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#80 DEZEMBRO ‘12 O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZMENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Não somos os únicos

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1º Lugar - António Viana 2º Lugar - Catarina Krug 3º Lugar - Margarida Madruga

Fazendo Editorial

Capas

2.

Fazendo - DirecçãoAurora RibeiroTomás Melo

CoordenadoresAlbino Carla Cook Carlos Alberto Machado Fernando Nunes Filipe Porteiro Helena Krug Lídia Silva Pedro Gaspar Pedro Afonso

CapaAntónio Viana

Colaboradores Ana CorreiaColectivo dos CedrosCristina LouridoGonçalo TochaLia GoulartLídia SilvaLuís HenriquesMiguel ValenteOrlanda AndréRuth BartenschlagerVictor Rui Dores

Design e GrafismoMauro Santos Pereirawww.comunicaratitude.pt

RevisãoAurora Ribeiro

Propriedade Associação Cultural Fazendo

Sede Rua Conselheiro Medeirosnº 19 — 9900 Horta

Periodicidade Mensal

Tiragem 500 exemplares

Impressão Gráfica O Telégrapho

As opiniões expressas nesta edição são dos autores e não necessariamente da direcção do Fazendo

Este Fazendo começa logo por pôr os olhos no céu. Dezembro é, de todos os meses, o mais noctur-no que há. O céu é metade da nossa envolvente. A metade superior, a mais vasta e a menos conheci-da. Dantes, muitas das coisas boas e das más vinham do céu. Agora a maior parte delas vêm por fibra óp-tica. O Fazendo é uma dessas coisas que vos pode chegar por fibra óptica. Ou então escarrapachadi-nho em papel, para ler debaixo de tecto ou debaixo do céu.

Se não nos virmos antes, Bom Fim do Mundo!

A oito de Dezembro dos idos anos oitenta do sécu-lo passado, John Lennon era assassinado em Nova Iorque, tinha apenas quarenta anos. Na Ilha Terceira deu-se um enorme terramoto que arrasou com a ci-dade de Angra do Heroísmo e com uma das suas mais emblemáticas igrejas, Catedral da Sé, que teria novo episódio alguns meses mais tarde com a ocorrência de um incêndio que destruiria a talha dourada. A ci-dade seria reconstruída na sua forma original e reco-nhecida enquanto património mundial pela UNESCO. O Nobel da Literatura desse ano foi para o polaco Czeslaw Milosz e ainda nos despedimos de Vinicius de Moraes, poeta, compositor e diplomata brasileiro, de quem Alexandre O´Neill disse um dia “quem tem vícios tem Vinicius”.

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Editorial

Resultado do concurso de Natal

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“Açores” segundo uma menina que já não existe

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Fazendo Crónica

#80 DEZEMBRO ‘12

Há 30 anos, eu era pequena e os Açores eram com-pletamente diferentes do que são hoje.

De quando era criança, recordo uns Açores muito rurais, onde às vezes passavam cavalos a par dos car-ros, pois na época esse era o meio de transporte dos lavradores que vinham à cidade tratar de afazeres.

Para todo o lado que fôssemos, encontrávamos vacas. Era impossível ir dar um passeio “ao campo” (pomposo nome com que se designavam as fregue-sias) sem ter de parar o carro por causa das vacas no meio da estrada; passava-se ali tanto tempo como num engarrafamento.

As bolachas e rosquilhas feitas em casa eram prática semanal para muitas famílias; outras coziam massa sovada e bolo ou pão de milho e outros tor-ciam alfenim (tudo dependia da ilha onde se tinha nascido). Esses acepipes hoje servidos aos turistas como delícias tradicionais eram coisas corriqueiras.

O padeiro andava de porta em porta; o leiteiro também. Vinham de manhã, numas motas com caixa larga atrás, e foi assim que aprendi a fazer as primei-ras contas. Era uma poluição sonora sem par, o leite era “leite do dia” em saquinhos e o pão só tinha duas variedades – não se conheciam todos estes pães com passas, cereais, sementes e ninguém se preo-cupava em comer pão integral.

Nas festas com arraiais, era normal comer bom-bons de açúcar, daqueles que se vendem na rua. Hoje, as mães dizem “credo, que nojo, isso é só por-caria!” e fazem a conta à glicémia.

Havia loicinhas de barro para as crianças, a dita loiça da Vila. Hoje, os artesãos da loiça da Vila de-sapareceram porque se dermos loicinha de barro às crianças somos acusados de termos fornecido brin-quedos não homologados pelas normas da União

Europeia. De facto, de acordo com as normas de hoje em dia, ser criança há 30 anos era tão perigoso que é um milagre termos escapado razoavelmente inteiros.

A educação era, sem dúvida, diferente. Pessoal-mente, como fui criada pelos meus avós e tive a in-vulgar sorte de ter a mesma professora e a mesma turma nos 4 anos da Primária, tenho uma lembrança muito viva, alimentada pelas conversas que ain-da hoje mantenho com estes colegas quando nos juntamos. Contrariamente aos dias correntes, po-díamos não passar de classe se não soubéssemos o suficiente, a professora tinha o direito de nos bater nas mãos com régua e de nos castigar. A escola era uma instituição: trocavam-se roupas, brinquedos e alguns fugiam de famílias onde viviam vidas de fa-zer corar argumentistas dramáticos.

Na escola, tínhamos de cantar canções religio-sas e rezar à imagem da Virgem Maria. Os que não eram católicos estavam dispensados de rezar; mas a influência das outras crianças era tão grande que todos acabávamos por rezar na mesma. Foi um tru-que que deu resultado pois hoje sei mais sobre o Ca-tolicismo do que muitos católicos.

Na escola primária, decorávamos rios e distritos do nosso país, sendo que nas nossas ilhas não havia rios nem distritos, nem tão pouco zonas de “gado ovino e cavalar” (Baixo Alentejo e Santarém… ainda recordo ter falhado esta pergunta na terceira classe).

Ainda não havia whale-watching. Matar baleias não era crime e ninguém achava que o mar era um parque de diversões. A tourada ainda não era um problema, era só tradição. Ninguém precisava de guia para subir o Pico. Ninguém reciclava o lixo e as fraldas não eram descartáveis.

Os romeiros não suscitavam reportagens de TV; apenas respeito. Relembro um intercâmbio que a Primária do Nordeste de S. Miguel fez connosco e foi como se estivéssemos recebendo uma delegação estrangeira, tão longe essa terra era e tão desloca-dos estavam de tudo.

As Lagoas das Sete Cidades eram claramente uma verde e outra azul e eram lindíssimas. Hoje, são ambas verdes, plenas de limos, mas continua-se a vender o produto turístico como se nada tives-se mudado. A beleza desapareceu – embora todos finjam que não e até a considerem uma Maravilha de Portugal. O tempo tudo muda mas o ser humano, cegamente teimoso, vai preservando a ideia quando a realidade já morreu.

No Natal, havia laranjas e grãos que germinavam em tigelinhas. O São Nicolau bem depressa passou a Pai Natal. O bacalhau entrou na tradição não sei bem como, porque em minha casa comia-se frango…

Com 5 anos, eu tive infância nestes Açores. Hoje, são outra verdade. O Hospital onde nasci já não exis-te – é um grande edifício vazio e inútil. As casas onde morei são prédios de apartamentos onde vivem uni-versitários que ignoram que ali havia árvores. Mas, certamente, hoje reciclam o lixo. Certamente, hoje, a vida é melhor nestes Açores. Sucede que, porém, já não são a minha terra nem eu sou essa menina.

Por isso, em certos dias, apetece dizer como Ne-mésio quando regressou à Terceira e, olhando-a, já não a reconheceu como sua: “Começamos a ser es-trangeiros onde nascemos, ou como?!”

Carla Cook

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Uma ilha comprida e uma menina atleta

Fazendo agora no Faial

Fazendo agora no Pico

A Brasa Voltou?4.#80 DEZEMBRO ‘12

O avião Amadeu Souza Cardoso da Tap air Portu-gal transportou-me de Lisboa até à ilha do Faial no início de Novembro para um fim de semana sur-preendente: desde o concerto d’O Experimentar na m´incomoda (ó Pedro, não percas tempo, faz já ou-tro!) ao teatro dos Palmilha Dentada (como é bom ter um “ministro vítima de um ataque terrorista” com quem parodiar), já para não falar do magusto ofe-recido no Mercado Municipal da Horta, com direito a assador e castanhas… podendo nas bancas e lojas do mercado adquirir a bons preços os melhores néc-tares e sandes de albacora da região e continente.

Eis-me, portanto, de regresso ao grupo central, tão capital nessa apreensão do mundo como o epi-sódio que narrarei a seguir. No domingo, terminado o périplo na cidade da Horta, dirigia-me muito bem acompanhado até ao aeroporto, preparando-me assim para mudar de ilha pela terceira vez, quando fui atacado por uma visão rubra, quase hipnótica, tão avassaladora que pedi para estacionarem o car-ro mesmo ali. Mas, enquanto o carro se encontrava estacionado, imobilizado, no meio da rotunda, li no

Maria João Silva tem uns olhos-grandes-grandes que parecem azeitonas. Uns olhos de ver mundo. Maria tem cabelo ao vento, ocasionalmente espeta-do como antenas. Para ouvir mundo. Maria não gosta de vestidos, mas tem um de todas as cores, uma de cada vez.

De entre as amigas da Maria há uma muito viva, alegre a valer. Essa amiga chama-se Carla Tomás e também é amiga da gente. Com ela aprendi a repa-rar no mundo das coisas frágeis e impossíveis, como os sonhos realizáveis.

A atleta Maria João Silva é natural da Calheta do Nesquim (Pico), vive e treina no Centro de Activida-des Ocupacionais para jovens deficientes, da Santa Casa da Misericórdia, na Madalena. É a actual bicam-peã mundial de atletismo adaptado (síndrome de Down), tendo ganho em Maio deste ano 3 medalhas de ouro e respectivos recordes nas especialidades de 1500m, 800m e 4x400m planos, marcha.

O Campeonato do Mundo de Atletismo Adapta-do 2012 decorreu em Angra do Heroísmo (Tercei-

mupi publicitário de grandes dimensões: “A brasa está de volta. Um bom churrasco ao alcance de to-dos”. Escrito num placard enorme com uma jovem mulher vestida de vermelho, de braços destapados e com as cores corporais de um verão passado junto do mar. Subitamente depreendi que o seu nome não seria Brasa, aparentemente, pois pouco sabemos além da sua existência de rotunda, a não ser que ela está de volta, por sinal, ao braseiro, ao grelhador, de qualquer churrasco caseiro. Subitamente indignei-

-me: logo agora que entra o Inverno eu partirei com a chegada da brasa ao churrasco!?! Rapidamente e, como quem não quer a coisa, me apercebo que afinal a dita brasa se encontra a publicitar uma empresa regional de enchidos.

Durante uns breves minutos indaguei: será que a brasa teria consciência do fogo que irá consumi-la muito em breve? Os meus pensamentos pirómanos foram interrompidos logo de seguida com o barulho dos carros que incompreensivelmente não alcança-vam o porquê daquele carro estacionado na rotunda a caminho do aeroporto. Inacreditavelmente antes

ra), com a presença de 12 países, num total de 150 atletas. Foi onde a Maria renovou o título mundial conquistado no México em 2010, nas mesmas espe-cialidades.

A sua treinadora é a Carla, formam uma equipa e pêras! Um monte de sonhos e algumas ideias, um grande medo e uma coragem ainda maior, histórias para muitos de nós escutarmos encantados.

Nos anos 90 pratiquei triatlo, o mais competiti-vamente que fui capaz. Era daquelas que acordava às 5 da manhã para entrar na piscina às 6, e não saía à noite como toda a mocetagem da minha idade (uma falha impossível de colmatar, é verdade), nem sequer ia ao cinema porque no dia seguinte tinha treino. Os fins-de-semana eram passados no selim da bicla e as férias sempre a treinar.

Conheci a Maria João numa tarde boa para jiboiar. Gostei logo do modo como o coração, às gargalha-das, lhe salpicava os olhos e nos contagiava. Nesse dia acreditei que se me tivesse esforçado um pouco mais, um nadinha mais, teria chegado onde quises-

de acedermos à brasa propriamente dita, a pura verdade é que há muito que temos vindo a ser con-sumidos em lume brando por impostos, cortes, de-semprego e um país inteiro à beira de um ataque de nervos... valha-nos, no entanto, estes criativos do churrasco para dar alegria e colorido ao quotidiano.

Doravante a polifonia de buzinadelas, timida-mente avançamos, já que havia a ameaça real de não chegar a horas de entrar dentro do avião. Nos minutos que me restaram da viagem até ao aeropor-to, apenas pude referir a memória dos idos anos ses-senta e os acontecimentos de pendor feminista que ficaram celebrizados pela queima dos soutiens bem como o coro de mulheres que no pós 25 de Abril de 1974 exigiam a presença masculina na cozinha para a limpeza dos tachos, celebrando assim a igualda-de entre os sexos e exaltando a condição feminina. Tempos de outras fogueiras e acendalhas que arde-ram na memória do tempo.

Doutor Mara

se, até talvez nadar os 100m livres abaixo do minuto, barreira que nunca consegui quebrar.

É esse, em parte, o poder dos atletas de com-petição: relembrar-nos o nosso lado sobre-humano. Ligam-nos à sensação de que tudo é possível se soubermos ser diligentes e disciplinados. Claro que essa fé durava até voltar a entrar na água, nadar para lá, regressar e pensar: “Deixa estar, Cris, cada um é seus caminhos”.

Bem hajam, Maria João e Carla.

Cristina Lourido

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Fazendo Artes Plásticas

À conversa com Agnes Juten

#80 DEZEMBRO ‘12

Encontrei-me com a Agnes Juten na sua exposição, na Biblioteca Pública. O local ideal para escutar acer-ca de si e do seu trabalho.

Lentamente vagueámos pelas obras enquan-to me falava do seu percurso, dos materiais que utiliza, das inspirações que a movem. Percorremos o seu início em terras holandesas, seguimos pelas grandes viagens que fez pelos mares do mundo fora e terminámos na Horta, na nossa pequena ilha, onde a Agnes escolheu ficar desde 2010, dando continui-dade ao seu trabalho artístico desde então.

Há várias ideias que se sobrepõem na nossa men-te quando olhamos para o trabalho da Agnes: forma, matéria e também o espaço limitado pela forma.

Sobressai a ideia da forma que se quer interpre-tar de várias maneiras. Uma delas é a das compo-sições com ‘formas’ encontradas ocasionalmente, quase sem intervenção da artista, como objectos que valem por si só quando desenquadrados do seu contexto, apenas com um apontamento de cor, com uma sugestão discreta. Sente-se um certo concep-tualismo nesta ideia. A primeira vez que entrei na sala fiquei imediatamente surpreendida com a ‘pilha’ de gamelas de madeira. Já era tempo de alguém as retirar do seu contexto e as elevar a um outro nível!

Há também as formas criadas pela artista, mui-tas vezes inspiradas em formas concretas (recordo-

-me do exemplo das mastabas, de um telhado ou tecto de catedral, das pernas) ou apenas pelo pra-zer de explorar a forma em si e o material utilizado.

As formas criadas pela Agnes são donas de uma cer-ta imponência, mesmo tratando-se das peças de pe-queno formato, potenciada muitas vezes por essa sensação da matéria. Para além do gesso, do barro e de outros materiais mais alternativos (como as persianas de palhinha compradas ‘no chinês’), uma das presenças mais fortes é a do ferro fundido. Com uma humildade transparente, a Agnes contou-me como muitos artistas holandeses passaram a utilizar o ferro fundido depois de ter apresentado as suas primeiras peças em público. “Foi então uma pioneira

na altura!” disse-lhe eu, recebendo em troca o seu riso embaraçado.

Há ainda uma ‘zona azul’ na sala. Marcadas pela obsessão com que a artista ficou pelo azul profun-do, aquando das suas viagens de barco, estas obras mostram a tentativa de reprodução de uma sensa-ção causada por tamanha imensidão de uma cor sem fim. É bom sentar ali, descansar os olhos nos azuis da Agnes e ouvir o som do mar que ali se reproduz.

Ter uma artista plástica como a Agnes Juten na nossa ilha é um privilégio. Visitar a sua exposição é, igualmente, um privilégio. Portanto, apressem-se os distraídos porque, no meio do Atlântico, há que absorver tudo o que de bom (e de muito bom, neste caso) nos é oferecido desta forma.

Obrigada, Agnes. Pelo seu trabalho, pela sua presença.

Ana Correia

ComunicarAtitude

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O Bravo

Agostinho da Cruz

6.#80 DEZEMBRO ‘12

Esta é uma canção de bravura mansa

Uma Nota Biográfica

Fazendo Música

Fazendo Música

“Eu fui à terra do Bravo” — assim principiam quase todas as quadras desta canção da ilha Terceira que se espalhou a outras ilhas. Digo canção terceirense porque nela se encontra a declinação característica do modo espanhol, a chamada cadência frígia, que consiste no movimento melódico-harmónico des-cendente da tónica à dominante, movimento este que é exclusivo do modo menor.

Compositor e teórico, Agostinho da Cruz nasceu em Braga, por volta de 1590 e morreu em Lisboa depois de 1640. Pertencia à Ordem de S. Agostinho, sendo cónego regular no priorado de Santa Cruz de Coim-bra, onde recebeu o hábito a 12 de Setembro de 1609. Foi também mestre de capela no mosteiro de S. Vicente de Fora (Lisboa), casa irmã de S. Cruz.

Era tido em alto respeito tanto como músico como teórico. Tocava órgão e rabeca, tendo compilado um

volume de música para cada um destes instrumen-tos. Estes volumes foram dedicados ao futuro rei D. João IV e a João de Mascarenhas, Conde de Santa Cruz, respectivamente.

Para além destes dois compêndios, também escreveu dois tratados: um de cantochão e um de canto d’órgão, em 1632, ambos dedicados a D. João. Nenhuma destas obras chegou a ser publicada

tendo-se os manuscritos perdido. Duas obras para órgão de Agostinho da Cruz sobrevivem em manus-critos do século XVII.

Luís C. F. Henriques

www.luiscfhenriques.com

Esta declinação espanhola está também patente noutras canções daquela ilha, como a “Charamba”,

“O Sol” e o “Meu Bem”. E isto por uma razão de índole histórica: a ocupação filipina verificou-se durante 60 anos na Terceira, de que resultou uma natural convivência com espanhóis e consequente fusão de canções espanholas com canções terceirenses (por alguma razão a festa brava está na alma dos tercei-renses).

Por conseguinte, “O Bravo” possui melodia bem terceirense e castiça, que se presta a bons arranjos musicais, como outrora o demonstraram três com-positores terceirenses de referência: Tomás Bor-ba, João Carlos Moniz (avô de Carlos Alberto Moniz) e Raul Coelho.

Victor Rui Dores

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O Experimentar na m’ incomoda

Ora bem: Experimenta o cantar, Experimenta o can-cioneiro, Experimenta o tudo.

Para que serve afinal um cancioneiro senão para ser usado, re-usado, cantado, re-cantado, inventado?

A heresia poderá ser tão ou mais tentadora quanto mais o cancioneiro açoriano se arriscava a tornar “intocável”.

Tocável será sempre, mas ainda não “re-tocável”.O que possuímos enquanto matéria de “tradição”

é, em muitos dos casos, uma cristalização de hábitos comunitários que se prolongaram ao longo do tem-po e que, noutros casos, já não têm relação com os hábitos contemporâneos. Se calhar, só assim se ex-plique que um hábito que seria partilhado em grupo, mais ou menos da mesma forma (o cântico colectivo), possa finalmente ser lido de outro ângulo, não ainda oposto, mas talvez mais individual. O valor podero-síssimo dum cancioneiro é ter-se tornado patrimó-nio colectivo, rasurando a sua marca autoral. Mas tal

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Fazendo Música

Troca de GalhardetesNesta edição Gonçalo Tocha, realizador de “É na Terra não é na Lua” fala de “O Sagrado e o Profano”, o novo disco de “O Experimentar na m’incomoda”. Na edição anterior foi Pedro Lucas de “O Experimentar na m’incomoda” que falou de “É na Terra não é na Lua”, o documentário de Gonçalo Tocha.

qual o lema “a terra a quem a trabalha”, deveríamos dizer “o cancioneiro a quem o canta”. Lucas e o seu Experimentar (e porque não ver aqui uma família co-munitária que partilha alguns valores em comum?) são a materialização contemporânea desta paixão louca pelo que fica do património colectivo. As pe-dras não falam mas a canção é viva. Lucas usa en-tão muitos instrumentos diferentes, muitas vozes diferentes, usa a electrónica, os ritmos, os efeitos digitais, (coisas da sua época e da sua geração claro, é a sua respiração), e vai a todas, toca em todas as pedras sagradas do cancioneiro açoriano, corre pe-rigo, mas corre rápido. Com este 2º tomo da odisseia, entre o sagrado e o profano da comunidade açoria-na (que será, até ver, a comunidade mais católica de Portugal) entramos no campo fértil dos ritos, da fes-ta, do divino e do ancestral.

O começo do disco vai directo ao osso da sua demanda, no psicadelismo esfuziante de “Pai Pauli-

nho” e “Braços” (o grande hit moderno). Passa pela fanfarra ébria de “Chamarita” e pela bela balada de

“Lira”, chegando à intensidade suprema de “São José a Caminhar” e “Minha Voz Vou Levantar” (o momento mais radical e inesquecível do disco). A meio temos o emocionante interlúdio espiritual de “Cantar ao Divi-no”, até chegarmos à súmula da fórmula instrumen-tal do Experimentar com o “Pedido”. O chamamento colectivo de “Tanchão” reúne toda a família, grande e variada que acompanha Lucas: Carlos Medeiros e Zeca Medeiros (como gurus espirituais), Miguel Machete, Pedro Gaspar e Pedro Afonso (a nova gera-ção), aos músicos dinamarqueses (a ligação cósmica).

O que virá a seguir? O que podemos esperar, o fu-turo de uma nova canção? Se o cancioneiro açoriano for visto como o conjunto de coordenadas musicais do arquipélago, então este Experimentar já é um mapa do nosso imaginário insular.

Gonçalo Tocha

imagem: DRAC - BPARJJG - ilhasCook

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Fazendo Fotografia

Igreja de São Francisco- 1852 versus 2011Duplas

Tomás Melo

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Fazendo Arquitectura

O espaço é o nosso objecto de estudo. Há diferentes escalas, com diferentes propósitos. O nosso objec-tivo é reciclar espaço e conseguir novos olhos para espaço velho ou esquecido.

Procura-se um resultado aberto e abrangente, proporcionando o terreno fértil para uma nova dis-cussão ainda mais vasta.

É nosso desejo que o espaço se torne parte do Processo, da Criação e do Movimento e que não seja Concreto, nem Estático, nem Céptico.

O que aqui expomos é uma reflexão colectiva sobre espaços do Faial. Sem compromisso, é apenas uma provocação.

A discussão foi impulsionada pela vontade de en-contrar no espaço novos estímulos. Na falta de um princípio universal, recorremos à fantástica capaci-dade de falar e à possibilidade de entender. O pro-cesso expandiu-se e da troca de ideias e de opiniões surge um resultado, que engloba o ruído, o cheio, o silêncio, o vazio, e ainda mais.

Colectivo dos Cedros

LinhasDivergentesIgreja de São Francisco

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Fazendo Teatro

O fim do Mundo

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O Mundo vai acabar. É verdade, os Maias não me deixam mentir: A 21 de Dezembro de 2012 (um dia a seguir ao meu aniversário, vá lá) o planeta Terra, tal como o conhecemos, dará por terminada a sua longa jornada. Seremos nós responsáveis por este desfecho ou “não, não, há aqui dedo divino nisto”?

A ideia de que alguém nos leva pela mão, que a larga de vez em quando e nos deixa desamparados ou nos dá uma palmadinha quando nos portamos mal, parece ser bem mais reconfortante. Já na Grécia antiga se pensava assim: que não apenas um mas cinco dedos, (e respectiva palma da mão) conduziam a vida de todos os homens e de todas as mulheres deste planeta. Perdão, minto. Não são cinco mas trinta. Trinta dedos, dez por cada deusa. Sim, três

entidades divinas às quais a mitologia apelidou de Moiras e lhes incumbiu a tarefa de fabricar, tecer e cortar aquele que seria o fio da vida de todos os in-divíduos (talvez a expressão “vida por um fio” tenha surgido daí).

É a partir daqui que a pequena peça que vos é apresentada este Natal começa: Cloto, Láquesis e Átropos, as ditas deusas soberanas e primordiais, apercebem-se um dia que a matéria-prima a partir da qual são tecidos todos os fios de vida humana acaba. Puf, finito, kaput. A humanidade fica conde-nada sem mesmo elas o terem previsto.

À luz de tamanha desgraça, o fardo da responsa-bilidade parece demasiado pesado. Sacodem-se ca-potes e o desemprego parece iminente. Mas no meio

de discussões e de várias tentativas para apurar um responsável, há ainda quem se lembre de perguntar:

“vamos mesmo deixá-los morrer coitadinhos?”Se tiver curiosidade e quiser passar um fim do

mundo diferente, apareça na Casa (de chá) nos dias 20 e 21 de Dezembro, em horário nocturno ainda por definir.*/ **

*As horas serão posteriormente divulgadas em cartazes e na Casa (de chá).

** Visto que o Mundo vai acabar, não serão cobrados bilhetes.

Lia Goulart

Fazendo Viagens

Cartas do Exílio VIMais seis horas até Pequim, o destino final deste comboio.

Nestas seis horas passamos por mais lixo de cada lado dos carris do que a Fajã viu desde a sua abertura, mais centrais eléctricas do que Portugal tem no seu total e ultrapassamos um número de auto-estradas que fazem a Alemanha parecer um país rural. Des-de Nansha que a palavra “happiness” (“felicidade”) me deixou com algumas suspeitas (ver Capitulo V)... O hotel que me espera em Pequim não se chama apenas “feliz” mas “Double Happiness Courtyard Hotel” (“Hotel Pátio da Dupla Felicidade”). Contra-riamente às minhas suspeitas, o que encontrei não foi só felicidade mas o melhor hotel que alguma vez vi na minha carreira… era ainda melhor do que um lugar bem giro que conheço no Faial…

O Hotel fica na parte antiga de Pequim, onde não há arranha-céus, apesar das numerosas tentativas de demolir estas casas de 2 pisos e pátios comuns (alguns com 200 anos de idade) e de substituí-las

por edifícios modernos. Ali, situado num “Hutong”, China pura. A palavra “Hutong” pode ser traduzida por caminho/atalho – com cerca de 5 metros de lar-gura mas significantemente reduzida por vendedo-res ambulantes (comida, roupas, animais, ervas…), oficinas ambulantes (bicicletas, motas, sapatos, costuras...), pessoas ambulantes com as suas cadei-ras e mesinhas, a conversar, a jogar, a cantar… tudo ao lado de montes de lixo do tamanho de carrinhas e além deles também há as bicicletas e aceleras es-tacionadas - então, a rua fica reduzida à largura de um carro… o trânsito nas duas direcções é permitido. Inimaginável mas possível, graças à possibilidade de apitar.

Ao sair dos Hutongs eventualmente chega-se a uma rua maior, e aí comecei a duvidar se alguém aqui já teria ido alguma vez a uma escola de condu-ção ou mesmo se tal escola existe em toda a China!! Nos primeiros dois dias recusei-me a atravessar uma rua maior do que uma linha, mas os passeios não

eram assim tão diferentes já que as bicicletas e as scooters eléctricas, fatalmente silenciosas, os usa-vam para uma alternativa às ruas tapadas.

Todavia, além das buzinas constantes e da per-manente mudança de faixa sem nunca usar os pis-cas, há por ali uma certa harmonia já que nenhum veículo pára o seu movimento. E depois de contar cerca de 1000 quase-acidentes por hora e nenhum acidente verdadeiro, comecei a confiar no trânsito chinês.

A Cidade Proibida agora chama-se Palácio do Im-perador, e se não lhe chamares assim és olhado de lado. A Praça de Tianamen não é famosa pelo mas-sacre de 1989 mas por ser lá que os cidadãos mos-tram o seu patriotismo e a Grande Muralha... bem, ainda ‘tá lá, em toda a sua grandeza.

Ruth Bartenschlager

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Fazendo Literatura

Montra de ler10.#80 DEZEMBRO ‘12

Carlos Bessa: Sentado Numa Pedra da Memória/Sitting on a Rock of MemoriesEdição da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Praia da Vitória, 2012 (56

páginas). Português-inglês. Tradução de Irene de Amaral.

Autobiografia resumida e ficcionada da vida e obra de Vitorino Nemésio, bicho harmonioso das ilhas, com elementos colhidos na obra do próprio e em alguma bibliografia. Carlos Bessa é poeta e crítico literário.

Fraga da Silva: A BestaEdição da Direcção Regional da Cultura dos Açores, Angra do Heroísmo,

2012 (64 páginas)

A novela de Fraga da Silva (natural do Faial) conta--nos a história de Amadeu Pamplona, traficante de

ouro que recorre a um singular expediente para ul-trapassar a sua crise pessoal – em pleno século XVI terceirense.

João Miguel Fernandes Jorge: LagoeirosEdição da Relógio D’Água, Lisboa, 2011 (122 páginas).

O poeta Fernandes Jorge tem dedicado boa parte da sua atenção literária e sentimental aos Açores que pela primeira vez visitou em 1988. Este Lagoeiros vem na sequência de outras obras de ambiência açoriana como Terra Nostra (1992) ou Bellis Azorica (1999).

Nuno Costa Santos: Às Vezes É Um Insecto que Faz Disparar o AlarmeEdição da Companhia das Ilhas, Lajes do Pico, 2012 (44 páginas).

O açoriano Nuno Costa Santos, bem conhecido como humorista, aborda neste livro de poemas o quotidia-no, ou o modo como transformar as nossas vivências em palavras partilháveis, numa linguagem simples mas segura e rigorosa.

Revista Relâmpago dedicada a Vitorino NemésioEdição da Fundação Luís Miguel Nava, nº 28, Abril de 2011 (240 páginas).

Este número revista Relâmpago dedicado a Nemé-sio, é constituído por textos do autor, excertos de um diário inédito, ensaios e um conjunto de depoi-mentos de amigos, familiares, colegas, alunos ou estudiosos da obra nemesiana. A revista inclui ainda, como habitualmente, crítica de livros e inéditos de poesia.

Vamberto Freitas: Bordercrossing. Leituras TransatlânticasEdição da Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2012 (312 páginas).

Vamberto Freitas, professor da Universidade dos Açores e conhecido ensaísta e divulgador da litera-tura açoriana, reúne neste livro um valioso conjunto de textos ensaísticos (antes publicados em diversas revistas) sobre autores, livros e temas do universo açoriano.

Carlos Alberto Machado

Companhia das Ilhas

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Fazendo Literatura

Nemésio: A Pulsão Autobiográfica

#80 DEZEMBRO ‘12

Em Vitorino Nemésio, como em tantos outros gran-des escritores, o excurso autobiográfico e a pulsão ficcional concorrem para uma tensão criativa. A es-crita de si não reivindica um automatismo especular, uma corrente do vivido coada pela sensibilidade do autor, ou uma etnografia ilusória; outrossim, a in-venção ficcional não vive no mundo asséptico da lin-guagem e do pensamento. Paradoxos, bifurcações: os elementos de uma tensão essencial que, no limite, anula a natureza diferencial dos géneros e, em con-trapartida, oferece escalas de intensidades. Alguns leitores da obra de Nemésio vincam, noutros termos, esta tensão autobiografia-ficção, e, como elemento onde por vezes tudo se confunde, a ideia que Nemé-sio “é um atormentado pela contradição partir-ficar” (Martins Garcia), alguém que “viaja no espaço exte-rior e interior”, “ [o seu alter-ego “Mateus Queima-do”] é o seu eu mais íntimo que se projecta na cróni-ca semi-efabulante” (Machado Pires).

Martins Garcia, também ele um notável autor de ficção e de ensaio, acutilante leitor da obra do autor

terceirense, dia que Nemésio é o “perscrutador da distância, o poeta que descobre o sentido secreto de «outro mundo»; ele é o descobridor que, se tives-se descoberto milhões de ilhas, continuaria a procu-rar a sua «ilha perdida»: a única, a imaterial.” Como também sublinhou David Mourão-Ferreira, “a paisa-gem natural e social de uma ilha açoriana (a Terceira)

–, ou melhor: da Ilha, da Ilha com I grande, um I muito grande e vertical como o eixo do mundo.”

Depois da sua obra-prima de 1944 Mau Tempo no Canal, até ao fim da vida buscou em tudo o que escreveu o fio ficcional que dia após dia parecia fugir-lhe, diz ainda Martins Garcia: “Um dia, na ju-ventude, Nemésio partiu dos Açores levando uma ilha dentro de si. Mais tarde, já homem amadureci-do, sentindo que essa ilha não pertencia ao mundo material, escreveu a sua obra-prima de prosador. A partir desse momento, Nemésio torna-se vítima duma dupla nostalgia: à nostalgia trazida da infância,

acrescenta-se a nostalgia do próprio romance. Ne-mésio sente saudade das Ilhas, mas sente, porven-tura mais pungentemente saudades do seu texto.” (sublinhados meus).

O Corsário das Ilhas (1956), notável obra do jornal de Nemésio, resultado de duas viagens que fez aos Açores (1946 e 1955, esta mais prolongada, de tal modo que ele diz que regressava à sua ilha 30 anos depois de ter rumado ao Continente), será, como de-fende Machado Pires, “uma autobiografia contada a pretexto de uma viagem, ou de uma viagem para disfarçar uma confissão de ausente”.

É sempre tempo de viajarmos.

Carlos Alberto Machado

Escritor e editor da Companhia das Ilhas

http://companhiadasilhasloja.wordpress.com

[email protected]

Ilustração: António

Page 12: Fazendo nº80

Sobre ciclovias e outras históriasQuando se fala em ciclovias a primeira imagem que surge na cabeça da maior parte das pessoas é uma faixa de cor vermelha paralela a uma faixa de circula-ção automóvel onde as bicicletas podem andar e de onde não devem sair.

Naturalmente, existem situações diversas de circulação e urbanísticas, que exigem abordagens diferentes no que diz respeito à prioratização de circulação de bicicletas. Nos próximos parágrafos iremos abordar os principais tipos de ciclovias.

Tipo I: Circulação partilhada – Este tipo de solução é internacionalmente conhecida como “sharrows”, palavra que resulta da contração de “shared rows” e que significa literalmente faixa partilhada. Pode-ríamos pensar que este tipo é o que existe em todas as estradas sem ciclovias, como é o caso das ruas

da cidade da Horta. No entanto, apesar de existir uma partilha da faixa de circulação entre bicicletas e veículos motorizados e, como, tal não existir uma ciclovia típica, as “sharrows” são na realidade ciclo-vias onde os veículos motorizados podem circular sob determinadas circunstâncias. Ou seja, são ge-ralmente ruas estreitas, onde não existe espaço ou necessidade de haver separação dos dois tipos de circulação, mas onde os veículos motorizados têm de circular a velocidades baixas, não devendo ultra-passar a velocidade de circulação das bicicletas. Nas

“sharrows”, as formas de mobilidade suave (bicicletas, peões, etc.) são preponderantes e os condutores têm de circular de forma extremamente cautelosa.

Tipo II: Ciclovia pintada – É o tipo mais comum e de construção menos dispendiosa. A ciclovia pintada é usada principalmente em artérias de distribuição e ligação com movimento reduzido ou moderado, onde a circulação automóvel se faz com velocidade reduzida (ou seja, inferior a 30km/h). A ciclovia pin-tada é geralmente uma solução de adaptação de situações de circulação existentes nas quais existe uma redução da prioratização da circulação automó-vel, nomeadamente através da remoção de faixas de circulação ou de estacionamento, de forma a per-mitir a criação de uma faixa para bicicletas com uma largura entre 1m e 1,5m para cada sentido de circu-lação, com as bicicletas e os veículos motorizados a circular no mesmo sentido. À parte a marcação no pavimento, não existem mais formas de separação dos dois tipos de circulação.

Tipo III: Ciclovia fisicamente separada – O ex-libris das ciclovias é igualmente o mais honoroso de todos os tipos de adaptação de ciclovias a vias de circula-ção existentes. É utilizada principalmente em arté-rias com grande tráfego, ou de circulação automóvel de velocidade moderada a elevada. Sendo a forma mais segura e eficaz de protecção dos utilizadores de bicicleta, é igualmente a solução indicada para novas vias de circulação.

Posto isto, coloca-se a seguinte questão: Quais os tipos de ciclovias mais indicados para a cidade da Horta?

Dadas as características da circulação automóvel na cidade, de reduzido volume de tráfego automó-vel, e devido à ausência de necessidade de circula-ção automóvel a velocidades moderadas a elevadas, as duas primeiras opções são as mais correctas.

Ou seja, nas principais vias de comunicação, como por exemplo a estrada regional entre a rotun-da da Feteira e o novo cais, incluindo a Rua do Peter e Av. 25 de Abril, poderiam ser feitas ciclovias pintadas (mas não a vermelho, por diversas razões que pode-rei explicar noutra altura), enquanto no resto da ci-dade a solução de circulação partilhada (“sharrows”) poderá ser facilmente aplicada e com grandes bene-fícios para peões e urbanitas.

Naturalmente que estas soluções só são possí-veis através da redução da preponderância do auto-móvel, situação que geralmente encontra algumas barreiras nas mentes mais conservadoras. Curiosa-mente, estas soluções são as menos honorosas de realizar, sendo que a maior dificuldade será na mu-dança de mentalidades, mas essa é outra história...

Miguel Valente

Fazendo Arquitectura

imagem: Copenhagenize

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Page 13: Fazendo nº80

Sebenta de Exercícios

Fazendo Saúde

Fazendo Ambiente

ÁrvoresNo outro dia disseram-me que na lua nova de De-zembro é muito boa altura para plantar árvores, se-jam elas quais forem.

Qualquer que seja o propósito do plantio de uma árvore, ela é um dos temas simbólicos mais ricos e generalizados de todos os tempos. Símbolo de transformação espelhado nos ciclos anuais de per-da de folhas e de regeneração, símbolo de verticali-dade e de comunicação entre o mundo subterrâneo (raízes), a superfície da terra (tronco) e as alturas (copa). Símbolos do sagrado, de uma família, de ilhas (Faial), de uma cidade ou de um país: folha de ácer na bandeira do Canadá ou o cedro na bandeira do Líbano. Símbolo de fertilidade, representado pelas pinhas nas entradas das propriedades ou nas varan-das de algumas casas. Plantadas outrora também para assinalar feitos importantes como o nascimen-to de um filho varão, um casamento, ou para perpe-tuar a memória da vitória numa batalha. As árvores são ainda símbolo de segurança (pela sua estabili-dade), de proteção (pela sua sombra) e da vida. Não é de estranhar esta veneração dos humanos para

com estes seres, elas ultrapassam largamente os homens em altura, dimensão e longevidade, quase parecendo eternas e por isso “sobrenaturais”. Para os Celtas, cada árvore tinha um poder próprio, talvez advenham daí algumas das diferentes simbologias a elas associadas: o carvalho representa solidez, po-tência, longevidade, força, majestade, sabedoria e hospitalidade; o castanheiro, previdência; a cere-jeira, pureza, felicidade e prosperidade; a nogueira o dom da profecia; o cipreste, o luto e longevidade, virtudes espirituais e santidade; o loureiro, imorta-lidade e glória; a oliveira, a paz, fecundidade e pu-rificação; o chorão, morte, tristeza e imortalidade e a tília a amizade e a fidelidade. Na Horta, o registo da importância de algumas árvores é mencionado nos Anais do Município, obrigando em 1621 todas as

pessoas que tivessem terra própria na ilha, a todos os anos, plantar duas de cada uma das seguintes árvores: castanheiro, oliveira e nogueira; a mesma fonte menciona ainda que em 1815 ninguém podia, no concelho da Horta, cortar “árvores sem plantar outras no seu lugar”. Seja qual for o seu motivo, pelo 13-14 de dezembro pode simplesmente colocar uma castanha num vaso ou fazer uma estaca de um ramo mole de uma qualquer árvore (apanhando uns 3 a 4 nós) e colocá-la até metade na terra e… esperar!

Lídia Silva

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a) Elevação lateral dos braçosColocar os pés paralelos à largura dos ombros e a

coluna bem alinhada. Braços ao longo do corpo com as palmas das mãos apoiadas na face externa das coxas. Elevar lentamente e em simultâneo os dois braços até à altura dos ombros inspirando. De segui-da baixar os braços lentamente e voltar a apoiar as palmas das mãos na face externa das coxas. Repetir o movimento completo 10x.

Exercício nº1

b) Movimentação alternada de um braço à fren-te e outro atrás

Colocar os pés paralelos à largura dos ombros e a coluna bem alinhada. Braços ao longo do corpo com as palmas das mãos apoiadas na face externa das coxas. Rodar naturalmente o tronco trazendo um braço à frente (não ultrapassar a altura do nariz) e o outro braço para trás. De seguida trazer lenta-mente os dois braços ao longo do corpo apoiando as palmas das mãos na face externa das coxas. Repetir o movimento 10x alienadamente para a direita e para a esquerda (5x dta. e 5x esq. alternado).

Remeta as dúvidas para: [email protected]

Orlanda André

ilustrações: Pantera Cor-de-Rosa

Page 14: Fazendo nº80

O que é que pequeno-almoçaste?O costume: cereais + muesli do LIDL + leite. Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o le-varias?Levava-o ao cimo do vulcão dos Capelinhos num dia de ventania e de trovoada. Parece-me o cenário perfeito. Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial?Para além de estarem rodeados de água não me ocorre muita coisa... Têm chamarritas, baleias e sopas! Quanto às pessoas, não encontro grandes semelhanças. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?Como é que adivinharam?! Não gosto mesmo... Mas aqui a chuva traz um sol imenso logo a seguir (ou al-gum tempo a seguir). E o pouco stress insular ajuda-

-me a ser mais tolerante ao mau tempo. Na escola que outra “disciplina” deveria ser obrigatória?Hum... hum... hum... falamos de “disciplina” ou de

“DISCIPLINA”? Bem, obrigatórias deviam ser as artes, desde que entram na escola até que vão para o en-sino superior. Mas umas artes no verdadeiro senti-do da coisa, de permitirem aos alunos a expressão livre e o desenvolvimento do intelecto através das mesmas. Não a arte que “afunila”... Mas enfim, isto sou só eu a puxar a brasa à minha sardinha. Quanto à “DISCIPLINA”, devia ser levada a sério. Hoje quase que os professores é que são repreendidos pelos alunos... incompreensível! Porque é que tens alguns projectos na gaveta?Porque sim. Tenho sempre. Quando os ponho cá fora arranjo sempre mais uns para a gaveta. Não sei viver sem eles.

O que é que mais odeias na internet?A lentidão em certos dias de temporal... tira-me do sério. Que forma de arte é que te aguça os caninos?

Todas! Desde que me encham as medidas. Apesar de ter enveredado pelas artes plásticas, a música, a dança, o teatro, a literatura também me conse-guem aguçá-los. Quando se conjugam então... ui! O que é que gostavas de ter nascido?Nunca pensei nisso. Mas às vezes invejo a vida de gato. Gostavas de ir morrer longe?É-me indiferente. Talvez onde der menos chatice a quem cá fica.

Entrevista com o MorcegoAna Correia

Nome: Ana CorreiaIdade: 31Profissão: Pintora

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Fazendo Avarias

Page 15: Fazendo nº80

Tomás Melo

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Gatafunhos

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Exposições

Esculturas, Projectos e DesenhosAutor: Agnes JutenData: Até 12 de janeiroLocal: Biblioteca Pública da Horta, ilha do Faial

Teatro

O Fim do MundoData: 20 e 21 de dezembroLocal: Casa de Chá Horta, Ilha do FaialPreço: visto que o Mundo vai acabar, não serão cobrados bilhetes

Cinema

Para Roma, Com Amor Realizador: Woody AllenData: 28 dezembroLocal: Auditório das Lajes do Pico, Ilha do PicoData: 29 e 30 de dezembroLocal: Teatro FaialenseHorta, Ilha do Faial

AgendaDezembro ‘12

/ janeiro ‘13

Page 16: Fazendo nº80

Horários

Horta — Madalena7h30; 10h30; 13h15; 15h15; 17h15

Madalena — Horta8h15; 11h15; 14h00; 16h00; 18h00

Cedros — Horta7h00; 12h45; 16h00;Sábados: 8h00

Piedade — S. Roque — Madalena6h15; 13h30;Domingos e feriados: 13h15

Piedade — Lajes — Madalena5h45; 12h55;Domingos e feriados: 12h55

Madalena — Lajes — Piedade10h00; 17h45;Domingos e feriados: 9h30

Horta — Cedros11h45; 15h20 (Hospital); 18h15;Sábados: 13h15

P. Norte — Horta7h00; 12h45;Sábados: 8h00

Madalena — S. Roque — Piedade10h00; 17h45;Domingos e feriados: 9h30

Horta — P. Norte11h45; 17h30;Sábados: 13h15

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Índice

Editorial

80

Resultado do Concurso de Capas

Açores segundo uma menina que já não existe

A Brasa Voltou

Uma ilha comprida e uma menina atleta

À conversa com Agnes Juten

O Bravo

Agostinho da Cruz

Troca de Galhardetes, O Experimentar na m’incomoda

Linhas Divergentes

Duplas

O fim do mundo

Cartas do Exílio VI

Montra de ler

Nemésio: A Pulsão Autobiográfica

Sobre ciclovias e outras histórias

Árvores

Sebenta de Exercícios

Entrevista com o Morcego

Gatafunhos

Agenda

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