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não é o fim do mundo

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Tiago Pereira, o festival Bons Sons e a associação cultural D’Orfeu.

A primeira edição dos Prémios Megafone, a que o mágico projecto Foge Foge Bandido, de Manuel Cruz (ex-Ornatos Violeta), se associou com uma das suas raras apresentações ao vivo, coroou os Galandum Galundaina e Tiago Pereira. Os primeiros porque fazem viver tudo o que é mirandês para lá do seu espaço e do seu tempo. O segundo, porque coloca em imagens com personalidade única os sons desta espécie de rectângulo chamado Portugal (já depois de vencer o Prémio Megafone Missão, Tiago Pereira criou o projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, profícua recolha em video e divulgação online de músicos e colectivos que dão presente e futuro à música tradicional).

Apesar de dependente de todas as vidas de todas as pessoas que a integram e que para ela contribuem com graus raros de desinteressada entrega, a Associação Megafone 5 mantém intacto o propósito com que viu a luz pela primeira vez. E é por isso que, anuncie-se agora, os Prémios Megafone regressam em 2012, para distinguir e estimular quem partilha a visão de João Aguardela e a partir dela constrói peças que intervêm nas nossas vidas.

Por outras palavras, arte.

FICHA TÉCNICA: FAZENDO - Isento de registo na ERC ao abrigo da Lei de Imprensa 2/99 de 13 de Janeiro, art. 9º, nº2 - DIRECÇÃO GERAL: Jácome Armas - DIRECÇÃO EDITORIAL: Pedro Lucas - COORDENAÇÃO GERAL: Aurora Ribeiro

COORDENADORES TEMÁTICOS: Albino, Anabela Morais, Carla Cook, Filipe Porteiro, Helena Krug, Luís Menezes, Miguel Valente, Pedro Gaspar, Pedro Afonso, Rosa Dart - COLABORADORES: Ana Correia, Pedro Gonçalves, PNF, Sara Soares,

Tomás Melo - PROJECTO GRÁFICO: Nuno Brito e Cunha - PROPRIEDADE: Associação Cultural Fazendo SEDE: Rua Rogério Gonçalves nº 18 9900 Horta - PERIODICIDADE: Quinzenal TIRAGEM: 400 exemplares IMPRESSÃO: Gráfica o Telégrapho

CONTACTOS: [email protected]

2 026 MAI. a 9 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

opinião

Associação Megafone 5

Pedro Gonçalves - Associação Megafone

APOIO:DIRECÇÃO REGIONAL DA CULTURA

Quando, em Janeiro de 2009, João Aguardela faleceu, não deixou exactamente uma obra, mas várias. Deixou todas as que se conhecem, sendo as mais visíveis e audíveis as que resultam da vida dos Sitiados, Megafone e A Naifa, mas deixou uma outra que raramente acorre à lembrança até dos mais atentos: a que não chegou a ser feita.

Por isso se juntaram diversas pessoas sob a designação Megafone 5. O projecto musical Megafone, com João Aguardela a solo a vestir músicas portuguesas oriundas de recolhas etnográficas com roupas electrónicas modernas, mais de sábado à noite do que domingueiras, deixou quatro álbuns gravados. O nosso trabalho seria o quinto disco simbólico, passe a imodéstia da ambição.

A Associação Megafone 5, não negando naturalmente a presença no seu código genético de uma vocação para a homenagem, nasce também do desejo de adivinhar o futuro. Nasce, entre amigos de João Aguardela e admiradores da forma como encarava e manuseava a música de raiz portuguesa, da recusa em aceitar que um legado é como uma pomposa condecoração que se pendura na parede para acumular anos e pó.

Não foi preciso muito para que, escassos dias depois de João Aguardela ter partido para a sua última digressão, rumo ao céu ou o que estiver lá desse lado, várias pessoas terem

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Pretendem envolver toda a comunidade na reflexão filosófica e na construção da sociedade, não apenas as pessoas directamente relacionadas com o meio escolar

capa

Ana Nobresobre a fotografia:

o espelho o que nos devolve? a superfície do real.eternamente inquietos, assistimos ao espectáculo da vida.

nunca a tocamos no seu âmago. não estamos no aberto, o espaço

informalmente começado a partilhar a ideia de que havia ainda muito a fazer. Havia que celebrar, homenagear e divulgar mais de 20 anos de trabalho do rapaz João Miguel Antunes Aguardela. Mas havia, sobretudo, que fazer algo para que esta música portuguesa que o movia continuasse a escrever-se e aventurar-se e recriar-se (em ambos os sentidos).

Presente, na génese da associação, esteve sempre a vontade de encarar o futuro. E, para fazê--lo, nada melhor que resolver o passado com uma celebração em grande, em festa, com amigos, admiradores, camaradas de ofício, melómanos anónimos, tudo quanto coubesse no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Foi o que aconteceu a 4 de Novembro de 2009, com actuações ao vivo dos Gaiteiros de Lisboa, Ó’Questrada, Dead Combo e A Naifa. E o que aí aconteceu foi também o nascimento público de uma empreitada maior e mais ambiciosa - os Prémios Megafone. Bem como o site www.aguardela.com, com tudo o que às actividades da associação diz respeito, mais a obra completa do Megafone para gozo popular gratuito e sem pecado.

Os Prémios Megafone foram, desde o embrião da ideia, encarados com os

olhos com que João Aguardela via a música dita tradicional. São prémios que visam estimular a transformação, a mudança, a passagem de testemunho entre pessoas e gerações, o encontro do passado com as crescentes possibilidades do presente e do futuro, a nova música dita tradicional. Música Para Uma Nova Tradição, como se lê na assinatura da própria associação. E são, também como tanta dessa música, colaborativos, quase cooperativos, sem meios mais grandiosos do que a

disponibilidade e a generosidade de um sem número de pessoas que acreditam na transmissão e na partilha.

Dividida entre Prémio Megafone Música e Prémio M e g a f o n e

Missão, o primeiro para reconhecer e estimular quem faz nova música, o segundo para fazer o mesmo a quem potencia e acrescenta valor à nova música que se faz, os Prémios Megafone foram desenvolvidos em menos de um ano, chegando ao palco do Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém a 17 de Outubro de 2010. Aí foram anunciados, como finalistas do Prémio Megafone Música, os Galandum Galundaina, o Experimentar Na M’Incomoda e os Bandarra. Do lado do Prémio Megafone Missão, o realizador

Os Prémios Megafone foram, desde o embrião da ideia, encarados com os olhos com que João Aguardela via a música dita tradicional.

do ilimitado, onde só não vemos o representado.

concreto, sem objecto, desconhecido, lugar incerto aberto, visível e invisível, espaço interior do mundofundo que não posso nomear, mundo que quero amar amar o aberto, amar o não-mar.

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c) Um representante do Conselho Executivo da ESMAd) Um professor do Departamento de Artes da ESMA

13. O júri, para além dos prémios atribuídos aos trabalhos que considerar de maior qualidade poderá atribuir menções honrosas que, no entanto não vincularão o jornal à respectiva publicação.

14.O júri pode deliberar não atribuir qualquer dos prémios no caso de falta de qualidade das obras em concurso.

15. Os casos omissos ou divergências na interpretação do presente regulamento serão solucionadas pelo júri.

16. Das decisões do Júri não haverá recurso.

arquitectura e artes plásticas

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1. O Fazendo está a promover um concurso para os alunos da Escola Secundária Manuel de Arriaga.

2. Podem participar no concurso todos os alunos dessa escola, independentemente da idade ou ano que frequentem.

3. Objectivo: encontrar a melhor capa para o Jornal, feita por um aluno.

4. Cada concorrente poderá apresentar um máximo de dois trabalhos.

Fazes?

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5. Os trabalhos a apresentar devem cumprir as seguintesnormas:

Tema: livreTécnica: livre (ilustração, fotografia, pintura, desenho, arte digital, colagem, etc)Dimensões: tamanho único aceite: 21 x 30 cm. No caso de trabalhos em formato digital, para além das dimensões estipuladas o ficheiro deve apresentar uma resolução de 300 dpi.Cor: são aceites trabalhos a preto e branco e a cores.

6. A data limite de entrega dos trabalhos é dia 15 de Junho.

7. Como entregar: Os trabalhos que não estejam num suporte digital devem ser entregues na reprografia da Escola. As ilustrações em formato digital devem ser enviados para o endereço electrónico do Jornal ([email protected])

8. Prémios:

1º Prémio:Publicação da Capa VencedoraPrémio monetário ZON: 100 eurVale de Compras Telégrapho: 50 eurDesconto 25% em carta de condução (carro ou mota) na Escola de Condução Atlântida

2º PrémioVale de Compras Telégrapho: 50 eurMochila Hurley, na Tabu

3º PrémioVale de Compras Telégrapho: 20eurAcessório de Moda na Kosmos

9. A decisão do júri será mantida em segredo até à saída do Jornal que publicará as obras dos premiados, assim anunciando os vencedores do concurso.

10. Direitos de publicação. As obras premiadas ficarão na posse da Associação Cultural Fazendo. Ao concorrer, todos os autores estão a autorizar a Associação Cultural Fazendo a reproduzir as suas obras e a utilizá-las em publicações ou eventos futuros.

11. Devolução dos trabalhos não premiados. Os trabalhos não premiados podem ser recolhidos pelos autores na reprografia da escola, a partir de uma semana após a divulgação dos premiados. Esta cláusula não se aplica a trabalhos entregues em formato digital.

12. O júri terá a seguinte composição:a) Um representante da Direcção do Jornal Fazendob) Um colaborador da Página de Artes Plásticas do Jornal Fazendo TABUTABU

2º concurso de capas do Fazendo

Nasceu em Lisboa em 1971. Actualmente, vive e trabalha em Lisboa e Berlim, cidades que acolhem o seu processo criativo, muitas vezes vindos de outras cidades por onde passa e arrasta memórias e vivências, transformando imagens e objectos em novas situações ditadas por alguma melancolia pacífica.

O trabalho de Rui Calçada Bastos tem três eixos principais: a instalação, o vídeo e a fotografia. No que diz respeito às imagens que mais me atraem, não consigo distanciá--las da estética e da linguagem característica que vamos absorvendo do cinema europeu. E a reacção do espectador passa invariavelmente,

a meu ver, por tentar conjugar as narrativas metafóricas do artista, ligar o seu discurso, estabelecer linhas condutoras que o deixem divagar pelos percusos do autor nessa penumbra que o leva a memórias passadas, situações já vividas, sensações já experimentadas e que, ainda que inconscientemente, lhe são

familiares, como se de uma espécie de ‘dejá vu’ se tratasse.Rui Calçada Bastos formou-se nas Belas-Artes de Lisboa e do Porto e fez outras formações relativas às artes visuais em Lisboa. Participou em residências artísticas em Paris e Berlim e tem levado a sua obra a vários países nos diversos continentes.

Rui Calçada Bastos

Ana Correia

artista plástico português

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Na sua definição mais elementar, diz-se que a música provém da necessidade do homem imitar os sons da natureza. Na nossa génese, somos uns seres brincalhões, como os macacos. Passaríamos a vida a brincar, se não tivéssemos complicado isto tudo para nos podermos suportar uns aos outros. Na verdade, o complexo sistema de vida em sociedade que criámos transporta-se também para a música - para que serve, o que fazemos dela, e como a fazemos.

Ainda que poeticamente a definição primordial possa fazer sentido, já na antiguidade os hominídeos começaram a utilizar a música como forma de comunicação, surgindo desde logo a necessidade de ordenar sons. Do ordenamento de sons surgiu o que é a música da era moderna. Combinações mais ou menos aleatórias, mais ou menos padronizadas, mais ou menos matemáticas e geométricas de sons e silêncios, ritmos, cadências, timbres, que trabalham todas em conjunto para nos proporcionar uma determinada emoção ou sensação. O próprio sistema modelador da vida em sociedade também criou linguagens musicais universais, fixou eventos paradigmáticos e estabeleceu-os como regras ou referências na construção musical.

No dito mundo ocidental foi-se mais longe, estabelecendo-se para os temas musicais estruturas bem definidas, com uma sequência lógica de partes, e com uma duração confinada a um intervalo de tempo devidamente balizado. Este fenómeno desenvolveu-se na era industrial, com epicentro nos grandes meios urbanos, numa altura em que a música passou a ser um objecto de comercialização massiva.

Mas muito antes disso se tinham percebido as potencialidades da

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música e a forma como exerce um grande poder ao nível emocional. Na antiga Grécia, por exemplo, a música era usada para encorajar os soldados, através de composições definidas para o efeito. Possibilitava aos líderes a manipulação dos estados de ânimo dos mesmos, transformando situações desanimadoras em momentos gloriosos. Já no século XIX, Richard Wagner introduziu nas suas óperas o conceito de leitmotiv. O seu significado genérico expressa--se por uma causa lógica c o n e c t i v a entre dois ou mais entes q u a i s q u e r (wikipedia).

A p l i c a d o à música, c o n s t i t u í a uma técnica de composição baseada no uso de um ou mais temas que se repetiam sempre que se encenava uma passagem da ópera relacionada a um personagem ou acontecimento específico. Wagner usou o leitmotiv pela primeira vez na ópera “O Navio Fantasma”, e posteriormente em várias outras obras. Mais tarde esta técnica estendeu-se a compositores como Verdi, Nabucco e Bizet.

Actualmente o uso do leitmotiv transcende o universo das óperas, e universalizou-se através do cinema e da televisão. Extravasou para a publicidade, para a política, a religião, etc, estabelecendo um vínculo indissociável entre um acontecimento e a música por todo o globo terrestre.

Como resultado, ouve-se música a mais e na esmagadora maioria de qualidade duvidosa ou mesmo má. Mas pior do que isso é a forma manipuladora com que a música é utilizada hoje em dia, e com

resultados comprovados.

Na era em que intelectuais de secretária elaboram estudos para tudo e mais alguma coisa, tem sido muito estudado o comportamento humano em relação ao som, o que tem possibilitado a criação de produtos de mercado que geram no ser humano efeitos perversos de manipulação através da música, quer incitando o consumo de produtos, quer vendendo uma imagem ou até mesmo uma ideia

ou crença. Muitas das vezes, o poder da música é tão subliminar que nem lhe p r e s t a m o s atenção.

Quando por e x e m p l o e n t r a m o s numa loja de

produtos de luxo, a música é calma e relaxante, convidando o cliente a permanecer o máximo de tempo possível. Já nas grandes superfícies comerciais, como hipermercados, onde é importante que se compre rápido para dar lugar a outros, a música geralmente tem um ritmo mais acelerado. Se à saída da loja ou do supermercado alguém lhe perguntar que música passava enquanto fazia compras, o cliente não faz a mínima ideia, mas ela estava lá a cumprir o seu papel.

Para acabar, e num contexto de uma certa actualidade: a política dos nossos dias é pródiga em estratégias obscuras e manipuladoras para fazer passar uma mensagem aos cidadãos e potenciais votantes. Fazendo face à manifesta falta de conteúdos e ideias que assola a generalidade da classe política, ela utiliza estratagemas perversos de manipulação de massas, onde a música desempenha um papel determinante. Os discursos inflamados e entradas

triunfantes dos políticos em comícios ou congressos, são sempre acompanhados de trechos musicais de toada heróica.

Quem não se lembra do som sinfónico de Vangelis da era de Guterres? Ou a comovente banda sonora da campanha de Santana Lopes – O Guerreiro Menino – que sugeria o protagonista político como um homem carente e sensível. Ou no último congresso do partido socialista, onde se assistiu a um puro espectáculo de kitsch político à custa de alguns temas musicais que enfatizavam os já empolados acontecimentos. Desde a banda sonora de 2001 Odisseia no Espaço, à entrada do secretário do partido ao som de “The Battle” do filme Gladiator, com a plateia aos gritos de puro histerismo artificial, Richard Strauss na parte final para a apoteose do vazio, e o tema do filme Out Of África do recentemente falecido John Barry, aquando do vídeo das mensagens de apoio de históricos do partido, uma música calma, contemplativa, madura, de tonalidades menores, e com uma carga emocional nostálgica – perfeito!

A música acompanha-nos de uma forma tão permanente nas acções do dia a dia, que sem nos apercebermos estamos a deixar de ouvir música por ouvir música, na mais pura das abstracções e sem a influência de factores externos à própria música.

Muitas vezes, optamos pelo silêncio para descansarmos do mundo lá fora, e a “nossa” música passa a sofrer de solidão. Mas logo de seguida ligamos a televisão e ouvimos a música que todos os dias nos dão nos noticiários.

Mundo estranho este.

Mas pior do que isso é a forma manipuladora com que a música é utilizada hoje em dia, e com resultados comprovados.

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cinemae teatro

“Two households, both alike in dignity,In fair Verona, where we lay our scene,From ancient grudge break to new mutiny,Where civil blood makes civil hands unclean.From forth the fatal loins of these two foesA pair of star-cross’d lovers take their life;Whole misadventured piteous overthrowsDo with their death bury their parents’ strife.The fearful passage of their death-mark’d love,And the continuance of their parents’ rage,Which, but their children’s end, nought could remove,Is now the two hours’ traffic of our stage;The which if you with patient ears attend,What here shall miss, our toil shall strive to mend”.

Este é o prólogo da mais conhecida tragédia de Shakespeare e é igualmente a introdução da adaptação cinematográfica de Romeu e Julieta realizada em 1996 por Baz Luhrmann, sendo o narrador uma pivot de um noticiário televisivo.

Noticiário televisivo?

Sim, leram bem. “Romeo+Juliet” é uma versão moderna da tragédia, mudando de tempo e de cenário, mas mantendo os diálogos originais. Da cidade de Verona (Itália) passamos para a cidade de Verona Beach (Estados Unidos). De meados do séc. XVI passamos para a década de 90 do séc. XX. As duas famílias rivais não pertencem já à aristocracia sendo, no entanto, poderosos capitalistas. As armas já não são punhais nem espadas, mas sim pistolas automáticas da marca “Dagger” e espingardas da marca “Long Sword”. “Prince” não é o título da autoridade máxima do principado mas sim o apelido do comissário da polícia de Verona Beach. Mercutio, o melhor amigo de Romeu, é uma incrível drag queen que vive de forma intensa e dramática, quer se esteja a divertir ou a amaldiçoar as famílias rivais. Explosões, velocidades alucinantes, duelos dignos de um bom western, muita cor e, principalmente, muitos ícones religiosos constituem esta versão pop de Romeu e Julieta.

“Romeo+Juliet” é o resultado de uma linguagem televisiva baseada nos videoclips da “MTV”, que tanta influência teve na geração de adolescentes dos anos 90. Este filme

Romeo +

Juliet Miguel Valente

não é um clássico, é um filme kitsch, destinado a um público específico. Mas kitsch não significa piroso e este é um bom exemplo dessa grande diferença. “Romeo+Juliet” é um filme pop com tendências comerciais, tal como eram as peças de Shakespeare antes de serem intelectualizadas. A opção de manter os textos originais, pondo todas as personagens a declamar em inglês quinhentista rodeadas de elementos contemporâneos resulta de forma perfeita, mantendo o romantismo e poesia da peça de Shakespeare apesar de todo o ambiente pop.

A adaptação das situações e cenários é excepcional ao ponto de manter actual um texto escrito há quatrocentos anos, mesmo quando o assunto é relativo a drogas sintéticas. Os diálogos entre Romeu e Julieta mantêm a frescura e poesia do texto original, e mesmo cenas sem texto tornam-se memoráveis, sendo o primeiro contacto entre os amantes uma delas. Esta mesma cena é uma clara homenagem à versão de Zefirelli (1968), em que o jogo de esconde e descobre ao som de uma canção ao vivo se mantém, mas o elemento que permite esse jogo passa a ser um aquário de peixes tropicais em vez de um grupo de convidados. “Romeo+Juliet” é um filme excessivo e intenso, como excessiva e intensa é a paixão dos adolescentes.

Por todas estas razões, desta tragédia esta é a adaptação cinematográfica da minha eleição, principalmente se for vista no grande écran.

Os gémeos Castor e Pólux, também conhecidos como os Dióscoros, têm, mais uma vez, origem numa infidelidade de Zeus. Numa noite e sob a forma de um cisne, o pai dos deuses gregos uniu-se a Leda. Mas nessa mesma noite ela ainda fez amor com o seu marido Tíndaro. Passado algum tempo Leda põe dois ovos. De um nasceu Pólux e Helena (a de Tróia), filhos de Zeus. Do outro, Castor e Clitemenestra, filhos de Tíndaro. Os dois rapazes, fortes e guerreiros, participaram em várias batalhas. Existem diferentes versões para a causa da sua morte, envolvendo roubo de gado e rapto de donzelas, mas todas elas referindo que morreram em combate. Pólux, devido às suas origens divinas, tem direito a lugar no céu, que não aceita se não puder levar o seu irmão (que de outra forma iria para o inferno). Zeus permite então que os dois partilhem em dias alternados a sua presença entre os deuses.

Já na antiga Babilónia a constelação se chamava “Os grandes gémeos” e representava dois deuses menores, vindos das profundezas. Uma parte das estrelas de Gémeos pertence à constelação chinesa do Tigre Branco do Oeste e a outra parta à Constelação do Pássaro Vermelhão do Sul.

Castor e Pólux são os nomes das duas estrelas mais brilhantes da constelação. Suficientemente próximas uma da outra e com tamanhos semelhantes, é fácil perceber o motivo da associação a um par de gémeos. E é curioso saber que uma delas, Castor, é uma estrela dupla notável. Foi Herschel que descobriu no séc. XIX que o que parecia ser uma estrela eram afinal duas. Hoje sabe- -se que junto a essas duas existe uma terceira estrela e que cada uma das três é por sua vez... uma dupla! Castor é portanto um sistema sêxtuplo.

Gémeos, após a eclosão do Carneiro e a encarnação do Touro, vê agora a vegetação estender-se para o ar, com os seus ramos e folhagens, desdobrando-

-se em diversos sentidos e direcções. É a descoberta da mobilidade, da flexibilidade. Ora tomando uma personalidade, ora outra, vai-se adaptando, descobrindo, procurando sempre reavaliar-se e reinventar-se, como se não fosse um só, mas dois (ou mais) ao mesmo tempo.

O pimeiro signo do zodíaco, Carneiro, é fogo. Touro é terra. Gémeos é portanto o primeiro signo de ar. Mas que significam estes elementos? São uma forma simbólica de agrupar signos que têm características comuns. Os signos de fogo (quente e seco) estão associados a um comportamento combativo, desejoso de vitória, de realização. Os de terra (frio e seco), demonstram solidez, concentração, duração e resistência. Os de ar (húmido e quente), mais gasosos, mais livres, dispostos a influências e a trocas. O quarto elemento, a água (frio e húmido) caracteriza-se com a instabilidade e a maleabilidade, pouca acção, lugar ao sonho, à imaginação.

Os quatro elementos, tal como os doze signos e outros métodos de catalogação são sistemas desenvolvidos há milénios para compreender o mundo que nos rodeia e a forma como interagimos com ele. Cada cultura tem a sua forma de representar o mundo e a vida, de relatar aquilo que vê e as ligações que encontra entre pessoas, matérias, ideias e os outros seres vivos. Sinais, símbolos, signos, são resumos, são pistas, pontos de apoio, mnemónicas para sistematizar conhecimento.

A astrologia é um complexo sistema que associa movimentos celestes e terrestres com outros planetas, elementos alquímicos, mitos, lendas, estados de espírito, anatomia, física, matemática, crença, dúvida, análise, previsão e muita polémica. Mais humano do que isto, só errar.

Para acabar e voltando ao signo: Fernando Pessoa era um Gémeos. Um não. Muitos! E gostava de astrologia.

Gémeosauróscopo

22 de Maio a 22 de Junho

Aurora Ribeiro

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literatura

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Pedras Negras

Genuíno MadrugaCarla Cook

entrevista

“O Mundo que eu vi” da autoria do navegador Genuíno Madruga foi lançado a 20 de Maio num porto mítico para a navegação oceânica: o Peter Café Sport. Trata-se de um livro que resulta da evocação da sua primeira volta ao mundo iniciada em 2000, mas sobretudo do relato da segunda volta começada em 2007, viagens estas feitas a bordo de um veleiro, talvez profeticamente baptizado “Hemingway”. Obra essencialmente descritiva – para o que muito contribuem as dezenas de fotografias – de um homem pragmático, que aqui regista pormenores de navegação e de percurso, narra histórias de encontros e de vidas, comenta um mundo revelador que o surpreende e se surpreende com ele como acontece em todas as situações em que interagem diferentes culturas. Conjunto de memórias e de experiências de um périplo marítimo, este livro insere -se na chamada Literatura de Viagens, para a qual os portugueses tanto contribuíram desde os tempos idos das Descobertas.

O que o levou a querer escrever “O Mundo que eu vi”? A necessidade de fazer um diário de viagem que ficasse para a posteridade ou a vontade de partilhar um pouco do que viveu com quem não pode partir à aventura?

Este é um projecto que já tem muitos anos. A primeira parte do livro foi escrita ainda à mão e nem pensava em computadores. Escrevia sobre coisas que vivia na pesca, sobre sítios que fui vendo, pessoas que fui conhecendo na época. Estamos a falar dos idos anos 60. Depois, surgiram as duas viagens. E também escrevi para dar resposta às muitas pessoas que me perguntavam “Então, Genuíno, e quando é que fazes um livro?”. Todas estas coisas somadas acabaram por resultar neste livro.

A primeira parte do livro é a sua história, tem detalhes da vida do Genuíno, da sua família e do seu sonho. Até nesse sentido, é um livro pessoal e íntimo. Não sentiu receio de se expor demasiado? Afinal, um navegador solitário é, por definição, um homem recatado e ensimesmado.

Não, não creio que se dê esse caso. Muitas das coisas que escrevi não são coisas assim tão pessoais quanto isso. Não escrevi nada que não possa ser do conhecimento geral. Haverá outros aspectos que não constam ali… Talvez um dia, pense em escrevê-los, mas para já não. Não sou escritor.

O fundamental deste livro parece-

-me minimamente conseguido: quis deixar um registo das coisas que vi, desde os primeiros tempos em que construí o meu primeiro barco. Este livro é isso mesmo.

Há muitos mitos acerca de navegar em solitário. Diz-se que há momentos em que o deserto do mar pode ser difícil. Nessas alturas, um livro ajuda?

No meu caso pessoal, posso dizer que, nessas alturas, as companhias que tive foram os livros que tinha a bordo, alguns que fui também adquirindo pelo caminho e outros de amigos, e as minhas músicas…

Excepto alguma ave que, de vez em quando, procurasse o Hemingway. De resto, não havia mais nada. O mar, o céu, as estrelas de noite e o sol durante o dia, que, por vezes, escalda imenso… Mais nada. É preciso ter as ideias bem arrumadas para navegar sozinho!

Aproveito para perguntar: um homem do mar que escreve um livro de viagens pretende alcançar que tipo de público – outros homens do mar, todo o tipo de gente com sede de aventura, pessoas interessadas em culturas diferentes… Que expectativas tem em termos de leitores?

Creio que o livro, escrito por mim que não sou expert nas Letras, é acessível a qualquer um. Não é especialmente dirigido a ninguém. Embora me pareça, e não vejo nisso mal, que muitos dos meus companheiros do mar e da pesca possam efectivamente ter interesse nele e entender muito do que ali escrevi.

Há partes muito curiosas no livro. Notei que encontrou açorianos em muitos dos sítios por onde passou. Aliás, a aventura da viagem começa exactamente pelo encontro de um faialense que mora em Cabo Verde.

Corrobora a frase “os açorianos estão por todo o lado”?

Sim, é mais ou menos verdade! É bom ter em conta que já Joshua Slocum na sua viagem em solitário à volta do mundo em meados do século XIX, passa pela Terra do Fogo e já relata aí um encontro com um açoriano. Passa também pelas Ilhas de Robinson Crusoé no Pacífico e relata um encontro que teve com um açoriano da Ilha de São Miguel, um tal Manuel Carroça que vivia naquela ilha com uma brasileira que tinha para lá levado do Rio de Janeiro. Estamos em 1880, mais ou menos. Esse açoriano era conhecido por “Rei” porque era o único naquelas ilhas que falava inglês. Ou seja, era um indivíduo que saíra dos Açores na altura da emigração baleeira e acabou por chegar àquela ilha perdida no Pacífico.

Na minha viagem, não tive qualquer oportunidade de ir a esta ilha, embora tivesse muita vontade. Passei sempre lá de noite… Aquilo é uma base chilena, portanto não somos autorizados a entrar nem a sair de noite.

Mas encontrei vários. Por exemplo, a família Silva e a família Pereira que vivem na Samoa Ocidental. Da parte da família Silva, soube pelo padre Silva, que o bisavô tinha vindo “das ilhas e que tinha andado numa baleeira”. À partida, seria oriundo daqui dos Açores.

Na África do Sul, tive o prazer de um dia, à tarde, ser visitado pelas duas únicas açorianas que lá vivem: Maria de São João, da Ilha de São Jorge, e Maria Romana, da Ilha Terceira.

Isto são exemplos. Como se sabe, antes da emigração para a América do Norte que começou com a baleação, houve um grande f luxo de emigração açoriana para o Brasil. No Brasil, ainda se podem ver muitos vestígios açorianos. Quando estive no município de Alcântara, no Estado do Maranhão, encontrei um doce chamado “espécies”!... Das duas uma: ou as nossas “espécies” vieram de lá… ou fomos nós que levámos para lá as “espécies”. Portanto, há também muitas marcas açorianas importantes por esse mundo fora.

Há momentos em que encontra pessoas que já encontrara aquando da sua primeira viagem. Nota-se que essas experiências de reencontro, algumas com pessoas muito humildes, tiveram uma forte importância humana para si pelo destaque que lhes dá nesta sua obra.

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Carla Cook

É preciso ter as ideias bem arrumadas para navegar sozinho!

Pedras Negras, assumidamente parte de uma trilogia que inclui também os romances Mar Rubro e Mar p’la Proa, é o livro mais emblemático de Dias de Melo, estando traduzido para inglês e japonês. Publicado em 1964, o romance é bem o retrato de um mundo pequenino de janelas abertas para o mar, cuja história salgada e escura é surpreendentemente elevada ao universal pelos seus contornos trágicos. A baleação e todo o seu aparato dramático ocupam lugar central. O protagonista é Francisco Marroco, cujas dificuldades são grandes em encaixar-se naquele mundo(inho) pesado, injusto, ganancioso e mesquinho, dividido ao meio para poderosos e trabalhadores, com pesos diferentes para ambos. Também aqui se aborda a sempre eterna porque sempre actual problemática da emigração do ilhéu que vê a América como uma namorada caprichosa, que ora lhe dá carinho ora lhe mostra as unhas. Depois, os retornos a casa, os ajustes de contas, as vítimas que passam a algozes, as rebeldias que têm de ser castigadas numa realidade que não suporta e inveja novidades. O tempo como senhor dominante, fazendo e desfazendo, em ciclos que não se quebram.

O “homem do cachimbo” nasceu na Calheta do Nesquim da Ilha do Pico em 1925, morrendo em S. Miguel – na cidade onde viveu grande parte da sua vida - em 2008. Professor em Ponta Delgada, exerceu a profissão também em Lisboa, para onde foi obrigado a “exilar-se” aquando da perseguição que lhe foi feita antes do 25 de Abril. Nessa sua estadia, colaborou assiduamente com o Diário de Notícias. Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Mário Soares. É unanimemente considerado o escritor da faina baleeira, motivo maior das suas obras numa carreira literária de meio século.

de Dias de Melo

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ciência e ambiente

http://fazendofazendo.blogspot.com 26 MAI. a 9 JUN. 2011 7

Genuíno Madruga

O Jardim Botânico do Faial, que celebrará o seu 25º aniversário no próximo dia 18 de Junho, tem sido alvo de algumas reestruturações de importância basilar para os projectos de educação e conservação da flora nativa dos Açores.

Entre um novo centro de visitantes e um renovado herbário, até à criação do primeiro banco de sementes de espécies endémicas dos Açores, este espaço dá agora mais um passo, poder-se-á dizer, até, talvez o maior desde a sua concepção em 1986. Desta forma, no passado dia 22 de Maio, dia Mundial da Biodiversidade, o Jardim Botânico abriu as suas portas ao público no âmbito da inauguração da sua ampliação e reestruturação.

Das várias intervenções, destacam--se a instalação de sistema de rega, melhoramento da drenagem dos passeios e o acerto estético de alguns pormenores; no entanto, o maior reparo vai para uma nova área, onde, acrescentando substancialmente o espaço de visitação, são recriados sete habitats e zonas de flora característicos dos Açores, divididos por tipos e altitudes, onde dominam essencialmente as plantas herbáceas.

Esta nova área começa por um habitat costeiro de calhau rolado e acaba num habitat que simula as zonas húmidas, muito idêntico ao que se poderá encontrar na Caldeira do Faial.

Outra novidade é a definição de um espaço dedicado às culturas agrícolas tradicionais que tiveram impacto na economia da região desde o século XV até aos dias de hoje.

Um pouco mais oculta, mas, diríamos, até, das mais importantes intervenções, foi a renovação do laboratório e banco de sementes, onde, actualmente, se conservam com controlo de temperatura, humidade e luz, cerca de um terço das setenta e quatro espécies endémicas dos Açores e algumas cultivares tradicionais do arquipélago, revelando-se um instrumento essencial para a conservação da biodiversidade.

Sugerimos a todos os leitores que não deixem de passar por aqui para apreciar e contemplar, concentrado num único local, o mundo das plantas insulares e, quem sabe, degustar uma infusão feita com as ervas aromáticas do jardim.

Obviamente. Por exemplo, refiro um caso que envolve pescadores. A primeira vez que cheguei à Ilha de Rodriguez, cheguei sem mastro devido a ter passado por uma tempestade violenta no Índico.

Tive a ajuda de pescadores locais e apanhámos um bambu para improvisar um mastro que me permitisse fazer mais mil e tal milhas. Pescadores e suas mulheres arranjaram velas, limparam, enfim… Trataram das coisas. Quando agora passei pela segunda vez na Ilha de Rodriguez, um deles – o Manuel – assim que soube que eu tinha chegado, veio logo trazer-me de prenda um grande saco de tomates. Tive muitos momentos marcantes a nível humano nesta viagem… Uma família com quem criei um relacionamento mais próximo nas Ilhas Fiji, gente da África do Sul, outros das Marquesas,… de todo o lado. Também, na primeira viagem, fiz uma palestra para uma escola; na segunda, encontrei alguns dos miúdos e isso foi importante.

Pessoalmente, creio que alguns dos momentos mais interessantes do livro estão no que poderíamos designar por “choque de culturas”. Recordo, por exemplo, a aguardente do Pico que deu a provar nas Ilhas Fiji e que tanta confusão causou. No fim de tudo isto, que lhe parece: as diferenças culturais deste mundo são inultrapassáveis?

Não, não, cuidado! Todos falamos a mesma língua. Por exemplo, no mar. Quer se trate dos que andam em barcos altamente sofisticados quer se trate dos que andam nas canoas da Polinésia, todos os que andam no mar falam a mesma língua, apesar de falarem diferentes idiomas. Há coisas que todos entendem sem ser necessária muita explicação.

Claro que, nos dias que correm, põem-se situações muito complicadas às pessoas: cada vez há menos peixe - nos Açores e em todo o mundo -, cada vez há maiores dificuldades, cada vez há um maior fosso entre os maiores e os mais pequenos … É uma situação que vai explodir um dia destes, quando as pessoas estiverem demasiado encostadas à parede.

O que foi mais difícil: dobrar o Cabo Horn… ou escrever este livro?

Ah, são coisas completamente diferentes. Mas se navegar o Hemingway e passar o Cabo Horn, conseguir sair dali para fora, saber do vento, da neblina, do mau tempo, foi

difícil… escrever o livro também teve situações complicadíssimas. Teve gritos e situações de vária ordem, até porque eu não estava habituado a escrever. Para além disso, houve vezes em que eu queria escrever uma coisa e a Beatriz entendia que ficava melhor outra. Mas o que importa, no fim de tudo, é que, com bom ou mau tempo, o Cabo Horn passou-se e o livro também se escreveu!

Gostaria de transmitir mais alguma coisa acerca deste livro ou de outros projectos futuros?

Há sempre projectos; o problema é haver meios para os concretizar.

O livro aí está – as pessoas agora podem ver muito daquilo que passei e, no fundo também, daquilo que sou. Outros tê-lo-iam escrito de outra forma; mas eu fiz uma coisa simples. A primeira parte trata da minha vida mas não só. Trata também da vida e da faina da pesca naquela época, nos anos 60. Por muito difícil que a vida no mar hoje seja (e é evidente que é e que muitas coisas têm mesmo de tomar outro rumo), essa vida não tem comparação com aquilo que era nesses tempos. Os próprios pescadores não têm nada a ver com aquilo que eram nessa altura.

Naquele tempo, a maior parte dos pescadores eram analfabetos. Ser um pescador ou um homem do mar não era um desejo de muita gente; os pais não queriam isso para os filhos.

Eu tive muitas dificuldades para andar no mar, porque isso era considerado uma desonra para a família e uma condenação à miséria, talvez até à fome. Isto que acontecia naquela altura não tem rigorosamente nada a ver com o que é a pesca hoje em dia. Há dificuldades, sim. Mas temos outras condições e formas de ultrapassar as coisas más. Considero que a pesca e, acima de tudo, o mar são muito importantes para a economia e para o desenvolvimento destas ilhas.

Vivemos numa situação de privilégio: dum lado, a Europa, do outro, as Américas do Norte e do Sul – isto não está a ser devidamente explorado. Temos uma água limpa. É certo que temos maus invernos, mas os verões são bons. E temos paz e segurança numa área enorme de mar que tem de ser tratada pelos açorianos e não por gente de fora. Se os açorianos não o fizerem, vão vir pessoas que o farão…

É preciso ter as ideias bem arrumadas para navegar sozinho!

PNF

Inauguração da ampliação e reestruturação do

Jardim Botânico do Faial

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até SÁB. 25 JUN.exposiçãoHOCHZEITde Eugénia RufinoMuseu da Horta

até QUI. 30 JUN.exposiçãoAZUL, AZULINHO, AZULÃOresultado da oficina de pinturacom Margarida MadrugaBiblioteca Pública - 9h às 19h

SEX. 27 MAI.músicaCONCERTO DIDÁTICOpelos alunos doConservatório Regional da HortaIgreja da Ribeira Funda - Cedros

Gatafunhos Tomás Melo

Gatafunhos Tomás Melo

a partir de 5 NOV.exposiçãoEVOLUÇÃOresposta a um planeta em mudançaCentro de Interpretação do Vulcão

até 26 NOVexposição temporáriaA REPÚBLICA - IDEIAS E VALORESBiblioteca PúblicaSeg. a Sex. - 10h às 17h30

até 31 DEZ.exposiçãoAPROXIMAÇÕESde Jorge BarrosBiblioteca Pública - 18h

SEX. 12 NOV.Biblioteca PúblicamostraLABJOVEMBiblioteca Pública - 18h

TER. 16 NOV.cinemaO FIM DA LINHAde Rupert MurrayAuditório do DOP - 21h30

QUI. 18 NOV.lançamento do livroVIDAS SEPARADAS PELO MARde Sheila CalgaroBiblioteca Pública - 19h

SÁB. 20 NOV.recitalFLAUTA E PIANOTeatro Faialense - 21h30

DOM. 21 NOVcinemaTOY STORY 3de Lee UnkrishTeatro Faialense - 17h

cinemaSALTde Philip NoyceTeatro Faialense - 21h30

fazendus

8 11 a 25 NOV. 2010

Ilust

raçã

oTo

más

Silv

a

faial

HortaLegenda

Serviços Públicos1 - Cais de Embarque2 - Hospital3 - Posto de Turismo4 - Biblioteca5 - Museu6 - Câmara Municipal7 - Correios8 - Mercado Municipal9 - Piscinas Municipais

Percursos Pedonais1 - Sra. da Guia2 - Miradouro dos Dabney3 - Praia de Porto Pim4 - Monte Queimado5 - Da ribeira à Torre do Relógio6 - Parque da Alagoa

Comércio1 - Ourivesaria Olímpio2- ZON Açores3- Alberg. Estrela do Atlântico

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Ourivesaria OlímpioLg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta

Tel. 292 292 311. [email protected]

Loja ZON AçoresRua de Jesus, Matriz, 9900 Horta

Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Calçada Santo António 1 9900-135 HortaTel. 292 943 003 [email protected] www.edatlantico.com

Agenda

8 26 MAI. a 9 JUN. 2011 http://fazendofazendo.blogspot.com

AgendaMai. / Jun.

Gatafunhos Tomás Melo

a partir de 5 NOV.exposiçãoEVOLUÇÃOresposta a um planeta em mudançaCentro de Interpretação do Vulcão

até 26 NOVexposição temporáriaA REPÚBLICA - IDEIAS E VALORESBiblioteca PúblicaSeg. a Sex. - 10h às 17h30

até 31 DEZ.exposiçãoAPROXIMAÇÕESde Jorge BarrosBiblioteca Pública - 18h

SEX. 12 NOV.Biblioteca PúblicamostraLABJOVEMBiblioteca Pública - 18h

TER. 16 NOV.cinemaO FIM DA LINHAde Rupert MurrayAuditório do DOP - 21h30

QUI. 18 NOV.lançamento do livroVIDAS SEPARADAS PELO MARde Sheila CalgaroBiblioteca Pública - 19h

SÁB. 20 NOV.recitalFLAUTA E PIANOTeatro Faialense - 21h30

DOM. 21 NOVcinemaTOY STORY 3de Lee UnkrishTeatro Faialense - 17h

cinemaSALTde Philip NoyceTeatro Faialense - 21h30

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Serviços Públicos1 - Cais de Embarque2 - Hospital3 - Posto de Turismo4 - Biblioteca5 - Museu6 - Câmara Municipal7 - Correios8 - Mercado Municipal9 - Piscinas Municipais

Percursos Pedonais1 - Sra. da Guia2 - Miradouro dos Dabney3 - Praia de Porto Pim4 - Monte Queimado5 - Da ribeira à Torre do Relógio6 - Parque da Alagoa

Comércio1 - Ourivesaria Olímpio2- ZON Açores3- Alberg. Estrela do Atlântico

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Ourivesaria OlímpioLg. Dq. D’Ávila e Bolama, 11 9900-141 Horta

Tel. 292 292 311. [email protected]

Loja ZON AçoresRua de Jesus, Matriz, 9900 Horta

Segunda a Sexta, das 9h00-13h00 e 14h00-17h30

Calçada Santo António 1 9900-135 HortaTel. 292 943 003 [email protected] www.edatlantico.com

Agenda

encontroCOMUNIDADE DE LEITORESBiblioteca Pública - 18h

SEX. 27 e SÁB 28 MAI.cinemaDISCURSO DO REIde Tom HooperTeatro Faialense - 21h30

SÁB. 28 MAI.ecologiaDIAS VERDES CMH09h00 – Descida da Rocha da Fajã11h30 – Visita Central de Triagem15h30 – Mercado de TrocasCastelo S. Sebastião

DOM. 29 MAI.ambienteCIRCUITO PEDESTRE DAPRAIA DO ALMOXARIFEEBI da HORTA (concentração) - 14h

arraialRUA DO CANTINHOImpério do Cantinho, Flamengos - 21h

QUA. 1 e QUI. 2 JUN.formaçãoWORKSHOP DE SOMpara técnicos de sompor António Carlos de BragançaTeatro Faialense - 18h30

QUA. 1 JUN.comemoraçãoDIA MUNDIAL DA CRIANÇASessão de Cinema “Gnomeu e Julieta” e Arraial de RuaTeatro Faialense - 09h às 17h

SEX. 3 JUN.concertoO EXPERIMENTAR NA M’INCOMODATeatro Faialense - 22h

SÁB. 4 JUN.concertoBANDARRATeatro Faialense - 22h

de SEX. 3 a DOM. 5 JUN.festividadesNOSSA SENHORA DAS ANGÚSTIAS 2011

SÁB. 4 JUN.feira de artigos usadosBAZAR DE RUAPraça da República - 10h às 16h

cinemaENGANA-ME QUE EU GOSTOde Dennis DuganTeatro Faialense - 21h30

TER. 6 a DOM. 26 JUN.exposição de fotografiaLONGEVO FIIR de Júlio RorizBanco de Portugal - 16h às 20h

quanto mais estacionamento, mais automóveisquanto menos estacionamento, mais ruas e praças


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