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EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO:

CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA ESCOLA PÚBLICA E UMA ESCOLA PARTICULAR

Marcos Augusto Alencar de Souza1

Luiz Gonçalves Junior (O)2

Introdução

O presente trabalho é decorrente de 10 anos de prática profissional em clubes e

academias. O leitor poderia estar se perguntando o que levaria um educador físico que se dedica

há anos no trabalho junto a academias e clubes a fazer uma especialização em educação física

escolar e a pesquisar a situação da educação física no ensino médio.

Em um primeiro momento pode parecer estranho, porém, nesses anos de práticas

em academias e clubes, direcionamento de leituras, cursos e pós-graduação lato-sensu em “Bases

Metodológicas e Personalizadas Aplicadas em Academia”, o público atendido abrangia um

grande número de adolescentes que sempre se mostravam motivados a desenvolver práticas

corporais fora de ambiente escolar.

Os adolescentes sempre me deixavam intrigado quando abordados sobre a forma

de realização da educação física escolar. A pouca motivação era logo notada, algo que me

deixava ainda mais curioso. Como os adolescentes que tinham durante a sua vida escolar tido

tanto tempo de contato com a educação física não tinham conhecimentos básicos em relação a

exercício físico, aquecimento, alongamento, relaxamento.

A desinformação em relação à nutrição, obesidade e os malefícios do uso de

anabolizantes também eram enormes. Alguns procuravam informações na Internet, entretanto,

sabemos que nem sempre esta é uma fonte recomendável, principalmente tratando-se de um tema

que pode prejudicar e muito a saúde.

1 Professor de Educação Física do São Carlos Tênis Clube e aluno da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professor Adjunto do DEFMH-PPGE/UFSCar e Coordenador do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.

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Daí os motivos que me levaram a estudar a educação física no ensino médio, este

tema até então visto somente na vida acadêmica, não vivenciado e estudado com mais ênfase por

mim.

Além desta motivação, encaro este trabalho de monografia e o curso de pós-

graduação lato sensu como desafio pessoal, tanto para aprimorar os meus conhecimentos na área

escolar como para possibilitar uma prática mais contextualizada em escolas.

Este trabalho acadêmico tem como objetivo principal investigar a situação das

aulas de educação física do ensino médio, fazendo uma comparação entre uma escola pública e

uma escola particular na cidade de São Carlos, no ano de 2006, buscando entender os motivos

pelos quais, por vezes, os alunos (e mesmo os professores) não se sentem entusiasmados para as

aulas de educação física na escola, gerando, inclusive, evasão das mesmas.

Entendemos que o conteúdo da educação física apresentado, por exemplo, nos

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL,1999) é bastante amplo, estimulando

inclusive o trabalho com temas transversais. Então, por que não se apropriar deste e fazer as aulas

mais motivadas para ambas as partes: professor e alunos? Qual o motivo que leva alguns

professores a ministrar sempre os mesmos conteúdos com as mesmas perspectivas do esporte na

escola? E ainda, por que os alunos têm sempre que repetir movimentos pré-determinados pelo

professor até automatizá-los e não terem oportunidade de vivenciar o movimento com várias

possibilidades individuais sendo construído por todos? Além disso, observa-se a quase

inexistência de aulas teóricas tratando de conceitos elementares da área de educação física e

alguma evasão das aulas deste componente curricular.

Chamamos a atenção para os PCNs (BRASIL, 1999) por ser documento oficial

amplamente divulgado e que pode servir de apoio e reflexão para os professores, para realizarem

os planejamentos de ensino e de aulas. Tal documento foi elaborado por especialistas e

educadores de todo o país. Nos PCNs é proposto domínio de competências básicas e não um

acúmulo de informações. E ainda um currículo que tenha vínculo com os diversos contextos de

vida dos alunos.

A proposta dos PCNs para o ensino médio é a de aproximar o aluno às aulas de

educação física de forma lúdica, educativa e contributiva para o processo de aprofundamento

conhecimentos (BRASIL, 1999).

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O aluno, portanto, começa a compreender que há propriedades comuns e lida com

regularidade científica. Entretanto as aulas de educação física deste ciclo têm se detido nos

fundamentos do esporte, tanto que, Betti (1995) é levada a afirmar que a influência do esporte no

sistema escolar é de tal magnitude que temos não o esporte da escola, mas sim o esporte na

escola.

I - Educação Física Escolar: suas raízes e novas possibilidades

Dentre as obras lidas para desenvolver este trabalho de monografia não podemos

deixar de citar a de Lino Castellani Filho (1990), em sua releitura da história da educação física.

Em seu texto “Educação Física no Brasil, a história que não se conta”, inspirado em Adam Schaff

que não vê a história como verdade absoluta, definitivamente acabada, mas como um processo

sujeito a constantes reinterpretações. O reescrever da história ocorre em virtude dos atuais efeitos

pelos acontecimentos passados e as reinterpretações da história movidas pelas necessidades

variáveis do presente, bem como se pode dar um novo entender ocasionado pelos efeitos dos

acontecimentos passados, emergidos no presente.

Observamos que a educação e a educação física podem ser instrumentos de

ideologia da classe dominante em relação à dominada e se não pararmos e verificarmos a prática

de alguns profissionais corremos o risco de continuarmos com a oratória da educação física

ligada aos médicos higienistas (1889 – 1930), que antes buscavam modificar os métodos de

higiene da população visando físico saudável e equilíbrio orgânico, mas por trás deste discurso

havia outros intuitos que indicavam os interesses da sociedade da época de era camuflar a falta de

atenção do Estado com relação à política de saneamento básico, moradia e cuidados a saúde

(CASTELLANI FILHO, 1990).

Dos anos 1930 até meados da década de 1940, com a criação do Estado Novo em

1937, a partir de golpe de Getúlio Vargas, a educação física passou a privilegiar a formação do

cidadão soldado apto para uma eminente situação de guerra, preparar mão de obra adestrada e

apta fisicamente para a indústria de base nascente, bem como, por influência do nazi-fascismo do

período, buscar manter a “pureza e qualidade” da raça branca, pois a população brasileira negra

superava 50% da população e preocupava-se o governo de então com a eugenia (GHIRALDELLI

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JUNIOR, 1988; CASTELLANI FILHO, 1990; BETTI, 1991; GONÇALVES JUNIOR &

RAMOS, 2005).

Como naquela sociedade (e momento histórico) os papéis de homem e de mulher

eram extremamente definidos e diferenciados a Educação Física Escolar também reproduzia e

reforçava tal diferenciação no quadro da ditadura estadonovista de Getúlio Dornelles Vargas,

prevendo aulas separadas para os gêneros masculino e feminino (GONÇALVES JUNIOR &

RAMOS, 2005).

Assim, se pensando que em um combate em situação de guerra, papel

exclusivamente masculino no período, exercícios físicos com características militares eram

reservados as aulas masculinas. Enquanto, para as aulas femininas, havia a preocupação com a

economia doméstica e a maternidade, assim exercícios visando melhor preparação do corpo para

geração de filhos mais fortes e saudáveis, tanto para a defesa da nação, quanto para

aperfeiçoamento da raça ou eugenia (GONÇALVES JUNIOR & RAMOS, 2005).

Entre meados da década de 1940 até meados da década de 1960 a educação física

é associada a uma prática eminentemente educativa. Porém, na década de 1970, o Brasil

pretendendo atingir o status esportivo de primeiro mundo ganhando competições internacionais,

passa então a dar ênfase ao esporte voltado ao rendimento no seio da educação física escolar, com

aulas visando desempenho físico e técnica dos esportes (CASTELLANI FILHO, 1990).

Ghiraldelli Junior (1989) chama tal concepção de Educação Física Competitiva

(1964 – 1984), que tem como objetivo principal à caracterização da competição e da superação

individual como valores desejados pela sociedade moderna. Ao cultuar o atleta-herói, ela reduz a

Educação Física ao esporte de rendimento. A metodologia utilizada é da massificação da prática

esportiva, para daí brotarem os expoentes capazes de brindar o país com medalhas olímpicas.

Toda atividade física, como ginástica, esporte, jogos recreativos e outros ficam submetidos ao

esporte de elite. Dá-se nesta fase, através dos meios de comunicação, grande ênfase ao esporte

espetáculo, ápice da pirâmide a ser alcançada pela educação física.

Evidentemente que como as competições do esporte de rendimento são disputadas

por equipes separadas por gênero, a Educação Física Escolar, no citado período, manteve a

separação de meninos e meninas no seio de suas aulas.

Ora, tal herança da educação física no Brasil, que durante décadas esteve

fortemente atrelada às concepções higienistas e militaristas acabou por gerar distorções no trato

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entre os gêneros masculino e feminino, que em alguma medida ainda perduram, quer seja em

nível do discurso, quer seja propriamente nas práticas corporais ministradas pelos professores ou

reivindicadas pelos alunos e alunas nas aulas de Educação Física Escolar.

Entendemos que a temática do gênero merece mais atenção, discussão e reflexão

nas aulas de Educação Física na atualidade.

Gonçalves Junior & Ramos (2005) julgam necessário e oportuno propor

alternativas de trabalho para a educação física escolar visando à promoção da interação dos

gêneros não atreladas apenas ao esporte, mas por meio de atividades diversificadas e com regras,

espaços, tempo e habilidades possíveis de definições e construções pelos próprios educandos com

a colaboração do educador. As danças, por exemplo, têm sido pouco lembradas nas escolas e pior

que isso tem sido o pouco caso em relação às danças africanas, afro-descendentes ou indígenas,

as quais merecem ser desenvolvidas pela riqueza e pelo respeito às outras culturas étnicas

constituintes e presentes no território brasileiro, quase sempre deixadas de lado diante da cultura

branca européia ou, mais recentemente, norte-americana.

Outra questão é que educar e ensinar muitas vezes ainda soa para professores de

Educação Física como palavras sinônimas. Porém, o ensinar remete a uma leitura do professor

treinando seu aluno em que o professor ensina e o aluno supostamente aprende. O que dá o

direito ao professor, nesta perspectiva (comportamental de educação), decidir sozinho o conteúdo

que deve ser ministrado ao aluno e a forma de avaliar (GONÇALVES JUNIOR; RAMOS;

COUTO, 2003).

Em contrapartida podemos trabalhar com a oportunidade de nossos alunos

deixarem de serem meros expectadores, em que os processos educativos envolvam conteúdos

dialogados pelos educadores junto aos alunos e comunidade e, assim, tenham significação

profunda em seu mundo já que partem de suas experiências vividas. Nesta concepção

(fenomenológica da educação) o educando encontra-se em estado de perplexidade diante do

mundo, em outras palavras, o educador incentiva a abertura de um debate em torno das diversas

possibilidades geradas no seio do grupo, suscitando compreensões e reflexões (GONÇALVES

JUNIOR; RAMOS; COUTO, 2003).

Ou seja, como educadores devemos ter esperança de que podemos ensinar e

produzir em conjunto, devendo-se “trocar o falar para pelo falar com” (FREIRE, 2005, p.28) os

educandos.

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Compreendemos que o educador deve estimular a curiosidade, a participação e a

autonomia com os educandos, pois dessa forma desenvolverá a sua própria curiosidade,

educando-se também. Compartilhar fundamental para o desenvolvimento pessoal e do grupo, nos

possibilitando o contínuo vir a ser, já que somos seres incompletos e inconclusos, conforme nos

aponta Freire (2005), Merleau-Ponty (1996) e Sérgio (1999).

II – A Educação Física no Ensino Médio

A partir da publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB

(BRASIL,1996) a Educação Física deixa de ser tratada enquanto atividade e passa ao status de

componente curricular.

Porém, somente com a lei 10.328, de 12 de dezembro de 2001, a palavra

“obrigatória” é inserida após a expressão “componente curricular”, Assim, na redação do artigo

consta que: “a Educação Física, integrada à proposta da escola, é componente curricular

obrigatório da educação básica (....)” (BRASIL, 2001).

Por outro lado à lei 10.793, de 1º de dezembro de 2003, estabelece que a prática da

educação física passa a ser facultativa para o aluno que trabalha mais de seis horas por dia; tenha

mais de 30 anos de idade; tenha filhos; for portador de algum problema de saúde, crônico ou

temporário; estiver prestando serviço militar (BRASIL, 2003).

Darido et al (1999) abordam que 70% dos estudantes do ensino médio estudam no

período noturno e, sendo facultativas as aulas de Educação Física, na prática são raras as escolas

que as oferecem, e caso elas ofereçam tal componente curricular, as horas não são contabilizadas

na carga horária da escola.

Com relação às propostas, não são muitas as que encontramos para a educação

física no ensino médio, porém alguns estudos têm tentado preencher esta lacuna.

Um exemplo é o documento citado por Darido et al (1999), elaborado pela

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), de 1993, o qual ressalta que o ensino

médio não pode ser concebido como uma repetição um pouco mais aprofundada do programa de

Educação Física no ensino fundamental, mas deve apresentar características próprias, porém não

explicita qual seria o conteúdo a proporcionar aos alunos deste nível escolar.

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais colocam como prioridade no ensino médio

a formação geral específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações,

analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples

exercício de memorização (BRASIL, 1999).

Para Darido et al (1999) a educação física no ensino médio deve proporcionar ao

aluno conhecimento sobre a cultura corporal de movimento, que implica compreensão, reflexão,

análises críticas, etc. A aquisição de tal corpo de conhecimentos deverá ocorrer em relação às

vivências das atividades corporais com objetivos vinculados ao lazer, saúde/bem estar e

expressão de sentimentos, permitindo aos alunos uma plena autonomia no usufruto das formas

culturais de movimento.

Darido et al (1999) chegaram à conclusão que muitos dos problemas enfrentados

pelos professores estão em suas práticas serem baseadas na perspectiva esportivista ou

mecanicista, ou seja, estes professores aprenderam ao longo de sua história de vida, incluindo

suas experiências enquanto alunos, atletas e estudantes de graduação, a trabalhar com modelos

prontos e alunos com pouca ou nenhuma diferença individual.

Resultados encontrados por Darido et al (1999) indicam que a maioria dos alunos

entrevistados (78%) acredita que a educação física na escola não cumpre o seu papel porque

transmite pouco ou nenhum conhecimento, o que estimula os pedidos de dispensa. Além disso,

42% dos alunos afirmaram que se afastavam das aulas porque elas eram sempre iguais, sem

continuidade, e 50% dos alunos reclamaram que seus professores privilegiavam os alunos mais

habilidosos. Um outro resultado desta pesquisa chama atenção: 93% dos alunos dispensados

afirmaram que retornariam as aulas caso elas fossem realizadas no mesmo período dos demais

componentes.

Darido et al (1999) apontam como problemas: a desvalorização do componente

curricular Educação Física perante os demais, principalmente, em face ao vestibular e a facilidade

dos pedidos de dispensa; a colocação freqüente da educação física em período oposto ao dos

demais componentes curriculares, dificultando a freqüência dos alunos às aulas; a insistência na

repetição mecânica dos programas de educação física do ensino fundamental no âmbito do ensino

médio, em geral não apresentando características próprias e inovadoras, que considerem a nova

fase vivenciada pelos alunos.

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Pereira e Moreira (2005) em seu trabalho chegaram à conclusão que os alunos até

gostam da Educação Física, porém não a compreendem de forma mais profunda. Talvez esse

posicionamento seja reflexo da própria postura indecisa dos professores, pois estes não vêem tal

componente curricular com possibilidade de mudanças de comportamento e possibilidades de

crescimento pessoal e social. Alunos e professores precisam se conscientizar de seus papéis

dentro da escola, com a finalidade de atingir focos mais importantes (criação, criticidade,

transformação, discussão) que a simples transmissão e reprodução de conhecimentos.

De acordo com o estudo realizado por Lorenz e Tibeau (2003), a Educação Física,

mesmo pertencente ao currículo escolar como componente curricular, ainda é vista por muitos

como atividade. De acordo com tais autores se faz também importante o conteúdo teórico para

que o conceito atual existente e classificado para a aula de Educação Física como “atividade”

deixe de existir para ceder espaço ao real conceito “disciplina”. Porém, deixam claro que este

aspecto dependerá da experiência do professor na condução, execução e planejamento de suas

aulas.

III - Procedimentos

Os procedimentos utilizados para a construção deste trabalho foram baseados em

coletas de dados (entrevistas e diários de campo) em duas escolas, uma da rede pública e outra da

rede particular do terceiro ano do ensino médio, da cidade de São Carlos, interior do estado de

São Paulo.

O trabalho consta de oito observações sistematicamente registradas em diário de

campo, sendo quatro notas de campo realizadas em escola pública, na qual ocorrem aulas mistas

que são ministradas por uma professora; e quatro notas de campo registradas em escola

particular, sendo que nesta a educação física é dividida em turma masculina e feminina, logo

foram observadas duas aulas em cada turma, salientando que a turma feminina tem aula com uma

professora e a turma masculina tem aula com um professor.

Segundo Bogdan e Biklen (1994) o diário de campo “é o relato escrito daquilo que

o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de

um estudo qualitativo” (p.150).

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Para estes autores, as notas de campo consistem em materiais de dois tipos: “o

primeiro é descritivo, em que a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local,

pessoas, ações e conversas observadas. O outro é reflexivo – a parte que apreende mais o ponto

de vista do observador, as suas idéias e preocupações” (p.152).

Depois das observações foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os

professores com as seguintes perguntas:

1. O que é educação física no ensino médio pra você?

2. Qual a sua percepção a respeito da participação ou não dos alunos na aula de educação

física no ensino médio?

3. Há um amparo efetivo da legislação, da supervisão de ensino, da coordenação, direção

escolar para ação do professor de educação física?

Segundo Negrine (1999) a entrevista é semi-estruturada:

quando o instrumento de coleta está pensado para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize explorações não-previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa.

Para estabelecer uma compreensão dos dados coletados, tanto as notas registradas

em diário de campo (anexo 1) como os dados obtidos através das entrevistas semi-estruturadas

(apresentadas na íntegra no anexo 2) foram organizados na forma de categorias temáticas.

Segundo Gomes (2004):

As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso (...) As categorias podem ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratória da pesquisa, ou a partir da coleta de dados. (p.70).

Após a leitura das descrições realizadas pelos professores de educação física, bem

como dos registros do diário de campo, ao percebermos unidades significativas, estas foram

agrupadas em categorias temáticas, organizadas a posteriori na matriz nomotética, de inspiração

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fenomenológica (MARTINS e BICUDO, 1989; GONÇALVES JUNIOR, 2003), objetivando

movimento intencional em busca da essência do fenômeno pesquisado.

A matriz é um movimento do individual para o geral, no qual há uma compreensão

das proposições individuais e suas possíveis convergências, divergências e idiossincrasias

(asserção eventualmente encontrada em apenas uma das descrições) com as proposições dos

demais sujeitos (GONÇALVES JUNIOR, 2003).

A matriz nomotética é composta de uma coluna à esquerda na qual se expõe às

categorias provenientes das descrições dos professores de Educação Física, bem como dos

registros do diário de campo, enquanto no lado superior direito há disposição da identificação dos

mesmos, representados com algarismos romanos (por motivo de sigilo e ética) em uma seqüência

horizontal, e no lado inferior direito, em algarismos arábicos, as unidades de significado

encontradas, sendo que na ocorrência de “divergência” de compreensão referente àquela

categoria por parte de algum dos sujeitos haverá a letra “d” ao lado do número que representa a

unidade de significado do referido professor ou da nota de campo.

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IV - Análise dos Dados

Quadro 1 – Matriz Nomotética referente as Notas de Campo Nota de Campo

Categoria I II III IV V VI VII VIII

A) Perspectiva de mudanças da “esportivação” das aulas de educação física

2; 3; 8d; 9; 11; 12; 13d; 14; 15; 16; 18d

4; 5; 6; 7; 8; 9

1; 3; 5; 6; 7; 8; 9; 10d; 12d

1d; 2d; 3d; 4d; 5d

1d; 2d; 5d; 6d

1d 1d; 2d; 4d; 5d

2; 5; 7; 8; 10

B) Aulas de educação física não obrigatórias no ensino médio

4; 5; 10; 17

1; 2; 3 2 6 4 1; 3; 4; 6; 9

C) Disposição discente masculina para a prática do futebol

6; 7 4;11 3

D) Divisão das atividades por gênero

1 10d 7 3

Quadro 2 – Matriz Nomotética referente as Entrevistas Entrevista Categoria

I II III

A) Perspectiva de mudanças da “esportivização” das aulas de educação física

7; 8d; 9; 11 1; 3; 5d; 9d

B) Aulas de educação física não obrigatórias no ensino médio

5d 7; 8

C) Sociabialidade nas aulas de educação física

1; 3 2

D) Preocupação centrada no aspecto anátomo-funcional

2; 4 1; 2; 3; 4 6

E) Desvalorização das aulas de educação física

5; 6d; 7d 6; 10; 12 4

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V – Construção dos Resultados

Na categoria “A” das notas de campo podemos observar que os professores da

escola particular tentam dar uma perspectiva de mudança da “esportivização” nas aulas de

educação física. Entretanto, observamos que na escola pública o mesmo não acontece, na qual as

aulas são voltadas ao conteúdo eminentemente esportivo. Por outro lado, ocorrem divergências

principalmente na aula do professor da escola particular, em relação a mudança da

“esportivização” nas aulas de Educação Física, isso se dá em decorrência do interesse e pressão

discente masculino para a prática do futebol. Fazendo referência à entrevista “II”, realizada com

o professor da escola particular, este relata sua dificuldade em introduzir outros conteúdos nas

aulas, decorrente das vivências passadas que os alunos experimentaram junto a professores de

educação física anteriores que trabalharam na escola. Tal professor manifesta na categoria “D”,

unidade “9”: “eu acredito que isso já venha enraizado (...). A Educação Física (...) condicionada

apenas a chegar lá e jogar bola e a gente tentar mudar é difícil. A gente encontra muitas barreiras

pra isso”.

Apesar da dificuldade que o professor da escola particular relata que está

enfrentando pudemos observar que em alguns momentos ele tem começado a despertar nos seus

alunos um outro olhar para os conteúdos da Educação Física. Na nota de campo “III”, no decorrer

de toda aula não houve qualquer comentário dos alunos sobre futebol, nem mesmo de outro

esporte, mas de conteúdo relativo à avaliação física. Particularmente pode-se observar a mudança

nos alunos, tanto nos trajes que não estavam voltados para o futebol, como em suas conversas e

perguntas. Ressalva-se, no entanto, que tal aula contou com apenas para quatro alunos, sendo que

um dos alunos afirmou para o professor que a maioria da turma não iria à aula porque não era

previsto futebol para a mesma. Retrato provocado, entre outros fatores, pela não obrigatoriedade

de participação nas aulas de educação física na escola particular estudada e pela disposição

discente masculina para a prática do futebol, observadas na categoria “C”, conforme matriz

nomotética das notas de campo.

Nas aulas de educação física da professora da escola pública ocorreu registro

similar. Apesar de alguns alunos participarem do jogo de vôlei daquele estabelecimento, a grande

maioria dos alunos do gênero masculino são adeptos do futebol. Pode-se encontrar claramente

esta prática na nota de campo “V”, unidade de significado “3”. Tal disponibilidade discente

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masculina para a prática do futebol implica também na divisão das atividades por gênero, na

escola pública de modo velado, enquanto que na escola particular de modo explicito, pois como

se percebe na nota de campo “V”, categoria “D”, unidade de significado “7”, pois na escola

particular esta divisão de gênero ocorre na própria turma, sendo também o professor(a) de gênero

correspondente a turma.

Em relação a categoria “B”, aulas de educação física não obrigatórias no ensino

médio, na escola particular isso fica evidente no terceiro ano do ensino médio, no qual tais alunos

ficam completamente a vontade para freqüentarem ou não as aulas de educação física.

Em relação às aulas da professora do colégio particular, observando-as podemos

ter a mesma leitura nas notas de campo “II”, unidades “1”, “2” e “3”, nas quais elementos como

chuva e presença de provas de outros componentes curriculares na semana dificultaram o

comparecimento das alunas as aulas.

Já na escola pública, apesar da presença dos alunos e alunas nas aulas, notou-se

que os mesmos participavam quando estavam com vontade e durante o tempo que achavam que

deviam. Quando não estavam dispostos, não participavam. Particularmente uma aluna não

participou de nenhuma das atividades desenvolvidas em aula, conforme nota de campo “IV”,

unidade “6”.

Nas entrevistas observou-se divergência em relação ao professor e professora da

escola particular. Ele coloca que os alunos vão às aulas por força da obrigatoriedade legal

(categoria “B”, entrevista “II”, unidade “5d”). Já a professora declara: “É complicado até falar

disso, a lei ela existe, mas (...) é (...) de colégio para colégio. A gente sabe que tem colégio que

não obriga o aluno a fazer (...) e o aluno faz se quiser se ele não quiser também não tem

problema” (entrevista 3, unidade 7).

Uma outra categoria construída neste trabalho refere-se a certa preocupação com

conteúdos relativos a questão anátomo-funcional (categoria “D” da matriz nomotética das

entrevistas) nas aulas de Educação Física, a qual se manifestou no decorrer das aulas e

depoimentos dos três professores.

Na entrevista “I”, por exemplo, a professora da escola pública comenta que os

alunos encontram-se: “mais motivados para o desenvolvimento físico. Eu acho que no ensino

médio é o funcionamento do organismo humano” (unidade 2).

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Já na entrevista “II” o professor da escola particular afirma que os alunos devem

“saber conhecer o próprio organismo (...) se relacionando com o meio de forma saudável (...)

praticando atividade física do gosto deles (...), dar conhecimento pra eles acerca do próprio

corpo para que eles tenham autonomia para praticar exercício para ter uma vida assim

fisicamente ativa (unidades “2 e 3”).

A entrevista “III” realizada com a professora da escola particular também é

convergente a categoria “D” da matriz nomotética das entrevistas, pois esta afirma que, apesar do

pouco tempo de aula, consegue abordar o assunto “fisiologia em grupos musculares” (unidade

“6”).

Neste sentido, na aula desenvolvida pelo professor da escola particular, referente à

“Avaliação Física Funcional dos Alunos” (ver anexo 3), conforme nota de campo “III”, vê-se de

um lado, grande empenho em realizar mudanças da “esportivação” das aulas (categoria “A”), por

outro um certo risco de centrar-se no aspecto anátomo-funcional.

Na nota de campo “I”, no entanto, pode-se observar que o citado professor da

escola particular realiza inclusão e discussão de texto (anexo 4) com os alunos que busca superar

o plano meramente anátomo-funcional ao mesmo tempo que a “esportivação” das aulas de

educação física (categoria “A”). O texto refere-se a questões como “‘padrão ideal’ de beleza,

mídia, cirurgias plásticas e consumismo (...) um pouco sobre o corpo que a mídia coloca como

ideal que nos estimula a sermos consumidores ‘totalmente cegos’, e que por trás disso tem uma

indústria vendedora de serviços e produtos” (unidade “9”).

VI – Considerações Finais

Nesse trabalho pudemos perceber que a Educação Física passou a ser no cenário

escolar um componente curricular obrigatório da Educação Básica, tanto no Ensino Fundamental

como no Ensino Médio. Porém, em alguns casos, a Educação Física é facultativa conforme prevê

a legislação.

Apesar da Educação Física ter ganhado algum status quando deixou de ser

considerada “atividade” e passou a ser “componente curricular” obrigatório, ainda encontra-se

desvalorizada na escola diante dos demais componentes curriculares, principalmente no ensino

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médio, como é possível observar na nossa pesquisa de campo e através da bibliografia

consultada. Ela pouco tem contribuído para que nossos alunos tenham uma visão reflexiva, crítica

e tenham uma compreensão da real dimensão da cultura corporal.

Também percebemos uma diferença no que diz respeito às aulas de Educação

Física no dia-a-dia dos professores da escola pública e da escola particular. A primeira tem aulas

no mesmo período dos demais componentes curriculares e as aulas são feitas pela turma toda. Na

segunda escola as aulas de Educação Física são em período oposto ao dos demais componentes

curriculares, há existência de turma masculina e feminina, com professores de gênero

correspondente a turma.

Percebemos ao longo das observações de campo que mesmo nas turmas da escola

pública que não são divididas por gênero em aulas diferentes, esta divisão existe durante as aulas,

apesar de muitas atividades presenciadas por nós nesta turma terem sido mistas.

Por outro lado, entendemos que a existência de aulas de Educação Física em

período oposto ao dos demais componentes curriculares da grade dificulta a ida dos alunos às

aulas, inclusive porque nesta fase os alunos estão muito envolvidos com o vestibular. Notamos, a

propósito, que os alunos do terceiro ano do ensino médio são dispensados das aulas na escola

particular estudada. apesar da legislação contrariar a dispensa por tal motivo (estudo para o

vestibular). Também percebemos que a Educação Física fica em segundo plano, já que as turmas

neste estabelecimento de ensino são compostas a partir de alunos ou alunas oriundos de variadas

classes, se considerarmos os demais componentes curriculares, tais como matemática, língua

portuguesa, história, geografia ou qualquer outra.

Conforme relatou o professor da escola particular em sua entrevista que o

profissional de Educação Física fica em segundo plano em relação aos demais professores: “(...)

a partir daí torna-se só o professor de Educação Física tentando conquistar o espaço dele dentro

da escola. (...) Poucas pessoas perguntam o que está acontecendo. Elas estão satisfeitas quando

a gente chega lá com a presença, com as notas, parece que isso ai já basta, né? Então há um

pequeno, muito pequeno, inclusive valor dedicado por eles pra gente, pra nossa área (...)”.

Porém, dentro de uma mesma escola encontramos dois profissionais com visões

distintas no que concerne ao apoio ao profissional de Educação Física. A professora da escola

particular entende que a direção da instituição dá todo o apoio ao trabalho desenvolvido, como

podemos verificar em sua entrevista realizada em 25 de junho de 2006 (segunda questão): “(...)

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tenho uma cooperação, uma ajuda do coordenador, né? E a gente está sempre em contato. Como

eu trabalho assim fora da grade é um pouco difícil eu encontrar com a direção e outros

professores, mas o coordenador ele está sempre eu estou sempre atenta para estar passando as

questões para ele (...)”.

Conforme o relato acima da professora, quando um professor trabalha fora da

grade curricular dos outros professores o contato com os colegas docentes torna-se limitado,

dificultando também o trabalho interdisciplinar, que os parâmetros curriculares tanto indicam.

Na escola pública observada a Educação Física ocorre dentro da grade curricular

dos demais componentes curriculares, sendo que a professora relatou que teve que haver uma

mobilização por parte dos professores de educação física daquele estabelecimento frente à

direção da escola e à diretoria de ensino para que assim fosse.

Apesar desta particularidade, que deixa o professor de Educação Física mais

próximo dos outros professores e da direção, constatei na entrevista da professora da escola

pública que o distanciamento da Educação Física dos demais componentes curriculares ainda é

presente neste estabelecimento de ensino, apesar da Educação Física estar sendo ministrada no

mesmo horário dos outros componentes curriculares.

Apesar de tantas diferenças entre a escola particular e pública os alunos tinham

comportamento similar no que diz respeito ao envolvimento nas aulas, ou seja, de acordo com as

observações é como se a aula fosse uma sessão de recreação.

Assim, por exemplo, nas aulas do professor da escola particular, os alunos

chegavam para a aula com vestes específicas de futebol, inclusive com camisas de clubes de

futebol europeus, sendo os comentários dos alunos voltados para os campeonatos de futebol

daquele continente e, quando o professor iniciou a aula estimulando a turma para discussão de

um texto, esta se restringiu à participação de um aluno. Em outra ocasião só compareceram 5

alunos, e um dos presentes relatou que isso se devia a que o professor não ia “dar bate bola”. Na

turma feminina algumas alunas falaram para a professora que a baixa freqüência em dada aula

devia-se a dois prováveis motivos, a chuva aliada à semana de prova. Outra coisa é que muitos

alunos, tanto da aula do professor como da professora da escola particular, chegavam após o

horário de início da aula.

Já na escola pública os alunos tinham uma visão que as aulas de Educação Física

eram simplesmente para praticar esportes, em vários momentos das aulas os alunos se dividiam

17

nas quadras e jogavam, quando cansavam, paravam ou alteravam a atividade, como foi relatado

em todas as aulas observadas na escola pública.

Isso nos dá uma leitura da desvalorização da Educação Física na escola por parte

dos alunos, que diante de outras atividades deixam a Educação Física em segundo plano, havendo

inclusive relação com os estudos realizados por Lorenz e Tibeau (2003), onde afirmam que a

Educação Física é ainda vista por muitos como atividade, mesmo a partir da LDB de 1996 ter

passado a componente curricular.

Tal desvalorização pode se dever, entre outros fatores, a forma de trabalho

desenvolvida por alguns professores de educação física. Neste sentido, chamou-nos a atenção

uma aluna que nunca participava das aulas na escola pública, e em uma das aulas relatadas em

diário de campo (06/06/2006), em que estávamos sentados em um banco falando a respeito dos

jogos da quinta série os quais ela observava, então ela nos falou que já havia tentado participar

das aulas: “porém desde a quinta série a educação física era dividida em menino e menina

dentro da mesma aula, sendo que geralmente os meninos jogavam futsal e as meninas vôlei. E

ela alegava que era muito ‘ruim’. (...) E como as meninas já sabiam jogar ela sempre ia para

uma outra turma paralela que se formava e ia jogar queimada (...)”.

Quanto aos professores, constatei nas observações das aulas e nas entrevistas semi-

estruturadas, perspectivas bem diferentes entre eles. O professor se mostrou preocupado e

empenhado em mudança no cenário da Educação Física atual, que tem, segundo sua

compreensão, enfoque centrado no conteúdo esportivo. Quanto a professora da escola particular

esta entende que a Educação Física no ensino médio deve: diversificar o máximo possível, é

tentar interagir com os alunos de uma forma mais lúdica, e deixar as aulas assim mais

cativantes, sempre procurar, cativar os alunos para eles possam estar participando daquele

momento de interação com o próprio professor e com os próprios alunos, (...) eu estou sempre

tentando trabalhar a parte lúdica com eles (...)”. Já no que se refere à professora da escola

pública a sua concepção de Educação Física no ensino médio é voltada ao desenvolvimento do

organismo humano e a prática esportiva.

Finalizamos este trabalho colocando algumas sugestões:

acreditamos que se os alunos visualizassem conteúdos nas aulas de Educação Física que

fossem significativos pra eles as aulas ficariam mais atrativas, portanto se faz mister o diálogo

18

entre professores e alunos, em que ambos participem de modo igualitário, democrático e

respeitoso (conforme sugere FREIRE, 2005);

a aula de Educação Física no mesmo período da grade dos demais componentes

curriculares também é uma medida importante, pois assim o professor de Educação Física teria

mais possibilidades de ter contato com os outros professores, participar mais efetivamente da

escola e, principalmente, a Educação Física passaria a ter tratamento similar dado as outras

disciplinas da grade, não ficando alheia à dinâmica dos horários (e contextos) dos demais

componentes curriculares;

conteúdos teóricos também devem ser incorporados e sistematizados em acordo as

práticas corporais, as quais certamente devem abranger universo maior da cultura corporal que

exclusivamente os esportivos, como ainda tem se visto.

Acreditamos que tais sugestões podem vir a contribuir, em alguma medida, com a

diminuição do número de alunos que deixam de realizar as aulas no ensino médio, bem como

com a melhoria das aulas de Educação Física neste nível de ensino promovendo a efetiva

mudança de concepção desta, de “atividade” para “componente curricular”.

19

REFERÊNCIAS

BETTI, Mauro. Educação física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. BETTI, Irene C. R. Esporte na escola: mas é só isso, professor? Motriz. Rio Claro: UNESP, 1995. v. 1, n.1. p.25-31 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Brasília: MEC / SEMT, 1999. ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção1, p. 27833-27841. ______. Lei nº 10.328, de 12 de dezembro de 2001. Estabelece Introduz a palavra obrigatório após a expressão curricular, constante do parágrafo 3º artigo 26 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília, DF, 23 dez. 2001. Seção1, p. 1. ______. Lei nº 10.793, de 01 de dezembro de 2003. Altera a redação do art. 26, parágrafo 3º, e art. 92 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília, DF, 02 dez. 2003. Seção1, p. 3. BODGAN, Robert; BIKLEN, Sari. Notas de campo. In: ______. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto (Portugal): Porto Editora, 1994. p.150-175. CASTELLANI FILHO, Lino. Educação física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1990. DARIDO, Suraya Cristina et al. Educação Física no Ensino Médio: reflexões e ações. Motriz. Rio Claro: UNESP, 1999. v.5, n.2. p.138-145. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 12ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Educação física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Loyola, 1989. GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MYNAIO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994. GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Lazer e novas relações de trabalho em tempos de globalização: a perspectiva dos líderes das centrais sindicais do Brasil e de Portugal. 2003. Tese

20

(Pós-Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Lisboa (Portugal). GONÇALVES JUNIOR, Luiz; RAMOS, Glauco N. S.; COUTO, Yara. A. A motricidade humana na escola - da abordagem comportamental à fenomenológica. Corpoconsciência. Santo André, nº12, p.23-37, jul/dez 2003. GONÇALVES JUNIOR, Luiz; RAMOS, Glauco N. S. A educação física escolar e a questão do gênero no Brasil e em Portugal. São Carlos: EdUFSCar, 2005. LORENZ, Camila F.; TIBEAU, Cynthia. Educação física no ensino médio: estudo exploratório sobre conteúdos teóricos. Revista Digital. Buenos Aires, 2003. n. 66. Disponível em http://www.efdeportes.com MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A. V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Moraes/EDUC, 1989. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. NEGRINE, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In: MOLINA NETO, Vicente; TRIVIÑOS, Augusto N.S. (org.). A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Editora Universidade / UFRGS / Sulina, 1999. p.61-93. PEREIRA, Raquel Stoilov; MOREIRA, Evando Carlos. A Participação dos alunos do Ensino médio em aulas de Educação Física: algumas considerações. Revista da Educação Física. Maringá: UEM, 2005. v. 16, n.2. p.121-127. SÉRGIO, Manuel. Um corte epistemológico: da educação física à motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

21

ANEXOS

1. Notas de campo

I) Data: 07/03/2006. Escola: particular. Turma: masculina. Número de alunos: 11.

Em 07/03/2006, liguei para a escola “A” e marquei com um dos coordenadores

para poder iniciar o trabalho de observação e conhecer os professores responsáveis pela Educação

Física, as turmas são divididas por gêneros masculino e feminino, com um professor para a

primeira e uma professora para a segunda, e ainda as turmas do ensino médio são condensadas

em primeiro ano segundo ano e terceiro fazendo a aula no mesmo horário naquele

estabelecimento (1).

A Escola possui dois coordenadores responsáveis pelo Ensino Médio, um com

formação em educação física e terminando o curso de pedagogia, e o outro é pedagogo.

Já tínhamos realizado dois encontros anteriores, nos quais havia explicado o

conteúdo do trabalho que pretendemos ministrar na escola. Fui muito bem recebido pelo

coordenador, e logo entramos em contato com o professor de educação física.

A minha idéia era iniciar as observações e ser apresentado para a turma do terceiro

ano do ensino fundamental na outra semana. Porém, o coordenador me falou que era exatamente

naquele dia que começariam as aulas com o terceiro ano do ensino médio.

Como não pude me conter, perguntei se haveria possibilidade de iniciar as

observações já nesse dia. O coordenador disse não haver problemas de começarmos o trabalho de

aproximação e observação naquele dia mesmo. Então, ligou para o professor e o mesmo ficou de

chegar uns 15 minutos antes do horário de início das aulas.

O coordenador sugeriu que eu poderia fazer as observações e coleta nas turmas de

primeiro ano, já que o colégio naquele ano estava passando por uma reformulação no quadro dos

professores de educação física e estavam tentando mudar as perspectivas das aulas de educação

física, que sempre tiveram um enfoque voltado para o esporte (2).

Dirigi-me a quadra de esportes da escola que não é coberta e não tem dimensões

adequadas para se praticar esporte. A quadra é coberta com uma rede para que a bola não fuja da

quadra.

22

Identifiquei-me para um funcionário que se encontrava nas imediações da quadra,

que me deixou à vontade para aguardar a chegada do professor. Estava um tanto ansioso, já que

seria uma experiência nova para mim.

O meu primeiro contato com o professor foi muito bom. Um professor recém-

formado e, parece-me que como todo profissional recém saído da faculdade, está cheio de

expectativas com relação a uma oportunidade logo no começo da carreira. Esse é um trabalho

desafiador para ele, cuja responsabilidade é de tentar mudar o quadro que se encontra a educação

física na escola (3).

O professor me deu a mesma sugestão do coordenador do estabelecimento. Falou

que eu poderia observar e realizar as coletas de dados para pesquisa nas turmas do segundo e

primeiro ano principalmente, já que no terceiro ano as aulas de educação física não são

obrigatórias no colégio, e os alunos já tinham vivenciado por muitos anos umas aulas de “bate-

bola” (4).

Em relação à sugestão do professor em observar e acompanhar as aulas do

primeiro e segundo ano do ensino médio, falei da inviabilidade desta sugestão já que o nosso foco

era o terceiro ano.

Como na escola o terceiro ano não é obrigado a fazer as aulas de educação física o

professor me relatou que neste horário na verdade são as três turmas referentes ao primeiro,

segundo e terceiro ano do ensino médio, fazem aulas no mesmo horário pelo números de alunos

presente a impressão que eu tive é que as aulas de educação física no ensino médio não são

obrigatórias em todo o ciclo e não apenas para o terceiro ano (5).

Logo depois desse primeiro contato, os alunos começaram a chegar um a um. Com

tênis específicos para o futsal, bem como meias calções e alguns inclusive com camisas de clubes

de futebol, a maioria com camisas de clubes europeus (6).

Antes da aula os alunos comentaram sobre os campeonatos europeus, belos gols

marcados pelos artilheiros internacionais, e, principalmente, um bonito gol marcado pelo

Ronaldo Gaúcho naquela semana. Logo se constatava uma atmosfera toda voltada para o futebol

(7).

O professor me deixou à vontade para participar da aula. Após pegar a bola de

futsal, e reunir os alunos no centro da quadra, o professor se dirigiu aos alunos perguntando como

tinha sido a semana (8d), me apresentou como professor e que eu estava ali para fazer uma

23

observação que servirá, no futuro próximo, para elaboração de um trabalho acadêmico.

Apresentei-me a todos e enfatizei o por que de estar no ambiente das aulas e na escola deles.

Feita as devidas apresentações o professor perguntou aos alunos quem tinha lido o

texto deixado na aula anterior. Todos ficaram em silêncio, com exceção de um. O texto referia-se

a “padrão ideal” de beleza, mídia, cirurgias plásticas e consumismo. Após ter dado uma breve

introdução, o professor deixou em aberto para os alunos falarem sobre o texto. O silêncio tomou

conta do ambiente. Acredito que até minha presença tenha influenciando um pouco ou muito para

isso. O professor começou então a explanar sobre o tema, e um dos alunos levantou a questão dos

anabolizantes, usados por muitos jovens para atingir seus objetivos estéticos. O professor

aproveitou para falar um pouco sobre o corpo que a mídia coloca como ideal que nos estimula a

sermos consumidores “totalmente cegos”, e que por trás disso tem uma indústria vendedora de

serviços e produtos (9).

É interessante que a aula começou com oito alunos e depois chegaram mais três

alunos, que não pegaram a parte inicial da aula (10), no meu ponto de vista e do professor é a

parte mais importante da aula. Isso estava acontecendo em todas as aulas, e o professor estava

pensando em elaborar uma estratégia para evitar que isso continue acontecendo. Dei uma opinião

que os alunos que chegassem atrasados para o início da aula, deveriam fazer um texto sobre o

assunto discutido, já que a estratégia de texto para o terceiro ano foi, a princípio, a maneira que o

professor encontrou para discutir assuntos que seriam interessantes para eles serem conversados

(11).

Passado o primeiro momento da aula, o professor direcionou o alongamento,

orientando e citando o nome do músculo alongado. No segundo momento, ocorreu uma corrida

direcionada pelo professor. Os alunos correram para frente, trás, lateral, alternando velocidade

(12). Após o aquecimento, os alunos escolheram os times com quatro alunos para cada time. O

professor participou de um dos times como jogador, e foi decidido que o goleiro seria em forma

de rodízio. O jogo não tinha árbitro, e foi decidido em dois gols ou 10 minutos. O jogo se

mostrou bem competitivo, e quem ganhava o jogo continuava jogando. O perdedor ia para

“grade” esperar para jogar com o ganhador da próxima partida. Apesar de bem competitivo, os

alunos jogavam com lealdade uns com os outros (13d).

Como tive oportunidade de ficar próximo dos alunos que saiam para esperar o

próximo jogo, aproveitei para começar a “trocar idéias” com eles: se tinham sentido uma

24

diferença das aulas atuais e as antigas, por exemplo. A princípio foram categóricos em relação ao

alongamento que, na opinião deles, era bem mais demorado que do outro professor. Quando um

aluno usou o termo “melhor” todos concordaram. Um dos alunos usou o termo “conhecimento”,

sentia que o atual professor tinha mais conhecimento que o anterior, que muitas vezes nem

alongamento fazia para os alunos. Um dos alunos relatou que quando chovia não tinha aula, já

que a quadra não é coberta e o professor ia embora (14).

Houve um comentário também que antes tinham mais “jogos de futebol”, pois o

alongamento era bem mais rápido quando existia, e não tinham as leituras dos textos, assim como

também não tinha discussões. Diante deste comentário não me contive, e perguntei se eles

achavam interessantes os textos. Todos concordaram que estavam achando super interessante

(15).

Outro comentário por parte dos alunos em relação aos dias chuvosos na hora da

aula, foi que eles tinham passado uma experiência com o professor atual recentemente, e que

neste dia eles ficaram em uma parte coberta do colégio, um pátio ao lado das salas, e o professor

deu uma aula de alongamento explicando a maneira adequada de fazê-lo e o nome dos músculos

que estavam alongando (16).

Também foi relatado pelos alunos que em outro dia que eles estavam no momento

da aula de educação física e naquele momento havia uma reunião com os pais e a diretora pediu

para acabar a aula, pois o futebol ia atrapalhar a reunião com os pais e ela (17).

Neste primeiro contato pude constatar que os alunos ora refere-se a “aula”, ora

refere-se a “jogo de futebol”, que, na verdade, não é bem futebol, mas sim um “bate-bola” (18d).

II) Data: 23/03/2006. Escola: particular. Turma: feminina. Número de alunas: 12.

Ao chegar ao colégio, em 23/03/2006, o portão estava fechado, fiquei aguardando

a professora,. Após sua chegada, ela me cumprimentou e abriu o portão. Apresentei-me falando a

respeito dos motivos que eu estava naquela instituição de ensino.

A professora não sabia ainda do trabalho que já havia iniciado com a turma

masculina neste estabelecimento. Então, esclareci os objetivos do trabalho e disse que a

coordenação já estava ciente a respeito do trabalho.

Exatamente neste dia estava chovendo e tinham 10 alunas esperando a professora.

A professora relatou que geralmente são em número de vinte cinco alunas, entretanto, com a

25

chuva a professora falou que provavelmente a turma estaria com o número de alunas bem

reduzidas, apenas uma era aluna do terceiro ano do ensino médio, que seria exatamente nosso

foco da pesquisa, já que o terceiro ano do ensino médio não é obrigado nesta instituição a

freqüentar as aulas de educação física (1).

No início da aula a professora de educação física, relatou o objetivo dela em

relação às aulas no ano letivo, o que não me ficou muito claro, por esse motivo prefiro não relatar

nada aqui. Algumas alunas falaram para a professora que a baixa freqüência na aula naquele dia

devia-se a dois prováveis motivos, que seriam a chuva aliada à semana de prova que o colégio se

encontrava (2).

A aula se desenvolveu com doze alunas, pois algumas que se encontravam ali

deram dois atestados médicos, e a outra pediu dispensa, pois tinha que estudar para prova do dia

seguinte (3).

A aula iniciou-se com alongamento executado na parte que fica atrás da quadra.

As musculaturas trabalhadas foram: lombar, paravertebral, glúteos. Não houve orientação do

nome dos músculos trabalhados, apenas correção em relação à postura e movimentos do

alongamento (4).

Enquanto a professora foi pegar o material, as alunas ficaram dançando, enquanto

outras ficaram conversando de forma bem descontraída aguardando a professora.

A professora pegou 4 cones, 7 arcos e uma corda que estava tentando amarrar

entre um cone e outro, com a ajuda de algumas alunas. Como não deu certo, a corda foi amarrada

nos cones e o pilar. Foi colocada uma mesa antes da corda e 4 arcos de dois em dois paralelos.

A atividade seria a seguinte: as alunas passariam por debaixo da mesa, pulariam a

corda utilizando a técnica da corrida com obstáculos. Foram orientadas para utilizar esta

dinâmica pela professora, após o salto fazer uma corrida com um pé em cada bambolé (5).

As alunas se mostraram bem motivadas e sugeriram competição. A primeiro

momento a professora sugeriu duas passagens para elas poderem melhor dominar o circuito

proposto antes de realizarem a competição.

Após a terceira passagem elas já estavam bem mais motivadas com a competição

entre as duas fileiras que foram formadas. Acho interessante relatar que a técnica proposta para

vencer o obstáculo do salto não foi executada por nenhuma das meninas. A professora trocou a

obstáculo do salto por três cones que ficaram dispostos um na frente do outro em cada coluna,

26

onde as alunas teriam que passar entre o espaço deixado por eles, motivando mais ainda as

meninas.

Era interessante que antes que houvesse o desinteresse pela atividade a professora

sugeria logo outra atividade (6).

Foi distribuindo um arco para cada aluna e elas formaram um grande círculo, duas

alunas ficaram no centro com arco, após o comando, todas deveriam deixar o seu lugar trocando

o mais rápido possível com algumas das colegas (7).

Em determinado momento a professora trocava os arcos, em um outro momento

tirou o segundo arco, terceiro e quarto, após a retirada do último arco as meninas ainda estavam

motivadas.

A professora pediu para as meninas formarem dupla, cada dupla com um arco,

mesma dinâmica anterior à atividade que foi bem aceita pela turma. Novamente, a professora

experiente, não deixou a turma se desinteressar pela atividade sugerido esta nova mudança (8).

Em vários momentos as alunas paravam a atividade que realizavam em aulas e

ficavam conversando sobre temas não relacionados à mesma.

Ainda teve a proposta de uma outra atividade. Formação de duplas, cada uma

pegava uma cadeira onde uma aluna ficava em pé e a outra sentada, e ficavam duas cadeiras sem

nenhuma aluna sentada e duas alunas em pé na frente destas cadeiras. A brincadeira consistia no

seguinte, as meninas estavam em pé onde as cadeiras estavam vazias a sua frente, tinham a

função de piscar para aquelas que estavam sentadas para que estas mudassem de lugar para frente

delas, as que estavam sentadas tinham que fugir da sua cadeira sem serem pegas pelas alunas que

estavam em pé (9).

Um dado momento dois alunos que estavam observando a atividade, pediram para

professora se poderiam participar da aula, pois a atividade estava bem motivante e todas estavam

se divertindo bastante. A professora autorizou a entrada deles (10d).

III) Data: 28/03/2006. Escola: particular. Turma: masculina. Número de alunos: 4.

Dia chuvoso, o professor chega as 18:20 e após um rápido diálogo o professor me

passou que a aula seria a respeito de avaliação física, já predeterminada e acordada com os alunos

nas aulas anteriores (1).

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O material a ser utilizado na aula seria: cronômetro, fita métrica, dois cones, banco

para verificar a flexibilidade.

Três alunos estavam no local das aulas, um chegou às 18:40 quando aula ainda

havia iniciado, logo depois chegou o quinto aluno. Esses foram os participantes da aula (2).

Algo bem interessante que me chamou atenção muita atenção é que nesta aula os

alunos não teciam comentários a respeito sobre o futebol (3).

O professor agradeceu a presença dos alunos e um dos alunos falou que os colegas

não viriam para a aula, pois não seria futebol (4). O professor reforçou que o que era importante

era a presença deles, pois eles estavam interessados no conteúdo que seria vivenciado e passado

ali.

O professor, de forma bem breve, explanou o que seria uma avaliação física

funcional e seus objetivos. Passou para todos uma folha com os testes que seriam vivenciados por

eles e anotados os resultados dos testes que todos seriam submetidos, e já havia sido montado

todas as estações por onde seriam realizados os testes (5).

O professor sugeriu que o teste de flexão do cotovelo poderia ser feito em outro

momento no laboratório da UFSCar, que seria marcado pelos alunos em um horário que fosse

interessante a todos (6).

O professor sugeriu que todos se organizassem para começar os testes.

Existiram muitas vivências nos testes:

Em relação ao teste de salto horizontal, o professor fez uma relação de velocidade,

constituição de fibras; no caso do teste abdominal, o professor levantou perante os alunos se eles

deveriam ou não levantar todo o tronco ou apenas tirar a escápula do chão, levando a questão que

tirando todo o tronco do chão, forçariam muito a coluna. Os alunos decidiram por não tirarem o

tronco todo do chão; em relação ao Tempo de Reação / Agilidade, relacionando tempo de reação

x jogo de futebol x dia a dia como atravessar a rua; sobre o Equilíbrio estático, exemplificou o

equilíbrio estático com a terceira idade, os alunos correlacionaram a perda de massa muscular

com a terceira idade, fez uma relação com os trabalhos que o laboratório da UFSCar pesquisas

que a educação física desenvolve; já com o salto vertical, relacionou velocidade x tipo de fibra x

equilíbrio x coordenação; com relação ao Impulso vertical, relacionou com potência; já no teste

da Resistência abdominal, relacionou reservas de energia localizadas (7).

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Após terem feitos os testes, o professor ficou de levar os resultados na aula

seguinte. Aproveitou o final da aula tentando conscientizar os alunos da importância dos

conteúdos vivenciados por eles, assim como enfatizou que a educação física escolar não tinha

apenas o conteúdo do futebol ou jogo para ser visto na escola (8).

Um dos alunos pediu orientação a respeito de alongamentos para serem feitos em

casa, sendo orientado pelo professor (9).

Os alunos perguntaram para o professor se havia possibilidade de ser ministrada

aula de basquetebol, já que a maioria gostaria de jogar futebol, então nos anos anteriores ficava

só o futebol. O professor se prontificou a elaborar umas aulas de basquetebol (10d).

Entretanto, os alunos afirmaram que nos anos anteriores já tinha sido proposto. E

quando era colocado que ia ter aula que o conteúdo não fosse futebol, a maioria da turma não

aparecia para a aula (11), porém o professor afirmou que se houvesse dois ou até um aluno a aula

aconteceria, talvez até ficasse inviável o jogo, porém haveria aula sim, bastava na próxima ser

colocada a proposta para o restante da turma (12d).

IV) Data: 09/05/2006. Escola: pública. Turma: mista. Número de alunos: 33.

No dia 09 de maio de 2006 fui ao estabelecimento de ensino onde já tínhamos

feito um contato com a professora pelo telefone. Como não sou da cidade, um colega do curso de

pós-graduação é que me deu o contato com a professora. Pelo telefone não entramos em muitos

detalhes.

Chegando ao colégio me deparei com um muro alto e um portão fechado que me

pareceu ser a garagem do colégio. Continuei andando e avistei um portão menor de ferro que

estava aberto. Ao entrar avistei um portão fechado que pelo lado de dentro encontrava-se uma

senhora sentada. Apresentei-me a ela e expliquei o motivo da minha estada. Ela me falou que a

professora estava na quadra e me orientou como poderia chegar até a mesma. Seguindo as

orientações daquela senhora cheguei sem dificuldades onde estava ocorrendo a aula.

Fiquei surpreso com o espaço físico, era formado por duas quadras não cobertas,

uma com demarcação de vôlei e outra com uma demarcação de quadra polivalente. Além dessas

duas opções, existem dois outros espaços amplos e cobertos que poderiam ser utilizados nas

demais atividades. Em um desses espaços estavam vários alunos divididos em dois grandes

29

grupos: o primeiro deles em uma mesa de tênis de mesa; e um segundo grupo, no final do espaço,

estava jogando xadrez (1d).

Avistei uma pessoa varrendo o espaço que os alunos estavam vivenciando estas

atividades, imaginei ser a professora. Quando ela me avistou veio até mim, identifiquei-me e fui

bem recebido. A nossa conversa foi bem breve, falei a respeito da intenção do trabalho e da

dinâmica que estava sendo construída. Ela se mostrou super receptiva sem problemas de

colaborar com a pesquisa. Entretanto ao entregar o documento de solicitação para estar entrando

no colégio para realização das observações das aulas que foi redigido pelo orientador deste

trabalho, ela não concordou muito com o tema, pois argumentou que na sua experiência adquirida

na sua vida profissional não havia evasão nas aulas de educação física, muito pelo contrário, ela

me relatou que muitos alunos de outras turmas ficavam querendo participar das aulas quando

estavam sem aulas por algum motivo. Ao mesmo tempo em que fiquei surpreso com a

experiência vivida e relatada pela professora fiquei feliz também. Falei a ela que esse dado iria

enriquecer mais ainda o trabalho, pois aquela realidade confronta o que muitos pesquisadores

constatavam e inclusive o que os parâmetros curriculares relatam.

Levando em consideração o que a professora falou e observando que os alunos

estavam com o uniforme, ficava óbvio que naquele estabelecimento a educação física ficava no

mesmo horário das outras aulas, diferente de muitas realidades.

Perguntei a professora se esta sempre foi à realidade da educação física no

estabelecimento escolar. Ela relatou que teve que haver uma mobilização por parte dos

professores da educação física naquele estabelecimento frente à direção da escola e frente a

diretoria de ensino. Após algum tempo, que não me recordo no momento, porém que foi relatado

pela professora, conseguiram este feito, que particularmente vejo como uma grande conquista

que não poderia aqui deixar de congratular a todos os atuantes desta vitória dentro das aulas de

educação física nesta instituição de ensino.

É importante ainda deixar relatado aqui nesta minha primeira observação que a

aula teve início às 7:00 e eu comecei a observá-la às 8:10. Neste momento os alunos estavam

divididos vivenciando as atividades relatadas a seguir.

Existiam 10 alunos distribuídos em três mesas jogando xadrez. A professora me

falou que eram alunos que estavam se preparando para uma competição. No total existem 4

mesas de xadrez (2d).

30

No mesmo espaço existem duas mesas, de tênis de mesa, uma sem condições de

uso e outra em bom estado, onde se encontravam Sete alunos jogando em duplas. A dupla que

perdia saía para a outra dupla jogar (3d).

Na quadra de vôlei, como já foi descrito acima, haviam dois times compostos por

quatro alunos, um time era composto por quatro meninas e outro composto por dois meninos e

duas meninas. É bom registrar que as regras eram adaptadas, o que facilitava bem o jogo. A

adaptação observada era que a bola podia dar um toque no chão. No decorrer da aula a professora

entrou em um dos times (4d).

Na quadra onde estava havendo o fut-sal havia dois times, onde somente meninas

estavam jogando. Um futebol adaptado, já que havia em cada time três alunos jogando “na linha”

e um no gol, e havia um aluno esperando a sua vez para entrar. O aluno que estava esperando

entrava no time após dez minutos ou dois gols (5d).

É bom não deixarmos de falar que o dia estava frio. Alguns alunos de bermudas,

outros com uniformes do colégio. Após soar a campainha do final da aula, a professora chamou a

turma algumas vezes. A turma do xadrez foi à última a sair, talvez em virtude da dinâmica do

jogo.

Quando acabou a aula, a professora me acompanhou para irmos conversar com a

diretora a respeito da pesquisa que estávamos iniciando naquele momento no estabelecimento.

Tivemos sorte, pois a diretora encontrava-se na sua sala e atendeu-nos imediatamente. Explique

os objetivos que me levaram aquela escola e o tema do trabalho. Foi quando a professora

novamente falou que não concordava com o termo “evasão” das aulas de educação física no

ensino médio. A diretora também opinou que não há evasão, porém ressaltou muitos alunos não

participam, sendo meros expectadores das aulas, já que a mesma ocorre no mesmo horário dos

outros componentes curriculares e a diretora ainda afirmou que a turma que eu ia observar era a

que mais participava das aulas de educação física, inclusive sugeriu que eu observa-se outra

turma (6).

As opiniões divergentes ficaram por ai, e a diretora falou que seria um prazer estar

colaborando com o nosso trabalho. Agradeci, me despedi e fui embora.

V) Data: 23/05/2006. Escola: pública. Turma: mista. Número de alunos: 30.

31

Com os acontecimentos de violência relacionados ao crime organizado,

particularmente ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), ocorridos no estado de São Paulo

da semana dos dias 12 a 19 de maio, ficou inviável darmos andamento nas observações das aulas

no dia 16 de maio. Por esse motivo, as observações da segunda aula na escola pública ficaram

para o dia 23 de maio.

Ao chegar na escola, às 7:00 da manhã, a temperatura estava muito baixa. Deparei-

me com a professora que me recebeu com um sorriso dizendo que ia levar seus alunos para os

jogos que seriam as terças e sextas-feiras. Perguntei a ela se seriam todas as terças e ela me

respondeu que não, o que me deixou aliviado, pois o prazo para a conclusão da pesquisa já está se

esgotando (1d).

Porém, o que me chamou a atenção foi perceber a satisfação pessoal e o brilho nos

olhos de uma professora que já dá aulas há tanto tempo e ainda mantém a satisfação pessoal de

levar seus alunos a uma competição de futsal.

A professora entrou novamente na escola e eu me direcionei a quadra, ficando

esperando os alunos com a professora substituta, que irar ficar responsável pelas aulas, já que são

em número de duas.

Exatamente às 7:23 os alunos desceram. No primeiro momento não consegui

identificar a professora. O dia estava frio e nublado e eu estava ansioso para observar se os alunos

iriam “encarar” aquelas quadras descobertas.

A professora se dirigiu a mim exatamente às 7:26 e me falou que já havia sido

comunicada pela professora que haveria um outro profissional observando às aulas, a professora

substituta ao me receber me deixou bastante à-vontade para dar continuidade no trabalho

acadêmico naquele estabelecimento de ensino. A professora substituta tem formação em biologia.

Os alunos estavam se organizando, a primeiro momento me parecia que ia rolar

um futsal misto. Na quadra de vôlei se encontravam 4 alunos, 3 de um lado e o outro aluno

sacando para os demais receberem o saque. Enquanto que na quadra de futsal acabou

acontecendo o futsal misto, sendo que dois meninos ficaram um em cada gol e apenas um menino

ficou jogando na linha com as meninas (2d).

O menino que estava jogando ao se apresentar para fazer um gol e não ter tido

sucesso saiu da quadra dando risadas e se dirigindo a sua “tribo masculina”. Já eram 7:35 e os

meninos que não estavam jogando estavam conversando e sentados à beira da quadra, me

32

pareciam a princípio que eles estavam esperando as meninas cansarem para entrarem na quadra.

Bem este foi um comentário logo após as minhas deduções na observação. Deixa-as jogarem para

nós podermos jogar depois (3).

Jogavam futsal oito meninas na linha e dois meninos um em cada gol, ainda

existiam 3 meninas no fundo da quadra de futsal trocando toques de vôlei com uma bola de

vôlei.O professor substituto da professora efetiva da turma não tinha ido, então a professora

eventual do colégio o substituiu. Nove alunos estavam sentados conversando um estava lendo e

outros dois estavam fazendo um penteado inusitado (4).

Na quadra de vôlei a atividade era bem dinâmica sempre mudando. Agora era 7:43

e estavam jogando uma dupla mista e uma dupla de meninos, bem as 7:45 as três meninas que

estavam trocando toques de vôlei no fundo da quadra de futsal continuavam (5d). Neste mesmo

horário um dos meninos que estava no gol saiu e entrou outro o que pude observar que no decorre

do jogo de futsal os meninos que estavam no gol quando lançavam a bola procuravam fazer com

cuidado para não atingir as meninas que estavam jogando.

Da platéia que estavam observando o jogo de futsal apenas um dos meninos ficava

fazendo comentários pejorativos a respeito do jogo do futsal das meninas que por coincidência

era o mesmo aluno que iniciou o jogo com elas e não conseguiu fazer o gol que ele tentou e

também não consegui no início do jogo fazer o que havia tentado que era sair driblando todas as

meninas.

Às 7:50 o jogo no da quadra tinha acabado se mantendo apenas um menino e uma

menina trocando toques de vôlei. A professora substituta me falou que está turma de meninas

tinha jogado o interclasses de futsal e era a turma que tinha meninas que mais gostava de jogar

futsal (6d). Um dos meninos entrou na quadra alegando com o horário das meninas já havia se

esgotado, porém elas não saíram pois a campainha da primeira aula ainda não tinha soado. O

toque da primeira aula suou e as meninas sairão da quadra de futsal. 7 meninos foram para a

quadra e pediram uma “pelota” melhor para a professora, agora já eram em números de 8 às 7:58

iniciou-se o jogo dos meninos (7).

Aproximadamente neste mesmo horário a quadra que se encontrava abandonada

foi ocupada novamente, iniciando um jogo de trio, uma equipe composta por 2 meninas mais um

menino e outra composta por três meninos. Logo após o início do jogo de futsal masculino o bate

bola de vôlei no fundo da quadra de futsal acabou, quando os alunos passaram por mim,

33

perguntei a eles o que havia acontecido, uma das meninas me respondeu se elas continuassem no

fundo da quadra os meninos iam matá-las com boladas originadas pelo jogo de futsal, que

naquele momento estava acontecendo.

É bom não deixar de relatar aqui que o jogo de voleibol, neste momento estava

acontecendo de forma adaptada, bem neste momento as coisas me pareciam estar já acontecendo

sem muita motivação, perguntei as meninas porque elas estavam sem participar que eram em

número de seis, elas me responderam que estavam com frio e a participação naquele momento

delas era torce, me falando dando risadas.

Às 8:15 o voleibol parou definitivamente e exatamente neste horário a bola foi

chutada para cima do telhado por um dos meninos pois a bola de voleibol tinha invadido a quadra

de futsal, pois tinha duas meninas trocando uns toques de voleibol na proximidade da quadra.

As 8:20 o jogo de futebol ainda acontecia porém o grau de motivação já não era

mais o mesmo do início. As 8:39 os meninos saíram da quadra e as meninas ocuparam

novamente a quadra de futsal e agora com um menino em cada lado porém jogando na linha e

uma menina em cada gol, o jogo prosseguiu até a campa soar que não demorou muito para

acontecer, a turma se despediu e se direcionaram para a sala de aula.

VI) Data: 30/05/2006. Escola: pública. Turma: mista. Número de alunos: 0, pois não houve

aula.

Ao chegar na escola entrei e me direcionei a quadra, onde avistei a professora e

nenhum aluno pertencente a aulas de educação física. Tinham nas proximidades da quadra 7

alunos com uma bola de vôlei e um senhor que não sei se era um inspetor ou um professor que

estava abordando os alunos para saber a qual série eles pertenciam, o porque de estarem sem o

uniforme e solicitando para os que estavam sem uniforme que colocassem o mesmo. Informei-me

onde estava a professora e fui atrás dela. Encontrei-a em uma sala que pertence aos professores

de educação física. A sala possui alguns troféus e medalhas que os alunos do colégio ganharam.

A professora me falou que não haveria aula naquele dia, pois estava indo para os jogos e a turma

havia sido liberada pela diretora para ir assistir aos jogos. Então me despedi e fiquei de voltar na

próxima semana (1d).

34

VII) Data: 06/06/2006. Escola: pública. Turma: mista. Número de alunos: 19.

Ao chegar na escola, estava esperando os alunos que demoram a comparecer no

local da aula. Quando chegaram os alunos me falaram que a professora tinha ido para os jogos.

Às 7:30 a professora substituta trouxe as bolas. Antes da chegada da professora e do material que

os alunos esperavam, os alunos me falaram que estavam esperando a professora substituta para

iniciarem à aula. Perguntarem-me se eu tinha uma bola para iniciar um jogo, entretanto não tinha.

Às 7:38 na quadra de futebol formaram-se 2 equipes masculinas e uma feminina. No time das

meninas tinha uma a mais na sua equipe e após 7 minutos de jogo este se encontrava 1 a 1. Na

quadra de vôlei havia 2 times formado por duplas mistas e três alunos sentados (1d).

A professora substituta não era a mesma da aula passada. O jogo de vôlei

continuava alternando as duplas que estavam esperando a sua vez. A professora substituta é

formada em matemática. Quando perguntei a ela se sempre substituía a professora de educação

física ela afirmou que já havia substituído aulas de diversos componentes curriculares, pois era

efetiva do estado, mas como sua carga horária ainda não estava completa quando precisavam dela

ela substituía os demais professores.

Era 7:57 e o jogo de futsal continuava empatado agora em 2x2 e as meninas

continuavam super motivadas (2d). Perguntei a professora se ela fazia chamada e ela me falou

que sim.

Estávamos sentados em um banco, eu, a professora substituta e a aluna que nunca

participava. Estávamos falando a respeito dos jogos da quinta série e ela estava falando como era

divertido ver as meninas da quinta série jogando futebol.Tendo presenciado a fala desta aluna que

nunca participa das aulas de educação física, perguntei a ela, por que ela que gostava tanto de

assistir as aulas não tentava participar das mesmas. Ela me falou que já havia tentado, porém

desde a quinta série a educação física era dividida em menino e menina dentro da mesma aula,

sendo que geralmente os meninos jogavam futsal e as meninas vôlei(3). E ela alegava que era

muito “ruim”. Perguntei a ela que no decorrer destes anos todos ela não tinha conseguido

melhorar os fundamentos, se durante as aulas o professor responsável pelas aulas não ensinava os

fundamentos, e ela afirmou que não. E como as meninas já sabiam jogar ela sempre ia para uma

outra turma paralela que se formava e ia jogar queimada (4d).

Já eram 8:14 e não havia tido mudanças na aula. Agora as 8:30 o jogo de vôlei já

havia parado e apenas dois alunos continuavam na quadra, enquanto que o jogo de futsal misto

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continuava. A aula teve o seu término tocando a campainha e todos foram para a sala de aula

(5d).

VIII) Data: 12/06/2006. Escola: particular. Turma: feminina. Número de alunas: 20.

Chegando no colégio encontrei com a professora. Após conversarmos a respeito

do que precisaríamos para dar andamento no trabalho de pesquisa, iniciei o relatório às 18:30.

Havia no local da aula quatorze alunas. A professora começou a separar os

colchonetes para iniciar a aula (1), que ocorreu exatamente às 18:41. Cada aluna estava em um

cochonete. A professora deixou alguns colchonetes a beira da quadra e deu início ao

alongamento. As alunas formaram um círculo para iniciar os alongamentos e a professora ficou

orientando andando por volta do círculo, e, orientava uma a uma a postura (2). Às 18:46

chegaram mais quatro alunas (3) e estavam perguntando o que seria a aula dando sugestões:

falavam voleibol, outras handebol e outras alunas que estavam alongando falavam que poderia

apenas brincar . Às 18:48 chegaram mais duas alunas que se juntaram ao grupo(4) e começaram a

alongar que neste momento estavam alongando a lombar e logo depois as paravertebrais. A

professora continuava orientando uma a uma por volta do círculo, e as alunas elas não paravam

de conversar. Às 18:49 chegou outra aluna (5).

A professora pegou o arco e pediu para as meninas deixarem os colchonetes na

lateral da quadra. Às 18:52 chegou outra aluna (6). Cada aluna pegou um arco. A professora

explicou que era só um aquecimento, pois uma das alunas tinha ficado sem arco. A professora ia

dando o comando e as meninas iam trocando de arco e uma ia ficando de fora o objetivo era que

no comando elas trocassem de lugar sem ficar de fora do bambolé. Gradativamente a professora

ia tirando os arcoss dificultando o grau da atividade. As meninas pareciam estar motivadas e se

divertido muito (7).

Logo após a atividade mudou. As meninas formaram duas rodas, cada uma era

formada por 11 meninas de mãos dadas e cada roda ficou com um arco. As alunas, sem largar a

mão, deveriam passar o arco pelo corpo até formar a volta toda na roda. Seriam vencedoras as

alunas que pertencessem ao grupo que conseguisse acabar primeiro. Após está dinâmica a

professora pediu para formar uma grande roda, e as meninas de mãos dadas agora teriam dois

bambolés na roda. O objetivo era um encontrar o outro, porém um ia fugir e o outro iria tentar

apanhá-lo (8).

36

Às 19:10 chegou uma outra aluna logo se integrou ao grupo (9), a professora

estava organizando as meninas para outra atividade, dividindo-as em dois grupos, um composto

com coletes amarelos e outro ficou sem coletes. Pediu ajuda de algumas meninas para guardarem

ao arcos e os colchonetes que estavam na beira da quadra. A atividade era uma queimada e a

professora iniciou dando uma regra que consistia que a menina que consegue segurar a bola

ganharia uma vida. A bola era de meia e ainda tinham a possibilidade de se defender com a mão,

caso a bola fosse arremessada contra uma das meninas e elas se defendessem com as mãos,

porém não conseguissem apanhar a bola, não ia para o cemitério (10).

A queimada jogada era bem dinâmica. Eu, particularmente, não conhecia esta

dinâmica. As meninas se distribuíram em dois times, divididos pela professora, cada equipe ficou

em um lado da quadra de vôlei, e elas não podiam sair das linhas que delimitavam a quadra de

vôlei. Quando uma das alunas era atingida pela bola, elas iam para o cemitério que era toda a

quadra sem ser a quadra de vôlei, tinham o livre deslocamento para qualquer parte da quadra. As

meninas que foram para o cemitério se deslocavam bastante, dando uma dinâmica bem

interessante para o jogo.

Às 19:45 houve uma pausa da atividade, e as meninas foram beber água. A

professora estava reorganizando a atividade para reiniciarem. A atividade teve início às 19:42.

Apesar da temperatura cair, as meninas ainda estavam bem motivadas com a atividade.

Às 19:50 das vinte meninas participantes da aula, apenas duas estavam paradas

sem participarem, e as demais ainda estavam bem motivadas. A professora estava motivando as

meninas dando dicas para trocarem passes e se deslocarem pelas laterais da quadra para

receberem a bola.

Às 19:55 continuavam as duas sem participarem da atividade e observei que mais

4 meninas estavam um tanto desmotivadas. A professora encerrou a aula às 22:00.

No final da aula ao conversarmos sobre a entrevista infelizmente a professora não

pode ficar, pois tinha um compromisso e eu não havia avisado nada a respeito da entrevista.

Ficamos então de nos comunicar em outra oportunidade.

37

2. Entrevistas

I) Realizada em 09 de junho de 2006 com a Professora da Escola Pública

Marcos: Professora são três perguntas. A primeira delas é o que é a educação física no ensino

médio pra você?

Professora: Humm...

Marcos: O que é a Educação Física no Ensino Médio pra você?

(Interrupção)

Marcos: Bem, retornando aqui, a pergunta seria o que é a educação física no ensino médio para

você?

Professora: No ensino médio o que é?

Marcos: É.

Professora: Bom, eu acho que no ensino médio os alunos já tem um relacionamento social mais

intenso (1) e eles já estão mais motivados para o desenvolvimento físico. Eu acho que no ensino

médio é o funcionamento do organismo humano (2).

Marcos: E, na sua percepção a respeito da participação ou não dos alunos na aula de educação

física escolar no ensino médio.

Professora: Humm!!!

Marcos: Qual sua percepção nisso, se eles participam, se eles não participam na Educação Física

Escolar no ensino médio?

Professora: Eu acho que eles participam bem e eles têm um ótimo relacionamento social, um

relacionamento mais intenso (3). E as crianças do ensino médio estão motivadas para o

desenvolvimento físico (4).

Marcos: A terceira e última pergunta seria o seguinte: há um amparo efetivo da legislação, da

supervisão de ensino e da coordenação, direção da escola para a ação do professor de educação

física?

Professora: Não, não há muito amparo, e nós não somos muito valorizados na escola (5). Mas, a

escola tem feito tudo para poder nos ajudar (6d).

38

Marcos: É. A escola tem feito assim diretamente o que para ajudar o professor?

Professora: Ah, contribuindo com material, ajudando na infra-estrutura da educação física, dando

manutenção, é isso ai (7d).

Marcos: Ta bom, ta ótimo.

II) Realizada em 19 de junho de 2006 com o Professor da Escola Particular

Marcos: Entrevista com o professor da escola particular em 19 de junho de 2006, às 14:30 na

UFSCar.

Marcos: Bem, a primeira pergunta, professor, seria o que é educação física no ensino médio pra

você?

Professor: Bom, educação física no ensino médio a gente tenta partir daquilo que eles já tiveram

no ensino fundamental com toda uma base que eles já tiveram no ensino fundamental. A gente

imagina que eles tenham uma base, tentar exatamente utilizar isso dai pra que eles comecem a

ter... é ... hábitos de vida mais saudáveis que eu considero a educação física a educação para a

gente ter uma vida mais saudável (1) e a partir daí das habilidades das capacidades desenvolvidas

é antes do ensino fundamental eles possam integrar tudo isso ai em práticas autônomas que eles

possam é saber conhecer o próprio organismo e está sempre se relacionando com o meio de

forma saudável (2) que possam estar praticando atividade física do gosto deles mais o menos isso

eu acho que a gente tem que dar autonomia oferecer dar conhecimento pra eles a cerca do próprio

corpo para que eles tenham autonomia para praticar exercício par ter uma vida assim fisicamente

ativa (3).

Marcos: E qual seria esses mecanismos que você poderia estar utilizando pra eles pra que eles se

tornassem autônomos?

Professor: Eu acho que primeiro a gente tem que levar em consideração primeiro que como a

atividade física é praticada atualmente, né? Qual os objetivos que a atividade física tem em nosso

em nosso em nossa sociedade é se eles querem eles tem que saber analisar qual o corpo que eles

querem pra eles, então através disso agente utiliza textos pra ver como que as pessoas consideram

o corpo e como eles podem atingir esse corpo de uma maneira que não seja é uma coisa

39

comercial uma coisa meramente estética, né? Então eles têm que saber é analisar todas as práticas

que existe hoje em dia pra atingir aquele corpo ideal, por exemplo, a pessoa faz exercício apenas

pra ter um corpo bonito pra ter uma estética ideal ele não sabe que isso ai é algo vendido que tem

que ter primeiramente o conhecimento os mares que pode causar um imediativo pra alcançar este

corpo ideal, agente tenta mostrar através de textos pra mostrar pra ele de modo que ele tem que

saber é praticar uma atividade física pelo bem que faz para pessoa pra saúde dele e não pra atingir

um corpo ideal, bom é isso (4).

Marcos: A segunda pergunta agora, qual a sua percepção a respeito da participação ou não dos

alunos nas aulas de educação física no ensino médio?

Professor: O que eu vejo na experiência que eu tive até agora nestes seis meses foi que os alunos

vão lá por obrigatoriedade alguns por obrigatoriedade, por que se tornou obrigatório agora à

presença deles nas aulas de educação física (5d) outro por que é um horário assim de puro lazer

divertimento assim uma coisa que eles não dão importância eles vão lá justamente principalmente

os que estão no terceiro ano eles vão par jogar bola, por que é um horário que eles tem livre um

horário que eles tem pra isso e eles não vêem importância nesta disciplina não (6) eu tive muita

dificuldade no começo por que eu falei que eu queria mudar um pouquinho que eu ia mudar essa

essa práticas deles não seria só futebol seria outras práticas teria muita conversar bate papo eu

taria tentando educá-los pra uma pra outras formas de atividades físicas...iiiiiiii... Mas eles

demonstraram muita resistência quanto a isso por quê eles queriam manter aquilo lá não tem

importância não foram educados para praticar outras atividades físicas (7) tal então eu vejo que

eles não dão importância que agente sabe que a educação física tem então eu acho que muitos

professores acabam reforçando isso dai desanimam e acabam realmente fazendo o trivial o mais

fácil que é dá a bola e ficar observando apenas iii é difícil superar esta visão que os alunos tem

(8d).

Marcos: Então, você acredita que em virtude da vivência passada isso acaba fazendo com que

eles não tenham uma participação efetiva se não fosse a obrigatoriedade?

Professor: É eu acredito que isso já venha muito enraizado, né? A educação física brincadeira

assim uma coisa muito livre uma coisa de sair desestressar muito isso mesmo a vamos

desestressar a vamos jogar bola fazer uma coisa que eles já estão acostumado a fazer e eles

trazem isso realmente e é difícil, né? É difícil mesmo, quando as pessoas já foram educadas pra

40

uma coisa é condicionada não é nem educada é condicionada a isso, né? Condicionada apenas a

chegar lá e jogar bola e agente tentar mudar é difícil agente encontra muitas barreiras pra isso (9).

Marcos: ta ótimo.

Marcos: E a terceira pergunta é se há um amparo efetivo da legislação, da supervisão de ensino,

da coordenação, direção escolar para ação do professor de educação física?

Professor: Bom, em relação à lei agente sabe que a única coisa que ele fez foi tornar obrigatória a

educação física então a escola que eu dou aula atualmente que antes não tinha a educação física

passou a colocar o espaço para a educação física exatamente por causa da lei, que a lei torna ela

obrigatória para os alunos do ensino médio e tirando isso, não à coordenação não há supervisão

não há uma direção que fique ali em contato direto com agente, agente tem que corre atrás, tem

que falar como as coisas estão acontecendo quais os problemas que estão acontecendo e eu acho

que essa lei só serviu pra isso, pra gente conseguir ter o nosso espaço (10), a partir daí torna-se só

o professor de educação tentando conquistar o espaço dele dentro da escola tentar levar coisas

diferentes pra dentro da escola (11) mostrando isso pra direção por que não há uma troca à

direção não oferece grandes oportunidades assim, mesmo agentes tem uma quadra que precisa de

uma certa reforma pouco é feito material. Não vi se trocado apesar da gente ter um material bom,

poucas pessoas perguntam o que está acontecendo elas estão satisfeitas quando agente chega lá

com a presença com as notas parece que isso ai já basta, né? Então há um pequeno muito

pequeno inclusive valor dedicado por eles pra gente pra nossa área (12).

Marcos: então professor eu acho que a gente vai ficar por aqui.

III) Realizada em 25 de junho de 2006 com a Professora da Escola Particular

Marcos: Entrevista com a professora da escola particular.

Marcos: Bem professora, iniciando, o que é educação física escolar no ensino médio pra você?

Professora: Bem, a pra mim educação física no ensino médio é diversificar o máximo possível, é

tentar interagir com os alunos de uma forma mais lúdica, (1) e deixar a aula uma aula assim

cativante, sempre procurar, cativar os alunos para que eles possam estar participando daquele

momento de integração com o próprio professor e com os próprios alunos, (2) e que agente sabe

41

que eles têm uma falta de interesse chegando nesta faixa etária, então a gente tenta diversificar as

atividades e... como é na realidade uma aula por semana, uma aula dupla de uma hora e meia, é

... não tem forma de se trabalhar uma modalidade esportiva específica como se fosse treinamento,

então eu estou tentando trabalhar de uma forma lúdica com eles, para que eles saiam daquela

rotina anterior que eles tinham em outras aulas, né? E por enquanto ta dando certo é uma aula

assim com muita gente é difícil diversificar, ou melhor, é difícil assim agradar a todo mundo mais

por enquanto eu acho que ta dando certo (3).

Marcos: na sua percepção a respeito da participação ou não das aulas de educação física escolar

no ensino médio? Se eles participam, se eles não participam?

Professora: Bom, quando a gente fala de colégio particular é... Existe assim uma concorrência até

desleal assim com a aula de educação física, né? Por que falando dessa classe social um pouco

mais favorecida eles têm muitas opções de fazer aula fora da escola, aula de inglês, uma aula de

esporte, clube, uma escola de futebol qualquer que seja um balé, né? Então é complicado o aluno

às vezes entender que ele precisa estar na escola naquele momento para ter vinculo com a escola

pra ter vinculo com o professor uma aproximação é ele acha que pelo fato dele estar fazendo um

esporte fora da escola existe uma substituição, né? Isso é um pensamento assim difícil de mudar,

mas a gente ta tentando mudar conscientizar os alunos que isso é importante à participação deles

na aula de educação física (4) e o que eu procuro fazer é sempre estar incentivando os alunos a

participar de atividade física fora da escola e como é uma aula de uma hora e cinqüenta é

praticamente impossível você conseguir um resultado verdadeiramente efetivo então eu tenho que

priorizar uma aula motivante e como a escola não oferece um horário de treinamento eu não

posso fazer dessa única aula de uma hora e cinqüenta um treinamento com movimentos

repetitivos que vai ser maçante que com certeza eu não vou agrada a maioria, então a gente

procura fazer atividades jogos pré-desportivos, recreativos, que existam esses movimentos das

modalidades dessas ditas olímpicas e os alunos vão estar fazendo sem perceber por que todos

essa trajetória eles já tem de quinta a oitava série que foi o aprendizado dos movimentos de cada

modalidade e agora ele quer jogar ele quer se diverte e estar também aprendendo coisa nova e

fica até mais difícil para o professor está passando coisas mais aprofundadas, né? (5d) Em

fisiologia em grupos musculares na verdade a gente consegue pincela alguma coisa por conta

desse pouco tempo então de uma aula de uma hora e meia com trinta alunos você não pode

perder 30 minutos 40 minutos dando uma aula teórica falando dessas questões o que é possível

42

fazer e eu já tenho experiência nisso é assim fazer pequenos projetos e ir abordando essas

questões. (6)

Marcos: E a terceira questão se há um amparo efetivo da legislação, da supervisão de ensino, da

coordenação, direção escolar para ação do professor de educação física?

Professora: Olha... É complicado até falar disso a lei ela existe, mas assim de complemento de

aula é assim é muito pessoal de colégio para colégio. A gente sabe que tem colégio que não

obriga o aluno a fazer, não é obrigatório o aluno fazer e o aluno faz se quiser se ele não quiser

também não tem problema eu acho que a questão é mais de obrigação mesmo no colégio que eu

trabalho (7) existe assim uma cooperação uma ajuda do coordenador, né? Da área, né? E agente

está sempre em contato como eu trabalho assim fora da grade é um pouco difícil eu encontrar

com a direção e outros professores, mas o coordenador ele está sempre eu estou sempre atenta

para estar passando as questões pra ele. Mas na questão da legislação eu não sei te passar não viu

Marcos.

Marcos: Na questão da legislação é a questão de obrigação, né? De ser obrigatório.

Professora: É, porque parece que são duas palavras diferentes, né? Obrigação e obrigatório, né?

Assim, o aluno ele não tem obrigação de fazer, mas é uma disciplina obrigatória, então assim, ele

teria que estar participando da aula para ter uma freqüência e uma nota pra poder ta sendo

avaliado, pra passar de estágio, né? Ele tem que ter uma média. Então eu sou a favor de que a

aula seja obrigatória. Sem duvida nenhuma, a aula tem que ser obrigatória (8). Eu acho que o

ideal seria que as escolas oferecessem vários horários, horários para que o aluno, como ele ta no

ensino médio, já teve aquela trajetória toda atrás no ensino fundamental, que ele tivesse opções

de escolher, né? se ele quisesse fazer um futebol, um handebol, uma aula mais recreativa de

futebol ou de vôlei (9d), mas que a escola teria que ter mais espaço físico, mas a gente sabe que

isso na prática é muito complicado porque a escola...o colégio que eu trabalho tem problema com

espaço físico que é uma quadra só pra escola toda, então é muito difícil, mas que seria o ideal

seria o ideal. Assim, oferecer vários tipos de atividades para os alunos, no caso também quem

tem problema fora da escola teria como optar, né? Em ta optando por tal ou outra modalidade, ou

umas aulas mais lúdicas, recreativas.

Marcos: Então ta ótimo, professora.

43

3. Avaliação Física Funcional dos alunos

Aplicada durante a aula, referente ao Diário de Campo 3.

44

4. Texto: Vaidade

Discussão ocorrida no início da aula, referente a nota de campo 4. Texto

proveniente da Internet, referendado como sendo de autoria de Herbert Vianna.


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