UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA
A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE
LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS
São Paulo 2011
HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA
A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE
LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Marlene Almeida de Ataíde.
São Paulo
2011
HENRIQUE MANOEL CARVALHO SILVA
A IMPORTÂNCIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE NA FOMENTAÇÃO DO PROTAGONISMO JUVENIL E FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS SÓCIO-POLÍTICAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social do Curso de Serviço Social da Universidade de Santo Amaro.
Data da Aprovação _____/_____/_____.
BANCA EXAMINADORA
Marlene Almeida de Ataíde (orientadora) Doutora em Serviço Social
Universidade de Santo Amaro - UNISA
Débora Nunes de Oliveira Mestre em Serviço Social
Universidade de Santo Amaro - UNISA
CONCEITO FINAL: ______________________
A todos que acreditam nos jovens e lutam por uma sociedade mais justa e fraterna.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e força para caminhar, lutar e alcançar meus
sonhos e objetivos.
Aos meus pais, Severino e Filomena, pelo amor incondicional e
principalmente por acreditarem no meu potencial. Também aos meus irmãos,
pessoas que admiro muito, pelo companheirismo e apoio. Amo vocês.
À minha pequena, namorada e amiga, pelo companheirismo, partilhas e
momentos juntos, especialmente, pela compreensão e apoio no desenvolvimento
desse trabalho.
À Professora Marlene Almeida de Ataíde, minha orientadora, cujo apoio tem
me permitido realizar este ideal de profissão e vida, dedico minha admiração e
respeito. Aprendi muito com essa pessoa!
Às professoras e professores que nos acompanharam durante esse
processo de formação, pelas trocas de saberes e conhecimentos, sou eternamente
grato.
À professora Débora Nunes de Oliveira, leitora desse trabalho, pelas dicas e
atenção.
Agradeço a todas e todos da minha turma (inclusive os que saíram durante o
curso), vivenciamos e trocamos muito conhecimento nesses quatro anos de
formação, aprendi muito com cada um de vocês, cada um na sua particularidade.
Devo um agradecimento especial às/aos jovens que participaram da
pesquisa de campo, pela contribuição para este trabalho e especialmente pela
partilha de suas trajetórias e experiências e mais, por acreditarem nas juventudes.
Agradeço à UNISA, por ter disponibilizado o espaço e recursos para que
fosse possível realizar a pesquisa de campo, assim como a disponibilidade do
Rafael e da Valéria, companheiros de curso, em ajudarem para a efetivação do
Grupo Focal, muito obrigado.
Aos pejoteiros e pejoteiras de todo o Brasil, em especial os da minha
paróquia. Ao pessoal da Lista da PJ Nacional, muita gente que anseio um dia
conhecer, agradeço pelo apoio e dicas para a construção deste.
Aos meus amigos e amigas, de perto e de longe, os novos e os de longa
data, por fazerem parte da minha história e pelo incentivo para a construção deste.
"Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida."
Cora Coralina
"O alicerce fundamental da nossa obra é a juventude."
Che Guevara
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo conhecer a participação/ militância de jovens nos
espaços sócio-políticos e em movimentos sociais que estão (ou já estiveram)
inseridos na Pastoral da Juventude (PJ). Desse modo, foi de suma importância
compreender se a participação dos jovens na PJ foi determinante para despertar os
seus interesses pela atuação nesses espaços. Propôs-se ainda analisar a visão que
os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias. Nesta perspectiva,
realizou-se uma contextualização sobre os conceitos de juventudes, buscando
conhecer os principais fatores que afetam a vida dos jovens como: educação,
trabalho, violência e questões relacionadas à vida familiar, bem como se discutir
sobre a PJ contribuindo para o protagonismo juvenil. Engendrou-se, por outro lado,
uma discussão sobre o Serviço Social dialogando com a juventude e, para finalizar,
a partir dos resultados obtidos na pesquisa de campo, utilizando a técnica do Grupo
Focal, foi realizada a análise dos resultados obtidos que confirmaram a questão
norteadora deste trabalho, levando-nos ao alcance dos objetivos que foram
delineados, ou seja, a PJ se coloca como agente de transformações na vida dos
jovens que buscam nela o despertar para o protagonismo.
Palavras-chave: Juventudes, Pastoral da Juventude, Protagonismo Juvenil,
Participação.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Gráfico: Assuntos que mais interessam aos jovens – Pesquisa Perfil da
Juventude, 2003. ...................................................................................... 25
Figura 2 - Redução da maioridade penal. (charge encontrada na Internet) .............. 36
Figura 3 - Símbolo da Pastoral da Juventude ........................................................... 38
Figura 4 - Símbolo da Campanha. Fonte: www.juventudeemmarcha.org. ................ 52
Figura 5 - Bandeira da PJ, Grito dos Excluídos, 2009, Praça da Sé - São Paulo/SP.
................................................................................................................. 53
Figura 6 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 2008. ............................ 54
Figura 7 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 2009. ............................ 54
Figura 8 - Organização da sala em círculo e café da manhã (ao fundo) - Grupo
Focal. ........................................................................................................ 64
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Situação educacional dos jovens em 2007 (Em %). ................................ 27
Tabela 2 - Número de homicídios na população de 15 a 29 anos, por UF e Região.
Brasil, 1997/2007. ..................................................................................... 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACE – Ação Católica Especializada.
ACG – Ação Católica Geral.
CEB‟s – Comunidades Eclesiais de Base.
CCJ – Centro de Capacitação da Juventude.
CDL – Curso de Dinâmicas para Líderes.
CEU – Centro Educacional Unificado.
CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano.
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
CONJUVE – Conselho Nacional de Juventude.
DNJ – Dia Nacional da Juventude.
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.
EJAAC – Espaço Jovem Alexandre Araújo Chaves.
EJC – Encontro de Jovens com Cristo.
ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana.
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
IPJ – Instituto Paulista de Juventude.
JAC – Juventude Agrária Católica.
JEC – Juventude Estudantil Católica.
JIC – Juventude Independente Católica.
JOC – Juventude Operária Católica.
JUC – Juventude Universitária Católica.
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
ONG – Organização Não Governamental.
ONU – Organização das Nações Unidas.
PJ – Pastoral da Juventude.
PJE – Pastoral da Juventude Estudantil.
PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular.
PJR – Pastoral da Juventude Rural.
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios.
PPJ – Políticas Públicas para as Juventudes.
ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens.
ProUni – Programa Universidade para Todos.
RCC – Renovação Carismática Católica.
SNJ – Secretaria Nacional da Juventude.
SdC – Semana da Cidadania.
SdE – Semana do Estudante.
TLC – Treinamento de Liderança Cristã.
TdL – Teologia da Libertação.
UNE – União Nacional dos Estudantes.
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura.
UNICEF – United Nations Children's Fund (Fundo das Nações Unidas para
a Infância).
UNISA – Universidade de Santo Amaro.
USP – Universidade de São Paulo.
VAI – Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
1 JUVENTUDE (S) .................................................................................................... 14
1.1 Visitando a literatura. .................................................................................. 14
1.2 Juventude e participação: breve histórico da trajetória política da juventude
brasileira a partir da década de 60. .......................................................... 19
1.3 Juventude e contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens. .. 24
1.3.1 Juventudes e educação. .................................................................. 26
1.3.2 Juventudes e trabalho. .................................................................... 28
1.3.3 Juventudes e família. ....................................................................... 30
1.3.4 Juventudes e violência. ................................................................... 32
2 A PASTORAL DA JUVENTUDE E O PROTAGONISMO JUVENIL ..................... 38
2.1 Contexto histórico da Pastoral da Juventude, do “A-E-I-O-U” aos dias
atuais. ....................................................................................................... 38
2.2 Protagonismo juvenil e seu conceito. .......................................................... 45
2.3 A Pastoral da Juventude e o seu protagonismo na sociedade
contemporânea......................................................................................... 47
3 O CAMINHO PERCORRIDO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............. 55
3.1 O Serviço Social: dialogando com as juventudes. ...................................... 55
3.2 A pesquisa: tipo, instrumentos e métodos para a coleta de dados. ............ 59
3.3 Os jovens/ sujeitos participantes do Grupo Focal. ...................................... 66
3.4 Objeto e objetivos da pesquisa: geral e específicos. .................................. 67
3.5 O problema e a hipótese. ............................................................................ 68
3.6 Análises dos resultados. ............................................................................. 68
3.6.1 O inicio de tudo... ............................................................................. 68
3.6.2 A construção do protagonismo. ....................................................... 71
3.6.3 A participação nos espaços sócio-políticos e movimentos sociais. . 74
3.6.4 Os acontecimentos importantes na Pastoral da Juventude. ............ 77
3.6.5 A visão que têm sobre o protagonismo das suas histórias. ............. 79
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 84
REFERÊNCIAIS ........................................................................................................ 86
ANEXOS E APÊNDICES .......................................................................................... 91
12
INTRODUÇÃO
Este trabalho originou-se das minhas indagações sobre o significado da
Pastoral da Juventude (PJ) na vida dos jovens dela pertencentes, bem como, se
essa participação os conduz ao protagonismo juvenil. Nesta direção, a questão
norteadora indicou que a PJ colabora para despertar as juventudes na prática do
protagonismo e na formação de lideranças sócio-políticas.
Outro fator determinante pelo qual a escolha do tema se deu, foi minha
participação na PJ desde o ano de 2001. Em cujo espaço enquanto militante passei
por um processo de formação no qual vivenciei experiências e práticas que
fomentaram meu próprio protagonismo, tendo contribuído assim, para que eu
pudesse me inserir em outros movimentos/ espaços de participação.
Desta forma, este estudo teve como objeto a participação e militância de
jovens nos espaços sócio-políticos e em movimentos sociais que estão inseridos (ou
já estiveram) na PJ. Teve como objetivo geral entrevistar jovens nas idades entre 15
e 29 anos, de ambos os gêneros para compreender como o protagonismo juvenil foi
se construindo nas suas vidas. Para os objetivos específicos delimitou-se por
compreender se a participação desses jovens na PJ foi determinante para despertar
os seus interesses pela atuação nos espaços de participação, bem como, analisar a
visão que os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias.
A pesquisa foi na perspectiva qualitativa cujo método eleito foi o Grupo
Focal, pelo fato de proporcionar uma estreita relação entre os sujeitos e por
proporcionar um ambiente favorável para a partilha de idéias. Outro aspecto a ser
considerado é que esse método promove uma maior interação no surgimento de
idéias e conceitos, além de se considerar que todos os sujeitos possuíam uma
vivência comum com o tema deste estudo e também por tal método proporcionar
trocas, sentimentos, atitudes, crenças e experiências.
Nesta perspectiva, ao dar inicio ao presente trabalho buscou-se
primeiramente compreender sobre a categoria juventudes e, logo no primeiro
capítulo levantou-se uma discussão além dos seus conceitos, mas buscou-se
também conhecer os principais fatores que afetam a vida dos jovens como:
educação, trabalho, violência e questões relacionadas à vida familiar.
13
No segundo capítulo foi realizada uma contextualização sobre a PJ e
protagonismo juvenil.
No terceiro, foi engendrada uma discussão que versa sobre o Serviço Social
dialogando com a juventude e por fim a pesquisa e os procedimentos metodológicos
utilizados com concomitante análise dos resultados, estabelecendo uma conexão
com o referencial teórico.
14
1 JUVENTUDE (S)
1.1 Visitando a literatura.
Mesmo para os que, entre nós, consideram-se crescidos, pensar sobre juventude envolve pensar sobre nós
mesmos: sobre o que éramos e somos sobre o que poderíamos ter sido sobre o que esperamos ser. [...] é como se a natureza descarregasse nos adolescentes os apetrechos da
idade adulta, mas a sociedade não os ensinasse a lidar com as novidades, com as transformações.
(Isolda de Araújo Gunther)
Discutir na contemporaneidade sobre a temática juventude torna-se uma
tarefa complexa, principalmente no sentido de realizar uma conceitualização a
respeito dessa categoria, mas que, segundo Novaes (2000, p. 46) “certamente é
válido começar definindo o que se entende por juventude”.
Se levarmos em consideração a visão que norteia o senso comum de
algumas pessoas na nossa sociedade, inúmeros são os discursos feitos sobre a
representação da juventude. Conforme Camacho (2006), muitas vezes são taxados
de apáticos diante de problemas que antes lhe despertava a rebeldia, ora por quem
antecipa suas conclusões de forma fatalista, como por exemplo, “esta juventude está
perdida!”, opinião embasada pelas notícias acerca da “delinqüência juvenil”, as
sucessivas rebeliões ocorridas na então FEBEM1, ou sobre o tráfico e uso de
drogas, sempre fazem uma correlação entre juventude e violência ou
irresponsabilidade. Ainda consideram que a juventude está imersa numa total
alienação, provocada, em tese, pela mídia ou pelas precárias oportunidades de
educação, saúde e trabalho.
Constata-se ainda a célebre frase “a juventude é o futuro”, levando-nos a
uma enganosa compreensão, não poucas vezes intencional, que desconsidera o
que os jovens são, fazem e pensam agora, no presente. Essas idéias não deixam de
ser uma forma de minimizar e/ou desqualificar as opiniões e manifestações públicas
dos jovens, ou legitimando não ser necessário que os jovens sejam responsáveis ou
1 FEBEM = Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, atualmente conhecida como
Fundação CASA (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente).
15
tenham preocupações como trabalho, educação, saúde, o que seria tarefa dos
adultos.
Sabe-se, entretanto que concepções pertencentes ao senso comum
merecem uma qualificação cientifica, ou seja, requer conceitos elaborados e
embasados em estudos de forma aprofundada por autores que se dedicam ao tema
em questão. Para tanto são necessários grandes esforços e aprofundamentos
literários na extensa bibliografia que, principalmente nas ultimas décadas teve
grande destaque, onde muitos autores e autoras discutiram sobre essa temática.
Conforme Costa (2000, p. 66) é necessário “ter em mente essa
complexidade [...] para evitar equívocos no uso desse conceito”. Nesse sentido, este
estudo irá analisar algumas definições e pesquisas realizadas por especialistas
desta temática, fazendo então uma “visita à literatura” visando não uma definição
engessada, mas sim, buscar contribuições que possam colaborar para uma
definição que abranja as dimensões e diversidades dessa categoria.
Ao se tentar definir o que é juventude, percebe-se inicialmente uma questão
muito utilizada dentro de um senso comum, que é interpretar a juventude como
apenas um “momento de transição” da fase de criança/adolescente para a fase
adulta. Chegando ao ponto de ter essa categoria como apenas uma “fase” da vida,
onde tais sujeitos são destituídos de direitos e que, simplesmente, necessitam de
tutela. Esse conceito não deixa de ser verdade, porém não pode ser interpretado de
forma isolada, sendo então delicado determinar quando essa categoria se inicia ou
mesmo se encerra como diz Ataíde (2008, p. 41) que “não se pode inserir a
juventude em critérios rígidos, como uma etapa com um início e um fim pré-
determinados”. Além do que, essa categoria deve ser vista como sujeitos portadores
de direitos.
Na busca de um conceito de juventude, não se deve então resumi-la ou
mesmo considerá-la somente como uma faixa etária, pois ao se debruçar nas
literaturas percebe-se que há disparidades nesse quesito.
Conforme Netto (2006, p. 42) “alguns grupos chegam a definir a juventude a
idade inferior a 30 anos”. Para confirmar esta informação pode-se citar a
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que classificam uma pessoa como
jovem aquela que possui idade entre 15 e 24 anos.
16
Já o Estatuto da Criança e do Adolescente2 (ECA) considera o
adolescente/jovem, o sujeito com idade entre 12 e 18 anos; no entanto a Secretaria
Nacional da Juventude (SNJ) considera uma pessoa como jovem, as que possuem
entre 15 e 29 anos3.
Mesmo não considerando a categoria juventude apenas como “momento de
transição” e como uma “faixa etária”, este estudo irá desenvolver-se em pesquisas
focadas com sujeitos entre 15 e 29 anos.
Desse modo, há a necessidade de se buscar maiores esclarecimentos e de
se fundamentar com maior profundidade as características da juventude porque,
[...] por sua vez, embora ainda viva muitas das características da adolescência, encontra-se em uma etapa de maior equilíbrio emocional e com maior experiência de vida. O período é caracterizado por certa autonomia em relação à família e à solidificação da identidade pessoal. Chega-se à identidade através de um processo de crise, reavaliação, questionamento e assimilação de um quadro de referencias e de valores, que dão sentido e direção para a vida... (BORAN, 2003, p. 260-262)
Outro ponto que se debate na busca de uma “possível” definição de
juventude é o fator biológico (e fisiológico), onde se ressalta como a fase das
mudanças físicas e da puberdade. Segundo Novaes,
Biologicamente, o jovem é aquele que, em tese, está mais longe da morte. Biologicamente mais predisposto à vida, tem gosto pela aventura, tem maior curiosidade pelo novo. Em conseqüência, tem um lado mais propenso ao revolucionário. (2000, p. 46)
Porém neste estudo, essas características levantadas – curiosidade, gosto
aventureiro e ações revolucionárias – não serão considerados simplesmente como
uma questão biológica, para tal podemos afirmar que “a juventude não é mais
somente uma condição biológica, mas uma definição cultural. [...] deixa de ser uma
condição biológica e se torna uma definição simbólica” (MELUCCI, 1997, p. 9-13).
2 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi instituído no Brasil pela Lei 8.069 no dia
13 de julho de 1990. É a principal referência legal para as questões de proteção e diretos da criança e do adolescente. 3 Faixa etária estabelecida de acordo com a Lei 11.129 de 30 de Junho de 2005, que
também institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e cria o Conselho Nacional da Juventude e a Secretaria Nacional de Juventude. Esta faixa etária consta na proposta de Projeto de Lei 4529/04 para a criação do Estatuto da Juventude.
17
Dentro de um espaço cultural e social as pessoas podem ser interpretadas
como jovens, não especificamente pela faixa etária que se encontram, mas pela
forma como agem e também as suas posturas. Por isso quando se discute juventude
há a necessidade de termos clareza de que estamos falando de uma categoria que
apresenta certas diversidades, especificidades e entendida como um segmento
(importante) da sociedade e não vê-la apenas como uma fase biológica, mas sim
como uma categoria social, com necessidades específicas e que se constitui a partir
de determinado contexto social e histórico. Para completar tal análise, ressaltamos a
definição de Groppo, compreendendo a juventude como uma categoria social,
vejamos:
Ao ser definida como categoria social, a juventude torna-se, ao mesmo tempo, uma representação sócio-cultural e uma situação social. Ou seja, a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a elas atribuídos. Ao mesmo tempo, é uma situação vivida em comum por certos indivíduos. (GROPPO, 2000, p. 7 e 8).
Considerando que a categoria juventude destaca-se na sociedade e detém
um importante papel, Dayrell (2003, p. 41) destaca alguns critérios que constituem
essa categoria e são tidos como históricos, culturais, sociais e políticos dentro do
período e realidade da sociedade da qual está inserida.
É importante ressaltar que o termo juventude é ressente na sociedade,
surgindo por volta do século XVIII com a Revolução Industrial, para explicar tal idéia
POSSATO JR. e LUCAS em seu artigo “Juventudes e Meio Urbano” expõem que,
Durante a Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX), o mundo todo muda. A burguesia ascende ao poder, ganhando o que Marx chamou de luta de classes. A economia, antes essencialmente rural, começa a se concentrar nas cidades, o que provoca o êxodo massivo das famílias para os centros urbanos. A família patriarcal, feudal, cede lugar à família nuclear. Um número maior de jovens agora tem acesso aos estudos. Surgem grupos juvenis organizados e articulados. A própria palavra “Juventude” só passa a ser empregada nessa época, referindo-se justamente a esses grupos. Sendo assim, concluímos que o termo, além de recente, é próprio da/o jovem
urbana/o [...]enquanto grupo organizado e articulado. (POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 105)
18
Na história da humanidade, muitos dos feitos e fatos foram realizados por
pessoas consideradas jovens, que com suas identidades em construção e
geralmente participando de algum grupo onde partilhavam de ideais e
questionamentos tendiam a ações consideradas como revolucionárias.
Essas idéias fundavam-se principalmente em propor mudanças e
transformações da sociedade nas quais esses jovens estavam inseridos. Sendo
assim, pode-se dizer que esses jovens estão mais propícios a diversos tipos de
ações que influenciem e transformem tais espaços.
Mas de quem se fala quando usamos a palavra juventude? Ou jovem? Cada
vez mais estudiosos do assunto retomam a discussão no sentido de aceitar a idéia
de juventude como juventudes, considerando a diversidade de situações de vida que
afetam os jovens, diferenças em termos de cultura, classe socioeconômica, grupo,
etnia, gênero, dentre tantas outras. Levi & Schimitt a respeito desse assunto
exemplificam:
De um contexto a outro, de uma época a outra, os jovens desenvolvem outras funções e logram seu estatuto definidor de fontes diferentes: da cidade ou do campo, do castelo feudal ou da fábrica do século XIX [...] Tampouco se pode imaginar que a condição juvenil permaneça a mesma em sociedades caracterizadas por modelos demográficos totalmente diferentes. (LEVI & SCHIMITT, 1996, p. 14).
E como afirma José Machado Pais:
Não há de fato um conceito único de juventude que possa abranger os diferentes campos semânticos que lhe aparecem associados. Às diferentes juventudes e às diferentes maneiras de olhar essas juventudes corresponderão, pois, necessariamente, diferentes teorias. (PAIS, 1996, p. 36).
Abramovay (2008) em seu artigo denominado “As trajetórias das juventudes
brasileiras” para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em análise à
Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) em 2007 diz que, não há
somente uma juventude, mas sim juventudes, que constituem um conjunto social
diversificado com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e
poder na nossa sociedade.
Baseando-se no que já foi escrito até o momento pode-se dizer que um
conceito de juventude pode partir dos seguintes pontos (vistos simultaneamente):
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a. Cronológicos, ou seja, faixa etária;
b. Biológicos (e fisiológicos), fase de mudanças físicas e da puberdade;
c. Sociológico, vista pelo viés da transição da situação de dependência para
uma maior autonomia e a inserção de forma mais ativo-participativa na
sociedade, ou seja, sua participação, ação e transformações na
sociedade inserida, de forma organizada e com suas necessidades
especificas.
Desse modo nossos estudos serão direcionados, não especificamente a
uma juventude e sim às juventudes. Buscando não se limitar apenas a um ponto ou
fator que caracteriza uma pessoa como jovem, mas sim os encarando como sujeitos
de direitos e inseridos dentro de uma sociedade com suas necessidades específicas,
com capacidades de ação e transformação dos espaços.
1.2 Juventude e participação: breve histórico da trajetória política da juventude
brasileira a partir da década de 60.
Para Paiva (2000, p. 41) os jovens, sendo elementos questionadores e que
estão em processo de formação (de suas opiniões) e por estarem dentro do conjunto
da sociedade, podem ser o que muitas dessas sociedades precisam para dar inicio a
processos de ruptura. Segundo Novaes (2000, p. 46) os jovens “tem um lado mais
propenso ao revolucionário”. Nesse sentido podemos citar ainda uma frase muito
conhecida de Che Guevara4, onde diz que "ser jovem e não ser revolucionário é
uma contradição genética". O termo revolucionário pode ser entendido como a
propagação de novas idéias e a introdução de processos visando transformações e
mudanças da sociedade e não somente como ações que acontecem por meio de
violência e revoltas, mas sim da construção e participação. Para confirmar tal
análise,
[...] o jovem é um revolucionário, por estar convivendo com outros jovens [...] a fim de que, juntos, pudessem promover transformações, fazer seus manifestos e, assim, transformar aquilo que eles acreditavam que deveria ser transformado. (PAIVA, 2000, p. 42-43)
4 Ernesto Guevara de La Serna (Che Guevara) nasceu em 14/06/1928 na cidade de Rosário
(Argentina) e morreu assassinado em 09/10/1967 na aldeia de La Higuera (Bolívia). Foi médico, guerrilheiro e Ministro em Cuba.
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Dessa forma pode-se dizer que, em alguns momentos na história da
humanidade, as juventudes, ao perceberem sua força, passaram a sonhar e
construir juntos, sendo assim, tiveram participação efetiva no que se refere às
maiores mudanças e transformações na sociedade.
Contudo, para continuar a analisar juventudes relacionadas à participação,
protagonismo e liderança sócio-política faz-se necessário realizar um resgate
histórico da trajetória política da juventude.
Este sub-tema irá se limitar ao contexto brasileiro a partir da década de 60
até os anos 2000, expondo e tendo o foco nas participações populares e práticas de
ações protagonistas que mais se destacaram ao longo da história brasileira desde os
anos 60. Pois para se aprofundar nas diversas formas de participação e ações que
ocorreram durante todo esse período, é necessário um estudo mais detalhado e
aprofundado, o que não é o objetivo desse trabalho.
Este resgate histórico é necessário para podermos interpretar as juventudes
não de uma forma comparativa, mas sim destacando algumas características de
cada geração sem criar estereótipos ou mitos.
Muitas vezes ao se falar dessa categoria, realizando um resgate histórico e
analisando as décadas anteriores, principalmente dos anos 60 e 70, no senso
comum, acaba-se por fazer comparações, que restringem a sua definição à
“juventude ideal”, no sentido de engajamento e participação.
Essas análises vêm muito impregnadas de elementos comparativos, relativos à participação da juventude em décadas anteriores. As décadas de 60 e 70 são, principalmente, a referência fundamental de como a juventude deve atuar ou exemplo de juventude engajada. Tais reflexões, contudo, deixam de considerar o momento histórico [...] (MOREIRA, BARBOSA, 2010, p. 13)
Realizando esse recorte, nas décadas de 60 e 70 pode-se afirmar que houve
grande índice de participação e de movimentação política dos jovens brasileiros,
especialmente dentro do movimento estudantil, por meio da União Nacional dos
Estudantes5 (UNE).
5 Fundada no dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil na cidade do Rio
de Janeiro/RJ, pelo Conselho Nacional de Estudantes.
21
Esse momento se deu justamente na época de um regime extremamente
opressor, o período da ditadura militar6, onde os protestos juvenis eram contra a
ameaça de endurecimento dos governos e as repressões políticas.
No Brasil, é particularmente nesse momento que a questão da juventude ganha maior visibilidade, exatamente pelo engajamento de jovens de classe média, do ensino secundário e universitário, na luta contra o regime autoritário, através de mobilizações de entidades estudantis e do engajamento nos partidos de esquerda; mas também pelos movimentos culturais que questionavam os padrões de comportamento. (ABRAMO, 2007, p. 82)
Além do movimento estudantil e outros movimentos sociais e políticos, havia
muita participação dos jovens nos partidos políticos, em especial os tido como de
esquerda (com visões socialistas e comunistas).
Nessa temática alguns fatores como o idealismo, a rebeldia e a utopia
contribuíram para fortalecer a participação juvenil, e estes acabaram sendo
considerados como características quase que essenciais dessa categoria
(ABRAMO, 2007, p. 83). Contudo, não se pode deixar de dizer que nem todas as
juventudes tinham tais características, muitos não estavam envolvidos com os
movimentos da época, sendo alguns conservadores, moralistas, tradicionalistas ou
mesmo distantes dessas lutas.
As juventudes desse momento da história (que ficou muito marcado) são
comumente denominadas como “geração de 68”, pois neste ano tiveram vários fatos
e atos de mobilização juvenil, ligados com o movimento estudantil e os movimentos
sociais, dentre eles, aconteceu uma grande marcha fúnebre após assassinato de um
estudante no Rio de Janeiro7 e poucos meses depois acontece também uma grande
mobilização popular em protesto contra o Regime Militar, que ficou conhecida como
Marcha dos 100 mil8.
6 O início da ditadura militar no Brasil se deu em 31 de março de 1964, com o golpe militar
que tira do poder o presidente João Goulart, assumido então pelo Marechal Castelo Branco, durou até a eleição presidencial de Tancredo Neves no ano de 1985. 7 No dia 28 de Março de 1968, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luís Lima Souto é
assassinado pela Policia Militar durante uma manifestação contra o fechamento do Restaurante Central dos Estudantes, conhecido como Calabouço. Tal espaço provia de alimentação a baixo custo para os estudantes e era usado para reuniões, manifestações e organizações dos estudantes. 8 Em 26 de Junho de 1968 na cidade do Rio de Janeiro.
22
Em 1968, na cidade de Ibiúna-SP foi realizado o XXX Congresso da UNE,
que foi invadido pela polícia, resultando na prisão de mais de 700 pessoas que
participavam do congresso, dentre elas as principais lideranças do movimento.
Nesse período, conforme mencionado, o Brasil passou por um sistema de
Ditadura Militar. Descontente o povo reivindicou por liberdade e direitos, surgindo
então organizações populares, associações e movimentos sociais, que tiveram
inserido como participantes e militantes muitos jovens.
Os diversos tipos de movimentos sociais, dentre eles o estudantil, possuem
um vasto contexto histórico e tiveram maior enfoque, atuação e espaços para
participação nas décadas de 70 e 80. Esses movimentos sociais surgem a partir de
reflexões, experiências de lutas, reivindicações e causas comuns. Desta forma, as
juventudes estavam inseridas e vivenciando o apogeu dos movimentos sociais no
Brasil, que neste mesmo período possuía grande influência de alas progressistas da
Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) ligados principalmente à Teologia da
Libertação9 (TdL) (GOHN, 2003, p. 26). Com essa participação e organização
popular começam a surgir muitas lideranças populares dentro das juventudes.
Com o fim do regime militar e instituída a democracia, muitas dessas
lideranças começam também a participar do campo político/ partidário.
Os anos 70 e 80 ficaram marcados também pelos movimentos culturais,
pelos movimentos de ocupações de imóveis e propriedades e também os
movimentos ambientais.
No histórico da categoria juventude, vale ressaltar que neste período,
precisamente o ano de 1985 é declarado pela ONU como o Ano Internacional da
Juventude: Participação, Desenvolvimento e Paz.
Porém, passa a existir o estereótipo de que as juventudes dos anos 80 são
apáticas, ou seja, não se inserem nos processos políticos e nem participam das
decisões e reivindicações que se fazem necessárias. Porém, desconsideram-se os
reais motivos que possam ter levado a diminuição das participações juvenis na
sociedade, sobre isso POSSATO JR. e LUCAS em seu artigo “Juventudes e Meio
Urbano”, afirmam o contrário deste estereótipo, apontando um dos reais motivos
dessa não participação, onde os jovens acabam sendo “vitimas” do sistema vigente,
9 Para maiores conhecimentos sobre a “Teologia da Libertação” ver o livro: “O que é teologia
da libertação?” de Francisco Catão pela Editora Brasiliense – 1985.
23
[...] as/os jovens não são acomodadas/os, nem desinformadas/os. Eles são pressionados pelo sistema a deixar de lado suas reivindicações para providenciar o seu sustento, ou contribuir no sustento da família, ou ainda garantir o sustento de seus
dependentes. (POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 108)
Ainda nos anos 80, há o fortalecimento do neoliberalismo, que foca e investe
no consumismo e individualismo, sendo que os jovens são um dos seus principais
alvos de investimentos.
Nesse momento começa-se a ter forte investimento e influência por parte da
mídia, na verdade “nenhum outro segmento é mais elogiado, retratado e perseguido
pelos meios de comunicação de massa do que a juventude” (POSSATO JR.,
LUCAS, 2009).
Dando inicio aos,
[...] anos 90 a visibilidade social dos jovens muda um pouco em relação aos anos 80: já não são mais a apatia e desmobilização que chamam a atenção; pelo contrario, é a presença de inúmeras figuras juvenis nas ruas, envolvidas em diversos tipos de ações individuais e coletivas (ABRAMO, 1997, p. 31).
Esse momento também fica marcado pela participação e atuação das
juventudes, em especial dos movimentos estudantis, sociais e populares no que
ficou conhecido como Movimento dos “Caras-Pintadas”, ocorrido em 1992, com o
objetivo de se realizar o impeachment do então Presidente da República Fernando
Collor de Mello, o que de fato acontece. Tal movimento e realização ficam
conhecidos como uma das maiores conquistas da história brasileira partindo da
organização popular, nesse caso com forte influência e articulação das juventudes.
Com isso, percebe-se que as juventudes tiveram forte participação no
contexto histórico brasileiro, junto aos movimentos (estudantis e sociais), com
destaque as décadas de 60, 70 e 80. E que ainda essa participação continua,
todavia se desenvolve conforme as necessidades da sociedade.
Esse resgate é importante para uma compreensão sobre as participações e
formas de lideranças sócio-políticas das juventudes contemporâneas e sua forma de
desenvolver e praticar o protagonismo juvenil nas realidades em que estão inseridas
e nos fatores que acabam por influenciar ou mesmo afetar as suas vidas.
24
1.3 Juventude e contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens.
A juventude (juventudes) representa um importante segmento da população.
São milhões de jovens espalhados pelo mundo, especialmente no Brasil, país em
que estamos nos referindo neste estudo.
De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), contidas em sua PNDA de 2007 a juventude brasileira é composta por 49,8
milhões de jovens entre 15 e 29 anos, o que representa 26,5% do total de 189
milhões de habitantes no Brasil.
Esses jovens vivem um momento muito especial e singular, onde surgem
anseios e preocupações, como o trabalho e renda, a formação e educação, a
família, os diversos tipos de violências (onde geralmente são as principais vitimas) e
ao mesmo tempo desabrocham sonhos, ideais e utopias que emergem cheios de
sentimentos, emoções e de vontades, vontades de vencer, crescer e construir.
Enfim, seu futuro e trajetória de vida.
Ao estudar sobre juventudes, relacionadas com participação e protagonismo
juvenil, faz-se necessário analisar, pelo menos, alguns dos principais fatores que
afetam diretamente (ou indiretamente) a vida dos jovens e assim buscar uma melhor
compreensão da temática proposta. Neste estudo será dado destaque para quatro
fatores, divididos da seguinte forma:
a. Educação;
b. Trabalho;
c. Família e
d. Violência.
A escolha desses fatores se deu durante as leituras e estudos e em especial
ao analisar a pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira”10. Sendo que em seu
questionário foi realizada uma pergunta referente aos assuntos que mais
interessavam os jovens em questão. Resultando no seguinte gráfico:
10
Pesquisa de iniciativa do Projeto Juventude/Instituto Cidadania, com a parceria do
Instituto de Hospitalidade e do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Essa pesquisa foi realizada sob a responsabilidade técnica da Criterium Assessoria em Pesquisas. Foram entrevistados 3.501 jovens, entre 15 e 24 anos, distribuídos em 198 municípios, contemplando 25 estados da União, sendo realizada e concluída em 2003.
25
Figura 1 - Gráfico: Assuntos que mais interessam aos jovens – Pesquisa Perfil da
Juventude, 2003.
Sendo esses fatores considerados como assuntos que mais os interessam e
que acabam interferindo direta ou indiretamente nas suas ações e formas de
participação, é de suma importância que sejam mencionados e discutidos neste
estudo.
A idéia é trazer algumas análises e dados específicos que demonstrem essa
co-relação das juventudes, considerando que esses fatores são tanto motivos para
preocupações como para os sonhos. Desse modo, contém forte influência para que
as juventudes possam buscar meios de participação e protagonismo.
Não existe aqui a pretensão de uma contextualização detalhada, mas sim
um olhar mais atento para que possamos obter uma concepção da vida dos jovens
em seus meios, visando um conhecimento mais apurado de suas ações e de alguns
fatores que acabam por afetá-los.
26
1.3.1 Juventudes e educação.
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.
(Nelson Mandela)
Um dos principais fatores que acerca a vida dos jovens é a educação, como
podemos ver no gráfico do item 1.3 deste estudo, pois, aparece em primeiro lugar
como um dos assuntos que mais interessam os jovens. Tal fator pode ser
interpretado, tanto em formato de preocupação, como algo que se almeja/planeja na
busca de um futuro promissor, por isso tal questão aparece em primeiro lugar.
Quando falamos de educação, é fundamental visualizar a situação
educacional da juventude brasileira atual. Ou seja, devido às diversas restrições,
principalmente no que se refere ao acesso, à falta de oportunidades e a baixa
qualidade do ensino, esta área, que é essencialmente importante, não tem recebido
os recursos para alcançar o jovem em sua plenitude.
A melhoria da qualidade da educação, em geral, e do ensino básico, em particular, deve constituir, portanto, uma das principais metas das políticas educacionais dos países. É fundamental que as escolas estejam abertas para se adaptarem às transformações da sociedade contemporânea. (BARBER-MADDEN e SABER, 2009, p. 27)
Observa-se ainda, que muitos jovens não tiveram o devido acesso à
educação durante sua infância/adolescência, resultando em pouca efetividade
quando chegam ao Ensino Fundamental. Conforme aponta BARBER-MADDEN e
SABER (2009, p. 26) o ingresso tardio no ciclo básico de ensino é tido como um
fator determinante aos consideráveis níveis de repetência, desestimulando a
permanência dos jovens nas escolas e contribuindo para os baixos índices de
escolaridade. Desse modo, quando não interrompem os estudos, devido a uma série
de questões que envolvem as suas vidas (índice bastante alto como pode ser visto
na tabela 1, a seguir) relacionadas principalmente à renda e trabalho, chegam às
próximas etapas, como por exemplo, ao Ensino Médio, com elevadas defasagens
educacionais. Isso aumenta o índice, que já é alto, de jovens que ainda estão no
Ensino Fundamental ou Médio, quando já deveriam ter concluído os mesmos.
Outro aspecto de relevância a ser observado concerne nas suas poucas
habilidades de leitura, escrita e compreensão textual. Tais situações acabam por
27
resultar no aumento do índice de jovens que desistem dos estudos, antes mesmos
que os concluam e também o índice de analfabetos no país, conforme é descrito nos
dados da PNAD, do IBGE, de 2005,
[...] tal fato evidencia-se pela grande proporção de analfabetos que declaram ter freqüentado a escola sem, no entanto, ter aprendido a ler e escrever sequer um bilhete simples. De acordo com os dados da PNAD, do IBGE, realizada em 2005, 38,7% das pessoas analfabetas, com 15 anos de idade ou mais, já haviam freqüentado a escola. [...] Outras causas também explicam o número elevado de analfabetos no país, entre as quais se destacam as limitadas oportunidades de acesso a cursos de alfabetização, a qualidade dessa oferta e as limitações dos estudantes que comprometem a sua permanência nos cursos e a continuidade nos estudos. (Juventude e Políticas Sociais no Brasil, 2009, p. 94).
Para termos uma real percepção da situação educacional dos jovens no
Brasil, podemos ver a tabela número 1, a seguir, onde retrata o ano de 2007. É
assustador ver como em dias atuais esses índices possam ser alarmantes e que
ainda muitos jovens estão fora dos espaços educacionais.
Tabela 1 - Situação educacional dos jovens em 2007 (Em %).
28
Um dos poucos avanços que podem ser citados com relação à educação,
refere-se ao ensino superior, onde o índice de jovens que entraram na academia
teve considerável aumento. Isso se dá devido há alguns programas de bolsa e de
cotas (étnico-raciais e/ou sócio-econômicas). Um exemplo se dá com a instituição,
pelo Governo Federal, do Programa Universidade para Todos (ProUni), no ano de
2004. Esse programa tem como objetivo principal tentar suprir a baixa densidade de
jovens que ingressam, ao nível de ensino superior. No caso, são concedidas bolsas
de estudos em instituições privadas para estudantes que tenham renda familiar per
capita de até três Salários Mínimos.
Com a educação e a construção de conhecimentos os jovens tornam-se
mais críticos, movimentando-se, num sentido dialético. Assim, como Paulo Freire
(2003) ensina que educação está ligada ao movimento, em especial que vai de fora
para dentro e depois vem de dentro para fora. Com isso há a necessidade de gerar
o novo, de construir, o que torna o jovem, quando recebe a devida formação da qual
tem direito (pública e de qualidade), um agente de transformação, resultando em
ações, geralmente coletivas, pois há ainda a necessidade de uma construção em
conjunto, não de forma isolada e individual.
1.3.2 Juventudes e trabalho.
Ao abordar a temática “juventudes e trabalho”, vários fatores são remetidos,
como a questão do primeiro emprego, a dificuldade de inserção no mercado de
trabalho, a formação profissional, a baixa remuneração, a exploração da mão-de-
obra jovem, dentre outros. Neste estudo atentaremos alguns desses pontos, em
especial sobre a inserção do jovem e o primeiro emprego.
Atualmente vivemos em uma sociedade capitalista, Martinelli (2007),
fundamentada no pensamento marxista, que define o capital como uma relação
social entre aquele que detém o meio de produção com aqueles que possuem a
força de trabalho, parte de dois pressupostos; o capital não é mais pensado como
uma coisa, mais como relação social, um determinado modo de produção marcado
não apenas pela troca monetária, mas essencialmente marcado pela dominação do
capital.
29
O modo de produção capitalista abrange tanto a natureza técnica da
produção como a maneira pela qual se define a propriedade dos meios de produção,
e as relações sociais entre as pessoas em decorrência do processo de produção.
A sustentação e base do capitalismo se dão ao acumulo de capital, ou seja,
a mais valia (lucro) e a propriedade de terras e bens de produção. Dentro desse
sistema há uma relação de desigualdade e exploração, onde aqueles que não
possuem tais bens oferecem sua força de trabalho em troca de remuneração.
A juventude não está isenta desse processo, sendo ela atualmente
considerada a população economicamente mais ativa, todavia, a que também está
mais atingida pelo desemprego.
Existe uma grande contradição nessa questão quando se aborda o fato da
inserção do jovem no mercado de trabalho, pois geralmente é exigido que haja
experiência e certo conhecimento na área, porém até aquele momento muitos jovens
ainda não tiveram tal oportunidade ou mesmo algum tipo de capacitação.
Outro ponto de contradição se dá ao fato dos jovens serem considerado
como promissores e aqueles que estão aptos às grandes mudanças que estão
ocorrendo no mercado de trabalho, principalmente em decorrência da globalização e
do rápido crescimento tecnológico. Para tal cita-se,
Os jovens, principalmente os que vivem em situação de vulnerabilidade, historicamente são considerados um grupo com grande dificuldade de inserção na atividade econômica. E, no atual contexto, se deparam com um mercado de trabalho fortemente impactado pelas mudanças da estrutura da produção. No entanto – e paradoxalmente –, são também considerados como um dos segmentos com melhor qualificação media e grande flexibilidade para adaptarem-se ao surgimento de novas oportunidades. Portanto, podem ser considerados como um grupo potencialmente mais preparado a uma inserção positiva no mundo do trabalho e a uma interação sustentável nos processos de desenvolvimento. (ABRAMOVAY; ANDRADE; ESTEVES, 2007, p. 270)
Na “Pesquisa Perfil da Juventude” (2003), quando perguntados dos assuntos
que mais interessam aos jovens, o fator emprego/trabalho, aparece em segundo
lugar, conforme Figura 1 – Gráfico.
Pode-se afirmar que este interesse se dá pela somatória de algumas
questões, dentre elas podemos citar a grande necessidade de complementação de
renda familiar, a preparação/ formação que recebem nas escolas, onde preparam
(ou “treinam”) essa categoria para o mercado de trabalho, pois um regime escolar se
30
aproxima muito do que é uma rotina de trabalho, com horários, responsabilidades,
hierarquias, etc. – e também, o forte incentivo fornecido pela mídia, para as práticas
de consumo, fazendo com que essa população seja considerada o maior público
alvo de campanhas (marketing) de produtos. Sendo assim, a juventude acaba se
tornando o grande alvo do mercado de consumo.
Bom, para suprir tais necessidades, o jovem precisa de dinheiro; e não
possuindo bens oferece sua mão-de-obra, na maioria dos casos, por baixa
remuneração. Pode-se dizer ainda que “[...] para numerosos jovens, a experiência
ou inexperiência do mercado de trabalho constitui um momento decisivo da sua
redefinição identitária”. (BAJOIT; FRANSSEN, 1997, p. 76). O que faz com que o
jovem receba forte influência na definição da sua personalidade e de suas escolhas.
Atualmente existem alguns programas de capacitação profissional, com o
objetivo de preparar o jovem para o mercado de trabalho, fazendo com que ele
tenha essa primeira experiência, o primeiro emprego como um estagiário ou
aprendiz.
Outra questão a ser apontada é que as pessoas consideradas jovens, ainda
estão estudando, o que acaba dificultando o seu rendimento tanto na construção de
conhecimentos como no desenvolver de suas tarefas no ambiente de trabalho.
Há a necessidade de conciliar as duas funções, o que pode resultar num
desgaste físico e mental. Muitas vezes ainda, ao abandono da escola. A realidade
atual é de que muitos jovens estudantes estão inseridos no mercado de trabalho, na
maioria, pessoas de famílias de baixa renda.
Sendo os jovens uma categoria importante na sociedade, necessitam
também de oportunidades e capacitação que lhes proporcione o direito ao primeiro
emprego, desse modo podendo suprir suas necessidades e de seus familiares.
1.3.3 Juventudes e família.
Ataíde (2008) quando discute sobre família diz que,
[...] é uma instituição em constante transformação, por fatores internos à sua história e ciclo de vida em interação com as mudanças sociais. A sua história percorre a dialética continuidade-mudança, entre vínculos de pertencimento e necessidade de individualização. É no cenário familiar que aprendemos a nos definir como diferentes e
enfrentar conflitos de crescimento. (ATAÍDE, 2008, p.208-209)
31
Sendo assim, e tendo dito que os jovens vivem um momento de mudanças e
transformações, não só físicas e biológicas, mas de pensamentos, ideais e valores,
faz-se necessário a abordagem do fator família, uma vez que este espaço colabora
para os processos de mudanças.
O jovem em sua capacidade e necessidade de se relacionar e participar de
algum grupo, já tem por inicio (teoricamente) a sua família como principal “modelo”.
No entanto na definição feita por Kaloustian (2008), a família é,
A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade, é também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais. (KALOUSTIAN, 2008, p. 11-12)
É certo dizer que não necessariamente a formação de uma pessoa será
definida por sua base familiar, porém há de se ter alguns tipos de influências, que
serão levados em conta durante toda a trajetória de vida desse ser, nesse caso o
jovem. Tal análise pode ser fundamentada quando Ataíde (2008), diz que,
[...] é sabido que a família, pelas funções e pelos papeis sociais que exerce perante seus filhos, quer seja na sua socialização, ou na construção da sua identidade pessoal e social, tem um peso preponderante no acervo de conhecimento a ser transmitido. (ATAIDE, 2008, p. 23).
Ou ainda quando Kaloustian enfatiza que,
A família é percebida não como o simples somatório de comportamentos, anseios e demandas individuais, mas sim como um processo interagente da vida e das trajetórias individuais de cada um de seus integrantes. (KALOUSTIAN, 2008, p. 13)
O Artigo 4º do ECA, diz que “é dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação [...]”. Não tratando
de uma forma generalizante, mas tal dever nem sempre é posto em prática, tendo
em vista que muito jovens acabam por não ter contato com suas famílias genitoras,
32
muitas vezes passando quase que toda infância e juventude em casas de
acolhimento e abrigos. Nesse caso estamos falando de um tipo especifico de família,
porém é certo afirmar que nos dias atuais não existe um conceito único (ou mesmo
ideal) de família, sendo que,
A família, da forma como vem se modificando e estruturando nos últimos tempos, impossibilita identificá-la como um modelo único ou ideal. Pelo contrario, ela se manifesta como um conjunto de trajetórias individuais que se expressam em arranjos diversificados e em espaços e organizações domiciliares peculiares. (KALOUSTIAN, 2008, p. 14)
Perante essas informações, infere-se que atualmente, a família
(independente do modelo ou arranjo) é um importante espaço para o jovem, certo de
que mesmo com mínimas condições esse espaço ainda pode lhe garantir algum tipo
de suporte, sendo em muitos casos responsáveis por esse apoio e orientação;
principalmente para o enfrentamento de outros fatores influentes na vida dos jovens,
como educação, trabalho e violências, fatores esses que serão discutidos nos
próximos subitens.
1.3.4 Juventudes e violência.
Violência é todo ato em que o ser humano é
despido de sua humanidade, tratado como coisa. (Marilena Chaui)
[...] Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério O jovem no Brasil nunca é levado a sério A polícia diz que já causei muito distúrbio
O repórter quer saber por que eu me drogo [...] (Banda Charlie Brown Jr.)
A violência na contemporaneidade é uma situação que vem causando uma
série de preocupações, especialmente para aqueles sujeitos que não poupam
esforços intelectuais para discutir essa questão tão controversa bem como as
causas que vem atingindo sumariamente a categoria juventude, principal alvo de
violência.
Saber que existe essa concepção, que perpassa pelo senso comum e pela
reprodução nos meios midiáticos, é fato, pois acabam por não considerarem os
jovens como sujeitos de direitos e deveres, mas simplesmente como culpados,
33
desconsiderando tal categoria pertencente às expressões da questão social11 e das
desigualdades sociais existentes no nosso país.
Os atos de violência envolvendo os jovens, geralmente, são analisados e
descontextualizados da sociedade em que estão vivendo. Essa inversão dos fatos
assusta, pois estatisticamente é nítido que a juventude é, na maioria das vezes, a
principal vítima das violências, conforme informa Waiselfisz (2010, p. 87-88) que no
ano de 2007, as vítimas de homicídio na faixa de 15 a 29 anos de idade
representaram 54,7% do total de homicídios de todo o país.
Segundo o mesmo autor o crescimento dos homicídios envolvendo jovens
passou de 21,1 mil em 1997 para 28,5 mil em 2003, ou seja, nesse pouco espaço de
tempo (seis anos) houve um aumento de 35,1%. Já de 2003 a 2007, houve uma
singela queda de 28,5 mil para 26,1 mil jovens, vítimas de homicídio no país, ou
seja, uma queda de 8,4%. Tais dados podem ser vistos na tabela a seguir:
11
Questão social apreendida como conjunto das expressões das desigualdades da
sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2009, p. 27).
34
Tabela 2 - Número de homicídios na população de 15 a 29 anos, por UF e Região.
Brasil, 1997/2007.
Segundo o Mapa da Violência - 2010, entre 1997 e 2007 o número de
homicídios na população jovem teve um aumento de 21.084 para 26.102 homicídios,
enquanto na população total (incluindo os jovens) passou de 40.507 para 47.707
homicídios.
Já comparando esses índices de violência entre toda a população jovem do
Brasil com as de população internacional, o Brasil fica como o sexto país no ranking
de homicídios entre jovens (WAISELFISZ, 2010, p.138-139). Ainda sobre esse
crescente índice no Brasil cita-se,
35
O aumento da violência criminal e institucional nas duas últimas décadas, especialmente nas grandes metrópoles brasileiras, tem sido reconhecido como uma realidade, tanto pelas estatísticas oficiais quanto por autores preocupados em compreender as suas causas e tecer analises, objetivando uma contribuição para melhor dissecar toda a sua complexidade. (ADORNO E BORDINI, 1991; CALDEIRA, 2000, apud FRAGA, 2008, p. 83)
Pode-se dizer que os principais alvos dos diversos tipos de violência são: as
mulheres, negros, indígenas, homossexuais, empobrecidos e jovens. Além da
violência física que essas “minorias sociais” recebem, há também a violência
psicológica, expressa no machismo, no racismo, na homofobia, e na discriminação
com os pobres e as juventudes.
O pior é que infelizmente nos dias de hoje algumas dessas expressões são
ditas como extintas, dentro de um senso comum e por uma reprodução midiática, o
que na verdade é uma ilusão, pois estas estão agregadas na sociedade. Um
exemplo, é que as principais vítimas de violência, além de jovens, ainda se
encaixam em uma dessas minorias sociais, como descreve Fraga,
Os homicídios contra jovens pela forma como se apresentam no Brasil [...] não podem ser classificados simplesmente como conflitos interpessoais. Ganharam, na verdade, o caráter de extermínio de população supérflua [...], pois já foram excluídos da convivência humana. (FRAGA, 2008, p. 101)
Acrescenta ainda que,
O aumento da violência na ultima década apresentou, portando, características não verificadas anteriores. A alta letalidade, com o aumento espetacular da taxa de mortalidade, notadamente entre jovens; [...] há uma aumento da vitimização de jovens nos anos 1990, atingindo seletivamente os mais pobres. (FRAGA, 2008, p. 89-91)
Outro fator alarmante e que na verdade resulta em formas de violências,
principalmente com os jovens, é o tráfico de drogas, presente e crescente em
praticamente todas as cidades do país. Nesse caso, geralmente, os jovens acabam
sendo vistos apenas como “marginais”, sem nenhuma análise dos reais motivos
pelos quais tenham se envolvido, chegando à interpretação de que situação já é
algo comum na sociedade.
O envolvimento de jovens com o tráfico não significa novidade para a sociedade brasileira, é parte de sua paisagem e de suas desigualdades. Somente quando a mídia veicula imagens
36
impactantes sobre acontecimentos violentos produz-se indignação, condição importante, mas insuficiente para a formação da política. (FRAGA, 2008, p. 88).
A mídia acaba por reproduzir o pensamento de “trombadinhas” e além do
mais, faz com que a sociedade multiplique tal pensamento. Resultando em medos
ou mesmo em indiferenças, aceitando que tal realidade “não tem mais jeito”.
Há a necessidade de que sejam realizados investimentos efetivos em
programas sociais, em políticas publicas e em especial as de prevenção à violência,
pois geralmente os investimentos acabam sendo colocados apenas em programas e
políticas de punição, como presídios e instituições como a Fundação Casa. Que
infelizmente, conforme retratados nos noticiários e em diversos estudos são também
formadores/ executores de violências para com os jovens, conforme retrata o
Relatório da UNICEF12 sobre Violência Institucional (2011), onde diz que
A violência em nosso país assume diversas facetas, mas uma das mais preocupantes é a institucional, aquela cometida justamente pelos órgãos e agentes públicos que deveriam se esforçar para proteger e defender os cidadãos. (UNICEF, 2011, p.1)
Neste tópico pode-se abordar ainda uma importante questão, trata-se da
Redução da Maioridade Penal para 16 anos (que atualmente é de 18 anos,
conforme Constituição Federal de 198813).
Dentro do que já foi mencionado neste
estudo, este ponto também pode ser
considerado como de reprodução midiática,
que apenas expõe os jovens “infratores”,
meramente como delinqüentes. Essa redução
existe como uma proposta para uma possível
solução e diminuição das violências na
sociedade.
Na atualidade existem vários debates
sobre essa temática, mas é certo dizer que tal
12
UNICEF - United Nations Children's Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 13
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas
da legislação especial, Constituição Federal de 1988.
Figura 2 - Redução da maioridade penal. (charge encontrada na
Internet)
37
decisão não seria a solução cabível, pois o correto é que “a sanção aplicada precisa
ter conteúdo pedagógico, resultando na chamada medida sócio-educativa” (UNICEF,
2011, p.118).
Tal discussão é merecedora de que sejam realizados estudos mais
aprofundados, e se perguntar se tal medida é a mais eficiente. Se punir é a solução.
Esse assunto deve passar da condição de senso-comum, expondo os reais
pontos a serem discutidos e obter soluções que possibilitem uma cultura de vida que
dê oportunidades a essa categoria, tomando medidas preventivas e principalmente
educacionais, pois, mesmo sem uma análise mais detalhada, é certo dizer que com
os devidos investimentos em outras áreas como trabalho, educação e saúde haverá
uma grande diminuição nos índices de violências na sociedade brasileira.
Ao concluir este tópico, pode-se dizer que é necessário ver o jovem (as
juventudes) como sujeito de direitos e participantes da sociedade e também
perceber suas reais necessidades, desse modo serão proporcionadas oportunidades
para que se possa construir uma sociedade mais justa.
38
2 A PASTORAL DA JUVENTUDE E O PROTAGONISMO JUVENIL
“Só uma Juventude organizada, será uma juventude forte” (CELAM - Puebla, 1185/1188)
2.1 Contexto histórico da Pastoral da Juventude, do “A-E-I-O-U”14 aos dias
atuais.
Figura 3 - Símbolo da Pastoral da Juventude15
Para se discutir sobre a importância da Pastoral da Juventude no que se
refere ao despertar dos jovens para o protagonismo juvenil e atuação/ militância em
espaços sócio-políticos, há a necessidade de realizar um resgate histórico desta
organização.
Para tanto, uma contextualização com o objetivo de compreender o que
significa essa organização se faz importante.
14
A menção “A-E-I-O-U”, refere-se aos principais Movimentos Juvenis da ICAR (JAC, JEC,
JIC, JOC e JUC), que antecederam a criação da PJ contemporânea e que lhe dá base e fundamentos. 15
O símbolo da Pastoral da Juventude representa uma cruz estilizada, como se ela
estivesse deitada no chão, servindo de caminho. A cor vermelha representa paixão pelo novo, pelo protagonismo juvenil e pela utopia. O mesmo surgiu em um concurso nacional realizado entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. Criado pelo jovem Cristiano, do Regional Sul I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Disponível em: http://www.pjsul1.org/site/pastoral-da-juventude.php. Acesso em: 15/01/2011.
39
A Pastoral da Juventude ou simplesmente PJ, sigla que será adotada no
decorrer do trabalho, é uma pastoral organizada e inserida na Igreja Católica
Apostólica Romana (ICAR). Seu surgimento se deu em meados dos anos 70,
conforme Boran (1982, p. 25) “a década de 1970 assistiu ao inicio de uma
reorganização de Pastoral da Juventude Orgânica e de uma avaliação mais crítica
do seu papel na Igreja e na sociedade”.
Porém anteriormente a esse período, na ICAR, houve outras organizações e
movimentos de juventudes, sendo que muitos desses são influenciadores e
forneceram base para a PJ no seu cotidiano. Assim, a PJ é fruto de uma história que
praticamente vem sendo construída no Brasil desde a década de 30.
A partir da década de 30, sob orientação dos bispos brasileiros e idealização
do Papa Pio XI, a ICAR no Brasil passa a ter como objetivo obter uma maior
participação dos leigos16 na sua hierarquia e também propagar o cristianismo para
seus locais de vida e trabalho. Assim, foram criados espaços e movimentos (a
maioria para as juventudes) para atuação na vida pessoal, familiar e social,
conforme explica Oliveira (2002). Esses espaços e movimentos foram embasados
na Doutrina Social da Igreja17 e ficaram conhecidos como Ação Católica.
A Ação Católica no Brasil é caracterizada por duas fases, a primeira
conhecida como Ação Católica Geral (ACG) que foi do ano de 1932 ao ano de 1950.
Já no segundo momento que foi de 1950 a 1966, surgiu a Ação Católica
Especializada (ACE), com grande influência das idéias do cônego belga Joseph
Cardijn18 (Oliveira, 2002, p. 16).
No período da ACE destacam-se os grupos específicos de juventudes:
Juventude Agrária Católica (JAC), Juventude Estudantil Católica (JEC), Juventude
Independente Católica (JIC), Juventude Operária Católica (JOC) e Juventude
Universitária Católica (JUC). E estes grupos serviram de embasamento ao posterior
surgimento da PJ como a conhecemos hoje, conforme retrata Boran (1982),
16
Leigo, pelo dicionário Michaelis, é aquele que não tem ordens sacras. Disponível em:
http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 05/12/2010. 17
É um conjunto de princípios, critérios e diretrizes de ação com o objetivo de interpretar as
realidades sociais, existem várias cartas e documentos que dão diretrizes. Disponível em: www.vatican.va. Acesso em: 05/12/2010. 18 Joseph L. Cardijn, 13/11/1882 – 24/07/1967 - foi um sacerdote de origem belga.
40
Nos anos 1960-66, a Ação Católica desenvolvia uma Pastoral de Juventude de meio especifico através da JOC (Juventude Operária Católica), da JEC (Juventude Estudantil Católica), da JUC (Juventude Universitária Católica), da JAC (Juventude Agrária Católica) e da JIC (Juventude Independente Católica). Os jovens eram despertados para assumir um compromisso de trabalho social no seu meio. [...] Os grupos eram ambientais, Isto é, surgiram dentro das escolas, universidades e fábricas [...]. (BORAN, 1982, p. 22)
Tais movimentos tiveram grande influência e participação na sociedade, pois
suas ações além de organizadas eram efetivas, resultando em transformações e
mudanças na sociedade. Eram concretas, de nível formativo e intelectual, se dava
numa vivência da fé na prática social e política, sendo que nesse mesmo período o
Brasil passava por uma Ditadura Militar, o que também resultou em diversos tipos de
perseguições a esses grupos e suas lideranças.
Para termos uma real noção desse período e obtermos uma melhor
compreensão das “heranças” deixadas por esses movimentos, Dick explica que,
Se fôssemos destacar algumas heranças destes “movimentos” da Ação Católica Especializada acentuaríamos, em primeiro lugar, a questão pedagógica: as formas que se usaram para educar cidadãos crentes. As Semanas de Estudo, a exigência na aplicação da Revisão de Vida, as análises de conjuntura, as leituras, a mística adaptada ao meio etc. formaram verdadeiras gerações. Em segundo lugar, o modo como os “movimentos” estavam organizados, com equipes liberadas a nível nacional e regional, visitando os grupos e realizando Congressos, Encontros e Assembléias levadas pelos próprios jovens e as diversificadas atividades nos “meios” como a Semana da Juventude, etc. Era um conjunto de práticas que foi gerando o que hoje chamamos de “protagonismo juvenil”, despertando pessoas maduras na fé e na vida. Foi nesse conjunto de “instrumentos” que esteve à riqueza e o risco da Ação Católica Especializada. (DICK, 1999, p.10)
Ainda sobre a presença e comprometimento dos jovens desses movimentos
na sociedade, o referido autor ainda nos diz que,
O aprofundamento do “Ideal Histórico” e a compreensão da necessidade de intervir na sociedade levou os jovens a se comprometerem progressivamente com seu meio e, por causa disso, com a sociedade. Vemos lideranças da JUC assumindo, junto com os comunistas, a direção da União Nacional de Estudantes nos inícios de 1960. Foi a época mais pujante de sua história, em parte pela presença dos cristãos. Algo semelhante sucedia com os estudantes e os operários. O que mais marcou politicamente estes movimentos foi o surgimento, com a ajuda deles e como
41
conseqüência prática dos debates teóricos que faziam, da tendência política conhecida como “Ação Popular” (AP). (DICK, 1999, p.11)
Esses movimentos também tiveram importância com sua participação e
presença na ICAR, porém alguns deles não tiveram uma longa permanência, sendo
que chegaram a se desarticularem resultando no término/ extinção de alguns deles.
Atualmente em ação e articulação no Brasil, existe apenas a JOC. Sobre a extinção
de alguns desses movimentos, Boran (1982) diz que em 1966, em virtude da
repressão política e de desentendimentos internos, começa um processo de
desarticulação da JEC e JUC, o que mais tarde levaria ao fim destes.
Sobre as influências da ACE na PJ atual, Oliveira (2002, p. 32) descreve que
posteriormente a esse momento, alguns grupos de jovens foram nascendo por meio
de ex-militantes da ACE.
Contudo, antes de se ter uma PJ de forma orgânica, surgiram outros
Movimentos de Jovens (ou Encontros de Jovens), onde esses tiveram forte destaque
e atuação dentro da própria ICAR, muito mais do que na sociedade, sendo, deste
modo, o oposto dos movimentos descritos anteriormente.
Como metodologia, estes movimentos usavam o testemunho pessoal e um forte impacto emocional. Havia pouca ou nenhuma abordagem da dimensão social do Evangelho. Os movimentos apenas procuravam resolver problemas pessoais. [...] A solução para os males da sociedade se encontrava na conversão de cada indivíduo dentro dela. Pensavam que, transformando o jovem, automaticamente a sociedade se transformaria também. (BORAN, 1982, p. 23)
Dentre esses movimentos pode-se citar como exemplo, o Treinamento de
Liderança Cristã (TLC), a Renovação Carismática Católica (RCC), os Folocalares, os
Encontros de Jovens com Cristo (EJC), movimentos de carismas Marianos,
Franciscanos, Jesuítas, Salesianos, etc. E muitos desses são de origem e
influências internacionais. Sobre esses movimentos Oliveira (2002, p. 21) nos
explica que “começaram a acontecer em toda parte encontros de jovens católicos,
comandados por forte impacto emocional”. Esses movimentos não tinham como foco
um trabalho voltado à sociedade e sim a edificação individual do ser. Muitas vezes
não realizando um trabalho efetivo, ou mesmo de continuação, ou seja, sendo algo
momentâneo.
42
Esse momento que antecede uma PJ orgânica é caracterizado também
pelas expectativas resultantes dos documentos originados nas reuniões do
Conselho Episcopal Latino-Americano, (CELAM) de Medelín (1968) e Puebla (1979),
onde a ICAR assume como opções preferenciais “os pobres e os jovens” para as
ações de seus trabalhos sociais e de evangelização.
Já entre as décadas de 1970 e 1980, começam a surgir algumas iniciativas
de ações e organizações, que já podem ser consideradas como pontos importantes
dessa história, resultando enfim na PJ. Conforme Oliveira (2002) descreve,
O período de 1973 e 1978 foi marcado por algumas iniciativas da CNBB de articular experiências de uma Pastoral da Juventude. Realizaram-se nesse período dois encontros nacionais da PJ. Em 1973, no Rio de Janeiro, aconteceu o Primeiro Encontro Nacional. Em 1976, também no Rio de Janeiro, aconteceu o Segundo ENPJ. Esses dois primeiros encontros reuniram pessoas com prática de PJ, para refletir a situação e buscar caminhos de organização. (OLIVEIRA, 2002, p. 30)
Isso possibilitou que os trabalhos que já vinham sendo realizados com as
juventudes fossem ampliados, surgindo então uma proposta de trabalho mais
orgânica. Desse modo, já nos anos 70 e 80 começam os trabalhos de organização
da Pastoral da Juventude por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB). Nesse mesmo período surge também o que é conhecido como “as
pastorais da juventude especificas”, ou seja, voltadas para meios específicos da
sociedade, além da PJ são elas:
a. Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) têm sua articulação e atuação
dentro dos espaços das escolas, com os jovens estudantes.
b. Pastoral da Juventude Rural (PJR), sendo que,
O que distingue a PJR é a separação territorial em relação aos jovens urbanos e, conseqüentemente, problemática e culturas diferentes. [...] A PJR está ligada à questão da terra, um dos temas mais importantes da atualidade, tanto do ponto de vista da reforma agrária quanto da ecologia. (BORAN, 2003, p. 162)
c. Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), “A PJMP também se
organiza a partir dos grupos de paroquiais e das comunidades de base”.
(BORAN, 2003, p. 162). Sua metodologia e atuação são muito próximas
as da PJ, em muitos casos sendo até mesmo confundidas.
43
Essas organizações trabalham com o objetivo de desenvolver o
protagonismo dos jovens para as ações de transformações e mudanças das
realidades das quais estão inseridos. E são criadas, a partir destas, as comissões,
coordenações e assessorias a nível nacional, dando uma maior base e sustentação
para essa pastoral.
Outro fator muito importante desse momento é a metodologia utilizada nos
trabalhos desenvolvidos, sendo que essa realiza uma forte observação e critica da
realidade, analisando as dimensões (tanto política, social e de fé) com intuito de uma
ação transformadora.
Esse método é conhecido como “Ver-Julgar-Agir” e atualmente foi
complementado com mais duas etapas: o “Rever e Celebrar”.
O método se desenvolve em três momentos: partir da realidade, da vida dos jovens (ver), confrontar os desafios levantados pela realidade com a fé (julgar), partir para uma ação de transformação do meio (agir). [...] Essa nova metodologia fez surgir uma nova espiritualidade que unia fé e vida. (BORAN, 2003, p. 25)
Ainda sobre a metodologia utilizada na PJ, vale expor sobre a “A Formação
Integral”19, sendo que dentro de “uma pastoral organizada e que trabalha com uma
concepção que proporciona a continuidade e a conscientização da caminhada
(Oliveira, 2002, p. 106), tal método proporciona o entendimento do ser humano na
sua totalidade.
A Formação Integral abrange cinco dimensões da pessoa humana (do
jovem), passando do processo de iniciação ao processo de militância. Tais
dimensões são chamadas da seguinte forma:
a. Dimensão da Personalização; trata-se de uma dimensão que proporciona
o conhecimento pessoal.
b. Dimensão da Integração; proporciona um conhecimento com o outro,
integrando o jovem no seu grupo, na comunidade e sociedade na qual
está inserido.
19
Para mais informações sobre esse método, sugere-se o livro: “Dimensões da formação
integral na PJ – Cadernos de Estudos da Pastoral da Juventude Nacional, número 2”, PJ-Nacional, São Paulo-SP, CCJ, 1988.
44
c. Dimensão da Conscientização Política; Nessa dimensão o jovem é
despertado ao senso crítico, ajudando-o a se tornar um sujeito de
transformações, trabalhando junto à sociedade.
d. Dimensão Teológica/ Teologal; ajuda o jovem a crescer na fé, recebendo
conhecimentos sobre a igreja e sua relação com o Divino.
e. Dimensão da Capacitação Técnica; trata-se da dimensão da ação, onde
capacita o jovem para a liderança e militância.
Esse método é aplicado na vida do jovem dentro de suas experiências e
ações no grupo de jovens no qual participa, sendo que o grupo passa também por
alguns períodos durante a sua existência: Convocação, Nucleação, Iniciação e
Militância.
Vale ressaltar que tal metodologia não é engessada e nem sempre acontece
de forma linear, ou seja, muitos jovens nos seus grupos acabam por experimentar
dessas dimensões, ou duas ou três juntas, ou de forma aleatória, podendo, em
algum momento, ser necessário retornar a uma etapa já passada/ vivenciada.
Sobre os grupos de jovens, Oliveira (2002) explica que os/as jovens se
reúnem, se organizam, rezam e desenvolvem ações.
A estrutura da PJ parte da articulação dos grupos de jovens (ou grupos de
bases), que são organizados por coordenações nos diversos níveis e ambientes,
chegando a uma estrutura nacional.
A Pastoral da Juventude tem os grupos de jovens como uma opção político pedagógico onde a vivencia grupal acontece para a ação evangelizadora. “Organizamo-nos a partir dos grupos de jovens, por acreditar que este é um espaço privilegiado de valorização do protagonismo juvenil, da vivencia comunitária e da evangelização. Fator importante para o processo de educação na fé. A reunião do grupo é um momento importante e fundamental na vida do grupo. É no processo de reunião que o grupo nasce, cresce e amadurece. A reunião é o “miolo” da fruta, na formação integral do grupo jovem que entra no processo” (Disponível em: http://www.pj.org.br/grupos-de-base.php)
Dessa forma, PJ é a ação das juventudes inseridas junto à ICAR de uma
forma protagonista, pois em suas diretrizes consta que é a ação do jovem para o
jovem numa busca de aprofundamentos e vivências de fé e de transformações das
realidades nas quais estão inseridos.
45
2.2 Protagonismo juvenil e seu conceito.
Um importante fator a ser discutido neste trabalho diz respeito ao
protagonismo juvenil, termo este utilizado principalmente nas últimas duas décadas.
Para iniciar uma compreensão/ definição sobre o protagonismo juvenil,
primeiramente buscamos no dicionário a etimologia do termo, que diz: [...] o
protagonismo, vem de quem protagoniza e se origina do grego, Protagonistés que
significa o principal personagem de uma peça dramática ou a pessoa que, de
qualquer acontecimento ou qualquer obra literária, desempenha ou ocupa o primeiro
lugar20.
Por essa razão ao considerar o protagonista como o sujeito da atuação
principal e de participação efetiva e construtiva, o protagonismo juvenil tem os jovens
como os “atores principais” de ações relacionadas com a sua vida privada, familiar,
afetiva e com os demais fatores que influenciam em suas vidas, também os
problemas relacionados aos espaços comunitários.
Sobre o protagonismo juvenil, Souza (2006), faz uma análise do discurso
que o permeia, tendo um olhar crítico sobre a questão, dizendo que o mesmo é tido
como um discurso e que por sua vez é instituído com o objetivo de controle social,
capacitando o jovem não para uma ação efetiva, de caráter social e comunitário,
mas sim de um jovem autônomo, de ações voltadas à caridade, ao voluntariado,
sendo aqui interpretada apenas como medidas assistencialistas ou mesmo que não
o desperte para a prática de uma liderança sócio-política. Souza (2006), parte de
uma linha paralela a de Costa (2000), que contextualiza o termo Protagonismo
Juvenil como,
[...] a participação do adolescente em atividades que extrapolam o âmbito de seus interesses individuais e familiares e que podem ter como espaço a escola, a vida comunitária (igrejas, clubes, associações) e até mesmo a sociedade em sentido mais amplo, através de campanhas, movimentos e outras formas de mobilização que transcendem os limites de seu entorno sócio-comunitário. (COSTA, 2000, p. 176)
E acrescenta que é,
20
Disponível em: http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 20/12/2010.
46
[...] uma forma de reconhecer que a participação dos adolescentes pode gerar mudanças decisivas na realidade social, ambiental, cultural e política onde estão inseridos. [...] visando, através do seu envolvimento na solução de problemas reais, desenvolverem o seu potencial criativo e a sua força transformadora. (COSTA, 2000, p. 65)
A contextualização de Costa (2000) referente ao protagonismo juvenil está
voltada principalmente há um conceito de que o jovem está tomado como um
elemento central da prática educativa, onde o mesmo deve participar de todas as
fases das ações propostas. Entende-se que no conceito de Costa (2000) a prática
do protagonismo juvenil é tida como um instrumento de trabalho onde o educador
deve estimular a participação do jovem. O mesmo explica que tal estratégia deve
contribuir não apenas com o desenvolvimento pessoal dos jovens, mas da
comunidade que esse jovem está inserido. O referido autor diz ainda que o
protagonismo juvenil contribui para a formação de pessoas mais autônomas e que
se comprometem socialmente, ou seja, com características de solidariedade. Costa
em seu discurso diz que se deve reconhecer o jovem, não apenas como um
problema, mas como parte da solução. Sobre isso fica o possível entendimento de
que a “idéia subjacente é a de evitar o descontrole social por meio da educação dos
jovens [...]”, conforme Souza (2006, p. 99). Desse modo pode-se dizer que o
conceito proposto por Costa (2000) volta-se diretamente para o voluntariado,
desenvolvendo um protagonismo com ações que satisfazem apenas o indivíduo, ou
grupo próximo que o rodeia.
Este trabalho tem como embasamento principal, o conceito de que o
protagonismo juvenil é a ação concreta do jovem com a sua participação efetiva na
sociedade, com ações coletivas, ou seja, sem se isentar de ideologias e
movimentações sociais; Em poucas palavras, suas ações não são de caráter
individualista, mas sim de um bem comum. Sobre tal proposta de protagonismo, na
qual a PJ remete, Rogério de Oliveira explica em seu blog “E por falar em Pastoral...”
que,
[...] no entender da PJ o protagonismo juvenil remete a uma ação além dos interesses particulares. Ele é o momento preciso e precioso em que os próprios jovens podem criar, interferir na essência e elaborar políticas para defesa de seus direitos. É preciso, portanto, ressignificar a expressão protagonismo juvenil para que as juventudes não sejam portadoras de um discurso que os controla e domina. (Disponível em: http://pejotando.blogspot.com/2010/09/protagonismo-juvenil.html)
47
Complementando ainda, Boran (2003) diz-nos que os próprios jovens são os
verdadeiros responsáveis pela sua formação e a formação de outros militantes e
sobre o que é o protagonismo juvenil, explicando ainda que, a palavra „protagonista‟
vem do mundo do teatro, significando o „ator principal‟, enfatizando que o jovem
deve estar no palco participando e não sentado no meio da platéia, assistindo
passivamente.
Tais definições permitem-nos uma reflexão, que leva a uma interpretação
mais simples do termo protagonismo juvenil, no sentido de discernir que as ações
realizadas por parte dos jovens dentro de seu contexto social, de certo modo,
respondem a problemas reais, como forma da prática da sua cidadania, não
somente pelo discurso, mas sim pela ação. O protagonismo juvenil deve ser, não só
um meio de incentivo, mas permitir condições através da capacitação e acesso ao
conhecimento, para que os jovens possam ser sujeitos na construção de uma nova
perspectiva social, ou seja, de interesses comuns e nãos apenas individuais. De
certo modo então, os jovens tendo esse senso crítico, reconhecendo seu papel e
importância na sociedade e ocupando com qualidade os espaços podem transmutar
o protagonismo juvenil de conceito para prática.
2.3 A Pastoral da Juventude e o seu protagonismo na sociedade
contemporânea.
Ser Pastoral da Juventude é ter ousadia, utopia. Ser protagonista da vida, da luta.
Ser PJ é ter o coração verde da esperança que não morre, Vermelho dos mártires.
É ter o coração de todas as cores, do mundo, das raças, Da alegria de viver.
(Fabio Ferreira, Poeta e Pejoteiro)
A PJ é um movimento que traz significados que podem ser traduzidos "da"
Juventude e não "de" Juventude. Assim, caso fosse “de Juventude”, pode-se
verificar que seriam os outros, em especial os adultos, trabalhando para os jovens,
planejando e delegando suas ações. Desse modo, os jovens não seriam os sujeitos
e protagonistas da sua história.
Tendo sua nomenclatura como Pastoral da Juventude, significa assumir e
dizer que o compromisso de se organizar, planejar e agir parte em primeiro lugar do
48
próprio jovem. Sendo assim ele é o protagonista de suas ações, e que conforme diz
Boran (2003) na PJ os jovens devem estar na linha de frente e devem ser os
protagonistas. Para complementar o referido autor, explica que,
A PJ, portanto, não está mais formando “igrejeiros”, mas líderes que chamam a atenção das organizações políticas e civis. A pastoral prepara militantes para ser fermento no meio da sociedade civil. [...] Um número significativo exerce funções de liderança nos partidos e movimentos sociais e nas administrações municipais conquistados por partidos populares (BORAN, 2003, p. 59).
Como já mencionado no primeiro capítulo, a fase da juventude é o tempo da
descoberta pessoal e social. A PJ é um espaço que colabora para essas
descobertas. Nela o jovem é despertado e motivado a ouvir, ver e sentir as
realidades nas quais estão inseridas, e com isso despertando inquietações
motivadoras das ações transformadoras da realidade, sendo assim, muitos partem
para militância, se inserem em outros espaços sócio-políticos e movimentos sociais.
“A Pastoral da Juventude exerce o papel fundamental de: fomentar nos jovens senso-crítico e capacidade de analisar a realidade cultural e social do mundo onde vivem [...] Ajudar o jovem a integrar sua dimensão de fé com o compromisso sociopolítico”. (CNBB, 1986, p. 25-26)
Pode-se afirmar que a PJ contribuí para o protagonismo juvenil, dispondo
aos jovens a oportunidade de terem uma identidade própria, ou seja, ser ele mesmo,
considerando as suas transformações sociais, biológicas, físicas e psicológicas.
Sobre isso Dick (2009) diz:
Querer, por isso, que o jovem seja protagonista de si ou de sua organização é querer que ele seja ele, ficando evidente que uma identidade nunca vai contra a identidade do outro. Para afirmar essa „identidade‟ é claro que o jovem vai negar submissões, qualquer que ela seja. (DICK, 2009, p.37)
As experiências e participação na PJ proporcionam o despertar do/a jovem
ao protagonismo juvenil. Tal prática protagonista do jovem pejoteiro21 pode ser
realizada com a sua militância dentro do próprio grupo, em outros
movimentos/pastorais da ICAR, em movimentos sociais ou outros espaços de
21
Pejoteiro/ pejoteira - adjetivo referente ao jovem que faz parte da Pastoral da Juventude.
Há quem escreva: pjoteiro/ pjoteira.
49
participação sócio-políticos, como associações, conselhos, sindicatos, Organizações
Não Governamentais (ONGs), etc. Onde Castanheira (2008), diz que,
Estas participações ocorrem simultânea ou posteriormente ao engajamento com a Pastoral da Juventude. A importância da participação em outras organizações é enfatizada na formação política e religiosa da PJ, na qual a militância é apresentada como um “projeto de vida”, podendo ser exercido na própria pastoral, em outros ambientes da Igreja ou ainda em organizações intermediárias da sociedade. (CASTANHEIRA, 2008, p.3)
A referida autora ainda nos explica outra importante influência da PJ na vida
das juventudes, trata-se de suas escolhas pessoais e profissionais, sendo que sua
participação na PJ não se limita simplesmente a aquele momento. Onde muitos dos
jovens além de se inserirem nos espaços de participação e militantismo, conforme já
dito, acabam por escolher muitas vezes uma carreira profissional ligada às ciências
humanas e sociais, conforme explica a seguir,
Todavia, esse direcionamento do militantismo em muitos casos culmina na definição de determinados tipos de atuação profissional. Ou seja, para uma parte considerável desses militantes o engajamento e a participação na Pastoral não constituem um estágio ou uma fase “passageira”, característica de sua “juventude”. Pelo contrário, a participação anterior em tal pastoral torna-se um dos ingredientes principais de sua inserção profissional em diferentes esferas de atuação. Uma questão pertinente para dar conta disso, consiste justamente em investigar as condições e as lógicas sociais que possibilitam a reconversão da militância anterior na pastoral em recursos que conduzem a postos e cargos profissionais. (CASTANHEIRA, 2008, p.3)
Na PJ, vivenciando as etapas dentro do grupo de jovens, ocorre um
amadurecimento pessoal; proporcionando o despertar e interesse pela participação
resultando em transformações e ações concretas. Desse modo, a militância passa a
ser uma necessidade para o jovem inserido nesse processo, onde seu senso-crítico
está aguçado, onde a sua visão política lhe proporciona enxergar as reais
necessidades da sociedade da qual está inserido. Sendo assim, eles não mais
conseguem ficar apenas participando das reuniões de grupo de jovens, entre quatro
paredes, ele precisa de mais, precisa praticar o que a muito vem discutindo,
estudando e conhecendo. Sobre esse momento e metodologia da PJ, Boran (1994)
explica que,
50
Uma metodologia que propõe como ponto de partida a vida do jovem, que exige que o jovem tenha uma atuação concreta no seu meio, pressupõe que ele não seja mais tratado de modo paternalista ou autoritário. É imprescindível que o jovem seja protagonista do seu processo de formação dentro do movimento. Um movimento onde os adultos mandam e os jovens executam não iria mais funcionar dentro desta nova visão. É necessário um novo tipo de assessoria de adultos que não abafasse o protagonismo dos jovens. (BORAN, 1994, p. 25)
Sobre a militância e suas contribuições, Sousa (1999) diz que,
Na militância, o jovem pode expressar seus conflitos, exercitar suas certezas e indecisões e dirigir sua ação marcada pelas exigências concretas da proposta coletiva. A militância transforma a vida do jovem, educa-o e lhe dá um suporte para criar estratégias que fortalecem sua subjetividade em conflito. A militância contribui para o fortalecimento do ego quando se torna a expressão da busca de uma solidariedade autêntica, um equilíbrio na relação eu-mundo-projeto, deslocando o jovem da preocupação consigo mesmo e propondo-lhe a preocupação em relação aos outros indivíduos. (SOUSA, 1999, p. 28)
Diante de tais informações, ou seja, a PJ, colabora, influencia e capacita o
jovem para militância e participação sócio-política, inferem-se aqui neste estudo
algumas atividades, ações e campanhas internas da PJ que proporcionam um
espaço para essa prática protagonista, pois desde a idealização/ organização até a
prática são esses jovens pejoteiros que executam.
Dentre os vários projetos e atividades podemos citar: Dia Nacional da
Juventude22 (DNJ), a Semana da Cidadania23 (SdC), a Semana do Estudante24
(SdE), sendo essas atividades fixas do calendário anual da PJ Nacional. Podem ser
citadas ainda as Romarias da Juventude, que acontecem praticamente em todos os
Estados do país, na maioria caracterizadas pela mística, espiritualidade e
reivindicações, sempre abordando temas sociais.
Em estância nacional também se pode citar a forte participação que a PJ
têm nos “Gritos dos Excluídos” que acontecem todos os anos no dia 07 de setembro,
sendo esse um ato de caráter reivindicatório.
22
Teve inicio no ano de 1985 (por ocasião do Ano Internacional da Juventude, promovido
pela ONU), é realizado oficialmente no último domingo do mês de outubro. 23
Teve início no ano de 1996, é realizada anualmente entre os dias 14 a 21 de abril. 24
Teve início no ano de 2003, e que acontece no mês de agosto, geralmente na semana do
dia 11, quando é comemorado o dia do estudante.
51
Sobre as atividades, projetos e ações organizadas e executadas pela PJ (e
demais PJ‟s), percebe-se a enorme relação com alguns fatores da sociedade que
estão diretamente (ou indiretamente) ligados com a juventude, como por exemplo,
os mencionados no Primeiro Capítulo deste estudo (educação, trabalho, família e
violências). Tais atividades são elaboradas dentro dessas temáticas especificas,
sempre com bases teóricas, oferecendo materiais e subsídios25 de apoio e estudo
dentro dos temas propostos, para assim poderem desenvolver reuniões, encontros,
celebrações e atividades em comum.
Para demonstrar a indagação de que esses fatores geralmente são
abordados pela PJ (e demais PJ‟s) citamos aqui apenas alguns temas e lemas das
atividades permanentes da PJ Nacional, que abordaram temáticas relacionadas a
esses fatores da vida das juventudes.
Desde o ano de 1985, com o tema “Ano Internacional da Juventude” e o
lema “Construindo uma Nova Sociedade”, o DNJ praticamente abordou em todos os
anos seguintes em seus temas e lemas fatores que são relacionados com a vida das
juventudes, como educação, trabalho, família, violências, preconceitos, saúde,
sexualidade, cultura, espiritualidade, políticas públicas, política, dentre outros. Outro
exemplo a ser incluído é de que no ano de 1987 onde seu tema foi “Juventude e
Participação” e lema “Juventude, Presença e Participação”, citando ainda outros
anos, como exemplo, destacamos os temas e lemas dos anos de 1989 com o tema
“Juventude e Educação” e o lema “Juventude, Cadê a Educação?”, já em 1990 o
seu tema foi “Juventude e Trabalho” e lema “Juventude: Do nosso suor, a riqueza de
quem?”, em 1994 discutiu o tema “Juventude e Cultura” e lema “Nossa Cara, Nossa
Cultura”, em 1999 e 2000 o eixo principal foi “Juventude e Dívidas Sociais”, já de
2001 a 2005 os temas e lemas tinham relação com “Políticas Públicas para a
Juventude”. Em 2009, contra violência abordou como tema “Contra o extermínio da
juventude, na luta pela vida” e lema “Juventude em marcha contra a violência”.
Agora em 2011 a temática se dará em “Juventude e protagonismo feminino”, com o
lema “Jovens mulheres tecendo relações de vida”.
25
Muitos materiais e subsídios dessas Atividades Permanentes (DNJ, SdC e SdE), podem
ser encontrados para downloads na internet. Sugere-se visitar os sites e blogs: www.pj.org.br / www.pjsul1.org / www.pjmaringa.com / www.pejotando.blogspot.com / www.henriquepejoteiro.blogspot.com / Dentre outros, onde se encontram diversos textos e materiais.
52
O mesmo pode ser considerado com os temas da SdC, geralmente
relacionados com questões políticas, de desemprego e de direitos, como por
exemplo, em 1996 com o tema “Você não vai ficar de fora! Faça seu título e vote
consciente”. Em 1999, “Desemprego: Juventude sem sonho, país sem futuro!”, já em
2007, relacionado com Direitos humanos, teve como tema “Espaço de Vida. Tempo
de Direitos!”; em 2008 sobre o “Empobrecimento Social da Juventude”. Em 2009 seu
tema foi “Juventude e Criminalização” e o lema: “Juventude em Marcha contra a
Violência”.
Nas SdE‟s, os seus temas são relacionados com o fator educação somando
com outras questões da sociedade. Citamos o ano de 2003, abordando o tema e
lema “A beleza de ser um eterno aprendiz" / “Participação estudantil, Cultura e
Lazer”. De 2004 a 2006 as temáticas foram relacionadas com o “Protagonismo
Estudantil”. E agora no ano de 2011 o tema é “Juventude negra e indígena:
comunidades de resistência” e o lema: “Dos tambores e cirandas, à luta pela vida”.
Esses temas são relacionados com a vida das juventudes com o intuito de
se discutir, debater, executar atividades, manifestos e encontros, tornando-se um
fator facilitador e de motivação para que o jovem exerça o seu papel na sociedade,
como protagonista, participando e exigindo seus direitos de forma atuante.
A PJ (junto com as demais PJ‟s) atualmente está promovendo em todo
Brasil a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. Essa
campanha vem contando com a participação de muitos jovens e também com
parcerias de outros movimentos e espaços de juventude (dentro e fora da ICAR).
Figura 4 - Símbolo da Campanha. Fonte: www.juventudeemmarcha.org.
53
Dentro da temática da Campanha, estão sendo organizadas muitas
atividades, como debates, caminhadas, marchas, atos de protesto nas ruas,
campanhas midiáticas, valendo ressaltar que todas essas atividades, sendo
organizadas pelas juventudes em prática do protagonismo juvenil.
Além dessas atividades desenvolvidas já citadas, ainda existem as que são
planejadas e executadas em menor estância, ou seja, dentro dos arredores dos
grupos de jovens, relacionadas com a realidade e necessidade local, ocorre ainda a
participação desses jovens pejoteiros em outros espaços sócio-políticos, onde
também são lideranças e militantes, como conselhos, movimentos sociais e
estudantis, grêmios, sindicatos, partidos políticos, associações, grupos de estudos e
debates, ONGs, entre outros.
Para retratar melhor a atuação da juventude inserida na PJ, seguem
algumas imagens/ figuras, de alguns dos eventos descritos acima.
Figura 5 - Bandeira da PJ, Grito dos Excluídos, 2009, Praça da Sé - São Paulo/SP.
54
Figura 6 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 200826.
Figura 7 - Romaria da Juventude do Estado de São Paulo, 200927.
26 Foto de Thais Desidério, pejoteira na Diocese de Osasco/ SP. 27 Foto de Rogério Alves, pejoteiro na Diocese de Osasco/ SP.
55
3 O CAMINHO PERCORRIDO: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 O Serviço Social: dialogando com as juventudes.
Na sua origem operacional, o Serviço Social foi implantado no Brasil na
década de 30, dentro de uma conjuntura específica em que instituições ligadas a
ICAR encampam um movimento chamado de reação católica. Pereira (2003) explica
que esse surgimento, no Brasil, está relacionado com as transformações políticas,
sociais, econômicas e culturais, num momento de tensões entre as classes sociais,
decorrentes da exploração capitalista, das precárias condições de trabalho e das
reivindicações de medidas sociais ao Estado. Nesse contexto Iamamoto e Carvalho
(2007) apontam para a mobilização da ICAR no desenvolvimento do Serviço Social,
Após os grandes movimentos sociais do primeiro pós-guerra, tendo por protagonista o proletariado, a “questão social” fica definitivamente colocada para a sociedade. Datam dessa época o que se poderia considerar como sendo as protoformas do Serviço Social no Brasil. No entanto, para o aparecimento do Serviço Social, enquanto conjunto de atividades legitimamente reconhecidas dentro da divisão social do trabalho, se deverá percorrer um itinerário de mais de duas décadas. Esse processo, que durante a década de 1920 se desenvolve apenas moderadamente, se acelerará no inicio da década seguinte, com a mobilização, pela Igreja, do movimento católico leigo. Surgirá o Serviço Social como um departamento especializado da Ação Social, embasado em sua doutrina social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 140)
Ainda sobre a influência da ICAR no surgimento do Serviço Social no Brasil,
Castro (2007) retrata a inspiração ideológica recebida nos meios acadêmicos e cita
duas Encíclicas Papais, que praticamente tornam-se marcos dessa nova profissão,
No período em que o Serviço Social transita para a sua profissionalização, quando penetra nos centros de ensino superior e se vincula a certas instâncias do Estado – ou ingressa diretamente na Universidade –, duas encíclicas papais tiveram um papel sumamente importante para enformar o seu desenvolvimento (mesmo que se leve em conta que, junto delas, a ação da Igreja e a sua permanente inspiração ideológica responderam pelo perfil e pelo substrato doutrinário da formação dos primeiros centros de formação superior). Referimo-nos às encíclicas Rerum Novarum, divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891, e Quadragesimo Anno, divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931 [...] (CASTRO, 2007, p. 51)
56
Todavia, esse contexto da sociedade brasileira vai se modificando, sendo
que, o Serviço Social acompanha tal processo e as necessidades das demandas. As
próximas décadas são marcadas por profundas transformações, onde o profissional
do Serviço Social vai se modernizando na parte teórica e nos métodos e técnicas
utilizadas.
Nesse momento, a sociedade passa também por uma Ditadura Militar. Sob
influências dessas transformações teóricas e técnicas, surge a necessidade de uma
reconceituação do Serviço Social, principalmente no que se refere a teorização, tida
até então como tradicional, de caráter paternalista, positivista. Sobre esse momento,
Netto (2005) considera o Movimento de Reconceituação, na década de 60, como um
momento rico da história do Serviço Social no Brasil e na América Latina. O referido
autor explica que o Movimento de Reconceituação se dá em critica ao modelo
tradicional, onde os Assistentes Sociais da época analisando as realidades do
momento perceberam que os métodos até então utilizados não estavam atingindo
resultados e que as classes mais baixas eram apenas “apaziguadas”. O Serviço
Social, dentro do modelo capitalista, estava sendo apenas mais uma peça, ou seja,
era utilizado para controlar a população.
Os assistentes sociais desta época, perante tais indignações, começam a
buscar nas pesquisas, métodos para reverter este quadro. Trabalhos, encontros,
seminários e congressos foram organizados, resultando em uma ruptura com os
pensamentos tidos como conservadores, passando a possuir embasamentos
teóricos fundamentados nas teorias marxistas.
[...] a descoberta do marxismo pelo Serviço Social latino-americano contribuiu decisivamente para um processo de ruptura teórica e prática com a tradição profissional [...] Outra característica desse encontro do Serviço Social com a tradição marxista decorre dos condutos teóricos pelos quais se processou tal aproximação. Ela não foi orientada para as fontes clássicas e contemporâneas, abordadas com uma explícita preocupação teórico-crítica. Deu-se predominantemente por manuais de divulgação do “marxismo oficial”. Aliou-se a isso a contribuição de autores “descobertos” pela militância política, como Lênin, Trotsky, Mao, Guevara [...] (IAMAMOTO, 2009, p. 210-211)
Analisando esse breve resgate histórico do Serviço Social, pode-se afirmar
que desde o seu inicio a profissão é definida e comprometida com a garantia dos
direitos sociais, voltando-se para o atendimento da população em maior nível de
57
vulnerabilidade social, nesse contexto insere-se também a categoria juventudes,
principal alvo deste trabalho.
Tendo suas vidas afetadas diretamente (ou indiretamente) por diversos
fatores da sociedade, conforme apontados nos itens do primeiro capítulo,
“Juventude e Contemporaneidade: fatores que afetam a vida dos jovens” (p.21),
reiteramos que tal categoria deve ser considerada como uma das principais
expressões da questão social.
Desse modo, sendo o assistente social o profissional capacitado para a
atuação na garantia de direitos, principalmente das pessoas em situação de
exclusão social, afirma-se que a atuação desse profissional requer ações que
possibilitem a criação e desenvolvimento de políticas públicas, buscando então
superar suas condições de vulnerabilidade, no caso então, com Políticas Públicas
para as Juventudes (PPJ). Conforme Pereira (2003), o desenvolvimento da prática
profissional do assistente social deve assumir um posicionamento ético e político
frente à realidade, em todas as suas dimensões, na tentativa de buscar
transformações.
O mesmo autor aborda sobre o entendimento de juventude sendo
relacionado à classe social pertencente,
A idéia de ser jovem tradicionalmente esteve vinculada a classe alta, visto que a perspectiva hegemônica disseminada pela classe dominante era a de que nos bairros populares não existiam movimentos juvenis, e sim a delinqüência. [...] Somente nos anos 70 e 80 que o jovem morador da periferia emerge como novo ator social. Não que se encontrassem dissociado da vida social, mas só então que passaram a obter maior expressão e consolidar a sua identidade. (PEREIRA, 2003)
Nessa mesma linha, Possato Jr. e Lucas (2009) apontam sobre esse mesmo
estereótipo, deixando um questionamento para reflexão,
[...] os jovens, em especial os mais pobres, estão associados à violência, segundo o veredito popular. Hollywood mostra isso muito bem, em seus filmes de gangues. O congresso brasileiro também, na medida em que está prestes a reduzir a maioridade penal, de 18 para 16 anos, no intuito de diminuir a criminalidade no país. Não é isso o mesmo que dizer que a culpa da violência é dos jovens?
(POSSATO JR. e LUCAS, 2009, p. 107)
58
Conforme já discutido, é certo que os jovens são os mais afetados
diretamente por diversos fatores resultantes da sociedade contemporânea pautada
por um sistema desigual. Portanto, o assistente social deve desenvolver um papel
importantíssimo no processo de emancipação dos jovens, sendo que sua atuação se
dá na implantação de Políticas Sociais, buscando garantir os direitos dessa
categoria. Tem papel educador, ou mesmo sócio-educativo, visando à inserção
social dos jovens.
A atuação do profissional assistente social voltada para as juventudes,
comprometido com o Projeto Ético Político da Profissão, pode ser desenvolvida em
áreas e setores diferentes, sendo público, privado ou do terceiro setor, abordando
diversas temáticas: educação, violência sexual, prevenção, saúde, esportes,
profissionalização, formação política, etc. Essa prática profissional não deve ser
realizada de forma isolada e tão pouco sem estabelecer redes de contatos.
Ao se falar em “prática profissional” usualmente tem-se em mente “o que o assistente social faz”, ou seja, o conjunto de atividades que são desempenhadas pelo profissional. A leitura hoje predominante da “prática profissional” é de que ela não deve ser considerada “isoladamente”, “em si mesma”, mas em seus “condicionantes” sejam eles “internos” – os que dependem do desempenho do profissional – ou “externos” – determinados pelas circunstâncias sociais nas quais se realiza a prática do assistente social. (IAMAMOTO, 2009, p. 94)
Pereira (2003) diz que este fazer profissional do assistente social junto às
juventudes, abre outro campo no mercado profissional, sendo que requer novas
habilidades e competências, tendo que se apropriar de referenciais teórico-
metodológicos. Sua atuação profissional deve ser baseada na garantia de direitos,
vendo o jovem como sujeito de direitos.
Na atuação com os jovens, outro fator importante a ser considerado é de ter
o jovem como protagonista, ou seja, o assistente social é apenas um assessor,
fazendo com que o jovem desempenhe o seu papel, não apenas como tarefeiro,
mas que eles participem e tenham ações de implementação em PPJ‟s. O
Protagonismo Juvenil deve ser priorizado, focando a fomentação e formação de
lideranças sócio-políticas e militâncias em movimentos sociais.
O Serviço Social é uma profissão cujos seus representantes estão aptos a
trabalharem em diversas áreas. Mesmo havendo assistentes sociais envolvidos em
diversos espaços, trabalhando com jovens, ainda assim ressaltamos a necessidade
59
do Serviço Social desenvolver trabalhos diversificados com as juventudes, levando-
os ao envolvimento de discussões que remetam aos direitos dos jovens, as
definições do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto da Juventude, do
CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude), dos Conselhos e Secretarias
Estaduais e Municipais, nos Conselhos Tutelares, etc. Desse modo, lutar e garantir
direitos a esta parcela da sociedade.
3.2 A pesquisa: tipo, instrumentos e métodos para a coleta de dados.
Este estudo foi realizado por meio de estudos e pesquisas bibliográficas
(livros, artigos, textos, revistas, sites e documentários). Como pesquisa de campo,
num primeiro momento visando analisar o despertar do jovem para o Protagonismo,
e de acordo com o pré-projeto que foi construído, tinha-se a pretensão de agendar
visitas às reuniões e atividades de alguns grupos de jovens (grupos de base) ligados
à Pastoral da Juventude, onde seria executado um questionário em formato de
entrevista, sendo quantitativo e qualitativo. Assim, iriam participar da pesquisa:
jovens com idade entre 15 e 29 anos. Todos os grupos seriam da Capital de São
Paulo.
Em um segundo momento seriam agendadas entrevistas com cinco jovens
da Capital de São Paulo, que atualmente participam/ militam em espaços de
atuação, e seriam somadas as observações do pesquisador.
Durante a construção deste trabalho, por meio de pesquisas e vivências, foi
concluído que tal metodologia e instrumentação não seriam as mais adequadas e
nem suficientes para a temática abordada, sendo que outro método poderia
possibilitar melhores resultados, partindo da certeza que os sujeitos que
participariam da pesquisa poderiam se interagir de forma mais dinâmica e direta.
Tendo em vista que a elaboração deste estudo se trata de um processo em
construção e passível de mudanças, foi decidido que a metodologia para a pesquisa
de campo seria alterada.
Desse modo, o método escolhido, por proporcionar melhores resultados
dentro da temática, foi o Grupo Focal, já que todos os sujeitos possuem uma
vivência comum com o tema deste estudo e também por tal método proporcionar a
captação,
60
[...] a partir das trocas realizadas no grupo, conceitos, sentimentos, atitudes, crenças, experiências e reações, de um modo de não seria possível com outros métodos, como, por exemplo, a observação, a entrevista ou questionários. O grupo focal permite fazer emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto da interação criado, permitindo a captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar. (GATTI, 2005, p. 9)
Para maiores esclarecimentos, tendo em vista que se trata de um método
pouco utilizado por pesquisadores, especialmente do Serviço Social, faz-se
necessário uma contextualização de Grupo Focal, o que será feito no decorrer deste
item, juntamente com a descrição do caminho percorrido da pesquisa de campo.
Por ser tratar de uma pesquisa onde os sujeitos são jovens que
desenvolvem uma participação sócio-política, o método do Grupo Focal foi escolhido
por proporcionar um estreitamento na relação dos sujeitos, um ambiente favorável
para a partilha de idéias, ou seja, uma interação maior, sendo assim,
Essa técnica distingue-se por suas características próprias, principalmente pelo processo de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados. Em uma vivência de aproximação, permite que o processo de interação grupal se desenvolva, favorecendo trocas, descobertas e participações comprometidas. Também proporciona descontração para os participantes responderem as questões em grupo, em vez de individualmente. Essa técnica facilita a formação de idéias novas e originais. (RESSEL et al, 2008, p. 780)
Segundo Powel e Single apud Gatti (2005 p. 7), um grupo focal “é um
conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e
comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal”.
Pode-se afirmar que o método do Grupo Focal, trata-se de uma estratégia
para uma pesquisa qualitativa, onde é realizado um grupo de discussão, com
poucas pessoas, de acordo com as literaturas, recomenda-se de seis a 12 pessoas.
O Grupo Focal possibilita obter informações mais detalhadas na temática proposta.
Ao realizar a técnica do Grupo Focal, pode-se destacar como vantagens, a
rapidez na execução da pesquisa, a grande interação entre os integrantes do grupo,
a possibilidade de interagir no campo das idéias, a profundidade de informações
colhidas, proporciona uma ágil transcrição das falas e registros.
Resumindo, dentro de uma discussão dinâmica é possível que os
integrantes do grupo desenvolvam melhor a temática proposta, sendo esses com
61
vivências muito próximas, proporcionando então um estreitamento das relações
resultando em uma participação mais efetiva, menos informal, com depoimentos de
sua trajetória histórica, indo de encontro com a História Oral.
Com tal método de pesquisa pode-se ainda usufruir de outros recursos,
instrumentos e métodos para um melhor resultado, sendo assim no decorrer do
Grupo Focal, a metodologia da História Oral faz-se de grande importância ser
composta à reunião, onde cada um expõe sua trajetória de vida (dentro do tema
proposto), realizando então um regaste de sua história. Por meio desta é possível
expressar “a consciência da historicidade da experiência pessoal e do papel do
individuo na história da sociedade em eventos públicos” (PORTELLI, 2001, p. 14);
neste caso especificamente na PJ.
O método da História Oral neste estudo se fez num olhar sociológico, dando
destaque ao relato da vida e experiências na busca e apreensão do objeto de
estudo, conforme explica Ataíde (2008, p. 36), para assim poder conhecer melhor
seus significados então atribuídos com relação à sua participação na PJ, em outros
espaços sócio-políticos e de sua formação como liderança.
Após decidir pelo método, optou-se pelo Grupo Focal, enquanto suporte
qualitativo da pesquisa e se deu no momento da escolha dos sujeitos participantes
mediante um convite aos mesmos.
Num primeiro momento para escolher os sujeitos para a pesquisa foi
utilizado como primeiro recurso a rede social do Orkut28, realizando uma pré-
seleção, um pré-convite.
Foi decidido que o número de jovens para participarem da pesquisa, seria de
seis jovens, com idade entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros, inseridos na PJ e
em espaços sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos,
sindicatos, ONGs, etc.), localizados na Capital do Estado de São Paulo.
Nesse pré-convite, onde o número de pessoas era superior ao número
pretendido de participantes no grupo, foi perguntado sobre a sua participação nos
espaços sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos,
sindicatos, ONGs, etc.), na PJ e disponibilidades de tempo para participação;
mediante os retornos e respostas foram selecionadas algumas pessoas para
28
O Orkut é uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de Janeiro de 2004 com o
objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut, acessado em 15/03/2011.
62
comporem o Grupo Focal, dentro das características do objeto de estudo deste
trabalho.
Realizado este primeiro contato e pré-seleção, foi elaborado um convite
oficial para a participação do Grupo Focal (APÊNDICE D) e enviado para o e-mail
particular destes sujeitos. No corpo deste e-mail foram solicitados dados, tais como,
nome completo, documentação e contatos (número do telefone fixo e celular).
No intuito de enriquecer a pesquisa e melhor executar a reunião, foi
elaborado um planejamento, ou seja, um roteiro/ cronograma para a execução do
Grupo Focal (APÊNDICE A), pois desse modo facilitaria a organização e o
desenvolvimento do mesmo, antes e durante a reunião. Tal concepção de planejar
pode-se afirmar que se dá, não só por compor a metodologia, mas também pelos
conhecimentos adquiridos durante a formação acadêmica, em especial nas aulas de
“Planejamento Social” e “Avaliação de Projetos”.
Em formato de organização, seguindo o roteiro/ cronograma elaborado, foi
realizado um roteiro de questões semi-estruturado (APÊNDICE B), visando conhecer
a participação e experiências dos sujeitos e seu protagonismo na PJ, ou seja, dentro
dos objetivos da temática deste estudo. Gatti (2005), sobre a construção do roteiro,
explica que o mesmo deve ser,
[...] elaborado como forma de orientar e estimular a discussão deve ser utilizado como flexibilidade, de modo que ajustes durante o decorrer do trabalho podem ser feitos, com abordagem de tópicos não previstos, ou deixando-se de lado esta ou aquela questão do roteiro, em função do processo interativo concretizado. (GATTI, 2005, p. 17)
Ainda sobre a elaboração de um roteiro para o Grupo Focal, a referida
autora diz que,
Cabe considerar que a elaboração do roteiro para o trabalho com o grupo focal tem que ser muito cuidadosa, dentro dos propósitos da pesquisa. No entanto, pode ocorrer que, durante o processo de discussão, um ou outro tópico previsto para um momento posterior venha a ser tratado de modo suficiente antecipadamente (GATTI, 2005, p. 17)
Desse modo a utilização desse instrumental se fez de suma importância
para o desenvolvimento da pesquisa. Sendo que, conforme explicado acima, o
63
mesmo não foi executado de forma engessada, onde muitas falas dos sujeitos já
supriam um ponto ou outro contido no roteiro semi-estruturado.
Como já mencionado, sendo o Grupo Focal cabível de utilizar outros
instrumentos e no sentido de obter informações mais detalhadas, como contatos
pessoais (telefones, endereço, e-mails, etc.), detalhes sobre a participação dos
sujeitos na PJ e em outros espaços sócio-políticos e complementando as
informações colhidas durante o debate na reunião, foi elaborado e aplicado um
questionário complementar para a pesquisa (APÊNDICE C), o que também facilitaria
na descrição dos sujeitos.
O emprego deste questionário se deu no momento inicial, junto com o
preenchimento dos termos de consentimento livre e esclarecido e de concessão de
uso de imagem (ANEXOS A1 e A2), antecedidos de explicações sobre o
desenvolver do grupo, ou seja, que iríamos realizar uma reunião, onde o
pesquisador teria como papel ser um moderador e que apenas direcionaria alguns
pontos para discussão (conforme roteiro de questões semi-estruturado), sendo eles
livres para discutirem.
Foram expostos os objetivos da pesquisa e as cláusulas contidas nos termos
de consentimento, juntamente com uma auto-apresentação e também dos
assistentes.
Foi explicado também sobre os recursos ali dispostos e que, com o único
objetivo de transcrição da pesquisa, toda a reunião seria filmada.
Para a realização do Grupo Focal há a necessidade de se proporcionar um
espaço para que possa ocorrer o encontro.
Após levantar alguns possíveis lugares, foi decidido que a Universidade de
Santo Amaro (UNISA) seria a ambiência, por já dispor de infra-estrutura (sala com
mesas e cadeiras, tomadas elétricas, banheiros, etc.) e recursos básicos (lousa, giz,
etc.).
Sendo assim seria disposto um maior conforto aos integrantes do grupo.
Sobre isso Gatti (2005) descreve,
O local dos encontros deve favorecer a interação entre os participantes. Pode-se trabalhar em cadeiras avulsas, em circulo, ou em volta de uma mesa. Os participantes devem se encontrar face a face para que sua interlocução seja direta. Como os participantes permanecerão um tempo razoável em reunião, certo conforto é necessário. (GATTI, 2005, p. 24)
64
A solicitação do espaço na UNISA foi realizada junto a Coordenação do
curso de Serviço Social, obtendo então a devida autorização para que fosse utilizada
uma sala durante o sábado no período da manhã.
Pensando na disposição do ambiente e no conforto dos integrantes, a sala
foi arrumada com as cadeiras formando circulo, pois desse modo os integrantes do
grupo poderiam conversar face a face, conforme pode ser visto na imagem a seguir.
Figura 8 - Organização da sala em círculo e café da manhã (ao fundo) - Grupo Focal.
Levando em consideração que para uma pesquisa efetiva, com registros de
todas as falas, gestos, emoções e observações há a necessidade de se ter pelo
menos um relator/a, conforme explica Gatti (2005),
Há várias maneiras de se registrar as interações. Uma delas é o
emprego de um ou dois relatores, que não interferem no grupo e fazem anotação cursiva do que se passa e do que se fala. Uma checagem depois da sessão deve ser feita de imediato entre relator (es) e moderador. [...] recomenda-se que se façam anotações escritas, que se mostram essenciais para auxiliar as análises. Essas anotações podem ser feitas pelo moderador, mas é preferível que seja realizada por um assistente, ou por ambos. Elas serão úteis para sinalizar aspectos ou momentos importantes, falas significativas detectadas no instante mesmo, na vivência do momento [...] (GATTI, 2005, p. 24-27)
65
E tendo em vista que o pesquisador está construindo este estudo em caráter
individual; para um melhor rendimento e aproveitamento do método do Grupo Focal,
foi necessário fazer um convite para outro acadêmico/a e pesquisador/a para
colaborar como relator/a no desenvolver da pesquisa. Para tal foi realizado um
convite oficial (APÊNDICE D) para Valéria C. Landi29, que logo se dispôs, aceitando
o convite.
Gatti (2005, p.24-25) explica que o “meio mais usado para se registrar o
trabalho com um grupo focal é a gravação em áudio” e outro possível seria o
videoteipe. Para a realização desta pesquisa foi escolhido como meio para registro o
videoteipe, ou seja, registrar por meio de gravação Áudio/Visual, filmando a reunião;
o que possibilitou registrar todos os momentos, falas e expressões, e que facilitou no
momento da transcrição da mesma, pois no grupo estariam no mínimo seis pessoas
conversando/ debatendo num mesmo momento. Foi constatado que apenas a
gravação em áudio poderia resultar numa possível confusão das vozes na hora de
transcrever os registros.
Desse modo foram solicitados alguns materiais de Áudio e Vídeo que a
UNISA dispõem junto ao laboratório de Rádio e TV, sendo que foi necessário para a
realização da gravação da pesquisa: uma filmadora com microfone, tripé, cabos de
eletricidade e bateria e duas fitas VHS. Para oficializar o empréstimo desses
materiais foi necessário assinar um Termo de Responsabilidade (ANEXO B).
Cuidados para que uma boa gravação seja garantida são essenciais. Por isso, a forma de gravação deve ser cuidadosamente testada, e todos os aspectos técnicos devem ser previstos e assegurados para obter-se um bom registro. Deve-se cuidar da qualidade dos microfones e dos aparelhos de gravação [...] (GATTI, 2005, p. 25)
Nesse sentido, visando uma melhor qualidade da gravação do videoteipe e
manuseio correto dos recursos, foi realizado convite (do mesmo modo que feito para
a relatora) ao Rafael O. Pereira30, pois o mesmo possui conhecimentos específicos
na área.
29 Discente no curso de Serviço Social pela Universidade de Santo Amaro – UNISA,
atualmente no 8º semestre. Pertencente à mesma turma do pesquisador deste estudo. Participante também da PJ. 30
Discente no curso de Serviço Social pela Universidade de Santo Amaro – UNISA,
atualmente no 5º semestre. Participa junto ao pesquisador deste estudo, no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Juventudes na UNISA.
66
Vale expor ainda, que ao final da reunião do Grupo Focal, que teve uma
duração média de 2 horas, foram realizados os devidos agradecimentos,
oficializando o comprometimento em divulgar os resultados da pesquisa e também
foram entregues alguns souvenires31 aos jovens participantes e aos assistentes
convidados, como forma de reconhecimento e agradecimento pela participação.
O tipo de pesquisa, os instrumentos e métodos para a coleta de dados,
foram todos escolhidos visando um melhor aproveitamento e conceitualização deste
estudo, indo de encontro com toda a parte teórica descrita nos capítulos 1 e 2, com
a temática, os problemas e hipótese levantados. Para a realização de uma análise
efetiva e que proporcione um melhor rendimento ao trabalho.
3.3 Os jovens/ sujeitos participantes do Grupo Focal.
A pesquisa foi realizada junto a cinco jovens inseridos na PJ e em espaços
sócio-políticos (movimentos sociais e estudantis, associações, partidos, sindicatos,
ONGs, etc.), localizados na Capital do Estado de São Paulo.
Os sujeitos entrevistados são jovens de ambos os sexos, na faixa etária de
21 a 28 anos, dentro da faixa proposta de 15 a 29 anos.
Em concordância ao Pré-Projeto, foram realizados convites a jovens
residentes na Capital de São Paulo, sendo que foram convidados, dois jovens da
Zona Leste, um da Zona Oeste e três da Zona Sul; porém, num ultimo instante um
dos convidados residente na Zona Leste informou que não poderia ir, sendo assim
foi estendido um convite para outra pessoa, que demonstrou interesse em participar,
porém reside na Zona Sul.
No dia do Grupo Focal estiveram presentes: quatro jovens da Zona Sul e um
da Zona Oeste, sendo que o outro jovem da Zona Leste não pode comparecer
devido problemas de saúde, que segundo Gatti (2005, acaba por ser um risco a ser
considerado quando se escolhe o Grupo Focal como metodologia.
Os cinco jovens presentes possuem as seguintes idades: 21, 22, 24 e dois
com 28 anos.
31
No embrulho continha: uma caneca, um chaveiro e um cordão de pescoço, todos com o
símbolo e dizeres da Pastoral da Juventude. Os mesmos foram adquiridos na “Cooperativa A Cor da Juventude” (www.cooperativapj.hdfree.com.br), onde os membros dessa cooperativa são integrantes e militantes da PJ, nela são comercializados souvenires e camisetas relacionados à PJ.
67
Todos estão cursando ou já cursaram nível superior. Os cursos estão
relacionados com as áreas das ciências humanas e biológicas, sendo que um cursa
faculdade em Geografia na Universidade de São Paulo (USP), outro Turismo e
Lazer, também na USP, outro Educação Física na UNISA, já concluído; e os demais,
Serviço Social, sendo que um já concluiu o curso, ambos também na UNISA. Todos
trabalham ou estagiam, com exceção de um jovem que apenas estuda.
Todos participam e exercem funções na PJ, sendo que um tem como função
a coordenação diocesana, três exercem o papel de assessores do grupo de base,
um é coordenador de grupo de base e outro no momento apenas participa do grupo
de base, porém saiu recentemente da coordenação paroquial da PJ.
Todos os jovens possuem participação e militância em outros espaços, fora
a PJ; sendo que em alguns dos casos possuindo certa ligação também com a ICAR,
ou de origem da PJ. Os espaços são caracterizados como movimentos de cultura,
arte e educação; também de manifesto e organização juvenil.
Todos possuem participação na PJ superior a dois anos; Mesmo
participando de outros espaços os mesmos continuam exercendo militância na PJ,
conforme já dito, em formato de lideranças e coordenações.
Vale ressaltar que praticamente todos já tiveram algum tipo de contato, ou
mesmo já se conheciam, não só pelo fato de estarem na mesma região, mas pela
oportunidade de participarem de encontros e formações dentro da PJ.
3.4 Objeto e objetivos da pesquisa: geral e específicos.
Este trabalho tem como objeto a participação/ militância de jovens nas
idades entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros, nos espaços sócio-políticos e em
movimentos sociais, localizados na Capital do Estado de São Paulo que estão
inseridos (ou já estiveram) na Pastoral da Juventude. Enquanto objetivo geral desta
pesquisa teve como premissa entrevistar jovens nas idades entre 15 e 29 anos, de
ambos os gêneros, que participam (ou já participaram) da Pastoral da Juventude,
para compreender como o Protagonismo Juvenil foi se construindo. Para os
objetivos específicos foram eleitos os seguintes, ou seja, compreender se a
participação dos jovens na Pastoral da Juventude foi determinante para despertar os
interesses pela atuação nos espaços sócio-políticos, bem como analisar a visão que
os jovens detêm enquanto protagonistas das suas histórias.
68
3.5 O problema e a hipótese.
O presente estudo teve como indagação o que significa a PJ na vida dos
sujeitos que dela participam, bem como se essa participação os conduz ao
Protagonismo Juvenil. Nesta direção a questão norteadora nos indica que a Pastoral
da Juventude colabora no despertar das Juventudes ao Protagonismo Juvenil,
formando lideranças sócio-políticas.
3.6 Análises dos resultados.
A partir dos resultados obtidos na pesquisa por intermédio da técnica de
Grupo Focal passa-se à análise propriamente dita. Esclarece-se que os sujeitos
entrevistados foram unanimes em autorizar a publicação por inteiro dos seus nomes,
no entanto, objetivando preservar as suas identidades utilizar-se-á a identificação de
PEJOTEIRO ou PEJOTEIRA, seguido de uma numeração, exemplo: PEJOTEIRA 1,
PEJOTEIRO 2 e assim sucessivamente.
Diante das narrativas dos sujeitos, elegeu-se enquanto categorias de análise
aquelas que são significativas e demonstram a visão que os sujeitos manifestaram
durante a realização do Grupo Focal.
Assim passa-se a apresentar as referidas categorias, a saber:
3.6.1 O inicio de tudo...
Pejoteiro é para a vida toda [...] PJ é para a sua vida!
(PEJOTEIRO 5)
De acordo com os fragmentos das narrativas a seguir, pode-se perceber que
o inicio desses jovens junto à PJ se deu ainda na fase da adolescência, com uma
idade média de 15 anos, fase essa em que os jovens possuem forte necessidade de
autoconhecimento e de participação em algum grupo social.
Um fator importante a ser referido é a via da curiosidade e geralmente os
jovens que se inserem na PJ já tinham um prévio contato com a mesma, sendo
então despertadas as vontades de conhecer com maior profundidade o referido
grupo.
69
Eis as narrativas:
[...] eu entrei na Pastoral com 14 anos no grupo de base, na paróquia São Francisco de Assis, no Valo Velho [...] 14 anos era a idade para entrar lá [...] eu entrei na Pastoral para conhecer, eu não conhecia, os jovens tinham um grupo enorme que chamavam atenção pelas músicas diferentes [...] eu gostei e não sai mais. Estou desde os 14 anos [...] (PEJOTEIRA 1)
[...] tenho 28 anos, [...] também comecei minha caminhada de Pastoral da Juventude junto com a “Pejoteira 2”, mesmo processo, o do seminarista [...] do “Verbo Divino”32, que tem todo esse olhar social, trabalham mesmo com o povo, com as CEB‟s33, foi o primeiro contato que tive [...] (PEJOTEIRA 4).
Confirmando ainda a questão da idade uma das entrevistadas, se
expressou-se da seguinte forma:
[...] participo então do grupo de jovens da minha paróquia desde os meus 15 anos [...] E é engraçado também fazendo essa retrospectiva e entender que mesmo que sem ter clareza de qual era o carisma e sem entender o momento que a PJ estava passando [...] mesmo sem clareza do que estava acontecendo naquele momento às pessoas abraçaram aquilo, independente da bandeira que estava sendo levantada [...] (PEJOTEIRA 3).
Pode-se inferir ainda que esse contato inicial é uma maneira de
posteriormente dar inicio à participação no grupo de base da PJ onde há motivações
para que permaneçam no grupo em questão. Essa permanência pode ser
interpretada como algo importante na vida desses jovens, levando-se em conta as
propostas e métodos que a PJ utiliza nas reuniões dos grupos de base somando-se
à necessidade que os jovens possuem de estarem inseridos em grupos,
estabelecendo relações.
A análise das narrativas, especialmente quando expõem que pertencem à
PJ há um tempo considerável e continuam até este momento, leva-nos a crer que
além do espaço ser de pertencimento, significa ainda que faz parte de um processo
de formação34 e compromissos assumidos dentro do grupo e junto à comunidade em
32 Verbo Divino: Congregação do Verbo Divino, é uma congregação missionária ligada a
ICAR. Fundada em 1875. Disponível em: www.verbodivino.org.br, acesso em: 21/04/2011. 33
Comunidades Eclesiais de Base. 34 Conforme explicado no item 2.1, p.42 deste trabalho.
70
que estão inseridos, como a coordenação do próprio grupo ou em outras instâncias
da PJ ou até mesmo em outras Pastorais e espaços externos.
A PEJOTEIRA 3, que entrou no grupo de base aos 15 anos, permanece no
grupo até os dias atuais, ou seja, nove anos depois atuando como representante de
Setor dentro da Diocese de Santo Amaro.
[...] tenho 24 anos, moro também na região da Zona Sul, [...] eu acabei de me formar em Serviço Social [...] estou como representante do Setor Pedreira ainda, lá pela Pastoral na minha região (PEJOTEIRA 3)
Já a PEJOTEIRA 1 entrou na PJ aos 14 anos e atualmente, com 22 anos,
vem passando por um processo de formação e motivação desenvolvendo funções
de coordenadoria dentro do seu grupo,
[...] depois assumi a coordenação [...] agora para esse ano a gente formou uma nova equipe de coordenação para tentar fazer novamente o grupo de base e formar mais as pessoas, para elas não saírem de lá com uma idéia que não é realmente da PJ. (PEJOTEIRA 1)
É importante ressaltar que, há ainda os jovens que já participavam de algum
tipo de grupo de jovens, porém sem ligação à PJ ou mesmo à ICAR.
[...] Tenho 28 anos, moro no Jardim Miriam [...] o meu começo na pastoral, na verdade nós tínhamos um grupo de jovens, mas não tínhamos muito contato com a Pastoral da Juventude ainda, aí entrou um seminarista que fez essa ligação do grupo com a Diocese, onde a gente conheceu a Pastoral da Juventude [...] A gente era Pastoral da Juventude, mas não sabia! [...] a gente começou a participar da pastoral, daí a partir disso, tentando arrumar o setor, depois a gente resolveu participar da equipe de animação da Diocese, tentando animar um pouquinho e hoje estou na coordenação diocesana junto com outros dois jovens [...] (PEJOTEIRA 2)
[...] minha caminhada de Pastoral da Juventude na verdade vem um pouquinho antes, sem conhecer a Pastoral da Juventude. Eu participava do grêmio estudantil da escola, participava da rádio dentro da escola, comunicação, e depois eu parei e aí sim conheci a Pastoral da Juventude, na via sacra, em uma encenação dos jovens na praça e onde foi o meu primeiro contato com a Pastoral da Juventude [...] e aí começou minha caminhada mesmo, nesse mesmo instante já me chamaram – até pulei etapa – me chamaram para a coordenação, por já ter esse caminho de coordenador do grêmio, de ação política dentro da escola e aí já fui coordenando um grupo de jovens, no qual fiquei dois anos como coordenador e depois
71
fui para a coordenação paroquial, onde fiquei um ano [...] (PEJOTEIRO 5)
Desse modo, pode-se confirmar que “o inicio de tudo...”, para esses jovens,
ocorre por intermédio de uma busca constante onde são movidos por estímulos que
incitam a se engajarem num processo de sólida formação, garantindo suas
permanências dentro dos grupos de base. São narrativas que nos remetem a uma
compreensão além do simplismo, pois não basta o desejo individual de permanência
no grupo; há a necessidade de um bom acolhimento e de esclarecimentos sobre as
diretrizes daquele grupo, além de meios e formas para cativá-los e fazê-los
pertencentes.
3.6.2 A construção do protagonismo.
[...] a questão do protagonismo mesmo é importantíssima, por que na Pastoral da Juventude o jovem atua mesmo.
É ele quem faz as coisas. (PEJOTEIRA 2)
De acordo com Boran (2003), a PJ desperta no jovem o seu protagonismo,
capacitando-os como jovens conscientes e críticos. Esses se inserem em outros
espaços, pois, ao terem essa formação e esse contato com a PJ, sentem a
necessidade de fazer algo a mais e de ocupar outros espaços, pois em muitos casos
o grupo e a comunidade já não são mais suficientes para que o mesmo possa expor
suas idéias ou mesmo agir e assim buscar as mudanças que julgam serem
importantes e necessárias. Para tal, a PEJOTEIRA 2, faz o seu comentário,
[...] A partir do contato com a Pastoral da Juventude eu acho que abriu meus horizontes, aí você começa a buscar outras coisas a mais. A comunidade já não é tão mais suficiente, a gente trabalhava com a comunidade, mas já não bastava mais, daí quando você entra em contato com outros jovens, aí que muda mesmo! [...] (PEJOTEIRA 2)
Ainda nesta direção a PEJOTEIRA 3, expõe sobre a questão da formação e
do preparo para essa ação protagonista que, após o amadurecimento e despertar,
ainda entende que é necessário a preparação para suas ações, ou seja, também um
embasamento teórico, por meio de estudos e formações.
72
[...] as pessoas amadurecem ao ponto de perceberem que, está dentro da paróquia já não é o que é mais certo, quer dizer, ir além dos muros; e a preocupação com a questão social, com as expressões [...] de repente a necessidade da gente se sentar e estudar um pouco mais sobre a igreja, no que a gente comunga [...] tentando entender um pouco disso, vejo a necessidade que a gente tem de voltar para a base, voltar para a comunidade e dizer: “e aí, o que a gente vai fazer? [...] agora é hora de aplicar!”. [...] (PEJOTEIRA 3)
Em outro momento a mesma comenta sobre a necessidade do estudo e o
quanto essa formação e embasamento teórico são necessários para uma ação mais
efetiva, para a construção do seu protagonismo e fomentação para militância e
inserção em espaços sócio-políticos.
[...] Então a necessidade do estudo é uma coisa que eu vejo muito forte exatamente falando da Pastoral da Juventude que é uma coisa que a gente se cobra muito e aí enfim... a gente consegue ter uma ação mais efetiva, exatamente por isso, por causa desse embasamento e tudo mais que a gente vai se aprofundando aí e tudo mais. E aí uma coisa super interessante, quando a gente pensa também pelo viés político-religioso, assim não dá para descartar a Pastoral da Juventude, faz parte de um contexto religioso e tudo mais, só que o engajamento ele é tenso muitas vezes, se eu estou na PJ, espera-se que se faça algo, espera-se que não seja uma pessoa parada, espera-se que tenha gás e tudo mais. Daí eu lembro do Frei Betto dizendo, quando ele é questionado sobre a questão da política dentro da igreja: “O que tem a ver política?”, quando ele era questionado sobre isso, daí ele respondia do jeito simples dele, e direto de ser, falando que, “não poderíamos esperar outra coisa, já que nós somos discípulos de um preso político”. [...] (PEJOTEIRA 3)
Dick (1999) traz alguns pontos com relação à formação e métodos utilizados
na PJ, fornecendo indicações importantes sobre a linha social e política da Pastoral
e a capacitação do jovem, a saber:
[...] formação de assistentes e lideranças; a busca de uma prática a partir da realidade, considerando questões sociais e políticas; a formação na ação; a descoberta da necessidade de se lutar pela transformação das estruturas sociais, com a ajuda das análises de conjuntura e das Semanas de Estudo; a necessidade e o uso de espaços de revisão de vida e de prática; a compreensão da fé vivida no engajamento social; o uso de uma pedagogia para despertar o espírito crítico; (DICK, 1999, p.10)
Outro fator importante é a relação que os jovens participantes dos grupos de
base adquirem a partir do contato com outros jovens, de outros lugares e realidades
que, somando com as formações recebidas, os capacita para a prática protagonista.
73
[...] objetivo que é atender os socorros, ouvir os gritos de socorro das juventudes. Mas é a partir desse olhar de caminhada, participando da pastoral, conhecendo outros jovens [...] de outros estados, com as reuniões, com os encontros nacionais, participando de CDL35, enfim, esses cursos que a Pastoral oferece [...] A partir de tudo isso, conhecendo essa realidade e conforme crescendo, participando de outras coisas [...] a gente vê que o espaço da comunidade é pouco, a gente começa a se incomodar com tudo que acontece ao nosso redor [...] A gente se junta, começa a pensar junto o que a gente pode fazer de diferente. Com todo esse conteúdo, com toda formação que a Pastoral traz para a gente, para essa visão, para esse olhar social [...] do que está acontecendo na nossa volta, o que a gente pode fazer, não só enquanto “grupinho” que se reúne para discutir sexualidade, afetividade, enfim. Mas discutir questões que estão nos incomodando [...] com um olhar assim, de solidariedade, de protagonismo, até a gente atuar olhando a questão dos direitos mesmo, de políticas públicas [...] muitas coisas são quebradas, por conta dessa formação que a gente tem e que é bem rica, como a “PEJOTEIRA 2” trouxe, não é aquela coisa da gente se reunir, rezar e formação. Não, a gente tem, tem leituras, a gente estuda, a gente traz coisas [...] e leva para a sua formação independente do que você vai fazer, onde você vai atuar. (PEJOTEIRA 4)
“Eu entendo que a gente tem que sair também para dar espaço para os
outros jovens terem esse contato de comunidade” (PEJOTEIRA 4). Dentro do
processo de construção e formação, os jovens, principalmente quando assumem
algum tipo de coordenação, entendem que faz-se necessário a capacitação de
outros jovens como meio de abrir espaços para futuras atuações, ou seja, ocorre, na
PJ, o discernimento de que todos possam ter a mesma oportunidade. Desse modo e
dentro das diretrizes é importante abrir espaços de oportunidade para que o outro
receba igualmente uma formação e motivação, favorecendo para que o
protagonismo e senso-crítico sejam despertados. Para complementar esse ponto, a
PEJOTEIRA 3 explica que,
[...] dando a oportunidade mesmo para o outro; é assim que eu vejo isso hoje, e graças a isso eu tive então um contato maior com a pastoral, me envolvendo além da paróquia, em outros grupos e hoje esse caminho, esses institutos todos que a gente acaba fazendo parte ou estando por lá, são frutos dessa caminhada inicial desde os 15 anos [...] (PEJOTEIRA 3)
Portanto, sendo a Pastoral da Juventude importante nesse processo de
fomentação do protagonismo juvenil, formando os jovens para serem lideranças
35 Curso de Dinâmicas para Líderes, oferecido pelo CCJ - Centro de Capacitação da
Juventude.
74
sócio-políticas, é certo dizer que “o jovem acaba abrindo os seus horizontes, não
ficam focados somente no „eu acho isso‟ [...] ele começa a ser protagonista do seu
conhecimento” (PEJOTEIRO 5). Essa narrativa vem balizar todo o referencial teórico
abordado na construção deste trabalho, bem como a hipótese que foi levantada,
sobre como o protagonismo juvenil foi se construindo e como a Pastoral da
Juventude entra como um instrumento facilitador. Havendo uma chance deste
protagonismo se concretizar, pois “é nessa questão do autoconhecimento, para aí
você poder questionar a estrutura e tornar-se protagonista” (PEJOTEIRA 1)
Complementando, o Marco Referencial da PJ, nº 76, ressalta que,
O jovem que percorreu todas as dimensões do processo de formação integral na fé sente-se capacitado de assumir o compromisso para testemunhar sua fé no seguimento de Jesus Cristo, como também de anunciar a Boa Notícia de Jesus na militância na comunidade eclesial e na militância política e social36. (MARCO REFERENCIAL DA PJ, nº 76)
Neste sentido, a PJ vai além das paredes das igrejas, suas ações se dão na
sociedade e com isso resulta na formação critica e sócio-política dos jovens que nela
participam, conforme já exposto. Na PJ os jovens são despertados a olharem o
mundo com uma visão mais aguçada e para não simplesmente aceitarem as
realidades impostas pelo sistema no qual estamos inseridos.
3.6.3 A participação nos espaços sócio-políticos e movimentos sociais.
[...] Eu estou aqui me perguntando:
“Quais são os lugares que nós ainda não estamos?” [...]
(PEJOTEIRA 3)
A epígrafe acima nos remete à reflexão de que o jovem participante, ou
mesmo que já participou da PJ, se insere em outros espaços de participação e
militância, sendo que a PJ colabora no despertar das Juventudes ao Protagonismo
Juvenil, formando lideranças sócio-políticas.
36 Grifo do autor.
75
Durante sua participação e formação nos grupos de base os jovens são
motivados a despertarem seu senso-crítico o que os leva a visualizarem a sociedade
de outro modo,
[...] enquanto participantes da Pastoral da Juventude nos reunimos para discutir, por exemplo, a realidade dos nossos jovens no bairro do Jardim Miriam, e é aí que entra a questão do Movimento Queremos Cultura que a “Pejoteira 2” colocou, e que eu também faço parte. A gente começou a se incomodar com os espaços que a gente tinha no bairro, que de repente estava sendo tomado sem ninguém pedir a nossa permissão [...] quando a gente começou com o “Fé e Política”, depois que a gente saiu, com a questão chega só de grupo de jovens, hoje a gente tem que atuar em outras instâncias a gente foi para o “Fé e Política” [...] (PEJOTEIRA 4)
O presente estudo teve como indagação o que significa a PJ na vida dos
sujeitos que dela participam, bem como se essa participação os conduz ao
Protagonismo Juvenil.
Para melhor retratar este importante aspecto na vida dos jovens seguem
algumas narrativas apresentadas pelos sujeitos da pesquisa quando descrevem
sobre sua participação nos movimentos e espaços sócio-políticos, vejamos:
[...] sou voluntária na nossa biblioteca também, que a pastoral que começou que é o EJAAC, Espaço Jovem Alexandre Araujo Chaves, que o idealizador bem, bem antes de eu entrar na PJ, em noventa e “trá-lá-lá-lá” e aí ele acabou falecendo [...] a gente da Pastoral da Juventude reabriu a biblioteca e a gente trabalha como voluntário [...] Eu danço em uma companhia amadora de dança, lá de Itapecerica, a gente está com um projeto que fala da trajetória do negro no Brasil. A gente está tentando o programa do VAI37 e outros projetos de fomento à dança, por que lá o nosso foco é ir aos CEU‟s38, a gente promove debates depois da apresentação, porque é contemporâneo [...] a gente promove debates para também discutir isso e fomentar tanto a dança, a arte da dança e a arte de expressar, de levar as idéias e tudo mais. (PEJOTEIRA 1)
[...] Hoje a gente trabalha com o “Movimento Queremos Cultura no Bairro” [...] a partir do grupo “Fé e Política” que a gente resolveu montar na comunidade, a gente pensou, começou a se envolver um pouquinho nessa luta do bairro, de cultural mesmo! A gente te um
37 Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais - foi criado pela lei 13.540 (de autoria
do vereador Nabil Bonduki) e regulamentado pelo decreto 43.823/2003, com a finalidade de apoiar financeiramente, por meio de subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e de regiões do Município desprovidas de recursos e equipamentos culturais. Disponível em: www.sobreovai.blogspot.com, acesso em: 21/04/2011. 38
Centro Educacional Unificado.
76
espaço lá que era um sacolão da prefeitura, que já foi desativado e o município doou o lugar, o terreno para o Estado construir um Poupa-Tempo, só que a comunidade sempre vem lutando por um Centro Cultural e já estava no projeto diretor no governo da Marta39, tinha tudo para ser um Centro Cultural e quando a gente soube disso a gente falou: “Vamos para cima é a nossa chance de se envolver com as questões do bairro” [...] eu também participo de um grupo de discussão que também é da Pastoral da Juventude. É um grupo de estudos sobre juventude e direitos humanos. [...] a gente tenta se aproximar da Pastoral Carcerária por conta do extermínio de jovens, por conta da Campanha [...] A gente tenta está sempre em discussão, entender um pouquinho essa coisa do extermínio de jovens, dos presídios, por que a maioria são juventudes, tentando se aproximar um pouquinho da Pastoral Carcerária. (PEJOTEIRA 2)
[...] tentando entender os grupos que hoje eu estou participando é engraçado por que eu percebi que todos os grupos têm identificação com a questão da religião. Participando do Anchietanum40, que é um instituto de juventude, trabalhando com jovens e tal. O IPJ41, o grupo de jovens, que depois do término da faculdade eu consegui retornar [...] (PEJOTEIRA 3)
[...] na questão Pastoral eu sempre me dediquei muito à questão dos estudos, por que sai justamente da escola, já militante dentro da escola [...] saindo da comunidade, conhecendo mais outras regiões, ou mesmo outras realidades e outras lutas que existem dentro da cidade de São Paulo e aí foi que conheci um pouquinho mais o movimento “Passe-Livre”, com o pessoal hoje lutando para abaixar a tarifa de ônibus de São Paulo, que hoje está R$3,00 [...] a gente acaba levando isso com a gente [...] não só lutar pela minha comunidade agora, mas lutar por todas as lutas que se envolvem [...] (PEJOTEIRO 5)
Sendo a PJ uma pastoral tida como social e que recebe forte influência da
TdL., observa-se que muitos dos jovens que dela participam possuem uma visão
política de esquerda, ou seja, baseada no socialismo/comunismo. Desse modo
explica-se a inserção dos mesmos em Movimentos Sociais de lutas coletivas.
Outro aspecto a ser observado nas narrativas acima é que a maioria dos
jovens possui diversos questionamentos, sonhos e anseios e buscam respostas com
vistas às transformações. Os mesmos se inserem em espaços de participação e
atuação cidadã, visando lutar por seus valores e ideais no anseio de serem tratados
39
Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy, ex-prefeita da cidade de São Paulo (2000-
2004). 40 Anchietanum é um Instituto de Juventude ligado à da Companhia de Jesus no Brasil. Faz
parte da Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude. 41 Instituto Paulista de Juventude. Faz parte da Rede Brasileira de Centros e Institutos de
Juventude.
77
como sujeitos de direitos, buscando assim formas de reparar algumas injustiças
sociais ainda existentes na perspectiva de que haja mudanças não apenas no grupo
de pertencimento, mas também societárias.
Sendo assim, se inserem nesses espaços de ação, pois dentro de um
contexto social buscam respostas e resoluções de problemas reais. Essa busca
torna o jovem protagonista, líder transformador da realidade na qual está inserido,
tendo então, sua participação ativa na sociedade.
3.6.4 Os acontecimentos importantes na Pastoral da Juventude.
Quando falamos da Pastoral da Juventude e do seu protagonismo na
sociedade contemporânea, no subitem 2.3, foi exposto sobre as atividades, eventos
e campanhas realizadas pela PJ, nas quais os jovens atuam na participação e
organização. Faz-se necessário elencar nessa análise às narrativas dos jovens que
remetem a essas atividades. Neste contexto, os cinco participantes do Grupo Focal
mencionam sobre os marcos que foram significativos nas suas trajetórias na PJ; e
para ressaltar essa representação nas suas vidas, vejamos a seguir as narrativas de
cada um,
[...] São vários os momentos assim, mas os que mais marcaram pessoalmente foram os retiros. A forma com que se dão os retiros da Pastoral da Juventude, por que é um autoconhecimento impressionante [...] não é uma coisa manipulada, tudo depende de você, depende da sua resposta, tudo depende de você e da sua pré-disposição. Então todos os retiros, assembléias, todos os momentos em que se reúnem 50, 60 jovens e ficam três dias ali, discutindo e tudo mais, fazendo deserto [...] no Êxodos42, que me deu também muita força. [...] os retiros, que me tocam bastante, me ensinam muito e as missões, [...] essa questão de você conhecer outro jovem, de outros lugares [...] você sabe que lá longe eles estarão fazendo a mesma coisa e isso te renova; Eu não estou sozinha, estamos juntos. (PEJOTEIRA 1)
[...] é um pouquinho de cada coisa que já falaram, mas eu acho que se pode dizer que é a questão de possibilidades de partilha, por que quando você está junto; A pastoral te dá essa oportunidade de estar junto, de partilhar angústias e alegrias [...] Eu estava pensando
42 Faz parte do Projeto "Eu Sou + 7 x7". É um curso de formação de lideranças da Pastoral
da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral. O número é 50 (cinqüenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Disponível em: www.ipejota.org.br, Acesso em: 21/04/2011.
78
enquanto vocês estavam falando, “é isso também”, “é isso também” [...] eu não sei em que outro momento da sociedade a gente pode se encontrar junto e cada um se motivar sabe, então é assim, não tem um momento especifico, mas é esse estar juntos, partilhar as angústias [...] momentos de Romarias, de marchas, de caminhadas, de estar juntos ali naquela coisa, gritando, cantando juntos. Nossa, para mim são os momentos maravilhosos que tem, de você ver jovens de todo lugar, de todo canto, de você vê e pensar “cara, eu pensei que não tivesse mais ninguém” [...] As musicas que são cantadas, cantar juntos e fazer canções, eu acho que esses momentos são fortalecedores e que afirmam mesmo essa nossa vontade de continuar. (PEJOTEIRA 2)
[...] eu também fiz parte do Ruáh e é interessante perceber como que a gente consegue misturar tudo mesmo; E fica tudo muito bom, quando a gente mistura tudo; por que a gente não é feito de uma coisa só. No Ruáh a gente teve a possibilidade de fazer uma experiência no acampamento do MST43 irmã Alberta, que para mim foi o máximo [...] naquele momento para mim foi maravilhoso, vivenciar, capinar o chão junto com a galera, fazer algumas coisas que eles fazem, mesmo que num período breve, para mim foi o máximo. E aí quando eu achei que estava ótimo, a gente teve a possibilidade de voltar, se não me engano, uma ou duas semanas depois, por que era a Romaria44 [...] eu lembro perfeitamente do clima que estava no local, questão climática mesmo, estava chovendo muito [...] Tinha tudo para não ter ninguém naquele lugar, mas tinha e como tinha [...] (PEJOTEIRA 3)
[...] falando de tudo isso, essa questão mesmo do olhar que a gente tem enquanto Pastoral, de se preocupar com políticas públicas, que é um direito dos jovens e aí fazendo as Campanhas Contra o Extermínio da Juventude, Contra a Redução da Maioridade Penal [...] reivindicar pelos seus direitos enquanto juventude [...] (PEJOTEIRA 4)
[...] o momento que me faz lembrar, que me faz ter gás na Pastoral da Juventude é o momento que eu passei com o grupo Ruáh45 [...] cada momento que eu lembro dá aquele gás para eu falar: opa, eu acho que a gente não pode desistir dos nossos ideais, a gente tem que passar tudo o que as outras pessoas contribuíram, passaram para outros e isso foi um passando para o outro [...] para assim, não ficar aquela chama só para você, então eu acho que em todos os momentos que eu vejo que a Pastoral da Juventude não está dando certo, que alguma coisa está dando errado, por mais dificuldades que
43
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 44
XIV Romaria da Juventude do Regional Sul-1 (Estado de São Paulo), 2008. Organizada
em conjunto com a Comissão Pastoral da Terra. 45
Faz parte do Projeto "Eu Sou + 7 x7". É um curso de formação de lideranças da Pastoral
da Juventude. Este curso é oferecido pelo IPJ às coordenadoras/es e animadores/as do trabalho pastoral. O número é 50 (cinqüenta jovens lideranças) e o tempo é 7 (sete encontros bimestrais) num ciclo de um ano que abordam temas ligados à Formação Integral. Disponível em: www.ipejota.org.br, Acesso em: 21/04/2011.
79
a gente encontre, eu acabo pensando no Ruáh, pensando em todas as formações que eu tive [...] (PEJOTEIRO 5)
É interessante destacar que na exposição sobre esse assunto
demonstraram forte emoção e satisfação em seus relatos, o que nos leva a perceber
a dedicação e prazer nessas participações. Além do mais é nítido como estes
momentos foram (e são) importantes nas vidas de cada um deles, pois, além de
efetivarem uma participação ativa expondo seus ideais e reivindicações, os mesmos
ainda consideram o envolvimento nessas atividades como uma formação, sendo
assim capacitando-os para outros envolvimentos na PJ e em outros espaços.
Outro aspecto a ser descrito é que, tomando por base as narrativas dos
sujeitos da pesquisa e das referências estudadas, praticamente todos os jovens
inseridos na PJ ou mesmo que já foram, em algum momento tiveram participação ou
envolvimento em algumas dessas atividades, campanhas, formações e eventos
reconhecidos como da Pastoral da Juventude.
Ainda sobre esses acontecimentos que, para esses jovens foram (e são)
marcos, percebe-se a importância dos Centros e Institutos de Juventude, pois
praticamente todos os jovens participantes da pesquisa tiveram ou ainda têm
contatos e vínculos com estas instituições, como pode ser visto nas falas acima
descritas. Os Centros e Institutos de Juventude são espaços de formação e ação
social e espiritual para as juventudes; esses, além de produção teórica e de
pesquisas, proporcionam ainda em parceria com Instituições de Ensino o Curso de
pós-graduação em adolescência e juventude no mundo contemporâneo.
Desse modo, podemos interpretar que tais momentos, ou seja, essas
participações em atividades organizadas pelos jovens da PJ lhes proporcionaram
embasamento para uma participação e inserção em outros espaços sócio-políticos,
ou seja, houve um despertar e formação para isso, pois os mesmos chegam a uma
fase em que há a necessidade de se buscar também outros espaços e de
assumirem maiores responsabilidades, como coordenações e lideranças sócio-
políticas, conforme já explicitado.
3.6.5 A visão que têm sobre o protagonismo das suas histórias.
Indagados sobre o significado da PJ em suas vidas, bem como se essa
participação os conduz ao protagonismo juvenil; é percebido seus envolvimentos em
80
outros espaços com características sócio-políticas bem como demonstram
claramente a sua importância a partir de suas trajetórias ao fazer parte da Pastoral.
Faz-se necessário ainda mencionar os seus conceitos com relação à formação e
métodos vivenciados na PJ, além do autoconhecimento que possuem quando se
referem ao reconhecimento obtido dento da referida instituição, pois consideram
esse processo, ou seja, as suas vivências e experiências, como fatores
determinantes para uma militância posterior, para a prática do protagonismo.
As narrativas exposta por dois pejoteiros entrevistados ilustram a análise
acima, a saber:
Mas eu falo que tem uma importância muito grande mesmo sabe! Por que foi a partir dela que conheci outras coisas [...] foi preponderante nas coisas que hoje eu faço, pelas minhas opções, pelo meu curso [...] quando você participa da Pastoral da Juventude [...] você já não consegue mais sair [...] você já não consegue olhar o mundo e fingir que nada está acontecendo [...] quando você vive mesmo a Pastoral da Juventude você já não é mais o mesmo. (PEJOTEIRA 2)
[...] toda a minha caminhada hoje, todo meu olhar em relação a todas as questões que são apresentadas [...] esse meu olhar é mais aguçado devido a Pastoral da Juventude. Essa questão de ver o outro, de entender a realidade, de compreender certas coisas que outras pessoas não compreendem, por exemplo, a questão da maioridade penal [...] esse olhar a gente enquanto juventude, enquanto atuante, a gente tem. [...] a partir de tudo isso que eu aprendi enquanto Pastoral nessa caminhada foi que me motivou também a fazer serviço social, a entender um pouco mais dessas realidades, de como atuar [...] efetivamente dentro dessas questões. (PEJOTEIRA 4)
Sobre o tempo em que participa da PJ e expondo o seu envolvimento em
outros espaços a PEJOTEIRA 4 diz que “a nossa situação agora era maior, o nosso
espaço era limitado e não dava mais para a gente ficar só ali, a gente tinha que ir
além...”. Tal indagação se dá pela necessidade de preencher outros espaços de
participação, pois a PJ a motivou a se envolver em outras lutas, a ser comprometida
com causas sociais, a ter um olhar diferenciando com as questões que envolvem a
sociedade. Completando, a PEJOTEIRA 1 diz que a PJ contribui nesse processo,
“eu vejo muito a contribuição da Pastoral da Juventude nisso de você começar ali, se
preocupar com o outro que está ali pertinho e aí depois você consegue transmitir
isso para fora, para o bairro”. Sobre o reconhecimento do papel da PJ nas suas
trajetórias de vida, em especial sobre suas participações em espaços sócio-políticos
81
e em movimentos sociais, a PEJOTEIRA 2 comenta sobre a importância da
formação recebida na PJ,
[...] Eu acho essa questão da formação muito forte, pelo menos eu acho que ela me fez buscar muitas coisas [...] Seu não tivesse participado da Pastoral da Juventude eu não sei, realmente eu não sei [...] (PEJOTEIRA 2)
Complementando,
[...] depois no final você tem consciência de que você tem que passar pelo processo, por que você vai ali trabalhar na comunidade e tudo, depois você começa a crescer mesmo como pessoa e compreender que você tem que ter uma atuação no meio da sociedade [...] (PEJOTEIRA 2)
[...] estava pensando na forma como a gente trabalha mesmo as relações no grupo, a questão de ter espaço, de ter voz [...] Para mim, então, vendo como foi o meu caminho e o caminho que as pessoas acabam fazendo nos grupos, daí eu percebo o seguinte: [...] no tempo em que nós estamos vivendo, são poucos os espaços em que você realmente pode falar o que você pensa [...] o grupo traz essa possibilidade de ter voz, de ser ouvido [...] é muito interessante perceber as relações que a gente vai estabelecendo ali, que a gente vai levar mesmo para a vida, no trabalho. Quantos lugares a gente não está vivendo situações muito similares, que aí de repente aquela bagagem trouxe um diferencial para a atuação. [...] todo esse processo contribui de fato para a nossa ação, então, os reflexos acima de tudo são vistos nas nossas ações [...] no dia-a-dia, no trabalho, nas escolhas que a gente faz a gente percebe o quanto isso foi importante. (PEJOTEIRA 3)
É interessante ressaltar sobre a compreensão e o reconhecimento que
esses jovens possuem ao falar dessa questão. De fato, entendem que a PJ é um
fator determinante nesse processo de formação e construção. Além do mais,
consideram que essa experiência e vivência na PJ é algo que levarão para toda a
sua trajetória de vida, mesmo que futuramente não mais participem dela, pois seus
ensinamentos e ideologias são referências para outros espaços, como por exemplo,
no emprego e na carreira acadêmica escolhida.
[...] A PJ, ela não tem só um período da vida do jovem [...] O que você vai determinar depois da PJ é fruto dessa passagem, muita gente escolhe a faculdade por causa que a PJ levou a você ter essa conscientização e escolher aquela faculdade [...] a colaboração da PJ, ela vem para fora. [...] a gente vive muito em grupo, principalmente quando a gente trabalha dentro da sociedade e toda
82
hora está cruzando com o grupo (de jovens)46 [...] a gente aprende onde a viver em grupo? Na Pastoral da Juventude. O contato com o outro a gente aprende muitas vezes onde? Na Pastoral da Juventude. O respeito com o outro? Pastoral da Juventude. Então é uma soma da colaboração que a PJ tem, é assim que eu coloco que é a PJ, ela vai além do grupo e se reflete na sociedade [...] (PEJOTEIRO 5)
Há esse reconhecimento de que a PJ lhes proporciona fundamentos teóricos
e práticos, onde esses são expostos em suas ações e escolhas.
[...] são realmente pessoas que tem o que dizer. Não é a toa que vão duas ou três fitas, né Henrique? (risos – grupo). A gente tem mesmo o que falar, na dá para você puxar um assunto e achar que vai ser cinco minutos, por que a conversa realmente rende, por que são pessoas que de fato, tem muito conteúdo, tem uma bagagem muito interessante. (PEJOTEIRA 3)
Por meio da PJ muitos jovens são motivados a desenvolver um projeto de
vida, o que lhes capacitam a terem um melhor autoconhecimento e os impulsionam
a criar e manter contatos, ou seja, conhecer outras pessoas e idéias, por meio das
relações estabelecidas.
A PEJOTEIRA 1 comenta sobre essa temática e afirma que a PJ é (faz)
parte da construção do projeto de vida e que por meio dela obteve embasamentos
para efetivar sua participação na sociedade,
[...] É um projeto de vida mesmo; é uma causa que você abraça para todo o ser humano. [...] eu vejo assim, uma pastoral que forma pessoas humanas, verdadeiramente humanas. Eu vejo que é também o que falta na educação formal, essa educação mais humana, de “eu e sociedade”, “eu com outro” [...] eu acho que a Pastoral complementa essa falta que tem na educação formal, que é essa educação política mesmo, de você se ver na sociedade e você saber que tem que correr atrás. De que você não pode só reclamar e deixar como está, de você se vê como um ator social realmente. (PEJOTEIRA 1)
Outro ponto que demonstra a prática protagonista destes jovens está no
desejo e na consciência de que outros jovens recebam uma formação que lhes
proporcione este despertar para a participação em espaços sócio-políticos e também
para que seja dada continuidade nos trabalhos e atividades da PJ, como destaca a
PEJOTEIRA 4 ao reafirmar que “vamos continuar, por que essa mesma formação
46
Entre parênteses, pelo autor.
83
que a gente teve de pastoral a gente quer que outros jovens tenham, por que tudo
que a gente aprendeu lá, a gente carrega para a nossa vida.”
Para tanto, ao concluir a análise da pesquisa realizada, pode-se
compreender que a participação dos jovens na PJ foi um fator determinante para
que os mesmos desenvolvessem seu protagonismo juvenil. Sendo assim, a PJ teve
(têm) importante significado em suas vidas, colaborando para o seu despertar e
formação no seu papel de lideranças sócio-políticas e de movimentos sociais, ou
seja, de jovem atuante na sociedade.
84
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de expor as considerações finais deste estudo, faz-se necessário
esclarecer que, apesar do envolvimento com a PJ, procurei manter uma distância,
principalmente na organização de certas atividades, para assim poder refletir a partir
de um ponto de vista isento da minha participação enquanto membro. Porém, as
experiências e conhecimentos adquiridos durante toda minha trajetória permitiram-
me colaborar para o desenvolvimento da pesquisa no que se refere à parte teórica e
a escolha do método da pesquisa.
Outro aspecto a ser esclarecido devido à possibilidade de eventual
indagação por algum leitor, como exemplo: “o que um trabalho onde a temática
aborda sobre a Pastoral da Juventude, Protagonismo Juvenil e lideranças sócio-
políticas têm a ver com o curso de Serviço Social?”. Na verdade, houve um cuidado
tanto na redação concernente à fundamentação teórica quanto na pesquisa de
campo e análise, pois toda a menção no que se refere à PJ, nos eixos delimitados
se voltava para a linha política e social, ou seja, os legados deixados pela ACE
conforme já explicitados.
Neste fazer e, a partir das narrativas dos jovens partícipes do Grupo Focal
foi possível perceber a forma como cada um conheceu a PJ, despertando-os para
as suas iniciações e participações junto à mesma.
Por outro lado, as suas narrativas nos remetem à compreensão do processo
de construção do protagonismo juvenil; protagonismo esse vivenciado por etapas
tanto dentro quanto fora dos grupos de jovens, onde os mesmos passam a assumir
responsabilidades, bem como coordenações e participação mais efetiva, resultando
na fomentação e formação para se inserirem em outros espaços sócio-políticos e
movimentos sociais.
Foi de extrema importância a escuta dos seus relatos sobre acontecimentos
importantes na PJ no qual participaram, passando a compreender a necessidade da
motivação e da formação nas suas vidas para as suas inserções em outros espaços
da sociedade. O fato de se organizarem enquanto membros participativos nas
atividades que são peculiares à PJ lhes proporcionam satisfação e prazer, pois se
julgam valorizados e como membros que pertencem à referida Pastoral.
85
Dentro do contexto narrado pelos sujeitos da pesquisa percebe-se ainda a
visão que detêm sobre o protagonismo juvenil nas suas trajetórias e história de vida
enquanto sujeitos políticos dos movimentos que participam.
Foi possível detectar também que a PJ tem um grande significado na vida
daqueles sujeitos sociais que são construídos historicamente e que dela fazem
parte. É por tudo isso, que essa motivação/ participação os conduz à prática do
Protagonismo Juvenil, pois a PJ colabora nesse despertar, formando então
lideranças sócio-políticas inseridas em espaços coletivos junto à sociedade, na
busca de respostas e transformações.
Desse modo considera-se que os objetivos delimitados no presente estudo
tiveram o seu alcance assim como a questão norteadora confirmada, pois a PJ se
coloca como instrumento de transformações na vida dos jovens que buscam nela o
despertar para seu protagonismo.
86
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91
ANEXO A1 – Termo de consentimento livre e esclarecido e de concessão de
uso de imagem.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO E DE
CONCESSÃO DE USO DE IMAGEM
Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da
pesquisa: “A importância da pastoral da juventude na fomentação do
protagonismo juvenil e formação de lideranças sócio-políticas”, no caso de
você concordar em participar, favor assinar ao final do documento. Sua participação
não é obrigatória, e, a qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar
seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o
pesquisador (a) ou com a instituição.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e endereço do
pesquisador (a) principal, podendo tirar dúvidas do projeto e de sua participação.
Nome da pesquisa: “A importância da pastoral da juventude na fomentação do
protagonismo juvenil e formação de lideranças sócio-políticas”.
Pesquisador responsável: Henrique Manoel Carvalho Silva, RG: 40.191.109-3, RA:
1.624.903, residente à Rua Dr. Erício Álvares de Azevedo Gonzaga, 27 - Jardim
Cambará - São Paulo/SP, Celular (11) 8349-0010.
Patrocinador: Não tem.
Objetivos: Entrevistar jovens nas idades entre 15 e 29 anos, de ambos os gêneros,
que participam (ou já participaram) da Pastoral da Juventude (PJ), para
compreender como o Protagonismo Juvenil foi sendo despertado e construído e sua
participação em outros espaços de lideranças sócio-políticas.
92
Procedimentos do estudo: Se concordar em participar da pesquisa: “A importância
da pastoral da juventude na fomentação do protagonismo juvenil e formação de
lideranças sócio-políticas”, você terá que participar de um Grupo Focal (filmado)
expondo sobre a sua participação na PJ e nos espaços de lideranças sócio-políticas
ao qual faz parte. Os dados coletados poderão fazer parte da monografia e ainda ser
divulgados e apresentados.
Riscos e desconfortos: Informamos que a participação nesta pesquisa não traz
complicações legais e nem oferece riscos e nem desconfortos, ou mesmo
constrangimentos. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos
Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução número
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados
oferece riscos à sua dignidade.
Benefícios: Ao participar desta pesquisa o senhor (a) não terá nenhum benefício
direto. Entretanto, esperamos que este estudo possa proporcionar informações
importantes sobre o papel e importância da PJ na fomentação do protagonismo
juvenil e na formação de lideranças sócio-políticas, de forma que o conhecimento
que será construído a partir desta pesquisa possa trazer esclarecimentos e um
melhor conhecimento da realidade desta categoria.
Custo/Reembolso para o participante: Participar desta pesquisa não acarretará
custos ao entrevistado e nem rendas, ou seja, os participantes da pesquisa não
receberão qualquer espécie de reembolso, pagamento ou gratificação devido à
participação na pesquisa.
Confidencialidade da pesquisa: Garantimos o total sigilo que assegure a
privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa,
informando que somente serão divulgados dados diretamente relacionados aos
objetivos da pesquisa.
Assinatura do pesquisador responsável: ________________________________
93
ANEXO A2 – Termo de consentimento livre e esclarecido e de concessão de
uso de imagem.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO E DE
CONCESSÃO DE USO DE IMAGEM
Eu, _________________________________________________________,
RG, ______________________, declaro que li as informações contidas nesse
documento e fui devidamente informado (a) pelo pesquisador Henrique Manoel
Carvalho Silva, RG: 40.191.109-3 e RA: 1.624.903, dos procedimentos que serão
utilizados, riscos e desconfortos, benefícios, custo/reembolso dos participantes,
confidencialidade da pesquisa, concordando ainda em participar da pesquisa.
Declaro anda cedente para os devidos fins de direito, que autorizo utilizar-se, a título
gratuito, da minha imagem, para desenvolvimento da pesquisa.
Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento,
sem que isso leve a qualquer penalidade. Declaro ainda que recebi uma cópia desse
Termo de Consentimento livre e esclarecido e de concessão de uso de imagem..
Local e Data: ________________________________________________________
Nome por extenso: ___________________________________________________
Assinatura: _________________________________________________________
94
ANEXO B – Termo de responsabilidade – Regulamento para empréstimo de
equipamentos e/ou acessórios – Laboratório de Rádio & TV – UNISA.
95
96
APÊNDICE A – Roteiro (cronograma) para a realização da pesquisa de campo – Grupo Focal.
Roteiro (cronograma) para a realização da pesquisa de campo – Grupo Focal.
1) Apresentação do trabalho, proposta e objetivos da pesquisa.
2) Distribuição dos termos e formulários de concordância.
3) Realização de apresentação pessoal no grupo.
4) Roteiro de questões que visam conhecer a participação/experiências dos
sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude. Início da conversa/debate.
(Apêndice B)
5) Agradecimentos e distribuição de “lembrancinhas” (“kit pejoteiro”).
6) Encerramento com um lanche.
97
APÊNDICE B – Roteiro de questões que visam conhecer a participação e
experiências dos sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude.
Roteiro de questões que visam conhecer a participação e experiências dos
sujeitos e seu protagonismo na Pastoral da Juventude.
1) Comentem sobre o significado da PJ, quando iniciou a participação, o que os
levou a essa participação e quais experiências/vivências foram ou são importantes
nas vidas de cada um de vocês.
2) Façam um resumo sobre as funções que exercem na PJ, em qual instância, se
ainda participa, se não, quais os motivos e porque começou a participar da PJ?
3) Façam uma análise crítica em qual sentido a PJ tem colaborado para a militância
atual ou posterior.
4) De que forma as experiências acumuladas na PJ são compartilhadas com outros
espaços sócio-políticos (ex.: movimentos sociais) de jovens do ponto de vista das
suas experiências.
5) Vocês avaliam que a PJ vem colaborando para o protagonismo juvenil, façam
uma análise crítica dessa questão e como você se sente atualmente.
98
APÊNDICE C – Questionário complementar para pesquisa de campo (Coleta de
informações e dados).
Questionário complementar para pesquisa de campo - Coleta de informações e
dados com os sujeitos da pesquisa.
1 Identificação
1.1 Nome: __________________________________________________________
1.2 Origem (Município e Estado): ________________________________________
1.3 Data de Nascimento: _______/_________/_________ Idade: ______________
1.4 Sexo: Feminino (__) Masculino (__)
1.5 Estado Civil: ______________________________________________________
1.6 Escolaridade: _____________________________________________________
1.7 Trabalha: Sim (__) Não (__) Profissão/Área: _______________________
2 Contatos
2.1 Endereço (completo): _______________________________________________
___________________________________________________________________
2.2 Telefone / Celular: _________________________________________________
2.3 E-mail: __________________________________________________________
3 Dentro da temática da pesquisa
3.1 Participa de Grupo de Jovens? Sim (__) Não (__) Há quanto tempo? ________
3.2 Qual o grupo? (sigla / nome) ________________________________________
___________________________________________________________________
3.3 Onde fica? (bairro, comunidade, paróquia, diocese): _____________________
___________________________________________________________________
3.4 Qual a sua função no grupo? ________________________________________
3.5 Participa de algum outro espaço / movimento? Qual? _____________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
99
3.6 O que você entende por Pastoral da Juventude (PJ)? ____________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3.7 O que a PJ significa para você? Quais as principais influências recebeu? ____
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
100
APÊNDICE D – Convite oficial para a participação dos sujeitos no Grupo Focal.
101
APÊNDICE E – Convite oficial para assistir à apresentação da banca.