Download - Educação afro brasileira (relatório)
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE)
CLAUDIANE CAROLINE ALVES WANDERLEY1
JONATHAN REGINNIE DE SENA LIMA2
NATÁLIA DA SILVA DUQUE3
Relatório de Campo
Recife
2011
1 Graduanda em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE). 2 Graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE) e Bacharelando em Direito pela Faculdade Metropolitana da Grande Recife (FMGR). 3 Graduanda em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE).
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO (UFRPE)
CLAUDIANE CAROLINE ALVES WANDERLEY
JONATHAN REGINNIE DE SENA LIMA
NATÁLIA DA SILVA DUQUE
Este relatório foi requisitado como
componente de avaliação parcial
requisitada na disciplina Educação
Afro-brasileira ministrada pela
professora Denise Maria Botelho, no
curso de Licenciatura Plena em
Pedagogia pela Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE).
Recife
2011
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 4
Dados da observação e parâmetros referenciais teóricos................................................... 4
Complexo Industrial Portuário de Suape ............................................................................ 4
Povoado de Muquém ............................................................................................................. 5
União dos Palmares ............................................................................................................... 8
Considerações Finais ................................................................................................................ 8
Anexos ......................................................................................................................................... 9
Complexo Industrial Portuário de Suape ............................................................................ 9
Povoado de Muquém ........................................................................................................... 12
União dos Palmares ............................................................................................................. 23
Introdução
Com o objetivo de visitar espaços de memória que remontam a
episódios históricos que interferiram na construção da identidade social
nacional, visando analisar a influência da cultura negra africana na composição
do tronco cultural brasileiro, bem como, a ocupação de determinados espaços
geográficos cujas principais características são os desafios topográficos e
naturais, a saber, a densidade da vegetação nativa (elemento que, embora,
dificultaram o acesso, constituía um excelente espaço para a ocupação dos
resistentes ao sistema escravista). Esta localidade de difícil acesso fazia com
que fosse possível viver com um pouco mais de tranquilidade, com uma
possibilidade muito menor de que o senhor de escravos através dos capitães-
do-mato, pudesse encontrá-los e conduzi-los novamente às senzalas.
Desta forma de organização dos quilombos, cuja formação e ocupação
tendiam a uma produção econômica de substrato comunal de tal forma que os
frutos percebidos quando da subsistência era de consumo local e o excedente
utilizado como instrumento de troca para suprir, junto a outras comunidades, as
necessidades básicas do espaço.
Esta pesquisa de campo se desenvolve no período compreendido entre
29 e 30 de outubro de 2011 na região reconhecida como Serra da Barriga no
estado de Alagoas (AL).
Dados da observação e parâmetros referenciais teóricos
Complexo Industrial Portuário de Suape
Primeira parada para observação, ocorrida ainda no estado de
Pernambuco, se deu no Complexo Industrial Portuário de Suape, área de
chegada de matéria prima; produção, beneficiamento e escoamento de
mercadorias. Um fato interessante sobre essa região é que por se tratar de
uma zona de forte industrialização relativamente recente (com maior
intensidade há cerca de cinco anos), cujo potencial de expansão mantém-se
ainda grande, a instalação de indústrias na localidade acaba por modificar a
dinâmica (social, econômica, ambiental) do lócus inclusive por atrair para perto
de si indústrias subsidiárias e profissionais cada vez mais especializados,
normalmente de outros estados ou outros países. A dinâmica populacional
sofre, portanto, influência dessas movimentações populacionais de cunho
ocupacional-empregatício, fazendo com que surja a necessidade da expansão
mobiliária para comportar esses profissionais.
Com relação ao Porto de Suape, um fato de importante relevância é que
pelo seu calado, ou seja, pela sua profundidade ser maior que o porto de
Recife e outros no Nordeste, essa região permite que navios maiores atraquem
sem grandes problemas de natureza logística e de segurança, fazendo com
que essa região seja a principal porta de entrada e saída de mercadorias do
Nordeste.
Problemas socioambientais acabaram se desenvolvendo com a criação
e expansão do Complexo porque, uma vez localizada em área estuarina,
desconsiderou a área natural de procriação dos tubarões, modificando as
relações ecológicas no meio-ambiente marinho na costa de Pernambuco.
Povoado de Muquém
Encravada na Serra da Barriga, no estado de Alagoas, está localizado o
povoado quilombola de Muquém, símbolo subsistente da resistência da
sociedade escravista nordestina e ponto escolhido para primeira observação de
nossa pesquisa de campo no estado de Alagoas.
Surgida da resistência de um casal de escravos fugido do episódio
histórico conhecido como Massacre da Serra da Barriga, que resolveram
amuquenhar-se naquela localidade, ou seja, se esconder e fincar moradia
(nome que deu origem à localidade) com o objetivo de impor resistência à
realidade escravista da época, fomos ao encontro da mestra-artesã Dona
Irinéia, reconhecida como patrimônio vivo por sua influência sócio-histórico-
cultural desempenhada no sentido de traduzir os valores da cultura em
expressões artísticas e representações históricas daquela localidade,
rememorando a organização e interpretação dos atos e fatos na perspectiva da
ancestralidade negro-africana. Conta a mestra-artesã que aprendeu as artes
manuais ceramistas com sua mãe que produzia panelas de barro, foi com ela
que adquiriu as técnicas necessárias à produção de peças em cerâmica,
aperfeiçoadas com o tempo e sob sua visão diferenciada de ser e estar-no-
mundo.
Em sua produção artística, a mestre-artesã mantém relação direta com
os elementos da natureza e exige uma releitura do espaço geográfico e das
relações desenvolvidas entre os seres da comunidade, inclusive com a
ancestralidade, pois, para ela, é através da reconstrução da história que a
realidade toma nova forma e os atos e espaços tomam novos significados.
Para Dona Irinéia, a juventude, ao afastar-se da história do povo, estaria
desvinculando-se dos espaços sociais de influência que, por muito tempo
vieram sendo requeridos. Diz ela que os jovens e adultos da localidade dão
maior importância em constituir famílias, em estabelecer laços matrimoniais
que em restaurar e reafirmar a identidade social daquele espaço.
Um fato interessante a ser observado é a noção que os indivíduos
afrodescendentes, agindo nesta qualidade, mantêm diferentes relações com o
meio-ambiente, de tal maneira que os próprios “marcos geográficos” escolhidos
para orientação dentro do povoado, mantém relação com elementos naturais
como rios e árvores, demonstrando outra postura no que concerne à
compreensão da organização espacial e a relação da percepção dos
elementos constitutivos da esfera natural da região.
Segundo relatos da líder política do povoado, Dona Albertina, a metade
das 50 (cinquenta) habitações da região foram avariadas pela enchente
ocorrida em 2010. Tal evento climatológico gerou uma série de problemas de
organização do espaço geográfico e das próprias relações sociais, pois, como
algumas pessoas tiveram que ser relocadas em outros espaços
(acampamentos), alheios à comunidade originária e incompatíveis com os
parâmetros essenciais no que se refere ao provimento de elementos
propiciadores de condições mínimas de subsistência como moradia, saúde,
educação dignas e em consonância com a realidade em que estão inseridos,
muitos ampliam o fundamento de distanciamento identitário, incorporando uma
noção de exclusão da realidade à qual está imerso tendo como produto a perda
dos resquícios identitários afro-brasileiros e incorporando processos mais
ativos de embranquecimento, empoderando traços difundidos pela ideologia
dominante.
Em dados demográficos, a população nativa se comporta da seguinte
maneira:
Distribuídas em 132 famílias, as 547 pessoas, com predominância na
faixa infanto-juvenil, compartilham 50 residências (das quais 25 foram
danificadas estruturalmente pela enchente de 2010). É interessante de se
observar que, nessa comunidade, embora tenha raízes africanas influentes na
constituição da identidade afro-brasileira, a religião que constitui a maioria
absoluta (quase a unanimidade) é de outro pertencimento religioso (católicos),
subsistindo ainda de forma pouco influente as benzedeiras.
Com relação a problemas estruturais ligados às condições básicas de
sobrevivência, elementos como saneamento básico inexistente, ausência de
escolas e incentivo à entrada na universidade, precariedade dos programas de
saúde, bem como sua ineficácia no que se refere aos recursos humanos (um
agente de saúde da família, ausência de ambulância, médicos e outros
profissionais da área de saúde) e materiais para prestação de serviços
essenciais à manutenção e sobrevivência da população têm constituído um
desafio ao desenvolvimento pleno da gestão participativa reconhecida através
das reuniões da comunidade em prol do desenvolvimento de programas que
buscam a melhoria das condições de vida.
Segundo a representante política da comunidade, dona Albertina, os
programas e as melhorias ocorreram com maior ênfase em sua gestão,
entretanto, muitos são os desafios a ser superados, pois o déficit estrutural e a
desvirtuação de algumas funções que deveriam ser desempenhadas pelo
Estado, acabam por ser executadas por eles de maneira particular, tendo como
exemplo o processo de escavação do encanamento de água, e o transporte de
doentes que se dá por iniciativa particular, demonstrando o desinteresse do
Poder Público para com a comunidade.
União dos Palmares
Tombado como patrimônio histórico e cultural desde 1985, este espaço
que abrigou, nos tempos de outrora, heróis de grande importância para a
constituição do caráter exterior da resistência dos negros daquela região.
Berçário da força em prol do reconhecimento nacional, desta força que, embora
tenha sido forçada ao silêncio se insurgia em observação aos seus direitos. A
organização espacial também é importante para entender o movimento de
resistência negra.
Considerações Finais
A necessidade de promover estudos não só para que se produza novos
conhecimentos, mas para que novas práticas seja desenvolvidas de maneira
mais efetiva. Despertar para as questões sociais e históricas dos negros faz
perceber que urge a implantação de políticas no que se refere à necessidade
de reorganizar-se e reorganizar a percepção sobre o indivíduo negro e sua
história.
Anexos
Complexo Industrial Portuário de Suape
Figura 1 Visão do Complexo Industrial Portuário de Suape.
Figura 2 Barreira de corais formada naturalmente através do processo de sedimentação calcária.
Figura 3 Visão de algumas indústrias do Complexo Industrial Portuário de Suape.
Povoado de Muquém
Figura 4 Casas destinadas aos desabrigados da enchente de 2010.
Figura 5 Rio que beira o povoado de Muquém (segundo relatos, utilizar-se dessas águas podem
resultar em patologias)
Figura 6 Imagens que remetem à visão de elementos da natureza, em especial à anatomia da figura
humana.
Figura 7 Esculturas de Dona Irinéia: a percepção e a importância da representação da cabeça,
remetida à visão africana onde esta região mantém, junto com o coração, a importante função de
comandar o corpo.
Figura 8 A líder comunitária do povoado de Muquém, Dona Albertina.
Figura 9 Devido à enchente ocorrida em 2010, 25 casas tiveram danos estruturais que podem
comprometer a segurança dos habitantes.
Figura 10 Escultura em argila demonstrando o episódio ocorrido durante a enchente de 2010
representando o salvamento de algumas pessoas em uma árvore.
Figura 11 Imagem da frente da oficina de cerâmica de Dona Irinéia.
Figura 12 A mestra-artesã Dona Irinéia.
Figura 13 Forno utilizado para o cozimento das peças em cerâmica.
Figura 14 Vista do povoado de Muquém.
União dos Palmares
Figura 15 Vista privilegiada da Serra da Barriga permitia prever ataques surpresas.
Figura 16 Posto de observação.
Figura 17 Teto em palha de coqueiro. À esquerda está localizada a escada que leva ao
observatório. Detalhe para a obra com as cabaças que são mais recentes, não datando da epoca
da ocupação dos quilombolas originais.
Figura 18 Vista da parte superior de um dos espaços do quilombo.
Figura 19 Espaço utilizado em reuniões e algumas festividades na comunidade.
Figura 20 Local onde se processava a secagem da farinha.
Figura 21 Instrumento de moagem da mandioca para preparo da farinha.
Figura 22 Moenda rudimentar de cana.
Figura 23 Local sagrado de adoração aos orixás e demais rituais.
Figura 24 Gameleira branca exercendo o papel de divindade em consonância com o orixá Yroko
adorado na África.