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Page 1: A paz mundial através de umama educação mundial

Zlmarian Walker

A PAz MundiAl

AtrAvés de uMA

educAção MundiAl

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Zlmarian Walker

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A PAz MundiAl AtrAvés de uMA educAção MundiAl

PREFÁCIO

Na década de 1990 foi feita uma série intitulada ANO iNTErNACiONAl dA PAZ,

uma coleção dedicada às questões levantadas pela necessidade urgente do estabelecimento

da PAZ MUNdiAl no mundo de hoje.

Asuafinalidadeéoferecerlivroscurtos,objetivosepreciosos,destinadosàqueles

que sentem o desejo de ampliar a sua consciência de um dos grandes problemas mundiais:

as guerras e a sua solução.

A sua visão do homem é global e visa abranger toda a sua realidade: econômica,

social,religiosa,artística,científicaeespiritual.Todosessesaspectossãoanalisadosdentro

da perspectiva da paz e de um mundo unido, sem barreiras políticas, de cor, credo ou classe

social.

Têm como propósito apresentar um novo panorama, novos conhecimentos e novas

bases para o pensamentohumano e o grandedesafiode afastar definitivamente da vida

humana o espectro da guerra. Foram convidados autores profundamente envolvidos com o

estudo, pesquisa e desenvolvimento dos conceitos de uma Nova Era para o mundo, a paz

sempre dentro das suas especialidades ou áreas de formação. Acreditamos que nada é tão

importante nos dias atuais diante da designação pela ONU do Ano internacional da Paz, que

sejam trazidos ao público obras deste caráter.

Todos os autores residem no Brasil, e estão envolvidos pela realidade brasileira, e

embora seja uma convicção corrente do brasileiro não incluir no rol das preocupações o

problemadaguerramundial,aprofundidadeeasreflexõesagudaseinteligentesquecada

autor propõe parecem desmentir tal convicção, que torna a série ainda mais atraente.

há certas questões da vida humana que têm recebido pouca atenção no atual turbilhão

que a crise moral e ética da humanidade se envolveu. O desenvolvimento da ciência e da

tecnologia colocou á disposição meios de viver e também armamentos para os quais não

estava ainda preparado espiritualmente.

segundo o biólogo e Prêmio Nobel, Jean rostand, “a ciência nos tornou deuses sem

que antes tivéssemos merecido sermos homens”. Entre estas questões se coloca, sem dúvida,

o destino e o futuro da humanidade diante da atual potencialidade das armas nucleares.

A função de toda obra deve ser de aumentar o nosso conhecimento, não apenas para

podermos melhor manipular o homem e a natureza, mas para fazer renascer a nossa fé e

esperança na humanidade, e mostrando um novo caminho para a sua evolução.

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Zlmarian Walker

E a evolução do homem hoje, obrigatoriamente, está direcionada na medida dos seus

esforços pelo entendimento internacional e a criação de um mundo unido.

Os preconceitos, as tensões e os antagonismos não têm mais lugar na nova existência

humana e devem ser relegados ao passado de imaturidade da humanidade.

Esta série, ANO iNTErNACiONAl dA PAZ, visa a aprofundar a compreensão do

sentidodavidadohomem,oseupropósitoefinalidadenafacedaterraeasuaposiçãona

história.

Está sendo publicada baseada na convicção de que a atual geração pode realizar a grande

tarefa de reorganização do relacionamento humano, do alargamento dos seus horizontes, da

universalização dos seus objetivos, fazendo surgir uma consciência moral que leva à unidade

eafraternidadedetodosospovos,raças,culturas,religiõeseclasses.Enfim,àplanetização

da humanidade. Uma só família humana. Uma só raça: a Grande raça humana.

As grandes conquistas da humanidade não são resultado da força e nem mesmo

realizações puramente intelectuais: são realizações da totalidade do EU humano, nos seus

múltiplos aspectos morais e espirituais.

Seservirparaasuareflexãoeumamaiorcompreensãodomundoemqueviveepara

onde este mundo se dirige, prezado leitor, esta série terá cumprido a sua principal função.

ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS BAHÁ’ ÍS DO BRASIL

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A PAZ MUNDIAL ATRAVÉS DE UMA EDUCAÇÃO MUNDIAL

Nos últimos cem anos a palavra EdUCAÇÃO tem sido uma das mais comentadas, elogiadas

e lamentadas dentro do vocabulário moderno. Em poucos anos, a humanidade passou de

uma época em que a maioria dos reis não sabia ler, ou não desejava saber ler, até o presente,

quando, ao contrário do passado, incontáveis organizações declaram ser a educação um direito

incontestável de todas as pessoas, sejam elas ricas ou pobres, meninos ou meninas, jovens

ou idosos, camponenses ou citadinos.

Existem atualmente grandes complexos educacionais compostos de milhares de prédios

escolares, professores e alunos. As catalogações de material didático incluem milhões de

ferramentas,desdeatampinhadegarrafaatéoscomputadoresmaissofisticados.Mesmo

os países mais pobres possuem uma infraestrutura educacional e contribuem para o mundo,

criandofilósofos,cientistas,artistas,educadoreseestadistas.Nospaísesondeosrecursos

permitem, a educação formal pode ser de proveito de toda a população, desde a mais tenra

idadeatéofimdavida.

Entretanto, é um fato reconhecido a existência de uma crescente desilusão com a

“educação”. Em muitos países desenvolvidos, números alarmantes de alunos deixam seus

estudos no primeiro momento permitido por lei. Mesmo em países em desenvolvimento a

insatisfação concorre com os fatores econômicos para tirar os alunos das escolas.

Por seu turno, os educadores e legisladores procuram reagir a essa tendência

criando mudanças na estrutura educacional, reorganizando os currículos, buscando novos

materiais escolares, etc, mas nem eles mesmos estão satisfeitos com os resultados até agora

alcançados.

A grande verdade é que a chave do problema se encontra mesmo nos resultados que

a educação deveria trazer. Esta gigantesca máquina educacional, com milhões de horas de

aulas e estudos, não levou os alunos a responder as perguntas básicas e mais importantes de

suas vidas. Quem somos? Por que fomos criados? Para onde vamos?

Em nosso entusiasmo para encontrar a pedra mágica, acabamos nos esquecendo que

a educação, como qualquer ferramenta, não pode responder as perguntas dos “por quês?”.

Para obtermos tais respostas é necessário nos voltarmos para a religião, que é a fonte mais

profunda de motivação e segurança do indivíduo, como também a força geradora de civilização

para os povos.

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Através dos tempos, os Fundadores das grandes religiões, como Buda, Moisés, Cristo,

Muhammad, Bahá’u’lláh e outros, ensinaram à humanidade o propósito de nossas vidas e

como tal propósito poderia ser alcançado. Nos livros sagrados, encontramos os princípios

morais e éticos que orientam o uso adequado de qualquer ferramenta, inclusive as altas

tecnologias que, hoje, estão ao nosso alcance. No BagvadGita, no Velho Testamento, no Novo

Testamento, no Alcorão, e nas Escrituras Bahá’ís são destacadas as qualidades individuais

do ser humano, como a compaixão, a equidade, a bondade, e tantas outras que o homem

deve adquirir. Certamente, a aquisição dessas virtudes deve fazer parte fundamental de todo

e qualquer processo educacional. Mas, na medida em que criamos estruturas sociais, mais e

mais abrangentes, cresceram também de importância os problemas sociais e inter-pessoais.

A religião é que nos tem ensinado como conviver harmoniosamente em famílias, tribos,

cidades e nações, criando instituições baseadas na justiça, obediência, colaboração mútua e

crescente consciência social.

hoje em dia também a orientação para a vida social provém da religião. Neste

momento histórico, quando as perguntas dos “por quê?” chegaram ao ponto de não somente

desequilibrar inúmeros indivíduos, mas também a sociedade inteira, levando-a ao ponto de

pôr em perigo sua própria existência, Bahá’u’lláh proclamou os princípios sociais e éticos

adequadosparaoserhumanoenfrentartaisdesafios.

Bahá’u’lláh proclamou a unidade do gênero humano como o ponto focal ao redor do

qual encontraremos a solução de nossos problemas sociais:

“O bem-estar da humanidade, sua paz e segurança são inatingíveis, a menos

que, e até que, sua unidade esteja firmemente estabelecida.” 4

Porém, qualquer “educação” baseada em perspectivas limitadas, lealdades parciais e

conhecimentos fragmentados, não pode satisfazer ao ser humano, que intrinsecamente tem

anseios universais, esperanças celestiais e sentimentos globais. há que educá-lo para ser

umacriaturaconfiantedeseulugarnouniversoeprontoparacontribuircomseustalentos

para o progresso de toda a humanidade. Pela primeira vez na história das grandes religiões,

o próprio Fundador de uma religião destacou a Educação como uma lei divina e traçou as

linhasgeraisdeumafilosofiaeducacionaladequadaparaestaépoca.

NasEscriturasbahá’íssãodefinidostrêstiposdeeducação,ouseja,material,humana

e espiritual.

A educação material trata dos cuidados do corpo, seu bem-estar e conforto. Neste

aspecto da educação pode-se incluir as áreas de higiene, limpeza, abrigos, vestimentas,

cosmetologia, educação física, esportes, alimentação e as ciências de saúde. Nas diversas

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culturas em torno do globo estes assuntos recebem tratamentos variados, portanto está

evidenciado de alguma maneira, e formam parte de nossa herança universal.

As crianças, porém, devem receber uma instrução sobre o funcionamento e cuidados

que o corpo e os demais elementos do meio ambiente físico necessitam. A natureza possui

suas leis e estrutura geral. O papel da educação é gerar o melhor entendimento destas leis

para que possamos obedecê-las e aproveitá-las tanto para nos proteger, como para fazer

descobrimentos que levarão avante a civilização.

A educação humana inclui as atividades sociais e humanísticas que fazem parte da

civilização, comogoverno, administração, obras de caridade, profissões, artes e ofícios,

ciências, e, grandes invenções e descobertas. A atuação nestes campos permite a expressão

cada vez mais profunda das faculdades intelectuais. Assim aprendemos a funcionar em

diversas instituições sociais de crescente complexidade e abrangência, como a família, as

tribos, as cidades, o Estado-nação e, hoje, chegou a hora de aprendermos como viver nesta

nova fase de unidade mundial.

O terceiro tipo de educação, ou seja, a espiritual, é a parte mais crítica. Trata-se da

aquisição de qualidades espirituais e de desenvolvimento de um bom caráter. inclui-se tais

qualidades como a honestidade, justiça, veracidade, cortesia, reverência, decência, paciência,

etc. O ser humano é a única criatura essencialmente espiritual, portanto esta educação atinge

suaessência.Suainfluência,portanto,penetraecontrolatodososaspectosdesuainteração

como os outros tipos de educação, ou seja, a material e a humana. Entender a biologia é um

fator importante, mas evidenciar respeito para com o meio ambiente, é essencial. O estudo

da psicologia é ótimo, mas, aprender a relacionar-se com amor e unidade é crucial.

Tendo em vista a natureza espiritual do homem, a aquisição destas qualidades permite,

também, que ele se aproxime de deus e progrida espiritualmente em todos os mundos da

existência.

Através de uma educação completa, isto é: material, humana e espiritual, as pessoas

conseguem não somente a auto-realização como também se preparam para levar avante a

civilização humana.

Alémdedefinirostiposdeeducação,asEscriturasBahá’ísfornecemorientaçãosobre

sua abrangência e focalizam diversas áreas da educação humana que devem ser enfatizadas

neste ponto crítico de nossa evolução social.

Em síntese, a educação deve ser universal em sua abrangência, em seu conteúdo

e em seu enfoque. Todos, meninos e meninas, devem ser educados no sentido formal de

alfabetização e frequência às aulas, como também nos aspectos não formais que visem ao

máximo aproveitamento dos contatos inter-pessoais e os intercâmbios culturais, através dos

quais as pessoas tornam-se capazes de integrar-se no seu meio ambiente e ainda melhorá-lo.

Bahá’u’lláh comparou o ser humano a uma mina rica em sua capacidade de produzir

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gemas preciosas: gemas de conhecimento e comportamento que não são aparentes aos olhos

dos observadores.

“Considerai o homem como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação,

tão somente, pode fazê-la revelar seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela

algum benefício.” 7

Cabe aos educadores serem mineiros, trazendo à superfície as belezas ocultas no ser

humano. A própria natureza humana é curiosa, investigadora, racional, responde naturalmente

ao estímulo, para o cumprimento deste princípio.

se pensássemos bem na alegria que uma criança mostra após a aprendizagem de

umnovoconceitoouhabilidade,ficaríamos certamente admirados ante a satisfaçãoque

o conhecimento pode trazer a ela. Portanto, a aquisição de qualidades como amor, justiça,

compreensão, honestidade, e outras, causa não só a alegria e satisfação da própria pessoa, como

também de todos ao seu redor. Além disso, a contribuição dos seus talentos à humanidade

pode ser motivo de felicidade para todos os habitantes do planeta.

há mais de cem anos passados, quando Bahá’u’lláh chamou a atenção dos reis e

governantes para a necessidade premente do estabelecimento da paz, um pequeno grupo

de líderes teve nas mãos o poder de levantar essa bandeira e salvar a humanidade deste

século angustiado. Mas não o fez. sua recusa em ouvir o chamado de Bahá’u’lláh retardou,

certamente, mas não alterou o andamento do plano divino, inclusive já previsto em todos os

livros sagrados: o de implantar na terra uma época de verdadeira paz universal.

Nabuscademeioseficientesparaestabeleceremanterapaz,aeducaçãotemsidomuito

subestimada e, consequentemente, pouco utilizada. Na verdade, é tão somente a distância

deumfiodecabeloquehojeseparaahumanidadedeumholocaustoatômicoquealertou

os povos em geral ao engano terrível que foi cometido, deixando de educar as últimas três

geraçõesparaumafinalidadedepazecompreensão,emvezdaguerraeagressão.Destaforma,

por uma necessidade imperiosa, a educação para a paz está sendo lentamente implantada

nos currículos das escolas primárias e secundárias, e também em algumas universidades

do mundo. A Educação para a paz pode ser vista não somente como uma arma poderosa na

batalha contra o desastre iminente, como também, e mais importante ainda, como a maior

força para que possamos manter a paz, uma vez estabelecida.

Até a presente data, a maioria das pessoas simplesmente jamais recebeu educação

material, social ou espiritual com vistas à construção de um mundo de paz. Nossos brinquedos,

livros e materiais didáticos, nossos heróis e modelos de vida são valorizados por sua força

e não por sua compaixão, por seu machismo e não por sua humanidade, por seu valor de

mercado e não pela contribuição que podem trazer à felicidade e desenvolvimento de uma

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coletividade. As pesquisas mostram que muitos de nós, seres humanos, nem conseguimos

imaginarcomoseriaummundodepaz,tãocheiasestãonossascabeçasdeimagensdeconflito,

temor e guerras.

Naprimeiradécadadesteséculo,‘Abdu’l-Bahá,ofilhodeBahá’u’lláh,falou,durante

suas viagens para o Ocidente, que a paz universal era o maior problema enfrentado pela

humanidade e que cada indivíduo deve combater até os pensamentos de guerra.

“Hoje o problema mais importante nos assuntos do mundo da humanidade é a

questão da paz universal, que é o maior meio de contribuir à própria vida e felicidade

da humanidade. Sem essa realidade mais luminosa, é impossível que a humanidade

atinja o conforto real e a proficiência. Antes, sofrerá, cada dia, alguma desavença e

tragédia...”5

Ele também indicou como devemos educar as crianças, no que diz respeito à paz:

“Semeia nas mentes maleáveis das crianças as sementes da paz, ensina-lhes as vitórias

da paz. Cerca-as com lições de paz. Envolve-as com a atmosfera da paz e inspira

seus corações com as realizações da paz. Permite que seu alimento seja a paz, sua

contemplação a paz, sua aspiração máxima a paz e o propósito movedor de suas vidas

a paz.” 6

Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá destacam diversos princípios sociais com referência

específicaàrealizaçãoemanutençãodapazmundial.Entreeles,osseguintes:

a – Perspectiva mundial.

b - Eliminação das guerras e redução de armamentos.

c – Participação plena das mulheres na sociedade.

d – Eliminação dos preconceitos raciais, regionais, nacionais e religiosos.

e – Idioma auxiliar universal.

f – Paz entre os indivíduos.

Entre as organizações mais preocupadas com a educação para a paz destacam-se

as Nações Unidas e seus órgãos consultivos. Em 1974, a Conferência Geral da UNEsCO

apresentou uma recomendação aos estados membros acerca da educação para a paz e assuntos

relacionados. Foram enumerados os seguintes pontos como elementos chaves dos estudos

dedicadosaestefim:

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1 – Uma dimensão internacional e uma perspectiva global de educação em todos os seus

níveis e em todas as suas formas.

2 – A compreensão e o respeito por todos os povos, suas culturas, civilizações, valores e

modos de vida, incluindo-se as culturas das etnias nacionais e as outras nações.

3 – A capacidade de se comunicar com os outros.

4 – A consciência não só dos direitos, mas também dos deveres que os indivíduos, os grupos

sociais e as nações têm para com os demais.

5 – A compreensão da necessidade de solidariedade e cooperação internacionais.

6 – A disposição por parte de cada um de contribuir para a solução dos problemas da

comunidade, do país e do mundo.

7 – O reconhecimento da crescente interdependência dos povos e das nações. 15

Os princípios e temas acima mencionados estão sendo estudados pelos educadores,

formando, assim, a base de um currículo sobre a educação para a paz. Tais estudos mostram

que as pessoas podem ser educadas para serem mais cooperativas, tomarem decisões morais

mais elevadas, valorizarem e apreciarem culturas e povos diferentes do seu, diminuírem o

númerodeconflitoseadquiriremumaperspectivamundial,emvezdepermaneceremlimitadas

às visões locais, regionais ou nacionais.

Uma visão real do mundo físico é uma imagem nova para a humanidade. As fotos

do planeta, tiradas do espaço, retratam nosso globo verde e azul, sem nenhuma fronteira ou

divisãoartificial.Nossaperspectivasócio-econômicatambémdeveespelharestegraude

unidade. O ex-astronauta Edgar Mitchell nos explica o efeito desta visão global, nas seguintes

palavras:

“Nenhum homem que eu conheça, foi até a lua e voltou sem ter sido afetado de uma

maneira muito semelhante. É o que eu prefiro chamar de consciência global instantânea.

Cada homem volta com um sentimento que ele não é apenas um cidadão norte-

americano; ele é um cidadão planetário. Ele não gosta do jeito que as coisas estão, e

quer melhorar a situação...” 25

Um estudo dos mapas, documentos históricos e representações da terra, apresentam

uma visão cada vez mais ampla e exata do globo terrestre. As crianças também têm uma

visão do mundo que se forma gradativamente. Mas através dos meios de comunicação em

massa, em poucos anos sua visão do mundo físico se completa. Entre os 7 e 9 anos de idade

tambémavisãosocialéalcançada.Atéofinaldesuaadolescênciaascriançasjácriaramum

forte conceito de “nós” e os “outros”.

Elasfixamsuaidentidaderacial,étnicaenacional.Seosmodeloseconceitosquelhes

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são apresentados forem limitados e restritos, sua visão também o será. Mas se os modelos

e conceitos forem ampliados e abrangentes, da mesma forma será também seu modo de

pensar.

Todos os assuntos apresentados para o estudo devem ter uma visão mundial. se

estudamos moradia, por exemplo, é necessário que, primeiramente, tal assunto seja tratado

como uma necessidade humana. Apresentamos as diferenças e os pontos em comum entre

asculturasenotamosquecadapovotemsuasrazões(clima,história,geografia,etc)para

justificarotipodehabitaçãoutilizadoemsuaregião.Oassuntodevesertratadosemnenhuma

demonstraçãodedesprezocontraqualquertipodemoradia.Emvezdeclassificartodamoradia

em casa ou apartamento, devem ser mostradas gravuras de outros tipos de habitação, mesmo

para as crianças pequenas.

Para nutrir o desenvolvimento da perspectiva global, desde o início a criança deve

ter múltiplos contatos com pessoas das mais diversas raças e nacionalidades. Bem cedo

deve a criança perceber a beleza e unidade que existem na família humana, pois a falta deste

reconhecimento, ou seja, os pensamentos e comportamentos preconceituosos, é uma das

principais causas das guerras:

“Em relação aos preconceitos religiosos, raciais e políticos, todos estes preconceitos

atacam a própria raiz da vida humana: todos eles geram derramamento de sangue e a

ruína do mundo. Enquanto sobreviverem estes preconceitos, haverá guerras contínuas

e terríveis.” 2

Os pais devem escolher os brinquedos (como bonecas, etc) e a literatura infantil que

reflitamabelezaeadiversidadedaraçahumana,equedespertemnascriançassentimentos

universalistas. Ao ver outro país na televisão, ou ao encontrar-se com pessoas provenientes

de outros países, os adultos devem manifestar de viva voz seu prazer por isso, mostrando,

também, um amplo espírito hospitaleiro. Assim começa a educação universal.

Com relação às instituições educacionais, elas devem desenvolver cada vez mais os

princípiosunificadoresdahumanidade.Primeiro,nomodeloapresentadopelosprofessorese

mais tarde através do conteúdo e teor das lições. As crianças devem ter contato com professores

e administradores de diversas origens e raças, bem como ter em seus livros didáticos gravuras

representativas de todos os países do mundo.

devemos ensinar as crianças a serem cooperadoras. A cooperação é uma das áreas

de comportamentomuito bem estudadas.Entre as diferentes definições, uma dasmais

representativas é a seguinte:

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“... um relacionamento entre pessoas que trabalham juntas a fim de alcançarem metas

iguais ou complementares...”

e o autor continua:

“como o homem é um ser social, devido à suas características e herança biológica e

cultural, sua sobrevivência depende de sua capacidade de obter e manter a união.”12

se pensarmos no dia a dia da maioria das pessoas, durante 24 horas de suas vidas,

observaremos que colaboram e procuram bom entendimento com os outros muito mais do

quebuscamdiscussõeseconflitos.Comtreinamentoeprática,atendênciaeacapacidade

de cooperação podem perfeitamente superar as outras. Nas crianças, o comportamento

cooperativo inicia-se cedo na vida:

“O desenvolvimento da cooperação tem suas raízes na fase pré-escolar, na medida

em que as crianças compartilham brinquedos, amigos, sentimentos e ideias. Mas, tal

participação mútua da criança nessa idade é limitada aos momentos quando as crianças

têm uma meta em comum...

Na escola primária, as crianças aprendem a adotar metas comuns bem como

respeito e simpatias mútuas. Aqui elas aprendem, pela primeira vez, imaginar o ponto

de vista de uma outra pessoa, quando adquirem a capacidade de conceber uma ação, ou

ideia, fora de si mesmas. Na escola média ocorre a verdadeira cooperação, baseada no

consenso do grupo. As crianças maiores, por exemplo, procuram de propósito conseguir

o reconhecimento de suas ideias por suas colegas.” 20

Uma análise do comportamento cooperativo feita pelo programa ANisA, destacou os

seguintes componentes:

“A cooperação pode se dividir em diversas atitudes. Tais atitudes transmitem aos outros

membros do grupo o desejo, ou vontade, da pessoa em cooperar, tanto quanto o nível

de atração que o membro sente para o grupo como um todo. Algumas dessas atitudes

são: bondade, cortesia, honestidade, justiça e equidade. Na medida em que uma pessoa

cria tais atitudes, mais fácil será sua cooperação com os outros.” 12

Existem centenas de atividade didáticas cuja finalidade é ensinar as pessoas a

colaborarem. As atividades variam segundo o nível de desenvolvimento das crianças. Entre

elas, os mais conhecidos são os jogos cooperativos, que criam um ambiente saudável e feliz

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para os participantes, ao mesmo tempo que desenvolvem os talentos e habilidades físicas e

fazem partes dos esportes tradicionais.

Um preconceito que apresenta grandes barreiras para a unidade e progresso é o

preconceitoreligioso,oqualtemsidocausademuitosconflitoseguerras.Emboratodas

as religiões se baseiem em princípios espirituais e místicos semelhantes, buscando levar

seus seguidores ao aprimoramento do caráter e da moral, muitos “religiosos” olham para os

seguidoresdecrençasdiferentescomdesconfiança,suspeitaeatéódio.

Bahá’u’lláh afirmaqueo papel principal da religião é unir os corações,masnão

somente dentro da mesma crença:

“Ainda outra causa do desacordo e da discussão é a formação de seitas e denominações

religiosas. Bahá’u’lláh disse que Deus envia a religião para estabelecer fraternidade entre

a humanidade, e não para criar conflito e discórdia, pois toda religião é fundamentada

no amor à humanidade. Abraão promulgou este princípio, Moisés chamou todas

a reconhecê-lo, Cristo estabeleceu-o e Muhammad dirigiu a humanidade a seu

estandarte. Esta é a realidade da religião. Se abandonarmos os depoimentos dos outros

e investigarmos a realidade e o significado dos ensinamentos celestiais, encontraremos

o mesmo fundamento de amor pela humanidade.”

“Todos devem abandonar seus preconceitos e até ir às igrejas e mesquitas uns dos

outros, pois em todos esses lugares de adoração o Nome de Deus é mencionado. Já que

todos se reúnem para adorar a Deus, qual é a diferença?”

Entre os primeiros programas tentados para pôr em prática os conselhos de educação

para a paz, encontramos os projetos educativos para católicos e protestantes na irlanda e

para hindus e muçulmanos na índia. Obviamente, esses pequenos projetos não resolverão as

guerrasjáiniciadas,mastaisesforços,agora,evitarãooutrosconflitos,nofuturo.

Muitoseducadoresafirmamsernecessáriaumaeducaçãodiferentesobreasreligiões

das formas tradicionais de educação religiosa, até então, unilateral e dogmática.

O dr. sten rhode, num artigo sobre os princípios do ensino religioso, oferece as

seguintes orientações aos educadores:

a – O ensino religioso nas escolas deve versar sobre muitas religiões. Nunca, uma

somente.

b – O ensino religioso deve ser sobre as religiões, e não interpretativo da experiência

religiosa.

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c – Nas escolas, o ensino teria de ser descritivo, e não interpretativo da experiência

religiosa.

d – Deve preocupar-se com questões existenciais e não com fatos curiosos.

e – A meta deve ser, fazer com que os alunos tenham um diálogo vivo com as religiões;

e não somente uma acumulação de fatos.

f – Deve se basear em fontes originais, como livros sagrados, cultos, templos, etc. em

vez de conhecimento de segunda-mão, ou avaliações puramente subjetivas. 9

Os alunos, de um modo geral, anseiam muito receber alguma educação sobre as

religiões. O dr. Arthur rice, em seu artigo “Educadores podem ajudar trazer paz ao mundo”,

escreveu o seguinte sobre educação e religião em seu país:

“Onde é que nossas crianças vão aprender sobre estes grandes grupos religiosos?...

Certamente não em nossas casas, porque o conhecimento, ou mesmo o interesse

passageiro por outras religiões, é quase inexistente nos lares americanos. E também não

nas igrejas... sendo que cada seita concentra-se só no ensino de suas próprias crenças,

rituais, ideias... Com o fracasso de nossos lares e igrejas, até agora, na promoção de

tal entendimento, restam nossas escolas públicas como o único órgão-sócio-cultural

através do qual podemos buscar – e talvez encontrar – um campo comum em que todas

as nações, que tenham religião, poderão alcançar a paz mundial.” 24

Outraáreaemqueaeducaçãopodeexercerumainfluênciadiretanosestabelecimentos

dapazmundialéadoensinodecomoevitarconflito,violênciaeaprópriaguerra.

Atéagora,aguerratemsidoaceitacomoumaformaválida,justificável,pararesolver

conflitosentrepovosenações.Bahá’u’lláhproclamouavindadodiaprometidoporDeus

no qual as ferramentas de guerra se transformariam em instrumentos de cultivo da terra.

se observarmos duas crianças brigando na pré-escola, procuramos logo tratar de

separá-las. Aconselhando-as a fazerem outra coisa para resolver o problema que havia entre

elas. Mas, se encontramos, na rua, dois adultos armados, brigando um com outro, achamos

que a desavença é um crime e imediatamente chamamos a polícia. O ideal seria a busca de

soluçõespacíficasparatodos,inclusivee,principalmente,paraasnaçõescomoumtodo.A

verdade é que a humanidade simplesmente não pode suportar mais o “luxo” da guerra; as

armas são poderosíssimas, o espaço, ou seja o próprio planeta, é pequeno demais; e os povos,

hoje cada vez mais ligados internacionalmente, inclusive com laços de amizade e de família,

estãointer-relacionadosdemais.Aconvivênciafraternaeasoluçãopacíficadeproblemas

internacionais são um imperativo desta época, em que a unidade e a interdependência mundial

constituem uma realidade crescente.

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A PAz MundiAl AtrAvés de uMA educAção MundiAl

Num artigo relatando os resultados de uma declaração feita por cientistas de diversas

áreas, durante um congresso realizado no Vaticano, em outubro de 1981, sob a coordenação

do professor Carlos Chagas, os seguintes parágrafos focalizam os perigos de uma guerra

nuclear:

“Ao contrário do que geralmente se pensa, temos hoje um conhecimento razoável da

extensão da catástrofe que acompanhará o emprego de armas nucleares.”

“A prevenção de qualquer doença requer um plano eficaz...”

“As recentes declarações segundo as quais se pode ganhar uma guerra nuclear e até

sobreviver a ela, denotam uma apreciação defeituosa da realidade médica. Toda guerra

nuclear propagaria inevitavelmente a morte, doença e o sofrimento em proporção e

escala gigantesca e sem nenhuma possibilidade de intervenção médica eficaz. Isso nos

leva à mesma conclusão a que chegaram os médicos a respeito das epidemias letais

que a humanidade já experimentou: só a prevenção permite manter o controle da

situação...

Mas as consequências de uma guerra nuclear não são apenas as de natureza médica;

porém só essas nos forçam a pensar na lição insofismável da medicina contemporânea:

quando o tratamento de uma doença é ineficaz, ou quando os custos do tratamento

são muito altos, é melhor apelar para a prevenção. Ambas essas condições se aplicam

aos efeitos de uma guerra nuclear. O tratamento seria praticamente impossível, e os

custos seriam insuportáveis. Haverá argumentos mais fortes em prol de uma estratégia

preventiva?” 8

Cremos não ser necessário acrescentar outras descrições gráficas do estrago e

desperdício,humanoeambiental,queumholocaustonuclearcomcertezatraria,sedeflagrado.

Mais importante é enfatizar o papel do educador, para evitar que tal catástrofe venha a

ocorrer.

No Congresso Mundial sobre Educação para o desarmamento, realizado em Paris,

em 1980, foram elaborados importantes princípios sobre esse tema, a Educação para o

desenvolvimento. Como primeiro deles, é focalizado o seguinte tipo de instrução:

“A Educação para o desarmamento como componente da educação para a paz, implica

em uma educação sobre o desarmamento e uma educação para o desarmamento.

Todos os educadores e comunicadores podem contribuir para a educação que trata do

desarmamento em geral, buscando compreender melhor, e fazer com que os demais

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Zlmarian Walker

também compreendam melhor, quais são as razões para a produção e aquisição de armas,

das repercussões sociais, políticas, econômicas e culturais da corrida armamentista, e

do grave perigo que representa para a sobrevivência da humanidade a possibilidade

do emprego de armas nucleares.” 21

Número cada vez maior de crianças está recebendo informações sobre o desarmamento

através de uma conscientização e instrução específica nesse sentido, e, gradativamente,

as crianças podem perder sua fascinação pelos instrumentos de guerra (tanques, bombas,

metralhadoras, e outras armas modernas), começando, na adolescência, a preocupar-se com

a realidade das lutas fratricidas que ocorrem no mundo.

Às vezes, a juventude sofre uma desilusão total e frustração completa ao tentar conviver

com o conhecimento de que existe uma grande frota de armas prontas a lhe destruir, mas,

por sua vez, devem tentar agir como se nada estivesse errado.

Na época em que a UNiCEF preparou este kit, ocorreu uma sessão Especial da

Organização das Nações Unidas sobre o desarmamento. O UNiCEF enviou uma mensagem

àquela sessão incluindo o seguinte pensamento:

“O Conselho Executivo do UNICEF espera que durante as deliberações... os participantes

levem em conta o objetivo de todos os governos a proporcionar vida mais seguras e

produtivas para as crianças que são os futuros cidadãos do planeta. Um meio para este

fim é a redução do perigoso estoque de armamentos, e outro, é providenciar os serviços

básicos necessitado pela nova geração.” 24

Este kit se destina ao uso com alunos entre nove e quatorze anos de idade com objetivo

de promover o melhor entendimento e cooperação internacionais.

Nos anos seguintes àquele, centenas de outras obras foram publicadas, detalhando

diferentesmaneirasdeensinarascriançascomoencararoconflitonucleareparaconscientizá-

las de que a violência não é a única forma que dispomos para resolver desavenças.

No entanto, há que se enfatizar que todos os autores concordam no fato de que o ensino

contraaguerranãoéasoluçãodefinitivaparaerguerumageraçãoquesejacapazdealcançar

edemanterapazmundial.Paraestefimprincipalmente,odemanterapaz,ahumanidade

necessita de uma série de mudanças em seu modo de ver e de tratar o semelhante.

Entre elas, a mudança no relacionamento tradicional entre as mulheres e a sociedade.

‘Abdu’l-Bahá nos explica que até agora a sociedade tem valorizado demasiadamente as

qualidades da força bruta e domínio físico. Mas que neste momento decisivo na história do

planeta outras qualidades são de maior utilidade. Muitas destas hoje tão necessárias qualidades

humanas, tradicionalmente têm sido tratadas como de natureza “femininas”.

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A PAz MundiAl AtrAvés de uMA educAção MundiAl

Enquanto a contribuição da mulher não chegar a “todas” as áreas da atividade humana

(ciências, artes, políticas, etc) – dizem as escrituras bahá’ís – não será possível à humanidade

livrar-sedoflagelodaguerra.

Para os pais e educadores a tarefa é gigantesca e deslumbrante, e aumenta cada vez mais

à medida que o tempo vai se esgotando e os perigos aumentando dia a dia. há que se superar

os empecilhos seculares de opressão, de autodegeneração, de desprezo e desestímulo.

O ensino deve começar com o aperfeiçoamento de nosso próprio comportamento, como

pais e educadores. Em muitos países, os homens estão sendo encorajados a ensinarem nas

escolas primárias, e as mulheres a participarem mais equitativamente nas escolas secundárias,

universidades e no campo administrativo. Os livros didáticos devem ser escritos e selecionados

paratrataremdeumaamplarepresentaçãográficaetextualdemulheresatuandoemdiversas

áreas da vida humana: lares e negócios, líderes e seguidores, produtoras e consumidoras.

O cumprimento deste princípio trará benefícios, não somente para homens e mulheres,

individualmente, mas para a humanidade toda. Num estudo realizado pelo UNiCEF, em 15

países ao redor do globo, foi comprovado que a medida simples da educação das mulheres,

independente de sua classe social, mostrou ser um fator muito importante, o principal em

muitoscasos,damelhoriadoníveldesaúdeeeducaçãodosfilhos.

Outra condição essencial para a manutenção da paz é a melhor comunicação entre os

povos. (Ver: “Os estágios da educação para a paz – UNEsCO acima citados.)

Amedidamaiseficazparamelhoraroníveldecomunicaçãoéaadoçãodeumidiomaauxiliar

universal. Bahá’u’lláh escreveu, no século passado:

“Através da união, as regiões do mundo se têm iluminado sempre com a luz da Causa.

O maior meio é que os povos conheçam a língua e a escrita uns dos outros.

Ordenamos anteriormente nas Epístolas, que os membros da Casa de Justiça escolhessem

uma dentre as línguas atuais, ou um idioma novo, também uma das várias escritas, e

as ensinassem às crianças nas escolas do mundo.” 10

se as crianças aprendem desde cedo uma língua universal, além da língua materna,

facilmente chegam a dominá-la completamente. Assim elas terão não somente a riqueza da

língua da terra onde nasceram, com sua cultura e tradições, locais e nacionais, mas teriam

acesso, igualmente, a uma forma de comunicação internacional, com todas as pessoas do

mundo, podendo participar e colaborar muito mais na construção de uma cultura mundial.

O ensino de línguas para as crianças, tanto o seu próprio idioma, como mais um, é outra

área de educação amplamente pesquisada. As Tecnologias e materiais didáticos disponíveis

paraessefimsãoosmaisdiversos.Técnicas,comoasuperaprendizagem,mostramque

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Zlmarian Walker

a aquisição de vocabulário pode ser sensivelmente aumentada através de uso de técnicas

relativamente simples. No entanto, somente experiências em comum, e metas complementares,

podem aumentar o entendimento desse novo vocabulário.

Outra área integral da educação para a paz é a necessidade de se educar as pessoas para

se tornarem cada vez mais conscientes da interdependência mundial. Portanto, a diminuição da

avareza, da cobiça, e do materialismo, é um ponto imprescindível. Como escreveu Mahatma

Ghandi:

“O mundo produz o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não a

cobiça de todos.” 23

desde cedo os hábitos de desperdício e mal-aproveitamento das riquezas devem ser

eliminados, e o respeito pelo meio ambiente e pelos seres que nele habitam deve ser enfatizado.

Muitos programas educacionais tratam do modo de viver tradicional dos indígenas e povos

primitivos,afimdeentendermelhorcomoépossívelconviverharmoniosamentecoma

natureza.

O cacique seattle, da nação suquanish, explicou tal princípio nas seguintes

palavras:

“Ensinai a vossas crianças o que nós temos ensinado a nossas crianças, que a terra é

nossa mãe. Qualquer coisa que sucede à terra sucede aos filhos da terra. Se cuspirmos

no chão, cuspimos sobre nós mesmos. Isto nós sabemos. A terra não nos pertence; nós

é que pertencemos à terra...

Uma coisa nós sabemos, e o homem branco poderá um dia descobrir: o nosso

Deus é o mesmo Deus. Quiçá vós pensais agora que possais possuí-lo, assim como

desejais possuir as nossas terras, mas não podeis. Ele é o Deus de todos os povos, e sua

compaixão é igual para todos...” 13

Projetos científicos, voltados ao entendimento da natureza e seu aproveitamento

racional, também são empregados nesta atividade educacional.

Crianças e adultos devem aumentar as atividades nas quais aprendem compartilhar

seusobjetos, ideias e tempocomosoutros.Diversas atividadespara estafinalidade são

desenvolvidas em lares e escolas em muitas partes do mundo. Por exemplo, as crianças podem

fazer um inventário de seus pertences e hábitos (tempo gasto em que) e após uma análise,

resolvermodificarestequadroparaobemdosoutros.Frequentemente,elassentemnãoserem

necessárias, nem usadas, e nem desejadas, muitas das coisas, ou atividades, constantes do

inventário. Ocorrem, então, muitas trocas, como com livros, roupas, trabalho comum, etc, o

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A PAz MundiAl AtrAvés de uMA educAção MundiAl

que pode ser feito regularmente dentro do ambiente escolar.

Em casos de caridade, ou doação de presentes, cartas de amor e estímulo, escritas pelas

próprias crianças, poderiam acompanhar as doações. Assim, nosso senso de interdependência

seria reconhecido, cultivado e ampliado.

“E entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh é que embora a civilização material seja

um dos meios para o progresso do mundo da humanidade, até ela se juntar com a

civilização divina, o resultado desejado, que é a felicidade da humanidade, não será

alcançado. Considerai. Estes encouraçados que reduzem uma cidade a ruínas dentro

do espaço de uma hora são o resultado da civilização material; da mesma maneira,

as metralhadoras Krupp, os rifles Mauser, dinamite, submarinos, torpedeiros, aviões

armados e bombardeiros – todas estas armas de guerra são os frutos malignos da

civilização material, estas armas de fogo nunca teriam sido inventadas. Antes, as energias

humanas teriam sido inteiramente dedicadas a inventos úteis, e teriam sido concentradas

em descobertas louváveis. A civilização material é como o globo de vidro. A civilização

divina é a própria lâmpada, e o vidro sem a luz é escuro.” 2

Apesar dos esforços, de muitos educadores e de diversas instituições, a educação

universal se encontra ainda em fase embrionária. igualmente encontra-se nesta mesma fase

a vida organizada da humanidade como “um só povo, em um só planeta”.

Na medida em que aplicarmos os princípios espirituais e sociais aos problemas que

nos defrontam, encontraremos novas técnicas e métodos adequados para educar os cidadãos

do mundo, atividades essas capazes de construir, promover, aproveitar e contribuir para um

mundo de paz.

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Zlmarian Walker

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Page 22: A paz mundial através de umama educação mundial

www.editorabahaibrasil.com.br

ISBN 978-8532002006

9 7 8 8 5 3 2 0 0 2 0 0 6

Zlmarian Walker (1944-1989) foi professora da Escola das Nações, em Brasília. Nascida

em Washington, dC, Estados Unidos, fez doutorado em Educação naquele país, com estudos

específicos na área de aprendizagem.Bacharel emHistória, pelaUniversidade deFisk,

em Nashville, Tennesse, e Mestrado em Comunicação e Educação, pela Universidade de

indiana.

Fez trabalhos e estudos realizados na índia, Bolívia, Brasil e serra leone, tratando

do desenvolvimento de uma educação universal e cooperativa. Exerceu o magistério desde

o nível pré-escolar até cursos universitários e de pós-graduação, na América do Norte e na

América do sul, e por 12 anos no Brasil. Foi membro por alguns anos da instituição-mor

doBrasil.Pelasatividadesfilantrópicasecarismapessoalatéosdiasatuaisélembradacom

muito carinho.


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