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Conceitos e Noções Gerais de Dissertação
Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como
objetivo expor, explicar ou interpretar idéias; a segun-da procura persuadir o leitor ou ouvinte de que determinada tese deve ser acatada. Na dissertação argumentativa, além disso, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi-lo de que a razão está co-nosco.
Na dissertação expositiva, podemos explanar sem combater idéias de que discordamos. Por exemplo, um professor
de História pode fazer uma explicação sobre os modos de produção, aparentando impessoalidade, sem tentar con-vencer seus alunos das vantagens das vantagens e desvanta-gens deles. Mas, se ao contrário, ele fizer uma explanação com o propósito claro de formar opinião dos seus alunos, mostrando as inconveniências de determinado sistema e
valorizando um outro, esse professor estará argumentando explicitamente.
Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio
consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate-boca”estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumntos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos-
exemplos, os dados estatísticos e o testemunho.
Como fazer uma dissertação argumentativa
Como fazer nossas dissertações? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente
e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão?
Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha.
Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão,
isolamento.
Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação.
1. Transforme o tema em uma pergunta:
Nenhum homem é uma ilha?
2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda,
concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu pon-to de vista.
3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua
posição: aí estará o seu argumento principal.
4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua
posição. Estes serão argumentos auxiliares.
5.Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato-exemplo pode vir de
sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo,
geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação.
6. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você
pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida:
Os passos
1) interrogar o tema;
2) responder, com a opinião
3) apresentar argumento básico
4) apresentar argumentos auxiliares
5) apresentar fato- exemplo
6) concluir
(in Novo Manual da Nova Cultural - Redação, Gramática, Literatura e Interpretação de Textos, de
Emília Amaral e outros)
Como ficaria o esquema
1º parágrafo: a tese
2º parágrafo: argumento 1
3º parágrafo: argumento 2
4º parágrafo: fato-exemplo
5º parágrafo: conclusão
Exemplo de redação com esse esquema:
Tema: Como encarar a questão do erro
Título: Buscar o sucesso
Tese
1º§ O homem nunca pôde conhecer acer-tos sem lidar com seus erros.
Argumentação
2º§ O erro pressupõe a falta de conheci-mento ou experiência, a deficiência de sintonia entre o que se propõe a
fazer e os meios para a realização do ato. Deriva-se de inúmeras causas, que incluem tanto a falta de informação, como a inabilidade em lidar com elas.
3º§ Já acertar, obter sucesso, constitui-se na exata coordenação entre informação e execu-ção de qualquer
atividade. É o alinhamento preci-so entre o que fazer e como fazer, sendo esses dois pontos indispensáveis e inseparáveis.
Fato-exemplo
4º§ Como atingir o acento? A experiência é fundamental e, na maior das vezes, é alicerçada em erros anteriores,
que ensinarão os caminhos para que cada experiência ruim não mais ocorra. Assim, um jovem que presta seu primeiro vesti-bular e fracassa pode, a partir do erro, descobrir seus pontos falhos e, aos poucos, aliar seus co-nhecimentos à
capacidade de enfrentar uma situa-ção de nova prova e pressão. Esse mesmo jovem, no mercado de trabalho, poderá estar envolvido em situações semelhantes: seus momentos de fracasso estimularão sua criatividade e maior em-penho, o que fatalmente levará a posteriores acertos fundamentais em seu trabalho.
Conclusão
5º§ Assim, o aparecimento dos erros nos atos humanos é inevitável. Porém, é preciso, aci-ma de tudo, saber lidar
com eles, conscientizar-se de cada ato falho e tomá-los como desafio, nunca se conformando, sempre buscando a superação e o sucesso. Antes do alcance da luz, será sempre preciso percorrer o túnel.
(Redação de aluno.)
Esquema da antítese
Como incluir a contra-argumentação numa dissertação argumentativa
A dissertação argumentativa começa com a proposição clara e sucinta da idéia que irá ser comprovada, a TESE. A
essa primeira parte do texto dissertativo chamamos de introdução.
A segunda parte, chamada desenvolvimento, visa à apresentação dos argumentos que comprovem a tese, ou seja,
a PROVA. É costume estruturar a argumentação em ordem crescente de importância, como foi explicado no início desta lição, a fim de prender cada vez mais a atenção do leitor às razões apresentadas. Essas razões baseiam-se em provas
demonstráveis através dos fatos-exemplo, dados estatísticos e testemunhos.
Na dissertação argumentativa mais formal, o desen-volvimento apresenta uma subdivisão, a ANTÍTESE, na qual se
refutam possíveis contra-argumentos que possam contrariar a tese ou as provas. Nessa parte, a ordem de importância inverte-se, colocando-se, em primeiro lugar, a refutação do contra-argumento mais forte e, por último, do mais fraco,
com o propósito de se depreciarem as idéias contrárias e ir-se, aos pontos, refutando a tese adversa,ao mesmo tempo em que se afasta o leitor ou ouvinte dos contra-argumentos mais poderosos.
Na última parte, a conclusão, enumeraram-se os argumentos e conclui-se, reproduzindo as tese, isto é, faz-se uma
SÍNTESE. Além de fazer uma síntese das idéias discu-tidas, pode-se propor, na conclusão, uma solução para o problema
discutido.
Esquema de uma dissertação com antítese
Tema: Vestibular, um mal necessário.
Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.
Prova: Os candidatos que estudaram em escolas com infra-estrutura deficiente, com as escolas públicas do Brasil,
por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que freqüentaram bons colégios.
Antítese: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o
problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior.
Conclusão (síntese´): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras responsáveis pela
seleção dos candidatos mais ricos.
Relação entre causa e conseqüência
Você possui um tema para ser analisado. Neste caso, a melhor forma de desenvolvê-la é estabelecer a relação
causa-
conseqüência. Vamos à prática com o seguinte tema:
Tema
Constatamos que no Brasil existe um grande número de correntes migratórias que se deslocam do campo para as
médias ou grandes cidades.
Para encontrarmos uma causa, perguntamos:
Por quê?
ao tema acima. Dentre as respostas possíveis, poderíamos citar o seguinte fato:
Causa:
A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no campo.
No sentido de encontrar uma conseqüência para o problema enfocado no tema acima, cabe a seguinte
pergunta:
O que acontece em razão disso?
Uma das possíveis respostas seria:
Conseqüência
As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e
de trabalho
Veja que a causa e a conseqüência citadas neste exemplo podem ser perfeitamente substituídas por outras,
encontradas por você, desde que tenham relação direta com o assunto. As sugestões apresentadas de maneira nenhuma são as únicas possíveis.
Veja outros exemplos:
Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos.
Tema: Muitas pessoas são analfabetas eletrônicas, pois não conseguem operar nem um videocassete. Conseqüência: Elas se tornam desajustadas, pois dependem dos mais jovens até para ligar um forno microondas, elas precisam acompanhar a evolução do mundo.
Causa: A nação que deixa depredar as construções
consideradas como patrimônios históricos destrói parte da História de seu país.
Tema: É de fundamental importância a preservação das construções que se constituem em patrimônios históricos.
Conseqüência: Isso demonstra claramente o subdesenvolvimento de uma nação, pois quando não se conhece o
passado de um povo e não se valorizam suas tradições, estamos desprezando a herança cultural deixada por nossos
antepassados.
Causa: A maioria dos parlamentares preocupa-se muito mais com a discussão dos mecanismos que os fazem
chegar ao poder do que com os problemas reais da população.
Tema: A maior parte da classe política não goza de muito prestígio e confiabilidade por parte da população.
Conseqüência: Os grandes problemas que afligem o povo brasileiro deixam de ser convenientemente discutidos.
Causa: Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.
Tema: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez
mais em nossa sociedade.
Conseqüência: Acabam formando-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes,
transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.
Exercícios
Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma conseqüência para cada um
deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima:
1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita
eficiência no atendimento a seus usuários.
Causa:
Conseqüência:
2 A convivência familiar está muito difícil.
causa:
Conseqüência:
3 As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da
maioria dos telespectadores.
Causa:
Conseqüência:
4 As doenças infecto-contagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população.
Causa:
Conseqüências:
5 Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam utilizando produtos agrotóxicos
indiscriminadamente.
Causa:
Conseqüência:
Esquema de redação com causa-conseqüência
Título
Introdução (o problema):
1º parágrafo: Apresentação do tema (com ligeira ampliação).
Desenvolvimento:
2º parágrafo - Causa (explicações adicionais)
3º parágrafo - Conseqüência (com explicações adicionais)
Conclusão(a solução):
4º § - Expressão inicial + reafirmação do tema + observação final
Proposta de redação
Escolha um dos temas apresentados nesta folha e redija um texto em quatro parágrafos, conforme o esquema
desenhado acima. Não se esqueça de aplicar a relação causa-conseqüência.
(Do livro Técnicas Básicas de Redação, Branca Granatic, Editora Scipione)
Outro esquema interessante:
O texto Aquilo por que vivi, de Bertrand Russel, revela uma estrutura que o vestibulando poderá usar em sua
redação. Leia o texto:
Aquilo por que vivi
Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do
conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o
resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão –
essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana,
foi isso que – afinal – encontrei.
Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por
que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.
Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade
sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e
também sofro.
Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me
fosse dada tal oportunidade.
(Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.)
O texto, cujo tema está explícito no título – os motivos fundamentais da vida do autor – apresenta cinco parágrafos.
No primeiro parágrafo, o autor revela as suas “três paixões”:
a) amor;
b) conhecimento;
c) piedade.
Em seguida, dedica três parágrafos para cada uma dessas paixões. O segundo parágrafo fala sobre a busca do
amor; terceiro, sobre a procura do conhecimento; e o quarto, sobre a importância do sentimento piedade diante do
sofrimento.
O quinto e último parágrafo realiza a conclusão do texto.
Eis o esquema:
1º§ - a, b, c;
2º§ - a;
3º§ - b;
4º§ - c;
5º§ - a, b, c.
(in Novas Palavras, de Emília Amaral e outros, editora FTD-1997)
Observar a estrutura dos textos dissertativos é um bom momento de aprendizagem. Recomenda-se tal exercício aos
vestibulandos: ler editoriais e artigos de jornais.
Como fazer redação no Enem (Hélio Consolaro* )
O tema proposto pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sempre traz uma situação como tema, geralmente de
caráter social, para que o estudante faça uma análise.
A banca apresenta textos de apoio, gráficos e (ou) figuras para que o estudante tenha subsídios para analisar o problema apresentado.
Nesse modelo, sempre proponho a meus alunos do ensino médio que façam uma dissertação de quatro parágrafos, quantidade ideal para atingir as 25 linhas propostas.
O aluno deve verbalizar no primeiro parágrafo o problema apresentado como tema, com suas próprias palavras. Nele,
não se dá opinião, pois não se trata de dissertação argumentativa. A posição ideológica do aluno (não se omita) vai aparecer nos apontamentos da causa e da conseqüência, e principalmente na conclusão.
No segundo parágrafo, o estudante indica uma causa do problema, o porquê daquilo acontecer; no terceiro, uma conseqüência, em razão dele, ocorre tal coisa.
E na conclusão, como sempre, a banca examinadora pede para que o estudante apresente a solução para o problema.
Exemplo bem resumido:
Introdução: Muitos jovens deixam-se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez
no Brasil.
Tópico frasal do 2.º parágrafo (causa): Algumas pessoas refugiam-se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas.
Tópico frasal do 3.º parágrafo (conseqüência): Tornam-se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam-se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade.
Conclusão (solução): Fazem-se necessárias políticas públicas fortes de prevenção, com atividades culturais e esportivas
para a juventude, ocupando-lhe o tempo, formando o caráter dos adolescentes.
Introdução e conclusão devem ser curtas, pois na primeira apresenta-se o problema; na segunda, a solução, sem delongas. A maior parte das linhas deve ser usada nos parágrafos da causa e da conseqüência.
Modelos de redações do ENEM Modelo 1: Copa do Mundo
Excesso de confiança estraga
Aquilo que era ânimo virou desânimo. Alguns brasileiros caíram num baixo astral, outros ficaram raivosos porque a
seleção brasileira foi desclassificada nas quartas-de-final da Copa do Mundo.
Tudo isso aconteceu porque houve excesso de autoconfiança por parte da equipe brasileira. A conquista do penta, feita com muita dificuldade em 2002, como aconteceu com a Itália neste ano, cegou a todos. Devido ao sucesso da copa anterior, imprensa e torcida se empolgaram, achando que o Brasil seria campeão por antecipação. Isso contagiou
jogadores e dirigentes, deixando-os de salto alto. Está provado que erra menos quem duvida e não acredita piamente em certezas.
Logo, com a realidade estampada, depois daquele jogo com a França, em que o Brasil foi derrotado e desclassificado ,
veio a revolta e a depressão da torcida. E como participantes de uma civilização judaico-cristã, os brasileiros foram atrás de culpados e vítimas, uma verdadeira caça às bruxas, como se em futebol não se pudesse conjugar o verbo perder. Carlos Alberto Parreira, o técnico, e os jogadores Roberto Carlos e Cafu foram crucificados.
Com certeza, na próxima copa, em 2010, na África do Sul, o Brasil não se submeterá a outro fiasco, porque tem como exemplo o amargo da derrota de 2006. E todos os brasileiros estarão com o senso crítico mais aguçado e não confiarão cegamente, exercendo o seu poder de crítica antecipadamente.
Modelo 2 - Violência
Amar e perdoar
O Brasil, infelizmente, vem sendo tomado pela violência. As pessoas estão indignadas, mas também não conseguem interpretar a nova realidade, por isso ficam meio perdidas, se perguntando: por que, meu Deus, acontece tudo isso.
Tudo isso acontece porque se injetou na sociedade brasileira um exacerbado espírito de competição. Todos querem
vencer, não importa como, mesmo que seja sem ética. E a pessoa bem-sucedida é aquela que compra mais, usa produtos de boa marca, consome mais. A vida espiritual se reduziu a orar para TER mais e não para SER mais.
Nessa competição em que a vida foi transformada, instalou-se o vale-tudo, por isso "levar vantagem em tudo" é o
grande slogan da pessoa vencedora, nem que para vencer precise massacrar outras pessoas. Deus não é o grande Pai, ninguém mais vê o outro como irmão, mas como um concorrente, uma pessoa a ser derrotada. Nem que seja pela violência. Vencer é mais importante do que perdoar.
Parece que a humanidade precisará viver uma catástrofe para acordar, pois está tomada pelo êxtase do capitalismo exacerbado. Assim descobrirá que é preciso viver, mas também deixar o outro viver. Amar e perdoar é mais importante que competir e vencer.
*Hélio Consolaro é professor de Português, coordenador do site Por Trás das Letras, escritor e presidente da Academia Araçatubense de Letras.
--Texto Dissertativo / Argumentativo --
Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto
dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação
científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não
está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto,
um texto informativo.
Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o
ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o
interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.
O texto dissertativo argumentativo tem uma estrutura convencional, formada por três partes
essenciais.
Introdução
Que apresenta o assunto e o posicionamento do autor. Ao se posicionar, o autor formula uma tese ou
a idéia principal do texto.
Teatro e escola, em princípio, parecem ser espaços distintos, que desenvolvem atividades
complementares diferentes. Em contraposição ao ambiente normalmente fechado da sala de aula e
aos seus assuntos pretensamente “sérios” , o teatro se configura como um espaço de lazer e
diversão. Entretanto, se examinarmos as origens do teatro, ainda na Grécia antiga, veremos que
teatro e escola sempre caminharam juntos, mais do que se imagina.(tese)
Desenvolvimento
Formado pelos parágrafos que fundamentam a tese. Normalmente, em cada parágrafo, é
apresentado e desenvolvido um argumento. Cada um deles pode estabelecer relações de causa e
efeito ou comparações entre situações, épocas e lugares diferentes, pode também se apoiar em
depoimentos ou citações de pessoas especializadas no assunto abordado, em dados estatísticos,
pesquisas, alusões históricas.
O teatro grego apresentava uma função eminentemente pedagógica. Com sua tragédias,
Sófocles e Eurípides não visavam apenas à diversão da platéia mas também, e sobretudo, pôr em
discussão certos temas que dividiam a opinião pública naquele momento de transformação da
sociedade grega. Poderia um filho desposar a própria mãe, depois de ter assassinado o pai de forma
involuntária (tema de Édipo Rei)? Poderia uma mãe assassinar os filhos e depois matar-se por causa
de um relacionamento amoroso (tema de Medeia e ainda atual, como comprova o caso da cruel mãe
americana que, há alguns anos, jogou os filhos no lago para poder namorar livremente)?
Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores místicos, baseados na tradição religiosa, para
os valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria
um papel político e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de
valores e apontava novos caminhos para a civilização grega. “Ir ao teatro”, para os gregos, não era
apenas uma diversão, mas uma forma de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se
vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais.
Deixando de lado as diferenças obviamente existentes em torno dos gêneros teatrais (tragédia,
comédia, drama), em que o teatro grego, quanto a suas intenções, diferia do teatro moderno? Para
Bertold Brecht, por exemplo, um dos mais significativos dramaturgos modernos, a função do
teatro era, antes de tudo, divertir. Apesar disso, suas peças tiveram um papel essencial
pedagógico voltadas para a conscientização de trabalhadores e para a resistência política na
Alemanha nazista dos anos 30 do século XX.
O teatro, ao representar situações de nossa própria vida – sejam elas engraçadas, trágicas, políticas,
sentimentais, etc. – põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na
instantaneidade e na fugacidade do teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a
vida humana é recontada e exaltada. O teatro ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de
ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além dos palcos e dos camarins.
Conclusão
Que geralmente retoma a tese, sintetizando as idéias gerais do texto ou propondo soluções para o
problema discutido. Mais raramente, a conclusão pode vir na forma de interrogação ou representada
por um elemento-surpresa. No caso da interrogação, ela é meramente retórica e deve já ter sido
respondida pelo texto. O elemento surpresa consiste quase sempre em uma citação científica,
filosófica ou literária, em uma formulação irônica ou em uma idéia reveladora que surpreenda o
leitor e, ao mesmo tempo, dê novos significados ao texto.
Que o teatro seja uma forma alternativa de ensino e aprendizagem, é inegável. A escola sempre
teve muito a aprender com o teatro, assim como este, de certa forma, e em linguagem própria,
complementa o trabalho de gerações de educadores, preocupados com a formação plena do ser
humano. (conclusão)
Quisera as aulas também pudessem ter o encanto do teatro: a riqueza dos cenários, o cuidado com
os figurinos, o envolvimento da música, o brilho da iluminação, a perfeição do texto e a vibração
do público. Vamos ao teatro! (elemento-supresa)
(Teatro e escola: o papel do educador: Ciley Cleto, professora de Português).
Atenção: a linguagem do texto dissertativo-argumentativo costuma ser impessoal, objetiva e
denotativa. Mais raramente, entretanto, há a combinação da objetividade com recursos poéticos,
como metáforas e alegorias. Predominam formas verbais no presente do indicativo e emprega-se
o padrão culto e formal da língua.
O Parágrafo
Além da estrutura global do texto dissertativo-argumentativo, é importante conhecer a estrutura de
uma de suas unidades básicas: o parágrafo.
Parágrafo é uma unidade de texto organizada em torno de uma idéia-núcleo, que é desenvolvida
por idéias secundárias. O parágrafo pode ser formado por uma ou mais frases, sendo seu tamanho
variável. No texto dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos relacionados com a
tese ou idéia principal do texto, geralmente apresentada na introdução.
Embora existam diferentes formas de organização de parágrafos, os textos dissertativo-
argumentativos e alguns gêneros jornalísticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura
consiste em três partes: a idéia-núcleo, as idéias secundárias (que desenvolvem a idéia-núcleo), a
conclusão. Em parágrafos curtos, é raro haver conclusão.
A seguir, apresentarei um espelho de correção de redação. A faixa de valores dos itens analisados
sofre alteração a cada concurso, os aspectos macroestruturais e microestruturais são variáveis na
maneira como são expostos. No entanto, os espelhos não fogem ao padrão pré-determinado.
ESPELHO DA AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA - MODELO CESPE/UnB
Aspectos macroestruturais nota
obtida
faixa de
valores
APRESENTAÇÃO TEXTUAL
Legibilidade (0,00 a 2,00)
Respeito às margens e indicação de parágrafos (0,00 a 2,00)
ESTRUTURA TEXTUAL (dissertativa)
Introdução adequada ao tema/posicionamento (0,00 a 4,00)
Desenvolvimento (0,00 a 4,00)
Fechamento do texto de forma coerente (0,00 a 4,00)
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Estabelecimento de conexões lógicas entre os
argumentos (0,00 a 4,00)
Objetividade de argumentação frente ao
tema/posicionamento (0,00 a 4,00)
Estabelecimento de uma progressividade textual em
relação à seqüência lógica do pensamento (0,00 a 4,0
Tipo de erro
Pontuação
Construção do período
Emprego de conectores
Concordância nominal
Concordância verbal
Regência nominal
Regência verbal
Grafia/acentuação
Repetição/omissão vocabular
Outros
Nota no conteúdo (NC) » NC = 5 : 28 x (soma das notas dos quesitos)
Número de linhas efetivamente ocupadas (TL)
Número de erros (NE)
NOTA DA PROVA DISCURSIVA (NPD): NPD=NC – 3 x NE : TL
A seguir, apresentarei a estrutura textual dissertativa, a partir dos dados do espelho de correção da
prova discursiva, seguindo a orientação do professor Fernando Moura (Nas Linhas e Entrelinhas).
ESTRUTURA TEXTUAL DISSERTATIVA
1. Bases Conceituais
PARTE I – O conteúdo da redação
a) Apresentação Textual
Legibilidade e erro: escreva sempre com letra legível. Prefira a letra cursiva. A letra de imprensa
poderá ser usada desde que se distinga bem as iniciais maiúsculas e minúsculas. No caso de erro,
risque com um traço simples, o trecho ou o sinal gráfico e escreva o respectivo substituto.
Atenção: não use parênteses para esse fim.
- Respeito às margens e indicação dos parágrafos;
Para dar início aos parágrafos, o espaço de mais ou menos dois centímetros é suficiente. Observe as
margens esquerda e direita na folha para o texto definitivo. Não crie outras. Não deixe “buracos” no
texto. Na translineação, obedeça às regras de divisão silábica.
- Limite máximo de linhas;
Além de escrever seu texto em local devido (folha definitiva), respeite o limite máximo de linhas
destinadas a cada parte da prova, conforme orientação da banca. As linhas que ultrapassarem o
limite máximo serão desconsideradas ou qualquer texto que ultrapassar a extensão máxima será
totalmente desconsiderado.
-Eliminação do candidato;
Seu texto poderá ser desconsiderado nas seguintes situações:
- ultrapassagem do limite máximo de linhas.
- ausência de texto: quando o candidato não faz seu texto na FOLHA PARA O TEXTO
DEFINITIVO.
- fuga total ao tema: analise cuidadosamente a proposta apresentada. Estruture seu texto em
conformidade com as orientações explicitadas no caderno da prova discursiva.
- registros indevidos: anotações do tipo “fim” , “the end”, “O senhor é meu pastor, nada me
faltará” ou recados ao examinador, rubricas e desenhos.
b) Estrutura Textual Dissertativa
Não dê título ao texto, começa na linha 1 da folha definitiva o seu parágrafo de introdução.
Estrutura clássica do texto dissertativo
b.1) Introdução adequada ao tema / posicionamento
Apresenta a idéia que vai ser discutida, a tese a ser defendida. Cabe à introdução situar o leitor a
respeito da postura ideológica de quem o redige acerca de determinado assunto. Deve conter a tese
e as generalidades que serão aprofundadas ao longo do desenvolvimento do texto. O importante é
que a sua introdução seja completa e esteja em consonância com os critérios de paragrafação. Não
misture idéias.
b.2) Desenvolvimento
Apresenta cada um dos argumentos ordenadamente, analisando detidamente as idéias e
exemplificando de maneira rica e suficiente o pensamento. Nele, organizamos o pensamento em
favor da tese. Cada parágrafo (e o texto) pode ser organizado de diferentes maneiras:
- Estabelecimento das relações de causa e efeito: motivos, razões, fundamentos, alicerces, os
porquês/ conseqüências, efeitos, repercussões, reflexos;
- Estabelecimento de comparações e contrastes: diferenças e semelhanças entre elementos – de um
lado, de outro lado,em contraste, ao contrário;
- Enumerações e exemplificações: indicação de fatores, funções ou elementos que esclarecem ou
reforçam uma afirmação.
b.3) Fechamento do texto de forma coerente
Retoma ou reafirma todas as idéias apresentadas e discutidas no desenvolvimento, tomando uma
posição acerca do problema, da tese. É também um momento de expansão, desde que se mantenha
uma conexão lógica entre as idéias.
c) Desenvolvimento do Tema
c.1) Estabelecimento de conexões lógicas entre os argumentos.
Apresentação dos argumentos de forma ordenada, com análise detida das idéias e exemplificação
de maneira rica e suficiente do pensamento. Para garantir as devidas conexões entre períodos,
parágrafos e argumentos, empregar os elementos responsáveis pela coerência e unicidade, tais
como operadores de seqüenciação, conectores, pronomes. Procurar garantir a unidade temática.
c.2) Objetividade de argumentação frente ao tema / posicionamento
O texto precisa ser articulado com base nas informações essenciais que desenvolverão o tema
proposto. Dispensar as idéias excessivas e periféricas. Planejar previamente a redação definindo
antecipadamente o que deve ser feito. Recorrer ao banco de idéias é um passo importante. Listar as
idéias que lhe vier à cabeça sobre o tema.. Estabelecer a tese que será defendida. Selecionar
cuidadosamente entre as idéias listadas, aquelas que delimitarão o tema e defenderão o
seu posicionamento.
c.3) Estabelecimento de uma progressividade textual em relação à seqüência lógica do
pensamento.
O texto deve apresentar coerência seqüencial satisfatória. Quando se proceder à seleção dos
argumentos no banco de idéias, deve-se classificá-los segundo a força para convencer o leitor,
partindo dos menos fortes parta os mais fortes.
Caríssimos, é possível (e bem mais tranqüilo) desenvolver um texto dissertativo a partir da
elaboração de esquemas. Por mais simples que lhes pareça, a redação elaborada a partir de
esquema permite-lhes desenvolver o texto com seqüência lógica, de acordo com os critérios
exigidos no comando da questão (número de linhas, por exemplo), atendendo aos aspectos
mencionados no espelho de avaliação. A professora Branca Granatic oferece-nos a seguinte
sugestão de esquema:
SUGESTÃO DE PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE EM ESQUEMAS
ESQUEMA BÁSICO DA DISSERTAÇÃO
1º parágrafo: TEMA + argumento 1 + argumento 2 + argumento 3
2° parágrafo :desenvolvimento do argumento 1
3° parágrafo: desenvolvimento do argumento 2
4° parágrafo: desenvolvimento do argumento 3
5° parágrafo: expressão inicial + reafirmação do tema + observação final.
EXEMPLO:
TEMA: Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas
que preocupam a todos.
POR QUÊ? *arg. 1: Existem populações imersas em completa miséria.
*arg. 2: A paz é interrompida freqüentemente por conflitos internacionais.
*arg. 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.
Texto definitivo
Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que
preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida
freqüentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se
ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.
Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados,
quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos
países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da
solidariedade humana e da colaboração entre as nações.
Além disso, nesta últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos conflitos
internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã
e da Coréia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na
antiga Iugoslávia, em alguns membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da
Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou.
Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de
alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes
contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em
local inabitável.
Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de
solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e
indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no
sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um
mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.
Se vocês seguirem a orientação dada pelo esquema, desde o 1º parágrafo, verão que não há como
se perder na redação, nem fazer a introdução maior que o desenvolvimento, já que a introdução
apresenta, de forma embrionária, o que será desenvolvido no corpo do texto. E lembre-se de que a
conclusão sempre retoma a idéia apresentada na introdução, reafirmando-a, apresentando propostas,
soluções para o caso apresentado. Com essa noção clara, de estrutura de texto, também é possível
melhorar o seu desempenho nas provas de compreensão e interpretação de textos.
Como construir um texto dissertativo
Procedimentos Básicos
01. Interpretação do tema
Devemos interpretar cuidadosamente o tema proposto, pois a fuga total a este implica zerar a prova
de redação;
02. Levantamento de idéias
A melhor maneira de levantar idéias sobre o tema é a auto-indagação;
03. Construção do rascunho
Construa o rascunho sem se preocupar com a forma. Priorize, nesta etapa, o conteúdo;
04. Pequeno intervalo
Suspenda a atividade redacional por alguns instantes e ocupe-se com outras provas, para que possa
desviar um pouco a atenção do texto; evitando, assim, que determinados erros passem
despercebidos;
05. Revisão e acabamento
Faça uma cuidadosa revisão do rascunho e as devidas correções;
06. Versão definitiva
Agora passe a limpo para a versão definitiva, com calma e muito cuidado!
07. Elaboração do título
O título deve ser urna frase curta condizente com a essência do tema.
Orientação para Elaborar uma Dissertação
• Seu texto deve apresentar tese, desenvolvimento (exposição/argumentação) e conclusão.
• Não se inclua na redação, não cite fatos de sua vida particular, nem utilize o ainda na 1ª
pessoa do plural.
Seu texto pode ser expositivo ou argumentativo (ou ainda expositivo e argumentativo). As
idéias-núcleo devem ser bem desenvolvidas, bem fundamentadas.
• Redija na 1ª pessoa do singular ou do plural, ou fundamentadas. Evite que seu texto
expositivo ou argumentativo seja urna seqüência de afirmações vagas, sem justificativa,
evidências ou exemplificação..
• Atente para as expressões vagas ou significado amplo e sua adequada contextualização. Ex.:
conceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.
• Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”,“pobre”, “rico”
etc.; são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos e
subjetivos.
• Fuja do lugar-comum, frases feitas e expressões cristalizadas: “a pureza das crianças”, “a
sabedoria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da linguagem oral devem ser
evitados, bem como o uso de “etc.” e as abreviações.
• Não se usam entre aspas palavras estrangeiras com correspondência na língua portuguesa:
hippie, status, dark, punk, laser, chips etc.
• Não construa frases embromatórias. Verifique se as palavras empregadas são fundamentais e
informativas.
• Observe se não há repetição de idéias, falta de clareza, construções sem nexo (conjunções
mal empregadas), falta de concatenação de idéias nas frases e nos parágrafos entre si,
divagação ou fuga ao tema proposto.
• Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no corpo do texto, verifique se a
argumentação responde à pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com uma
interrogação, esta pode estar corretamente empregada desde que a argumentação responda à
questão. Se o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.
• Verifique se os argumentos são convincentes: fatos notórios ou históricos, conhecimentos
geográficos, cifras aproximadas, pesquisas e informações adquiridas através de leituras e
fontes culturais diversas.
• Se considerarmos que a redação apresenta entre 20 e 30 linhas, cada parágrafo pode ser
desenvolvido entre 3 e 6 linhas. Você deve ser flexível nesse número, em razão do tamanho
da letra ou da continuidade de raciocínio elaborado. Observe no seu texto os parágrafos
prolixos ou muito curtos, bem corno os períodos muito fragmentados, que resultam numa
construção primária.
Seguem alguns modelos
TEMA: “DENÚNCIAS, ESCÂNDALOS, CASOS ILÍCITOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,
CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE... ISSO É O QUE OCORRE NO BRASIL HOJE.”
Uma nova ordem
Nunca foi tão importante no País uma cruzada pela moralidade. As denúncias que se sucedem, os
escândalos que se multiplicam, os casos ilícitos que ocorrem em diversos níveis da administração
pública exibem, de forma veemente, a profunda crise moral por que passa o País.
O povo se afasta cada vez mais dos políticos, como se estes fossem símbolos de todos os males. As
instituições normativas, que fundamentam o sistema democrático, caem em descrédito. Os
governantes, eleitos pela expressão do voto, também engrossam a caldeira da descrença e, frágeis,
acabam comprometendo seus programas de gestão.
Para complicar, ainda estamos no meio de uma recessão que tem jogado milhares de trabalhadores
na rua, ampliando os bolsões de insatisfação e amargura.
Não é de estranhar que parcelas imensas do eleitorado, em protesto contra o que vêem e sentem,
procurem manifestar sua posição com o voto nulo, a abstenção ou o voto em branco. Convenhamos,
nenhuma democracia floresce dessa maneira.
A atitude de inércia e apatia dos homens que têm responsabilidade pública os condenará ao castigo
da história. É possível fazer-se algo, de imediato, que possa acender uma pequena chama de
esperança.
O Brasil dos grandes valores, das grandes idéias, da fé e da crença, da esperança e do futuro
necessita, urgentemente da ação solidária, tanto das autoridades quanto do cidadão comum, para
instaurar uma nova ordem na ética e na moral.
Carlos Apolinário, adaptado
Comentário:
O primeiro parágrafo constitui a introdução do texto (tese).
Os parágrafos segundo, terceiro e quarto constituem o desenvolvimento (argumentação —
exemplificação com análise e crítica).
O último parágrafo é a conclusão (perspectiva de solução).
TEMA: Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
(Fernando Pessoa)
Sonhar é preciso
“Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Há, em cada ser humano, um sebastianista louco,
vislumbrando o Quinto Império; um navegador ancorado no cais, a idealizar ‘mares nunca dantes
navegados’; e um obscuro D. Quixote de alma grande que, mesmo amesquinhado pelo atrito da
hora áspera do presente, investe contra seus inimigos intemporais: o derrotismo, a indiferença e o
tédio.
Sufocado pelo peso de todos os determinismos e pela dura rotina do pão-nosso-de-cada-dia, há em
cada homem um sentido épico da existência, que se recusa a morrer, mesmo banalizado,
manipulado pelos veículos de massa e domesticado pela vida moderna.
É preciso agora resgatar esse idealista que ocultamente somos, mesmo que D. Sebastião não volte,
ainda que nossos barcos não cheguem a parte alguma, apesar de não existirem sequer moinhos de
vento.
Senão teremos matado definitivamente o santo e o louco que são o melhor de nós mesmos; senão
teremos abdicado dos sonhos da infância e do fogo da juventude; senão teremos demitido nossas
esperanças.
O homem livre num universo sem fronteiras. O nordeste brasileiro verde e pequenos nordestinos, ri
sonhos e saudáveis, soletrando o abecedário. Um passeio a pé pela cidade calma. Pequenos judeus,
árabes e cristãos, brincando de roda em Beirute ou na Palestina.
E os vestibulandos, todos, de um país chamado Brasil, convocados a darem o melhor de si no curso
superior que escolheram.
Utopias? Talvez sonhos irrealizáveis de algum poeta menor, mas convicto de que nada vale a pena,
se a alma é mesquinha e pequena.”
Comentário:
A introdução encontra-se no 1° parágrafo, que faz uma espécie de síntese do texto, funcionando
como uma espécie de índice das idéias e elementos que aparecerão no desenvolvimento
(sebastianista, o navegador, o D. Quixote).
O desenvolvimento está nos cinco parágrafos seguintes, que retomam e explicam cada uma das
idéias e elementos apresentados no inicio.
A conclusão realiza-se no último parágrafo, reafirmando a tese de que somos do tamanho de nossos
sonhos e de nossas lutas por nossos ideais, sem os quais a alma seria mesquinha e pequena (e a vida
não valeria a pena).
TEMA: “À busca do Brasil de nossos sonhos, travar-se-á uma longa jornada.”
Em busca do Brasil de nossos sonhos
Utopia, talvez seja este o termo que resuma os anseios de um povo que, há mais de quatro séculos,
alimenta esperanças de ver seu país constituir-se em um Estado forte e humanitário.
Transformações drásticas e rápidas não correspondem ao caminho a se seguir que será árduo e
penoso, entretanto os júbilos alcançados serão tão doces e temos que terão valido cada gota de
sangue e suor derramado.
Muitos são os problemas (corrupção, injustiça, desigualdades...) e suas soluções existem, só não
fazem parte do plano político-econômico e social a ser seguido, pois este não há. Generalizar chega
a ser infantil e prematuro, mas atualmente não se tem tido conhecimento sobre uma reforma
concreta e séria que vise à melhoria de vida da população e que não esteja “engavetada”, ainda em
“processo de viabilização”, tal como as reformas agrária e tributária, por exemplo. A justiça no
Brasil, além de paradoxal, vem a ser ilusória.
Diversidade de solos, climas, costumes, gente, vários povos misturados em um só, tantos méritos e
nenhuma vitória que não tenha sido mais do que temporária. O amor à pátria a cada dia fica mais
frágil quando deveria se fortalecer, então o que fazer?
Lutar, não travando guerras ou impondo violência. Reivindicar direitos e estipular deveres requer
sabedoria, a liberdade de expressão foi conquistada com muito esforço e perseverança por
brasileiros que queriam gritar e não se calar diante da destruição lenta e contínua de seu país.
Valorizas o nosso e melhorar o Brasil depende não da vontade de cada um, isoladamente, mas sim
do desejo de todos, afinal são mais de cento e trinta milhões de pessoas com interesses diversos
ocupando um mesmo país, e muitas querem vê-lo progredir, no entanto como isso será possível?
Optando por um nacionalismo extremado? Talvez. Para haver mudanças é preciso que se queira
mudar, um Estado politicamente organizado, quem sabe, este Estado: o Brasil.
Tatiana R. Batista
Como melhorar o Brasil
“E nas terras copiosas, que lhes denegavam as promessas visionadas, goravam seus sonhos de
redenção”. Com estas palavras José Américo de Almeida, em seu livro “A Bagaceira”, conseguiu
caracterizar um Brasil que, há quinhentos anos, mantém-se o mesmo: injusto e desigual.
Fome e miséria em meio à fartura e pujança, descontentamento e inércia presentes em um mesmo
povo. Tantas contradições advêm de um processo histórico embasado em inserir o Brasil no
contexto sócio-econômico mundial como um Estado dependente economicamente, subdesenvolvido
tecnologicamente, sendo por isso frágil perante a soberania de um sem-número de países que desde
sempre deteve o controle supremo de o quê, e como tudo deve ser direcionado.
De colônia à república, sendo monarquia ou não, a aristocracia se mantém presente, forte e
imponente, segura habilidosamente “as rédeas” deste “carro desgovernado” chamado,
anteriormente, de Terra brasilis. É estranho pensar que um vasto território, em que se afirma vigorar
o “governo de todos e para todos” pertença na realidade a um restrito grupo que não deseja
alterações de qualquer tipo, por considerar a atual situação do Brasil ideal. O ideal seria
desconsiderar tais argumentos, sendo estes inválidos e inadmissíveis, uma vez que altos níveis de
desemprego, corrupção, carência nos diversos setores públicos..., não correspondem ao que se
espera para haver uma elevação no padrão de desenvolvimento de um país.
A globalização, tão comentada em todo o mundo, só ratifica ainda mais um processo que, aos olhos
de todos, parece inevitável: a colonização do mundo, a preponderância de uns poucos Estados
politicamente organizados sobre o resto do planeta. O Brasil virando colônia, principalmente, dos
Estados Unidos da América. A submissão completa.
Deste ponto de vista (que pode ser o único), a situação se apresenta de forma grave. Alarmante,
porém é a falta de soluções.
Pior, talvez seja a falta de interesse em mudanças. Já foram privatizadas a (Companhia Vale do Rio
Doce, a Siderúrgica Nacional, logo em breve a Petrobrás e o Banco do Brasil, símbolos da
soberania nacional. Vivemos em um mesmo espaço o qual cada vez mais deixa de nos pertencer,
estamos enfraquecidos, o nacionalismo se enfraquece se a nação única deixa de existir. Não se pode
afirmar que uma atitude revolucionária seja o melhor caminho ou o caminho certo, no entanto a
passividade neurastênica da população jamais resolverá nada. O exercício da cidadania é necessária
para implantar a verdadeira cidadania. Consciência política e senso de justiça o pior obstáculo a ser
contornado é a alienação, conseqüência da ignorância que cerca a maior parte da população, sem
acesso à cultura.
O primeiro passo já foi dado: conhecer os problemas e, mesmo que superficialmente, pensar a
respeito. Ufanismo, utopia, sonho, perseverança e luta. A coragem precisa de esperança, o homem
precisa de ambas para sobreviver e lutar. Se o povo brasileiro é naturalmente corajoso, lutemos
agora para seguir em frente e firmar este país como soberano e forte que é.
Tatiana R. Batista
A corrupção no Brasil
Durante todo o processo de formação cultural do povo brasileiro, o trabalho nunca foi considerado
uma atividade digna, a riqueza, mesmo ilícita era a grande nobreza e a comprovação da
superioridade.
No período colonial, o trabalho para o português recém-chegado toma-se um ato ignóbil, explorar o
bugre e o negro é a maneira de se viver numa terra nova, onde a “esperteza” de sempre tirar lucros e
ganhar, mesmo através da trapaça, é considerada uma virtude.
No império e na república oligárquica, a história se repete e sempre está a favor de uma aristocracia,
que desrespeita a condição humana, com suas atitudes nepóticas e de extrema fraternalidade entre
os iguais mineiros e paulistas.
Nos períodos seguintes, a rede de corruptos se mostra e toma contorno urbanos, onde a população
adquire maior intelectualidade e passa a exigir um maior respeito e que pelo menos se disfarcem os
roubos contra nossa população de miseráveis e condicionados.
Já cansada pelos quinhentos anos de “falcatruas” justificadas e pela explosão de novas “bombas”, a
cada dia a população apercebe-se. em fim, do maquiavelismo político e rejeita as soluções prontas e
maternais da pátria mãe gentil.
Esperamos que, nos próximos anos, a política brasileira tome-se mais séria, rejeite o dito
maquiavélico e trate o trabalho como um meio de ascensão e de dignificação do homem e não como
um ato oprobriante.
Tiago Barbosa