CONCEITOS E CONTRADIÇÕES EM JORGE AMADO
FELIPE EUGÊNIO DE LEÃO ESTEVES
INTRODUÇÃO
Tomando caminho pelos novos rumos historiográficos, que ampliam a noção
complexa de cultura, além dos objetos que fazem parte de seu estudo, trataremos aqui da
literatura como fonte de aferição da História, concebendo-a como um campo multi-
diversificado, no qual se observam “imagens que o homem produz de si mesmo, da sociedade
em que vive e do mundo que o cerca” (BARROS, 2003: 148). Propomos desenvolver uma
reflexão a partir de características literárias que, reunidas em uma obra, levam a identifica-la
como uma expressão artística que emerge e se destina ao ser, ao viver e aos territórios
culturais negros, portanto, uma arte que tenha em seu interior estético elementos que validam
sua circunscrição em uma noção de literatura negra. Para desenvolver esta hipótese
circularemos por pressupostos que justificam seus métodos.
Entendemos a profundidade dos compromissos teóricos nas formulações das balizas
de conceitos e noções. Por esse motivo, esta reflexão se faz viva, uma vez que aqui se
pretende evidenciar olhares críticos sobre circunscrições conceituais que se dão a partir de
características literárias. Portanto, uma arte que tenha em seu interior estético elementos
experienciais que validam sua circunscrição enquanto uma literatura negra. Nessa perspectiva,
atentaremos sobre quais pressupostos são passíveis de análises em seus métodos para que se
desenvolva a justificativa da presença de literaturas classificadas como negras no seu fazer-se.
Concordamos com Zilá Bernd (1988) sobre a existência de um compromisso estético
comum denominado por literatura negra – ainda que seu método formal não altere o sistema
de pensamento do fazer canônico - pelo fato de que a história carrega lacunas historiográficas
dissipadas nos silenciamentos dos vencidos, portanto, forjaram-se seus dizeres e elegeram-se
suas referências, e o que não fez parte da literatura instituída foi ignorado. Desse modo, para
identificar possíveis literaturas negras é necessário rastrear os motivos que conformaram
* É mestrando em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, onde também é
membro do Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora – CECAFRO e do Núcleo de Estudos em
História Social da Cidade – NEHSC. Bolsista Capes. E-mail: [email protected].
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certos discursos como legítimos em relação a outros que ficaram a margem deste instituído. E
é no dizer dos vencidos que podemos perceber rastros comuns de uma literatura que em
temática desloca o negro à centralidade, humaniza-o, empodera-o, enfim, que se enuncia
enquanto negra; o que se diferencia de uma literatura que somente toma o negro como
temário, o enxergando à distância e lhe referenciando dores e viveres que não são exatamente
seus.
Outro fato de observação é a alcunha deste conceito pelo termo “negro” e sua
significação num processo de opressão e colonização. Remetendo-nos a Frantz Fanon,
podemos pensar no fato de que “foi o branco que criou o negro” e o referenciou com alcunhas
que faziam parte de seu repertório cultural: “cheguei ao mundo pretendendo descobrir um
sentido nas coisas, minha alma cheia no desejo de estar na origem do mundo, e eis que me
descubro objeto em meio a outros objetos” (FANON, 2008: 21). Podemos tomar a
autoproclamação do sujeito por “negro” como um ato de alienação que estaria a serviço da
continuidade da opressão, assinando favoravelmente a um contrato estabelecido por brancos.
Mas, ao contrário, entendemos que a literatura negra se faz justamente pela mudança do vetor
de sentido que fez o negro assim ser chamado. (BERND, 1988: 26)
Portanto, o que de fato é literatura negra? Responder a essa pergunta não silencia o
fato da estereotipização no ato de tal circunscrição, uma vez que o uso excessivo de rótulos
pode resultar em fixações cimentadas do objeto tratado, no entanto, deixa-se claro que certas
circunscrições não são executadas somente num processo de imposição de quem fala sobre
determinado tema ou objeto, mas pode ser também fruto de uma autoproclamação do próprio
objeto descrito. No caso do negro na literatura, Bernd (1988) observa que autores francófonos
da África negra, bem como escritores negros francófonos das Antilhas reivindicaram serem
pertencententes de determinada categoria, fruto de determinada experiência comum que os
aproximavam, portanto, assim objetivavam reconhecimento. Não se buscou, por isso, uma
guetificação, mas referendar e legitimar uma autoproclamação e, a partir dela, pensar numa
circunscrição em suas intenções e efeitos.
Por esse entendimento, é plausível refletir a ideia que há relação de trans-textualidade
nas diversas narrativas negras em África e em diáspora (HALL, 2009: 25-48), (AZEVEDO e
ANTONACCI, 2012: 7-8), pelo fato de procederem de experiências próximas, principalmente
na relação de submissão frente ao mundo ocidental europeu. A pesquisadora belga, Lylian
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Kasteloot (1977), empreendeu um questionário comum a escritores negros antilhanos e
africanos de língua francesa, e mais à frente proporemos refletir que essa comparação poderia
se dar também com os escritores negros do Brasil, os quais passaram pela dura experiência da
escravidão e da colonização em diáspora. O objetivo é traçar um tronco comum ao que se
chama de “negro”, destacando pontos de encontros desses americanos ou africanos que
procedem à sua própria lógica e ao próprio sentir frente ao mundo em sua concretude.
No questionário da autora foram apontadas as seguintes características sobre os
autores e sobre as literaturas negras de língua francesa: tais literaturas integram a contribuição
das literaturas africanas, onde se conta histórias e mitos, sem a preocupação da âncora
racional-ocidental-branca; os autores se consideram porta-vozes do grupo e existe um tema
capitaneado pela militância; originalidade cultural é mais comum do que negritude no
discurso desses escritores, não conotando nenhum valor racial; os temas mais abordados são:
dominação ocidental, escravidão, privação de liberdade; miséria; vida tradicional,
problemática social, sentido comunitário em predominância sobre os temas individuais,
solidariedade, sofrimento e revolta; os gêneros literários mais praticados são poesia e
romance; temas que desaguam na ação política e ou sindical; militância.
Em síntese, esta literatura está ancorada em reapropriações do que se tornou um hiato
histórico e cultural; reterritorialização do que foi desterritorializado; uma literatura que quebra
contratos ditados pelo letramento branco e que se remete ao negro em experiência cultural e
política. Nesse processo de redefinição de si mesmo, algumas características são comuns
nesse possível espectro do fazer de uma literatura negra. A alcunha do termo não tem relação
necessária com a cor da pele de quem escreve uma obra, nem apenas à temática por este
selecionada, mas emerge do próprio interior textual, que evidencia o surgimento de um eu
enunciador que se quer negro. Portanto, a enunciação do discurso em primeira pessoa é dos
marcadores que mais se destacam nesta literatura. Outro marcador que se pode aferir é a
consciência de um existir negro, portanto, as abordagens de cosmovisões que são
inerentemente pregadas às cosmogonias africanas dissipadas no ocidente, uma delas é a noção
de comunidade como um corpo orgânico que impõe sua magnitude em cada voz individual.
A presença de uma articulação entre textos, determinada por um certo modo negro
de ver e de sentir o mundo, e a utilização de uma linguagem marcada, tanto no nível
do vocabulário, quanto nos do símbolos, pelo empenho em resgatar uma memória
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negra esquecida legitimam uma escritura negra vocacionada a proceder a
desconstrução do mundo nomeado pelo branco e a erigir sua própria cosmogonia.
(BERND, 1988: 22).
Esses espaços, experiências e resistências em comum, e que podem ser identificadas
através do que Bernd chamou de trans-textualidade, segundo Édouard Glissant (2005), fazem
parte de um processo desequilibrado da crioulização. Desse modo, as compatibilidades de
literaturas que incidem sobre uma base experiencial e estética próximas são nada mais do que
um movimento expressivo de afirmação e resistência a partir de uma suposta unidade que se
solidariza no sentimento de seus viveres. Portanto, num processo posto de relação
desequilibrada entre elementos culturais urge o restabelecimento do equilíbrio e que se dá
primeiramente ao retorno da raiz, desse modo, um retorno à herança africana comum, que,
ainda segundo Glissant, gerou o indianismo haitiano, o renascimento do Harlem e a poética da
negritude1 com Césaire e Senghor.
A consequência do encontro das diferenças e dos processos de mestiçagens – mesmo
que essas representem violência evidente contra populações subalternas – se mostra como a
grande eloquência no estabelecimento e na classificação de uma literatura como negra.
Analiso de tal forma, pois, usando do termo de Glissant (2005), a crioulização linguística que
mantém continuação histórica no Brasil não produz exatamente o que podemos tomar por
literatura negra. Portanto, por mais que os influxos linguísticos dos índios americanos e dos
negros africanos enrobusteçam o português brasileiro (RISÉRIO, 2012: 252), podemos
identificar em nossa literatura tematizações que remetam às estruturas de poder estabelecidas
diante do escravismo e, consequentemente, do racismo como premissa das relações. Bem
como, podemos identificar uma literatura que reverbere a história dos vencidos num processo
de empatia que coloque, mesmo autores não pretos, como constituidores de um discurso que
foge à europeização hegemônica e que desconstrua os vetores de sentido entre opressor e
oprimido.
Dito isso, não corroboramos com a idealização de que as diversas mestiçagens – aqui
tratando especialmente das misturas linguísticas - são em si mesmas afirmações positivas da
1 Esta palavra ganhou significação através do escritor e político martinicano Aimé Césaire (1913-2008). O termo
surgiu no jornal L’Étudiant Noir (O Estudante Negro), na França, onde Césaire estudou letras e junto com
Léopold Sédar Senghor fundou o jornal, em 1934, iniciando discussões sobre identidades e valores culturais do
homem negro.
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vivência cultural e material do negro no Brasil. Representatividades destas vivências, essas
sim, podem nos dar parâmetros do valor destas populações no interior social e cultural do
país, e a literatura é um veículo essencial nesse processo. Para tanto, é necessário que se
avalie o construto artístico como um todo: conteúdo representativo, motivações e objetivos
para que se possam identificar narrativas do negro e sobre o negro dentro do cânone literário,
que em sua forma é essencialmente europeu. Nesse sentido, não identifica-las como modo fim
de exclusão, ou objetivando circunscrição estática e singularização de forma a petrifica-las,
mas identifica-las com o objetivo de alimentar os discursos que reforçam uma luta por revisão
das incongruências sociais e culturais marginalizantes.
Nesta busca de classificações, como não poderia ser diferente, encontramos diversos
paradoxos na literatura brasileira, em especial, no século XIX. Concordando com Risério
(2012), “[...] ao tempo que há um engajamento político em favor do negro e contra a
escravidão, ocorre um distanciamento do escritor com relação aos pretos e às culturas pretas”
(RISÉRIO, 2012: 268). Há uma espécie de empatia para com a dor do outro mais pelo âmbito
dos arranjos políticos do que necessariamente pelo valor humano. Castro Alves é um exemplo
máximo desta controvérsia – abolicionista fervoroso, todavia, suas representações chegavam a
tal ponto de desfiguração que deixava claro seu distanciamento das práticas e das
singularidades negras. Apesar de reconhecido por “poeta dos escravos”, falava de um local
instituído, seu eu enunciador não se misturava com o seu objeto. Apesar de o negro estar em
seu olhar, também em seu interior literário, estava sobre a perspectiva do outro, como foco
temático, mais como uma problemática política do que como uma catástrofe humana. Castro
Alves se afinou com o cânone explicando-se como poeta em sua visão de exterioridade do
negro.
Como exemplo do oposto instituição x marginalidade (BERND, 1988: 61), podemos
comparar Castro Alves a Luiz Gama, atentando, principalmente ao lugar de fala de cada um.
Avaliamos que Luiz Gama carrega pressupostos no seu fazer literário que o inclui no espectro
abstrato de definição de literatura negra, pois seus escritos tinham como objeto e temática o
próprio sujeito negro, portanto, mantinha fluxos estéticos que se autoproclamavam marginais.
Através da paródia, Luiz Gama pode se camuflar entre sátiras e humor para falar da vivência e
da opressão a qual o negro era sujeitado. Nesse caminho, no seu interior literário, proclamou-
se em primeira pessoa, seu eu enunciador era seu próprio objeto. E ao falar dos vencidos, de
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si, destronou nobrezas, homogeneizou hierarquias sociais e culturais, orgulhou-se de seus
ancestrais e de ser quem era.
Além de encontrar na literatura negra uma predominância da poesia sobre o romance,
podemos citar outros tantos escritores como exemplo de outras características de marcadores
literários que compõem ou não uma idealização da noção literatura negra: a emergência do eu
enunciador que se quer negro; a relação entre o individual e o coletivo nos textos, sendo, a
segunda instância, o pilar de onde se identifica o indivíduo; a construção da epopeia negra que
inverte vetores de sentido do cânone e impõe o negro à centralidade, uma espécie de
formulação antiépica, onde o vencido tem história e gloria que representam um grupo, uma
comunidade; o frequente recorrer às ancestralidades e ao léxico das línguas africanas; a
participação ativa e crucial do negro na conformação cultural da pátria; a convocação de uma
conscientização de dada negritude; e a denúncia da violência e da colonização genocida.
Como exemplo de autores que incluem algumas dessas características em seus textos estão
José Alberto (1984), Oubi Inaê Kibuki (1982), Solano Trindade (1961), Domício Proença
Filho (1984), Oliveira Silveira (1981), Abelardo Rodrigues (1982), Oswaldo de Camargo
(1978), Cuti (1982), Paulo Colina (1984), Ele Semog (1983). De todo modo, propomos neste
artigo centrar reflexão sobre a literatura produzida por Jorge Amado.
Jorge Amado entre o marginal e o instituído
Se há uma literatura negra – ainda que seu método formal não altere o sistema de
pensamento do cânone, mas uma literatura que em temática desloque o negro à centralidade,
humanize-o, empodere-o, enfim, que se enuncie enquanto negra – Jorge Amado ocuparia
espaço nesta circunscrição? Se considerarmos que sim – ainda que se possa pensar que o autor
fala sobre o negro e não de um eu negro, mas que centraliza temas em torno da vivência
constituída destes sujeitos em diáspora, reverberando seus aspectos culturais – de onde surge
potencialmente o discurso a sua volta que o aponta como um artista da mestiçagem
(SCHWARCZ, 2009) e não um artista negro em sua arte?
Tais questionamentos servem como estímulos a reflexão sobre premissas a serem
rediscutidas. Jorge Amado escreveu sobre Xangôs, Iemanjás e Exus; detalhou
minunciosamente em diversas passagens de suas obras práticas e tradições em terreiros de
candomblé; escreveu sobre o negro na Bahia e seus resíduos de vivência de além-mar – como
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trouxe Du Bois –, em sua dupla consciência (DU BOIS, 1999); denunciou as persistentes
diferenças sociais e raciais; centralizou seu olhar nas margens de forma singular no interior do
seu campo ficcional quando narrou com frequência dinâmicas sociais solidárias e
comunitárias, próprias da cosmogonia africana de unidade natural como organismo, que
concebe essa comunidade como um corpo só; posicionou em suspensão o Pelourinho em seus
romances como um território desse lugar imaginado; não só humanizou como tornou heróis
negros fictícios como Pedro Archanjo, Antônio Balduíno, dentre outros. Ainda com essas
variantes de olhar ao negro como repositório cultural desta terra, sua imagem predita é a da
mestiçagem – e não só do entendimento dos óbvios intercruzamentos culturais e genéticos que
se sucederam aqui desde o “achado” português, mas de uma mestiçagem pautada no que
“deveria ser” o rumo do país.
O escritor moçambicano Mia Couto dedicou um capítulo de seu livro E se Obama
fosse africano? para descrever a importância que teve Jorge Amado e suas obras na
autopercepção do africano na literatura: “Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos [...].
Era um Brasil todo inteiro que regressava à África” (COUTO, 2011: 61-69). O etnólogo,
Pierre Verger, especialista no estudo da diáspora negra na América, bem como da cosmogonia
dos povos em África, resolveu conhecer o Brasil, especificamente a Bahia, em 1946, depois
da leitura da tradução francesa de Jubiabá2 (1935) e lá permaneceu até o fim da vida. O
mesmo ocorreu com o artista plástico argentino Carybé, que após a leitura do romance foi
conhecer a Bahia, se fez no candomblé e de lá não mais saiu. Amado tinha acessos
particulares e íntimos com os principais núcleos negros de Salvador através das Ialorixás dos
mais tradicionais terreiros de candomblé da cidade, como Mãe Menininha do Gantois, da qual
também era filho de santo.
Jorge Amado, antes de tudo, era um autor literário que se inspirava e significava suas
histórias sobre a vivência do negro na Bahia, a ponto de elaborar pontes de entendimento com
quem na África estava e de despertar a curiosidade sobre a Bahia de estudiosos da cultura de
povos africanos e em diáspora do calibre de Pierre Verger. Não é, então, o suposto artista da
mestiçagem um autor que incluiu sua bibliografia na literatura negra? Em Tenda dos Milagres
(1969) (AMADO, 1982), Jorge Amado coloca em prática, por exemplo, um método que pode
2 Jubiabá é o nome da entidade caboclo do babalorixá de candomblé Severiano Manoel de Abreu (1886-1937), o
qual também passou a ser chamado de Jubiabá, tamanha era fama desta entidade tropical na Bahia.
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ser notado em tantos outros personagens de suas obras – o autor faz um jogo de relação entre
a personalidade da personagem e o arquétipo do Orixá que a ela se refere. É o caso de Pedro
Archanjo, figura central do romance: Ojuobá de Xangô (VERGER, 2013) (PRANDI, 2001), o
personagem invariavelmente representa este Orixá nos seus passos pela trama, além do
próprio Exú, que seria seu Orixá de cabeça e que reúne em si o arquétipo do movimento, do
mensageiro que abre caminhos. Ainda neste mesmo romance, outros tantos exemplos como
Rosa de Oxalá, a qual o Orixá já está vinculado ao próprio nome, e de Negra Dorotéia, a qual
se desmaterializou e se tornou a verdadeira Iansã, senhora do vento e da tempestade. Seriam
esses indícios claros do que foi a centralidade temática de Amado como romancista?
É notório, no entanto, que, em seus romances, Amado pensou nesse negro em
conformação diaspórica, portanto, em processos transculturais, sincréticos, híbridos, mestiços,
crioulos ou outro termo que possa significar encontros e convivências culturais mediadas por
certas forças díspares em luta e em continua conformação (WILLIAMS, 1979: 111-117).
Tomou o negro como um elemento constituinte decisivo num horizonte de perspectiva
nacionalista de reunião étnica e de unicidade identitária (GILROY, 2012: 35). Nessa tensão de
encontros de forças culturais, Jorge Amado se pôs em vista da margem ao centro – foi a partir
da vivência africana radicada na Bahia, na Roma Negra,3 que o autor olhou para a
mestiçagem.
O que queremos propor é que nos muitos momentos em que Amado falava em
“mestiço” estava se referindo ao “negro”, como num jogo linguístico político. É possível
pensar que o lugar dado ao negro em sua literatura mantém certo desacordo com a
mestiçagem enquanto ideologia, a qual a sua imagem geralmente se atrelou?
Assumindo que “a literatura é essencialmente uma reorganização do mundo em termos
de arte” e o escritor assume o papel de construtor de “um sistema arbitrário de objetos, atos,
ocorrências, sentimentos, representados ficcionalmente conforme um princípio de
organização adequado à situação literária dada” (CANDIDO, 2010: 187), é possível dizer que
Amado estava submerso nos objetos simbólicos e ideológicos de seu tempo e respondia por
3 À cidade de Salvador foram cunhados epítetos como Roma Negra ou Meca da Negritude. O antropólogo
Vivaldo da Costa Lima vai dizer que Roma Negra é um nome derivado de Roma Africana, que foi cunhado por
Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opó Afonjá, um dos terreiros de candomblé mais tradicionais da cidade. A
comparação se dá uma vez que Salvador seria o centro de culto aos Orixás, assim como Roma é o centro do
catolicismo.
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eles: é o caso da democracia racial tão exaltada em Tenda dos Milagres (1969) e que
encontrava respaldo nas formulações ideológicas de uma época, como em Casa Grande e
Senzala (1933), de Gilberto Freyre: “assim, se Freyre foi um dos ‘pais da ideia’ — ou ao
menos aquele que a batizou —, Jorge Amado foi seu grande artista e divulgador”
(SCHWARCZ, 2009: 39).
Compreende-se aqui que Jorge Amado, enquanto autor literário é partícipe cultural e,
através dele, o meio e a obra são subservientes entre si — suas afluências culturais e literárias
desaguam num momento histórico, numa trajetória particular de escrita. Mesmo que em
verossimilhança, a obra circula no bojo social e faz morada nos valores coletivos. Assim, o
caráter que era externo transpõe esse conteúdo, o equacionando também internamente. “O
ponto de intersecção mais sensível entre a história, a literatura e a sociedade está concentrado
evidentemente na figura do escritor”, portanto, tal nível de análise “deve se voltar com maior
atenção para situação particular do literato no interior do meio social e para as características
que se incorporam no exercício do seu papel em cada período” (SEVCENKO. 1983: 246-7).
De toda forma, a trama literária amadiana de caráter ficcional e romanesca, com suas
doses de realismo, e de um enunciador que diz a respeito do universal pela ótica do local, tem
sua função histórica marcada como rastro documental – a fonte necessária pela qual o
historiador projeta incursões, sempre subjetivas, ao passado. Essa função não se exerce pela
característica literária do realismo como estética, mas porque o texto literário em si é um
testemunho material eloquente dos condicionamentos sociais do individuo que escreve.
Entender a reordenação desse universo individual em tensão e em termos de arte é descortinar
signos que nos levam a vestígios de totalidade, mesmo que a ela nunca cheguemos. Jorge
Amado não trata de fatos ou de tramas que existem ou de que existiram no mundo material,
mas do que poderiam existir ou ter existido. Dessa forma, quando considera o “se” – ou seja,
o que poderia existir ou ter existido – numa trama construída arbitrariamente, está lidando
diretamente com o referente do real, de outra forma este “se” não poderia ser acionado numa
concepção plausível. (CANDIDO, 2011: 177-201) (RIBEIRO, 2000).
O uso linguístico de que se apropria Jorge Amado é observado aqui como resultado de
uma autoconcepção do autor – isso se pode notar expresso em suas linhas – como uma peça
presente daquilo que narra em sua literatura permeada em verossimilhanças. Amado se põe
confortável na tradução (BHABHA, 1997 apud HALL, 2009: 71) de uma negritude, como
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que respaldado por um lugar de vivência permanente. Ainda que em determinada posição
econômica, política e cultural, que não era exatamente no interior das populações de classes
econômicas inferiores de quem falava. Amado foi durante toda vida parte de uma elite,
mesmo que intelectual. Ainda assim, Jorge Amado se põe como parte dessas populações, por
tal auto-identificação e tradução também é identificado assim: como exaltador e partícipe
destes locais culturais que se constituem principalmente da reinvenção africana em diáspora
na Bahia.
Tomemos o Pelourinho como a circunscrição do local de onde a trama de Tenda dos
Milagres (1969) e de outras tantas obras se encadeiam. A cidade a que se referencia a
narrativa é Salvador em uma totalidade inauferível e que escapa, mas que se torna cognoscível
na circunscrição do Pelourinho e dos personagens e objetos que habitam esse universo. Pensar
como se localiza as duas universidades urbanas que são impostas à força à consciência como
próximas, ilustrando signos de um universo de luta cultural: a Faculdade de Medicina,
vestindo o papel opressivo e normatizador, vizinha da universidade popular – chamada assim
pelo próprio Amado –, representando a resistência persuasiva e cheia de subterfúgios de um
negro cheio de vida, ainda que sob o grilhão da violência extrema, renovado constantemente
pela vivência de suas raízes íntimas nas práticas culturais desta urbanidade. Configura-se, aí,
uma utopia literária de tratar a realidade – um preenchimento representativo desta cidade. E as
perguntas que tem resposta a serem desenvolvida são: quais são os fatores organizadores do
diálogo entre uma suposta mensagem de mestiçagem com a conformação desta cidade
cognoscível? (WILLIAMS, 2011: 278-302) Em que ponto Amado não trata mais do e sobre
negro e sim do miscigenado?
A complexidade da cidade na construção de seus romances, tanto o entendimento
sobre esse lugar inquieto, proliferante e mutante da concepção real de concretude, como o
produto desse entendimento pelo autor, o que se localiza na trama da obra não sustenta uma
visão reveladora de totalidade da realidade de uma organização social urbana em plena
ebulição continua de crescimento e de transformações das relações em seu interior – a
reflexão disso em arte literária seria de uma cidade que pôde ser cognoscível – o que,
determinadamente, não reflete, mas, sim, remete à realidade. Essa comunidade cognoscível
nada mais é do que um lugar de consciência experiencial do cotidiano.
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O que queremos destacar é que no momento que destina todos os recursos artísticos e
narrativos para elaborar lugares representativos das culturas africanas radicadas na Bahia,
Jorge Amado não intervém nesses assuntos apenas imaginativamente, como quem atua num
campo de criação deliberada e desprendida de um lugar, mas por uma imaginação que recorre
à sua experiência como peça cultural transitória. Portanto, se o autor não é exatamente mais
um no bojo das culturas vistas de cima, as encontra no seu olhar por diferenças culturais e
reivindica esses lugares como se dele fosse parte. Propor esse pensamento não é abstrair os
estereótipos da construção literária de Amado, a qual se dá no olhar ao outro por referências
de alteridade, mas, ainda assim, identificar sua literatura como negra no sentido trazido por
Bernd, quando fala sobre o poeta assumindo esse lugar de contra fluxo literário no “interior
do campo literário instituído”. (BERND, 1988: 41).
Embora sob a premissa da miscigenação harmonizadora, outra é a perspectiva de
Jorge Amado [no que diz respeito á relação do negro com o mundo]: são os
dominados (o povo negro-mestiço) que delineiam a correnteza da vida social da
Bahia. Eles são a bússola de navegação social dos sobrados e ruas da velha cidade.
(BACELAR, 2008: 120).
Dubiedades em Tenda dos Milagres (1969)
“Pardo, paisano e pobre — tirado a sabichão e a porreta”: é esse um dos epílogos que
introduz a obra de Amado. Entre essas aspas contém uma descrição policial de 1926 sobre
Pedro Archanjo, personagem-enredo (CANDIDO, 2014: 53-54) deste romance – personagem
esse que em si, em sua própria construção, organiza os variados conjuntos de significados
desta obra, assim sendo, centraliza as complexas conexões na trama formulada por Jorge
Amado. O elemento estético mediado por Amado, entendido em suas intenções e efeitos e que
emerge de universos culturais complexos – aos quais esse elemento se torna possível – é
como entendemos metodologicamente esta reflexão, que subordina os arredores temáticos de
forma primaria a este pressuposto. (WILLIAMS, 1979: 151-157).
Dentro dessa perspectiva de trajeto, é significativo pensar que esta reflexão dialoga
com a realidade, mesmo que esta realidade esteja a serviço da análise ficcional como método
de recuperar rastros e resíduos (GLISSANT, 2005: 19-22) de panoramas e vivências, rupturas
e continuidades na história. Portanto, a fonte abordada suscita diálogos, emerge temas e dá
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pontos de partida referenciais para incursões teóricas em suas partituras documentais. Jorge
Amado na posição de autor literário passa a ser tomado como partícipe cultural e mediador
estético, que se enuncia a partir de um tempo e de um dado universo cultural.
Assim visto, podemos desenvolver a ideia que este artigo debruça-se sobre as tramas,
concentra-se nos diferentes discursos constituidores de tramas que podem ser interpostos e
que podem nos levar a novos extratos discursivos. Com isso, não queremos igualar saberes ou
produções, muito menos confundir o fazer historiográfico com o fazer literário – quero, pelo
contrário, relacionar esses fazeres na busca de rastros que possibilitem novos horizontes no
olhar para o passado, levando em conta, determinantemente, as metodologias que geraram tais
produções. Ao pensar em conceitos postos (literatura negra) associados a sujeitos (Jorge
Amado, entre outros) estamos invariavelmente tratando de tramas, não exatamente numa
ordem cronológica, mas numa ordem de referenciais que se estabelecem em espaços e
temporalidades distintas. (SARLO, 2005: 75-83).
Pensando especificamente no construto literário e em suas temporalidades:
personagens e tramas nos mostram além do ser humano Jorge Amado, mas também seu
campo de construção artística, que foge do sujeito criador em si (CANDIDO, 2014: 58) – a
criatura ganha forma (personagens, quadros de uma época...) e dialoga com a realidade, tem
seus tempos e, nesse tempo próprio, se condensam campos temporais outros e que geram
significados outros. Esse ponto é determinante para compreender que, mais do que abordar a
hermenêutica das nuances textuais e dissecar seus signos, estes escritos se aplicam a uma
reflexão de olhar histórico e isso significa abordar temporalidades, intercruzando conjunturas
nelas contidas.
É notório, então, que tanto Jorge Amado como Tenda dos Milagres lidaram com
conceitos e expressões que hoje apresentam tempos e experiências refratadas. (AVELINO,
2011). Essas formulações teóricas geram indagações imediatas: qual era o espaço de
experiência e o horizonte de futuro (KOSELLECK, 2006: 305-329) de Jorge Amado para
usar a temática da mestiçagem na construção de um romance em 1969? Que campos são esses
na apresentação ficcional de cada personagem da trama? Na trama em si, quais as suas
temporalidades e a quê/quem elas respondem? E, enfim, o que contêm na temporalidade do
fazer desta própria pesquisa aqui descrita que remeta à busca desses vestígios? Tendo isso em
vista, a que ponto o autor se aproxima da noção de literatura negra?
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Já no primeiro parágrafo de Tenda dos Milagres esse jogo linguístico pode ser lido
quando Amado, narrando a comunidade vivente do Pelourinho, cita práticas e elementos
próprios do viver africano e de sua concepção natural de universo integrado, mas, por fim,
remete essa realidade à produção de uma mistura original: “(...) todas as partes onde homens
e mulheres trabalham os metais e as madeiras, utilizam ervas e raízes, misturam ritmos,
passos e sangue; na mistura criaram uma cor e um som, imagem nova, original” (AMADO,
1982: 12). O manejo equilibrado de elementos da natureza – que compõem o modo de
concepção de universo de povos do oeste africano, que conjugam em organismo os reinos
animal, mineral, vegetal e humano (HAMPÂNTÉ BA, 1982); e que alimentam suas
interações com a comunidade através da linguagem do som, do ritmo e da dança – está dito no
trecho: “trabalham os metais e as madeiras” – elementos da natureza que compõem a
materialidade do instrumento percussivo, objeto esse responsável pelos “ritmos e passos” que
estabelecem comunicação (ANTONACCI, 2015: 223). A obra inicia nos levando a pensar
onde está o negro, onde está a África nessa dita mistura?
Outra observação, talvez mais sutil, se dá em relação ao “riso” desse negro na obra,
um riso que ali expressa estado de espírito, resistência, comunhão, resignação e alegria. Que
relaciona a labuta ao canto, ao riso chorado, o qual une solidariedades, oposto ao riso
contemplativo e discreto, esse que, em certa parte da obra, é atribuído a Nilo Argolo, o
personagem que aglutina em si a erudição científica e cultural europeia: “inimigo do riso, da
alegria, da liberdade” (grifo nosso) (AMADO, 1982: 156). Na obra, Jorge Amado não
esconde o racismo presente no cotidiano da cidade e atrela esse riso a uma negritude,
justamente como uma expressão inerente de uma resistência do oprimido, mesmo quando
narra um universo negro diaspórico e atribui essas mesmas expressões culturais narradas ao
mestiço, como vemos em uma fala de Pedro Archanjo (MUNANGA, 2015: 9): “Neste dia
tudo já terá se misturado por completo e o que hoje é mistério e luta de gente pobre, roda de
negros mestiços, musica proibida, dança ilegal, candomblé, samba, capoeira, tudo isso será
festa do povo brasileiro, música balé, nossa cor, nosso riso, compreende?”. (grifo nosso)
(AMADO, 1982: 155).
Entretanto, como dito, não é possível abstrair o estereótipo presente e que atravessa a
literatura de Jorge Amado principalmente no que diz respeito ao universo negro feminino. E
essa observação marca outra incongruência entre seu interior literário e a imagem a qual se
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atrelou sobre suas suspeitas exaltações (mais em entrevistas do que no próprio texto literário)
em relação à mestiçagem como ocorrente num espaço de campo harmônico, sem luta, sem
violência e que se destina a igualdade. O que acaba não refletindo a abissal desigualdade do
próprio ato do encontro de onde se origina essa mistura. Afinal, a mestiçagem à brasileira se
deu, desde sua nascença, da mais bruta violência do estupro feminino diante de uma realidade
escravista de subjugação da mulher. Jorge Amado perpetra a continuação dessa subjugação na
construção de alguns personagens, a exemplo de Negra Dorotéia, na própria Tenda dos
Milagres, dotada de altos atributos sexuais selvagens e que, incorporada a uma iabá,
(AMADO, 1982: 11) mataria Archanjo no ato sexual, porém, esse, protegido por Exú e
Xangô, se livra desta encruzilhada. Outras tantas personagens de Amado reproduzem o
estereotipo de peça sexual e que corrobora com o romanceio de uma violência atrelada ao
processo de escravidão e, posteriormente, ao racismo. Este estereótipo diz respeito
principalmente às mulheres negras. (CARNEIRO, 1995: 546).
De todo modo, é significativo que Tenda dos Milagres tenha sua trama voltada para a
ideia do esquecimento social representado na figura de Pedro Archanjo. Um esquecimento
que minou uma autoconcepção das identidades de uma sociedade multiétnica, esquecimento
que teria relegado valores culturais e priorizado outros na conformação de uma identidade
nacional mestra (HALL, 2014) (BHABHA, 2013) (ANDERSON, 2008). E o que mais denota
essa ideia é a forma irônica que Jorge Amado se dispôs para tratar da lembrança desse
esquecimento, quando, em 1969, narra a chegada do cientista estrangeiro, James D. Levenson,
à Salvador: “filósofo, matemático, sociólogo, antropólogo, etnólogo, muita coisa mais,
professor da Columbia University, Prêmio Nobel de Ciência, tudo isso e, como se tudo isso
não bastasse, norte-americano” (AMADO, 1982: 29). Levenson buscava conhecer a cidade
onde morou Pedro Archanjo, o qual conhecia e admirava por seus escritos sobre a
ancestralidade do povo baiano e sobre sua cultura. É marcante o traço de colonialidade
cultural da sociedade baiana – e pode-se dizer brasileira – a qual Jorge Amado evidencia.
Digo, pois, é só a partir da chegada do americano que a grande imprensa, a secretaria de
turismo da cidade, a universidade e outras instâncias de poder hegemônico na construção de
discursos passam a querer saber quem era – o até então desconhecido – Pedro Archanjo,
responsável por levar o nome da Bahia além-mar.
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Esse é o mote inicial da narrativa que se espalha em duas temporalidades e
espacialidades (a cidade de Salvador em dois tempos) diferentes. Um presente datado em
1969 e que se remete a um passado: à vida de Pedro Archanjo, portanto, entre 1868 e 1943.
Em 69, após a chegada do cientista americano, a trama se desenrola em desvendar a história
de Archanjo na cidade da Bahia (MATTOSO, 1992) (AMADO, 2012). Nessa empresa
envolvem-se a imprensa, o governo com seus objetivos turísticos, as agências de publicidade
em busca de ações com a imagem de Archanjo e a própria universidade a fim de reaver a
falha da ciência em não ter reconhecido tal intelectual durante a vida. Enfim, a Bahia estava
parada em volta dos rastros que levariam a reconstituição da vida de Archanjo para, assim,
explorar a imagem deste negro-mestiço, intelectual autodidata, que contribuiu com estudos
sobre as tradições e culturas africanas na Bahia, e que reconheceu o mestiço não como
degenerado, mas, pelo contrário, como uma reunião genética positiva.
Aos olhos de uma hegemonia econômica e cultural, Archanjo era só mais um negro-
mestiço circulante do Pelourinho, mas para aquela comunidade este personagem representava
o mais alto grau hierárquico – tinha posto de destaque no candomblé de Mãe Majé Bassã, era
os olhos de Xangô, o guardião da memória daquela gente – gente essa que, para a elite baiana,
não era digna de história, mas que tinha o seu mestre, seu reitor. Archanjo tudo sabia e tudo
via, era capaz de dizer a origem de cada pessoa, os antepassados e ancestrais não só de seus
próximos como de todas as famílias da Bahia. Sua base se localizava no coração do
Pelourinho, na ladeira do Tabuão, número 60, onde funcionava a Tenda dos Milagres: oficina
onde, Lídio Corró, seu amigo e maior confidente, riscava encomendas de milagres em troncos
de madeiras, e era lá também onde Archanjo elaborava suas teses sobre o viver baiano, que se
opunham às teorias vindas dos cânones europeus e que impregnaram as certezas de cientistas
locais. A poucos metros deste universo, Archanjo era também bedel da Faculdade de
Medicina da Bahia, posicionada por Jorge Amado como repositório encarcerado da erudição
ocidental, como um lugar que flutuava sobre a vivência e os saberes populares vizinhos.
Da existência de Archanjo escaparam-me não só os detalhes, mas fatos importantes,
talvez vitais. Com frequência encontrei-me ante o vazio, um hiato no espaço e no
tempo, ou em face de acontecimentos inexplicáveis, múltiplas versões,
interpretações disparatadas, completa desordem no material recolhido, informações
e informantes contraditórios (...) absoluta falta de consistência e segurança, como
se aquela gente não tivesse os pés na terra e visse no finado não um ser de carne e
osso e, sim, uma coorte de heróis e mágicos, tantas e tais façanhas lhe atribuem.
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Jamais consegui estabelecer o limite entre a informação e a invenção, a realidade e
a fantasia. (AMADO, 1982: 20).
Nesta passagem da obra se tem a fala de outro personagem – que também é voz
narradora do romance –, o pesquisador baiano Fausto Pena, bacharel em ciências sociais, que
foi encarregado pelo próprio Levenson de levantar uma pesquisa sobre a vida de Pedro
Archanjo. Fica claro onde estava guardada a memória sobre este intelectual orgânico
(GRAMSCI, 2004), no Pelourinho, exatamente onde sua vivência foi significativa. E uma
memória comunicada pela oralidade, supostamente estabelecendo desencontro de fatos e
constituindo mitologias que as histórias de Archanjo passaram a representar para aquela
comunidade, as quais, nas metodologias científicas de pesquisa de Fausto Pena, eram
destacadas como incompreensíveis.
Há de se ver como Jorge Amado intenciona a forma de tradição de memória dessa
população vivente de um Pelourinho já em 1969, uma memória que se reporta às quatro
primeiras décadas do século XX e os últimos anos do século XIX, quando se deu a maior
parte da vida de Archanjo. Portanto, já nos fins dos anos sessenta, Jorge Amado impõe à voz
de Fausto Pena, que busca informações sobre o anônimo, uma observação vital que é própria
da experiência de comunicação africana: a oralidade. A vivência do candomblé em si –
profundamente destacada na vida de Archanjo – tem no seu centro filosófico a oralidade, que
rege uma tradição viva (HAMPÂTÉ BÂ, 1982: 183), um espaço de comunicação de onde
deriva a metáfora e o mito. E o candomblé, não tão somente, é um lugar resistente desta
cultura negra em diáspora, se constituiu de diversas conformações de micro-áfricas em
continuum (AZEVEDO, 2006) (GILROY, 2012) – é o local de onde Archanjo lutava por
igualdade, usando como argumento a positivação do mestiço.
Temos duas tramas por vezes paralelas por vezes intercruzantes em Tenda dos
Milagres. Uma trama que gera a outra pela busca da memória dos personagens fictícios – e
esse talvez seja o construto mais robusto em significados do fazer artístico de Jorge Amado: a
disputa pela memória do povoamento da cidade, das práticas e saberes das culturas populares,
da conformação das culturas africanas nesses espaços, da discriminação, do racismo, da
relação entre o saber canônico instituído e as resistências da vida cotidiana: todas essas
memórias como que sintetizadas na vida e no corpo de Pedro Archanjo, vida que começava a
ser passada a limpo, sendo reconstituída em diferentes visões. Quando falo da vida de
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Archanjo não digo só sobre os fatos que lhe sucederam, mas também as suas ideias que foram
expostas em vida entre seus pares e também em letramento, nos livros que escreveu. Ou seja,
mais do que a apropriação da memória sobre Archanjo, estava em jogo a apropriação da
memória de Archanjo, esculpida e circunscrita em seus fazeres letrados.
Começou então a corrida em torno de Archanjo e de sua obra. Muito papel, muita
tinta e muito espaço em jornal foram gastos, a partir da entrevista de Levenson,
para saudar, analisar, estudar, comentar louvar o injustiçado escriba. Era
necessário tirar o atraso, corrigir o erro, apagar o silêncio de tantos anos.
(AMADO, 1982: 33).
Essa disputa sobre a memória guardada em Archanjo evidencia as diferentes formas
como foram manipuladas sua história e suas ideias. Nesse construto, porém, uma voz
narrativa aparece legitimada, como que contando os verdadeiros passos do intelectual do
Pelourinho – essa é a própria voz de Jorge Amado como narrador onisciente e onipresente
(LEITE, 2007: 25-70). Esta estratégia narrativa é usada como quem estabelece uma conversa
direta com o leitor – faz com que quem lê a obra possa distinguir a “verdadeira” história de
Archanjo das construções feitas pela imprensa, pelo governo e pelas instituições privadas –
todas elas apontadas com sarcasmo por Jorge Amado, dado os interesses escusos que essas
instâncias representavam na evidenciação da imagem de Archanjo, o qual, antes da chegada
do discurso estrangeiro cientifico, era só mais um negro anônimo do Pelourinho, “tirado a
sabichão e a porreta” (AMADO, 1982: 11) aos olhos de uma elite econômica de usos racistas.
Nesse caminho a obra segue até o fim, ora mergulhando na vida de Archanjo – que tem muito
mais de coletiva do que de individual, que é um índice literário aceito na noção de literatura
negra – ora mostrando, como diria Amado, os “rebuliços” que a memória deste intelectual do
Pelourinho causou no ideário da sociedade baiana de fins dos anos sessenta.
Numa ambientação narrativa cheia de verossimilhanças, Amado recorre a lugares e a
personagens da “vida real” para incluir as suas construções fictícias e, mesmo essas, são
construções refratadas de personagens constituídos na historiografia – a exemplo do próprio
Archanjo: “a soma de muita gente misturada: o escritor Manuel Querino, o babalaô
Martiniano Eliseu do Bomfim, Miguel Santana Obá Aré, o poeta Arthur Sales, o compositor
Dorival Caymmi e o alufá Licutã – e eu próprio, é claro” (AMADO, 1992: 139), disse Amado
em memórias. Archanjo viveu entre 1868 e 1943, período em que a constituição étnica, racial
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e cultural e seus intercruzamentos foram postos em observação por diversos pensadores no
Brasil, com fluxos e refluxos discursivos nos dados momentos, principalmente nas últimas
décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX, período marcado por
acontecimentos sócio-políticos como o fim da escravatura e a proclamação da república e,
posteriormente, por volta dos anos de 1930 em diante, com a revisão das ideias acerca de raça
disseminadas no decorrer do século. Amado propôs incluir Archanjo neste debate.
Nunca mais nenhum estudante abusou Archanjo com tais assuntos. Nem mesmo
quando a sombra de Gobineau se estendeu sobre o Terreiro de Jesus e o arianismo
esteve em moda, doutrina oficial da faculdade. Ao estourar o escândalo, vinte anos
depois, as turmas eram outras, mas os estudantes apoiaram o bedel contra os
professores. (AMADO, 1982: 110).
Nesta passagem, Amado conta o desfecho de uma lição que Archanjo, o bedel da
Faculdade de Medicina da Bahia, deu em um aluno que resolveu zombar de sua pessoa pelo
fato do catedrático de medicina legal da Faculdade, Nilo Argolo, ter feito duras críticas sobre
a “brochura” escrita pelo bedel em 1907, A vida popular na Bahia. Em 1904, Nilo Argolo
escrevera A degenerescência psíquica e mental dos povos mestiços – O exemplo da Bahia –.
É neste personagem que estão representadas as teorias racistas vindas da Europa no século
XIX e que, oportunamente, se tornaram hegemônicas nas atividades intelectuais de
antropólogos, juristas e na ciência médica. O personagem Nilo Argolo é um ferrenho crítico
da miscigenação, a qual considerava como “maior fator de nosso atraso, de nossa
inferioridade” (AMADO, 1982: 106), prática que levaria o ser humano ao declínio, e apoia
seus estudos de visões eugênicas nas formulações de personagens extraliterários como o
italiano Cesare Lombroso, criador da antropologia criminal, e o francês Joseph Arthur de
Gobienau, citado no trecho da obra acima, que morou durante um ano no Rio de Janeiro e
firmou que a sociedade brasileira estava fadada à degenerescência por sua predominância
negra e mestiça.
Uma observação que se destaca, e que será ponto central de análise, são as
circunstâncias elaboradas pelo autor para as discussões estabelecidas sobre o fator da
mestiçagem na sociedade brasileira. Esta análise em específico procura pelos motivadores
intelectuais e factuais contribuintes para construção de Jorge Amado. Portanto, qual era a
19
leitura de panorama que Amado fazia? E, principalmente, a partir de quê e de quem essa
leitura era proposta, ou, quais fontes refletem o que o autor tomou como problemas?
Os livros de Archanjo, os três primeiros especialmente, encontram-se diretamente
ligados a esse debate e assim se pode avançar uma afirmação categórica: houve, no
primeiro quartel do século, no burgo da Bahia, uma luta de ideias e princípios entre
certos professores da faculdade, entronizados nas cátedras de medicina legal e de
psiquiatria, e os mestres daquela universidade vital do Pelourinho (...). É lícito
afirmar ter sido Pedro Archanjo quem, com seus livros quase anônimos, com sua
luta contra a pseudociência oficial, pôs fim a tão melancólica fase da gloriosa
escola. O debate em torno da questão racial arrancou a faculdade da retórica
barata e da teoria suspeita e a reintegrou no interesse científico, na especulação
honrada e original, no trato da matéria. (AMADO, 1982: 152).
Nesse momento da obra, Amado evidencia que a ciência mudou de local e agora
estava do lado de quem antes nem era reconhecido como peça social: o negro, o mestiço, o
popular – é observável uma utopia através de sua literatura, o lugar do que “deveria ser”. Um
fato determinante era o discurso exaltador da mestiçagem pela voz de Archanjo, que usa de
sua vivência empírica e de sua intelectualidade auto-adquirida no enfrentamento direto do
personagem Nilo Argolo, representante do saber científico europeu, cercado por erudições
indestrutíveis e não misturáveis com as pretensões letradas de Archanjo. É esta exaltação ou
positividade da mestiçagem, como já dito, que nos parece mais política do que ideológica –
como num jogo de disputa: a mestiçagem tida como desgraça de um lado e, do outro lado,
como visão do paraíso – um processo de anulação de forças. Da mesma forma que a
Faculdade de Medicina fazia contraste com a Universidade Popular do Pelourinho,4 numa
dinâmica de enfrentamentos entre polos distintos, os personagens Archanjo e Argolo
representam também essa aproximação e, ao mesmo tempo, incongruências. A atmosfera
literária criada nos remete a uma proximidade geográfica entre esses espaços, que, ao mesmo
tempo, mantêm distanciamentos entre essências – como se quisesse dizer que esses planos
opostos estavam em convívio e, por mais que se postassem em sentidos diferentes, faziam
parte de uma coisa só, ou seja, estavam prontos a se misturarem.
Numa visão rápida dos dados da ficção e da historiografia podemos identificar a
inspiração da construção de Nilo Argolo em Nina Rodrigues, que também era médico legista
e ocupou cargo de professor em clinica médica na Faculdade de Medicina da Bahia. Dentre
4 Já no começo da obra, Jorge Amado apresenta essa dicotomia essencial entre a universidade popular e a
universidade erudita, coexistindo no mesmo universo do Pelourinho.
20
outras confluências, Jorge Amado atribui a Nilo Argolo a autoria do livro cujo título é o
mesmo que fora escrito por Nina Rodrigues: As raças humanas e a responsabilidade penal no
Brasil (RODRIGUES, 1957), Por outro lado, Archanjo compõe em sua representação Manuel
Querino,5 entre outros, como o próprio Amado revelou em seu livro de memórias. Também
dentre outras diversas confluências, as obras escritas por Archanjo se confundem com as
escritas por Querino: em 1918 Archanjo escreve Influências africanas nos costumes da Bahia,
no mesmo ano Querino havia escrito O colono preto como fator da civilização brasileira
(QUERINO, 1918); os dois personagens de dimensões distintas também escreveram sobre a
culinária baiana em tempos próximos e sobre o viver popular na Bahia.
O que queremos mostrar não são apenas as intercorrências claras entre ficção e
realidade, mas a forma como os personagens pinçados por Jorge Amado trataram questões
vinculadas a vivencia do negro na Bahia, em diáspora. A obra mais bem acabada de Pedro
Archanjo, Apontamentos sobre a mestiçagem nas famílias baianas (1928), tem no título mais
um vestígio do que venho abordando: a defesa apaixonada da mestiçagem, a qual Jorge
Amado atribuiu ao seu personagem central, nos leva a pensar sobre intencionalidades na
construção estética. Nesta obra, “mestre Archanjo expôs a verdade completa e as famílias
finalmente puderam conhecer de onde provinham, contemplar não apenas uma face mas o
rosto inteiro, o trigo e o carvão, e saber quem se deitou na cama. O mundo veio abaixo”
(AMADO, 1982: 291). Archanjo estava imerso a uma vivência de negritude – candomblé,
capoeira, azeite de dendê, samba, cachaça, festa – e a defesa mais urgente de seu local, de sua
gente, do negro baiano, se dava de forma a reivindicar equidade. Como se dissesse que os
ditos brancos não eram melhores que os ditos negros, pois, em verdade, todos eram mestiços
– o que pressupõe todos amarrados a um laço essencial de igualdade.
Em 1969, ano da escritura de Tenda dos Milagres, não faltavam a Jorge Amado
opiniões partindo das mais variadas posições sobre as questões de raça, mestiçagem,
composições étnicas e culturais da sociedade na Bahia e no Brasil. Não são poucos os
pensadores que trataram do assunto, a exemplo de Arthur Ramos, Sílvio Romero, Thales de
Azevedo, Oliveira Vianna, Edison Carneiro, Gilberto Freyre, Caio Prado, Darcy Ribeiro – uns
5 Manuel Raimundo Querino nasceu no recôncavo baiano, na cidade de Santo Amaro, em 1851, e morreu em
Salvador em 1923. Foi um dos pioneiros enunciadores negro, a tratar da cultura africana radicada na Bahia nos
seus estudos antropológicos. Foi um abolicionista, tendo atuado no Partido Operário e na Liga Operária Baiana.
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assumindo o caráter mestiço e condenando o futuro da nação; outros, racistas otimistas,
indicando na mestiçagem um processo de branqueamento; os que positivavam a mistura
visando igualdade harmônica; e, ainda, os mais cegos procurando purismos raciais. Portanto,
são significativas as escolhas de representação de Nina Rodrigues e de Manuel Querino, bem
como a temática do mestiço como o “verdadeiro brasileiro”, que equaliza os problemas raciais
– argumento que se aproxima da teoria pensada por Freyre. (PALLARES-BURKE, 2012:
155-175.)
Nem Jorge Amado nem Tenda dos Milagres são peças ocultas e poucos exploradas
nas diversas disciplinas da pesquisa acadêmica, pelo contrário, são fontes profundas que
sempre chamaram atenção da análise crítica. O campo de interesse literário deste autor, que
invariavelmente respondeu a uma pergunta inquietante, a qual questiona quem somos nós
como nação, foi o grande mote gerador do pensamento artístico de sua criação pelas
percepções da realidade. O que se analisa numa infinidade de pesquisas são suas obras
artísticas, fruto da criação, mas, que, em variados momentos, se confundem com um discurso
histórico, sociológico ou antropológico. Talvez Amado tenha tentado ser tudo isso sendo um
escritor, digamos, mais “livre”, que pudesse, além de rever a realidade, refazê-la. Criar a seu
bel-prazer, sonhar, fantasiar, mas, sem tirar tanto os pés do chão para que sua forma de fazer,
cheia de elaborações de si, fosse levada em consideração no debate com outros pensamentos
sobre o mesmo tema por ele pensado, porém, pelas balizas constituidoras de verdades
objetivas.
Considerações Finais
Toda essa construção narrativa de vozes, tempos e espaços nos imprime
multiplicidades (BAKHTIN, 1981). E esse pode ter sido um objetivo claro de Amado – ou se
não foi, a esse destino chegou –, o de elaborar panoramas. Os personagens em Tenda dos
Milagres não têm grandes complexidades psicológicas, mas, por outro lado, as vivências
comunitárias e os valores coletivos são permanentemente adjetivados, tanto no plano temporal
presente (1969), como no plano temporal do passado, correspondente ao período vivido por
Archanjo. É principalmente no plano temporal do passado na obra que se cristaliza o tema
interessante: a discussão sobre mestiçagem, e que nos leva a reflexão sobre o seu lugar na
elaboração de uma literatura negra.
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É necessário notar que o trabalho aqui desenvolvido não se desfaz numa relação de
reflexo da literatura para com a história. Pelo contrário, aqui nota-se a literatura como
elemento descentralizador do processo histórico, uma vez que aferindo sua produção surgem
questões outrora silenciadas no percurso historiográfico. Há de se dizer que a literatura e o
autor literário em questão são metáforas reconhecidas pelo caminho histórico, por serem
também produto da realidade histórica, afinal, o autor e sua obram emergem de um tecido
conjuntural e falam por seus canais de “verdade”.
Nesse sentido, preocupou-se aqui tratar de questões conjunturais a fim de abordar a
obra Tenda dos Milagres e o autor literário Jorge Amado. Esse objetivo trouxe em si acoplado
as formas de análise que constroem ou desconstroem objetos e conceitos históricos, além de
descortinar caracteres estéticos existentes nesses conjuntos imaginários e que são inerentes a
uma produção artística.
As confluências e os contrapontos presentes não determinaram visões objetivas em
relação ao autor literário e sua obra diante da noção de literatura negra, mas trazem bagagens
conjunturais de análise a fim de entender algumas trajetórias que registraram estacas
ideológicas reverberantes na historiografia e essa contribuição é a valia.
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SARLO, Beatriz. Paisagens Imaginárias. São Paulo: Edusp, 2005.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na
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VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. 6ª ed.
Salvador: Ed. Corrupio, 2013.
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MUNANGA, Kabengele. “Riso Negro e Identidade”. In: Revista da ABPN. V. 7. Nº 16. Mar-
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PRANDI, Reginaldo. “Religião e Sincretismo em Jorge Amado”. In: O universo de Jorge
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São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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