As dificuldades da qualificação profissional de pessoas com deficiência física na
Região Metropolitana do Recife
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The difficulties of the professional qualification of persons with disabilities in the
metropolitan area of Recife
RESUMO
Este estudo teve por objetivo identificar até que ponto a acessibilidade pode dificultar ou
impedir a qualificação de pessoas com deficiência. Os dados foram coletados através de
entrevistas semi-estruturadas a três pessoas com deficiência física, usuários de cadeira de
rodas, pertencente à associação de deficientes físicos do Recife, um dos entrevistados
possui o nível fundamental completo e dois ensino médio. Os dados foram analisados
qualitativamente apontando que existe uma grande dificuldade de acessibilidade
categorizando as barreiras existentes em dois tipos: arquitetônica e atitudional. Através da
analise dos resultados foram percebidos que a barreira atitudional mais especificamente
relação professor aluno com deficiência é a que mais dificulta o processo de qualificação,
desestimulando estes a seguir seu processo de aprendizagem.
Palavras-chaves: pessoas com deficiência, qualificação e acessibilidade
ABSTRACT
This study aimed to identify the extent to which accessibility may hinder or prevent
qualified people with disabilities. Data were collected through semi-structured interviews
to three people with physical disabilities, wheelchair users, belonging to the association of
disabled people of Recife, one of the respondents have completed elementary level,
another level, the degree and another university. The data were analyzed qualitatively
showing that there is great difficulty in categorizing the accessibility barriers into two
types: architectural and atitudional. By analysis of the results that were perceived barrier
atitudional specifically disabled student teacher relationship is the most difficult
qualification process, discouraging them to follow their learning process.
Key-words: qualifications, disabled people, sustainability
1. INTRODUÇÃO
Atualmente a empregabilidade é um tema corriqueiro, e quando se fala em
empregabilidade da pessoa com deficiência, a grande dificuldade é a baixa qualificação.
Com a crescente oferta de vagas nasce a ilusória idéia de que o mercado esta absorvendo
estas pessoas que por muito viveram a margem da sociedade, porém tanto a qualificação
quanto a empregabilidade estão diretamente ligadas à acessibilidade, a maioria dos
empresários utilizam essa justificativa para a não inclusão profissional, sem observar que
por trás desse fato apenas as pessoas com leves deficiências físicas estão sendo contratadas
e da mesma maneira acontece na qualificação, existem muitas barreiras a serem
transpostas. Existe sim uma acomodação por parte da pessoa com deficiência por conta do
benefício e também existe uma grande falta de interesse na profissionalização, esse atigo
não vem negar isso. Mas mostrar que antes de serem pessoas com deficiência, são pessoas
com características várias existentes nesse grupo que foi categorizados, nem existe um
todo bom nem mal, nem preguiçoso, nem empenhado, enfim são pessoas com uma ampla
diversidade de sentimentos e atitudes. Esse artigo se divide em um estudo teórico sobre o
tema e um estudo exploratório, onde foi realizada pesquisa de campo, com três pessoas
com deficiência física partindo sempre da indagação se a acessibilidade dificulta ou
impede a qualificação das pessoas com deficiência física. E teoricamente analisando os
dados com as variáveis: didática e sustentabilidade.
Na visão de Neri (2003) O combate a desigualdade passa pela percepção de reconhecer as
diferenças e que estas não se traduzam em desigualdades. Diversidade não deve ser
sinônimo de adversidade. O combate a desigualdade necessariamente precisa passar pela
compreensão do que se esta discriminando, segundo Ribas (2003) pensasse e interpretasse
construindo imagem então a partir dessa premissa infere-se o que são pessoas deficientes?
Qual a imagem formada? Normalmente a imagem da deficiência esta ligada a pobreza, a
uma pessoa incapacitada até isolada da sociedade sem sair de casa, malvestida e sem
condições de pensar por si própria. Realmente se formarmos essa imagem como incluir um
ser dessa natureza na nossa sociedade? Para chegar a uma inclusão precisam-se deixar de
lado esses estigmas criados.
A deficiência esta ligada a possíveis seqüelas que restringiram a execução
de uma atividade. A incapacidade diz respeito aos obstáculos encontrados
pelos deficientes em sua interação com a sociedade, levando-se em conta
a idade, sexo, fatores sociais e culturais (RIBAS, 2003, p.10)
Na sociedade atual, ser deficiente significa não ser eficiente, é não ser capaz, não ser
eficaz. Esse julgamento que a sociedade impõe automaticamente, é a primeira barreira a
ser transposta, existe a ilusão de um todo homogêneo onde todo homem é naturalmente e
socialmente igual, sendo os deficientes físicos uma exceção a essa regra onde um órgão,
um corpo diferente pode contaminar todo o grupo, logo deve realmente permanecer isolado
da sociedade para não inibir o progresso social. A pessoa com deficiência, principalmente
física que é a mais visível carrega consigo um estigma social, é uma pessoa considerada
fora das normas sociais.
“Uma pessoa que traz em si o estigma social da deficiência, é
estigmatizada porque se estabeleceu que ela possuísse no corpo uma
marca que a distingue pejorativamente de outras pessoas. Porque a nossa
sociedade divide-se estruturalmente em classe sociais, aqueles
considerados iguais colocam-se em um pólo da sociedade e aqueles
considerados diferentes colocam-se no outro pólo, aceitando a
condição de diferentes e até de inferiores” (RIBAS, 2003, p. 16)
Muitas pessoas com deficiência física procuram próteses para tornar seu “defeito” mais
aceitável aos olhos da sociedade quanto menos a pessoa deficiente chamar atenção, quanto
mais ela parecer “normal” mais prestigia sua imagem no mundo dos videntes, onde segue o
padrão de estética e beleza.
A sociedade ainda encontra-se despreparada para incluir as pessoas com deficiência física,
o primeiro obstáculo começa dentro de casa, na visão de Ribas 1999, muitas famílias não
estão preparadas para receber pessoas com deficiência, porque como qualquer outra possui
toda uma carga ideológica, deficiente será sempre aquele membro que viverá encostado à
custa da família. Felizmente observam-se vários casos em que mesmo com lesões graves
pessoas com deficiência vivem em sociedade, leva uma vida independente com
contribuições para família e para o social, mas para isso acontecer será necessário transpor
algumas barreiras.
“Historicamente atingidas por graves problemas de segregação em nosso país essas
pessoas seguem, em grande parte, invisíveis a maioria das recentes conquistas da
cidadania” (VIVARTA E PENA, 2003 p.7)
Acessibilidade para deficientes físicos perpassa pelas barreiras arquitetônicas e barreiras
atitudionais. As atitudionais estão ligadas a conceitos e preconceitos e as arquitetônicas
estão ligadas as dificuldades de acesso devido à estrutura física das próprias cidades e dos
lugares de estudo e os meios de locomoção.
Segundo Gabrilli apud Ignarra et al. (2009) a inclusão através da qualificação objetivando
a profissionalização não é uma questão de solidariedade, mas sim de poder reconhecer o
direito de cada sujeito de ocupar seus espaços na sociedade contribuindo para o progresso
do país.
“A falta de acessibilidade é um preconceito silencioso, porém
extremamente limitante. Esse é o primeiro obstáculo por quem tem uma
deficiência, pelo simples fato de que veta completamente a autonomia e a
independência. Não podemos mais passar às pessoas com deficiência a
mensagem velada de que ela não deveria sair de casa e que isso não é um
problema nosso. Mas aprendi ao longo da minha trajetória, que a grande
transformação não esta em fazer das cidades um imenso canteiro de
obras, mas sim uma mudança em seus cidadãos” (GABRILI apud
IGNARA et al. 2009, p. 1)
O quadro real da deficiência segundo dados da ONU o mundo abrange cerca de 500
milhões de pessoas com deficiência dos quais 80% vivem em países em desenvolvimento.
O censo do Brasil de 2000 informa que 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de
deficiência (14,5% da população), número bastante superior dos censos anteriores,
resultante não de um aumento da população com deficiência, mas devido à utilização de
um questionário mais apurado. O que mostra que é uma parcela bem representativa da
sociedade. Neri (2003). No estado de Pernambuco local da pesquisa possui 1.365.334
pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 17,24% da população do estado
(dados fornecido por NERI 2003) e segundo o último estudo da SEAD- Superintendência
Estadual de apoio a pessoa com deficiência (ROCHA, 2009), existem775 empresas
privadas que se enquadram na citada lei. Se todas cumprissem a lei de cotas, 19.794
trabalhadores com deficiência estariam empregados, contudo, apenas 2.920 estão
empregadas, somando um total déficit de 16.829 vagas não ocupadas. Mostrando, dessa,
forma que existem fortes barreiras a serem transpostas para a inclusão profissional.
2. Deficiência e sustentabilidade
Dentro da temática exposta, (MAPURUNGA, 2009) cita que existem oito metas de
desenvolvimento do milênio adotadas em 2000 pela ONU como estratégia de estabelecer
um novo paradigma de desenvolvimento sustentável do planeta Uma tentativa de impedir
que o crescimento econômico do planeta gerasse mais exclusão e desigualdade, são elas:
acabar com a fome e a miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdades entre
sexos e valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das
gestantes; combater a AIDS a malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao
meio ambiente e todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
Em relação à pessoa com deficiência, em 1998 foi instituído o dia internacional da pessoa
com deficiência que passou a ter um tema como reflexão:
“Tornando inclusivas as Metas de Desenvolvimento do Milênio:
Empedrando as pessoas com deficiência e suas comunidades ao redor do
mundo. Um lembrete de que as pessoas com deficiência não podem ser
esquecidas no processo de desenvolvimento econômico e um convite a
pensar a inclusão das pessoas com deficiência de forma sustentável e
articulada”
As estatísticas mostram o grau de desigualdade das pessoas com deficiência e empedrar é
fazer com que estas pessoas tenham o controle sobre suas próprias vidas, em uma
perspectiva de inclusão social e empregatícia em busca de uma sociedade sustentável.
Para alcançar esse objetivo à qualificação profissional é o caminho o censo de 2000 mostra
que 78,7% da população brasileira com deficiência têm até sete anos de estudo.
FONTE: IBGE, Censo 2000 apud Ignara et. al. (2009, p.63).
2.1. Metodologia
Foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, objetivando investigar se a
acessibilidade impede ou dificulta a acessibilidade com três participantes, todos usuários
de cadeira de rodas, um com o ensino fundamental completo, um com o ensino médio
completo e o outro universitário que participam da associação de deficientes físicos de
Recife. A coleta de dados foi feita através de entrevista semi-estruturada gravada e a
análise dos dados foi segundo a abordagem qualitativa, estabelecendo uma correlação com
as categorias: didática e sustentabilidade.
3. RESULTADOS
Análise de conteúdo qualitativa (Bardin, 1979) foi utilizada para investigar a questão da
acessibilidade na qualificação. Após a transcrição das entrevistas procedeu-se leituras para
uma identificação de uma estrutura de categorias que representasse semelhanças entre as
falas. Conforme classificação de Laville e Dione (1999),utilizou-se então o modelo aberto
de definição de categorias, já que estas foram determinadas a partir do conteúdo coletado,
sem terem sido estabelecidas a priori. A análise realizada baseia-se na construção ao
mesmo tempo de uma explicação em que, conforme os autores, o investigador elabora uma
explicação lógica do fenômeno, inter-relacionando as categorias, subcategorias e
interpretações. Durante as análises, destacaram-se as semelhanças e as particularidades
entre os casos, tendo em vista as diferenças individuais e histórias de cada participante.
Para fins de análise, foram criadas quatro categorias temáticas baseadas nas próprias
respostas dos entrevistados (usa-se a nomenclatura (PCD-pessoa com deficiência), que
permitiram examinar as suas opiniões quanto: 1)dificuldades encontradas na trajetória de
qualificação; 2) se existe baixa qualificação da pessoa com deficiência, qual a causa; 3)se
você fosse um gestor escolar o que faria para mudar essa realidade de dificuldades; e
4)definição de acessibilidade. Cada uma dessas categorias será exemplificada a seguir com
relatos dos entrevistados e, posteriormente, discutida conjuntamente.
DIFICULDADES ENCONTRADAS NA TRAJETÓRIA DE QUALIFICAÇÃO
A acessibilidade tanto da própria cidade como dos lugares de estudo foram bastante
citadas como impedimento para qualificação, a falta de transporte público adaptado é outro
ponto importante assim como a informação e condição social da família, sabendo que
quando criança e mesmo depois de adulta dependendo do nível da deficiência a pessoa esta
a mercê da família, algumas falas ilustram as definições apresentadas pelos entrevistados
sobre a pessoa com deficiência.
[...] a falta de transporte acessível impediu de concluir o ensino fundamental e continua
sendo assim, pois até hoje não existe o transporte acessível em algumas áreas da região
metropolitana (PCD1)
[...] falta de condições financeira na família assim como o pensamento destes de que não
vale a pena levar para a escola, acaba por tornar tardia a qualificação das pessoas com
deficiência. Só quando eu pude escolher, que queria estudar, já maior de idade, tive que
contar com a ajuda dos amigos para chegar a sala de aula, pois todo dia é uma
maratona.(PCD2)
[...] Como meu acidente ocorreu no ultimo ano do ensino médio eu voltei para escola
muito tempo depois, não existia ônibus adaptado naquela época, as escolas perto da minha
casa não estavam adaptadas, eu precisei esperar que o mundo muda-se para que eu pudesse
voltar a estudar (PCD3)
Na fala do PCD1 e 2 pode-se constatar uma Constância ou seja existe uma deficiência
congênita, de nascença, apesar da família já estar acostumada, isso não impediu desta ver a
pessoa com deficiência como uma pessoa a margem da sociedade sem perspectiva de
estudo e de trabalho. Na fala da PCD1 fica claro que a barreira de transporte a impediu de
chegar até a escola e quantos outros lugares mais. Nota-se uma diferença no PCD3 que
tinha uma vida escolar no ensino regular,sofre um acidente e não consegue mais voltar a
estudar, todo cenário muda, o transporte que existe não lhe serve , a escola não lhe serve. O
que fazer? Nas suas palavras, esperar que o mundo mude, pois parece que o desejo de
estudar, de se qualificar estão presente nessas pessoas, porém não acompanham a idade
escolar , não acompanham as exigências do mercado de trabalho, pois como disse o PCD3,
o mundo precisa mudar e parece que o mundo não esta mudando tão de pressa assim.
A BAIXA QUALIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL COM DEFICIÊNCIA EXISTE OU
NÃO? E POR QUE
Todos os entrevistados foram unânimes em dizer que sim, que existe uma baixa
qualificação do profissional com deficiência, porém devem-se observar os fatores que
existem por trás, por exemplo apenas um terço da frota de ônibus é adaptado tendo bairros
onde não é contemplado com a frota acessível, impedindo assim o deslocamento, outro
ponto muito comentado foi à falta de preparação dos professores para lidar com a pessoa
com deficiência.
[...] a pessoa com deficiência começa a estudar mais tarde do que outros membros da
sociedade, pois a família não vê possibilidade de crescimento. (PCD2) [...] as pessoas com
deficiência se acomodam com o BCP (Benefício de prestação continuada) e não procuram
se qualificar. (PCD2)
[....] o professor Perguntou para que mim se já recebia o benefício, como eu recebo, era
preferível ficar em casa, também outro professor disse que não poderia receber-me na sala
de aula, pois não saberia como lidar comigo e outro disse que seria impossível eu
freqüentar o curso, pois não conseguiria acompanhar, essas situações são bem
desestimulantes. (PCD3)
[...] é até difícil ter experiências difíceis ou fáceis quando não tem chance de sair de casa.
(PCD1)
Na fala do PCD1 fica claro como é difícil o acesso a transporte, a região onde mora ainda
não possui ônibus adaptado, ficando a mercê de favores do governo ou de terceiros.
[...] O professor faz com que a pessoa com deficiência se sinta como seres de outro mundo
às vezes chegam até ser engraçada a desinformação dos profissionais que deveriam formar
e informar, em muitos momentos quer poupar sem ao menos ter conhecimento de nossa
opinião ou até mesmo nossa vontade de participar do evento que esta acontecendo àquele
instante. (PCD2)
Tanto na fala de PCD2 e PCD3 enfatiza-se a desinformação do professor, a dificuldade
deste trabalhar com pessoas com deficiência, muitas vezes preferindo que não estejam na
sua sala de aula. Esta é a barreira atitudional, com certeza mais difícil de transpor do que a
física. Nesta pesquisa a barreira atitudional foi bastante apontada pelos entrevistados, a
inabilidade de falar, até o medo de falar com as pessoas que são deficientes por parte das
pessoas que trabalham com educação, desde quem vai passar informação, fazer matrícula,
até professor. Ficou muito claro que mesmo que todas as barreiras físicas fossem
transpostas, transporte, acessibilidade física não adiantaria muito, em termos de
qualificação pois os professores não estão preparados para receber pessoas com
deficiência.
[...] Estava atrás de um curso específico, liguei para a instituição me informei sobre os
detalhes, horários, no final informei que sou deficiente físico, que utilizo uma cadeira de
rodas, perguntei sobre a acessibilidade, o coordenador do curso pediu para que eu fosse
pessoalmente lá, disse que não teria problema. Eu fui, chegando lá, o coordenador me
apresentou o local que realmente não tinha barreiras físicas, tinha até um banheiro
acessível, o que é bem difícil, e mais importante nenhuma barreira atitudional, ele me
recebia muito bem, não como um deficiente, mas como em primeiro lugar uma pessoa com
deficiência sim, mas uma pessoa. Fiz vários cursos, em conteúdo fiz outros mais
interessantes, mais com esse olhar de professor para aluno e como ele transmitiu para
outros professores com certeza é o melhor. [....] PCD3
Nessa ultima fala fica claro a importância da aceitação no processo de ensino da pessoa,
como isso vai fazer a pessoa permanecer ou não, ter um melhor aproveitamento ou não. E
se constata-se que falta esse sentimento de empatia dos professores pelas pessoas com
deficiências, talvez seja um dos fatores, da não freqüência a sala de aula.
SE FOSSE UM GESTOR ESCOLAR O QUE FARIA EM RELAÇÃO À TEMÁTICA
Na visão dos entrevistados é condição básica a educação, conseqüentemente a
qualificação, infelizmente, esse direito de todos,esta apenas no papel, o que se defronta
diariamente, são barreiras, que foram descritas no item acima.
[...] o primeiro passo é cumprir a legislação onde todo cidadão Brasileiro tem direito a
educação. Para isso se faz necessário dotar os estabelecimentos de ensino de acessibilidade
para que os mesmos possam estar recebendo toda a pessoa independente de sua condição
física. PCD3
[...] transporte da escola para os cursos PCD1
[...] As diferenças existem, o que vale é o desejo de educar e formar pessoas competentes.
PCD2
As falas citadas acima são o cumprimento da lei, o acesso a escola seja pelo transporte,
seja dentro da escola.Toda pessoa independente de sua condição tem direito a educação,
segundo a constituição federal. E repete-se um fato já discutido acima a vontade do
professor de estar com pessoas deficientes em sua sala de aula, a percepção de que todos
são cidadãos. Na fala a escola possa estar recebendo toda pessoa, ou as diferenças existem,
sempre passam nos discursos a não aceitação da escola através da figura do professor da
diferença, afastando esse aluno da sala de aula, afastando esse aluno da qualificação e
consequentemente de uma vida profissional.
DEFINIÇÃO DE ACESSIBILIDADE
Para os entrevistados em consonância com a teoria existem vários tipos de acessibilidade, e
o trabalho só sobre uma delas não acelerará o programa de qualificação, se faz necessário
trabalhar em todos os aspectos para que ocorra de fato a inclusão.
[...] é o contrário do que existe hoje, a escolha de quem pode ir e vir apenas para algumas
pessoas. (PCD1)
[...] no sentido de que todos poderão participar da sociedade. (PCD2)
As falas anteriores mostram como a pessoa com deficiência ainda não esta incluindo no
conceito de cidadão, que o direito de ir e vir apesar de ser um direito constitucional de
todos, na prática não é disponibilizado a todos.
A constituição Federal assegura o direito a ir e vir a todos os seus cidadãos, assim como o
direito a escola. Em termos de barreiras físicas apenas um terço da frota de ônibus é
adaptada, e muitos do que estão adaptados está quebrados o que não assegura a toda a
população o acesso. Os cursos, escolas em sua maioria não seguem a NBR 9050 (norma
Brasileira de acessibilidade). E o ponto mais crítico as pessoas não estão preparadas, nem
dispostas a trabalhar com pessoas com deficiência. Existe uma grande recusa por parte da
sociedade em aceitar a inclusão dessas pessoas, quando se aceita joga-se em salas
especiais. A falta de acessibilidade torna-se uma desculpa para deixá-las em casa. Apesar
de em termos legislativo já se ter um avanço considerável o mesmo não acontece na
prática, confirmando o pensamento de que pessoas com deficiência devem estar
segregadas.
4. CONCLUSÃO
Através da analise da fala dos entrevistados pode-se concluir que a acessibilidade não só
dificulta como impede a qualificação. O primeiro ponto que necessita ser trabalhado é a
questão dos meios de transportes públicos, para alguém pensar em estudar precisa
conseguir chegar até o ambiente de estudo. Outro ponto ressaltado foi à acessibilidade
arquitetônica tanto da cidade que precisa ser reorganizada para dar maior autonomia ao
público estudado assim como dos próprios prédios onde estão localizados os cursos.
Em relação à barreira atitudional a relação professor-aluno com deficiência foi bastante
ressaltada, durante a análise das falas observou-se que ainda existe um despreparo por
parte desse profissional, tanto em relação a como se dirigir e inserir o aluno no ambiente de
estudo como até o questionamento do porque ele esta ali.
Acredito que as barreiras arquitetônicas sejam um impedimento menor do que o
despreparo do professor, os entrevistados se mostraram, mas aptos a superarem a barreira
arquitetônica do que a atitudional, o desânimo, a descrença do professor em relação ao
potencial desses alunos, os desmotivam e eles acabam por generalizar, partindo do
pressuposto de que o professor deveria ser a pessoa mais preparada para atender suas
dificuldades, então o que encontrar pela frente. Um dos entrevistados representou bem em
sua fala esse sentimento, após ser excluído de uma dinâmica, afirma que a pessoa com
deficiência precisa lutar contra suas próprias dificuldades e contra o mundo.
Para que o desenvolvimento sustentável deixe de ser um conceito e passe a fazer parte da
vida social, se faz necessário, que as barreiras tanto atitudionais quanto arquitetônicas
sejam eliminadas. Para isso se faz necessário que olhem para as pessoas com deficiência
como cidadãos, merecedores do direito que a constituição já lhe garantiu. O direito de ir e
vir.
Apesar de o Brasil possuir a legislação mais adiantada nessa temática, à prática é bem
diferente, os estigmas ainda predominam, todos os profissionais precisam estar preparados
para receber as pessoas com deficiência, pois mesmo que não possuam uma pessoa
deficiente no seu eixo familiar, profissionalmente, todos podem se deparar com uma. Não
fechar as portas é o primeiro passo, estar disposto a aprender é um requisito chave para que
se possa realmente falar em inclusão social, de onde surge a necessidade da transposição
dessas barreiras para a conquista de uma sociedade mais justa e socialmente sustentável.
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Sobre a autora:
Mestranda Isabela de Andrade Albuquerque Universidade de Pernambuco
Campus Faculdade de administração de Pernambuco Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local sustentável
E-mail | [email protected]