DIRETORIA DE EDUCAÇÃO. ENSINANDO A CRESCER
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Atos e Epistolas Paulinas
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia
ÍNDICE
Atos dos apóstolos...........................................................................................................................3
A literatura epistolar do Novo Testamento ...................................................................................15
Classificação das epístolas.............................................................................................................16
Primeiras epístolas.........................................................................................................................16
Epístolas da prisão.........................................................................................................................16
Ensaio sobre a vida de Paulo.........................................................................................................18
Epístola aos Romanos....................................................................................................................22
Síntese da teologia de Paulo..........................................................................................................25
Epístola aos Gálatas.......................................................................................................................29
Primeira Epístola aos Coríntios.....................................................................................................31
Segunda Epístola aos Coríntios.....................................................................................................35
Epístola aos Efésios.......................................................................................................................38
Epístola aos Filipenses...................................................................................................................41
Epístola aos Colocenses.................................................................................................................44
Primeira Epístola aos Tessalonicenses..........................................................................................48
Segunda Epístola aos Tessalonicenses..........................................................................................51
Carta A Filemom...........................................................................................................................53
Epístolas Pastorais.........................................................................................................................56
Primeira Epístola a Timóteo..........................................................................................................61
Epístola A Tito...............................................................................................................................69
Segunda Epístola a Timóteo..........................................................................................................75
Referencias bibliográficas..............................................................................................................79
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Atos e Epistolas Paulinas
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ATOS DOS APÓSTOLOS
Lucas inicia o livro de Atos do ponto onde deixou seu evangelho. Atos registra o
cumprimento inicial da grande comissão de Mateus 28.19-20, conforme delineia o princípio e o
crescimento da igreja. As últimas palavras de Cristo antes de sua ascensão foram tão
perfeitamente concretizadas no livro de Atos, que efetivamente esboçam seu conteúdo: “Ser-me-
eis testemunhas em Jerusalém (caps. 1 - 7), como em toda a Judéia e Samaria (caps. 8 – 12), e
até aos confins da terra (caps. 13 – 28)”, (1.8). Portanto, Atos traça a rápida expansão do
evangelho, começando em Jerusalém e difundindo-se por todo o Império Romano.
1. Autoria: De acordo com a tradição da igreja primitiva Lucas foi o autor do livro de
Atos. Assim sendo, Atos é a sequência do evangelho de Lucas.
As evidências internas do próprio livro confirmam a autoria Lucana. O livro tem início
com uma dedicatória a Teófilo, tal como sucede ao evangelho de Lucas ( At 1.1; Lc 1.1-3). O
uso frequente de termos médicos concorda com o fato de que Lucas era médico (Cl 4.14).
2. Data e local: Este livro foi escrito, provavelmente, em Roma por volta do ano 64 d.C.
3. Destino: O Livro de Atos, tal como o evangelho de Lucas, foi escrito para um oficial
romano de nome “Teófilo”, (1.1). Por conseguinte, o livro foi enviado a um membro da
aristocracia romana, que mui provavelmente residia em Roma.
4. Propósitos
4.1 – Embora existam quatro narrativas da vida de Jesus, este é o único livro que
dá seguimento à história, da Ascensão ao período das Epístolas do N.T. Portanto, Atos é
o elo histórico entre os evangelhos e as epístolas. Em virtude da forte ênfase de Lucas
sobre o ministério do Espírito Santo, este livro deve ser considerado de fato os Atos do
Espírito Santo de Cristo operando em e através dos apóstolos.
4.2 – Ênfase apologética. Mostrar que o cristianismo não é um ramo herético do
judaísmo, mas antes, uma elevação e melhoria do judaísmo, com raízes profundas no
mesmo, mas retendo apenas os elementos nobres e úteis, ficando rejeitados todos os seus
males, especialmente a apostasia para a qual havia decaído, como também o seu corpo
provincial.
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4.3 – Mostrar aos líderes romanos que o cristianismo não deveria ser temido e
perseguido, como ameaça ou movimento traiçoeiro ao estado romano. O cristianismo
merece confiança, apesar de ter se derivado do judaísmo.
4.4 – A intenção do autor de Atos é a de descrever a atividade de Deus, em Cristo,
orientada para a salvação da humanidade. Não pretende, contudo, constituir uma
descrição exaustiva de todos os acontecimentos que se deram no desenvolvimento da
Igreja primitiva.
4.5 - O propósito do evangelho de Lucas foi narrar a vida de Jesus, enquanto o
propósito central de Atos foi traçar o progresso do evangelho a partir de Jerusalém, onde
teve inicio o cristianismo, até Roma, a capital do império.
5. Chaves para Atos
5.1. Palavras-chaves: "Crescimento da Igreja".
5.2. Versículos-chave: (1.8; 2.42-47).
5.3. Capítulo-chave: (2). O capítulo dois de Atos registra um dos eventos mais
importante para a igreja, o derramamento do Espírito Santo no dia da festa de Pentecostes
cumprido as palavras de Jesus em 1.8. O Espírito Santo transformou um pequeno grupo
de pessoas na igreja do Senhor em uma igreja poderosa e militante divulgando a
mensagem do evangelho por todo o mundo.
6. O esboço desenvolvido em Atos:
I. ATOS 1-5 – A igreja primitiva em Jerusalém
1. O prefácio literário: 1.1-5
2. Narrativas preparatórias para o Pentecostes: 1.6-26
3. Pentecostes: cap. 2
4. Pregando o evangelho em Jerusalém: caps. 3 a 5
II. ATOS 6.1-13.33 – Os helenistas e o início da missão aos gentios
1. A escolha dos sete: 6.1-7
2. A história de Estêvão: 6.8-8.3
3. A missão em Samaria: 8.4-40
4. O interlúdio paulino: 9.1-31
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5. Pedro trabalha nas cidades costeiras: 9.32-11.18
6. Os helenistas chegam a Antioquia: 11.19-30
7. Término das narrativas em Jerusalém: cap. 12
8. A igreja de Antioquia envia os primeiros missionários à diáspora: 13.1-3
III. ATOS 13.4-15.30 – A primeira missão paulina e suas consequências
1. A primeira jornada missionária: 13.4-14.28
2. A conferência de Jerusalém: 15.1-35
IV. ATOS 15.36-21.16 – A missão grega de Paulo
1. A primeira missão paulina em território grego: 15.36-18.22
2. A segunda missão paulina em território grego: 18.23-21.16
V. ATOS 21.17-28.31 – A estrada para Roma
1. Em Jerusalém: 21.17-23.25
2. Em Cesaréia: 24.1-26.32
3. A viagem para Roma: 27.1-28.16
4. Paulo em Roma: 28.17-31
7. Peculiaridades de Atos:
7.1. A Questão literária: Atos e Lucas contêm a redação grega mais culta de todo
o Novo Testamento. Alguns eruditos têm afirmado que os discursos e sermões de
constantes em Atos são criações literárias improvisadas pelo próprio Lucas. Embora não
tenha transmitido necessariamente palavra por palavra, os discursos e sermões que
historiou, nos brinda com o cerne apurado do que fora dito.
7.2. O Material Histórico: Lucas se valeu de suas próprias memórias sempre que
possível. Tudo indica que ele foi registrando os acontecimentos em seu diário, à
proporção em que se desenrolavam. Certamente, obteve informações de Paulo e dos
cristãos de Jerusalém.
Também havia à disposição informes escritos, como o decreto do Concílio de
Jerusalém (veja Atos 15.23-29), e outros documentos relatando os primeiros eventos do
cristianismo em Jerusalém e vizinhança.
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7.3. Exatidão histórica do material: As descobertas arqueológicas têm
confirmado a exatidão histórica de Lucas. Por exemplo: sabe-se que o uso que Lucas fez
dos títulos de vários escalões de oficiais locais e governantes de províncias tais como:
procuradores, cônsules, pretores, politarcas, asiarcas, e outros se mostram corretos.
8. Restrições: Não se diz nada a respeito da expansão da igreja para o Sul e para o Leste
da Palestina se bem que deve ter havido cristãos no Egito e na Ásia. Havia crentes em Damasco
antes da conversão de Paulo, mas não nos é dada qualquer descrição do progresso da Igreja lá.
A principal narrativa de Atos se ocupa da missão que levou o evangelho para o Norte,
através de Antioquia para a Ásia Menor, e daí para a Macedônia, Acaia e Roma.
As razões prováveis dessa restrição é que o escritor estava bem relacionado com aquele
aspecto de expansão do cristianismo. O seu propósito era instruir o seu leitor na certeza do
evangelho. A continuidade deste evangelho desde Jesus por meio dos discípulos, até aquela hora
em que ele escrevia, precisava ser demonstrada.
9. O período cronológico abrangido: Vai desde a crucificação de Cristo, em cerca de
(29 d.C) até o fim da prisão de Paulo em Roma (60 d.C). Durante esse período inicial da Igreja,
ela fora denominada como: “O Caminho” (9.2) e “Seitas dos Nazareno” (24.5)
A pregação de Estevão deu origem a uma violenta reação da parte dos dirigentes judaicos
e a consequente dispersão dos discípulos forçou os religiosos a procurarem outros campos de
ação. Seguiu-se, então, a evangelização de Samaria, de Antioquia e do mundo gentílico em geral.
A missão dos gentios (11.9; 28.31) teve início a fundação da Igreja de Antioquia. Foi ali
que os discípulos foram chamados pela primeira vez de “cristãos”. Eram conhecidos como um
grupo independente que conservava uma nova qualidade de fé (11.26).
A Igreja de Antioquia tornou-se um centro de ensino e foi dela que saiu a primeira missão
aos gentios. Em Antioquia houve a batalha pela liberdade dos gentios, que veio posteriormente
culminar na decisão do concílio de Jerusalém.
10. O programa de Paulo:
O programa de Paulo descrito em Atos 15.35; 21.14 ilustra o desenvolvimento da Igreja.
A grande resposta a esse programa veio dos prosélitos gentios, dos pagãos e das igrejas que
Nota: O livro de Atos não é apenas uma história de dado período da Igreja, é um exemplo de explicação e administração de uma Igreja firmada sobre os princípios que o Espírito Santo ministra.
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surgiram no departamento provocado pela sua missão, que tinham membros tanto judeus como
gentios. Em várias ocasiões, Paulo declarou que estava voltado em sua mensagem para os
gentios (13.46), (18.6), (19.9-10), (21.19), (26.20-23) (28.29).
Outro episódio desse programa Paulino, é que a rejeição da mensagem pelos judeus
confirmou sua chamada como “apóstolo aos gentios” (26.16-28), acelerou o crescimento da
Igreja independente da sinagoga e fez com que fosse distinguido o judaísmo do cristianismo.
A relação do cristianismo com o governo romano descrita desde a sua origem até o tempo
em que Paulo foi ouvido em Roma. Visto que o escritor era amigo de Paulo e seu companheiro
na viagem para Roma, quando Lucas se esforça para provar ao leitor (Teófilo) que o cristianismo
não era nenhuma fonte de perigo político, e sim tratava de um movimento espiritual.
11. A Teologia de Atos dos Apóstolos
11.1 – A atuação de Deus. A História narrada no livro, que conta a expansão do
evangelho e da igreja, não é somente um relato histórico, mas é a apresentação das ações
de Deus que acompanham a sua intervenção na história humana. Isto vem desde o AT,
passando pelos evangelhos com Jesus Cristo até a época da igreja, através da atuação do
Espírito Santo. Os acontecimentos descritos são realizados de acordo com a vontade de
Deus (2.23; 4.27-29) e a vida da igreja é o resultado da direção de Deus (13.2; 15.28;
16.16).
11.2 – A Centralidade de Jesus. A ênfase nos diversos aspectos da obra de Jesus
Cristo em nosso favor, demonstram que Ele era o ponto central da proclamação antiga. A
ressurreição, a ascensão, a glorificação e a sua volta, como Senhor e Juiz (2.32-36; 3.20,
26; 17.29-31; 26.22-23), são declaradas e afirmadas como crença básica da igreja. Jesus
sempre foi e deve continuar sendo o centro da proclamação da verdadeira igreja.
11.3 – A Maneira da salvação. A Salvação somente pela fé, através da graça
divina, sem necessidade de cumprir antigos preceitos e requisitos da Lei Mosaica; esta foi
a conclusão a que os apóstolos chegaram no primeiro concílio da igreja (veja o cap. 15).
11.4 – A Igreja, o Povo de Deus. Foi vivida e proclamada a verdade de que a
Igreja é o novo povo de Deus, formado por pessoas de todas as nações, onde as barreiras
são eliminadas, já não há mais separação entre gentios e judeus, entre mulheres e homens,
pois todos são um em Cristo Jesus (cf. 10.1 – 11.18).
11.5 – Cristologia. O Salvador ressurreto é o tema central dos sermões e defesas
em Atos. As Escrituras do Antigo Testamento, a ressurreição histórica, o testemunho
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apostólico e o poder convincente do Espírito Santo, tudo testifica que Jesus é o Senhor e
o Cristo (cf. 2.22-36; 10.34-43). “Em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos” (4.12).
12. A Importância de Atos.
12.1 – Em Atos dos Apóstolos, temos a história da igreja cristã antiga, indicando-
nos sua funcionalidade no cumprimento da missão estabelecida pelo Senhor.
12.2 – O papel e destaque do Espírito Santo deve ser por nós considerado, pois,
assim como ele atuou com criatividade no início da igreja cristã primitiva, se lhe
concedermos liberdade em nossas vidas e igrejas, a etapa da história da igreja que hoje
escrevemos será também marcada pela sua maravilhosa atuação.
12.3 – Atos dos Apóstolos é um livro que enfatiza a pregação, o ensino e
exposição da Palavra de Deus. Ele contém mais de vinte palestras, sendo a grande
maioria de Pedro e de Paulo, revelando-nos a importância que devemos dar a exposição
das Escrituras. Numa época em que as pessoas procuram mensagens segundo os seus
interesses, é imprescindível voltarmos à prática da pregação apostólica antiga.
12.4 – Atos dos Apóstolos é um livro que relata muitas perseguições, desde a
primeira, contra os apóstolos Pedro e João (cap. 4) até o aprisionamento de Paulo (cap.
21). Numa época em que as perseguições contra a igreja cristã ocidental não são tão
visíveis, devemos estar atentos, observando o exemplo dos primeiros cristãos, pois, a
qualquer momento, o ódio do mundo contra os cristãos pode se transformar em
perseguições contra a igreja, como já acontece em muitas regiões do mundo.
12.5 - Em Atos, encontramos o plano de Deus para a Igreja: pregar o evangelho
para todo o mundo; o poder do Espírito Santo para a Igreja capacitando-a para a
evangelização; a pessoa de Jesus Cristo para a Igreja como o centro da proclamação e o
seu Senhor.
A) O NASCIMENTO DA IGREJA
Embora os primórdios da Igreja retrocedem até antes da escolha dos doze, o pentecostes
assinala a data do nascimento da Igreja. A vinda do Espírito Santo foi o cumprimento da
Somente através do estudo do livro de Atos dos Apóstolos podemos nos certificar dos
detalhes da ação divina na origem e no desenvolvimento da Igreja.
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predição de João, (Lc 3.15-16) e da promessa de Jesus (Lc 24.49). Pedro afirmou ser o
cumprimento da profecia de Joel, (Joel 2.16-21) e a prova da ressurreição de Cristo (2.32-36).
Este acontecimento fundiu os crentes num grupo, dando lhes a unidade que antes não tinham e
deu-lhes a coragem para enfrentarem os perigos da perseguição, (2.4), (4.8-31), (6.8-15). "A
igreja nasceu no dia de Pentecostes quando o Espírito Santo foi derramado sobre o pequeno
grupo de discípulos de Jesus Cristo, constituindo os o núcleo do corpo de Cristo. Os discípulos
antes do Pentecostes devem ser considerados apenas o embrião da igreja. A igreja (Gr. ekklesia)
não é para ser vista apenas como uma comunhão humana, resultado de uma fé e experiência
religiosa comum. É isso, porém mais do que isso: é a criação de Deus através do Espírito Santo.
O Espírito veio primeiro aos crentes judeus, depois aos samaritanos e daí aos gentios, e
finalmente a um pequeno grupo de discípulos de João Batista. Essas quatro vindas do Espírito
Santo marcam os quatros passos estratégicos na extensão da igreja e ensinam que há uma só
igreja, na qual todos os convertidos, tanto judeus, samaritanos, gentios ou seguidores de João
Batista são batizados pelo mesmo Espírito" (Ladd p. 327).
A pregação, durante os tempos primitivos era centralizada na vida e na ressurreição de
Jesus. Os sermões de Pedro e Estevão que estão registrados eram de caráter apologético. Assim
sendo, a pregação apostólica era fortemente bíblica no seu conteúdo. As partes fundamentais
dessa pregação eram:
• A necessidade de crer no messias ressuscitado.
• O arrependimento individual e nacional.
• A recepção do Espírito Santo (2.38).
• A mensagem era acompanhada de doutrinação, de sorte que na pregação aumentava o
número de discípulos, mais estes ficavam unidos pelo conhecimento e pela ação comum
(2.42).
1. Organização de dirigentes.
A Igreja de Jerusalém não era um grupo altamente organizado, com propriedade e com
um forte sistema eclesiástico. Os apóstolos, devido sua funções de pregação e de ensino, eram os
responsáveis espirituais, não dando muita atenção às questões administrativas. Daí surgiram as
reclamações (6.1) sobre o fato das viúvas dos judeus helenistas serem negligenciadas na
distribuição do sustento diário. Por isso, os apóstolos sugeriram a nomeação de homens com
qualidade para administrarem essas atividades da Igreja, (6.5).
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2. O chamado “comunismo primitivo”
Esta espécie de comunismo praticado pela Igreja primitiva com redistribuição de bens
para benefícios dos pobres (2.45), (4.34-35) não foi feito com propósito de ser estabelecido como
sistema político ou religioso. Não há registro de que essa prática fosse mantida em outras Igrejas,
embora o auxílio aos pobres fosse uma prática geral. Na verdade, era um tratamento de
emergência dada a muitos pobres que havia na comunidade de Jerusalém.
3. A questão da realização dos cultos: Os cultos eram bem simples, realizavam-se tanto
no Templo como em casas particulares (2.46), onde havia ensino, acompanhado pelo partir do
pão e pela oração.
4. Os dirigentes do período primitivo: Pedro, Tiago e João.
4.1. João foi o menos proeminente, mencionado apenas como companheiro de
Pedro.
4.2. Pedro foi um pregador que dominava a cena. Fez o discurso de abertura no
dia de Pentecostes (2.14-36). Defendeu a posição dos crentes perante o Sinédrio, quando
ele e João foram acusados (4.5-8). A coragem e o poder espiritual de Pedro contrastavam
de forma tremenda com a fraqueza da sua negação.
4.3. Estevão foi um dos sete nomeados para o trabalho de administrar as
necessidades dos pobres da Igreja. Foi um bem sucedido apologista da Igreja primitiva,
poderoso em palavras e por causa da inveja e dureza de coração dos religiosos acabou
sofrendo logo cedo o martírio (7.1-53).
5. A primeira dispersão: Com a morte de Estevão, o movimento cristão centralizado em
Jerusalém, foi disperso pela Judéia e Samaria. Essa dispersão veio gerar vários trabalhos
missionários, alguns dos quais são descritos em (8.4-11.18).
Apesar disto, a igreja fortemente caracterizada pelo judaísmo, conservava algumas
observâncias da Lei (15.1; 21.17-26).
B. O EVANGELHO AOS GENTIOS
1. A pregação em Samaria
Dos sete que foram nomeados para administrarem as necessidades das viúvas da Igreja de
Jerusalém, dois se destacaram:
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Estevão: que se tornou um apologista;
Felipe: que se tornou um evangelista.
Expulso de Jerusalém, Felipe foi a Samaria, onde inaugurou uma campanha de pregação.
Samaria era habitada por uma população de ascendência mista.
1.1. A história de Samaria
Quando o reino do Norte (Israel) caiu perante os assírios em (722 a.C.), muitos
dos seus habitantes foram deportados para Assíria e substituídas por colonos de outras
terras. Desta mistura saíram afetados tanto o sangue como o culto judaico (II Rs 17.24-
33)
No tempo de Esdras e Neemias, Samaria conservava uma soberania separada (Ne
4.1-8) que se tornou rival do povo escolhido estabelecido na Judéia (4.20-22)
A tensão era tão forte entre judeus e samaritanos que os judeus tinham de viajar
entre a Judéia e a Galiléia evitavam a passagem por Samaria, fazendo a travessia pelo rio
Jordão indo pelas estradas às margens orientais desse rio.
1.2. A pregação em Samaria um ato de coragem
A pregação de Felipe aos samaritanos foi, portanto, um ato surpreendente da parte
de um judeu. Este ato dele revelou a sua visão do evangelho aos outros povos. A missão
de Felipe foi fortalecida pela ajuda de Pedro e João que visitaram Samaria para verem o
que tinha sido e terem certeza de que os samaritanos tinham recebido o Espírito Santo.
2. A conversão de Paulo
O ministério de Felipe ilustrava as passagens da Igreja às novas localidades e novos
grupos. Depois do ministério de Jesus, a conversão de Saulo é o acontecimento mais importante
da história do cristianismo, porque não apenas liquidou um inimigo ativo do evangelho, como
também o transformou num dos seus principais pregadores.
O apóstolo Paulo nasceu de uma família hebraica no começo do primeiro século. A sua
cidade nativa era Tarso, uma movimentada metrópole na Cilícia. A universidade de Tarso era
Nota: o livro de Atos descreve quatro ocasiões em que o Espírito santo veio ao homem de
uma maneira espetacular: Aos discípulos no Pentecostes (2.1-4); Aos samaritanos (8.17);
Aos gentios na casa de Cornélio (10.44-46), os discípulos de João em Éfeso (19.6). Cada
um destes representa o Espírito Santo agindo em diferente classes de pessoa.
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famosa por seus cursos de Filosofia e Medicina. Lá existia o templo de Esculápio, deus da
medicina, servia como hospital e de clínica aos estudantes de medicina.
Não se sabe se Paulo frequentou essa universidade, mas uma coisa é certa, dificilmente
poderia fugir à influência da universidade.
2.1. Educação
Foi educado nos moldes estritamente judaicos, quando aprendeu a língua hebraica
e as Escrituras, sendo ensinada também a arte de fazer tendas(18.3). Foi familiarizado
com o aramaico, que falava provavelmente em sua casa, e com o grego, a língua de
Tarso. Quando Paulo tinha doze anos, foi enviado para Jerusalém, afim de estudar com
Gamaliel. Ele mesmo deu testemunho de que fez grandes progressos nos estudos, (Gl
1.14).
2.2. Religião:
Por convicção era fariseu e seu zelo se mediu pela intensidade com que perseguia
a Igreja (At 26.9-11). Após sua conversão, ficou cheio do Espírito Santo para sua nova
tarefa (9.10-19). Seu ministério começou imediatamente em damasco. Em Gálatas, fez
referências à sua visita a Arábia por esse tempo (Gl 1.17).
A nova fé de Paulo, levou-o a um conflito com seus anteriores colegas judaicos
em Damasco (9.23), e para sua segurança foi obrigado a fugir da cidade.
Em Jerusalém, não foi aceito pelos discípulos de imediato. Olhavam-no com
desconfiança. Mas sob o apadrinhamento de Barnabé, foi recebido no meio apostólico
(9.27).
2.3. Sua Missão aos gentios:
De acordo com esses testemunhos (9.15), (22.21), (26.17), (Rm 15.16; 2.7-8; Ef
3.1-7), Paulo foi escolhido como apóstolo aos gentios.
3. A pregação de Pedro. A conversão de Paulo e sua chamada aos gentios muito
contribuiu nesse período de transição, quando o evangelho deixava de ser exclusividade dos
judeus.
A conversão de Paulo provocou a transição da Igreja judaicocêntrica de Jerusalém para a
Igreja gentílica do mundo romano.
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3.1. A conversão de Cornélio. Um caso importante desse período foi a salvação
de um centurião romano chamado Cornélio que tinha um comando de um destacamento
militar em Cesaréia. A direção divina conduzindo Pedro à casa de Cornélio é importante
na história de Atos, por duas razões: (1) indicava que a salvação não se limitava apenas
aos judeus; (2) os gentios tinham o direito de ouvir a mensagem de Cristo. A conversão
de Cornélio abriu definitivamente as portas para levar os gentios para dentro da Igreja.
Pedro inicialmente resistiu à ordem de Deus em participar desse programa de
transição missionária (10.14), (11.7-12). Mas felizmente Pedro obedeceu a voz do
Senhor, que não faz acepção de pessoas (10.48). A conversão de Cornélio e de sua
família foi tão convincente que Pedro levou-os ao batismo e aceitou-os na comunhão da
Igreja (10.44-48)
4. O início das Controvérsias
A conversão de Cornélio e sua família gerou na Igreja judaica uma questão que se tornou
à partir daí um ponto de controvérsia por muito tempo. Eis as questões que surgiram para
debates:
• Deveria um cristão comer com gentio incircunciso que não observam a Lei?
• Se os gentios se tornarem crentes, até que ponto deveriam eles observar a lei?
• A observância da Lei era o critério final de retidão ou de uma relação reta com Deus?
Esse período de transição foi impulsionado pelo espírito Santo (10.19). Esplanada pela
pregação dirigida pelo Espírito (10:43). Confirmada quando o Espírito desceu sobre os crentes
gentios (10.44; 11.15-18).
C. A IGREJA DOS GENTIOS
1. A Igreja de Antioquia
1.1. Histórico da cidade. Antioquia foi fundada por Seleuco Nicator no ano (300
a.C), sob o governo dos primeiros seleucidas. Antigamente a cidade era grega, porém
mais tarde os Sírios se instalaram. Sob o governo romano, Antioquia prosperou, porque
era a passagem militar e comercial para o Oriente.
O movimento missionário a favor dos gentios começou com o
estabelecimento da Igreja de Antioquia da Síria. A fundação dessa Igreja fez parte
da expansão que se deu no período de transição
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1.2. A fundação da Igreja em Antioquia
Essa Igreja foi organizada pouco depois da morte de Estevão, provavelmente entre
os anos (33-40 d.C). A Igreja de Antioquia foi importante porque tinha certas
características distintas. Foi a mãe de todas as Igrejas gentílicas. Foi dela que partiu a
primeira missão reconhecida para o mundo que estava por evangelizar. Em Antioquia
começou a primeira controvérsia sobre a posição legal dos crentes gentios. Foi o centro
onde os dirigentes da Igreja se reuniram. Ela distinguiu-se também pelos seus
pensamentos (At 13.1) O fato mais saliente desta igreja era o seu testemunho (11.26).
1.3. O crescimento da Igreja
Por volta do ano 46, a Igreja de Antioquia tinha se desenvolvido de modo a
construir um grupo estável e ativo. Era uma igreja instruída na fé. Os irmãos de Antioquia
gozavam de uma boa reputação. Tinham apadrinhado uma expedição de auxílio a
Jerusalém, a qual levou a sua contribuição para aqueles que estavam a sofrer por causa da
fome. Foi nessa Igreja que Barnabé e Paulo foram consagrados e enviados na primeira
viagem missionária.
2. O Concílio de Jerusalém
A Igreja gentílica teve um rápido crescimento devido à missão de Paulo e Barnabé, tendo
que encarar a questão da observância da lei, impostas pelos cristãos judeus. O debate de Pedro
com os cristãos judeus em Jerusalém foi um dos primeiros sintomas da tensão existente.
Mas quando Pedro contou que o Espírito Santo havia descido sobre os gentios, os cristãos
judaicos admitiram que os gentios pudessem realmente ser salvos (11:18). Os judeus, por outro
lado continuava exigindo que os cristãos gentios pelo menos fossem circuncidados, afirmando
que era um sinal de aliança (Gn 17.9-14). Que a significação desse sinal era aplicada à vida
interior mesmo sobre a lei, que fala da circuncisão do coração (Dt 10.12-16)
2.1. Paulo e Barnabé enviados pela Igreja de Antioquia ao Concílio de
Jerusalém
Isto foi necessário dada a importância da questão. Paulo e Barnabé apresentam um
relatório completo de seu vitorioso trabalho entre os gentios. No Concílio, a oposição
vinha sempre de um grupo de fariseus.
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Daí seguiu-se uma discussão livre em que participavam os dois lados. Dos
resultados obtidos, Lucas mandou três deliberações decisivas. A fala de Pedro teve muita
influência porque falou como dirigente da Igreja de Jerusalém e como um que já tinha
experiência dos aspectos práticos da questão. Pedro salientou que:
a) Era escolha de Deus que os gentios pudessem ouvir a mensagem do Evangelho
(15.7);
b) Que o Espírito Santo tinha sido derramado sobre os gentios sem qualquer
discriminação (15.8);
c) Que a lei cerimonial foi um jugo que os próprios judeus não puderam suportar
(15.10);
d) Que a salvação se alcançava pela graça, quer se tratasse de judeus, quer se
tratasse dos gentios (15.11).
2.2. A fala de Paulo e Barnabé.
Eles descreveram o trabalho entre os gentios salientando os “milagres e prodígios”
que tinham sido realizados (15.12), sustentaram em sua argumentação que Deus
abençoou sua missão, porque aprovou os seus métodos.
2.3. A palavra proferida por Tiago.
Tiago como moderador do Concilio salientou o argumento de que Deus tinha a
intenção de salvar os gentios, que o haviam de seguir, fazendo três recomendações: Que
os gentios se abstivessem de certas práticas, tais como: a idolatria, a fornicação, comer
carne de animais sacrificados e comer sangue. Foram escolhidas estas regras mais como
base de comunhão do que como plataforma ética.
1. A literatura epistolar do Novo Testamento
Vinte e um dos vinte e sete livros que formam o Novo Testamento pertencem ao gênero
epistolar.
São cartas escritas com a finalidade de dirigir, aconselhar e instruir nos seus primeiros
desenvolvimentos das igrejas recém-formadas ou para ajudar os responsáveis por pastoreá-las e
administrá-las.
No livro de Atos dos Apóstolos, se relata como a fé cristã começou a propagar-se pela
Palestina, Ásia Menor e diversos pontos da Grécia, nos anos que se seguiram à ascensão do
Senhor. A rapidez dessa expansão veio, muito cedo, revelar que o trabalho missionário não se
reduzia a promover pequenos grupos de crentes em diversos lugares, mas exigia, também,
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manter com as novas comunidades um relacionamento vital que contribuísse para edificá-las
espiritualmente e para orientar a sua conduta de acordo com os preceitos da sua fé em Cristo.
Como conseqüência de tal necessidade, o anúncio do evangelho, basicamente oral no princípio,
teve de ser suplementado não muito tempo depois pela comunicação por carta. Isso tornou
possível aos pregadores continuar o seu labor de extensão missionária sem por isso abandonar a
atenção às igrejas já estabelecidas.
As epístolas, como os demais livros do Novo Testamento, estão escritas em grego, o que
não significa que o estilo literário epistolar estivesse especialmente difundido no mundo grego da
época. Mas era um estilo muito difundido entre os romanos, que fizeram uso normal do correio
como instrumento idôneo para vincular a metrópole com as ligações políticas e militares de
serviços nas províncias do Império.
Quanto ao que se refere à Israel, o Antigo Testamento conservou o texto de algumas
cartas importantes (cf. 2Sm 11.15; 1Rs 21.9-10; Ed 4.11-16; 4.17-22; 5.6-17; Ne 2.7-9 6.6-7; Jr
29.1-29). O Novo Testamento, além das epístolas que compõem o cânon, inclui a cópia de outras
duas nos livros de Atos (15.23-29 e 23.26-30), além das sete dirigidas às igrejas da Ásia Menor
(Ap 2-3).
2. Classificação das epístolas
De acordo com certas características comuns, podemos agrupar as epístolas do Novo
Testamento do seguinte modo:
2.1. Epístolas paulinas (13):
a) Primeiras epístolas: 1Tessalonicenses e 2Tessalonicenses (alguns a consideram
posterior).
b) Grandes epístolas: Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios e Gálatas.
c) Epístolas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
d) Epístolas pastorais: 1Timóteo, 2Timóteo e Tito.
2.2. Epístola aos Hebreus (1)
2.3. Epístolas universais (7):
Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas.
O título que recebe cada grupo está inspirado no tema ou propósito geral das cartas que o
integram ou nas circunstâncias que rodearam a sua redação. Alguns dos títulos se explicam por si
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mesmos e não precisam de maiores comentários porém, nos seguintes casos, convém fazer
algum esclarecimento:
Primeiras epístolas: É uma epígrafe que faz referência à época em que foram
compostas. Não somente se considera que são os escritos mais antigos do apóstolo Paulo, mas
também de todo o Novo Testamento.
Grandes Epístolas: Entre elas está incluída a de Gálatas apesar da pequena extensão do
texto. A razão está no seu estreito parentesco com Romanos, o que requer considerá-las
juntamente.
Epístolas da prisão: Quando Paulo redigia estas cartas encontrava-se preso em algum
lugar que não se conseguiu determinar. Muitos pensam que se tratava de Roma outros sugerem
Éfeso. Entretanto, na realidade, nem sequer se pode afirmar com certeza que as quatro epístolas
tenham sido escritas de uma mesma prisão.
Epístolas pastorais: Correspondem a um tempo em que o Cristianismo, tendo já
progredido na fixação da doutrina e na elaboração da estrutura eclesiástica, precisava ordenar
administrativa e pastoralmente a sua vida e o seu trabalho.
Epístolas universais (ou gerais): Começou a se aplicar este título no séc. II, quando
ainda estava se formando o cânon dos livros do Novo Testamento. Significa que as sete cartas do
grupo (exceto 2Jo e 3Jo, que foram incluídas aqui por seu parentesco com 1Jo) não são dirigidas
a um destinatário determinado, mas aos crentes em geral.
3. Características do gênero epistolar
A estrutura literária das epístolas apostólicas não é uniforme. Inclusive algumas delas
(Hebreus e Tiago) parecem mais sermões ou tratados doutrinais, aos que, por alguma razão
pastoral, agregou-se algum aspecto de caráter epistolar (como o cap. 13 de Hebreus ou o começo
de Tiago).
As cartas que, com maior propriedade podem assim chamar-se, respondem em termos
globais ao modelo clássico romano, que consistia em:
a) uma saudação inicial, precedida da apresentação do autor e a indicação do destinatário;
b) o texto ou o corpo da carta propriamente dito;
c) a despedida, que incluía saudações de pessoas conhecidas do autor e do receptor e
saudações para essas pessoas.
Os autores cristãos modificaram, em certas ocasiões, esse modelo de carta em alguns dos
seus detalhes. Paulo, p. ex., no lugar da característica saudação inicial romana "Saúde", introduz
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no começo de quase todas as suas epístolas uma expressão mais complexa, que dá testemunho da
sua fé:
"Graça a vós outros e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (cf., p.
ex., Rm 1.7).
Essas palavras vão normalmente seguidas de uma ação de graça ou de uma oração em
favor dos destinatários da carta. Do mesmo modo, a despedida não se limita ao simples e frio
"Saúde", que lemos, p. ex., na carta do tribuno Cláudio Lísias ao governador Félix (At 23.30),
mas freqüentemente inclui, junto às saudações pessoais, uma exortação, bênção ou doxologia,
que é como uma afirmação final da sua fé, com a qual o autor encerra os seus escritos.
4. Redação das epístolas
Na época em que surgiram as epístolas neo-testamentárias era prática habitual que o autor
ditasse o texto a um assistente. É muito provável que Romanos tenha sido ditada pelo apóstolo
Paulo a um crente que se identifica a si mesmo como "Tércio, que escrevi esta epístola" (Rm
16.22).
Em certas ocasiões, o autor não se valia de um escrevente, mas de um autêntico
secretário, que, uma vez informado dos assuntos a tratar, se encarregava de compor e redigir a
carta do princípio ao fim. Em qualquer caso, também era comum que, ao término do escrito, o
próprio autor acrescentasse, de próprio punho, o seu nome e umas poucas palavras de saudação
(cf. 1Co 16.21 Gl 6.11 e, talvez, 1Pe 5.12).
Também freqüentemente sucedia que um livro, cujo autor queria oferecer o pensamento
ou os ensinamentos de um personagem de reconhecido prestígio, era publicado com o nome
desse último, sem se importar se ainda estava vivo ou já havia morrido. Em tais casos de nome
ou título figurado, o autor, evidentemente, permanecia anônimo. Alguns estudiosos pensam que
esse procedimento, admitido nos usos literários da antigüidade hebraica, grega e latina,
possivelmente tenha sido introduzido em certas ocasiões no Novo Testamento. Entretanto, seja
como fosse, a autoridade das Escrituras, suporte da fé cristã e norma da vida e da conduta do
povo de Deus, em nada ficou por isso depreciada.
ENSAIO SOBRE A VIDA DO APÓSTOLO PAULO
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Atos e Epistolas Paulinas
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“Eu sou judeu, nascido em Tarso, na província romana de Sicília, cidadão de uma cidade
de algum renome. Fui criado e educado na mais estrita fidelidade aos princípios e normas do
Judaísmo. Coube-me a venturosa sorte de nascer no seio de uma família a que fora outorgada a
cidadania romana, e ufano-me particularmente desse privilégio. Eduquei-me na cidade de
Jerusalém, aos pés do famoso mestre Gamaliel, na acurada observância da Lei de nossos pais, tal
como é interpretada pelos fariseus. Era tão zeloso das tradições do meu povo que em breve
progredi muito mais na minha fé religiosa do que a maioria dos meus conterrâneos. Poderia até
saber-se mais de ser quase irrepreensível na minha obediência à Lei do Antigo testamento”.
1. A VIDA DO APÓSTOLO PAULO
1.1. Antes da conversão. Embora alguns aspectos da vida de Paulo são muito
conhecidos, não temos muita informação no período concernente ao seu nascimento até o
aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos. Provavelmente houve dois
períodos nesta fase da vida de Paulo: infância em Tarso e juventude em Jerusalém. Não
se sabe ao certo o período de sua mudança para Jerusalém, entretanto, sabe-se que desde
jovem Paulo se torna estudante. Também, “porque se esperava que todo estudante da Lei
judaica, além de dedicar-se aos estudos, aprendesse uma profissão manual”, Paulo
aprendeu a fabricar tendas, o que mais tarde foi de grande valor para o desenvolvimento
do seu ministério.
Quanto ao seu nome: Saulo ou Paulo (quando foi chamado por Jesus). Saulo era
um nome judeu, enquanto Paulo, um nome grego. Muitos acreditam que Paulo já tinha os
dois nomes, antes de seu encontro com Jesus, devido sua dupla nacionalidade.
Quando foi enviado a Jerusalém, tornou-se discípulo de Gamaliel, “neto e
sucessor do grande rabi Hillel” , que pertencia a uma escola mais avançada e liberal
dentro do judaísmo. O interessante no desenrolar de Paulo e sua influência recebida por
Gamaliel é o fato que ocorre no livro de Atos 5.34-39, quando, de alguma forma,
Gamaliel parece amenizar a perseguição sofrida pelos cristãos. Paradoxal é que seu
discípulo, Paulo, a partir de Atos 7.60-8.1-3, persegue ferrenhamente os cristãos.
Acredita-se que, mais por influência de sua família do que por influência de Gamaliel é
que, “com seus próprios termos, só pode ser chamado como um rígido fariseu”.
1.2. A caminho de Damasco. Essa experiência registrada em três diferentes
lugares do livro de Atos demonstra sua importância, não só na vida do apóstolo, mas em
toda a história da Igreja primitiva. “Apesar de não existir evidência de que Paulo
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Atos e Epistolas Paulinas
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conheceu a Jesus durante o Seu ministério terreno (2 Co 5.16 significa tão somente
considerar de um ponto de vista humano)” , a experiência marcante alterou todo o trajeto
de sua vida. Uma mudança tão radical de um momento para o outro foi o ponto forte na
experiência paulina. Antes inimigo da cruz; agora seguidor da mesma. “Paulo, que odiara
a fé cristã, tornar-se-ia seu maior advogado”.
Paulo não alterou seu percurso. Mesmo cego, foi para Damasco, onde ficou
meditando sobre sua experiência. Abalado, viu-se por três dias incapaz de comer ou
beber. Ali teve mais uma experiência nova com seu antigo perseguido. O Cristo
ressuscitado enviou Ananias, cristão que residia em Damasco, para lhe restituir a vista e
também lhe entregar um recado especial. Diante de tudo isso, Paulo, ao que parece,
passou a residir em Damasco. Em Gl 1.17, Paulo relata que também esteve em um lugar
chamado Arábia. Não existe consenso entre o os historiadores quanto ao tempo em que
Paulo ficou neste lugar, mas sabemos pelo próprio apóstolo que o mesmo ficara durante 3
anos por ali, até que teve de fugir de Damasco. Foi a caminho de Jerusalém, mas também
perseguido ali, teve de fugir. Vai então para Tarso, onde fica durante 10 anos (os
chamados anos de silêncio), até que Barnabé vai ao seu encontro, solicitando que Paulo
fosse a Antioquia para ajudá-lo.
2. A Missão entre os gentios. Paulo então vai para junto de Barnabé, onde deram início
ao próprio trabalho missionário. Depois de um ano de muitas bênçãos, “Paulo e Barnabé visitam
Jerusalém com socorros para acudir à fome que assola a igreja dessa cidade, catorze anos após a
conversão de Paulo”.
Após o retorno de ambos a Antioquia, foram escolhidos pela Igreja, por ordem do
Espírito Santo, para serem enviados àquilo que seria a primeira expedição missionária
propriamente dita. Essa viagem levou-os a atravessar a Ilha de Chipre e o sul da Galácia. “Sua
estratégia, que se tornou um padrão para as missões paulinas, era pregar primeiramente na
sinagoga”. Depois de um frutuoso trabalho missionário em diversas cidades, retornaram a
Antioquia, dando fim a chamada: primeira viagem missionária. Voltaram quase que pelo mesmo
caminho, omitindo apenas a cidade de Chipre. “Na viagem de retorno, Paulo e Barnabé fizeram
questão de visitar outra vez as comunidades recém-formadas, fortalecendo-as na sua nova fé e
encarregando alguns anciãos de velarem sobre elas”. Em dado momento dessa viagem, Paulo
faz menção de “um espinho na carne”. Muitas interpretações tem-se levantado já desde a
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antigüidade sobre o que seria esta moléstia. Não há uma real certeza, mas a maioria dos
historiadores, teólogos e exegetas acreditam que se tratava de uma doença nos olhos.
O que se sucede na vida do apóstolo a seguir é o firmamento e a aprovação de seu
chamado. Ainda passou por recriminações. Entretanto, no Concílio Apostólico, já vemos uma
aceitação dos líderes de Jerusalém quanto à argumentação de Paulo. Antes desse Concílio,
alguns mensageiros da Igreja de Jerusalém já haviam percorrido algumas comunidades
implantadas pelo apóstolo (provavelmente entre os Gálatas), dizendo que o Apóstolo apenas lhes
ensinara meia verdade: além de Jesus, eles precisavam observar os preceitos da lei,
principalmente a circuncisão. Essa atitude levou o apóstolo a escrever uma carta aos gálatas,
antes mesmo do Concílio Apostólico. Nesse ponto sobre a vida de Paulo existem muitas
imprecisões. Muitos teólogos renomados não aceitam essa hipótese, dizendo que a primeira carta
escrita por Paulo foi posterior ao Concílio, e se dirigia a igreja em Tessalônica.
Depois deste importante fato em Jerusalém, Paulo torna-se de vez missionário, não
deixando mais de viajar e levar o evangelho aos gentios. Ainda faz as chamadas “segunda e
terceira viagens missionárias”, passando novamente por inúmeras cidades. Em algumas delas
Paulo é rejeitado, apedrejado, preso, açoitado, etc. No entanto, nada fez com que o mesmo
deixasse de realizar sua vocação. Até preso, acredita-se que Paulo se comunicava com suas
comunidades através de cartas.
Depois dessas andanças, Paulo retorna a Jerusalém a fim de trazer uma coleta àqueles
cristãos. Lá é preso por judeus que querem matá-lo, sem levá-lo a instância superior. Entretanto
Paulo apela para sua nacionalidade romana e é enviado para ser julgado em Roma. Depois de
Roma, não temos mais certeza do futuro paulino. Sabemos que lá também Paulo não se torna
inativo: continua escrevendo às Igrejas locais.
3. Sua morte. Outra questão intrigante é a dificuldade que temos em construir o futuro de
Paulo a partir de Roma. “Todas as tradições da Igreja primitiva dizem que Paulo morreu
martirizado em Roma durante a perseguição ordenada por Nero em 64 d.C.”. É uma hipótese
bem fundamentada historicamente, pois, o cidadão romano não poderia ser julgado e morto em
nenhuma outra parte do mundo da época, senão Roma.
Sob a direção do Espírito Santo, Paulo e Barnabé foram enviados como
missionários pela Igreja de Antioquia, que foram acompanhados por João
Marcos, 13:1-5.
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Atos e Epistolas Paulinas
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Outra possibilidade é a de que Paulo tenha realizado seu propósito de ir à Espanha. Não
existe para isso prova bíblica, senão apenas tradições na própria Espanha de que tal fato tivesse
acontecido. A última possibilidade hipotética é a do que Paulo fez, depois de julgado e
absolvido. Essa possibilidade surge das referências às viagens pastorais (1 e 2 Tm e Tt). “Essas
cartas podem indicar que Paulo tenha visitado outra vez alguns dos lugares em que estivera antes
na Ásia Menor e na Grécia”.
EPÍSTOLA AOS ROMANOS
Esta carta “nasceu de uma paixão pela evangelização entre os pagãos”. Como Paulo não
fundou essa comunidade e nunca esteve lá, cremos que o mesmo sente a necessidade de se
apresentar àqueles cristãos. Entretanto, bem sabemos que grande parte deles o apóstolo já
conhecia. A história conta que por volta do ano 48-50, houve grande perseguição de cristãos em
Roma. Diante dessa perseguição, muitos cristãos fugiram para outras cidades. Áquila e Priscila
são um exemplo desse fato. Agora em Roma e oriundos de lá, já se encontraram com Paulo na
cidade de Éfeso (tudo indica que foi justamente durante o período de perseguição). É talvez
através deles que Paulo conhece um pouco da situação dos romanos. “As raras alusões de sua
epístola deixam apenas vislumbrar uma comunidade em que os convertidos do judaísmo e do
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paganismo correm o perigo de se desentenderem”. A prova que Paulo conhece muitos cristãos
romanos está contida na grande saudação final que faz o apóstolo, citando 28 nomes.
Em suma, temos nesta carta uma declaração bem amadurecida do evangelho. Uma
mensagem que desagradava a judeus e pagãos, não dependia de regras ou restrições. Era apenas
uma mensagem do Deus vivo que queria governar a vida dos seus seguidores.
Romanos encabeça as treze cartas de Paulo no NT. Enquanto os quatro evangelhos
apresentam as palavras de Jesus Cristo, Romanos explora a significação de Sua morte sacrificial.
Usando o método de perguntas e respostas, Paulo registra a mais sistemática apresentação
doutrinária da Bíblia. Romanos, porém, é mais que um livro de teologia, é também um livro de
exortações práticas. As boas novas de Jesus Cristo são mais que fatos a serem cridos; é também
uma vida a ser vivida – uma vida de justiça condizente com a pessoa justificada gratuitamente
por sua graça pela redenção que há em Cristo (3:24). Romanos é o mais formal dos escritos de
Paulo – é mais um tratado do que uma carta (Bruce WILKINSON).
1. Autor: O Apóstolo Paulo.
2. Data e Local: Esta carta foi escrita por volta de 57 ou 58 d.C., em Corinto.
3. Destino: Ela foi enviada para a Igreja em Roma que já existia há algum tempo, quando
Paulo lhe escreveu a epístola que tem o seu nome. Não há certeza de quem foi o fundador desta
igreja. É bem provável que ela foi fundada por cristãos judeus que se converteram no dia de
pentecostes; ou cristãos das igrejas estabelecidas por Paulo na Ásia, Macedônia e Grécia que
tenham passado a residir em Roma e levado outros a Cristo.
Esta igreja era composta tanto de judeus como também de gentios. Essa é a idéia
evidenciada pelos seguintes versículos (1.5, 12-16; 3.27-30; 6.19; 11.13, 25, 28, 30; 15:1, 2, 15).
A lista dos nomes existentes no cap. 16, inclui tantos nomes de origem judaica como de origem
gentílica; mas o maior número era de gentios. Roma era a capital do Império; portanto, uma
cidade muito importante.
4. Tema e Propósitos
4.1. Apresentar uma doutrina clara da justificação mediante a fé e não através das
obras da Lei, como defendiam os judaizantes.
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Atos e Epistolas Paulinas
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4.2. Paulo também tinha o desejo de fazer missões na Espanha e também em
Roma. Esperava o apoio dos irmãos que residiam em Roma (15.24; 1.11-12).
4.3. Na igreja de Roma havia surgido dificuldades de natureza doutrinária e
prática; alguns dos membros gentios abusavam da liberdade cristã, participando de
alimentos oferecidos a ídolos e fazendo outras coisas perniciosas, que eram
especialmente ofensivas para o conceito judaico (cap. 14).
4.4 – Havia indagações a respeito dos israelitas. Visto que eles tinham rejeitado o
Messias, Paulo procura explicar esta situação nos capítulos de 9 – 11.
“O tema principal é a justiça de Deus” (1.16-17).
5. Chaves para Romanos.
5.1 – Palavras-chave: Os justos (justificação).
5.2 – Versículos-chave: 1.16-17; 3.21-25.
5.3 – Capítulos-chave: 6-8 – As respostas às perguntas sobre como ficar livre do
pecado, como ter uma vida equilibrada debaixo da graça, e como cultivar a vida cristã
vitoriosa pelo poder do Espírito Santo está todas contidas nestes capítulos.
6. Esboço e conteúdo
6.1 – Introdução (1.1-15).
O apóstolo apresenta uma longa saudação seguida pelos seus motivos para desejar
fazer uma visita à igreja em Roma.
6.2 – Exposição doutrinária (1.16 – 8.39).
a) Tantos os gentios como os judeus são igualmente culpados em face de retidão
de Deus. (1.18 – 3.20).
b) Deus proveu um sacrifício propiciatório em Cristo (3.21-26). Este benefício é
para todos os que creem, tanto judeus como gentios (3.27-31); Abraão foi justificado pela
fé e não pelas obras (4.1-25); assim como o pecado é universal por intermédio de Adão,
igualmente a vida vem por intermédio de Cristo (5.12-21).
c) A retidão deve ter aplicação na vida. Isso é seguido mediante a união com
Cristo, pois, assim como o crente morreu com Ele, semelhantemente agora vive n’Ele
(6.1-14). O crente deixou de ser escravo da lei para ser escravo de Deus (6.15 – 7.6).
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d) A santificação e o Espírito (8.1-39).
6.3 – O problema de Israel (9.1 – 11.36).
Assim como em 1.18 a 3.20, o Apóstolo explica a relação em que estavam os
judeus e os gentios para com a lei, assim também, em 9.1 a 11.36, ele explica a relação
que estão uns e outros para com o evangelho.
A conclusão a que o apóstolo chega é a de que a salvação é por Cristo, e para
todos os que crêem; mas sendo assim, a grande maioria dos judeus perece, tomando os
gentios o seu lugar.
a) Ele afirma quão grande é a tristeza, sendo rejeitados os judeus pela sua
incredulidade (9.1-5).
b) As ações de Deus são soberanas e justas. Ninguém tem o direito de por em
dúvida às decisões do Criador (9.1-29).
c) A rejeição a Israel não é arbitrária, mas antes, devida a sua própria falta, pois os
israelitas tiveram a ampla oportunidade de se arrependerem (9.30 – 10.21).
A decadência e a rejeição dos judeus, embora, em certo sentido, conformemente
aos desígnios da providência, são realmente as conseqüências da incredulidade (9.30-33).
Este último pensamento acha-se desenvolvido no cap. 10. O apóstolo, depois de
ter novamente manifestado a sua dor pela incredulidade dos judeus, mostra que a rejeição
destes é a conseqüência de serem incrédulos; mas logo afirma que todos os que invocam
o nome de Jesus Cristo, sejam judeus ou gentios, serão salvos (10.4-13).
A objeção de que os judeus não podiam invocar Aquele, do qual nunca tinham
ouvido falar (10.14-17), ele responde que ouviram, mas que não aceitam a verdade, tendo
sido tal incredulidade prevista pelos profetas (10.18-21).
Os judeus não foram rejeitados como judeus, mas como incrédulos: “eu também
sou israelita”, diz ele (11.1). Não obstante, Israel podia esperar pela restauração (11.1-6).
O fracasso de Israel é que conduzirá a inclusão dos gentios (11.7-12). Os gentios serão o
meio usado para restauração de Israel (11.13-24). O estado final de Israel está nas mãos
de Deus (11.25-36).
A humildade, a fé, a reverência, e a adoração do Senhor, justo e misericordioso,
na esperança da aceitação geral dos judeus, devem ser sentimentos de todos os gentios
convertidos (11.17-24).
E então acontecerá que Israel, na sua totalidade, voltará para Deus por meio de
Jesus Cristo (11.15-32).
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Atos e Epistolas Paulinas
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Todo o plano de salvação é uma prova de insondável sabedoria e amor de Deus (11.33-
36), a Quem todos, por fim, em santa união, darão louvores.
6.4 – Exortações práticas (12.1 – 15.13).
a) Deveres resultados das vidas dedicadas, de caráter pessoal e geral (12.1-21).
b) Deveres que afetam a sociedade como um todo, tais como o dever da
obediência cívica, da boa-vizinhança e da conduta sóbria (13.1-14).
c) A necessidade de tolerância entre os crentes. Isso é estudado em relação ao
problema especial de alimentos (14.1 – 15.43).
d) Conclusão (15.14 – 16.27).
7. Síntese teológica
7.1. A Obra de Cristo
7.1.1. Expiação. A idéia envolvida nessa palavra é o processo da reunião
de duas partes, antes alienadas, para que forme uma unidade. No Novo
Testamento o termo grego “katallage”, é mais apropriadamente traduzido por
“reconciliação”. A morte de Cristo contornou o problema do pecado humano e
reconciliou a humanidade com Deus.
7.1.2. O Amor de Deus. A morte de Cristo é a revelação suprema do amor
de Deus (2 Co 5.19; Rm 5.8; 8.3, 32). Paulo não diferencia entre o amor de Deus e
o de Cristo. Realmente o amor de Cristo é o amor de Deus, e vice-versa (Gl 2.20;
2 Co 5.14; Ef 5.25).
Ao mesmo tempo em que reconhecemos que a cruz é a obra de um Pai
amoroso, temos que reconhecer que a necessidade de expiação é vista à luz da ira
de Deus contra o pecado (Rm 3.21 e 1.18).
A ira é o juízo que cai sobre o pecado na ordem moral em que Deus
governa. Ela é a reação divina ao pecado. A expiação é necessária porque os
homens estão sob a ira e o juízo de Deus. Paulo vê a morte de Cristo como uma
morte expiatória (Rm 3.25; 8.3; Ef. 5.2; 1Co 5.7). Somos justificados pelo sangue
de Cristo (Rm 3.25; 5.9).
A morte de Cristo foi vicária (I Ts. 5:10; Rm. 5:8; 8:32; Ef. 5:2; Gl. 3:13).
7.1.3. Propiciatória. A morte de Cristo tem a ver não apenas com o
homem e seu pecado; ela também está concentrada em Deus, e, como tal, é
propiciatória (Rm 3.24-25). O termo grego “hilastérion” tem sido
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tradicionalmente traduzido como propiciação. Este substantivo é derivado do
verbo “exhilaskomai”, que em toda literatura grega, quer dizer propiciar ou
acalmar uma pessoa que foi ofendida. Tradicionalmente, a teologia tem
reconhecido nestas palavras um sentido em que a morte de Cristo, funcionou
como um calmante da ira de Deus contra o pecado, através da qual o pecador é
libertado dela e transformado no recipiente de sua dádiva graciosa de amor.
Deus é um Deus vivo, que no dia do juízo, derramará sua ira sobre os
homens, que merecem seu julgamento justo (Rm 2.5). Todos os homens estão
condenados como culpado de pecado na presença de um Deus santo. A principal
verdade do argumento de Paulo, em Rm 1.18 a 3.20, não é avaliar o grau da
pecaminosidade humana; é demonstrar a universalidade do pecado e da culpa
diante de Deus. Tanto judeus como os gentios receberam iluminação ou através da
natureza, ou da consciência, ou da Lei; e, tanto os gentios como os judeus
fracassaram objetivamente em obter justiça diante de Deus, e, portanto, são vistos
como merecedores da ira de Deus. Eles estão condenados como pecadores
culpados. A condenação suprema merecida, por esta culpa, é a morte. É decreto
justo de Deus que, aqueles, entre os gentios, que praticam pecados, merecem
morrer (Rm 1.32). O destino dos pecadores é perecer (Rm. 2.12-15), pois o salário
do pecado é morte (Rm 6.23). A ira de Deus derramada sobre o pecador, resulta
em sua morte (morte eterna).
Através da morte de Cristo, o homem é liberto da morte. Ele é absolvido
de sua culpa e justificado; é efetuada uma reconciliação pela qual a ira de Deus
não precisa mais ser temida (1Ts 5.9). A morte de Cristo foi um ato de justiça,
uma demonstração de que Deus era de fato um Deus justo (Rm 3.25 – 26).
7.2. Justificação e reconciliação
Paulo emprega muitos termos para demonstrar a obra de Cristo. Um dos mais
importantes, que domina as epístolas aos Gálatas e Romanos, é a “justificação”. O Verbo
justificar (grego dikaioõ) construído sobre a mesma raiz de “justo” (grego dikaios) e
justiça (dikaiosyne). A idéia expressa por dikaioõ é “declarar justo”, e não “transformar
em justo”. A idéia principal em justificação é a declaração de Deus, o juiz justo, de que o
homem que crê em Cristo, embora possa ser pecador, é visto como sendo justo, porque,
em Cristo, ele chegou a um relacionamento justo com Deus (Rm 3.26; 4.5; Gl 2.16; 3.11).
A justificação é uma das bênçãos da nova era que nos chegou em Cristo.
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7.2.1. Justificação escatológica
O termo escatológico refere-se ao futuro. A palavra grega escatologia vem
de “escatos” que significa "última". Em Romanos 8.33, é previsto um juízo final.
Em Romanos 2.13, Deus pronunciará um veredicto sobre a conduta do homem,
em termos de obediência ou desobediência à lei (veja também Rm 5.19; Gl 5.5).
Ao mesmo tempo em que esperamos uma justificação escatológica, ela já
aconteceu (cf. Rm 5.1, 9; 1 Co 6.11).
Através da fé em Cristo, na base de seu sangue derramado, os homens já
foram justificados, absolvidos da culpa do pecado, e, portanto, libertos da
condenação. A justificação, que primariamente é absolvição no juízo final, já
aconteceu no presente. O julgamento futuro tornou-se, assim, essencialmente uma
experiência presente. Deus absolveu o crente; logo ele estará certo da libertação
da ira divina (Rm 5.9), e não há mais condenação para ele (Rm 8.1).
O fundamento da justificação não é a obediência à lei, é a morte de Cristo.
Ela é a suprema manifestação do amor de Deus pelos pecadores e o fundamento
sobre cuja base a justificação pode ser conferida ao homem como dádiva graciosa.
Assim, enquanto o fundamento da justificação é a morte de Cristo, o meio
pelo qual a justificação se torna eficaz para o indivíduo é a fé (Rm 3.24-25), que
fé significa a aceitação desta obra de Deus em Cristo, confiança completa nele, e
um abandono total das próprias obras como os fundamentos da justificação.
7.2.2. Reconciliação (katalasso, katalage)
Esta doutrina está ligada à justificação. A justificação é a absolvição do
pecador de todo pecado; a reconciliação é a restauração do homem justificado ao
relacionamento com Deus. A reconciliação é necessária porque o pecado alienou
o homem de Deus. Ele quebrou o relacionamento e tornou-se uma barreira entre o
homem e Deus.
Quando examinamos de perto a linguagem de Paulo a respeito da
reconciliação, torna-se claro, de imediato, que Paulo em nenhum lugar fala
expressamente em Deus se reconciliar com os homens ou de ser reconciliado com
os homens. Deus é sempre o sujeito da reconciliação e o homem ou o mundo, é o
objeto (2 Co 5.19; Rm 5.10; Cl 1.21-22). Cristo através da cruz reconciliou tanto
os judeus como os gentios com Deus (Ef 2.15,16). A reconciliação é, então, a obra
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de Deus, e o homem, o objeto. O homem não pode se reconciliar com Deus. Ele
tem que ser reconciliado com Deus através da ação divina.
7.2.3. A reconciliação é objetiva
Um exame mais acurado das passagens em Romanos 5 e 2 Coríntios 5,
leva a conclusão inapelável de que a reconciliação não é, primariamente uma
mudança básica na atitude do homem diante de Deus; ela é, como a justificação,
um primeiro evento objetivo, desempenhado por Deus para a salvação do homem.
A reconciliação foi promovida primeira por Deus “para” o homem, não “no”
homem. Foi enquanto éramos inimigos que fomos reconciliados com Deus pela
morte de seu Filho (Rm 5.8, 10). O amor de Deus manifesto na reconciliação, não
é, aqui, focalizado sobre o momento em que o indivíduo crê em Cristo e descobre
sua atitude para com Deus transformada em amor; a manifestação do amor de
Deus aconteceu enquanto ainda éramos pecadores no evento histórico, objetivo da
morte de Cristo. A reconciliação é uma dádiva a ser recebida (Rm 5.11).
A reconciliação é uma obra feita “fora de nós”, em que Deus lida, em
Cristo, com o pecado do mundo, de modo que ele não mais seja uma barreira entre
Ele e os homens, reconciliação no Novo Testamento, não é algo que esteja sendo
feito; é algo que está feito.
7.2.4. Os resultados da reconciliação
Uma vez que o pecador tenha sido restabelecido ao relacionamento com
Deus, certos resultados maravilhosos advêm:
O primeiro deles é a paz com Deus (Rm 5.1). Estamos em paz com Deus
no que Ele está agora em paz conosco; sua ira foi afastada. PA, aqui, não se refere
a um estado mental, mas uma relação com Deus. Não somos mais inimigos de
Deus, porém, alvos de sua misericórdia.
Uma segunda benção que provém da reconciliação com Deus é uma
reconciliação entre os homens que haviam se hostilizado (Ef 2.14-16). (Ladd pp.
409-425)
EPÍSTOLA AOS GÁLATAS
A Epístola aos Gálatas tem sido chamada “a carta Magna da liberdade cristã”. É o
manifesto de Paulo da justificação pela fé e da liberdade que esta produz. Ela foi revolucionária
para aquela época, pois Paulo rechaçou com o sistema de cerimônias e da lei judaica; o
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cristianismo está acima do judaísmo, e o cristão cumpre toda lei mediante o amor, e não há
nenhuma necessidade e observar rituais da antiga aliança.
1. Autor: Apóstolo Paulo.
2. Data e Local: 49/50 d.C. em Antioquia da Síria.
3. Destinatário: Esta carta foi enviada às igrejas situadas no Sul da Ásia Menor, a
Galácia do Sul. Estas igrejas foram fundadas por Paulo durante a sua primeira viagem
missionária (At 13.13 – 14.28). Galácia era o nome dado ao território da zona setentrional do
centro da Ásia Menor, onde os invasores gauleses se estabeleceram no III século antes de Cristo,
mantendo um reino independente. Mas gradualmente a população gaulesa foi absorvida por
outros povos que ali viviam e pelas transformações políticas. Mais tarde, sob o domínio romano,
foram incluídas as províncias de Antioquia, Icônico, Derbe, Listra, Psídia.
4. Tema e Propósitos
O propósito desta carta era combater os legalistas judeus que haviam se infiltrado na
igreja obrigando os cristãos a seguirem a lei mosaica; e ao mesmo tempo corrigir os libertinos
que estavam trazendo as práticas mundanas para dentro da igreja. Essas duas facções se
opuseram a Paulo colocando em dúvida o seu apostolado e seus ensinamentos. Estavam
deturpando o evangelho de tal maneira que já estavam passando para outro evangelho (1.6).
As três seções principais revelam três propósitos com que esta carta foi escrita:
4.1 – Os capítulos 1 – 2 foram escritos para defender a autoridade apostólica de Paulo,
porque isso estabelece sua mensagem evangélica.
4.2 – Os capítulos 3 – 4 apresentam uma defesa teológica do princípio da justificação
pela fé em refutação ao falso ensino da justificação pela Lei. Paulo usou a própria Lei para
construir seu argumento.
4.3 – Os capítulos 5 – 6 mostram que ser livre da lei não significa viver sem lei, como os
oponentes de Paulo evidentemente alegavam.
Esta epístola mostra que o crente não mais está sujeito à lei, mas é salvo pela fé somente.
Gálatas é a declaração de independência do cristão. O poder do Espírito Santo capacita o cristão
para desfrutar da liberdade dentro da lei do amor.
O tema desta carta é a "justificação pela fé".
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5. Chave para Gálatas
5.1 – Palavras-chave: Livre da lei.
5.2 – Versículos-chave: (2.20-21; 5.1);
5.3 – Capítulo-chave: (5) – O impacto da verdade concernente à liberdade não
deve ser usada para dá ocasião à carne, mas pelo amor servir uns aos outros (5.13). Este
capítulo registra o poder, “andai no Espírito” (5.16), e os resultados, “o fruto do Espírito”
(5.22-23) dessa liberdade. Liberdade aqui, é está livre dos desejos pecaminosos da carne
(natureza não regenerada) para fazer o que é moralmente certo, a vontade de Deus.
6. ESBOÇO DO CONTÉUDO.
6.1 – O Evangelho da graça defendido (1.1 – 2.11).
a) Introdução (1:1-9).
b) O Evangelho da graça é concedido por divina revelação (1.10-24).
c) O Evangelho da graça é aprovado pela liderança em Jerusalém (2.1-10).
d) O Evangelho da graça é defendido pela repreensão a Pedro (2.11-21).
6.2 – O Evangelho da graça explicado (3.1 – 4.31).
a) O Espírito Santo é concedido pela fé e não pelas obras (3.1-15).
b) Abraão foi justificado pela fé, não pelas obras (3.6-9).
c) A justificação é pela fé, não pela lei (3.10 – 4.11).
d) Os Gálatas receberam bênçãos pela fé, não pela lei (4.12-20).
e) A Lei e a graça não podem coexistir (4.21-31).
6.3 – O Evangelho da graça aplicado (5.1 – 6.18).
a) Posição da liberdade: Permanecer firme (5.1-12).
b) Prática da liberdade: Amor recíproco (5.13-15).
c) Poder da liberdade: Andar no Espírito (5.16-26).
d) Função da liberdade: Fazer o bem a todos os homens (6.1-10).
e) Conclusão (6.11-18).
PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS
Corinto era, no primeiro século, o centro comercial líder do sul da Grécia. A cidade era
infame por sua imoralidade e paganismo. Mas, a despeito dos grandes obstáculos, Paulo foi
capaz de implantar uma igreja cristã ali em sua segunda viagem missionária (At 18.1-17). Ainda
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que dotada e florescente, a igreja se achava saturada de problemas morais e éticos, doutrinários e
práticos, corporativos e privativos.
1. Autoria: Foi escrita pelo o Apóstolo Paulo.
2. Data e loca: Foi escrita em Éfeso por volta do ano de 56 d.C.
3. Destinatário: Esta carta foi endereçada à Igreja em Corinto. Nos dias de Paulo,
Corinto era a metrópole. Em decorrência de seus dois portos, se tornou um centro comercial, e
muitos navios de pequeno porte se arrastavam lentamente no istmo* a Corinto procurando evitar
a arriscada viagem de mais de trezentos quilômetros contornando o sul da Grécia. A cidade se
encheu de lugares sagrados e templos, porém o mais proeminente foi o templo de Afrodite no
topo de um promontório, a cerca de 450 metros de altitude. Os adoradores da “deusa do amor”
usavam livremente as mil Hieroduli (prostitutas consagradas). Este centro cosmopolita
prosperava em comércio, o entretenimento, vícios e corrupção; os que saíram em busca de
prazeres chegavam ali com o fim de gastar dinheiro em férias de imoralidade. Corinto se tornou
tão notório por seus males, que o termo “Korinthiazomai” (agir como um coríntio) se tornou
sinônimo de devassidão e prostituição. Foi no meio deste povo pagão e imoral que Paulo, fundou
uma igreja durante sua segunda viagem missionária, (3.6-10; 4:15; At 18.1ss).
Enquanto Paulo ensinava e pregava em Éfeso durante sua terceira viagem missionária,
sentiu-se perturbado pelas notícias vinda da casa de Cloe concernentes a disputas na igreja em
corinto (1.11). A igreja enviou uma delegação de três homens (16.17), os quais indagavam a
Paulo sobre certas questões (7.1) Paulo escreveu esta epístola como resposta aos problemas e
perguntas dos coríntios.
4. Tema e Propósito
O tema básico desta epístola é a aplicação dos princípios cristãos no âmbito individual e
social. A cruz de Cristo é uma mensagem que se destina a transformar a vida dos crentes e torná-
los diferentes, como pessoas e como uma associação, em todo o mundo. Os coríntios, porém,
estavam destruindo seu testemunho cristão em decorrência de imoralidade e desunião. Paulo
* faixa de terra que liga uma península
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escreveu esta carta como resposta corretiva aos relatos de problemas e desordens entre eles. Ela
se destinava a refutar atitudes e conduta inadequadas e a promover o espírito de união entre os
irmãos em seu relacionamento e culto.
Dois acontecimentos levaram o apóstolo Paulo a escrever esta carta:
Em 1.11 desta carta, sabemos que Paulo recebeu visita de Corinto dos da casa de Cloe. Eles lhe
trouxeram informações sobre os conflitos entre os diversos grupos em Corinto e o advertiram
sobre o perigo de uma divisão da igreja; e também outros problemas. A posição dele em relação
às questões que o pessoal de Cloe lhe trouxe está nos capítulos 1 – 6.
Enquanto Paulo ainda está ditando a carta, chega uma delegação da igreja a Paulo, que lhe traz
uma carta de Corinto. A delegação é constituída por Estéfanas, Fortunato e Acaico (16.17). Por
Estéfanas pertencer ao grupo que está do lado de Paulo, a carta provavelmente vem deste grupo.
As seguintes perguntas são dirigidas a Paulo: os casados devem viver em abstinência? Os
casamentos devem ser dissolvidos? As jovens moças devem permanecer solteiras? É permitido
comprar carne no mercado? Qual é a sua opinião sobre os dons espirituais? É necessário que
todos orem em línguas estranhas?
Nas suas respostas nos capítulos 7 – 16, Paulo se dedica a essas questões e introduz cada
assunto com a expressão “quanto ao”.
5. CHAVES PARA I CORÍNTIOS
5.1 – Palavra-chave: Correção.
5.2 – Versículos-chave: (6.19, 20; 10. 12,13).
5.3 – Capítulo-chave: (13) – Este capítulo tem sido a melhor definição do amor já
formulado. Pondo-se em frontal contraste com a idéia de que o amor é emoção, ou de que
alguém pode cair de amores, este capítulo claramente revela que o verdadeiro amor é
primariamente “uma ação”.
6. Esboço do conteúdo.
(a) Saudação e exórdio (1.1-9).
(b) Divisões partidárias: ensino de Paulo comparado com o de Apolo (1.10 – 4.21).
(c) Um caso de imoralidade (5.1-13).
(d) O erro de queixar-se aos tribunais pagãos; outras advertências contra a impureza (6.1-
20).
(e) Discussão sobre o casamento (7.1-40).
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(f) Questão das carnes oferecidas a ídolos; interpretação prática de Paulo sobre seu ofício
apostólico (8.1 – 11.1).
(g) Correção de irregularidades nas reuniões de adoração; véu das mulheres; festas de
amor, ceia do Senhor (11.2 – 34).
(h) Dons espirituais (12.1-31; 14.1-40).
(i) O verdadeiro ideal: o amor cristão (13.1-13).
(j) O correto ensino cristão sobre a ressurreição dos mortos (15.1-58).
(l) Instruções sobre a coleta para Jerusalém; saudações finais (16.1-24).
7. Assuntos principais:
7.1 – O Evangelho no teor da primeira epístola aos Coríntios:
Nessa epístola, não há qualquer tentativa para apresentar qualquer exposição
sistemática do evangelho cristão, em sua natureza e conteúdo. Antes por toda parte há
elementos do evangelho cristão, os quais, considerados em seu conjunto, nos fornecem
uma informação suficiente sobre o assunto. Pode-se alinhar as seguintes razões para isso:
(a) Cristo é o centro da mensagem da epístola, do princípio ao fim (1.3);
(b) Cristo é o alvo final da criação (8.6);
(c) Cristo é o alvo supremo da vida (15.28);
(d) Cristo é o verdadeiro Deus (8.4-6);
(e) Cristo é quem ordena providencialmente os acontecimentos entre os homens
(4.9; 7.7; 12.6);
(f) Os homens jamais conheceram a Deus por sua própria sabedoria, mas podem
vir a conhecê-lo por meio de Cristo, a própria sabedoria de Deus (1.21-24);
(g) Aqueles que se chegam a Deus, recebem a revelação de seus mistérios, por
intermédio do Espírito Santo (2.10; 4.1);
(h) A vida eterna, por meio da ressurreição, nos é dada por meio de Cristo (15);
7.2 – Os dons do Espírito Santo: A conduta ideal na igreja cristã, no que diz respeito a
essas manifestações espirituais, também é abordada. Dentre todos os temas que há neste livro,
esse é aquele cujo tratamento recebe maior espaço (11 – 14). Vemos que os dons espirituais:
a) Podem ser abusados;
b) podem ser usados erroneamente;
c) podem ser falsificados;
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d) podem ser exercidos até mesmo por crentes carnais.
Geralmente se supõe que os dons espirituais assinalam uma elevada espiritualidade; no
entanto, os maiores perturbadores de todos, na igreja de Corinto, foram aqueles que se deixaram
arrebatar pelo orgulho de sua suposta autoridade e desenvolvimento espirituais, pois esses,
devido ao seu orgulho, produziram confusão naquela igreja.
7.3 – A conduta sexual: Os habitantes da cidade se notabilizavam por suas práticas
sexuais exageradas e pervertidas. Paulo exorta os crentes de Corinto a terem uma vida santa e
não se envolverem com relações sexuais ilícitas (5 – 7).
SEGUNDA EPÍSTOLA AOS CORINTIOS
• Princípios aplicados na solução dos problemas da Igreja de Corinto:
• Para a divisão, partidarismo – o remédio era a maturidade espiritual (3.1-9);
• Para a fornificação – a disciplina imposta pela Igreja
até que o pecador fosse restaurado (5.1-5); • Para o litígio – a arbitragem dentro da comunidade
cristã – (6.1-6); • Para o problema das virgens solteiras – o remédio é o
autodomínio ou o casamento legítimo (7.36-37);
• Nas questões relacionadas com os alimentos oferecidos aos ídolos – o fator decisivo era a relação
do crente com Deus (10.31; 11.13,32); • Quanto aos dons – são administrados por Deus dentro
da Igreja (12.28).
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Desde a primeira carta de Paulo, a igreja, em Corinto foi dominada por falsos mestres, os
quais incitaram o povo contra Paulo. Alegaram que ele era leviano, orgulhoso, de aparência e
fala inexpressivas, desonesto e sem qualificação para ser um apóstolo de Jesus Cristo. Paulo
enviou Tito a Corinto para tratar dessas dificuldades; e em seu regresso alegrou-se ao ouvir da
transformação do coração dos coríntios. Paulo escreve essa carta para expressar sua gratidão pelo
arrependimento da maioria e para apelar que a minoria rebelde aceitasse sua autoridade. Ao
longo de todo o livro ele defende sua conduta, caráter e vocação como apóstolo de Jesus Cristo.
1. Autoria: Apóstolo Paulo.
2. Data e Local: Foi escrita em 56 d.C. na Macedônia; alguns meses depois da primeira.
3. Destinatário: à igreja de Corinto.
4. Tema e propósito
O tema principal de 2 Coríntios é a defesa de Paulo de suas credenciais e autoridade
apostólica. Certos “falsos apóstolos” organizaram numa campanha contra Paulo na igreja de
Corínto, e Paulo teve de tomar uma série de providência para vencer a oposição. Esta epístola
expressa a alegria do apóstolo no triunfo do genuíno evangelho em Corinto (1 – 7), e reconhece a
“santa tristeza” e o arrependimento dos cristãos desta igreja. Também desperta os irmãos a
cumprirem a promessa de fazer uma contribuição liberal, para os pobres entre os cristãos da
Judéia (8 – 9). A oposição expressa em 10-13 evidentemente consistia em Judeus (palestinos ou
helenistas) que alegavam ser apóstolos (11.5,13; 12.11), mas pregavam um falso evangelho
(11.4) e estavam escravizando com sua liderança (11.20). Os capítulos 10 – 13 foram escritos
para expor esses “obreiros fraudulentos” e defender a autoridade dada por Deus a Paulo como
apóstolo de Jesus Cristo.
5. Chaves para 2 Coríntios:
5.1 – Palavras-chave: "Defesa de Paulo de sua autoridade".
5.2 – Versículos-chave: (4.5, 6, 5.17-19).
5.3 – Capítulo-chave: (8 – 9). Os capítulos 8 – 9 são realmente uma unidade e
encerram a mais completa revelação do plano de Deus para ofertas encontradas nas
Escrituras. Contidos nesse plano, estão os princípios para as ofertas (8.1-6), os propósitos
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das ofertas (8.7-15), as orientações a serem seguidas na oferta (8.16 – 9.15) e as
promessas a se concretizarem nas ofertas (9.6-15).
6. Esboço do conteúdo:
1ª parte: Explicação de Paulo de seu ministério (1.1-11).
1. Introdução: 1.1-11.
2. Explicação de Paulo de sua mudança e planos (1.12 – 2.13).
3. Filosofia do ministério de Paulo (2.14 – 6.10).
(a) Cristo nos faz triunfar (2.14-17).
(b) Vidas transformadas provam o ministério (3.1-5).
(c) O novo pacto é a base do ministério (3.6-18).
(d) Cristo é o tema do ministério (4.1-7).
(e) Provações permeiam o ministério (4.8-15).
(f) Motivação do ministério (4.16 – 5.21).
(g) Não provocar escândalo no ministério (6.1-10).
2ª Parte: Coleta de Paulo para os santos (8.1 – 9.15).
1. Exemplo dos Macedônios (8.1-6).
2. Exortação aos Coríntios (8.7 – 9.5).
(a) Exemplo de Cristo (8.7-9).
(b) Propósito em dar (8.10-15).
(c) Exortação para dar (8.16 – 9.15).
3ª Parte: Defesa de Paulo de seu apostolado (10.1 – 13.13).
1. Paulo responde a seus acusadores (10.1-18).
2. Paulo defende seu apostolado (11.1 – 12.13).
3. Paulo anuncia sua visita iminente (12.14 – 13.10)
4. Conclusão (13.11-14).
7. Assuntos principais:
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7.1 – Deus Pai:Ele é o Pai, motivo pelo qual usa de misericórdia e consola a seus
filhos (1.3). É uma personalidade viva (3.3 e 6.16).
7.2 – Realidade de Satanás e dos poderes diabólicos: Satanás é o deus deste
mundo (4.4), pode transformar-se me anjo de luz (11.14).
7.3 – O Senhor Jesus Cristo: Ele é a imagem de Deus (4.4), ele é o Filho de
Deus (1.19); é impecável (5.21); assegura as promessas de Deus aos homens (1.19-20),
Ele é o Redentor que traz de volta os homens a Deus (5.17 – 19), Jesus Cristo
preexistente que se fez pobre para que por sua pobreza vos tornásseis ricos (8.9). Cristo é
o Senhor e juiz de todos (5.10).
7.4 – Autoridade do Antigo Testamento: As promessas de Deus contidas no AT
se referem aos crentes que são o verdadeiro Israel (1.19 – 20). Porém. O código escrito, a
lei de Moisés, é inferior a revelação divina que nos trouxe Cristo (3.3-6). Não obstante, o
AT se reveste de importância, não devendo ser desprezado pelos cristãos (3.14-15). O
erro dos judeus incrédulos foi não terem eles percebidos o cumprimento do AT na nova
dispensação em Cristo Jesus.
7.5 – A imortalidade: A mais completa descrição bíblica que existe sobre a
imortalidade aparece no quinto capítulo desta epístola.
7.6 – A esperança cristã: A despeito das frustrações, dos sofrimentos e das
provas, além do desespero ocasional, tudo isso redundará para o crente em um peso
eterno de glória (4.10-18); veja também (5.1-10; 9.15).
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EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS
Efésios é endereçada a um grupo de crentes que são indescritivelmente ricos em Jesus
Cristo, mas vive uma existência miserável porque ignora sua riqueza. E visto que não se
apropriam dessa riqueza, vivem como se fossem paupérrimos! Paulo começa descrevendo, nos
capítulos 1 – 3, o conteúdo da conta bancária celestial dos cristãos: adoção, aceitação, redenção,
perdão, sabedoria, herança, o selo do Espírito Santo, vida, graça, cidadania – em suma, toda
bênção espiritual. (B. Wilkinson)
1. Autoria: O apóstolo Paulo.
2. Data e Local: A carta foi escrita na prisão (3.1; 4.1). Cesaréia ou Roma são locais
possíveis para sua redação. Se foi em Cesaréia, foi em torno de 55-57 d.C. Se foi em Roma, foi
entre 58-60 d.C.
3. Destinatário: Esta epístola foi diretamente endereçada aos Efésios, mas escrita de tal
maneira que se torna útil a todas as igrejas da Ásia. No final de sua segunda viagem missionária,
Paulo visitou Éfeso, onde se despediu de Priscila e Áquila (At 18.18-21). Esta cidade estratégica
era o centro comercial da Ásia Menor. Éfeso era também um centro religioso, famoso
especialmente por seu magnificente templo de Diana (nome romano) ou Arthémis (nome grego),
estrutura considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo (cf. At 19.35). A prática de
magia e a economia local estavam claramente relacionadas com este templo. Paulo permaneceu
em Éfeso por quase três anos, em sua terceira viagem missionária (At 191ss.).
4. Tema e Propósito: O tema de Efésios é a "responsabilidade do crente de andar de
acordo com sua vocação celestial em Cristo Jesus" (4.1). Efésios não foi escrita para corrigir
erros específicos numa igreja local, mas para prevenir problemas na igreja como um todo,
encorajando o corpo de Cristo a buscar a solidez nele. Foi escrita para tornar os crentes mais
cônscios de sua posição em Cristo, uma vez que esta é a base para sua prática em todos os níveis
da vida.
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5. Chaves para Efésios
5.1 – Palavras-chave: “Edificando o corpo de Cristo”.
5.2 – Versículo-chave: (2.8-10; 4.1-3).
5.3 – Capítulo-chave: 6 – Ainda quando o cristão é abençoado com toda sorte de
bênção espiritual em Cristo (1.3), a guerra espiritual é ainda uma experiência diária do
cristão enquanto vive neste mundo. O capítulo 6 é o mais claro conselho de como ser
forte no Senhor, e na força de seu poder (6.10). Este capítulo também ensina que a luta do
cristão não é contra as pessoas e, sim, contra os espíritos malignos, e a nossa vitória
depende não de nossas armas humanas, porém, das armas espirituais que aqui são
apresentadas como uma armadura.
6. Esboço do conteúdo:
6.1. Propósitos eternos de Deus para o homem em Cristo (1.1 – 3.21).
(a) Saudação (1.1,2).
(b) Louvor por causa de todas as bênçãos espirituais que são dadas aos que estão
em Cristo (1.3-14).
(c) Ação de graças por causa da fé dos leitores, e oração por causa da experiência
que tinham sobre a sabedoria e o poder de Deus (1.15-23).
(d) O propósito de Deus ao levantar indivíduos da morte do pecado para a nova
vida em Cristo (2.1-10).
(e) Seu propósito de reconciliar os homens, não apenas Consigo mesmo, mas uns
com os outros; em particular reunindo judeus e gentios juntamente, formando um único
povo de Deus (2.11-22).
(f) A glória da chamada do apóstolo para pregar o Evangelho aos gentios (3.1-13).
(g) Segunda oração, rogando pelo conhecimento do amor de Cristo e por sua
plenitude no íntimo (3.14-21).
6.2. Conseqüências práticas (4.1 – 6.24).
(a) Exortação para que o crente ande de modo digno, e que se esforce por edificar
o corpo único de Cristo (4.1-16).
(b) A velha vida de ignorância, concupiscência, e injustiça deve ser rejeitada, e
uma nova vida de santidade deve ser vestida (4.17-32).
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(c) Outra exortação para que o crente viva e ande em pureza, como filho da luz,
pleno de louvor e utilidade (5.1-21).
(d) Instruções acerca de esposas e esposos, baseadas na analogia da relação
existente entre Cristo e Sua igreja (5.22-33).
(e) Instrução acerca de filhos e pais, servos e senhores (6.1-9).
(f) Conclamações para que o crente combata com a armadura de Deus e impelido
por Seu poder (6.10-20).
(g) Mensagem pessoal de conclusão (6.21-24).
7. Assuntos principais
7.1 – Cristo Jesus é aquele que preenche tudo em todos. O primeiro capítulo
desta epístola tem a finalidade de situar o Senhor Jesus na mais alta posição cosmológica
possível. A importante frase de Paulo, “em Cristo” (ou seu equivalente), aparece cerca de
trinta e cinco vezes, mais que em qualquer outro livro do NT O crente está em Cristo
(1.1), nos lugares celestiais em Cristo (1.3), escolhido nele (1.4), adotados através de
Cristo (1.5; veja ainda 1.7, 11-13; 2.5-6, 10, 13, 21; 3.12).
7.2 – A criação inteira, portanto, está relacionada a Cristo, e, de uma maneira ou
de outra, encontra nele o seu alvo e o seu propósito de ser (1.10).
7.3 – Deus como Pai (1.2; 2.4-5; 3.13-15). Deus aparece nessas passagens como
cabeça de toda criação.
7.4 – O Espírito Santo, como agente da iluminação espiritual. Ele é o
revelador da unidade que há em Cristo (3.5). O acesso a Deus Pai se dá por meio do
Espírito Santo (2.18). E todos os crentes se tornam uma habitação de Deus, através do
Espírito (2.22). Além disso, o Espírito Santo aparece nesta epístola como o poder
revigorador, no homem interior, que produz a piedade prática dos crentes (3.16ss.). A
unidade da igreja se verifica por meio do Dele (4.3). O fruto do Espírito, é bondade,
verdade e retidão (5.9). E o Espírito Santo, igualmente, quem nos assegura poder na
oração (6.18).
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EPÍSTOLA AOS FILIPENSES
Filipenses é a epístola da alegria e do encorajamento em meio às circunstâncias adversas.
Nela, Paulo expressa livremente seu sentimento afetivo pelos filipenses em vista de seu
consistente testemunho e apoio e amorosamente insiste com eles a centralizar suas ações e
pensamentos na pessoa, atividade e poder de Jesus Cristo. Paulo também procura corrigir o
problema de desunião e rivalidade, instando os leitores a imitar a Cristo em sua humildade e
espírito de serviço. Agindo assim, a obra do evangelho seguirá adiante, à medida que os crentes
permanecerem firmes, nutrirem o mesmo pensamento, cultivarem alegria e orarem em todo
tempo.
1. Autoria: Apóstolo Paulo
2. Data: mais ou menos no ano 60 d.C. em Roma – durante o aprisionamento de Paulo.
3. Destinatário: a Igreja em Filipos. Em 356 a.C., o rei Filipe da Macedônia (pai de
Alexandre, o Grande) tomou esta cidade e a expandiu, dando-lhe o novo nome de Filipos. Os
romanos conquistaram-na em 168 a.C., a qual se tornou uma província romana.
O chamado macedônio que Paulo recebeu em Trôade durante sua segunda viagem
missionária o levou a exercer seu ministério em Filipos, com a conversão de Lídia e outros (At
16.12-40). Paulo e Silas foram ali açoitados e presos, mas isto resultou na conversão do
carcereiro filipense. Paulo visitou os filipenses outra vez em sua terceira viagem missionária (At
20.1, 6). Ao ouvir de sua prisão romana, a igreja filipense enviou Epafrodito com ajuda
financeira (4.18); Epafrodito quase morrera de certa enfermidade, porém permaneceu com Paulo
tempo suficiente para os filipenses receberem notícia de sua doença. Ao recuperar a saúde, Paulo
enviou por ele esta carta aos filipenses (2.25-30).
4. Tema e propósito:
4.1 – Os crentes filipenses, por diversas vezes haviam enviado doações pessoais
ao apóstolo (1.5; 4.10, 14), o que mostra que esta carta, entre outras coisas, foi uma carta
de agradecimento.
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4.2 – Paulo estava prestes a enviar-lhes Timóteo e Epafrodito, e essa carta foi, em
parte, mandada a fim de encorajar a boa acolhida a esses mensageiros. Parece que Paulo
desejava desarmar qualquer crítica que talvez houvesse surgido com relação a Epafrodito
(2.19-30);
4.3 – Há evidências na própria carta que estes cristãos estavam passando por
perseguições e precisavam de encorajamento. Por essa razão, Paulo os animou a se
manterem firmes, dando testemunho vivo em prol de Cristo (1.27 e 2.15).
4.4 – Refutar alguns que se achavam mais perfeitos do que outros, os legalistas
(3.1ss.). Alguns estudiosos acreditam que haviam um partido dos perfeccionistas naquela
igreja, afirmando que eram superiores aos demais, devido ao orgulho espiritual. Por isso,
é que esses estudiosos pensam que nesse trecho do terceiro capítulo, onde Paulo mostra
que nem ele mesmo pensa já haver atingido seus propósitos de perfeição em Cristo (3.12-
16), seria um repúdio indireto àqueles que pensavam já ter atingido a perfeição.
5. Chaves para Filipenses:
5.1 – Palavras-chave: “O viver é Cristo”.
5.2 – Versículos-chave: (1.21; 4.12, 13).
5.3 – Capítulo-chave: 2 – A grandeza da veracidade do Novo Testamento
dificilmente excede a revelação da humildade de Jesus Cristo, deixando o céu para
tornar-se servo. Cristo é claramente o exemplo dos cristãos, e Paulo transmite este ânimo:
“Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo” (2.5).
6. Esboço do conteúdo:
6.1 – A avaliação de Paulo e suas presentes circunstâncias (1.1-30).
(a) A oração de Paulo de agradecimento (1.1-11).
(b) As aflições de Paulo promovem o evangelho (1.12 – 26).
(c) A exortação de Paulo aos aflitos (1.27-30).
6.2 – O apelo de Paulo ao cultivo da mente de Cristo (2.1-30).
(a) Exortação à humildade (2.1-4).
(b) Exemplo de humildade de Cristo (2.5-16).
(c) Exemplo de humildade de Paulo (2.17-18).
(d) Exemplo de humildade de Timóteo e Epafrodito (2.19-30).
6.3 – O apelo de Paulo ao cultivo do conhecimento de Cristo (3.1 – 21).
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(a) Advertência contra a confiança na carne (3.1-9)
(b) Exortação para conhecer a Cristo (3.10-16).
(c) Advertência contra o viver para a carne (3.17-21).
6.4 – O apelo de Paulo ao cultivo da paz de Cristo (4.1-23).
(a) Paz com os irmãos (4.1-3).
(b) Paz com o Senhor (4.4-9)
(c) Paz em todas as circunstâncias (4.10-19).
(d) Conclusão (4.20-23).
7. Assuntos Principais:
7.1 – O tema da alegria aparece de maneira mais pronunciada nesta epístola
do que em qualquer outro dos escritos de Paulo. Isso pode nos parecer estranho, pois
Paulo estava preso. O segredo de toda esta alegria é que ele se contentava no Senhor;
alegria é também, fruto do Espírito (Gl 5.22 – 23), sobre alegria veja os seguintes
versículos (1.3 – 4, 25; 2.1-2, 16 – 18, 28; 3.1, 3; 4.1, 4, 5, 10).
7.2 – Sobre Cristo. No capítulo 1, Paulo vê Cristo como sua vida (1.21). No
capítulo 2, Cristo é o modelo da genuína humildade (2.5). O capítulo 3 O apresenta como
Aquele “que transformara o corpo da nossa humilhação para ser conforme ao corpo da
sua glória” (3.21). No capítulo 4, Ele é a fonte do poder de Paulo acima das
circunstâncias (4.13). Paulo sustenta nesta epístola a sua esperança no retorno de Cristo
Jesus para breve (1.6, 10; 2.10 - 11, 16; 3.20 – 21; 4.5).
7.3 – Humildade, que consiste da participação na atitude mental de Cristo, e isso
levou Paulo a compor sua mais profunda declaração concernente à humanidade de Cristo
(2.1-11).
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EPÍSTOLA AOS COLOSSENSES
Colossenses é um dos livros da Bíblia mais centralizados em Cristo. Nele, Paulo enfatiza
a supremacia da pessoa de Cristo e a completude da salvação que ele provê, a fim de combater
uma crescente heresia na igreja de Colossos. Cristo, o Senhor da criação e o Cabeça do corpo,
que é a sua igreja, é completamente suficiente para toda necessidade espiritual e prática do
crente. A união do crente com Cristo em sua morte, ressurreição e exaltação é o fundamento
sobre o qual sua vida terrena deve ser construída.
1. Autoria: Apóstolo Paulo.
2. Data: Foi escrita por volta do ano 60 a 61 d.C.
3. Destinatário: Ela foi enviada à igreja em Colossos. Colossos era uma cidade da Ásia
Menor, cerca de cento e sessenta km de Éfeso, na região das sete igrejas asiáticas de Apocalipse
1 – 3. Localizada no fértil Vale Lico, rumo a uma região montanhosa pela qual avança a estrada
de Éfeso para o oriente, Colossos fora um populoso centro de comércio, famoso por sua lã
lustrosa e negra. É evidente que Paulo nunca chegou a visitar a igreja em Colossos, a qual fora
fundada por Epafras (1.4-8; 2.1). A visita e o relatório de Epafras referente às condições em
Colossos teriam inspirado esta carta. Ainda que os colossenses não tivessem sucumbido
totalmente (2.1-5), uma heresia intromissora ameaçava a igreja dos colossenses,
predominantemente gentílica (1.21, 27; 2.13).
4. Tema e Propósitos:
O tema principal em Colosso é "preeminência e suficiência de Cristo em todas as coisas".
O crente se completa unicamente nele, e nada lhe falta porque “nele habita corporalmente toda a
plenitude da Deidade” (2.9); ele possui todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (2.3).
Não há necessidade alguma de especulação, de visões místicas, nem de regulamentos
ritualísticos, como se a fé em Cristo fosse insuficiente. O propósito predominante de Paulo, pois,
era refutar uma heresia ameaçadora que desvalorizava Cristo, esta heresia misturava conceitos do
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judaísmo, de filosofia e das religiões pagãs; esta heresia é conhecida como gnosticismo, vamos
conhecer um pouco mais desta heresia:
4.1 – Grande importância era conferida aos “aeons” ou ordem de seres angelicais
(emanações de Deus), com detrimento para a posição de Cristo. Os gnósticos não viam o
Cristo como a encarnação do Logos (da Palavra Jo 1.14), mas somente como um dentre
muitos aeons, dotado de alguma missão terrena. Para eles, Cristo era apenas um dos
mediadores e salvadores, um pequeno deus.
4.2 – Os aeons (seres angelicais) eram objetos de adoração entre os gnósticos.
Cristo na qualidade de aeon, era adorado, contudo somente em pé de igualdade com
muitos outros aeons. E assim era tremendamente diminuída a estatura de Cristo.
Certamente os gnósticos não reconheciam a existência do Deus triúno, o único que, com
razão, pode ser adorado pela criatura humana; e nem conheciam Cristo como o Cabeça de
toda criação (veja: 2.18-19; cf. 1.15-19).
4.3 – Os gnósticos propunham a idéia de muitos criadores, pois os aeons, segundo
sua doutrina, tinham o poder de criar. Paulo insiste que só há um poder capaz de criar
(1.16).
4.4 – Os gnósticos, em Colossos, evidentemente tinham incorporado em seu
sistema alguns elementos das leis cerimoniais judaicas, assim encorajando as suas
tendências para o ascetismo (ver 2.16ss). Os gnósticos criam que o desígnio do sistema
cósmico é destruir toda a matéria, incluindo o corpo físico, visto que a matéria seria o
princípio mesmo do mal. Poderíamos cooperar com esse desígnio se abusássemos do
corpo, o que poderia ser feito através do ascetismo ou da licenciosidade extremados.
4.5 – Os gnósticos eram falsamente humildes, pois se guiavam por uma forma de
verdadeira auto-exaltação, já que o ascetismo deles somente provia o orgulho espiritual.
Precisavam fazer de Jesus Cristo o seu grande exemplo, sem apelarem para seus
costumes extremados (ver 2.20-23).
4.6 – Os gnósticos tinham uma sabedoria e um conhecimento falsos, pelo que
negligenciaram a Sabedoria e um conhecimento falsos, negligenciavam a Sabedoria de
Deus, e o seu mistério, a saber, Cristo (ver 2.8; 1.27; 2.22). Para eles, a salvação deveria
ser obtida através do conhecimento, não através da fé.
4.7 – Os gnósticos rejeitavam a expiação pelo sangue, pelo que também não viam
qualquer valor na morte de Cristo. Criam eles que o Espírito-Cristo, um dos aeons, na
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realidade não se encarnara, porquanto não poderia sofrer e nem morrer. Tomara conta do
corpo de Jesus, o homem, quando de seu batismo, tendo-o abandonado por ocasião de sua
crucificação. Para eles, a morte de Jesus, quando muito, foi somente a morte de um mártir
por uma boa causa. Não poderia ter qualquer valor expiatório. Em contraste com essa
opinião, Paulo afirma que a morte de Cristo tem valor expiatório (1.20-22).
Em síntese, essa epístola foi escrita com o propósito de revelar a natureza da
verdadeira cristologia e da ética cristã, em contraste com as idéias gnósticas, que tinham
impressionado alguns membros da comunidade de Colossos.
5. Chaves para Colossenses.
5.1 – Palavras-chave: “Preeminência de Cristo”.
5.2 – Versículos-chave: (2.9-10; 3.1-2).
5.3 – Capítulo-chave: 3 – O capítulo 3 serve de elo para três temas de
Colossenses, mostrando suas relações de causa e efeito. Visto que o crente está
ressuscitado com Cristo (3.1-4), ele está despido do velho homem e vestido do novo (3.5-
17), o que resultará em santidade em todas as relações.
6. ESBOÇO DO CONTEÚDO
(a) Saudação (1.1,2).
(b) Agradecimento pela fé e amor dos crentes de Colossos, e pelo fruto da pregação
evangélica entre eles (1.3-8).
(c) Oração por seu crescimento no entendimento, consequentemente, nas boas obras (1.9-
12).
(d) Glória e grandeza de Cristo, a Imagem de Deus, Seu agente na criação de tudo,
Cabeça da igreja, o qual pela sua cruz reconciliou tudo Consigo mesmo (1.13-23).
(e) Labutas e sofrimentos de Paulo para tornar conhecido o mistério de Cristo, e para
apresentar cada homem perfeito em Cristo (1.24-2.3).
(f) Advertência específica contra o ensino falso, e resposta apostólica ao mesmo (2.4-
3.4).
(g) Os pecados da vida antiga devem ser abandonados revestindo-se das virtudes da nova
vida em Cristo (3.5-18).
(h) Instruções referentes à conduta de esposos e esposas, filhos e pais, servos e senhores
(3.19-4.1).
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(i) Exortação à oração e à sabedoria no falar (4.2-6).
(j) Mensagens pessoais. (4.7-18).
7. Assuntos principais
7.1. Cristo em Colossenses. Este livro singularmente cristológico está centrado
num Cristo cósmico – “o cabeça de todo principado e potestade” (2.10), o Senhor da
criação (1.16-17) e o autor da reconciliação (1.20-22; 2.13-15). Ele é a base da esperança
do crente (1.5, 23, 27), a fonte do poder dos crentes para uma nova vida (1.11, 29), o
Redentor e Reconciliador dos crentes (1.14, 20-22; 2.11-15), a incorporação da plenitude
da Deidade (1.15, 19; 2.9), o Criador e Sustentador de todas as coisas (1.16-17), a Cabeça
da igreja (1.18), o Deus-Homem ressurreto (1.18; 3.1) e o Salvador todo-suficiente (1.28;
2.3; 10; 3.1-4). Cristo é o mistério de Deus, em quem residem todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento (2.2-3), Cristo é o vencedor de todo o mal, o qual dá
liberdade à alma e aos homens, em suas observâncias religiosas (2.14-18).
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PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES
A igreja em Tessalônica era em muitos aspectos uma igreja modelo. Paulo tinha muitas
coisas a enaltecer nos crentes: sua fé exemplar, seu serviço diligente, sua firmeza paciente e sua
alegria transbordante. Mas em meio ao enaltecimento, Paulo emite uma Palavra de advertência.
Ser frutífero na obra do Senhor fica apenas a um passo de abandonar a obra do Senhor por
complacência. Por isso, Paulo exorta os tessalonicenses a se sobressair em sua fé, a crescer em
seu amor recíproco e a dar graças sempre por todas as coisas. Em suma, Paulo os encoraja a
“mirar o alvo” enquanto trabalham para o Senhor.
1. Autoria: Apóstolo Paulo
2. Data e local: Foi escrita por volta do ano 51 d.C. em Corinto.
3. Destinatário: A carta foi escrita à jovem igreja de Tessalônica, aproximadamente um
ano após a sua fundação. Nos dias de Paulo, Tessalônica era um proeminente porto e a capital da
província romana da Macedônia. Cassandro expandiu e fortaleceu este lugar em torno de 315
a.C. e deu-lhe o nome de sua esposa, a meia irmã de Alexandre, o grande. Os romanos
conquistaram a Macedônia em 168 a.C. e a organizaram numa única província vinte e dois anos
depois, com Tessalônica como a cidade capital.
Tessalônica possuía uma população judaica relativamente grande, e o monoteísmo ético
do judaísmo atraía muitos gentios que se desobrigavam do paganismo grego. Estes tementes a
Deus respondiam imediatamente à argumentação de Paulo na sinagoga, quando ministrou ali em
sua segunda viagem missionária (At 17.10). Os judeus tiveram ciúmes do sucesso de Paulo e
organizaram um movimento para opor-se aos missionários cristãos.
Apesar de Tessalônica contar com numerosa população judaica, a igreja primitiva dali se
compunha principalmente de pagãos que tinham abandonado os ídolos para abraçarem a fé cristã
(veja 1.9; 2.14, 16; 4.5, 9, 10).
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4. Tema e propósitos:
O tema básico desta epístola é a "salvação e santificação dos tessalonicenses". O
conteúdo desta epístola revela cinco propósitos básicos pelos quais ela foi escrita:
4.1 – Paulo queria expressar sua gratidão pela fé e amor deles, agora que ouvia de
sua firmeza em face da perseguição (cap. 1).
4.2 – Paulo se defendeu contra ataques caluniosos que evidentemente tiveram
origem na oposição dos judeus (cap. 2).
4.3 – Para encorajar e exortar, para resistirem às tentações de impureza moral
(cap.3).
4.4 – Paulo procurou dissipar sua ignorância no tocante à relação dos mortos em
Cristo, com sua “parousia”. Ele os conforta com a revelação de que os cristãos que
estiverem vivos quando Cristo vier a encontrá-los não terão nenhuma vantagem sobre os
que já tiverem morrido, visto que ambos encontrarão o Senhor nos ares (cap.4).
4.5 – Paulo instrui os tessalonicenses a respeito de seus líderes espirituais, sua
conduta e seu culto (5.12 – 22).
5. Chaves para I Tessalonicenses:
5.1 – Palavra-chave: “Santificação”.
5.2 – Versículos-chave: (3.12, 13; 4.16 – 18).
5.3 – Capítulo-chave: 4 – O Capítulo 4, inclui a passagem central da epístola
sobre a vinda do Senhor, quando os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro e os que
estão vivos serão arrebatados juntamente com eles nas nuvens.
6. Esboço do Conteúdo.
(1) Reflexões pessoais acerca dos tessalonicenses (1.1 – 3.13).
(a) Paulo enaltece o crescimento deles (1.1-10).
(b) Paulo apresenta o fundamento da igreja (2.1-16).
(c) Timóteo fortalece a igreja (2.17 – 3.13).
(2) Instruções de Paulo aos tessalonicenses (4.1- 5.28)
(a) Diretrizes para o crescimento (4.1-12).
(b) Revelação concernentes aos mortos em Cristo (4.13-18).
(c) Descrição do dia do Senhor (5.1-11).
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(d) Instrução para o viver santo (5.12-22)
(e) Conclusão (5.23-28)
7. Assuntos principais:
7.1. Cristo. Cristo é visto como a esperança de salvação dos crentes, tanto agora
quanto em sua segunda vinda. Quando ele regressar, libertará (1.10; 5.4 – 11), galardoará
(2.19), aperfeiçoará (3.13), ressuscitará (4.13-18) e santificará (5.23) todos os que nele
confiam.
7.2. A segunda vinda Cristo. A volta de Jesus Cristo para buscar a Sua Igreja é
tratada como uma realidade. A esperança cristã está na promessa da ressurreição dos
mortos e no arrebatamento dos que estiverem vivos por ocasião da vinda do Senhor:
"Portanto, o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e
ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e s mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com
eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre
com o Senhor" (1Ts 4.16,17).
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SEGUNDA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES
Desde a primeira carta de Paulo aos tessalonicenses, os problemas aumentaram na igreja.
Falsos mestres perturbavam os santos, alegando que o “dia de Cristo” já havia chegado. Essas
notícias inspiravam o ócio na igreja e inspiram a Paulo a prescrever um antídoto eficaz para
curar os problemas: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (3.10). Paulo lembra
aos tessalonicenses dos eventos que devem ocorrer antes do regresso de Cristo. Aqueles que
suportam perseguição podem recobrar ânimo, sabendo que o justo juízo de Deus fará com que
todas as contas sejam quitadas. Ele exorta seus leitores a permanecerem firmes e diligentes,
aproveitando as oportunidades, em vez de meramente aguardar seu tempo.
1. Autoria: Apóstolo Paulo
2. Data e local de composição: Esta carta foi provavelmente escrita uns poucos meses
depois de I Tessalonicenses, enquanto Paulo ainda estava em Corinto com Silas e Timóteo (1.1,
cf. At 18.5).
3. Destinatário: a Igreja de Tessalônica.
4. Tema e Propósito:
O tema desta epístola é o "conforto e a correção que Paulo transmite aos tessalonicenses
em vista de seus problemas de perseguição religiosa, equívoco doutrinal e abuso prático".
Vemos em 3.11 que Paulo recebe algumas notícias da igreja de Tessalônica: "Há
membros que vivem desordenadamente, não trabalham e fazem coisas inúteis". As exortações
que aparecem na carta mostram que essas pessoas vivem por conta de outras pessoas na igreja,
até o ponto de serem sustentadas por elas. O motivo deles para a aversão pelo trabalho não é
necessariamente a preguiça, mas a esperança pela volta de Jesus enfatizada em demasia. Acham
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que o reino de Deus já veio (o dia do Senhor já chegou 2.2ss) e, por isso, já não consideram
importante continuar as suas atividades profissionais. O propósito de Paulo ao escrever esta carta
era corrigir esse falso ensino.
5. Chaves para II Tessalonicenses:
5.1 – Palavras-chave: "Expectativa do Dia do Senhor".
5.2 – Versículos-chave: (2.2, 3; 3.4 – 5).
5.3 – Capítulo-chave: 2 – Este capítulo corrige um sério erro que havia penetrado
na igreja a respeito da vinda do Senhor.
6. Esboço do conteúdo:
6.1 – O estímulo de Paulo na perseguição (1.1-12).
6.2 – A explicação de Paulo do Dia do Senhor (2.1-17)
(a) Os eventos precedentes ao Dia do Senhor (2.1-12).
(a.1) Primeiro apostasia (2.1- 3).
(a.2) O homem do pecado se manifesta (2.4 - 5).
(a.3) Aquele que restringe é removido do caminho (2:6 – 7).
(a.4) A segunda vinda de Cristo (2.8 – 12)
6.3 – Exortação de Paulo à igreja (3.1 – 18).
7. Assuntos principais:
7.1. A volta de Cristo. A volta de Cristo é mencionada mais vezes no Novo
Testamento (318 vezes) do que qualquer outra doutrina, e este é certamente o principal
conceito nos capítulos 1 – 2 desta epístola. À volta do Senhor Jesus é uma esperança
tranqüilizadora e alegre, mas sua revelação do céu contém pavorosas e terríveis
implicações para aqueles que porventura não confiaram nele (1.6-10; 2.8 – 12).
7.2. Esta é a mais breve das nove cartas de Paulo às igrejas, no entanto provê
informação crucial acerca do fim dos tempos e esclarece questões que de outra forma
seriam muito obscuras. As duas epístolas aos tessalonicenses, juntamente com o discurso
do Monte das Oliveiras (Mt 24 – 25) e o Livro do Apocalipse, formam os três maiores
textos proféticos do Novo Testamento que tratam da questão da escatologia.
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CARTA DE PAULO A FILEMON
Esta é a carta mais breve de Paulo e talvez a mais íntima de todas as suas cartas. Nela
Paulo procura convencer ao amado irmão Filemon a perdoar um escravo que fugiu, por não
aceitar a mais a condição de escravo, e não somente isso, mas aceitá-lo como irmão em Cristo.
Numa época em que e economia estava baseada no trabalho escravo e o no grande império
romano, o número de escravos era muito grande, apesar de a igreja não se opor diretamente à
escravidão, aos poucos, ela vai minando esta estrutura escravista. Paulo já havia falado que em
Cristo todos são iguais, não há diferença entre grego e judeu, nem entre escravo e livre (Gl 3.28).
O relacionamento cristão é baseado no amor, com base neste princípio é que Paulo escreve esta
carta intercedendo pelo escravo Onésimo; que, anteriormente, um escravo indigno, um desertor,
ladrão, porém que agora é irmão em Cristo. Com muito tato e ternura, Paulo pede a Filemon que
receba de volta Onésimo com a mesma brandura com que receberia a Paulo pessoalmente.
Qualquer dívida que por ventura Onésimo tenha, Paulo promete quitar. Conhecendo a Filemon,
Paulo está confiante de que o amor fraternal e o perdão por fim alcançarão vitória.
Mesmo sendo a mais curta das epístola de Paulo, ela é uma profunda revelação de Cristo
operando na vida de Paulo e daqueles à sua volta. O tom é de amizade calorosa e pessoal ao
invés de autoridade apostólica. Ela revela como Paulo endereçou com educação, porém, firmeza
o assunto central da vida cristã, isto é, o amor através do perdão, em uma situação muito
sensível. Apresenta a persuasão de Paulo em ação.
1. Autoria. Apostolo Paulo
2. Data e Lugar. Paulo escreveu esta carta durante sua prisão romana por volta de 61
d.C. Ele desejava uma verdadeira reconciliação cristã entre o proprietário de escravos lesado e o
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escravo perdoado. Paulo, com delicadeza, contudo com urgência, intercedeu por Onésimo e
expressou total confiança de que a fé e amor de Filemon resultariam na restauração (vs 5,21).
3. Destinatário. Esta carta é o apelo pessoal de Paulo a Filemon, um cristão rico e dono
de escravos. Parece que Filemon tinha se convertido sob o ministério de Paulo (v.10), que
morava em Colossos, e que a igreja colosense se reunia em sua casa (v.2). Onésimo, um de seus
escravos tinha fugido para Roma, aparentemente depois de danificar ou roubar a propriedade do
mestre (vs. 11,18). Em Roma, Onésimo entrou em contato com o preso Paulo, que o levou a
Cristo (10).
Paulo escreveu para a igreja em Colossos e evidentemente incluiu esta carta a favor de
Onésimo. Tíquico e Onésimo aparentemente entregaram as duas cartas (Cl 4.7-9; Fm 12). O
relacionamento próximo de Paulo e Filemon é evidenciado através de suas orações mútuas (vs 4
e 22) e de uma hospitalidade de “portas abertas” (v.22). Amor, confiança e respeito
caracterizavam a amizade deles (vs. 1, 14,21)
A escravidão era uma realidade econômica e social aceita no mundo romano. Um escravo
era propriedade de seu mestre, e não tinha direitos. De acordo com a lei romana, os escravos
fugitivos poderiam ser severamente punidos e mesmo condenados à morte. As revoltas dos
escravos no séc. I resultaram em proprietários temerosos e suspeitos. Mesmo a igreja Primitiva
não tendo atacado diretamente a instituição da escravidão, ela reorganizou o relacionamento
entre o mestre e o escravo. Ambos eram iguais perante Deus (Gl 3.28), e ambos eram
responsáveis por seu comportamento (Ef 6.5-9).
4. Tema e Propósito.
Filemon desenvolve a "transição de escravidão a fraternidade" que é produzida pelo amor
cristão e pelo perdão. Justamente como a Filemon fora demonstrada misericórdia mediante a
graça de Cristo, assim também ele deveria graciosamente perdoar o seu fugitivo arrependido que
regressava como irmão em Cristo. Paulo escreve esta carta como seu apelo pessoal para que
Filemon recebesse Onésimo da mesma forma que receberia Paulo. Esta carta foi também
endereçada a outros cristãos do círculo de Filemon, visto que Paulo queria que ela tivesse o
mesmo impacto na igreja colossense como um todo.
5. Chaves para Filemon:
5.1. Palavra-chave: Perdão.
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5.2. Versículos-chave: (16,17).
6. Esboço
6.1. Saudação 1-3.
6.2. Ação de graças em relação a Filemon 4-7.
(a) Louvor pessoal 4.
(b) Características dignas de louvor 5-7.
6.3. Petição de Paulo por Onésimo 8-21.
(a) Um pedido de aceitação 8-16.
(b) Um garantia de reembolso 17.19.
(c) Uma confiança na obediência 20-21.
6.4. Preocupações pessoais 22-25.
(a) Esperança de libertação 22.
(b) Saudações 23-24.
(c) Bênção 25.
Filemon não foi escrita para comunicar doutrina, mas, sim, para aplicá-la de tal maneira
que os efeitos transformadores do cristianismo causassem impacto nas condições sociais. O
poder do evangelho derruba as barreiras sociológicas (Gl 3.28; Cl 3.11), e Paulo é uma vívida
ilustração desta verdade: este fariseu que outrora se auto justificava, agora se refere a um gentio
escravo como “meu filho Onésimo, a quem gerei” (v.10). Filemon não é um ataque à instituição
da escravatura, todavia seus princípios cristãos por fim levariam à renúncia da escravidão.
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EPÍSTOLAS PASTORAIS
Introdução geral
POR QUE USAR O TERMO PASTORAL?
Já no século XIII da era cristã, Tomás de Aquino fez uma referência à 1 Timóteo como
uma epístola que fornece algo como uma “regra pastoral”. Mas foi provavelmente a série de
palestras de Paul Anton sobre as três epístolas, realizada em 1726, a que deu o nome de
“Epístolas Pastorais”, que estabeleceu esta terminologia. O termo tornou-se uma abreviação
conveniente para as três epístolas como um só corpo de escrita. Por causa de seu conteúdo que
contém várias instruções relativas ao cumprimento do trabalho pastoral da Igreja, essas epístolas
passaram a ser conhecidas como pastorais. Elas não são apenas cartas dirigidas a dois dos mais
íntimos colaboradores de Paulo, mas são verdadeiras instruções para dois pastores, são escritos
para o ministério, um manual de regulamentação da doutrina eclesiástica.
MOTIVOS E PROPÓSITOS
Há três impulsos primários que podem ser observadas nas epístolas pastorais a saber:
1. A necessidade de combater as heresias. Grande parte dessas epístolas visa, direta ou
indiretamente, refutar as doutrinas falsas e confundir os hereges. O autor sagrado assediou
homens maus, que propagavam doutrinas de demônios, apanhados nas armadilhas do diabo,
enganadores que por sua vez eram enganados. Com o objetivo de mostrar o quanto eram maus
estes hereges, ele enumera uma lista de vícios inerente ao caráter destes homens como se lê em
2Tm 3.2-5. É impossível imaginar qualquer povo religioso, que reivindique autoridade espiritual,
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baseado no nome de Cristo, envolvido nos defeitos e vícios registrados nesta lista. Podemos
distinguir ali duas queixas gerais contra eles:
➢ Estavam envolvidos em especulações, em discussões vãs, em conversas ímpias;
➢ E isso encorajava-os à degradação moral, à destruição da consciência, à perversão da
sinceridade (veja 1Tm 1.4,5,9,19,20; 4.1ss.; 2Tm 3.1ss.; 4.3ss.; Tt 2.1,7,12; 3.9ss.). O
autor chama alguns deles pelo nome como se lê em 1Tm 1.20 e 2Tm 1.15.
1.1. Heresias judaico-cristãs (ver Tt 1. 10,14; 3.9). As intermináveis genealogias
que promovia especulações (1Tm 1.4), provavelmente eram interpretações alegóricas do
Antigo Testamento que predominava no judaísmo. Os hereges, usando os métodos
existentes no Haggada ou na Midrash*, alegorizavam várias passagens do Antigo
Testamento criando especulações polêmicas. O ascetismo sobre os alimentos (1Tm 4.3)
talvez tivesse ligação com o judaísmo. Os essênios eram celibatários, e todos sabem
quantas regulamentações sobre os alimentos estavam contidas no judaísmo. Notemos que
esses homens eram, não apenas, ascetas, mas também libertinos (ver 2Tm 3.6).
1.2. Heresias Gnósticas. O gnosticismo é um termo geral para indicar uma fase
da religião, que apareceu no paganismo, no judaísmo e no cristianismo; mas foi no
cristianismo que o gnosticismo se tornou mais agressivo. O termo é derivado do vocábulo
grego gnosis, "conhecimento", e tradicionalmente aplicado a um conjunto de ensino
herético que a igreja primitiva teve de enfrentar nos dois primeiros séculos de nossa era.
Nas epístolas pastorais são negadas certas doutrinas distintivamente gnósticas, sobre os
seguintes pontos essenciais:
a) Não existem dois deuses, um maligno, que teria criado a matéria, e
outro bondoso, que teria criado os espíritos. O dualismo radical do gnosticismo é negado
e rejeitado nestas epístolas, como também nas páginas de todo o Novo Testamento.
Paulo, por exemplo, apesar de reconhecer que o nosso corpo físico serve de instrumento
fácil para o pecado (veja Rm 6), jamais permitiu que se pensasse que o corpo é mau por si
mesmo, fora do alcance da redenção, como ensinavam erroneamente os mestres
gnósticos. Nas epístolas pastorais Deus é tanto Criador quanto Salvador (1Tm 1.1; Tt 1.3;
2.10; 3.4), isto contrapõe a idéia gnóstica da existência de uma imensa linhagem de
mediadores, de tal maneira que ninguém poderia entrar em contato direto com o próprio
Deus, pois a matéria bruta só poderia contaminá-lo.
* Métodos que os judeus utilizavam para interpretar as Escrituras Sagradas
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Atos e Epistolas Paulinas
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b) Não há uma grande hierarquia de mediadores entre Deus e o homem,
mas um único mediador, que é o Senhor e Salvador (1Tm 2.5; 2Tm 1.10).
c) Não são apenas alguns poucos iniciados os que podem ser salvos, ao
passo que a grande maioria dos homens estaria fora da possibilidade da salvação, visto
estarem esses totalmente preocupados com a matéria, motivo por que eventualmente
deveriam perecer, conforme ensinava o gnosticismo. Para os gnósticos, havia três classes
de pessoas, a saber:
➢ Os espirituais, que seriam indivíduos totalmente capazes da redenção, que
significaria a reabsorção em Deus;
➢ Os psíquicos, que já não seriam inclinados para a redenção;
➢ E os ílicos ou materialistas, a grande massa da humanidade, totalmente
incapaz de ser remida.
Contrariando este conceito, Paulo argumenta que é da vontade de Deus
que todos os homens sem distinção de classe sejam salvos (veja 1Tm 2.1-6; 4.10; Tt
2.11).
d) Não há um Cristo docético*, isto é, que tenha apenas a aparência
humana, mas que seja um elevado aeon** que veio à terra fingindo-se homem. O
mediador é antes o Homem Cristo Jesus (1Tm 2.5), que se manifestou em carne (1Tm
3.16).
e) Além disso, o cristianismo rejeita o sistema ético do gnosticismo, tanto
em seu ascetismo (1Tm 4.3ss.) como em sua libertinagem (2Tm 3.4ss.). Os gnósticos
ensinavam que o corpo encerra o princípio mesmo do pecado, até onde o homem está
envolvido, sendo inerentemente maligno e incapaz de ser remido. Portanto, não
importaria o que fazemos com o mesmo, podendo os homens abusar dos mesmos e ceder
ante as paixões, como meios de apreciarem o processo pelo qual nos livramos do corpo,
levando-o à sua destruição necessária, como algo que participa do processo cósmico.
2. Problemas de organização eclesiástica, quanto à sua liderança.
2.1. Solenes exortações são feitas a Timóteo, com o objetivo de que ele se
desincumba de seus deveres de conformidade com sua elevada chamada (2Tm 1.5-
8,13ss.; 2.1,22; 3.14; 4.1ss.). Tito e Timóteo tinham a obrigação de pelejar em prol da
* A palavra docética vem do grego dokeo e tem o sentido de aparência. Essa doutrina ensina que Cristo não era
humano, tinha apenas a aparência humana, o que é, de fato, uma heresia. ** seres angelicais
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Atos e Epistolas Paulinas
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pureza de doutrinas, deveriam ansiar por ensinar a verdade cristã pura a outros, resistindo
às heresias (ver 1Tm 4.11; 6.2; 2Tm 3.1ss.; Tt 2.1,15). Somente dessa maneira deveriam
ser líderes da igreja cristã, aceitando as pesadas responsabilidades que tinham, de nomear
outros para os ofícios eclesiásticos.
2.2. A igreja precisava de uma organização apropriada, bem como de nomeação
de líderes qualificados. Para garantir que isso estaria sendo apropriadamente feito, é que
foram escritas essas epístolas (1Tm 3.1ss.; Tt 1.5ss.).
2.3. Estabelecer de forma detalhada as características do ministério ideal do líder
cristão (1Tm 2.8ss.; 5.1ss.; 6.1ss.; Tt 2.1ss.).
3. Instruções acerca da piedade cristã.
Essas epístolas tinham também o propósito de fornecer instruções sobre a piedade, na
vida cristã diária, permitindo ao crente um alto padrão de moralidade cristã. Os mandamentos
morais acham-se dispersos por todas as três epístolas, não formando qualquer secção específica
nas mesmas. Notemos que a palavra grega "eusebeia" (que significa piedade) aparece dezessete
vezes nessas epístolas (cf. 1Tm 2.2; 3.16; 4.7,8; 6.3,5,6,11; 2Tm 3.5,12; Tt 1.1; 2.12).
FUNÇÕES DO MINISTÉRIO
As funções específicas de um ministério da palavra são as seguintes:
1. Confirmar e conservar a ortodoxia, resistindo às heresias. Este tema é enfatizado
muito mais nas epístolas pastorais do que em qualquer outro texto do Novo Testamento (cf. 1Tm
1.10ss.; 3.15ss.; 4.11ss.; 6.3ss.; 2Tm 1.13ss.; 2.23ss.; 3.1ss.; 4.2ss.; Tt 1.9ss.; 2.1 e 3.9ss.).
2. Pregar com intensa devoção. O(a) pregador(a) não deve esquecer-se de cumprir
adequadamente seu trabalho, como um(a) ministro(a) que anuncia a Palavra de Deus. Não pode
ser meramente alguém que combate as heresias. (1Tm 4.16; 2Tm 1.13,14 e 2.15). Mas ele deve
ser um exemplo que os crentes imitem. (1Tm 4.12, Tt 2.7,8). Não deveria apreciar as
controvérsias, mas antes, deveria ser alguém dedicado ao seu ministério, de modo positivo (1Tm
6.4, 2Tm 2.23, e Tt 3.9). Sua pregação deveria ser prática, e não especulativa (1Tm 1.5, 15; 4.10
e 2Tm 3.15-17). Também deve dispor-se a sofrer perseguições devido ao seu ministério fiel,
tornando-se um bom soldado de Jesus Cristo (2Tm 2.3; 4.5; e 1 Tm 2.8,9), seguindo o exemplo
do próprio Paulo.
61
Atos e Epistolas Paulinas
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3. Ter cuidado na seleção de outros pastores. A fim de que a igreja cristã conte com
seus ministros apropriados. A tradição cristã será melhor preservada se for posta sobre a guarda
de homens fiéis, que se submetem à autoridade do apóstolo Paulo e de seus auxiliares (1 Tm 3.1
e ss.; 5.22; 2Tm 2.2; Tt 1.6 e ss).
4. Sustentar o ministério e disciplinar o mesmo. Os ministros do evangelho não devem
ser amantes do dinheiro, trabalhando por motivo do ganho (1Tm 3.3; 6.6-10); não deveriam ser
anelantes pelas vantagens pessoais (1Tm 3.8; Tt 1.7). Não obstante, tem o direito de receber o
sustento financeiro apropriado (1Tm 6.8). Alguns pastores, especialmente aqueles que dirigem
bem e são bons mestres podem com justiça receber um duplo salário, ou alguma forma especial
de reconhecimento (1Tm 5.17).
5. Os líderes cristãos têm a responsabilidade de supervisionar os cultos de adoração,
quanto aos seguintes itens: Nas orações (1Tm 2.1,2); na participação na pregação e no ensino
(1Tm 2.8-15); e na leitura das sagradas escrituras (1Tm 4.13; 2Tm 3.16 e 4.2).
6. Também devem proteger os que sofrem necessidades especiais, provendo o
necessário para os mesmos, como as viúvas que não tem nenhum parente para lhes sustentar
(1Tm 5.5ss.).
7. Exortações éticas em geral. No tocante aos próprios ministros do evangelho, isso
pode ser percebido especialmente em 1Tm 4.1-16.
62
Atos e Epistolas Paulinas
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PRIMEIRA EPÍSTOLA A TIMÓTEO
O apostolo Paulo, já velho e experiente, escreve ao jovem pastor, Timóteo, o qual está
enfrentando uma pesada carda de responsabilidade na igreja de Éfeso. A tarefa desse jovem
pastor era desafiadora. Ele deveria erradicar todo tipo de heresia que estava minando a fé dos
irmãos, manter a ordem e a espiritualidade do culto público e desenvolver a maturidade na
liderança. A conduta da igreja está intimamente ligada à conduta do pastor, por esse motivo
Timóteo deve manter-se em guarda para que a sua juventude não se torne uma deficiência, em
vez de um recurso para o evangelho. Ele deve ser cuidadoso em evitar os falsos mestres e os
motivos gananciosos, buscando a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão,
como convém a um homem de Deus.
1. Autoria. Esta epístola é de autoria do apóstolo Paulo.
2. Data e lugar. Para responder a pergunta sobre quando e onde a carta foi escrita, parece
melhor examinarmos o restante da vida de Paulo e suas viagens, desde o local em que se
encontrava quando escreveu a carta até sua morte. Nada no relato de Lucas, em Atos, sobre a
vida de Paulo, iguala-se aos planos de viagem registrados por Paulo em suas cartas a Timóteo e
Tito. Merrill C. Tenney fez uma excelente comparação do modelo de viagem de Paulo em Atos
com os acontecimentos mencionados nas cartas a Timóteo e Tito. De acordo com Atos, Paulo
poderia não ter deixado Timóteo perto de Éfeso, quando estava a caminho da Macedônia (1.3;
veja At 20.4–6). Demas foi um dos cooperadores citados em Filemon 24, mas havia abandonado
63
Atos e Epistolas Paulinas
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Paulo conforme II Timóteo 4.10. Paulo não foi a Creta no registro de Lucas em Atos, mas,
segundo Tito 1.5, essa foi uma viagem padrão de Paulo. “Como Paulo pôde dizer que concluíra
seu trajeto, se havia permanecido continuamente em Roma”, na prisão (como em Atos 28), e
ansiava por chegar à Espanha (veja Rm 15.24–28; 2 Tm 4.7, 8)?
Todas as peças desse quebra-cabeça se encaixam se considerarmos um acontecimento:
que Paulo foi solto da prisão depois do encerramento do relato de Lucas em Atos. Depois disso,
seria possível que ele continuasse e concluísse seu trajeto antes de ser preso novamente, em
Roma, onde, de fato, concluiu sua jornada na terra.
O seguinte panorama consiste numa tentativa de traçar a rota que Paulo percorreu,
começando com sua primeira prisão em Roma e prosseguindo até a época próxima a sua morte.
Como o registro inspirado não menciona todos os detalhes, reunimos as informações a seguir de
modo a se encaixarem na porção de fato revelada por inspiração, cientes, porém, de que todos os
esforços nesse sentido são de origem humana, estando sujeitos a erros. O fato de Paulo ser
libertado da prisão não contradiz nenhuma passagem bíblica. Lucas não alega que Atos vai até o
fim da vida de Paulo (At 28.30, 31). Paulo insinuou que previa ser solto (veja Fp 2.24). Ele
chegou ao ponto de pedir que Filemon preparasse um lugar para hospedá-lo (Fm 22). Para onde
foi Paulo ao ser solto? A lista abaixo é uma tentativa de ligar todos esses acontecimentos.
Assim que Paulo soube o que aconteceria a ele, mandou Timóteo a Filipos (Fp 2.19–23).
Paulo foi solto e deu início à sua viagem planejada para a Ásia Menor e Macedônia.
Quando viajou partindo de Roma, Paulo chegou a Creta, onde deixou Tito (Tito 1.5).
Prosseguindo a viagem, o apóstolo entrou na Ásia Menor para estar com Filemon e tratar
do caso de Onésimo (Fm 10–22). Isso foi em Colossos (Cl 4.9). Paulo poderia perfeitamente ter
passado em Mileto (perto de Éfeso) a caminho de Colossos.
Voltando a Mileto, Paulo encontrou-se com Timóteo (o qual fora a Filipos a pedido do
apóstolo), e depois prosseguiu até Éfeso (talvez parando em Trôade, no caminho). A hipótese de
Paulo ter-se encontrado com Timóteo em Mileto (em vez de Éfeso) é preferível por causa de
Atos 20.25. Paulo afirmara anteriormente aos presbíteros de Éfeso (que se encontraram com ele
em Mileto): “Agora eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais
o meu rosto”. A idéia de que Paulo não foi a Éfeso é mais provável do que a de que ele foi, mas
foi impedido pelo tempo e pelas circunstâncias de ver ali sequer um dos presbíteros. Paulo
recebeu um recado de Timóteo (Fip 2.19– 24) e partiu para Filipos, aconselhando Timóteo a
voltar para Éfeso e ali permanecer. Diferentemente de Tito 1.5, 1 Timóteo 1.3 não afirma que
Paulo deixou Timóteo ali para terminar a obra em Éfeso.
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Atos e Epistolas Paulinas
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Enquanto estava na Macedônia, Paulo escreveu 1 Timóteo, desejando voltar à região de
Éfeso brevemente, mas sabendo que poderia demorar (3.14, 15; 4.13).
Mais tarde, Paulo escreveu a Tito da Macedônia (provavelmente de Filipos) e alterou o
curso de sua viagem. Queria que Tito se juntasse a ele em Nicópolis (em Epiro, na costa leste do
mar Jônico), onde decidira passar o inverno. Prometeu (ou pelo menos desejava) despachar
Ártemas ou Tíquico (Ef 6.21, 22; Cl 4.7, 8) para levar a cabo a obra em Creta (Tt 3.12).
Evidências externas consideráveis sugerem que Paulo continuou sua viagem até a
Espanha, como tanto desejava. (Veja Rm 15.24, 28.).
8. De acordo com as evidências acima, Paulo voltou à Ásia Menor depois de fazer uma
viagem à Espanha, parando em Corinto e deixando ali Erasto. A seguir, continuou até Trôade (2
Tm 4.13, 20), deixando com Carpo sua capa e pergaminhos. Dali, provavelmente foi para
Mileto, onde Trófimo foi deixado doente (2 Tm 4.20).
Em algum lugar entre Mileto e Roma, Paulo foi preso novamente e levado a um breve,
porém rígido encarceramento (2 Tm 1.16, 17; 2.9; 4.14–18). Ele previu que o fim de sua vida
estava próximo (2 Tm 4.6–8). Sozinho, ele desejava que Timóteo estivesse com ele antes do
inverno (2 Tm 4.9–11, 21). Embora estivesse muitíssimo consciente das difíceis circunstâncias
físicas, seu espírito estava confiante (2 Tm 4.18; veja 2 Co 4.16—5.1; Fp 1.21, 23). A transcrição
de 1 Timóteo (devido aos dados acima) é geralmente datada entre 63 e 64 d.C., sendo que a
epístola de Tito teria sido escrita pouco depois. Ambas as cartas foram escritas de algum lugar da
Macedônia.
3. Destinatário. Esta epístola foi destinada ao jovem pastor Timóteo que pastoreava a
igreja em Éfeso.
3.1. O Jovem Timóteo. O nome de Timóteo aparece nas saudações de várias
cartas de Paulo (ver 2Co; Fp; Cl; 1 e 2 Ts; FM). Seu pai era grego (At 16.1), mas a sua
mãe Eunice e sua vó Lóide eram judias e o criaram no conhecimento das Sagradas
Escrituras (2Tm 1.5; 3.15). Timóteo evidentemente converteu-se através de Paulo (ver
1Co 4.17; 1Tm 1.2; 2Tm 1.2) quando o apóstolo estava em Listra, em sua segunda
viagem missionária (At 14.8-20). Quando visitou Listra em sua segunda viagem
missionária, Paulo decidiu levar Timóteo consigo e o circuncidou por causa dos judeus
(At 16.1-3). Timóteo foi ordenado para o ministério (1Tm 4.14; 2Tm 1.6) e serviu como
devotado companheiro e assistente de Paulo em Trôade, Beréria, Tessalônica e Corinto
65
Atos e Epistolas Paulinas
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At 16-18; 1Ts 3.1,2). Durante a terceira viagem missionária, Timóteo trabalhou com
Paulo e exerceu seu ministério no lugar dele, como seu representante, em Éfeso,
Macedônia e Corinto. Ele estava com Paulo durante sua primeira prisão romana e
evidentemente foi para Filipos (Fp 2.19-23) depois da libertação de Paulo. Este o deixou
em Éfeso para supervisionar a obra ali (1Tm 1.3) e anos mais tarde o chamou a Roma
(2Tm 4.9,21). De acordo com Hebreus 13.23, Timóteo foi preso e solto, mas o texto não
diz onde foi. Timóteo tinham alguns problemas de saúde (1Tm 5.23), era jovem (1Tm
4.12), mas também um mestre talentoso, fidedigno e diligente. (WILKINSON p. 471).
3.2. Que Servo Ele se Tornou! Em Filipenses 2:19–23, Paulo fez altos elogios
ao jovem Timóteo. Entre todos os cooperadores de Paulo, nenhum se comparava a
Timóteo.
(a) Ele procurava entender os outros: “que... cuide dos vossos interesses”
(v. 20).
(b) Ele buscava sua suficiência do alto: “pois todos eles buscam o que é
seu próprio, não o que é de Cristo Jesus” (v. 21). (Isto também poderia incluir um
interesse em fazer o que Jesus quer.)
(c) Ele procurava servir em sujeição aos outros; servia com Paulo como
um “filho ao pai”. Isto incluiria, no mínimo, união (obediência) no serviço, prazer em
servir, servir como exemplo e servir com amor. O que aconteceria se todos os irmãos
servissem juntos dessa forma?
(d) Ele procurava servir com um crescente poder de influência: “pois
serviu ao evangelho, junto comigo” (v. 22). Seu tipo de ministério assemelhava-se muito
ao de Paulo (Rm 15.20, 21). Não é de admirar que o espírito de servo e trabalhador de
Timóteo tornou-o tão querido por Paulo. Tal evangelista será uma bênção onde quer que
vá e a quem quer que sirva. Que todos os pregadores busquem viver e servir assim.
3.3. A cidade Éfeso. A cidade onde Timóteo recebeu as duas cartas de
Paulo é Éfeso. Essa cidade tinha grande importância comercial. Estando a poucos
quilômetros da costa, dispunha de um dos maiores portos do mundo antigo. Éfeso
também tinha grande importância política. Era uma “cidade romana livre”, o que
significava que nenhuma tropa de ocupação residia ali, e a cidade tinha um governo quase
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totalmente independente. Tão elevada era sua estima, que a chamavam de “a Suprema
Metrópole da Ásia”. Éfeso tinha seus próprios magistrados, chamados strategoi e um
concílio eleito pelos cidadãos chamado Boule. Havia também uma assembléia de
cidadãos chamada ekklesia — que, incidentalmente, é a palavra traduzida por “igreja” no
Novo Testamento. Todavia, é traduzida por “assembléia” quando se refere ao grupo
dissolvido pelo escrivão da cidade, no último versículo de Atos 19. Éfeso era chamada de
“cidade tribunal”, denotando que os casos de justiça mais importantes encaminhados ao
governador eram ali julgados. Além disso, Éfeso sediava os jogos panionianos em maio.
Oficiais da província (estaduais) conhecidos como “asiarcas” organizavam e
patrocinavam esses jogos.
A maioria das pessoas sabe que Éfeso tinha grande importância religiosa.
Desde a história antiga, sempre houve um templo na cidade. O construtor do primeiro
templo é desconhecido. O segundo grande templo foi construído pelas cidades da Ásia,
com a ajuda de Croeso, o rei extremamente rico da região chamada Lídia. Esse segundo
templo incendiou-se na noite em que Alexandre, o grande, nasceu, por volta de 356 a.C.
O terceiro templo foi o que conhecemos pela Bíblia. Foi consagrado à deusa grega
Ártemis, conhecida pelos romanos como Diana. Esse templo é lembrado na história
secular como uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. O Templo de Ártemis teria
impressionado até mesmo as pessoas de hoje, acostumadas com edifícios imensos. Era
sustentado por cento e vinte e sete colunas, cada uma sendo presente de um rei. Trinta e
seis delas eram adornadas com gravuras ou revestidas de metais e pedras preciosas. O
prédio propriamente dito tinha uns cento e trinta metros de comprimento, sessenta e sete
metros de largura e dezenove metros de altura! O teto era de cedro e as portas, de
cipreste. Essas madeiras são admiradas por seu valor e resistência à deterioração. Dentro
do magnífico templo havia uma imagem, a qual os adoradores pagãos acreditavam ser de
Ártemis. Dizia-se que ela caíra dos céus e que era de cor preta, podendo, portanto, se
tratar de um meteorito. Tinha a forma arredondada com a superfície coberta de glóbulos
(bolhas como num meteorito?). Sendo Ártemis a deusa da fertilidade, as pessoas
pensavam que essas “bolhas” eram muitos seios. Segundo contam, a imagem tinha uma
clava numa mão e um tridente na outra e na sua base estavam cravados símbolos
estranhos e secretos.
Seria difícil cometer algum exagero ao se enfatizar a importância que o
Templo de Ártemis tinha para a vida de Éfeso. O templo era um lugar de adoração e de
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Atos e Epistolas Paulinas
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asilo (ou seja, criminosos que fugiam para o templo antes de serem descobertos não
podiam ser presos ali). Além disso, servia de abrigo de segurança para valores, assim
como um banco moderno. Afinal, se os deuses não pudessem proteger o bem de alguém,
quem poderia? No caso de Éfeso, o templo também era um ponto comercial. Crendo que
o local trazia sorte, as pessoas compravam cópias das famosas “cartas efésias”, cravadas
na base que sustentava a imagem de Ártemis.
Éfeso era uma das cidades mais supersticiosas do mundo. O ocultismo
estava tão profundamente enraizado ali, que havia muitos praticantes das artes ocultas
entre seus cidadãos (At 19.18–20). O trabalho de Timóteo certamente foi afetado pelo
caráter dos efésios. Eram conhecidos por toda a Ásia como inconstantes, imorais e
supersticiosos.
O “filósofo chorão”, Heráclito, cidadão efésio, disse que nunca sorria por
causa da perversidade de Éfeso. Dizia ele que a moralidade do templo estava abaixo da
moralidade dos animais e que o único destino que cabia aos efésios era o afogamento.
3.4. A Igreja em Éfeso. A igreja em Éfeso teve início quando Paulo,
Áquila e Priscila pararam em Éfeso, na viagem de Corinto para a Palestina, por volta de
53 ou 54 d.C. Paulo discutiu com os judeus na sinagoga dali (At 18.18–21). Mais tarde, a
igreja parece ter se tornado mais predominantemente gentia do que judia. Quando Paulo
voltou, cerca de cinco anos depois, encontrou ali doze discípulos que haviam sido
incorretamente batizados. Ensinou-lhes o que lhes faltava e batizou cada um novamente
(At 19.1–5). Nessa viagem missionária (a terceira dele), Paulo pregou na sinagoga
durante três meses. Quando levantou-se forte oposição contra ele, passou a ensinar na
Escola de Tirano durante dois anos (At 19.9, 10). A importância de Paulo unir-se ao
trabalho em Éfeso é demonstrada pela sua permanência ali. Além disso, ele fez essa
declaração quando, estando em Éfeso, escreveu aos coríntios: “…uma porta grande e
oportuna para o trabalho se me abriu…” (1Co 16.9). A eficácia do evangelho naquela
cidade é evidenciada pelo fato de os crentes efésios queimarem uma quantidade de livros
ocultistas no valor total de cinqüenta mil moedas de prata (cerca de oito mil dólares) de
uma só vez (At 19.18–20). Quando Paulo foi a Jerusalém pela última vez, por volta de 58
d.C., pediu que os presbíteros da igreja em Éfeso se encontrassem com ele em Mileto,
para que ele pudesse preveni-los a respeito de certos acontecimentos futuros e dar-lhes
adeus. O apóstolo trabalhara ali durante três anos e esses líderes foram preciosos para ele.
Oraram e choraram juntos antes da partida de Paulo (At 20.17–38). Aproximadamente
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trinta anos depois da primeira carta ter sido escrita à igreja em Éfeso, uma outra carta lhe
foi endereçada como parte do Apocalipse de João. Essa carta descreveu o que a igreja
havia suportado e revelou que a dedicação entusiasta da igreja havia diminuído um pouco
(Ap 2.1–7).
4. Tema e Propósito
O tema desta epístola é a “organização e a supervisão que Timóteo como ministro deveria
fazer na Igreja de Deus". Paulo escreveu esta carta como um manual destinado à liderança, de
modo que Timóteo tivesse um guia eficaz que lhe auxiliasse no seu ministério de pastoreio e
administração da igreja. Paulo desejava estimular e exortar seu assistente mais jovem a tornar-se
um exemplo para os outros, exercer seus dons espirituais e “combater o bom combate da fé”
(1Tm 6.12; cf. 1.18; 4.12-16; 6.20). A vida pessoal e pública de Timóteo deve estar acima de
censura, e ele deve saber como tratar as questões de falso ensino (heresia), organização,
disciplina, proclamação das escrituras, pobreza e riqueza. Negativamente, ele tinha de refutar o
erro (1.7-11; 6.3-5); positivamente, tinha de ensinar a verdade (4.13-16; 6.2,17,18).
5. Chaves para 1Timóteo
5.1. Palavras-chave: "Manual de Liderança".
5.2. Versículos-chave (3.15,16; 6.11,12).
5.3. Capítulo-chave (3) – este capítulo descreve as qualidades dos pastores
(presbíteros/ bispos) e diáconos.
6. Esboço do conteúdo
6.1. Instrução concernente à doutrina (1.1-20)
a) A incumbência anterior de Paulo a Timóteo (1.1-17)
b) A Primeira Ordem: “combate o bom combate” (1.18-20)
6.2. Instrução concernente ao culto público (2.1-3.16)
a) a oração e as mulheres no culto público (2.1-15)
b) Qualificações dos bispos e Diáconos (3.1-13)
c) Segunda Ordem “como proceder na casa de Deus” (3.14-16)
6.3. Instruções concernentes aos falsos mestres (4.1-16)
a) Descrição dos falsos mestres (4.1-5)
b) Instrução para o verdadeiro mestre (4.6-10)
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c) Terceira Ordem: “Não negligencies o Dom” (4.11-16)
6.4. Instruções concernentes à disciplina eclesiástica (5.1-25)
a) Como tratar todas as pessoas incluindo viúvas e anciãos (5.1-20)
b) Quarta Ordem: “Que guarde todas as coisas sem prevenção”(5.21-25)
6.5. Instrução concernente aos deveres pastorais (6.1-21)
a) Exortação para os servos (6.1,2)
b) Exortação para a piedade com contentamento (6.3-16)
c) Exortação para os ricos (6.17-19)
d) Quinta Ordem: “Guarda o depósito que te foi confiado” (6.20,21)
7. Assuntos principais:
7.1. Sobre Cristo. Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens (2.5); é o
Deus encarnado (3.16); é a fonte de pode espiritual, da fé e do amor (1.12,14); veio ao
mundo para salvar os pecadores (1.15), se entregou em resgates de todos (2.6), é o
salvador de todos os homens especialmente os que crêem (4.10).
O Amor ao Dinheiro (6:10)
Quais perigos estão envolvidos no amor ao dinheiro?
1. O amor ao dinheiro tende a ser uma sede insaciável. O estranho acerca das riquezas é que nunca parece chegar um momento em que a
pessoa diga: “Chega!” 2. O amor às riquezas está fundamentado numa ilusão.
Primeiramente, ele está fundamentado no desejo de segurança, mas as riquezas não podem comprar a segurança. Em segundo lugar, quando uma
pessoa pensa que já conquistou o mínimo de segurança, o desejo de adquirir mais riquezas se fundamenta no desejo por conforto e luxo. As riquezas não podem comprar as maiores coisas. Elas não compram saúde;
não compram amor verdadeiro; não protegem da tristeza nem da morte.
3. O amor ao dinheiro tende a deixar a pessoa egoísta. Quando uma pessoa é movida pelo desejo de ser rica, não significa nada para ela o fato de outros permanecerem pobres a fim de que ela acumule mais, ou que
outros percam para que ela ganhe.
4. O amor às riquezas baseia-se no desejo por segurança, mas termina em nada mais do que preocupação e ansiedade. Quanto mais se tem para guardar, mais se tem para perder. Se um indivíduo possui bens
valiosos, a tendência é que ele seja assombrado pelo risco de perdê-los.
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EPÍSTOLA A TITO
Paulo, o velho e experiente apóstolo designa um jovem ministro, Tito, para começar o
desafiante trabalho de organizar as igrejas locais na Ilha de Creta. Nesta epístola, o apóstolo
compartilha com Tito as diretrizes da administração eclesiástica. Os líderes devem ser escolhidos
com base no caráter e conduta provados; os falsos mestres devem ser detectados e afastados
imediatamente; os membros da igreja de todos os tempos devem ser estimulados a viver de modo
digno o evangelho em que alegam crer. Homens e mulheres, jovens e anciãos, cada um tem suas
funções vitais a cumprir na igreja, caso queiram ser exemplos vivos da doutrina que professam.
Nesta carta Paulo destaca a necessidade de operação prática da salvação na vida diária tanto dos
líderes quanto da congregação. As boas obras são desejáveis e proveitosas a todos os crentes.
1. Autoria: foi escrita pelo Apóstolo Paulo.
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2. Data. Baseando-se no registro bíblico, é evidente que Paulo foi libertado de sua
primeira prisão, registrada em Atos (28.16–31; veja Fp 2.24; 4.22). Pouco antes de ser solto, ele
quis mandar Timóteo para Filipos (Fp 2.19–23). Uma vez solto, Paulo partiu para a Ásia Menor
(como planejara; veja Fm 1, 10, 22), parando em Creta, durante a viagem. Ali Paulo deixou Tito
(Tt 1.5). Conforme o planejado, Paulo prosseguiu a viagem até Colossos, com o propósito de
chegar a uma decisão com Filemon sobre Onésimo. Em algum momento dessa viagem, Timóteo
saiu de Filipos e encontrou-se com Paulo em Éfeso ou Mileto. Paulo insistiu para que Timóteo
ficasse em Éfeso, enquanto ele seguia viagem para a Macedônia (1 Tm1.3). Estando em alguma
cidade da Macedônia, Paulo queria voltar à região de Éfeso, mas sabia que isso possivelmente
demoraria (1 Timóteo 3:14, 15). Foi nessa ocasião que o apóstolo escreveu 1 Timóteo e Tito. Os
planos de viagem mudaram, porque ele pediu que Tito se juntasse a ele em Nicópolis, em Épiro,
na costa leste do mar Jônico. “Ele ainda não havia chegado a Nicópolis (3.12). Como decidira
passar o inverno ali (não ‘aqui’), é provável que estivesse escrevendo no final do verão ou
começo do outono, por volta do ano 63 ou 64 d.C.
3. Destinatário: esta carta foi enviada a Tito.
3.1. O que sabemos sobre Tito, o pregador que recebeu esta carta? Nada se
sabe sobre os pais e a comunidade natal dele. Está claro, porém, que ele era gentio; e
estava em Antioquia da Síria catorze ou dezessete anos após Paulo ter se tornado cristão.
(Veja Gl 1.18; 2.1.) A partir daí, ele foi um companheiro íntimo de Paulo, encarregado de
importantes tarefas e considerado em grande estima pelo apóstolo. O nome Tito não
aparece no Livro de Atos, mas aparece treze vezes em outros livros do Novo Testamento:
duas vezes em Gálatas (2.1; 2.3), uma vez em 2 Timóteo (4.10), uma vez em Tito (1.4) e
nove vezes em 2 Coríntios (2.13; 7.6, 13, 14; 8.6, 16, 23; e duas vezes em 12.18). A
primeira referência implícita a Tito encontra-se no Livro de Atos, ainda que seu nome
não tenha sido citado. Comparando Atos 15.2 (“alguns outros dentre eles”) com Gálatas
2.1, 3 (“levando também a Tito… nem mesmo Tito, que estava comigo”), ficamos
sabendo que Tito esteve com Paulo e Barnabé após a primeira viagem missionária.
Tito foi um emissário especial enviado à problemática igreja de Corinto (veja 2
Co 2.13; 7.5–14; 12.17, 18), trazendo na volta palavras de conforto para Paulo.
Obviamente, Paulo considerava digno de confiança qualquer relatório trazido por Tito.
Além disso, a confiança que o apóstolo tinha nesse obreiro é evidenciada quando Paulo o
escolheu para ajudar a arrecadar fundos para os cristãos necessitados de Jerusalém (2 Co
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Atos e Epistolas Paulinas
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8.6–24). Paulo deixou Tito em Creta para “que pusesse em ordem as coisas restantes,
bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi” (1.5). Mais
tarde, Tito foi solicitado em Nicópolis e esteve com Paulo em Roma durante a segunda
prisão, sendo enviado à Dalmácia (3.12; 2 Tm 4.10). Todas essas responsabilidades
identificam Tito como um daqueles a quem Paulo podia confiar deveres tão difíceis como
resolver problemas congregacionais. Era um homem a quem se podia confiar dinheiro ou
sentimentos. Era um edificador de homens, um organizador e empreendedor que, deixado
num lugar, levava adiante o trabalho restante. Com base no exemplo de Tito, todo líder,
ou pastor faria bem em parar nesta altura e aplicar a si mesmo o seguinte teste de quatro
questões:
Você lida bem com a crítica (Gl 2.3–5; At 15.1–29)?
Você pode fazer um relatório preciso e correto sobre o que os outros têm feito
ou estão fazendo na sua congregação?
Você é capaz de pôr em ordem as coisas restantes, em qualquer cidade, para
que sejam constituídos presbíteros (1.5)? A obra do Senhor, em nível de
organização, está inacabada em muitas congregações.
Você é uma pessoa confiável para lidar com dinheiro e finanças (2 Co 8.6, 16–
21, 23, 24)? Só o Senhor sabe os danos causados na vida e no crescimento por
conta de líderes que deixaram de seguir o exemplo que Tito estabeleceu.
Tendo em vista tarefas de responsabilidade como as que Paulo deu a Tito, não nos
surpreende que o apóstolo se referisse a Tito como “verdadeiro filho, segundo a fé
comum” (1.4). De várias maneiras, Paulo e Tito andavam “no mesmo espírito” (2 Co
12.18). Quanto ao povo de Cristo e à causa de Cristo, Paulo afirmou que Deus pôs
“solicitude” no coração de Tito (2 Co 8.16, 17). Esse espírito cuidadoso, acrescido de
empenho e sabedoria mediante circunstâncias difíceis fizeram de Tito um cooperador
inestimável para Paulo e o Senhor. Todo líder deve estudar com cuidado a vida e obra de
Tito tendo em vista o lema: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10:37).
3.2. A natureza das pessoas residentes na ilha de Creta era bem conhecida.
Os cretenses tinham uma má reputação. William Barclay deixou o seguinte comentário:
Nenhum povo tinha reputação pior no mundo antigo do que os cretenses. O mundo antigo
dizia que existiam três “cês” muitíssimo nocivos — os cretenses, os cilicianos e os
capadócios. Os cretenses tinham a fama de serem um povo beberrão, insolente, traidor,
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mentiroso e glutão… eram tão famigerados que os gregos de fato criaram um verbo
kretizein, cretizar, que significava mentir e trapacear… O problema ia além do mundo ao
redor da igreja: a própria igreja fora obviamente afetada por uma combinação de más
influências. Merrill C. Tenney escreveu: O transtorno em Creta havia sido causado por
uma combinação de frouxidão ética originária das tendências naturais dos cretenses
(1.12,13), acentuada por uma controvérsia acerca de fábulas e mandamentos judaicos, os
quais foram promovidos por um grupo de judaizantes (1.10) impiedosos (1.16),
insubordinados (1.10), facciosos (1.11) e mercenários (1.11). Esses mestres se
diferenciavam dos que causaram problemas na Galácia porque o erro deles era
perversidade moral, enquanto que o dos gálatas era legalismo severo. Ambos são
condenados por esta epístola.
Tito 1.10–14 descreve “o caráter e a conduta deles, confirmados pelo grego
Epimênides e por Paulo. Nos versículos 15 e 16 apresenta-se o estado do coração e da
consciência deles. Veja Mateus 15.19 e 20. Que campo de trabalho!”
Não se sabe exatamente como a igreja começou nessa ilha. H. C. Thiessen
observou que Atos 2.11 (o dia de Pentecostes) é uma possível data para os cretenses
terem sido introduzidos no cristianismo. Além disso, Paulo fez uma breve parada ali,
quando viajava para Roma (Atos 27.7–13, 21).
4. Tema e propósito: A epístola a Tito apresenta uma demonstração prática e poderosa
da providência de Deus em ação. A tarefa que Paulo atribuiu a Tito salienta como um líder deve
trabalhar para edificar congregações locais. Foi “por esta cousa” (Tito 1.5) que Paulo deixou Tito
em Creta. Cada faceta da epístola visa ao amadurecimento dos membros (1.5–9). Ela se dirige a
variadas classes e grupos (2.1–10), oferecendo diretrizes sobre como lidar com perturbadores em
situações domésticas (1.10, 11; 2.5, 6), sociais (1.12, 15, 16) e congregacionais (3.9–11).
Variadas classes e grupos farão parte das congregações em algum momento. Nesta questão, a
epístola desafia todos a se elevarem ao padrão exigido para quem está em Cristo Jesus (2.11–14;
3.3–6), que de fato nos oferece a “esperança da vida eterna” (1:2; 3:7). Tito foi deixado em Creta
por uma causa: edificar o corpo. Os líderes de hoje não encontrarão em outro lugar uma
ferramenta mais vital para ajudá-los a suprir as necessidades entre as congregações locais.
5. Chaves para Tito
5.1. Palavras-chave: "Manual de Conduta".
5.2. Versículos-chave: (1.5; 3.8)
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5.3. Capítulo-chave: (2). Neste capítulo Paulo descreve os mandamentos-chave
para serem obedecidos, os quais asseguram relações piedosas no seio da igreja. Paulo
inclui todas as categorias de pessoas, instruindo-as a mostrar perfeita lealdade, para que
em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus nosso Salvador (2.10).
6. Esboço do conteúdo
6.1. Nomear presbítero (1.1-16).
a) Introdução (1.1-4).
b) Ordenação de presbíteros qualificados (1.5-9).
c) Repreensão dos falsos mestres (1.10-16).
6.2. Colocar as coisas em ordem (2.1-3.15).
a) Proclamação da sã doutrina (2.1-15).
b) Manutenção das boas obras (3.1-11).
c) Conclusão (3.12-15).
7. Principais assuntos:
7.1. A Doutrina de Deus. Ele é eterno (1.3), Ele concede graça e paz (1.4), Ele Se
revelou (2.11) e é nosso Salvador (3.4). Paulo era Seu servo (1.1). (Pessoas orgulhosas
precisam, acima de tudo, submeter-se a Deus.)
7.2. A Doutrina de Cristo. Ele é nosso Salvador (1.4; 2:13; 3.6). Observemos
que esse mesmo título é aplicado tanto a Deus como a Cristo. A afirmação em 2.13 tem
uma importância especial como um testemunho em favor da divindade de Cristo. A
Divindade encarnada estabeleceu um padrão para o homem de forma ornar a doutrina
(2.10.)
7.3. A Doutrina do Espírito Santo. Ele é o agente da regeneração (3.5). A
mensagem de misericórdia oferece renascimento ao homem decaído.
7.4. A Doutrina da Palavra de Deus. Deus manifestou Sua Palavra na
mensagem pregada (gr. kerygma), e ela deve ser o padrão para a vida cristã (1.3; 2.5,
10). Ela é chamada “fiel” em 1.9. Observemos a ênfase no ensino fiel à Palavra de Deus
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(1.9; 2.1, 7). Vinculada a isso está a advertência contra heresias, aparentemente um tipo
de ensino gnóstico e judaico (1.10, 14; 3.9).
7.5. A Doutrina da igreja. O apóstolo escreveu com autoridade (1.1, 3) e Tito
deveria falar, exortar e repreender com autoridade (2.15). Os requisitos para os
presbíteros são prescritos (1.6–8), juntamente com seus deveres (1.9). As
responsabilidades dos crentes são delineadas em 2.1 a 3.28 . As instruções divinas para o
desenvolvimento do homem precisam ser ouvidas e seguidas.
Para um ambiente repleto de problemas morais e espirituais, Paulo apresentou um
Salvador sublime e suficiente (1:3, 4; 2:10, 11, 13; 3:4, 6). Esperança é o que se oferece a
qualquer comunidade perdida. Para “muitos insubordinados, palradores frívolos e
enganadores” (1:10), Paulo sugeriu como antídoto uma boa dose de sã doutrina (1:9, 13;
2:1, 2, 10). Essa sã doutrina precisa ser manejada por almas “sóbrias” (1:8; 2:5, 6, 12),
pessoas que se sobressaem porque, em vez de agirem como a comunidade “fazendo o que
querem”, têm uma disposição para o autocontrole.
Esse autocontrole manifesta-se perante outras pessoas através de uma conduta de
“piedade” (1:1; 2:12; 1 Timóteo 2:2, 10; 3:16; 4:7, 8; 6:3, 5, 6, 11; 2 Timóteo 3:5).
A sã doutrina, quando bem aceita, conduz as almas para longe de serem “ventres
preguiçosos” (Tito 1:12), transformando-as em almas “zelosas de boas obras” (2:14; veja
1:16; 2:3, 7; 3:1, 8, 14).
Paulo advertiu contra uma postura extrema de ser levado por um (provável)
judaizante contraditor, arrogante, ditador de ordens, contencioso e briguento (1:9–11, 14;
2:8; 3:2, 9, 10). Ele ensinou que o zelo deveria ser exercido com base na “submissão”
(2:5, 9; 3:1). Em suma, as pessoas maldosas de Creta (1:12) foram, através dessa epístola,
estimuladas a se tornarem boas e a fazerem o bem (1:16; 2:3, 7, 10, 13,14; 3:1,8,14). As
necessidades das pessoas foram também desafiadas e direcionadas pela doutrina divina.
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SEGUNDA EPÍSTOLA A TIMÓTEO
Este é o ultimo escrito de Paulo, ele escreveu esta carta quando estava preso em Roma. O
velho apóstolo, apesar de todas as perseguições, lutas, e agora a prisão, ainda tem ânimo, fé e
inspiração para escrever, para externar aquilo que o Espírito Santo havia transmitido ao seu
coração em relação a Timóteo e à igreja. Nesta carta, Paulo começa reafirmando a Timóteo o seu
contínuo amor e orações, e o lembra de sua herança e responsabilidades espirituais. Paulo
transmite suas palavras finais de sabedoria e estímulo a Timóteo, que está exercendo o seu
ministério em meio a oposições e dificuldades em Éfeso. Paulo realça e importância de viver
piedosamente, pregar persistentemente, e preparar para a vinda de apostasia dentro da igreja.
Somente aquele que persevera, quer como soldado, atleta, agricultor ou ministro de Jesus Cristo,
receberá o galardão. Paulo lembra a Timóteo que seu ensino estará sujeito a ataque quando os
homens abandonarem a verdade por palavras que dão “coceira” (4.3). Timóteo, porém, conta
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Atos e Epistolas Paulinas
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com o exemplo de Paulo para guiá-lo e com a Palavra de Deus para fortificá-lo, ao enfrentar
crescente oposição e calorosas oportunidades nos últimos dias.
1. Autoria: Apóstolo Paulo
2. Data e Lugar. Paulo escreveu esta carta por volta do ano 67 d.C. na prisão em Roma
já aguardando a execução.
3. Destinatário: Foi enviada a Timóteo em Éfeso.
Nero, cruel imperador, reinou em Roma do ano 54 a 68 d.C., ele foi responsável pelo
início da perseguição aos cristãos desencadeada neste período. Por volta do ano 64 d.C., a
metade de Roma foi destruída por um incêndio, que provavelmente foi causado pelo próprio
imperador. E a crescente suspeita de que Nero foi responsável por este incêndio levou-o a usar os
cristãos como bode expiatório. Ele acusa os cristãos de ter incendiado a cidade e a partir daí
levanta-se uma grande perseguição contra a igreja, o cristianismo torna-se uma religião ilícita e a
perseguição dos que professam a Cristo se torna cada vez mais severa. Paulo que já havia sofrido
várias perseguições e até mesmo prisão, acaba novamente sendo preso. Temendo por suas
próprias vidas, os cristãos da Ásia deixaram de apoiar Paulo depois que foi preso (1.15) e
ninguém o ajudou em sua primeira defesa perante a corte imperial (4.16). Abandonado por quase
todos (4.10,11), o apóstolo encontrou-se em circunstâncias bem diferentes daquelas de sua
primeira prisão romana (At 28.16-31). Naquele tempo ele estava simplesmente na casa de
detenção, podendo ser visitado livremente, e ainda tinha a esperança de ser solto. Agora,
encontrava-se numa fria cela (4.13), considerado um malfeitor (2.9), e sem esperança de
absolvição a despeito do êxito de sua defesa inicial (4.6-8,17,18). Sob tais condições, Paulo
escreveu esta carta esperando que Timóteo pudesse visitá-lo antes da chegada do inverno (4.21).
Não temos informação se Timóteo conseguiu visitá-lo na prisão antes de Paulo ser executado.
4. Tema e propósito
O estilo empregado por Paulo ao dar este encargo a Timóteo, é tanto definido como
singular. Ele sustenta o corpo de sua mensagem em uma estrutura básica sugerida pelas duas
palavras: lembrar e relembrar. Dentro desta estrutura, Paulo dá a Timóteo seus solenes
encargos, juntamente com gemas de verdade que reluzem contra um pano de fundo de
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recordações cheias de amor e lembretes ousados que chamam Timóteo à plena comunhão em
companhia dos que também se comprometeram.
Paulo escreve deste modo para ajudar a Timóteo a compreender o que está acontecendo.
Esta palavra “compreensão” é uma palavra-chave para interpretar o que lhe é dito por Paulo (cf.
2.7; 3.1). Paulo está fazendo um retrospecto de um ministério vigoroso e dedicado que está se
aproximando de um final tanto glorioso como trágico. Parece bastante evidente que Paulo não
está escrevendo apenas para chamar Timóteo a Roma (cf. 4.9), mas também para ajudá-lo a
compreender os acontecimentos chocantes, amedrontadores e desanimadores que estavam
conspirando para fazer de Paulo, um mártir pela causa de Cristo. Timóteo tinha grande
necessidade de estímulo em virtude das dificuldades que ora enfrentava, e Paulo usou esta carta
para instruí-lo sobre como driblar a perseguição externa e a dissensão e a fraude interna.
Paulo fala repetidamente de pregar o evangelho e do sofrimento resultante. É este o tema
desta carta (cf. 1.8,12; 2.9,11; 3.12; 4.5,6).
5. Chaves para 2Timóteo
5.1. Palavras-chave: "Persistência no Ministério".
5.2. Versículos-chave: (2.3,4; 3.14-17)
5.3. Capítulo-chave: (2) – todo líder ou obreiro deve ler diariamente este capítulo.
Paulo lista aqui as chaves para um ministério persistente e bem-sucedido:
(1). Um ministério multiplicador (vv. 1,2);
(2). Um ministério duradouro (vv. 3-13);
(3). Um ministério de pesquisa (vv. 14-18);
(4). Um ministério santo (19-26).
6. Esboço do Conteúdo
6.1. Perseverar nas provações atuais (1.1-2.26).
a) Gratidão pela fé de Timóteo (1.1-5).
b) Lembrete da responsabilidade de Timóteo (1.6-18).
c) Características do ministro fiel (2.1-16).
6.2. Suportar as provações futuras (3.1-4.22).
a) O dia da apostasia se aproxima (3.1-17).
b) Ordem para pregar a Palavra (4.1-5).
c) O apostolo ver a sua morte aproximar (4.6-22).
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7. Assuntos principais sobre a vida de Paulo:
7.1. O coração do apóstolo. Meditemos em algumas das frases transcritas por um
velho soldado de Cristo prestes a morrer na prisão:
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus… ao amado filho
Timóteo… sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. Lembrado das
tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te… pela recordação que guardo de tua fé sem
fingimento… Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti
pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1.1–6).
“Não te envergonhes… do seu [de Cristo] encarcerado, que sou eu…” (1.8).
Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram… (1.15).
Tu, pois, filho meu… Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de
Cristo Jesus (2.1–3).
…cumpre cabalmente o teu ministério. Quanto a mim, estou sendo já oferecido
por libação, e o tempo da minha partida é chegado (4.5, 6).
Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me
abandonaram (4.16).
Procura vir ter comigo depressa (4.9).
Apressa-te a vir antes do inverno… (4.21).
O coração de Paulo devia estar apertado, e com certeza lágrimas escorriam pelo
seu rosto. Esta é uma epístola intensamente pessoal! Paulo usou seu próprio nome uma
vez (1.1) e mencionou “eu” vinte e oito vezes. “Me” e “mim” aparecem vinte e seis vezes
na carta e “meu/ minha” é usado onze vezes — perfazendo um total de sessenta e seis
referências a si mesmo nos quatro capítulos (oitenta e três versículos).
7.2. A esperança de Paulo. A situação e a preocupação de Paulo estão
entrelaçadas por toda a epístola através de palavras chaves como “encarcerado” (1.8),
“algemas” (1.16; 2.9). As circunstâncias demonstravam que era um tempo de sofrimento
(1.12; 2.9, 12; 3.11, 12; 4.5). Não era hora de se envergonhar (1.8, 12, 16; 2:15), mas de
“suportar”, pois o Senhor traria o livramento (3:11; 4:17, 18). Era hora de os cristãos
interagirem com diligência (1/17; 4.9, 21). Esse somatório é realçado pelas palavras
chaves do seguinte esboço: o apelo de Paulo era pela constância de Timóteo em meio às
tribulações (capítulo 1), para que Timóteo fosse um bom soldado (capítulo 2), que se
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guardasse (capítulo 3) e cumprisse a ordem de Paulo de concluir seu ministério, assim
como Paulo fizera (capítulo 4).
7.3. As recordações de Paulo. De alguma forma, Paulo parecia estar com um pé
no passado e o outro virado para o futuro. Ele estava se vendo como um velho soldado
prestes a sair da posição estratégica de uma vida partindo para outra, a qual seria mais
gloriosa. Paulo lembrou-se (e queria que Timóteo também se lembrasse) de seus
antepassados (1.3), da avó e da mãe do rapaz (1.5; 3.14, 15), de quando Paulo impôs as
mãos sobre Timóteo concedendo-lhe o “dom de Deus” (1.6), dos que abandonaram o
apóstolo (1.15; 2.17, 18; 4.10, 14–16) e dos que o animaram e até o livraram (1.16–18;
4.11, 17, 18). Paulo também olhou mais adiante, por antecipação. Ele vislumbrou a “vida
e a imortalidade” (1.10), a salvação adquirida em Cristo (2.10) e a coroa da justiça (4.8),
quando o Senhor o levaria salvo para o “Seu reino celestial” (4.18).
7.4. A despedida comovente de Paulo. São comoventes as palavras de
encerramento ditas por esse velho e valente soldado da cruz. Essas palavras, inspiradas
por Deus, foram preservadas para nós que vivemos “os últimos dias”, nos tempos
opressivos em que impostores iriam de mal a pior (3.1, 13). Essas palavras geram em nós
um estímulo para lermos com cuidado cada apelo e nos agarrarmos com uma atenção
arrebatadora a cada desafio declarado e a cada advertência alistada. A confiança de Paulo
próximo da morte pode ser nossa também e seu Livramento de toda obra maligna
também nos “levará salvos para o seu reino celestial. A Ele, glória pelos séculos dos
séculos. Amém!” (4.17, 18). São essas palavras que dão o tom ao estudo desta epístola!
Referências Bibliográfica:
BOYD, Frank M. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD
BRUCE, F.F. Romanos: introdução e comentário. Editora Vida Nova
BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. Editora Vida
DOUGLAS, J.D. (org.) O Novo Dicionário da Bíblia. Ed. Vida Nova
CHAMPLIN, Russel Norman. O N.T. interpretado versículo por versículo. Ed. Candeia.
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Colossenses e Filemon. Casa
editora Presbiteriana
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HOUSE, H. Wayne. O Novo Testamento em Quadro. Editora Vida
KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Editora Paulus
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento Editora Êxodo
MARSHALL, I. Howard. I e II Tesssalonicenses: introdução e comentário. Editora Vida Nova
WILKINSON, Bruce & Boa, Keneth. Descobrindo a Bíblia. Ed. Candeia.
HORSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do N.T. Ed. Esperança.
SPAIN, Carl. Epístolas de Paulo a Timóteo e Tito. Editora Vida Cristã, 1980
Site pesquisado: WWW.biblecourses.com. (Dayton Keesee. 1 e 2 Timóteo e Tito)
Bíblia de Estudo Vida. Editora Vida
Bíblia de referência Thompson. Editora Vida
Responsável pela elaboração desta apostila: Adriano dos Santos Miranda