JHONATHA CORREIA VILELA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE DE CUIABÁ, MATO GROSSO, BRASIL
LUCIANE CLEONICE DURANTE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
IVAN JÚLIO APOLÔNIO CALLEJAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
ADRIANA ELÓA BENTO AMORIM
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
KARYNA DE ANDRADE CARVALHO ROSSETI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
SIMONE BERIGO BUTTNER
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
ERIKA CRISTINA TOLEDO LEÃO BORGES
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
EMELI LALESCA APARECIDA DA GUARDA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
899
8
º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,
REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios
Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018
ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE DE CUIABÁ,
MATO GROSSO, BRASIL
J. C. Vilela, L. C. Durante, I. J. A. Callejas, A. E. B. Amorim, K. A. C. Rosseti, S. B.
Büttner, E. C. T. L. Borges, E. L. A. Guarda
RESUMO
O estudo tem por objetivo geral analisar o impacto decorrente da inserção de uma via de
tráfego no ambiente sonoro de área de uso misto composta por residências e instituição
educativa. Os objetivos específicos são: (i) realizar avaliação preditiva do ruído ambiental
em cenário futuro que corresponde ao sistema viário em uso e; (ii) caso constatados níveis
excessivos de ruído ambiental, propor medidas para sua mitigação. Adotou-se a
metodologia de abordagem por cenários, utilizando software especifico para gerar mapas
acústicos. Foram simuladas três situações: a primeira com tráfego de veículos atual, a
segunda com a implementação da nova via e a última com a implementação de barreiras
acústicas com a intenção de reduzir os níveis sonoros decorrentes de tal acréscimo. Os
resultados evidenciaram que houve acréscimo de 8 dB(A) nos níveis sonoros do segundo
cenário e redução de 4 dB(A) no terceiro cenário.
1 INTRODUÇÃO
Com o crescimento da população e do número de veículos nas grandes cidades, surgiu um
novo componente na vida urbana: o ruído (ZANNIN et. al., 2002). Em países emergentes
como Brasil, Índia e China, a população das grandes cidades convive com um grande
problema social e ambiental de poluição sonora (ZANNIN e SANT’ANA, 2011), que se dá
em virtude da precariedade ou mesmo inexistência de medidas públicas para controle e
gestão de emissões sonoras. A própria população afetada tem dificuldade na avaliação
deste poluente, seja por desconhecimento sobre o assunto ou por dizer-se “acostumada ao
barulho” (BUNN, 2013).
Das diversas fontes sonoras causadoras de ruído nas grandes cidades, destaca-se o tráfego
veicular. Ela decorre das características dos veículos em circulação, que apresentam
elevados níveis de emissão sonora, quer seja por falta de manutenção, alterações nos
mescapes e motores ou pelos maus hábitos de direção da população, que por acelerações e
freadas excessivas, contribuem para o aumento da poluição sonora (MACHADO, 2004)
Identificando-se a poluição sonora como responsável por diversos problemas de saúde,
tanto físicos como psicológicos, fazem-se necessários estudos visando reduzir os impactos
causados por ela na população.
Este trabalho trata da temática do ruído ambiental urbano e sua influência em áreas
sensíveis ao ruído, que, segundo a Lei n.º 3819 (CUIABÁ, 1999) é entendida como aquela
que “para atingir seus propósitos, necessita que lhe seja assegurado um silêncio
excepcional”.
A área sensível ao ruído selecionada para o estudo consiste dos limites da área da
Universidade Federal de Mato Grosso, que além de ser um ambiente de ensino, também é
conhecida por apresentar diversos espaços que são usados para atividades de lazer e
esportivas, pela comunidade acadêmica e local, tais como o Bosque próximo à Guarita
Principal, as quadras esportivas e o futuro Centro de Treinamento, ainda em fase de
construção. Nesse contexto, tem-se, também, a área do Zoológico Universitário, que abriga
uma biodiversidade de dinâmica complexa. Tais fatores caracterizam a área selecionada
para o estudo, que engloba parte do bairro Jardim das Américas, parte da UFMT e o
zoológico, como uma área sensível ao ruído.
A abertura da nova via se deu pelas circunstâncias da cidade de Cuiabá, localizada na
região centro-oeste do Brasil, ter sido eleita uma das cidades sede na Copa de 2014,
passando por muitas obras de mobilidade urbana, sendo uma delas, a abertura de uma via
adjacente ao Campus Universitário, a Avenida Parque do Barbado. Em consequência de
sua implantação haverá alteração do ambiente sonoro do local, devido ao acréscimo do
ruído advindo do seu tráfego de veículos. Desta forma, cabe analisar se as intervenções
urbanas, decorrentes da construção dessa nova via de tráfego veicular, provocarão aumento
nos níveis de pressão sonora, afetando a qualidade sonora dos ambientes a céu aberto. Em
caso afirmativo, devem ser estudados os efeitos da intervenção urbana neste ambiente,
buscando uma forma de mitigar os impactos causados nesta área, sensível ao ruído.
Destaca-se que o ruído ambiental não foi abordado sob a ótica dos seus efeitos fisiológicos
aos animais ou à população exposta, mas sim, do ponto de vista do monitoramento do
ruído enquanto integrante do conjunto de variáveis da engenharia de tráfego e do
planejamento urbano, que se constitui de poderosa ferramenta de diagnóstico visando a
melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população.
1.1 Objetivo Geral
Analisar o impacto decorrente da inserção de uma via de tráfego no ambiente sonoro de
área de uso misto composta por residências e instituição educativa.
1.1.1 Objetivos específicos
Os objetivos específicos são: (i) realizar avaliação preditiva do ruído ambiental no cenário
futuro que corresponde ao sistema viário em uso e; (ii) caso constatados níveis excessivos
de ruído ambiental, propor medidas para sua mitigação.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Local de estudo
A área selecionada para o estudo é limítrofe entre a Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) e o bairro Jardim das Américas. A UFMT é considerada como área sensível ao
ruído e é classificada como Zona de Centros Regionais ou Subcentros, de acordo com a Lei
de Uso e Ocupação do Solo de Cuiabá (CUIABA, 2011). Já o bairro Jardim das Américas
é classificada como Zona Predominantemente Residencial (ZPR) (CUIABA, 2011).
A partir do traçado definido para a Avenida Parque do Barbado, a área de estudo foi
delimitada (Figura 1), sendo suficiente para caracterizar o acréscimo nos níveis de pressão
sonora de toda a área devido a intervenção viária implantada. A Figura 2 apresenta a região
antes da implementação da avenida e a Figura 3, o local após o início das obras.
Fig. 1 Localização da área de estudo
Fonte: Adaptado de IPDU (2007) e de Google Earth (2016)
Fig. 2 Detalhe da região estudada antes da
implementação da avenida
Fonte: Google Earth (2016)
Fig. 3 Detalhe da região estudada depois da
implementação da avenida
Fonte: Google Earth (2016)
Dentro das diversas áreas sensíveis ao ruído presentes na cidade, a selecionada se destaca
por sua diversidade de ocupações, com todas necessitando de silêncio. Os limites exigidos
para áreas sensíveis ao ruído são equivalentes à Zona de Silêncio ou os estabelecidos para
as Zonas Residenciais.
Segundo a NBR 10151 (ABNT, 2000), classifica-se como “Área estritamente residencial
urbana ou de hospitais ou de escolas”, e seu nível critério de avaliação corresponde a 50
dB(A) no período diurno. Com relação a Lei n° 3819 (CUIABÁ, 1999), a área é
classificada como residencial (ZR), com limite para o período diurno de 55 dB(A), tendo
sido adotado o primeiro critério, mais rigoroso entre ambas.
2.2. Etapas metodológicas
Adotou-se a metodologia de abordagem por cenários na qual, segundo SERRA (2006), o
objeto de pesquisa se constitui de um cenário atual e suas variáveis e cenários desejáveis
construídos visando o alcance dos objetivos da pesquisa. A abordagem constitui-se de
simulações computacionais do ruído no local de estudo, sendo que o produto da simulação
consiste de mapas acústicos e resultados de níveis de pressão sonora para determinados
receptores. Para realizar a simulação, considerando-se o tráfego de veículos como fonte
sonora, faz-se necessário a medição do mesmo nos dois sentidos da pista, e para a
calibração do modelo de simulação, nos pontos onde foram realizadas as contagens
também foram medidos os níveis sonoros presentes.
2.2.1 Coleta de dados por meio de medições
Devido à disponibilidade de um equipamento para medir os niveis sonoros e a necessidade
de realizar as medições durante o período de transito intenso, das 18 às 19 horas, foram
selecionados quatro pontos para medição dos níveis de pressão sonora e contagem do
número de veículos em circulação. Suas posições foram determinadas de forma a
caracterizar o som gerado pelo tráfego de veículos no entorno do cenário de simulação.
Como o trânsito apresentou continuidade nas pistas selecionadas, a utilização de um ponto
de medição por avenida foi considerada suficiente para a caracterização do som gerado no
entorno do cenário.
Os pontos selecionados foram: Ponto 1, locado na Avenida interna da UFMT, Ponto 2, na
Av. Parque do Barbado, Ponto 3, na Av. Brasília e Ponto 4, na Av. Jornalista Arquimedes
Pereira Lima. As Figuras 4, 5, 6 e 7 apresentam os pontos de medição 1, 2, 3 e 4,
respectivamente, bem como a indicação dos sentidos de tráfego A e B.
As medições foram realizadas com utilização do equipamento Larson Davis, modelo
LxT1, devidamente calibrado, utilizando-se o calibrador do próprio equipamento. O
medidor foi ajustado para registro do nível de pressão sonora equivalente contínuo,
ponderado em A, LAeq, modo de resposta lenta (slow).
Em conformidade com a NBR 10151 (ABNT, 2000), utilizou-se um tripé acoplado ao
medidor de forma que o microfone do mesmo fique com uma altura de 1,20 m a 1,50 m
acima do solo, respeitando também a distância mínima de 2 m entre o microfone e
qualquer superfície refletora, bem como protetor do microfone para vento.
Considerando o tráfego de veículos como sendo a principal fonte de ruído ambiental no
trecho, para esta etapa de coleta de dados, realizou-se um levantamento do fluxo e da
composição do tráfego veicular (número de veículos por tipo: veículos leves
compreendendo carros e motos, veículos pesados compreendendo ônibus e caminhões),
por meio da contagem manual para cada sentido de tráfego. Para o registro da contagem
manual utilizou-se o aplicativo Multi Counter, um aplicativo para a plataforma Android
disponível na Goggle Play Store gratuitamente. As medições, que compreendem a
contagem de tráfego veicular e as medições acústicas necessitam ocorrer nas terças,
quartas e quintas, com exeção de feriados e dias atípicos, de maneira que representem
situações sonoras semelhantes ao dia-a-dia sem grande variabilidade quanto ao fluxo
veícular. Tais medições foram realizadas nos dias 06 de outubro e 08 de novembro de
2016, das 18 às19h, período de maior tráfego veicular no trecho e que, consequentemente,
gerou uma condição de emissão sonora elevada. Em cada um dos quatro pontos, foi
medido o ruído por 10 minutos, considerando 5 min de intervalo para deslocamento de um
ponto a outro. No Ponto 2 foi realizada somente a medição acústica, sem a contagem do
tráfego veicular tendo em vista que a avenida não estava em funcionamento. Os valores
obtidos das medições de ruído e da contagem do tráfego estão apresentados na Tabela 1.
Fig. 4 Ponto de medição 1, UFMT,
estacionamento da FAET
Fig. 5 Ponto de medição 2, Av. Parque
do Barbado
Fig. 6 Ponto de medição 3, Av. Brasília
Fig. 7 Ponto de medição 4, Av. Jornalista
Arquimedes Pereira Lima
Tabela 1 Dados obtidos nas medições
Ponto Local
Medições
Sentido A Sentido B
Leq
dB(A) Veículos
leves/
hora
Veículos
pesados/
hora
Veículos
leves/
hora
Veículos
pesados/
hora
1 UFMT – Estacionamento FAET 278 6 276 8 62,9
2 Av. Parque do Barbado - - - - 53,7
3 Av. Brasília 586 5 632 4 67,2
4 Av. Jorn. Arquimedes Pereira
Lima 876 20 1128 24 70,7
Para a Av. Parque do Barbado foram adotados os valores de tráfego veicular contados para
a Av. Brasília, justificado por ambas as avenidas serem do tipo estrutural.
2.2.2 Simulação computacional
O software de análise e predição acústica adotado foi o SoundPLAN, versão 7.3,
desenvolvido pela empresa alemã Braunstein + Berndt GmbH, voltado para análises
ambientais, que possibilita a geração de mapas sonoros, avaliações de impacto acústico e
comparações entre cenários ambientais (BRAUNSTEIN e BERNDT, 2015).
2.2.2.1 Montagem do Modelo e Simulação
Inicialmente, realizou-se a modelagem da planta baixa do cenário em software de desenho
com plataforma CAD, o AutoCAD, pois a interface de desenho do software de simulação
acústica não apresenta todas as opções e comandos presentes no software de desenho. Em
seguida, na interface do software SoundPLAN foi importado este desenho de forma a obter
a planta baixa do cenário. Com a planta importada, iniciou-se o processo de caracterização
do cenário, onde, por meio de consulta ao Google Earth (2016), foram obtidas as
características topográficas da área e o gabarito das edificações. As características
topográficas foram inseridas, permitindo o cálculo do modelo digital do solo, DGM
(Digital Ground Model), que é um modelo da topografia do terreno observada em campo.
Com DGM criado, todas as edificações receberam suas respectivas alturas e foram
implementados os muros e barreiras presentes na área de estudo. A Figura 8 apresenta o
modelo final, em planta, da área de estudo, com receptores inseridos nos pontos onde
foram realizadas as medições.
Fig. 8 Cenário atual de simulação
Fonte: Interface do Software SOUNDPLAN
Foram atribuídas linhas de emissão de tráfego veicular correspondentes a Av. interna da
UFMT, a Av. Brasília e a Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima, com seus respectivos
volumes de tráfego e velocidade média dos veículos em km/h, que segundo Vianna (2014),
pode ser baseada na velocidade máxima permitida nas vias.
GINÁSIO
Com o cenário modelado, realizou-se a simulação dos mapas acústicos, na qual o software
calculou os níveis de pressão sonora em cada ponto do cenário, resultando em mapas que
apresentam faixas com mesmo intervalo de níveis sonoros, de forma a permitir o
entendimento da propagação do som no cenário atual após a sua emissão.
2.2.2.2 Validação do modelo
De acordo com Pinto, Guedes e Leite (2004) após a simulação é necessário realizar uma
validação do modelo confrontando valores simulados com valores medidos, com a
simulação sendo aceita caso a diferença entre os valores simulados e medidos não
ultrapasse ±2 dB(A). Já Garavelli et al. (2013) admitiu para validação dos mapas acústicos,
o erro máximo de ±3 dB(A). A validação ocorre através da adição de receptores no cenário
modelado, nos pontos onde foram efetuadas as medições serão simulados os valores de Leq,
que serão comparados com os valores medidos, para determinar se o modelo pode ser
utilizado para a simulação do funcionamento da avenida implementada. A Tabela 2
apresenta os valores de Leq calculados por meio do software e os medidos in loco, para
cada um dos pontos.
Tabela 2 Valores para a validação do modelo
PONTO Leq medido [dB(A)] Leq calculado [dB(A)] Diferença [dB(A)]
1 62,9 60,1 2,8
2 53,7 49 4,7
3 67,2 66,7 0,5
4 70,7 70,2 0,5
Analisando a diferença entre as medições e a simulação, percebe-se que apenas o ponto 2
não se enquadrou no limite de ±3 dB(A) estabelecido por Garavelli et al. (2013),
justificado pela sua localização, distante de pistas ou ruas. Como o software SoundPlan
simula somente as fontes de ruído de tráfego, não considera outras fontes de ruído
ambiental existentes no local, tais como conversas, animais, equipamentos e, por isso, os
valores simulados ficaram 4,7 dB(A) abaixo dos medidos. Diante dessa constatação, a
exigência de calibração no ponto de medição 02 não foi requerida.
Os pontos 3 e 4 apresentaram uma diferença de ±0,5 dB(A), se enquadrando no limite de
±3 dB(A) e no de ±2 dB(A) indicado por Pinto, Guedes e Leite (2004). Tais resultados
indicam a relação entre os valores medidos e simulados de forma que a simulação pode ser
utilizada para previsão dos níveis de pressão sonora presentes.
2.2.2.3 Implementação da Avenida Parque do Barbado e das barreiras acústicas
Calibrado o modelo, implementou-se a Av. Parque do Barbado ao cenário. A Figura 09
apresenta o cenário de simulação com a implementação da Avenida Parque do Barbado, a
partir do qual foram simulados os mapas acústicos da nova situação de tráfego veicular.
Após a análise dos mapas acústicos gerados, foi proposta a implementação de barreiras
acústicas em pontos estratégicos do cenário, de forma a mitigar as emissões sonoras
causadas devido ao tráfego de veículos. A Figura 10 apresenta o cenário de simulação com
as barreiras propostas.
As posições das barreiras foram definidas para proporcionar as maiores reduções nas
emissões sonoras para o interior da área residencial e estudantil. Possuem altura de 3 m,
coeficiente de absorção de 0,206 e coeficiente de reflexão de 0,794, sem definição
específica do material construtivo e espessura, sendo estas características necessárias
apenas no momento de seus projetos.
Desta forma, foi inserida uma barreira acústica no limite da Avenida Jornalista
Arquimedes Pereira Lima que se estendeu após o fim do perímetro do zoológico
amortecendo as emissões acústicas vindas de ambos os sentidos de tráfego da UFMT e nas
residências vizinhas à nova avenida. A outra barreira foi inserida na curva da nova via,
como forma de proteção das residências do bairro.
Fig. 9 Cenário de simulação com a
Avenida Parque do Barbado
Fonte: Interface do Aplicativo
SOUNDPLAN
Fig. 10 Cenário de simulação com
as barreiras acústicas propostas
Fonte: Interface do Aplicativo
SOUNDPLAN
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com o nível critério da NBR 10151 (ABNT, 2000), os níveis de pressão sonora
devem se menores ou iguais a 50 dB(A), sendo que, no cenário atual, os níveis de pressão
sonora medidos foram superiores ao permitido em todos os pontos, com exceção do Ponto
2, o que já demonstra poluição sonora devido ao tráfego veicular da região antes da
implementação da Av. Parque do Barbado. A Tabela 3 apresenta os valores de Leq
calculados por meio da simulação computacional, nos receptores correspondentes aos
quatro pontos de medição, para as três situações de tráfego.
Tabela 3 Valores de Leq simulados nos receptores para as três situações de tráfego
Ponto
Leq calculado (dB(A))
Cenário
atual
Cenário com a Av. Parque do
Barbado
Cenário com a Av. Parque do Barbado e
barreiras acústicas
1 60,1 60,2 60,1
2 49 66,9 67,4
3 66,7 68,2 68,2
4 70,2 70,2 58,3
GINÁSIO GINÁSIO
BARREIRAS
PROPOSTAS ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO
Conforme mostra a Tabela 3, a implementação da Av. Parque do Barbado causou
acréscimo dos níveis sonoros nos receptores 1, 2 e 3, em relação ao cenário atual, sendo o
acréscimo de maior intensidade nos Pontos 2 e 3, devido à proximidade dos mesmos à
referida avenida. No Ponto 2, o acréscimo de 17,9 dB(A) deve-se ao fato de que no local
não havia fontes sonoras e, com a implementação da avenida, ocorreu acréscimo
significativo, devido ao tráfego de veículos.
Após a implementação das barreiras acústicas, no Ponto 1 os níveis de pressão sonora
igualaram-se à situação atual de tráfego veicular. No Ponto 2, o som gerado na Av. Parque
do Barbado sofreu reflexão na barreira implementada e causou acréscimo de 0,5 dB(A) em
relação ao cenário sem as barreiras acústicas. O Ponto 3 não sofreu alteração nos níveis
sonoros por se encontrar próximo das avenidas Brasília e Parque do Barbado, mas distante
da barreira, não sofrendo influência da mesma. A implementação da barreira acústica ao
longo da Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima mostrou redução de 11,9 dB(A) no
Ponto 4, reforçando a utilização das barreiras acústicas como mecanismo para mitigação
do ruído gerado pelo tráfego veicular.
Em termos de percepção sonora, de acordo com a Tabela 3, os níveis de pressão sonora no
cenário atual, como já excedem o nível critério, causariam média resposta da comunidade
com queixas generalizadas acerca do incômodo para o Ponto 1. Para o Ponto 2 nenhuma
resposta da comunidade é esperada. No Ponto 3, resposta enérgica da comunidade com
ação comunitária é esperada e, no Ponto 4, espera-se resposta muito enérgica da
comunidade com ação comunitária vigorosa.
Com a implementação da Av. Parque do Barbado, a resposta esperada da comunidade em
relação ao incômodo causado pelo ruído permanece a mesma do Cenário atual para todos
pontos, com exceção do Ponto 2, no qual se espera uma resposta enérgica com ação
comunitária. Considerando-se o Cenário com barreiras, a resposta esperada da comunidade
em relação ao incômodo causado pelo ruído permanece a mesma para todos pontos, com
exceção do Ponto 4, no qual se espera uma resposta media com queixas generalizadas. O
mapa acústico gerado de acordo com o tráfego veicular no cenário atual é apresentado na
Figura 11, a Figura 12 apresenta o mapa calculado para o cenário com o tráfego da
Avenida Parque do Barbado.
Comparando os mapas das Figuras 12 e 11, percebe-se que o local onde agora existe a Av.
Parque do Barbado, antes de sua implementação apresentava níveis de pressão sonora
variando de 44-48 dB(A), sendo que após a implementação da mesma os níveis foram
elevados em toda a área da UFMT, sendo sua influência percebida até no zoológico, onde a
área correspondente a 52-56 dB(A) sofreu acréscimo atingindo uma maior área do
zoológico.
Analisando a área composta por residências habitacionais, percebe-se a existência de uma
quadra residencial lateral à Avenida Parque do Barbado, tal quadra teve influência na
redução dos níveis de pressão sonora no interior do conjunto, assumindo papel de barreira acústica, sendo impactada diretamente devido ao som vindo da avenida. Contudo este
impacto auxilia na redução dos níveis de pressão sonora internos ao bairro.
Fig. 11 Mapa acústico do tráfego medido
Fonte: Interface do Software
SOUNDPLAN
Fig. 12 Mapa acústico com Avenida
Parque do Barbado
Fonte: Interface do Software
SOUNDPLAN
Com o intuito de minimizar os níveis sonoros no mapa, foram implementadas barreiras nos
limites das Avenidas Jornalista Arquimedes Pereira Lima e Parque do Barbado. O mapa
acústico resultante está apresentado na Figura 13.
Fig. 13 Mapa acústico após implementação das barreiras
Fonte: Interface do Software SOUNDPLAN
Comparando os mapas das Figuras 12 e 13, percebe-se que as barreiras acústicas
implementadas surtiram impacto positivo, reduzindo os níveis sonoros no Zoológico em
sua parte próxima à avenida Jornalista Arquimedes Pereira Lima de 56-60 dB(A) para 52-
56 dB(A) e em sua parte mais afastada da avenida de 68-72 dB(A) para 56-60 dB(A).
Percebe-se tal influência também, em outras áreas do mapa, como na região entre o ginásio
da UFMT e as residências, onde os níveis acústicos se enquadravam em 44-48 dB(A) na
situação atual, com a implementação da nova via estes valores subiram para 52-56 e 56-60
dB(A) e com a instalação das barreiras acústicas, ocorreu uma redução para valores entre
48-52 e 52-56 dB(A).
GINÁSIO ACEITÁVEL:
≤50dB(A)
ACIMA DOS LIMITES
NORMATIVOS
ACEITÁVEL:
≤50dB(A)
ACIMA DOS LIMITES
NORMATIVOS
GINÁSIO
GINÁSIO
BARREIRAS
PROPOSTAS
ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO
ZOOLÓGICO
5 CONCLUSÃO
Este trabalho teve por objetivo analisar o impacto decorrente da inserção da Av. Parque do
Barbado no ambiente sonoro de área selecionada pelo estudo, composta por residências e
instituição educativa, utilizando-se simulação computacional em três cenários: (i) atual, (ii)
com a Av. Parque do Barbado implementada e (iii) com a inserção de barreiras acústicas
nos limites das avenidas Parque do Barbado e Jornalista Arquimedes Pereira Lima.
Com o auxílio dos mapas acústicos gerados pelas simulações foi possível constatar que os
níveis sonoros na região de estudo, em sua grande maioria, sofreram influência da inserção
da Avenida Parque do Barbado, com aumento dos níveis de pressão sonora equivalente,
que já se encontravam acima dos limites normativos permitidos. Como exemplo deste
aumento, cita-se a área entre o ginásio e as residências, onde ocorreu acréscimo de 8 dB(A)
nos níveis de pressão sonora após a implementação da via, causando expectativa de pouca
resposta da comunidade, com reclamações esporádicas com relação ao incômodo causado
pelo ruído.
Esta influência foi menor nas áreas lindeiras à Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima
devido ao intenso tráfego de veículos que por ela circula. Apesar da situação atual já
resultar em áreas com exposição sonora maiores que o permitido por lei, a composição das
barreiras acústicas nos limites desta via garantiu que o interior do bairro Jardim das
Américas se enquadrasse nos limites permitidos de emissão sonora, mesmo após a
implementação da nova avenida.
Considerando o potencial das barreiras acústicas como forma de reduzir os níveis sonoros
decorrentes da nova avenida, os resultados foram favoráveis, permitindo afirmar que sua
adoção se constitui em uma forma de diminuir a exposição da população ao ruído. Tal
afirmação pode ser exemplificada tanto para a área residencial que se encontra próxima a
Av. Parque do Barbado quanto para a área correspondente ao Zoológico da UFMT. Sendo
na área residencial a redução devido a implementação das barreiras na ordem de 4 dB(A), e
na área correspondente ao zoológico na ordem de 12 dB(A), onde a resposta da
comunidade ao incômodo causado pelo ruído reduziu de respostas muito enérgicas com
ações comunitárias vigorosas para uma resposta média, com queixas generalizadas.
Recomenda-se como trabalhos futuros, analisar o limite de tráfego veicular presente nas
vias do cenário, para enquadramento dos níveis de pressão sonora permitidos,
considerando a maior contribuição acústica vinda dos veículos pesados tipo ônibus e
caminhões.
6 REFERÊNCIAS
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nível do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Associação
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Curitiba. Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e
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