Download - Anne Sulivan
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
ANNE SULIVAN LOPES DA SILVA REIS
MEMÓRIAS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER
ALAGOINHENSES E PADOVANOS:
CONTRASTES E APROXIMAÇÕES
ALAGOINHAS-BA
2010
I
ANNE SULIVAN LOPES DA SILVA REIS
MEMÓRIAS DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER
ALAGOINHENSES E PADOVANOS:
CONTRASTES E APROXIMAÇÕES
Trabalho monográfico para conclusão de curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, sob a orientação do Professor Dr. Augusto Cesar Rios Leiro.
ALAGOINHAS-BA
2010
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
Reis, Anne Sulivan Lopes da Silva
Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer Al agoinhenses e Padovanos: Contrastes e Aproximações. /Anne Sulivan Lopes da Silva Reis - Alagoinhas: Universidade do Estado da Bahia, 2010 . 123 f.
Orientador: Augusto Cesar Rios Leiro
Monografia (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação.
1. Memórias 2. Esporte 3. Lazer 4. Políticas Públic as
iii
AGRADECIMENTOS
A minha vida é um caminho maravilhoso, tudo é possivel para mim!!!!!!!!!
Obrigada meu Deus, pela infinita e inesplicável maravilha de existir!
Obrigada minha Virgem Maria do Bom Conselho, que desde menina me acompanha!
Obrigada meu Santo Antônio, que por devoção da minha grande mãe, encaminhou- me
para Alagoinhas-Ba, cidade onde é padroeiro e para Padova- Itália, onde viveu a sua
pregueira intensamente, sendo patrono oficial, igualmente a Santo Antônio de Jesus,
cidade onde meu Pai mora atualmente.
Obrigada minha Nossa Senhora Aparecida, que sempre me direciou e alcalmou meu
coração, quando a dor de estar sem os meus me invadia...
Obrigada a meu grande exemplo de vida, José da Silva Reis, meu Pai, meu maravilhoso
painho, famoso “Zeca Silva”, que com sua coragem e força de lutar, me ensinou a olhar a
vida por meio das suas doçuras...
Obrigada minha grande Mãe Angélica Lopes da Silva, que por meio da sua dedicação e
proteção sempre nos guiou para o caminho do amor e da verdade. Te amo mainha!
Obrigada a minha querida irmã Simony, que sempre me deu forças para continuar,
acolhendo minhas dores e celebrando minhas conquistas! Somos vitoriosas “Mony”!
Obrigada meu irmão Carlinhos, “Cal”, pela torcida pela compreenção e admiração! Amo
você irmão do meu coração.
Obrigada aos meus grandes e verdadeiros amigos da minha terra natal: Samuel, Geiza,
Marta e Mércia pelo amor incondicinal e pelo companherismo mesmo a distância!
Obrigada meu grande amor e companheiro, Ramon Sena de Jesus dos Santos, meu “Rá
lindo” por juntos trilharmos sempre uma bela e maravilhosa caminhada!
Obrigada aos meus inesqueciéveis colegas e amigos de curso: Larissa, Ledinha, Suélen,
Narla, Aurelice, Nívea, Geane, Bete, Guilherme, Marquinhos, Jonatan... A lista é grande!
Obrigada a todos que estiveram comigo durante estes anos de Alagoinhas, principalmente
a bióloga Lílian e sua família, por me acolherem em sua casa, quando na residência era
mais que impossível estar...
Obrigada a minha conterrânea e residente Rosimere, que me levou para este espaço da
“RUA”, Residência Universitária de Alagoinhas, a Aline, primeira pessoa que me acolheu
iv
quando cheguei e aos demais: Paloma, Olívia, Tatinai, Carla, Flávia, Igor, Jairo, Leandro,
Palmira, Bianca pelos momentos de partilha.
Obrigada a minha tia Rosi e seu esposo Cícero que como Ísis e sua família me acolherem
sempre em Salvador nos fins de semana e pelo otimismo que sempre passavam para mim.
Obrigada ao meu caro e ilustre professor e orientador Augusto Cesar Rios Leiro, grande
mestre e amigo que me “abriu os olhos” para o mundo acadêmico científico e sempre em
busca “da vitória final”!
Obrigada a todos os entrevistados, que gentimente me concederam além do seu precioso
tempo, um pouco de suas vidas, da sua história!
Obrigada ao meu caro professor e coodernador do curso de Educação Física, Luiz Carlos
Rocha, que sempre me encentivou para os estudos e para as realizações profissionais!
Obrigada ao professor e diretor do Departamento de Educação de Alagoinhas, Antônio
Gregório Benfica Marinho, pela orientação nos estudos de Biodança e nos tramites
burocráticos da parte administrativa da Universidade.
Meu muito obrigado aos professores Ubiratam Menezes, Gleide Sacramento, Valter
Abrantes, Maurício Maltez, Ana Cristina, Marta Benevides, Diana Tigre, Micheli Venturine,
Neuber Leite, Francisco Pitanga, a todos os citados e por ventura os não mencionados,
pela amizade, cordialidade e pelas “caronas” para meu tratamento médico e para o curso
de italiano em Salvador, degraus importantes para a conquista do meu intercâmbio com a
Università Degli Studi di Padova (UNIPD).
Um obrigado muito especial a professora Mônica Benfica, pela paciência e pela dedicação
a minha co-orientação monográfica.
Obrigada a Mirelle, Monalisa e Dejane que estando no colegiado, nos atenderam, ou
melhor, nos “socorreram” sempre e muito bem!!!
Obrigada aos amigos italianos do Don Mazza e do Grita Brasil que torceram por mim.
Obrigada, ao professor Anderson Spavier e ao professor Gianni Boscolo pela amizade e
pela contribuição ao meu Intercâmbio, o qual me possibilitou uma visão ampliada da
realidade internacional dos Espaços Públicos de Esporte Lazer! Obrigada a todos e a
todas que estiveram comigo nesta Jornada! Grazie Mille a tutti!!!!!!!!!!!!
v
“O exílio começa com o esquecimento
e a libertação com a memória”.
Baál Shem Tov
vi
RESUMO
A investigação em foco surge da participação no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer – GEPEFEL, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus II, Alagoinhas-Ba e da experiência na Iniciação Científica, bem como no Intercâmbio Cultural com a Università Degli Studio di Padova – UNIPD, Padova, Itália. Trata-se de um estudo oriundo do projeto intitulado Ordenamento Legal de Lazer e Esporte - OLLE- no município de Alagoinhas e região com o intuito de resgatar e promover as Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer da cidade de Alagoinhas. A pesquisa mapeou, analisou, diagnosticou e discutiu políticas públicas direcionadas ao Esporte e o Lazer, registrando suas memórias e edificações simbólicas, bem como as contrastou com a realidade encontrada na cidade de Padova, situada ao norte da Itália. Caracterizada por sua natureza qualitativa, esta investigação envolveu a história oral como prática metodológica, e como técnicas a análise documental e a entrevista semi-estruturada, formando um banco de dados. Mesmo com uma imensa ausência de registros da memória alagoinhense, por parte dos setores públicos, o que evidencia um profundo descaso com a história do Esporte e Lazer, foi possível por meio de uma constante e árdua investigação, identificar a memória da cidade em questão por meio das recordações da comunidade local. Diferentemente do verificado na cidade de Padova, onde as Memórias dos Espaços Públicos do Esporte e Lazer são preservadas por meio de edificações públicas, tais como centros, museus e bibliotecas, a partir da parceria do poder público, associações comunitárias e instituições privadas. Ficou evidenciado que as Memórias dos Espaços Públicos do Esporte e Lazer Alagoinhense em sua consistência encontam-se na memória de seus cidadãos, os quais relatam saudosamente o tempo em que cidade e comunidade se reuniam para festejar sua cultura e identidade, fossem por meio das apresentações das filarmônicas em suas praças centrais, fossem pelos animados campeonatos de futebol nos campos de várzea nas áreas periféricas.
Palavras chave: Memórias, Esporte, Lazer e Políticas Públicas.
vii
ABSTRACT
Research in focus comes from participation in Group Study and Research in Physical Education, Sport and Leisure - GEPEFEL, the Department of Education, University of Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba and experience in the Scientific Initiation and as in cultural exchange with the Università Degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italy. This is a study originated from a project entitled Land, Use, Legal Leisure and Sport - OLLE is Alagoinhas municipality and region. Aiming to rescue and promote the Memoirs of Public Spaces for Sport and Leisure City Alagoinhas, research mapped, analyzed diagnosed, and discussed public policies directed to Sports and Recreation, recording their memories and symbolic buildings as well as contrasted with the reality found the city of Padova, north of Italy. Characterized by its qualitative nature, this research involved oral history as a methodological practice, and how technical document analysis and semi-structured interview, forming a database. Even with a huge lack of records concerning the memory of city by public sectors, which shows a profound disregard for the history of Sports and Recreation, was possible through a constant and arduous research, identify the memory of the city issue through the memories of the community alagoinhense. Unlike established in the city of Padova, where the Memoirs of Public Spaces for Sport and Recreation are preserved by means of public buildings such as shopping, museums and libraries, through a partnership of public, community organizations and private institutions. It was demonstrated that the Memoirs of Sport and Recreation Alagoinhense in its consistency are found on the memory of its citizens, which report wistfully the days when the city and the community gathered to celebrate their culture and identity, whether through the presentations of Philharmonic in its central squares, were excited by the football championships in soccer fields in peripheral areas
Keywords: Memories, Sports, Recreation and Public Policy.
viii
RESUMEN
Tema a fondo proviene de la participación en el Grupo de Estudio e Investigación en Educación Física, Deporte y Ocio - GEPEFEL, el Departamento de Educación de la Universidad de Bahía - UNEB, II Campus, Alagoinhas-Ba y experiencia en la iniciación científica y como en el intercambio cultural con la Università degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italia. Este es un estudio de su origen en un proyecto titulado Uso de la Tierra Legal Ocio y Deporte - OLLE que Alagoinhas municipio y la región. Con el objetivo de rescatar y promover las Memorias de espacios públicos para el Deporte y Ocio de la ciudad Alagoinhas, trazó un mapa de investigación, analizan, diagnóstico y discuten las políticas públicas dirigidas al Deporte y la Recreación, grabación de sus recuerdos y edificios simbólicos, así como en contraste con la realidad encontrada la ciudad de Padova, al norte de Italia. Caracterizado por su naturaleza cualitativa, esta investigación participan la historia oral como una práctica metodológica, técnica y cómo el análisis de documentos y entrevistas semi-estructuradas, formando una base de datos. Incluso con una enorme falta de documentación relativa a la memoria de la ciudad por los sectores público, lo que demuestra un profundo desprecio por la historia de Deportes y Recreación, fue posible a través de una investigación constante y arduo, identificar la memoria de la ciudad cuestión a través de los recuerdos de la alagoinhense comunidad. A diferencia establecida en la ciudad de Padua, donde las Memorias de espacios públicos para el Deporte y la Recreación se conservan a través de edificios públicos como tiendas, museos y bibliotecas, a través de una asociación de organizaciones públicas de la comunidad, e instituciones privadas. Se demostró que las Memorias del Deporte y la Recreación Alagoinhense en su consistencia se encuentran en la memoria de sus ciudadanos, que informe con nostalgia los días en la ciudad y la comunidad reunida para celebrar su cultura y su identidad, ya sea a través de las presentaciones de Filarmónica en sus plazas centrales, estaban emocionados por los campeonatos de fútbol en las canchas de fútbol en las zonas periféricas.
Palabras clave: Memorias, Deportes, recreación y Política Pública.
ix
RÉSUMÉ
Recherche en bref vient de la participation au Groupe d'étude et de recherche en éducation physique, Sport et Loisirs - GEPEFEL, le ministère de l'Éducation, Université de Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba et de l'expérience dans l'initiation scientifique et comme dans les échanges culturels avec l'Università degli di Padova Studio - UNIPD, Padoue, Italie. Il s'agit d'une étude provenant d'un projet intitulé Aménagement juridique du Loisir et du Sport - OLLE de la municipalité Alagoinhas et de la région visant à conserver et à promouvoir les Souvenirs des espaces publics du sport et de loisirs de la ville Alagoinhas, cartographié la recherche, analysé, le diagnostic et discuté les politiques publiques visant à Sport et du Loisir, de l'enregistrement de leurs souvenirs et des bâtiments symboliques, ainsi que contraste avec la réalité trouvé la ville de Padova, au nord de l'Italie. Caractérisée par sa nature qualitative, cette recherche est une sorte de reconstitution de l'histoire orale comme pratique méthodologique avec comme technique l'analyse de documents et d’entretiens semi-structurés servant de base de données. Malgré un manque criard de documents publics concernant la mémoire de la ville, ce qui témoigne d'un mépris profond pour l'histoire du sport et des loisirs, il nous a été possible grâce à une recherche constante et pénible de restaurer, ne se reste qu’en partie, la mémoire de la ville en ce qui concerne le sport et les loisirs à travers les souvenirs de la communauté de Alagoinhas. Contrairement établi dans la ville de Padoue, où les Mémoires d'espaces publics pour le sport et les loisirs sont conservés par le biais de bâtiments publics tels que magasins, musées et bibliothèques, grâce à un partenariat public des organismes communautaires et des institutions privées. Il a été démontré que les habitants de Alagoinhas gardés précieusement dans leur mémoire les souvenirs du sport et des loisirs dans la logique successive des évènements vécus et, ils en rendent compte avec toute la nostalgie d’une époque où la population de la ville se réunissait pour célébrer leur culture et leur identité, que ce soit sous forme de présentation des philharmoniques au niveau des places centrales ou lors de l’enthousiasme provoqué par les championnats de football sur les terrains de soccer dans les zones périphériques.
Mots-clés: Souvenirs, Sports, Loisirs et Politique Publique.
x
RIASSUNTO La ricerca nel fuoco proviene dalla partecipazione al Gruppo di Studio e Ricerca in Educazione Fisica, Sport e Tempo libero - GEPEFEL, il Dipartimento di Scienze della Formazione, Università di Bahia - dall'UNEB, Campus II, Alagoinhas-Ba e di esperienze nel Iniziazione scientifica e come in uno scambio culturale con l'Università degli Studio di Padova - UNIPD, Padova, Italia. Questo è uno studio nato da un progetto intitolato uso del territorio legali per il tempo libero e lo sport - OLLE nella cità di Alagoinhas comune e regione. Con l'obiettivo di salvare e promuovere le Memorie di spazi pubblici per lo Sport e Tempo Libero della città ad Alagoinhas, la ricerca ha mappato, analizzate, diagnosi e discusse le politiche pubbliche dirette a Sport e Tempo libero, registrando i loro ricordi e gli edifici simbolici come pure in contrasto con la realtà trovata la città di Padova, nord Italia. Caratterizzato dalla sua natura qualitativa, la ricerca coinvolti storia orale come pratica metodologica, e come documento di analisi tecnica e l'intervista semi-strutturata, formando un database. Anche con una mancanza enorme di documenti riguardanti la memoria della città con i settori pubblici, che mostra un disprezzo profondo per la storia dello sport e tempo libero, è stato possibile attraverso una costante ricerca e arduo, identificare la memoria della città questione attraverso i ricordi della comunità locale. A differenza istituito nella città di Padova, dove sono conservate le memorie di spazi pubblici per lo Sport e Tempo Libero per mezzo di edifici pubblici come lo shopping, musei e biblioteche, attraverso un partenariato pubblico, organizzazioni comunitarie e istituzioni private. È stato dimostrato che le Memorie di spazi pubblici per lo Sport e tempo libero in Alagoinhense in consistenza si trovano nei ricordi dei suoi cittadini, che malinconicamente report il giorno in cui la città e la comunità riunita per celebrate loro cultura ed identità, sia attraverso le presentazioni delle Filarmonica nelle sue piazze centrali, o per eccitati dalla campionati di calcio in campi di calcio in aree periferiche.
Parole chiave: Memories, Sport, Tempo Libero e Politiche Pubbliche.
xi
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
Aia
Associazione italiana arbitri, Coni - Comitato regionale veneto e Scuola regionale dello Sport (Associação Italiana de Ábitros, Coni - Comitê Regional Veneto e Escola Regional do Esporte).
Aia- Figc Associazione italiana arbitri calcio - sezione di Padova (Associação Italiana de Árbitros Futebol, seção de Padova).
Aiac Associazione italiana allenatori calcio - sezione di Padova (Associação Italiana Treinadores de Futebol, seção de Padova).
BA Bahia
CMEL Centro de Memória de Esporte e Lazer
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
Fgi Federazione ginnastica d'Italia - Comitato regionale veneto (Federação Ginástica da Itália – Comitê Regional Veneto).
FAPESB Fundação de Amparo ao Pesquisador da Bahia
Fidasc Federazione italiana disciplina con armi sportive da caccia - Comitato regionale veneto (Federação Italiana de Armas Esportivas de Caça-Comitê Regional Veneto).
Fids Federazione italiana danza sportiva – Comitato regionale veneto (Federação Italiana Dança Esportiva – Comitê Regional Veneto).
Figh Federazione italiana gioco handball - Comitato regionale veneto (Federação Italiana jogo Handebol- Comitê Regional Veneto).
Fipav Federazione italiana pallavolo - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Vôlei – Comitê Regional Veneto).
Fipsas
Federazione italiana pesca sportiva e attività subacquee - Comitato regionale veneto (Federação Italiana pesca Esportiva e Atividade Subaquática – Comitê Regional Veneto).
Fise Federazione italiana sport equestri - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Esporte Eqüestre – Comitê Regional Veneto).
xii
Fisd Federazione italiana sport disabili - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Esporte com Mobilidade Condicionada – Comitê Regional Veneto).
Fiso Federazione italiana sport orientamento - Comitato regionale veneto (Federação Italiana Orientação ao Esporte – Comitê região veneto).
GEPEFEL Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Esporte e Lazer
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INSS
Ministério da Previdência Social
IPAC Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Cultural da Bahia
JJ SEABRA José Joaquim Seabra
OLLE Ordenamento Legal do Lazer e Esporte
PICIN Programa de Iniciação Cientiífica
RUA Residência Universitária de Alagoinhas
SECEL Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer
UNEB Universidade do Estado da Bahia
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
UNIPD Università Degli Studi di Padova (Universidade dos Estudos de Padova).
xiii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01 - MAPA DA CIDADE DE ALAGOINHAS- BAHIA- BRASIL ............................. 17
FIGURA 02 - MAPA DA CIDADE DE PADOVA- VENETO- ITÁLIA ................................... 18
FIGURA 03 – CARTUM ..................................................................................................... 25
FIGURA 04. PIAZZA DEI SIGNORI. .................................................................................. 53
FIGURA 05. PIAZZA DELLE ERBE. .................................................................................. 54
FIGURA 06. PIAZZA DEI FRUTTI. .................................................................................... 54
FIGURA 07. PIAZZA DELL’ INSURREZIONE. .................................................................. 55
FIGURA 08. PIAZZA YTZHAK RABIN.(PIAZZA DELLA PACE) ........................................ 55
FIGURA 9. VISTA PANORÂMICA DO PRATO DELLA VALLE. ........................................ 57
FIGURA 10. FESTA DI FERRAGOSTO. ........................................................................... 57
FIGURA 11. MARATONA S. ANTONIO.. .......................................................................... 57
FIGURA 12. CARTILHA INFORMATIVA DOS ESPAÇOS PUBLICOS PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA CIDADE ................................................................................. 58
FIGURA 13. CARTILHA INFORMATIVA PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DA CIDADE. ................................................................................. 58
FIGURA 14. BIBLIOTECA DELLO SPORT. ...................................................................... 60
FIGURA 15: STADIO EUGANEO ...................................................................................... 60
FIGURA 16. PADOVA-TORINO , BACIGALUPO,1949. “LE ORIGINI”.. ............................ 62
FIGURA 17. PADOVA-ROMA, BRIGHENTI MORO ROSA,1958. “L’ERA ROCCO”.. ....... 62
FIGURA 18 E 19 - PRAÇA RUI BARBOSA, 1950. ............................................................ 78
FIGURA 20 - PRAÇA RUI BARBOSA, DÉCADA DE 70. ................................................... 78
xiv
FIGURA 21 - PRAÇA RUI BARBOSA, PLAYGROUNDS, JANEIRO DE 2009.. ................ 79
FIGURA 22 - PRAÇA RUI BARBOSA, JUNHO 2009.. ..................................................... 79
FIGURA 23 - PRAÇA JJ SEABRA, “CORETO”, 1929.. ..................................................... 81
FIGURA 24 - PRAÇA JJ SEABRA, “CORETO”, 1929. ...................................................... 82
FIGURA 25 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, 1945. .................................................................. 84
FIGURA 26 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, 2009. .................................................................. 85
FIGURA 27 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, CORETO ........................................................... 85
FIGURA 28 - PRAÇA DR. J.J SEABRA, “JOGO DE DAMA”. ............................................ 86
FIGURAS 29 E 30 - PRAÇA MÁRIO LAERTE. ACIMA E ABAIXO, QUADRAS POLIESPORTIVAS.. .......................................................................................................... 87
FIGURA 31 - PRAÇA MÁRIO LAERTE PISTA DE SKATE.. ............................................. 88
FIGURA 32 - GINÁSIO DE ESPORTES ANTÔNIO C. MAGALHÃES .............................. 89
FIGURA 33 - ESTÁDIO MUNICIPAL ANTONIO CARNEIRO (CARNEIRÃO). ................. 89
FIGURAS 34 E 35 - ESTÁDIO MUNICIPAL ANTONIO CARNEIRO (CARNEIRÃO)1970 E 2008.. ................................................................................................................................. 90
FIGURAS 36 E 37. ALAGOINHAS ATLÉTICO CLUBE 1973 E 2008................................90
xv
SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................................... VI
ABSTRACT ....................................................................................................................... VII
RESUMEN ....................................................................................................................... VIII
RÉSUMÉ ........................................................................................................................... IX
RIASSUNTO ....................................................................................................................... X
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS ............................................................................ XI
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16
2. ESPORTE E LAZER: VIAS DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO-EDUCATIVAS ......... 23
3. POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPAÇOS PÚBLICOS: MEIOS DE CONSTRUÇÃO SOCIAL .............................................................................................................................. 33
3.1. PRAÇAS PÚBLICAS: LEMBRANÇAS DA COMUNIDADE ..................................... 42
4. MEMÓRIAS: O RECANTO DA HISTÓRIA ................................................................. 47
5. A CIDADE DE PADOVA E A MEMÓRIA DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER .......................................................................................................... 52
6. PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................. 65
7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO ............................................................................. 73
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 91
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 96
APÊNDICE
16
1. INTRODUÇÃO
O Estudo sobre as Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer
alagoinhense, surgiu a partir da inquietação como bolsista de iniciação científica e da
vinculação de caráter investigativo do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Física,
Esporte e Lazer (GEPEFEL) da Universidade do Estado da Bahia - UNEB campus II,
situada em Alagoinhas – Bahia - Brasil, em parceria da Fundação de Amparo a Pesquisa
do Estado da Bahia (FAPESB) no ano de 2007-2008 e o apoio do Programa de Iniciação
Cientifica da UNEB (PICIN) no ano 2008-2009, nos quais obteve premiação nos
respectivos anos, como melhor trabalho da área das Ciências Aplicadas na Jornada de
Iniciação Científica da UNEB.
Esta pesquisa advém do desmembramento do projeto intitulado Ordenamento
Legal do Lazer e Esporte - OLLE- em municípios baianos, notadamente em Alagoinhas e
região. No OLLE, encontram-se vários subprojetos e dentre eles, Memórias do Esporte e
Lazer Alagoinhense, o qual por meio de uma constante investigação sobre o tema
originou a idéia da construção de um estudo mais profundo e de ampla intervenção a
respeito das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer e das políticas públicas
referentes ao tema.
Localizada no leste baiano, a cidade de Alagoinhas (nome dado devido ao número
de lagoas existente na região), conhecida também na literatura como “Pórtico de Ouro do
Sertão Baiano”, tendo mais 150 anos, possui uma população de 132.725 habitantes
(IBGE, 2007), em uma área de 734 km². É uma das cidades mais desenvolvida do agreste
baiano, com um expressivo pólo comercial e industrial, e com uma relevante infraestrutura
nas áreas referentes a saúde e a educação, pois abriga não somente diversas clínicas,
mas um complexo hospitalar com diversas modalidades médicas, além de abrigar um dos
maiores campus universitários da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, denominado
Campus II, que em 2011 completa 30 anos de sua instalação. A cidade conta também
com diversas faculdades particulares e cursos técnicos nas áreas de Petróleo e Gás, já
que estar próxima a uma zona petrolífera.
Umas das manifestações culturais mais importantes na cidade é a famosa “Alafolia“
micareta de Alagoinhas realizada sempre em Abril e a festa de Santo Antônio, padroeiro
17
do município, no período de junho que reune a população das regiões circunvizinhas ao
som do tradicional forró. Tem como monumentos simbólicos da história alagoinhense, a
Estação Ferroviária São Francisco, com influência neoclássica, datada de 1863, única no
país e a Ruína da igreja inacabada em Alagoinhas Velha, construída por jesuítas no
século XVIII. Podemos localizar o município de Alagoinhas no mapa do estado da Bahia
(Figura 01):
A outra cidade em foco na presente investigação é a cidade de Padova, localizada
no norte da Itália, na região Veneto, fundada em 1132 a.C, com a população de 213.591
habitantes (PADOVA, 2010). Conhecida internacionalmente por ser a cidade onde Santo
Antônio (Frade Franciscano), passou grande parte de sua vida e veio a falecer em 13 de
junho de 1231 data, que até hoje é festejado pelos padovanos e pelos cristãos devotos
em todo o mundo, a exemplo dos Alagoinhenses como a festa de Santo Antônio, no mês
de junho. Padova também abriga a Università Degli Studio di Padova, sétima universidade
mais antiga do mundo, datada de 1222, tendo como ilustre estudante e professor Galileu
Galilei. É nesta cidade também que se passa parte da peça de Willian Shakespeare, “A
Megera Domada” e onde está localizado o “Musei Civici agli Eremitani”, um grande
complexo que reúne 3 museus, os quais recebem turistas de toda parte, para vê dentre
outros, os afrescos de Giotto. Nesta também se encontra o “L’Orto Botanico di Padova”,
fundado em 1545, é o jardim botânico universitário mais antigo do mundo, considerado
patrimônio mundial pela UNESCO. Esta cidade, sempre se destacou pelas grandes
Figura 01 - Mapa da cidade de Alagoinhas- Bahia- Br asil
18
referências na história, na cultura e na arte, consagrado o seu viés turístico. Atualmente
esta se sobressai pelo grande fluxo estudantil e pelo destaque que tem em toda Europa,
como centro econômico de transportes intermodal (PADOVA, 2010). O mapa abaixo
localiza a cidade de Padova (Figura 02):
Figura 02 - Mapa da cidade de Padova- Veneto- Itál ia
Observando a cidade como um pólo de formação humana e social em que o
Estado deve ser o grande responsável pelas ações que resguardam os direitos básicos
como: Educação, Saúde e Segurança Pública, podemos evidenciar no Brasil e
especificamente em seus municípios a nítida prevalência do “Estado mínimo”, provindo da
implantação de políticas neoliberais no país, as quais minimizam a participação do Estado
na sociedade e consequentemente promovem uma drástica redução no campo dos
direitos sociais, refletindo com bastante consistência, nas esferas do esporte e do lazer, já
que estes são direitos respaldados pela constituição brasileira.
Focalizando a grande importância e o poder de transformação social que tanto o
esporte como o lazer tem na sociedade, é notável que manifestações de cunho
reivindicatório por meio dessas áreas estejam crescendo cotidianamente, apesar do não
reconhecimento por parte do poder público, o que porventura limita o desenvolvimento e a
ampliação dessas áreas (MARCELLINO, 1996, p. 40).
Diante da necessidade de construir propostas que vão ao encontro das Políticas
Públicas de Esporte e Lazer, por meio da preservação da memória dos seus espaços
19
públicos, surge um questionamento: qual é a relevância do resgate da memória dos
espaços públicos de Esporte e Lazer na construção de Políticas Públicas referentes a
essa temática na cidade de Alagoinhas-Bahia-Brasil?
A temática em foco nasce a partir de inquietações acerca da responsabilidade da
Educação Física nos espaços não formais de Educação, onde o poder político é operante
de forma opressora ou simplesmente não opera. Tais inquietações surgem primeiramente
com o ingresso ao curso de Educação Física, o que foi ampliado progressivamente por
meio do acesso de leituras críticas, discussões e participações em diversos eventos da
área, bem como, por meio da Iniciação Científica, do contato com pesquisadores e
estudantes de outras instituições de ensino e de áreas a fins, a exemplo da Geografia,
com o contato da minha irmã Simony Reis, estudante e pesquisadora desta área, e da
História, com o apoio do professor Gregório Benfica, me fez entender profundamente o
conceito de Espaços Públicos e de Memória. Por fim, o intercâmbio cultural realizado com
a Università degli Studi di Padova, na cidade de Padova, Itália no primeiro semestre de
2010, motivo pelo qual este trabalho não foi apresentado no segundo semestre de 2009,
veio para fortalecer e enriquecer ainda mais as experiências e os conhecimentos
acadêmicos vivenciados no Brasil.
O alvo da pesquisa em questão esta em resgatar as memórias dos espaços
públicos de Esporte e Lazer da cidade de Alagoinhas por meio do mapeamento, análise e
discussão dos relatos dos seus atores sociais e de suas políticas públicas, no intuito de
fornecer dentre outros, o reconhecimento do espaço público como um posto educativo,
baseado nos aspectos da educação dita Não-Formal.
O papel do resgate das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer está no
reavivamento da identidade sociocultural, neste caso particular, dos cidadãos
alagoinhenses, esquecida em meio ao seu passado histórico, o qual deve ser assimilado
como peça fundamental para a construção e a continuidade de sua edificação histórica,
registrando as memórias e construções simbólicas a elas estabelecidas. Partimos do
pressuposto de que o conhecimento da sua história se configura como base estrutural
para a construção de quaisquer políticas públicas de cunho social que realmente vise à
melhoria da qualidade de vida da população tendo em vista que, para a realização deste
resgistro, é necessário perpassar pela questão que entrelaça o campo da educação e da
política, por meio do processo de mediação cultural, estimulação social que visem
20
encontrar novas formas de comunicação e de ocupação do espaço público. E nada
melhor que saber aproveitar o ambiente da cidade que nos cerca para concretizar ações
de grande importância social, como é o caso do esporte e do lazer que juntos
representam manifestações de grande poder de transformação e expressão cultural.
Este estudo investigou detalhadamente a influência das memórias dos espaços
públicos na estruturação das políticas públicas referentes ao esporte e lazer citadino,
tendo como principal via de acesso o rememoramento de seus atores sociais e a ação
educativa que este produz. Já que a memória, o passado, a história estão presentes em
toda sociedade, sendo responsável pelas principais mudanças na estrutura política,
econômica, cultural e social de uma nação. Pensando em Memórias como um
instrumento de resgate e preservação histórica importantíssima para a cultura e
sociedade, onde sua estruturação se apresenta, ao contrário do que se possam imaginar,
como um grande subsídio para a busca de vestígios perdidos, fragmentos inusitados do
passado, grandes descobertas. Estas podem subsidiar a Gestão municipal com reflexões
críticas a respeito de suas políticas públicas frente à população local, condizentes com as
práticas de sua preservação histórica, para além das limitações objetivas de sua
promoção, conservação e manutenção, na tentativa de resgatar suas referências
identitárias e de promover a educação através da socialização de conhecimentos
históricos regionais.
No intuito de refletir sobre os preceitos que regem uma sociedade cidadã
conhecedora de sua história e que valoriza a cultura, as tradições, em meio a sua
arquitetura urbana e seus espaços públicos, os quais também são ambientes de formação
humana e social, a exemplo dos espaços do esporte e do lazer, proponho o registro das
Memórias do Esporte e Lazer praticados nos espaços públicos da cidade de Alagoinhas,
focalizando suas principais praças, objetivando contribuir para a construção de políticas
públicas que resguardem a história e a memória citadina, como meio de educação e
formação popular.
Na intenção de promover uma reflexão e encontrar possíveis soluções aos
questionamentos expostos, desenvolvemos 8 itens no referente trabalho. O primeiro
discorre a apresentação da pesquisa, contextualizando o objeto, a justificativa, os
pressupostos, os objetivos e as inquietações responsáveis pelo desenvolvimento do
estudo. No segundo capítulo, Esporte e Lazer: vias de desenvolvimento sócio -
21
educativas, mencionamos os principais conceitos de esporte e de lazer no campo social e
educacional, trazendo suas ocorrências no Brasil, os processos de transformação que
estes estão passando, bem como a ampliação no seu campo de atuação no contexto
social. Aprofunda-se questionamentos do esporte como manifestação cultural e o Lazer
como prática a cidadania, ambos legitimados como direitos humanos pelas organizações
de nível federal a mundial. Aqui são analisados documentos públicos que resguardam
esses como direitos a exemplo da Constituição Federal Brasileira e o Relatório da
Organização das Nações Unidas bem como o conceito da Educação não-formal como
instrumento forte de aprendizagem dos direitos dos indivíduos, por meio da sua
flexibilidade com o tempo e com seus espaços. O terceiro, intitulado Políticas Públicas e
Espaços Públicos: meios de construção social, diz respeito às implicações e as
aplicações das Políticas Públicas como construções participativas de uma coletividade.
Estas, neste contexto, aplicam-se aos Espaços Públicos focalizando o Esporte e o Lazer
como principais vias de desenvolvimento, enfatizando, definições, posições e ações tanto
da esfera estatal como da ação comunitária. Relata-se também a organização do Espaço
Público como ambiente precursor da qualidade de vida para os citadinos.
Para entender esta realidade, analisamos algumas definições a respeito da cidade
e da qualidade de vida, em conjunto a estruturação do espaço público. Isto demandou a
formação de um sub - capítulo abordando questões específicas referentes às Praças
Públicas, que foram os espaços estudados na perspectiva de BOSI (1988, p. 43)
verdadeiros “locais da memória”, constituindo-se como elementos centrais nesta
discussão. No quarto capítulo, Memórias: o recanto da história, a memória é discutida
como uma forma de preservação e manutenção da identidade cultural, a qual por meio do
ato de rememorar os fatos, as realidades ocorridas, detém o poder de construir o agora,
recontando o passado e planejando o futuro. No quinto capítulo, Memórias dos Espaços
Públicos de Esporte e Lazer Alagoinhenses e Padovanos: contrastes e aproximações,
reconto a trajetória da minha experiência internacional na cidade de Padova, Itália, por
meio do intercâmbio cultural entre a UNEB e a UNIPD, evidenciado contrastes e
aproximações nos campos do Esporte e Lazer entre as cidades em questão. No sexto, é
disponibilizado o Percurso Metodológico, este descreve o caminho percorrido do trabalho,
tanto os referenciais metodológicos, quanto os procedimentos adotados para o
desenvolvimento do estudo. Ė colocado no sétimo capítulo a Apresentação e a
Discussão, tratando-se da apresentação e discussão do tema pesquisado. Chegando ao
22
fim, ao oitavo capítulo é exposto as considerações finais acerca da investigação sobre as
Memórias do Esporte e Lazer Alagoinhense: uma questão de políticas públicas,
constatando sua realidade, indicando suas limitações, seus possíveis progressos, bem
como propor mecanismos de transformação para a melhoria das mesmas.
23
2. ESPORTE E LAZER: VIAS DE DESENVOLVIMENTO SÓCIO -EDUCATIVAS
Para iniciarmos a nossa discussão sobre o esporte este fenômeno
economicamente ativo e de crescimento exorbitante, nada melhor que nos votarmos ao
seu surgimento. Existem muitas especulações a respeito de como se iniciou as práticas
esportivas de viés cultural. Melo, em seu livro “Dicionário do Esporte no Brasil”, relata que:
Na definição do surgimento do esporte enquanto uma manifestação cultural pode-se situar duas grandes tendências. Na primeira delas, acredita-se que o esporte já existia na Antigüidade, sendo identificado em jogos que eram praticados por chineses, egípcios e gregos entre outros. Já na outra tendência procura-se entendê-lo como um fenômeno da modernidade, que, mesmo apresentado similaridades com antigas práticas corporais, possui sentidos e significados completamente diferenciados daqueles jogos “pré-esportivos”. (MELO, 2007, p.68).
As grandes discussões a respeito do esporte giram em torno do esporte moderno
na tentativa de entendê-lo e distingui-lo das práticas primárias de competição. Vários
estudiosos do assunto justificam a incompreensão do esporte, por modelos de análises
preconcebidos devido a este encontrar-se ainda em processo de constituição, Gebara
(2002) caracterizado pelos fatores que perpassam a sistematização secular, a
oportunidade igualitária em meios competitivos, o respeito às condições apresentadas, a
precisão das regras, a internacionalização, a burocratização, a qualificação, além da
corrida aos recordes.
Sem dúvida, o esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas em todo o mundo. [...] Hoje ele é, em praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade quanto a sua legitimidade social. (BRACHT, 1997, p. 5).
Ao ressaltarmos o Esporte, como uma manifestação cultural de imenso poder de
influência populacional, e tendo este como umas das principais formas de lazer
envolvendo grande contingente populacional, Melo (2004) propõe que, o esporte foi uma
das mais importantes manifestações culturais do século passado, sendo procurado e
acessado com a mesma magnitude nos momentos de lazer. No entanto ao conceber o
esporte como forma de lazer, o mesmo autor evidencia a necessidade de se requerer
atenção para instâncias maiores, como, por exemplo, a monocultura do futebol e a
carente crítica ao fenômeno esportivo.
24
Segundo Linhales (2001) a importância do esporte como um bem cultural, esta na
sua edificação histórica pela sociedade, a qual o legitimou como um dos seus direitos,
apesar deste encontra-se nas administrações públicas, emaranhado a setores sociais,
servindo de instrumento para inúmeros fins, a exemplo das atividades complementares
em políticas ligadas tanto a educação como a saúde.
Já Bracht (2002) nos traz que a legitimidade do esporte no âmbito social se dá por
meio da sua grande capacidade de revigorar e por em dias, os valores, as normas
comportamentais, e os princípios regidos pela atmosfera social. Neste sentido a
significância do esporte na sociedade não estar apenas associado a cultura popular, mas
na sua capacidade de transmitir valores, expressar desejos e proporcionar
questionamentos de forma extremamente impactante, na medida que promove grande
repercussão, atrelada a uma constate reflexão. Por isso temos o esporte como um
instrumento de grande poder social, como nos afirma Leiro (2004):
O esporte é tomado como direito social situado num tempo histórico e uma prática social de grande alcance popular. Uma prática social que influencia e é influenciada pelas decisões políticas e econômicas e que, cada dia mais, com seu poder objetivo e subjetivo, vem persuadindo o pensar e o fazer cotidiano de parcelas significativas das populações. (LEIRO, 2004, p.45).
No Brasil o esporte esta na constituição como um dos direitos do cidadão,
especificamente em seu artigo 217, reconhecendo-o como manifestação cultural de
grande importância social. Tal documento enfatiza tanto o esporte de cunho educativo
como o esporte consagrado ao lazer.
Ao observarmos o lócus do Esporte como um instrumento educacional, nos
deparamos com uma manifestação de cunho formativo que prepara os sujeitos para o
pleno exercício cidadão, baseados em conteúdos sócio-educativos que passa pelos
critérios da participatividade, cooperatividade, co-educatividade, movimentos de
integração, interação e responsabilidade (Tubino,1999, p.27). Neste sentido a invertida
em Esportes de identidade cultural, originados na própria cultura, seja ela identidade
nacional ou regional, conotam aspectos bastante relevantes, pois reforçam a ligação que
existi do ser humano e seu cotidiano, reafirmando sua história, seu ambiente social, os
quais são resguardados em sua memória servindo de base para a legitimação e a
concepção historiografia de suas edificações como ser humano social, político e cultural.
25
De acordo com o conceito do esporte como ferramenta educacional, podemos
identificar no cartum abaixo (Figura 03), uma das suas interrelações, a qual permeia o
campo da associação de conhecimentos prévios, teóricos com os adquiridos, por meio de
vivências esportivas.
Figura 03 – Cartum
O Esporte como via de desenvolvimento sócio-educativa, de caráter individual e
coletivo, por meio da sua pluralidade pode ser evidenciado de início nas primícias que o
regem desde a socialização, o ato de compartilhar, o contar com o outro, até suas
dimensões mais complexas, as quais dizem respeito ao compromisso com a efetivação
de objetivos, a superação, o rendimento, o competitividade, o sucesso, a alienação e o
compromisso com a vitória. Ao pensarmos em uma formação humana baseada na
interculturalidade, devemos voltarmos-nos para o esporte e refletirmos sobre a
capacidade que este tem de desenvolver valores éticos, morais e sociais entre os sujeitos
sociais que os pratica, como meio de afirmação identitária, exposição de diferenças e
respeito aos limites. E por ser uma manifestação que abrange um sentido diversificado, já
que estar em uma constate transformação pelos sujeitos que os praticam, no que diz
respeito a seus valores, o esporte transcende uma interface multicultural, o que legítima a
pluralidade de seus sentidos na sociedade.
O esporte hoje é uma das principais atividades de lazer praticado por grande parte
da população, e o futebol se configura como a maior delas. Podemos afirmar que esta
realidade esta inteiramente relacionada com conceitos pré-estabelecidos entre os meios
de comunicação de massa e o próprio sistema esportivo, já que é evidente na rotina
midiática, a hegemonia futibolística predominante no tempo e espaço reservados a esse
26
esporte em específico, restringindo as outras tantas modalidades esportivas a meros
segundos informativos, quando estes existem é claro.
Fatos como estes nos porta a uma dimensão controversa, à medida que esclarece
pontos cruciais da relação comunidade e poder público, pois evidencia a prevalência da
desvalorização das práticas esportivas condivisas com a comunidade, a qual rege a
integração social, ao destinar maior importância ao esporte fundamentado nos preceitos
capitalistas, constituído como um produto exposto em prateleiras pronto para ser
comercializado, onde seus valores não estão na capacidade de fortalecer relações
humanas, sócio - culturais e de propiciar questionamentos do sistema operante, mas no
poder alienatório da manutenção e reprodução do modelo capitalista, da sociedade do
consumo, infelizmente vigentes em nosso cotidiano.
E graças a essa articulação condizente com o modelo da dinâmica neoliberal que,
tanto os serviços como os espaços públicos antes assegurados e destinados ao esporte
tão quanto ao lazer, hoje são comercializados, em sua maioria por lucrativos setores
privados, demonstrando um crescimento exacerbado das privatizações, negando os
cidadãos os direitos ao esporte e ao lazer, como diz a constituição brasileira. Assim o
cidadão dá lugar ao consumidor, o qual também é dotado de “direitos” todos referentes é
claro aos bens de consumo prevalecentes na instauração do Estado Mínimo, o qual deixa
a mercê das instituições privadas a estruturação dos espaços públicos esportivos e a
construção e realização de programas referentes aos mesmos, reafirmando o seu
descaso com o setor público, renegando os direitos de seus cidadãos, já que não é capaz
de cumprir com seus deveres de Estado (BRACHT, 2002), o que consequentemente
reforça a indústria do entretenimento, e ou do lazer.
Iniciamos o debate sobre o Lazer, pelo entendimento da origem de sua palavra, a
qual deriva do latim licere, ou seja, ser lícito, ser permitido a algo. E na perspectiva da
liberdade dos afazeres humanos, que buscamos por meio de vários autores de visões
diversas, compreender as discussões nesta área, na tentativa de promover novas
possibilidades e aperfeiçoar as existentes.
Assim vale considerar que discutir o Lazer requer considerar algumas concepções
contemporâneas a respeito deste fenômeno. Iniciamos por Mascarenhas, que relata:
O lazer se apresenta como lugar de uma experimentação valorativa onde a estética, a ética e a política articulam-se como dimensões que acabam por
27
tornar impossível qualquer iniciativa de dissociá-lo do conceito de educação.(MASCARENHAS, 2001, p.1).
Para este estudioso, o lazer é como qualquer outra esfera do social, que esta
conectada em um espaço interdisciplinar, o qual a todo o momento interage com as
demais esferas da sociedade seja com a política, religião, saúde, educação, relações
pessoais e demais outras. Para este autor lazer nada mais é que uma grande via de
desenvolvimento da cidadania e para a consagração da liberdade. E por isso que o
mesmo ressalta:
“A prática do lazer se configura enquanto uma possibilidade de construção de sujeitos co-participantes do processo educativo e que se transformam na medida em que modificam também suas próprias circunstâncias de vida”.(MASCARENHAS, 2001, p.7).
Ao falarmos de lazer recorremos à necessidade prioritária do ser humano, de
sentir-se livre, de poder vivenciar momentos em que sua vontade, seu prazer direciona
suas ações, as quais são determinadas única e exclusivamente por ele, proporcionando
sua autonomia tanto no âmbito social quanto cultural. Medeiros (1975) diz que o Lazer
significa muito mais que um momento de diversão, este corresponderia primeiramente a
uma das necessidades estruturais de base do ser humanizado. Portanto acordamos que:
”O lazer como prática da liberdade significa, então a possibilidade de, mediante uma
experiência lúdica e educativa, refletir sobre a realidade que o cerca e praticar a liberdade
como um exercício de cidadania e participação social” (MARCASSA, 2004, P.132).
Num lazer que vá além da constatação da realidade, do relaxamento e das práticas recreo-esportivas. Para tanto, é preciso ações que favoreçam a coletividade ao invés do individualismo, a solidariedade ao invés da barbárie e a organização ao invés das ações acríticas referentes dos problemas sócio-ambientais.Tal caminho deve ser potencializado, na dimensão das políticas públicas, para assegurar a um maior número de sujeitos, experiências culturais que contribuam para refletir criticamente sobre os interesses de ordem global e para mobilizar, discutir e organizar os interesses da ordem local (LEIRO 2001, p. 9-10).
Para Marcellino (2001), o lazer é uma manifestação do ócio, um espaço
privilegiado a uma efervescência prazerosa, atuante no espaço da subjetividade,
favorecendo significativas modificações, conceitos, significados e representações da
realidade vivida. Já Amaral (2003), evidência o lazer como sinônimo de cultura,
28
compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada (praticada ou não) no tempo
disponível. Acordando com esta reflexão Alves (2003) afirma ser o lazer um dos grandes
responsáveis pela a esfera cultural. Mascarenhas (2001) relata que o lazer, se constitui
como um fenômeno tipicamente moderno, resultantes das tensões entre o capital e
trabalho, que se materializa como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de
organização da cultura, perpassado por relações de hegemonia. Nesta perspectiva
Bramante (1998) também evidencia:
O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma experiência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no tempo/espaço, cujo eixo principal é a ludicidade (BRAMANTE, 1998, p.11).
Caminhando para além das ocupações do lazer, este teria um sentido mais
abrangente, ultrapassando sua conceitualização ao vislumbrar-se como elemento de
acessão comunitária, sucesso individual, coletivo e é claro uma qualidade no âmbito
humano e social.
Retornado ao assunto citado anteriormente referente ao crescimento da
industrialização do lazer, e a formação de um grande mercado de entretenimento, devido
a omissão estatal no âmbito do esporte praticado como lazer, recorremos ao alerta de
Marcedo & Figueiredo (1986), que constam nesta esfera, uma intrínseca relação entre
meios opressores na manutenção e reprodução de uma sociedade alienada, onde a
desigualdade impera, e a política do pão e circo funciona. E é neste tocante que devemos
nos ater para as discussões que atrelam o lazer a uma supérflua mercadoria
disponibilizada no mundo do capital.
Por meio do conceito de superficialidade, atribuído hoje ao lazer pelo sistema do
capital, este se limita nesta visão equivocada, a mais um serviço a ser contatado, por
centros comerciais, como mais um produto exposto a venda, a espera do consumidor,
com preços elevados, privilegiando apenas uma pequena parcela da população.
Esta visão passou a ser difundida e ampliada pela descoberta de um grande
mercado promissor, tendo o lazer como essência, é a famosa indústria do entretenimento,
capaz de gerar lucros altíssimos para aqueles que detêm o poder. Daí a importância de
se buscar o sentido social do lazer, enquanto exercício de cidadania e alternativas para o
enfrentamento dos limites de nossa realidade (WERNECK 2000).
29
Seguindo a ótica do lazer como via de desenvolvimento sócio - educativa, se torna
imprescindível referenciá-lo como uma proposta que permeia o âmbito educacional, já
que é nos seus momentos livres que o ser humano exerce sua criatividade ao máximo,
deixando de ser um mero ser reprodutor de ações para se tornar o criador do seu
cotidiano, do seu universo, das suas ações.
Um dos relatos de Marcassa (2004, p.127) a respeito do lazer esta na complexa
perspectiva deste ser um espaço de educação constante, o qual oferece aos sujeitos o
repouso e o reequilíbrio das atividades físicas e mentais, proporcionando um alívio das
tensões rotineiras oriundas do trabalho, mantendo os indivíduos em situações
estritamente prazerosos, as quais consequente os encaminham para um desenvolvimento
a nível individual e coletivo, reintegrando assim o ser humano ao seu estado de perfeito
equilíbrio, estando pronto tanto para solucionar situações-problemas, como para
desenvolver sua capacidade intelectual, ajustada às súbitas e mutáveis condições
emergentes da estrutura universalmente moderna, favorecendo para uma possível
qualidade no setor social. Esta, segundo a mesma autora se estabelece como visão
funcionalista da relação entre lazer e educação, pois diz possibilitar a liberação de
estereótipos e promover um sistema de adequação a todas e quaisquer situações
aparentemente adversas, já que predomina a crença em uma elevação da personalidade
do indivíduo através do lazer, subsidiados por argumentos do campo psicológico, a partir
do instante que compreende as vias de compensação e de estabilização dos contextos
que resguardam o sujeito individual e o sujeito social, na readaptação e na manutenção
da ordem vivente.
Existem outros autores que compartilham da premissa eficiente do lazer unido a
Educação, estes divergem um pouco da visão funcionalista, a exemplo de Marcellino
(2004) que considera o lazer como um fenômeno educativo que tem a necessidade de ser
inserido no plano sócio cultural, direcionado para efetivas transformações de ordem
social. Como o próprio diz: “Em outras palavras: ... só tem sentido falar em aspectos
educativos do lazer ao considerá-lo como um dos campos possíveis de contra-
hegemonia” (MARCELLINO, 2004 p.63-64).
Este estudioso também destaca ainda o duplo aspecto educativo do lazer:
Trata-se de um posicionamento baseado em duas constatações: a primeira, que o lazer é um veículo privilegiado de educação; e a segunda,
30
que para a prática positiva das atividades de lazer é necessário o aprendizado, o estímulo, a iniciação, que possibilitem a passagem de níveis menos elaborados, simples, para níveis mais elaborados, complexos, com o enriquecimento do espírito crítico, na prática ou na observação. Verifica-se, assim, um duplo processo educativo – o lazer como veículo e como objeto de educação. (MARCELLINO, 2003, p.58-59.).
Articulado com a idéia do lazer com viés educativo temos Mascarenhas, o qual
propõe um lazer sócio - educativo sistematizado na contemporaneidade, exaltando a
intervenção pedagógica do lazer, pois esta transcenderia as barreiras limitantes da ação
cultural, já que estaria inteiramente relacionada com a realidade contextual,
socioeconômica e histórica da sociedade, em um patamar que visualiza transformações
das atuais condições sociais existentes. Este mesmo autor comunga da perspectiva do
lazer-educação, que baseados nas experiências lúdicas e educativas produz uma
realidade diversa, capaz de libertar a sociedade de um regime que a impede de praticar o
exercício da cidadania e de sua participação como sujeitos operantes, sociais, instituindo
um modelo que visa banir o poder da reflexão sobre a realidade que nos cerca, imposta
atualmente. Neste sentido como “posição político pedagógica de elos com grupos e ou
movimentos de origens sociais em face da sua constante resistência e persistência nas
reivindicações cotidianas que vão desde a sobrevivência, passando pela emancipação,
chegando a consagração da vitória de um mundo mais humano, justo, verdadeiramente
um lugar para viver” (MASCARENHAS, 2003, p.22 apud MARCASSA, 2004).
Aqui é importante ressaltar que as Políticas Públicas referentes ao Lazer devem
resguardá-lo como um organismo fomentador da Educação, conceituada por Fávero e
Santos (2002):
[...] definimos a educação como um processo de criação ao mesmo tempo de sonhos (utopias) e de realidades (materialistas). Uma educação que seja capaz de instaurar a fome no sentido da curiosidade permanente, que enseje uma abertura para o mundo e instaure a condição para o espanto e para a indignação frente às desigualdades sociais e a exclusão da parte que cabe a todos nós. [...], sem descuidar em nenhum momento, o fazer e o aprender, o sonho e a materialidade, o espanto e a ação (p. 15).
A Educação proposta por meio da dimensão do Lazer abrange o campo dos
espaços não-formais de educação, assim esta se configura como Educação não-formal,
referenciada por Gonh (2006):
31
[....] a educação não-formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. (GONH, 2006, P.28).
A educação não-formal designa um processo de formação para a cidadania, de capacitação para o trabalho, de organização comunitária e de aprendizagem dos conteúdos escolares em ambientes diferenciados (GOHN 1999, p.98-99).
Ainda neste contexto da Educação não-formal temos Gadotti que explana sobre a
importância dos espaços para a realização desta:
Na educação não-formal, a categoria espaço é tão importante como a categoria tempo. O tempo da aprendizagem na educação não-formal é flexível, respeitando as diferenças e as capacidades de cada um, de cada uma. Uma das características da educação não-formal é sua flexibilidade tanto em relação ao tempo quanto em relação à criação e recriação dos seus múltiplos espaços. Trata-se de um conceito amplo, muito associado ao conceito de cultura. Daí ela estar ligada fortemente a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos e à participação em atividades grupais, sejam esses adultos ou crianças. (GADOTTI, 2005 p.2,3).
É por meio da direção que concilia o Lazer como um benefício educativo no âmbito
da educação não-formal, que se faz necessário propor políticas públicas que reconheçam
através de suas práticas na sociedade, a importância da efetivação desse direito na
sociedade, legitimado pela constituição federal, e reforçado pelas leis orgânicas
municipais. É importante frisar a responsabilidade do poder local, o qual deve assumir
uma competência destinada a satisfazer as necessidades de seus integrantes respeitando
seus direitos sociais.
Para Silva (2005), direitos sociais são ações positivas atribuídas ao poder estatal, o
qual pode ser efetivado direta ou indiretamente com o objetivo de proporcionar a uma
qualidade vida e bem-estar aos que delas fazem parte, na tentativa de extinguir a miséria
e a exclusão por meio da igualdade social. A dimensão de bem-estar deve considerar
alguns pontos a serem compreendidos, como os discorridos na definição abaixo:
É o bem comum, o bem da maioria, expresso sob todas as formas de satisfação das necessidades coletivas. Nele se incluem as exigências naturais e espirituais dos indivíduos coletivamente considerados; são as necessidades vitais da comunidade, dos grupos e das classes que compõem a sociedade. (MEIRELES, 1976, p.18).
32
A constituição brasileira expressa no seu 6°artigo : "São direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 2004). Outro
documento de relevante importância é a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) de 1966, promulgadas pelo Brasil em 1992, que em seu dito 22°, valoriza tanto o
Lazer como o Esporte, como vivências de fundamental importância para o
desenvolvimento humano, pessoal e sócio - comunitário. Este diz:
Uma vez que entendemos que na prática esportiva se formam identidades sociais que se reúnem em grupos e categorias de pessoas simbolizadas pelos jogadores ou por seus times, ampliando as oportunidades de expressão de diferenças sociais e culturais, além de diferenças em relação ao conhecimento que uns têm dos outros e da própria prática que se faz...Por sua vez, lazer tem para nós o sentido da vivência privilegiada do lúdico que materializa a experiência sociocultural movida pelos desejos de quem joga e é coroada pelo prazer. Prazer que se funda no exercício da liberdade e, por isso, representa conquista de quem pôde sonhar, sentir, decidir, arquitetar, aventurar e agir, esforçando por superar os desafios da brincadeira, consumindo o processo do brinquedo, recriando o tempo, o lugar e os objetos em jogo e usufruindo do seu processo/produto que, em sua exuberância, é uma festa. (DUDH, 1966, dito 22°.).
Valendo-se da garantia de direitos inscritos na legislação, como os especificados
acima, é visível a responsabilidade do Estado como centro articulador das esferas do
poder, à medida que cumpri sua obrigação de conceber resoluções hegemônicas que
promovam estabilidade e continuidade de políticas que garantirão os direitos dos
cidadãos. Esta atuação genuína do Estado deve ser preponderante no seu financiamento,
intercalando-se com as diversas iniciativas da sociedade, abrangendo suas inúmeras
formas de organização, sempre visando potencializá-las. Para validar essas ações
estatais é preciso criar mecanismos concretos de instalação e manutenção de uma série
de medidas que privilegie os setores sociais e que façam das políticas públicas,
instrumentos de mediação social, verdadeiros organismos de controle das desigualdades
prevalecentes, com a construção de projetos, programas e serviços realmente eficientes
que rompam com os limites da burocratização e do autoritarismo próprios do sistema
estatal. E este é um dos assuntos que trataremos no capítulo a seguir.
33
3. POLÍTICAS PÚBLICAS E ESPAÇOS PÚBLICOS: MEIOS DE CONSTRUÇÃO SOCIAL
Começamos nossa discussão sobre Políticas Públicas as responsabilizando como
meio de construção social. Para tanto recorremos aos estudos de Amaral, 2004, a qual
diz que as Políticas Públicas têm o estigma de assegurar o equilíbrio funcional da
sociedade, valendo-se da resolução dos embates sociais e da legitimação do aparato
estatal vigorante. Outro conceito que distingui esta idéia é o de Menicucci (2006) ao
considerar estas, ações e não ações do Estado por meio dos representantes públicos,
fronte a uma demanda ou um setor social, envolvendo um complexo de medidas de
grande impacto, o que as defini como intervenções públicas.
Na tentativa de compreender a dinâmica das políticas públicas na realidade local,
Teixeira (2002), esclarece os elementos que as constitui, conceituando-as como:
Diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e a sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação política, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos (TEIXEIRA, 2002, p. 02).
Este mesmo autor chama atenção para as finalidades das políticas públicas, e
discorre serem elas: I. Suprir as demandas sociais, principalmente as consideradas
vulneráveis; II. Respaldar e estender os direitos de cidadania; III. Promover o progresso,
por meio da empregabilidade e da renda, visando compensar desníveis criados,
principalmente por estratégias econômicas; IV. Intervir nos embates de interesses,
gerados por e entre sujeitos sociais.
Por esta linha de raciocínio, as Políticas Públicas se posicionam como instrumentos
de sumo valor no estabelecimento e na manutenção da qualidade de vida dos indivíduos,
simbolizando um grande mediador nos diálogos entre Estado e Sociedade, como nos
denomina Rocha (2004, p. 194), “um verdadeiro espaço de fortalecimento da cidadania”.
34
E para que possamos entender melhor o conceito de qualidade de vida temos Leal
(2008) que traz:
Qualidade de vida é a soma do meio ambiente físico, social, cultural, espiritual e econômico, onde o indivíduo está enserido, dos estilos de vida que este adota, das suas ações e da sua reflexão sobre si, sobre os outros e sobre o meio ambiente que o rodeia. É também a soma das aspectativas positivas em relação ao futuro. (LEAL, 2008, p.18,19).
Para Carvalho (2002) políticas públicas são construções participativas de uma
coletividade, que visam a garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem uma
sociedade verdadeiramente humanizada. Transpondo os limites do sistema estatal, as
políticas públicas direcionam todos e quaisquer espaços de estruturação social que visem
a legitimação dos direitos humanos. No Brasil, através da conjuntura do estado, as
políticas públicas vêem garantindo por meio da constituição, e das práticas de ações
afirmativas em setores direcionados à educação, a saúde, a habitação, bem como ao
esporte e o lazer, o cumprimento do exercício dos direitos sociais junto aos seus
cidadãos. Valorizando a estruturação de mecanismos promotores de ações no âmbito
social, Rocha (2004), focaliza:
As políticas públicas podem se constituir numa excelente oportunidade de refletir e alterar este quadro através de ações que privilegiem as prioridades da população, equacionando ou minimizando as desigualdades existentes entre os diferentes grupos, principalmente aqueles que estão marginalizados e excluídos do processo social pela política econômica adotada no país centrada na concepção de mercado. (ROCHA, 2004, p. 3).
Surgindo como uma vertente capaz de preencher as lacunas das carências de
ordem diversas, as políticas públicas necessitam passar por um planejamento
consistente, já que o desenvolvimento do contexto social não se limita apenas a questões
de ordem econômica, mas de uma complexa dinâmica envolvendo o reconhecimento do
ser humano e seu universo social. Carvalho (2002) traz que, ao se mobilizarem entorno
de discussões, fundamentos e argumentações, no sentido de regulamentar direitos
sociais, os grupos representantes da sociedade civil e do Estado acabam por formular
políticas públicas que expresse os interesses e as necessidades de todos.
35
A sociedade cada vez mais vem reivindicando Políticas Públicas, objetivando uma
real qualidade de vida que venha a suprir suas necessidades. Por isso a participação
popular no planejamento municipal democratiza a gestão, causando uma profunda
reflexão sobre projetos a serem implantados, os quais devem esta de acordo com a
realidade e os interesses dos diversos contextos nestes inseridos. No Brasil é possível
observar o alargamento da democracia, expressada na edificação de espaços públicos e
no aumento da participação dos sujeitos que compõem a sociedade civil nos
procedimentos ligados á discussão e as decisões envolvendo questões e políticas
públicas (Teixeira, Dagnino e Silva, 2002).
Voltando-se para a área do Esporte e do Lazer, embora seja possível averiguar
que estes fizeram-se presentes em diversos momentos históricos do cenário político
brasileiro, só foram reconhecidos como direitos dos cidadãos, a partir da Constituição de
1988. Sobre as reivindicações da população brasileira neste campo temos:
No Brasil, as discussões envolvendo as políticas públicas de lazer são relativamente novas e se intensificam na medida em que há um crescimento, demanda motivada, principalmente, pela organização de determinados setores da sociedade que, inspirados na idéia do lazer como um direito social, reivindicam dos poderes públicos ações que atendam essa realidade. (ROCHA, 2004, p. 3).
Nas últimas décadas brasileiras, a conceitualização de políticas públicas de esporte
e lazer começou a migrar da tradicionalidade do esporte de rendimento para o campo do
esporte e lazer comunitário, promovendo a participação geral da sociedade, por meio de
práticas esportivas convencionais ou não, além de modelar-se à cultura local e aos
recursos disponíveis.
Para o aproveitamento do tempo livre, a promoção da saúde e a elevação da
qualidade de vida as práticas de lazer, esporte, recreação e de atividades físicas, formam
um contingente elementar contribuinte para o bem-estar de uma forma generalizada,
atrelando o físico e o mental, o que as consagram como permanentes instrumentos
educacionais, por meio de ações que atinjam a população, respeitando suas
especificidades e necessidades, enfatizando é claro os cidadãos que se encontram a
margem da sociedade. Para a concretude destas, se faz necessário a realização de
atividades em que o esporte e o lazer sejam privilegiados, onde a identidade cultural, o
contexto histórico a realidade de seus participantes sejam levados em consideração, com
36
o objetivo da edificação de uma sociedade onde os preceitos da justiça se façam
presentes, havendo uma dinâmica de inter-relação que legitimem os direitos sociais.
Compreendendo o esporte de forma desmitificada dentre vários âmbitos sociais,
fomenta-se a oferta de exercer uma compreensão da prática do esporte como forma de
conhecimento vivencial e prazerosa.
A reciprocidade entre esporte e a humanidade, principalmente a relação existente
entre os valores da sociedade neoliberal e a esportivização vem sendo discutidos não só
no âmbito acadêmico, mas no quadro político das administrações públicas, as quais ao
considerar este como fenômeno social, busca a legitimação da acessibilidade do esporte
e lazer, através de políticas que reconheçam os espaços públicos como lugares de
vivências fundamentalmente sociais.
Ao começarmos discussão sobre espaços públicos se faz necessário retomarmos o
conceito de espaço e para isso nos apoiaremos no entendimento de Santos (1997), este
traz que: “O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 1997, p. 51).
O pesquisador italiano Giedion 1969, afirma que: “L’uomo prende coscienza del vuoto che
lo circonda e gli conferisce una forma fisica e un’espressione. L’effetto di tale
trasfigurazione è la concezione dello spazio.”1 (GIEDION, 1969, p. 539).
Ainda relacionado ao espaço temos, Silva (1991) que comenta:
O espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente, e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual (SILVA, 1991, p. 13).
Considerando os Espaços Públicos como meios também de construção social e
sua apropriação um grande fator relacionado à cidadania, como nos traz Cladeira (2000):
“Espaço Público como possível arena na qual a democratização, a equalização social e a
1 "O homem se torna consciente do vazio em torno dele e lhe dá uma forma física e de expressão. O efeito de tal do transfiguração é a concepção do espaço” (tradução própria).
37
expansão dos direitos da cidadania vêm sendo contestados nas sociedades
contemporâneas” (CALDEIRA, 2000, p. 12).
Neste sentido é importante recordar o alertar do geógrafo brasileiro Milton Santos
(1985) para a perspectiva do espaço que aprecie tanto os fixos nele situados, como os
fluxos que os percorrem. Esta visão de pensamento empreende uma dimensão de espaço
público capaz de identificar elementos permanentes de transição ao decorrer do tempo,
bem como no momento atual, criando uma ponte entre o passado e o presente,
resgatando os ocorridos por meio das suas memórias, o que consequentemente promove
uma ampliação no horizonte das perspectivas com relação ao futuro.
Tratando de espaços públicos de esporte e lazer, Leiro (2001) afirma que o Espaço
do esporte e lazer é campo de síntese em meio a interesses culturais que reconhecem a
positiva tensão, a qual envolve os cidadãos e o poder público. Nesta dimensão em que o
espaço público e colocado como via primordial para a afirmação dos direitos da
sociedade, por meio da urbanização e edificação desses espaços, Rocha (2003) ressalta
que “... o espaço local ganha grande importância nas discussões pela profunda
articulação entre cidade e cultura”.(ROCHA, 2003, p.52).
E para que os espaços públicos preencham as reais necessidades sociais precisar-
se:
[...] implementar uma política de investimento muito clara na retomada da qualidade do espaço da cidade, na retomada da multifuncionalidade e beleza, na retomada da idéia de uma sociedade que conecte usos, funções e pessoas diferentes, em segurança. (ROLNIK, 2000, p.184).
Estes estudiosos estão de comum acordo com as palavras de Marcellino, quando
ressalta que: ”Democratizar o lazer é democratizar o espaço”. (MARCELLINO, 1995, p.57).
E compartilhando também deste pensamento temos Leiro (2001) “A ampliação de
oportunidades de lazer implica democratizar o espaço, em melhorar a qualidade social da vida
citadina”. (LEIRO, 2001, p.7). Este mesmo autor ainda afirma:
O espaço é qualificador do lazer e, a partir da intervenção do poder público, é possível criar ambientes favoráveis para mudanças de atitudes. A forma de organização do espaço pode contribuir para tornar os parques públicos, por exemplo, um campo de re-criação educativa na perspectiva da superação da ordem do grande capital. (LEIRO, 2001, p.7-8).
38
Para efetivar o direito tanto ao esporte e especialmente ao lazer, é preciso segundo
Marcellino apud Isayama (2006) p.67, democratizar o espaço. Espaço o qual em nossa
realidade cotidiana se caracteriza como urbano, por meio das cidades, a qual o mesmo
autor acima a localiza como grandes espaços e equipamentos de lazer. Este ainda relata
que assim como as ruas, as praças públicas em suma em suas metrópoles são
estereotipadas apenas como locais de passagem. Neste sentido o mesmo, diz que o
espaço público cada vez mais sofre perdas referentes a sua real função, a de
multifuncionalidade (p.72).
Concordamos com Bramante (1993) quando diz:
Vale destacar a necessidade de se oferecer oportunidades que atendam a os diversos interesses culturais... São poucos os diagnósticos, os inventários de recursos existentes ou mesmo o conhecimento dos hábitos de lazer dos distintos segmentos da população (BRAMANTE, 1993, p.167).
Nessa perspectiva Le Corbusier (1993) enfatiza que: “A manutenção ou a criação
de espaços livres são, portanto, uma necessidade e constitui uma questão de saúde
pública” (p.35). Em bairros pobres, periféricos, muitos dos seus habitantes criam
alternativas de espaços para a recreação e para o lazer. Estes são locais improvisados,
em sua maioria, com grande precariedade, porém se configuram como a única opção
para o divertimento e para o encontro da comunidade. O autor acima reitera as
argumentações no que tange aos espaços de lazer, estes devem contar no planejamento
da construção do ambiente urbano, pois é necessário dar existência e coordenar sua
continuidade, ao propor locais de esporte e lazer, inseridos antecipadamente em projetos,
assegurando-lhes locais, reservando-lhes áreas (LE CORBUSIER, 1993).
Evidenciando os maus tratos aos dos espaços públicos De Angelis (2005)
exemplifica o palco central desta pesquisa: “as praças localizadas no centro costumam
receber maiores e melhores tratos, enquanto que as periféricas são relegadas, se não ao
abandono completo, a um estado de penúria” (DE ANGELIS, 2005, p.23).
Ao discutirmos a distribuição de equipamentos de lazer pela cidade podemos
refletir sobre as desigualdades e os desafios abarcados pelas políticas públicas em torno
desta realidade nacional, já que em território brasileiro e principalmente baiano, essa
conotação chega a ser ainda mais relevante devido ao grande déficit relacionado a
estruturação e manutenção destes espaços, os quais precisam de um suporte pedagógico
39
contínuo e prolongado que procure compreender os indivíduos enquanto agentes sócio-
culturais no intuito de mudar a realidade até então imposta e cantada pela nordestina,
nascida em Paraíba, Elba Ramalho: “...no be-a-bá do sertão, sem chover, sem colher,
sem comer, sem lazer, o be - a - bá do Brasil”.
Melo Alves, (2003) afirma que, a cidade pode até possuir equipamentos públicos,
mas se não houver um estímulo para que estes possam ser freqüentados pela sociedade,
ou apenas um seletivo estrato social seja privilegiado com esses estímulos, nada adianta
a infinidade desses equipamentos.
Outro ponto importante para ser avaliado está na construção dos espaços
públicos, os quais devem respeitar as tradições natas da região, sua história, sua forma
organizacional, suas práticas sócias, levando em conta seus anseios e necessidades.
Cabe aqui reconhecer a existência de aspectos importantes que contribuem de maneira
desfavorável às reais apropriações dos espaços públicos, tais como a própria qualidade
destes e, portanto, as políticas públicas que os planejam e os gestem. Assim é
imprescindível uma qualificação do espaço público na organização e na estratégia,
voltadas ao desenvolvimento sócio-espacial, considerando, sobretudo, suas formas de
apropriação (MENDONÇA, 2007.p.129).
Reconhecendo o espaço público como também um lugar de memória, segundo a
concepção de Neves (2000), que diz estes serem “Os lugares da memória”, esteios da
identidade social, monumentos que têm, por assim dizer, “... a função de evitar que o
presente se transforme em um processo contínuo, desprendido do passado e
descomprometido com o futuro” (p.112).
São lugares em que a população se apropria, Hewison apud Harvey (2000)
destaca que o impulso de preservar o passado é parte do impulso de preservar o eu, pois
o passado é o fundamento da identidade coletiva e os objetos do passado são a fonte de
significado, de símbolos culturais (p.85). Os locais onde se edificam os espaços públicos
de esporte e lazer nos chama para vivenciar profundas experiências por meio das
relações e determinações sociais ali encontradas. É neste campo fértil de relações sociais
que a comunidade formada por mulheres, homens, idosos, jovens e crianças constroem
seus vínculos, projetam seus anseios e realizam seus sonhos, vivem suas vidas. Portanto
se faz jus dizer que o espaço público é um espaço dinâmico como nos traz, CAMPOS
(1995):
40
O espaço urbano não pode ser visto como espaços estáticos, pois estão sempre em processo de transformação e contínua adaptação ás condições da sociedade moderna, registrada em diversas formas de utilização dos espaços públicos por seus usuários (CAMPOS, 1995, p.07).
Vale ressaltar que esses espaços estão em meio à cidade, a arquitetura urbana, a
qual ganha outro significado com a participação humana, e este resplandece na relação
do sujeito consigo mesmo, com o outro e com o lugar onde vive. Esses espaços
produzidos resultantes dessas relações precisam ser percebidos na sua dimensão
humana, ou seja, no que a cidade e alguns de seus cenários significam para quem nela
abita e para quem acessam, no âmbito do lazer e do esporte. Segundo Rechia (2003),
independente da sua estruturação, a cidade é uma organização viva, dinâmica, com
partes diversificadas e interação permanente.
Tratando a cidade como universo criacionista, de socialização de conhecimento
temos Gadotti (2005):
O espaço da cidade (...) é marcado pela descontinuidade, pela eventualidade, pela informalidade. A educação não-formal é também uma atividade educacional organizada e sistemática, mas levada a efeito fora do sistema formal (GADOTTI, 2005, p.2).
Secchi (2000) explana: “La città e il territorio (…) non sono solo un immenso
archivio di documenti del passato, ma soprattutto un inventario del possibile”2 (SECCHI,
2000, p. 30). Em conjunto a esta relevância primordial dos espaços citadinos nos
voltamos às idéias de Freire (1993):
A tarefa educativa das Cidades se realiza também através do tratamento de sua memória e sua memória não apenas guarda, mas reproduz, estende, comunica-se às gerações que chegam. Seus museus, seus centros de cultura, de arte são a alma viva do ímpeto criador, dos sinais da aventura do espírito. (Freire, 1993.p.24).
Assim os espaços públicos também podem ser referenciados como espaços do
cotidiano:
2 "A cidade e o território (...) não são apenas um enorme arquivo de documentos do passado, mas também um inventário do possível" (tradução própria).
41
... o cotidiano é muito mais que um inconsciente de dias sempre iguais;é no cotidiano que o cidadão se encontra diante de coações e vigilância: mas na repetição também pode surgir a essência do imaginário.(...) Há portanto criação de um mundo prático e sensível a partir de gestos repetitivos. Há brechas no cotidiano que abrem espaço para o criativo (CARLOS, 1996, p.99-100).
Articulando teoria e prática colocada sob a realidade objetiva e subjetiva de cada
ser, incluindo seus ideais, suas lutas e referências, a cidade se configura como um plano
revelador do vivido e da produção social do espaço urbano. Considerando-a como
produtora de realidades em meio as suas representações, é cabível enfatizar neste
contexto as relações de poder, que faz da cidade um espaço que ao mesmo tempo em
que se constrói, é construída na medida em que se busca conhecê-la. Assim, Santos
(2005) diz que a cidade só passou a ser pensada à medida que se tornou necessária para
um determinado estágio da cultura. Por conseguinte, ela é refém da história e dos
projetos sociais e culturais em curso. Tomando a sociedade como um todo, como meio
promotor de educação, nos dirigimos a Freire:
Muito de sua tarefa educativa implica a nossa posição política e, obviamente, a maneira como exerçamos o poder na Cidade e o sonho ou a utopia de que embebamos a política, a serviço de que e de quem a fazemos (Freire, 1993, p.23).
A cidade moderna cada vez mais vem privatizando seus espaços, os públicos vêm
diminuendo em quantidade e extensão, consequentemente a ação do Estado é
minimizada. Podemos evidenciar este processo no discurso abaixo:
[...] Vivese uma época de intensa, profunda e desrespeitosa renovação das cidades por parte dos administradores públicos [...] Para estes, os elementos que dão significado à cidade são simplesmente coisas envelhecidas, ultrapassadas, corroídas, remendadas e que precisam ser demolidos para dar lugar a outros símbolos exóticos e exógenos que não permearam a lembrança, a história e o cotidiano dos citadinos. Equivocadamente chamam de revitalização [...] (ARANHA SILVA, 2006, P.9).
Ainda sobre este processo a mesma autora recita:
Acreditase na importância e significado da revitalização de elementos da cidade para o fortalecimento da identidade cultural local, na medida em que privilegiem ações de preservação do patrimônio histórico e
42
arquitetônico e que respeitem os interesses, a memória e o afetivo dos cidadãos. (Ibid, p.9).
Contundente neste discurso Aranha Silva (2006) ressalta a necessidade de
identificar alguns pontos característicos das cidades: I. A humanização dos espaços
públicos; II. A revitalização e valorização dos monumentos marcantes da história citadina;
III. A incorporação de equipamentos para o lazer; IV. O respeito com os aspectos
ecológicos; V. O incentivo a presença da comunidade, tanto na criação como na
implantação destes. Rodrigues (2006) também concorda com este pensamento e
comenta: “criar áreas verdes e praças abertas ao público, assim como preservá - las, de
modo a contribuir para o equilíbrio do meio em que mais intensamente vive e trabalha o
homem: a cidade” (RODRIGUES, 2006, p.117).
3.1. PRAÇAS PÚBLICAS: LEMBRANÇAS DA COMUNIDADE
Praça! Cenário de festas, passeios, reuniões, comércio, permanência, encontros e desencontros, descanso, convulsões sociais; obra do Homem no arco do tempo que transcende o próprio; registro vivo a perpetuar na História. Modismos e estilos de cada época. Senhora dos espaços públicos desafiou séculos. Impassível, superou o abandono, a indiferença e as transformações ao longo do tempo. As praças são as mãos de uma cidade. Lugar de encontro ou de promessa de encontro (SANTOS, 2007, p. 17).
A respeito da concepção das praças como um lugar público livre, de relações
humanas e construção social, trazemos Robba & Macedo (2003, p.17) que configuram
estas como são: “espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da
população, acessíveis aos cidadãos”. Este também ratifica a importância da praça não
apenas como ambiente recreativo, mas também histórico e cultural que está inserido no
processo de construção das cidades (p.18). Estes autores recordam que o espaço urbano
tido com precursor das praças foi a ágora, na Grécia a qual era um espaço aberto,
delimitado normalmente por um mercado, no qual se praticava a democracia direta, visto
ser este o local para discussão e debate entre os cidadãos. A função primordial desta é a
de aproximar e reunir as pessoas, seja por motivo cultural, econômico, político ou social
(LIMA et al., 1994; MACEDO e ROBBA, 2002). Atrelado a este pensamento temos Spirn
(1995):
43
As praças públicas sempre estiveram na moda. Ficavam no coração das antigas cidades gregas e romanas, das cidades medievais e, mais tarde, das aldeias coloniais, assim como das metrópoles modernas. São lugares para ver e ser visto, para comprar e fazer negócios, para passear e fazer política. As melhores praças são lugares agradáveis durante a maior parte do ano, amenizando o calor no meio do verão e evitando o frio no início da primavera e no fim do outono. Tais lugares são raros e muito apreciados. (SPIRN, 1995, p.345).
As praças em si guardam em seu íntimo, a história, o cotidiano, a arte e a
expressão popular. Estas para muitos são verdadeiros monumentos, que detém grande
valor, consagradas como necessárias e insubstituíveis no convívio social urbano. O
arquiteto Paulo Casé tem as praças como importantes referenciais urbanos, trazendo a
Praça San Marco, em Veneza, a Praça Mayor, em Madri, a Praça Vermelha, em Moscou,
além das praças da Sé, em São Paulo e, a dos Três Poderes, em Brasília, ambas no
Brasil, como modelos de espaços de intensa troca cultural.
No Brasil os espaços denominados de praças nasceram nos arredores das
capelas, dando início aos primeiros espaços livres, disponíveis ao público citadino. Isso
incitou a aproximação de edificações de pompa, como palácios ostentativos, além das
principais estruturas do setor público e o comércio central, constituindo-se também como
um lugar harmonioso de reunião comunitária e com uma estreita relação com a instituição
religiosa. Conforme salienta Marx (1980):
Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e para um sem número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas. Destacava, aqui e ali, na paisagem urbana estes estabelecimentos de prestígio social. Realçava-lhes os edifícios; acolhia os seus freqüentadores. (MARX, 1980, p. 50).
Carneiro e Mesquita (2000) relatam que as praças são espaços livres públicos,
com função de convívio social, inseridos no ambiente urbano como elemento organizador
da circulação e do abrandamento público. Em conjunto com esse pensamento Orlandi
(1994) se refere às praças ainda como:
Um nó formal que melhor representa a qualidade do espaço urbano, a praça constitui, por si só, um sucesso a atestar os valores sociais alcançados pela comunidade, que soube dar o justo valor às funções
44
institucionais na organização civil (ORLANDI, 1994, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).
Para Lamas (1993) a praça: “[...] pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e
de um programa”. O autor caracteriza a praça como “lugar intencional do encontro, da
permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e
comunitária e de prestígio, e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquiteturas
significativas” (LAMAS, 1993, p. 102).
Por desempenhar ao longo da história distintas posições, inclusive a de ambientes
destinados a realização de manifestações culturais, a exemplo da apresentação de peças,
shows, danças dentre outros, como também palco de grandes acontecimentos de
movimentações cívicas desde execuções a condenados à intensa luta da sociedade em
busca seus direitos, as praças e as formas de sua utilização dependem da inconstância
temporal sócio-histórica em que esta submetida, mas sobretudo pelo seu cotidiano
coletivo, dinâmico, transformador de relações sociais. Para Dizeró (2006) a praça
constitui-se em local de convívio social por excelência, imbuída de símbolos, que portam
consigo o imaginário e o real, configura-se em um marco arquitetônico e um lugar de
ação, um verdadeiro cenário de edificações e transformações históricas, sociais e
culturais, de fundamental importância para contexto citadino. Em seus estudos, Font
(2003) conceitua a praça como um espaço de comunhão, de reunião social, construído
para e pela sociedade, dotada de significados, desde marcos centrais da constituição de
trajetos, a ponto de chegada e partida, com concentração e dispersão populacional,
consistindo em um espaço do cidadão, representando a esfera da cultura e da história
citadina, abrigando também com grande freqüência tanto o comércio formal e quanto o
informal, a exemplo das feiras populares.
Queiroga (2001) diz que a praça tem o potencial de reforçar a noção de
identidade urbana, ao proporcionar o contato interpessoal público, permitindo tanto o
estabelecimento de interações sócio - culturais, como ações fundamentais, a exemplo das
manifestações cívicas. A autora Zuliane 1995 entende a praça como “lugar privilegiado e
tradicional de trocas, ponto de convergências de ruas e teatro de todas as forças sociais,
eixo de cada movimento” (ZULIANE 1995, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).
De Angelis, (2005) tem: “praça como espaço da memória histórica que forneceu
tanto a moldura quanto o fundo para discursos políticos e culturais sobre a cidade como
45
local de identidade, de tradição, de saber, de autenticidade, de continuidade e
estabilidade” (DE ANGELIS, 2005, p. 3). Ainda enfatiza: “qualquer um de nós tem,
remotas que sejam, lembranças de uma praça onde, na infância, o balanço, a gangorra
ou o escorregador faziam parte do universo da criança” (DE ANGELIS, 2005, p. 2).
Para Casé (2000) a Praça é a soma da cultura citadina de uma dada comunidade
que forma um grande acervo de conhecimentos. Exerce uma função incomparável de
reunir pessoas, é um lugar do encontro e da convivência. Este autor ainda relata: “a
importância de uma cidade, avaliada pela sua dimensão social e humana, è proporcional
aos atributos urbanos de suas praças e aos predicados arquitetônicos das edificações
que a delimitam” (CASÉ, 2000, p. 56).
Robba e Macedo (2002) traz uma definição espacial de praça, de acordo com
vários elementos presentes nesta e em especial a vegetação. De acordo com os
respectivos autores, estes espaços estão inseridos em quatro eixos, os quais estão
simplificados abaixo:
I. Praça Jardim: espaços onde, os contatos com a natureza e o “verde” são
presenças marcantes.
II. Praça Seca: largos onde a presença histórica se faz presente com símbolos
arquitetônicos ou espaços que abragem uma grande circulação de pessoas.
Destacam-se neste contexto, as Praças italianas, de São Marcos, em Veneza, a
Praça de São Pedro em Roma, além das praças brasileiras, dos três Poderes
em Brasília e o Memorial da América Latina em São Paulo.
III. Praça Azul: Nestes espaços a água tem destaque fundamental. Caracterizada
por belvederes e jardins de várzea.
IV. Praça Amarela: Geralmante as prais são consideradas praças amarelas.
Podemos perceber as praças como espaços urbanos, públicos, onde o esporte e o
lazer também se encontram, a compor estes espaços, tornando-se equipamentos de
fundamental importância para a concepção dos fenômenos sócios referentes a essas
práticas, nos espaços públicos do cotidiano urbanos dos citadinos e principalmente os
espaços mais antigos que estão carregados de simbologia histórica. A respeito de
espaços como estes, a autora Aranha Silva (2006) nos fala:
46
Como há de se notar, as praças mais antigas contêm em sua essência, fatos históricos remanescentes à sua edificação e que traduzem aos usuários e moradores contemporâneos a sua importância cultural e se constituem em espaços coletivos, cuja vivência do lazer e recreação no cotidiano dos moradores garante o exercício pleno da cidadania (ARANHA SILVA, 2006, P.9).
Sitte (1992) impecável protetor do movimento artístico nas praças discorre que
nestas “[...] Concentrava-se o movimento, tinham lugar as festas públicas, organizava-se
as cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de eventos
semelhantes” (SITTE 1992, p.25, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2).
47
4. MEMÓRIAS: O RECANTO DA HISTÓRIA
A memória é a mais épica de todas as faculdades. (...) Mnemosyne, a deusa da reminiscência, era para os gregos a musa da poesia épica. A reminiscência funda a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos de geração em geração (BENJAMIN, 1994, p. 14).
A segunda metade do século XX esta marcada pelo boom das transformações das
sociedades, elucidando o fundamental papel que a memória coletiva representa, já que é
através dela que concebemos o passado e projetamos o futuro, escrevendo nossa
história. A memória faz parte dos maiores questionamentos, das mais referenciadas
sociedades, principalmente as que se encontram em processo de desenvolvimento, das
camadas superiores às excluídas. Leroi-Gour-han (1964-1965 p.24) traz que: “A partir do
Homo sapiens, a constituição de um aparato da memória social domina todos os
problemas da evolução humana”.
As comunidades as quais o ato de rememorar o social se dá principalmente pela
via da tradição oral ou pela construção de uma memória coletiva escrita, são as que
permitem com maior clareza a compreensão do embate pela dominação do ato de
recordar, bem como da tradicionalidade em meio à manifestação da memória. Para isso
LE GOFF (2003) nos remete a confirmação que a memória coletiva deixa de ser tão
somente uma conquista, passando a ser um precioso objeto de poder. Este ainda enfatiza
que: ”A memória na qual cresce a história que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado
para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva
para a libertação e não servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p.471).
Em outros estudos SMOLKA (2000) nos revela:
Estudos sobre memória têm nos mostrado que o discurso constitui lembranças e esquecimentos, que ele organiza e mesmo institui recordações, que ele se torna um lócus da recordação partilhada – ao mesmo tempo para si e para o outro – lócus, portanto, das esferas pública e privada. Sob os mais diversos pontos de vista, a linguagem é vista como o processo mais fundamental na socialização da memória. A possibilidade de falar das experiências, de trabalhar as lembranças de uma forma discursiva, é também a possibilidade de dar às imagens e recordações embaçadas, confusas, dinâmicas, flúidas, fragmentadas, certa organização e estabilidade. Assim, a linguagem não é apenas instrumental na (re)construção das lembranças; ela é constitutiva da memória, em suas possibilidades e seus limites, em seus múltiplos sentidos, e é fundamental na construção da história (SMOLKA, 2000, p.188).
48
Ao nos referirmos a Memória como um instrumento de política pública, em que as
bases da sociedade estão compiladas através do revigoramento da sua identidade social
e cultural, Goellner (2007) descreve que para evitar o esquecimento, há de se preservar a
memória e reconstruir histórias. Já Ferreira & Amado (1996) traz a memória como uma
presentificação do passado, e um registro do presente que permanece como lembrança,
capaz de reter e guardar o tempo que se foi salvando-o da perda total. Seguindo este
raciocínio, Bosi (1987) lembra que “rememorar é uma função social, não é sonho”. Esta
ainda diz que “na maior parte das vezes lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir,
repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado”. (BOSI,1987, p.11).
Afirma também a existência dos “locais da memória” (p.12). Estes devem serem
respeitados e preservados de forma tal a resguardar a história e a identidade cultural.
Pollack (1989) refere-se à memória como um misto permeado de sentidos
envolvendo o tempo passado, o momento presente junto a seus conflitos. Estes estudos
nos revelam que a grande relevância de se estruturar ou reestruturar uma política que
vise o resgate da memória dos espaços públicos de esporte e lazer esta simplesmente no
cumprimento de um dos direitos previsto na constituição brasileira, que os asseguram
como tal. A memória fala sobre os processos que perpassam o adquirir, o conservar e o
ato de evocar das informações.
Conforme o autor acima mencionado “os modos de construção podem tanto ser
conscientes como inconscientes. O que a memória individual grava, recalca, exclui,
relembra, é evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização”, “A
memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado” (POLLAK, 1992, p.
203, 204).
Izquierdo elabora um conceito que compreende a memória em dimensões
diversas:
A aquisição se denomina também aprendizado. A evocação também se denomina recordação ou lembrança. Só se pode avaliar a memória por meio da evocação. A falta de evocação denomina-se esquecimento ou olvido (IZQUIERDO, 2004, p.15).
Baseado nos estudos de Pollak, podemos adquirir uma visão mais ampliada sobre
memória, concebendo a identidade como um elemento intrínseco a esta, seja no âmbito
da individualidade ou da coletividade, como este mesmo relata:
49
A memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p. 204).
Moreira (2007) também nos indica que:
A Memória, no sentido primeiro da expressão, é a presença do passado. A memória é uma construção psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, que nunca é somente aquela do indivíduo, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional (MOREIRA, 2007, p.1).
Assim a memória coletiva é um instrumento de poder e não apenas algo
conquistado. Tomando este sentido de poder, evidenciamos a memória como um grande
instrumento interventor da realidade social, capaz de comprovar, legitimar e delegar
direitos aos que a ela recorrem e em especial, a comunidade, que por meio do
reavivamento da sua história, propõe soluções eficazes, as quais se enquadram
perfeitamente em sua realidade cotidiana. Constata-se então, a requisição e a edificação
de políticas públicas com e para a comunidade, no momento que esta, ao se sentir parte
integrante da história em meio ao seu contexto social, se agrega as questões norteadoras
da preservação de sua estrutura, no sentido de resguardá-las e repassá-las para os seus
descendentes. É exatamente neste ponto que o universo da educação se instaura, pois a
partir do momento que os sujeitos reconhecem em si, no outro e no espaço que o cerca,
sua identidade social, estes se configuram como verdadeiros cidadãos, capazes de
promover a transformação do seu ambiente.
Através desta corrente educacional perpassarem-se sólidas bases de estruturação
de um sistema social baseado no aprimoramento tanto individual como coletivo do ser
humano, o qual ao poder desfrutar das moções sócias legitimadas pela Constituição, a
exemplo do Esporte e do Lazer como campos de crescimento e reflexão no âmbito social,
os quais resguardam parte importante da história que no caso do esporte e do lazer
reservam intensas manifestações culturais da sociedade em diferentes épocas. Como nos
revela Matos (1989):
A memória, a lembrança acalenta a dor, o sofrimento e a morte no sentido de sua redenção. Não se age de forma a recalcar o passado, a fim de arquivá-lo e produzir apologia acrítica do presente. (...) A memória é
50
redenção, é luta contra a morte, como relembrança e transcendência. (MATOS, 1989, p. 58).
Correlacionando a memória com a identidade, Neves (2000) afirma:
Considerando-se a evocação do passado como substrato da memória, pode-se deduzir que, em sua relação com a História, a memória constitui-se como forma de preservação e retenção do tempo, salvando-o do esquecimento e da perda. (…) Desta forma, os depoimentos coletados tendem a demonstrar que a memória pode ser identificada como processo de construção e reconstrução de lembranças nas condições do tempo presente. Em decorrência, o ato de relembrar insere-se nas possibilidades múltiplas de elaboração das representações e de reafirmação das identidades construídas na dinâmica da história. Portanto, a memória passa a se constituir como fundamento da identidade. (NEVES, 2000, p. 109).
Para entendermos melhor o sentido de identidade, nos apoiaremos nos conceitos
de Stuart Hall. Este nos traz que: “A identidade, então, costura o sujeito à estrutura.
Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos
reciprocamente mais unificados e predizíveis”. (p. 12).
Nesta concepção sociológica, a identidade compreende o espaço entre o "interior"
e o "exterior" - entre a dimensão individual e o universo público. A ação de projetar "nós
mesmos" nessas identidades culturais, faz com que internalizemos seus significados e
valores, tornando-os "parte de nós" aderindo nosso campo da subjetividade sentimental
com os espaços objetivos que exercemos no mundo social e cultural. Comungando desta
mesma idéia, temos Le goff (2003) que nos diz: “A memória é um elemento essencial do
que se costuma chamar identidade, individual, coletiva, cuja base é uma das atividades
fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje” (LE GOFF 2003, p.469).
E ao referenciar a memória como algo essencial da identidade humana, que esta
intimamente ligada com a formação da identidade coletiva, já que é por meio desta que os
seres se reconhecem como parte de um todo social, a memória pode ser considerada
como um mecanismo chave capaz de edificar e aprimorar as relações e interações locais
com as da esfera global, pois se evidencia aí uma complexa rede de interconexões, onde
o sujeito transita livremente pela sua existência, pelos fatores que marcaram suas vidas,
sendo esses internos ou externos, antigos, recentes, de motivos variados, mas de todo
51
modo suas escolhas, refletem hoje em seu cotidiano, no ser que se faz ali presente, com
seu passado histórico, com sua própria história, podendo esta ser revista, relida a todo e
qualquer momento, já que a memória nos proporciona explicar situações do presente, de
acordo com o passado, na busca de se modelar um futuro.
Tomando este aspecto da importância da memória coletiva, LE GOFF (2003,
p.469) nos lembra que a memória esta presente tanto nas sociedades desenvolvidas
quanto nas que estão em fase de desenvolvimento, todas em busca do poder e da
sobrevivência. Com este intuito é que o mesmo autor nos remete a tal reflexão:
A memória coletiva foi posta em jogo de forma importante nas lutas da forças sociais de poder. Tornaram-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF 2003, p.422).
Articulada a esfera da identidade, transmitida por Le Goff, Hall (1999), têm-se as
culturas nacionais, as quais segundo o mesmo constroem uma simbologia de sentidos
com os quais nos identificamos, por tanto modelando nossas identidades. Estão contidos,
neste sentido, memórias, imagens e histórias que são referências, nexos necessários
para a constituição de uma identidade nacional. Este argumenta:
[...] as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação [...] Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da idéia da nação tal como representada em sua cultura nacional (HALL 1999, p. 49).
Caminhado nesta perspectiva podemos afirmar com convicta percepção que a memória é
uma complexa e interativa esfera cultural, onde a história e a identidade humana e social
perpassam pelo mesmo caminho da inter-relação e da intercultural, formando um todo
que alarga as dimensões do individual e do coletivo.
52
5. A CIDADE DE PADOVA E A MEMÓRIA DE SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER
Ao iniciarmos este capítulo se faz necessário retomarmos as prerrogativas que
possibilitaram a realizaram desta constatação internacional, entre a cidade de Alagoinhas,
Bahia, Brasil e cidade de Padova, Veneto, Itália, a qual justifica também a prorrogação da
defesa deste trabalho monográfico para o ano de 2010 e não ao final de 2009 como
estava previsto anteriormente.
Por meio do acordo bilateral entre o Departamento de Educação da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB) e o Dipartimento di Scienza dell’ Educazione, da “Università
Degli Studio di Padova” (UNIPD), em julho de 2009, pude concorrer e vencer um edital
que me oportunizou fazer este intercâmbio de 6 meses, entre fevereiro e julho de 2010.
Para obter a conquista deste estágio internacional, passei pela primeira fase da
justificativa, análise curricular, averiguação de participação em pesquisas científicas e
atividades com comunidade de periferia, bem como a segunda fase contendo a avaliação
do idioma italiano por meio de uma entrevista e dos exames oral e escrito, por fim a
terceira fase, a da confecção de um ensaio monográfico em português, tematizando a
Educação no Brasil e em específico esta no território baiano. Superando todas estas
fases com mérito adquirido e pela empenhada vida acadêmica que sempre conservei,
pela participação como bolsista de Iniciação Científica, por meio do grupo GEPEFEL,
como monitora em bairros periféricos de Alagoinhas no Programa Segundo Tempo do
governo federal, e como aluna do curso de italiano na Associação Patí, em Salvador,
coordenados pelo italiano e professor da Universidade do Estado da Bahia - Uneb, Gianni
Boscolo e pelas aulas do professor Anderson Spavier, pude chegar ao primeiro posto das
3 vagas oferecidas anualmente por meio deste edital, o qual me concedeu por meio da
UNEB, as passagens de ida e volta para a Itália, alimentação e alojamento no “Collegio
Universitario Don Nicola Mazza”, pela UNIPD.
Situados os meios os quais possibilitou a inter-relação entre as cidades de
Alagoinhas e Padova, daremos início as discussões que resguardam estes dois espaços
em evidência, no tocante das políticas públicas que preservam a história e a memória dos
espaços públicos de esporte e lazer.
53
Como toda cidade histórica, Padova abriga um centro típico característico, com
monumentos, torres, igrejas e palácios importantes, a exemplo do “Palazzo della
Ragione”, que já na época dos romanos, funcionava como um dos setores da estrutura
pública padovana, hoje um renomado museu. As praças centrais da cidade são a “Piazza
dei Signori” (Figura 04), “Piazza delle Erbe” (Figura 05) e a “Piazza dei Frutti” (Figura 06),
estas duas últimas são divididas pelo “Palazzo della Ragione”, já que abriga no centro que
as une, este grande monumento da história e da arte padovana. As praças centrais da
cidade, citadas acima, desde a antiguidade eram ligadas ao comércio, característica que
permanece até os dias de hoje, com a presença de feiras de hortaliças e frutas em meio
aos mercados de roupas e assessórios, além dos serviços dos bares, gelaterias e cafés
vizinhos a essas estruturas, que em determinando horário, também utilizam o espaço
destas, como uma extensão dos seus serviços, colocando mesas e cadeiras, às tardes e
às noites, em particular às quartas-feiras, onde um grande número de jovens, sobretudo,
universitários se reúne para a partilha da bebida típica padovana, o spritz. Estas praças
também são palcos de manifestações políticas, feiras de artesanatos, antiquários e em
determinados períodos do ano são cenários de shows e espetáculos de dança e música,
apesar de não serem muito frequentemente, pois a grande função destas praças é
comercial, sendo assim a maioria dos eventos são realizados em outros ambientes, como
é o caso do “Prato della Vale”, e não nas praças centrais em evidência na cidade.
Figura 04. Piazza dei signori. Fonte: Anne Reis 201 0.
54
Figura 05. Piazza delle Erbe. Fonte: Anne Reis 2010
Figura 06. Piazza dei Frutti. Fonte: Anne Reis 2010
Em outos locais na cidade de Padova é possível também observar a
descaracterização da praça como ambiente público por meio da concessão estatal a
serviços do setor privado, a exemplo do serviço de “Parcheggio” estacionamento de
veículos. Todas essas transformações são justificadas pelo poder público, fronte a
população por falta de espaço para estes fins, (relatos dos seus próprios cidadãos,
quando questionados sobre a realidade observada, e dos jornais locais) Como é o caso
da “Piazza dell’ Insurrezione 28 Aprile di 1945”, (Figura 07) monumento erguido em
homenagem a liberação da Itália do nazismo, em 28 de abril de 1945 e da “Piazza Ytzhak
Rabin” (Figura 08), conhecida como “Piazza della Pace”, Esta última na maior parte do
ano, com exeção do período de festas como a de Santo Antônio, abriga um parque de
diversão, fortalecendo a privatização do local, denominado de praça.
55
Figura 07. Piazza dell’ Insurrezione. Fonte: Anne Reis, 2010.
Figura 08. Piazza Ytzhak Rabin.(Piazza della Pace) Fonte: Anne Reis 2010.
Em oposição a essa realidade, temos os parques e os jardins padovanos e
principalmente o “Prato della Vale” (Figura 09), que é a maior praça da cidade de Padova
e uma das maiores da Europa, com 88.620 m ² (LIONELLO, TOFFANIN, 1983). Esta se
configura como um grande espaço monumental, com uma pequena ilha verde ao centro,
chamado de “I’Isola Memmia” em homenagem ao prefeito que iniciou a sua construção,
cercada por um canal adornado com 78 estátuas de personalidades famosas da história
da cidade, com 4 pontes sobre o gramado, que levam ao centro da praça onde esta uma
fonte que a noite é iluminada. Esta é uma das mais importantes praças de Padova, em
que seu sentido genuíno de espaço público não foi violado, pois a além de resquardar seu
sua atmosfera natural e verde, resguarda o espaço para a população que frequenta este
espaço com a família, os amigos, com os seus animais de estimação, para a pratica de
atividades lúdicas como o jogo de cartas, o vôlei, o futebol e até mesmo a capoeira,
devido a comunidade africana que habita na cidade. É muito comum encontrar o gramado
do “Prato della Vale”, tomado de pessoas que sentam-se e ou deitam na grama para
tomar sol, estudar, conversar, tocar um violão, encontrar com os amigos em meio à
natureza, ouvindo uma banda, ou assistindo um jogo de futebol, um show, um filme ou
peça de teatral patrocinados pela prefeitura local, os quais ou se realizam neste local ou
56
são transmitidos para este, por meio da instalação de um telão. Em torno do “Prato” existe
uma intensa atividade física, por parte da comunidade padovana, com caminhadas,
corridas, patinação e atividades com o skate e a bicicleta.
Em determinados períodos do ano, acontecem eventos importantes neste espaço
como a “Maratona S. Antonio” (Figura 11) em Abril, a “Festa di Ferragosto” (Figura 10) em
Agosto, o Festivalbar, em Setembro e a “Festa di Capodanno” que é a comemoração da
virada do ano, em Dezembro, dentre outras manifestações, todas abertas ao público,
diferentemente das atividades propostas nos parques e jardins da cidade, os quais
cobram taxas de participação a maior parte das vezes. Este belo e ilustre espaço de
Padova e da Europa, na década de 90, encontrava-se em profunda degradação, sua
estrutura estava abandonada, segundo os moradores daquela região, o “Prato della Vale”
neste tempo era um espaço para o narcotráfico, com a presença constante de usuários de
drogas. Depois de uma grande reforma, este espaço público de orgulho dos padovanos
foi devolvido a seus cidadãos, para seu livre e ativo usufruto.
Hoje a praça do “Prato della Vale” é um lugar exuberante, em que natureza, arte e
comunidade comungam o imenso prazer de estarem juntos para celebrar a dinâmica da
vida, seja por meio da simples caminhada, da observação de seu espaço ou da incrível
partilha com o outro em um ambiente cheio de paz, beleza, ar puro e tranquilidade, lugar
onde os caminhos da cultura e o do lazer se encontram, um verdadeiro espaço construído
pelo povo e para o povo.
57
Figura 9. Vista panorâmica do Prato della Valle. Fo nte: Archivio Turismo Padova Terme Euganee, 2009.
Figura 10. Festa di Ferragosto. Fonte: PadovaCultura, 2009
Figura 11. Maratona S. Antonio. Fonte: Comuni di Padova, 2010.
As atividades de Lazer e Esportes mais intensas são realizadas nos inúmeros
parques e jardins públicos que são distribuídos pela cidade, por 6 quarteirões dispostos
abaixo:
58
• Quarteirão 1, Centro histórico: Città dei bambini, Giardini all'Arena, Parco
giochi all'Arena, Parco Treves de’ Bonfili, Giardino Cavalleggeri di Padova,
Giardino della Rotonda, Giardino col. E. Venturini e mar. S. Natale,
Giardino sen. L. Merlin.
• Quarteirão 2 , Norte (Arcella-S. Carlo-Pontevigodarzere): Parco San Carlo,
Giardino Fantasia, Giardino F. Milcovich, Giardino di via D. Piacentino,
Giardino dei Ciliegi, Parco Fornace Moranti.
• Quarteirão 3, Leste (Brenta-Venezia, Forcellini-Camin): Giardino di Cristallo
serra, Parco Iris, Parco Europa, Parco del Roncajette, Parco delle
Farfalle,Giardino Esperanto.
• Quarteirão 4, Sul- Leste (S. Croce - S. Osvaldo - Bassanello-Voltabarozzo):
Parco Iris, Parco "Giorgio Perlasca", Giardino dei Bimbi, Parco dei Faggi,
Parco Guizza-Sant'Agostino, Giardino Flicorno, Giardino Appiani, Parco dei
Salici.
• Quarteirão 5, Sul- Oeste (Armistizio- Savonarola):Giardino degli Ulivi di
Gerusalemme, Giardino Folgore, Giardino dei Gelsi.
• Quartiere 6, (Brentella-Valsugana): Parco degli Alpini, Giardino della Luna,
Parco giochi Fiordaliso. (PADOVANET, 2010).
Figura 12. Cartilha informativa dos espaços publicos para a prática de atividade física na
cidade. Fonte: Comuni de Padova, 2010.
Figura 13. Cartilha informativa para a prática de atividade física nos espaços públicos da
cidade. Fonte: Comuni de Padova, 2010.
59
Estes espaços em sua grande maioria seguem um calendário anual que vai de
acordo com as estações do ano, determinado os horários e os períodos de funcionamento
(Figura 12). São geralmente dotados de boa infraestrutura, com espaços arborizados,
pistas para corrida, skate e patinação, playgrounds, dentre outros. Os parques e jardins
citados acima são áreas que obedecem a um regulamento para sua utilização além de
serem áreas muradas, denominado “Custodite”. Nestes mesmos quarteirões
exemplificados, existem também em sua grande maioria, os parques e os jardins, “Non
Custodite”, que são áreas abertas, livres de portões e muros, portanto estão sempre a
disposição da população.
Na cidade há vários projetos que fornecem aos seus cidadãos assistência nestes
espaços de esporte e lazer (Figura 13), observados na “Rete civica di Padova”
(PADOVANET). Este sítio virtual gerido pela sua “Comuni”, o mesmo que prefeitura,
disponibiliza para a comunidade local, os diversos programas realizados como “Vivi il
parco" (Viva o parque), o qual durante os meses, que compreendem de Maio à Setembro,
o “Settore Verde, Parchi e Giardini” da “Comune di Padova”, organiza uma série di ações
gratuitas e ou a pagamento como: ginástica, animação para crianças, cinema, teatro,
música, mostras, percurso botânico e atividades recreativas para o usufruto nos espaços
verdes da cidade.
Padova também conta com três estádios, o “Stadio Appiani”, que é o precursor,
datado de 1924 com a capacidade de 24.000 pessoas, o “Stadio Euganeo” (Figura 15),
inaugurado em 1994, com 32.420 lugares, é o estádio mais importante da cidade, onde
seu time principal joga suas partidas, e o “Stadio di rugby Plebiscito”, utilizado
prioritariamente para a prática da modalidade esportiva do rugby, com 9.600 assentos.
(PADOVANET, 2010).
No centro padovano encontra-se um importante e intenso ponto de reflexão sobre
a cultura esportiva a “Biblioteca dello Sport” (Figura 14), fundada em 2000, pela parceria
de três órgãos importantes a “Associazione Patavina Cultura e Sport”, a “Fondazione
Cassa di Risparmio di Padova e Rovigo” que è uma instituição privada a qual è
responsável pelo financiamento para a aquisição de materiais a ser consultados e o
“Settore Servizi Sportivi del Comune di Padova” que disponibiliza o espaço e funcionários
para o local. A Biblioteca è pública e fornece gratuitamente um grande número de
60
materiais, no total de 3.000, sendo que 700 exemplares só de monografias, além de
livros, revistas, periódicos, CD’s, DVD’s, VHS a respeito do esporte e de temas afins, bem
como organiza vários eventos, concursos, encontros, cursos, mostras na área esportiva,
os quais também podem ser acessados por meio da internet, através do seu endereço
virtual. (BIBLIOTECA DELLO SPORT, 2010).
Figura 14. Biblioteca dello Sport. Fonte: Anne Reis, 2010.
Figura 15: Stadio Euganeo, 2009. Fonte: La Gazzetta dello Sport.
A cidade de Padova, neste ano de 2010 comemora o centenário do seu time de
futebol o “Calcio Padova”, calcio é o mesmo que futebol, em italiano. O “Biancoscudato”
como é chamado por seus fiés torcedores, nasceu em 29 de Janeiro de 1910, quando foi
fundada a 'Associazione Calcio Padova’ a qual deu início a história do futebol na cidade.
E para falar da história do futebol padovano, precisamos nos remeter ao Estádio
Euganeo, o qual abriga as sedes das instituições esportivas da cidade e da região em sua
estrutura, citadas as seguir:
• Aia - Associazione italiana arbitri, Coni - Comitato regionale veneto e Scuola
regionale dello sport;
• Fipsas - Federazione italiana pesca sportiva e attività subacquee - Comitato
regionale veneto;
61
• Fidasc - Federazione italiana disciplina con armi sportive da caccia -
Comitato regionale veneto;
• Fisd - Federazione italiana sport disabili - Comitato regionale veneto;
• Aia - Figc Associazione italiana arbitri calcio - sezione di Padova;
• Fiso - Federazione italiana sport orientamento - Comitato regionale veneto;
• Fids - Federazione italiana danza sportiva - Comitato regionale veneto;
• Fgi - Federazione ginnastica d'Italia - Comitato regionale veneto;
• Aiac - Associazione italiana allenatori calcio - sezione di Padova;
• Figh - Federazione italiana gioco handball - Comitato regionale veneto;
• Fise - Federazione italiana sport equestri - Comitato regionale veneto;
• Fipav - Federazione italiana pallavolo - Comitato regionale veneto
(PADOVANET, 2010)
No Euganeo também se encontra o “Calcio Padova Museum”, è um rico museu
direcionado ao futebol em Padova, com uma série de imagens, recordações e vídeos
interativos que recontam história centenária do futebol padovano, permitindo aos seus
visitantes desfrutar das memórias dos protagonistas que fizeram parte desta grande
manifestação cultural. A visita è gratuita, acompanhada de um guia que a direciona. Esta
disponível também na internet um site do museu, o qual organiza materiais como fotos,
jornais da época e documentos, que podem ser acessados livremente. O acervo está
organizado por períodos. O primeiro deles “Le origini” (Figura 16) retrata a origem,
compreende os anos de 1910 a 1950. “L’ era Rocco” (Figura 17) é a segunda e que vai de
1955 a 1961, denominada de anos ouro, por ser o período em que o ilustre ex-jogador e
então técnico Nereo Rocco esteve a frente do time padovano, utilizando o “Catenaccio”
que è uma tática defensiva do futebol desenvolvida nos anos trinta na suíça (SADAR,
1999). A terceira è chamada de “Gli anni duri”, que em portugues seria “Os anos duros”
que compreende o período de 1962 a 1980, onde as dificuldades internas e econômicas
perduraram.
62
O período sucessivo a este, de 1981 à 1995, a quarta desta, foi nomeado de
“Destinazione Paradiso”, o qual o time passou da série “C” à “A”, depois de 32 anos da
brilhante “L’era Rocco”(Figura). A quinta e última esta denominada “Era recente ritorno in
serie B”, abrangendo os anos de 1996 à 2010, depois de um incrível ritorno a série “C”,
onde permaneceu por 11 anos, hoje incontra-se na série “B” (CALCIO PADOVA
MUSEUM, 2010). Abaixo podemos observar 2 fotos disponibilizadas pelo “Calcio Padova
Museum”, atraves do seu sítio virtual. Este se configura como uma grande orgão promotor
da preservação da memória do futebol em Padova, conservando sua história e a
promovendo por meios dos seus veículos de comunicação, seja eles impressos ou
virtuais.
Figura 16. Padova-Torino, Bacigalupo,1949. “Le Origini”. Fonte: Calcio Padova Museum,
2010.
Figura 17. Padova-Roma, Brighenti Moro Rosa, 1958. “L’era Rocco”. Fonte: Calcio
Padova Museum, 2010.
As Políticas Públicas de “Sport e Tempo libero” como é genericamente conhecidas
as Políticas Públicas de Esporte e Lazer na Itália, contam com a parceria do setor privado
que finaciam boa parte dos recursos das iniciativas de esporte e lazer ocorridos em
Padova, bem como na Itália como um todo. Neste sentido a maioria dos programas
oferecidos pelo governo italiano, mesmo quando públicos não são gratuitos, restrigindo a
participação e os direitos dos cidadãos a contratos pré-estabelecidos, dotados de taxas
adotadas pelos setores públicos, coordenadas ou não por instituições privados de
arrecardação fortalecendo e legitimando a minimização estatal.
Mas quais são os porquês de toda esta averiguação da organização política e
social dos espaços públicos de esporte e lazer da cidade italiana em questão?
63
Para começarmos a responder este questionamento, recorremos a um dos
objetivos dessa pesquisa, a proposição de uma reflexão sobre a conjuntura das políticas
públicas de esporte e lazer alagoinhese, por meio da preservação da sua memória local,
especificamente dos seus espaços públicos referentes ao tema. Como podemos observar
pelas informações descritas neste capítulo, a cidade de Padova, oferece aos seus
cidadãos por meio da organização pública, ou público-privado, uma grande variedade de
iniciativas que conotam a participação da comunidade padovana em locais apropriados
para a prática e para o estudo do esporte e do lazer, disponibilizando uma ampla
estrutura, no que se refere aos espaços públicos, seja, aqui definidos, como praças,
jardins, parques, biblioteca, ou museo.
Assim podemos nos apoiar nas experiências padovanas para aprimorar e construir
políticas públicas que sejam verdeiramente eficientes no setor que resguarda o esporte e
o lazer alagonhense, como vias de desenvolvimento humano. Este diálogo com uma
realidade de âmbito internacional tão diferente da região do agreste baiano e ao mesmo
tempo tão próxima, porque ao tempo, que precisamos de exemplos inovadores, que
deram e dão certo como os projetos da biblioteca pública e do museo do esporte em
Padova, temos também a capacidade de sugerir reflexões para esta mesma cidade, a
respeito do que seria políticas e espaços genuinamente públicos, já que no Brasil estas
são totalmente finaciados pelos setores do Estado, livres de taxas e cobranças. Portanto
esta troca entre culturas podem favorecer tanto a cidade brasileira como a italiana em
pauta. Esta última no que diz respeito especificamente à utlização das suas praças
públicas, que neste estudo, por meio de observações, do diálogo com a população e
averiguação da história citadina acessada por documentações, foi possível identificar a
carência das prerrogativas que definem praça como lugar público para o convívio social,
portanto, lugares que devem ser respeitados por seus cidadãos e pela administração
local, que deve assegurar estes espaços como tal e não como um lugar sem importância,
sem identidade e sem história, as trasformando em simples terrenos com a função de
abrigar uma série de máquinas que desejam serem estacionadas por seus clientes, que
nesta situação deixaram de execer sua cidadania, a partir do momento que estiveram de
acordo e ou permitiram a apropiação do espaço público da praça para fins capitalistas
expressados e registrados acima.
Neste sentido as averiguações encontradas na cidade de Padova nos servirá para
contirnuarmos a luta para a edificação de intituições que possam resguardar as memórias
64
dos espaços públicos de esporte e lazer, documentado-as e disponibilizando-as para os
cidadãos alagonhienses, por meio da criação do Centro de Memórias do Esporte e Lazer
Alagoinhense – CMEL e para reforçarmos e aprofundarmos os estudos referentes a
utilização do espaço público, para assim melhorarmos as condições de uso dos nossos
próprios espaços, contribuindo também para o aperfeiçoamento de outras realidades,
como a da cidade de Padova. O intercâmbio realizado com outras instituições de ensino,
proporciona o contato direto com outras realidades, com culturas diversas, contribuindo
para a socialização do conhecimento, estimulando pesquisas nesta área de
conhecimento, estabelecendo assim um grande e consistente diálogo que reúne
Universidade, Estado e Sociedade, em comum acordo com as relações que os
interpelam, as quais podemos equiparar com as afirmações abaixo:
O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades (ARENDT, 2002, p.212).
Este poder enfatizado por Arendt é o elo que permeia as esferas sociais citadas
acima, as quais só terão eficácia e convivência harmônica, no momento que o ser social
for autor da sua própria história, resguardando as dinâmicas do seu cotidiano.
65
6. PERCURSO METODOLÓGICO
A presente pesquisa se caracteriza pela sua natureza qualitativa, que segundo,
Bogdan & Biklen (1982) tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento, supondo um contato direto e prolongado do
pesquisador com o ambiente e a situação que esta sendo investigado via de regra
através do trabalho intensivo de campo. Assim esta não parte por etapas de regimento,
prevalecendo, portanto, uma flexibilidade ditada pelo próprio objeto que compõe suas
próprias perguntas. Nesta perspectiva, por meio do método dialético abordaremos a
história oral como prática metodológica, utilizaremos a análise documental e a entrevista
como técnicas a auxiliar a desenvoltura desta investigação. Foram entrevistadas ao total 9
pessoas, na faixa etária de 60 a 89 anos, todas residentes no município de Alagoinhas, no
interior da Bahia, nos arredores das praças públicas, frequentantes destes espaços por
mais de 30 anos. Vale ressaltar que neste estudo utilizamos nomes fictícios para os
entrevistados, visando preservar suas identidades, mas relembrando que todas as
entrevistas citadas dispõem da permissão de seus autores, por meio do registro oral e/ou
por escrito, por meio do termo de compromisso A escolha da faixa etária do grupo em
questão deu - se por meio do que Bosi (2003) relata:
No estudo das lembranças das pessoas idosas [...] é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas, elas já viveram quadros de referência familiar e cultural igualmente reconhecíveis (BOSI, 2003, P.60).
Começamos a explorar os caminhos percorridos iniciando pela abordagem
qualitativa, que se justifica principalmente, por ser uma forma adequada para entender a
natureza de um fenômeno social como nos afirma Minayo (2000) “Um ponto importante a
se destacar, é que “[...] o objeto das Ciências Sociais é, essencialmente, qualitativo”
(MINAYO, 2000, p. 21). Segundo a mesma, esta se encontra na interpretação e no
entendimento dos significados e das ações e relações dos atos não quantificáveis.
Entendemos com base em Turato (2003) que “Método é um conjunto de regras que
elegemos num determinado contexto para se obter dados que nos auxiliem nas
explicações ou compreensões dos constituintes do mundo” (TURATO, 2003, p.153). E
66
que a Metodologia, como nos traz Minayo (1996) “é o caminho do pensamento e a prática
exercida a abordagem da realidade” (MINAYO, 1996, p.16).
A respeito do método da dialética, temos as reflexões de Konder, que nos indica:
Para reconhecer as totalidades em que a realidade está efetivamente articulada (em vez de inventar totalidades e procurar enquadrar nelas a realidade), o pensamento dialético é obrigado a um paciente trabalho: é obrigado a identificar, com esforço, gradualmente, as contradições concretas e as mediações específicas que constituem o "tecido" de cada totalidade, que dão “vida” a cada totalidade (KONDER, 1999, pg. 46).
Lakatos (2007) reafirma este pensamento quando diz que: "para a dialética não há
nada de definido, de absoluto de sagrado, nada existe além do processo ininterrupto do
devir e o transitório. Esta idéia é compartilhada por Sichirollo, (1980) quando afirma que:
"a dialética é conhecida como a arte do diálogo que aos poucos se transforma na arte de
demonstrar uma tese capaz de definir, atingir com a clareza os conceitos envolvidos na
discussão." (p. 247).
A dialética tem como objetivos fundamentais ajudar no diálogo para que se possa
chegar as respostas de determinadas questões como define Lakatos (2007) "o objetivo da
dialética é encontrar sempre vias de se transformar, desenvolver o fim de um processo é
sempre o começo de outro." (p. 101). Portanto segundo a mesmo, a dialética fornece a
base para uma interpretação dinâmica e real, estabelecendo que os fatos não podem ser
considerados isoladamente e propiziando a abordagem qualitativa.
Partindo para a metodologia da história oral empregada em nosso contexto de
pesquisa, podemos afirmar que esta configurada como um moderno recurso para a
elaboração de documentos, arquivamento e estudos dentre outros, referentes à
experiência social de pessoas e porventura de grupos; Thompson (2002) relata que a
história oral é uma história construída em torno de pessoas lançando a vida para dentro
da própria história alargando seu campo de ação. Assim evidenciasse que esta se
constitui como um espaço de contato e influência diversa, capaz de oferecer
interpretações qualitativas de processos histórico - sociais.
Por tanto dentro da perspectiva teórico-metodológica da história oral,
compreendida aqui a partir de três grandes atribuições, temos como primeira delas a
técnica de produção e tratamento de entrevistas; a segunda como método de
investigação científica e por fim como uma fonte de pesquisa. Supera-se aí a
67
conceitualização do que seja história oral, permitindo refletir que desde meados do século
XX, vários pesquisadores e autores a têm empregado em diversas formas e em diversos
campos disciplinares e por meio dela tem construído muitos textos de cunho científico,
acadêmico e literários. Talvez um empecilho encontrado para sua definição esta no fato
de que a história oral não encerrando um estatuto independente, já que uma das suas
especificidades esta na sua utilização em diferentes abordagens, transitando em terreno
pluridisciplinares (Camargo, 1989, Thompson, 1992, Ferreira, Amado, 1996).
Essa maneira de trabalhar com história oral, vinculada a pesquisa e a
documentação, esta datada na segunda metade do século XX, quando se estabelece na
história mundial, um movimento contrário à história positivista que, entre outras
referências, destinava status de documento, apenas aos documentos escritos e
principalmente, oficiais. Assim é no âmbito de um movimento epistemológico da própria
historiografia que a história oral ganha espaço e conquista respeitabilidade como um
eficiente e importante método investigativo.
A percepção de que o documento a ser produzido a partir do depoimento oral
privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu, traduz a razão
pela qual não se pode pensar em história oral sem trazer do passado experiências
individuais armazenada por um sujeito que tenha determinadas experiências e vivências.
Essa memória esta marcada pela sociedade em que este conviveu e se agrupou, e é
através dessa sociabilidade que se constitui um ponto essencial da sua autoformação e
visão coletiva, como também na tentativa de apreender as razões pelas quais as pessoas
concebem o passado de uma determinada forma e não de outra. Neste contexto Marinho
(2001) nos traz que, o registro oral dos atores sociais legitima a memória como fonte de
resistência e alternativa ao poder estabelecido. Segundo Montenegro (1994):
A história oral se descobre um processo de socialização de uma visão de passado, presente e futuro que as camadas mais populares desenvolvem de forma consciente/ inconsciente. (...) resultam num processo de interiorização e transformação do imaginário popular que se reconhece, que se redesenha em um outro lugar da sociedade. Essa mudança é, sobretudo, a redefinição de outro plano da cidadania e, por extensão de poder (MONTENEGRO, 1994, p. 40).
Esta mudança preconizada pelo autor, esta fundamentada pelo processo de
socialização de conhecimentos atemporais, conota segundo o mesmo, um instrumento de
grande transformação social. Já que a sociedade em que vivemos por meio da palavra,
68
do discurso, do relato oral produz conhecimento, dá valor as suas criações, inseridos em
seus discursos, nas suas verdades, as quais são passadas de geração para geração,
num ciclo audacioso de conhecimento, em que a memória se configura como objeto
precioso, já que o ato de recordar conduz a sociedade reconhecer-se na história, o que a
direciona para o exercício da reflexão e revalorização daquilo que foi e está posto. Este
mecanismo de revalidação histórica do ser humano, consigo, e com o mundo que o cerca
por meio primeiramente de suas recordações, seguidas de posteriormente pela tradição
da oralidade, eleva este ser partindo da individualidade para a coletividade, revalidando
os fundamentos do ser que vive na sociedade, o ser coletivo, o ser social, que visa não só
a edificação da parte , mas do todo em si. Assim Montenegro (1994) nos traz que:
Rememorar discussões e acontecimentos é também ensinar aos ouvintes como enfrentar situações semelhantes; um convite a participação na história, ao acompanhamento, ao forte envolvimento no que esta sendo contado. (MONTENEGRO, 1994, p. 44).
Referente à história oral diz Bosi (2003): “Quando se trata da história recente, feliz
o pesquisador que pode se amparar em testemunhos vivos e reconstituir comportamentos
e sensibilidades de uma época!” (Bossi, 2003, p.11). No mesmo sentido Pollak (1992)
argumenta: “a História Oral permite fazer uma história do tempo presente” (POLLAK 1992,
p. 212) em conjunto com Neves (2000) que ressalta:
É a busca de construção e reconhecimento da identidade que motiva os homens a debruçarem-se sobre o passado em busca dos marcos temporais ou espaciais que se constituem nas referências reais das lembranças. (…) O mesmo se pode dizer da metodologia da História Oral, que, sendo uma produção intelectual orientada para a produção de testemunhos históricos, contribui para evitar o esquecimento e para registrar múltiplas visões sobre o que passou. Além de contribuir para a construção/reconstrução da identidade histórica, a História Oral empreende um esforço voltado para possibilitar o afloramento da pluralidade de visões inerentes à vida coletiva (NEVES, 2000, p. 112).
Trabalhar com a história oral na comunidade proporciona o resgate de vivências,
visões de mundo, representações passadas e presentes. Trilhando por este caminho do
rememorar, as entrevistas, peças chaves deste resgate, são instrumentos que instituem
um novo espaço documental, o qual por inúmeras vezes vem sofrendo grandes perdas
com a morte dos seus sujeitos sociais.
69
Com relação ao resgate das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer
alagoinhense, cabe destacar que a coleta de informações e depoimentos por meio das
entrevistas não tem o interesse de instaurar a verdade, por meio da busca de fatos que
realmente ocorreram, mas como uma forma de compreensão, uma versão da pessoa
entrevistada. Nesta perspectiva:
[...] a memória pode falhar, pois entre o acontecido e o narrado há um tempo decorrido. O ato de rememorar além de esta atrelado ao que se quer e se pode rememorar, pode conter distorções e descompassos, deslocamentos, ênfases e ocultamento (GOELLNER, 2007, p.55).
A memória ao sofrer interferências do cotidiano e do tempo, vivido não se mantém
intacta. Portanto todos os relatos deste estudo carregam em si, um significado da vivência
desses espaços de esporte e lazer para estes sujeitos. Compartilhando as recordações
do esporte e lazer presentes durante a sua vida, os entrevistados exprimem uma idéia a
respeito da memória coletiva. Esta idéia relaciona-se com o espaço preenchido por cada
ser na sociedade. Este espaço pode ser mudado baseado nas relações que cada sujeito
estabelece com os diferentes grupos aos quais são pertencentes. Segundo Halbwachs
(1990) citado por Goellner (2007), “essa memória coletiva tem assim, uma importante
função de construir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum, que
compartilha memórias”.
As incursões a respeito da investigação em questão, cada conversa, cada encontro
era um viagem no tempo, um verdadeiro encontro com o passado, com a memória, com a
história na qual todo ocorrido pode ter valor, podendo revelar um maior entendimento do
momento atual. Ao trazer uma visão específica de certos fatos, os relatos e as memórias
se configuram também como um retrato de vida e dos costumes de uma determinada
época. Assim ao manter estas tradições, esses costumes promovem a reflexão a respeito
da nossa forte ligação com o passado.
O instrumento de pesquisa conhecido como fonte documental, segundo Vergara
(2003) objetiva reunir, classificar e distribuir os documentos de multiplas genêses das
diversas facetas dos contextos humanos. Esta, também se faz por meios de fontes
secundárias que tenham veracidade. Duarte, Barros (2005) referencia esta como uma
forma de se investigar que sustenta um grupo de questões ligadas ao intelecto,
objetivando a descrição e a representatividade de documentos de forma generalizada e
sistêmica no intuito de recuperar-los com mais facilidade. Os mesmos ressaltam:
70
A análise documental, muito mais que localizar identificar, organizar e avaliar textos, som, funciona como expediente eficaz para contextualizar fatos, situações, momentos. Consegue dessa maneira introduzir novas perspectivas em outros ambientes, sem deixar de respeitar a substancia original dos documentos (DUARTE, BARROS, 2005).
Assim, Moreira (2005) relata que a análise documental na área da educação se
constitui como fonte de informações, pontos que sugerem metas e ou a constatação de
empecilhos neste campo.
Utilizando-se da entrevista semi-estruturada como técnica de coleta de
informações, é essencial entende-la como:
Parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo a medida que se recebe as respostas dos informantes (DUARTE, BARROS, 2005).
Tendo a entrevista como uma atuação interativa entre indivíduos Trivinos e Molina
Neto (1999) diz que a entrevista tem que ser:
Pensada para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize exploração não-prevista, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa. (TRIVINOS; MOLINA NETO, 1999, p.74).
A entrevista (documentação) esta se encontra intrinsecamente relacionada a
memória, compreendida como a capacidade que o ser humano tem de reter fatos e
experiências vividas, seu processamento articula ,ao mesmo tempo pesquisa e
documentação pois promove a produção de um registro histórico. “Seu valor qualitativo
vem da transformação dos “objetos de estudos em sujeitos”, incentivando uma história
com maior riqueza de detalhes, mais viva, como também mais verdadeira” (THOMPSON,
1992).
Entendendo o ato de rememorar como uma forma de educação e um viés de
transformação social, nos apoiamos aqui na ideologia de base qualitativa, visto que o
objeto da pesquisa permeia um campo de relações de sujeitos com histórias impregnadas
de valores, conceitos e ações subjetivas, sendo, portanto,“ um contexto de observação e
interpretação que não se resume a elementos quantificáveis” (COSTA,2007, p173.)
71
Tendo em vista essa considerações e seguindo os caminhos metodológicos
necessário à construção de uma minuciosa pesquisa baseada na coleta de depoimentos
e a sua transformação em fontes de pesquisa tem-se enumerados abaixo os
procedimentos adotados:
1. Identificação das pessoas objetivando entrevistadas;
2. Confecção de roteiros para cada entrevista (neste estudo este procedimento fica em
aberto, penas direcionado, devido a entrevista ser semi - estruturada);
3. Aplicação das entrevistas;
4. Processamento das entrevistas: passagem dos depoimentos da forma oral para a
escrita, incluindo as aqui seguintes etapas;
a. Transcrição, que se dá pela passagem do documento oral para a escrita;
b. Ato de Conferência - conferi-se o que esta gravado com o que foi transcrito;
c. Correção de possíveis erros de gramática, ajustando o texto às normas de
padronização.
5. Estudo, consistindo em uma conferência do documento a partir do que foi dito, na
tentativa de aproximar-los o mais possível do acontecido e narrado;
6. Elaboração de sumário: objetivando facilitar posteriores consultas;
7. Concessão da entrevista por escrito para que a pessoa entrevistada confira;
8. Atestado concebendo os direitos das entrevistas;
9. Organização das entrevistas através de catálogo;
10. Disponibilização dos documentos para fins de consultas acadêmicas.
Cumpridos esses procedimentos, inicia-se a construção das histórias, já que até o
momento discorrido foi apresentado à escolha e a fabricação do documento, no caso da
oralidade e da escrita. Este documento é um registro da memória dos seres edificadores
desta e só poderá concretizar-se como tal segundo Catroga (2001) se forem formuladas
72
de acordo com as normas e as particularidades metodológicas próprias em conjunto com
as experiências pessoais e coletivas vivenciadas ou transmitidas pela oralidade ou pela
escrita.
73
7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
No trabalho em tela, foram discutidas formas para o levantamento de informações
a respeito do patrimônio imaterial citadino referente ao esporte e lazer, apresentando os
caminhos que se pretende seguir no intuito de documentá-las, bem como sua
disponibilidade para a comunidade, focalizando a necessidade de sua preservação
histórica, seja pela escrita como por meio da oralidade.
Tomando o ciclo de estudo a partir de bibliografias que tematizam a memória, as
políticas públicas relacionadas ao esporte e lazer, espaços públicos, preservação histórica
bem como a oralidade, foi possível uma melhor compreensão sobre o foco da pesquisa
qualificando o seu entendimento. Seguindo um roteiro onde inicialmente foi feito um
levantamento dos sítios virtuais, bibliotecas, secretárias e acervos públicos, identificou-se
de início a inexistência de uma sistematização dos períodos históricos do Esporte e Lazer
na cidade de Alagoinhas-Ba. Atrelados a isso temos a apropriação indevida de raros
registros que compõem o antigo cenário dos tempos passados, incluindo os espaços
públicos de esporte e lazer alagoinhense. A existência dessas lacunas está relacionada,
diretamente a pessoas que por um tempo tiveram uma vinculação com uma instituição
pública, e neste período se apossaram do bem público com fins pessoais, mantendo-os
em regime de cárcere privado. Em demasiados momentos tais sujeitos foram contatados
para uma possível contribuição com o estudo exposto, por meio da concessão de
entrevista, disponibilidade de registros, fotos, dentre outros, mas em momento algum não
obtive no mínimo o bom e velho respeito como pesquisadora. Neste sentido me aproximo
das reflexões de Amado (1990) quando também evidência:
A documentação local, necessária a pesquisa geralmente está em mãos de pessoas que se consideram “donas” e não querem cedê-la. Isto talvez aconteça porque, em locais menores, onde predominam relações de tipo pessoal e privado, haja mais dificuldade em identificar patrimônio histórico como patrimônio público. Mas também porque, nestes lugares, muitos “donos” da documentação pertencem às oligarquias locais, estão habituados a mandar. E não hesitam em usar este poder contra o pesquisador, principalmente quando desconfiam que o resultado da pesquisa poderá prejudicar seus interesses ou comprometer sua imagem (AMADO,1990, p.12).
Diante da dificuldade de recrutar registros das memórias históricas citadina, o
mesmo autor coloca:
74
E não é fácil realizar trabalhos de cunho regional, se problema do mau estado de conservação e de desorganização dos documentados históricos é sentido em todo o país, ainda mais agudo ele se apresenta na maioria das instituições estaduais e municipais, principalmente as situadas nas regiões mais pobres (AMADO, 1990, p.11).
O descaso é tanto que pra se per uma idéia, durante dois anos de pesquisa a
respeito das Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer Alagoinhense, em
contato com setores referentes ao Esporte e Lazer da cidade, como a Secretaria de
Esporte e Lazer (SECEL), com seus administrados e funcionários, bem como o arquivo
público e a biblioteca pública da cidade, pude constatar a falta de conhecimento a respeito
do tema questionado, muitas vezes negligenciado por parte dos administradores dos
respectivos setores públicos, já que em alguns destes, como é o caso do arquivo público,
no período de 2008, sempre estava fechado, por falta de pessoal capacitado para o
atendimento ao público, restringindo o seu acesso à coordenação do próprio arquivo e a
alguns conhecidos do Secretário de Esporte e Lazer da cidade, os quais concediam o
livre acesso a estes, pois detinham a chave deste setor.
No ano de 2009 com a eleição municipal, o cargo da direção do arquivo de
Alagoinhas foi mudado. Com isso o arquivo público já se encontrava aberto, porém os
funcionários que estavam neste setor não sabiam informar a existência de documentação
referente ao tema, além de comunicar que se estes existiam, sempre foram de acesso
exclusivo da direção do arquivo, já que a sala onde se encontram materiais deste tipo,
nem eles funcionários do espaço, a anos poderiam frequentar. Assim, estes relatam que
até 2008, só a diretora do arquivo e o Secretário de Esporte e Lazer da cidade, podiam
frequentar esta sala onde a maior parte da documentação antiga da cidade se
encontrava.
Como o arquivo em 2009, se encontra aberto, pude muitas vezes ir à busca de
materiais para a organização do estudo presente, porém os responsáveis encontrados
não sabiam da existência desta documentação solicitada, alegado só agora, ano de 2009,
poderem acessar os espaços onde estas eram dispostas, espaços os quais em 20 anos
de trabalho, os mesmos não tinham permissão de acessar. Sendo assim só agora os
próprios funcionários do arquivo público de Alagoinhas estão em contato direto com seu
objeto de trabalho, seja para descobrir, organizar, catalogar, ou mesmo desfrutar da sua
história.
75
Situações como estas mencionados, são bem mais que profundos descasos, uma
verdadeira violência a sociedade alagoinhense, que por tanto tempo foi e ainda é privada
de sua própria memória histórica, seja por meio da negligência ou apropriação e
privatização de materiais históricos citadinos por parte de seus representantes públicos
seja, pela falta de conscientização do que estas são para a identidade social de um povo.
E é também por causa desta escassez de informações que se fez e faz necessário o
encontro com os cidadãos alagoinhenses, porque é através dos seus múltiplos aspectos
relacionados com a escuta, o diálogo, com seus sujeitos sociais, com o seu testemunho,
que podemos resgatar os modos de vida, os sujeitos, os acontecimentos, as
representações, as conjunturas, os eventos, relacionados com a sua história.
As vozes dos atores sociais alagoinhenses presentes neste capítulo saem do eco
do anonimato, do passado ainda vivaz em sua memória, para ressoar com uma bela
melodia tocada nas praças públicas da cidade, pelas antigas e saudosas Siciliana e
Euterpe, mais que filarmônicas, verdadeiros ícones de movimento e resistência citadino.
Estes testemunhos e melodias esbravejam bem mais que um passado, no leva a outra
dimensão, a qual podemos, mesmo estando no presente, experimentar as lembranças, as
mudanças, o progresso, o regresso, a sociedade, as ideologias, a saudade, a política, o
esporte, o lazer, enfim a história, a qual esta entranhada no cotidiano do seu povo, que a
todo momento os remete a ela com se fossem dependentes da mesma para continuarem
a caminhar no presente, em projeção a suas vivências futuras. Assim discutiremos as
praças públicas de Alagoinhas como espaços de construção sociocultural, em que a
dinâmica criada pelos seus sujeitos, dá vida às estruturas de concreto, arborizadas ou
não, construídas e denominadas de espaços públicos.
Tomando como universos influentes de investigação de espaços de Esporte e
Lazer da cidade de Alagoinhas, as praças se apresentam como espaços de densa
frequentabilidade, onde os sujeitos sociais as utilizam não apenas como via de passagem
que separa os pequenos universos particulares de concreto, mas como lugar de vivência
cultural e social por meio de suas experiências individuais e coletivas que estas
proporcionam.
As praças investigadas trazem em especial além das características já citadas, um
público diversificado em cada uma delas o que as enriquece ainda mais. Palco de
diversas experiências, estes espaços se caracterizam como espaços de educação não
76
formal, onde a presença de animadores culturais é essencial para o desenvolvimento de
atividades onde o foco principal seja o aprendizado da comunidade sobre os seus direitos
de ser cidadão, atrelados as posições política e político - pedagógico de compromisso
com grupos e movimentos sociais, como afirma Fernando Mascarenhas, em “O lazer
como prática de liberdade” de 2003, que traz em conjunto a esta proposta de educação
popular de Paulo Freire, relacionando este plano acima mencionado, a resistência e a luta
cotidiana em prol da sobrevivência, visando a emancipação e a formação de um mundo
que possa proporcionar uma vida com condições totalmente superiores.
É apresentado a seguir o conjunto das informações levantadas ao lado dos
comentários acerca do tema. Para tanto, optou-se por discutir as praças centrais da
cidade, as quais estão situadas no Território de Identidade 18, mostrando as suas
singularidades, semelhanças e contradições:
Praça Rui Barbosa (Figuras 18, 19, 20, 21 e 22);
Praça Dr. J. J. Seabra – Coreto (Figuras 23, 24, 25, 26 27 e 28);
Praça Professor Mário Laerte (Figuras 29, 30, 31, 32, 33, 34 e 35).
A Praça Rui Barbosa, antiga Praça do Cruzeiro situa-se no centro da cidade,
caracterizada por sua estrutura amplamente arborizada, onde existe uma grande
circulação de pessoas, esta praça se posiciona como ponto de encontro de sujeitos que
se dispõe a vivenciar nos espaços públicos citadinos suas nuances pessoais e suas
relações sociais. Nesta localiza-se também a Secretaria de Cultural Esporte e Lazer
(SECEL) responsável pelo planejamento e gestão destas esferas na cidade. A
frenqüentabilidade da praça esta entre todas as faixas etárias, sendo que há um grande
contingente da população mais jovem ente 14 á 21 anos. Esta se tornou um ponto de
encontro juvenil, pois após o término das aulas, os estudantes se encontram para uma
calorosa confraternização de experiências de caráter interpessoal. Os pais também levam
seus filhos para brincarem nos equipamentos montados para esta finalidade, os então
chamados playgrounds que de acordo com Robba & Macedo (2003) uma vez
implantados, quadras esportivas, playgrounds e pistas, o lazer ativo se faz presente
(p.36).
77
O trânsito da comunidade neste espaço é intenso, apesar das restritas
possibilidades oferecidas, já que não há um programa de animação cultural, aliás, em
nenhuma das praças da cidade, com exceção das datas comemorativas - em que eventos
esporádicos acontecem exclusivamente neste local, e o programa do governo federal
“Segundo Tempo”, realizado em outra praça. Mas nem sempre foi assim, como relata o
Sr. J. C. Silva, um pernambucano de 86 anos, que veio trabalhar na ferrovia em
Alagoinhas em 1946, ex-tocador de clarineta e trompete da Euterpe e da Siciliana, antigas
filarmônicas da cidade, fundadas em 1896, hoje em decadência:
[...] Aliás, teve tempo aqui que todo domingo as filarmônicas tocavam nas praças, um domingo era da Euterpe e o outro da Siciliana. E começou assim, uma tocava na JJ Seabra e a outra na praça do Cruzeiro, a Rui Barbosa né. E na Rui Barbosa as duas se encontravam e disputavam quem tocava mais, uma na parte de cima e a outra na de baixo, o povo ia ao delírio, era bonito de se vê (REIS, p. 4, 2009)
A respeito da Praça Rui Barbosa o Senhor V. Souza, 81 anos nascido em Feira de
Santana e morador de Alagoinhas a mais de 60 anos relembra:
A Praça Rui Barbosa sempre foi bonita assim, com aquelas árvores grandes, toda vida teve brinquedo pra crianças; Domingo assim as famílias levava as crianças pra brincar; depois foi entrado prefeito, saindo prefeito, um fazia uma coisa outro cruzava os braços. Assim ela foi melhorando um bucadinho, eu sei que ela tá melhorzinha agora, nesse prefeito que “tava”, foi quem melhorou muito ela, porque já teve tempo que se fazia nojo passar.
Já a Sra. M. S. Moreira, 61 anos, natural de Alagoinhas, funcionária pública à 26
anos e recorda:
De primeiro era tudo mais animado, me lembro quando tinha a disfilata das filarmônicas na Rui Barbosa, eu passava a tarde ali com minha família antes da missa... Era tão animado, a gente ia pra lá tudo arrumado e tomava soverte na praça, eu jogava “macaco” com meus irmãos e com os meninos de lá ouvindo a banda tocar...”
O Senhor A. Nogueira, comerciante de 74 anos, nos traz uma saudosa Praça Rui
Barbosa:
Naquele tempo quando eu era um “rapazote”, sempre “vinha” aqui na praça pra vê as retretas da Euterpe e da Siciliana, e pra vê as moças também, foi aqui que começei a namorar, “eita” tempo bom...Aqui na praça a gente se divertia até a noite chegar, porque era sempre movimentado, quando não tinha música tinha o parque, e quando não era o parque, tinha
78
a meninada que vinha brincar, a gente jogava baliado, até as meninas tavam também [...]. Já os jovens de hoje só querem saber de beber e dançar o pagode, eles não vão mais pra praça se divertir. Antes era de lei ir pra festa de reis, de natal, de ano bom tudo aqui na Praça do Cruzeiro, mas hoje se têm, quando têm, porque não é sempre não, precisa vê quem vai, só mesmo o pessoal mais antigo, assim da minha idade pra cima. Aqui tem mais é criançada aos domingos, que vem brincar nesse parquinho aí e os jovens também, que ficam nos bares que fizeram alí.
Figura 18 e 19 - Praça Rui Barbosa, 1950. Fonte: Ma rcelo Ornellas. 2009
Figura 20 - Praça Rui Barbosa, década de 70. Fonte : Arquivo Público de Alagoinhas-Ba, 2009.
79
Figura 21 - Praça Rui Barbosa, playgrounds, Janeiro de 2009. Fonte: Anne Reis, 2009.
Figura 22 - Praça Rui Barbosa, Junho 2009. Fonte: A ndré Lima, 2009.
80
A Praça Dr. J. J. Seabra, localizada no centro comercial de Alagoinhas, abriga uma
das mais admiráveis edificações que embelezam a cidade, o Pavilhão-Bar, que foi
inaugurado no dia 15 de novembro de 1927. A praça tem esse nome em homenagem ao
soteropolitano, político e jurista brasileiro, José Joaquim Seabra, o qual governou a Bahia
por duas vezes, em 1912 e 1920.
O “coreto” pavilhão-bar, foi construído em estilo renascentista, com colunas de
cimento armado ao redor é considerado pela maioria um verdadeiro “bibelô” de forma
octogonal, apesar de haverem muitas opiniões contrárias a sua construção nesta praça,
pois se cogitava para este local a instalação de uma estatueta de busto homenageando o
fundador da cidade. Situada nas proximidades da sede da prefeitura municipal é
freqüentada em sua grande maioria por pessoas idosas entre 60 á 85 anos que fazem
deste local, não apenas uma via de fluxo de pedestres, mas um ambiente propício à
diversidade de lazer, a um campo de trocas de valores humanos-sociais, que neste caso,
em sua grande maioria, se dá através da realização de jogos como o xadrez, a dama e
vários outros jogos de tabuleiro nos bancos desta praça, a qual já foi palco tanto de
conflitos como o aquartelamento da Forças Armadas Militares legalistas em novembro de
1930, como também de intensas manifestações culturais com apresentações de
filarmônicas locais a exemplo da Euterpe Alagoinhense, Siciliana, bem como a Banda do
“1° Corpo da Polícia Militar”, composta por cem ele mentos, nas décadas passadas.
Hoje a “praça do coreto” é tomada pela terceira idade, o que chama a atenção de
muitos que no seu cotidiano passam por ela, ao se deparem com a dinâmica que este
grupo em especial, vivencia o espaço, o preenchendo de vida, apesar das adversidades
encontradas neste local. Esta praça tem uma especialidade, pois reúne um grande
contingente de pessoas que guardam em sua memória a história dos espaços públicos,
podendo se constituir o principal campo a revelar o resgate dos espaços de esporte e
lazer citadinos. A respeito do cotidiano passado deste local, nos apegamos novamente às
palavras de Sr. J. C. Silva:
Toda festa que existia naquele tempo era em função do “coreto”, sempre antes do carnaval aqui existia uma festa que era a dança do “maxixi” e todo mundo se divertia. Nesse tempo todo domingo era uma festa, todo mundo da cidade comparecia para vê as “retretas” com a família, fosse a Euterpe ou a Siciliana que fosse tocar.
81
E seguindo a linha de recordar o cotidiano da JJ Seabra, faz-se relevante valer-se
das memórias do então alfaiate de 89 anos - sendo 70 deles de Alagoinhas - Sr. B. B.
Santos, filho de Inhambupe, município que originou a cidade estudada:
Todo mundo passava por ali, porque era o centro da cidade e tinha o trânsito ferroviário. A sua estrutura era muito agradável. Na minha idéia hoje ali tem pouco movimento festivo. Ali antes era mais para as filarmônicas, os casais de namorados. Não se incentiva aquele coreto para nada, não tem filarmônicas todo domingo como antes, nem de quinze e quinze, nem de quando em vez. Não se usa aquele coreto para nada útil hoje, muitas vezes serve de abrigo para drogados e mendigos (REIS, p. 6, 2009)
Outro frequentador da praça do “coreto” e que sente muito a falta de incentivos
para com este espaço é o alagoinhese de 67 anos, E. Machado, hoje um grande
incentivador da revitalização das filarmônicas na cidade este diz:
Eu conversei muito com algumas pessoas que estavam na gestão passada pra questão daquele coreto ali, porque nos temos um coreto na JJ Seabra, então qual o verdadeiro sentido dele aqui? porque hoje não se utiliza ele pra forma que ele foi construido? pra abrigar uma filarmônica, um show aos domingos como era antes, onde a orquestra de frevo “OsTurunas” tocavam, e que até hoje esta presente na mente daqueles que estiveram aqui naquele tempo. Ali hoje tem que ser um lugar de todos nós. No caso aí a gente tem que criar algumas ações para levar as pessoas para a praça novamente, pra que elas possam sair das suas casas e pra que a gente possa crescer neste contexto.
Figura 23 - Praça JJ Seabra, “Coreto”, 1929. Fonte: Marcelo Ornellas. 2009.
82
Figura 24 - Praça JJ Seabra, “Coreto”, 1929. Fonte: Marcelo Ornellas, 2009.
Ainda sobre a J.J Seabra o Sr. J. C. Silva relata:
A Praça JJ Seabra mudou muito! Muito! Vigi, nem parece a mesma praça, aquilo antes era uma praça e que praça, a senhora precisava vê! Aquele jardim, aquelas plantas, aquelas arvores, ali eles faziam banco, cadeira de dentista de barbeiro, fazia essas pombas, esses passarinhos tudo na árvore, tinha tudo ali, mas depois que o comércio foi chegando as coisas foram mudando [...] E toda vida o pessoal ali jogava “Gamão”, Dominó! O pessoal daqui é viciado em dominó. (REIS, p. 5, 2009)
Sra. M. S. Moreira aponta algumas mudanças que lhe vêm à memória:
Eu freqüentava estes espaços, mas morava longe do centro e me vem na lembrança mais do que ela é hoje... Lembro da época em que o coreto era todo ornamentado, as árvores eram todas em formas, me lembro que era muito bonito, muito mais do que é. Hoje, nem se compara! Ele não está tão bonito, tão florido, como já foi. Mas ainda é um espaço bom e que precisa ser mais utilizado.
Em conferência proferida no “Pré-Fórum em Crítica Cultural: Políticas públicas e
heterotopias culturais” no campus II da UNEB, Alagoinhas, em dezembro de 2009, o
escritor e jornalista Antonio Torres, relembra as lembranças de um dos seus singelos e
memoráveis moradores, Eurico Alves, o qual descreve por meio de suas recordações o
cotidiano da cidade e em especial das vivências na Praça JJ Seabra, na década de
cinquenta, no poema intitulado “Luzes verdes, sonhos dourados” :
83
(...) as marcas culturais da cidade de Alagoinhas eram sinalizadas pelos letreiros luminosos nas fachadas das lojas na Praça J. J. Seabra – a das árvores podadas artisticamente em forma de pássaros -, seguindo pela Rua Coronel Anísio Cardoso, cujo movimento intensificava-se à noite com a chegada na Estação da Leste de um trem chamado Marta Rocha, que trazia os passageiros mais elegantes e os jornais da capital, e depois das sessões do Cine Azi, onde toda uma geração aprendeu a beijar, a dizer “Ai lóvi iu”, e a andar como se tivesse acabado de apear do cavalo do cow-boy. E a ficar horas diante de um espelho, caprichando num pimpão igual ao do Elvis Presley – com a untuosa ajuda da brilhantina Glostora -, cantando “Don’t leave me now”, como no filme “O prisioneiro do amor” (...) (ALVES, 1957).
O Professor Nilton Rodrigues relata em um blog3 de sua autoria, chamado ”Os
Rudimentos” o seguinte a respeito da praça em evidência:
Antigamente, nas tardes domigos, os jovens constumavam sair de suas casas em direção à “Praça do Coreto”, para assistirem os maravilhosos shows que eram realizados pelas Filarmônicas "Siciliana" e Euterpe". Hoje esses jovens já não são mais tão jovens e muitos até já se foram para a espiritualidade... As festas são diferentes e os jovens de hoje já não têm mais uma identificação com a arte e a beleza.
Em outro momento, recorda os momentos festivos deste espaço e incrivelmente
cita um dos nossos entrevistados, como ícone importante na desenvoltura cultural
daquela época:
Quando a orquestra “Os Turunas”, comandada pelo clarinetista Benigno, atacava de rock and roll, e ele, com seu balanço inimitável, mais parecia um personagem do filme “Rock around the clock”, causando espanto a uma cidade que ainda se movia a passos de bolero (dois pra lá, dois pra cá). Aliás, naqueles anos também de “rumba”, “chá-cha-chá”, “samba-canção”, “valsa”, “baião” etc., Alagoinhas fazia bonito nos salões e também nas praças ao ritmo da Filarmônica da Euterpe, principalmente no carnaval e na micareta. Folia foi o que nunca faltou aqui (ALVES, 1957).
Já no blog da Associação Cultural Euterpe Alagoinhense, intitulado “Tocando em
frente” o então presidente da associação Carlos Eduardo de Jesus Santos, no ano de
2007, deixou um depoimento em 10 de setembro de 2009 a respeito das filarmônicas de
Alagoinhas, este diz:
A Sociedade Filarmônica União Ceciliana apresentavam-se em praças públicas sempre ao entardecer, onde famílias inteiras viviam às expectativas dos dias de “Tocatas” e se posicionavam para ouvir e aplaudir com entusiasmo as apresentações, bailes em clubes sociais da cidade,
3 OS RUDIMENTOS: Ambiente virtual, histórico cultural. Colégio Estadual Dr. Magalhães Neto. http://wwwosrudimentos.blogspot.com/ Acesso: Setembro 2009.
84
casamentos, aniversários, procissões, desfiles cívico, visitas de autoridades, campanhas políticas, cortejos fúnebres e os famosos bailes de carnaval.
Este mesmo ressalta com perspicácia:
O descaso em que as filarmônicas foram tratadas ao longo de anos pelos seus dirigentes que, atendendo interesses pessoais, principalmente políticos, sucateou-nas, destruindo o acervo (documentos e instrumentos) com falsas promessas de recuperação, este sofrimento abrandou as disputas, levando os maestros a manterem-se lutando no anonimato, praticamente sozinhos, pela sobrevivência das entidades.
Figura 25 - Praça Dr. J.J Seabra, 1945. Fonte: Mar ia do Socorro Limoero, 2009.
85
Figura 26 - Praça Dr. J.J Seabra, 2009. Fonte: Tito Garcez, 2009.
Figura 27 - Praça Dr. J.J Seabra, Coreto. Fonte: An ne Reis, 2009.
86
Figura 28 - Praça Dr. J.J Seabra, “Jogo de dama”. F onte: Anne Reis, 2009.
A Praça Mário Laerte compõe vários equipamentos direcionados ao esporte
contendo duas quadras poliesportivas (Figuras 29 e 30), uma pista de skate (Figura 31), o
Ginásio de Esportes Antonio Carlos Magalhães (Figura 32) e o Estádio Municipal Antonio
Carneiro - Carneirão (Figura 33), com a capacidade de abrigar 12.000 espectadores,
inaugurado em de janeiro de 1971, tendo este nome devido a esse então administrador
da municipalidade, em sua gestão, - Antonio de Figueiredo Carneiro. A maioria dos
usuários desses espaços é jovem, que buscam ali a satisfação do contado com o outro,
através de atividades coletivas esportivas como o vôlei, o futebol, o basquete, o handebol.
É nesta praça que também acontece o programa do governo federal, o Segundo Tempo4
que visa à inserção das crianças e jovens das comunidades mais carentes dos arredores
desta localidade, na cultura do esporte. Cercada por escolas, a frenquentabilidade desse
ambiente por estudantes é bastante relevante, mas não só a este público a praça se
destina, mas às comunidades distantes, as quais se reúnem para concretizarem suas
4 O Segundo Tempo é um Programa Estratégico do Governo Federal tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de vulnerabilidade social. Ministério dos Esportes. http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/ Abril de 2009.
87
intenções e ações com intuito de promover o esporte e lazer de maneira lúdica e
produtiva. Nesta dinâmica a comunidade estabelece horários os quais são estabelecidos
para que as quadras poliesportivas cumpram seu papel de equipamentos públicos de
esporte e lazer, possam ser utilizados por todos de maneira igualitária.
A respeito desta praça o Sr. M. Santos, nascido em Alagoinhas, com 60 anos de
idade, em entrevista, expõe:
Aqui antes era tudo mato! Só tinha mesmo um campinho meio de terra e meio de grama. Mas tinha muita gente de meia idade, assim de cinqüenta anos, pó aí... E a garotada, as mulheres que vinham vê o marido, o filho jogar. Antigamente não tinha time em Alagoinhas, nem Estádio, tinha “LDA”, Liga Desportiva de Alagoinhas e a Suburbana, que jogava os times amadores e de bairros, eu mesmo jogava, e era a gente mesmo que pagava, era um “conto” por jogador. A torcida enchia, gostava mesmo e era fanática. [...] A Praça Mário Laerte surgiu depois da construção do Estádio. Tudo na vida a gente tem que correr atrás e foi assim que foi feito ele. [...] A cidade foi crescendo foi colocando mais praças, são importantes para o lazer e a cultura (REIS, p. 6, 2009)
A Sra. M. S. Moreira relata algumas transformações a respeito deste espaço:
Agora a praça Mário Laerte mudou bastante, mesmo porque é hoje um lugar perigoso por causa das drogas, tem muito disso ali, principalmente à noite. Crianças e jovens tem muito sim, por causa da escola também, mas antes todos estavam tranquilos, com os pais que os acompanhavam e agora não é mais assim.
Figuras 29 e 30 - Praça Mário Laerte. Acima e abaix o, quadras poliesportivas. Fonte: Reis,
2009.
88
Figura 31 - Praça Mário Laerte Pista de skate. Font e: Anne Reis, 2009.
89
Figura 32 - Ginásio de Esportes Antônio C.
Magalhães. Fonte: Prefeitura de Alagoinhas, 2009.
Figura 33 - Estádio Municipal Antonio Carneiro (Carneirão). Fonte: Anne Reis.
A Senhora M. L. Soares, professora aposentada, moradora do bairro Alagoinhas
Velha, de 68 anos nos relembra a Praça Mário Laerte de antes:
Para começar esse lugar aqui da praça Mário Laerte sempre foi frequenatado pelo pessoal do bairro(...) porque era um lugar amplo, arejado, com um grameado verde, que hoje não se vê muito, mas antes tomava toda a praça, tanto que os meninos faziam campeonato de futebol aqui, meus irmãos mesmo, vinha que era uma beleza! Eu só vinha com meu pai, sabe como é, menina, mocinha é um outro jeito, mas eu vinha vê eles jogarem porque meu pai gostava e jogava também, na verdade todo mundo gostava de vê eles jogarem, minha mãe e minhas tias sempre ia também e a gente se divertia. Eu ficava em baixo das árvores vendo o jogo e jogando “carta decorada” com minhas primas, levavamos boneca e faziamos pique-nique.
Relembrando Praça Mário Laerte que abriga um complexo esportivo, o Senhor J. I.
O. Cardoso, de 74 anos, nascido em Aramari, município vizinho a Alagoinhas relata:
A praça Laerte esta sendo revitalizada aos poucos, se a senhora passar agora lá, vai vê que tem um lugar pra os meninos brincar de skate, de bola, a garotada tá toda lá, e a rampa é nova ai os meninos se acabam!, desce correndo não sei cuma não cai! Também tem o ginásio ali atrás do “carneirão”. Esse ficou novinho em folha! arrumaram o gramado, as cadeiras, botaram as luzes pro jogos a noite e até o banheiro melhorou, fui lá torcer pro meu Atlético que ganhou essa semana de 4 em cima do Rio Branco, só dá o “Carcará”!
90
Figuras 34 e 35 - Estádio Municipal Antonio Carneiro (Carneirão)1970 e 2008. Fonte: 34 . Google e 35. Prof.MM.
Para tratar de memórias dos espaços públicos de esporte e lazer é de fundamental
importância referenciar as manifestações que passaram e passam por estes verdadeiros
palcos de memórias que são os espaços públicos, afinal de contas é a partir destas que
podemos resgatar a história destes espaços, sendo assim trazemos abaixo (Figuras 36 e
37) exemplos da memória iconográfica esportiva alagoinhense, nas imagens do seu
principal time de futebol, o “Alagoinhas Atlético Clube”.
Figuras 36 e 37 . Alagoinhas Atlético Clube 1973 e 2008. Fonte: Goo gle, 2009.
91
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
"O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber ”(FREIRE,1974, p.47).
Ao apresentar as considerações finais sobre o estudo é possível reconhecer as
aproximações que interligam os territórios investigados da cidade de Alagoinhas e de
Padova, já que estes foram palco de grandes movimentos culturais. Em Alagoinhas, no
que se refere ao Esporte e ao Lazer, é possível afirmar que infelizmente seus principais
espaços estão registrados apenas na memória da população mais idosa e nos acervos
privados de terceiros, os quais se aproveitaram de certo status sociais, apropriaram-se do
patrimônio histórico citadino alagoinhense, fazendo uso deste para ascensão pessoal,
principalmente nos meios acadêmicos, impedindo que seus cidadãos conheçam sua
história a fim de conservá-la e transformá-la. Isto fica evidenciado ao constatar que nem a
Secretaria de Cultura Esporte e Lazer (SECEL) nem o arquivo público da cidade, são
dotados de registros sobre a história destes espaços, o contrário do que se evidência em
alguns “acervos” privados de pessoas que já estiveram à frente de alguns cargos
públicos, como a própria secretária citada acima.
No caso das memórias dos espaços públicos de esporte e lazer da cidade de
Padova, estas estão muito bem conservadas devido às políticas públicas direcionadas
para estes fins. As iniciativas que conservam a memória dos espaços padovanos
averiguados em questão, tem parceria do setor público, no caso a “Comuni di Padova”
(Prefeitura de Padova) com associações comunitárias a exemplo da “Associazione
Patavina Cultura e Sport” (Associação Padovana Cultura e Esporte) além das instituições
privadas a exemplo da “Fondazione Cassa di Risparmio di Padova e Rovigo” (Fundação
Banco de Poupança de Padova e Rovigo), todas estas organizações comungam do
mesmo objetivo de fornecer aos seus cidadãos uma maior qualidade nos âmbitos que
resguardam o Esporte e Lazer e que assegurem ambientes onde a memória dos seus
espaços públicos e atores sociais sejam preservados. Na cidade italiana em foco, estas
memórias, encontram-se em estruturas organizadas exclusivamente para esta finalidade,
como é o caso da Biblioteca dello Sport (Biblioteca do Esporte) e do “Calcio Padova
Museum” (Museu Futebol Padova) dentre outros. Em contraste a realidade italiana, esta a
cidade brasileira de Alagoinhas, a qual demonstra uma real necessidade de rever as
92
bases que regem suas políticas públicas direcionadas a memória dos espaços públicos
de Esporte e Lazer.
Essa diferença de concepção de preservação encontra evidências a respeito dos
materiais históricos citadino, não só com esta temática, mas de um modo geral, esbarra-
se nas portas trancadas de uma Fundação que recebe benefícios públicos por tanto,
deveria ser aberta ao público, onde seus dirigentes - por desfrutarem a um tempo, de
certa posição política e social - se apossaram deste patrimônio, o qual até o final do ano
de 2009, segundo esta mesma instituição, ou melhor, seus dirigentes, foram transferidos
para a sede do partido político, o qual a direção da fundação faz parte, alegando ser um
lugar mais seguro, já que segundo os mesmos, a instituição até “tenta” um financiamento
público, para reformar o acervo que se encontra na antiga Estação Ferroviária São
Francisco em Alagoinhas, mas sempre se deparam com inúmeras dificuldades. Ė bom
lembrar que a antiga estação foi tombada pelo IPAC (Instituto do Patrimônio Histórico
Artístico Cultural da Bahia) em 2002, quatro anos antes do desabamento, em 2006, de
parte importante de sua estrutura superior, a qual formava a abóboda, característica
marcante e diferenciada de sua estrutura inglesa.
Tendo em vista, que a comunidade alagoinhense até o momento, é o único acervo
vivo que preserva a história do esporte e lazer, se faz necessário uma eficiente política
pública que legitime a edificação e manutenção de um espaço destinado a resgatar as
memórias do esporte e lazer citadinos, promovendo através de ações sociais, um
processo de conscientização comunitária a respeito da importância de se preservar a
memória e se reconstruir a história.
Sendo assim proporemos no decorrer desta discussão caminhos que devem ser
percorridos no intuito de resgatar o Esporte e o Lazer, por meio do ato de garimpar a
memória de seus cidadinos, em busca do avanço e do desenvolvimento de aplicações e
soluções, que encaminhem e dê continuidade para o resgate histórico verdadeiramente
eficaz e produtivo para o município alagoinhense. Tomando a perspectiva de alargarmos
nossas vias de conhecimento e compressão da esfera social, nos apoiaremos também no
diálogo com experiências de origem internacional, como é o caso da realidade encontrada
na cidade de Padova, Itália durante o intercâmbio cultural realizado no primeiro semestre
de 2010. Este proporcionou um contato direto com realidades distintas, as quais
ampliaram o entendimento das investigações no tocante dos espaços públicos de esporte
93
e lazer, bem como, as políticas públicas que resquardam a história por meio da
preservação e socialização da sua memória, como foi constatado na cidade de Padova
por meio da existência tanto da biblioteca pública, quanto do museo do esporte. A
observação vista ali nos confirma a necessidade de darmos continuidade ao
desenvolvimento de pesquisas históricas como formas investigativas que alcance a
obtenção de recursos que possam suprir lacunas existentes na memória do esporte e
lazer da cidade, promovendo a busca e a organização da documentação histórica e de
materias, os quais devem ser disponibilizados por meio dos avanços do aparato
tecnológico do computador, dos catálogos bibliográficos, das mostras fotográficas, das
exposições, de palestras, oficinas temáticas, dos cursos e do finaciamento a publicações
de pesquisas neste setor, bem como a sua socialização no âmbito político e acadêmico
internacional. Com isso, se execer a prática de reconstrução da história e sua
socialização por meio da disponibilização de informações relacionadas à memória do
esporte e do lazer, neste caso em específico da comunidade alagoinhese, que por meio
de documentos, tais como registros, cartas, livros, fotografias, videos, artefatos como
medalhas, vestimentas, toféus, podem compreender da sua própria formação histórica
social, ainda mais se todos esses materiais de memória estejam disponibilizados em
locais específicos para a preservação e para o livre acesso comunitário, características
fundamentais do CMEL- Centro de Memórias do Esporte e Lazer, proposto neste estudo.
Constatamos que a comunidade de Alagoinhas demonstrou um grande interesse
para com o reavivamento da memória por meio do reconto oral. Assim, se faz necessário
caminhar de braços dados com a comunidade, atráves da colheta de seus relatos, com
perspectivas de organizar um arcevo de história oral, bem como um acervo iconográfico e
documental, a partir desse diálogo com a população, o que acaba por preservar e divulgar
a sua memória. Neste estudo notou-se que as filarmônicas alagonhenses são bem mais
que doces e alegres lembranças de seus espectadores, mas sim, grandes símbolos de
identidade sociocultural, os quais fizeram parte constatemente do seu lazer, de suas
praças, de seus espaços públicos, de suas vidas. Neste sentido se torna essecial que as
medidas tomadas pelos setores públicos, alcancem também estas instituições, que
infelismente cairam na decadência e no esquecimento dos poderes públicos, mas ainda
continuam vivas na memória da sua população, principalmente daqueles que continuam a
lutar por estas ainda hoje.
94
Todas estas políticas públicas devem ser desenvolvidas de modo a instaurar um
diálogo entre poder público e a sociedade, perpassando por um amplo caminho, o qual
por obrigação deve recorrer a memória, o passado, para acessar a história, reconhecendo
e comprendendo o presente para construir e melhorar o futuro. Restaurar o passado por
meio da memória é uma das formas mais belas e sábias além de eficiente, de se
promover a Educação, já que é por meio dos recônditos históricos, recontados e
vivenciados pelos sujeitos sociais, que se aprende a vê o mundo com olhos iguais aos
que temos quando acabamos de nascer, olhos sem preconceito, sem discriminação, sem
ânsia, sem inferioridade ou incapacidade, verdadeiros olhos de águia, que visulizam
apenas o infinito que os esperam, com todas as suas possibilidades, surpresas e
novidades, um verdadeiro céu azul para ser pecorrido, uma folha em branco pra ser
escrita e colorida como bem desejarmos, um universo esperando criação.
A Educação entendida aqui compreende o comlexo que abrage todos seus campos
de atuação, com um destaque maior para os espaços não-formais, a exemplo dos
espaços públicos de esporte e lazer, especificamente as praças públicas. Portanto a
Educação não-formal, e seus espaços de atuação se interligam através de instrumentos
de transformação como é o caso da política, que neste sentido, nada mais é que uma
grande via promotora da liberdade do ser, do pensar, do agir e do viver social. A política
explícita neste estudo tem mãos dadas com a Educação e justamente neste ponto é que
acontece a transformação, então porque não fazer da política um forte instrumeto
educativo transformador? É nítido que as possibilidades de mudanças por meio das ações
socias de cunho educativo, são majoritariamente bem sucedidas, porque resquardam a
identidade e a cultura da sociedade, preservando a sua memória e a sua história.
Entendendo os espaços públicos como recantos de memória do esporte e do lazer,
em que a sociedade condivide nestes, seu cotidiano, seu ser social e coletivo, podemos
compreender o enigma que interage os âmbitos da Educação, da Política, do Esporte, do
Lazer, da Memória e dos Espaços Públicos em um só ambiente, o qual denominamos
aqui de social. O ambiente social revela o equilíbrio e preserva o mistério da vivênvia
individual e coletiva junto às dinâmicas socioculturais. Estas fornecem aos indivíduos que
dela fazem parte, a compreenssão da magnitude de sua existência, da sua própria
realidade como seres humanos culturais, históricos e socias. É como o nosso sábio e
inesquecível Freire nos relembrada na vinheta exposta no início deste capítulo, o
conhecimento é a chave da metamorfose humana, traduzindo sua sabedoria. E é
95
justamente este saber que buscamos aqui, por meio desta investigação que visou
resgatar as memórias dos espaços públicos do esporte e do lazer alagonhense e o qual
desejamos deixar como legado, por meio da edificação do CMEL- Centro de Memórias do
Esporte e Lazer, por parte do poder público, abrangendo toda sua história, no intuito de
preservar promover a sua memória.
96
REFERÊNCIAS
ALAGOINHENSE. Associação Cultural Euterpe. Tocando em frete. http://euterpealagoinhas.blogspot.com/2009/09/fundada-em-03-de-dezembro-de-893.html
ALVES, Eurico. Por TORRES, Antonio. Luzes verdes, sonhos dourados. Conferência proferida na Uneb – Universidade do Estado da Bahia, na cidade de Alagoinhas (campus 02), em 17.12.09. http://coisasdojunco.blogspot.com/2010/01/alagoinhas.html. Acesso em: Dezembro 2009.
ALVES, Vânia F.N. Uma literatura antropológica sobre a educação físic a e o lazer. In: WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Hélder Ferreira (org.). Lazer e recreação e educação física. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p.83-114.
AMADO, Janaína. História e Região: Reconhecendo e Construindo Espaços. In: Marcos Antonio da Silva, (Org.) História em Migalhas- História Regional e Local . São Paulo- SP: Marco Zero/ MTC-CNPq,1990.
AMARAL, Silva. Cristina. Franco. Políticas Públicas de Lazer e Participação Cidadã: entendendo o caso de Porto Alegre – Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, SP: 2003.
AMARAL, Silvia Cristina Franco. Cidadania . In: GOMES, Christianne Luce (Org.) Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, p. 30-35, 2004.
AMARAL, Silvia Cristina Franco. Políticas Públicas . In: GOMES, Christianne Luce (Org.) Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, p. 181-185, 2004.
ARANHA SILVA, Edima. Lazer nos espaços urbanos . Revista Eletrônica da AGB Seção. Três Lagoas – MS. Três Lagoas, v.1, n.1, ano 1, 2004. Disponível em: http://www.ceul.ufms.br/agbtl. Acesso: Junho, 2009.
ARENDT, Hanna. A Condição Humana . Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
Associazione. Patavina Cultura E Sport. Disponível em: http://www.bibliotecadellosport.it/ASSOCIAZIONE/index.htm. Acesso em Abril 2010.
BACAL, Sarah. "Lazer e o Universo dos Possíveis ". São Paulo: Aleph, 2003.
BARROS, Salomão. Vultos e Feitos do município de Alagoinhas . Salvador: Artes Gráficas e Ind. LTDA, 1979.
BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte e Política: Ensaios sobre Lit eratura e História da Cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Biblioteca dello Sport . Disponível em: http://www.bibliotecadellosport.it/ . Acesso em: Abril 2010.
BOGDAN, R. C. e BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação . Porto: Porto editora, 1994.
97
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos . 2 ed. São Paulo: Edusp, 1987.
BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução . Vitória: UFES, Centro de Educação Física e Desportos, 1997.
BRACHT, Valter. Esporte, História e Cultura . In: LUCENA, Ricardo de Fiqueiredo.
BRAMANTE, A.C. Lazer: concepções e significados . Revista Licere , v.1,n.1, p. 9 -17,1998.
BRAMANTE, A.C. Recreação e Lazer: o futuro em nossas mãos . In: Moreira, W.W. (org)educação física e esportes: perspectivas para o século XXI.(Org.). Campinas, S.P:Papirus, 1993. p. 161 – 179.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil : promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira).
BRASIL. Estatuto da cidade. Brasília: Senado Federal, 2002.
CALDEIRA, T. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em S ão Paulo . São Paulo: Ed.34 / EDUSP, 2000.
CAMARGO, Luis Otávio de Lima. O que é Lazer . São Paulo: Brasiliense, 1989.
CAMPOS, Helezina Ávila. Refletindo no papel das representações nas territorialidades urbanas: o exemplo da área centra l do Recife. IN: GEOUSP, Espaço e Tempo. São Paulo: DG/FFLCH/USP, Junho 2002.
CARLO, Ana Fani Alessandri. O lugar No/Do Mundo . São Paulo: HUCITEC,1996.
CARNEIRO, A. R. S.; MESQUITA, L. B. Espaços livres do Recife. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife/ Universidade Federal de Pernambuco, 2000.
CARVALHO, A. (Org.). Políticas Públicas. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2002.
Comuni de Padova . Disponível em: http://www.padovanet.it/index. jsp . Acesso em: Abril 2010.
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte n o Brasil . 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
DaMATTA, Roberto. Explorações: ensaios de sociologia interpretativa . Rio de Janeiro, Rocco, 1986.
DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingues et al. Praças: História, Usos e Funções. Editora da Universidade de Maringá - Fundamentum (15), 2005. (p.2, 3)
Declaração Universal dos Direitos Humanos . http://www.amnistia.internacional.pt/sobre_ai/dudh. 1.php. Acesso em: Agosto, 2009.
98
DIZERÓ, Joselle Davanço. Praça do interior paulista: estudos de caso nas cid ades de Ribeirão Preto e Monte Alto/SP. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC, Campinas, 2006.
DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Tese de Doutorado. Campinas: Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, 2000.
FAVERO, Celso Antonio e SANTOS, Stella Rodrigues. Semi-árido: fome, esperança e vida digna. Salvador: UNEB, 2002.
FERREIRA, M. de M. e AMADO J. (Orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001.
FONT, Mauro. A praça em movimento: processos de transformações m orfológicas e funcionais no Brasil do século XX . Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
FREIRE, Paulo. Política e Educação . São Paulo: Cortez, 1993.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança . Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1974.
GADOTTI, Moacir. A Questão da Educação Formal/Não-Formal . In: INSTITUT INTERNATIONAL DES DROITS DE L’ENFANT (IDE) Droit à l’éducation: solution à tous les problèmes ou problème sans solution? Sion (Suisse), 18 au 22 octobre 2005. Disponível em:http://www.paulofreire.org.br.Acesso:Junho 2009.
GEBARA, Almir. História do esporte: novas abordagens . In: LUCENA, Ricardo de Fiqueiredo. PRONI, Marcelo Weishaupt. (orgs.) Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. (Coleção educação física e esportes).
GIEDION, L’eterno presente: le origini dell’architettura , Feltrinelli, Milano, 1969.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social . 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GOELLNER, Silvana V. JAEGER, Angelita. A. (orgs). Garimpando Memórias: esporte, educação física, lazer e dança. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal, participação da sociedade civi l e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. Pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 3º ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999.
HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural . São Paulo: Loyola, 2000.
IBGE. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística . Alagoinhas, População, Localização, Bioma. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=290070
IZQUIERDO, Ivan. Sobre memória . São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 2004.
99
KONDER, Leonardo. O que é dialética . 25ª edição. Editora Brasiliense, 1999.
LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cientifica . 6 ed.reimpr- São Paulo: Atlas, 2007.
LAMAS, J.M.R.G. Morfologia urbana e desenho da cidade . Lisboa: Fundação Calouste,Gulbenkian/Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1993.
LE CORBUSIER. A carta de Atenas . São Paulo: EDUSPHucitec,1993.
LE GOFF, Jacques. História e Memória . Campinas : Editora da UNICAMP, 2003.
LEAL,Carla Manuela da Silva. Reavaliar o conceito de qualidade de vida . Universidade dos Açores. Portugal, 2008. Disponível em: http://www.porto.ucp.pt/lusobrasileiro/actas/Carla%20Leal.pdf. Acesso:Junho 2009.
LEIRO, Augusto Cesar Rios. CULTURA & TELEVISÃO: os programas esportivos e suas implicações na formação da juventude. In: XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO – BH/MG – 2 a 6 Set 2003, Belo Horizonte.
LEIRO, Augusto Cesar Rios. Educação e mídia esportiva: representações sociais das juventude. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2004. Disponível em: http://www.grupomel.ufba.br/textos/index.htm.Acesso: Abril 2009.
LEIRO, Augusto Cesar Rios. Educação, Lazer e Cultura Corporal. Educação e Lazer nos parques públicos: encontro de sujeitos em espaç os de cidadania. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2001. Disponível em: http://www.grupomel.ufba.br/textos/index.htm. Acesso: Abril 2009.
LINHALES, M. A. Jogos da Política, Jogos do Esporte . In: MARCELLINO, N. C. (Org.). Lazer e esporte: políticas públicas. Campinas, SP: Autores A.
LIONELLO, Puppi;TOFFANIN,Giuseppe. Guida di Padova: Arte e storia tra vie e piazze . Trieste, 1983. p. 163.
LÜDKE M. e ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas . São Paulo: EPU, 1986.
MACEDO, Roberto Sidnei. A etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciên cias humanas e na educação. Salvador: EDUFBA, 2000.
MACHADO, JAG. O que é qualidade de vida. Perspectiva cultural: In Cadernos de Bio-ética. Coimbra, Centro de Estudo de Bioética.Dezembro.1992, p.9-13.
MARCASSA, Luciana. As faces do lazer: categorias necessárias à sua com preensão. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Caxambu, 2003.
MARCEDO, Carmen ,FIGUEREDO,Luis. Domingos na praia: A dimensão simbólica do lazer popular. Reflexão. Campinas. PUC XI(35),P. 62a73, Maio/Agosto,1996.
MARCELLINO, N. C. (Org.). Lazer e educação . Campinas, SP: 2004
100
MARCELLINO, N. C. (Org.). Lazer e esporte: políticas públicas . Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
MARCELLINO, N. C. (Org.). Lazer e Humanização . Campinas, SP: 1995.
MARX, M. Cidade Brasileira. São Paulo: Melhoramentos: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.
MASCARENHAS, Fernando. Lazer e educação popular . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 12., 2001, Caxambu. Sociedade, ciência e ética: desafios para a educação física/ciências do esporte. Anais ... Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2001.
MASCARENHAS, Fernando. Entre o ócio e o negócio: teses acerca da anatomia do lazer / Fernando Mascarenhas. - Campinas, SP: [s.n], 2005.
MATOS, Olgária C. F. Os arcanos do inteiramente outro – a escola de Fran kfurt. A melancolia e a revolução . São Paulo: Brasiliense,1989,p.58.
MEDEIROS, Ethel. B. Lazer: Necessidade ou novidade? Rio de Janeiro: Sesc, 1975.
MEIHY, José C. S. B. Manual de história oral . São Paulo: Edições Loyola, 1996.
MELO, Victor Andrade de. Esporte, imagem, cinema: diálogos. Relatório de pesquisa/pós-doutorado em Estudos Culturais. Rio de Janeiro: Programa Avançado de Cultura Contemporânea, 2004.
MENDONÇA, Eneida Maria Souza. Apropriações do espaço público: alguns conceitos. Faculdade de Arquitetura Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2007.
Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/epp/v7n2/v7n2a13.pdf. Acesso: junho 2009.
MENICUCCI, Telma. Políticas Públicas de Lazer: questões analíticas e desafios políticos. In: ISAYAMA, Eldér Ferreira (Org). Sobre Lazer e Política: maneiras de ver, maneiras de fazer. Belo Horizonte, Editora EFMG, p. 137-115, 2006.
MINAYO, M. C. Pesquisa social: teoria, método e criatividade . 17. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral e Memória: a cultura popular revisita da. 3° ed. São Paulo: Contexto,1994.--(Caminhos da hist ória).
MOREIRA, Raimundo Nonato Pereira. História e memória: algumas observações. Disponível em: <http://www.fja.edu.br/praxis/praxis_02/documentos/ensaio_2.pdf>.
NEVES, Lucília de Almeida. História Oral: memória, tempo, identidades . Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2006.
NIETZSCHE, Friedrich. Segunda Consideração Intempestiva : da utilidade e desvantagem da história para a vida. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 2003.
OS RUDIMENTOS: Ambiente virtual, histórico cultural. Colégio Estadual Dr. Magalhães Neto. http://wwwosrudimentos.blogspot.com/
101
PADOVA, Archivio Turismo Padova Terme Euganee. Padova, città d’ Arte. Terme Euganee, Veneto: Tra la terra il cielo. Novembre de 2009. Disponível em: http://www.turismopadova.it/file/citta_arte_sp. Acesso em Abril de 2010
PADOVA, Comune di - Bilancio Demografico. Settore Programmazione Controllo e Statistica. Movimento della popolazione residente al 31 Maggio 2010. Disponivel em: http://www.padovanet.it/allegati/C_1_Allegati_9999_Allegato.pdf. Acesso em Abril 2010.
PADOVANET. Rete civica di Padova. Parchi e giardini in città . 2009. Disponivel em: http://www.padovanet.it/dettaglio.jsp?id=7983. Acesso Abril de 2010.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social . In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n.10, 1992, p.200-212. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104.pdf . Acesso em Julho de 2009.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio . . In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.2, n.3, 1989, p. 3-15. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/43.pdf . Acesso em Julho 2009
PREFEITURA DE ALAGOINHAS. Alagoinhas: 153 anos de história marcada por grandes desafios. Informativo da Prefeitura de Alagoinhas – Ano 5 – Número 26 –Julho 2006.
PRONI, Marcelo Weishaupt. (orgs) Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. (Coleção educação física e esportes).
QUEIROGA, Eugênio F. A megalópole e a praça: o espaço entre a razão de dominação e a ação comunicativa . Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
RAMALHO, Elba. Banho de cheiro . Letra de Música. http://www.elbaramalho.com.br/discografia/coracao-brasileiro/. Acesso em: Abril 2009.
RAMOS, Valter. Ferrovia e Estação São Francisco: contando um pouco dessa história. Alagoinhas em revista. Ano I – nº. 01 – Setembro, Outubro, Novembro – 2005.
RECHIA, S. Parques Públicos da cidade de Curitiba: A relação C idade-Natureza nas Experiências de Lazer. Tese de Doutorado. Unicamp. Campinas, 2003.
REIS, Anne Sulivan Lopes da Silva. Memórias dos Espaços Públicos de Esporte e Lazer Alagoinhense: Histórias da Comunidade. Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009. Disponível em: http://www.rbceonline.org.br/congressos/index.php/CONBRACE/XVI/paper/viewFile/1101/851 . Acesso em: Novembro 2009.
REQUIXA, Renato. O lazer no Brasil . São Paulo: Brasiliense, 1977.
ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo - Imprensa Oficial do Estado, 2002.
102
ROCHA, Luiz Carlos. Políticas Públicas de Lazer: um olhar sobre a rea lidade brasileira. Diálogos Possíveis, Salvador, v. 3, n. 2, p. 191-199, jul./dez. 2004.
ROCHA, Luiz Carlos. Salvador, espaço de reprodução da "globalização per versa": plataforma no centro do debate da cidade (in) visív el. Diálogos Possíveis, Salvador-Bahia, v. 01, jan./jul., p. 51-64, 2005.
RODRIGUES, Lídia Meira de Souza. Planejamento e gestão urbana à luz do Direito:uma análise das praças e logradouros públic os de Três Lagoas. MS. TrêsLagoas:CPTL/UFMS, 2006.
ROLIN, Liz Cintra. Educação e Lazer - A Aprendizagem Permanente . São Paulo: Ática, 1989.
ROLNIK, R. Qualidade de vida é possível? Revista E. São Paulo: SESC, out.2000.
SADAR, Giuliano. El Paron - Biografia di Nereo Rocco , LINT Editoriale, Trieste, edizione italiana ,1999.
SANTINI, R. de C. G. Dimensões do lazer e da recreação . São Paulo: Angelotti, 1993. p.101.
SANTOS, E. S. A representação dos campos de várzea na cidade: um espaço de memória. In: Enarel, 2005, Campo Grande. XVII Encontro Nacional de Recreação e Lazer. Campo Grande: UCDB, 2005.
SANTOS, Luiz Ivan Rocha dos. Proposta de um Modelo Conceitual-Teórico para a manutenção de Praças Públicas no Município de Vitór ia-Es: Estudo de Caso . Espírito Santo–ES, 2008.
SANTOS, M. Espaço e método . São Paulo: Studio Nobel, 1985.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço técnica e tempo razão e emoção . São Paulo:Hucitec 2ª edição, 1997.
SECCHI B., Prima lezione d’urbanistica , Laterza, Roma-Bari 2000.
SILVA, Ienyra Rique. A Natureza Contraditória do Espaço Geográfico . São Paulo: Contexto, 1991.
SILVA, José Antonio da. Curso de Direito Constitucional . Positivo.25.ed.São Paulo:Malheiros, 2005.
SISHIROLLO, Lívio. Dialética. Trad.lemos de Azevedo. Lisboa: presença,1980. (p. 247).
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva hitóricocultural .In: Educação & Sociedade, v. 21, n. 71, jul./00. Disponível em: http://www.scielo.br/.Acesso em Julho de 2009.
SPIRN, Anne Whiston. O jardim de granito: a natureza no desenho da cidad e. São Paulo:Edusp,1995.
103
SPORTE - Laboratório de história do Esporte e do Lazer . Programa de Pós-Graduação em História Comparada . Instituto de Filosofia e Ciências Sociais Universidade Federal do Rio de Janeiro http://www.sport.ifcs.ufrj.br/docs/projetosconcluidos.html . Acesso em junho 2009.
TEIXEIRA. Elenaldo Celso. O local e o global: Limites e desafios da participa ção cidadã. SP: Cortez; Recife: EQUIP; Salvador: UFBA, 2001.
TEIXEIRA. Elenaldo Celso. O papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento L ocal e na transformação da realidade . Publicação AATR, Salvador – Bahia, 2002. Dispínivel em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf. Acesso: Junho, 2009.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
TOLENTINO, Magda Velloso Fernandes de. (Org). Noção e identidade: ensaios em literatura e crítica cultural. São João Del Rei: UFSJ, 2007.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais . São Paulo: Atlas, 1995
TUBINO, Manoel. O que é esporte. São Paulo: Brasiliense, 1999 - (Coleção primeiros passos; 276), 1º reimpressão.
TURATO, ER. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitat iva: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplic ação nas áreas da saúde e humanas . Petrópolis: Vozes, 2003.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administraçã o. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
APÊNDICE
APÊNDICE - A
ENTREVISTA 1 – NOITE DE 07 DE ABRIL DE 2009
J. C. SILVA
NATURALIDADE - PERNANBUCO
IDADE – 86
Anne: Boa noite Senhor J. tudo bem com o senhor?
J: Tudo bem minha filha.
Anne: Podemos começar com a nossa entrevista?
J: É pra já.
Anne: Começamos falando um pouco do senhor. O senhor se apresentar dizendo o nome, a idade e profissão.
J: Meu nome, J. C. Silva, tenho 86 anos, eu não sou baiano, eu nasci em pernambucano, e vim trabalhar na estrada de ferro, na “Leste Brasileira”, fui transferido pra qui, no ano1946, que anexou a estrada de ferro de Petrolina com a “Leste Brasileira” daqui. Chegando aqui eu, como já tocava clarineta e trompete também, era músico, juntei com o pessoal daqui e fui tocar na “Sociedade Filarmônica União Ceciliana”.
Anne: Seu J. o Senhor poderia nos falar como era as praças da cidade quando o senhor chegou aqui?
J: As praças eram muito animadas eu me lembro. Aliás, teve tempo aqui que todo domingo as filarmônicas tocavam nas praças, um domingo era da Euterpe e o outro da Seciliana. E começou assim, uma tocava na JJ Seabra e a outra na praça do Cruzeiro, a Rui Barbosa né. E na Rui Barbosa as duas se encontravam e disputavam quem tocava mais, uma na parte de cima e a outra na de baixo, o povo ia ao delírio, era bonito de se vê.
Anne: O senhor falou da praça JJ Seabra, a praça do “coreto” , o senhor poderia falar um pouco mais sobre ela?
J: Toda festa que existia naquele tempo era em função do “coreto”, sempre antes do carnaval aqui existia uma festa que era a dança do “maxixi” e todo mundo se divertia. Nesse tempo todo domingo era uma festa, todo mundo da cidade comparecia para vê as “retretas” com a família, fosse a Euterpe ou a Ceciliana que fosse tocar.
Anne: Para o senhor a praça JJ Seabra passou por alguma mudança nesses últimos tempos?
J: A Praça JJ Seabra mudou muito! Muito! Vigi, nem parece a mesma praça, aquilo antes era uma praça e que praça, a senhora precisava vê! Aquele jardim, aquelas plantas, aquelas árvores, alí eles faziam banco, cadeira de dentista de barbeiro, fazia essas pombas, esses passarinhos tudo na árvore, tinha tudo alí, mas depois que o comércio foi chegando as coisas foram mudando, a praça perdeu lugar para o comércio. E toda vida o pessoal alí jogava “Gamão”, Dominó! O pessoal daqui é viciado em dominó.
Anne: Seu J. muito obrigada pela atenção e pelas belas recordações que o senhor nos contou agora. Sabia que estas já são peças fundamentais para resgatar a história das praças de Alagoinhas.
J: Não tem de que professora! A gente nessa vida só pode querer ajudar mesmo, porque se é bom pra uns deve ser bom para todos e depois o que a gente leva daqui? Nada. (risos)
Anne: Seu J. preciso que o senhor me permita utilizar esta entrevista nos meios acadêmicos, universitários, pois servirá como instrumento para resgatar a historia de Alagoinhas.
J: Disso a professora pode ficar despreocupada, pode levar e utilizar para tudo quer for de interesse dos estudos de vocês.
ENTREVISTA 2 – TARDE DE 20 DE MARÇO DE 2009
V. SOUZA
NATURALIDADE – FEIRA DE SANTANA
IDADE – 81
Anne: Boa tarde seu V. ! pronto para começar nossa entrevista?
V: Boa tarde! Pode mandar vê dona moça.
Anne: Então vamos lá. Para começar nossa entrevista gostaria que o senhor, falasse um pouco da sua pessoa, seu nome, idade, profissão.
Valdélio: Meu nome é V. Souza, tenho 81 anos, sou da cidade Feira de Santana, mas me considero de Alagoinhas, porque moro aqui pra mais de 60 anos.
Anne: Seu V. o senhor poderia nos contar um pouco como eram as praças aqui de Alagoinhas?
V: Posso sim, o que tiver no meu alcance, a dona moça pode perguntar que eu respondo.
Anne: O senhor poderia nos falar um pouco da praça Rui Barbosa, de como ela era para como ela estar agora?
V: A praça Rui Barbosa sempre foi bonita assim, com aquelas árvores grandes, toda vida teve brinquedo pra crianças; Domingo assim as famílias levava as crianças pra brincar; depois foi entrado prefeito, saindo prefeito, um fazia uma coisa outro cruzava os braços. Assim ela foi melhorando um bucadinho, eu sei que ela tá melhorzinha agora, nesse prefeito que “tava”, foi quem melhorou muito ela, porque já teve tempo que se fazia nojo passar.
Anne: E das outras praças o senhor se lembra de alguma coisa, da Dr. JJ Seabra e da Mario Laerte?
V: Da JJ, me lembro sim, porque até hoje dou uma passada por lá, vou jogar “dama” com os esportistas da minha idade. Num tem 8 anos que o prefeito querendo agradar agente mandou fazer aqueles tabuleiros nos bancos da praça. A gente já praticava esse tipo de jogo muito antes de ter aqueles desenhos. Sempre fui frequentador daquela praça porque andava a vê as filarmônicas da Ceciliana e da Euterpe tocar. Era todo domingo, que elas se encontravam lá.
Anne: E da praça Mário Laerte o senhor se recorda?
V: Não tenho muita lembrança dalí não, não fazia parte do meu percursso, sei que o carneirão esta lá.
Anne: Seu V, lhe agradeço muito por todo esse relato sobre as praças da cidade e lhe peço se o senhor me permite, disponibilizar essa nossa entrevista para outros estudantes
da Universidade, para que as pessoas possam conhecer também a história das praças da cidade.
V: Por mim esta tudo bem, se é pra ajudar na formação, esta tudo bem!
ENTREVISTA 3 – MANHÃ DE 17 DE MAIO DE 2009.
M. S. MOREIRA
NATURALIDADE – ALAGOINHAS
IDADE – 61
Anne: Senhora M.S bom dia!
M.S: Bom dia Anne.
Anne: Vamos começar nossa entrevista, tudo bem?
M.S: Ai meu Deus( risos) vamos la!
Anne: Bom, gostaria que a senhora falasse um pouco de si, seu nome, sua idade,
profissão?
M.S: Eu me chamo M. S. Moreira, tenho 61 anos, sou natural de Alagoinhas e trabalho no setor público há 26 anos.
Anne: Gostaria que a senhora falasse um pouco das praças de Alagoinhas pra gente, da Rui Barbosa, da Dr. JJ Seabra, da Mário Laerte...
M.S: Eu freqüentava estes espaços, mas morava longe do centro e me vem na lembrança mais do que ela é hoje... Lembro da época em que o coreto era todo ornamentado, as árvores eram todas em formas, me lembro que era muito bonito, muito mais do que é. Hoje, nem se compara! Ele não está tão bonito, tão florido, como já foi. Mas ainda é um espaço bom e que precisa ser mais utilizado.
Anne: E da praça Rui Barbosa de que a senhora lembra?
M.S: De primeiro era tudo mais animado, me lembro quando tinha a disfilata das filarmônicas na Rui Barbosa, eu passava a tarde alí com minha família antes da missa... Era tão animado a gente ia pra lá tudo arrumado e tomava soverte na praça, eu jogava “macaco” com meus irmãos e com os meninos de lá ouvindo a banda tocar... Agora a praça Mário Laerte mudou bastante, mesmo porque é hoje um lugar perigoso por causa das drogas, tem muito disso alí, principalmente à noite. Crianças e jovens tem muito sim, por causa da escola também, mas antes todos estavam tranquilos, com os pais que os acompanhavam e agora não é mais assim.
Anne: A senhora vê alguma solução para resolver estes problemas que estão acontecendo nestes espaços?
M.S: Falta ação dos governantes porque se houvesse policiamento naquela área e preservação do espaço público as coisas não teriam chegado onde chegaram.
Anne: Bem dona M.S, acho que podemos finalizar por aqui. Lhe agradeço pela disposição, mais uma vez, meu muito obrigada!
M.S: Por nada Anne, se precisar de alguma, e eu poder ajudar, pode contar comigo, é um prazer.
Anne: Uma outra coisa, gostaria de socializar esta nossa entrevisrta para a UNEB, para que outros estudantes possam ter acesso, para que possa servir como instrumento acadêmico, a senhora me permiti?
M.S: Esta bem, pode fornecer sim a universidade, tudo que eu disse esta dito. Espero que ajude a vocês de alguma forma.
ENTREVISTA 4 – MANHÃ DE 10 JUNHO DE 2009.
A. NOGUEIRA
NATURALIDADE – ALAGOINHAS
IDADE – 74
Anne: Olá seu A. bom dia! Podemos começar nossa entrevista?
A: Bom dia mocinha! Na hora que a mocinha tiver vontade.
Anne: Pois bem seu Almir, o senhor poderia falar pra gente seu nome completo, idade, profissão?
A: Na minha carta de identidade, eu sou resgistrado como A. Nogueira, mas sou mais conhecido como “noguera”. Sou alagoinhense, já tenho 74 anos de vida nessa terra boa que Deus me deu. Recebo meu aposento todo mês, graças a Deus e aos meus filhos que foram lutar por mim lá no Inss pra isso.
Anne: Seu A. o Senhor poderia nos recontar um pouco da paça Dr. JJ Seabra, a praça do coreto?
A: Eu me lembro muito bem sim da nossa pracinha. Sabe tenho um carinho muito grande por ela, porque é um lugar muito especial pra Alagoinhas, para todos nós que vivemos aqui perto e para quem vive distante também, para todo mundo que é cidadão.
Anne: E do que o senhor lembra assim da Praça Dr. JJ Seabra?
A: De quando eu era menino, a estação da leste, parava aqui na praça, e tinha feira também. Naquele tempo quando eu era um “rapazote”, sempre “vinha” aqui na praça pra vê as retretas da Euterpe e da Ceciliana, e pra vê as moças também, foi aqui que começei a namorar, “eita” tempo bom... Aqui na praça a gente se divertia até a noite chegar, porque era sempre movimentado, quando não tinha música tinha o parque, e quando não era o parque, tinha a meninada que vinha brincar, a gente jogava baliado, até as meninas tavam também, tudo isso a luz do lampião ou do gerador que as filarmônicas colocavam pra poder tocar, porque nesse tempo não tinha essas luzes de hoje não. Já os jovens de hoje só querem saber de beber e dançar o pagode, eles não vão mais pra praça se divertir. Antes era de lei ir pra festa de reis, de natal, de ano bom tudo aqui na Praça do Cruzeiro, mas hoje se têm, quando têm, porque não é sempre não, precisa vê quem vai, só mesmo o pessoal mais antigo, assim da minha idade pra cima. Aqui tem mais é criançada aos domingos, que vem brincar nesse parquinho aí e os jovens também, que ficam nos bares que fizeram alí.
A: A mocinha me dá licença agora?
Anne: Claro seu A. o senhor pode ficar à vontade.
Pausa de 10 minutos. O entrevistado precisou se retirar por alguns instantes.
Anne: Retornado para nossa conversa, o senhor estava falando da praça do coreto e falou também da praça Rui Barbosa, o senhor se lembra de como ela foi construída?
A: Disso aí eu não sei muito não, mas se não me falhe a memória foi no tempo do coronel Saturnino, se não me engano, que aquele coreto foi construído alí, calculadamente foi isso aí.
Anne: E a praça Rui Barbosa?
A: Dessa eu não me lembro de quando foi não, é muito antiga, já existia aqui há muito tempo.
Anne: Muito obrigada seu A. pela nossa conversa. Queria lhe pedir mais uma coisa. Será que o senhor me permitir disponibilizar esse nosso bate papo, para que outros estudantes, tanto da universidade, como das escolas, possam esta consultando para conhecer um pouco da história das praças de Alagoinhas?
A: Com todo prazer, é um prazer poder contribuir com os estudos de vocês, quando precisar de novo estou aqui de prontidão (risos).
ENTREVISTA 5 – TARDE 04 DE ABRIL DE 2009.
B. B.SANTOS
NATURALIDADE – INHAMBUPE
IDADE – 89
Anne: Boa tarde seu B.podemos começar nossa entrevista?
B: Boa tarde, dona moça, podemos sim.
Anne: Seu B. o senhor poderia nos apresentar sua pessoa, dizer o nome, a idade, a
profissão?
B: Me chamo B. B. Santos, nasci em Inhambupe, município aqui vizinho, a 40 km. Minha idade é 89, 89 anos, 70 de alfaiate aqui em Alagoinhas, eu vim pra cá no ano1939, eu tinha 19 anos.
Anne: Seu B. o senhor se recorda da praça JJ Seabra, a chamada praça do coreto?
B: Como poderia esquecer dona moça, logo da praça mais ilustre da cidade? Para a moça ter uma idéia todo mundo passava por alí, porque era o centro da cidade e tinha o trânsito ferroviário. A sua estrutura era muito agradável. Na minha idéia hoje alí tem pouco movimento festivo. Alí antes era mais para as filarmônicas, os casais de namorados. Não se incentiva aquele coreto para nada, não tem filarmônicas todo domingo como antes, nem de quinze e quinze, nem de quando em vez. Não se usa aquele coreto para nada útil hoje, muitas vezes serve de abrigo para drogados e mendigos.
Anne: Mas o senhor seu B. faz alguma idéia do motivo da praça não ser mais tão animada como antigamente?
B: Olha eu vou lhe contar uma coisa dona moça, observe, falta o compromisso dos poderes públicos, porque as filarmônicas, nunca tiveram ajuda de prefeito aqui não, a não ser no tempo de Saturníno, que era um cidadão muito acreditado, chegou a possuir aqui em alagoinhas 110 casas, era um comerciante com muito crédito aqui, o nome dele era Saturníno da Silva Ribeiro, ele que inalgurou a praça JJ Seabra, foi uma festa, porque ele foi intendente, daqui antes de ter prefeito. Fora ele, nenhum mais se importou para a música aqui não. Eu era da Siciliana e sei bem como faziamos para manter a instituição, ela sobrevivia por causa do amor, que agente tinha a ela, e até hoje tem, mas o tempo muda muito as coisas.
Anne: E para as praças?
B: As praças estão aí, os políticos sempre arrumam um pouquinho de lá, um pouquinho de cá, mas não tem mais a alegria de antes, a emoção de ir para praça, aos domingos, dias festivos vê as filarmônicas tocar. Isso tudo é uma pena, porque os mais jovens é quem perdem com a falta dessa tradição. Na praça do coreto mesmo, quem é que vai? Só os mais velhos, para jogar um gamão durante a semana, comprar um jornal e mais nada, porque não tem mais nada além disso lá, infelismente as coisas chegaram a esse ponto. Antes como “Secilianista” eu tocava sempre aos domingos ao cair da tarde, mas os tempos mudaram, hoje não tem mais lugar para as filarmônicas, oa jovens nem sabem que ela existe.
Anne: Seu B. lhe agradeço muito pela sua atenção, pela disposição, para com nosso
estudo!
B: Obrigada pelo que dona moça, não tem nada para agradecer não, quando precisar estarei aqui a disposição, eu que agradeço!
Anne: Mais uma coisa seu B. posso utilizar essa nossa conversa para fazer trabalhos na universidade, para que outros alunos possam vê e fazer estudos?
B: Como, não entendir direito?
Anne: Queria saber do senhor, se o senhor libera essa nossa entrevista para que outros estudantes possam esta utilizando em seus estudos na universidade?
B: Com todo prazer, pode sim.
ENTREVISTA 6 – MANHÃ DE O8 MAIO DE 2009.
E. MACHADO
NATURALIDADE – ALAGOINHAS
IDADE – 67
Anne: Tudo bem Seu E. podemos começar nossa entrevista?
E: Quando a professora quiser.
Anne: Bem Seu E. vamos começar pelo seu nome, idade e profissão?
E: Professora meu nome é E. Machado, mas sou conhecido com “nininho”, por causa do tamanho (risos), não cresci muito dá pra vê né (risos) puxei ao “diacho” da minha mãe, sair assim míudo (risos). Sou quase setentão, tô chegando na casa dos setenta, tô com 67 agora.
Anne: Seu E. queria que o senhor falasse um pouco da Praça JJ Seabra, tudo que o senhor se lembrar.
E: Professora, dalí eu me lembro de muita coisa porque alí era o centro de tudo aqui sabe! E ainda é porque o movimento do centro tá todo naquela região. Daqui do início do barreiro pra lá a professora viu que não é quinze minutos a pé. Pois é, alí é o lugar onde o povo vai pra se encontrar, jogar conversa fora, passar o dia. Eu mesmo vou alí pra encontrar o pessoal do dominó, porque a gente joga por alí também, lê um jornazinho, toma uma branquinha e por aí vai. Hoje é só isso que se pode fazer, a JJ Seabra não é mais a praça do coreto, a grande praça do coreto, deixou de ser há muito tempo, assim que as filarmônicas deixaram de tocar, à deus praça, acabou tudo, morreu. O coreto que era onde as filarmônicas tocavam, virou um bar, o lugar que era dos meninos brincarem, hoje tem aquelas bancas de tirar foto, só restarão, alguns bancos, que na verdade não era os que tinham antes, esses que estão agora são outros que a prefeitura fez depois, os antigos deram fim há muito tempo, porque no lugar deles, hoje passam carros, porque reduziram o tamanho da praça por causa do trânsito.
Anne: O senhor vê alguma possibilidade de se renovar o espírito JJ Seabra?
E: Eu conversei muito com algumas pessoas que estavam na gestão passada pra questão daquele coreto alí, porque nos temos um coreto na JJ Seabra, então qual o verdadeiro sentido dele aqui? porque hoje não se utiliza ele pra forma que ele foi construído? pra abrigar uma filarmônica, um show aos domingos como era antes, onde a orquestra de frevo “Os Turunas” tocavam, e que até hoje esta presente na mente daqueles que estiveram aqui naquele tempo. Alí hoje tem que ser um lugar de todos nós. No caso aí a gente tem que criar algumas ações para levar as pessoas para a praça novamente, pra que elas possam sair das suas casas e pra que a gente possa crescer neste contexto. Ė por isso que sou a favor de colocar as filarmônicas de novo pra sair na rua, esses jovens que estão entrando agora, tem que desfilar na rua, tem que tocar pra o pessoal de agora vê, e poder, conhecer, e respeitar.
Anne: Muito obrigada seu Everton pelas contribuições a respeito da memória da famosa praça do coreto de Alagoinhas, será que o senhor me permiti disponibilizar a nossa conversa para os alunos da UNEB, e para os estudantes interessados na história de Alagoinhas?
E: Pode sim, a professora usa para que achar que deve, é pra estudo não é?! então, tudo bem.
ENTREVISTA 7- TARDE DE 05 DE ABRIL DE 2009
M. SANTOS
NATURALIDADE – ALAGOINHAS
IDADE – 60
Anne: Boa tarde Seu M. Santos!
M: Boa tarde menina!
Anne: Bom seu Manuel para começar nossa entrevista, o Senhor poderia dizer seu nome completo, sua idade, ocupação?
M: Me chamo M. Santos, nasci em aqui em Alagoinhas, sou carpinteiro desde de que me conheço por gente, com 7 anos já lavorava com meu pai. Agora com 60, ainda não me aponsentei, mas por volta de qualquer tempo, o aponsento sai, é dificil, mas o que é fácil nessa vida, me diz ?Nada!
Anne: Seu M. o senhor poderia falar um pouco da Praça Mário Laerte, de como ela era, o que mudou? Se mudou?
M: Aqui antes era tudo mato! Só tinha mesmo um campinho meio de terra e meio de grama. Mas tinha muita gente de meia idade, assim de cinqüenta anos, pó aí... E a garotada, as mulheres que vinham vê o marido, o filho jogar. Antigamente não tinha time em Alagoinhas, nem Estádio, tinha “LDA”, Liga Desportiva de Alagoinhas e a Suburbana, que jogava os times amadores e de bairros, eu mesmo jogava, e era a gente mesmo que pagava, era um “conto” por jogador. A torcida enchia, gostava mesmo e era fanática, “ave maria” e como era agitada, era animado demais. A Praça Mário Laerte surgiu depois da construção do Estádio. Tudo na vida a gente tem que correr atrás e foi assim que foi feito ele, porque se for esperar tudo pela vontade dos políticos, já viu né, as coisas não arredam pé. A cidade foi crescendo foi colocando mais praças, são importantes para o lazer e a cultura. Anne: E o que o senhor acha da praça Mário Laerte hoje? E do o Estádio, do Ginásio de esportes? M: A praça hoje esta bem mais arrumada, porque tem as quadras de esportes, fizeram até uma pista de skate, melhorou sim, mais ainda precisa de mais proteção, porque ali esta tendo muito moleque, marginal, que vedem e fumam dogras ali, e ainda por cima quebram as janelas da escola dali da frete, acabam com as redes, as traves da quadra, sobem em cima, acabam com tudo, a cesta de basquete já tá caindo aos pedaços, não sei ainda como esta lá. Anne: E do estádio e do ginásio o seu senhor se recorda de alguma coisa?
M: Lembro de quando o ginásio foi contruido, acho que foi no ano de 83, se não me falhe a memória acho que foi isso mesmo, 83. Se fui lá muito foram 3 voltas, é grande, parece ser organizado, mas não vejo muito movimento la não só de vez em quando, aqui na praça é bem mais movimentado, todo dia tem menino pra cima e pra baixo, com as bolas e os skates. Anne: Do Estádio o senhor se lembra de alguma coisa? M: Do carneirão? E como me lembro, esse eu não esqueço não. Principalmente dos jogos que nos finais de semana eu ia e continuo indo vê lá. Vou te dizer menina, alí enchi e como enchi de gente, de tudo quanto é idade, jovens, novo, velho, mulher, criança menino, tudo, no dia de jogo do Atlético, é claro. A torcida daqui lota dia de jogo, vem todo mundo pra cá, fica gente dentro e fora do Carneirão, é cheio demais da conta. Anne: Seu M. gostaria de saber se posso disponibilizar essa nossa entrevista para a Universidade, escolas e outros meios vinculados a Educação, para que outras pessoas possam esta conhecendo um pouco da história de Alagoinhas? M: Tudo que eu falei tá falado se a dona menina precisar levar pra alguém, pode levar sim, se alguém quiser vê também, não tem nada, tudo certo, sem problemas. Anne: Seu M. foi um prazer esta aqui com o senhor ouvindo um pouco das memórias da cidade de Alagoinhas. Muito obriga mesmo Seu Manuel, e até uma outra oportunidade. M: Que nada menina, não foi nada! Eu até gosto de conversar assim, bater um papo com gente jovem, é bom pra alma (risos) alegra a gente!
ENTREVISTA 8- MANHÃ DE 14 DE ABRIL DE 2009
M. L. SOARES
NATURALIDADE – ALAGOINHAS IDADE – 68
Anne: Senhora M.L bom dia !
M.L: Bom dia!
Anne: A senhora podoreia se apresentar pra gente? dizendo seu nome, idade, profissão?
M.L: (risos) É meu nome é M.L Soares, sou filha de Alagoinhas, nasci aqui no segundo ano da década de 40, ai é só fazer as contas né! (risos). Sou professora desde os 16 anos de idade, agora aposentada. Comecei com os meninos que mora lá na roça, pertinho daqui, e depois vim pra cá, pra cidade, onde conheci meu finado esposo Antônio, tivemos 4 filhos, dois estão em Salvador, um em Feira de Santana e um em jacobina, este trabalha nas minas lá, é o caçula e o único casado, tem 2 filhos, umas graças!quando estes meninos vêm passar férias aqui é uma felicidade!Ave Maria!
Anne: Dona M? posso lhe chamar assim?
M.L: Pode sim, o pessoal aqui me chama assim mesmo.
Anne: Dona M. a senhora poderia contar um pouco da história da praça Mário Laerte pra gente?
M.L: Olha minha filha estou aqui em Alagoinhas Velha a 20 anos, nesta casa aqui mesmo, porque antes morava ali no petrolar. A Mário Laetre sempre foi um jardim esverdiado, com inúmeras árvores, mais parecia um bosque que praça. Para começar esse lugar aqui da praça Mário Laerte sempre foi frequenatado pelo pessoal do bairro de Alagoinhas Velha e do Petrolar, mas tinha gente também da “Jaqueira” nos finais de semana, porque era um lugar amplo, arejado, com um grameado verde, que hoje não se vê muito, mas antes tomava toda a praça, tanto que os meninos faziam campeonato de futebol aqui, meus irmãos mesmo, vinha que era uma beleza! Eu só vinha com meu pai, sabe como é, menina, mocinha é um outro jeito, mas eu vinha vê eles jogarem porque meu pai gostava e jogava também, na verdade todo mundo gostava de vê eles jogarem, minha mãe e minhas tias sempre ia também e a gente se divertia. Eu ficava em baixo das árvores vendo o jogo e jogando “carta decorada” com minhas primas, levavamos bonecas e faziamos pique-nique. Naquele tempo menina tudo era motivo de divertimento, e como era. A vida não era fácil para ninguém, mas nós nos divertiamos com pouco, éramos muitos felizes e não sabiamos (pausa). Mas na vida apredemos com o passar do tempo, com as experiências não é? Então por isso que hoje bem digo todos os dias quando acordo tanto as cruzes como as bençãos que Deus me deu e me dá! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!
Anne: Dona M, o que a Senhora pensa da praça Mario Laerte hoje?
M.L: Hoje esta praça esta mais organizada na sua estrutura para o esporte, porque antes só havia um campo de vársea, onde hoje tem as quadras poliesportivas, apesar que estas hoje estão precisando de uma reforma, porque depois que foram instaladas, não tiveram uma reparação. Aquela tela mesmo que proteje o fundo da quadra, impedindo da bola cair na pista, esta completamente danificada. Toda vez que passo alí tem menino correndo atrás da bola entre os carros que passam, é um perigo.
Anne: E a senhora frequenta hoje a praça, o estádio ou o ginásio de esportes?
M.L: Quando meu esposo era vivo eu já fui algumas vezes no estádio com ele, porque ele adorava futebol e meus filhos também. Fora isso só quando levava os meninos para jogar bola na praça e o karatê no estádio, eles tomavam aula alí. Antes naquelas salas que têm no estádio, eram oferecidos vários cursos para a comunidade, tinha para todas as idades, aulas de dança, karatê, bordado, tricô, desenho, pintura.
Anne: Mas esses cursos eram pagos?
M.L: Sim eram pagos, mas não custava muito pouco, porque o pessoal que estava alí não pagava o local para dar aulas, e era daqui da comunidade mesmo, então só cobrava o mínimo, uma taxa pequena ao mês.
Anne: E hoje ainda exiti esse tipo de atividade da comunidade neste espaço?
M.L: Sei que lá no momento esta em reforma, mas já vi alguns anúcios na parede do estádio, mas o pessoal, conhecidos meus, já não frequentam mais, sabe como é a idade vai chegando e a gente já não tem paciência para muita coisa.
Anne: Dona M.L lhe agradeço pela paciência e pela disponibilidade. Foi um prazer esta aqui com a senhora relembrando um pouco da história de Alagoinhas. Muito obrigada!
M.L: o prazer é meu minha jovem em esta contribuindo de alguma forma para os estudos referente a nossa cidade. Espero que tenha lhe ajudado. Estou aqui a disposição, quando precisar é só chamar!
Anne: Mais uma coisa Dona M, será que a senhora poderia permitir a divulgação desta entrevista no meio acadêmico, na universidade, para estudos futuros?
M.L: Desde de que seja para contribuir com a formação dos estudantes, esta tudo bem minha filha, pode disponibilizar sim.
Anne: Mais uma vez, meu muito obrigada!
M.L: Não há de que!
ENTREVISTA 9 – TARDE DE 06 DE JULHO 2009
J. I. O. CARDOSO IDADE – 74
NATURALIDADE – ALAGOINHAS
Anne: Bom dia Senhor J.!
J.I: Bom dia!
Anne: Gostaria que o Senhor se apresentasse para puderssemos começar a nossa entrevista.
J.I: Como a senhora quiser, eu me chamo J.I.O. Cardoso, mas o pessoal me chama de zezinho, por causa do j. né, mas tem gente que me trata de Inácio, eu prefiro assim.
Anne: Então seu Inácio, o senhor mora aqui perto da praça Mário Laerte, há quanto tempo?
J.I: Moro sim a mais de 40 anos sei muito desse lugar, porque como ali è caminho para ir pra feira né, pro centro é um lugar que passo sempre, na verdade todo mundo daqui do bairro corta caminho por alí, porque alí é reto e se for por traz tem que pegar a ladeira.
Anne: O Senhor costuma frequentar a praça, o estádio ou o ginásio de esportes? sabe um pouquinho da história desses lugares?
J.I: Olha quando eu me mudei pra Alagoinhas, vim logo pra cá, pra alagoinhas velha, ainda era menino, sair de Aramari e vim com meu pai trabalhar na construção e aqui antes era movimentado como o centro da cidade, na verdade o centro, a fera jà foi aqui também, mas depois foram botando mais comércio pro lado da praça do coreto e a coisa pro lá de lá foi se alargando. Do que eu me lembro é que a praça jà tinha antes de vim o Carneirao, os meninos jogavam bola aqui, vixe, como eles jogavam, até na chuva ficavam tudo “ilamiado”, tudo sujo, parecendo porco no chiqueiro, porque antes não tinha as quadras que tem hoje, era um gramado grande que de tanto jogar bola ficava de terra e ai a moçada caia na gandaia alí. O Estádio foi construído porque o povo daqui da cidade sempre apertou o juízo dos políticos, pra ele sair, se não, não tinha estádio aqui não, depois da formação do Atlético de Alagoinhas é que ele tinha que vim mesmo. O ginásio é novo, num tem 15 anos, a meninada adora ir pra lá jogar esse, como é o nome... um tal de basquete, é isso mesmo basquete. Meu neto, o do meio é quem vai lá, fui umas duas vezes, mas eu gosto mesmo é do futebol, do carcará, do meu Atlético clube.
Anne: Ainda a respeito da praça Mário Laerte o senhor lembra de como ela era, se mudou muito para o que tá hoje?
J.I: Sim, sim mudou muito porque antes alí tinha muito verde, tinha muitas árvores, cheio de verde, tinha grama, até passarinho agente via por ali, os meninos soltava pipa, e botava gaiola pra pegar as “cuiubinhas” (risos) coisa de “meninote”.
Anne: Mas na opinião do senhor a praça esta melhor hoje ou como era antes?
J.I: Pra eu opinar tenho que dizer uma coisa antes, porque de primeiro aqui era mais tranquilo, mas não era organizado como agora. De uma coisa a senhora precisa entender, que a praça Laerte esta sendo revitalizada aos poucos, se a senhora passar agora lá, vai vê que tem um lugar pra os meninos brincar de skate, de bola, a garotada tá toda lá, e a rampa é nova, aí os meninos se acabam!, desce correndo não sei “cuma” não cai! Também tem o ginásio ali atrás do “carneirão”. Esse ficou novinho em folha! arrumaram o gramado, as cadeiras, botaram as luzes pro jogos a noite e até o banheiro melhorou, fui lá torcer pro meu Atlético que ganhou essa semana de 4 em cima do Rio Branco, só dá o “Carcará”! (risos). Mas como eu tava dizendo, que de primeiro as coisas aqui eram mais simples eram, não vou negar, não tinha isso tudo que tem hoje, mas a tranqulidade, a paz ninguém compra, aqui hoje se faz até medo passar certas horas passar, tá igual ao barreiro, se é de noite ou dia de domingo, ou feriado, que tá tudo vazio, não é bom não, tem muito mau sujeito por aí a fora.
Anne: Em relação a essa mudança na praça de um lugar tranquilo para um lugar como disse o senhor até perigoso o senhor tem uma idéia do porque disso? Dessa transformação toda?
J.I: Isso è devido ao que meu pai dizia, as pessoas de hoje não são mais como as de antes não, não se tem mais vontade, nem coragem de ir buscar trabalho não, só fica esperando o governo, vivendo às custas do governo. Esses jovens de hoje então, ficam aí nesses “jogo” de computador, acha que saber lê e escrever já tá bom. Na minha época isso não era pra qualquer um não, porque a maioria como eu que não tinha condições, o estudo era o trabalho, e o caderno era o “rolo” ou a enxada.
Anne: Penso que agora chegamos ao fim da nossa entrevista, então gostaria de lhe agradecer seu J. ou melhor, seu I. por toda essa nossa conversa, recordando a praça Mário Laerte, o estádio, o ginásio e tudo mais! Muito Obrigada mais uma vez.
J.I: Não precisava agradecer não, estou aqui à disposição, o prazer foi meu de esta aqui conversando com a senhora! e se for pra ajudar mais ainda.
Anne: Mais uma coisa seu Inácio, gostaria que o senhor me permitisse disponibilizar essa entrevista para a utilização nos meios acadêmicos, para que outros estudantes possam utilizá-la em seus estudos. O senhor me concede essa permissão?
J.I: Se é para os estudos tá tudo certo, pode deixar sim eles usarem.