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Pe. Ademilson Luiz Ferreira
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
Apostila para uso dos alunos do Curso de Teologia
para Leigos e Consagrados da Regio Pastoral I Diocese de Marlia SP Junho de 2012
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados
Regio Pastoral I
Diocese de Marlia SP
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SUMRIO APRESENTAO .............................................................................................3
I. SNODOS E CONCLIOS ECUMNICOS ..........................................4
II. OS 21 CONCLIOS ECUMNICOS DA IGREJA CATLICA.........5
a) Conclios do Primeiro Milnio.............................................................................. .......5
a.a) Elaborao da Doutrina .......................................................................................5
1. Nicia ............................................................................................................................ 5 2. Constantinopla I .............................................................................................................5 3. feso .............................................................................................................................5 4. Calcednia ......................................................................................................................5 5. Constantinopla II.............................................................................................................6 6. Constantinopla III ...........................................................................................................6
a.b) A F e a Poltica ...................................................................................................6
7. Nicia II ..........................................................................................................................6 8. Constantinopla IV ..........................................................................................................6
b) Conclos da Idade Mdia ..................................................................................6
b.a) Os quatro Conclios de Latro .............................................................................6
9. Latro I ...........................................................................................................................6 10. Latro II ..........................................................................................................................7 11. Latro III ........................................................................................................................7 12. Latro IV ........................................................................................................................7
b.b) Disputas de poder Lio ........................................................................................7
13. Lio I ..............................................................................................................................7 14. Lio II ............................................................................................................................7 15. Viena (ou Vienne - Frana) ............................................................................................7
c) Conclios da poca da Reforma ..................................................................................7
c.a) Conclios versus Papas ................................................................................................7
16. Constana .......................................................................................................................7 17. Florena ..........................................................................................................................7
c.b) Conclios do Sculo XVI .......................................................................................8
18. Latro V ..........................................................................................................................8 19. Trento .............................................................................................................................8
d) Conclios da Idade Moderna
20. Vaticano I .......................................................................................................................8 21. Vaticano II .....................................................................................................................8
III. O CONCLIO VATICANO II ................................................................9 1. Introduo .......................................................................................................................9
2. Objetivos do Conclio ..................................................................................................10
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3. Principais personagens ...................................................................................................10
4. Algumas conquistas do Conclio Vaticano II: ................................................................10
5. Conclio Vaticano II: Continuidade ou Ruptura?............................................................11 5.1. De uma eclesiologia jurdica a uma eclesiologia sacramental .......................................11 5.2. Inverses eclesiolgicas do Vaticano II .........................................................................12 5.3 Que significa um Conclio Pastoral? ............................................................................12
6. Participao dos Bispos Brasileiros no Conclio ............................................................13
III. ANEXOS .................................................................................................14
1. Artigos do Pe. Ademilson publicados no site de Marlia ....................14 CONCLIO VATICANO II 50 ANOS DE SUA ABERTURA ..........................................14
CONHECENDO O PAPA QUE INICIOU O CONCLIO VATICANO II: JOO XXIII .....15
CONHECENDO UM POUCO DOS DOCUMENTOS DO CONCLIO VATICANO II ......16
DOCUMENTOS CONCILIARES E SUA APROVAO AO LONGO DO CONCLIO ...17
MOVIMENTOS DE RENOVAO TEOLGICA QUE PRECEDERAM O CONCLIO
VATICANO II .........................................................................................................................18
SACRAMENTALIDADE DO EPISCOPADO NO CONCLIO VATICANO II ..................19
A COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II .........................................................20
REALIZAES PARCIAIS DA COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II .....21
SNODO DOS BISPOS ...........................................................................................................21
CONCLIO VATICANO II: CONTINUIDADE OU RUPTURA?.........................................22
VATICANO II DE UMA ECLESIOLOGIA JURDICA A UMA ECLESIOLOGIA SACRAMENTAL ....................................................................................................................23
VATICANO II: UM CONCLIO PASTORAL? .................................................................24
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II
Parte I ...................................................................................................................................... 25
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II Parte II 25
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II - Parte III
Rede de relaes .......................................................................................................................26
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II - Parte IV
As Conferncias da Domus Mariae .........................................................................................27
O CONCLIO VATICANO II E O PACTO DAS CATACUMBAS ......................................27
DOM HELDER, A CNBB E O CONCLIO VATICANO II parte I ...................................28
DOM HELDER, A CNBB E O CONCLIO VATICANO II parte II ................................ 29
DOM HELDER CMARA E AS CIRCULARES CONCILIARES ......................................30
OS CONSELHOS DIOCESANOS NO CONCLIO VATICANO II .....................................31
2. Outros artigos .............................................................................................................32
Artigo de Maria Clara Bingemer, Jornal O Globo, 25.04.2012. ............................................32
A memria do Conclio Vaticano II: O olhar do telogo (Pe. Libanio - Jornal de Opinio) .........33
BIBLIOGRAFIA BSICA E COMPLEMENTAR (COMENTADA)..............................34
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APRESENTAO
Esta apostila destina-se ao Curso de Teologia para Leigos e Consagrados da Regio
Pastoral I da Diocese de Marlia. Pretende ser um modesto material para a compreenso do
Conclio Vaticano II que comemora 50 anos de sua abertura em outubro deste ano.
Parte do contedo resulta da pesquisa de Mestrado realizada nos anos de 2010 a 2012
em Belo Horizonte - MG. Muitos outros elementos constituem estudos posteriores, visando ao
aprofundamento do assunto.
Dividimos o estudo em trs partes principais. Primeiramente abordamos a
experincia dos Snodos e Conclios Ecumnicos na Igreja. Verifica-se que a experincia
sinodal precede a conciliar. Constata-se igualmente que o Conclio Vaticano II, embora se
insira na Tradio dos 21 Conclios Ecumnicos, reveste-se de uma singularidade. No se
preocupou com condenaes ou definies dogmticas, mas como um novo Pentecostes renovou a vida da Igreja. Constituiu o maior acontecimento eclesial do sculo XX e, hoje,
quase 50 anos depois continua a orientar a vida da Igreja.
Abordamos brevemente os 21 Conclios Ecumnicos e sua importncia para a histria
da Igreja. Os Conclios, alm de tratarem da doutrina da Igreja, tambm apresentam medidas
disciplinares e tm importncia poltica no cenrio mundial. Revelam a elaborao da
doutrina da Igreja, alm dos conflitos enfrentados por ela. Alguns conclios condenaram
bispos e autoridades civis. Outros se depararam com o problema de mais de um pretendente
ao papado, chegando a depor papas. Enfrentaram questes como o Conciliarismo que pregava a autoridade do Conclio em relao ao Papa.
Na Idade Moderna aconteceram dois Conclios Ecumnicos. Entre o Conclio de
Trento (sc. XVI) e o Vaticano I (sculo XIX) se passaram quase trs sculos e quase um
sculo distancia o Vaticano I do Vaticano II. Muitas coisas mudaram na Igreja e no mundo e
tornava-se necessrio um aggiornamento da Igreja.
Na terceira parte da apostila, abordamos o Conclio Vaticano II, apresentando uma
introduo, os objetivos, principais personagens e suas conquistas, alm da sua eclesiologia.
Por fim, oferecemos um estudo sobre a participao dos bispos brasileiros no Conclio.
Para auxiliar nas reflexes, disponibilizamos os artigos acerca do Vaticano II escritos
para o site da Diocese de Marlia (www.diocesedemarilia.org.br), alguns ainda no
publicados. Acrescentamos outros pequenos artigos para uma compreenso geral do Conclio.
Quem desejar um aprofundamento do estudo encontrar ao final da apostila uma
Bibliografia que oferece no apenas as principais obras em lngua portuguesa, mas tambm
um pequeno comentrio acerca de cada obra. Assim, o leitor poder pesquisar o assunto que
lhe interessar.
Esperamos que este estudo desperte o Povo de Deus de nossa Diocese para a
compreenso do Conclio Vaticano II e de sua importncia para toda a Igreja. A formao dos
leigos torna-se imprescindvel para a renovao eclesial.
Marlia, Junho de 2012
Pe. Ademilson Luiz Ferreira
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I. SNODOS E CONCLIOS ECUMNICOS1
Concilium vem de concalare e significa convocar, podendo ser considerado sinnimo
de synodus2 (snodo), conventus (reunio), coetus (grupo). No sentido cristo, o termo aparece
pela primeira vez em Tertuliano e desde a Idade Mdia reserva-se s assembleias da Igreja
universal, enquanto as assembleias regionais designam-se snodos3. A experincia dos Snodos provinciais e regionais precede historicamente os Conclios
Ecumnicos. O Snodo reveste-se de autoridade coletiva superior do Bispo individual. Em alguns casos houve deposio de bispos.
Na segunda metade do sculo II, na sia, por ocasio da heresia montanista e, mais tarde,
por causa da controvrsia acerca da data da Pscoa, surgem os Snodos Particulares com o
objetivo de dirimir questes importantes concernentes f crist. No sculo III, a prtica
generaliza-se.
No sculo IV (Nicia 325) tm incio os Conclios Ecumnicos. A Igreja adapta-se s formas e organizaes imperiais. A comunho das igrejas locais modela-se, em suas principais
manifestaes, no quadro geogrfico da provncia civil. A presidncia do Colgio Episcopal local
recai sobre o Metropolita, Bispo da metrpole, capital civil da provncia. Algumas sedes ganham
preeminncia: Roma, Constantinopla (a nova Roma), Alexandria, Antioquia e Jerusalm4. A S
Romana goza de primazia cuja formulao jurdica se torna bem clara com o Papa Leo I (440-
461). Considera-se o Bispo de Roma sucessor de Pedro e de seu primado.
O Conclio de Nicia (325) reconhece a importncia dos Conclios Particulares e
prescreve sua celebrao duas vezes por ano5. Constana (1414-1418) reduz esta periodicidade
para cada trs anos6. O atual Cdigo de Direito Cannico (1983) no estabelece prazos para a
realizao de conclios plenrios ou provinciais7.
Quanto aos Conclios Ecumnicos, apenas os sete primeiros tm reconhecimento das
Igrejas ortodoxas. A Igreja Catlica Romana admite a existncia de 21 Conclios de Nicia (325) ao Vaticano II (1962-1965). Os oito primeiros Conclios foram convocados pelo Imperador
e os demais pelo Papa. A partir do sculo V, a aprovao do Bispo de Roma tornou-se
indispensvel aos Conclios8.
Normalmente os Conclios foram marcados por controvrsias, questes de f (heresias),
necessidade de reforma da Igreja, desafios sua autoridade e outros temas significativos na poca
de sua realizao. Embora inserido na histria dos 21 Conclios Ecumnicos, o Vaticano II difere
dos precedentes. Contou com participao macia do episcopado mundial9, representantes de todo
o Povo de Deus10 e observadores das igrejas crists no catlicas11. Revestiu-se de um carter
dialogal e de abertura, iniciando novo tempo na Igreja.
1 Cf. FERREIRA, 2012, p. 26-28.
2 Syn+hodos = sentido de caminhar juntos.
3 Cf. CONCLIO. In: Dicionrio Crtico de Teologia, p p. 409.
4 Chamadas posteriormente de Sedes Patriarcais da Pentarquia justiniana.
5 Norma que permaneceu vlida at o sculo XV, embora no tenha sido cumprida.
6 Basileia, V Lateranense e Trento confirmaram esta norma, que caiu em desuso.
7 Devem ser celebrados sempre que parecer oportuno s Igrejas de uma mesma Conferncia de Bispos (Conclio
Plenrio) ou maioria dos Bispos diocesanos da provncia (Conclios Provinciais) (cf. cn. 439-440). 8 Cf. CONCLIO. In: Dicionrio Crtico de Teologia, p. 409-412.
9 A sesso de abertura, celebrada em 11 de outubro de 1962 contou com a participao de 1041 bispos europeus,
965 americanos, 379 africanos e mais de 300 asiticos. Certamente o contexto do Conclio Vaticano II, em pleno
sculo XX, favoreceu a comunicao e a locomoo dos bispos a Roma. 10
Presena de peritos (normalmente presbteros), auditores e auditoras (leigos, leigas e religiosas). Pela primeira
vez na histria o Conclio admitiu a presena de mulheres (10 religiosas e 13 leigas). Numericamente a presena
das religiosas (10) e leigos (29 homens e 13 mulheres) no foi numerosa, porm assinala uma novidade
importante. 11
Poderiam participar das sesses solenes e congregaes gerais e informar suas respectivas comunidades sobre
o trabalho conciliar.
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II. OS 21 CONCLIOS ECUMNICOS DA IGREJA CATLICA12
e) Conclios do Primeiro Milnio
a.a) Elaborao da Doutrina (e tambm algumas questes disciplinares)
1. Nicia (325) condenou a cristologia de rio (negava a divindade de Jesus), colocou a base para uma nova Profisso de F e promulgou medidas disciplinares. Afirmou a
igualdade entre o Pai e o Filho (homo-ousios).
Credo de Nicia (verso latina DH 125)
Cremos em um s Deus, Pai onipotente, artfice de todas as coisas visveis e invisveis.
E em um s nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido unignito do Pai, isso , da
substncia do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, nascido,
no feito, de uma s substncia com o Pai (o que em grego se diz homoousion); por meio do
qual foram feitas todas as coisas que h no cu e as na terra; o qual, por causa de nossa
salvao desceu, se encarnou e se fez homem, e padeceu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu
aos cus, havendo de vir julgar os vivos e os mortos.
E no Esprito Santo.
2. Constantinopla I (381) condenou o imperador Teodsio, diversas heresias, colocou a base para uma nova profisso de f e tomou sete medidas disciplinares. Afirmou a
divindade do Esprito Santo.
De acordo com o Conclio de Constantinopla (381), o Filho nasceu antes de todos os sculos, coeterno ao Pai. Ainda em Constantinopla, sob a influncia da teologia de Baslio Magno (j falecido por ocasio do Conclio) declarou-se a divindade do Esprito Santo, embora no se tenha afirmado textualmente que o Esprito Deus. A afirmao da divindade
do Esprito atestada pela frmula Creio no Esprito Santo, Senhor que d a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho adorado e glorificado. Os atributos Senhor, doador da vida, digno de adorao e glorificao so prprios de Deus e, portanto, predicados ao Esprito Santo advogam em favor de sua divindade
13.
3. feso (431) Condenou do imperador Teodsio II, a doutrina de Nestrio14 e promulgou oito medidas eclesisticas. Afirmou da Maternidade Divina de Maria
(Theotokos).
Em feso (431), a divindade e a humanidade formam um s Senhor e Cristo e Filho. O Verbo nascido de Maria segundo a carne (ela a Depara ou Theotokos, isto , me de Deus)15.
4. Calcednia (451) Condenou o Monofisismo (nica natureza em Jesus), comps nova profisso de F e tomou trinta medidas eclesisticas. Afirmou as duas naturezas em
Cristo.
12
Cf. LAARHOVEN, p. 830-843, DENZINGER e BELLITTO, 2010. 13
Cf. FERREIRA, Ademilson Luiz. O Dogma da Santssima Trindade. Disponvel em:
. Acesso em: 04 de junho de 2012. 14
Para ele, Maria era apenas me do homem Jesus. Afirmava duas pessoas em Jesus. 15
Cf. artigo citado anteriormente.
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Seguindo, pois, os santos Padres, com unanimidade ensinamos que se confesse que um s e o
mesmo Filho, o Senhor nosso Jesus Cristo, perfeito na sua divindade e perfeito na sua
humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem composto de alma racional e de corpo,
consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a ns segundo a
humanidade, semelhante em tudo a ns, menos no pecado [cf. Hb 4,15], gerado do Pai
antes dos sculos segundo a divindade e, nestes ltimos dias, em prol de ns e de nossa
salvao, gerado de Maria, a virgem, a Depara, segundo a humanidade; um s e o
mesmo Cristo, Filho, Senhor, unignito, reconhecido em duas naturezas1, sem mistura, sem
mudana, sem diviso, sem separao, no sendo de modo algum anulada a diferena das
naturezas por causa da sua unio, mas, pelo contrrio, salvaguardada a propriedade de cada
uma das naturezas e concorrendo numa s pessoa e numa s hipstase; no dividido ou
separado em duas pessoas, mas um nico e o mesmo Filho, unignito, Deus Verbo, o Senhor
Jesus Cristo, como anteriormente nos ensinaram a respeito dele os Profetas, e tambm o
mesmo Jesus Cristo, e como nos transmitiu o Smbolo dos Padres (DH 301-302).
5. Constantinopla II (553) Condenao da doutrina dos Trs Captulos. Constantinopla II tambm apresenta a Trindade (neste conclio aparece explicitamente o termo) como nica divindade do Pai, do Filho e do Esprito Santo, devendo ser adorada em trs hipstases ou pessoas.
6. Constantinopla III (680-681) condenao do Monotelismo (uma nica vontade em Jesus). Declarou que Jesus tinha duas vontades (uma humana e outra divina),
correspondente s duas naturezas.
a.b) A F e a Poltica Conclios passam a abordar tambm questes polticas.
7. Nicia II (787) condenou a doutrina e a prtica dos iconoclastas e promulgou 22 medidas eclesisticas. Apresenta a declarao da Igreja sobre as imagens sagradas.
[...] ns definimos com todo o rigor e cuidado que, semelhana da figura da cruz preciosa e
vivificante, assim as venerandas e santas imagens, quer pintadas, quer em mosaico ou em
qualquer outro material adequado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, sobre os
sagrados utenslios e paramentos, sobre as paredes e painis, nas casas e nas ruas; tanto a
imagem do Senhor Deus e Salvador nosso Jesus Cristo como a da Imaculada nossa Senhora, a
santa Depara, dos venerandos anjos e de todos os santos e justos (DH 600).
8. Constantinopla IV (869-870) Sob o imperador Baslio, o Conclio condenou o Patriarca Fcio e tomou 22 medidas eclesisticas. Os Ortodoxos contestam seu valor de
Conclio Ecumnico. Durante alguns sculos, o prprio Ocidente no o reconheceu.
b) Conclios da Idade Mdia
b.a) Os quatro Conclios de Latro acontecidos no salo de conferncias do terreno da residncia papal em Roma. Afirmao da autoridade universal do Papa.
Temas abordados: independncia da Igreja, procedimentos legais internos, reformas,
heresias, outras expresses de f, cruzadas e peregrinao.
9. Latro I (1123) regulamentou, sob o Papa Calixto II, as consequncias da luta das investiduras
16 e promulgou 17 (ou 22) medidas eclesisticas.
16
Autoridades leigas nomeavam bispos ou abades.
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10. Latro II (1139) sob o Papa Inocncio II, ps fim ao cisma de Anacleto II17 e condenou os erros dos seguidores do pregador ambulante Pedro de Bruys e de Arualdo de
Brscia. Condenou a simonia e a usura.
11. Latro III (1179) Reafirmou a unidade papal (problemas com os antipapas). Consolidou o processo medieval de reserva aos cardeais quanto eleio do Papa (iniciado
em 1059). Combateu a heresia dos ctaros ou albigenses. Promulgou 19 cnones.
12. Latro IV (1215) organizou a reforma da Igreja, comps uma Profisso de F, condenou Joaquim de Fiore e votou 71 constituies, incluindo um projeto de Cruzada.
b.b) Disputas de poder dificuldades em relao ao poder secular.
13. Lio I (1245) decretou a destituio do imperador Frederico II, planejou uma cruzada e promulgou 23 medidas jurdicas. No adotou resolues dogmticas.
14. Lio II (1274) proclamou a unio dos gregos (problemtica do filioque), planejou uma Cruzada e tomou 29 medidas disciplinares, incluindo a organizao do conclave
18.
15. Viena (ou Vienne - Frana) (1311-1312) Condenou a ordem dos Templrios, tratou da cruzada e promulgou decretos.
c) Conclios da poca da Reforma
c.a) Conclios versus Papas
Contexto: Cisma Ocidental (1378-1417) presena de dois ou trs pretendentes ao Papado19. Conciliarismo
20.
16. Constana (1414-1418) ps fim ao Cisma do Ocidente, condenou a doutrina de Wicleff, permitiu a execuo de Joo Hurs e organizou a reforma conciliar da Igreja.
O Conclio deps o Papa que o convocou (Joo XXIII papa pisano), Gregrio XII (papa romano) concordou em renunciar
21 e em 1417 Bento XIII (papa avinhense) foi deposto. Foi
ampliado (apenas naquele momento) os membros do Conclave e eleito o cardeal Odo Colonna
que adotou o nome de Martinho V.
17. Florena (Basileia-Ferrara-Florena-Roma 1439-1445?) o papa Eugnio IV transferiu a sede do Conclio, enquanto um grupo de bispos continuou reunido em Basileia.
Este grupo reafirmou o Conciliarismo, deps o Papa Eugnio IV e elegeu Flix V (considerado pela Igreja antipapa). Em Ferrara, o Conclio condenou o grupo de Basileia. Em Florena, conseguiu a unio com os gregos, armnios e os coptas e, em Roma, com os
srios e maronitas de Chipre.
17
Aps o falecimento do Papa Honrio II, um grupo de cardeais elegeu Inocncio II e outro grupo elegeu
Anacleto II. O ltimo foi considerado depois antipapa. 18
Para a eleio do Papa, os cardeais permaneciam reclusos e trancados (cum clave). Caso a eleio demorasse
mais de trs dias, a comida seria reduzida. 19
Em 1378, Urbano VI (papa romano sucedido por Gregrio XII) foi eleito fora do conclave e teve sua eleio questionada. Outro Papa foi eleito: Clemente VII (sucedido por Bento XIII). Ambos os papas excomungaram-se mutuamente. Em novo Conclio, reunido em Pisa e no aprovado posteriormente pela Igreja, foi eleito Alexandre V, sucedido por Joo XXIII (nome posteriormente adotado pelo Papa do Vaticano
II). Portanto havia trs papados, trs colgio de cardeias e trs sedes (Roma, Avignon e Pisa). Os trs papas tiveram sucessor (BELLITO, 2010, p. 114-118). 20
Cf. BELLITTO, 2010, p. 114-118. O Conciliarismo radical pregava a autoridade do Conclio sobre o Papa. 21
Aps seus delegados haverem convocado formalmente o Conclio em seu nome para dar legitimidade s decises.
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c.b) Conclios do Sculo XVI antes e aps a reforma de Lutero
18. Latro V (1512-1517) O Conclio aplacou as contendas galicanas. Condenou, sob o Papa Jlio II, o conclio dos cardeais de Pisa (tambm conciliarista). Ps fim Sano Pragmtica de Bourges
22, substituindo-a por uma concordata com a Frana. Sob o Papa Leo
X foi condenada a doutrina sobre a imortalidade de Pomponazzi. Props nove medidas de
reforma.
Logo aps este Conclio, tem incio a Reforma Protestante com Martinho Lutero. Os
protestantes desejavam um Conclio de clrigos e leigos.
19. Trento (1545-1563) contexto da Reforma Protestante e guerras religiosas e polticas ocorridas na Europa. Em Trento, apenas bispos, superiores de ordens religiosas e
representantes dos monastrios tinham direito de voto. Havia tambm telogos consultores.
Trento foi convocado pelo Papa Paulo III como reao Reforma Protestante e com objetivo
de realizar a reforma da Igreja. Dividiu-se em trs perodos:
I Perodo (1545-1547) promulgao de quatro decretos dogmticos: sobre Sagrada Escritura, pecado original, justificao e sacramentos e dois decretos de reforma.
II Perodo (1551-1552), sob o Papa Jlio III trs decretos dogmticos (Eucaristia, Confisso e Uno dos Enfermos) e dois decretos de reforma.
III Perodo (1562-1563), sob o Papa Pio IV seis decretos dogmticos (missa, comunho, sacerdcio, matrimnio, purgatrio e culto dos santos) e sete decreto de reforma que regulamentavam, entre outras coisas, o dever de residncia dos bispos.
Entre as muitas iniciativas, Trento deu origem aos seminrios para formar os padres.
d) Conclios da Idade Moderna
20. Vaticano I (1869-1870) realizado trs sculos aps Trento. Antes de Trento, Pio IX publicou o Syllabus (Slabo) dos Erros, condenando os erros modernos: pantesmo, naturalismo, racionalismo e outros. Dois temas centrais estavam previstos no Vaticano I: a explicao da f catlica face aos erros
da poca e a doutrina a respeito da Igreja de Cristo. Por causa dos acontecimentos polticos23
,
s uma parte dos temas programados pde ser tratada. O Conclio votou duas constituies:
Dei Filius, sobre a f catlica (tratou da relao f e razo), e Pastor Aeternus, sobre a Igreja
de Cristo. Outra constituio sobre a Igreja no pde ser terminada por causa da interrupo
do Conclio, adiado sine die (sem prazo de reabertura). Na Constituio Pastor Aeternus, o
Vaticano I proclamou o dogma da Infalibilidade Papal24
.
Interrompido repentinamente em 1870, o Conclio Vaticano I ficou incompleto e no pode abordar algumas questes importantes, como a teologia do Episcopado e as relaes entre
Primado e Episcopado.
21. Vaticano II (1962-1965) convocado por Joo XXIII e concludo por Paulo II, desenvolveu-se durante quatro perodos e aprovou 16 documentos: 4 Constituies, 9
Decretos e 3 Declaraes25
.
22
Por incentivo do rei Carlos VII da Frana, a assemblia do clero reunida em maio e junho de 1438 em Bourges
tinha redigido 23 artigos, inspirados no Conclio de Basilia, nos quais se sustentava em particular o
conciliarismo, dando origem Sanso Prgamtica subscrita pelo rei. 23
Invaso e ocupao de Roma e dos Estados Pontifcios. 24
Afirmou o Primado de Pedro, sua perpetuidade nos Romanos Pontfices, a natureza e o carter do primado do
Romano Pontfice e seu Magistrio infalvel. Para o Vaticano I, o Primado de Pedro primado de jurisdio e
no apenas de honra. Seu objetivo consiste na salvao eterna e no bem perene da Igreja. 25
Cf. os artigos Conhecendo um pouco dos documentos do Conclio Vaticano II e Documentos conciliares e sua aprovao ao longo do Conclio.
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III. O CONCLIO VATICANO II 1. Introduo
- desenvolveu-se em quatro perodos (pouco mais de dois meses cada um): I Perodo: 11/10
a 08/12/1962. II Perodo: 29/09 a 04/12/1963. III Perodo: 14/09 a 21/11/1964. IV Perodo:
14/09 a 08/12/1965. Entre um perodo e outro havia a intersesso, na qual as Comisses Conciliares continuavam trabalhando
26.
- Convocado pelo Papa Joo XXIII27
, por meio da Constituio Apostlica Humanae
Salutis (25/12/1961), continuado (II Perodo) e concludo por Paulo VI.
- aprovou 16 Documentos: Constituies, Decretos e Declaraes, originalmente escritos
em latim e traduzidos para diversas lnguas (ttulo dos Documentos: primeiras palavras em
latim)28
.
- precedido por Movimentos de Renovao Teolgica: Movimento Bblico, Movimento
Litrgico e outros: renovao teolgica e eclesiolgica, movimento ecumnico, movimento
missionrio, doutrina social da Igreja, atuao do laicato, movimento da mstica da pobreza29
.
as 4 fases do evento conciliar (mais amplo que as sesses conciliares):
anncio aos cardeais em Roma e aos cardeais do mundo todo
No dia 25 de janeiro de 1959, Joo XXIII anuncia aos cardeais de Roma, na Baslica
de So Paulo, seu desejo de realizar um Snodo para Roma, um Conclio Ecumnico
e a reforma do Direito Cannico. Em nome do Papa, o cardeal Domenico Tardini,
Secretrio de Estado do Vaticano, envia carta aos cardeais de todo o mundo
(FERREIRA, 2012, p. 71)
fase antepreparatria - nomeao da Comisso antepreparatria (Pentecoste de 1959 17/05). Consulta a todo Episcopado mundial, superiores de congregaes religiosas, reitores de universidades e
faculdades catlicas e dicastrios romanos definio dos temas a serem tratados. Segundo Dom Demtrio Valentini (2011, p. 19), o material resultante das consultas totalizou 10 mil
pginas, divididas em 12 volumes.
fase preparatria - Iniciada com o Motu Proprio Superno Dei (05/06/1960) - constituio das dez Comisses
Preparatrias, do Secretariado para divulgao, Secretariado para a unidade dos cristos e da
Comisso Central. Estas comisses deveriam destacar os assuntos principais e elaborar os
esquemas que seriam discutidos. Foram elaborados mais de 70 esquemas.
quatro sesses (ou perodos) conciliares (1962-1965). - o incio dos trabalhos foi marcado pela escolha das comisses conciliares destaque para a interveno do Cardeal Lienart da Frana que provocou adiamento das eleies
30.
- rejeio de todos os esquemas no I Perodo. Apenas o esquema da Liturgia agradou aos
Padres Conciliares que o aprovaram no II Perodo.
26
Cf. artigo Conclio Vaticano II 50 anos de sua abertura. 27
Cf. artigo Conhecendo o Papa que iniciou o Conclio Vaticano II: Joo XXIII. 28
Cf. artigos: Conhecendo um pouco dos Documentos do Conclio Vaticano II e Documentos Conciliares e sua aprovao ao longo do Conclio 29
Cf. artigo Movimentos de Renovao Teolgica que precederam o Conclio Vaticano II. 30
Beozzo (1994, p. 76-79) enfatiza, neste nterim, o papel de Dom Helder e seu amigo Dom Manuel Larran nos
bastidores do Conclio. Antes da interveno Linart, Larran contatara Helder, mostrando-se preocupado com a possibilidade de uma lista prvia, apresentada pelo Secretrio do Conclio, para a eleio das Comisses
Conciliares. Seria necessrio conversar com alguns cardeais para postergar a eleio, dando tempo assembleia
para sugerir nomes, o que de fato ocorreu. Ambos organizaram uma reunio com os delegados do CELAM,
sugerindo alguns nomes para as comisses, no apenas de latino-americanos (FERREIRA, 2012, p. 72-73).
-
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2. Objetivos do Conclio:
Em abril de 1959, Joo XXIII formula o objetivo fundamental do Conclio:
[...] fazer crescer o empenho dos cristos, dilatar os espaos da caridade [...] com clareza de pensamento e com grandeza de corao (ALBERIGO, 2010, p. 30).
No segundo perodo (29/09/1963), Paulo VI indica quatro objetivos:
[...] exposio da teologia da Igreja, sua renovao interna, empenho pela unidade dos cristos e, finalmente, o dilogo com o mundo contemporneo (Ibid. p. 81).
Preocupao com a Igreja Ad intra e Ad extra.
3. Principais personagens
Padres conciliares assim eram indistintamente chamados os membros do Conclio com direito a voto, sendo bispos (cardeais, arcebispos ou bispos eram a maioria) ou no (cardeais no bispos, superiores de congregaes religiosas, abades)
31.
Moderadores institudos por Paulo VI no II Perodo. Tinham como misso coordenar as sesses conciliares em nome do Papa. Quatro cardeais exerceram esta funo: Suenens,
Lercaro, Dphner e Agagianian. A amizade entre D. Helder e o Card. Suenens rendeu bons
frutos ao Conclio.
Peritos telogos (normalmente presbteros) que assessoravam o Conclio ou os Padres Conciliares (peritos privados). Os peritos do Conclio podiam acompanhar os debates
conciliares, sem direito de intervir (a menos que lhes fosse solicitado32
). Nas comisses
tinham direito a voz, mas no a voto.
Auditores e auditoras (ouvintes leigos e religiosas) nova categoria criada por Paulo VI no II Perodo
33. 13 auditores (todos homens) estiveram presentes no II Perodo e no perodo
seguinte compareceram algumas mulheres, dentre elas, religiosas34
. No IV Perodo foi
convidado um casal mexicano, presidente do MFC da AL.
Observadores das Igrejas crists no catlicas (46 observadores, representantes de suas Igrejas, e 8 hspedes). Entre eles estavam: o prior de Taiz, Roger Schutz e o telogo Oscar Cullmann (ALBERIGO, 2000, p. 175).
4. Algumas conquistas do Conclio Vaticano II
Proporcionou nova imagem da Igreja: aberta, dialogante e participativa. Promoveu o aggiornamento da Igreja.
Compreendeu a Igreja como Povo de Deus e valorizou as diferentes vocaes na Igreja.
31
Em 1963, Paulo VI concedeu aos prefeitos apostlicos (mesmo que no fossem bispos) o direito de participar
do Conclio (ALBERIGO, 2000, p. 168). 32
[...] nem sequer uma vez um perito foi convidado a falar na aula conciliar ( ALBERIGO, 2000, p. 168). Entretanto, desempenharam papel importantssimo assessorando o Conclio e os Padres Conciliares. 33
Mesmo que no estivesse previsto no regulamento do Conclio (modificado no II Perodo), Joo XXIII admitiu
no I Perodo o acadmico francs Jean Guitton. Afirma Beozzo (2005, p. 328): Na falta de uma categoria, dentro do regulamento, pela qual pudesse ser admitido e seu lugar na Aula Conciliar adjudicado, fora includo
entre os observadores no-catlicos, por conta de sua atividade no campo ecumnico. 34
Primeira vez que um Conclio admitiu a presena de mulheres (10 religiosas e 13 leigas). Os leigos presentes
foram 29 homens e 13 mulheres.
-
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Definiu a Sacramentalidade do Episcopado e sua Colegialidade (pode-se consultar os artigos sobre estes temas).
Aprofundou o dilogo com o mundo e com as outras religies.
Promoveu renovao da Liturgia: uso do vernculo ao invs do latim, concelebrao, comunho sob duas espcies, etc.
Uma vez por semana, celebrava-se na Baslica de So Pedro em rito no latino,
expressando a riqueza das vrias expresses litrgicas da Igreja (o Rito Latino no
nico na Igreja).
Valorizou o Primado da Palavra de Deus. O Evangelho ficava exposto nas sesses conciliares. O Conclio promulgou uma Constituio Dogmtica acerca da Palavra de Deus
(Dei Verbum).
Restaurou o diaconato como grau prprio da hierarquia.
Posicionou-se a favor da liberdade religiosa.
Assumiu as alegrias e esperanas, tristezas e angstias dos seres humanos (Gaudim et Spes).
Durante o Conclio, o Papa Paulo VI instituiu o Snodo dos Bispos.
5. Conclio Vaticano II: Continuidade ou Ruptura? (cf. artigo com mesmo nome)
- duas leituras:
- continuidade: Vaticano II insere-se na Tradio dos 21 Conclios Ecumnicos.
- ruptura: inaugurou nova era na Histria da Igreja apresentou um novo rosto da Igreja. Ofereceu um vinho novo que deve ser colocado em odres novos. - no se preocupa com condenaes ou definies dogmticas.
- apresenta nova compreenso eclesiolgica.
- proporcionou mudana na relao com o mundo e outras religies.
5.1. De uma eclesiologia jurdica a uma eclesiologia sacramental (cf. artigo)
Eclesiologia jurdica:
[antes do Vaticano II] - Igreja = sociedade perfeita, visvel, piramidal e desigual.
A Igreja a comunidade dos homens reunidos mediante a profisso da verdadeira f, a comunho dos mesmos sacramentos, sob o governo dos legtimos pastores, e, principalmente,
do nico vigrio de Cristo sobre a terra, o romano pontfice (...) Para que algum possa ser
declarado membro dessa Igreja verdadeira, da qual falam as Escrituras, no pensamos
que dele se pea nenhuma virtude interior. Basta a profisso exterior da f e da
comunho dos sacramentos, coisa que o prprio sentido pode constatar (...) A Igreja uma
comunidade (coetus) dos homens to visveis e palpveis quanto a comunidade do povo
romano ou o reino de Frana ou a repblica de Veneza (S. Roberto Bellarmino sc. XVI).
A Igreja por essncia uma sociedade desigual, isto , uma sociedade que engloba duas categorias de pessoas: os pastores e o rebanho, os que ocupam uma posio nos diferentes
graus da hierarquia e a multido dos fiis. Essas categorias so de tal modo diferentes entre si,
que s no corpo dos pastores reside o direito e a autoridade necessria para promover e dirigir
todos os membros para o fim da sociedade; quanto multido, esta s tem o dever de se
deixar guiar e, como rebanho dcil, seguir os seus pastores (S. Pio X - Encclica Vehementer
nos 11 fev. 1906).
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5.2. Inverses eclesiolgicas do Vaticano II (Cf. LIBANIO, 2005, p. 107-146)
Da Igreja-sociedade perfeita Igreja-mistrio. Vaticano II rompeu com a tradio
apologtica, jurdica e abstrata da Igreja.
De uma viso essencialista a uma viso histrico-salvfica da Igreja. Superao da dureza
do axioma Extra Ecclesiam nulla salus (Fora da Igreja no h salvao) Igreja como sinal
(sacramento) de salvao.
- lembrar a ideia de Joo XIII: a Igreja no um museu a ser preservado (uma fortaleza ou
antiguidade), mas um jardim a ser cultivado.
Da Igreja-hierarquia Igreja-povo de Deus inverso da ordem dos captulos (povo de
Deus antes da constituio hierrquica) da Lumen Gentium. Igualdade fundamental de todo o
Povo de Deus. Rompimento com a sociedade desigual de Gregrio XVI (1831-1846).
Da centralidade da Igreja para a do Reino de Deus.
Da identificao da Igreja universal com Roma valorizao das Igrejas locais Bispos
so vigrios de Cristo e no do Papa, as Igrejas locais so verdadeiras Igrejas e no parte da
Igreja universal, Colegialidade completando o Primado, valorizao das Conferncias
Episcopais.
Da conscincia ocidental europeia e romana da Igreja para uma conscincia de sua
universalidade para Libanio, O Conclio quebrou o eurocentrismo.
De uma Igreja em conflito com o mundo para uma Igreja em dilogo com ele houve uma
reconciliao com o mundo moderno
As alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias dos homens de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, so tambm as alegrias e as
esperanas, as tristezas e as angstias dos discpulos de Cristo (GS 1)
De uma Igreja auto-suficiente, senhora, para uma Igreja servidora e solidria
De uma Igreja perdida no mundo da poltica ou unicamente voltada para a vida eterna
para uma Igreja militante e peregrina em busca da plenitude final a Igreja peregrina e
encarnada na Histria. Realiza a dialtica do j e ainda no.
De uma Igreja com redutos de vida religiosa perfeita para toda ela chamada santidade
Vocao universal Santidade (LG V).
Da conscincia de uma mariologia isolada compreenso de Maria no corao da Igreja
o esquema da Virgem Maria foi inserido no esquema sobre a Igreja. Compreende-se Maria
na sua relao com o Mistrio de Cristo, Luz dos povos.
5.3 Que significa um Conclio Pastoral? (cf. artigo Vaticano II: um Conclio
Pastoral).
- a preocupao maior era pastoral e no definir dogmas ou realizar condenaes.
- no se contrape pastoral teologia.
- o Conclio tratou questes teolgicas importantes, mesmo que no tenha definido dogmas.
-
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Afirmou o Cardeal Alosio Lorsheider:
O Conclio Ecumnico foi um Conclio pastoral-eclesiolgico. Duas palavras-chave para entend-lo bem: aggiornamento (atualizao, renovao, rejuvenescimento, diaconia, servio)
e dilogo (comunho, corresponsabilidade, participao). No veio para definir ou condenar,
mas para servir e salvar.
Para Joo Paulo II, o Conclio foi [...] a grande graa que beneficiou a Igreja no sculo XX: nele se encontra uma bssola segura para nos orientar no caminho do sculo que comea.
6. Participao dos Bispos Brasileiros no Conclio35
- Trento: nenhuma participao brasileira. O bispado da Bahia o primeiro do Brasil foi criado depois do incio do Conclio e seu bispo no tomou parte nele.
- Vaticano I: sete dos onze bispos da poca participaram do Conclio.
- Vaticano II: a maioria do nosso Episcopado o terceiro maior do mundo na poca36. Houve participao mdia de 80%.
- No houve contribuio relevante na fase antepreparatria do Vaticano II.
- Comisso Preparatria, majoritariamente europeia, romana e curial (membros da Cria
romana) contou com a participao de dez brasileiros.
- Durante o Conclio articulao do Episcopado brasileiro liderada por Dom Helder Cmara.
- organizao de Redes de Relaes durante o Conclio
- principais redes: CNBB (e outras Conferncias Episcopais), CELAM (Conselho
Episcopal Latino Americano), Ecumnico, Igreja dos Pobres, Coetus Internationalis Patrum (maior expresso da minoria conciliar conservadora).
- os bispos ainda tinham contato com suas famlias religiosas (no caso de bispos
religiosos), com os movimentos leigos, alm de estabelecer outras redes de
relaes.
- Conferncia da Domus Mariae (residncia dos bispos brasileiros durante o Conclio).
- Apoio do grupo de assessores: Opus Angeli.
35
Cf. os quatro artigos e os artigos sobre Dom Helder. 36
Durante a consulta aos bispos realizada em 1959, o Brasil contava com 175 bispos, nmero aumentado para
231 ao trmino do Conclio (Beozzo, 2005, p. 58.160).
-
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IV. ANEXOS
1. Artigos do Pe. Ademilson publicados no site de Marlia
Obs.: Alguns artigos ainda so inditos e recebero publicao futura (aps junho de 2012).
CONCLIO VATICANO II 50 ANOS DE SUA ABERTURA
No dia 11 de outubro de 1962 teve incio a abertura do 21 Conclio Ecumnico, o
mais participativo de toda a histria da Igreja, reunindo mais de 2.600 bispos de todo mundo,
dentre eles mais de 200 brasileiros. O Conclio Vaticano II transcorreu durante os anos de
1962 a 1965, dividindo-se em quatro perodos. Neste ano, portanto, celebramos o
cinquentenrio de sua abertura e para melhor conhecer este importante evento eclesial,
ocuparemos esta coluna com artigos referentes ao Conclio.
A ideia do Conclio nasceu nos primeiros meses do pontificado do Papa Joo XXIII e
em 25 de janeiro de 1959, o papa anunciou aos cardeais de Roma seu desejo de realizar um
Conclio. Em nome do Papa, o cardeal Domenico Tardini, Secretrio de Estado do Vaticano,
enviou carta aos cardeais de todo o mundo, comunicando a inteno do pontfice.
Na festa de Pentecostes, no dia 17 de maio de 1959, o Papa nomeou a Comisso
antepreparatria e, desta vez, o cardeal Tardini enviou carta a todo o episcopado mundial,
comunicando a realizao do prximo Conclio e solicitando conselhos e desejos do que os
bispos gostariam que fosse tratado. Os bispos teriam toda a liberdade para propor temas a
serem discutidos.
No dia 05 de junho de 1960 teve incio a fase preparatria do Conclio, com a
constituio das dez Comisses Preparatrias. Tambm foram criados: o Secretariado para a
divulgao, o Secretariado para a unidade dos cristos e a Comisso Central do Conclio.
Finalmente, em 11 de outubro de 1962 teve incio na baslica de So Pedro, no
Vaticano, a solene abertura do Conclio Vaticano II. Em mdia, cada um dos quatro perodos
conciliares durou pouco mais de dois meses (I Perodo: 11/10 a 08/12/1962. II Perodo: 29/09
a 04/12/1963. III Perodo: 14/09 a 21/11/1964. IV Perodo: 14/09 a 08/12/1965). Nos perodos
intermedirios os bispos puderam voltar para suas dioceses, enquanto as comisses
continuariam seus trabalhos.
........Durante os quatro perodos conciliares (1962-1965) foram aprovados 16 documentos,
entre Constituies, Decretos e Declaraes. Configurou-se uma nova imagem da Igreja:
aberta, dialogante e participativa. Ao invs de condenaes, o Conclio utilizou o remdio da misericrdia. A Igreja entrou em dilogo com o mundo e com as outras religies. Valorizou o Povo de Deus, a colegialidade dos bispos, a misso dos presbteros e religiosos. Resgatou o
diaconato como grau prprio da Hierarquia. Posicionou-se a favor da liberdade religiosa.
Assumiu as alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias dos seres humanos como suas.
Aproximou a liturgia da vida do povo. Promoveu inmeras outras iniciativas em favor do
dilogo e da comunho.
........Alegremo-nos com toda a Igreja por esta ddiva de Deus que foi o Conclio Vaticano II e
procuremos conhecer um pouco melhor a riqueza deste Conclio que transformou, de uma vez
por todas, a vida de nossa Igreja.
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CONHECENDO O PAPA QUE INICIOU O CONCLIO VATICANO II: JOO XXIII
Angelo Giuseppe (Angelo Jos) Roncali nasceu no dia 25 de novembro de 1881, em uma
humilde e numerosa famlia de Sotto Il Monte, provncia de Brgamo Itlia. Duas caractersticas marcavam sua famlia: a limitao de recursos materiais e a prtica religiosa. Angelo procurou
sempre manter relacionamento com sua famlia e nunca esqueceu suas razes. O futuro Papa iniciou sua preparao para o Ministrio Presbiteral aos 11 anos de idade
em outubro de 1892. Durante o perodo das frias, ao visitar sua famlia, solicitava nunca ser
tratado de maneira diferente ou especial. Tambm lembrava que as frias seriam oportunidade de
estudar e rezar.
Enviado a Roma, em 1901, para continuar seus estudos teolgicos, Roncali foi ordenado
padre em 1904. Antes, porm, teve que interromper os estudos para se dedicar ao servio militar.
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o Pe. Angelo atuou como capelo militar.
No ano de 1921, Angelo Roncali assumiu a presidncia da Comisso italiana da
Propagao da F e, assim, pde visitar as dioceses italianas. Em 1925 foi nomeado Bispo e
enviado para a Bulgria, como visitador e depois delegado apostlico, o que lhe permitiu uma
proximidade com os Ortodoxos. No final de 1934, Roncali foi transferido para a Delegao
Apostlica de Constantinopla (Istambul Turquia) onde teve contato com o mundo islmico. Desenvolveu funes diplomticas e foi Bispo dos catlicos de rito latino. No ano de 1944, aos 63
anos de idade, foi transferido para Paris onde desenvolveu a funo de nncio apostlico.
Em novembro de 1952, j ultrapassado os 70 anos, Roncali recebe do Papa Pio XII o
convite para substituir o patriarca de Veneza e torna-se cardeal. Roncali anota em seu dirio que
aos 72 anos de idade assumiria um ministrio diretamente voltado para a pastoral, aps longos
anos de servio diplomtico. Reconhecia que j estava s portas da eternidade. Veneza seria sua ltima misso. Entretanto, depois de um longo pontificado (1939-1958), faleceu o Papa Pio XII. Aps um pontfice de grande influncia na Igreja, o Conclave (reunio dos cardeais que elegem o
Papa) estava inclinado a escolher um Papa de transio.
Durante o conclave, o cardeal Roncali havia percebido que poderia ser o eleito. Ele
desejava que este clice passasse, mas, como sempre, faria a vontade de Deus em sua vida.
Quando consultado pelos colegas cardeais, aps um longo perodo de silncio, Roncali afirmou:
aceito a eleio e me chamarei Joo. Explicou que se tratava do nome de seu pai e do padroeiro da Igreja onde foi batizado. Colocava seu pontificado sob a proteo de so Joo Batista e de so
Joo Apstolo. Desejava ser uma voz que grita no deserto, preparando os caminhos do Senhor, ao
mesmo tempo em que desejava reclinar sua cabea no peito do Senhor e tomar a me de Cristo
como sua me.
E assim se fez. Joo XXIII, contra todas as expectativas, convocou o maior Conclio da
Histria da Igreja e, expressando sua inteno de ser verdadeiramente Bispo de Roma, tambm
convocou um Snodo para aquela Igreja. Desejava ainda a reforma do Direito Cannico realizada
posteriormente por Joo Paulo II.
Duas preciosas imagens acompanharam a vida do Papa Roncali: a Igreja como famlia e
como um jardim florescente. Por ocasio da morte de Pio XII, antes de sua escolha para o papado,
ele dizia: Ns estamos aqui na terra no para vigiar um museu, mas para cultivar um jardim florescente de vida reservado a um futuro glorioso.
No foi fcil para Joo XXIII convocar e conduzir o Vaticano II. Muitas resistncias
surgiram, inclusive por parte da Cria Romana. Entretanto, como bom diplomata, o bondoso Papa soube conduzir com maestria os trabalhos at sua morte ocorrida antes do incio do segundo
perodo conciliar, no dia 03 de junho de 1963. Alm da grande obra do Conclio, Joo XXIII foi
responsvel por duas importantes encclicas sociais: Pacem in Terris e Mater et Magistra. No ano
de 2000 foi beatificado por Joo Paulo II.
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CONHECENDO UM POUCO DOS DOCUMENTOS
DO CONCLIO VATICANO II
Ao iniciar o Vaticano, II foram preparados 70 (ou 72) esquemas conciliares (mais de duas mil pginas) para debater os temas do Conclio. Os esquemas reproduziam a mentalidade da Cria
romana e, em sua maioria, estavam ainda ligados a uma imagem da Igreja no mais
correspondente ao tempo presente. Todo o material foi condensado em 17 esquemas e depois em
16 documentos conciliares, sendo que o esquema sobre a Virgem Maria tornou-se o captulo VIII
da Lumen Gentium.
No primeiro perodo, os Padres Conciliares (membros do Conclio) rejeitaram todos os
esquemas, sugerindo mudanas, adaptaes ou elaborao de novo esquema. Apenas o esquema
sobre a liturgia contava com o apoio dos Padres. Mesmo assim, este esquema foi aprovado apenas
no segundo perodo conciliar. A maioria dos esquemas necessitou de vrias redaes.
Olhando as estatsticas do Conclio, verificamos que os documentos conciliares foram
aprovados pela quase unanimidade dos membros do Conclio, alguns chegando a contar com
apenas 2, 3 ou 4 votos contrrios (havia mais de 2.000 bispos votando os documentos). Um dado
interessante consiste no fato de que documentos que exigiam posio de maior dilogo em relao
ao mundo e s religies sofreram maior rejeio, porm sempre representando posio
minoritria. Houve at mesmo um grupo minoritrio que fez campanha contra o esquema (que
deu origem Constituio Gaudium et Spes) sobre a Igreja no mundo, recomendando sua
completa rejeio. Apesar de seu esforo, dos 2.391 votantes, apenas 75 votaram contra e 7 votos
foram nulos, ou seja, aproximadamente 3% dos bispos no aceitaram o texto. Gaudium et Spes e
outros trs documentos conciliares foram aprovados apenas na ltima sesso pblica do Conclio.
Houve portanto, aprovao de dois documentos no segundo perodo, trs no terceiro e onze no
quarto perodo conciliar.
Os documentos recebem nome em latim. Acontecia o mesmo com os esquemas. Por
exemplo, antes de se tornar Lumen Gentium, o esquema conciliar intitulava-se De Ecclesia
(sobre a Igreja). A redao oficial dos textos em latim e eles recebem o nome das primeiras palavras. Assim, por exemplo, o esquema De Ecclesia, quando chegou sua verso definitiva
recebeu o nome de Consituio Dogmtica Lumen Gentium. O texto latino inicia-se assim:
LUMEN GENTIUM cum sit Christus.... (A luz dos Povos Cristo...). A Constituio sobre a liturgia comea afirmando: SACROSANCTUM CONCILIUM, cum sibi propanat vitam christianam inter fideles in dies augere... (O Sacrossanto Conclio, que se prope fomentar sempre mais a vida crist entre os fiis...). J em relao Gaudium et Spes, o incio do texto latino afirma: GAUDIUM ET SPES, luctus et angor hominum huius temporis... (As alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias dos homens de hoje... so tambm as alegrias e as
esperanas, as tristezas e as angstias dos discpulos de Cristo). Ao citar cada documento, fazemo-lo atravs da sua sigla (Gaudium et Spes GS, Lumen Gentium LG e assim por diante) e um nmero que representa um ou vrios pargrafos. Podemos tambm dividir este nmero em a,
b e c e acrescentar o captulo do texto conciliar. Por ex: LG III, 23d (corresponde ao quarto
pargrafo do nmero 23 do terceiro captulo da Constituio Dogmtica Lumen Gentium como no caso da Bblia no se cita a pgina, pois ela pode variar em cada edio).
De acordo com sua importncia ou peso doutrinal, os documentos dividem-se em:
Constituies (4), Decretos (9) e Declaraes (3). Lumen Gentium (LG) e Dei Verbum (DV) so
chamadas Constituies Dogmticas. Gaudium et Spes uma Constituio Pastoral e a Constituio sobre a liturgia chamada de Constituio Sacrosanctum Concilium. Os Decretos tm normalmente um papel de orientao, como no caso do Decreto Christus Dominus que
orienta o mnus pastoral dos Bispos na Igreja ou o Decreto Presbiterorum Ordinis acerca do
ministrio e da vida dos Presbteros. Outros textos receberam o nome de Declarao como no caso da Declarao Dignitatis Humanae sobre a Liberdade Religiosa.
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DOCUMENTOS CONCILIARES E SUA APROVAO AO LONGO DO CONCLIO
Conforme apresentamos em artigos anteriores, o Concilio Vaticano II desenvolveu-se em
quatro perodos ao longo de quatro anos (1962-1965). Apresentamos, a seguir, a sequncia de
aprovao de cada documento conciliar. Placet significa concordo, aprovo e representa o nmero de aprovaes. Non Placet representa a reprovao. Em caso de textos anda no
definitivos, encontra-se tambm placet iuxta modum aprovo com (desde que haja) modificaes. Ao lado do nome latino de cada documento conciliar, esclarecemos brevemente seu
contedo. Os documentos do Conclio foram promulgados pelo Papa Paulo VI, que se apresenta
como Paulo Bispo, Servo dos Servos de Deus, e so assinados pelos Padres Conciliares (como so chamados os bispos que participam de um Conclio, independente de serem Bispos
diocesanos, Auxiliares, Arcebispos ou Cardeais).
I Perodo (1962) nenhum documento aprovado
II Perodo (1963)
Constituio Sacrosanctum Concilium sobre a reforma da Liturgia: 2.147placet/ 4 non placet
Decreto Inter Mirifica sobre os Meios de Comunicao Social: 1.960 placet/ 161 non placet
III Perodo (1964)
Constituio Dogmtica Lumen Gentium sobre a Igreja: 2.151 placet/ 5 non placet Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo (reintegrao da unidade): 2.137 placet/ 11 non placet
Decreto Orientalium Ecclesiarum acerca das Igrejas Orientais Catlicas (ligadas a Roma): 2.110 placet/ 39 non placet
IV Perodo (1965)
Constituio Dogmtica Dei Verbum sobre a Revalao Divina: 2.344 placet/ 6 non placet Decreto Christus Dominus acerca do Mnus (ministrio) Pastoral dos Bispos na Igreja: 2.319 placet/ 2 non placet/ 1 voto nulo
Decreto Perfectae Caritatis sobre a atualizao dos religiosos: 2.321 placet/ 4 non placet Decreto Optatam Totius trata da formao sacerdotal: 2.318 placet/ 3 non placet Decreto Apostolicam Actuositatem referente ao Apostolado dos Leigos: 2.340 placet/ 2 non placet
Declarao Gravissimum Educationis sobre a educao crist 2.290 placet/ 35 non placet Declarao Nostra Aetate trata da relao da Igreja com as Igrejas no-Crists: 2.221 placet/ 88 non placet/ 3 votos nulos
Promulgados na ltima sesso pblica:
Constituio Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje: 2.309 placet/ 75 non placet/ 7 votos nulos
Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionria da Igreja: 2.394 placet/ 5 non placet Decreto Presbiterorum Ordinis acerca do Ministrio e da Vida dos Presbteros: 2.390 placet/ 4 non placet
Declarao Dignitatis Humane sobre a Liberdade Religiosa: 2.308 placet/ 70 non placet/ 8 votos nulos
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CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
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Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc. Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
MOVIMENTOS DE RENOVAO TEOLGICA QUE PRECEDERAM O
CONCLIO VATICANO II
A renovao provocada pelo Conclio Vaticano II foi precedida por movimentos
europeus de renovao teolgico-pastoral que tambm atingiram nosso pas. Dentre eles,
destacam-se os movimentos bblico e litrgico. Acrescentam-se: renovao teolgica e
eclesiolgica, movimento ecumnico, movimento missionrio, doutrina social da Igreja,
atuao do laicato, movimento da mstica da pobreza, entre outros.
O interesse catlico pelos estudos bblicos ganhou impulso com a fundao da Escola
Bblica de Jerusalm em 1890. A partir de ento, iniciou-se longo processo de srios estudos
bblicos, apoiados ou no pelo magistrio da Igreja. Em 1943, o Papa Pio XII escreveu a
encclica Divinu Afflante Spiritu, abrindo espao para uma maior utilizao dos mtodos
histrico-crticos e demais investigaes teolgicas. Alm de tradues de textos bblicos,
foram divulgados nesta poca muitos escritos representativos do movimento bblico. Os
estudos bblicos ganharam maior relevncia no mundo catlico. No Brasil, o movimento
bblico recebeu impulso com a fundao da Liga de Estudos Bblicos (LEB) em 1947, durante
a primeira Semana Bblica Nacional em So Paulo. Nascia a leitura popular da Bblia, com os
Crculos Bblicos.
O movimento litrgico tem sua origem em 1909, por ocasio do Congresso de Malines
na Blgica, tendo como principal nome D. Lambert Beauduin. Entretanto, suas ideias
encontram precursores no sculo anterior, sobretudo em D. Guranger, primeiro abade de
Solesmes (Frana). Aps a II Guerra Mundial, o movimento se expandiu, tornando-se mais
popular e passando a ser divulgado pela Ao Catlica. Entre as ideias do movimento
litrgico estava a substituio do latim pela lngua verncula. A partir da encclica Mediator
Dei de Pio XII (1948), o movimento sentiu-se incentivado a continuar seu trabalho e, a partir
de 1951, os episcopados de vrios pases apresentaram projetos de reforma litrgica para
Roma. A aprovao da Sacrossanctum Concilium como primeiro documento do Conclio
Vaticano II corroborou as ideias do movimento litrgico. Este movimento chegou ao Brasil
em 1933, por meio dos cursos de liturgia ministrados por Dom Martinho Michler (OSB) no
Instituto Catlico de Estudos Superiores. Foi difundido pela Ao Catlica e encontrou
obstculos por parte de setores conservadores da Igreja.
Juntamente com estes dois movimentos, crescia o interesse pelo ecumenismo, pela
misso e pelas questes sociais. Ampliava-se a reflexo acerca do papel dos leigos, cuja
importncia era sentida em movimentos como a Ao Catlica. A temtica e a vivncia da
pobreza por parte da Igreja tambm se encontrava na preocupao de alguns telogos, bispos,
presbteros, religiosos e leigos. Houve um grupo de bispos que durante o Conclio manifestou
um compromisso com os pobres atravs do Pacto das Catacumbas. Enfim, mesmo antes do
Vaticano II, apesar de todas as resistncias, havia desejo de renovao da vida eclesial.
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SACRAMENTALIDADE DO EPISCOPADO NO CONCLIO VATICANO II
Entre as conquistas teolgicas do Conclio Vaticano II est a reflexo sobre a teologia
do Episcopado e a definio de sua sacramentalidade, colocada em dvida pela Escolstica. A Idade Mdia reduzia o sacramento ao aspecto cltico e negou reconhecer no ministrio
episcopal um grau prprio da Ordem, pois o sacerdcio possua o pleno poder da
transubstanciao. No havia, neste sentido, diferena entre Presbtero e Bispo.
A teologia do segundo milnio privilegiou uma concepo individualista do ministrio
ordenado, reduzindo-o ao poder de consagrar. O Episcopado era considerado no um sacramento, mas uma dignidade na qual no havia nenhum acrscimo no poder de ordem, mas
no de jurisdio. Deste modo, compreendia o Episcopado em funo do Presbiterado.
O Vaticano II supera a dicotomia entre poder de ordem e de jurisdio. Reconhece o
Episcopado no como complemento do Presbiterado, mas como plenitude do sacramento da Ordem. Agora, o Presbiterado compreendido em funo do Episcopado. Juntamente com
o mnus de santificar, a legtima ordenao episcopal comunica o de ensinar e reger.
Comunicados diretamente por meio da ordenao, seu exerccio regula-se por leis cannicas.
Para o Conclio, os bispos so vigrios e legados de Cristo (LG III, 27a) e no do Papa. So revestidos de autoridade prpria, ordinria e imediata, exercida pessoalmente
em nome de Cristo. Seu poder no consiste em participao do poder concedido por Deus a
Pedro e aos seus sucessores, mas, sim, do poder que foi dado diretamente por Cristo ao
conjunto do Colgio Apostlico, e que se transmitiu ao Colgio dos bispos. A autoridade dos
bispos no deriva do Papa, mas do prprio Cristo.
O Conclio considera o Papa como cabea do Colgio Episcopal. Assim como os
bispos no so seus vigrios, ele tambm no o do Colgio Episcopal. Por isso, o Romano
Pontfice tem poder pleno, supremo e universal na Igreja. Tambm a Ordem dos Bispos, junto
com o Papa, detm o poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira. A autoridade suprema na
Igreja pode ser exercida de maneira primacial pelo Romano Pontfice ou colegial, pelo
Colgio dos Bispos unidos ao Papa. Mesmo exercendo o Primado, o Papa no est fora do
Colgio Episcopal e no pode ser separado ou isolado do Colgio. O exerccio do primado
no se dirige por normas subjetivas ou arbitrrias, mas est vinculado a normas objetivas,
como o bem da Igreja, a Palavra de Deus, a Tradio eclesistica e dos Conclios Ecumnicos
e o ofcio episcopal.
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A COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
O Conclio Vaticano I (dez. 1869 - dez. 1870) definiu o Primado do Romano Pontfice
(Papa). Para aquele Conclio, o primado de Pedro continua nos seus sucessores. Juntamente
com o Primado, o Vaticano I definiu o Magistrio infalvel do Romano Pontfice, quando fala
ex cathedra, ou seja, no pleno exerccio de seu mnus de pastor e doutor dos cristos.
Interrompido repentinamente por causa da guerra franco-alem e da ocupao de
Roma em 1870, o Vaticano I no pode debruar-se sobre a doutrina do Episcopado, deixando
uma enorme lacuna que poderia levar a favorecer ainda mais o centralismo romano.
Entretanto, encontramos uma modesta abertura na Constituio Pastor eaeternus acerca do poder dos bispos, na qual a Constituio afirma que o poder do papa verdadeiramente episcopal e que no pode por obstculos ou prejudicar o poder dos bispos, mas o confirma.
Sem assumir o compromisso de ser simples continuidade do Vaticano I, o Conclio Vaticano II ocupou-se da teologia do episcopado, definindo sua sacramentalidade e
colegialidade.
A palavra Colegialidade no figura nos textos conciliares, mas compreende-se seu sentido a partir das noes de colgio, afeto colegial, unio colegial, solicitude por todas as
Igrejas etc.
O Conclio nos ensina que o Romano Pontfice, sucessor de Pedro, e os bispos,
sucessores dos apstolos, unem-se entre si semelhana de Pedro e dos demais apstolos que
formam um s colgio apostlico (LG III, 22a). Portanto, o Colgio Episcopal sucede ao
Colgio Apostlico (LG III, 22b). Enquanto o Papa sucede a Pedro, os bispos no sucedem a
um Apstolo em particular, mas so sucessores do Colgio Apostlico.
A compreenso da Colegialidade Apostlica deduz-se diretamente das Escrituras, do
carter colegial e comunitrio do ministrio apostlico como ministrio dos Doze. Quanto ao
paralelismo entre Pedro os outros Apstolos e Romano Pontfice os Bispos, sucessores dos Apstolos, Lumen Gentium no apela ao testemunho das Escrituras, mas a uma
disciplina muito antiga da Igreja. Desta forma, a Colegialidade Apostlica constitui o modelo para a Colegialidade Episcopal e as bases escritursticas daquela fornecem as bases
desta. A misso universal de Cristo se perpetua de modo perene nos bispos, sucessores dos
Apstolos. O Episcopado como colgio iuris divini (de direito divino) apresenta-se como
fundamento dogmtico da Colegialidade dos bispos.
Distingue-se entre: a) ao estritamente colegial, vivida por todo o Colgio Episcopal, de forma solene no Conclio Ecumnico ou fora dele. O exerccio do supremo
poder fora do Conclio, exercido pelos bispos espalhados pelo mundo, acontece de duas
maneiras: quando o Papa convoca os bispos para uma ao colegial ou quando aprova ou
aceita livremente sua ao conjunta; b) realizaes parciais da Colegialidade, fruto da ao de parte do Colgio Episcopal, como as Conferncias Episcopais, o Snodo dos Bispos, entre
outras instituies. Ambas as manifestaes de Colegialidade derivam do mesmo princpio
teolgico.
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REALIZAES PARCIAIS DA COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
A partir da teologia do Conclio Vaticano II, podemos distinguir entre a ao estritamente colegial, exercida pelo Colgio dos Bispos em comunho com o Papa (de forma solene no Conclio Ecumnico) e realizaes parciais da Colegialidade, vivida por parte do Colgio Episcopal.
Consideram-se as realizaes parciais como expresso autntica e verdadeira da
Colegialidade, no se confundindo o que o Conclio chama de afeto colegial com mero sentimento. Trata-se de Colegialidade autntica e no de segunda categoria.
Entre os instrumentos da Colegialidade encontram-se os Conclios Particulares e as
Conferncias Episcopais, compreendidos na sua realidade teolgica e no como organismos
meramente prtico-pastorais. Acrescenta-se ainda, o Snodo dos Bispos, institudo durante o
Conclio. Ambas as formas de Colegialidade tm a mesma base ontolgico-sacramental e a mesma fundamentao teolgica, ou seja, a raiz de toda Colegialidade est na legtima
ordenao episcopal.
Juntamente com os Conclios, Snodos Particulares, Snodos dos Bispos e
Conferncias Episcopais, outros organismos, como o colgio dos cardeais, a cria romana e
visitas ad Limina, favorecem a Colegialidade Episcopal.
SNODO DOS BISPOS
Fruto amadurecido no clima do Conclio, durante os debates em torno da
Colegialidade, o Snodo dos Bispos foi institudo pelo motu proprio de Paulo VI Apostolica
sollicitudo (15/12/1965). A ideia de sua criao surgiu durante as discusses do Decreto
Christus Dominus e do terceiro captulo da Constituio Dogmtica Lumen Gentium.
Configura-se como instituio permanente submetida autoridade papal, com
finalidade de prestar ajuda eficaz ao Supremo Pastor da Igreja. Sua tarefa consiste
basicamente em informar e aconselhar o Papa. Pode gozar de poder deliberativo quando
concedido pelo Romano Pontfice. As assembleias sinodais dividem-se em: geral,
extraordinria e especial.
At o presente, foram realizadas 24 Assembleias Sinodais (est previsto um Snodo
para 2012), assim distribudas:
a) No pontificado de Paulo VI: 5 Assembleias sinodais 4 Assembleias Gerais Ordinrias (1967, 1971, 1974, 1977) e 1 Assembleia Geral Extraordinria em 1969.
b) Joo Paulo II: 15 Assembleias sinodais 6 Assembleias Gerais Ordinrias (1980, 1983, 1987, 1990, 1994, 2001); 1 Assembleia Geral Extraordinria (1985) e 8
Assembleias Especiais (1980, 1991, 1994, 1995, 1997, 1998 (duas), 1999).
c) Bento XVI: 4 Assembleias Sinodais 2 Assembleias Gerais Ordinrias (2005 e 2008) e 2 Assembleias Especiais (2009 e 2010) [Est previsto o Snodo sobre a Nova Evangelizao
em outubro deste ano].
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CONCLIO VATICANO II: CONTINUIDADE OU RUPTURA?
Duas leituras podem ser feitas acerca do Conclio Vaticano II, iniciado h quase 50
anos atrs, em 11 de outubro de 1962: continuidade ou ruptura.
Os partidrios da continuidade dizem: O Conclio Vaticano II insere-se na grande
Tradio da Igreja, na histria dos 21 Conclios Ecumnicos. Outros argumentam que tal
Conclio seria continuao do Vaticano I, interrompido por causa da guerra franco-alem e da
ocupao de Roma em 1870.
Os partidrios da ruptura defendem que o Conclio Vaticano II inaugurou nova era na
histria da Igreja, rompeu com concepes tridentinas (ainda do Conclio de Trento sc.
XVI) e lanou a Igreja em novo momento histrico nunca antes visto na histria.
Com as devidas ressalvas, as duas leituras podem ser abordadas. De fato, o Conclio
Vaticano II no est isolado na histria, no um evento que caiu dos cus (embora seja
uma bno de Deus), no comeou do zero. Insere-se na histria dos 21 Conclios
Ecumnicos, porm apresenta novidades importantes para a Igreja.
Embora alguns papas pretendessem retomar o inacabado Conclio Vaticano I, Joo
XXIII deu um passo alm, convocando o Vaticano II. No se tratava de continuar o
Conclio anterior, mas estava sendo convocado um novo Conclio, inclusive com novo nome.
Algumas questes no abordadas pelo Conclio anterior, como a teologia do Episcopado,
deveriam ser abordadas pelo novo Conclio, mas outros assuntos, impensveis no passado,
estavam em pauta.
As ideias divulgadas pelo novo Conclio no brotaram do nada, so fruto de uma
evoluo, de uma longa caminhada e caracterizam ruptura com algumas concepes no
mais adaptadas ao tempo presente. Foi preciso ousadia, coragem e, sobretudo, muita abertura
ao Esprito para repensar a vida da Igreja, sua natureza e misso. Passos importantes foram
dados: o Povo de Deus considerado antes da Hierarquia; a doutrina da Colegialidade dos
bispos completando a doutrina do Primado do Romano Pontfice; a Igreja no limitada
Hierarquia, mas compreendida como Povo de Deus; a liturgia como ao de todo o povo; o
respeito s outras religies e liberdade religiosa; o reconhecimento da autonomia das
realidades terrestres, entre outros.
Compreende-se a Igreja no mais como Sociedade Perfeita, na qual se valorizam
seus aspectos institucionais e sua hierarquia somente, mas como comunho, mistrio e Povo
de Deus. Acontece verdadeira revoluo copernicana. Ou seja, assim como o mundo
compreendeu que a Terra no o centro do universo e o universo no gira ao seu redor, a
Igreja, sem deixar de ser Me e Mestra, apresenta-se como pobre servidora da humanidade,
convidando-nos a renunciar s pompas e aos ttulos, sendo sinal do Reino de Deus. O
Vaticano II apresenta a mesma Igreja de todos os tempos, mas com novo rosto e novas
perspectivas. Oferece um vinho novo que no pode ser guardado em odres velhos.
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VATICANO II DE UMA ECLESIOLOGIA JURDICA A UMA ECLESIOLOGIA SACRAMENTAL
A viso de Igreja anterior ao Conclio Vaticano II consistia basicamente em uma
eclesiologia jurdica, ou seja, concentrava maior preocupao com os aspectos exteriores e
jurdicos da Igreja. Esta era compreendida como sociedade perfeita e ao mesmo tempo uma
sociedade desigual [viso piramidal de Igreja]. Salientava-se o papel da hierarquia e dos
ministros ordenados, compreendidos como superiores aos leigos. Estes tinham um papel
passivo e, quando muito, eram colaboradores da hierarquia.
O Conclio Vaticano II, por meio do retorno s fontes, sobretudo bblicas e
patrsticas, desloca-se para uma eclesiologia sacramental [Igreja sacramento de salvao] e de
comunho, compreende a Igreja como mistrio e como Povo de Deus. Valoriza as diferentes
vocaes na Igreja e redescobre o papel do leigo. [1 cap. LG apresenta o Mistrio da Igreja]
Ao abordar o mistrio da Igreja, a Constituio Lumen Gentium apresenta sua
dimenso tendrica (LG I, 8), ou seja, analogamente ao mistrio do Verbo encarnado, a
Igreja uma s realidade, assembleia visvel e comunidade espiritual, provida de rgos
hierrquicos e Corpo Mstico de Cristo. No se considera a Hierarquia em funo de certa
superioridade em relao os leigos, mas como servidora deles e de toda a Igreja. O
Sacerdcio ministerial est a servio do Sacerdcio de todo o Povo de Deus.
A Constituio sobre a Igreja (LG) parte primeiramente da comum dignidade de todo
o Povo de Deus37
e somente depois aborda a constituio hierrquica da Igreja. Ela nos
lembra que os bispos, padres e tambm o Papa so membros do Povo de Deus e, ao mesmo
tempo, esto a seu servio.
[LG I O mistrio da Igreja/ LG II O Povo de Deus/ LG III A Constituio Hierrquica da Igreja e em especial o Episcopado/ Depois: os leigos (cap. IV), Vocao Universal Santidade (V), os religiosos (VI), ndole escatolgica da Igreja (VII), A Bem-aventurada Virgem Maria Me de
Deus no Mistrio de Cristo e da Igreja].
O retorno s fontes bblicas pode ser confirmado quando nos recordamos das palavras
do Cristo:
Quanto a vs no pemitais que vos chamem de Mestre, pois um s o vosso
Mestre e todos vs sois irmos. A ningum na terra chameis de Pai, pois um s o
vosso Pai, o celeste. Nem permitais que vos chamem de Guias, pois um s o
vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vs ser aquele que vos serve (Mt 23, 8-
11).
A Patrstica pode ser evocada, entre outros textos, por meio da clebre expresso de
So Gregrio Magno, ao definir sua misso como Papa: Servus servorum Dei (Servo dos
Servos de Deus).
37
Antes de abordar a Hierarquia (cap. III), LG (cap. II) aborda o Povo de Deus (que abrange todos os fiis, incluindo os membros da hierarquia). Em LG IV, 32c afirma-se textualmente que entre todos os membros do
Povo de Deus reina [...] verdadeira igualdade quanto dignidade e ao comum a todos os fiis na edificao do Corpo de Cristo.
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VATICANO II: UM CONCLIO PASTORAL?
Afirma-se, com freqncia, que o Conclio Vaticano II foi um Conclio Pastoral. Alguns, querendo desmerecer sua importncia, atribuem palavra pastoral um valor quase irrisrio como se o Conclio tivesse sido um simples encontro de bispos para discutir alguns
probleminhas da Igreja. Pelo fato de no ter definido dogmas nem condenado heresias, alguns se sentem no direito de no concordar com as orientaes do Vaticano II.
J afirmamos em artigos anteriores que o Papa que convocou o Conclio Joo XXIII no tinha inteno de propor dogmas ou realizar condenaes, embora, durante o Conclio, um grupo minoritrio tenha lutado pelo dogma da mediao universal de Nossa Senhora e
pela condenao explcita do comunismo. No estava em jogo preservar um museu ou uma pea de antiguidade, mas cultivar um jardim. Afirmava o Papa: o nosso dever no s vigiar este tesouro precioso como se nos preocupssemos unicamente com sua antiguidade,
mas o de dedicarmo-nos, com vontade determinada e sem temor, obra exigida por ele e
pelos tempos atuais, continuando desta forma o caminho que a Igreja vem fazendo h vinte
sculos.
Neste novo Conclio, o mtodo seria diferente. Em lugar da severidade das condenaes, seria aplicado o remdio da misericrdia. Esclarecendo o verdadeiro rosto da Igreja, no se apresentaria a doutrina em tom de condenao ou de ultimato. De acordo com o
continuador do Conclio Paulo VI seu objetivo seria: exposio da teologia da Igreja, sua renovao interna, empenho pela unidade dos cristos e o dilogo com o mundo
contemporneo.
Estavam em jogo outras preocupaes e motivaes, mais pastorais que simplesmente dogmticas. Evidentemente no se tratava de contrapor a pastoral teologia, mas era o momento de assumir o estilo do bom pastor como critrio para toda atividade da Igreja e seu ensinamento. A Igreja deveria ser situada perante o mundo no como
a grande inquisidora nem mesmo apresentando resposta pronta para todos os problemas, mas em atitude de dilogo. No seria a hora de impor, mas de propor o Evangelho e de discernir os sinais dos tempos. O Conclio caminhou em clima de dilogo, no obstante as
muitas tenses ocorridas nele. Todos os documentos foram aprovados pela quase
unanimidade dos membros. Aqueles que exigiam posicionamento mais srio, crtico e
dialogal encontraram maiores resistncias. Nenhum dos dois papas queria impor minoria a
opinio da maioria. No foi fcil chegar a um consenso.
Apesar de sua preocupao pastoral, o Conclio no deixou de discutir pontos importantes da doutrina e, ainda que no tenha proposto novos dogmas, soube apresentar a f
crist de maneira adequada s exigncias de seu tempo histrico. Re-props com maestria e extrema coragem a doutrina da Igreja, situando-a de uma maneira totalmente nova perante o
mundo. Fruto de um longo processo de renovao teolgica, fez justia a telogos cujas ideias
anteriormente foram vistas como suspeitas, ampliou os horizontes do dilogo ecumnico e
inter-religioso, resgatou o valor do sacerdcio comum a todos os fiis, contemplou as
diferentes vocaes do Povo de Deus. No desejo de voltar s fontes sobretudo bblicas e patrsticas soube lanar-se em direo a um futuro novo. Sem desprezar o passado, dialogou com as ideias do presente, tornando a Igreja mais credvel perante o mundo, retirando a
poeira e o mofo que se encontravam sobre a ela.
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PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS
NO CONCLIO VATICANO II - Parte I
Enquanto no Conclio de Trento (1545-1563) no houve participao brasileira e o Vaticano I
envolveu um nmero pequeno de bispos brasileiros, a maioria do nosso numeroso episcopado o
terceiro maior do mundo na poca esteve no Vaticano II.
O evento conciliar percorre as seguintes fases: anncio aos cardeais em Roma e aos cardeais do mundo todo (1959), fase antepreparatria (1959-1960) na qual se nomeou a Comisso antepreparatria e recolheram-se sugestes dos bispos do mundo inteiro , fase preparatria (1960-1962) com a formao das Comisses Preparatrias e as quatro sesses conciliares (1962-1965).
Na fase antepreparatria, 76% dos bispos brasileiros enviaram as sugestes, enquanto a
participao nas sesses conciliares foi superior. Por ocasio da primeira sesso, dos 204 prelados, 173
tomaram parte na abertura dos trabalhos conciliares, ou seja, quase 85%. Na ltima sesso o
percentual foi semelhante.
No houve contribuio relevante dos bispos brasileiros, por ocasio do envio de sugestes ao
Conclio. As respostas dos bispos brasileiros indicam que, entre a minoria ultraconservadora, liderada
por Dom Antnio de Castro Mayer e Dom Geraldo de Proena Sigaud (ambos ligados TFP) e os
bispos com pensamento mais avanado, como Dom Helder e prelados do Nordeste, havia o campo moderado majoritrio, expressando a opinio mdia do episcopado brasileiro, ainda ligado ao referencial clericalista e eclesiocntrico.
A participao do episcopado brasileiro na fase preparatria foi pequena. A Comisso
preparatria, majoritariamente europeia, romana e curial, contou com a participao de dez brasileiros:
quatro membros e seis consultores. Os membros brasileiros eram o cardeal Cmara, Dom Alfredo
Vicente Scherer, Dom Antnio Maria Alves de Siqueira e Mons. Joaquim Nabuco. Entre os
consultores estavam: Dom Helder, Dom Geraldo Fernandes Bijos, Dom Alfonso M. Ungarelli, Frei
Boaventura Kloppenburg, Pe. Estevo Bentia e Dom Jos Vicente Tvora. Verifica-se, porm, boa
articulao do episcopado brasileiro durante o Conclio, sobretudo por meio de Dom Helder Cmara.
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS
NO CONCLIO VATICANO II - Parte II
Durante o Conclio, o episcopado brasileiro teve participao modesta na Aula Concil