UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS DE RODA NA PRÁXIS DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Por: Alexandre Sérgio Ferreira Soares de Farias Orientador: Prof. Marco Antônio Chaves
Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS DE RODA NA PRÁXIS DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Por:
Alexandre Sérgio Ferreira Soares de Farias Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade.
Rio de Janeiro, RJ, agosto/2001
SUMÁRIO
Pág ina
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1 . INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2 . EDUCAÇÃO FÍS ICA E PSICOMOTRICIDADE :
PRÁXIS PEDAGÓGICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3 . A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA FORMAÇÃO DA
CRIANÇA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
4 . BRINCADEIRAS DE RODA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
CONCLUSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
REFERÊNCIAS BIBL IOGRÁFICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
B IBL IOGRAFIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
GLOSSÁRIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
ANEXOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
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RESUMO
A idé ia apresen tada nes ta pesqu isa monográ f i ca não
empí r i ca , su rg iu da cons tan te necess idade de re f lexão por
par te dos p ro f i ss iona is da á rea de educação , em par t i cu la r
p ro fessores de educação f í s i ca , sobre sua p ráx is educac iona l .
O tema Br incade i ras de Roda, é p ropos to como método de
ens ino da educação f í s i ca , fazendo-se u t i l i zação de suas
carac te r ís t i cas para es t imu la r o desenvo lv imento das funções
ps icomotoras envo lv idas , a t ravés das a t i v idades t rad ic iona is
ou adap tadas con t idas nes te t ipo de b r incade i ra , usando como
pr inc ipa is me ios a expressão corpora l e os b r inquedos
can tados (can t igas ) . Es te t raba lho faz um resga te h is tó r i co –
cu l tu ra l re lac ionando ques tões da ps icomot r i c idade e , fazendo
impor tan tes cons iderações teór i cas de g randes au to res do
desenvo lv imento in fan t i l como P iage t e Le Bo lch . A c r iança da
1 A i n fânc ia , par t i c ipan te das au las de educação f í s i ca , den t ro
ou fo ra do amb ien te esco la r , é o a lvo de d i rec ionamento des te
es tudo . Seu con teúdo de le i t u ra é ind icado à todo educador
que p rocura va lo r i za r e respe i ta r as d i fe renças ind iv idua is dos
seus a lunos quan to a sua h is tó r ia de v ida , seus va lo res , sua
rea l idade sóc io - econômico- cu l tu ra l , d i rec ionando o corpo
humano em sua to ta l idade como componente e fe t i vo de todo o
p rocesso educac iona l .
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1 . INTRODUÇÃO
Mu i tos p ro fessores com base no exerc íc io p ro f i ss iona l e
na conv ivênc ia d i re ta com c r ianças , sabem que a a t i v idade
ma is p resen te na v ida des tes pequenos seres é a b r incade i ra .
Es ta re lação c r iança – b r inquedo - b r incade i ra é
ex t remamente impor tan te para o bom desenvo lv imento dos
mesmos. Por i sso , nada me lhor para uma c r iança do que
aprender b r incando. E nada me lhor para um pro fessor do que
ens inar de uma mane i ra p razerosa , lúd ica e expon tânea .
En tão , por quê não esco lher uma br incade i ra como me io
para se a lcançar um ob je t i vo , u t i l i zando-a como con teúdo
p resen te no co t id iano da educação f í s i ca? Que es t imu le
ind i re tamente funções ps icomotoras como a percepção
aud i t i va , r i tmo e esquema corpora l por exemplo , e va lo r i ze
uma verdade i ra ps icomot r i c idade(ação corpora l ) dos
ind iv íduos .
Es te es tudo tem como ob je t i vo p r inc ipa l , resga ta r as
b r incade i ras de roda de um âmbi to popu la r para o pedagóg ico ,
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re f le t indo sobre sua impor tânc ia em um con tex to h is tó r i co -
cu l tu ra l , e a té que pon to pode con t r ibu i r s ign i f i ca t i vamente
para um desenvo lv imento harmôn ico e g loba l dos ind iv íduos .
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2 . EDUCAÇÃO FÍS ICA E PSICOMOTRICIDADE: PRÁXIS
PEDAGÓGICAS
No ta -se à a lgum tempo, p reocupações por par te de
p ro fessores e educadores da á rea de educação f í s i ca com
ques tões que envo lvem a p rá t i ca des ta p ro f i ssão .
Dos anos 80 para cá , mu i tas re f lexões e pub l i cações em
busca de um nova iden t idade pedagóg ica fo ram rea l i zadas , o
que por consegu in te to rnou poss íve l um grande sa l to
qua l i ta t i vo em pro l de uma educação f í s i ca que va lo r i zasse o
ind iv íduo , seu corpo como um todo (sem f ragmentações) e sua
re lação com o mundo.
“Ar te e c iênc ia do mov imento
humano que a t ravés de a t i v idades espec í f i cas aux i l i am o
desenvo lv imento in tegra l dos seres humanos , renovando-os e
t rans fo rmando-os no sen t ido de sua au to - rea l i zação e em
con fo rmidade com a p rópr ia rea l i zação de uma soc iedade
ma is jus ta e l i v re ” (Med ina , 1983 , p .81) .
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A de f in ição de Med ina , resume uma pos ição in te lec tua l
em que se encon t ra a educação f í s i ca a tua lmente . Mas
cons tan temente , no ta -se um grande d is tanc iamento en t re a
p rá t i ca e a teor ia no d ia à d ia da ma io r ia dos p ro fessores .
A jus t i f i ca t i va ma is p laus íve l para es te fa to se dá pe la
d i f i cu ldade em romper com an t igos va lo res , an t igas p rá t i cas ,
que p reva leceram ao longo de mu i tos anos . Mas p ressupondo-
se em teor ia , que já fo i c r i ada uma nova concepção , nor teada
de fo rma c r í t i ca e t rans fo rmadora , a lcançar uma nova p ráx is
to rna-se ex t remamente necessár io e impor tan te .
Segundo Marx ( em Vazquez ,1977 ,p .117) :
”p ráx is é a a t i tude humana
t rans fo rmadora da na tu reza e da soc iedade, cu ja re lação
en t re teor ia e p ráx is é teór i ca e p rá t i ca ; p rá t i ca na med ida em
que a teor ia , como gu ia da ação mo lda a a t i v idade do Homem,
par t i cu la rmente a a t i v idade revo luc ionár ia ; teó r i ca , na med ida
em que essa re lação é consc ien te ” .
Com base no es tudo da p ráx is pode-se observar a
impor tan te re lação en t re p rá t i ca e teor ia , e que para to rnar
poss íve l o a lcance de novos parad igmas(mode los ) , bas ta um
romp imento com conce i tos an te r io res .
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A educação f í s i ca e toda a gama de seus p ro f i ss iona is
que a lme jam uma poss íve l mudança , devem ado ta r es te
romp imento , mas é c la ro , sem ignora r an t igos conce i tos ,
de f ron tando-os com novos , e co locando-os em prá t i ca de uma
mane i ra c r í t i ca e consc ien te .
A ps icomot r i c idade em sua essênc ia , pode e deve
con t r ibu i r com a educação f í s i ca no sen t ido de a lcançar uma
práx is pedagóg ica cada vez ma is s ign i f i ca t i va . A t ravés de uma
s imb iose teór i co - p rá t i ca en t re d is t in tas ou semelhan tes
c iênc ias e d isc ip l inas , uma de fo rma a a judar no
desenvo lv imento da ou t ra ( in te rd i sc ip l ina r idade) , i s to pode ser
poss íve l e bas tan te v iáve l .
“Ps icomot r i c idade é uma c iênc ia
que tem por ob je t i vo o es tudo do Homem, a t ravés do seu
corpo em mov imento , nas re lações com seu mundo in te rno e
ex te rno” (Soc iedade b ras i le i ra de ps icomot r i c idade , por
Me l lo ,1989 ,p .31) .
Para ambas , que possuem fundamentações semelhan tes
em seus un ive rsos p ro f i ss iona is e co inc idem em seus ob je tos
de es tudo (o Homem em mov imento ) , é fundamenta l a t r ibu i r
uma rea l in tenção( in tenc iona l i dade) à seus ob je t i vos , se jam
e les de o rdem a fe t i va , cogn i t i va , ps icomotora , soc ia l ou
emoc iona l .
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3 . A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA FORMAÇÃO DA
CRIANÇA
Ao in i c ia r es te cap í tu lo , to rna-se impor tan te c i ta r a lguns
conce i tos de f in idos por Me l lo (1997 , p .85) em re lação à
b r incade i ra , b r inquedo e jogo .
“Br incade i ra – T ipo de a t i v idade
lúd ica que inc lu i o jogo e ações não necessar iamente
compet i t i vas desenvo lv idas ind iv idua lmente ou em grupo ,
como por exemplo a ação de b r incar com are ia , as co r re r ias
nos pá t ios esco la res , e tc ” .
“B r inquedo – Ob je to empregado
para b r incar , podendo ser cons t ru ído a r tesana lmente ou por
indús t r ias espec ia l i zadas” .
“ Jogo – a t i v idade ou ocupação
vo lun tá r ia , onde o rea l e a fan tas ia se encon t ram, ocor re num
espaço f í s i co e de tempo de te rminados , desenvo lve-se sob
regras ace i tas pe lo g rupo de par t i c ipan tes , e são , em gera l , a
hab i l i dade f í s i ca , o desempenho in te lec tua l d ian te das
s i tuações de jogo e , às vezes , a so r te os componentes
responsáve is pe la de te rminação dos seus resu l tados .Com
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f requênc ia , sua p rá t i ca se dá num c l ima de tensão e
expec ta t i va , p r inc ipa lmente face ao desconhec imento
an tec ipado do resu l tado f ina l . O p razer de v ivenc ia r s i tuações
da a t i v idade esco lh ida e , se poss íve l , to rnar -se vencedor é o
ma is impor tan te e lemento p ropu lsor do in te resse pe la p rá t i ca
do jogo” .
A pr ime i ra in fânc ia que é a fa ixa e tá r ia – a lvo des te
t raba lho , é para au to res como P iage t e Le Bou lch , um
per íodo no desenvo lv imento in fan t i l marcado in ic ia lmente pe lo
surg imento da l i nguagem, onde incorpora -se e lementos
desenvo lv idos em uma fase an te r io r ac rescen tando-os aos
s ímbo los ( represen tações menta is ) .Numer icamente fa lando ,
es ta re lac ionada à idade aprox imada dos 2 aos 6 , 7 anos de
idade . Pos te r io rmente , é in i c iada uma fase marcada pe lo
rac ioc ín io lóg ico e pe lo in íc io da cooperação .
A carac te r ís t i ca p r inc ipa l das c r ianças per tencen tes a
es ta fase de desenvo lv imento é o egocen t r i smo(mu i to
cen t rada ne la mesma) , onde , quan to ma is nova fo r a c r iança ,
ma is ind iv idua l e au to cen t rado é o seu mundo. Es te aspec to ,
por tan to , va i se mod i f i cando pouco a pouco . E cer tamente , se
o espaço educac iona l permi t i r que a c r iança a ja em l ibe rdade
e o amb ien te de sua casa não a comprometa f í s i ca e
in te lec tua lmente , es ta c r iança chegará a fases de
desenvo lv imento pos te r io res razoave lmente soc ia l i zada .
Duran te es te per íodo , as c r ianças já começam a
cons t ru i r as a t i v idades s imbó l i cas , que para P iage t “é uma
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rep resen tação menta l dos ob je tos do me io ex te rno” . Es ta
represen tação é ass im i lada a t ravés das ações corpora is
s ign i f i cando ações que e la observa e v ive no mundo.
Ou t ra ca rac te r ís t i ca p resen te na re lação s imbó l i ca é a
fan tas ia . O faz de con ta ass im como o a to de b r incar ,mu i to
cons tan te no co t id iano das c r ianças da 1 A i n fânc ia , também
represen tam fo rmas de ass im i lação . Nes te caso u t i l i za -se a
imag inação como e lemento de cons t rução da rea l idade .
Sob es te foco percebe-se a impor tânc ia do a to de
b r incar . É uma a t i v idade p resen te na v ida in fan t i l , que
somadas à l i be rdade de expressão corpora l , passam a ser
e lementos fundamenta is para que a c r iança comece a
compreender o mundo que as cerca . P iage t c lass i f i ca es ta
fase de desenvo lv imento , do pon to de v is ta da in te l igênc ia , de
per íodo p ré - opera tó r io , i n tu i t i vo ou s imbó l i co .
A inda sobre o b r incar , pode-se ressa l ta r o pape l do
ob je to (b r inquedo)nes ta re lação . Segundo Lap ie r re e
Aucou tu r ie r , o ob je to pode exercer a função de l i gação no
re lac ionamento com o ou t ro . O corpo , nes te caso , também
pode ser u t i l i zado como ob je to , e ce r tamente a t ravés do
b r inquedo e do seu corpo , a c r iança c r ia impor tan tes re lações
com seu semelhan te e em segu ida com o ex te r io r , c r iando
suas p r ime i ras re lações soc ia is .
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“Na p r ime i ra in fânc ia não há o que de fo rmar ,
s imp lesmente porque a rea l idade da c r iança a inda es tá sendo
cons t ru ída” (F re i re ,1992 ,p .43) .
O jogo , como fo i ap resen tado na de f in ição c i tada no
in íc io do cap í tu lo , con funde-se um pouco com a b r incade i ra
nas ques tões de p razer e espon tane idade , mas tem
carac te r ís t i cas par t i cu la res no que d iz respe i to a co le t i v idade ,
soc ia l i zação , co le t i v idade e uso de regras . Apesar des tes
fa to res serem ma is ev iden tes na p róx ima e tapa do
desenvo lv imento in fan t i l ( pe r íodo das operações concre tas ,
após 7 anos , segundo P iage t ) f i ca ev iden te a necess idade da
c r iança da 1 A i n fânc ia v ivênc ia r exper iênc ias co le t i vas e
soc ia l i zadoras(de acordo com o n íve l de sua matu ração
b io lóg ica) , po is cond ições pos te r io res de desenvo lv imento
dependem d i re tamente das cond ições an te r io res de v ida .
“Desde o in íc io do desenvo lv imento
ps icomotor in i c ia -se o p rocesso de soc ia l i zação , uma vez que
o equ i l íb r io da pessoa só pode ser pensado pe la e na re lação
com ou t rem” (Le Bou lch , c i tado por F re i re ,p .161) .
A b r incade i ra , o jogo , o b r inquedo, seu corpo e todos os
componentes envo lv idos nes ta e tapa tão a t i va da v ida ,
to rnam-se essenc ia is no p rocesso ens ino – aprend izagem
onde o p ro fessor – educador deve se p reocupar e mu i to com
métodos e fo rmas ma is humanas de educação , que tenham um
rea l s ign i f i cado na h is tó r ia de cada pessoa .
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“Não c re io que a educação f í s i ca
e o jogo se jam a ún ica so lução para os p rob lemas
pedagóg icos , mas d ian te das carac te r ís t i cas da c r iança da 1 A
i n fânc ia , não há porque não va lo r i zá - los . Se o con tex to fo r
s ign i f i ca t i vo para a c r iança , o jogo , como qua lquer ou t ro
recurso pedagóg ico , tem consequênc ias impor tan tes em seu
desenvo lv imento ” (F re i re ,1992 ,p .121) .
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4. BRINCADEIRAS DE RODA
“O Homem é o resu l tado do me io
cu l tu ra l em que fo i soc ia l i zado . E le é um herde i ro de um longo
p rocesso acumula t i vo , que re f le te o conhec imento e a
exper iênc ia adqu i r idas pe las numerosas gerações que o
an tecederam. A man ipu lação adequada e c r ia t i va desse
pa t r imôn io cu l tu ra l pe rmi te as inovações e as invenções .
Es tas não são , po is , o p rodu to da ação i so lada de um gên io ,
mas o resu l tado do es fo rço de uma comun idade”
(Lara ia ,1995 ,p .46) .
A br incade i ra de roda , também chamada ronda in fan t i l , é
um t ipo de b r incade i ra gera lmente desenvo lv ida em c í rcu lo ,
em que as c r ianças , vo l tadas para o cen t ro , seguram as mãos
dos co legas ao seu lado , e can tam as chamadas can t igas de
roda .
“É uma br incade i ra comple ta ,
sob o pon to de v is ta pedagóg ico . Br incando de roda , a c r iança
exerc i ta o rac ioc ín io e a memór ia , es t imu la o gos to pe lo can to
e desenvo lve na tu ra lmente os múscu los ao r i tmo das danças
ingênuas” (Me lo , 1981 , P .189) .
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Sua o r igem es tá re lac ionada à cu l tu ra popu la r do povo
b ras i le i ro , que recebeu in f luênc ias europé ias , ind ígenas e
a f r i canas .
Não se sabe ao cer to , como em toda man i fes tação
popu la r , o loca l e épocas exa tas dos p r ime i ros ind íc ios do
aparec imento das b r incade i ras de roda . Mas pode-se
p ressupor que suas v ias de man i fes tação fo ram as ruas ,
qu in ta is , te r renos ba ld ios e pá t ios esco la res , a tendendo a
uma necess idade na tu ra l de lazer e d ive r t imento in fan t i l .
Pode-se no ta r , nos d ias a tua is , a g rada t i va ex t inção des ta
e de ou t ras b r incade i ras popu la res do un iverso da c r iança . Ë
lamentáve l de ixa r perder -se ao longo do tempo es te r i co
pa t r imôn io cu l tu ra l i n fan t i l , que poder ia te r s ido incorporado
h is to r i camente ao con teúdo das au las de educação f í s i ca .
“A adoção de a t i v idades da cu l tu ra
in fan t i l com con teúdo pedagóg ico fac i l i t a o t raba lho de
p ro fessores das esco las de p r ime i ra in fânc ia , po is garan te o
in te resse e a mot i vação das c r ianças” (F re i re ,1992 ,p .24) .
À respe i to das carac te r ís t i cas espec í f i cas do b r incar de
roda , as p r inc ipa is são as suas fo rmações e mov imentações à
par t i r da mús ica esco lh ida e can tada (can t igas ) .Es tas são em
ma io r ia de au to r ia desconhec ida (domín io popu la r ) , e d i tam a
temát i ca e os ges tos (mov imentos ) .Sabe-se que em sua
ma io r ia , receberam in f luênc ias por tuguesas nos tex tos das
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canções , e mu i tas de las , ce r tamente , sempre fo ram can t igas
de roda . Out ras , po rém, se o r ig ina ram de canções popu la res .
Não va i en t ra r -se minuc iosamente nas carac te r ís t i cas
temát i cas mus ica is das rondas in fan t i s , mas cabe ressa l ta r
que dev ido a sua impor tânc ia cu l tu ra l , a lgumas rondas fo ram
d ivu lgadas em versões p rópr ias de mús icos famosos como o
maes t ro He i to r V i l l a Lobos . É impor tan te c i ta r também, que
as can t igas , segundo Me lo , “ são d iv id idas em c inco g rupos ,
de acordo com o esp í r i to , e o es tado de ân imo de cada uma:
Amorosas , sa t í r i cas , im i ta t i vas , re l ig iosas , d ramát i cas ” .
Quanto a es t ru tu ração da b r incade i ra , faz -se no c í rcu lo a
fo rmação bás ica onde as c r ianças cos tumam f i ca r de mãos
dadas , de f ren te ou de cos tas umas para ou t ras , des locando-
se la te ra lmente no sen t ido horá r io e an t i -horá r io ou a té
mesmo paradas . A mov imentação corpora l , suas var iações , o
t ipo de base u t i l i zada (de pé , joe lho , sen tado , agachado) , o
tema, o t i po de con ta to co rpora l , a mús ica em seus d i fe ren tes
r i tmos ; todos dependerão dos es t ímu los do p ro fessor e da
c r ia t i v idade dos a lunos (exemplo à segu i r , em anexo) .
A expressão corpora l to rna-se ev iden te e impresc ind íve l
em todo o p rocesso , e aux i l i a rá no desenvo lv imento das
funções ps icomotoras . As p r inc ipa is funções envo lv idas são
esquema corpora l , coordenações g loba is , o rgan ização
espac ia l e tempora l , l a te ra l idade , percepção aud i t i va e v isua l .
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“Duran te a p rá t i ca dos jogos
in fan t i s , espec ia lmente aque les o rgan izados com um bom
n íve l de c r ia t i v idade por par te dos p ro fessores e os
denominados jogos popu la res in fan t i s , pode ser p roduz ida , de
fo rma adequada, a es t imu lação às inúmeras funções
ps icomotoras e às qua l idades f í s i cas ” (Me l lo , 1989 , p .39) .
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CONCLUSÃO
As conc lusões des ta pesqu isa , de uma mane i ra gera l ,
g i ram em to rno de um idea l educac iona l . Idea l es te que
eng loba a educação f í s i ca e a ps icomot r i c idade como
pr inc ipa is agen tes de t rans fo rmação de uma prá t i ca
p ro f i ss iona l que sempre va lo r i zou a per fo rmance , os ma is
ap tos , os me lhores resu l tados à qua lquer cus to , à uma práx is
consc ien te . Práx is es ta que compreende as re lações
humanas , respe i tando suas d i fe renças e e levando a p len i tude
da v ida como pr inc ipa l ob je t i vo a se r a lcançado .
As b r incade i ras de roda a t ravés do seu va lo r cu l tu ra l ,
nos mos t ra em te rmos p rá t i cos , que o homem é o ún ico
responsáve l pe las suas p rópr ias ações , em respos ta às suas
necess idades e anse ios , e c la ro , que depende ún ica e
exc lus ivamente de le p rópr io para t rans fo rmar um idea l em
ação consc ien te e consequentemente , em novos va lo res que
tenham rea l s ign i f i cado para sua v ida .
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B IBL IOGRAFIA RECOMENDADA
BAGNO, M. Pesqu isa na esco la . O que é , como se faz . São
Pau lo : Á t i ca , 1998 .
CHAUÍ , M. Conv i te a f i l oso f ia .6 A e .d . São Pau lo : Á t i ca , 1995 .
CHATEAU, J . O jogo e a c r iança . São Pau lo : Summus, 1987 .
BASTOS, L . e t a l . Manua l para e laboração de p ro je tos e
re la tó r ios de pesqu isa , teses e d isser tações . R io de Jane i ro :
UFRJ, 1987 .
CHAVES, M. A . Fazendo Monogra f ia .R io de jane i ro : UCAM,
2001 .
21
GLOSSÁRIO
Esquema corpora l – É uma imagem menta l em re lação ao
conce i to do p rópr io co rpo e de suas par tes .
Coordenações g loba is – ação s imu l tânea de membros
super io res , in fe r io res t ronco e cabeça , em seus d i fe ren tes
g rupos muscu la res , ob je t i vando a execução de mov imentos
amp los e vo lun tá r ios ma is ou menos complexos .
Organ ização espac ia l e tempora l – o rgan ização espac ia l
é a capac idade de o r ien ta r -se d ian te de um espaço f í s i co e de
perceber a re lação de p rox im idade de co isas en t re s í . Re fe re -
se as re lações de per to , l onge , enc ima, emba ixo , den t ro , fo ra
e e tc . A o rgan ização tempora l co r responde à capac idade de
re lac ionar ações a uma de te rminada d imensão de tempo, onde
sucessões de acon tec imentos e de in te rva lo de tempo são
fundamenta is .
La te ra l idade – capac idade de v ivênc ia r as noções de
d i re i ta e esquerda sobre o mundo ex te r io r , i ndependente da
sua p rópr ia s i tuação f í s i ca .
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R i tmo – Em re lação ao mov imento , é a o rdenação
espec í f i ca , ca rac te r ís t i ca e tempora l re fe ren te a p rocessos
parc ia is in te r l i gados no a to moto r . Há uma es t re i ta l i gação
en t re r i tmo e o rgan ização espaço tempora l .
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ANEXOS
EXEMPLOS DE CANTIGAS DE RODA
CARANGUEJO
Carangue jo não é pe ixe
Carangue jo pe ixe é
Carangue jo só é pe ixe
Lá no fundo da maré
Ora , pa lma, pa lma, pa lma
Ora , pé , pé , pé
Ora , roda , roda , roda
Carangue jo pe ixe é
Formação – roda de mãos dadas .
Mov imentação – A roda g i ra enquanto as c r ianças
can tam a p r ime i ra quadra . Ao can ta r a Segunda, as c r ianças
so l tam as mãos e segu indo a le t ra , ba tem pa lmas , ba tem os
pés no chão e g i ram sobre s i mesmas.
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Exemplo de var iação – Ao can ta r a p r ime i ra par te , so l ta r
as mãos e passar para a base de 4 apo ios “ im i tando” o
carangue jo e fazendo pequenos des locamentos . Vo l ta r à
fo rmação de roda para can ta r a Segunda par te fazendo
var iações com a le t ra e consequentemente com o mov imento (
pé d i re i to , esquerdo , ou t ras par tes , aba ixa , l evan ta , e tc . ) .
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Ba , Be , B i , Bo , Bu
O ba , be , b i , bo , bu b i s
Vamos todos aprender
So le t rando o b -a ba b i s
Na car t i l ha do ABC
O m é uma le t ra b i s
Que se esc reve no ABC
Ó Mar ia você não sabe b i s
Quanto eu gos to de você
Formação – roda de mãos dadas . Uma c r iança ao cen t ro .
Mov imentação – depo is de can ta r a p r ime i ra quadra com a
roda em mov imento , as c r ianças se de têm. A c r iança que es tá
ao cen t ro responde can tando a segunda quadra , d izendo
p r ime i ro a le t ra in i c ia l e depo is o nome de um(a)
companhe i ro (a ) , que deverá subs t i tu í - la .
Exemplo de var iação – var ia r a can t iga com ouras s í labas ,
o (a ) co lega ao cen t ro esc reve em ges tos a in i c ia l do nome da
p róx ima c r iança que va i subs t i tu í - la .
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Bambu Qu iabu
Bambu qu iabu
Aroe i ra mante igue i ra
T i ra rás Pedr inho
Para ser bambu
Formação – roda , de mãos dadas .
Mov imentação – As c r ianças can tam, inc l inando o corpo para
f ren te e para t rás . Ao nomear uma das c r ianças “para ser
bambu” , a c r iança ind icada a joe lha-se . Quando todas as
c r ianças es t i ve rem a joe lhadas , con t inua-se a nomeá- las ,
des ta vez para que se levan tem.
Exemplo de var iação – O bambu da mús ica pode ser
subs t i tu ído por um an ima l , ob je to , personagens de
quadr inhos , que ser iam, após a nomeação, represen tado em
mímica , no cen t ro do c í rcu lo .
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Esc ravos de Jó
Escravos de jó
Jogavam o caxangá
T i ra , bo ta ,
De ixa o Zé Pere i ra f i ca r
Guer re i ros com guer re i ros
Fazem z igue , z igue , zá
Guer re i ros com guer re i ros
Fazem z igue , z igue , zá
Formação – d ispos tas em roda e sen tadas sobre as pernas
c ruzadas , cada c r iança segura uma pedra ou ou t ro ob je to na
mão d i re i ta .
Mov imentação – Ao can ta r , as c r ianças marcam os tempos
fo r tes da me lod ia ba tendo uma pedra con t ra o so lo , depo is a
en t regam ao v iz inho , da esquerda para a d i re i ta . Ao can ta r
“z igue , z igue , zá ” , po rém, execu tam in tegra lmente o r i tmo,
ba tendo com a pedra à d i re i t a e à esquerda , passando ao
v iz inho somente na ú l t ima s í laba “zá ” . Pode-se b r incar
p ronunc iando as pa lav ras , em t ra la lá , à boca fechada ,
assob iando ou execu tando apenas as ba t idas .
Exemplo de var iação – As pedras poderão ser subs t i tu ídas por
ou t ros ob je tos como cop inhos de ca fé , por exemplo . Depo is
de todos consegu i rem um re la t i vo êx i to passando copos
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vaz ios , pode-se co locar a re ia den t ro dos mesmos, ped indo
que se jam passados sem que a a re ia ca ia . Depo is d isso , pode
a inda se pode repe t i r o b r i nquedo co locando água den t ro dos
copos , va r iando r i tmo, ve loc idade e d i reção .
Observação f ina l – qua lquer can t iga de roda aqu i apresen tada
ou ou t ras ma is , podem mante r sua fo rma o r ig ina l de le t ra e
me lod ia ou so f re r mod i f i cações (se rem re inven tadas) de
acordo com as necess idades e os ob je t i vos envo lv idos en t re
p ro fessores e a lunos .