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Page 1: CEIDE 2º Boletim€¦ · (Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-key, 1999; Neto, 1997 e 2001) Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1 Elsa Restier

A procura sistemática do

conhecimento científico na

nossa prática diária, faz parte

integrante do nosso modo de

estar na enfermagem e na

Escola.

Neste momento, já não faz

sentido afirmar-se a necessi-

dade de fazer investigação

científica, ou realçar o contri-

buto que ela traz, interessa

sim analisar e reflectir sobre

os resultados concretos que

obtemos nos nossos estudos

e suas implicações para a

profissão e disciplina de

enfermagem.

Por isso, neste novo número

do Boletim do CEIDE vamos

dar espaço para divulgação

de resultados de trabalhos

científicos levados a cabo

por docentes da Escola. A

Prof. Elsa Gonçalves estu-

dou o fenómeno: “Brincar em

contexto de internamento

pediátrico” e o Prof. Manuel

Luís Capelas: “Dor total nos

doentes com metastização

óssea”. Os resultados obti-

dos merecem ser pensados,

reflectidos e levantam ques-

tões com vista a futuros

aprofundamentos.

A investigação biológica, até

há bem pouco tempo, com

pouca expressividade na

área de enfermagem, tem-se

vindo a revelar como um

contributo enriquecedor para

as nossas práticas, pelo que

deixamos aqui um aponta-

mento, pela mão da Prof.

Fernanda Serrano, sobre as

características deste tipo de

investigação .

O grupo que integra o Centro

de Estudos Investigação e

Desenvolvimento em Enfer-

magem, está desde o início

deste ano lectivo, a desen-

volver uma nova linha de

investigação relacionada

com o estudo dos estilos de

aprendizagem dos estudan-

tes e com as questões da

inteligência emocional, no

sentido da melhoria da quali-

dade das práticas pedagógi-

cas.

Com o espírito com que ini-

ciámos a publicação deste

Boletim, mantemos um canal

aberto ao diálogo e partilha

de experiências no âmbito

das problemáticas a investi-

gar.

Editorial Onde a Investigação acontece

Nesta edição:

Editorial 1

Brincar em Contexto de Inter-namento Pediátrico

Elsa Gonçalves

2

Princípios orientadores e objectivos do CEIDE

8

Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea

Manuel Luís Capelas

9

Investigação Biológica Fernanda Serrano

12

Nursing Research - A tool for action - Poster ICN

14

Teresa Faia

Prof. Coordenadora da ESESFM

Março de 2008

Volume 1, Edição 2

Março de 2008

Volume 1, Edição 2 BOLETIM

CEIDE ACTUAL Centro de Estudos, Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem

Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias

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RESUMO

Jogar e brincar é um dos mais poderosos veículos para a criança poder desenvolver ou experimentar novas competências. Brincar ajuda a criança a

desenvolver uma atitude positiva. A doença e internamento hospitalar constituem disfunção na criança e família. A natureza crítica da situação, e a incerte-

za, provocam stress. Para as crianças doentes, brincar é um mecanismo de coping positivo. Brincar no hospital, promove o bem-estar emocional e físico,

diminuiu o impacte negativo do internamento, prepara para procedimentos dolorosos e alivia a dor.

Finalidade: Contribuir para a compreensão da problemática do jogo e brincadeira, na perspectiva dos enfermeiros em contexto de internamento pediátrico.

Objectivos: Descrever como os enfermeiros valorizam o brincar, como forma de promoção do desenvolvimento global da criança e de estratégia de alívio

do impacte negativo do internamento pediátrico; identificar as perspectivas dos enfermeiros face ao brincar, em duas instituições hospitalares; identificar as

perspectivas dos enfermeiros face ao brincar, nas áreas de pediatria médica e cirurgia pediátrica; demonstrar se o tempo de exercício na área de cuidados

de enfermagem pediátricos está associado às perspectivas dos enfermeiros, e identificar constrangimentos à utilização do jogo/brincadeira.

Desenho do estudo: Estudo transversal de carácter exploratório e descritivo, com recurso a técnicas de análise quantitativa e análise de conteúdo.

Contexto e participantes: Amostra, de conveniência, constituída por 112 enfermeiros, de dois hospitais da região de Lisboa. Recolha de dados com

recurso a questionário de auto-preenchimento, construído para o efeito.

Análise dos dados: Estatística descritiva, verificação da consistência interna do instrumento e análise de conteúdo.

Resultados: Os sujeitos reconhecem a importância do jogo e brincadeira, para o desenvolvimento da criança, enquanto estratégia de diminuição do

impacte negativo do internamento; mecanismo de coping positivo; estratégia de preparação para procedimentos dolorosos e alivio da dor. Não há diferen-

ças significativas nos valores médios totais e das dimensões, entre as instituições hospitalares e áreas de cuidados. Não há correlação entre o tempo de

exercício na área de prestação e a perspectiva dos enfermeiros face ao brincar. Identificados constrangimentos de índole funcional, estrutural e relaciona-

dos com a especificidade do jogo e brincadeira, como a motivação e habilidade.

Implicações: O desenvolvimento de investigação com base na reflexão-acção, sobre as práticas de enfermagem na preparação da criança e família, para

PROBLEMÁTICA

Jogar e brincar é um dos mais poderosos veículos para a criança

poder desenvolver ou experimentar novas competências. Brincar

ajuda a criança a desenvolver os conhecimentos de que necessi-

ta, para enfrentar os desafios com que se vai deparando durante

o seu crescimento e desenvolvimento. (Payne e Issacs 1995;

Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yawkey, 1999; Neto, 1997 e

2001)

Segundo Cole e Cole (2001), a criança enquanto brinca resolve

situações do foro social, emocional e intelectual, encontrando

para os seus problemas novas soluções e ideias. Brincar ajuda a

criança a desenvolver uma atitude positiva perante as aprendiza-

gens, na medida em que experimenta uma sensação de poder e

controlo sobre as situações vividas.

Brincar é essencial no desenvolvimento da criança, na medida

que ajuda a desenvolver uma grande variedade de habilidades.

(Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-

key, 1999; Neto, 1997 e 2001)

Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1

Elsa Restier Gonçalves2

1Dissertação elaborada e defendida (2007) no âmbito do Mestrado em Desenvolvimento da Criança – Variante de Desenvolvimento Motor, Faculdade Motricidade Humana – Universidade Técnica de Lisboa,

2Professora Adjunta da Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias, Enfermeira Especialista na área de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica

2

Brincar é uma actividade, indubitavelmente associada à infân-

cia e fundamental no processo de socialização, sendo esta

influência de duplo sentido, pois o ambiente social influencia

de forma encorajadora e desencorajadora, a forma de brincar,

através do que a criança observa nos adultos de referência e

nos seus pares. Brincando a criança desenvolve competên-

cias sociais, tais como receber, partilhar, cooperar e perceber

os pensamentos, percepções e emoções, dos outros.

(Johnson, Christie e Yawkey, 1999)

Segundo McArdle (2001) brincar é fulcral para o normal

desenvolvimento da personalidade, sendo um importante

instrumento de regulação das emoções. Brincar torna-se uma

importante forma de a criança, encenando situações já vividas

ou não, adquirir mecanismos de coping.

A doença e a eventual necessidade de internamento hospita-

lar constituem sempre, disfunção para o padrão no quotidiano

da criança e família. A natureza crítica da situação, quer seja

doença aguda ou crónica, e a incerteza em relação ao futuro

mais próximo, provocam na criança como nos adultos cuida-

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dores relativos níveis de stress. (Mott, James, Spehrac, 1990;

Whaley e Wong, 1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)

As intervenções de enfermagem perante estas situações

devem incluir, cuidados apropriados à idade e nível de desen-

volvimento, de acordo com as necessidades psicossociais da

criança e família e de modo a facilitar a integração no ambiente

hospitalar, que não deve ser ameaçador.

Para que o anterior se verifique, os cuidados devem ser centra-

dos na família, para que as alterações à rotina da criança e

família, impostas pelo internamento, sejam o menos sentidas

possível. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996;

Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)

Outra exigência imposta ao enfermeiro, enquanto prestador de

cuidados em contexto de internamento pediátrico, é o desenvol-

vimento de habilidades de comunicação com a criança, tendo

em atenção o seu estádio de desenvolvimento e grau de com-

preensão.

Em termos das diferentes reacções ao internamento hospitalar,

estas vão depender da sua idade, temperamento, vivência de

situações similares anteriores e adultos que servem de sistema

de suporte. Os principais stressores são, a ansiedade da sepa-

ração, a sensação de perda de controlo, a lesão corporal e a

dor. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bow-

ben, Dickey, Greenberg, 1998)

Promover o coping positivo nas crianças, durante o internamen-

to, é atributo dos enfermeiros. Essa promoção passa pelo for-

necimento de informação adequada à criança, sendo importan-

te que o enfermeiro compreenda o nível de profundidade que

essa informação deve assumir, ou seja, a informação deve dar

resposta às necessidades individuais da criança para que não

se corra o risco de, sendo essa em quantidade ou complexida-

de exageradas para a criança, ir ser factor precipitador de mais

ansiedade e stress. Algumas estratégias de coping, redutoras

de stress na criança são técnicas de relaxamento e distracção,

o envolvimento dos pais nas actividades e prestação de cuida-

dos, desenhar, ouvir música, comunicar com o exterior, por

exemplo através do telefone ou computador e brincar ou jogar.

(Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bowben,

Dickey, Greenberg, 1998).

De entre as estratégias de coping referidas anteriormente, con-

cretamente o jogo e brincadeira, são promotores do bem-estar

da criança, em contexto de internamento pediátrico e redutor do

impacte negativo associados a este. (Furtado e Lima, 1999;

Bowmer, 2002; Motta e Enumo, 2002; Oliveira, Dias, Roazzi,

2003)

3

Motta e Enumo (2002) desenvolveram um estudo na área da

psicologia, a partir de relatos de crianças com doença oncológi-

ca, sobre as estratégias utilizadas para lidarem com situações

adversas durante o internamento hospitalar. Estes autores refe-

rem que, brincar constitui uma das possíveis estratégias, utiliza-

das pelas crianças e pelos técnicos de saúde, para lidarem com

situações stressantes como a hospitalização e os procedimen-

tos técnicos invasivos. Estudo descritivo e de intervenção, em

que os resultados permitem aos autores afirmar, que ao brincar

no hospital a criança tem a possibilidade de alterar o ambiente

envolvente, aproximando-o do seu quotidiano; brincar tem um

efeito terapêutico, quando se consideram terapêuticas, todas as

actividades que facilitam a promoção do bem-estar da criança;

o recurso à brincadeira pode servir de estratégia de preparação

para procedimentos invasivos; em geral não apresentam restri-

ções para o tipo de brincadeiras sendo que o importante é a

actividade em si mesma.

Brincar, dá a oportunidade à criança internada de fazer esco-

lhas, numa situação naturalmente adversa em que a maioria

das situações fogem ao seu controlo.

Johnson, Christie e Yawkey (1999), referem a importância do

recurso ao jogo e brincadeira, em contexto de internamento

pediátrico, não só como fonte de divertimento, mas essencial-

mente, porque torna a criança participante activo em todo o

processo de internamento. Brincar, neste contexto é essencial

e fornece aos prestadores de cuidados, importantes informa-

ções sobre o que a criança pensa e sente sobre o internamen-

to. (Furtado, Lima, 1999; Bowmer, 2002; Motta, Enumo, 2002;

Oliveira, Dias, Roazzi, 2003)

Segundo Johnson, Christie e Yawkey (1999), as salas de brin-

cadeiras, nas enfermarias são indispensáveis. Estas salas

devem ter mobiliário adequado, e devem ser equipadas com

brinquedos e jogos que possam responder às necessidades de

desenvolvimento das diferentes faixas etárias e às preferências

das crianças.

Como referem Motta e Enumo (2002), facilitar à criança a

expressão de sentimentos, proporciona que a vivência dos

acontecimentos mais adversos seja feita de forma mais positi-

va, aumentando o grau de autonomia da criança e direccionan-

do as intervenções específicas de forma mais adequada.

Quanto ao tipo de brincadeiras, não devem existir restrições, a

não ser as que são motivadas pela condição da criança, e tanto

quanto possível devem ser o mais aproximado do quotidiano da

criança. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996;

Bowben, Dickey, Greenberg, 1998).

Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

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É também frequente observar-se crianças nas enfermarias

pediátricas, manipularem e envergarem equipamento médico,

ou brinquedos miniatura desse equipamento, havendo uma

troca de papéis na brincadeira, em que são eles os enfermeiros

ou médicos e os bonecos os pacientes. Observar e participar

neste tipo de brincadeira, torna-se uma oportunidade única

para que os técnicos, de uma forma não intrusiva, questionem

a criança sobre os seus medos e ansiedades com questões

como, “como é que a boneca se sente quando lhe dão uma

injecção”. (Johnson, Christie e Yawkey, 1999, p.184)

Na mesma linha de investigação, Oliveira, Dias e Roazzi

(2003), procuraram verificar se o recurso ao jogo e brincadeira

modifica as estratégias utilizadas por crianças hospitalizadas,

para lidarem com emoções como a tristeza e raiva. Os resulta-

dos mostram que o uso de actividades lúdicas, modifica positi-

vamente as estratégias de regulação das emoções. Os autores,

referem que o estudo mostrou que, o brinquedo se traduz num

importante veículo de regulação das emoções. Assim observa-

do, o brinquedo tem um papel mais lato na medida em que

permite e contribui para um desenvolvimento da criança, mas

também permite aprendizagens e regulação de emoções rela-

cionadas com situações tão adversas, como pode constituir o

internamento hospitalar e que em termos impacte no desenvol-

vimento global da criança, não têm que ser vistas como negati-

vas. (Oliveira, Dias e Roazzi, 2003)

Haiat, Bar-Mor e Shochat (2003) relatam a sua experiência no

Schneider Children’s Medical Center em Israel, fundados no

princípio que o mundo da criança é o mundo da brincadeira,

mesmo quando esta está hospitalizada e que saber brincar é

uma mais-valia para os enfermeiros pediátricos, na aproxima-

ção à criança e família. Os autores reforçam a ideia, de que o

enfermeiro que consegue integrar a brincadeira com a criança,

nas suas actividades mais técnicas é aquele que; reconhece a

brincadeira como fundamental para a criança internada; obser-

va a criança enquanto esta brinca, com o intuito de perceber

que tipo de brincadeira lhe dá prazer e o que está a comunicar

através desta; sabe usar o recurso a diferentes brincadeiras em

diferentes contextos a que a criança está sujeita; e por último

planeia intervenções de enfermagem específicas, que têm o

jogo e brincadeira por base. (Haiat, Bar-Mor e Shochat, 2003)

O enfermeiro deve dar oportunidade à criança de manipular o

equipamento e material o que fará aumentar o nível de confian-

ça e auto-controlo. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley,

Wong, 1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998; Zahr, 1998;

McGrath, Huff, 2001)

Furtado e Lima (1999) levaram a cabo um estudo com o objec-

tivo de elaborar uma base teórica e prática que desse suporte à

importância do jogo e brincadeira, junto das crianças hospitali-

zadas. Os autores identificaram, que brincar em contexto de

enfermaria pediátrica tem repercussões para a criança, para o

enfermeiro e para o hospital. Para a criança porque a ajuda a

perceber o que está a acontecer, ajuda a libertar os medos,

tensões, frustrações e ansiedade, além de promover satisfação,

divertimento e estimular a espontaneidade. Para a enfermeira é

um importante meio de comunicação com a criança, permitindo

perceber as suas particularidades. Por fim para o hospital, per-

mite uma mudança da imagem de instituição onde só há lugar

para a dor e sofrimento. (Furtado e Lima, 1999)

Segundo alguns autores, é importante que sejam consideradas

intervenções de enfermagem, junto de crianças que são sub-

metidas a intervenções dolorosas, e que incluem o jogo e brin-

cadeira, antes, durante e após o procedimento. Antes do proce-

dimento, o recurso ao jogo está direccionado ao fornecimento

informação que deve ser especifica e adequada ao estádio de

desenvolvimento da criança, esta deve conter elementos sobre

o material e a técnica propriamente ditos, e sobre o tipo de

sensações que irá experimentar. Durante o procedimento, o

recurso a elementos de distracção têm como objectivo desviar

a atenção e preocupação da criança. Após o procedimento, a

criança e os pais devem ser alvo de intervenções que visem a

promoção do bem-estar, deve-se rever a experiência clarifican-

do as percepções, reforçando e elogiando comportamentos que

demonstrem mecanismos de coping positivos. (Mott, James,

Spehrac, 1990; Whaley, Wong, 1996; Bowben, Dickey, Green-

berg, 1998)

Em relação aos jogos e brincadeiras que melhorem as funções

fisiológicas, estes são importante veículo de recuperação do

nível de saúde da criança, de uma forma não ameaçadora e

que como complemento a outras intervenções farmacológicas

ou não, mas mais agressivas e invasivas em relação à integri-

dade da criança. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong,

1996; Bowben, Dickey, Greenberg, 1998)

No que diz respeito ao jogo dramático, pode recorrer-se a acti-

vidades que promovam a libertação de tensões, distracção e

relaxamento, da criança aumentando o seu bem-estar. (Mott,

James, Spehrac, 1990; Whaley e Wong, 1996; Bowben, Dickey,

Greenberg, 1998)

Vários estudos foram realizados, em que há uma patente conju-

gação entre a vivência da dor e a utilização do jogo como estra-

tégia de preparação para eventos que a provocam, ou como

contribuição para o alívio da mesma.

Chambers et al (1996) desenvolveram uma escala de avaliação

de dor pós-operatória de crianças entre os 7 e 12 anos, para

4 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

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pais. A escala foi construída com base num estudo levado a

cabo por Reid et al (1995), citado por Chambers et al (1996),

onde se referem comportamentos identificados por pais de

crianças com dores, tais como o estado de alerta, diminuição

do apetite, alteração de estado emocional, modificações no

padrão habitual de actividade, padrão de sono, alterações fisio-

lógicas, comportamentos de defesa à dor, regressões, pedido e

recusa de medicação, verbalização de dor e desconforto visual

e auditivo. Um dos itens que apresentou forte correlação foi

“brinca menos do que é habitual”.

Todas as fases relacionadas com intervenções dolorosas são

importantes alvos de atenção, a preparação para o procedi-

mento é fundamental na medida em que se fornecem elemen-

tos à criança que farão diminuir o seu medo motivado pelo des-

conhecimento, durante o procedimento a criança deve ser esti-

mulada por forma a desviar a atenção do processo técnico e no

final o enfermeiro deve assegurar-se de que a criança fica cal-

ma e deve junto desta, com o recurso a técnicas de comunica-

ção especificas e ajuda do jogo, ter como objectivo perceber as

percepções e sentimentos vividos.

Para um melhor entendimento sobre a complementaridade

entre a abordagem farmacológica e não farmacológica da dor,

Tanabe, Ferket, Thomas, Paice e Marcantonio (2002), estuda-

ram o efeito da recurso à analgesia e a métodos de distracção,

no alivio da dor e satisfação de crianças com traumatismo mus-

culo-esquelético. Os resultados apontam para o facto das técni-

cas de distracção, serem um importante coadjuvante da anal-

gesia, no grupo de crianças estudado.

Dentro da mesma linha, Jordan-March, Hubbard, Watson, Hall,

Miller e Mohan (2004) realizaram um estudo de intervenção,

com o objectivo de melhorar a avaliação da dor nas crianças,

através da avaliação sistemática e consequente analgesia ade-

quada. Do estudo emergem resultados conducentes ao reforço

de estratégias como a avaliação sistemática da dor e recurso

ao jogo e brincadeira, assim como métodos de distracção, para

o acompanhamento de crianças com dor.

Cavender et al (2004) quiseram perceber de que forma é efecti-

va a ajuda no posicionamento e distracção, por parte dos pais,

à criança submetida a punção venosa. Estudo experimental,

tendo como objectivo perceber se haveriam diferenças entre o

nível de dor e medo relatados pela criança, observação de

medo e comportamentos relacionados com stress em crianças

cujos pais participassem no posicionamento e na distracção,

comparando com outro grupo cujos pais não participassem ao

mesmo nível. Segundo os autores, os resultados do estudo

sugerem que a participação activa dos pais, em termos de dis-

tracção, durante um procedimento invasivo resultam numa

diminuição do medo, além de promover a proximidade entre a

criança e esses, assim como afasta a atenção da criança do

estímulo doloroso. (Cavender, Goff, Hollon, Guzzeta, 2004)

De uma forma indirecta, o estudo referido anteriormente

demonstra como actividades de distracção simples e que são

vistas pelas crianças e pelos pais como brincadeiras, podem

ser estratégias fáceis de usar, não dispendiosas e complemen-

tares a intervenções não-farmacologicas de cuidados stan-

dards, em procedimentos dolorosos.

Variados estudos tem sido, tal como descrito, realizados com o

intuito de perceber e demonstrar que o recurso ao uso do jogo

e brincadeira, é uma importante via para o aliviar os medos,

tensões e sensações relacionadas com as experiências menos

positivas, vivenciadas pelas crianças em contexto de interna-

mento pediátrico.

MÉTODO

Estudo transversal de carácter exploratório e descritivo, utilizan-

do como recurso de análise dos dados, técnicas de análise do

tipo quantitativo e análise de conteúdo.

COMPOSIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

O universo populacional do estudo é constituído por enfermei-

ros a exercer funções em serviços de internamento pediátrico.

A população alvo constituída por enfermeiros, de Serviços de

Internamento Pediátrico de departamentos de medicina e cirur-

gia, de dois hospitais da região de Lisboa. Universo composto

por 211 enfermeiros, 137 pertencentes ao Hospital A e 74 ao

Hospital B. Amostra não probabilística, de conveniência.

Exercem funções na área, em média há 8,87 anos, com um

mínimo de 0,33 anos (correspondente a 4 meses) e um máximo

de 32 anos.

INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS

Instrumento de colheita de dados constituído por um questioná-rio. A Parte 1 do questionário é constituída por uma escala de Likert, e a Parte 2 por questões abertas.

A Parte 1, escala de Likert, foi construída com base na revisão bibliográfica, tendo sido elaboradas 56 asserções, agrupadas em três dimensões:

a. Jogo/brincadeira como factor importante para o desenvolvi-mento global da criança;

b. Jogo/brincadeira em contexto de internamento pediátrico;

c. Jogo/brincadeira como estratégia, de preparação da criança

para procedimentos dolorosos e de alivio da dor.

5 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

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A escala de Likert tem quatro opções de posicionamento dos

indivíduos em relação à temática em estudo, sendo elas

“discordo totalmente”, “discordo”, “concordo” e “concordo total-

mente”. A validação do questionário foi realizada por validação

de conteúdo e por verificação da confiabilidade.

A validação de conteúdo foi realizada por três enfermeiros

especialistas em saúde infantil e pediátrica e dois mestres em

Desenvolvimento da Criança, com objectivo de se confirmar a

pertinência e compreensão, das dimensões e asserções conti-

das no instrumento, tendo em conta a problemática em estudo.

O pré-teste foi aplicado a 15 indivíduos, com as mesmas carac-

terísticas da população alvo, pedindo-se sugestões em relação

às asserções, nos mesmos termos dos peritos referidos acima.

A confiabilidade, foi verificada através do teste de alpha de

Cronbach, a escala apresenta, no caso do pré-teste um valor

alpha superior a 0,9, considerando-se a consistência a um

nível, Muito Bom e no caso do estudo a um nível Bom, por

apresentar um valor entre 0,8 e 0,9. (Pestana e Gageiro, 2003)

A Parte 2, é constituída por três questões abertas, em que na

primeira se pede aos enfermeiros que definam brincar, na

segunda que se refiram à sua experiência relativamente à utili-

zação do jogo/brincadeira enquanto estratégia de aproximação

à criança internada e por último na terceira, se consideram

existir constrangimentos no seu local de trabalho para a utiliza-

ção do jogo/brincadeira.

ANÁLISE E PROCESSAMENTO DE DADOS

Tendo como referência os objectivos específicos do estudo,

optou-se por técnicas de análise de estatística descritiva e infe-

rência estatística. Na estatística descritiva descreveram-se os

dados através de medidas de localização como a média, valor

máximo e valor mínimo e medidas de dispersão como o desvio

padrão. Na inferência estatística através de métodos paramétri-

cos, como o Teste T, para verificação de igualdade de médias

em amostras independentes, e do coeficiente de correlação Ró

de Spearman.

Para o tratamento e análise dos dados, das respostas às ques-

tões abertas, da Parte II do questionário, optou-se pela técnica

de análise de conteúdo.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

Em contexto de internamento pediátrico, além dos pais ou

outros adultos da esfera afectiva da criança, os enfermeiros são

sem dúvida, quem mais interage com ela, durante as vinte e

quatro horas de cada dia que permanecer no hospital.

Quanto à importância atribuída pelos enfermeiros, ao jogo e

brincadeira, no desenvolvimento global da criança, a análise e

discussão dos valores médios da dimensão Jogo/brincadeira

como factor importante para o desenvolvimento global da crian-

ça, mostram que essa dimensão foi a que apresentou valores

mais elevados, acima do ponto 3,00, que na escala correspon-

de à opinião “concordo”, quer seja no total da amostra, por insti-

tuição hospitalar e por área de cuidados.

Da análise do conteúdo da categoria Definição de Brincar,

emergem duas subcategorias, Conceito de Brincar e Domínios

do Brincar, com unidades de registo que demonstram a abran-

gência das opiniões dos enfermeiros, independente da institui-

ção.No domínio emocional, os sujeitos referem igualmente o

brincar como “forma de exprimir sensações, preocupações”,

assim como importante para o crescimento emocional e afecti-

vo e “[favorecimento] confiança face a situações problema”

aumentando a autoconfiança da criança. As respostas dos

sujeitos vão de encontro ao defendido pelos autores quando

afirmam que brincar, regula as emoções e está intimamente

relacionado com o desenvolvimento do auto-conceito e da auto-

nomia, e ajuda a criança a separar o real do imaginário.

(Johnson, Christie e Yawkey, 1999)

O Domínio cognitivo e Domínio Social, são também considera-

dos, sendo que no Domínio cognitivo, surgem unidades de

registo como “imaginar e criar”, “estimular o desenvolvimento

cognitivo”, e “(…) aprender novas competências”. Segundo

Johnson, Christie e Yawkey (1999), brincar tem forte influência

no domínio cognitivo. No caso do Domínio social, emerge a

“adaptação ao meio envolvente” e a “compreensão e aquisição

de (…) papéis sociais”, referidas pelos sujeitos e corroborado

pelos autores, quando afirmam que brincando a criança desen-

volve competências sociais, tais como receber, partilhar, coope-

rar e perceber os pensamentos, percepções e emoções, dos

outros. (Johnson, Christie e Yawkey, 1999)

No que diz respeito ao reconhecimento, por parte dos sujeitos,

acerca do brincar em contexto de internamento pediátrico,

como estratégia de diminuição do impacte negativo da hospita-

lização na criança, pela avaliação da dimensão Jogo/

brincadeira em contexto de internamento pediátrico, pode-se

perceber que também os valores médios desta dimensão se

encontram acima do ponto 3,00, e que têm o mesmo comporta-

mento, na avaliação por instituição e por área de cuidados.

Nesta dimensão foram identificadas duas asserções, com valo-

res médios abaixo de 2,50, apontando para alguma resistência

por parte dos enfermeiros quanto ao facto da hospitalização

puder resultar numa experiência positiva para a criança, e de

não dever haver restrições, no que concerne ao tipos de brinca-

deiras passíveis de ser realizadas, em contexto de internamen-

6 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

Page 7: CEIDE 2º Boletim€¦ · (Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-key, 1999; Neto, 1997 e 2001) Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1 Elsa Restier

to. Na análise de conteúdo da categoria Experiências da Utili-

zação do Jogo em Contexto Hospitalar, as subcategorias

Importância da utilização do jogo / brincadeira, enquanto estra-

tégia de aproximação à criança internada e O jogo / brincadeira

enquanto estratégia de coping positivo para criança, ilustram e

reforçam os resultados dos valores médios totais descritos aci-

ma, na medida em que os enfermeiros descrevem a sua expe-

riência como positiva e reforçam que o jogo e brincadeira,

enquanto veículo de aproximação e comunicação, para estabe-

lecimento de uma relação de confiança, com o objectivo de

diminuir o impacte negativo do internamento. Assim, o jogo e

brincadeira resultam num mecanismo de coping positivo, dimi-

nuindo o medo da criança e promovendo o auto-controlo ao

mesmo tempo que distrai.

A aproximação à criança internada é importante para que se

estabeleça uma relação de confiança e comunicação eficaz, e

como tal Bowben, Dickey, Greenberg, (1998) afirmam, uma

exigência imposta ao enfermeiro, enquanto prestador de cuida-

dos em contexto de internamento pediátrico, é o desenvolvi-

mento de habilidades de comunicação com a criança, tendo em

atenção o seu estádio de desenvolvimento e grau de com-

preensão. A relação que se estabelece depende directamente

da qualidade da experiência e da criança ver no enfermeiro um

companheiro de brincadeiras, então consegue-se diminuir o

impacte negativo do internamento, porque o jogo e brincadeira,

são promotores do bem-estar da criança, em contexto de inter-

namento pediátrico. (Furtado e Lima, 1999; Bowmer, 2002;

Motta e Enumo, 2002; Oliveira, Dias, Roazzi, 2003)

A dimensão Jogo/brincadeira como estratégia de preparação

da criança para procedimentos dolorosos e de alívio da dor

apresentou valores médios, igualmente acima da posição

“concordo”, no entanto mais baixos do que os valores totais ou

de qualquer outra dimensão. Nesta dimensão foram identifica-

das três asserções com valores médios, abaixo de 2,50, respei-

tantes a atitudes e procedimentos de preparação da criança

para intervenções dolorosas, onde na opinião dos enfermeiros

o mais importante é a preparação prévia para o procedimento,

que a criança acalma sozinha e que o objectivo da preparação

estará centrada, na colaboração e sucesso da intervenção. Nas

afirmações dos enfermeiros inclusas na subcategoria, Utiliza-

ção do jogo / brincadeira enquanto estratégia de preparação

para procedimentos dolorosos e alívio da dor, os sujeitos dos

dois hospitais, centram as vantagens da preparação, na colabo-

ração da criança e optimização da intervenção, mais do que

nas vantagens para o objecto dos cuidados, em termos da

vivência da situação. Este facto vai de encontro aos valores

médios das asserções da escala, referidos acima, e fica ilustra-

do quando os sujeitos referem a importância de “obter a colabo-

ração para os procedimentos” e de “optimizar as intervenções

de enfermagem” o que “permite realizar técnicas/tratamentos

com menor resistência”.

Catorze das 25 unidades de enumeração estão centradas no

prestador de cuidados e no sucesso da intervenção, tal posição

por parte dos enfermeiros foi igualmente patente nos valores

médios de algumas asserções da escala. Onze das unidades

de enumeração remetem a atenção na perspectiva da criança,

tal como se pode encontrar nos autores citados, que defendem

que, o principal objectivo do recurso a este tipo de brincadeiras

é explicar à criança o que vai acontecer consigo, diminuindo

assim o desconhecimento e o medo associado a esse desco-

nhecimento, o que fará aumentar o nível de confiança e auto-

controlo. (Mott, James, Spehrac, 1990; Whaley, Wong, 1996;

Bowben, Dickey, Greenberg, 1998; Zahr, 1998; McGrath, Huff,

2001)

Verificou-se que não há diferenças significativas nos valores

médios totais e por dimensões, quando se consideram as duas

instituições hospitalares, as áreas de cuidados de enfermagem

pediátricos, e a área de cuidados em serviços de medicina nas

duas instituições. Este facto permite sublinhar que na amostra

deste estudo, a proveniência em termos de instituição e a área

de cuidados de enfermagem em serviços de medicina e cirur-

gia, não resulta em perspectivas diferentes por parte dos sujei-

tos.

Não se encontrou correlação positiva e significativa entre o

tempo de exercício na área de prestação de cuidados de enfer-

magem pediátricos e a perspectiva dos enfermeiros face ao

brincar em contexto de internamento hospitalar, quer na totali-

dade da amostra, quer quando se consideraram as duas insti-

tuições hospitalares em separado.

No que concerne à categoria de análise Constrangimentos à

utilização do Jogo e Brincadeira em Contexto Hospitalar,

os sujeitos enfatizam a ausência de constrangimentos. Dos

constrangimentos referidos realçam-se nos dois contextos insti-

tucionais estudados, os de índole funcional e estrutural, como a

falta de tempo e pessoal e a falta de recursos materiais, e rela-

cionados com especificidade do jogo e brincadeira, como a

motivação e habilidade.

CONCLUSÔES E IMPLICAÇÕES

Os resultados revelam sensibilidade e conhecimentos acerca

dos benefícios do recurso ao jogo e brincadeira em contexto

hospitalar, por parte dos participantes.

No entanto, o facto dos indivíduos demonstrarem a atenção

focalizada na técnica, quando se trata de recorrer ao jogo e

7 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

Page 8: CEIDE 2º Boletim€¦ · (Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-key, 1999; Neto, 1997 e 2001) Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1 Elsa Restier

brincadeira como estratégia de preparação da criança para

procedimentos invasivos e dolorosos, em detrimento da aten-

ção aos benefícios no alvo dos cuidados, indicia a necessidade

de reflexão por parte dos enfermeiros acerca desta prática.

O desenvolvimento de investigação com base na reflexão-

acção, sobre as práticas de enfermagem na preparação da

criança e família, para procedimentos dolorosos, poderá consti-

tuir uma importante base de estudo.

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8 Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico

O CEIDE assume como princípios orientadores:

A Pessoa na sua unicidade e complexidade, fascínio e

mistério, deve constituir-se como núcleo das problemá-

ticas a investigar

As metodologias de investigação a desenvolver, têm

sempre, obrigatoriamente, que salvaguardar os direitos

fundamentais das Pessoas, enquanto sujeitos de inves-

tigação, no respeito total pelos princípios éticos

E, como objectivos prioritários:

Promover a reflexão, o estudo, a prática e o debate

sobre a investigação científica em enfermagem

Apoiar os professores e estudantes da Escola, no

desenvolvimento de projectos de investigação em

enfermagem

Facilitar os meios logísticos para a concretização de

estudos científicos em enfermagem

Proporcionar um espaço de informação, estudo e deba-

te científico

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INTRODUÇÃO

Dor total é um conceito fulcral em cuidados paliativos. Desenvolve-

mos este estudo no sentido de explorar, identificar as dimensões

práticas deste conceito, na população de doentes oncológicos com

metástases ósseas. É um estudo descritivo, simples, quantitativo e

transversal, com uma amostra acidental com selecção racional,

constituída por 53 sujeitos acompanhados num serviço de oncolo-

gia, cujo objectivo é descrever a dor total nos doentes com metasti-

zação óssea, através da identificação da sua miríade de problemas.

Segundo a Associação Internacional para o estudo da dor, esta é

uma experiência individual, sensorial e emocional desagradável

associada a dano tecidual ou potencial, ou descrita em termos de

tal dano (1). Desta forma, poder-se-á dizer que é um acontecimento

ao nível somático e psíquico, influenciado pelo estado psicológico

do doente, sua postura moral e pelo significado com que essa dor é

por ele assumida (2,3). É afectada, positiva ou negativamente, por

inúmeros factores nas múltiplas dimensões humanas e afecta o

modo de vida, as relações familiares, a vida social, o sono, o apeti-

te, a espiritualidade, a capacidade de executar actividades físicas

essenciais para o seu auto-cuidado e prazer.

RESUMO

Dor total é um conceito fulcral em cuidados paliativos, que Cicely Saunders definiu como uma miríade de problemas físicos, sociais, psíquicos e espirituais,

a que se chamou de dor física, dor psíquica, dor social e dor espiritual, fortemente inter-relacionados e produtores de um considerável sofrimento global.

Finalidade: Contribuir para o reconhecimento da míriade de problemas interrelacionados que contribuem para o sofrimento global, nos doentes com

metastização óssea

Objectivos: descrever a dor total nos doentes com metastização óssea, através da identificação da sua miríade de problemas.

Desenho do estudo: estudo descritivo, simples, quantitativo e transversal

Contexto e participantes: amostra acidental com selecção racional, constituída por 53 sujeitos acompanhados num serviço de oncologia. Recolha de

dados com recurso a questionário de auto-preenchimento construído para o efeito, partindo de outros já existentes, e por consulta do processo clínico

Análise dos resultados: Estatística descritiva e verificação da consistência interna

Resultados: A dor óssea é uma dor somática com contornos de neuropática, descrita por enorme diversidade de constructos; mesmo com uma dor ligeira

a moderada, evidenciada pela maioria dos sujeitos, esta interfere significativamente no seu quotidiano, nomeadamente no sono, humor, relacionamento

com outras pessoas, trabalho, na mobilidade e locomoção, e no aproveitamento da vida; os sujeitos evidenciam significativas dificuldades físicas, com

repercussão em actos tão simples como subir escadas, efectuar passeios, curvar, ajoelhar, inclinar; a ansiedade e ou depressão estão presentes em

menos de 20% dos sujeitos, embora na generalidade, estejam mais irritáveis, com dificuldades de memória e pouco ou nada satisfeitos com a sua reacção

à doença, assim como se preocupam ou têm medo da morte; não se encontram sinais indiciadores de delirium; a generalidade dos sujeitos apresenta

sinais e factores indicadores e contributivos para significativo sofrimento social e espiritual; na realidade, a generalidade dos sujeitos, consoante o impacto

que cada um atribui às diversas questões na sua vida, apresenta sofrimento global/dor total em maior ou menor grau.

Implicações: a avaliação holística da pessoa doente, contribuirá para a identificação de factores geradores e resultantes de sofrimento, contribuindo assim

como a mola impulsionadora de um adequado controlo.

Esta influência negativa gera um sofrimento total e global a que

Cicely Saunders chamou de Dor Total, definindo-a como uma miría-

de de problemas físicos, sociais, psíquicos e espirituais, a que se

chamou de dor física, dor psíquica, dor social e dor espiritual, forte-

mente inter-relacionados e produtores de um considerável sofri-

mento global (4,5).

Neste contexto, para uma adequada intervenção, e como não é

possível controlar a dor física nem qualquer um dos sintomas sem

que se consiga controlar em simultâneo todos os outros factores

geradores de sofrimento, é fundamental que os avaliemos, identifi-

quemos de forma a dar resposta às necessidades e aos problemas

reais dos doentes.

Mais especificamente, a dor óssea originada por metástases

ósseas, é considerada como uma das causas mais comuns de dor

nas pessoas com doença oncológica avançada e de maior dificul-

dade de controlo, assim como das complicações ósseas geradas

pelo processo metastático (6,7).

Com este estudo pretendeu-se dar resposta à questão: “Quais as

manifestações da dor física, psíquica, social e espiritual nos doen-

tes com metastização óssea?” tendo como objectivo “descrever a

dor total nos doentes com metastização óssea”.

9

Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea1

Manuel Luís Vila Capelas2

1Dissertação elaborada e defendida (2006) no âmbito do Mestrado em Cuidados Paliativos, Faculdade de Medicina de Lisboa - Universidade de Lisboa

2Professor Adjunto da Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias

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nas actividades ou por elas precipitadas (20,21,24,19).

A variedade de constructos que cada sujeito, individualmente, apre-

senta para descrever a sua dor, vem confirmar em absoluto a dor

como uma experiência individual e subjectiva com multi-influências

e gerando muitas interferências (1,2,3).

Ao nível da componente psicológica da dor total, como demonstra-

do, não se detectou nenhum caso de delirium, embora a prevalên-

cia desta entidade ocorra entre 25-40% dos doentes oncológicos

(22) e em 32% dos com dor óssea (40), o que poderá ser explicado

pelo controlo de alguns factores etiológicos importantes, como a

hipercalcémia (controlo da metastização com bifosfonatos) e outros

factores metabólicos ou farmacológicos, e simultaneamente ausên-

cia de factores inerentes ao internamento e permanência no leito

(2,23,22) pois estes doentes são observados no serviço em ambu-

latório.

Por outro lado, a presença de ansiedade e ou depressão está den-

tro das prevalências apresentadas por diversos estudos

(23,24,25,26,27). Apesar de não serem dados fora do normal, esta

prevalência vai interferir como o controlo da dor, pois tanto a ansie-

dade como a depressão estão com ela intimamente relacionadas

de forma biunívoca, sendo que a dor agrava estas duas entidades e

por sua vez o controlo destas contribui só por si para um melhor

controlo da dor (24). A presença de ansiedade e depressão poderá

também justificar algumas dificuldades físicas, pois tanto uma como

a outra também incluem no seu quadro clínico, manifestações

somáticas (23,22). Por outro lado, também a presença de dor irrup-

tiva, como os dados sugerem e outros factores terapêuticos destes

doentes, parecem propiciar o aparecimento destas entidades,

assim como se poderão considerar como respostas naturais às

perdas com que estes doentes se vão deparando (2), visto 60%

apresentarem uma progressão da sua doença óssea, o que conse-

quentemente aumenta o sinal/sentimento de incurabilidade (20)

originando nestes uma maior irritabilidade, medo ou preocupação

com a morte, desânimo e até alguma insatisfação como estão a

reagir à sua doença.

Socialmente, os problemas encontrados, referidos por estes doen-

tes, com a classificação de “intensos” surgindo em mais de 1/3 dos

sujeitos, centram-se ao nível do relacionamento, conjugal

(insatisfação com o corpo e com a vida sexual), das relações inter-

pessoais (realização de menos tarefas que o desejado), a nível

económico-financeiro, com sentimento de incapacidade para o

trabalho assim como incapacidade para o desempenho total das

suas funções laborais. Por outro lado surgem limitações na ocupa-

ção dos tempos livres e de lazer, no desenvolvimento das AVD’s e

insatisfação com a sua qualidade de vida, entre ouras várias e

ramificadas situações de menor prevalência.

Todos estes problemas na dimensão social da dor poderão estar ou

não relacionados com a dor física, enquanto entidade fisiopatológi-

ca, só por si, (resposta para a qual este estudo não foi dirigido) mas

estarão’ com fortes probabilidades, relacionados com todo o impac-

METODOLOGIA

Estudo descritivo, transversal e observacional, cujo fenómeno a

estudar é a Dor Total, e cujas variáveis descritivas são a dor física,

dor psíquica, dor social e dor espiritual, em que a população alvo

foram os doentes, maiores de 18 anos, com metastização óssea

acompanhados num serviço de oncologia de um hospital central,

em que a sintomatologia fosse predominantemente devida à metas-

tização óssea. O processo de amostragem foi um misto de aciden-

tal com selecção racional, num total de 53 doentes, que se desloca-

ram ao serviço num período de tempo de 2 meses.

O instrumento foi construído com base em diversos outros instru-

mentos de avaliação, usados parcial ou totalmente e dividido em 6

grupos. O 1º visava caracterizar a população amostral, o 2º e o 4º

procuravam avaliar a dimensão psicológica em que no 2º se utilizou

o “Mini-Mental State Examination” (8) e algumas questões do

“Delirium Rating Scale” (9). O grupo 4 consistiu numa adaptação

para o português do “Hospital Anxiety and Depression” (10). Os 3º,

5º e 6º grupos foram construídos com base no “Brief Pain Inven-

tory” (11), “McGill Pain Questionnaire” (12), “Clinical Pain Assess-

ment” (13), “EORTC-QLQ-C30” (incluindo módulos) (14,15),

“Medical Outcomes Study 36 item short form (SF-36)” (14),

“Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Sp-Ex” (14,16),

“Functional Assessment of Cancer Therapy” (geral e módulos) (14)

e o “Stockholm Marital Stress Scale” (17).

A componente maioritária do instrumento foi sob a forma de uma

escala de Likert (não, um pouco, bastante, muito), onde a consis-

tência interna obtida pelo “alfa de Crohbach” foi em todas > 0,9.

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos na descrição da dor física revelam-nos que a

componente física da dor total é mais que a entidade fisiopatológica

“dor” só por si, pois denota-se um adequado controlo terapêutico

desta entidade, com valores médios máximos de 3,3±3,2/10 e uma

manutenção ou mesmo diminuição do consumo de analgésicos,

assim como um alívio médio desta da ordem dos 77,5±27% e

mediana de 80%, enquanto observadas as interferências da dor na

vida das pessoas, se denota um aumento considerável do valor

médio para índices superiores a 5±3/10 (à excepção das relações

interpessoais) o que poderá ser justificado pela forte probabilidade

de presença de dor irruptiva nesta tipologia de doentes (8,24,19),

confirmando que a dor, em si, afecta negativamente várias outras

dimensões físicas e não físicas do individuo (2,3).

A descrição da dor, leva à sua caracterização como um misto de

dor somática (essencialmente) e de dor neuropática (24), até por-

que um dos locais de maior afinidade para a metastização são os

corpos vertebrais e aí a forma de apresentação é essencialmente

neuropática. Da mesma forma parece existir nestes doentes, cerca

de 1/3 que apresentam características de dor incidental, ao consi-

derarem-na brusca, momentânea, o que aponta para nesses

momentos, uma elevada intensidade da dor e forte interferência

10 Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea

Page 11: CEIDE 2º Boletim€¦ · (Payne e Issacs 1995; Gabbard, 1996; Johnson, Christie e Yaw-key, 1999; Neto, 1997 e 2001) Brincar em Contexto de Internamento Pediátrico1 Elsa Restier

to que a doença oncológica tem sobre as diversas esferas da vida

dos doentes (28,24). De uma forma geral temos diversas esferas

com necessidades sociais não adequadamente satisfeitas que vão

sem dúvida constituem-se parte integrante e influenciador do sofri-

mento global, ou seja da dor total (2,28,29,30,31,32).

Por último, na dimensão espiritual, apesar de nenhuma componen-

te ser referida como afectada intensamente, por mais de 30% dos

sujeitos, surgem algumas ao nível da afectação geral, que pelo seu

peso, considerando que a espiritualidade envolve as relações con-

sigo próprio, com os outros e com algo acima de si e com a nature-

za (33,34), tais como a não-aceitação da sua doença, a não sereni-

dade, incapacidade de alcançar um estado de auto-conforto, não

sentir paz de espírito nem estar em harmonia consigo próprio, sen-

tir que a sua vida de nada valeu, assim como nesta fase não enten-

der qual o sentido da sua vida, nem por sua vez as suas crenças e

fé não constituem fonte de conforto ou forças reparadoras como

seria desejado e mesmo alguns dizem que começam a não existir

razões para viver e até de a sua vida não ter dignidade, apontam

para um sofrimento espiritual, que mais uma vez não se pode con-

cluir como resposta à dor (como entidade) mas, provavelmente, a

toda a inter-relação entre os diversos factores que constituem o

impacto da doença sobre todas as componentes da vida destes

doentes. Numa oura perspectiva poderemos ver estes dados como

não indiciadores de intenso sofrimento espiritual mas tendo bem

presente, e como tal esclarecer bem se não serão o reflexo de uma

demonstração de estoicidade e de se revelarem perante os outros

como estando bem, pois nestes casos, poder-se-á estar perante

doentes com intenso sofrimento e angústia (2,34).

CONCLUSÃO

O controlo da dor no doente com cancro em fase avançada, como

acontece na metastização óssea, é um objectivo fundamental no

cuidar destes doentes, pois com índices de dor ligeira a moderada

esta interfere significativamente no quotidiano destes doentes.

No entanto, o cuidar estes doentes, deverá ser mais abrangente, ou

seja, deve cuidar-se de outras componentes físicas, da psicológica,

social e espiritual, porque, embora devido à tipologia deste estudo

não se determine uma relação directa da dor com os restantes

problemas evidenciados, estes doentes revelaram significativas

dificuldades físicas em actos tão simples como subir escadas, pas-

sear, ajoelhar ou inclinar. A ansiedade e ou depressão estão pre-

sentes em menos de 20% dos doentes, embora globalmente este-

jam mais irritáveis, pouco ou nada satisfeitos com a forma como

estão a reagir à sua doença e preocupados com a morte. A nível

social existem sinais de sofrimento ao nível da esfera familiar, dos

amigos mas menos, do relacionamento interpessoal, financeiro,

papéis e qualidade de vida, assim como a nível espiritual, também

esse sofrimento se manifesta, nomeadamente através da ausência

de serenidade, de harmonia consigo próprio, da não-aceitação, da

ausência de paz de espírito e do próprio sentido da vida. Este sofri-

mento espiritual parece ser menos intenso que o social.

Todos estes factos encontrados e revelados neste estudo, inter-

relacionado-se uns com os outros irão contribuir para a presença

do sofrimento global, a que Cicely Saunders apelidou de dor total,

pois na realidade, a generalidade dos sujeitos, consoante o impacto

que cada um atribui às diversas questões na sua vida, apresenta

esse sofrimento global/dor total em maior ou menor grau.

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11 Dor Total nos Doentes com Metastização Óssea

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INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA EM ENFERMAGEM

Fernanda Serrano

Assistente Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias

Mestranda Cuidados Paliativos - Faculdade de Medicina de Lisboa - Uni-

versidade de Lisboa

Na sequência da 1ª edição deste boletim, em que foi realçada a impor-

tância da investigação em ciências de enfermagem como contributo

fundamental para a construção de uma prática baseada na evidência,

surge a necessidade de procurar, aprofundar e promover a reflexão

sobre as diversas formas, ao nosso alcance, de realizar investigação.

Neste sentido, surgiu a oportunidade de assistir a uma conferência

proferida pela Professora de Enfermagem Nancy Stotts, da Universida-

de da Califórnia, que nos deixou alguns conhecimentos e lançou curiosi-

dade sobre uma vertente da Investigação em Enfermagem pouco abor-

dada entre nós – Investigação Biológica em Enfermagem.

Com este artigo, pretende-se compreender melhor as características

deste tipo de investigação e sobretudo qual o seu contributo para a

construção da ciência de Enfermagem.

Investigação Biológica e Enfermagem

A Enfermagem enquanto ciência, reconhece a influência da dimen-

são física na saúde e nos comportamentos de saúde, numa lógica

de visão e cuidado multidimensional de cada pessoa sendo que,

muitas das questões resultantes da prática de Enfermagem, são

fundadas na biologia básica. As áreas possíveis de investigar são

várias e muito abrangentes, podendo ser dirigida à biologia molecu-

lar e celular, até à prestação de cuidados de saúde.1

Obter e integrar resultados biológicos na investigação em enferma-

gem, como contributo para a construção do conhecimento em

Enfermagem, é o principal objectivo a que este tipo de investigação

se propõe.

Um aspecto importante e que deve ser realçado, prende-se com o

facto de os resultados obtidos através da investigação biológica em

Enfermagem, contribuírem não só para aumentar o corpo de

conhecimentos da profissão, mas também por serem utilizados por

outras áreas de conhecimento, exteriores à Enfermagem, permitin-

do a partilha de um conhecimento e investigação de qualidade,2

contribuindo para a visibilidade da profissão.

Vários estudos realizados com

recurso a resultados biológicas, são

publicados numa revista específica –

Biological Research for Nursing – e

podem ser consultados através do

sítio: www.brn.sagepub.com

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12

Campus de Sintra da Universidade Católica Portuguesa Estrada Octávio Pato 2635—631 Rio de Mouro

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Instrumentos de Medida

Quando falamos em medidas biológicas, devem estar claras as

definições adjacentes; por biológico, entende-se tudo o que está

relacionado com organismos vivos ou com as respostas desses

organismos; medir, é uma forma de avaliar algo; um padrão a partir

do qual algo pode ser comparado.

A escolha sobre a forma como se vai obter a medida biológica, vai

depender essencialmente da questão de investigação, que pode

estar relacionada por exemplo com a dor, balanço hídrico ou hiper-

tensão. Esta questão vai dar origem a variáveis e métodos, que vão

então conduzir à escolha da forma de colheita de dados para

obtenção de resultados

Alguns aspectos devem ser tidos em consideração quando se faz

investigação biológica e se selecciona a medida biológica a obter.

Esses aspectos passam pela competência do investigador na exe-

cução técnica de obtenção das medidas, pelo grau de agressão

(métodos invasivos) que a obtenção de valores pode representar

para os sujeitos incluídos na investigação, e pela necessidade de

obtenção de consentimento informado dos mesmos sujeitos, que

pode ser um factor de dificuldade, sobretudo se a investigação

métodos invasivos com já referido.

Características dos instrumentos de Medida

Tal como em investigações direccionadas para áreas psicossociais,

os instrumentos utilizados na Investigação biológica, devem apre-

sentar como características, Fiabilidade (Reliability) e Validade

(Accuracy).

Desta forma podemos garantir a qualidade dos dados obtidos,

assegurando a consistência da medição e a capacidade do instru-

mento em medir o que deve ser medido, apresentando o verdadeiro

valor.

Em muitos instrumentos utilizados neste tipo de investigação, como

por exemplo nos termómetros ou sensores de oxigénio, surge a

necessidade de calibração, como forma de garantir a exactidão do

valor obtidos.

Obtenção de medidas biológicas

Para obtenção de medidas biológicas, os enfermeiros investigado-

res utilizam diversos métodos, que podem ser não invasivos, como

por exemplo, a obtenção de sinais vitais, do índice da massa corpo-

ral, medidas antropometricas, análises de urina3, de substâncias

presentes na saliva4 ou em pedaços de cabelo5.

Neste tipo de investigação, é necessário recorrer frequentemente a

métodos mais invasivos que possibilitem dar resposta às questões

levantadas. Como exemplo, podemos referir as colheitas de sangue

que permitem adquirir vários parâmetros como os imunológicos6, ou

a introdução de implantes de silastic subcutâneos para avaliação

da oxigenação tecidular7.

Nota final

Na prestação de cuidados de qualidade, os enfermeiros devem

utilizar práticas baseadas na evidência, resultantes do conhecimen-

to obtido através da investigação.

Podemos assim considerar que, investigar em Enfermagem torna-

se o caminho certo a percorrer, quando se pretende avançar na

construção de uma ciência ainda com muito por descobrir, esclare-

cer e confirmar.

Aproveitar todas as oportunidades para investigar, seja a nível psi-

cológico, social ou biológico, exige que se consiga utilizar as dife-

rentes metodologias que estão ao nosso alcance, seleccionando a

que melhor se adapta ao tipo de investigação que permite dar res-

postas às perguntas de investigação que nos inquietou e impulsio-

nou para o estudo.

Estudar a dimensão biológica, contribui para ilustrar a perspectiva

holística da Enfermagem perante a Pessoa e a sua saúde. A utiliza-

ção de medidas biológicas na investigação em Enfermagem está

ao nosso alcance e deve ser sempre ponderada enquanto forma

mais adequada de conhecer a realidade que se pretende no

momento.

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13 Investigação Biológica em Enfermagem

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Internacional Council of Nurses (ICN - Poster)


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