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103Novembro2015

fazENDO

HÁ UM MUNDO LÁ FORA À TUA ESPERA... SE NÃO CHOVER

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fazENDO Num. 103 | Novembro 2015 o boletim do que por cá se faz

DirectoresAurora Ribeiro

Tomás Melo

ColaboradoresPaulo Vilela Raimundo | Fernando Nunes

Miguel Machete | Gina Ávila Macedo Sara Soares | Carolina Furtado

Micael Almeida | Ana Lúcia Almeida Paulo Novo | Ana Rodrigo

Marina Ladrero | João Venceslau José Andrade Melo | Teresa Cerqueira

RevisãoSara Soares

PaginaçãoRaquel Vila | Góel Dominguez

Projecto GráficoRaquel Vila

PROPRIEDADE Assoc Cultural Fazendo

SEDE Rua Conselheiro Medeiros nº 19

9900 Horta

PERIODICIDADE mensal

TIRAGEM 500 exemplares

IMPRESSÃO o telégrapho

Aceitamos colaborações sob a forma de DOAÇÕES | ASSINATURAS | CONTEÚDOS eVOLUNTARIADO

DOAÇÕES | O Fazendo quer continuar a ser gra-tuito e é um projecto que funciona à base de volun-tariado, mas temos grandes despesas de impressão, distribuição e manutenção. Recebemos doações na nossa conta da CGD: NIB: 0035 0366 000 287 299 3016

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e juntamente com o comprovativo enviar o endereço postal onde se quer receber o jornal para [email protected]

Marrameu torra castanyesA la voreta del focJa n’hi peta una als morrosJa tenim Marrameu mort.

Pica ben fort, pica ben fortQue piques fusta, pica ben fort.

Marrameu i MarrameuaS’emboliquen en un llençolFeien veure que era un homeI era una fulla de col.

Pica ben fort, pica ben fortQue piques fusta, pica ben fort.

Marrameu ja no s’enfilaPer terrats ni per balconsQue té una gateta a casaQue li cus tots els mitjons.

Pica ben fort, pica ben fortQue piques fusta, pica ben fort.

CAPARaquel Vila

www.fazendo.pt

ASSINATURAS Se assinares o fazendo ele chegará sempre a tua casa

Marrameu torra castanhaslá pertinho do fogoJá lhe estala uma no focinhoJá temos Marrameu morto.

Bate bem forte, bate bem forteEstala a Madeira, bate bem forte.

Marrameu e Marrameuaenrolam-se num lençolpensavam que ele era um homemmas era uma folha de couve.

Bate bem forte, bate bem forteEstala a Madeira, bate bem forte.

Marrameu já nao se enfiaNem por telhados nem por varandasQue ele tem uma gatinha em casaQue lhe cose todas as meias.

Bate bem forte, bate bem forteEstala a Madeira, bate bem forte.

Esta publicação tem o apoio da:

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CAPA

ASSINATURAS Se assinares o fazendo ele chegará sempre a tua casa

EDITORIAL

Ilu

stra

ção

Raq

uel

Vila

Como é que estamos? Bem?Controlo tudo o que sou, tudo o que faço, tudo o que quero. Olho para dentro, estou bem assim?Olho para fora, nós como grupo, estamos bem? Esta comunidade, está a seguir o rumo que quer? Esta ci-dade, esta ilha e este arquipélago navegam para bom porto? O País e a Europa ainda conseguem voar? O nosso mundo, o nosso universo... lá fora, o nosso universo cá dentro sempre a mudar. Inspira, expira.

O que devemos mudar? Tudo? Mudamos sempre tudo! O que, por mero acaso, fica igual... fica mes-mo bem assim!

Vamos lá começar de novo! Aqui e agora!

Mais um ano, mais uma reinvenção completa do Fa-zendo.Não fomos a eleições, não foi preciso, antes abrimos as portas, e quem quis entrar entrou! E o último fecha a porta? Não, aqui não, podem sempre entrar mais. No Fazendo há espaço para todos, todos os que fazem, todos os que querem fazer. Novo de-sign: Raquel Vila Arisa. Novo paginador: Goel Do-minguez. Novas rubricas: ora gráficas ora escritas, literárias e musicais, enamoradas umas, animadas outras. Não temos medo da mudança!

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,Muda-se o ser, muda-se a confiança;Todo o mundo é composto de mu-dança,Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,Diferentes em tudo da esperança;Do mal ficam as mágoas na lem-brança,E do bem, se algum houve, as sau-dades.

E, afora este mudar-se cada dia,Outra mudança faz de mor espanto:Que não se muda já como soía.”

Luís de Camões

TOMÁS MELO

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A GALÁXIA DE

Exposição between cosmos

and matter-substance

Cláudia Furtado

Se ainda não estiveste na exposição da Biblioteca Pública da Horta, tens aqui a oportunidade de ver o trabalho da jovem artista faialense Cláudia Furtado até ao dia 5 de Dezembro. Uma selecção multidisciplinar de obras que contempla desenhos a carvão, a pastel, fotografias, livros de artista, esculturas e vídeos.

Ver o trabalho da Cláudia é como dar um passeio pela criação do universo, um estudo da matéria em processo evolutivo constante. As suas peças fotográficas remetem- -nos inevitavelmente para o cosmos, planetas flutuando na escuridão infinita que tentam apanhar o espectador entre texturas, jogos de luz e cores.

Os trabalhos a pastel mostram a busca e o processo, o estudo da forma, a substância e a matéria, o pré-nascimento de cada planeta materializado escultoricamente. Em sequência, alinhados, estes grupos de desenhos definem o espectro de possibilidades do cosmos de Furtado. Por outro lado o conjunto de obras a carvão, que muita atenção captaram durante a inauguração, oferecem uma perspectiva abstracta, um pouco mais à parte do “conjunto cosmos” mas com uma riqueza de texturas que podem dar asas à tua imaginação como quando procuras formas e histórias nas nuvens.

Finalmente o espaço dedicado aos livros de artista acolhe uma

GÓEL DOMINGUEZ

selecção de mini obras “catálogo” que expõem um resumo do processo de criação do conjunto expositivo que se destaca materialmente junto à instalação do centro da sala, uma ampla superfície em que se destacam as peças escultóricas que reafirmam todo o conjunto da exposição.

A artista oferece-nos um desafio ao nosso sentido óptico, às sensações que provoca e à beleza. Um trabalho acertadamente e meticulosamente organizado, que afirma Cláudia Furtado como uma criadora local que aposta no seu estilo próprio, a sua arte contemporânea. Uma mostra que não podes perder. Este é um pedaço da cultura viva que nos rodeia e que devemos alimentar.

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Cláudia Furtado Espelhos Naturais

António Garcia Guerreiro apresenta um conjunto de fotografias à volta do arquipélago açoriano intitulado “Espelhos Naturais”. O visitante desta curiosa exposição, patente num pequeno com-partimento da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada até Janeiro do próximo ano, poderá ser surpreendido com fotografias facilmente reconhecíveis -são fotografias realizadas em quase todas as ilhas açorianas - mas expostas de forma singular e estimulante aos nossos olhos, exigindo tempo e compreensão à nossa experiência sensorial.

As fotografias de “Espelhos Naturais” revelam assim um fotó-grafo sensível, fascinado pelos cambiantes da paisagem e entu-siasmado pela policromia da natureza das ilhas atlânticas. Neste jogo implícito de luz e contrastes, já que são fotografias que usam e abusam do reflexo da água, o jovem fotógrafo – sim, esta é a sua primeira exposição!!! – apresenta imagens de cima para baixo, fazendo-as rodar os 180 graus, tendo por objectivo propor

e revelar novos detalhes ou outros efeitos pretendidos, abar-cando desta feita as dicotomias: real/irreal, céu/terra, vida/sonho. Relembrando ainda um literato argentino, Alberto Manguel, este escreveu em “No Bosque do Espelho”: “Somos criaturas arruma-das. Desconfiamos do caos. As experiências chegam-nos sem um sistema reconhecível, sem qualquer razão inteligível, com uma generosidade livre e cega. E, no entanto, perante todas as provas em contrário, acreditamos na lei e na ordem.” António Garcia Guerreiro contraria em “Espelhos Naturais” essa mesma lei e ordem, propondo deste modo um presente para os nossos senti-dos, arriscando-se assim a encontrar beleza no caos e na miríade de reflexos e estímulos que a natureza em redor nos proporciona. Afinal, o belo pode ser caótico e desordenado, e, para que isso aconteça, basta estar aberto e, com absoluta clareza, atento.

A ntónio

Garcia

deFERNANDO NUNES

Sobre

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DIA INTERNACIONALda

PAULO VILELA RAIMUNDO

É com um amargo travo na boca que vos trago como tema de reflexão o Dia Internacional da Paz, recém-celebrado no passado dia 21 de setembro.

Desde que, em 30 de novembro de 1981, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu esta efeméride, nos é forçada a reflexão sobre as múltiplas guerras que assolam o planeta, levando-nos a concluir que não invertendo a tendência atual, se caminha a passos largos para um conflito generalizado, de resultado irremediavelmente nefasto.

Já em 21 de Setembro de 2006, por ocasião das comemorações do Dia Internacional da Paz, Kofi Annan afirmou: “Há vinte e cinco anos, a Assembleia Geral [da ONU] proclamou o Dia Internacional da Paz como um dia de cessar-fogo e de não-violência em todo o mundo. Desde então a ONU tem celebrado este dia, cuja finalidade não é apenas que as pessoas pensem na paz, mas sim que façam também algo a favor da paz”.

A verdade é que um dia por ano não basta!

Enquanto se insistir em políticas fratricidas, onde os poderosos usam e abusam dos destinos de populações indefesas, saqueando os recursos geológicos, turísticos e culturais de continentes inteiros; disseminando guerras e tensões (até aqui regionais) para manter

lucrativos os setores do armamento;

interferindo politicamente em países constituídos como nações independentes, de modo a satisfazer copiosamente as suas clientelas político--económicas, …caminharemos fatalmente para um afastamento entre ricos e pobres, condenando a maioria da população do globo a uma obrigatória luta pela sua sobrevivência.

Os condimentos banalizados nessa mescla explosiva vêm sendo o racismo, a xenofobia e o desconhecimento do próximo, tão contrastantes com os princípios que nos são caros, como a igualdade, a liberdade e a fraternidade.

A crise financeira global, que se tornou pública em 2008, com o crash do Banco Lehman Brothers, veio exponenciar a ganância da banca internacional e da alta finança que, numa tentativa de sobrevivência desesperada, não hesitou em contaminar o já de si instável equilíbrio internacional, intensificando, pela fome e pelo medo, inúmeros focos de conflito regionais que tendem a generalizar-se.

Tendencialmente pensamos que uns, poucos, são os responsáveis pelo mal que assola o mundo, mas a verdade é que essa culpa é também de todos

nós, como cúmplices por omissão de muito de errado que acontece no nosso quotidiano.

Se contamos hoje com os riscos associados a fações terroristas como o Boko-Haram, o Estado Islâmico (EI), a Al-Qaeda e outros grupos insanos no raciocínio e nos comportamentos, não deveremos esquecer que estes estão ou estiveram ao serviço de grupos de interesses difusos que lucram, e muito, com a instabilidade e a guerra.

Cabe a cada um de nós não pactuar com estratégias de poder, resultantes da usurpação dos direitos inalienáveis dos que nos são iguais, agindo (individualmente e em grupo) sob a lógica da tolerância e da integração pela cidadania.

A conquista de uma paz duradoura e universal passará obrigatoriamente pela adoção de uma nova agenda política que, procure defender e implementar a competitividade das economias regionais, garantindo em simultâneo a manutenção e desenvolvimento dos

Paz

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DIA INTERNACIONALda

Entre março de 2013 e setembro de 2015 o Cine-Clube da Ilha Terceira exibiu 150 filmes, numa actividade constante que tem levado ao público terceirense uma média de quatro exibições mensais, tornando acessível diferentes cinemato-grafias de qualidade.

O reinício das actividades do CCIT ocorreu no dia vinte de março de 2013, com a exibição de “A Nava dos Loucos” de Stanley Kramer, filme que marcara a estreia desta as-sociação, no ano de 1977. “A Nava dos Loucos”, de 1965, conta as histórias sobrepostas de vários passageiros a bordo de um transatlântico no início dos anos 30.

O cine-clube tem procurado chegar a ambos os concelhos da ilha Terceira, estabelecendo parcerias com entidades de diversas áreas, como são exemplo a Galeria de Arte Re.Function, o Lar D. Pedro V ou a Santa Casa da Miser-icórdia de Angra do Heroísmo. Um dos objectivos é levar o cinema a públicos que, de outra forma, dificilmente a ele teriam acesso. Por forma a descentralizar as salas de cinema dos grandes centros realizou também várias sessões de cin-ema em Sociedades Recreativas, nas diversas freguesias da ilha.

Uma das apostas ganhas da actual direcção foi a parceria com o festival de cinema ecológico “Cine’Eco Seia” pro-movido pelo Município de Seia, que, em três edições, apre-sentou uma mostra de cerca de 70 filmes, com mais de 1500 espectadores.

Nestes dois anos e meio de actividade, o filme mais vezes exibido foi “A Fé nos Burros”, longa-metragem que pre-tende enaltecer a importância da relação Homem-Animal, com especial relevância para as burras, burros, mulas e ma-chos no concelho de Alfândega da Fé, o que, fruto de vivên-cias relativamente recentes e pela familiaridade de situações comuns a diversas zonas dos Açores, tem despertado grande interesse junto de vários públicos, particularmente o rural.

No passado dia vinte e quatro de Setembro o Cine-Clube da Ilha Terceira exibiu o centésimo quinquagésimo filme, apresentando no Alpendre o filme “O Testamento do Sr. Napumoceno”, no âmbito do projecto “5 Sentidos”, em co-organização com o Alpendre – Grupo de Teatro.

Com a agenda já ponderada e fechada até ao final de 2015, o Cine-clube da Ilha Terceira irá apresentar filmes e documen-tários produzidos no estrangeiro com especial incidência Europeia, em Portugal e nos Açores.

A DIREÇÃO DO CINE-CLUBE DA ILHA TERCEIRA

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filme 150ºPazdireitos, nomeadamente sociais, que viabilizam e constituem condições de cidadania, optando pela educação e formação como eixos decisivos para se atingir esse desiderato.

Face a um crescimento exponencial da população do globo, urge arrepiar caminho, alterando os paradigmas da sociedade atual, desincentivando a ânsia do lucro imediato, tomando como regra a gestão consciente dos recursos finitos ao nosso dispor, com vista a garantir as necessárias condições de sobrevivência às gerações vindouras. Termino citando Heródoto: “Em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos.” Arrepiemos caminho!

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Um conjunto de Faialenses – al-guns de nascença, outros de longa data e outros acabados de chegar – começou, no passado ano de 2014, a percorrer as ribeiras desta ilha recolhendo plástico, vidro, metais e outros resíduos. Alguns sábados por ano, estes e mais alguns voluntários ocasionais juntam-se num ponto pré-determinado e batem alguns dos cantos menos conhecidos do Faial, reduzindo a quantidade de lixo que (infelizmente) deixamos por aí e que, como vivemos numa ilha, vai sem-pre terminar no Mar, contribuindo para o problema global da poluição oceânica.

Cansados, sujos, mas com a satis-fação de ter feito algo real e útil, os voluntários juntam-se no centro da Freguesia, rodeando as muitas sacas de lixo que (infelizmente) sempre recolhem, para a fotografia que já se tornou tradição; para recordar, mas também para denunciar, para alertar, para ensinar que há muita coisa que os cidadãos podem (devem) fazer por si próprios, sem estarem à espera que outros resolvam os problemas que são de todos. Pedro Miguel, Cedros, Castelo Branco, Feteira, Flamengos, são algumas das Freguesias por onde os voluntários da No More Plastics for the Azores (NMPA) já passaram. O que os une é a consciência da grande responsabilidade que pesa sobre nós, faialenses, por termos à nossa guarda ecossistemas únicos, preciosos e frágeis. Muito do lixo que

NOalguma coisa por ela. Dos 8 milhões de toneladas que (infelizmente) são largados no nosso Oceano, 80% tem origem terrestre, pelo que compete--nos a nós contribuir para a redução destes (horríveis) números.

De entre as várias parcerias estabelecidas, algumas vão perdurando e dando os seus frutos, como sejam o caso do DOP e a sua contribuição para uma maior sistematização da recolha e registo da informação produzida em cada limpeza. Também colaboramos com o OMA na organização de eventos de limpeza, com a CMHorta no apoio a políticas de (melhor) Ambiente para a nossa ilha, para além de outras ONG como sejam a Associação Portuguesa de Lixo Marinho ou a BICEPS Bonaire.

A NMPA optou deliberadamente por não se tornar uma associação ou outro tipo qualquer de organização formal, pelo menos por enquanto. Assim, não existem nem direcção, nem sócios, nem estatutos. É apenas um movimento, um conjunto fluido e aberto de cidadãos que se juntam para discutirem os problemas ambientais da sua ilha e pensarem no que é que podem fazer para os combater ou minorar. A par das limpezas e outras actividades a No more plastics mantém uma activa página no Facebook, sempre actualizada com informações úteis sobre como reduzir e reutilizar, bem como notícias sobre a batalha contra os plásticos em todo o planeta.

Adira, partilhe, partic

ipe!

Azoresproduzimos nesta ilha, acaba (infe-lizmente) por ser libertado no meio ambiente. Os plásticos, em especial, são altamente destrutivos para os habitats marinhos, acabando por ser ingeridos por peixes, aves e outros animais, prejudicando a cadeia ali-mentar, contaminando durante muito tempo os oceanos de que, afinal, dependemos todos.

Hoje em dia isto já não é uma questão de filosofia ambientalista. É uma questão de sobrevivência da nossa espécie. Se é verdade que existem problemas globais, cuja escala supera em muito a pequena dimensão da nossa ilha, a verdade é que existem coisas reais que podemos (devemos) fazer: Re-duzir a quantidade de plástico que usamos, reutilizar o que pudermos, reciclar tudo o resto e – porque não? – de vez em quando passar um sábado diferente, usufruindo da natureza, mas também fazendo

more for the

NMPA

Ilustração Marina Ladrero

plastics Rotundas do Além

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Praç

as c

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onde desembocam ruas foram “em

belezadas” ao longo dos últimos ano

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Rotundas do Além

Fui convidado por Frasco António, Presidente do Clube de Aeronáutica e Filatelia das Caldas da Rainha, para encetar uma investigação so-bre os fenómenos circulares denominados de “rotunda”, que proliferam neste país português como cogumelos na floresta húmida.

Declinei o convite por ser uma matéria em que me sinto pouco à vontade, pois é sabido que não conduzo. Mas um simpático cheque que me veio parar ao bolso da gabardina suscitou em mim um súbito interesse por este assunto. É nele que tenho depositado as minhas ca-pacidades físicas e intelectuais, e os resultados começam a aparecer.

Uma rotunda, como o próprio nome indica, é algo redondo que deve ser contornado. Na história recente deste país português, tem sido prática comum contornar obstáculos em vez de os enfrentar e resolver. Daí a escolha lógica das rotundas para todo o território português, sim-bolicamente análogo a tantas outras áreas da nossa sociedade.

As rotundas são também o sítio mais seguro para os peões, pois toda a gente se desvia delas. Um estudo da Universidade de Warwick em Inglaterra conclui que a seguir à sua própria casa, é nas rotundas que as pessoas se sentem mais seguras. O estudo refere ainda que é nas mesmas que os agentes decisores ex-perimentam introduzir elementos de extrema sensibilidade, tais como plantas exóticas, valiosíssimas e frágeis obras de arte, ou es-tatuetas de vultos importantes da história.

JOÃO VENCESLAUTOMÁS MELO

Pode-se dizer com propriedade que uma rotunda revela mui-to sobre a personagem do edil. Tanto que às vezes são a sua própria cara.

Depois de introduzir esta nova rúbrica aos caros leitores, deixo--vos com um exemplar muito interessante na Ilha do Faial. Também conhecida como Pasteleiro Roundabout, a Rotunda do Pasteleiro é famosa pela sua instalação artística onde está representando o pastel. Símbolo maior da cultura e história do Pasteleiro, o pastel tem finalmente a homenagem merecida e reconhecida. Mais uma vez confirmando a teoria universitária, com tantos sítios seguros para se largar o pastel, foi naquela rotunda que foram largados cinco belos exemplares.

E por aqui me fico. Uma boa semana a todos, menos a um.

Agora vamos

satirizá-las até

à exaustão!!!

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“Mundo Pequenino: a infância entre 1980 e 1950” é a nova exposição temporária do Museu de Angra do Heroísmo. Patente até 31 de janeiro de 2016, na Sala do Capítulo, a

mesma parte de uma mostra de peças de vestuário, móveis e brinquedos, pertencentes às colecções do MAH ou tempo-rariamente cedidas por particulares e instituições, para dar a

conhecer as profundas alterações introduzidas no conceito de infância, nas sociedades ocidentais, durante as primeiras

décadas do século XX, e que se consubstanciam na De-claração dos Direitos das Crianças, de 1959.

Mediante a articulação de três núcleos expositivos, “Nascer e sobreviver”, “Crescer” e “E o fim da infância”,

explicita-se o processo de instauração do paradigma de infância característico da modernidade, apontando as

melhorias implementadas ao nível da alimentação, cui-dados de higiene, saúde, conforto, actividades lúdicas e

educação infantis e dando conta do reflexo de tais alterações ao nível local.

Assim, no primeiro momento, intitulado “Nascer e sobre–viver”, camisas delicadamente bordadas, touquinhas renda-das e vestidos de folhos remetem para o mundo protegido,

seguro e dileto dos Meninos de Sua Mãe, enquanto que uma caneca de peditório do orfanato, em faiança estampada,

recorda os muitos outros meninos enjeitados e desvalidos. O título dado a este núcleo introdutório remete precisamente

para as muitas dificuldades por que passavam os recém-nascidos e que se agravavam notoriamente no caso dos

indigentes, evidenciando-se através de recortes da imprensa local a implementação de várias medidas, como a criação

da Maternidade Professor Monjardino e a instituição de um lactário em Angra, que visavam contrariar a enorme taxa de

mortalidade infantil vigente.

Muito embora muitas das peças expostas revelem mais preo-cupação com o aparato do que com a sua funcionalidade prag-

mática, testemunhando sobretudo as habilidades manuais das senhoras da família e as posses da mesma, denotam

simultaneamente preocupações que hoje tendemos a olhar com alguma indulgência trocista. É o caso das saquinhas

com amuletos contra o mau-olhado, das faixas para o um-bigo e dos lencinhos de cabeça para proteção das orelhas, que já há muito deixaram de fazer parte dos enxovais dos

recém-nascidos. A importância do baptizado, cerimónia de iniciação que garantia a salvação espiritual da criança, em

caso de morte, e lhe facultava uma benção capaz de am-parar e proteger na vida terrena, está bem patente através dos vários exemplares de faustosos vestidos e capas, que

mercê do requinte da sua confecção e da riqueza dos seus materiais foram guardados e estimados por gerações.

Meninos e meninas, quase iguais nos seus fatos à

marinheiro, encabeçam o segundo momento da ex-posição, dedicado ao “Crescer”, e aquele em que melhor se evidencia o moderno paradigma de infância. De fato,

o próprio conforto andrógeno dos fatos referidos, com linhas amplas e confecionados em tecidos resistentes, comprova que as crianças deixam de ser vistas como

adultos em miniatura, e como tal submetidas aos mes-mos ditames de moda, passando a ser entendidas como destinatárias de um conjunto de direitos, entre os quais

se inclui a ludicidade e o bem-estar. Uma casinha de bonecas, cuja fachada de madeira bem podia ser o de

uma qualquer casa da baixa angrense, deixa entrever o aconchego de um interior burguês. Na estrutura da casa

e no mobiliário feito a partir de caixas de fósforo, adivi–nham-se mãos masculinas, mas as cortininhas bordadas, os inúmeros naperons de crochet, as roupinhas de cama

e os minitapetes são, sem dúvida, contributos de uma figura feminina, carinhosa e hábil. Soldadinhos de chum-bo, tachinhos de alumínio, delicados serviços de chá em

porcelana, carrinhos de lata e minúsculas figurinhas de celulóide e plástico falam ainda de um tempo em que os

Mundopequenino a infância entre 1980 e 1950

ANA LÚCIA ALMEIDA NOVA EXPOSIÇÃO NO MAH

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Mundopequenino

brinquedos não se regiam por normas rígidas de segurança e funcionavam a

pilhas de imaginação.

O último momento da exposição “E o fim da infância” é marcado pela

escolarização, obrigatoriedade ins–tituída pela República. O seu termo, por volta pelos 10/12 anos, coincide com a primeira comunhão, ritual de

passagem da infância à adolescência, e em muitos casos corresponde à entrada

no mundo adulto por via do trabalho.

Visitar “O Mundo Pequenino: a infância entre 1980 e 1950” é, pois, mais que um regresso a um passado ternurento. Considerando as condi-cionantes que determinaram o mo–

derno culto da infância, é impossív-el não problematizar até que ponto tal modelo, cerceando a autonomia

das crianças e aumentando a sua quase total dependência das figuras

parentais, diminuiu a resiliência infantil. Por outro lado, torna-se

igualmente incontornável equacio-nar o modo como a competição e o individualismo exacerbados impos-tos pela cultura de consumo não as

adultizarão precocemente.

História ao calhasCAROLINA FURTADOMICAEL ALMEIDA

Conveietude Couvette, senhora cá da terra, foi hoje vista a passear o seu gato descabeçado. O bichano, jaz morto há cerca de um ano na

valeta da ribeirinha.

NOVA EXPOSIÇÃO NO MAH

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Ponta Delgada:Cheira a mudança o ar do tempo!

Eis-nos em Ponta Delgada, a cidade de Antero de Quental, António Machado Pires, Tomás Borba Vieira, Zeca Medeiros, entre tantos outros, com o mês de outubro ainda cheio de gente pelas ruas, com as lojas do centro a ga–nhar o colorido da estação outonal, com dias cada vez mais curtos e som-brios e a temperatura a solicitar outros tecidos, aquecimentos e agasalhos. O café Caziff, situado na Rua Dr. Guilherme Poças 12, detém uma pintura de uma deusa na parede, ao que parece pintada em estilo Art Déco por artista conceituado de origem nova-iorquina. É por aqui que se enceta o périplo citadino. Arrancamos, assim, sem temor à descoberta da luz e das sombras, à procura de medir o pulso à nova cidade que emerge desde a chegada das companhias aéreas associadas às Low Cost. A agenda cultural Yuzin está espalhada pelas mesas deste espaço acolhedor, às vezes café, por vezes bar, propenso a conversas e tertúlias, marcando desta feita o pontapé de saída e incursão pela cidade em mudança. A loja Louvre Michalense é visitada com curiosidade, perante um passado que é agora motivo de delicados e sabo–rosos encantamentos. Este novo recanto centenário, que já foi chapelaria e loja de tecidos, foi lugar de exposição do pintor Domingos Rebelo no século passado. Agora é também local de encontro para pequenos-almoços, lan–ches e compra de presentes e iguarias de natureza insular. Entretanto, houve um lançamento na Tipografia Micaelense –“Livro Árvore”, design de Nuno

Malato e Júlia Garcia, pequeno objecto tipográfico no seguimento de muitos outros que um grupo de design-ers locais se têm dedicado a fabricar com materiais de

encher olho e com as subtilezas da tipografia antiga.

As noites de poesia animam e, de que maneira, a Tasca da Rua de Lisboa nas noites de quinta-feira, pois por lá marcam presença Luís Andrade, editor dos “Capí-tulos A, B e C”- uma colectânea de poetas a residir nos Açores, ainda o jovem poeta Leonardo, autor do mais recente Âmbula, título que irá chegar em breve às livrarias nacionais pela Companhia das Ilhas, e com apresentação pública no final de outubro, para além de outros conhecidos divulgadores ou activistas da cultu-ra como João Malaquias ou João da Ponte. O dono de tão peculiar estabelecimento, Paulo Amado, é visto igualmente a ler poemas e a participar das sessões, por entre copos de tinto e presunto, não se esquecendo de arremessar uma ou outra farpa a poeta mais ardiloso.

FERNANDO NUNES

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Incansável tem sido o trabalho da Galeria Arco 8, já com trinta anos no activo e com dez naquele actual barracão tão pertinho do mar. Há bem pouco foi tempo da dupla de músicos Medeiros/Lucas apresentar-se na Galeria Arco 8, momento para dar a conhecer as novas canções destes dois príncipes da Atlântida, desta vez com a companhia de Tó Trips, estando as paredes revestidas de fotografias da exposição “Código Postal: A2053N”, código de matrícula do arrastão “Joana Princesa”, do fotógrafo mariense Pepe Brix. Há poucas semanas estiveram por lá os músicos Zeca Medeiros e Rafael Carvalho, dois expoentes maiores do melhor que se faz por terras açorianas, no que diz respeito à dicotomia musical entre a tradição-moderni-dade. Pedro Bento, responsável pelo Arco 8, revela que tudo isto é feito com pouco ou quase nenhum apoio das entidades regionais. Neste momento, a fo-tografia é a rainha da sala de exposições com a reunião de diferentes autores em mostra designada de “OTIUM”. O Teatro Micaelense conta igualmente com uma programação profissional e regular, apostando essencialmente em nomes já firmados no panorama musical, tendo sido ultimamente possível assistir aos concertos de Carlos do Carmo, do Sexteto de Jazz de Lisboa ou da açoriana “Bia”. Nesta incursão pela cidade, com francos sinais de reno-vação e vitalidade, houve tempo ainda para assistir na Ermida da Mãe de Deus à peça “A Passagem das Horas”, num texto de Álvaro de Campos, pela encenação e interpretação do actor Nelson Cabral. A peça seguiu entretanto

para as Ilhas do Faial e Flores.

O ar do tempo está, portanto, pulverizado pelo apare-cimento de novos turistas através das companhias de baixo custo que começaram a operar desde Março pas-sado! As pensões, pousadas e hotéis repletos e sem lu-gar para turistas pouco organizados. Estes que chegam ávidos de conhecer a cidade fazem com que os taxistas sejam incansáveis à chegada do aeroporto. Quase não há carros para alugar e o inglês é a língua que se im-põe e vibra com a vontade de ganhar dinheiro rápido. É uma cidade em movimento, com muita gente curiosa para perceber e compreender que caminhos trilham o comércio, a vida social e cultural da pequena urbe in-sular, talvez entender até onde vai esta mutação ou o novo impulso dado ao centro citadino que até há bem pouco tempo se encontrava vazio e exânime. O que se pode pedir mais a uma cidade que está viva e se agita e balança no Outono e que vai mar adentro à procura do

mais fundo de nós, até não mais parar?

Ilu

stra

ção

Mar

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Lad

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Cientista: Maria Rakka Objecto de estudo: Coral Negro

(Antipathella wollastoni) Data de início da relação: 05-01-2014

Estado civil: Relação Aberta

ANA RODRIGO AURORA RIBEIRO

Cient

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to de Estudo = Amor para toda a vida?

O Casal Científico

Como é que se conheceram?

A relação começou ainda antes de nos encontrarmos, porque eu já o conhecia à distância e quis vir estudá-lo. A primeira vez que nos vimos foi debaixo de uma pedra nos Radares.

O que mais te atrai e menos no teu par?

O que mais me atrai é o facto de ele não ser tão conhecido como os corais tro–picais e de ser uma espécie mais som-bria, misteriosa… Ah e os seus pólipos, que são brancos ou castanhos, em vez de negros, como se pensa geralmente! Para quem não sabe um coral é uma colónia de milhares de pólipos. Do que gosto menos é desta sua preferência por lu-gares escondidos, com correntes fortes e a profundidades difíceis de chegar.

Como foi a primeira vez?

Molhada! Tudo começou num dia de fevereiro, nos Radares, com muito frio e maré baixa, ele estava a 26 metros de profundidade, escondido num buraco, ao lado de um cavaco. Encontrei-o durante uma amostragem, onde tive a oportuni-dade de o conhecer melhor.

Onde é que cada um vive e como é que

fazem para se encontrar?

Ele vive debaixo de água, entre 20 e 900 metros de profundidade. Umas vezes encontramo-nos na casa dele, outras vezes ele apanha boleia dos pescadores e encontramo-nos na doca. Mas nessas alturas ele já vem um bocado morto...

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to de Estudo = Amor para toda a vida?

O Casal Científico O que fazem quando estão juntos?

Tiro-lhe muitas fotografias, dou-lhe banhos de formalina para o conservar, corto-lhe uns pedaços e pinto-o de vári-as cores para estudar a sua anatomia e perceber a sua reprodução… Outras vezes só ficamos no mar, juntos, a olhar um para o outro...

Quais os pontos fortes da relação?

Como ele só vive na Macaronésia, eu tive que viajar e vir viver para os Açores, para mim isso é um ponto forte porque não só gosto de viajar como de estar nestas ilhas.

E os pontos fracos?

A distância entre nós, a falta de dinheiro para os encontros...

Que tipo de rebentos podem brotar (ou

já brotaram) deste vosso envolvimento?

Conhecimento sobre os Corais Negros, até à data sabia-se muito pouco sobre eles. Esse conhecimento pode ser usado para a conservação desta grande Ordem, os Antipatários.

Quem são e como são os vossos amigos

mais próximos?

Os mais próximos são os Ofiurídeos, que estão sempre em cima dele, ainda não sabemos bem porque razão, mas gosta-mos da companhia. Também temos alguns amigos humanos, como os pescadores, mergulhadores e outros investigadores que nos ajudam a estar mais juntos.

Como prevês o futuro desta relação?

Longo! Apesar das dificuldades finan-ceiras e da meteorologia açoriana, have-mos de arranjar sempre uma forma de continuar a ter os nossos encontros.

Típicos tópicos dos tristes subtrópicos

RAQUEL VILA

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VaratojoNome, apelido e projectos musicais do passado e do presente

Luis Varatojo. PESTE & SIDA, DESPE E SIGA, LINHA DA FRENTE, A NAIFA,

FANDANGO

Como foi a primeira vez? (como surgiu e se concretizou o primei-ro projecto, como foi o primeiro concerto…)

Não me recordo, mas deve ter corrido bem, senão agora era banquei-ro ou outra coisa qualquer.

A música é colega, amiga, amante, ou assinaste mesmo os papéis?Não, nunca assinei os papéis. É mais uma união de facto, existe uma confiança mútua que dispensa a burocracia. Às vezes chateamo-nos e passamos um ou dois dias sem nos vermos, mas depois voltamos

para os braços um do outro ainda com mais vontade de namorar. Concretizando, nunca me aborreci muito porque tenho trabalhado em

vários projectos, sempre com músicos diferentes, o que me permi-te experimentar coisas novas, aprender e manter uma actividade

artística interessante e salutar. Evitar trabalhar sempre com a mesma fórmula é meio caminho andado para a durabilidade da relação.

Depois de anos de vivência conjunta o quotidiano não se torna maçador?Não tenho esse problema. O meu dia a dia é bastante variado, para

além dos projectos principais, faço muitas coisas - todas na área da música – que me permitem pôr em prática outras ideias. Faço

direcção artística em eventos, às vezes também produção, e mesmo concepção. E dou aulas de produção e marketing de música e even-

tos. O facto de o meu tempo ser dividido entre o estúdio, a sala de aulas e o escritório, com viagens regulares pelo meio para tocar ao vivo, agrada-me bastante e, sinceramente, não me via a fazer outra

coisa neste momento.

De que forma convives com as músicas dos outros em Portugal e no Mundo ?

Comecei a fazer música por ouvir a música dos outros. Sempre fui consumidor de música, sobretudo nova. Agora, com a possibilidade de ouvir no Spotify os discos que quiser, a qualquer hora do dia ou da noite, esse consumo aumentou. Gosto de andar a par do que se está a fazer cá e no mundo. Esse hábito de ouvir ajuda a construir

o vocabulário e a moldar o gosto, às vezes não sei se estou a ouvir música apenas pelo prazer ou se estou a trabalhar.

As músicas que se vão fazendo por cá, chegam aí?Falas dos Açores, certo? Aqui ao continente não chega nada. Conhe-

ço os Bandarra e o Experimentar.

Já deste música aos Açorianos? Foi bom para os dois?Já dei muitas vezes. Acho que ficámos todos satisfeitos. Gosto muito dos Açores, e das pessoas dos Açores. As estadias são sempre memo-

ráveis, sinto-me em casa. E não preciso de assinar os papéis.

Entrevista: música

Comecei a fazer música por ouvir a música dos outros

“ MIGUEL MACHETE

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Santa Maria

Tilhas

Nesta rúbrica vamos descobrir trilhos das 9 ilhas, percursos pedestres e algumas das suas histórias

Entre a serra e o mar, lugar onde nasce primeiro o sol no arquipélago, a Baía de S. Lourenço é uma "sala de visitas" da ilha de Santa Maria. Com elevado interesse geomorfológico e paisagístico, a Baía encontra-se implantada em escoadas lávicas do Complexo do Pico Alto de idade Pliocénica (4-1,8 milhões de anos).

O famoso zoólogo francês Henri Drouet, que esteve em Santa Maria em 1857, considerou a ilha como “a mais bela e graciosa de todas” e “a descida pela audaz esca-daria da Fajãzinha, a descoberta do verdadeiro paraíso da Baía de São Lourenço”.

Sobre os primeiros acessos à Baía de S. Lourenço, dizia o Historiador Jacinto Monteiro (1998): “Nos primórdios da plantação das vinhas, séc. XVI, ainda não se tinham rasgado caminhos sequer para carros de bois, o transporte do vinho era feito pelo mar e arriba acima pelo trilho da Fajãzinha, que durante muitos anos, foi a artéria de ligação principal a S.Lourenço”.

O histórico e famoso trilho da Fajãzinha terá sido usa-do desde o primeiro quartel do séc. XVI, como acesso público inicial à Baía de S. Lourenço, e posteriormente melhorado com escadaria, enquadrada na construção dos “currais de vinha” que o ladeiam, na segunda metade do mesmo século. Com a abertura da estrada do desterro, pelo lado Sul da Baía, o vinho e/ou as uvas passaram a ser transportadas pelos carros de bois e o Trilho da Fajãzinha deixado de ter importância para a vitivinicultura e acesso às habitações. Perdeu por isso o fluxo de utilizadores que tinha outrora entrando

praticamente em desuso. Com a reabilitação do trilho local da Fajãzinha, por parte da Junta de Freguesia de Sta Bárbara, e a criação do percurso pedonal PR– Pedra Rija-Sta Bárbara _ S. Lourenço e sua inclusão no GR _ “Grande Trilho”, pretendeu-se valorizar e revitalizar esta vereda histórica dando-lhe novo uso e apreciação, através da sua fruição e promoção turística.

Durante o percurso da Fajãzinha, para além da apre-ciação paisagística global de S. Lourenço, pode ser apre-ciado o valioso património dos “currais de vinha” que ladeiam o trilho, observadas, ao longe, algumas aves marinhas migratórias, como o garajau rosado, o garajau comum e o cagarro, e ainda sete subespécies da nossa avifauna residente: o Milhafre, o Melro-preto, Alvéola, Caixinha, Pisco-de-peito-ruivo, Toutinegra, Tentilhão ou Sachão e o Estorninho.

Quanto à flora, nos taludes da vereda, para além da fragante Murta e outras aromáticas podem ser vistas importantes espécies primitivas e outras endémicas dos Açores. De salientar a presença do Aichryson vilosum, uma endémica da Macaronésia, que nos Açores só existe em Santa Maria. Ao nível do mar, igualmente únicos nos Açores, poderão ser observados fósseis marinhos do período do Miocénio (8-4 milhões de anos).

Deixo aqui uma merecida homenagem aos obreiros da Fajãzinha, assim como aos vinhateiros e carregadores, que durante largos anos transportaram às costas os “ces-tos de pastel” carregados de uvas pela escadaria acima em audaz esforço.

JOSÉ ANDRADE MELOTERESA CERQUEIRA as

Fajãzinha Do Miradouro do Barreiro

(Santa Bárbara) à Baía de São Lourenço

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Ei-los que passam. Eu também não sou de cá e se calhar também estou de passagem. Passei (largos anos) numa terra do interior continental português. Onde passa pouca gente. Famosa história passada no Largo: um velho de bengala, sentado, observa um fulano a brincar com um cão. O fulano para o velho: “Lindo cão, como se cha-ma?”. Velho: “Nã sei, também é forasteiro”.Vós outros. Os de sabe-se lá de onde.

Aqui nos Açores há muito mais interesse pela gente de fora do que na minha terra. Na minha terra não só não há interesse como há desconfiança, e mesmo um misto de inferioridade disfarçada com superioridade que eu nunca vi em mais lado nenhum mas que ao mesmo tempo que me chateia também me encanta um bocadinho. A minha terra interior nunca foi atacada por piratas, que eu saiba. Que razões estarão por detrás do carácter das pessoas?

Uma das minhas primeiras colaborações com o Fazendo foi uma série de entrevistas chamadas “Chegadas” em que perguntei a quem não era de cá de onde é que vin-ham, o que faziam aqui, e as principais diferenças entre o aqui e o lá longe de onde eram. Mais tarde candidatei um projecto de documentário sobre a importância dos es-

adRegisto Aleatório D’escalas

(Algumas) Recentes

trangeiros para o desenvolvimento económico e cul-tural dos Açores. Porque em todas as terras se cantam as glórias dos conterrâneos mas não se agradece tanto o contributo dos nascidos lá fora que aqui vieram tra-balhar. Não obtive financiamento, e ainda hoje tenho pena de não o ter feito. Talvez um dia eu ou alguém ainda o venha a fazer.

Não sendo de cá interesso-me por tudo. Pelos autên-ticos açorianos puros, pelos arraçados e por todos os outros que partilham a minha sorte de passar por aqui. O meu lugar preferido do mundo é a Marina da Horta.

Esta rubrica, que agora começa, vou usá-la como pre-texto para saber as histórias que vêm nos barcos que aqui passam. E se as coisas se passarem como neste verão passado em que nos visitaram, entre outros, um jovem casal de artistas que descobriu aqui que tinham o casco cheio de buracos, um jovem não-marinheiro súbito e espantado herdeiro de um Amel de 53 pés ra-chado por causa de um choque com uma baleia, e um pai sexagenário inglês traído que com 300 dólares por mês e uma perna acidentada, atravessou o Atlântico com o filho adolescente para o educar na sua Inglaterra natal. Os primeiros taparam os buracos, regressaram bem, e vão ser pais em breve, de um filho concebido nos Açores. O segundo reparou a sua herança e com a ajuda de um tio e de um resmungão amigo do pai levou-a para casa, passando oito dias enjoado até ver a Europa e julgo que a cada um dos oito dias se con-venceu mais a não continuar o sonho do seu progeni-tor. Dos terceiros ainda não sabemos nada, mas todos os dias esperamos que tenham a sorte que todos os grandes corajosos deveriam merecer. Se as coisas se passarem como neste verão, dizia eu, esta rubrica vai poder vir a ser memorável.

AURORA RIBEIRO

O meu lugar preferido do mundo é a Marina da Horta

Porto da Horta

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Quando eu tinha 6 anos, o meu pai chegou a casa com um monte de cartões perfurados, usados nos computadores daquela época para registar dados e comandos nas máqui-nas. No banco onde ele trabalhava, estavam a substituir aquele sistema pela moderna disquete. Estavamos em 1977 e a disquete de 5 ¼ tinha chegado para acabar com o cartão perfurado.

Há poucos dias atrás, tinha visto no programa “Cinema de Animação”, apresentado por Vasco Granja, uma animação tipo “flip book”, que não é mais do que uma sequência de imagens desenhadas, cada uma um pouco diferente da anterior, em vários pedaços de cartolina e que quando passadas rapidamente na frente dos olhos, dão a ilusão da imagem em movimento. Um processo simples e que eu an-dava a tentar replicar sem muito sucesso, porque não tinha cartolina, apenas folhas de papel que cortava em pedaços menores todos iguais, para conseguir ter vários. O prob-lema é que o papel era pouco resistente e não era fácil de o conseguir fazer girar rapidamente com o polegar. Por isso, o cartão perfurado veio abrir um novo mundo de possibili-dades. Era muito mais resistente e já vinha todo cortadinho em pedaços todos iguais. Era só desenhar!

Foram as minha primeiras animações. E nunca mais parei. Mas a verdade é que demorei quase trinta anos até traba–lhar profissionalmente com desenho animado. A animação sempre fez parte da minha vida, mas nunca profissional-mente até há alguns anos atrás.

Hoje, é isso que faço todos os dias e procurarei partilhar aqui essa experiência.

Animal é sobre animação.

É uma coleção de lições onde procurarei explicar o princípio, meio e fim do processo criativo em animação.

Há um montão de princípios, fórmulas e “segredinhos” quando se trabalha em animação, mas o que considero essencial é a forma como a animação deve ser pensada.

Animação é muito mais do que pôr coisas a mexer de um lado para o outro. É bem mais do que um boneco que se movimenta do ponto “A” para o ponto “B” em 24 imagens por segundo.

Perguntaram uma vez a Milt Kahl (um dos maiores animadores de sempre da Walt Disney Animation Studios), como é que ele tinha planejado tecnicamente os frames de uma sequência animada com um macaco no filme Mogli. Ele respondeu: “Não planejei nada. Fui para o zoo ver macacos. Durante dias sentei-me lá na frente deles. Desenhei mais de mil macacos. Não devemos planejar nada em termos técnicos, sem antes darmos uma alma ao personagem e conhecermos as suas rotinas. Ele tem de ter vida antes de ter qualquer outra coisa. Olhar de forma puramente técnica a animação é errado. Nenhum músico conseguirá tocar-nos com a sua música, se ele se limitar a tocar mecânicamente a pauta que tem na sua frente. Mesmo que não erre uma nota”.

Por aqui tentarei mostrar o que é animação e como se faz. Em 2D ou 3D, os princípos básicos são os mesmos para qualquer tipo de animação, só muda a técnica.

Dúvidas, críticas ou questóes serão bem vindas em: [email protected]

www.animationanimal.com

PAULO NOVO

TEMPORADA 1

EPISÓDIO 1

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para ti

Que tipo de pessoas pensas que vivem nos Açores?Indígenas e mestiços, eu diria mais como nós os mexica-nos, de pele morena.

Como é que achas que as pessoas vivem nos Açores?Vive-se pescando.

Que língua falam os Açorianos?Imagino que falem muitas línguas, não devem ter dialec-tos. Talvez falam português.

Como será o clima nos Açores?Muito frio!

Que animais se podem ver nos Açores?Devem ter cavalos e vacas, gatos, cães, galinhas e talvez pumas, pelicanos e albatrozes. Eu penso que devem ter os mesmos animais que nós aqui.

Que transportes se usam nos Açores?O ferry e lanchas para pescar.

O que pensas que poderia ser feito nos Açores?Eu penso que podia ser um bom destino turístico porque está tão longe e no meio do nada. Podia ser como aquelas ilhas francesas aqui no Pacífico. Estão muito longe e não

Algures no mundo alguém é convidado a fazer um

retrato das nossas ilhas.SARA SOARES

Assinala no mapa onde são os Açores

Já devem estar civilizados aí, eu

penso que devem comer coisas normais

?os Açores

há quase nada lá e as pessoas gos-tam dos sítios assim. Qual achas que é a comida Aço-

riana mais estranha?Já devem estar civilizados aí, eu penso que devem comer coisas normais. Talvez comam ovos de gaivota. Nós aqui comemos ovos de gaivota e de formigas também e reco-lhemos insectos para fritar. Mas aí eu penso que não.

Que tipo de produtos pensas que se exportam?Peixes e mariscos.

Poderias viver nos Açores?Viver viver não! Mas talvez podia ir conhecer o arquipé-lago.

CarlosMéxico

Onde são

Foi-lhe indicado o local correcto das ilhas dos Açores

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Estes autores surgem a partir de encontros semanais, quinzenais e mensais em actividades públi-cas de poesia: o Poetry Slam de Ponta Delgada, as quintas de Po-esia na Travessa dos Artistas ou na TASCÀ, da Rua de Lisboa. Muitos destes poemas foram lidos em público, obtiveram timbre e diferentes ressonâncias junto dos seus ouvintes. Existe por aqui, tal como não podia deixar de ser, uma enorme cumplicidade entre os autores destes CAPÍTULOS, sendo este um bom motivo para uma maior divulgação desta com-pilação junto do público.

A edição destes CAPÍTULOS A, B e C (este último ainda em pre-paração) é de 150 exemplares e tem o preço simbólico de 2 euros. Luís Andrade coordenou, organi–zou e fez o grafismo deste projecto apoiado pela Direcção Regional da Juventude, através do programa “Põe-te em Cena”. A colectânea reúne dois poemas dos seguintes autores: Carla Veríssimo, Ele-onora Marino Duarte, Fernando Nunes, João Malaquias, João Mo-rais, João Quental Oliveira, José Soares, Júlio Ávila, Leonardo e Luís Augusto.

Os pedidos deverão ser feitos para:

[email protected]

É que a poesia é um género com pouca divulgação em Portugal e nas ilhas, os poetas editados são, na maioria das vezes, detentores de editoras, isto é, editam os seus próprios livros e editam os seus parceiros e amigos. São, por-tanto, poucos os poetas editados que não pertencem aos círculos da poesia amical, o que por um lado é sinal de cumplicidade e qualidade garantida, mas denun-cia, não poucas vezes, sinais de estagnação ou cristalização esté-tica. Ninguém quer, pois, arriscar uma edição de poemas se não con-seguir pagar os custos da mesma.

A criação de colectâneas corresponde a uma vontade de dar a conhecer um leque alargado de autores. Há, por isso, neste CAPÍTULO B um conjunto de poetas bastante diversificado e ainda uma variedade de poemas para vários gostos, ideias e estéticas, o que por si só é salutar e extremamente enriquecedor. As perguntas de hoje são evidentemente as mesmas de sempre: quem são hoje os leitores de poesia? Que eco tem a poesia na sociedade em que vivemos? Independentemente das respostas que possamos dar, o que há de importante neste impulso editorial é o facto de ser portador de uma ideia comum de comunidade poética.

CAPÍTULO

BFERNANDO NUNES

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Fui ao mar

Aqui o mar são os livros e as laranjas são a luz que neles encontro. Sem pre-tensiosismos, proponho-me a partilhar com os leitores da Fazendo as minhas deambulações literárias.

Lembro-me de estar no 12º ano e de ler duas grandes obras: Aparição de Vir-gílio Ferreira e Memorial do Convento de Saramago. E no 'braço de ferro' entre estes dois escritores o primeiro levou a melhor. Depois, mais tarde, recordo que abandonei outro livro do escritor da Azinhaga — A Caverna — possivelmente pela minha imaturidade na altura. E durante muito tempo não voltei a pegar em mais nenhum. Mas talvez porque Claraboia foi “a obra rejeitada” decidi dar-lhe agora uma oportunidade. E devo dizer que a li de chofre, em menos de uma semana. Saramago afirmou que este era um romance ingénuo — talvez como ele próprio seria quando o escreveu. Mas creio que falo verdade quando digo que Claraboia é um grande romance e não desmerece a obra do Prémio Nobel. E parece que é mesmo através dessa estrutura envidraçada — a claraboia — que conseguimos ver a vida dos personagens deste romance que habitam um prédio de Lisboa. Este prédio é, na verdade, um microcos-mos da sociedade lisboeta dos anos 50. Aqui são retratadas seis famílias: Silvestre, o sapateiro filósofo, e a sua mulher Mariana, tão bondosa quanto gorda; Lídia, uma “mulher por conta”

que ganha com o corpo o seu sustento; Adriana, Isaura, Cândida e Amélia, quatro mulheres avulso que definham sem o amor de um homem. Quatro mulheres que vivem uma vida com “janelas sem horizontes” e que encontram na música uma réstia de alegria. Saliente-se que é através de uma destas mulheres — Isaura — que Saramago ousou tocar na questão da homossexualidade. E será através das leituras, nomeadamente d’ A Religiosa, de Diderot, que ela acaba por descobrir a sua orientação sexual. Vivem ainda neste prédio: Justina e Caetano, um casal que se odeia mu-tuamente e que se agride até no silêncio; Anselmo, Rosália e a filha Maria Cláudia, que querem subir na vida a todo o custo; e Emílio e Carmen, um português e uma espanhola casados como que por “engano”, pais de Henriquinho. Por fim, há Abel — que será o próprio Saramago. Ele é um jovem “livre” que se torna inquilino do sapateiro. Um jovem que lê e que se interrroga sobre a vida: “Queri-am-me casado, fútil e tributável?, perguntara o Fernando Pessoa. É isto o que a vida quer de toda a gente?, pergun-tava Abel.” E é ao longo das conversas de serão entre Abel e Silvestre que são abordadas questões filosóficas como a busca do sentido da vida — que, segundo o sapateiro, re-side no verdadeiro amor. Em Claraboia, Saramago faz-nos entrar casa e vida adentro destes personagens. E, com um certo voyeurismo, somos levados a conhecer, sem qualquer pudor, os desejos, os anseios, os medos, os sonhos, as de-silusões e os segredos dos inquilinos deste prédio. As suas vidas são postas a nu sem qualquer delicadeza. E todas estas histórias nos parecem verdadeiras, todas estas vidas podiam “ser de verdade”. Acredito até que alguns destes personagens nos façam lembrar algum vizinho na vida real. Claraboia é um romance simples (não quero que isto pareça redutor) e divertido — há ironia à colher. Mas tam-bém é sério. Muito sério. Porque, afinal, fala-se da vida. Quando terminei o livro fiquei seriamente a pensar na(s) vida(s) de todos os personagens. E na minha também. Com Claraboia sinto que me reconciliei com Saramago.

Fui ao mar buscar laranjas é um verso de uma cantiga popular que também serviu de título a um livro

do poeta açoriano Pedro da Silveira

buscar laranjas

GINA ÁVILA MACEDO

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Fui ao mar

| Letras e imagens são usados para formar uma nova palavra ou frase. Deve ser lido da esquerda para a direita. | Os algarismos entre parêntesis indicam quantas palavras compõem o enigma e o número de letras de cada uma. | As letras fornecidas devem ser compostas com o nome das imagens para formar novas palavras.| Quando uma letra surge entre parêntesis deve ser subtraída da palavra da imagem correspondente.| O símbolo de duas setas contrárias significa que a palavra em questão deverá ser utilizada inversamente.

REBUS

Solução no facebook do fazendo e em www.fazendo.pt

( 9 + 1 + 4 + 3 + 7 + 2 + 2 + 4 )

se não é bem ciência...anda lá perto

Gráficos e infografias criados a partir de dados

recolhidos por cientistas

TOMÁS MELO

Page 24: Fazendo 103

w

www.fazendo.pt


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