A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS DE EVENTOS DE JUIZ DE FORA
Ana Paula Moratori Ferreira, João Roberto Marques Lobo
(Fundação Educacional Machado Sobrinho)
Resumo: Este trabalho busca identificar como as principais empresas produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora (MG) se comportam quanto à temática Responsabilidade Social. Ações de responsabilidade social interna e externa foram analisadas através de uma pesquisa qualitativa, realizada com a aplicação de um questionário. Cinco empresas foram selecionadas para a pesquisa devido ao impacto regional de seus eventos. As perguntas foram divididas em três blocos: perfil geral da empresa, ações de responsabilidade social externa e ações de responsabilidade social interna. O resultado da pesquisa foi um panorama de como as empresas produtoras de eventos de Juiz de Fora lidam com o tema proposto. Ações sugestivas também foram pontuadas ao final do estudo.
Palavras-chaves: Responsabilidade Social;Responsabilidade Social Corporativa; Eventos;
Sustentabilidade
ISSN 1984-9354
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INTRODUÇÃO
O setor de eventos no Brasil cresce de forma contínua, sendo responsável por
significativo impacto econômico. A 9ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo –
Pacet, apresentada em 2013 pelo Ministério do Turismo (MTur) e pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) mostrou que os organizadores de eventos ocupam a primeira posição entre os segmentos
turísticos que mais aumentaram seu faturamento em 2012. Segundo o estudo, o segmento cresceu
23,3%. A pesquisa reuniu informações a respeito do desempenho em 2012 e dos prognósticos para
2013 das 80 maiores empresas do setor de turismo, as quais auferiram um faturamento de R$ 57, 6
bilhões no ano em referência.
A cidade de Juiz de Fora, localizada na Zona da Mata Mineira, segue as tendências de
crescimento neste setor. Situada em área geográfica privilegiada, próxima a metrópoles como São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a cidade abriga, ao menos, cinco produtoras responsáveis
pelo desenvolvimento de projetos de eventos de médio e grande porte, com atuação regional e
com maior impacto nos resultados da indústria de eventos para a região.
Mas como é a atuação dessas empresas quando o assunto é responsabilidade social
corporativa? O que as produtoras de alguns dos mais significativos eventos de Juiz de Fora têm
feito pela comunidade ao seu redor e pelo seu público interno? Qual a contrapartida da
oportunidade de desenvolvimento e sustentação destas empresas proporcionada pela região que as
sediam?
Partindo do pressuposto de Collins e Porras (1994), independente de tamanho, setor,
atividade ou lugar, qualquer organização tem liberdade para se instalar, desenvolver-se e
prosperar. Porém, em contrapartida há a obrigação de atuar como corresponsável pelo
desenvolvimento e bem-estar dos agentes do seu entorno. Sendo assim, o estudo aqui apresentado
procurou pesquisar se as principais produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora atuam de
forma socialmente responsável com relação aos seus públicos interno e externo.
O levantamento de dados se deu por meio de uma revisão de literatura sobre o tema e
entrevista com os gestores de cinco produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora. A amostra foi
constituída através de pesquisa qualitativa com aplicação de questionário padronizado e
comparação de informações.
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O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro traz uma revisão de literatura sobre
Responsabilidade Social, destacando as origens do termo e sua aplicação no ambiente corporativo.
No capítulo seguinte, a responsabilidade social no setor de eventos é identificada através de alguns
exemplos específicos. O terceiro capítulo apresenta os dados da pesquisa realizada com os
gestores das cinco produtoras de eventos. Na conclusão é retomada a pergunta-problema, sendo
destacadas as diversas constatações que puderam ser efetuadas por meio da pesquisa
desenvolvida, além de sugestões de atuação social que podem ser aplicadas pelas empresas do
setor abordado.
1. RESPONSABILIDADE SOCIAL
Segundo Karkotli (2006), a responsabilidade social é um assunto recente, teorizado e
colocado em prática a partir da metade do século XX, época de evolução social e criação de novas
organizações em razão das falhas cometidas pelo governo nesta área. No Brasil, a
responsabilidade social é considerada um tópico atual, melhor contextualizado com a promulgação
da Constituição Federal de 1988, documento que, segundo Reis e Medeiros (2009), consagrou
duas grandes espécies de democracia no mundo moderno: a liberal, na qual as liberdades
individuais são protegidas contra o abuso de poder dos governantes, e a social, cujo objetivo é
eliminar as grandes desigualdades de condição de vida.
Vidigal (2000) define o termo responsabilidade como a expressão moral da personalidade
consciente e livre, levando o indivíduo a assumir seus atos, positivos ou negativos, uma vez que se
reconhece como autor deles. Já o termo social, segundo Abbagnano (1998) é definido como algo
que pertence à sociedade ou tem em vista as suas estruturas ou condições, daí alguns termos como
“ação social”, “movimento social” ou “questão social”.
Sendo assim, a responsabilidade social poderia ser definida sob a ótica filosófica como a
responsabilidade que cada indivíduo assume, através do seu livre arbítrio, pelas realizações ou não
de seus atos, prevendo as consequências sociais que serão originadas e assumindo as
consequências geradas por elas.
1.1 Responsabilidade Social Corporativa
Reis e Medeiros (2009) esclarecem que a Responsabilidade Social das Empresas é um
movimento iniciado nos anos 1960. A motivação principal que deu origem a sua disseminação foi
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fundamentada na busca por maior consciência de segmentos da sociedade com relação à
responsabilidade das corporações na preservação do meio ambiente e dos direitos dos
consumidores.
Na análise dos autores, o histórico da responsabilidade social das empresas remonta a
meados do século XVI e está relacionado ao poder das empresas nos EUA. No século XVIII, o
poderio público controlava intimamente as legalidades corporativas. Uma mais ampla noção desta
relação se dá quando é explicitado que naquele tempo a constituição de empresas acontecia
somente através de autorizações concedidas pelo poder público e poderiam ser retiradas se
houvesse entendimento de que deixavam de servir ao interesse deste. No entanto, com a guerra
civil norte-americana (1861-1865) as empresas começam a escapar deste controle. Quanto mais os
lucros aumentavam maiores eram as pressões exercidas sobre o governo para ampliar seus
benefícios e autonomia. Os grupos de defesa da responsabilidade empresarial continuaram na
tentativa de evitar os abusos, mas não puderam impedir naquele tempo que as corporações
conseguissem aprovar leis favoráveis a elas mesmas como isenção sobre acidentes de trabalho,
salários, número de horas, dentre outras.
Hoje, no século XXI,
“Um dos maiores desafios que o mundo enfrenta (...) é fazer com que as forças de mercado protejam e melhorem a qualidade do ambiente, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e uso criterioso de instrumentos econômicos, num quadro harmonioso de regulamentação. O novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes, voltada às expectativas de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma (...) responsável.” (TACHIZAWA, 2008, pg.5).
As transformações socioeconômicas destes últimos anos afetaram significativamente as
empresas privadas, geradoras de riquezas, contribuintes fiscais de alta importância e também,
dentro do contexto da responsabilidade social, organizações compromissadas com a sociedade
com a qual interagem. Karkotli (2006) define a Responsabilidade Social Coorporativa como sendo
uma área da Responsabilidade Social a qual envolve um comportamento ético e responsável que
almeja a qualidade nas relações da organização com todos os seus stakeholders, associados direta
ou indiretamente aos negócios da empresa. Segundo o autor, as ações estratégicas da organização
devem refletir tais desafios éticos para dimensões econômicas, ambientais e sociais.
“O ambiente de acirrada competição vivenciado pelas empresas na atualidade vem, sem dúvida, lhes impondo a necessidade de uma atuação diferenciada como imperativo de
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sobrevivência no mercado, exigindo-lhes uma verdadeira mudança de paradigma ao determinar a transformação das atitudes empreendedoras fundamentadas simplesmente em conceitos lucrativos, para atitudes e práticas administrativas mais solidárias, no que diz respeito às suas interações e responsabilidades sociais com a comunidade onde atuam e de onde retiram sua sustentação econômica.”. (KARKOTLI, 2006, pg. 13).
Assim sendo, as empresas, por força das leis socioambientais ou por pura consciência
social e boa vontade, iniciam sua jornada rumo a práticas mais éticas de atuação, na tentativa de
adquirir para si uma consciência mais tranquila como membro fundamental do desenvolvimento
do meio em que estão inseridas ou, simplesmente, como estratégia de angariar novos adeptos às
suas marcas através de uma imagem mais politicamente correta.
2. RESPONSABILIDADE SOCIAL EM EVENTOS 2.1 O que é evento?
Antes de iniciar qualquer estudo sobre o setor de eventos, é importante a conceituação do
termo. Segundo NETO (2005, pg.13) “Evento é um conceito de domínio amplo. De cursos e
palestras até shows, jogos e competições esportivas, exposições, festivais, festas, mostras de arte e
mesmo campanhas publicitárias criativas.”. Matias (2007) apresenta diversas outras definições e,
dentre essas, a atividade é considerada pela autora uma ação do profissional mediante pesquisa,
planejamento, organização, coordenação, controle e implantação de um projeto, visando atingir
seu público-alvo com medidas concretas e resultados positivos.
O retorno das atividades geradoras do evento estão, geralmente, vinculados ao retorno
que uma marca, pessoa ou empresa, de certa forma, poderá obter. Segundo Britto (2002), no
sistema de comunicação dentro da atividade empresarial, as inter-relações estratégicas pressupõem
diferentes canais de comunicação, entre os quais o evento se destaca como ação concreta e de
permanentes resultados positivos.
2.2 A ação social dos eventos
O século XXI está sendo marcado por um momento de responsabilidade ética e
interessada e também por um modismo despropositado no que diz respeito a ações socialmente
responsáveis das empresas. As mudanças mercadológicas geradas pela globalização, maior acesso
a informação, desenvolvimento tecnológico e consequente aumento da concorrência, estão
obrigando as organizações a repensarem suas estratégias de mercado.
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“Na busca incessante por lucros cada vez maiores, e mesmo para se manterem no mercado, elas tiveram de ‘sair da toca’ e criar processos de geração de novos negócios e produtos diferenciados da concorrência. Já não podiam mais depender dos atuais produtos sequer para sobreviver. No setor de eventos a realidade é a mesma. Com o incrível aumento do número de eventos, torna-se evidente a necessidade da busca por projetos criativos e diferenciados para vencer a concorrência. Tais projetos têm início em ideias criativas.” (GIACAGLIA, 2007, pg. 02).
A criatividade é uma grande aliada do mercado de eventos. A tentativa é de que o
consumidor do evento vivencie uma experiência única e satisfatória, levando consigo uma
imagem e deixando para trás algum retorno ao investimento feito pela organização. Mas a que
custo todo esse preparo é feito? A logística é complexa e, em grande parte, não é reversa, ou seja,
materiais recicláveis tornam-se lixo, não há um sistema de reutilização de água ou iluminação
natural, as comunidades ao redor do evento ou da empresa que o produz não são beneficiadas,
pelo contrário, algumas vezes são até prejudicadas pelo barulho, sujeira e lentidão no trânsito.
Pereira (2010) lembra que reverter essa situação é muito simples. Segundo ele, por meio
do monitoramento dos impactos positivos e negativos gerados pelos eventos nas comunidades em
que são promovidos, torna-se possível identificar os pontos preocupantes, assim como administrá-
los visando potencializá-los quando positivos ou minimizá-los quando negativos.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a empresa Ernst & Young Brasil,
desenvolveu um estudo para identificar os impactos socioeconômicos que serão trazidos pela
Copa do Mundo de 2014. Segundo o documento, o País movimentaria R$ 142,39 bilhões
adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de
renda para a população. Os impactos denominados como específicos pelo estudo incluem os
impactos do Programa de Voluntariado sobre a escolaridade e renda da população; a exposição do
país na mídia mundial e os consequentes efeitos sobre o turismo; as potenciais reduções da
violência e criminalidade advindas dos investimentos em segurança; os benefícios sociais dos
investimentos em infraestrutura; e os impactos microeconômicos da construção e melhoria dos
estádios e todo um novo ambiente de oportunidades que se cria em seu entorno em função do
megaevento.
As Olímpiadas de 2016 também prometem contribuir com o desenvolvimento
socioambiental de seu local-sede. De acordo com o Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos
Rio 2016, publicado em 2013 e elaborado pelo Comitê organizador dos Jogos olímpicos e
Paralímpicos Rio 2016 (Comitê Rio 2016), Gerência Geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e
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Legado, Autoridade Pública olímpica (APO), Diretoria de Infraestrutura Esportiva e de Apoio ao
Evento e Meio Ambiente, Escritório de Gerenciamento de Projetos do Governo do Rio de Janeiro
(EGP), Empresa olímpica Municipal (EOM) e Gerência de Sustentabilidade e Acessibilidade, os
princípios que irão reger os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 são definidos na norma
ABNT NBR ISO 20121 para sistemas de gestão de sustentabilidade em eventos. São eles:
Responsabilidade, Inclusão, Transparência e Integridade.
Dos eventos esportivos, aos festivais, outra empresa que parece estar preocupada com a
imagem é aquela promotora do Rock in Rio. Segundo Gomes (2011), em 2011 o festival lançou
um plano de ação para ser o primeiro evento no Brasil a ter a cerificação 100R, selo internacional
que atesta emissão zero de carbono e 100% de reciclagem. As atividades incluíam a gestão de
resíduos, redução e compensação da emissão de carbono, programas educacionais e a campanha
"Vá de ônibus". A vice-presidente do Rock in Rio, Roberta Medina1, informa que desde 2001 o
festival se utiliza de artifícios socialmente responsáveis como promoção de grandes ações sociais
e projetos direcionados como “Por um mundo melhor”. Ela declara ainda que acredita ser
importante que o consumidor reconheça o calor de uma marca que se preocupa com causas sociais
e ambientais.
“O desenvolvimento de planejamento com ênfase na responsabilidade social requer uma mudança bastante significativa na filosofia e na prática gerencial da maioria das organizações, sejam elas públicas ou privadas. Isso faz o empreendimento organizacional passar, necessariamente, por uma fase de mudanças culturais e gerenciais, para possibilitar novas formas de atuação, comportamentos e comunicação, além de novas técnicas e práticas de planejamento, controle e avaliação organizacional e social.” (KARKOTLI, 2006, pg. 42)
Dessa forma, entende-se que a compreensão e aplicação dos conceitos de
Responsabilidade Social pelas empresas de eventos não é algo simples. A cultura precisa ser
modificada. Saflate (2007) revela que uma pesquisa realizada pelo Ibope com 500 executivos no
Brasil evidencia que deste total 80% não entendem que ética está relacionada com a prática
socioambiental e apenas um terço afirmou que considera sustentabilidade uma questão estratégica
para a empresa. Vários anos se passaram desde a pesquisa, a mentalidade de muitos gestores
continua a mesma, ou evoluiu pouco.
3. PESQUISA 1 Disponível em < http://oglobo.globo.com/cultura/rock‐in‐rio‐apresenta‐plano‐de‐sustentabilidade‐do‐festival‐garante‐emissao‐zero‐de‐carbono‐2867961> Acesso em 30 mar. 2014.
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Segundo TASHIZAWA (2008), a gestão ambiental e a responsabilidade social tornam-se
importantes instrumentos gerenciais para capacitação e criação de condições de competitividade
para as organizações, qualquer que seja seu segmento econômico. Com o crescimento das
empresas no setor de eventos e sua consequente influência econômica e social nas regiões em que
se desenvolvem, é fundamental que tais empreendimentos se adequem a essa nova mentalidade de
gestão.
O presente trabalho busca, dessa forma, identificar o nível de entendimento das empresas
de evento da cidade de Juiz de Fora (MG) no que diz respeito à importância da Responsabilidade
Social como forma ética e empreendedora de atuação, utilizando o método qualitativo de pesquisa.
A intenção desta utilização é levantar dados que dizem respeito ao grau de conhecimento,
preocupação e ações das principais empresas de produção de eventos da cidade de Juiz de Fora
(MG) no que tange a Responsabilidade Social.
O instrumento utilizado para a pesquisa foi um questionário, constituído por questões
relacionadas ao objetivo final deste trabalho. Este questionário é composto de perguntas fechadas
e abertas e é dividido em três partes: perguntas relativas à empresa que está sendo pesquisada;
perguntas referentes ao conhecimento e ações sobre práticas de responsabilidade social no meio
externo e perguntas referentes ao conhecimento e ações sobre práticas de responsabilidade social
no meio interno.
Todas as empresas foram definidas de forma não aleatória, por conveniência. Isto se deu
porque a autora da pesquisa considerou que deveriam ser escolhidas empresas de médio a grande
porte que produzem eventos com impacto local-regional. O processo de trabalho de campo para
coleta dos dados foi realizado através de agendamento de entrevista com um gestor representante
de cada empresa selecionada. A pesquisa foi realizada de forma presencial durante o mês de maio
de 2013.
3.1 Análise dos dados
Para melhor compreensão do estudo, a análise dos dados foi dividida em três blocos: o
primeiro buscou compreender o perfil das empresas, o segundo pretendeu observar as ações da
empresa no que tange a responsabilidade social externa e o último bloco procurou observar as
ações da empresa no quesito responsabilidade social interna. Para preservar a identidade das
empresas e seus respectivos gestores, cada situação de entrevista foi nomeada de “A”, “B”, “C”,
“D” e “E”.
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3.1.2 Perfil das empresas
No primeiro grupo de respostas foi possível identificar o perfil das empresas
entrevistadas. Todas são produtoras de eventos de médio e grande porte, que impactam a cidade
de Juiz de Fora e a região ao entorno. A empresa “A” é responsável pela produção de festivais
countries e micaretas, além de shows e outros eventos esporádicos. A empresa “B” tem como foco
principal a realização de feiras diversas e eventos coorporativos. A empresa “C” produz eventos
relacionados a formaturas. A empresa “D” tem seu nicho de atuação em eventos relacionados a
formaturas, micaretas, casamentos, eventos temáticos, eventos empresarias, shows e outros
eventos esporádicos. A empresa “E” atua no setor de moda, feiras e gastronomia.
Das cinco empresas produtoras de evento entrevistadas, 60% não possuem uma
missão empresarial, apesar de estarem a caminho dela segundo os relatos, e contam com mais de
um gestor. No que diz respeito ao contrato de funcionários, 60% possuem funcionários
registrados, sendo que dessas 40% abrigam mais de dez funcionários registrados e 20% abrigam
mais de 100 funcionários. Das empresas que possuem uma missão empresarial já estabelecida,
40% delas, apenas uma menciona a responsabilidade socioambiental como sendo um de seus
valores. Com relação à experiência de mercado 80% atuam a mais de cinco anos no mercado de
Juiz de Fora e 100% dizem que sua estrutura é capaz de promover eventos voltados a todos os
tipos de público.
3.1.4 Resultados da pesquisa relacionados à Responsabilidade Social no
ambiente externo
Com relação à responsabilidade social externa, pode-se perceber que 80% dos gestores
compreendem por completo o significado de responsabilidade social e 20% não estão totalmente
certos sobre este conceito. Dos cinco gestores entrevistados, 100% concordam que a
responsabilidade social é parte de uma conduta ética empresarial e afirmam se utilizar de
estratégias socialmente responsáveis na execução dos eventos promovidos pela empresa em que
atuam.
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Fonte: Os autores (2013)
Ao mencionar os tipos de ações sociais que são executadas nos eventos, 40% dos
entrevistados mencionaram participar de programas de redução do carbono e reciclagem das lonas
e banners dos eventos; 20% das empresas fazem referência ao envolvimento das associações de
bairro e comunidade onde o evento será executado; 40% mencionam a reciclagem do papel
utilizado pela empresa; 20% mencionam a doação das latas de alumínio descartadas no evento
para grupos de reciclagem; 20% mencionam parceria com a Associação do Meio Ambiente de
Juiz de Fora na utilização de plataformas sustentáveis; 60% mencionam a arrecadação de
alimentos não perecíveis para doação a instituições carentes; 40% fazem menção ao oferecimento
de transporte para os participantes dos eventos, viabilizando o deslocamento e provendo a
segurança e 20% listam a gratuidade do acesso aos eventos como atos socialmente responsáveis.
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Fonte: Os autores (2013)
Aos serem questionados sobre a atuação na comunidade onde as empresas estão
localizadas 80% dos gestores afirmam atuar junto a esta população. Nas referências aos tipos de
ações executadas 100% deles inclui a doação de alimentos ou agasalhos em sua fala; 20%
organizam eventos beneficentes para arrecadação de fundos para instituições de apoio; 60%
contribuem com instituições religiosas que fornecem suporte a famílias carentes e 100% dizem
prover ajuda esporádica quando solicitados.
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Fonte: Os autores (2013)
Ao serem questionados sobre a importância da responsabilidade social para o pleno
desenvolvimento da empresa 40% dos gestores afirmam considerá-la importante e 60%
consideram importante sob uma ótica pessoal, alegando que o público-alvo da empresa não
valoriza tais ações.
Fonte: Os autores (2013)
Com base nos dados coletados é visível que todas as empresas entrevistadas incluem em
seus processos ações, pontuais ou continuadas, de responsabilidade social. No entanto, pode-se
notar que há uma desarmonia entre ações executáveis e ações executadas. Essa afirmação é
embasada por alguns dados numéricos como o fato de que 40% das empresas entrevistadas
mencionam a reciclagem do papel utilizado pela empresa e doação das latas do evento para
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Associação dos Catadores de Latas. Vinte por cento das empresas mencionam envolvimento das
associações de bairro nos locais onde os eventos são executados e essa mesma porcentagem
aparece em ações de parceria com a Associação do Meio Ambiente de Juiz de Fora. A arrecadação
de alimentos durante os eventos consta em 60% das entrevistas, mesmo sendo um item que
envolve um esforço maior o público-alvo. A gratuidade na entrada dos eventos não será
considerada porque esta é uma estratégia de adesão ao evento e não uma ação de responsabilidade
social.
3.1.5 Resultados da pesquisa relacionados à Responsabilidade Social no
ambiente interno
Das empresas entrevistadas 40% não possuem funcionários registrados, utilizando-se
de serviços terceirizados, voluntários e free lancers que também são utilizados pelas outras 60%.
Esse tipo de colaborador foi considerado nas perguntadas que eram referentes aos funcionários
registrados.
Fonte: Os autores (2013)
Com relação aos benefícios oferecidos pela empresa ao funcionário, 80% das empresas
oferecem auxílio transporte ao seu colaborador, seja ele registrado ou não; 60% das empresas
oferecem auxílio alimentação, sendo que 20% possuem um refeitório em suas instalações. Esta
porcentagem é referente a mesma empresa que provê aos funcionários de determinado nível com
participação nos lucros. Com relação ao plano de saúde, 40% oferecem esse benefício. Foram
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mencionadas também por 40% dos entrevistados bonificações em situações específicas e 40%
deles provêm o funcionário com uniforme da empresa.
Fonte: Os autores (2013)
Com relação a programas de treinamento e capacitação, 100% das empresas alegam
oferecer oportunidades de aperfeiçoamento a seus colaboradores, no entanto, de forma esporádica,
quando há demanda pela qualificação. Nenhuma das empresas entrevistadas oferece plano de
carreira. No que se refere à pesquisa de satisfação interna dos funcionários 40% realizam
informalmente, 20% não realizam e 40% realizam formalmente.
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Fonte: Os autores (2013)
No que tange às atividades de lazer oferecidas aos funcionários e colaboradores 20% das
empresas não provêm atividades como esta e 80% realizam confraternizações anuais como
churrascos e festas temáticas. Com relação a programas de incentivo ou premiação, 60% das
empresas, não possuem nenhum programa e 20% praticam programas de inovação e redução dos
custos periodicamente.
Fonte: Os autores (2013)
Com relação a considerar a prática da responsabilidade social interna como sendo
importante para o funcionamento pleno da empresa 80% dos gestores concordam com essa
afirmativa, sendo que desses, 20% afirmam não considerá-la importante para o posicionamento da
marca e 20% dizem nunca ter pensado sobre o assunto.
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Fonte: Os autores (2013)
Das empresas entrevistadas 40% estão em fase de desenvolvimento de projetos de evento
voltados a Responsabilidade Social e Sustentabilidade.
A responsabilidade social interna foi um item difícil de ser observado uma vez que 40%
das empresas não possuem funcionários registrados. No entanto, todas as empresas, de alguma
forma, demonstram o mínimo de preocupação com o bem estar dos seus colaboradores. As
empresas com o maior número de funcionários, 20 e 103 respectivamente, oferecem todos os
benefícios básicos como auxílio transporte, alimentação e plano de saúde.
4. CONCLUSÃO
A responsabilidade social é um tema que pode ser adotado como estratégia de ação
empresarial - desde que almeje um comprometimento real com causas sociais - ou, se feita de
forma descompromissada - visando à promoção da marca ou satisfação pessoal do gestor - pode-se
dizer que o que há são atos filantrópicos, entendidos como caridade pontual.
Acredita-se que, com o aumento do acesso à educação e informação nas últimas décadas,
o consumidor brasileiro torne-se mais consciente com relação à importância da contribuição
corporativa na sociedade em que atua. Isso faz com que muitos deles estejam dispostos a pagar
mais caro por um produto vindo de uma empresa socialmente responsável. Também essas
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empresas encontram mais facilidade de acesso em suas transações à medida que se expandem para
novos mercados.
Apesar disso, esta pesquisa mostrou que 60% das maiores empresas produtoras de
eventos de Juiz de Fora não consideram que seus públicos-alvo valorizam tais ações. Ainda assim,
todas as empresas deste estudo mencionaram algumas ações sociais internas e externas que são
desenvolvidas por elas. No entanto, as ações são realizadas de forma esporádica ou começaram a
ser executadas pelas empresas recentemente. Tais evidências mostram que a falta de controle,
mapeamento e continuidade podem vir a comprometer a eficácia das organizações no bem-estar
que poderiam proporcionar às comunidades ao seu redor.
Conclui-se, dessa forma, que as maiores empresas produtoras de eventos da cidade de
Juiz de Fora estão tentando alavancar sua responsabilidade social, necessitando, no entanto, de
estratégias mais organizadas e sustentáveis. Para auxiliá-las, algumas sugestões de ações visando
um melhor desempenho na execução da responsabilidade social poderiam englobar: a separação e
doação dos materiais recicláveis e reaproveitáveis para a Associação Municipal dos Catadores de
Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis de Juiz de Fora (ASCAJUF) ou para a Associação dos
Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (APARES); utilização de materiais
recicláveis e reciclados nas ações internas e externas da empresa; utilização da mão-de-obra das
comunidades onde os eventos são executados, com treinamento se necessário, gerando assim
oportunidades de profissionalização e emprego; iniciativa pela busca de parcerias com instituições
promotoras de ações de marketing social ligadas à saúde, educação, meio ambiente, segurança etc
para que possam divulgar suas campanhas; utilização de expertise dos gestores e colaboradores da
empresa, bem como envolvimento dos fornecedores e parceiros, na realização de eventos ou
atividades beneficentes, com adoção de ao menos uma instituição local para ser auxiliada, no
mínimo, anualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martin Fontes, 1998. BRITTO, Janaina; FONTES, Nena. Estratégias para Eventos – Uma Ótica do Marketing e do Turismo. São Paulo: Aleph, 2002. COLLINS, J.C.; PORRAS, J.I. Built to Last - Successful Habits of Visionary Companies. Nova Iorque: Harper Collins Publishers Inc., 1994.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
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