FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
TÍTULO: A CADA QUADRO UMA VARIEDADE: A REPRESENTAÇÃO DE IDENTIDADES
LINGUÍSTICAS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Autora Lúcia Malacário de Campos
Escola de Atuação Colégio Estadual Alberto de Carvalho – Ensino Fundamental
Município da escola Prudentópolis
Núcleo Regional de Educação Irati
Orientadora Avanilde Polak
Instituição de Ensino Superior UNICENTRO
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática de Língua Portuguesa
Relação Interdisciplinar Artes e História
Público Alvo Alunos da 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental
Localização Colégio Estadual Alberto de Carvalho – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante – Rua Prefeito Antonio Witchemichen, 1215, centro.
Apresentação
A presente Unidade Didática é composta por atividades direcionadas para 6ª série (7º ano), do Ensino Fundamental, em uma escola da rede estadual de ensino. As Histórias em Quadrinhos (HQ’s) representam um gênero discursivo que aguça a curiosidade, bem como, o interesse dos alunos de todas as faixas etárias. Por esse motivo, essa Unidade Didática busca estabelecer uma reflexão sobre a presença das variações linguísticas no enredo de HQ’s. O objetivo das atividades propostas é de auxiliar os professores e alunos na análise das variações linguísticas presentes nas HQ’s, atentando para as diferenças entre a variedade padrão e a variedade não padrão da língua. As estratégias de ação foram estruturadas em: contextualizando o conhecimento, que destinou-se a abordagem histórica à contextualização das HQ’s conceituando
essa modalidade de texto e as variações linguísticas. Em seguida, será feita uma reflexão entre HQ’s e variação linguística, onde o aluno irá ter contato com textos em quadrinhos, seguidos de atividades que propiciem a produção de quadrinhos. A Unidade Didática é finalizada propondo a realização de uma exposição que compartilhará os conhecimentos adquiridos com a comunidade escolar.
Palavras-chave História em Quadrinhos, Variação Linguística, Leitura, Linguagem.
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
LÚCIA MALACÁRIO DE CAMPOS
UNIDADE DIDÁTICA
IRATI
2011
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LÚCIA MALACÁRIO DE CAMPOS
UNIDADE DIDÁTICA
A CADA QUADRO UMA VARIEDADE: A REPRESENTAÇÃO DE IDENTIDADES
LINGUÍSTICAS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Projeto de Intervenção Pedagógica apresentado
como requisito de avaliação referente ao
Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, Universidade Estadual do Centro Oeste –
UNICENTRO.
Orientadora: Avanilde Polak
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IRATI
2011
SUMÁRIO FICHA PARA CATÁLOGO ..................................................................................................... 1
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA ............................................................................... 1
1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 6
2 Histórias Em Quadrinhos E Identidade Linguística: sugestões de atividades ....................... 10
2.1 Contextualizando o Conhecimento ..................................................................................... 10
2.2 As Variedades LingUísticas ............................................................................................... 14
2.3 INTERAGINDO COM O OBJETO DE CONHECIMENTO ........................................... 18
2.4 CONCLUINDO A ATIVIDADE ....................................................................................... 19
2.5 COMPARTILHANDO AS ATIVIDADES ....................................................................... 20
2.6 SUGESTÕES DE MATERIAIS SOBRE O TEMA TRABALHADO PARA
PROFESSORES E ALUNOS .................................................................................................. 22
3 AVALIAÇÃO ....................................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 25
6
1 APRESENTAÇÃO
O presente trabalho procura fornecer aos professores da rede pública
estadual de ensino, instrumentos para tornar as aulas de Língua Portuguesa um
espaço de compreensão, análise e crítica sobre as especificidades inerentes aos
fenômenos linguísticos, entre eles, as variações da língua nas diversas situações e
contextos sociais. Procura-se relacionar os códigos verbais e não verbais que
permeiam a realidade e dos quais o ensino não pode ficar alheio.
Passando da linguagem visual presente nesse gênero, aliado ao discurso
verbal, pretende-se sugerir um caminho para que o aluno se desenvolva enquanto
leitor ativo, sendo capaz de estabelecer um diálogo com o texto e perceber no
mesmo, as diversas formas de expressão que tornam a língua um fenômeno vivo.
Justamente por ser um fenômeno vivo e dinâmico é que a língua está sujeita
a interferências que se devem a fatores diversos, tais como: regionalismos, classe
social, gênero, contexto histórico, experiências individuais. Assim, torna-se relevante
trabalhar nas aulas de Língua Portuguesa as variações nela existentes.
A questão da identidade cultural e da diversidade linguística, tema muito
abordado nas Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa (DCE’s), pode
ser focalizado de maneira abrangente em uma prática envolvendo história em
quadrinhos porque transmitem uma linguagem contextualizada a situações diversas
de comunicação. Questões como essas são relevantes para a formação de sujeitos
históricos capazes de entender e interpretar a realidade nas suas mais diversas
formas, enriquecendo, assim, o seu processo comunicativo.
A linguagem não verbal associada à linguagem verbal presentes na H.Q.
torna o processo comunicativo muito mais próximo do aluno. Ao associar palavra e
imagem a linguagem transforma-se em algo concreto, no qual a inferência de idéias
e conhecimentos prévios encontram maiores oportunidades de compreensão por
parte dos receptores do discurso.
No que se refere especificamente a HQ’s, sua estruturação é feita com base
em textos imagéticos atrelados ao texto verbal. Assim, incentivando a criação de
personagens, abrindo espaços e discussões onde o aluno seja sujeito da própria
construção do conhecimento, bem como de seu posicionamento no contexto social e
uso linguístico.
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As aulas de Língua Portuguesa devem favorecer ao aluno a utilização da
língua com a competência adequada a cada situação real e concreta de seu
cotidiano. Porém, nem sempre esse trabalho é desenvolvido efetivamente em sala
de aula, tornando o ensino da língua algo fragmentado e com pouco sentido para o
educando
Partindo desse pressuposto, surgem as questões: Qual a contribuição que
as histórias em quadrinhos podem ter nas aulas de Língua Portuguesa quando
abordada a temática das variações linguísticas? Como os alunos observam e
representam as subjetividades presentes na formação linguísticas de falantes do
português no Brasil?
Tais questões constituem o objeto de estudo deste trabalho, que tem como
objetivo central observar como os alunos representam as variações e identidades
linguísticas, e se posicionam frente às mesmas. Para isso, as atividades,
mobilizadas terão como foco, objetivos mais específicos, como:
Conceitualizar os termos variação e identidade linguística;
Analisar os elementos constituintes do gênero histórias em quadrinhos;
Promover uma reflexão sobre as variações linguísticas;
Propiciar a criação de personagens e histórias em quadrinhos tendo
como referências contextos sociais diversos.
A linguagem é uma necessidade fundamental inerente ao ser humano
(BAKTIN, 2003). Essa essencialidade confere a mesma diferentes formas de
expressão, múltiplas maneiras de comunicar uma mesma ideia.
A linguagem tem o potencial de mediar nossa ação sobre o mundo, por isso,
aumenta a necessidade e a relevância de novas práticas educacionais relativas ao
uso de diferentes gêneros textuais e aos requisitos de um letramento adequado ao
contexto atual.
Tão grande é a importância do conhecimento crítico sobre práticas
discursivas e sociais, que estudiosos do discurso afirmam que “esse tipo de
conhecimento está se tornando um pré-requisito para a cidadania democrática”.
(MEURER; ROTH, 2002, p.10).
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A maioria das pessoas não tem idéia do poder e do impacto da linguagem
no mundo contemporâneo e, consequentemente, a formação relativa ao uso da
linguagem e sua interação com o contexto onde é enunciada deve se tomar uma
prioridade na escola onde à norma padrão é ensinada como a mais “correta”, forma
de uso da língua.
É inegável, a necessidade de uma revisão crítica no ensino da norma padrão, para que ela, na condição de referência para determinados uso da língua (mais monitoradas e formais), se aproxime mais da realidade lingüística falada e escrita no Brasil. (BAGNO, STUBBS e GAGNÉ, 2002, p.31).
Nessa reflexão, reforça-se a importância de considerar a heterogeneidade
linguística presente nas salas de aula, formas de expressão que conferem à língua a
propriedade de criar e recriar sentidos, de construir subjetividades. Esse fato não
pode deixar de ser considerado nas aulas de Língua Portuguesa.
A sala de aula é um local privilegiado para tratamento da linguagem e seu
processo de construção, um espaço rico onde circulam múltiplas formas de
comunicação. Sob essa ótica torna-se viável criar estratégias de aproveitamento
dessas variações linguísticas, conceitos e pensamentos para enriquecer as
experiências linguísticas dos educandos, instrumentalizando-os a uma vivência
social consciente e atuante nos mais diversos contextos.
Cabe ao professor, não só o de Língua Portuguesa, dessa forma, propiciar
ao educando a leitura e discussão de textos das diferentes esferas sociais. As
práticas discursivas abrangem tanto dos textos escritos ou falados a integração da
linguagem verbal com outras linguagens.
A leitura dessas múltiplas linguagens pode auxiliar o envolvimento do sujeito
com as práticas discursivas alterando “seu estado ou condição em aspectos sociais,
psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos.”
(SOARES, 1998, p.18).
Dessa forma, é preciso que a escola tenha clareza de que tanto a norma
padrão quanto as outras variedades, embora apresentem diferenças entre si, são
igualmente lógicas e bem estruturadas.
A sociolinguística, não classifica as diferentes variações linguísticas como
boas ou ruins, pois constituem sistemas linguísticos eficazes que atendem a
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diferentes propósitos comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais
das comunidades. “A variação linguística compreende as diferentes formas de falar
a mesma língua, considerando a identidade cultural de cada região” (SOARES,
1998).
Trabalhar as diversas construções linguísticas através da história em
quadrinhos pode ser uma experiência enriquecedora. O professor pode selecionar
histórias em que a diversidade linguística apareça e possa ser analisada, por esse
motivo no presente estudo optou-se por trabalhar com as HQ’s, explorando o
conteúdo linguístico inerente às mesmas.
Os quadrinhos são uma forma de comunicação que utiliza da linguagem
verbal e não verbal para narrar um caso ou episódio qualquer. É por isso que os
quadrinhos ficaram conhecidos como arte sequencial (EISNER, 2001).
A configuração geral da história em quadrinhos por apresentar a palavra e
imagem, exige do leitor o exercício das suas habilidades interpretativas visuais e
verbais. A leitura desse texto é um ato de percepção estética e de esforço
intelectual.
As marcas linguísticas presentes nas histórias em quadrinhos são outro fator
a ser considerado. A diversidade linguística é trabalhada de forma a demonstrar a
amplitude de significados presentes no uso da linguagem. Esse é um fator
importante, como abordam as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua
Portuguesa, (2008, p.58):
A acolhida democrática da escola às variações lingüísticas toma como ponto de partida os conhecimentos lingüísticos dos alunos, para promover situações que os incentivam a fazer uso da variedade de linguagem que eles empregam em suas realidades sociais, mostrando que as diferenças de registro não constituem, cientifica e legalmente, objeto de classificação e que é importante a adequação do registro nas diferentes instancias discursivas.
Nesse sentido, é pertinente trabalhar a história em quadrinhos na
perspectiva da pluralidade linguística, pois, na sala de aula, como em qualquer outro
domínio social, encontramos grande variação no uso da língua. Assim, trabalhar
com a variedade de aspectos inerentes a sua língua materna, certamente, pode
ajudar o educando na produção de sentidos em relação ao aprendizado da língua,
bem como no processo de construção de identidades e subjetividades.
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2 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E IDENTIDADE LINGUÍSTICA:
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
2.1 CONTEXTUALIZANDO O CONHECIMENTO
Conhecer a origem do conhecimento a ser aprendido constitui fator
importante para que o sujeito seja mobilizado à aprendizagem. Isso porque, a
formação de sentidos para a aquisição do saber se dá, a partir do momento em que
se descobre o objeto de estudo nos contextos sociais em que adquirem
materialidade.
Portanto, a primeira ação a ser realizada será a contextualização histórica da
História em Quadrinho, abordando alguns conceitos a ela inerentes, bem como sua
repercussão na sociedade, abordaremos também, a questão da variação linguística
inerente a essa modalidade de texto.
2.1.1 História em Quadrinhos: Quando será que ela começou?
A história do desenho antecede a história da escrita. Mesmo antes de
conhecer o código escrito, o homem já desenhava fatos cotidianos, pois a expressão
comunicativa é uma necessidade que acompanha o ser humano desde a pré-
história.
Sabemos, através de informações e registros históricos que o homem
primitivo desenhava, nas paredes das cavernas em que morava, cenas de sua vida
diária: desenhos de homens caçando, de animais, de peixes, ou seja, de fatos
desenhados contando a sua história. Assim começaram as primeiras histórias em
quadrinhos.
Muito tempo depois, o povo egípcio com seus hieróglifos que misturavam
letras, símbolos e desenhos em continuação, também contribuíram para a evolução
das histórias em quadrinhos, pois os monumentos egípcios mostram uma sucessão
de desenhos feitos em colunas de pedra, como por exemplo, o faraó construindo
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uma pirâmide para seu túmulo e glorificando seu governo em uma sequência
(CEREJA; MAGALHÃES, 2009).
Foi com a invenção da imprensa que a história em quadrinhos, tal como a
conhecemos hoje, surgiu. Aos poucos, foi ganhando espaço no mundo todo. “Nos
Estados Unidos chama-se comics, na França: Bonde dessinée, na Itália: Fumetti, no
Japão: Mangá” (ANDRADE, 2004).
“Nos primeiros jornais as ilustrações eram raras, quase só traziam textos de
linguagem verbal. Havia três tipos de ilustração: a caricatura, objetos ou pessoas e a
reprodução do conteúdo do texto” (ANDRADE, 2004).
Aos poucos, os escritores e editores de jornais americanos começaram a perceber a preferência do público por textos ilustrados. Criou-se então, o que se considera como marco inicial da história em quadrinhos, o aparecimento, em 1894 do “Yellow Kid” (O Garoto Amarelo), criação do desenhista Norte-Americano Richard F. Outcault para o Jornal New York World. A personagem era um menino pobre que vivia em uma favela de Nova Iorque e usava um camisolão amarelo, onde o texto aparecia escrito. (CEREJA; MAGALHÃES, 2009).
A partir de então, muitos desenhistas criaram outras personagens, mas a
consolidação das histórias em quadrinhos, com balões e onomatopéias, aconteceu
muito tempo depois, quando surgiram os heróis de surpreendentes aventuras como
“Tarzan”, por exemplo.
No Brasil, por muito tempo, a produção de histórias em quadrinhos se limitou
à publicação de quadrinhos estrangeiros e só mais tarde ganhou autonomia com a
primeira revista voltada ao público infantil em 1905, essa revista chamou-se Tico-
Tico. Inicialmente, apresentava poucas páginas com quadrinhos, as demais páginas
destinavam-se à curiosidades, fábulas e fatos sobre História Brasileira. (CEREJA;
MAGALHÃES, 2009).
A partir da década de 60, os quadrinhos nacionais ganharam importantes
artistas, criadores de personagens inesquecíveis. Ziraldo criou o Pererê e o Menino
Maluquinho, Mauricio De Sousa criou o Bidu e, mais tarde, a turma da Mônica, além
de outros cartunistas igualmente renomados e que dão humor e criticidade a fatos
simples do dia a dia, através de personagens que acabaram fazendo parte da
cultura brasileira e cujas características são compartilhadas por gerações, dando
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vida a linguagem e recriando formas de expressão, marcas linguísticas que
dinamizam a língua enquanto fenômeno social.
Atividade I
Nesta atividade o professor poderá sugerir que os alunos formem grupos
para que seja feita a leitura do texto: A História da História em Quadrinhos, de
Adauto Andrade (2004), e, em seguida, discutam entre eles sobre as histórias em
quadrinhos que já leram e quais os personagens que chamaram mais a atenção.
Assim, poderão fazer um levantamento das histórias em quadrinhos mais
conhecidas citando os personagens e algumas características que possam ser
identificadas nos mesmos.
2.1.2 O que são HQ’s?
De acordo com a revista Ciência Hoje das Crianças de agosto de 1998, “os
quadrinhos são textos que utilizam desenhos para narrar fatos ou um episódio
qualquer”. Sempre que duas ou mais imagens são desenhadas uma após a outra
criando uma seqüência, trata-se de uma história em quadrinhos. Por isso mesmo,
esse tipo de texto ficou conhecido como “arte sequencial”.
HQ’s contam, conforme seu nome já diz uma narrativa. É importante uma
narrativa que envolve fatos, personagens, tempo e espaço. Os fatos se organizam
em uma sequencia baseados em quadros, imagens gráficas e verbais.
As personagens das HQ’s geralmente apresentam características bem
definidas. A personagem Mônica, por exemplo, criada por Mauricio de Sousa e
conhecida por todos, é muito forte e brigona; o Cascão, não gosta de tomar banho; a
Magali é comilona; e assim por diante. Tais características são, quase sempre,
apresentadas ao leitor através do discurso das personagens ou por comentários de
outras personagens sobre elas (FARACO; MOURA, 2001).
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O balão é um elemento que caracteriza os quadrinhos e consiste em um
espaço que quase sempre sai da boca das personagens, na qual aparecem a fala
ou o pensamento das mesmas (FARACO; MOURA, 2001).
Outras características também são encontradas nos quadrinhos e servem
para dar maior expressividade à história como, por exemplo, a reprodução de sons e
ruídos, que se procura imitar aproximadamente através da escrita. Esse recurso
chama-se “onomatopéia” e é uma figura de linguagem.
Além das onomatopeias, os quadrinhos apresentam muitas palavras e
expressões que traduzem emoções, sensações e sentimentos das personagens.
Essas palavras são chamadas de “interjeições” que costumam vir acompanhadas do
ponto de exclamação (FARACO; MOURA, 2001).
Esses recursos ajudam a tornar a linguagem mais interessante e
descontraída. Não é difícil perceber que as personagens das histórias em
quadrinhos costumam usar uma linguagem informal, bem parecida com a que
empregamos em nosso dia-a-dia, em casa ou com os amigos.
Atividade II
Neste momento o professor poderá mobilizar os alunos para a segunda
atividade, reunindo-os novamente em grupos e disponibilizando algumas HQ’s para
escolha, que o mesmo deverá antes de tudo selecionar de modo diversificado, ou
seja, apanhar HQ’s em gibis, jornais, revistas, etc. Assim, cada aluno deverá
elaborar em seu caderno uma lista das características apresentadas pela HQ
escolhida. Os alunos deverão considerar os seguintes critérios: finalidade do tipo de
texto, público ao qual gênero textual se destina, em que tipo de material foi
encontrado (livro, revista, jornal), tema, estrutura e linguagem.
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Atividade III
Nesta atividade o professor deverá disponibilizar aos alunos materiais como:
tesoura, cola, gibis velhos (que podem ser encontrados em sebos ou na própria
biblioteca da escola), cartolina e canetas coloridas, para que se desenvolva esta
atividade onde o aluno irá montar um cartaz, dando a ele um título e expondo no
mural da escola. É interessante que o professor deixe os alunos livres para
escolherem entre as três opções abaixo:
1) Recortar dos gibis quadrinhos que contenham onomatopeias e
interjeições, em seguida colar os quadrinhos na cartolina e identificar o
som ou o ruído expresso pela onomatopeia e os estados emocionais
sugeridos através de interjeições.
2) Recortar e colar na cartolina quadrinhos com balões de todos os
formatos dando títulos a eles: balão de fala, balão de pensamento, balão
de grito, etc.
3) Recortar personagens diversas e colar na cartolina, escrevendo um
pequeno texto sobre ela onde serão identificadas suas principais
características, seu nome, revista a qual pertence, seus amigos, jeito de
falar, etc.
2.2 AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Assim como tudo o que há no mundo, a língua que falamos também está
sujeita as mudanças. A língua não para no tempo, ela é um fenômeno vivo que
recebe as interferências do meio que a utiliza.
A nossa Língua Portuguesa é uma unidade que se constitui de muitas
variedades. Embora haja apenas uma língua nacional no Brasil, a mesma pode ser
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falada de formas diferentes de acordo com fatores como: faixa etária, classe social,
região onde mora, cultura, entre outros.
A língua também varia com o passar do tempo, por exemplo, a palavra
“ciências”, na época de nossos bisavós ou tataravôs, pelos meados de 1850 era
escrita desse forma: “Sciencias”, a palavra “farmácia” era “pharmacia”. E assim,
tantas outras palavras que hoje escrevemos ou falamos. Isso acontece porque a
língua não para no tempo, muitas palavras que antigamente eram usadas, bem
como cartas expressões idiomáticas e gírias, caíram em desuso. Pode ser
ressaltado que, se você conversar com uma pessoa bem mais velha, irá perceber
que a mesma utiliza termos diferentes que a sua geração já substituiu por outros “da
hora”.
Atividade IV
O professor poderá sugerir para esta atividade que os alunos conversem
com pessoas de faixa etárias distintas a sua, observando palavras e expressões que
são pouco usadas na atualidade. Depois, anotem o significado de cada uma,
substituindo por outro termo utilizado atualmente.
Em seguida, apresentem o resultado da pesquisa aos colegas e completem
a sua relação com os dados trazidos pela classe.
Ao término desta atividade IV, o aluno estará mais integrado com a questão
das variações linguísticas em seu aspecto histórico. Após essa pesquisa oral no
contexto social em que o próprio aluno está inserido, é pertinente instigar uma
pesquisa em materiais impressos para os alunos. Então, observemos a próxima
atividade.
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Atividade V
O professor poderá requerer aos alunos uma pesquisa de palavras da língua
portuguesa que são utilizadas em outras regiões do Brasil e que são diferentes da
região em que os mesmo se encontram.
A língua que aprendemos na escola é apenas uma das variedades
linguísticas, a considerada padrão, por motivos históricos e sociais.
A variedade padrão “é o modelo ideal de língua que deve ser utilizado nos
documentos oficiais, textos científicos e didáticos, em jornais, livros e revistas; é
aquele que é ensinado e aprendido na escola” (DELMANTO; CASTRO, 2009, p.45).
Vale ressaltar que a variedade coloquial não é errada ou pobre de recursos.
Segundo o linguista Marcos Bagno (2002), não ser um modelo imitado por quem é
considerado instruído, não significa que a variedade “não padrão” ou “coloquial” seja
insuficiente para a expressão, pois ela tem uma lógica, tem regras e pode promover
a comunicação se houver compreensão entre os interlocutores.
É importante que o professor se utilize de uma linguagem objetiva para que
o aluno compreenda certos conceitos e, assim, interaja com o conhecimento
referentes à comunicação e a variação linguística.
Atividade VI
Neste momento, procure no dicionário o significado da palavra “interlocutor”
para entender melhor o processo comunicativo, pois, como dizia Abelardo Barbosa,
o “Chacrinha”: “Quem não se comunica se estrumbica”.
Agora, partindo da definição da palavra “interlocutor” e da experiência
adquirida nas atividades anteriores sobre a variação linguística, é pertinente que o
professor inicie um debate sobre o ato da comunicação, os interlocutores e
contextos sociais.
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Nessa atividade dialogada o professor terá oportunidade de observar como
os alunos estão interagindo no desenvolvimento das atividades e, até que ponto,
esse trabalho em sala de aula está surtindo reações no ensino em sala de aula.
A linguagem “informal” (ou “não padrão”) é muito utilizada nas HQ’s, pois
isso a torna mais interessante e próxima do público que a lê. O leitor consegue
interagir com o texto de forma agradável e descontraída, principalmente, porque as
HQ’s se aproximam muito do público através da linguagem.
Sobre essa proximidade das histórias com o público, podemos citar o
cartunista, Maurício de Sousa, quando criou o personagem “Chico Bento”, imaginou
tudo o que caracteriza um menino que vive na roça, desde o seu jeito de comportar-
se com a família e os amigos, até seu modo de falar.
Atividade VII
Para esta atividade, o professor deverá escolher um personagem e levar
para sala de aula tiras do mesmo. É interessante que o professor contextualize o
período e meio onde o personagem é retratado. Instigando a análise dos seguintes
aspectos:
A língua usada por Chico Bento é diferente daquela utilizada em
jornais, revistas e livros?
É possível compreender o que ele diz?
Que diferenças há entre o português falado pelo personagem que vive
nesse contexto, e outros personagens que vivem em contextos
diferentes?
Todas as variedades linguísticas têm seu valor e a sua importância, desde
que sejam utilizados em situações adequadas.
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Quando vamos a uma solenidade, por exemplo, usamos uma roupa
elegante, quando vamos à praia, usamos trajes de banho. Assim como existe uma
roupa adequada a cada situação, existe também uma variedade linguística
adequada a cada situação. Quanto mais variedades conhecemos, mais estamos
preparados para falar com pessoas de qualquer região do país, de qualquer nível
social e em qualquer situação.
Às vezes, mesmo sem perceber, falamos em determinadas situações de
modo “diferente”, ou seja, adequando a nossa forma de falar conforme o contexto
onde estamos inseridos. Em situações como falar em público, ou conversar com
pessoas mais instruídas que nós ou que ocupam posições elevadas na sociedade,
automaticamente cuidamos da nossa fala, evitando expressões muito informais ou
gírias.
2.3 INTERAGINDO COM O OBJETO DE CONHECIMENTO
A partir de agora, o professor poderá avisar aos seus alunos que estes irão
ter contato com uma variedade de textos em quadrinhos, assim teremos a
oportunidade de conhecer as características de diferentes personagens, como elas
falam, como é estruturada a história, que estratégias os cartunistas utilizam para
tornar-se interessantes e chamar a atenção do leitor.
Assim, a atividade VIII será uma aula de leitura.
Atividade VIII
Em grupos, o professor distribuirá revistas em quadrinhos variados. Cada
aluno escolherá uma história para ler em silêncio.
Ao terminar a leitura, cada aluno receberá uma folha de papel sulfite onde
identificará os seguintes aspectos:
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Quais as características físicas das personagens?
Quais as características psicológicas das personagens?
Quais as marcas linguísticas presentes na fala das personagens?
Retire do texto lido, palavras que seja referentes ao uso informal da
língua.
Agora que o aluno já conhece melhor as características de algumas
personagens, já percebeu como se estrutura o universo da linguagem nas HQ’s,
também construiu algum suporte sobre esse tipo de texto, é hora de começar a
colocar em prática esses conhecimentos. Antes de construir os textos, é preciso
organizar e planejar como será realizado esse trabalho.
2.4 CONCLUINDO A ATIVIDADE
2.4.1 Como se constrói uma história em quadrinhos?
Para criar uma HQ’s é preciso, antes de tudo, criar as personagens que
participarão da história. Nós podemos desenhá-las e imaginar suas características,
ou seja: como elas são física e psicologicamente, como é seu comportamento, de
que forma elas falam, etc.
O professor deve lembrar ao aluno que quando lemos uma HQ’s, estamos
vendo as personagens, como elas são fisicamente. Porém, suas características
psicológicas são reveladas por suas ações, expressões e gestos, pela maneira
como se comportam, pelo seu discurso. Esses traços aparecem nos desenhos e nas
atitudes, nas falas e nos pensamentos das personagens.
A personalidade das personagens faz toda a diferença na produção dos
quadrinhos. Portanto, o professor irá direcionar cada passo ao aluno da seguinte
forma:
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Atividade IX
Criar o texto da história. Pode ser usada a linguagem informal, ou seja,
o mesmo tipo de linguagem que utilizamos no dia a dia;
Em seguida, deve-se fazer um rascunho da história na sequência
correta dos quadrinhos já com as personagens e suas falas, pensamentos
e legendas;
Completar os quadrinhos com o cenário em que os fatos acontecem:
uma rua, um jardim, uma floresta, o que sua imaginação mandar e tenha
relação com o conteúdo da história;
Inventar um título para a história no primeiro quadrinho e a palavra “fim”
no último;
Somente quando já tiver modificado tudo o que considerar necessário,
comece a fazer a versão final;
Prontas as tiras, é hora de passar à confecção do gibi.
Decidir o tamanho da revista, se ela será grampeada ou espiral. Juntar
todas as tiras, montando a revista do grupo;
Não se deve esquecer-se de colocar em cada tira, o nome do autor da
mesma e a data em que foi produzida.
2.5 COMPARTILHANDO AS ATIVIDADES
2.5.1 Organizando a exposição das histórias em quadrinhos produzidas
Atividade X
Professor, motive seus alunos para socializar seus trabalhos, através de
uma exposição. Consulte anteriormente, a direção da escola, certifique-se quais são
os espaços disponíveis para esta atividade no estabelecimento de ensino.
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Depois, observe a opinião dos alunos, em qual dos espaços eles gostariam
de realizar a atividade. É importante essa interação, pois assim tanto os alunos
quanto a comunidade escolar se sentem mais motivados, bem como, a atividade
será desenvolvida com melhores resultados.
Agora é só organizar uma exposição!
Socializar o trabalho realizado é muito importante para o alcance dos
objetivos traçados em todas as ações realizadas. Um momento de troca, de
observar a produção e o ponto de vista do outro, abre espaço para a construção de
subjetividades e enriquece as experiências individuais.
Assim, um trabalho como esse não poderia deixar de ser exposto em uma
amostra bem organizada, onde os alunos sejam os sujeitos na organização, com o
auxílio do professor.
Para montar a exposição é necessário primeiramente escolher o local para
montar a mostra, esse local deve ser preparado e bem organizado para que a
exposição valorize o trabalho realizado.
Pode-se, inclusive, montar um mural que identifique a exposição com o título
do trabalho em letras grandes: “Histórias Em Quadrinhos”.
As produções podem ficar à disposição dos demais alunos da escola para
que todos possam compartilhar dos resultados.
Antes de a exposição acontecer, é importante divulgá-la
Alguns alunos podem ir às demais salas de aula, considerando os colegas e
professores a prestigiar o trabalho realizado. Os pais, funcionários e a comunidade
podem e devem ser convidados a participar, pois a interação constitui um ponto
positivo para o bom encaminhamento das atividades escolares.
Sabemos que a leitura deve ser um hábito na vida das pessoas, pois ela
amplia os horizontes do conhecimento e ajuda na construção da identidade dos
sujeitos. Portanto, ao se realizar um trabalho envolvendo a leitura seja de um ou de
outro gênero textual, ele não deve esgotar-se nos momentos que transcorrerem o
seu desenvolvimento, pois tal desenvolvimento deve ser contínuo e evolutivo.
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Assim, após as exposições, propõe-se que os alunos criem com os colegas
dos outros grupos um sistema de trocas das revistinhas. Esse material ficará
disposto na biblioteca da escola para ser acessado por outros que tiverem interesse.
Aqueles que são admiradores das HQ’s podem, ainda, pesquisar na Internet,
sites especializados no assunto, onde, inclusive, podem criar suas histórias e
divulgá-las na rede.
2.6 SUGESTÕES DE MATERIAIS SOBRE O TEMA TRABALHADO PARA
PROFESSORES E ALUNOS
2.6.1 Livros
- O Mundo das Histórias em Quadrinhos, de Leila Rentroia Lannone e Roberto
Antonio Lannone;
- Como Fazer Histórias em Quadrinhos, de Juan Acevedo;
- Como Desenhar Cartuns, de Petter Madocks;
- Quadrinhos em Ação: um século de histórias, de Mário Féyo.
2.6.2 Vídeos
- As crônicas de Spiderwick, de Mark Waters;
- Madagascar 2, de Erick Darnell;
- Desventuras em Série, de Brad Silberling;
- Homem Aranha 3, de Sam Raimi;
- O Show do Garfield, de Jim Davis;
- A Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa.
2.6.3 Sites
- www.dcomics.com;
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- www.marvel.com;
- www.monica.com.br;
- www.devir.com.br;
- www.gibiteca.rg3.net/;
- www.centrocultural.sp.gov.br/gibiteca/index/html;
- www.sesisp.org.br/home/sociocultural/gibiteca.asp.
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3 AVALIAÇÃO
De acordo com as DCE’s é importante que a avaliação seja um processo de
aprendizagem contínuo dando prioridade ao crescimento e desempenho no aluno.
Portanto, a avaliação será diagnóstica, todas as produções dos alunos serão
avaliadas, bem Omo seu envolvimento e participação nas mesmas. Os instrumentos
de avaliação serão trabalhos, produções e explanações orais dos conhecimentos
mobilizados.
É previsto que esse conhecimento dure aproximadamente dez aulas,
dependendo do desempenho dos alunos, suas dificuldades e possibilidades,
considerando que cada sujeito é um ser único, com diferentes vivências e
experiências de vida.
De acordo com as DCE’s de Língua Portuguesa (2006): “A avaliação
formativa considera que os alunos possuem ritmos e processos de aprendizagem
diferentes e, por ser contínua e diagnóstica, aponta dificuldades, possibilitando que a
intervenção pedagógica aconteça o tempo todo.”
Sob essa perspectiva, o processo será avaliado como um todo, respeitando
as diferenças e promovendo uma ação pedagógica de qualidade e construindo
relações educativas formadoras e includentes.
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REFERÊNCIAS
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BAGNO, M. (Org.) Língua Materna: Letramento, Variação e Ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CEREJA, W. MAGALHÃES, T. C. Português Linguagens. São Paulo: Atual, 2006.
DELMANTO, D.; CASTRO, M. da Conceição. Português 7º Ano Ideias e Linguagens. Minas Gerais: Saraiva, 2009.
EISNER, W. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FARACO, C. E.; MOURA, F. M. de. Português. 1ª Ed. Minas Gerais: Ática, 2001. [série: Novo Ensino Médio].
INSTITUTO CIÊNCIA HOJE. Revista Ciência Hoje das Crianças. Ago/1998.
MEURER, J. L.; ROTH, D. M. Gêneros Textuais. São Paulo: EDUSC, 2001.
PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.
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POSSENTI, S. Por que (não) Ensinar Gramática. 4ªed. São Paulo: Mercado das Letras, 1996.
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SOARES, M. Letramento: Um Tema em Três Gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
SOUSA, Mauricio de. Tira 192. Disponível em: <http://www.turmadamonica.com.br/index.htm> Acesso em: 06/08/2011