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Conceitos
Enquadramento europeu
Estudo de projetos análogos
Índice1
1. Resíduos de Construção e Demolição..................................................................................... 3
2. Conceitos e definições: Reutilização | Desconstrução............................................................. 3
3. Panorama de diferentes países europeus: Enquadramento político, legislativo e normativo. 4
3.1. Cenário atual na União Europeia.......................................................................... 4
3.2. Holanda................................................................................................................ 6
3.3. Dinamarca.............................................................................................................6
3.4. Alemanha..............................................................................................................7
3.5. França................................................................................................................... 7
3.6. Espanha................................................................................................................ 8
4. Panorama de Portugal: Enquadramento político, legislativo e normativo...............................9
5. Vantagens e desvantagens da Reutilização de Materiais....................................................... 13
6. Vantagens e desvantagens da Desconstrução........................................................................13
7. Desafios da Desconstrução.....................................................................................................15
8. Viabilidade da Desconstrução................................................................................................ 16
9. Estudo de Projetos Análogos ao Repositório de Materiais.....................................................16
9.1. Casos de estudo 1: Venda de madeira recuperada.............................................17
9.2. Casos de estudo 2: Venda de materiais recuperados.........................................19
9.3. Casos de estudo 3: Organizações sem fins lucrativos de aquisição e troca de
materiais usados.................................................................................................................... 21
9.4. Casos de estudo 4: Centros de desconstrução e de formação............................27
10. Bibliografia........................................................................................................................... 28
1. Resíduos de Construção e Demolição
O setor responsável pela produção de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em
Portugal e na Europa é o da construção civil, com uma produção anual estimada de 100
milhões de toneladas. (Pinto, 2013: p. 4)
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O cumprimento ambiental deste setor é de difcil controlo e fiscalização pelo caráter
geográfico disperso e provisório das obras. As caraterísticas dos resíduos do setor da
construção possuem grandes constrangimentos relacionados com a deposição não controlada,
de difcil quantificação e o recurso a sistemas de tratamento de fim de linha. (Idem, p. 4)
Os objetivos nacionais e comunitários são incompatveis com estas práticas
ambientalmente indesejáveis e portanto revela-se imprescindível a preparação de legislação
específica para o fluxo dos RCD. (Idem, Ibidem)
O DL nº 178/2006, de 5 de Setembro define o que são Resíduos de Construção e
Demolição (RCD), como todos os resíduos provenientes de construções, reformas,
manutenções e demolições de edifcios e infraestruturas, especificando quais. Estes resíduos
têm caraterísticas intrínsecas, são muito diversificados e heterogéneos, podem corresponder a
qualquer um dos materiais que integra a construção de um edifcio ou infraestrutura, restos de
embalagens e ainda outros materiais utilizados durante a realização da obra. (Idem, Ibidem)
A composição destes resíduos é muito inconstante devido a fatores como a sua origem
(construção, reabilitação, demolição), as práticas de construção e a época da infraestrutura
demolida. (Idem, Ibidem)
2. Conceitos e definições: Reutilização | Desconstrução
Reutilização directa – é a utilização repetida de um elemento, produto, componente
ou material para a mesma finalidade que a sua utilização inicial. Esta categoria inclui qualquer
tipo de pequenas alterações feitas aos materiais para que estes continuem a desempenhar a
sua função inicial (como por exemplo, diferentes acabamentos, retoques de cor, alterações no
tamanho, etc.).
Reutilização indirecta – é a aplicação do elemento, produto, componente ou material
usado com uma finalidade diferente para a qual foi concebido. Esta categoria inclui todos os
materiais que foram alterados de forma a desempenhar as suas novas funções que, por vezes,
implicam a combinação de um ou mais elementos podendo estes ser de reutilizações directas
ou indirectas, novos ou usados. (Silva, 2011: p. 4)
Desconstrução | Demolição seletiva – desmantelamento cuidadoso, possibilitando a
recuperação dos materiais, promovendo a sua reutilização e reciclagem. Esta técnica possui
grandes hipóteses de crescimento, devido ao aumento de demolições de edifcios, de obras de
reabilitação e de preocupações ambientais, existindo a necessidade de valorização de
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resíduos. A sustentabilidade na construção tem sido objeto de estudo nos últimos anos, assim
como minimizar a produção de resíduos.
3. Panorama de diferentes países europeus: Enquadramento político, legislativo e
normativo
A crescente produção de RCD na Europa levou à necessidade de criação de diretivas,
com o objetivo de governar as atividades que possam vir a causar prejuízos ao meio ambiente
e à saúde pública devido à deposição descontrolada, sem triagem na origem dos resíduos e aos
depósitos ilegais.
Não existe legislação específica na Europa para os RSC, apenas regulamentos e
diretivas direcionadas para a fiscalização, reutilização e triagem em obra. Neste contexto
muitos países da União Europeia decidiram criar a sua própria legislação. No entanto, existe
uma lacuna clara em diversos países, como é o caso de Portugal, que aprovou só em 2008
legislação específica, estando ainda no início de um longo percurso até que se consiga
melhores práticas e se alcance os resultados ambicionados. (Teixeira, 2013: p.21)
3.1. Cenário atual na União Europeia
Como referido, não existe legislação específica na Europa, assim, a primeira diretiva
europeia surge em 1975, diretiva 75/442/CEE, criada com o objetivo de acautelar a eliminação
de resíduos, protegendo a saúde humana e o ambiente, harmonizando a legislação europeia,
incentivando a recuperação de resíduos e a sua reutilização de forma a proteger os recursos
naturais. (Idem, ibidem)
Em 1991 entra em vigor uma nova diretiva, a diretiva 91/156/CEE, elaborada com o
intuito de “garantir a correta eliminação dos resíduos, promovendo a sua prevenção,
harmonizar a legislação a nível europeu, criando uma terminologia comum e uma definição de
resíduos, encorajar a reutilização e a reciclagem dos resíduos como alternativa aos recursos
naturais, assegurar que os estados membros da UE se tornem autossuficientes no que se
refere à eliminação dos resíduos. Em 2006 foi publicada a diretiva 2006/12/CE, que revoga a
diretiva 75/442/CE” (Pinto, 2013, p. 19)
Publica-se em 2008 a diretiva 2008/98/EC, com os mesmos objetivos das anteriores,
introduzindo a distinção entre valorização e eliminação, resíduo e não resíduo, clarificando as
definições vigentes, reduzindo a utilização dos recursos naturais e propiciando a aplicação
prática da hierarquia de gestão de resíduos e, assim, a prevenção de resíduos é a primeira
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prioridade e a reutilização e reciclagem deverão ter prioridade em relação à valorização
energética dos resíduos. Desta forma, a UE passa a ter uma política que privilegia os usos
desses resíduos como subprodutos de modo a poupar os recursos naturais. (Idem, ibidem)
Este ano foi lançado o novo programa-quadro comunitário de investigação e inovação
da União Europeia, o Horizonte 2020, dispondo de um total de 77 mil milhões de euros para
sete anos, período 2014-2020, é o maior instrumento da Comunidade Europeia
especificamente orientado para o apoio à investigação, através do cofinanciamento de
projetos de investigação, inovação e demonstração. O apoio financeiro é concedido na base de
concursos em competição e mediante um processo independente de avaliação das propostas
apresentadas.
A Eficiência energética, energia de baixo carbono competitiva e ‘smart cities and
communities’ são três das 12 áreas que vão poder beneficiar de 15 mil milhões anunciados
para o financiamento de projetos no âmbito do Horizonte 2020 para os próximos dois anos e
cujo período de candidaturas já está aberto.
O Horizonte 2020 tem três pilares de ação prioritários:
Pilar I – Excelência Cientfica (com cerca de 32% do orçamento total);
Pilar II – Liderança Industrial (correspondente a cerca de 22% do orçamento);
Pilar III – Desafios Societais (com cerca de 39% do orçamento total).
Neste último estão incluídas as temáticas da energia, ambiente, ação climática,
transportes e eficiência na utilização dos recursos e das matérias-primas, para os quais a
Comissão aloca 2,8 mil milhões a serem utilizados durante o próximo ano.
O objetivo do Horizonte 2020 é estimular a economia europeia com base no
conhecimento e abordar questões que farão a diferença na vida das pessoas.
3.2. Holanda
O sistema holandês é muito organizado e o mais avançado de toda a EU. Os objetivos
criados em 1990 e até 2000 para a reciclagem de RSC foram que foi de 90%, foram atingidos
em 1999. (Teixeira, 2013: p.25)
As medidas tomadas passaram pela obrigação da triagem na origem, surgindo
consequentemente mercados paralelos e atrativos para os produtos provenientes da
reciclagem. Aqui, criaram condições para que as metas fossem facilmente atingidas,
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procurando por soluções na origem de forma a eliminar a deposição em aterro destes
resíduos. (Idem, p.25)
Desde 1997, que a Holanda trabalha neste sentido, segundo o Ministry of Housing,
Spatal Planning and the Environment, foi logo proibida a deposição de RCD potencialmente
recicláveis em aterros e mais tarde a deposição de RCD combustveis. Posteriormente em
2001, pela dificuldade de valorização e incineração levantou-se a obrigação no caso de RCD
combustveis e estabeleceu-se uma taxa que chega a atingir os 122€ a tonelada em algumas
cidades do país, tornando assim mais económica a triagem e encaminhamento para
reciclagem. (Idem, ibidem)
Quanto aos outros países europeus, temos diversos casos de sucesso, que criaram
iniciativas para estimular a prevenção e o reaproveitamento dos RCD que serão analisados nos
tópicos seguintes.
3.3. Dinamarca
Outro exemplo de grande importância é a Dinamarca que tem como prática principal
na gestão dos RCD a reciclagem.
Este país introduziu alguns instrumentos muito eficazes que possibilitaram o aumento
da reciclagem destes resíduos de 25% para 92% desde 1990. Os produtores de resíduos são
responsáveis pela seleção e despejo dos mesmos, garantindo maior preocupação por sofrerem
as consequências da má gestão, existe um imposto sobre a produção de resíduos. As taxas
cobradas pelos resíduos entregues nas estações de tratamento, se estes forem separados ou
tiverem como destino a reciclagem, são reembolsadas. Foram também tomadas outras
medidas entre os aterros e os trabalhos de demolição que tornou a aplicação da demolição
seletiva ou desconstrução em maior escala, mesmo quando é mais cara e demorada do que a
demolição tradicional, porque são obtidas grandes poupanças através da redução de custos
para o imposto sobre os resíduos, incineração dos mesmos e de maior venda de materiais
recicláveis. (Idem, ibidem)
3.4. Alemanha
No seio da União Europeia a Alemanha é o país com mais produção de RCD’s, com
cerca de 214 milhões de toneladas, no entanto é dos que tem maior taxa de reciclagem dos
mesmos, atingindo 85% de reutilização e reciclagem. (Idem, ibidem)
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Os padrões definidos pela Alemanha para o tratamento de resíduos de construção são
muito elevados, existem regulamentações extensivas e que vão muito além das exigências da
EU e em geral são cumpridas. (Idem, ibidem)
As principais implementações passam uma boa documentação do fluxo de resíduos, as
exigências legais dão preferência à reciclagem e reutilização do que à eliminação e
responsabilizaram-se donos de obra e construtores pelo adequado escoamento de resíduos.
Esta última necessita de uma melhoria, porque os resíduos são entregues a serviços de recolha
especializada em cada tipo de resíduo que multiplica os gastos logísticos da recolha, a
otimização poderia passar por colocar toda a responsabilidade de tratamento e separação de
resíduos sob a área de jurisdição de uma das diferentes especialidades ou subempreiteiros ou
de uma empresa de recolha que prestasse serviços à obra como um todo. (Idem, ibidem)
Na promoção para a reutilização de resíduos de construção definiu-se um conjunto de
orientações sobre a reciclagem do Ministério Federal para o planeamento regional, construção
e desenvolvimento urbano (“guideline recycling”). As empresas de recolha necessitam de
várias autorizações e certificações, tal como em Portugal para serem considerados operadores
de resíduos especializados. Existem condicionantes no depósito em aterros quanto à receção
de resíduos misturados, ou não os aceitam, ou exigem pagamentos mais elevados. Estas
medidas favorecem o encaminhamento de resíduos para triagens próprias, obrigando à sua
triagem ou seleção em obra/origem e a uma demolição mais cuidada. (Idem, ibidem)
3.5. França
A legislação francesa é bastante incisiva na gestão de resíduos de construção, incidindo
nas fases de produção, transporte e eliminação ou tratamento, com muitas iniciativas
desenvolvidas nos últimos 6 anos. A implementação deste plano não é uniforme e geral, nem
todas as cidades têm soluções previstas para os resíduos industriais e muitas vezes existe
dificuldade em arranjar espaços livres disponíveis para as várias especialidades da construção.
Os agentes envolvidos na recolha e acumulação apresentam às empresas soluções
globais e específicas de tratamento de resíduos e são submetidas à mesma regulamentação
que outras empresas de gestão de resíduos. (Idem, p. 27)
O cumprimento da regulamentação ambiental pelas empresas tem custos, na ordem
dos 3% a 5% do custo total da construção e tem sido desenvolvido um trabalho importante no
que toca à integração da gestão de resíduos nos mercados privados e públicos. (Idem, p. 28)
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3.6. Espanha
A Espanha tem poucos desenvolvimentos no que respeita à reciclagem de resíduos,
apresenta uma taxa menor que 10%. Tal como Portugal, publicou apenas em 2008 legislação
que regula a produção e gestão do fluxo específico de resíduos. (Idem, ibidem)
Estas medidas foram tomadas como resposta ao aumento da indústria de construção e
consequentemente ao aumento de resíduos e com perspetivas bastante pessimistas. As
autoridades identificam como causas do reduzido aproveitamento de RCD’s: o despejo ilegal
ou descontrolado, sem o cumprimento dos requisitos da legislação de aterro, e as baixas taxas
de admissão em aterros autorizados, que dificultam a sustentabilidade e a rentabilidade da
operação de estações de tratamento de RCD’s. (Idem, ibidem)
A criação da legislação foi também despoletada pelo aumento da iniciativa pública e
privada para a implementação de instalações de tratamento. Os avanços verificaram-se
também ao nível da formação e sensibilização do setor. Introduziram-se taxas para a
deposição em aterros. O Real Decreto 105/2008, de 1 de Fevereiro de 2008, é almejado como
contributo para o desenvolvimento sustentável deste setor, aplica princípios de
responsabilidade do produtor; prevenção de resíduos; responsabilidade entre todos os
agentes inerentes à cadeia de produção e gestão de RCD’s. (Idem, p. 29)
Este regulamento obriga ainda o arquitecto a um estudo sobre a gestão de RCD’s e o
construtor a um plano de gestão de RCD’s, para posterior obtenção da licença de construção,
exigindo a inclusão de dois dados fundamentais: quantidades de resíduos e custo do
tratamento destes. Obriga também à triagem na origem de forma a facilitar a valorização dos
resíduos e a proibição de deposição sem tratamento prévio, desencorajando a deposição de
resíduos reutilizáveis. Prevê ainda a instituição de um mecanismo de controlo vinculado à
obtenção de licenças de construção, onde o produtor, através de uma caução, garante o
cumprimento das exigências de gestão dos RCD’s a ser produzidos no local. (Idem, ibidem)
4. Panorama de Portugal: Enquadramento político, legislativo e normativo
A classificação dos RCD’s tem vindo a sofrer mutações ao longo do tempo. Aprovado
em 1997, como um dos fluxos de RSU no Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos
(PERSU). Considerados mais tarde como Resíduos Industriais (RI), incluídos na categoria de
Resíduos Industriais Perigosos (RIP), pelo Plano Estratégico Sectorial de Gestão de Resíduos
Industriais (PESGRI) publicado pelo Decreto-Lei n.º 516/99, de 2 de Dezembro, revisto pelo
Decreto-Lei n.º 89/2002 de 9 de Abril. Em 2006, com a aprovação do Regime Geral da Gestão
de Resíduos surge a definição de “resíduo de construção e demolição – resíduos provenientes
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de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição e da
derrocada de edificações.”, no Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro. (Idem, p. 30)
Um ano após é estabelecido o Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE),
através da Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro, referindo o Regime da Gestão de Resíduos de
Construção e Demolição (RGRCD), ao longo de alguns artigos deste diploma. (Monteiro, 2011:
p. 25)
Seguidamente, através do Decreto-Lei n.º 18/2008, de 18 de Janeiro, é apresentado o
novo Código dos Contractos Públicos (CCP), referindo várias vezes a importância do PPGRCD
(Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição) na gestão de RCD, em
vários artigos deste mesmo diploma.
Só com o pelo Decreto-Lei n.º46/2008, de 12 de Março é publicado um quadro
legislativo específico. Este decreto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de Junho,
estabelece o regime das operações de gestão de RCD, compreendendo a sua prevenção,
reutilização, recolha, transporte, armazenamento, tratamento, valorização e eliminação.
(Teixeira, 2013: p.31)
Para atingir os objetivos presentes no DL nº 46/2008, de 12 de Março 1 existem uma
série de estratégias de prevenção que devem ser implementadas em obra:
Figura 1: Esquema de Prevenção de RCD, Cabaço 2009
O princípio fundamental de gestão de RCD’s do referido decreto é a prevenção da
produção destes resíduos, com redução na incorporação de substâncias perigosas na
construção e também o recurso à triagem na origem e a sistemas já referidos, como a
reutilização, reciclagem ou outras formas de valorização. (Idem, p. 31)
1 Minimizar a produção de resíduos, utilizando práticas ambientais adequadas e facilitando a
reciclagem de materiais e produtos, de forma segura, eficiente e ambientalmente correta; Controlar os
riscos para o ambiente, devido a uma deficiente gestão.9
Figura 2: Hierarquia de Gestão de RCD, Adaptado de Godinho 2011
Segundo Pinto (2013, p.18) e citando Godinho (2011), quando a triagem não é passível
de ser realizada, deve ser justificada, devendo encaminhar os resíduos para um operador
licenciado, sendo assim, a hierarquia da gestão destes resíduos surge da seguinte forma:
Figura 3: Metodologias e Práticas adotadas na Gestão de Resíduos, Adaptado de Godinho 2011
Este decreto introduziu também uma correlação de responsabilidade na gestão de
todos os intervenientes do ciclo de vida dos RCD’s. O artigo 3º é bem claro e define que em
obras isentas de licença ou de comunicação prévia os RCD’s são da responsabilidade da
entidade que gere os resíduos urbanos (normalmente as câmaras municipais). Por outro lado
sempre que for impossível identificar o produtor do resíduo o seu responsável será o seu
detentor. O mesmo artigo refere ainda que a responsabilidade destas entidades só deixa de
ser vinculativa quando os RCD’s são entregues a uma entidade licenciada para o efeito. O
quadro legislativo publicado considera a correta gestão em obra e valorização dos resíduos
produzidos, assim como a orientação de demolições efetuadas, instituindo o princípio da
gestão e redução na produção de RCD’s. Surge também a obrigação legal de elaboração de um
Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos (PPGR) de construção e demolição nas obras
públicas, onde sejam assegurados princípios gerais de gestão de RCD’s e das demais normas
aplicáveis, tendo como responsável pela correta execução o dono de obra. (Idem, p. 32)
Mais recentemente, o Decreto-Lei nº 73/2011, de 17 de Junho, altera o regime geral
da gestão de resíduos e transpõe a Directiva n.º 2008/98/CE, de 19 de Novembro. Este tem
como objetivo clarificar conceitos chave, como as definições de resíduo, prevenção,
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reutilização, preparação para a reutilização, tratamento e reciclagem, e a distinção entre os
conceitos de valorização e eliminação de resíduos, com base numa diferença efectiva em
termos de impacte ambiental, tendo também em conta a hierarquia dos resíduos como
princípio fundamental da política de ambiente. Este diploma veio alterar os Decretos-Lei nº
178/2006, de 5 de Setembro, e o nº 46/2008, de 12 de Março. (Monteiro, 2011: p. 26)
Na legislação atual os resíduos classificam-se segunda a Lista Europeia de Resíduos
(LER), que assegura uma uniformização na identificação e classificação dos mesmos, que por
sua vez facilitam o conhecimento por parte dos agentes económicos do regime jurídico a que
estão sujeitos (Portaria nº 209/2004, de 3 de Março). (Pinto, 2013: p. 6)
Relativamente à utilização dos RCD’s em obra está sujeita a normas técnicas nacionais
e comunitárias, ou às normas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) devidamente
homologadas pelos responsáveis do governo das áreas envolvidas, nomeadamente a área do
ambiente e das obras públicas. O DL em vigor obriga as operações de RCD’s a licenciamento e
a deposição em aterro apenas após triagem. (Teixeira, 2013: p.32)
Em Portugal só existe demolição seletiva quando se pretende obter os RCD com
viabilidade de aplicação imediata, de outra forma é realizada a demolição global, que consiste
na destruição simultânea de toda a obra, tendo como consequência resíduos heterogéneos,
com separação à posteriori e custos muito mais elevados. (Teodoro, 2011: p.48)
A análise de Portugal no contexto europeu respeitante aos resíduos de construção e
demolição e seu tratamento permite concluir que foram transcritas as normativas europeias,
mas na prática não foram criadas as devidas condições para a sua implementação. Portugal
tem um longo caminho a percorrer, comparando com países como a Dinamarca, Holanda e
Bélgica.
Os problemas relacionados com os resíduos não resultam apenas da sua produção,
mas principalmente do seu insuficiente reaproveitamento como materiais úteis, quando
tecnicamente possível, e de alguma gestão menos adequada, que pode originar impactes
ambientais significativos.
Promover o fecho dos ciclos dos materiais é um aspeto fundamental para garantir uma
gestão de resíduos mais sustentável, direcionando as perdas (materiais e energéticas) para
novas aplicações produtivas reduzindo assim, simultaneamente, a pressão sobre os recursos
naturais e sobre a capacidade da Natureza para regenerar os resíduos.
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A sociedade em geral, e a sociedade Portuguesa em particular, terão ainda um longo
percurso para concretizar este desígnio. A sociedade contemporânea é ainda profundamente
ineficiente na forma como usa os seus recursos materiais, sendo que atualmente apenas uma
fração muito reduzida dos materiais constituintes dos produtos em fim de vida é reintroduzida
no sistema económico.
No passado dia 15 de setembro (2014) o Governo apresentou o Compromisso para o
Crescimento Verde, que procura "estabelecer as bases para um compromisso em torno de
políticas, objetivos e metas que impulsionem um modelo de desenvolvimento capaz de
conciliar o indispensável crescimento económico, com um menor consumo de recursos
naturais e com a justiça social e a qualidade de vida das populações", documento que se
encontra em discussão pública até ao final do ano. Este projeto, Repositório de Materiais
enquadra-se no espírito desta agenda, contribuindo para muitos dos 13 objetivos fixados e dos
quais se destacam os objetivos 4, 5 e 6, correspondentes à promoção e eficiência no uso dos
recursos.
Figura 4: Compromisso para o Crescimento Verde, 2014
5. Vantagens e desvantagens da Reutilização de Materiais
A reutilização não é a única solução para os problemas dos resíduos, mas seria uma
importante ajuda na sua gestão devido ao aproveitamento de matérias-primas. A reutilização
permite aos materiais serem utilizados pelo menos uma segunda vez, quer sejam aplicados na
mesma função ou noutra distinta.
Monteiro (2011) refere que relativamente à reutilização dos RCD existe uma hierarquia
associada ao potencial de reciclagem que determinado material pode ter (Brito, J., 2006).Desta
forma podemos alinhar os materiais de acordo com a sua reutilização:
A. Reutilizáveis em boas condições e com efeito imediato: algumas componentes
arquitetónicas, madeira, aço e pedra.
B. Reutilização e aplicação proveitosa após processamento: entulho (alvenaria e betão)
e madeira. Deve-se considerar uma subdivisão em material inicialmente contaminado e limpo.
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Vantagens
São diversas as razões para a recuperação e reutilização de componentes e materiais
de construção, descrevendo-as por ordem de importância:
Redução do impacto ambiental causado pela construção, não requer processos
industriais e reduz os resíduos de construção e demolição;
Benefcios estéticos e funcionais na utilização de matérias não-convencionais;
Benefcios económicos, poupança nas taxas de despejo e armazenamento,
dedução fiscal pelas suas contribuições;
Ajuda de organizações ambientais e governamentais;
Responsabilidade ecológica.
Desvantagens
Equipa Especializada;
Armazenagem correta;
Económicas pela dificuldade de remoção dos materiais ou componentes;
Caraterísticas dos materiais, a remoção pode provocar estragos;
Acaso
6. Vantagens e desvantagens da Desconstrução
Vantagens
Possibilita a reutilização e reciclagem de materiais, devido ao cuidado que é
tido na remoção;
Promove inovação e tecnologia, com a existência de novos materiais de
construção;
Aparecimento de um novo mercado – o de materiais usados ou reciclados, pois
o valor de mercado para os materiais recuperados da desconstrução é maior do que
o dos da demolição;
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Gera benefcios ambientais, já que a recuperação de materiais ajuda a reduzir
os encargos nos aterros, elimina a necessidade de gastar energia adicional no fabrico
de novos materiais e reduz o consumo de matérias-primas;
Gera benefcios económicos, melhora as economias locais com a criação de
postos de trabalho, pois é um processo que envolve uma quantidade significativa de
trabalho, através da remoção, preparação, classificação e transporte dos materiais
recuperados. Oferece oportunidades para as pequenas empresas a emergir;
Promove a sustentabilidade na construção;
Preserva o Património Cultural, Histórico e Arquitetónico;
Capta um segmento de mercado pouco explorado na reciclagem e reutilização
de materiais de construção;
É exportável em materiais, formação e serviços;
Poderá existir benefcios fiscais envolvidos.
Desvantagens
Dificuldade na remoção dos materiais, os edifcios existentes e seus
componentes não foram projetados para serem desmontados;
Inexistência de ferramentas para desmontar edificações existentes;
Custo para utilização de aterros é muito baixo;
A desmontagem requer mais tempo que a simples demolição;
Os códigos de obra e os materiais padrão geralmente não
incentivam/estimulam a reutilização de componentes;
Os custos da desconstrução ainda não são bem conhecidos;
Ausência de indústrias com práticas padronizadas;
Benefcios económicos e ambientais da prática da desconstrução ainda não
estão bem claros.
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O maior entrave da desconstrução está na forma como até hoje os projetistas e
construtores vêm as suas criações como permanentes, sem preocupação numa futura
desconstrução. Para a superação desta barreira é necessário desenvolver-se técnicas e
ferramentas que possibilitem a realização da desconstrução, a investigação atravessa o mundo
e o poder público deve começar a incentivar esta prática aumentando os valores pagos para
utilização dos aterros e proibindo a eliminação de materiais reutilizáveis. (Teodoro, 2011: p.19)
Desde 1999, que o CIB (International Council and Innovation in Building Construction)
em associação com o Powel Center for Construction and Environment – Universidade da
Florida – Estados Unidos da América, possui um grupo de trabalho sobre desconstrução que
trabalha na produção e análise de informação e programas de reutilização de materiais a nível
mundial, promovendo a desconstrução e a reutilização de materiais como uma alternativa
viável à demolição e aterro. Desde a criação deste grupo de reconhecido mérito internacional
que têm vindo a ser produzidos muitos documentos e difundido muito conhecimento.
Em Portugal a sustentabilidade na construção tem sido alvo de estudo nos últimos
anos.
7. Desafios da Desconstrução
• Edifcios existentes não foram projetados para desmontagem;
• Componentes de edifcios não foram projetados para desmontagem;
• Ferramentas para a desconstrução de edifcios existentes geralmente não existem;
• Os custos para eliminação dos resíduos da demolição são baixos;
• Desmontar edifcios requer mais tempo;
• A recertificação de componentes usados não é frequentemente possível;
• Os códigos de obra não abordam a reutilização de componentes de construção;
• Os benefcios económicos e sociais não são bem estabelecidos.
8. Viabilidade da Desconstrução
A viabilidade da desconstrução exige o envolvimento de todo o setor da construção
civil e das autoridades. Exige também uma nova forma de projetar e de construir. O custo total
para a desconstrução, ao contrário do que possa parecer, é em geral 30% menor que o da
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demolição, além de empregar mais mão-de-obra especializada, diminuir custos de transporte
e desmonte, aterros, energia e indústria de reciclagem.
Os arquitetos estão cada vez mais abertos ao design para desconstrução.
Os construtores demoram a aceitar o uso de materiais reciclados e recuperados
(perceção negativa quanto ao preço, qualidade baixa, risco alto, problemas de
dimensionamento)
Os consumidores vêem os materiais como de menor qualidade porém valorizam-nos
por serem ambientalmente corretos
Para estimular a prática da desconstrução sugerem-se iniciativas:
Promover e incentivar pesquisas direcionadas para o desenvolvimento de
novas tecnologias construtivas e ferramentas para a desconstrução;
Desenvolver projetos a pensar num futuro onde exista a desconstrução,
tornando as construções passíveis de desmonte e remonte;
Incentivar o aparecimento de um mercado para materiais e componentes
usados;
Aumento das taxas cobradas para deposição de resíduos nos aterros.
9. Estudo de Projetos Análogos ao Repositório de Materiais
No âmbito da pesquisa efetuada sobre o assunto e procurando projetos similares ou
que se cruzam de alguma forma com esta temática, foram estudados 14 exemplos. Dentre os
quais dez são empresas, quatro vendem madeira recuperada e cinco vendem todo o tipo de
materiais usados, principalmente proveniente de construções antigas e abandonadas. Quatro
dos casos analisados correspondem a organizações sem fins lucrativos, tais como cooperativas
e associações que adquirem e trocam materiais de construção. Por fim, como a pesquisa
englobou também a desconstrução por estar diretamente relacionada com a forma como se
deve recolher estes materiais que nós procuramos, analisamos um caso referente a centros de
desconstrução e de formação para perceber a metodologia envolvida, as vantagens e
desvantagens.
16
9.1. Casos de estudo 1: Venda de madeira recuperada
A B C D
País Canadá EUA EUA EUA
Cidade Mount Forest, Província de Ontário
São Rafael, Estado da Califórnia
Sede: White City, OregonEscritórios: San Francisco, Seattle, Nova York, Filadélfia e Ásia
Woodsboro,Condado de Frederick, Estado de Maryland
População 4 757 hab 57 713 hab 5 466 hab 1 141 hab
Densidade
Populacional
574,4 hab km² 1 352,95 hab/km² 1 139 hab./km² 620.5 hab./km²
Área 8.282 km² 58,1 km² 4,8 km² 1.84 km2
A. Nostalgic Wood
Vendem pavimentos de madeira antiga recuperada, alguns originais, outros
modificados. Os produtos são únicos na medida em que procuram ir de encontro às
preferências e necessidades específicas dos seus clientes. As madeiras são secas em estufas e
empilhadas até que seja necessário o seu corte de acordo com as encomendas.
B. Black’s Farmwood
Este projeto utiliza madeira recuperada e
reciclada para transformar em pavimentos, vigas,
paredes, móveis, entre outros. Ao longo de 15 anos,
esta empresa familiar tem sido a principal fabricante e
fornecedor de vigas de madeira recuperada,
pavimentos de tábuas largas, mesas e móveis
personalizados, tapumes de celeiro e outras madeiras.
Fundada em 1990. Empresa certificada pela
FSC pelo desenvolvimento de projetos LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design -
Padrão para o projeto de construção verde).
Operam num depósito de madeira recuperada e numa fábrica no norte da Califórnia.
Os clientes vão desde residenciais, como proprietários de imóveis do tipo faça-você-
mesmo até grandes clientes comerciais, como a Pixar, Starbucks, Sundance, e Whole Foods.
C. TerraMai
17
Fundada em 1991. Fornece madeira
recuperada de todo o mundo: teca, madeiras
africanas, asiáticas exóticas, pau-brasil, carvalho
branco, e muitas outras espécies. Vários projetos
comerciais e residenciais usam os seus materiais
recuperados para pavimentos, paredes, painéis e
decks.
As atividades desenvolvidas por esta
empresa são as seguintes: venda de madeiras
selecionadas e recuperadas de todo o mundo
através de remoagem da madeira e fabricação de novos produtos (recicla madeiras velhas),
serviços de acabamento das madeiras diferenciados e personalizados, trabalhos
manufaturados personalizados (perfis personalizados, tampos de mesa, bancadas, topos de
bar, degraus de escada e muito mais.), serviços de consultoria e aconselhamento e serviços de
armazenamento e logística de materiais de outras empresas.
Os seus clientes são corporativos, institucionais, residenciais, comerciais e alojamentos
turísticos. TerraMai trabalha diariamente com empresas de, como Gensler, Callison, Perkins +
Will e outros, em projetos para a Google, a Universidade de Stanford, Ritz-Carlton, da cidade
de Nova York, Disney e muitos outros clientes de renome mundial.
D. Vintage Lumber
O objetivo da Vintage Lumber é o de reutilizar madeira velha obtida a partir celeiros
abandonados desmontados e outros edifcios agrícolas no centro de Maryland. Vendem
madeiras selecionadas e recuperadas de todo o mundo através de remoagem da madeira e
fabricação de novos produtos (recicla madeiras velhas). O interesse expandiu-se para um
produto mais acabado, de largura aleatória para pranchas de pavimento de madeira. O
mercado cresceu até se tornar nacional.
Hoje possui um inventário de madeira antiga e nova de mais de um milhão de pés
cúbicos, tem a capacidade de 20 mil metros quadrados por semana, é um dos maiores e mais
respeitados fabricantes de pavimentos antigos de madeira nova remoída e rústica no país.
Os clientes vão desde proprietários de habitações, empresas, universidades e
organizações em todo o mundo.
18
9.2. Casos de estudo 2: Venda de materiais recuperados
A B C D E F
País França Inglaterra Inglaterra EUA EUA EUA
Cidade Méry-Corbon,na Baixa-Normandia
L'Hôtellerie-de-Flée,Em Pays de la Loire
Hulme, em Manchester
Kensal Green, em Londres
Berkley,Califórnia
Nova Iorque Fairfax,Califórnia
População 961 hab
487 hab
16, 907 hab 14 915 hab 112 580 hab Região Metropolitana: 19,7 milhões habitantes
7 441 hab
Densidade
Populacional
126,6 hab/km2
33 hab /km2
7, 671 hab
/km2
133,10 hab
/km2
4 151,61
hab/km²
1 305,90
hab/km²
Área 7,59 km²
14,77 km²
2 204 km2 1,12 km2 45,8 km² Região Metropolitana: 8,7 mil km²
5,7 km²
A. BCA-Matériaux Anciens
Empresa composta por 15 profissionais experientes e especializados na recuperação
arquitetónica e fornecimento de materiais antigos franceses. Desde 1995 BCA são
embaixadores para o fornecimento de materiais antigos e nobres em toda a França e no
mundo, especialmente para os EUA, Grã-Bretanha e em toda a Europa, Rússia, Oriente,
Austrália e nova Zelândia.
Dispõe dos seguintes produtos/materiais: lareiras antigas, objetos de arte, elementos
decorativos para interiores e exteriores arquitetónicos, pisos de pedra antigo, piso de madeira
recuperada. Os showrooms que possuem têm 600m2 de exposição, acrescendo ainda vários
hectares no exterior com antiguidades de jardim, pavimentos de pedra, vigas de carvalho, etc,
e, claro, os dois estaleiros onde se tratam todas estas peças.
B. Insitu Manchester
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Foi fundada em 1984. O foco principal tem sido sempre o resgate arquitetónico de
peças de design clássico. Foi nomeada a melhor loja de objetos em segunda mão em
Manchester pela Creative Tourist, por ser um negócio de recuperação diferente. Especialista
em pisos de madeira recuperada, portas, radiadores de ferro fundido, vitrais, qualquer coisa
que pode ser salvo de locais de demolição.
C. Retrouvius
A Retrouvius recupera bons materiais e peças bem realizadas; por terem um valor
intrínseco para que sejam corretamente armazenados e inteligentemente reutilizados. No
Retrouvius o stock de produtos está em constante alteração - determinada pela moda, gostos,
desejos, espaço disponível em armazém, e mais do que tudo um pouco de sorte.
Ao longo dos anos Retrouvius tem sido envolvido em variados projetos de habitação e
comerciais. Alguns necessitaram da intervenção de um arquiteto outros foram puramente
decorativos em edifcios do século XV até hoje.
D. Ohmega Salvage
Ohmega Salvage nasceu em 1974. Edifica a comunidade através do comércio com um
modelo de reutilização, reciclagem e troca social. Preservam itens antigos de qualidade
criando recursos para os seus clientes.
F. The Away Station
A missão da “The Away Statio” servir a comunidade e o planeta de forma produtiva e
criativa através da recolha, armazenamento e redistribuição dos subprodutos de consumo. Isto
é feito fornecendo uma forma para que as pessoas facilmente se possam livrar de itens
indesejados, sabendo que esses itens vão para ter um bom uso e não vão para aterro.
Dispõe dos seguintes serviços: organização profissional e doméstica; remoção de
mercadorias de casas, escritórios e locais de construção; consultores para a desconstrução e
construção verde; recolha de itens em empresas, organizações e indivíduos para redistribuí-
los para organizações e indivíduos que estão em necessidade; equipas de desconstrução
qualificadas e compras pela Internet de itens que estão em sites de construção.
Os nossos clientes são a comunidade em geral, servimos todo o tipo de pessoas e
necessidades. As compras por parte dos clientes ajudam a manter o movimento de stock e
permitem a reutilização na Califórnia do Norte.
20
9.3. Casos de estudo 3: Organizações sem fins lucrativos de aquisição e troca de materiais
usados
A B C D E F G
País EUA EUA EUA --- EUA Portugal Portugal
Cidade Boston Baltimore,Estado de Maryland
Phoenix, em Arizona
Glendale, em Arizona
--- Nova Iorque Lisboa Porto
População 5,8 milhões
habitantes
620 961
habitantes
1,445,632 hab
226 721 hab
--- Região Metropolitana: 19,7 milhões habitantes
547 733 hab
237 591 hab
Densidade
Populacional
4 938,99
hab/km²
1 415,25
residências/km²
1,080.2/km2
1 459,4
hab/km²
--- 5 474,59
hab./km²
5 736,14
hab./km²
Área 232,17 km² 238,41 km² 1,338.26 km2
155,74 km²
--- Região Metropolitana: 8,7 mil km²
100,05 km² 41,42 km²
A. BBR Boston Building Resources
Foi fundado em 1978. O Centro de Reutilização em Boston é uma organização sem fins
lucrativos de caridade que aceita doações de materiais novos e usados para revenda. Abriu as
suas portas em 1993 e era conhecido até recentemente como o Centro de Recursos de
Materiais de Construção.
Os parceiros e fornecedores são o público em geral e os profissionais da construção. A
relação estabelecida entre os fornecedores funciona através de doação, quem desmonta é a
pessoa que vai doar o material e quem transporta é a empresa que o recebe.
Os voluntários são uma parte importante da organização: ensinando em oficinas,
servindo no conselho de administração, ajudando com eventos de divulgação, trabalho de
escritório e muito mais.
Oferece, materiais acessíveis, novos e usados, para manutenção da habitação e
requalificações. Mas além da simples compra de produtos, os clientes podem encontrar
aconselhamento especializado, assistência técnica e workshops práticos que ensinam técnicas
de requalificação da casa.
Em 2013 serviram 1.388 proprietários e clientes sem fins lucrativos, totalizaram quase
440 mil dólares em vendas de materiais, 1.560 doadores, evitaram o desperdício para aterro
em materiais recolhidos no valor de 1.658.705 dólares, melhoraram 36 casas e realizaram
diversos workshops.
21
Recentemente concluíram um projeto de consultoria com Parceiros de Ação
Comunitária, composta por alunos voluntários da Escola de Negócios de Harvard e Kennedy
School, resultando em pareceres e recomendações sobre como melhorar a nossa organização.
As fontes de receita respeitantes à venda de materiais apresentam caraterísticas
peculiares. O Centro de Reutilização tem descontos automáticos, quanto mais tempo um
produto está na prateleira, maior é o desconto (3 semanas diminui em 10%, 4 semanas 20%, 5
semanas 30%, 6 semanas 40%, 7 semanas ou mais 50%).
Outra fonte de receita são os nossos membros, não é preciso ser um membro para
fazer compras em BBR, mas os membros têm descontos e outros benefcios. Existem dois
níveis de associação: Standard e Plus.
Os restantes métodos para obtenção de dinheiro são donativos (de materiais,
financeiros e tempo) e workshops.
B. The Loading Dock
Organização sem fins lucrativos com a missão de melhorar as condições de vida das
famílias, bairros e comunidades, enquanto produz um impacto positivo no meio ambiente,
pelo meio da redistribuição de materiais de construção excedentes
Desde 1984, poupou 32 milhões de dólares a clientes, realizou mais de 250 oficinas de
bricolage e desviou 12 mil camiões de materiais destinados a aterros.
Possui dois prémios de prestgio nacional: Presidential Award for Sustainable
Development & the United Nations Habitat II "Building Communities of Opportunity" National
Excellence Award.
Inspirou programas semelhantes noutras cidades do país e tem escalado pedidos de
informação, prestou assistência técnica a mais de 300 cidades, algumas tão distantes como
Tijuana, no México, St. Johns e St. Croix no Caribe, cinco países da costa ocidental da África,
Hungria e Alemanha.
Em resposta a centenas de pedidos em todo o país para a assistência técnica no
arranque dos programas similares, TLD produziu um manual de como fazer, métodos, práticas
e técnicas estabelecidas na gestão de um programa de reutilização. TLD também possui
passeios educativos para os interessados em iniciar ou expandir instalações de reutilização.
As atividades chave desta organização prendem-se com a desconstrução,
armazenagem, limpeza e tratamento de materiais/produtos, workshops e venda de materiais
de construção usados, bicicletas, livros, materiais perigosos, recheio de casas, etc.22
Os parceiros são os mais de 400 fabricantes, distribuidores e prestadores de serviços
na região do Médio Atlântico. E os fornecedores são empreiteiros, distribuidores, fabricantes e
proprietários individuais.
É autossuficiente através das taxas de adesão dos membros. As taxas são
normalmente 25-30% da venda a retalho, e refletem os custos de trabalho de seguro,
transporte, processamento e armazenamento de materiais. Outros recursos correspondem à
implementação de novos serviços para os clientes e doadores, incluindo Workshops “faça você
mesmo”, o Programa de Coleta de aterro e recolha da Comunidade Dias. Os recursos
imprescindíveis do projeto são as doações de materiais e os membros. Possuem armazém
próprio com 45.000 metros quadrados e um camião. O voluntariado é fundamental, trabalham
à noite no armazém, em grupo ou individualmente, como formadores, recrutando doações ou
espalhando a palavra.
Os membros incluem organizações de habitação, centros comunitários, grupos de
reabilitação de bairros, entidades sem fins lucrativos, teatros, grupos de idosos, centros de dia,
pessoas e famílias de renda modesta, proprietários, empreiteiros, artistas e entusiastas de
reabilitação histórica/patrimonial.
TLD poupa à habitação de rendas baixas e projetos comunitários mais de 3 milhões de
dólares e resgata mais de 12 mil camiões de materiais de construção de aterros sanitários a
cada ano.
C. Stardust BuildingSupllies
A organização incentiva práticas ambientalmente sustentáveis, oferecendo
desconstrução livre, uma alternativa verde para demolição convencional e serviços de recolha
de doação para evitar o desperdício de materiais de construção utilizáveis.
As atividades chave da organização são a desconstrução e os serviços de recolha e de
doação de materiais de construção utilizáveis.
Os rendimentos gerados a partir das lojas ajudam a apoiar os programas de missão e
da comunidade que fornecem materiais essenciais para organizações sem fins lucrativos locais
que atendem famílias e indivíduos em necessidade.
Os materiais de construção usados, eletrodomésticos e móveis custam de 50% a 80%
abaixo do custo de venda a retalho.
Os Serviços e programas da Stardust são possíveis, em parte, graças ao apoio dos
nossos doadores financeiros e materiais. Estamos verdadeiramente gratos ao grupo
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diversificado de indivíduos, empresas e fundações que doam. As doações podem ser de
materiais, dinheiro e tempo. E os voluntários podem desempenhar as seguintes tarefas:
organizador da loja/armazém, mentes criativas para reutilização dos materiais, equipa para
reciclar, assistente de doações, presentes na espécie de assistente.
Criaram um evento designado “Design For Hope”. Design para a esperança é um
evento divertido onde designers de interiores locais são desafiados a criar uma cozinha usando
materiais reciclados e reutilizados nas suas lojas! Em abril passado, um designer inglês ganhou
o segundo projeto anual para a competição Hope. O seu projeto de reutilização será instalado
neste verão numa casa do grupo VALLEYLIFE para adultos com deficiências de
desenvolvimento. Dando a volta pelo meio da reutilização! O evento também inclui um leilão
silencioso com decoração reaproveitada e arte com reutilização de materiais de artesãos e
artistas talentosos!
D. BMRA – Building Materials Reuse Association
É uma Associação de reutilização de materiais de construção. Dispõe de um diretório
de empresas de desconstrução e de reutilização. Lecionam cursos de desconstrução
(descrevem os diferentes tipos de modelos de negócio que são utilizados na desconstrução:
Organizações sem fins lucrativos, com fins lucrativos, equipas de voluntários, construtores,
etc.) e atribuem o certificado de desconstrutores.
O BMRA é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover a recuperação,
reutilização e reciclagem de materiais de construção, de forma a, reduzir o consumo de novos
recursos, reduzir os resíduos, criar um mercado de valor agregado e aumentar a relação custo-
eficácia , expandir oportunidades de trabalho e desenvolvimento de competências da força de
trabalho, promover a sustentabilidade das comunidades e do meio ambiente através da
preservação dos recursos.
E. Waste Match
É um serviço gratuito, criado e financiado pelo Departamento de Saneamento da
Cidade de Nova Iorque, que facilita a troca de bens e equipamentos utilizados e excedentes
das organizações que já não precisam deles para outras entidades que necessitam desses
produtos.
As suas atividades passam pela troca de materiais online, serviço gratuito. Quando
possível, usam os seus contactos e experiência para contactar utilizadores e arranjar materiais
com colegas que precisam ou têm materiais. O WasteMatch não compra, vende, armazena
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materiais, ou transporta. Presta assistência técnica, realizando uma avaliação inicial do site de
um cliente, na tentativa de reduzir custos de compra, encontrando fontes de equipamentos
usados e bens em excesso e/ou procurando compradores para os equipamentos indesejados
dos clientes.
NYC WasteMatch realiza pesquisa informal para identificar oportunidades de
reutilização e reciclagem de materiais que são difceis de aplicar. Os seus parceiros são o
Centro de reutilização de materiais da cidade de Nova Iorque, um programa do The City
College de Nova Iorque e o Departamento de Saneamento para a Prevenção de Resíduos,
Reutilização e Reciclagem da cidade de Nova Iorque.
F. Ofícios do património e da reabilitação urbana (OPRURB)
Esta associação foi fundada a par de outras pessoas pelo Arquiteto Filipe Mário Lopes,
entretanto contactado por nós para nos contar a sua experiência. Aquando do seu cargo de
diretor municipal da reabilitação urbana da CM de Lisboa exercido entre 1990 a 2000 e tendo
reabilitado cerca de 8000 fogos nos bairros antigos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto,
Madragoa e núcleos periféricos, fundou esta associação sem fins lucrativos. Esta atividade
desenvolveu os conhecimentos sobre técnicas e materiais das construções antigas. O
Arquiteto referiu que os materiais eram logo reutilizados e por isso não houve oportunidade
de fazer depósitos de sobras. Referiu também que tem todo o gosto em partilhar a experiência
acumulada com esta atividade apenas a partir de Novembro.
A Associação tem por fim promover a preservação do Património e a Reabilitação
Urbana, investigando sobre o Património e estabelecendo estratégias de Reabilitação Urbana,
sensibilizando Público e Intervenientes, formando estes últimos, promovendo ações de
salvaguarda de património e de bairros antigos.
G. Banco de Materiais da Câmara Municipal do Porto
O Banco de Materiais surgiu da necessidade de se guardarem materiais construtivos e
decorativos com valor patrimonial, como elementos cerâmicos (azulejos, telhas), estuques,
ferros, cantarias lavradas, etc., procedentes de edifcios a alterar ou a demolir. Assim se foram
acumulando materiais de forma repetitiva, sobretudo azulejos, o que determinou que, em
1992, o executivo municipal aprovasse uma proposta de cedência gratuita desses materiais,
aos munícipes que deles necessitem na reabilitação de edifcios.
Este serviço municipal é gratuito e encontra-se disponível a todos os cidadãos no
intuito mútuo da valorização do património da cidade, tem o objetivo de salvaguardar,
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valorizar e dar a conhecer os materiais caracterizadores da arquitetura portuense. Desta
forma, a autarquia promove a manutenção da imagem urbana do Porto, onde estes materiais
diferenciam o património edificado.
Além dos elementos de cedência, o Banco de Materiais possui ainda um acervo
museológico considerável, onde se salientam os azulejos (cerca de 17 mil) que vão desde os
motivos hispano-árabes (século XV/XVI), aos padrões dos séculos XVII e seguintes. Contudo, é
o azulejo dito de “fachada” que constitui o maior e mais variado conjunto de exemplares de
fabrico nacional, sobretudo das fábricas do Porto e Gaia (Carvalhinho, Devesas e Massarelos).
Dos restantes materiais que incorporam e enriquecem o Banco de Materiais,
destacam-se ainda as telhas decorativas (242), as placas toponímicas (345) e os ornatos em
estuque (1119), estes últimos recolhidos da oficina Ramos Meira, uma das mais prestigiadas e
última do ramo a extinguir no Porto.
No intuito de divulgar e sensibilizar para a preservação do azulejo, o Banco de
Materiais tem vindo a realizar atividades educativas, tais como visitas guiadas, circuitos pela
cidade, oficinas pedagógicas com escolas, workshops temáticos (limpeza de argamassas), etc.
9.4. Casos de estudo 4: Centros de desconstrução e de formação
A
País EUA
Cidade Detroit
População 50 428 residências ocupadas
Área 370,03 km²
A. Reclaim Detroit
Centro de desconstrução e de formação de desconstrutores.
O foco principal do centro é desviar o máximo de material proveniente de 78.000
construções vazias de Detroit que têm como destino os aterros através da desconstrução.
Atualmente os materiais são armazenados no centro de treinos disponibilizando a madeira
recuperada para venda.
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10. Bibliografia
MARTINHO, Maria da Graça. 2013. Relatório Final: Estudo para a Conceção Sustentável de
Modelo de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição, na Região Norte
Interior – 1ª fase, CCDRN e FCT – Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica.
PINTO, Vânia Filipa dos Santos. 2013. Gestão de Resíduos de Construção e Demolição – Parque
Tecnológico de Negócios e de Ourivesaria de Gondomar. Tese de Mestrado em Ciências
e Tecnologia do Ambiente – Especialização em Tecnologias de Remediação Ambiental,
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Porto.
SILVA, Alexandre Salreta Duarte. 2011. Arquitectura Ecológica – Materiais Não-Convencionais
– A Reutlização dos Materiais na Arquitectura. Tese de Mestrado em Arquitectura de
Interiores pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
TEIXIEIRA, Carina Catarino. 2013. Gestão de Resíduos de Construção e Demolição em Obras de
Edificação. Dissertação apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para
obtenção do Grau de Mestre em Tecnologia Ambiental, Bragança.
TEODORO, Nuno Filipe Godinho. 2011. Contribuição para a Sustentabilidade na Construção
Civil: Reciclagem e Reutlização de Materiais. Tese de Mestrado em Engenharia Civil
pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
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