskalia (o ensino, a docência) ligou-se mais e mais
estreitamente ao ofício episcopal; mas, mesmo então, os mestres não constituíram uma classe
separada de oficiais. A declaração de Paulo em Ef 4.11, de que o Cristo assunto também dera à
igreja “pastores e mestres”, mencionados como uma única classe, mostra claramente que estes
dois não constituem duas diferentes classes oficiais, mas uma só classe com duas funções inter-
relacionadas. 1 Tm 5.17 fala de presbíteros que trabalhavam na palavra e no ensino, e, conforme
Hb 13.7, eram igualmente mestres.
Além disso, em 2 Tm 2.2 Paulo insta com Timóteo sobre a necessidade de nomear para
ofício homens fiéis e também capazes de instruir a outros. Com o transcorrer do tempo, duas
circunstâncias levaram a uma distinção entre os presbíteros ou superintendentes encarregados
somente do governo da igreja, e os que também eram chamados para ensinar:
(1) quando os apóstolos faleceram e as heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que
eram chamados para ensinar tornou-se mais exigente, requerendo preparação especial, 2 Tm 2.2;
Tt 1.9;
(2) em vista do fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão engajados
no ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que requer todo o seu tempo, foram
liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se mais exclusivamente ao trabalho de ensinar.
DIÁCONOS. Além dos presbíteros, são mencionados os diakonoi no Novo Testamento,
Fp 1.1; Tm 3.8, 10, 12. Segundo a opinião predominante, At 6.1-6 contém o registro da
instituição do diaconato. A palavra diácono é traduzida da palavra grega diáconos, que significa
“servo”. (At 6; Fp 1.1; 1Tm 3.8-13). A função dos diáconos é servir a casa do Senhor; cuidar das
coisas materiais da igreja.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 33
12. O PODER DA IGREJA
Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do necessário poder
ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas também no sentido
administrativo, isto é, Ele é não somente a Cabeça do corpo, mas também o Rei da comunidade
espiritual. É em Sua capacidade de Rei da igreja que Ele a revestiu de poder ou autoridade. Ele
mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as portas do inferno
não prevaleceriam contra ela (Mt 16.18).
“O poder da igreja está na autoridade dada por Deus para levar a efeito o trabalho
espiritual, proclamar o evangelho e exercer a disciplina na igreja”.
A batalha espiritual. Paulo lembra aos cristãos que as armas de luta não são carnais,
mas espirituais (2Co 10.3,4). Entre essas armas usadas contra forças demoníacas que impedem a
propagação do evangelho e o avanço da igreja encontram-se a oração, a adoração, a autoridade
para repreender forças demoníacas, a Palavra de Deus (a Bíblia), a fé e retidão de conduta por
parte dos membros da igreja (veja Ef 6.10-18).
Quando consideramos esse poder espiritual no sentido amplo, vemos que inclui com
certeza o poder do evangelho de vencer o pecado e a oposição renitente e também de despertar fé
no coração dos incrédulos. Todavia, tal poder também inclui poder espiritual que tornará ineficaz
a oposição demoníaca ao evangelho (ex At 13.8-11; 16.16-18). Tal poder espiritual de derrotar a
oposição maligna era vista com freqüência na igreja primitiva (veja Tb. At 12.1-17). (Grudem p.
745).
As Chaves do Reino (Mt 16.19). No NT, chave sempre implica em autoridade para
abrir um aporta e permitir entrada para certo lugar ou esfera. Portanto, as chaves do reino dos
céus representam pelo menos a autoridade de pregar o evangelho de Cristo (Mt 16.16) e assim
abrir a porta de entrada ao Reino dos céus, permitindo o acesso. A primeira vez que Pedro usou
essa autoridade foi no dia de pentecostes (At 2.14-42). Mas os outros apóstolos também
receberam essa autoridade, e, também todos os cristãos possui essa chave, porque todos eles
podem compartilhar o evangelho com outras pessoas, abrindo assim o reino dos céus para os que
nele entrarão. Esta chave foi entregue à igreja.
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 34
Além da autoridade de pregar o evangelho, está implícita também “nas chaves” uma
outra autoridade, que é a de disciplina. Há dois fatores que sugerem que a autoridade das chaves
também inclui “a autoridade de exercer disciplina dentro da igreja”: (1) o plural chaves sugere
autoridade sobre mais de uma porta. (2) Jesus completa a promessa sobre as chaves com uma
declaração sobre ligar e desligar, que tem paralelo próximo em outra afirmação sua (Mt 18),
onde ligar e desligar significa respectivamente colocar sobre disciplina eclesiástica e livrar de tal
disciplina (Mt 18.17.18).
Essa interpretação de ligar e desligar com respeito à disciplina eclesiástica também está
relacionado com o contexto de Mt 16.19, segundo o qual, depois de prometer edificar sua igreja
(v. 18), Jesus promete conceder não somente a autoridade de abrir a porta de entrada no reino,
mas também alguma autoridade de regulamentar a conduta das pessoas, uma vez que elas
tenham entrado. Portanto, parece que as chaves do reino dos céus que Jesus prometeu a Pedro
incluem:
➢ Capacidade de admitir pessoas no reino através da pregação do evangelho como;
➢ Autoridade de exercer disciplina para com os que estão na igreja. (Ibid pp. 746-7)
Em Mateus 16.16-19 Jesus não indica se a autoridade das chaves será dada a outros
além de Pedro. Mas com certeza a autoridade de pregar o evangelho é dada aos outros um pouco
mais tarde, e em Mateus 18.18 Jesus declara explicitamente que a autoridade de exercer
disciplina é dada à igreja em geral (Dize-o à igreja Mt 18.17). Assim ambos os aspectos da
autoridade das chaves, ainda que em primeiro lugar fosse dada a Pedro, foi expandido para
incluir a autoridade dada à igreja com um todo.
13. A DISCIPLINA ECLESIÁSTICA
Qual o propósito da disciplina? Restauração e reconciliação dos cristãos que se estão
desviando. O pecado impede comunhão com outros cristãos e com Deus. Para que haja
reconciliação, o pecado precisa ser tratado. Portanto, o propósito principal da disciplina
eclesiástica é alcançar o duplo alvo de “restauração” (levar o pecador ao comportamento correto)
e de “reconciliação” (entre cristãos e com Deus). (Mt 18.15; Gl 6.1; Hb 12.6; Tg 5.20; Ap 3.19).
(Grudem p. 750).
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➢ Impedir que o pecado se espalhe, atingindo outros (Hb 12.15; Gl 2.11; 1 Tm 5.20; 1
Co 5.2-7).
➢ Proteger a pureza da igreja e a honra de Cristo (Rm 2.24).
14. AS ORDENANÇAS DA IGREJA (Batismo e Ceia do Senhor)
Alguns preferem chamar de “Sacramentos”. Originalmente esta palavra significava
“tornar separado, dedicar aos deuses ou ao uso sagrado”. Depois passou a significar aquilo pelo
que uma pessoa se liga a outra para executar qualquer coisa. A igreja católica romana sempre usa
esse termo, mas tem sete sacramentos: ordenação, crisma, matrimônio, extrema unção
penitência, batismo e eucaristia. O concilio de Trento define assim o sacramento: “Um
sacramento é algo apresentado aos sentidos, que tem o poder, por instituição divina, não de
apenas significar, mas também de transmitir a graça de maneira eficaz”. Mas nem a palavra
sacramento, em tampouco ordenança, usadas nesse sentido, aparecem nas Escrituras. Para evitar
encorajar o sacramentarismo, preferimos a palavra ordenanças. “Ordenança é um rito externo
ordenado por Cristo para ser administrado na Igreja, como sinal visível da verdade salvadora da
fé cristã”. É um sacramento apenas no sentido de ser um foto de fidelidade a Cristo. O NT
prescreve duas ordenanças: o batismo e a Ceia do Senhor. (THIESSEN p. 303).
É bom separarmos as três palavras uma das outras: símbolo, rito e ordenança.
(1) Símbolo é um sinal, uma representação visível de uma verdade ou idéia invisível.
(2) Rito é um símbolo usado com regularidade e intenção sagrada.
(3) Ordenança é um rito simbólico que põe em destaque as verdades centrais da fé
cristã, e que é obrigação universal e pessoal. O batismo e a Ceia do Senhor são ritos que se
tornam ordenanças por ordem especifica de Cristo. (Strong-Apud-THIESSEN, p. 303).
14.1. Batismo
Que o batismo é uma ordenança de obrigação perpetua na igreja é provado pelos
seguintes fatos:
(1) Cristo pediu para ser batizado (Mt 3.13-15) e aprovou a prática dessa ordenança por
parte dos discípulos (João 4.1,2).
(2) ele ordenou Seus discípulos que batizassem (Mt 28.19,20; Mc 16.16); os apóstolos e
os primeiros discípulos ensinavam e praticavam o batismo (At 2.38,41; 8.12,13,36,38; 9.18;
10.47,48; 16.15,33; 18.8; 19.5).
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14.1.1. A forma e o significado do batismo
A prática do batismo no Novo Testamento era realizada de um modo: a pessoa era
imersa ou posta completamente dentro da água e em seguida retirada. Batismo por imersão é,
portanto, o modo ou a forma pela qual o batismo era realizado no Novo Testamento. Isso se
evidencia pelas seguintes razões:
➢ A palavra grega baptizo significa “mergulhar imergir, afundar” algo na água. Isso é
normalmente reconhecido, sendo o padrão do termo na literatura grega antiga; tanto na Bíblia
como fora dela.
➢ O sentido “imergir” é adequado e provavelmente exigido para a palavra nos vários
textos do Novo Testamento. Em Marcos 1.5, o povo era batizado por João no rio. Marcos
também nos diz que quando Jesus foi batizado “ele saiu da água” (Mc 1.10). O texto grego
especifica que ele “saiu para fora da (ek) água”, e não que ele veio da água. O fato de que João
e Jesus entraram no rio e saíram dele sugere enfaticamente imersão, já que a aspersão ou a
efusão de água poderiam muito mais facilmente ter sido feitas junto ao rio (veja tb. Jo 3.23; At
8.36-39).
➢ O simbolismo da união com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição exige
batismo por imersão (Rm 6.3,4). Essa verdade é claramente simbolizada no batismo por imersão.
Quando o candidato ao batismo desce às águas vemos uma figura do descer à sepultura e do
sepultamento. O sair das águas é uma figura da ressurreição com Cristo para que se ande em
novidade de vida. Assim, o batismo representa muito claramente a morte do velho modo de vida
e o ressuscitar para um novo tipo de vida em Cristo. O batismo por aspersão, porém, deixa de
lado esse simbolismo. (GRUDEM, PP. 815-6). O batismo é símbolo da identificação do cristão
com Cristo no sepultamento e ressurreição.
14.1.2. Quem deve ser batizado?
O modelo revelado em vários textos do Novo Testamento mostra que somente os que
fazem uma profissão de fé digna de credito podem ser batizados. Essa posição é muitas vezes
chamada de “batismo de convertidos”, já que defende que somente os que creram em Cristo
podem ser batizados. A razão disso é que o batismo, que é um símbolo do inicio da vida cristã,
deve ser ministrado apenas aos que de fato iniciaram a vida cristã. O argumento encontrado nos
textos do Novo Testamento sugere que somente os que crêem devem ser batizados. Os apóstolos
Doutrina da Igreja
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ministraram o batismo somente àqueles que fizeram uma profissão de fé digna de crédito (cf. At
2.41; 8.12; 10.44-46; 16.14,15,32,33) (Ibid).
14.1.3. O batismo na concepção católica.
A igreja católica romana ensina que o batismo deve ser ministrado às crianças. A razão
disso é que a igreja católica crê que o batismo é necessário para a salvação e que o ato do
batismo em si traz regeneração. Portanto, nessa posição, o batismo é o meio pelo qual a igreja
concede graça. E, tratando-se de um canal de graça salvífica como esse, deve ser ministrada a
todos. Para sustentar essa posição os teólogos católicos dão os seguintes argumentos:
➢ O batismo é o sacramento no qual o homem lavado com água nome das Três Pessoas
Divinas nasce de novo espiritualmente (usam Jo 3.5; Tt 3.5; Ef 5.26, para apoiar essa
declaração).
➢ O batismo por água é, desde a promulgação do evangelho, necessário para todos,
sem exceção, para a salvação.
➢ Embora as crianças não possam exercer fé salvadora por si mesmas, a igreja católica
ensina que o batismo de crianças é valido, pois: “a fé que não constitui a causa efetiva da
justificação, não precisa está presente. A fé que falta a criança é substituída pela fé da igreja”.
➢ A igreja católica ensina que os sacramentos têm uma eficácia objetiva, isto é, uma
eficácia independente da disposição subjetiva do batizado, ou do que ministra. Os sacramentos
conferem graça imediatamente, isto é, sem a mediação da fé fiducial. (Ludwig Ott-Apud –
GRUDEM, PP. 818-9).
Em resposta a isso as escrituras declara que a salvação é somente pela fé (Ef 2.8,9; Rm
6.23). O argumento católico de que o batismo é necessário para a salvação é muito semelhante
ao argumento dos opositores de Paulo em Gálatas que afirmavam que a circuncisão era
necessária para a salvação (cf. Gl 1.6; 3.10; 5.4).
Mas o que dizer de João 3.5? Embora alguns entendam que essa é uma referência ao
batismo, é melhor entender o texto com base no ambiente da promessa da nova aliança em
Ezequiel 36.25-27. Ezequiel fala aqui de um lavar espiritual que acontecerá nos dias da nova
aliança, quando Deus colocar Seu Espírito em seu povo. À luz disso, nascer da água e do
Espírito é um lavar espiritual que ocorre quando nascemos de novo, assim como também
recebemos um novo coração espiritual, e não físico (veja tb. Tt 3.5; Ef 5.26). Portanto, o novo
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nascimento está relacionado à conversão, à transformação realizada no coração dos que crêem e
não ao ritual de jogar um pouco d’água na cabeça de alguém (ou de uma criança).
Quanto à posição católica de que o batismo confere graça separadamente da disposição
subjetiva do batizado precisamos reconhecer que não existe nenhum exemplo no Novo
Testamento que comprove este ponto de vista. Pelo contrario, as narrativas que falam dos que
foram batizados indicam que eles primeiro chegaram à fé salvadora. (GRUDEM p. 820).
E o que dizer de 1Pedro 3.21? Esse versículo é, na realidade, uma negação de que o rito
do batismo tenha algum efeito em si. Ele salva apenas por ser um compromisso diante de Deus,
um ato de fé, reconhecendo que dependemos dele. A verdadeira base de nossa salvação é a
ressurreição de Cristo. (ERICKSON p. 465).
14.1.4. O batismo segundo a posição pedobatista
O batismo deve ser ministrado a todas as crianças que sejam filhos de pais cristãos.
Essa posição é muito comum em muitas igrejas protestantes (luteranas, episcopais, metodista,
presbiterianas e reformadas). Essa posição é às vezes conhecida como argumento da aliança em
favor do pedobatismo. É chamada argumento da aliança porque depende de interpretar que os
filhos dos cristãos fazem parte da comunidade da aliança do povo de Deus. (GRUDEM p. 821).
O argumento de que crianças nascidas de cristãos devem ser batizadas depende
principalmente destas três colocações:
➢ As crianças eram circuncidadas na antiga aliança. No Antigo Testamento a
circuncisão era o sinal externo de ingresso na comunidade do povo de Deus. A circuncisão era
ministrada a todas as crianças israelitas (do sexo masculino) quando completava oito dias de
vida.
➢ O batismo é paralelo à circuncisão. No Novo Testamento o sinal externo de
ingresso na comunidade da aliança é o batismo. Portanto, o batismo, é o equivalente
neotestamentario da circuncisão. Segui-se que o batismo deve ser ministrado a todas as crianças
nascidas de pais cristãos. Negar-lhes tal benefício é privá-las de um privilégio e de um benefício
que lhes pertence por direito – o sinal de pertencer à comunidades do povo de Deus, a
“comunidade da aliança”. O paralelo entre a circuncisão e o batismo é visto claramente em Cl
2.11,12. Aqui se diz que Paulo faz uma nítida relação entre a circuncisão e o batismo.
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➢ O batismo de famílias. Outro apoio para a prática do batismo infantil é encontrado
nos “batismos de famílias” relatados em Atos e nas epístolas, particularmente no batismo da casa
de Lídia (At 16.15), da família do carcereiro de Filipos (At 16.33) e da casa de Estéfanas (1Co
1.16). Também se alega que Atos 2.39, que declara que a benção prometida do evangelho é
“para vós outros e para vossos filhos”, serve de base para tal prática. (Ibid p. 822).
Resposta a esta posição: Não há dúvida de que o batismo e a circuncisão são
semelhantes em vários aspectos, mas não podemos esquecer que o que simbolizam também é
diferente em alguns aspectos importantes. A antiga aliança tinha um sinal externo, físico, do
ingresso na comunidade da aliança. Alguém se tornava judeu quando nascia de pais judeus.
Portanto todos os judeus do sexo masculino eram circuncidados. A circuncisão não se restringia
aos que tinham uma verdadeira vida espiritual interior, mas era feita a todos os que viviam entre
o povo de Israel (Gn 17.10-13; cf. Js 5.4).
Devemos reconhecer que a circuncisão foi dada a cada homem (ou menino) que vivia
no meio do povo de Israel, embora a verdadeira circuncisão seja algo interior e espiritual (Rm
2.29), e nem todos de Israel são verdadeiros israelitas (Rm 9.6).
Mas como alguém se torna membro da igreja? O meio de ingresso na igreja é
voluntária, espiritual e interior. Alguém se torna membro da verdadeira igreja através do novo
nascimento e da fé salvadora, e não de um nascimento físico. Isso ocorre não por um ato
externo, mas pela fé interior no coração. Com certeza é verdade que o batismo é o sinal de
ingresso na igreja, mas isso significa que este deve ser ministrado aos que dão prova de serem
membros da igreja, somente os que professam fé em Cristo.
Nos casos de batismo de famílias: o batismo da família do carcereiro (At 16.33), mas
podemos ver que Paulo e Silas “lhe pregaram a palavra de Deus e a todos de sua casa” (At
16.32). Se a palavra de Deus foi pregada a todos da casa, há uma pressuposição de que todos
tinham idade suficiente para entender a palavra e crer nela.
A família de Estéfanas (1Co 15.16), eles não foram somente batizados, mas também
convertidos e tinham trabalhado servindo a outros cristãos. Uma vez mais o exemplo de batismo
de famílias indica fé de famílias (Ibid). Sustentar o batismo infantil baseado nestas passagens é
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um equívoco. O ensinamento bíblico é de que o batismo é um testemunho de arrependimento e
fé, e somente aqueles que professam fé em Cristo devem ser batizados.
O batismo em geral segue-se a fé ou praticamente coincide com ela. O batismo é em si
um ato de fé e compromisso. Embora a fé seja possível sem o batismo (i.é, a salvação não
depende do batismo), o batismo é o desdobramento natural e a complementação da fé. O batismo
é um ato de fé e um testemunho poderoso de união do crente com cristo. É uma proclamação
poderosa da verdade do que Cristo fez; é uma palavra em forma de água, testificando da
participação do crente na morte e ressurreição de Cristo. É mais um símbolo que um mero sinal,
pois é um quadro vivo da verdade que transmite. (ERICKSON p. 466).
14.1.5. O batismo é necessário?
Embora, reconhecemos que Jesus ordenou o batismo (Mt 28.19), à semelhança do que
fizeram os apóstolos (At 2.38), não devemos dizer que o batismo é necessário para a salvação.
Dizer que o batismo ou qualquer outra obra é necessário para a salvação equivale a dizer que não
somos justificados somente pela fé, mas sim pela fé e por determinada obra, a obra do batismo.
Aqueles que defendem que o batismo é necessário para a salvação muitas vezes apontam para
Marcos 16.16. Mas a resposta evidente a tal argumento é apenas afirmar que o versículo nada diz
sobre quem crê e não é batizado. O texto está falando apenas de caso gerais sem fazer uma
descrição pedante do caso incomum de alguém que crê e não é batizado (o ladrão na cruz não
pôde ser batizado Lc 23.43). Outra razão por que o batismo não é necessário para a salvação é
que nossa justificação dos pecados ocorre quando cremos com fé salvifica e não quando somos
batizados nas águas, que normalmente acontece mais tarde. Mas se uma pessoa já está justificada
e tem os seus pecados perdoados quando creu com fé salvadora, o batismo não é necessário para
o perdão dos pecados, nem para que se receba a nova vida espiritual.
14.1.6. A fórmula do batismo
Devemos reconhecer aqui que as Escrituras simplesmente não especificam quaisquer
restrições sobre quem pode realizar a cerimônia do batismo. Todavia, se de fato cremos no
sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2.4-10), parece não haver necessidade em princípio de
restringir o direito de ministrar o batismo apenas ao clero ordenado. Um cristão maduro,
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compromissado com as verdades do evangelho, que esteja servindo na casa do Senhor (um
diácono ou uma diaconisa) pode ministrar o batismo sob a autoridade de o pastor titular.
A fórmula batismal aparece em Mateus 29.19 – em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, em nome da Trindade. “Em nome”, aqui, é uma expressão no singular, porque usada
distributivamente, e há somente um nome ou titulo. Em Atos 2.38, onde lemos sobre o batismo
no “nome de Jesus Cristo”, a expressão altera literalmente, significando “sobre o nome de Jesus
Cristo”, que significa “segundo a autoridade de”. Aqui Pedro apela para o ensino de Jesus em
Mateus 28.19. O batismo foi efetuado no nome triúno de Deus. (MENZIES p. 122).
14.1.7. Qual é a idade adequada para o batismo?
A Bíblia não especifica a idade adequada para alguém ser batizado. No entanto, o fato
de exigir fé e arrependimento, indica que o candidato deve ter idade suficiente para compreender
a mensagem bíblica e tomar a decisão de seguir a Cristo. Podemos sugerir que a partir dos 12 ou
14 anos de idade a pessoa esteja apta a tomar tal decisão.
14.2. A Ceia do Senhor
A expressão, “Ceia do Senhor” (gr kyriakon deipron), ocorre somente em 1Co 11.20,
quanto ao significado está relacionado estreitamente com a frase “a mesa do Senhor” [trapeza
kiriou] (1Co 10.21). Ambas as passagens indicam que o termo Senhor (Kyrios) está firmemente
estabelecido na tradição e na terminologia da Ceia do Senhor (1Co 10.22; 11.27,31,32).
(BROWN, p. 320 vol. 1). A Ceia do Senhor foi instituída por Jesus Cristo por ocasião de sua
última refeição da Páscoa, na companhia de seus discípulos apenas horas antes de ser crucificado
(Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.15-20; 1Co 11.23-26).
Para nós, a Ceia do Senhor tomou o lugar da Páscoa do Antigo Testamento, porque
Cristo é a nossa Páscoa, Ele é o cordeiro pascal que foi crucificado por nós (1Co 5.7). A páscoa
para os judeus representava o livramento concedido por Deus quando eles saíram do Egito. A
Ceia do Senhor para nós é representação do sacrifício de Cristo em nosso favor que nos libertou
do poder do pecado e da condenação. Jesus nos deixou duas ordenanças: o batismo que é um ato
único e que marca o início da vida cristã, e a Ceia que é, um ato contínuo na vida cristã como
sinal de comunhão e reconhecimento da eficácia do sacrifício de Cristo, é um memorial que deve
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ser celebrado durante a nossa vida aqui na terra, até que venha o Senhor, quando celebraremos
juntamente com ele.
14.2.1. O significado da Ceia do Senhor.
“A Ceia do Senhor é um lembrete da morte de Cristo e de seu caráter sacrificial em
nosso favor, um símbolo de nossa ligação vital com o Senhor e um testemunho de sua segunda
vinda”. (ERICKSON p. 473).
➢ A Morte de Cristo. Quando participamos da Ceia o Senhor há nisso um símbolo
da morte de Cristo, pois nossas ações ali formam um quadro de sua morte por nós (1Co 11.26).
➢ Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo (Mt 26.26). Quando
individualmente pegamos o cálice e nós mesmos o tomamos, cada um de nós está proclamando
por meio de tal ato: “estou tomando os benefícios da morte de Cristo para mim mesmo”.
➢ A unidade dos cristãos (1Co 10.17).
➢ Cristo afirma seu amor por mim. O fato de que posso participar da Ceia do
Senhor – na verdade, de que Jesus convida-me para tanto – é um lembrete vívido e sinal visível e
seguro de que Jesus Cristo me ama como indivíduo e como pessoa. Quando participo da Ceia do
Senhor reafirmo constantemente a segurança do amor pessoal de Cristo por mim.
➢ Cristo afirma que todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim. Na
Ceia, estou de fato comendo e bebendo um antegozo da mesa no banquete do grande Rei.
➢ Eu afirmo minha fé em Cristo. (GRUDEM, PP. 836-7).
14.2.2. O valor da ceia do senhor.
A Ceia do Senhor tem diversos valores em relação ao passado, presente e futuro.
➢ Em primeiro lugar, ela é comemorativa: “fazei isso em memória de mim” (Lc
22.19). Trata-se de uma ocasião solene para ponderarmos profundamente o significado da morte
expiatória de Cristo.
➢ Em segundo lugar, ela é instrutiva – representando por meio de uma lição
objetiva a sagrada encarnação de Cristo e a expiação (a consumação dos elementos físicos: o pão
e o vinho).
Doutrina da Igreja
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 43
➢ Em terceiro lugar, ela é inspiradora, porque nos lembra que, por meio da fé,
podemos alcançar os benefícios da morte e ressurreição de Cristo (não é os elementos em si, mas
a fé no que os elementos representam, ou seja, em Cristo). Participando dela de forma regular,
estaremos nos identificando repetidamente com Jesus em sua morte, lembrando que ele morreu e
ressuscitou para que pudéssemos ter vitória sobre o pecado e evitar toda espécie de mal (1Ts
5.22). (MENZIES, p. 123).
➢ Em quarto lugar, a Ceia do Senhor requer ações de graças, que é o aspecto de
eucaristia, no grego (1Co 10.16). Trata-se de uma oportunidade de agradecer a Deus por todas as
bênçãos, que são nossas, visto que Jesus morreu na cruz (Mt 26.27,28; Mc 14.23,24; Lc
22.19,20; 1Co 11.24-26).
➢ Em quinto lugar, é, igualmente, uma oportunidade de ter comunhão,
primeiramente com o Pai e seu filho (1Jo 1.3), e, em segundo lugar, com outros crentes que
conosco; compartilhar a fé (Tg 1.4; Jd v.3), a graça de Deus (Fp 1.7; Cl 1.16) e a presença do
Espírito Santo (Rm 8.9,11).
➢ Em sexto lugar, a Ceia do Senhor reconhece e proclama a Nova Aliança (gr. he
kaine diatheke). Ao participarmos da Ceia do Senhor, declaramos nosso propósito de fazer de
Jesus o nosso Senhor, de fazer sua vontade, de tomar a nossa cruz diariamente e de cumprir a
Grande Comissão.
➢ E por último, a Ceia do Senhor envolve responsabilidade. Devemos nos guardar
de participar da ceia do Senhor “indignamente” (1Co 11.27-34). Que significa participar da Ceia
do Senhor de maneira indigna? Por certo isso não significa que tenhamos que ser dignos como
pessoas, visto que nenhum de nós é capaz de relacionar-se com Deus à parte de Cristo. O que
está em pauta é a indignidade de atitude e conduta. Todos somos pecadores, mas os que se têm
renovado na atitude mental e revestido do novo homem, que, segundo Deus é criado em
verdadeira justiça e santidade (Ef 4.23,24), estão na posição de candidatos à mesa do Senhor.
Mas os que abrigam pecados, quer grosseiros e carnais, que pessoais e sutis, precisam,
primeiramente, de purificação (1Jo 1.7,9). Mas, ao comermos e bebermos devemos reconhecer o
corpo do Senhor. O corpo que devemos reconhecer ou discernir é o corpo espiritual de Cristo, a
assembléia dos crentes (1Co 10.16,17). (Ibid pp. 124-5).
14.2.3. Como cristo está presente na Ceia do Senhor?
(1) A posição católica: Transubstanciação. Conforme a doutrina da igreja católica
romana, o pão e o vinho tornam-se realmente o corpo e o sangue de Cristo. Isso acontece quando
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o padre diz “isto é meu corpo”, durante a celebração da missa. Quando o padre diz isso, o pão é
levantado (elevado) e adorado. Esse ato de elevar o pão e de pronunciá-lo corpo de Cristo só
pode ser feito por um sacerdote. Vejamos alguns princípios dessa doutrina:
➢ Cristo torna-se presente no Sacramento do altar por meio da transformação de
toda a substância do pão em Seu Corpo e de toda a substância do vinho em Seu Sangue (isso é
transubstanciação).
➢ O poder da consagração reside apenas em um sacerdote validamente consagrado.
➢ O culto de adoração (Latria) deve ser dedicado a Cristo, presente na Eucaristia (A
palavra Eucaristia significa simplesmente Ceia do Senhor (Gr eucharistia, “ação de graças”). O
verbo da mesa raiz “eucaristeõ”, dar graças, encontra-se nos relatos bíblicos da última ceia em
Mt 26.27; Mc 14.23; Lc 22.19; 1Co 11.24). Conclui-se da inteireza e da permanência da
presença real que o culto de adoração absoluto (cultus latrie) é devido a Cristo, presente na
eucaristia. (Ludwig Ott-Apud-Grudem, p. 838).
Na doutrina católica, porque os elementos do pão e do vinho tornam-se literalmente o
corpo e o sangue de Cristo, a igreja, por muitos séculos, não permitiu que os leigos bebessem do
cálice da Ceia do Senhor (por temer que o sangue de Cristo fosse derramado), reservando apenas
que comessem o pão.
Para sustentar essa posição os católicos usam dois argumentos:
(1) o clero atua de forma representativa em favos do leigo;
(2) os leigos não ganham por não tomar cálice; o sacramente é completo sem ele, pois
cada partícula, tanto do pão como do vinho, contém, de modo completo, o corpo, a alma e a
divindade de Cristo (ERICKSON, p. 468). Não foi isso que o Senhor Jesus ensinou, Jesus
ensinou que todos deviam comer e beber do cálice, e não somente certas pessoas especiais (cf.
Mc 14.22,23; 1Co 11.25,26).
Outra concepção da igreja é que a santa missa é na verdade um sacrifício real, quando o
sacerdote ministra a eucaristia Cristo está novamente oferecendo um sacrifício em favor dos
adoradores. “No sacrifício da missa e no sacrifício da cruz a oferta sacrificial e o sacerdote
principal oficiante do sacrifício são idênticos; apenas a natureza e modo de oferta são diferentes.
A oferta sacrificial é o corpo e o sangue de Cristo. O sacerdote principal oficiante do sacrifício é
Jesus Cristo, que utiliza o sacerdote humano como seu servo e representante e cumpre a
consagração por meio dele. Como sacrifício propiciatório, o sacrifício da missa efetua a remissão
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Basico em Teologia 45
de pecados e a punição de pecados. O sacrifício eucarístico de propiciação pode ser oferecido
não somente em favor dos vivos, mas também em favor das pobres almas no purgatório”.
(Ludwig Ott-Apud-Grudem, p.838).
Em resposta à doutrina católica sobre a Ceia do Senhor, precisa ser dito que em
primeiro lugar ela deixa de reconhecer o caráter simbólico das declarações de Jesus quando ele
afirma: isto é meu corpo e isto é meu sangue. Jesus falou de modo simbólico muitas vezes
quando falou de si mesmo (veja João 15.1; 10.9; 6.41). Na verdade, quando ele estava assentado
com seus discípulos segurando o pão, o pão estava em sua mão, mas era distinto de seu corpo, e
isso era, naturalmente, evidente para os seus discípulos. Nenhum dos discípulos presentes teria
pensado que o pão que Jesus tinha em mãos era de fato o seu próprio corpo físico, porque eles
podiam ver o corpo de Jesus diante de seus olhos. Naturalmente, eles interpretaram a declaração
de Jesus como simbólica. De maneira semelhante, quando Jesus afirmou: este é cálice da Nova
Aliança no meu sangue derramado em favor de vós (Lc 22.20), com certeza não quis dizer que
o cálice era de fato a nova aliança, mas que o cálice representava a nova aliança. (GRUDEM, p.
839).
Além do mais a igreja católica deixa de reconhecer o ensino claro do Novo Testamento
sobre a finalidade e completitude do sacrifício de Cristo, feita de uma vez por todas por nossos
pecados, sem necessidade de repetição (Hb 9.25-28). Dizer que o sacrifício é repetido durante
um rito, isto é, na eucaristia, é antibíblico, é heresia (Ibid).
Com respeito à doutrina de que somente os sacerdotes podem oficiar a Ceia do Senhor,
o Novo Testamento em nenhum lugar dá instruções sobre que deve presidir a ceia do Senhor. E
visto que as Escrituras não nos dão nenhuma restrição, não parece justificável dizer que apenas
os sacerdotes (oficiais) podem dispensar os elementos da ceia do Senhor. Além disso, já que as
Escrituras nos ensinam que todos os crentes são sacerdotes e membros de um sacerdócio real
(1Pe 2.9; Hb 4.16; 10.19-22), não devemos especificar certa classe de pessoas que têm os
direitos de sacerdotes, como na antiga aliança, mas devemos enfatizar que todos os crentes
compartilham do grande privilégio espiritual de aproximar-se de Deus. (Ibid p. 840).
14.2.4. A posição Luterana:
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“Em, com e sob”. Martinho Lutero rejeitou a posição católica sobre a Ceia do Senhor,
mas insistiu em que a frase “isto é meu corpo” tinha de ser entendida, em algum sentido, como
uma declaração literal. Sua conclusão não foi que o pão torna-se de fato o corpo físico de Cristo,
mas que o corpo físico de Cristo está presente “em, com e sob” o pão da ceia do Senhor. Que é o
Sacramento do altar? É o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, sob o pão e o
vinho, para que nós, cristãos, dele comamos e bebamos instituídos pelo próprio Cristo.
Em resposta à posição luterana, pode ser dito que ela deixa de reconhecer que Jesus fala
de uma realidade espiritual, usando, porém, objetos físicos. (Ibid).
14.2.5. O restante das igrejas protestantes
Presença simbólica e espiritual de Cristo. De modo distinto de Martinho Lutero, João
Calvino e outros reformadores (em especial Ulrich Zwinglio) argumentaram que o pão e vinho
da Ceia do Senhor não se transformam no corpo e no sangue de Cristo, nem contém, de algum
modo, e corpo e o sangue de Cristo. Em vez disso, o pão e o vinho simbolizam o corpo e o
sangue de Cristo, um sinal visível do fato de que o próprio Cristo estava verdadeiramente
presente.
14.2.6. Quem deve participar da Ceia do Senhor?
➢ Somente os que crêem em Cristo devem participar da Ceia do Senhor, por que se
trata de um sinal de conversão e de permanência na fé cristã (1Co 11.29,30).
➢ Somente os que já foram batizados devem participar da Ceia do Senhor; a razão
disso é que o batismo é nitidamente um símbolo do inicio da vida cristã. Enquanto a Ceia do
Senhor é claramente um símbolo da permanência na vida cristã e de comunhão.
➢ Também é necessário que a pessoas saiba discernir o corpo de Cristo, e seja
também capaz de examinar a si mesmo (1Co 11.27-29).
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Referências Bibliográficas
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Editora Luz para o caminho.
BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Ed Vida Nova.
DOUGLAS, J.D. (org.) O Novo Dicionário da Bíblia. Ed Vida Nova
FERREIRA, Franklin. As tarefas e responsabilidades da Igreja. Communio sanctorum
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Editora Vida Nova
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. Editora Vida Nova.
MENZIES, William. Doutrinas bíblicas. Ed. CPAD
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. Ed. IBR
WWW.monergismo.org
WWW. Wikipédia.org
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Nome:________________________________________________nota___________
Prova n°01 – QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA:
1. A história da igreja começa no dia de Pentecostes, ou antes?
2. Se começa antes, como a igreja anterior àquela difere da que se lhe segue?
3. A qual igreja Jesus se refere em Mt 18.17?
4. Agostinho identificou a igreja como organismo espiritual ou como instituição externa, com o
reino de Deus?
5. Como explicar a ênfase católica romana à igreja como organização externa?
6. Por que os Reformadores não insistiram na total liberdade da igreja quanto ao estado?
7. Como diferiam Lutero e Calvino com respeito a isto?
8. Que controvérsias acerca da igreja surgiram na Escócia?
9. Como foi que o racionalismo afetou a doutrina da igreja?
10. Que grandes perigos estão ameaçando a igreja na época atual?