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FAZENDO17 de junho de 2010 | Quinta | Edição # 41 | Quinzenal | Agenda Cultural Faialense | Distribuição Gratuita
boletim do que por cá se faz
Os prédios degradados dão pinturas bonitas.
Opinião Opinião
02
ficha técnica - fazendo - isento de registo na erc ao abrigo da lei de imprensa 2/99 de 13 de janeiro, art. 9º, nº 2 - direcção geral: jácome armas - direcção editorial: pedro lucas - coordenação geral: aurora ribeiro - coordenadores
temáticos: catarina azevedo, luís menezes, luís pereira, pedro gaspar, ricardo serrão, rosa dart - colaboradores: carlos cordeiro, eva giacomello, fausto cardoso, gui menezes, joana vaz-pereira, orlando guerreiro, pedro juliano
cota, rita braga, sara soares, tiago castro, tomás silva - projecto gráfico: paulo neves, elcubu, [email protected] - capa: matilde marçal - propriedade: associação cultural fazendo - sede: rua rogério gonçalves, nº 18, 9900 horta
- periodicidade: quinzenal - tiragem: 400 exemplares - impressão: gráfica o telégrapho - contactos: [email protected], http://fazendofazendo.blogspot.com - distribuição gratuita
Livro Verde é o nome dado a um documento elaborado pela
Comissão Europeia com o intuito de promover a discussão e o
debate sobre um determinado tópico, incentivando qualquer
indivíduo e organização a contribuir e participar, resultando
eventualmente na elaboração de um Livro Branco – um
documento oficial onde constam uma série de propostas que
mais tarde serão utilizadas como força motriz para a
implementação de leis adequadas.
Com o objectivo de desenvolver o potencial das Indústrias
Culturais e Criativas (ICC) surgiu um Livro Verde, publicado
em Abril do ano corrente, que entre outras, levanta questões
que pretendem averiguar quais são as melhores formas das
ICC obterem financiamento ou como poderão estas servir de
intermediárias entre as comunidades artísticas e criativas e a
sociedade.
Na passada terça-feira realizou-se no auditório da Biblioteca
Pública o colóquio Potenciar as Indústrias Criativas,
organizado pela Direcção Regional da Cultura, onde a
Associação Cultural Fazendo, representada por Pedro Lucas,
apresentou diferentes propostas concretas aos desafios
levantados pelo Livro Verde. Esta curta palestra estará
brevemente disponível online no blog do Fazendo
conjuntamente com um breve estudo sobre a Criatividade e
as ICC. O propósito deste artigo é o de resumir de uma forma
sucinta este estudo.
Uma breve nota histórica: No fim do século XIX a economia
do mundo ocidental estava estabelecida como uma economia
agrícola, não só o sector agrícola produzia o maior retorno
monetário como também providenciava o maior número de
empregos. Com o desenvolvimento dos meios tecnológicos a
Revolução Industrial deu origem a uma mudança gradual de
uma economia agrícola a uma economia industrial, de procura
de mão de obra capaz de lavrar a terra à procura de mão de
obra capaz de operar uma máquina, economia esta que se
encontrava efectivamente estabelecida após a segunda
Guerra Mundial. Contudo, nos últimos vinte anos temos
assistido a uma nova mudança, agora de uma economia
industrial a uma economia criativa. Enquanto no sector
agrícola ou industrial o capital tomava a forma física de três
sacos de batatas ou dez latas de atum, no sector criativo (que
inclui as áreas de investigação, inovação, ciência, artes,
cultura, etc...) o capital é maioritariamente intangível: o
produto toma a forma de uma ideia. Como lidar com isto, é
uma das grandes questões do Livro Verde.
CrónicaJácome Armas
Seis factos e uma constante
(1) Um ambiente estimulante leva à formação de redes
neuronais mais complexas e mais estáveis (Susan Greenfield
et al). Os avanços recentes na área da neurociência, em
particular devido à descoberta da ressonância magnética,
permitiram conduzir uma série de experiências que têm vindo
lentamente a desmistificar conceitos como a consciência, a
mente e a criatividade que outrora julgavam-se impossíveis
de serem estudados recorrendo ao método científico. Hoje
em dia sabe-se que a mente é uma construção única de cada
indivíduo que depende da totalidade da sua experiência
pessoal. Um ambiente estimulante faz com que as células
cerebrais cresçam e criem mais ligações com outras células
dando origem a diversos circuitos associativos que tomam o
nome de redes neuronais. A criatividade é a capacidade
humana que permite criar novas ligações entre diferentes
redes, que ainda não tinham sido estabelecidas, ou seja, por
outras palavras, permite ver uma determinada coisa de uma
forma diferente.
(2) Não são as pessoas que vão atrás dos empregos, são as
empresas que vão atrás do capital humano. Um estudo
conduzido por Richard Florida et al confirmou que a escolha
da cidade onde um indivíduo com formação superior quer
viver precede a procura de emprego. Por esta razão as
empresas tendem a deslocar-se para as cidades onde se
encontra a mão de obra especializada.
(3) Existe uma correlação entre a desenvoltura cultural e o
desenvolvimento económico. Através de outro estudo
conduzido por Richard Florida et al concluiu-se que as
cidades com uma economia em ascensão são culturalmente
ricas, por outras palavras, estas cidade têm uma elevada
concentração de membros da classe criativa.
(4) A confiança e o sentido comunitário, caso presentes nas
empresas, conduzem à elaboração de soluções criativas. Um
estudo levado a cabo por Manuel Castells et al a equipas de
sucesso em inovação como a Nokia, Google ou iPhone,
concluiu que a confiança entre os vários membros de uma
equipa leva a uma maior troca de ideias e de informação
enquanto que o sentido comunitário, a inter-ajuda e a
partilha de objectivos comuns permitem uma combinação de
esforços mais eficiente.
(5) A mão de obra criativa mostra um comportamento
económico irracional. Um estudo feito por Dan Pink et al
conclui que se escolhermos um qualquer indivíduo e
oferecermos uma renumeração monetária extra em troca de
maior produção, ou melhor qualidade de trabalho, em média
observaremos o seguinte: se o trabalho for mecânico a
Indústrias Culturais e Criativas
Apoio: Direcção Regional de Cultura
renumeração leva a melhores resultados, se o trabalho
envolver um mínimo de capacidade criativa a renumeração
leva a piores resultados. A classe criativa é movida por
autonomia, possibilidade de aperfeiçoamento das suas
capacidades e por uma noção de objectivo – um propósito.
(6) A reinvenção do método escolar com base na abordagem a
problemas reais e a envolvência das comunidades no sistema
de ensino levam a um ambiente capaz de providenciar aos
alunos um maior desenvolvimento das suas capacidades
criativas (Charles Leadbeater et al).
Jardinagem da Criatividade: a visão do Fazendo:
Os factos acima apresentados levam-nos a concluir o seguinte:
para que a criatividade surja é necessário criar as condições
ideais. Dito de outra forma, para potenciar a criatividade é
preciso vestir um “fato” de jardineiro: preparar o solo e dar
condições à planta para crescer. Se puxarmos por uma tulipa
com as mãos ela não cresce, mas se lhe dermos condições
(luz, água, solo rico em nutrientes…) é provável que cresça.
Da mesma forma, para que a criatividade surja numa cidade,
é preciso que esta providencie as ferramentas, as estruturas
e as estratégias necessárias. Mais concretamente é necessário
instituir o espírito comunitário nas diferentes ICC; criar uma
boa rede de transportes; facilitar a habitação no centro; criar
pólos universitários e de formação; criar espaços de encontro
entre a comunidade artística e criativa e a sociedade; criar
espaços autênticos em concordância com a cultura local;
combater o neo-analfabetismo; instituir a tolerância.
Algumas propostas concretas ao Livro Verde: Um resumo
das propostas do Fazendo estará online dentro em breve,
aqui destacamos apenas algumas:
- Encontrar métodos de envolver a sociedade nos projectos
das ICC, transformando os utilizadores em criadores. A título
de exemplo destacamos o projecto open source do linux ou a
wikipedia – a enciclopédia que qualquer um pode modificar.
- Criar wikis* físicos como o Fazendo em que toda a
comunidade pode participar dando o seu contributo para um
objectivo comum – neste caso a publicação de um jornal.
- O poder local deve adjudicar de algumas das suas
competências a instituições civis através da criação de
protocolos. Um exemplo seria abrir a Semana do Mar à
comunidade atribuindo a responsabilidade de organização de
diferentes secções a diferentes grupos civis, à semelhança da
entrega da organização do Festival de Teatro ao Teatro de
Giz.O
Pedro LucasFazendo vai 2.0
“Web 2.0” é um termo cunhado em 2004 pelo norte-
-americano Tim O’Reilly referindo-se a uma nova forma de
utilizar a internet como plataforma, e não propriamente a
uma actualização das suas especificações técnicas. Já todos
nós utilizámos esta segunda geração da internet que se
caracteriza, num sentido muito lato, pela sua utilização em
redes nas quais os utlizadores são simultaneamente co-
-criadores: quem não se perdeu (ou não conhece alguém que
se tenha perdido) no universo de hiperligações presentes num
texto da wikipedia, passou meia hora no YouTube seguindo
de vídeo em vídeo ou acabou a partilhar esses vídeos, notícias
de jornais ou fotos do Flickr na sua página do Facebook. Não
há serviço na internet hoje que não dê a possibilidade de
comentar ou que não tenha associado o pequeno botão com a
palavra “share” que permite partilhar os conteúdos entre
diferentes plataformas.
Passando para o assunto que dá título a este artigo, o Fazendo
2.0 também não se trata de uma nova versão do jornal, de
uma remodulação do seu conceito ou de um novo design. A
partir de agora, na versão digital do jornal, os termos de
maior destaque nos textos conterão hiperligações para os
sites oficiais ou outros sites com informação relevante
relativa a essas palavras. Tentamos assim facilitar o
aprofundamento dos temas tratados no jornal através do
acesso à informação em rede e oferecer uma nova experiência
no seu uso.
Já agora, se não quiser contactar-nos directamente para
participar no jornal, pode sempre passar em fazendofazendo.
blogspot.com e deixar um comentário ou partilhar os
conteúdos com outras pessoas. O
*wiki é o nome a um software colaborativo que permite
a fácil modificação e edição de vários documentos.
MúsicaMúsica
03
À descoberta Rita RedshoesFausto
Redshoes tem um novo disco. Lights
& Darks foi apresentado esta semana na Fnac do Chiado, e é
o segundo trabalho da autora, chegando às lojas já na semana
que vem. Segundo a cantora, foi um parto difícil,
principalmente nas semanas iniciais do processo de
composição, onde pesou a responsabilidade de dar
continuidade ao sucesso do primeiro trabalho “Golden Era”
(2008). Diz quem já ouviu que se trata de um disco mais
directo, de canções mais orgânicas e menos orquestradas,
mantendo no entanto evidentes as influências norte-
-americanas anteriores, mas onde sobressaem mais elementos
de country e folk, e vozes soul e gospel. Para já, e no círculo
da crítica preliminar, o disco não reúne consensos, sendo por
vezes referenciado como um trabalho de altos e baixos, tanto
em termos de intensidade como de interesse. Por vezes
quando a crítica espera uma continuidade, depara-se com
uma ruptura para a qual não está psicologicamente
preparada, e reage mal. Eu cá desconfio sempre da crítica,
assim como você, caro leitor, deve desconfiar sempre do que
eu escrevo. Mas voltando ao disco, a ex-vocalista dos Atomic
Bees e teclista de David Fonseca contou com a participação
de alguns músicos convidados como Danna Colley (ex-
-saxofonista dos Morphine), José Pino (antigo guitarrista do
Conjunto Mistério) e Paulo Furtado (Wraygunn, Legendary
Tigerman), elementos que segundo a compositora têm “um
som muito específico e uma identidade bastante definida”. A
edição especial do disco inclui ainda 13 curtas-metragens
assinadas (entre outros) por David Fonseca, André Cepeda e
pela própria Rita Redshoes. Para além de ser uma das poucas
cantoras/ compositoras portuguesas, e de ter uma atitude
bastante corajosa na música, prevê-se pela crítica a este
disco que Rita Redshoes demonstre agora a sua versatilidade,
não se confinando ao universo de “Golden Era”, para o bem e
para o mal. A ouvir vamos… O
“Lights & Darks”
Rita Redshoes 2010
a hora de Rildo Hora. “Já não era sem
tempo”, dizia-se na altura. O artista ponderou, e achou que
seria aquele o momento ideal para investir na sua carreira
musical. “Estou no meu melhor momento”, afirmava após o
lançamento. Rildo Hora ressurgia então em bom estilo e com
o seu melhor aspecto de sempre, após grandiosos insucessos
como “Pickles/ Coisinha Especial”, e um interregno de cinco
anos, época em que abriu um cabeleireiro. Estávamos em
1971, e este disco foi o início de uma carreira
vertiginosamente ascendente e descendente, ascendente e
descendente do artista, altura em que se mudou para o
décimo andar de um prédio com elevador em Copacabana.
Por vezes apelidado pela crítica de fastidioso e execrável,
passando por intragável e até caricato, Rildo Hora foi um
artista incompreendido, na minha opinião, muito à frente na
sua época. Apenas o Sr. Victor da RCA, um visionário da
indústria discográfica, e eu, um miserável escritor de artigos
que ninguém lê, conseguimos entender o talento de Rildo
Hora. E assim se perdem talentos… O
Discos do Além Rildo HoraFausto
Música EsquisitaFausto
, baixo, bateria, piano? Esqueçam. São
pouco esquisitos, e estão mais que vistos. Está na altura de
você, caro leitor, inventar o seu próprio instrumento. Não
tem dinheiro? E que tal ir à lixeira? Ou usar peças do
quotidiano, já postas de parte para irem para o lixo. Pois,
mas é preciso perceber de música, pensam vocês. Depende
do grau de exigência. Não é preciso saber de música para
alinhar copos de diferentes tamanhos e diferentes
quantidades de líquido dentro, para fazer sequências de sons
cristalinos. Pode-se na realidade “brincar” com o som, sem a
necessidade de um compromisso teórico. Estão convencidos?
Eu sei que não. Obviamente que não. Bom, de qualquer
maneira, para quem quiser experimentar, aqui fica um sítio
na internet onde se poderão deliciar a ver e ouvir (há
samples) invenções musicais, e que, quem sabe, vos motivará
a experimentar. Há instrumentos para todos os gostos, peças
bonitas, feias, simples, complicadas, bizarras, transformadas,
que soam bem, que soam mal, esculturas musicais, devaneios,
sons celestiais para os nossos ouvidos, instrumentos “agora é
que ele se passou de vez”, acústicos, eléctricos, a gasolina, a
http://www.oddmusic.com/gallery/
fogo, a água, a vento… Estou certo que alguns destes
instrumentos passarão a ser universais em pouco tempo, pois
preenchem os requisitos necessários para tal: simplicidade,
manuseabilidade, versatilidade harmónica, e qualidade do
som produzido. Este site mostra o trabalho de inventores,
artistas e artesãos que pelo mundo inteiro dedicam o seu
tempo à invenção de novos instrumentos e novas sonoridades,
e é um excelente contributo para estimular a imaginação e o
aparecimento de novas ideias. Quem sabe não surgirá no Faial
uma ideia genial? O
Cinema Arquitectura e Artes PlásticasTeatro e Cinema
04
O Cinema EuropeuPedro Juliano Cota, Director da Azores Film Commission
Açores, Região Europeia
2010, e partindo de um acordo entre a Azores Film
Commission e o Governo dos Açores, através do Secretário
Regional da Presidência, entendeu-se que seria de todo o
interesse aproveitar este momento para homenagear o
Cinema e em especial, porque a ocasião a isso se presta: o
Cinema Europeu.
Assim, no passado dia 5 de Junho, precisamente na cidade da
Horta – que muito tem feito pela Sétima Arte –, inaugurou-se
um ciclo de cinema de âmbito regional, intitulado “A Imagem
da Europa”, que tem como objectivos não só promover a
Sétima Arte do Velho Continente, como demonstrar que esta
segue, muito embora as diferenças e diversidades (até
regionais), as mesmas matrizes culturais; por outro lado
mostrar que o cinema pode contribuir para uma tão necessária
construção de uma verdadeira identidade europeia. O cinema
é, por excelência, um grande veículo de comunicação de
massas. Se observarmos o fenómeno Hollywood, saberemos
que muita da construção da “imagem” que o mundo tem dos
EUA, parte de um cinema que foi capaz de construir um
imaginário nas multidões, criando paixões e ódios, mas acima
de tudo uma actividade económico-artística que foi capaz de
construir uma percepção, promovendo ao mesmo tempo uma
“imagem” daquele País. Certo é que vemos, muitas vezes, as
novas gerações a tomar por verdade o que visualizam nos
filmes norte-americanos, apropriando-se dessas ideias para a
sua realidade.
Apesar de a Europa produzir anualmente, no seu conjunto de
países, muitos mais filmes que Hollywood, infelizmente estes
não alcançam os mesmos êxitos de bilheteira que os seus
congéneres norte-americanos. E alguns desses filmes europeus
até foram premiados nos mais prestigiados festivais
internacionais de cinema, como Cannes, Veneza, Berlim ou
até mais recente, com os Prémios EFA - European Film Awards
(os Óscares do Cinema Europeu) e o Prémio Lux, atribuído
pelo Parlamento Europeu. Podemos apontar muitas razões
para esta realidade: desde as línguas originais, até às verbas
disponíveis para produzir cinema. Parece, no entanto, que os
filmes europeus, na sua origem, não são produzidos para
agradar às multidões. Relevante é ainda o facto destes filmes
carecerem de um verdadeiro projecto comercial. Muitos dos
projectos cinematográficos chegam ao seu final quando
terminada a montagem da película, negligenciando-se a
componente promocional. Componente essa que é
determinante para o sucesso de uma indústria, e que no caso
de Hollywood, conta na maioria dos casos com orçamentos
quase superiores aos da produção do próprio filme.
Na Europa, existem fundos comunitários de apoio à produção
cinematográfica (MEDIA, EURIMAGES, IBERMÉDIA, entre
outros), que têm ajudado a concretizar em alguns países
europeus (França, Alemanha, Itália, Espanha, principalmente)
projectos com retorno financeiro e sucessos de bilheteira,
que vão ajudando a consolidar uma bem sucedida indústria
europeia de cinema ou pelo menos uma actividade rentável
no plano económico nacional, em termos de mercado
internacional. Apesar de ser muito difícil aos filmes europeus,
de adoptar o modelo de produção cinematográfico norte-
-americano, a verdade é também que muitos dos projectos
da indústria de Hollywood, são “remakes” de obras deste
lado do oceano, devidamente adaptados e dirigidos ao grande
público. Aqui reside a grande diferença e um dos paradigmas
do cinema europeu: um conteúdo feito à imagem de um vasto
público ou um produto feito apenas à imagem do seu
“criador”, dirigido a um público muito restrito? O ideal seria
contarmos com o meio-termo dando um salto qualitativo,
inovando na forma e dando oportunidade aos cineastas de
criar obras de arte, sem perderem de vista o reconhecimento
do cinema europeu pelo grande público.
É indiscutível também que o desenvolvimento de uma
indústria audiovisual tornou-se crucial para todos os países do
mundo, incluindo os europeus. Trata-se igualmente de um
importante motor de desenvolvimento económico, directa ou
indirectamente para as contas nacionais. Existem alguns
casos emblemáticos deste ‘input’ económico que é importante
referir: “Braveheart - O Desafio do Guerreiro”, com Mel
Gibson (curiosamente uma produção maioritariamente
europeia) fez disparar em 300% o número de visitantes na
Escócia; cerca de 400%, foi o aumento do turismo da Nova
Zelândia devido à trilogia “O Senhor dos Anéis”; 30% da
receita do turismo na Suíça provém da indústria audiovisual;
27% dos britânicos decidem o destino das suas férias com
base nos filmes e séries que vêm no cinema ou na televisão.
De qualquer modo é urgente repensar os modelos de
financiamento à produção de cinema na Europa, de forma a
torná-lo mais rentável. Talvez seja essa a única forma de o
preservar, face à grande crise económica e ao défice
orçamental dos Estados. Na verdade, aos poucos tem
aparecido uma nova geração de realizadores e produtores de
cinema, capazes de entender esta necessidade e que
procuram inovar nos seus projectos, adoptando linguagens
mais populares, buscando a internacionalização e sinergias
de produção, apostando mais na promoção dos seus produtos
e obras. Isto também, porque os novos formatos de fundos de
apoio à actividade audiovisual começam a exigir resultados
financeiros, cedendo apenas estes apoios a título de
empréstimo.
As questões aqui levantadas e outras que se interligam, serão
alvo de uma conversa e de um debate que se vai realizar no
próximo dia 18 de Junho, na belíssima cidade da Horta,
animado por três conhecidas referências da crítica
cinematográfica e do jornalismo audiovisual: Mário Augusto
(RTP), João Antunes (Jornal de Noticias) e José Vieira Mendes
(RTP). Esperamos que reunindo estes três especialistas,
possamos ajudar a reflectir e a explicar um pouco melhor os
caminhos a seguir. De modo a preservar os valores que têm
sido preciosos no escrutínio dos nossos caminhos, dos grandes
fenómenos sociais que marcaram a evolução e a política,
desta Europa teimosa, persistente na manutenção dos seus
ideais.O
o que seria viver numa pequena casa
de madeira suspensa num lago envolto por vales. Dentro da
casa dois espaços delimitados por duas portas, mas sem
paredes, como se fossem, quisessem ser os quartos que não
são. Isto porque dentro deste sítio tudo está aberto, a ilusão
da separação é usada conscientemente pelo espírito humano.
No centro uma imagem do buda. Um velho e uma criança que
dormem no chão, a cabeça apoiada numa almofada quadrado
de pedra. A porta que dá para a rua desvela uma ilha feita de
um pequeno pátio de chão de madeira com duas pedras
esculpidas à porta de entrada. Um galo e um barco cheio de
figuras ondulantes completam a imagem. É o barco, claro,
que faz a ponte com o exterior. Foi nesse barco que chegou a
criança e antes o monge que talvez sempre lá esteve.
Nas colinas a criança aprende a lição maior da vida – que tudo
tem retorno – que todas as acções retornam à fonte. Assim
como a própria vida. Um ciclo interminável. E esse ciclo vivo
impõe uma moral. Fazes o bem, o bem volta para ti. Dás,
recebes. Ages mal, receberás o mal, mais tarde ou mais cedo.
Quem semeia ventos, colhe tempestades, diz-se por aqui. E a
criança tem de aprender. Pois a vida está toda ligada e fazer
mal a algo aqui, é fazer mal a si próprio. A criança tem de
aprender. Vai amarrando pedras, ao peixe, ao sapo e, por fim,
à serpente e ri-se. O velho mestre amarra então uma pedra
durante o sono ao corpo do menino. E diz-lhe: é dificíl não é?
Também é difícil, para o peixe, o sapo e a rã. Vai e encontra-
-os e liberta-os, pois se algum morrer ficará amarrado como
uma pedra para sempre ao teu coração. E a criança em
esforço e dor vai até ao barco e até à colina e encontra o
peixe já morto e enterra-o. Mas encontra o sapo ainda a
tentar saltar e consegue libertá-lo da pedra. E correndo para
encontrar a serpente já chega demasido tarde perante o
corpo desventrado desse símbolo animal da vida. E chora. E o
velho mestre observa com compaixão.
Mais tarde já homem, já tendo passado pela cidade, tendo
amado e assassinado por paixão, o menino retorna ao seu
mosteiro flutuante já sem o velho mestre que o libertara sem
ele saber. E antes de uma mulher misteriosa lhe entregar o
seu filho, ele sobe até à mais alta das colinas com a figura do
buda com uma pedra amarrada ao corpo. E reza.
Primavera, Verão, Outono, Inverno… Primavera, um filme de
Kim Ki-Duk
Quem se atreve a fazer o longo caminho de purificação à raíz
do mal em si próprio? O
O conto de um caminho de retornoFausto Cardoso
Arquitectura e Artes plásticas
Resquícios do tempo ou vazios por ele deixados, surgem de
forma lapidar em obras como fragmentos duma presença
VII, páginas de registos IV e V, reencontro no tempo, além
do tempo ou mesmo na série no limiar da paisagem e a
Zurbaran I e II, numa linguagem poética sublimada pelo
elemento figurativo, onde se cruzam os objectos utilitários
com a natureza morta, o retrato ou um retalho de papel.
Obras recheadas de apontamentos, conferem uma
profundidade temporal que nos deixa em confronto com a
fragilidade da nossa existência, projectada por uma densidade
dramática apreendida em jogos de contraluz deslumbrantes.
Arquitectura e Artes Plásticas
05
Memória do EtéreoLuís Menezes
Exposição temporária de Matilde Marçal
Chegamos por vezes a ter a sensação de estarmos a folhear
um álbum dos nossos registos passados, que moldaram a nossa
consciência e forçaram o nosso olhar e sensibilidade sobre o
presente.
Também nas séries de paisagens, paisagens diurnas,
paisagens nocturnas, poesia outonal ou em silêncios sem
estrelas, decorre uma delicada sensibilidade sobre o registo
de perda, de alguma angústia/solidão, na expressão do vazio
dos espaços ou “nudez” das paisagens, que assim apreendidas
se encontram ao mesmo tempo pejadas de recordações, de
onde sobressai o trabalho de uma luz inebriante que confere
uma extraordinária profundidade espacial.
De certo que se pode dizer que esta é uma pintura
contemplativa, mas vai muito para além disso, porque tem
narrativa, movimento e conduz-nos à consciência de um
mundo em transmutação. Em toda esta obra há qualquer
coisa de etéreo, que se observa e escuta de imediato e com
naturalidade.O
Fauvismo, Arte PopRita Braga
, analisar e explorar as obras de
artistas como Henri Matisse, Vincent Van Gogh, René Magritte
e Andy Warhol é o que as crianças com idades situadas entre
os 7 e os 12 anos irão fazer neste atelier de Educação para a
Arte. Utilizando diferentes metodologias, o público-alvo
descobrirá as biografias destes artistas e aprenderá a
descrever os seus trabalhos e os seus estilos, únicos em
termos de cor, design, forma e composição. Depois cada
participante experimentará recriar uma das obras destes
mestres, dando-lhe um cunho pessoal.
O atelier “Fauvismo, Arte Pop e outros Movimentos mais...”
visa promover o alargamento do direito à informação, à
cultura e ao conhecimento em diferentes segmentos
populacionais; potenciar o desenvolvimento do espírito
crítico, da imaginação e da criatividade; e desenvolver
formas de participação conducentes a identidades
autónomas.O
Nota BiográficaLuís Menezes
Matilde Marçal
Marçal é professora associada
da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa,
Membro da Academia Nacional de Belas-Artes, Investigadora
no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de
Alta Cultura e Membro da Comissão Técnica da Cooperativa
de Gravadores Portugueses.
Em 39 anos de actividade participou em mais de três dezenas
de exposições no País e no Estrangeiro, em países como:
Alemanha, Angola, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados
Unidos da América, França, Itália, Irlanda, Noruega, Polónia,
Roménia, Suécia e Suíça.
Do seu vasto currículo consta mais de uma vintena de prémios
recebidos, de que se destacam: Prémio «ex-aequo» na V
Bienal Internacional de Arte, Ibiza, Espanha (1973); Prémio
da Bienal Inter-Grafika de Berlim (1984); Prémio da Aquisição
na «European Large Format Print Making», Dublin, Irlanda
(1991); Prémio Nacional «Cordeiro Ramos» da Academia
Nacional de Belas-Artes (1992); Prémio Internazional Biella
Per LIncisione, Itália (1993); «Professores da Faculdade de
Belas-Artes (1995); «FAC» - Feira de Arte Contemporânea de
Lisboa (1997).O
28 de Junho a 1 de Julho 2010 - 10h30 às 12h -Museu da Horta
As crianças interessadas poderão inscrever-se apenas numa sessão ou em várias.as inscrições são limitadas e poderão ser feitas, desde já, por email ([email protected]) ou em papel, na recepção do Museu, das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30
E outros Movimentos mais...
Literatura Literatura
06
de Carlos LobãoCarlos Cordeiro
“História, Património e Desenvolvimento numa Cidade Insular. A Horta entre 1852 e 1883”
quem diga que a História está
na moda. Lançamento de livros, realização de comemorações,
colóquios e congressos, representações, séries televisivas…
são bem a demonstração de que a história está “viva”,
contradizendo a ideia tão comum de que a história só trata
dos mortos e, como passado que é, não serve para nada. Não
será este o momento e muito menos o local para se abordar
questões como a da “importância da História para a vida” ou
sobre os possíveis perigos do “excesso de história”. No fundo,
cada comunidade tem direito à sua própria história – melhor
– ao conhecimento da sua história. Uma história que se
pretende compreensiva, rigorosa na sua metodologia,
interrogativa mais do que explicativa e alheia a qualquer tipo
de “missão” na demanda da – possível – realidade histórica,
sempre tão fluida e provisória.
Ora, foi precisamente a partir destes pressupostos que Carlos
Lobão desenvolveu a sua investigação, balizando-a
cronologicamente entre 1853 e 1883 e tendo por foco uma
cidade insular – a “sua” Horta. Trata-se de uma obra que
resulta, no essencial, da sua dissertação de Mestrado em
Património, Museologia e Desenvolvimento, defendida na
Universidade dos Açores em 2008 e em boa hora editada pelo
Núcleo Cultural da Horta.
Não há dúvida que se trata de um trabalho importante, que
vem preencher lacunas evidentes na historiografia açoriana
relativa ao século XIX, em particular no que toca à área da
história cultural. Ainda que centrada, sobretudo, no contexto
cultural e vivencial da Horta no período referido, não deixa
de integrar o pulsar daquela cidade em contextos mais vastos,
tanto a nível insular como nacional. A sua preocupação
centra-se na problemática cultural, vincando a sua relevância
não só enquanto componente elitista e de comprazimento
espiritual dos cidadãos, mas também associada aos
“problemas que diariamente afectam os indivíduos, sendo o
suporte e o significado de uma vivência”, como bem sublinha
o autor.
No fundo – e este é, sem dúvida, um aspecto inovador da obra
que merece especial realce – os chamados “notáveis” que
povoam o universo faialense não se alheiam
dos problemas do quotidiano. Pelo contrário,
como demonstra o autor, intervêm
empenhadamente, quer através da imprensa,
quer liderando iniciativas do mais diverso tipo
em prol da “causa pública”. O associativismo
cultural, recreativo e filantrópico é pedra
fundamental na caracterização do período
estudado e é, igualmente, bem revelador da
de histórias breves, a meio caminho
entre o conto e a novela, A Casa do Fim mergulha-nos no
mundo rural de um Portugal interior, brevemente desvendado,
apenas entrevisto durante um piscar de olhos, entre a força
da vida e o abismo da morte.
A Casa do FimCatarina Azevedo
Um jardim no Faial com a ilha do Pico
ao fundo (c. 1850; in O Panorama, vol.10 ...)
Um universo estranho, povoado de magia, como se as forças
da terra habitassem mais os homens que estão isolados, ainda
presos às crenças que habitavam os antigos, ladainhas
repetidas ao longo da vida e do tempo e que acabaram por se
instalar no imaginário de cada um.
Cada história surge como espelho de um Portugal telúrico em
que se pode, invadido pelo silêncio, esperar quarenta anos
por uma palavra de amor que não vem, embora (ou talvez,
justamente por causa disso) esta seja a única realização de
um amor nunca dito; em que o suicídio é recorrente e assume
uma dimensão supra-humana, como se fosse a resposta lógica
e absoluta ao sofrimento humano; em que um homem se
mata quando o homem que o perdoou morre, como se o
horror do pecado renascesse com a morte da misericórdia,
num homem incapaz de encarar um mundo em que já não há
nenhum olhar que reflicta o perdão; em que se aceita o
destino traçado, resignadamente, “sabendo que há coisas que
jamais adianta iludir”; em que Abel e Caim ressurgem e o
carregar da culpa nunca partilhada invade a alma,
destruindo-a.
A Casa do Fim é sobretudo uma obra habitada por símbolos
infinitos da presença da morte, o filho que repete,
meticulosamente, o gesto do pai que descobriu enforcado,
como se até a morte fosse apenas um reflexo no espelho de
uma casa vazia, como se o destino fosse inelutável e como se
todos os amores que perduram no tempo fossem uma sombra
paralela da morte.
Contudo, este não é um livro necessariamente habitado pela
tristeza, apenas o confronto com a realidade do que nos
rodeia.O
importância destes “vultos”, pois serão eles, quase
sempre, as personalidades em destaque na instituição,
manutenção e progresso dessas instituições.
Carlos Lobão traz-nos também importantes informações sobre
a problemática da instrução pública e das suas vicissitudes.
Mas, se a informação “objectiva”, tanto quanto permitem as
fontes disponíveis à consulta, é uma preocupação do autor (e
em que o quantitativo não é esquecido), o facto é que o
“móbil” central da obra se mantém sempre presente: o
debate cultural acompanha todo o desenvolvimento da
temática como linha mestra estruturante do trabalho. Refira-
-se que neste contexto, uma vez mais, deparamos com a elite
local envolvida de forma empenhada e consequente na defesa
da causa da instrução pública entendida como uma questão
fortemente marcada por uma vertente humanitária.
Será também utilizando esta “metodologia” que Carlos Lobão
percorre outros temas, como as dinâmicas em torno das
conjunturas de crise e de progresso, e as problemáticas
ligadas à pobreza e aos excluídos. Em todos os aspectos do
quotidiano hortense encontramos a “realidade” e as suas
representações tal como são apercebidas e reveladas através
da leitura das intervenções dessa plêiade de homens de
cultura, que pugnam pelo desenvolvimento da sua terra com
verdadeiro espírito cívico.
Mas há ainda que destacar um outro aspecto nesta obra de
Carlos Lobão: a interligação entre o económico, o social, o
cultural e mesmo o religioso como vertentes da realidade
global que integra o todo da vida das comunidades, ao invés
de serem vistos como realidades estanques e com vida própria
fora do todo social.
Para além disso, há que evidenciar a quantidade e diversidade
das fontes de que constituem o suporte deste História,
Património e Desenvolvimento numa Cidade Insular. A Horta
entre 1852 e 1883. A História não se faz sem recurso à
documentação, é certo. Mas será bom ter a noção de que
Carlos Lobão percorreu arquivos de diversa natureza
(paroquiais, de instituições culturais, recreativas e
filantrópicas, de estabelecimentos de ensino, de filarmónicas,
além, naturalmente, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
e da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta),
consultando de forma aprofundada a imprensa local,
relatórios oficiais, opúsculos, almanaques, entre outras fontes
manuscritas e impressas. Ora, este afã na pesquisa, este
cuidado em apresentar as provas para sustentar as afirmações
conferem à obra uma solidez científica que não é demais
enaltecer.
Assim, História, Património e Desenvolvimento numa Cidade
Insular… contribui, de facto, para o enriquecimento da
historiografia açoriana, sendo igualmente certo que a
capacidade de trabalho, o rigor científico e a pertinência das
análises de Carlos Lobão exigem a continuidade do seu
trabalho de investigação, apurando a pesquisa e suscitando o
debate e a problematização das questões para patamares de
exigência ainda mais elevados. O
José Riço Direitinho
de José Riço Direitinho
Ciência e AmbienteCiencia e AmbienteFazendo ciência no Fundo do Mar
07
Eva Giacomello e Gui Menezes - DOP/UAç
montes submarinos (MSs) são estruturas
comuns nos oceanos de todo o mundo, estimando-se que
poderão existir globalmente cerca de 25 milhões2, e, nos
Açores, mais de 4503. Os MSs são estruturas geológicas
importantes, possuem normalmente uma elevada
biodiversidade e são locais de agregação de peixes e outros
organismos4. Graças a esta riqueza, grande parte da pesca
demersal e de profundidade da Região é aí desenvolvida.
Apesar de serem tão produtivos, são ecossistemas vulneráveis
à pesca, como o demonstram as histórias de rápidos
esgotamentos de vários stocks comerciais em vários MSs no
mundo5. Não obstante a sua importância, investigar os MSs,
típicos do mar profundo, não é fácil devido ao seu carácter
remoto, e por isso ainda não foram esclarecidos muitos dos
processos naturais que neles ocorrem.
É neste sentido que o DOP, em colaboração com parceiros
internacionais, está a implementar o observatório científico
Condor, para aumentar o conhecimento e melhorar a
qualidade de aconselhamento para uma gestão sustentável
dos MSs. As restrições à pesca no Condor permitirão instalar
equipamentos valiosos e recolher dados com uma mínima
ingerência humana. Desde há muitos meses que o observatório
já alberga equipamentos fundeados para medir correntes e
vários parâmetros oceanográficos, e outros que estão a
registar os sinais emitidos por peixes marcados e as
vocalizações de cetáceos. Para além das muitas campanhas
já realizadas, estão ainda previstos vários cruzeiros
científicos, para recolher imagens e organismos, estudar o
sedimento, e descrever a diversidade de peixes, crustáceos e
corais. Para além do fundo, a coluna de água e os organismos
que aí vivem estão também a ser estudados, com o auxílio de
sondas acústicas e redes.
Apesar do interesse puramente científico, a implementação
deste observatório é uma oportunidade única para testar
tecnologias, criar novas oportunidades de investigação e
estudar formas inovadoras de gestão pesqueira mais
adaptadas às características naturais dos Açores. O
Bibliografia
1. Portaria Regional n. 48/2010 de 14 de Maio de 2010
2. Wessel et al., 2010. Oceanography, 23 (1): 24-33
3. Morato et al., 2008. Marine Ecology Progress Series, 357: 17-21.
4. Morato et al., 2008. Marine Ecology Progress Series, 357: 23-32.
5. Koslow et al., 2000. ICES Journal of Marine Science, 57, pp. 548-
557.
O observatório cientifico Condor. Os equipamentos incluem: navios de investigação (1-4), veículos operados remotamente
(5,6), submarino (7), equipamentos oceanográficos (8-12), de amostragem biológica (13-16), de pesca (17,18), de telemetria
(10,19), acústicos (20,21), de amostragem de sedimento (22), de imagem (23), de mapeamento do fundo (24), de registo de
sons de animais (25).
Desde o passado dia 1 de Junho, e durante os próximos dois anos, o Banco Condor, a sudoeste da ilha do Faial, ficará reservado para a instalação de um observatório científico. É a primeira vez, no mundo, que um monte submarino é fechado à pesca para fins de investigação científica. O fecho temporário do Condor resultou de um acordo entre cientistas, pescadores e Governo Regional1.
TérmitasOrlando Guerreiro - EMCTA
térmitas são insectos da ordem
Isoptera. Esta ordem é caracterizada, como o nome indica,
por os seus indivíduos possuírem dois pares de asas idênticas.
Nos Açores, a palavra térmitas é associada a algo negativo;
no entanto, em várias partes do planeta as térmitas possuem
um papel significativamente importante para a manutenção
dos ecossistemas, nomeadamente na reciclagem de madeiras
mortas e arejamento dos solos. É verdade que as térmitas
existentes nos Açores não têm o mesmo papel na manutenção
dos ecossistemas e a razão reside no facto de serem espécies
exóticas potenciais invasoras, tendo algumas já atingido o
estatuto de ‘praga urbana’.
Na Ilha do Faial existem três espécies de térmitas: a
Kalotermes flavicollis, térmita de madeira viva ou húmida; a
Reticulitermes grassei, térmita subterrânea; e a Cryptotermes
brevis, térmita de madeira seca. As duas primeiras espécies
têm origem no continente europeu e a última é endémica da
costa oeste da América do Sul (Chile e Peru). Ambas as
espécies referenciadas se encontram dispersas pela cidade da
Horta e as duas últimas espécies (a subterrânea e a de
madeira seca) poderão tornar-se sérias pragas urbanas,
acarretando com isso graves danos patrimoniais e
económicos.
É importante, por isso, que todos os cidadãos da cidade da
Horta (e também de toda a ilha do Faial) se mantenham
informados acerca dos indícios destas térmitas em suas casas
e quintais. Quando detectados indícios da presença de
térmitas, algumas medidas deverão ser tomadas, a fim de
evitar a sua dispersão a outros locais.
Os indícios de cada uma das espécies de térmitas
referenciadas poderão ser conhecidos no sitio da Internet -
http://www.sostermitas.angra.uac.pt, onde se podem
aprender formas de combate e controlo com o intuito de
minimizar os potenciais estragos que cada espécie pode
causar.
Actualmente, o Grupo da Biodiversidade dos Açores (do Grupo
CITA-A) realiza um projecto de monitorização da espécie
Cryptotermes brevis, térmita de madeira seca, que até ao
momento mais danos causou nas ilhas açorianas. Este
projecto percorrerá todo o arquipélago, inicialmente nas
ilhas Terceira, Faial, São Jorge, São Miguel e Santa Maria,
locais onde a espécie foi detectada. Futuramente será
realizado um levantamento nas restantes ilhas do arquipélago,
procurando indícios da existência de térmitas. O objectivo é
evitar que pequenos focos de térmitas se possam tornar numa
praga de muito difícil solução. Quando detectadas no início,
as infestações de térmitas podem ser solucionadas de forma
bastante mais simples e barata. O
mais de dois séculos de baleação
intensiva que culminou na quase extinção de várias espécies
de baleias, países como o Japão, Noruega e Islândia
continuam a caçar grandes cetáceos apesar da moratória
imposta na década de oitenta que proíbe a sua captura com
fins comerciais em todo o mundo. Espécies ameaçadas, como
as baleias comum (Balaenoptera physalus) e sardinheira
(Balaenoptera borealis), continuam a ser ilegalmente
caçadas.
Os Açores, como muitas outras regiões e países, conseguiram,
de uma forma inteligente, preservar as sua memórias
baleeiras e abraçar com a mesma dedicação a actividade de
whale watching (observação de baleias e golfinhos), cada vez
mais importante para o turismo de natureza na Região.
Considerado por cetólogos como uma importante área de
concentração de cachalotes no Atlântico Norte e uma das
melhores zonas do mundo para a observação de cetáceos em
estado selvagem, o arquipélago açoriano é actualmente um
destino de eleição para os amantes de baleias e golfinhos.
Para além do seu potencial turístico, o whale watching surge
como uma valiosa ferramenta que dá a conhecer a todos os
participantes um pouco da vida de animais que habitam os
nossos mares há vários milhões de anos, sensibilizando
também para a necessidade da sua protecção e
conservação.O
Whale watching... uma alternativa inteligenteJoana Vaz-Pereira e Tiago Castro - Dive Azores
Fazendos fazendus
08
Agendaaté 25 de JulhoExposição: Banco de Artistas
Banco de Portugal
17 de Junho Encontros de Porto Pim
Workshop de Reciclagem
Sala dos Óleos, Centro do Mar | 09h30
Percursos Pedestres “Vem conhecer
a Biodiversidade do Monte da Guia”
Ponto de Encontro | Centro do Mar | 19h
18 de Junho Encontros de Porto Pim
Workshop de Reciclagem
Sala dos Óleos, Centro do Mar | 09h30
Percursos Pedestres “Vem conhecer
a Biodiversidade do Monte da Guia”
Ponto de Encontro | Centro do Mar | 19h
Abertura da Exposição
de Matilde Marçal (ver pag. 5)
Sala de Exposições da Biblioteca | 18h
Ciclo de Cinema-Imagem da Europa
Mesa Redonda com Dr. André Bradford, Dr. Mário Augusto,
Dr. João Antunes, Dr. José Mendes, Dr. Pedro Cota
Cine-Teatro Faialense | 21h
18 e 19 de JunhoCinema: “Eu amo-te Philip Morris”
de Glenn Ficarra e John Requa
Cine-teatro Faialense | 21h30
19 de JunhoEncontros de Porto Pim
Construções na Areia “Biodiversidade Marinha”
Praia de Porto Pim | 16h
Entrega de Prémios
Rampa do Museu do Centro do Mar | 21h
Concerto com Renatah Rodrigues
Rampa do Museu do Centro do Mar | 22h
GatafunhosTomás Silva - ilhascook
20 de JunhoEncontros de Porto Pim
Teatro “Montanha Russa”
Praia de Porto Pim | 17h30
Duatlo “Açoreana de Seguros”
Praia de Porto Pim | 18h30
22 de JunhoDIAS VERDES
“Compostagem Doméstica -
Aprendendo com as crianças”
Sessão de Esclarecimento
Inscrições na CMH: [email protected]
ou 292 202 040
Escola de Castelo Branco
23 de JunhoSão João da Caldeira
Mega Pic-Nic
19h30 – Sardinha assada oferecida pela CMH
21h00 – Baile com música ao vivo, Nelson Mota
23h00 – Caldo verde oferecido pela CMH
23h30 – Fogueira de S. João
Ermida de S. João | Caldeira
24 de JunhoSão João da Caldeira
12h00 – Eucaristia na Ermida
13h00 – Pic-nic com “Porco no Espeto”
oferecido pela CMH
15h00 – Encontro de folclore e Chamarritas
17h00 - Filarmónica Lira e Progresso Feteirense
18h00 – Marchas populares
20h00 – Filarmónica Nova Artista Flamenguense
21h00 - Encerramento
25 e 26 de JunhoCinema: “Homem de Ferro 2”
de Jon Fraveau
Cine-Teatro Failense | 21h30
25 a 29 de JunhoPORTO DE CASTELO BRANCO
FESTEJOS DE SÃO PEDRO
26 de JunhoReunião do Grupo de Aleitamento Materno
Hospital da Horta, Piso 3
Serviço de Obstetrícia | 15h
27 de JunhoCinema/ Animação:
“Como Treinares o teu Dragão”
de Dean Deblois e Chris Sanders | 17h
28 de Junho a 1 de JulhoAtelier de Educação para a Arte
“Fauvismo, Arte Pop e outros Movimentos mais...”
com Rita Braga (ver pag. 5)
Museu da Horta