Download - Fisiologia Aplicada Ao Trabalho
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São Paulo SP BrasilTel.: (11) 5017-0697Fax: (11) 5017-2910
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Fisiologia Aplicada ao Trabalho
Márcia Di GiovanniMariá Vendramini Castrignano de Oliveira
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Fisiologia Aplicada ao Trabalho
Márcia Di GiovanniMariá Vendramini Castrignano de Oliveira
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Gerência Tatiana Pincerno Ribeiro
Coordenação Técnica Liria Aparecida Pereira
Edição Centro de Educação Ambiental do Senac São Paulo
SOBRE AS AUTORAS
Márcia Di Giovanni
Pós-graduada em Enfermagem do Trabalho pela Fundacentro / UFPR (Universidade Federal do
Paraná) com formação e habilitação em Enfermagem do Trabalho pela UFPR.
Docente do Senac nos cursos de Especialização em Auxiliar e Técnico de Enfermagem do Trabalho e
Técnico em Segurança do Trabalho.
Enfermeira do Trabalho na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) São Paulo.
Mariá Vendramini Castrignano de Oliveira
Graduada em Enfermagem pela Universidade do Sagrado Coração de Bauru/SP, com especialização
em Enfermagem do Trabalho pela União Camiliana de São Paulo e licenciatura em Enfermagem pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, graduada em Direito pela Faculdade de Direito da
Universidade São Marcos – São Paulo.
Docente e coordenadora do curso de Especialização em Auxiliar e Técnico de Enfermagem do
Trabalho do Centro de Educação Ambiental do Senac.
Novembro/2004
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SUMÁRIO
PARTE I
1. O Corpo Humano ............................................................................................ 06
1.1. Definição de Anatomia e Fisiologia ................................................................... 06
1.2. Níveis de organização ...................................................................................... 06
2. O Sistema Neuromuscular-esquelético .............................................................. 08
2.1. Sistema nervoso central................................................................................... 08
2.2. Sistema muscular ............................................................................................ 13
2.3. Sistema esquelético ........................................................................................ 18
3. Sistema cardiovascular .................................................................................... 22
4. Sistema respiratório ........................................................................................ 27
5. Órgãos sensoriais ........................................................................................... 32
5.1. Visão ............................................................................................................. 33
5.2. Audição .......................................................................................................... 34
PARTE II
1. Biótipo – influências no trabalho ...................................................................... 37
2. Preconceitos e discriminações no trabalho ........................................................ 42
2.1. O idoso e o trabalho ....................................................................................... 43
2.2. A mulher e o trabalho ..................................................................................... 45
2.3. Os portadores de necessidades especiais e o trabalho ....................................... 50
4
2.4. O negro e o trabalho ....................................................................................... 53
3. Metabolismo corpóreo e hábitos alimentares ..................................................... 55
4. Trabalho muscular estático e dinâmico ............................................................. 64
5. Fatores humanos no trabalho .......................................................................... 67
5.1. A memória ..................................................................................................... 67
5.2. A motivação ................................................................................................... 70
5.3. A monotonia ................................................................................................... 72
5.4. Uso de substâncias estimulantes para driblar a monotonia.................................. 75
6. Ritmo circadiano e o trabalho noturno .............................................................. 78
7. Jornada de trabalho e pausas .......................................................................... 84
8. Ergonomia ...................................................................................................... 90
9. Fadiga ............................................................................................................ 99
9.1. Fadiga somática, física ou orgânica .................................................................. 99
9.2. Fadiga psíquica ou mental...............................................................................102
10. Estresse.........................................................................................................104
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.................................................................................112
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INTRODUÇÃO
Fisiologia aplicada ao trabalho consiste no estudo da capacidade física do ser humano em
relação aos diferentes tipos e condições de trabalho. O objetivo principal deste estudo é
proporcionar aos profissionais da saúde do trabalhador conhecimentos específicos para
oferecerem aos trabalhadores uma visão das condições práticas de realização de suas tarefas
sem um desgaste físico exagerado, para que, após a jornada de trabalho, eles ainda tenham
condições e disposição física suficiente para aproveitar as horas de lazer.
O uso da máquina, da automação e a criação de outros dispositivos externos poupam trabalho
ao homem, contribuindo assim para a diminuição do trabalho físico pesado.
A fisiologia e a psicologia aplicadas ao trabalho proporcionam a adaptação dos processos de
trabalho à capacidade funcional e psíquica do ser humano, fazendo com que ele apresente
maior rendimento produtivo sem que isso lese sua integridade e dignidade.
A primeira parte deste trabalho procura mostrar, resumidamente, as principais funções do
organismo humano e sua influência sobre o desenvolvimento do trabalho, qualquer que seja
ele. São elas: funções neuromuscular-esquelética, cardiovascular, respiratória, visão e
audição. O conhecimento dessas funções é essencial para a compreensão da segunda parte
do material, onde poderemos entender melhor certas proposições e fazer a escolha de
métodos de trabalho mais adaptados, apropriados e menos desgastantes ao funcionamento
do organismo humano.
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PARTE I
ANATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA
1. O CORPO HUMANO
1.1 Definição de Anatomia e Fisiologia
As estruturas e as funções do corpo humano são estudadas através das ciências da anatomia
e da fisiologia.
A anatomia (anatome = cortar em partes, cortar separando) refere-se ao estudo da estrutura
e das relações entre estas estruturas.
A fisiologia (physis + lógos + ia) lida com as funções das partes do corpo, isto é, como elas
trabalham.
A função nunca pode ser separada completamente da estrutura, por isso você aprenderá
sobre o corpo humano estudando a anatomia e a fisiologia, em conjunto. Você verá como
cada estrutura do corpo está designada para desempenhar uma função específica e, como a
estrutura de uma parte, muitas vezes, determina sua função. Por exemplo, os pêlos que
revestem o nariz filtram o ar que inspiramos. Os ossos do crânio estão unidos firmemente
para proteger o encéfalo. Os ossos dos dedos, em contraste, estão unidos mais frouxamente
para vários tipos de movimentos.
O corpo humano consiste de vários níveis de organização estrutural que estão associados
entre si.
1.2 Níveis de organização
O nível químico inclui todas as substâncias químicas necessárias para manter a vida. As
substâncias químicas são constituídas de átomos, a menor unidade de matéria, e alguns
deles, como o carbono (C), o hidrogênio (H), o oxigênio (O), o nitrogênio (N), o cálcio (Ca), o
potássio (K) e o sódio (Na) são essenciais para a manutenção da vida. Os átomos combinam-
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se para formar as moléculas. As moléculas são dois ou mais átomos unidos. Exemplos
familiares de moléculas são as proteínas, os carboidratos, as gorduras e as vitaminas.
As moléculas, por sua vez, combinam-se para formar o próximo nível de organização: o nível
celular. As células são as unidades estruturais e funcionais básicas de um organismo. Entre
os muitos tipos de células existentes em nosso corpo estão as células musculares, as nervosas
e as sangüíneas. Cada célula tem sua função específica.
O terceiro nível de organização é o nível tecidual. Os tecidos são grupos de células
semelhantes que, juntas, realizam uma função particular. Os quatro tipos básicos de tecidos
são tecido epitelial, tecido conjuntivo, tecido muscular e tecido nervoso.
Quando diferentes tipos de tecidos estão unidos, eles formam o próximo nível de organização:
o nível orgânico. Os órgãos são compostos de dois ou mais tecidos diferentes, têm funções
específicas e, geralmente, apresentam uma forma reconhecível. Exemplos de órgãos: o
coração, o fígado, os pulmões, o cérebro, o estômago e outros.
O quinto nível de organização é o nível sistêmico. Um sistema consiste de vários órgãos
relacionados que desempenham uma função comum. O sistema digestório, que funciona na
digestão e na absorção dos alimentos, é composto pelos seguintes órgãos: boca, glândulas
salivares, faringe (garganta), esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, fígado,
vesícula biliar e pâncreas.
O mais alto nível de organização é o nível de organismo.
Todos os sistemas do corpo funcionando como um todo, formando um organismo – o ser
humano.
Os principais sistemas do organismo, entre outros, são: nervoso, muscular, esquelético,
respiratório e cardiovascular.
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2. SISTEMA NEUROMUSCULAR-ESQUELÉTICO
Como o próprio nome diz, é composto pelos sistemas nervoso central (SNC), muscular e
esquelético. Iniciaremos a abordagem do tema proposto pelo SNC.
2.1 Sistema nervoso central
Os sistemas envolvidos na coordenação e na regulação das funções do corpo são os sistemas
nervoso e o endócrino.
O sistema nervoso humano é o mais complexo entre os animais. Sua função básica é de
receber informações sobre as variações externas e internas e produzir respostas a essas
variações através dos músculos e glândulas. Desta forma ele contribui, juntamente com o
sistema endócrino, para a homeostase do organismo. Além disso, o sistema nervoso humano
possui as chamadas funções superiores que inclui: a memória, que corresponde à capacidade
de armazenar informações e depois resgatá-las, o aprendizado, o intelecto, o pensamento e a
personalidade.
As mensagens nervosas podem ser grosseiramente comparadas com correntes elétricas que
caminham por células especiais: os neurônios. Essas mensagens são os impulsos nervosos.
Os neurônios contam com duas propriedades fundamentais para as funções que exercem:
ü a excitabilidade (capacidade de reagir aos estímulos), e
ü a condutibilidade (uma vez alterados pelos estímulos, os neurônios transmitem essa
alteração por toda sua extensão, em grande velocidade).
O tempo decorrido entre um estímulo e a resposta que ele promove é sempre muito pequeno.
Os neurônios são os constituintes fundamentais do sistema nervoso. É uma célula composta
de um corpo celular, onde está o núcleo, e de finos prolongamentos celulares, que são os
dendritos e o axônio.
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Fonte: Sistema nervoso, disponível em <http:www.afh.bio.br>
Os dendritos são prolongamentos geralmente muito ramificados e que atuam como
receptores de estímulos. Os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos e só
possuem ramificações na extremidade.
O percurso do impulso nervoso no neurônio é sempre no sentido dendrito è corpo
celular è axônio. A região de passagem do impulso nervoso de um neurônio para a
célula subseqüente chama-se sinapse.
Fonte: Sistema nervoso, disponível em <http:www.afh.bio.br>
Transmissão do estímulo
Ao receber um estímulo, a membrana do neurônio que é revestida por uma bainha de
mielina se despolariza, isto é, sofre inversão das cargas elétricas: externamente, ficam as
cargas negativas, e internamente, as positivas – que é chamado de potencial de ação. Uma
vez que um ponto em qualquer lugar do nervo se torne despolarizado, um impulso nervoso
propaga-se a partir dele em cada direção, e cada impulso é assim mantido, propagando-se
até atingir as extremidades da fibra.
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Imediatamente após a onda de despolarização ter-se propagado ao longo da fibra nervosa, o
interior da fibra torna-se carregado positivamente, porque um grande número de íons sódio
se difundiu para o interior. Essa positividade determina a parada do fluxo de íons sódio para
o interior da fibra, fazendo com que a membrana se torne novamente impermeável a esses
íons. Por outro lado, a membrana torna-se ainda mais permeável ao potássio, que migra
para o meio interno. Devido à alta concentração desse íon no interior da membrana, muitos
íons se difundem, então, para o lado de fora. Isso cria novamente eletronegatividade no
interior da membrana e positividade no exterior – processo chamado repolarização, pelo qual
se restabelece a polaridade normal da membrana.
A repolarização normalmente se inicia no mesmo ponto onde se originou a despolarização,
propagando-se ao longo da fibra. Após a repolarização, a bomba de sódio bombeia
novamente os íons sódio para o exterior da membrana, criando um déficit extra de cargas
positivas no interior da membrana, que se torna temporariamente mais negativo do que o
normal. A eletronegatividade excessiva no interior atrai íons potássio de volta para o interior
(por difusão e por transporte ativo). Assim, o processo traz as diferenças iônicas de volta aos
seus níveis originais.
Na sinapse, região de contato entre dois neurônios, existe, geralmente, uma pequena
distância entre as duas células envolvidas, não há continuidade entre a membrana de
ambas. A passagem do impulso nervoso nessa região é feita por substâncias químicas: os
neuro-hormônios, também chamados mediadores químicos ou neurotransmissores.
Desta forma, a transmissão do impulso ocorre sempre do axônio de um neurônio para o
dendrito ou corpo do neurônio seguinte.
Um processo semelhante ocorre nas junções entre as terminações dos axônios e os
músculos; essas junções são chamadas placas motoras ou junções neuro-musculares.
Por meio das sinapses, um neurônio pode passar mensagens (impulsos nervosos) para
centenas ou até milhares de neurônios diferentes.
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Os corpos celulares são geralmente encontrados em áreas restritas do sistema nervoso, que
formam o Sistema Nervoso Central (SNC), ou nos gânglios nervosos, localizados próximo da
coluna vertebral.
Do sistema nervoso central partem os prolongamentos dos neurônios, formando feixes
chamados nervos, que, juntamente com os gânglios nervosos, constituem o Sistema
Nervoso Periférico (SNP).
Os nervos que levam informações da periferia do corpo para o SNC são os nervos
sensoriais (nervos aferentes ou nervos sensitivos), que são formados por prolongamentos
de neurônios sensoriais (centrípetos). Aqueles que transmitem impulsos do SNC para os
músculos ou glândulas são nervos motores ou eferentes, feixe de axônios de neurônios
motores (centrífugos).
Existem ainda os nervos mistos, formados por axônios de neurônios sensoriais e por
neurônios motores.
A ligação de vários neurônios constitui verdadeiras cadeias para a transmissão de sinais,
entre o SNC e o músculo comandado.
A sinapse tem as seguintes propriedades:
ü Sentido único: os impulsos são conduzidos num único sentido, entrando pelos
dendritos e saindo pelo axônio;
ü Fadiga: caso haja condução muito freqüente de impulsos, as sinapses reduzem a
capacidade de transmissão;
ü Efeito residual: a aplicação do mesmo estímulo rapidamente um após o outro,
nota-se que na segunda vez o estímulo passa mais facilmente, fazendo supor que os
neurônios são capazes de armazenar informações (memória);
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ü Desenvolvimento: a estimulação repetida e prolongada pode alterar fisicamente as
sinapses, facilitando a estimulação destas. Acredita-se que dessa forma ocorra a
aprendizagem e a memória;
ü Acidez: estudos mostram que o aumento da alcalinidade do sangue aumenta a
excitabilidade, enquanto o aumento da acidez tende a diminuir a excitabilidade, isto
é, a atividade dos nervos.
Podemos agora entender como o trabalhador pode adaptar-se melhor ao trabalho quando
seu organismo está em equilíbrio. Cabe às sinapses o papel de orientar a corrente nervosa e
determinar, assim, os movimentos musculares, as reações diante de estímulos, o
aprendizado, o automatismo e a memorização.
Naturalmente existe na sinapse certo grau de resistência à passagem de corrente. Essa
resistência pode aumentar e impedir a condução do impulso nervoso. Uma situação em que
podemos observar o bloqueio do impulso elétrico é quando o trabalhador enfrenta situações
que podem desencadear o estado de fadiga. A corrente nervosa, que até então podia vencer
os obstáculos, não pode mais, enquanto permanecerem as causas da fadiga. Portanto, os
trabalhadores que vivem em condições estressantes, ambientes de trabalho não propícios e
outras situações similares, estão sujeitos a comprometer seu rendimento, principalmente
com relação à produtividade.
As sinapses são tidas como a sede da fadiga nervosa. Sua sensibilidade aos produtos tóxicos
e à má oxigenação é extrema. Por esse e outros motivos é importante que o trabalhador
seja treinado, ao iniciar uma nova atividade, sempre observando suas condições físicas e
psíquicas, evitando assim sobrecargas de informação ou de trabalho físico, comprometendo
sua aprendizagem e desempenho.
A passagem repetida de impulsos elétricos através da sinapse pode ter como efeito a fadiga
ou a facilitação. Se ela for feita intensamente, sobrevém a fadiga. Se, porém, os impulsos
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não se repetem em demasia o efeito de cada um deles é diminuir a resistência à passagem
do impulso seguinte, facilitando assim a reação e processando o aprendizado.
2.2 Sistema muscular
Os músculos são responsáveis por todos os movimentos do corpo através de sua própria
contração.
São compostos por órgãos que tem a propriedade de se contrair. São formados por tecido
muscular e se prendem às extremidades dos ossos por tendões, são envolvidos por uma
membrana chamada fascia muscular e neles encontramos inseridas as artérias, veias,
nervos e vasos sanguíneos. Compõem 40 a 45% do peso total do corpo humano.
Podem ser classificados quanto:
Forma - - longos (prevalece o comprimento)
- planos (largura = comprimento)
- curtos (largura = comprimento = espessura)
Situação - esqueléticos
- cutâneos
Estrutura - fibras estriadas
- fibras lisas
- músculo do coração (miocárdio)
Dentro da fisiologia do trabalho a classificação que representa maior importância é sem
dúvida a estrutural.
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ü Músculos estriados ou esqueléticos – São músculos de controle consciente,
inervados pelo SNC através das fibras cranianas e espinhais. Realizam os trabalhos
externos do organismo humano. Representam 40% dos músculos do corpo e têm
uma parte envolvida na postura e nos movimentos corporais
ü Músculos lisos – caracterizam-se por não serem voluntariamente controlados pelo
homem, mais sim pelo SNA (Sistema Nervos Autônomo). Entre eles podem ser
citados os músculos das paredes dos intestinos, dos vasos sanguíneos, da bexiga e
do sistema respiratório.
ü Músculo do coração – também de ação involuntária e controlado pelo SNA, os
músculos do coração são diferentes de todos os outros existentes no corpo, pois têm
a capacidade inerente de iniciar seu próprio impulso de contração,
independentemente do sistema nervoso.
Os músculos estriados
Por estarem envolvidos na postura e nos movimentos globais do corpo, os músculos
estriados são de maior interesse para nosso estudo, razão pela qual merecem ser estudados
com maior detalhamento.
A musculatura estriada ou esquelética é formada por dois tipos de fibras:
ü Fibras brancas – de encurtamento e relaxamento rápido, de coloração rósea;
ü Fibras vermelhas – de encurtamento e relaxamento lentos, de coloração vermelha.
De acordo com o quanto sejam solicitados, os músculos estriados podem ter mais ou menos
fibras brancas ou vermelhas, tendo assim uma coloração mais clara ou mais escura.
Cada fibra muscular contém número muito grande de miofibrilas. E cada miofibrila possui,
colocados lado a lado, filamentos de miosina e actina, que são grandes moléculas de
proteínas, responsáveis pela contração muscular.
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Na contração muscular ocorre uma sobreposição entre os filamentos de actina e miosina,
isto é, um deslizamento entre esses filamentos protéicos.
Os músculos são fixados aos ossos, cartilagens, órgãos ou outras estruturas por meio dos
tendões. Os tendões são formados pela união de todas as fibras que compõem o músculo.
Contração muscular
O tecido muscular é excitado por meio dos vários tipos de estímulos externos existentes:
elétricos, térmicos, mecânicos e químicos. São eles que desencadeiam a contração muscular.
A contração muscular tem como fonte de energia o glicogênio que, ao ser metabolizado,
leva à formação de ATP (trifosfato de adenosina).
A quebra do glicogênio, chamada glicogenólise, pode ocorrer de duas formar:
ü Na presença de oxigênio – a chamada glicogenólise aeróbica, com grande
produção de energia:
Glicogênio glicose 38 moléculas de ATP
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ü Na ausência de oxigênio – a chamada glicogenólise anaeróbica, com produção
de energia muito menor:
Glicogênio glicose 3 moléculas de ATP
Além de produzir menor quantidade de energia, a reação química na falta de oxigênio leva a
produção do ácido lático, cujo aumento provoca dor e, conseqüentemente, fadiga
muscular.
Um músculo completamente fatigado entra em contratura (cãibra). A cãibra consiste na
contração do músculo por vários minutos independentemente de estímulo.
Funções do ATP
ü Contração muscular;
ü Crescimento das células e do organismo;
ü Produção de hormônios e secreções;
ü Participação na excitabilidade e condutividade neuromuscular.
Sistema muscular e trabalho
Quando exigimos demais o trabalho de um músculo ou de um grupo de músculos, estes
podem entrar em fadiga, isto é, eles não se contraem mais quando exigidos. Podemos dizer
que esgotaram as fontes de energia (glicogênio, compostos fosforados) ou houve acúmulo
excessivo de ácido lático.
Irrigação adequada dos músculos
Glicogenólise aeróbica
Aumento da produção de ATP
Redução da produção de ácido lático
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Quando o trabalho muscular é prolongado, com no caso de horas extras, carga horária acima
da permitida, períodos de trabalho pesado sem folgas ou pausas, as reservas de glicogênio se
esgotam e o músculo passa consumir suas próprias proteínas, prejudicando o tecido e
determinando sua atrofia. Normalmente o organismo humano não chega a este extremo,
porém, a situação de muitos trabalhadores é delicada, já que não recebem alimentação da
empresa e não têm condições de alimentar-se quantitativa e qualitativamente bem, podendo
chegar à desnutrição e ao emagrecimento por aproveitando de suas reservas sem que elas
sejam repostas.
Nestes casos, notamos que o estado de fadiga instala-se mais rapidamente e a produtividade
do trabalhador diminui sensivelmente. A fadiga é a verdadeira defensora do músculo, pois
obriga diminuir ou a cessar oportunamente a atividade que a está causando.
Atividade muscular
A atividade muscular de um indivíduo pode ser classificada como deficiente, moderada ou
excessiva. Devido ao valor prático inerente, examinaremos a seguir essas três condições.
Os músculos que permanecem em repouso excessivo atrofiam-se, tornam-se frouxos e
infiltrados de gorduras. Diminuem assim, a força muscular, a capacidade de desintoxicação e
a resistência à fadiga. O organismo elimina mal os resíduos do metabolismo e, ao menor
esforço o indivíduo tem acelerado seu ritmo respiratório.
Portanto, as pessoas sedentárias ou com trabalho de atividade muscular muito pequeno têm
dificuldades e necessitam de maior tempo de treinamento para atividades que exijam grande
esforço muscular.
Durante o treino, que deve ser gradual e progressivo, a gordura deposita entre as fibras
musculares tende a desaparecer, o tecido muscular aumenta de volume, ou seja, ocorre
hipertrofia muscular. O afluxo sanguíneo é uma condição essencial para a produção da
hipertrofia muscular. Para que isso ocorra são necessários movimentos que obriguem os
músculos a executar grandes excursões e ativar assim, a circulação sanguínea.
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Movimentos pequenos não levam à hipertrofia muscular. Portanto, trabalhadores que
executam trabalhos braçais, carregamento de peso e outros, desenvolvem com facilidade os
músculos exigidos em suas atividades.
As modificações que ocorrem nos músculos são essencialmente duas: o aumento de força e
maior resistência à fadiga.
O aumento de força se dá devido ao aumento da massa muscular e a resistência à
fadiga explica-se pela melhor coordenação dos movimentos e pela eliminação dos
metabólitos nocivos resultantes da contração.
O trabalhador corretamente treinado, mesmo que exija muito de sua musculatura, não sofrerá
conseqüências desastrosas, pois atingiu certo nível de eficiência no trabalho muscular e não é
prejudicado durante o esforço.
O trabalho diário é um treino permanente que permite ao trabalhador um rendimento alto em
produtividade. Mantendo-se dentro dos limites fisiológicos do esforço ele conserva sua
capacidade de trabalho, sem prejuízo para a saúde. Infelizmente são muitas as circunstâncias
que o levam ao excesso:
ü Horários prolongados de trabalho;
ü Cargas demasiadas;
ü Desejos de ganhar mais quando o trabalho é por produção, e outros.
Dessa forma, o treino é excessivo e prejudicial. O operário que insiste em sua atividade
produtiva quando já está fatigado não só produz menos trabalho efetivo, como também, sofre
maiores danos em seu organismo.
2.3 Sistema esquelético
O sistema esquelético é formado por um conjunto de órgãos denominado ossos, que por
sua vez são constituídos por tecido ósseo.
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Os ossos proporcionam ao corpo estrutura de sustentação, capacitando o homem à postura
ereta e permitindo-lhe movimentos complexos.
Os ossos são esbranquiçados, duros, unidos por articulações. O ser humano possui 206
ossos (eventualmente 208 para os que possuem um par a mais de costelas), servem de
sustentação para as partes moles e também de alojamento e proteção de elementos mais
nobres como a caixa torácica, caixa craniana e cavidade orbital. Também atuam como
elementos formadores de células sangüíneas – tecido hematopoiético. São elementos
passivos em nossa movimentação global.
Coluna vertebral
Dentro da saúde ocupacional este conjunto de ossos possui grande valor para a saúde do
trabalhador merecendo atenção especial em certas atividades. A coluna vertebral é
constituída de 33 vértebras sobrepostas, classificadas da seguinte maneira:
ü Cervicais – sete vértebras localizadas no pescoço;
ü Torácicas ou dorsais – doze vértebras localizadas na região do tórax;
ü Lombares - cinco vértebras localizadas na região do abdome;
ü Sacrais - cinco vértebras localizadas na região sacral;
ü Coccígeas - quatro vértebras localizadas na região do cóccix.
As sacrais e coccígeas, em conjunto, são
chamadas de sacrococcígeanas.
As vértebras cervicais e lombares são as que têm
maior flexibilidade, dando assim movimentação
ampla à região do pescoço e à região abdominal,
respectivamente. As últimas vértebras,
sacrococcígeanas são fixas e maiores, destinadas
a dar sustentação a todo o peso do corpo acima
delas. Alem da movimentação do corpo a coluna
vertebral tem a função de proteger a medula
espinhal (SNC).
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Entre uma vértebra e outra existe um disco cartilaginoso, composto de massa
gelatinosa. Esses discos não possuem vasos sanguíneos próprios e recebem substâncias
nutritivas por meio dos tecidos vizinhos. Quando comprimidos, perdem água, quando
descomprimidos ganham água e nutrientes. A compressão prolongada é prejudicial, pois
pode provocar a degeneração desses discos.
Muitos trabalhadores apresentam degeneração dos discos intervertebrais (a chamada
hérnia de disco), pois alguns serviços que executam ou posições de trabalho que
assumem, levam a interrupção do processo nutricional dos discos.
As deformidades da coluna podem ser agrupadas em dois tipos:
ü Congênitas – as que existem desde o nascimento da pessoa;
ü Adquiridas – as que se manifestam por diversas causas, como:
- esforço físico excessivo;
- má postura no trabalho;
- deficiência dos músculos de sustentação;
- infecções;
- outras.
Entre as principais deformidades da coluna podemos citar:
ü Escoliose - desvio lateral da coluna. A pessoa vista de frente ou de costas, pende
para a esquerda ou para a direita.
ü Cifose – acentuação da curvatura da região torácica para frente, normalmente
chamada de corcunda.
ü Lordose – inclinação acentuada dos quadris para frente.
As anormalidades descritas não impedem a execução do trabalho. No entanto, caso sejam
acentuadas, os esforços físicos exagerados devem ser evitados.
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3. SISTEMA CARDIOVASCULAR
O sistema cardiovascular ou circulatório é composto por uma grande rede de tubos de
vários calibres denominado vasos sanguíneos e do coração. Dentro desses tubos
circula o sangue, impulsionado pelas contrações rítmicas do coração.
A circulação sanguínea permite que várias atividades sejam executadas com eficiência:
ü Transporte de gases (oxigênio e gás carbônico principalmente);
ü Transporte de nutrientes para todas as células do organismo;
ü Transporte de hormônios e metabólitos provenientes do metabolismo celular;
ü Transporte do calor;
ü Facilita o intercâmbio de substâncias entre as células;
ü Distribuição de mecanismos de defesa e das demais células que compõem o
sangue.
Coração
O coração é um órgão muscular oco que se localiza na região central do tórax, sob o osso
esterno, ligeiramente deslocado para a esquerda. Em uma pessoa adulta, tem o tamanho
aproximado de um punho fechado e pesa cerca de 400 gramas. É formado por tecido
muscular denominado miocárdio. Ele possui em seu interior quatro cavidades ou
câmaras cardíacas:
ü dois átrios – cavidades superiores
ü dois ventrículos – cavidades inferiores
Os dois átrios e os dois ventrículos estão separados entre si, respectivamente, pelos
septos interatrial e interventricular, as suas funções podem ser assim resumidas:
ü Átrio direito (AD) - as veias Cava superior e Cava inferior chegam ao AD,
trazendo sangue venoso de todo o organismo;
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ü Ventrículo direito (VD) - possui musculatura mais espessa que a dos átrios, e
dele parte a artéria Pulmonar, levando sangue venoso para ser oxigenado nos
pulmões;
ü Átrio esquerdo (AE) - nele desembocam as quatro veias Pulmonares, vindas duas
do pulmão direito e duas do pulmão esquerdo, trazendo sangue arterial (sangue
rico em oxigênio);
ü Ventrículo esquerdo (VE) - possui parede hipertrofiada, recebe o sangue arterial
do AE e o distribui através da artéria Aorta para todo o organismo.
Entre o AD e o VD existe uma válvula chamada válvula Tricúspide, entre o AE e o VE
existe uma outra válvula chamada válvula Bicúspide ou Mitral.
Ciclo cardíaco
As câmaras cardíacas contraem-se e dilatam-se alternadamente 70 vezes por minuto, em
média. O processo de contração de cada câmara do miocárdio (músculo cardíaco)
denomina-se sístole. O relaxamento, que acontece entre uma sístole e a seguinte, é a
diástole.
Inervação cardíaca
O coração é inervado pelo SNA simpático e parassimpático, que trabalham de forma
antagônica, na maioria de suas funções, afetando o funcionamento cardíaco, alterando a
sua freqüência (FC) ou modificando a força de contração do miocárdio.
Ação do SNA simpático
O SNA simpático através da ação da acetilcolina no nervo Vago acelera a origem e
aumenta a transmissão de estímulos, causando assim:
ü aceleração do batimento cardíaco;
ü aumento da força de contração do miocárdio;
ü aumento da quantidade de sangue expulso pelo coração.
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O SNA parassimpático através da ação da noradrenalina nos nervos cardíacos atuam
de forma inversa ao SNA simpático, diminuindo o batimento cardíaco através da diminuição
da excitabilidade e da transmissão de estímulos.
Através do diminui a provocando
Através dos aumenta a provocando
A principal função deste trabalho antagônico é adaptar e coordenar o trabalho cardíaco nas
diferentes situações a que o coração é submetido, como estresse, grandes esforços,
trabalho em ambientes adversos (frio ou calor) ou em altitudes elevadas e outros.
Vasos sanguíneos
Os vasos sanguíneos compõem um sistema fechado de tubos que transportam o sangue do
coração para todo o organismo e vice e versa.
Eles se dividem em veias e artérias.
ü As veias são responsáveis pelo transporte do sangue para o coração, e
ü As artérias levam o sangue para as diferentes partes do corpo.
As artérias e veias são inervadas pelo nervo simpático, que age como vasoconstritor, isto é,
diminui o calibre dos vasos, e pelo nervo parassimpático, que é vasodilatador, isto é,
aumenta o calibre dos vasos. A ação conjunta desses dois feixes nervosos mantém o
calibre e o tônus muscular dos vasos sanguíneos.
SNP
SNS
Nervo vago acetilcolina
Nervos cardíacos noradrenalina
FC
FC
bradicardia
taquicardia
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Sangue
Em um adulto o volume de sangue varia em torno de 5 litros, sendo 44% parte sólida -
leucócitos, eritrócitos e plaquetas e o restante, parte líquida – o plasma.
O sangue tem como funções:
ü Transportar oxigênio para as células através da hemoglobina;
ü Transportar substâncias energéticas;
ü Transportar as excretas do metabolismo celular para serem eliminadas;
ü Transportar e manter o equilíbrio do calor corpóreo;
ü Transportar elementos de defesa e desintoxicação;
ü Transportar hormônios.
Trabalho cardíaco
A freqüência cardíaca (FC) é o número de contrações que o coração realiza no espaço
de um minuto. Uma pessoa, ao nascer tem uma freqüência cardíaca em torno de 130
batimentos por minuto (bpm). Ao chegar à fase adulta, ele deverá estar com a FC em
torno de 70 bpm.
A quantidade de sangue ejetada pelo coração para a Aorta por minuto é suficiente para
suprir a intensidade do metabolismo do organismo em condições normais de vida.
A cada contração cardíaca, o VE ejeta para a Aorta mais ou menos 70 ml de sangue.
Considerando que o coração contraia 70 vezes durante um minuto, podemos dizer que
passam por ele e são ejetados para a Aorta cerca de 4.900 ml/minuto, isto é, o débito
cardíaco ou volume minuto do coração é igual a 4.900 ml.
DC = FC X volume ventricular
DC = 70 bpm X 70 ml
DC = 4.900 ml
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Algumas situações podem alterar a FC, aumentando ou diminuindo conforme ocorrem
processos patológicos (febre, hemorragias), exercícios musculares, exposição à
temperatura alta e outras.
No caso de aumento da FC não necessariamente ocorrerá um aumento do débito cardíaco,
porque a aceleração dos batimentos cardíacos leva a uma redução do volume ventricular,
devido a uma menor capacidade captadora do ventrículo.
Uma pessoa em repouso necessita de 200 a 250 ml de oxigênio/minuto, e a maior parte
desse oxigênio é utilizada pelo cérebro, fígado e rins, uma pequena parte, pelos músculos.
Quando a mesma pessoa realiza trabalho intenso, ocorre uma inversão da necessidade de
oxigênio, os músculos passam a necessitar de maior quantidade, portanto, o O2 é desviado
para atender essa necessidade.
A resposta ao trabalho dos músculos depende principalmente dos mecanismos de controle
nervoso. Através da estimulação do simpático (acetilcolina) ocorre uma diminuição do fluxo
sanguíneo dos rins, fígado, pâncreas e da pele. Conseqüentemente, o sangue dirige-se
para a musculatura solicitada através da diminuição da resistência periférica seguida de
vasodilatação.
Todas as alterações circulatórias que acompanham o trabalho físico têm como
objetivo fornecer oxigênio às células.
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4. SISTEMA RESPIRATÓRIO
O funcionamento adequado dos pulmões durante a sobrecarga do organismo é importante
para que o indivíduo execute o trabalho em boas condições físicas.
O sistema respiratório é composto por dois pulmões: direito e esquerdo e pelas vias
respiratórias (fossas nasais, faringe, laringe, traquéia, brônquios e bronquíolos).
ü Fossas nasais (passagem nasal) - servem para filtrar o ar quando ele entra no
corpo.
ü Faringe - onde se localiza a epiglote cuja função é impedir que o alimento chegue
aos pulmões.
ü Laringe - faz o ar vibrar as cordas vocais.
ü Traquéia - é a continuação da laringe e bifurca-se em dois tubos menores
chamados brônquios.
ü Brônquios - penetram nos pulmões e ramificam-se em tubos menores chamados
bronquíolos.
ü Bronquíolos - têm diâmetro de aproximadamente 1 mm.
ü Alvéolos pulmonares - onde ocorre à troca do oxigênio por gás carbônico.
Em cada pulmão, o ar continua o seu trajeto através de tubos. Os tubos maiores são
chamados brônquios. Os dois brônquios (direito e esquerdo) principais se originam na
traquéia e, dentro dos pulmões, dividem-se em brônquios menores, que por sua vez
dividem-se num grande número de bronquíolos menores ainda. Os bronquíolos
dividem-se em ductos alveolares, que contém os alvéolos, comumente chamados de
sacos de ar.
Os alvéolos são formados por uma parede muito fina ou membrana que separa o sangue
e o ar contido nos alvéolos. Esta fina membrana permite que o oxigênio e o nitrogênio
passem do ar para o sangue. Desta forma, o sangue leva oxigênio para todo o corpo.
Quando o sangue retorna aos alvéolos, o dióxido de carbono e outros gases passam do
sangue para os alvéolos. Estes gases são eliminados do corpo com o ar expira.
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Vias respiratórias
Elas têm por função conduzir o ar do meio ambiente para os pulmões e, por meio do
processo respiratório, fornecer O2 às células, eliminando o gás carbônico formado nas
oxidações celulares.
Pulmões
Os pulmões são envolvidos por duas membranas sobrepostas chamadas pleuras: uma é
interna, chamada pleura visceral e a outra é externa , pleura parietal, ficando em
contato com a cavidade torácica.
Mecânica respiratória
O ar contido nos pulmões é renovado através dos movimentos respiratórios Inspiração e
Expiração. O movimento inspiratório é ativo e o expiratório é passivo. Durante o esforço,
ambos são ativos.
A capacidade funcional dos pulmões, que indiretamente mede a capacidade de trabalho e
avalia os efeitos dos riscos profissionais aos quais os trabalhadores estão expostos, pode
ser avaliada através de aparelhos como o espirômetro.
Testes espirométricos ou Prova de Função Pulmonar em indivíduos aparentemente
saudáveis, em grupos de alto risco devem ser considerados parte de um exame regular.
Como por exemplo, nos indivíduos com alto risco de desenvolverem doenças pulmonares,
ou seja, os grandes fumantes e aqueles sujeitos expostos a riscos inalatórios no trabalho.
Quando a espirometria é realizada de forma rotineira (exames médicos periódicos) temos
como vantagens tornar o indivíduo consciente de seu estado de "saúde respiratória",
alertar o médico para pequenas mudanças que podem representar uma tendência de perda
acelerada na função pulmonar e estabelecer dados basais para comparações posteriores,
se mudanças marcadas ocorrerem na função pulmonar.
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A Espirometria é um teste que auxilia na prevenção e permite o diagnóstico precoce dos
distúrbios ventilatórios, constitui-se no principal exame das propriedades pulmonares
mecânicas dinâmicas, sendo fundamental para a quantificação da anormalidade funcional.
ü Volume corrente (VC): corresponde ao ar inspirado e expirado normalmente em
cada ciclo respiratório. A quantidade média registrada é de 500 ml.
ü Volume minuto (VM): volume de ar inspirado e expirado durante um minuto
(VM= VC x FR)
ü Volume residual (VR): volume de ar que permanece nos pulmões após uma
expiração forçada (entre 1000 e 1500ml)
ü Capacidade Vital (CV): corresponde à maior quantidade de ar que pode ser
expirada depois de uma inspiração forçada. Nos indivíduos normais é cerca de 4500
ml, sendo que nos atletas essa quantidade pode chegar a 6500 ml.
Em cada minuto são consumidos normalmente 250 ml de oxigênio e eliminados 200 ml de
gás carbônico.
A ventilação pulmonar está também relacionada com o metabolismo, ou seja, quando o
metabolismo é acelerado em função do aumento de atividades físicas (trabalhos
musculares) ou patologias, febre e outros fatores, há um aumento do consumo de oxigênio
e na produção de gás carbônico e, conseqüentemente, uma ventilação pulmonar mais
intensa.
O oxigênio é transportado de duas maneiras:
ü Dissolvido no plasma, e
ü Combinado com a hemoglobina.
A quantidade de O2 transportada depende da:
ü Temperatura do sangue;
ü Taxa de hemoglobina;
ü Taxa de pO2 arterial;
ü Taxa de pCO2 do sangue;
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ü Do débito cardíaco;
ü Associação arteriovenosa.
Tome-se como exemplo uma situação de trabalho intenso, na qual a capacidade do
trabalhador chegue ao limite. O sistema circulatório e a ventilação não podem oferecer aos
músculos a quantidade de O2 necessária para manter o metabolismo aeróbico; parte do
metabolismo torna-se então anaeróbico, fazendo assim aumentar a produção de
metabólitos ácidos, com esgotamento das reservas de glicose.
Esta situação é revertida quando o trabalhador é colocado em repouso ou quando está
fisiologicamente adaptado a essa condição de trabalho.
Quando devidamente treinados, os sistemas cardiovascular e respiratório dão ao
trabalhador melhores condições de adaptação ao trabalho, diminuem sensivelmente a
possibilidade de fadiga física, contribuindo assim, para um desempenho melhor e uma
produtividade maior.
O exercício físico, principalmente quando intenso, é a condição mais estressante que os
sistemas circulatório e respiratório podem enfrentar. Isso ocorre porque o fluxo sanguíneo
dos músculos pode aumentar até 20 vezes.
Durante o repouso, a circulação sanguínea da musculatura esquelética permanece em
torno de 3 a 4 ml/100 g de tecido muscular. Com o exercício, esses níveis podem atingir
de 50 a 80ml/100g de tecido. Portanto, o coração e os pulmões têm a responsabilidade de
receber e enviar quantidades adequadas de sangue oxigenado para a musculatura
solicitada. O débito cardíaco é em geral proporcional ao metabolismo global do organismo.
Isso significa que quanto maior a atividade dos músculos e de outros órgãos, maior o
débito cardíaco. Esse dado pode ser observado em indivíduos que tiveram uma adaptação
gradual ao trabalho, dando tempo ao organismo para que atingisse as modificações
necessárias.
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A FC também se altera durante o exercício muscular. Sabe-se que a simples mudança de
posição pode modificá-la, a pessoa sentada pode apresentar uma FC em torno de 70 bpm;
em pé 80 bpm e deitado 66 bpm, aproximadamente.
Em exercícios leves, como o digitar o teclado de um microcomputador tão depressa quanto
possível, eleva a freqüência de 70 para 100 bpm; trabalhos pesados aceleram o coração
de 150 pulsações a até 180 pulsações.
Da mesma forma, a freqüência respiratória (FR) que, em condições normais, é de
aproximadamente 20 mrpm (movimentos respiratórios por minuto) pode sofrer aumentos
em condições variadas como esforço muscular, período digestivo, emoções fortes,
elevação da temperatura do ambiente e outras.
Todas essas alterações que os sistemas cardiovascular e respiratório sofrem durante o
trabalho de média e forte intensidade, poderão ser minimizados, caso o trabalhador seja
treinado fisicamente de forma lenta e progressiva, levando em conta as diferenças
individuais de cada um. Dessa forma, o desgaste físico e mental será menor e a
produtividade e o bem estar serão maiores.
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5. ORGÃOS SENSORIAIS
Os sentidos fundamentais do corpo humano - visão, audição, tato, gustação ou
paladar e olfato constituem as funções que propiciam o nosso relacionamento com o
ambiente. Por meio dos sentidos, o nosso corpo pode perceber muita coisa do que nos
rodeia, contribuindo para a nossa sobrevivência e integração com o meio ambiente.
Existem determinados receptores, altamente especializados, capazes de captar estímulos
diversos. Tais receptores, chamados receptores sensoriais, são formados por células
nervosas capazes de traduzir ou converter esses estímulos em impulsos eletroquímicos que
serão processados e analisados pelo sistema nervoso central (SNC), onde será produzida
uma resposta (voluntária ou involuntária). A estrutura e o modo de funcionamento destes
receptores nervosos especializados são diversos.
Em geral, os receptores sensitivos podem ser simples, como uma ramificação nervosa;
alguns são mais complexos, formados por elementos nervosos interconectados ou órgãos
complexos, providos de sofisticados sistemas funcionais.
Dessa maneira, através do(a):
è Tato - sentimos o frio, o calor, a pressão atmosférica etc - pela pele;
è Gustação - identificamos os sabores - utilizando a língua;
è Olfato - sentimos o odor ou cheiro - pelas fossas nasais;
è Audição - captamos os sons - pelas orelhas;
è Visão - observamos as cores, as formas, os contornos etc - com os olhos.
Entre os órgãos sensoriais, os olhos e os ouvidos sem dúvida são os de maior
importância no desenvolvimento do trabalho e na vida diária. Por esse motivo,
vamos nos limitar ao estudo desses dois sentidos.
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5.1 Visão
Na sua forma mais simples, é a capacidade de um organismo detectar a luz. Numa
abordagem mais ampla, a visão é o sentido que permite a discriminação de padrões,
formas, cores, movimentos e profundidades, contribui para que tenhamos um
conhecimento detalhado do ambiente que nos cerca.
No ser humano, o olho é formado por dois globos lubrificados, instalados sobre órbitas,
que se situam no crânio. São movimentados em todas as direções através de músculos.
O olho é protegido por uma capa lubrificada e é envolto por uma espessa cápsula fibrosa
que na parte da frente é um disco transparente, a córnea.
Embaixo dela encontra-se um anel de músculo ajustável chamado íris, que pode se abrir
quando a luz é fraca e se fechar quando é forte ou brilhante.
A lente do olho (cristalino ) situa-se atrás da íris e é controlada por um músculo que pode
se contrair, fazendo com que a lente fique fina para olhar objetos distantes, ou relaxar,
deixando-a mais grossa, para ver objetos próximos.
Dentro do fundo do olho há uma camada de células de dois tipos sensíveis à luz.
Um tipo (cone) pode detectar luz colorida e o outro (bastonete) é responsável pelas
imagens em preto e branco. No crepúsculo, as cores não podem ser vistas porque os cones
precisam de uma alta intensidade de luz para funcionar corretamente. Nessas condições,
os bastonetes, que respondem por níveis mais baixos de luz, são usados para distinguir as
formas e os objetos que se movem.
Entre a lente e a retina há uma geléia transparente (humor vítreo). No homem, a luz que
vem de fora passa pela lente e pela geléia transparente, para ser focalizada na retina.
O nervo óptico é o que transmite o estímulo luminoso (em forma de estímulo
eletroquímico) ao cérebro para que possamos visualizar os objetos e os seres.
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O tempo de adaptação da passagem de um ambiente claro para um ambiente escuro é
mais demorado, podendo ser aproximadamente 30 minutos ou mais e varia
consideravelmente de um indivíduo para outro. Por isso, trabalhadores que, por força das
circunstâncias necessitem trabalhar em ambientes mal iluminados devem sempre iniciar o
processo de adaptação com ao menos meia hora de antecedência, usando óculos escuros.
Fonte: Os sentidos, disponível em <http:www.drgate.com.br>
5.2 Audição
As orelhas têm por função captar e converter as ondas de pressão em sinais elétricos que
são transmitidos ao cérebro para produzir as sensações sonoras.
Cada orelha é dividida em três partes:
ü Orelha externa;
ü Orelha média;
ü Orelha interna.
O som é captado pela orelha externa em forma de ondas mecânicas (vibração do ar). As
ondas mecânicas são transmitidas para a orelha média através da membrana timpânica,
esta por sua vez, transmite as ondas mecânicas através de três ossículos, o martelo, a
bigorna e o estribo. Passando pela janela redonda o estimulo (onda mecânica) é levado
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à cóclea (orelha interna) que transformará a onda mecânica em estímulo eletroquímico, só
então é que o nervo auditivo conduzirá até o cérebro para que possamos ouvir.
Freqüência do som
A freqüência do som é determinada pelo número de vibrações por segundo que é capaz de
produzir e, sua expressão científica é dada em Hertz (Hz), conhecida popularmente como
“altura” do som.
O ouvido humano é capaz de perceber sons de freqüência de 20 a 20 mil Hz. Normalmente
as pessoas têm diferentes graus de sensibilidade para cada freqüência de som e, essa
sensibilidade varia também de acordo com a idade.
Intensidade do som
A Intensidade do som é definida pela amplitude da vibração. Pequenas amplitudes
correspondem a sons fracos e, grandes amplitudes a sons fortes. A amplitude dos sons é
medida em decibéis (dB).
O ouvido humano é capaz de captar sons de 20 dB a 120 dB. Os sons normalmente
encontrados no lar, no tráfego, nos escritórios e fábricas estão na faixa de 50 a 80 dB.
Sons acima de 120 dB causam desconforto e, quando atingem 140 dB provocam uma
sensação dolorosa.
Duração do som
A duração do som é medida em segundos. Os sons de curta duração são difíceis de
perceber e aparentam ser diferentes daqueles de longa duração.
Efeitos do ruído no trabalho
É bastante conhecida a ação prejudicial do ruído industrial sobre o aparelho auditivo do
trabalhador. Para desempenhar corretamente várias atividades os operários necessitam de
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uma audição normal. Conseqüentemente, uma diminuição da acuidade auditiva interfere na
comunicação, predispõe a erros, danos e até acidentes do trabalho. A situação agrava-se
quando trabalhador já é portador de distúrbios auditivos.
Para algumas funções específicas como telefonista, a acuidade auditiva é essencial. Em
outras situações, em que os níveis sonoros ambientais são agressivos, a integridade do
aparelho auditivo fica ameaçada levando em consideração que os protetores auriculares
dão uma proteção de no máximo 30% ou atenuam 30 a 35 dB do ruído industrial.
O ruído excessivo pode ter efeitos nocivos não somente sobre o aparelho auditivo, mas
também provocar reações como irritabilidade, ansiedade, desconforto e outros, além de
alterações fisiológicas como as endócrinas (aumento de catecolaminas no sangue), a
vasoconstrição e taquicardia, levando conseqüentemente, a um aumento de pressão
arterial (hipertensão arterial).
Pesquisas mostram que muitos trabalhadores apresentam decréscimo de produtividade em
função do alto nível de ruído no ambiente de trabalho.
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PARTE II
FISIOLOGIA APLICADA AO TRABALHO
1. BIÓTIPO – INFLUÊNCIAS NO TRABALHO
A população humana em geral é composta por indivíduos de diferentes tipos físicos ou
biótipos. Existem pequenas diferenças nas proporções do corpo desde o nascimento, que
tendem a acentuar-se durante o crescimento até a fase adulta.
Biótipos humanos
O homem pode ser classificado basicamente em três grupos principais de biótipos:
ü Normolíneos
ü Longilíneos
ü Brevilíneos
Devemos lembrar, que a maioria das pessoas não pertence rigidamente a nenhum desses
tipos básicos e misturam características dos três tipos, essa variabilidade de formas físicas
deve-se principalmente à miscigenação de raças que ocorreu e, ainda ocorre em nosso
país. Mediante estudos realizados constatou-se que as diferenças de comportamento de
cada grupo podem influenciar até mesmo na escolha da profissão.
Normolíneos ou Mediolíneos
Também chamados de atléticos, os indivíduos deste grupo possuem ombros largos, ossos
fortes e musculatura é bem desenvolvida quando treinada. São pouco intelectuais e têm
reações lentas e pouca afetividade. Porém, são práticos.
Longilíneos
Os longilíneos possuem corpo delgado, com ombros e tronco estreitos, rosto fino e
alongado, pescoço e extremidades longas, musculatura fraca e pouco desenvolvida, mas
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intelecto desenvolvido. Em geral são inibidos, introvertidos, pouco comunicativos e têm
reações imprevisíveis e variáveis.
Brevilíneos
Os brevilíneos possuem corpo atarracado e grosso, pescoço e extremidades curtas, mãos
e articulações finas e musculatura bastante desenvolvida, quando treinada. Têm tendência
a engordar e adquirir barriga. São sociáveis, realistas, extrovertidos e bons oradores. Em
geral, são bons organizadores e têm preferência pelas ciências naturais.
Fatores que influenciam o biótipo
Certos fatores têm influência decisiva na definição do biótipo humano. São eles: sexo,
idade, raça, época e clima.
ü Sexo
Existem diferenças antropométricas entre o sexo masculino e feminino. Os homens em
geral são de estatura mais alta que as mulheres. Os homens têm os membros superiores
mais compridos.
As mulheres normalmente têm mais tecido gorduroso em todas as idades, enquanto os
homens possuem mais musculatura.
ü Idade
O corpo sofre mudanças na forma e nas proporções nas diversas fases da vida. Há
diferenças visíveis na velocidade de crescimento entre uma pessoa e outra, e nas taxas
anuais de crescimento, provando que algumas pessoas crescem mais rapidamente que
outras.
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ü Raça
Sabe-se que sempre houve grande movimento migratório no mundo, com deslocamentos
de povos inteiros de um lugar para outro, hábitos alimentares e culturas diferentes, os
quais produziram mudanças em medidas antropométricas.
ü Época
As medidas antropométricas podem variar num mesmo povo em épocas diferentes. As
modificações de hábitos alimentares e de saúde e a prática de esportes podem fazer as
pessoas crescerem. Tal crescimento depende da qualidade de vida melhor adquirida por
um povo, no curso de sua história.
ü Clima
Os indivíduos de povos que vivem em regiões quentes têm, em geral, o corpo mais
delgado e os membros superiores e inferiores relativamente mais longos. Já os indivíduos
de regiões frias têm, em geral, os corpos mais cheios, volumosos e arredondados.
Essas diferenças resultam de vários séculos de adaptação desses povos ao clima: os corpos
magros têm facilidade na troca de calor com o ambiente, enquanto os mais cheios têm
maior capacidade de armazenar calor no corpo.
Influência do biótipo no trabalho
As diferenças individuais determinadas pela influência de vários fatores, comentados
anteriormente, leva-nos a concluir que ocorram muitas dificuldades no momento de
dimensionar os ambientes de trabalho, os postos de trabalho, devido à grande variação do
trabalhador, no que diz respeito principalmente a medidas antropométricas, força física e
capacidade intelectual.
A indústria moderna equipada com tecnologia avançada e preocupada com a melhor
adaptação do trabalhador, procura desenvolver equipamentos, instrumentos, produtos e
postos de trabalho que tornem as atividades dos operários mais prazerosas e menos
desgastantes.
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É justificável, portanto, que se verifiquem as medidas antropométricas, tomando uma
amostra significativa dos que irão usar ou consumir os objetos a serem projetados.
Exemplo: para dimensionar cabines de ônibus deve-se avaliar as medidas dos motoristas
que serão seus usuários.
Vale lembrar que a aquisição de tecnologia e instrumentos de trabalho importados para
serem utilizados por nossos trabalhadores, nem sempre é adequada, pois existem
diferenças marcantes entre o homem brasileiro e o europeu/americano. Fato ainda mais
significativo quando se trata da mulher brasileira.
O fato de o Brasil estar ainda no início da normalização quanto às medidas antropométricas
da população, dificulta a comparação com as medidas dos indivíduos estrangeiros. Algumas
comparações feitas mostraram algumas semelhanças entre os brasileiros e os europeus do
mediterrâneo (portugueses, espanhóis e italianos), que são menores que os nórdicos
(suecos e dinamarqueses) e maiores que os asiáticos em geral.
Muitas vezes, podemos comprovar as diferenças pelas máquinas e equipamentos
importados aos quais nossos operários não se adaptam. Por exemplo: no caso de alcance
vertical o problema pode ser resolvido, em parte, usando-se estrados e banquetas para
compensar as diferenças de estatura. No caso de alcance horizontal, a resolução fica mais
difícil. O trabalho realizado com dificuldade de alcance horizontal exige mais flexões do
tronco, provocando fadiga.
Os problemas com os equipamentos de segurança individual (luvas, botas, macacões e
outros) também são bastante freqüentes. Ao usar, por exemplo, uma luva muito grande
para sua mão, o trabalhador fica entre duas opções: usá-las e correr o risco de sofrer
algum acidente de trabalho ou descartá-las.
Portanto, ao se projetar uma ferramenta/instrumento ou um posto de trabalho deve-se ter
o cuidado de testá-los com a população usuária, fazendo os ajustes necessários, antes de
passar ao projeto definitivo.
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Concluímos que as diferenças físicas e intelectuais existentes entre os indivíduos, muitas
vezes, podem facilitar sua adaptação nos diversos ambientes de trabalho; por outro lado,
muitas vezes, as características físicas tendem a dificultar essa adaptação, pois as
condições já existentes (ambiente e/ou instrumentos) não se ajustam ao trabalhador.
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2. PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÕES NO TRABALHO
Apesar do avanço tecnológico que vem ocorre no mundo, visualiza-se com certa freqüência
a existência de preconceitos e discriminações no trabalho em relação, principalmente, às
pessoas idosas, as mulheres, aos portadores de necessidades especiais e aos negros.
Existem leis que protegem estes grupos de pessoas e tentam diminuir e mesmo acabar
com as discriminações, mas ainda nota-se forte resistência por parte dos empregadores
para contratar mão-de-obra proveniente desses grupos.
Estudos mostram que a força de trabalho proveniente desses quatro grupos será cada vez
maior.
No caso dos idosos, isso ocorrerá tendo em vista a diminuição da taxa de natalidade e o
aumento da expectativa de vida das pessoas com o passar dos anos. O diagnóstico precoce
de doenças, os métodos de rejuvenescimento e tratamento de beleza cada vez mais
sofisticados contribuem diariamente para manter as pessoas por mais tempo no mercado
de trabalho. Assim, a tendência é aumentar o número de idosos produtivos em todos os
países.
As mulheres, por sua vez, deixaram de se ocupar apenas com as tarefas domésticas e a
criação dos filhos. A cada dia aumenta o número de mulheres que busca um trabalho fora
dos limites da casa.
O comportamento social dos homens e das mulheres mudou. O homem não está mais tão
disposto a sustentar sozinho a família, os relacionamentos já não são tão duradouros, a
mulher necessita ter independência pessoal e financeira, o poder econômico das famílias
está em queda, as dificuldades de conseguir emprego é um fato constante na vida do
homem, o custo de vida nas cidades é muito alto, enfim, todos esses fatores levaram as
mulheres a procurar trabalho fora de casa, muitas satisfazendo suas necessidades pessoais
e, outras, as necessidades econômicas.
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Os portadores de necessidades especiais estão cada vez mais aptos para ingressarem
no mercado de trabalho. As técnicas de reabilitação, as cirurgias reparadoras e
reabilitadoras e os materiais e equipamentos especiais permitem, muitas vezes, que os
deficientes tenham um desempenho muito além do esperado, em determinadas funções.
A legislação vigente no país também procura incentivar a contratação dessas pessoas,
oferecendo benefícios fiscais aos empregadores.
Quanto aos negros, como herança de um passado não muito remoto - a escravidão -
nota-se que o desenvolvimento sociocultural e econômico dessa raça ainda está
comprometido. O negro não conseguiu atingir no nosso país o mesmo “status social” do
branco. Portanto, o número de negros fora das escolas é maior que o número de brancos,
os salários recebidos pelos negros são menores se comparados com os dos brancos,
exercendo as mesmas funções, os negros geralmente estão empregados em funções
consideradas de menor complexidade, importância e remuneração, enfim, decorrente de
uma marginalização que perdura há séculos e que deixou marcas bastante profundas,
temos ainda que conviver com a desigualdade e discriminação da raça negra.
2.1 O idoso e o trabalho
Com a perspectiva do futuro, na qual os idosos aparecem ocupando o mercado de trabalho
mais intensamente, convém conhecer melhor esse tipo de trabalhador. Nesse sentido,
serão abordados os aspectos mais importantes em termos de antropometria,
psicomotricidade, visão, audição e memória.
Antropometria
As pessoas tendem a diminuir a estatura gradativamente após os 50 anos: os homens
podem perder até três centímetros e as mulheres até dois e meio centímetros dos 50 aos
80 anos. Porém, o que mais chama atenção é a perda da antropometria dinâmica, isto
é, dos alcances e da flexibilidade, em especialmente, as dos braços.
44
Quanto à força muscular, cumpre lembrar que ela começa a declinar após os 40 anos.
Entretanto, esse declínio é diferente para as distintas partes do corpo, isto é, os braços e
as mãos não sofrem tanto quanto o tronco e as pernas.
ü Psicomotricidade
Com o avançar da idade, os movimentos tornam-se mais lentos. O tempo de reação de
uma pessoa idosa é 20% maior que o de um jovem de 20 anos. Esse tempo tende a
aumentar de acordo com a complexidade da tarefa.
ü Visão e audição
A acuidade visual começa a sofrer decréscimo a partir dos 20 anos, bem como a visão de
cores e a adaptação ao escuro.
A diminuição da acuidade auditiva também é notada principalmente para os sons agudos.
Levando as pessoas idosas a terem maior dificuldade para entenderem a fala.
ü Memória
A memória de fatos recentes é pouco afetada. Porém, a de informações que devem ser
retidas por muito tempo é facilmente perturbada. O problema pode se tornar grave quando
as pessoas muito idosas esquecem o objetivo da ação, durante a fase de execução de uma
tarefa.
A despeito do quadro apresentado, é essencial lembrar que, apesar da perda das
habilidades físicas, o idoso não está incapacitado para o trabalho.
As pessoas idosas acumulam experiências durante muitos anos e, desde que não sejam
exigidas acima de suas capacidades, podem ter bom desempenho no trabalho.
É importante lembrar que os sintomas de senilidade devem ser vistos como uma das
diferenças individuais entre as pessoas. Existem pessoas de 60 anos que têm tanta força e
capacidade para o trabalho quanto uma de 20 anos.
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Pessoas que durante o envelhecimento se mantém ativas, física e mentalmente,
permanecem capazes para o trabalho por mais tempo.
A situação do mercado de trabalho brasileiro é preocupante, visto que uma pessoa acima
de 40 anos de idade muitas vez é considerada “velha” para assumir um posto vago de
trabalho. Além do mais, pesquisas mostram que a aposentadoria dos brasileiros se torna
mais precoce a cada dia que passa, levando ao colapso do sistema previdenciário.
Estes fatos contribuem assustadoramente para tirar do idoso o “sonho” de continuar uma
vida ativa e produtiva, leva-os à depressão, às doenças senis, ao isolamento e muitas vezes
à morte prematura.
Existem projetos no Senado e na Câmara dos Deputados que prevêem incentivos fiscais às
empresas que admitirem trabalhadores acima de 50 anos nos seus quadros de
funcionários, talvez assim, possam reintegrar os chamados idosos ao mercado de trabalho
e proporcionar-lhes uma expectativa de vida mais longa, além de contribuir com a
melhora da qualidade de vida, uma vez que, aumenta a renda familiar.
O Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741/2003) nos artigos 26 e 27 procurou proteger o idoso
quanto ao exercício de atividades profissionais, respeitando as condições físicas,
intelectuais e psíquicas de cada um, proibindo a discriminação e a fixação de limite
máximo de idade para contratação, excepcionalmente, quando a natureza do trabalho o
exigir.
2.2 A mulher e o trabalho
Apesar da mão-de-obra feminina ter aumentado muito nas últimas décadas, este número
ainda é pequeno e a marginalização profissional da mulher é bastante visível.
A mulher, na maioria das vezes, ocupa o mercado de trabalho exercendo atividades de
média e baixa qualificação profissional. Os salários pagos são inferiores aos do homem e
acabam sendo razão para algumas empresas darem preferência à mão-de-obra feminina.
46
Além disso, as mulheres são vítimas de preconceitos, como por exemplo: o de
“inferioridade” do sexo feminino em relação ao masculino e abusos, como o assédio sexual
no trabalho, o que demonstram o tratamento desigual a que são submetidas. A sociedade
brasileira continua sendo ainda uma sociedade patriarcal e machista.
A mulher deixou parcialmente o trabalho doméstico para o trabalho externo, sobretudo
pela necessidade de aumentar o orçamento da família, participando ativamente, e, às
vezes, solitariamente, da sua manutenção financeira e também da família.
Sua participação no mercado de trabalho tem-se concentrado nas áreas de educação,
saúde, comércio e empresas prestadoras de serviços. Nas indústrias, sua maior presença
está nas áreas de alimentos, têxteis, eletrônica, brinquedos, automotivas e outras.
ü Antropometria
Em termos de altura, as mulheres são geralmente, cerca de 12 centímetros mais baixas
que os homens. Neste sentido, o maior problema é quando necessitam trabalhar em
máquinas e postos de trabalhos ou com acessórios individuais projetados para homens. A
incompatibilidade de altura nesses casos torna o trabalho difícil e mais fatigante para elas.
As empresas fabricantes de materiais e equipamentos individuais, muitas vezes, esquecem-
se das dimensões do corpo da mulher no momento da fabricação desses materiais.
ü Capacidade Física
Em termos de capacidade muscular, a mulher tem aproximadamente dois terços da
normalmente apresentada pelo homem. Também sua capacidade pulmonar em relação à
do homem é de 70%.
Em geral, o coração da mulher é menor e a taxa de hemoglobina no sangue também,
tendo ela, portanto, menor suprimento de oxigênio para os músculos. O limite de
levantamento manual de peso para as mulheres deve ser fixado em 20 quilogramas, no
máximo.
47
Tudo isso não torna a mulher inapta para o trabalho. Existem muitas tarefas que não
exigem grandes esforços musculares e, o trabalho em uma empresa pode ser planejado
de forma que as tarefas que exijam maior força física fiquem para os homens.
ü Capacidade intelectual
Não existem diferenças significativas entre homens e mulheres. Estudos mostram que eles
perdem 10% de sua inteligência não-verbal entre os 20 e 60 anos e elas, 20%. Porém, isso
é explicado atualmente pelo fato de grande parte das mulheres viverem ainda somente em
ambientes domésticos, terem menor índice de escolaridade, trabalharem em funções com
baixa exigência mental, poucos desafios e excitabilidade.
ü Menstruação
O ciclo menstrual tem duração, em média, de vinte e oito dias. As cólicas de leve
intensidade, com duração de um a dois dias podem aparecer, poucos dias antes ou no
início da menstruação.
Um dos principais motivos das cólicas é a presença da substância denominada
prostaglandina, produzida no útero e quando em dosagem acima do normal, leva às
contrações intensas do útero, bastante semelhantes à dor do parto. A menstruação
acompanhada de dor é denominada dismenorréia, ou seja, menstruação difícil.
Além da dismenorréia a mulher pode sofrer de tensão pré-menstrual (TPM),
considerada recentemente como doença, é comum entre as mulheres, mas não deve ser
considerada normal. Pode ocorrer desde a primeira menstruação até o climatério,
independente de cor, raça, nível cultural ou econômico.
A tensão pré-menstrual pode trazer conseqüências sócio-econômicas bastantes sérias, pois
é fator desencadeante de acidentes no trabalho e no trânsito, decorrente da falta de
atenção, baixa concentração, cefaléia intensa, reações lentas e falta de coordenação.
48
Dentre os mais de 150 sintomas relacionados a TPM os mais importantes são:
ü cefaléia,
ü enjôo, diarréia,
ü dores na parte inferior das costas e nas pernas,
ü tontura,
ü fadiga,
ü nervosismo,
ü agressividade,
ü baixa produtividade,
ü ansiedade, depressão,
ü ganho de peso,
ü hostilidade,
ü instabilidade,
ü choro fácil e
ü esquecimento.
A TPM está dividida em quatro tipos predominante:
ü no primeiro grupo estão as mulheres que apresentam como sintomatologia
dominante a ansiedade e a agressividade,
ü no segundo grupo estão aquelas que apresentam maiores alterações emocionais e
afetivas,
ü no terceiro se classificam as mulheres com maior número de queixas de ordem
física, geralmente por apresentar aumento no acúmulo de líquidos corpóreos, e
ü no último grupo estão as mulheres que passam a ter compulsão por determinado
tipo de alimento ou então, a falta de apetite.
Segundo pesquisas um grande número de mulheres que sofrem de TPM ficam
incapacitadas por períodos de um a dois dias por mês para o trabalho, apresentam
produtividade abaixo da média, o que significa muitas horas perdidas de trabalho,
conseqüentemente, diminuição do ganho por baixa produção.
Além disso, estudos mostram que ocorre um aumento do nível de criminalidade feminina
durante as crises da TPM.
49
A TPM não atinge nenhum órgão específico do organismo da mulher, não é diagnosticada
através de exames laboratoriais ou outros, e por isso, as mulheres, muitas vezes, são
desacreditadas ou ridicularizadas quando apresentam os sintomas da TPM. As pessoas
desinformadas vêem a TPM como um meio da mulher livrar-se do trabalho, criando
desculpas para justificar a antecipação da saída ou as faltas.
O tratamento da TPM não é padronizado deve ser de acordo com os sintomas
apresentados pela pessoa, normalmente os médicos aconselham o repouso, dietas leves,
com pouco sal e açúcar, bolsas de água quente na região hipogástrica e o uso da
analgésicos, anti-inflamatórios e terapia hormonal.
Além disso, algumas medidas preventivas podem ser tomadas como: ginástica e atividade
física, terapias alternativas (acupuntura, terapia floral), lazer e psicoterapia de apoio para a
autopercepção e o auto conhecimento ajudam a superar os transtornos que ocorrem neste
período.
Existem estudos ainda, que mostram que o ciclo menstrual pode sofrer desorganização por
atividades físicas pesadas. Atletas podem ter seu rendimento comprometido durante o
período menstrual. Embora, nesse caso, as exigências físicas são extremas. Aconselha-se
que, durante a menstruação, na menopausa e na gravidez, as mulheres não sejam
submetidas a transportes de carga e levantamento de peso acima de 20 kilogramas nos
seus trabalhos.
Enfim, a TPM causa problemas para a mulher, seja na sua vida afetiva, profissional ou
social, todos os estudos e tratamentos têm o objetivo de minimizar os sintomas e melhorar
a qualidade de vida de todos os envolvidos, ou seja, da mulher, do marido, dos filhos, do
namorado, dos amigos e do chefe.
No trabalho aconselha-se não exigir demais da mulher neste período, deixar o ambiente de
trabalho tranqüilo e, se possível, com música em volume baixo, incentivando-a a realizar
atividades físicas; no lar, procurar evitar discussões, críticas e brincadeiras barulhentas,
dispensar ajuda nos afazeres domésticos e fazer elogios para aumentar a alto estima.
50
Todo esse quadro, porém, não deve servir para discriminar as mulheres, porque diz
respeito a sintomas normais. Além disso, os homens também sofrem alterações cíclicas de
humor e de disposição para o trabalho, ficando em certos dias mais propenso a erros e
acidentes.
Podemos concluir que homens e mulheres podem e devem integrar-se no trabalho,
executando tarefas adequadas à sua capacidade física. Os homens são mais aptos àquelas
que exigem força física, enquanto as mulheres adaptam-se com facilidade às que exigem
pequenos detalhes e às repetitivas, que necessitam de paciência.
2.3 Os portadores de necessidades especiais e o trabalho
Os portadores de necessidades especiais são todos aqueles indivíduos que, por doença ou
acidente, não possuem a capacidade física normal.
De modo geral, podemos classificá-los da seguinte forma:
ü Os dependentes de cadeira de roda;
ü Os portadores de próteses mecânicas ou não;
ü Os usuários de bengalas e muletas;
ü Os parcialmente ou totalmente cegos;
ü Os parcialmente ou totalmente surdos;
ü Os surdos-mudos;
ü Os que apresentam lesões em nível de sistema nervoso central;
ü Os portadores de outras necessidades especiais.
Aos portadores de necessidades especiais devem ser garantidas condições mínimas de
participação influente na vida ativa da sociedade brasileira. Cabe aos políticos, legislador,
governantes, empresários e sociedade em geral criarem condições para minorar as
desigualdades sociais existentes diante das peculiaridades que envolvem estes
trabalhadores.
51
O portador de necessidades especiais, nas relações laborais, deve estar habilitado e
qualificado para desempenhar a atividade pretendida, dessa forma, poderá pleitear a
igualdade de tratamento.
Caso não esteja capacitado ou mesmo, limitado para realizar alguma tarefa que a função
exija, não poderá pretender assumir a atividade oferecida. Em contra partida, atendidas as
premissas, ou seja, compatibilidade entre a necessidade especial apresentada, a
função pretendida e capacitação, deve ser aplicado o princípio da igualdade, visando
garantir as mesmas oportunidades para todos os indivíduos.
Os portadores de necessidades especiais devem ser reabilitados para o trabalho ou devem
ser assistidos?
Por muitas décadas esta pergunta pairou no ar, o assistencialismo predominou e essas
pessoas ficaram marginalizadas, afastadas da vida social e impossibilitadas de participar e
influenciar nos destinos do país.
No mundo, principalmente Estados Unidos e Europa houve certa preocupa e avanço em
relação aos PNEs quanto a inserção social e condições de trabalho. A OIT publicou as
Recomendações nº. 99/55 e 168/83 e a Convenção nº 159/83 referentes à proteção do
portador de necessidade especial, muitas organizações e entidades foram criadas com o
intuito de defender e proteger os seus interesses.
No Brasil a preocupação é mais recente e somente começou a surgir na metade do século
passado. Em 1978, a Emenda nº 12 estabeleceu algumas normas como: educação especial
e gratuita, reabilitação e reinserção na vida econômica, proibição de discriminação,
inclusive quanto à admissão no trabalho e em serviços públicos, salários e possibilidade de
acesso a edifícios e logradouros públicos.
Com a Constituição de 1988 houve mais avanços, entretanto, os PNEs têm enfrentado,
ainda, muitas barreiras culturais e estruturais para serem aceitos no mercado de trabalho.
52
A discriminação na admissão do PNE foi tipificada como crime, punível com reclusão, a lei
de benefícios da previdência social determinou o sistema de quotas no preenchimento de
vagas, ou seja:
ü até 200 empregados – 2% de PNEs,
ü de 201 a 500 empregados – 3% de PNEs,
ü de 501 a 1000 empregados – 4% de PNEs, e
ü de 1001 empregados em diante - 5% de PNEs.
A dispensa do PNE só poderá ocorrer após contratação de substituto de condição
semelhante, e no descumprimento da lei será aplicada multa.
Todas essas medidas não apenas beneficiou os PNEs no sentido de conseguirem uma vaga
no mercado de trabalho, mas também a reintegrá-los na sociedade, melhorar seu
potencial de trabalho através do aperfeiçoamento e da busca de novos conhecimentos.
Por outro lado, foram constatados casos de empregadores que pagavam para os PNEs
ficarem em casa, mantendo-os na folha de pagamento, numa tentativa de burlar a lei.
Outros, preferiam pagar a multa imposta a admitirem os PNEs, deixando o interesse
econômico sobrepor-se ao social.
Além disso, outras formas discriminatórias impostas aos PNEs são as barreiras que
obstruem ou impedem a circulação dessas pessoas.
As barreiras arquitetônicas quando se encontram nos edificações e as barreiras
urbanísticas ou ambientais quando estão nas ruas, praças, calçadas, nos equipamentos
e mobiliários impedindo a integração das pessoas portadoras de necessidades, já que
tornam os ambientes inacessíveis, retirando a independência e a autoconfiança dos PNEs.
Os portadores de necessidades especiais devem ser vistos e tratados como pessoas
normais que perderam uma habilidade. Normalmente desenvolvem um mecanismo de
compensação altamente eficaz para realização de artes ou tarefas. Como por exemplo: os
cegos, muitas vezes, têm maior poder de concentração nas sensações táteis, auditivas e
53
cinestésicas; os paraplégicos dependentes de cadeira de rodas desenvolvem força e
habilidade com as mãos etc.
Através de avaliação médica e psicológica cuidadosa, o portador de necessidades especiais
pode ser corretamente colocado no posto de serviço que melhor se adaptar. Muitas
empresas já estão aptas para recebê-los, tanto do ponto de vista das máquinas como
também, na estrutura física, cabendo apenas assumir verdadeiramente sua
responsabilidade social.
2.4 O negro e o trabalho
A discriminação social do negro, em especial no mercado de trabalho, decorre de longa
data. Após a abolição do regime escravista, o negro, sem nenhuma condição econômica e
cultural, ficou a mercê da sua força braçal para conseguir sustento. Não tinha mais local
para morar, trabalhar e meios para sobreviver.
Sem nenhuma qualificação profissional passou a ser usado como mão-de-obra em serviços
pesados, e, embora assalariado, não teve ascensão social por não ter cultura e
conhecimentos específicos.
Até hoje, o preconceito racial se exterioriza em maior ou menor escala nas regiões
brasileiras. O passado do negro, como escravo, marcou seu futuro para os olhos de muitas
pessoas como um ser inferiorizado, mantendo-os nos setores mais pobres da sociedade.
Dados de pesquisas revelam que a maior taxa de desemprego atinge diretamente os
negros.
Os negros normalmente ocupam postos de trabalhos que dependem de pouca qualificação
e acabam recebendo salários inferiores aos dos brancos. Os trabalhos domésticos são
exercidos na sua maioria por mulheres negras e mulatas.
Apesar do Brasil ser um dos países com a maior população de negros no mundo, a
discriminação e o preconceito vigente é muito grande. Poucos negros têm acesso ao
mercado de trabalho digno, às escolas privadas e faculdades públicas. As famílias negras
54
são marginalizadas no processo produtivo, conseqüentemente, seus descendentes também
o serão. Muitas vezes, acabam caminhando para o mercado das drogas e do crime.
A situação da mulher negra é ainda mais grave, pesquisas mostram que a taxa de
analfabetismo entre as mulheres negras chega ao dobro das mulheres brancas. As
mulheres negras, em torno de 79% estão envolvidas com trabalhos domésticos, como
cozinheira, arrumadeira, lavadeiras, serviços gerais; em atividades de secretariado,
recepção e vendas apenas 7% das negras, e um número ainda menor, de 5 % nas funções
técnicas, administrativas e artísticas.
O negro é o primeiro a ingressar no mercado de trabalho e o último a sair.
Para acabar com a exclusão social os únicos meios são a educação e o respeito à
igualdade, observando as mesmas oportunidades no mercado de trabalho,
conscientizando a todos que as qualidades individuais de cada pessoal significam e
impõem respeito, independente da cor da pele.
55
3. METABOLISMO CORPÓREO
O ser humano necessita de energia para desenvolver todas suas atividades. Em
situações normais o indivíduo fornece, através dos alimentos que ingere e do ar que
respira, a energia que o organismo necessita.
O ar e os alimentos são fontes de energia de origem física, biológica e química que o
organismo humano transforma, através de reações bioquímicas, em fontes de energia
térmica e mecânica. A energia térmica e a mecânica permitem o funcionamento do
organismo humano tanto no aspecto físico como psíquico.
Todo processo de fornecimento dos alimentos e do ar para o organismo, a
transformação e degradação desses elementos, liberando calor e energia e produzindo
na musculatura a energia mecânica é denominado metabolismo.
A figura mostra o esquema de Grandjean, que compara o metabolismo a uma lenta
queima de produtos.
56
Fonte: Grandjean, 1998
Chama-se metabolismo basal a quantidade de energia necessária para manter o
indivíduo em repouso, sem executar qualquer atividade externa. Os valores do
metabolismo basal em homens e mulheres dependem, normalmente, do peso e tamanho
da pessoa, mas podemos dizer que varia aproximadamente de 1800 Kcal/dia para
homens e 1600 Kcal/dia para mulheres.
Os principais nutrientes, fontes de energia para o organismo humano são os lipídeos
(gorduras), os carboidratos (açucares) e as proteínas. Todos são formados pelos
elementos carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), sendo que as proteínas têm ainda
na sua composição o nitrogênio (N).
Calor Energia mecânica
Estômago Intestino
Pulmões
Fígado
Metabolismo
NUTRIENTES OXIGÊNIO
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As proteínas participam da atividade metabólica fornecendo ao organismo humano uma
pequena quantidade de energia. Em situações consideradas anormais, como por
exemplo, na presença de patologias, no jejum prolongado, em estado de subnutrição e no
aumento excessivo da produção do hormônio hidrocortisona, as proteínas contribuem
com uma parcela maior no fornecimento de energia.
As proteínas são decompostas pelo organismo em aminoácidos e hidrocarbonetos.
Os aminoácidos, compostos de nitrogênio, são utilizados na formação dos tecidos e os
hidrocarbonetos que são energéticos, ligam-se aos carboidratos e gorduras.
Entretanto, as maiores fontes de energia são os lipídios e os carboidratos, que ao
sofrerem a quebra quando metabolizados, fornecem moléculas de trifosfato de
adenosina (ATP).
Os carboidratos e gorduras transformam-se em glicogênio que é armazenado nos
músculos e fígado. Os carboidratos e gorduras podem ainda ser armazenados em forma
de gorduras, nos tecidos, para serem utilizados posteriormente.
O glicogênio tem relação direta na capacidade dos músculos realizarem exercícios mais
pesados e prolongados. Quanto mais glicogênio armazenado nos músculos, maior será
sua capacidade para o trabalho pesado, porque sua reposição é mais lenta que o
consumo.
Alimentos ricos em carboidratos tendem a armazenar mais glicogênio nos músculos que
proteínas e gorduras, o que leva a um aumento da capacidade de trabalho.
O metabolismo dos carboidratos pode ocorrer de duas formas: por via aeróbica (na
presença de oxigênio) ou por via anaeróbica (sem a presença de oxigênio), como já foi
estudo na parte I desse material.
58
üPor via aeróbica, uma molécula de glicose fornece 38 ATP e como principais
metabólitos o CO2 e H2O;
üPor via anaeróbica, a mesma molécula de glicose fornece 2 ATP e principa l
metabólito o ácido lático.
Quanto aos lipídios só podem ser metabolizados por via aeróbica, portanto, para a sua
transformação há necessidade de grande quantidade de oxigênio.
Assim pode-se dizer que, quanto mais capaz fisicamente for o indivíduo, ou seja, maior
capacidade pulmonar com alta oxigenação das células, por mais tempo utilizará os
lipídios na execução de tarefas, enquanto que, pessoas menos treinadas, com menor
capacidade pulmonar e, conseqüentemente, baixa oxigenação das células tenderão a
utilizar maior quantidade de carboidratos para realizar as tarefas.
O treinamento físico leva o indivíduo a uma maior capacitação pulmonar, melhorando a
circulação sanguínea através do aumento da capilarização, beneficiando os músculos com
um volume maior de sangue, elevando o fornecimento de oxigênio às células e à rápida
excreção dos subprodutos do metabolismo.
Além disso, o treinamento físico proporciona ao indivíduo uma máxima capacidade de
captação de oxigênio, denominada volume máximo de O² (VO² máx.).
As adaptações cardiorrespiratórias decorrentes do treinamento levam:
üa melhora da capacidade funcional dos pulmões para captar o oxigênio, com
conseqüente melhora da capacidade da membrana alveolar em difundir o oxigênio
para o sangue,
üaumenta a quantidade e a qualidade das hemáceas e hemoglobina na realização do
transporte sangüíneo do oxigênio,
ümelhora a capacidade cardiovascular de bombear quantidades adequadas de sangue
em tempo hábil,
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üeleva a pressão arterial e dilata os vasos dos tecidos em trabalho, facilitando a
difusão do sangue para eles, permitindo assim, que o oxigênio chegue aos pontos
do metabolismo aeróbico.
Assim sendo, podemos afirmar que a capacidade aeróbica poderá ser aumentada em até
15 % através da prática de exercícios regulares durante 30 a 40 minutos, de 3 a 4 vezes
por semana, o que leva também o coração a aumentar sua capacidade de bombeamento
do sangue para os pulmões e restante do corpo.
O gasto de energia para o trabalho
Como foi visto anteriormente, o metabolismo basal é a quantidade de energia necessária
para o ser humano manter-se vivo, em repouso. Entretanto, o homem realiza atividades
de trabalho e extra-trabalho quase continuamente, com exceção nos períodos de sono.
Estudiosos comentam que o total de energia consumido pelo homem é composto pelo
metabolismo basal, por calorias de lazer e por calorias de trabalho, distribuídos conforme
gráfico a seguir:
1000
2000
3000
4000
5000
1000 1600 2000 3000
Calorias de Trabalho
Calorias de lazer
Metabolismo basal
Calorias-trabalho/24h
Trabalho:leve
Meio Pesado
Pesado Muito Pesado
Consumo total de energia/24h
Fonte: Grandjean,1998
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Apresentamos no quadro abaixo a relação de algumas profissões e o gasto médio de
energia, para homens, em kcal/dia:
Tipo de Profissional Necessidades calóricas
Trabalhadores de escritórios 2.500 kcal/dia
Motoristas 2.800 kcal/dia
Operários de trabalho leve 3.000 kcal/dia
Mecânicos de autos e carpinteiros 3.500 kcal/dia
Grande parte de operários industriais 2.800 a 4.000 kcal/dia
Estivadores até 4.500 kcal/dia
Os valores citados anteriormente representam a média da população, existem casos em
particular, onde ocorrem variações desses valores de acordo com o sexo, a massa
copórea, a idade e fatores ligados a atividade glandular de cada indivíduo.
Quanto a diferença do gasto de energia entre homens e mulheres, temos que os homens
gastam cerca de 20% de energia a mais que as mulheres para executar as mesmas
tarefas, ou seja, se uma mulher gasta 2.500 kcal para executar determinada tarefa, o
homem gastará 3.000 kcal na execução da mesma tarefa. Observe a tabela abaixo:
GASTO ENERGIA/
HOMENS
GASTO ENERGIA/
MULHERES
Em escritórios 2070 a 2530 kcal/dia 1755 a 2145 kcal/dia
Ativ/industrial leve 2630 a 3200 kcal/dia 2230 a 2720 kcal/dia
Ativ/indust.moderada 2880 a 3520 kcal/dia 2450 a 3000 kcal/dia
Ativi/ indust. pesada 3600 a 4400 kcal/dia 3060 a 3750 kcal/dia
Os trabalhadores experientes desenvolvem uma tarefa gastando menos energia que os
aprendizes. A prática faz com que os trabalhadores experientes executem uma tarefa
realizando um número menor de movimentos, o que os leva a gastar menos energia, além
do mais, a prática permite que errem menos.
61
Como já vimos a alimentação adequada é o fator mais importante no fornecimento de
energia para o homem. Uma alimentação correta e equilibrada supre o organismo humano
com a quantidade de energia necessária para o desempenho das atividades laborais. Caso
o trabalhador alimente-se de forma inadequada e insuficiente para repor os gastos,
apresentará uma redução de peso e queda no rendimento, além de ficar mais vulnerável
às doenças.
Em média, a população ingere em torno de 3.000 kcal/dia de alimentos, tendo assim um
rendimento máximo de 100% no trabalho. Caso a ingestão em kcal/dia diminua, o
rendimento também diminuirá, o que nos leva a concluir que a subnutrição de um povo,
acarreta resultados desastrosos ao país do ponto de vista econômico, uma vez que diminui
acentuadamente a produtividade.
É interessante frisar que trabalhadores que apresentam cansaço e desatenção, muitas
vezes, considerados preguiçosos ou desmotivados, podem estar em estado de
subnutrição, acompanhado de patologias, como por exemplo, verminoses, levando-os a
baixa produtividade e desinteresse. Um bom controle da saúde desses trabalhadores e
adequada alimentação poderá tirá-los desse metabolismo deficitário e, conseqüentemente,
aumentar a produtividade.
Estudos mostram que os baixos salários pagos nos países subdesenvolvidos contribuem
para a baixa produtividade, uma vez que, entre outros motivos, esses trabalhadores não
conseguem proporcionar uma alimentação adequada para si e seus familiares. Nessa
condição de subnutrição o trabalhador tende a trabalhar num ritmo bastante lento para
poder suportar a carga horária diária de trabalho, caso contrário, suportaria, num ritmo
maior, em média, apenas 2 horas de trabalho por dia.
O aumento da remuneração dos trabalhadores, muitas vezes, não contribui para o
aumento da produtividade, pois nem sempre a diferença nos ganhos será aplicada numa
alimentação mais adequada e equilibrada.
62
Vale lembrar que apenas a alimentação fornecida pela empresa (almoço ou jantar) não é
suficiente para repor as perdas calóricas decorrentes do trabalho. O trabalhador necessita
de condições econômicas adequadas para alimentar-se bem, também em sua casa.
O trabalhador não necessita apenas da energia proveniente dos alimentos, há necessidade
de líquidos para manutenção do equilíbrio do metabolismo corpóreo. Os alimentos, na sua
maioria, têm na sua composição grande quantidade de água, contudo, o organismo
precisa do fornecimento extra de líquidos, que pode varia de pessoa para pessoa ou
ainda, devido às condições climáticas.
A ingestão de líquidos além de promover a hidratação do organismo, auxilia na excreção
de inúmeros produtos finais do metabolismo corpóreo, através dos rins e das glândulas
sudoríparas.
O trabalhador deve estar atento e orientado para a reposição contínua dos líquidos
orgânicos, principalmente em dias muito quentes e quando o trabalho estiver sendo
executado diretamente sob o calor do sol. O consumo de líquidos varia de pessoa para
pessoa mas, em média, uma pessoa deve ingerir de 1,5 a 2 litros de líquidos/dia podendo
ser água, chás, sucos, leite, caldos etc.
Hábitos alimentares para evitar as doenças e melhorar as produtividade
üEvitar ingestão excessiva de carboidratos na refeição servida na empresa. Os
carboidratos em grande quantidades provocam fermentação intestinal o que leva a
formação de gases, com conseqüente desconforto abdominal.
üEvitar a ingestão excessiva de gorduras, são de difícil digestão e contribuem para a
diminuição do rendimento do trabalho. Além de contribuir para o aumento do
colesterol no sangue e levar a obesidade.
üNão ingerir a refeição rapidamente, evitando assim, o desconforto pós-prandial.
üNão realizar as refeições no próprio local de trabalho, podem ocorrer intoxicações
digestivas decorrentes da contaminação das mãos ou dos alimentos e utensílios.
üAumentar a ingestão de carnes brancas, peixes, verduras e legumes, são de fácil
digestão e fornecem nutrientes adequados à necessidade do trabalhador.
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üEvitar uso de bebidas gasosas para diminuir o desconforto gastrintestinal.
üNão ingerir grande quantidade de café, evitando a produção excessiva de ácido
clorídrico, reduzindo a possibilidade de desconforto gástrico, como por exemplo
gastrites e úlceras. O ideal são dois cafezinhos por dia, um de manhã e outro a
tarde.
üOs trabalhadores do período noturno devem evitar alimentar-se excessivamente
durante a noite, principalmente, quando as atividades desenvolvidas são leves ou
moderadas. A alimentação excessiva pode levar à obesidade.
üRepor a alimentação em horários adequados, ou seja, a refeição principal (almoço)
deve ser servida após 3 ou 4 horas do início do período. As pausas para o lanche
devem ser em número de duas, uma no meio do turno da manhã e outra no meio
do turno da tarde.
üA higiene pessoal pré e pós-alimentação contribuem para o bom estado da saúde do
trabalhador. O hábito de lavar as mãos e os antebraços contribui para evitar
contaminações por parasitas intestinais e intoxicações por produtos utilizados no
processo industrial. A escovação dos dentes pós alimentação contribui com a
saúde bucal, levando a uma melhora da mastigação dos alimentos e,
conseqüentemente, melhor aproveitamento dos mesmos. A troca do uniforme
sujo antes das refeições auxilia na prevenção de contaminações.
üA empresa deve utilizar-se de um programa de educação alimentar, com o auxílio de
um nutricionista, para esclarecer aos trabalhadores a necessidade de variar os
alimentos e saber apreciar alimentos que a princípio não fazem parte da dieta, mas
têm alto valor nutritivo, incentivando a mudança dos hábitos alimentares.
64
4. TRABALHO MUSCULAR ESTÁTICO E TRABALHO MUSCULAR DINÂMICO
O homem ao realizar seu trabalho utiliza-se de duas formas de esforço muscular:
üo esforço dinâmico (trabalho muscular dinâmico – trabalho rítmico)
üo esforço estático (trabalho muscular estático – trabalho postural).
O tipo de esforço é determinado pelo comportamento dos músculos de acordo com as
exigências do trabalho executado.
Trabalho Dinâmico
No trabalho dinâmico os músculos apresentam-se numa rítmica seqüência de contração
e descontração, ou seja, ocorre o tensionamento e o afrouxamento da musculatura que
está trabalhando.
Quando os músculos estão em trabalho dinâmico eles agem como uma verdadeira bomba
propulsora sobre a circulação sanguínea, a contração expulsa o sangue para fora dos
músculos e a descontração (relaxamento) permite a entrada do sangue renovado para
dentro das células musculares. Assim, no trabalho dinâmico os músculos recebem uma
quantidade aumentada de sangue, de 10 a 20 vezes mais, que no trabalho estático,
caracterizado pelo repouso.
O aumento da circulação sanguínea dos músculos no trabalho dinâmico contribui para
trazer maior quantidade de açúcar e oxigênio às células, conseqüentemente, aumenta a
produção de energia, levando embora os resíduos (os metabólitos) produzidos, para
serem excretados.
Trabalho Muscular Estático
No trabalho muscular estático ocorre o oposto, ou seja, há um estado de contração
prolongada da musculatura visto, principalmente, em trabalhos que exigem a manutenção
de determinadas posturas.
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A musculatura em tensão contínua por longos períodos provoca sobre os vasos
sanguíneos uma pressão externa, dificultando o fluxo de sangue e, conseqüentemente,
levando a uma diminuição da oferta de sangue para os músculos.
A diminuição da chegada de sangue para os músculos tem como conseqüência a
diminuição da oferta de açúcar e oxigênio, fazendo com que os músculos realizem grande
parte do seu trabalho estático usando apenas as próprias reservas de energia. Além do
mais, os metabólitos não são excretados adequadamente, acumulam-se nos músculos
causando dor aguda seguida de fadiga muscular.
O trabalho muscular estático não pode ser suportado por longos períodos, a dor acaba
por obrigar a sua interrupção. Conclui-se que, quanto maior for a força exercida ou maior
a tensão dos músculos envolvidos, mais rápido será o aparecimento da fadiga muscular.
Em contra partida, o trabalho muscular dinâmico pode ser suportado por períodos
longos e, quando exercido em um ritmo adequado, não provoca fadiga muscular.
Conclui-se, ao comparar o trabalho muscular dinâmico ao trabalho muscular estático,
exercidos em condições normais, que este último provoca um aumento do consumo de
energia, aumento da freqüência cardíaca e necessita de longos períodos para
restabelecer o funcionamento normal do organismo humano.
Tudo isso pode ser explicado pelo fato de que, o metabolismo do açúcar quando ocorre
na presença de baixa quantidade de oxigênio, libera menos energia, ou seja, menos ATP,
produzindo maior quantidade de metabólitos (ácido lático). O ácido lático é acumulado nos
músculos levando à fadiga muscular e a dor.
A falta de fornecimento de quantia adequada de oxigênio aos músculos, que acontece
normalmente no trabalho estático, deprime o grau de eficiência do trabalho dos músculos.
Contudo, o trabalho estático, ou seja, em condições anaeróbicas não deve ser visto como
algo negativo para o ser humano. Este tipo de trabalho é de grande utilidade desde que
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utilizado sob duas condições: quando há necessidade de esforços de grande intensidade,
porém, em períodos de curtíssima duração.
TRABALHO ESTÁTICO
TRABALHO DINÂMICO
TRABALHO ESTÁTICO = PRESSÃO INTRAMUSCULAR ELEVADA
Compressão dos vasos sangüíneos com diminuição acentuada da irrigação muscular
HIPÓXIA Acúmulo de substâncias provenientes do metabolismo do organismo
Fadiga muscular = dor
Acúmulo de CO2
Bomba muscular
CONTRAÇÃO E DESCONTRAÇÃO RÍTMICA DOS MÚSCULOS
Contração Descontração
Aumento da pressão intramuscular Diminuição da pressão intramuscular
Compressão dos vasos, redução da irrigação muscular.
Dilatação dos vasos, aumento da irrigação muscular.
Proporciona boas condições para nova contração
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5. FATORES HUMANOS NO TRABALHO
O ser humano é dotado de certas características que podem influenciar no
desenvolvimento das atividades laborais.
Normalmente, quando um corpo está em repouso ou acostumado a certas atividades, ao
ser exigido com outras atividades diferenciadas ou mais pesadas deve sofrer
transformações, a fim de, adaptar-se ao novo processo.
Estas transformações serão gradativas e ocorrerão devido ao treinamento que deve ser
proporcionado ao organismo. Contudo, nem sempre as transformações geradas pelo
treinamento frente a uma determinada atividade laboral, gera condições favoráveis ao
organismo humano. Muitas vezes, podem produzir resultados desfavoráveis pelo próprio
tipo de atividade ou por falta de capacidade/ interesse da pessoa envolvida.
Problemas de memória, fadiga, falta de motivação, monotonia, estress e outros são
fatores importantes e necessitam ser analisados, sob todos os aspectos, sempre
procurando minimizar, controlar, substituir ou mesmo eliminá-los quando possível.
5.1 A memória
A memória é a “caixa” que concentra as informações recebidas pelo cérebro. Ocorre com
certeza uma seleção das informações a serem armazenadas no cérebro. Podemos dizer
que a relevância da informação fornecida para a pessoa tem fundamental importância no
seu armazenamento. Portanto, o homem na maioria das vezes determina o que é
relevante ou não, ou seja, o que será ou não armazenado.
O papel da memória no trabalho é de fundamental importância. A execução das tarefas
exige do homem a restituição de informações, após um certo tempo, quando a fonte de
informação já não está mais presente.
O homem tem a capacidade de fazer o reconhecimento, ou seja, de reencontrar, na sua
percepção, elementos memorizados há certo tempo. Tem a capacidade ainda, de
68
reconstruir uma organização memorizada que sofreu alguma mudança, por exemplo,
reorganizar as peças de um jogo de quebra-cabeça, seguindo a ordem anterior à sua
desmontagem. Finalmente, o homem tem a capacidade de lembrar de forma integral,
fatos anteriormente vividos, sem estarem presentes os elementos desses fatos.
Existem dois tipos de memória:
ü Memória de curta duração ou recente;
ü Memória de longa duração.
ü A memória de curta duração consiste na lembrança de fatos que acabaram de
acontecer, dentro de um período de minutos ou horas.
ü A memória de longa duração, ao contrário, engloba lembranças de
acontecimentos de meses ou anos atrás.
As informações armazenadas normalmente podem ser recuperadas, embora nem sempre
tão completas como se pode desejar.
As informações quando armazenadas deixam um “rastro” no cérebro, como se uma rede
de neurônios recebesse uma marca. Quando um estímulo percorre este caminho marcado,
trás de volta para o indivíduo a informação desejada.
A memória de curta duração é apagável, o que explica a perda de memória para fatos
imediatamente ocorridos antes de um traumatismo craniano. Supõe-se que existe um
período de gravação ou consolidação da memória, e se ocorrer algum problema durante
este período os “rastros” podem sofrer prejuízos e não serem armazenados na memória
de longo prazo. Com o passar do tempo, os “rastros”, não ocorrendo nenhum percalço, se
tornarão estáveis e resistentes e serão então armazenados na memória de longa duração.
O número de células nervosas que compõem o sistema nervoso humano gira em torno de
10 bilhões de células e a capacidade total da memória humana é cerca de 108 (cem
milhões) bits, valor inimaginável que ultrapassa a capacidade de memória dos
computadores.
69
São bastante freqüentes os erros de memória, contudo, podem ser evitados ou corrigidos,
através do conhecimento dos mecanismos que levam à sua ocorrência.
A memória de curta duração embora seja rapidamente deletada e tenha capacidade
bastante reduzida, tem grande importância quando se quer transformar instruções
fornecidas em ações.
Assim, deve ser utilizada da melhor forma possível. Lançar mão de artifícios pode ajudar
na utilização da memória de curta duração, como por exemplo dar informações em bloco,
relacionando itens entre si; usar letras em lugar de números, as letras são
automaticamente relacionadas com palavras e estas são mais facilmente memorizadas;
utilizar a diferenciação entre as informações, como por exemplo letras com sons distintos
ou formas distintas (usar X,Q,H,T, evitando O,C,G,Q que têm formas parecidas) e, por fim,
utilizar a verbalização para transmitir as informações, são mais facilmente retidas que
quando passadas por escrito.
Quanto a memória de longa duração, também pode ser estimulada e sua capacidade
aumentada independemente das características individuais de cada pessoa.
Através de esforços conscientes e aplicação de alguns artifícios é plenamente possível
atingir alto nível de armazenamento de informações. Podem ser citados como exemplos:
proceder a limpeza da memória, eliminando fatos que já não são importantes, que
congestionam a memória e não permitem que novas informações sejam armazenadas; dar
significados às informações, relacionando-as a outros fatos que tenham significado para a
pessoa, como por exemplo usar o número de sua casa, a data de nascimento de parente
etc; formar palavras nmemônicas, ou seja, criar uma frase com o início de várias palavras
a serem memorizadas e memorizar a frase, o que torna a memorização muito mais
simples e por último, associar as informações com imagens visuais, dando preferência às
imagens estereotipadas , marcantes ou figuras conhecidas.
Podemos concluir que todas as pessoas são capazes de aprender e de tornar menos
traumatizante o processo ensino-aprendizagem do trabalho.
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O trabalhador necessita de orientação e alerta para atitudes e procedimentos que facilitam
a tarefa de memorizar o que foi ensinado. Vale lembrar, que os mecanismos de
aprendizado e a memória funcionam quando o indivíduo está em estado de alerta, ou
seja, quando a ativação cerebral é alta, o que diretamente está ligada à motivação.
5.2 A motivação
Um trabalhador motivado certamente produzirá mais peças que normalmente produz.
Não há como observar diretamente a motivação, somente será percebida através dos
resultados apresentados pelo trabalhador.
Estar motivado é buscar, perseguir um determinado objetivo, por um período de tempo,
que pode ser curto ou longo. Determinar-se a alcançar “algo” e manter-se empenhado a
atingi-lo, executando procedimentos para esse fim é estar motivado.
Podemos afirmar que a motivação para o trabalho aliado aos conhecimentos técnicos
específicos para executar determinada tarefa resultará, sem dúvida, no aumento da
produção.
Considera-se uma tarefa motivadora quando se tem metas a serem alcançadas, quando a
tarefa é desafiadora e quando, durante a realização do trabalho o trabalhador for
informado, com freqüência, sobre os resultados alcançados por seu trabalho e de seus
colegas.
Situações onde o trabalhador não tenha os objetivos ou metas bem traçadas e/ou não
ocorram situações de desafio, tornará o trabalho infindável e pouco competitivo. As metas
bem claras e as situações de desafio levam o trabalhador a querer se superar,
principalmente se houver recompensas.
Dentre algumas teorias de conteúdo em motivação a mais plausível foi o trabalho de
Herzberg (1959), que ao entrevistar em torno de 1600 trabalhadores, pode perceber que
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existiam duas situações bastante distintas, uma agindo de forma positiva e chamada de
motivadora e outra, que agia de forma negativa, levando o trabalhador ao aborrecimento.
Nem sempre esses fatores se opõem uns aos outros, ou seja, se eles não existirem, são
fontes desmotivadoras, mas se existirem, podem ou não ser fontes de motivação ou
satisfação.
São fontes de motivação:
ü O trabalho propriamente dito;
ü Realização pelo trabalho;
ü Reconhecimento pela realização;
ü Responsabilidade que o trabalho representa;
ü Avanço e crescimento profissional que o trabalho proporciona.
Podem ser fontes desmotivadoras:
ü Problemas com a supervisão;
ü Relacionamento difícil com a chefia e/ou colegas;
ü Más condições de trabalho;
ü Baixa remuneração;
ü Política e administração da empresa inadequadas;
ü Segurança pessoal ameaçada;
ü Falta de status pessoal;
ü Dificuldade no relacionamento com os funcionários;
ü Problemas na vida pessoal.
Como dissemos anteriormente, um trabalhador produz mais e melhor quando motivado,
além disso, consegue superar mais facilmente os efeitos da monotonia e da fadiga. A
motivação dispensa, na maioria das vezes, a supervisão, pois o trabalhador por si mesmo,
procura superar as dificuldades, resolvendo os problemas e atingindo os objetivos
propostos.
Motivar o trabalhador não é tarefa simples para o empregador, devemos lembrar que um
dos principais fatores de maior motivação é o salário, em especial, para aqueles
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trabalhadores que têm menor renda. Contudo, nem sempre é possível proporcionar um
salário que seja considerado justo, em decorrência da política vigente no país.
Outro fator importante de motivação que deve ser citado é o reconhecimento e, deve
estar fundamentado em um relacionamento franco e de confiança entre a administração
da empresa e o trabalhador. A empresa deve estabelecer claramente os critérios de
remuneração e promoção de seus trabalhadores e, sempre que possível, pautá-los no
bom desempenho do trabalho e no aperfeiçoamento pessoal e profissional.
Provavelmente, não gerará nenhuma insatisfação nos seus funcionários, quando alguém
que se destacou na produção e/ou atingiu níveis de conhecimentos superiores aos demais,
receber promoção ou aumento em seus ganhos.
5.3 A monotonia
A monotonia é a reação do organismo a uma situação uniforme, pobre ou com poucas
variações de estímulos. Caracteriza-se por sintomas, entre outros, sensação de fadiga,
cansaço, sonolência, morosidade, falta de disposição, diminuição da atenção e stress.
Tarefas repetitivas na empresa, tráfego moroso e rotineiro, professores que mantém o
mesmo tom e intensidade de voz podem provocar monotonia.
Outras situações contribuem para o aparecimento da monotonia em trabalhadores:
ü Atividades de longa duração, com necessidade de alto nível de observação, porém,
sem a ocorrência de estímulos para aguçar essa observação;
ü Operações com ciclos de duração muito pequenos e/ou de repetição prolongada;
ü Tarefas que restrinjam a movimentação corporal;
ü Estimulação sensorial ambiental muito baixa;
ü Locais pouco iluminados, ventilados e ruidosos;
ü Locais de trabalho isolados, sem contato com outras pessoas;
ü Organização do trabalho que impõe ritmo constante ao trabalhador.
73
Não só as condições de trabalho levam à monotonia, devemos analisar também as
condições pessoais que podem influenciar de forma bastante significativa a vulnerabilidade
à monotonia, ou seja, podem aumentar ou diminuir o seu aparecimento.
A monotonia aumenta nas pessoas:
ü em estado de cansaço;
ü que trabalham no período noturno, principalmente quando não estão adaptadas;
ü com alto nível de formação, conhecimento e capacidade, executando tarefas de
baixa complexidade;
ü com alto nível de produtividade e prontas para assumir grandes responsabilidades;
ü com baixa motivação/satisfação no trabalho;
ü extrovertidas.
Em situação contrária, podemos dizer que alguns fatores levam o indivíduo apresentar
resistência à monotonia:
ü pessoas que se encontram descansadas;
ü pessoas no período de aprendizagem tendem a prestar maior atenção às tarefas,
mesmo que sejam monótonas;
ü pessoas que realizam tarefas repetitivas, mas fazem disso um meio para atingir
alguma meta maior.
Do ponto de vista fisiológico o organismo humano sofre alterações quando não recebe
estímulos ou não é desafiado, ou seja, quando o homem realiza tarefas monótonas e
repetitivas os impulsos sensoriais aferentes se esgotam, levando então à desativação
cerebral, conseqüentemente, reduzindo o estado funcional de todo o organismo.
Além disso, podemos dizer que dois outros fenômenos fisiológicos decorrentes da falta de
estímulos podem ser colaboradores no desencadeamento da monotonia: a adaptação e
a indiferença.
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A adaptação
Os órgãos dos sentidos adaptam-se às características do meio ambiente, ou seja, se
existem novos estímulos no ambiente os órgãos são sensibilizados e reagem a eles, caso
os estímulos sejam repetitivos e se prolonguem por longos períodos os órgãos tornam-se
insensíveis.
O cérebro é ativado pela grande variação dos estímulos externos, por outro lado, a
repetição constante dos mesmos estímulos provoca uma certa inativação cerebral.
Quando o trabalho apresenta características de monotonia e de repetição e o ambiente
encontra-se empobrecido de estímulos novos, os órgãos dos sentidos diminuem o envio
dos estímulos por parte dos órgãos receptores ao sistema nervoso, com a finalidade de
protegê-lo contra a estimulação sensorial excessiva. Assim, podemos dizer que houve uma
adaptação do organismo às condições de trabalho e do ambiente.
A indiferença
O trabalho monótono e repetitivo provoca a eliminação de reações frente aos estímulos,
uma vez que eles deixam de ter um significado para o indivíduo, levando-o a
indiferença.
Da mesma forma que a adaptação aos estímulos repetitivos, a indiferença tem o objetivo
de proteger o córtex cerebral e o organismo em geral, de uma série de estímulos sem
significados.
Assim, podemos concluir que tarefas pobres em estímulos ou ricas em estímulos
repetitivos somadas aos mecanismos neurofisiológicos da adaptação e da indiferença são
fatores fundamentais no desencadeamento da monotonia.
A diminuição do nível de excitação cerebral reflete sobre todo organismo, que diminui de
maneira geral todas as suas reações.
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Entre outras alterações podemos citar a produção diminuída do hormônio adrenalina pelas
glândulas supra-renais. A produção desse hormônio está diretamente ligada aos estímulos
e desafios proporcionados ao homem. Quando ocorre diminuição dos níveis de adrenalina
no organismo há uma queda no nível de atividade do homem.
Podemos comparar o desenvolvimento de duas crianças, uma criada com todas as
condições de aprendizagem, estímulos, jogos, brincadeiras etc e outra, sem qualquer
mecanismo de desenvolvimento, seja mental, físico ou psíquico. Provavelmente a primeira
se desenvolva de forma adequada e evolua satisfatoriamente, tendo facilidades para se
desvencilhar dos desafios propostos; a segunda, no entanto, terá certamente muitas
dificuldades para realizar as tarefas, resolver os problemas ou criar soluções para os
desafios que aparecerem.
O trabalhador que executa tarefas repetitivas e monótonas por longos períodos da sua
vida sofre as mesmas conseqüências da criança que se desenvolve de forma inadequada,
sem os recursos necessários. Sua capacidade física e mental fica comprometida, ocorre
uma certa atrofia cerebral, por falta de desafios e estímulos novos. Ambientes de trabalho
com novos desafios e estímulos levam a uma excitação cerebral e provoca o
desenvolvimento do homem no aspecto físico, mental e psíquico.
No entanto, tudo deve ser equilibrado, estudos mostram que exagerar no fornecimento
dos estímulos e desafios ao homem pode desencadear doenças e levá-lo ao estresse,
assunto que será tratado em capítulo a parte.
5.4 O uso de substâncias estimulantes para driblar a monotonia
Os trabalhadores muitas vezes lançam mãos de substâncias estimulantes com o objetivo
de diminuir a monotonia e provocar o aumento da atenção. Entre elas, as mais usadas
são: cafeína, fumo e álcool.
Cafeína
ü Ingerida em doses moderadas(0,3 a 0,5g):
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- aumenta a vigilância;
- reduz a inibição;
- alivia a fadiga;
- provoca a diminuição do apetite.
ü Alterações fisiológicas:
- aumenta a temperatura corporal;
- aumenta o ritmo cardíaco;
- aumenta o consumo de O2.
ü Excedendo-se a dose de tolerância, podem ocorrer:
- indigestão;
- nervosismo;
- insônia.
Fumo
ü Contém monóxido de carbono (CO), que apresenta maior afinidade com a
hemoglobina (Hg) do sangue;
ü A Hemoglobina circulante carrega o oxigênio (O2) dos pulmões para os músculos;
ü Nos fumantes a hemoglobina se junta com o monóxido de carbono (CO) circulante,
assim torna-se incapaz de carregar o oxigênio para as células.
ü As pessoas que fumam em média 20 cigarros diários apresentam taxa de 6,3% de
Hg combinada com o CO, o que diminui de 5 a 10% da sua capacidade aeróbica,
dificultando e diminuído a performance física.
Álcool
ü Em doses moderadas pode ser benéfico ao desempenho, pois:
- Aumenta o ritmo cardíaco;
- Acelera a transmissão de impulsos através das células
nervosas, diminuindo o tempo de reação.
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ü Em doses superiores a 0,25g por Kg de peso corporal ( para uma pessoa de 70 kg
equivale a 17,5g de álcool) é prejudicial ao desempenho, pois:
- aumenta o tempo de reação;
- aumenta a incidência de erros;
- diminui a capacidade de discriminação de sinais.
ü Em doses ainda maiores, provoca:
- perda da memória;
- dores de cabeça;
- vômitos;
- perda de apetite.
Observe a tabela abaixo onde relacionamos algumas bebidas alcoólicas, dosagens e,
respectivas quantidades de álcool ingeridas.
Analisando os efeitos das substâncias citadas é interessante orientar os trabalhadores para
os prejuízos que estas causam ao organismo. Lembrando ainda, que pouco contribuírem
para o aumento da produtividade e do desempenho no trabalho, não evitam e nem
minimizam os efeitos causados pela monotonia sem trazerem riscos de acidentes aos
trabalhadores.
Bebida Dosagem (ml)
Quant. Álcool (gramas)
Carboidratos (gramas)
Calorias
Cerveja 300 13 13,7 151 Vinho rose 120 11,6 1,3 88
Vinho branco 120 11,3 0,4 80 Vinho doce 120 11,5 4,9 102 Champagne 120 11,9 3,6 98
Whisky, rum, gim, vodka, cachaça
45 15,3 Traços 107
Cherry 60 9,5 1,2 72 Vermouth 120 12,2 13,9 141
Licor 20 4 a 10 4 a 7 50 a 180 Sidra doce 240 25 traços 100
Sidra fermentada 120 01 05 40
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6. O RÍTMO CIRCADIANO E O TRABALHO NOTURNO
Atualmente o processo de trabalho exige do homem cada vez mais esforços. Se nos
séculos passados o homem trabalhava de 12 a 16 horas diárias, hoje, o trabalho em
muitas empresas não sofre interrupção durante o período de 24 horas.
As exigências do mercado econômico e as leis que protegem os trabalhadores dos
abusados ocorridos no passado, obrigaram os empregadores a criar alternativas, entre
elas os turnos de trabalho e de revezamento para atender ao processo de produção. A
legislação trabalhista e também a necessidade de manter o caro maquinário em uso
ininterrupto, compensando os altos investimentos, levaram os trabalhadores a
desempenhar suas tarefas nos mais variados períodos do dia.
As funções do organismo humano seguem ritmos que podem ser longo, médio ou curto.
Como exemplos podemos citar a gravidez com ritmo biológico longo, pelo qual o corpo
da mulher sofre alterações físicas e hormonais freqüentes até estar pronto para o parto; o
ciclo menstrual se caracteriza por ser um ritmo biológico de média duração, que ao final
de mais ou menos vinte e oito se completa e termina na menstruação e, por fim, a
vigília-sono representa um ciclo de curta duração, que se completa em 24 horas.
Para o presente estudo fisiológico é interessante deter-nos no ciclo de variação diária,
denominado ritmo circadiano (em latim, circa dies = cerca de um dia).
Ocorre no organismo humano um processo endógeno que funciona como um relógio
interno, definindo a produção de substâncias e hormônios em função das necessidades do
corpo e dos acontecimentos externos. Podemos citar entre outros sinalizadores: o
trabalho, o período do dia e da noite (o claro/escuro), o reconhecimento da hora do dia e
os contatos sociais.
Existem funções que sinalizam o ritmo circadiano, entre as mais importantes temos: a
vigília-sono, a capacidade de produção, a temperatura corpórea, a freqüência cardíaca e a
pressão arterial, a secreção dos hormônios do córtex das glândulas supra-renais (ex:
esses hormônios têm produção máxima por volta do meio-dia e mínima entre 4 e 6 horas
79
da manhã), a secreção dos hormônios da medula das glândulas supra-renais ( adrenalina
e noradrenalina são hormônios que estimulam o sistema circulatório, preparando o
organismo para as atividades de trabalho ou outras atividades) e a secreção do hormônio
de crescimento (hormônio somatotrófico).
A tabela reproduzida abaixo mostra algumas alterações que ocorrem no organismo em
decorrência do período do dia (dia/noite).
Ritmos circadianos FUNÇÕES ALTERAÇÕES
Durante o dia Durante a noite
Temperatura corpórea Aumenta Diminui Freqüência cardíaca Aumenta Diminui Pressão arterial Aumenta Diminui Produção de adrenalina Aumenta Diminui Capacidade produtiva Aumenta Diminui Produção mental Aumenta Diminui Produção hormonal Aumenta Diminui
Como podemos notar no quadro acima, o organismo humano está preparado para
produzir durante o dia, com todos os seus órgãos e funções no ápice produtivo, em
compensação, durante a noite, as atividades e a produção da maioria dos órgãos está
anestesiada, o organismo está pronto para diminuir o ritmo de funcionamento, com o
objetivo de descansar e de recompor as reservas de energia.
Estudos do ritmo circadiano mostram sua importância para o homem frente as suas
atividades de trabalho, a nível de desempenho, produção e estado de alerta.
Alguns estudos mostram que em certos horários o organismo apresenta menor índice de
alerta, com um maior número de acidentes e erros registrados nestes períodos.
Além disso, através do ritmo circadiano podem ser diagnosticadas doenças, com base em
certas medidas como a pressão arterial da temperatura corpórea e na composição dos
líquidos do organismo, como urina e sangue.
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Ainda, através do ritmo circadiano, demonstrou-se a existência de pessoas que se
caracterizam por apresentar maior produtividade no período diurno, estão mais dispostos
para o trabalho no período da manhã, são mais eficientes neste período para detectar
falhas ou erros, costumam dormir mais cedo e acordar mais cedo e com mais facilidade,
são chamados de matutinos.
Enquanto, os vespertinos são mais ativos na parte da tarde e início da noite, sua
temperatura corporal sobe lentamente durante a manhã e atinge o ápice por volta da 18
horas, normalmente tendem a acordar mais tarde ou ter dificuldade para despertar muito
cedo. Em compensação são os indivíduos que melhor se adaptam ao trabalho noturno.
Indivíduos que são tipicamente vespertinos ou matutinos são raros, normalmente as
pessoas apresentam características intermediárias entre os dois tipos.
O trabalho noturno
Como dissemos anteriormente a expansão das fontes de trabalho, as necessidades do
mercado econômico, a exigência de maior produtividade aumentaram a contratação de
trabalhadores para o período noturno e intensificaram o revezamento de turnos.
Em média um indivíduo adulto necessita dormir em torno de 8 horas diárias, podendo
variar de 2 a 3 horas a mais ou a menos.
A idade é um fator que influencia esta variação, crianças recém-nascidas tendem a dormir
em média 20 horas diárias. Este número de horas vai diminuindo à medida que o indivíduo
cresce e envelhece.
O sono normal é a principal fonte de recuperação das energias do organismo. O sono em
quantidade e qualidade deficientes pode provocar sofrimento e distúrbios ao indivíduo.
Trabalhadores que realizam sua atividade durante o período da noite ou em turnos
noturnos freqüentemente podem apresentar perturbações do sono, além de outras
manifestações como:
ü Irritabilidade psíquica;
ü Tendência à depressão;
81
ü Problemas de estômago e intestino (alimentação fora dos horários habituais, sem o
convívio da família);
ü Lesões gastrintestinais (úlceras);
ü Baixa motivação e disposição para o trabalho;
ü Dificuldade para dormir durante o dia;
ü Fadiga;
ü Relacionamento interpessoal difícil (falta de sincronia do tempo com os membros
da família ou amigos);
ü Cansaço físico e mental (lazer fica prejudicado).
Todas estas manifestações são decorrentes do desajuste entre o ritmo biológico do
organismo com o ambiente social que o cerca.
O fato de não haver luz, de ser noite e o contato social ser diferente do costume causa ao
organismo uma confusão, pois os sinalizadores estão em conflito, ou seja, o trabalho está
ocorrendo em sentido contrário ao sinal claro e escuro e ao contato social.
Com o tempo o organismo do trabalhador sofre adaptações e acontecem os ajustes, o
organismo muda sua orientação da noite para a produção e a do dia para o
descanso/sono. Contudo, o ajuste orgânico sempre é parcial. A conseqüência disso é que
a quantidade e a qualidade do sono será insuficiente e a capacidade de recuperação ficará
prejudicada, podendo levar à fadiga crônica.
Outro fato a ser lembrado é a intolerância, inaptidão e falta de resistência que as pessoas
com mais idade têm ao trabalho noturno. O trabalhador mais velho tem maior dificuldade
de recuperar as energias, seu período de sono está diminuído devido à idade, tornando-o
mais cansado e suscetível às doenças profissionais do trabalhador noturno.
Turnos de trabalho
As atividades laborais de muitas empresas estão divididas em dois ou três turnos de
trabalho. Muitas são as possibilidades de divisão desses turnos, citamos apenas dois
exemplos mais comuns, ou seja, a empresa de três turnos de trabalho (6 às 14 horas; 14
às 22 horas e 22 às 6 horas) ou empresas de dois turnos de trabalho ( 6 às 15 horas e
15 às 24 horas).
82
O trabalho em turnos leva o trabalhador ao revezamento de horários e podemos afirmar
que não existe um sistema ideal de revezamento, existem sistemas mais facilmente
adaptáveis ou mais toleráveis para o trabalhador.
Muitos fatores devem ser considerados quando se discute o melhor sistema de
revezamento de turnos:
ü O tipo do indivíduo, ou seja, pessoas matutinas têm grandes dificuldades para
adaptar-se ao trabalho noturno, em contra partida, as vespertinas, adaptam com
facilidade;
ü Fatores sociais e idade são fatos importantes a serem considerados. Pessoas com
mais idade têm dificuldade para o trabalho noturno, enquanto, pessoas jovens não
toleram o trabalho vespertino, em decorrência do prejuízo social que ocorre;
ü Pessoas que estudam, preferem ter um turno fixo, assim terão um período livre
para o estudo;
ü Pessoas que visualizam melhores ganhos com o trabalho noturno, provavelmente
não vão gostar de ter turnos fixos durante o dia;
ü O revezamento de turno pode prejudicar a vida social, uma vez que a pessoa
depende de uma escala para programar a sua vida social;
ü Pessoa que tem um parceiro em horário fixo de trabalho, também não vai gostar
de trabalhar no sistema de revezamento de turnos;
ü A distância entre o local de trabalho e a residência, pode ser empecilho para o
revezamento, principalmente durante o turno da noite;
ü As variações biológicas dos indivíduos, algumas pessoas não conseguem boa
qualidade de vida no sistema de revezamento de turnos.
Assim, a melhor maneira de se chegar ao tipo de revezamento de turnos, que melhor se
adapte aos trabalhadores de uma empresa é basear-se numa pesquisa que envolva a
população em foco.
Alguns aspectos devem ser considerados quando se organizam turnos de revezamento
numa empresa:
ü Diminuir o número de noites trabalhadas, sempre que possível;
83
ü Ter um sistema de rotação mais rápida (menos dias trabalhados por períodos),
embora a rotação prolongada seja fisiologicamente mais vantajosa, os prejuízos
psicossociais que ela causa são maiores;
ü Diminuir o quanto possível o desajuste social, ou seja, permitir folgas nos finais de
semanas;
ü Estabelecer as horas do turno de acordo com a dificuldade das tarefas realizadas,
tarefas muito difíceis e desgastantes pedem turnos com menor número de horas;
ü Procurar ouvir os trabalhadores, muitas vezes o que é bom e adequado para um
não o será para o outro. Tentar dividir eqüitativamente as vantagens e
desvantagens de cada um dos turnos entre as turmas de trabalho.
ü Estabelecer um horário de revezamento que não prejudique o sono, por exemplo,
no turno de 8 horas, deve-se procurar revezar às 7, 14 e 22 horas.
84
7. JORNADA DE TRABALHO E PAUSAS A legislação brasileira estabelece uma jornada de trabalho de oito horas diárias, num total
máximo de quarenta e quatro horas semanais. Isso tem por base um critério de caráter
social, segundo o qual, o trabalhador teria assim a seu dispor oito horas para o lazer e
convívio com a família e mais oito horas para o repouso.
Entretanto, nos grandes centros comerciais e industriais o tempo gasto com o transporte,
muitas vezes, subtrai do trabalhador duas a três horas do seu tempo livre, além disso, o
gasto energético e o grau de esforço exercido no trabalho deixam o trabalhador sem
energias para qualquer outra atividade de lazer.
Estudos mostram que a modificação do tempo das jornadas de trabalho pode ser positiva
ou negativa, quando se trata do rendimento do trabalhador.
Trabalhar oito horas diárias têm sido considerado o ideal para o aumento da
produtividade, pois leva a solução mais rápida do trabalho e diminui as pausas
voluntárias. Inúmeros casos mostram que um aumento para dez horas de trabalhos
diários pode levar a uma diminuição da produtividade, uma vez que, ocorre o aumento da
velocidade da produção aliada à fadiga, causado pelo aumento do tempo de trabalho.
Nota-se que horas extras também são prejudiciais ao processo produtivo. Após oito horas
de trabalho o prolongamento por mais uma ou duas horas, tem demonstrado que nas
horas excedentes o nível de produção diminui, trazendo ainda, aumento do absenteísmo,
aparecimento de doenças e maior número de acidentes.
Quando há necessidade de horas extras, o ideal seria que fossem executados trabalhos
mais leves que o habitual nessas horas e que pausas planejadas ocorressem durante o
processo produtivo.
A redução de seis dias semanais de trabalho para cinco dias em um grande número de
empresas dos setores industriais, de serviços e comerciais teve influência positiva sobre a
produtividade, houve um aumento na produção horária. Nem tanto na produção geral,
85
contudo, diminuiu o número de ausências no trabalho, uma vez que o final de semana de
dois dias (sábado e domingo) proporcionou aos trabalhadores, especialmente às
mulheres, maior disponibilidade de tempo para organizarem e executarem atividades
particulares ou da família.
Entretanto, muitas empresas ainda permanecem com quarenta e quatro horas semanais,
o que leva o trabalhador a realizar em média quatro horas de atividades aos sábados.
Flexibilização do horário de trabalho
Uma experiência relativamente nova e que ocorre em poucas empresas é a flexibilidade
na organização da jornada de trabalho. O próprio trabalhador ajusta seu horário em
função das necessidades do trabalho e de suas próprias necessidades.
Contudo, esse esquema é delicado e necessidade muita confiança entre empregadores e
empregados. A hora de entrada e de saída da empresa é liberada, podendo o trabalhador
controlar sua carga horária diária conforme as necessidades.
Esse tipo de organização exige maior coordenação dos funcionários, principalmente, se
uns dependem do serviço do outro, caso contrário, não haverá sinergismo no trabalho e,
conseqüentemente, a produtividade ficará prejudicada.
As vantagens deste esquema são, entre outras:
ü Maior pontualidade e compromisso dos empregados;
ü Aumento da autonomia;
ü Diminuição do absenteísmo;
ü Diminuição de horas extras;
ü Diminuição do tempo gasto no transporte, pois acaba evitando os horários de pico
do trânsito;
ü Adaptação do ritmo biológico do trabalhador e do trabalho; e
ü Adaptação do trabalho e das atividades pessoais.
86
Algumas desvantagens são apontadas:
ü Maior gasto de material, energia elétrica e outros devido aos horários variados,
ü Dificuldade de controle do serviço e da disciplina,
ü Contato reduzido entre as pessoas etc.
Contudo, estudos mostram que as vantagens superam as desvantagens, e a produtividade
aumenta quando este esquema é introduzido em setores que o comportam.
Certas atividades, entretanto, não permitem o uso da flexibilização do horário de trabalho,
como por exemplo: telefonistas, atendimento ao público, linha de produção e outras.
Rodízio de funcionário
O rodízio de funcionários no mesmo posto de trabalho é bastante utilizado, principalmente
nos serviços de longa duração, como por exemplo, as viagens de longa distância com
transporte de carga ou passageiros (maquinistas de trens, pilotos de aviões, motoristas de
ônibus e caminhões).
Nota-se nesse tipo de serviço, onde se exige atenção constante e tempo de reação curto e
rápido, que o trabalhador fica mais propenso a sofrer acidentes, em função da longa
jornada, do cansaço e do estresse. Muitas empresas adotam o revezamento do
trabalhador por outro, durante o percurso desenvolvido.
Pausas
As pausas são intervalos de tempo, curtos ou longos, proporcionados ao organismo
humano, possibilitando a ele alternância entre o esforço e o repouso.
Todo organismo necessita períodos para recuperar as energias e as forças para o trabalho.
A musculatura do corpo exige que ocorram freqüentes intervalos de tempo não
87
trabalhados para que possa reabilitar-se e adquirir novamente condições fisiológicas e
manter a capacidade produtiva.
O cansaço apresentado pelo trabalhador é interpretado pelo acúmulo de metabólitos ou
pela diminuição de substâncias energéticas no organismo.
Entretanto, deve ser considerada também a interferência da disposição (sistema neuro-
hormonal) e da vontade (motivação) do trabalhador, de modo que o ambiente e as
condições de trabalho podem ter influência na produtividade.
É possível reduzir o tempo de ocupação mediante a organização racional das pausas
obrigatórias, da seguinte forma:
=
Com esse tipo de organização de pausas, mantém-se a duração total do trabalho efetivo e
o trabalhador chega ao fim da jornada menos cansado.
Tipos de pausas
As pausas são criadas de diferentes maneiras e necessidades, podendo ser distinguidas
da seguinte forma:
ü Pausas fisiológicas – é o período de tempo gasto entre a contração
muscular(trabalho) e a descontração muscular (recuperação). A relação de tempo
ideal entre a contração e a descontração, em um trabalho normal é de 1:1. Em
trabalhos pesados a relação deve ser de 1:1,5. Em relação ao trabalho muscular
estático, extremamente fatigante, este deve ser evitado.
Jornada de trabalho normal
Período de trabalho + pausas
88
ü Pausas furtivas ou mascaradas - são aquelas de iniciativa do trabalhador, que
compreendem atividades colaterais, que inicialmente não seriam necessárias para
a realização do trabalho, mas que são realizadas, para o descanso, mascarado por
tarefas paralelas, como limpar uma peça da máquina, regular uma polia, apanhar
alguma ferramenta, ordenar balcão de trabalho, buscar ajuda de um colega etc.
Normalmente são mais longas e não produzem descanso, visto que o trabalhador
fica preocupado em ser descoberto ou ser chamado a atenção.
ü Pausa curtíssima – representada pelo tempo entre a passagem de uma peça e
outra, em uma linha de produção.
ü Pausa curta ou voluntária – são aquelas visíveis, feitas pelo trabalhador para
descanso, normalmente são períodos de três a cinco minutos após cada hora
trabalhada em atividade moderada ou leve. São utilizadas principalmente em
trabalhos repetitivos, com pressão de tempo e altas exigências de atenção. Em
trabalhos pesados devem ser mais freqüentes.
ü Pausa de limitação - Período de tempo que o empregado deixa de fazer o seu
trabalho por falta de condições físicas. Pode exercer sua função, porém
executando outra atividade. Não está impedido de trabalhar. Quem determina o
tempo da limitação é o médico do trabalho.
ü Pausas longas ou obrigatórias – determinadas pelas empresas são
representadas geralmente pelos períodos de alimentação.
ü Pausa diária – ocorre entre uma jornada de trabalho (um dia de trabalho) e
outra, deve ter no mínimo onze horas de repouso entre um dia e outro.
ü Pausa semanal - é aquele descanso de 24 horas e que preferencialmente deve
coincidir com o domingo.
ü Pausa anual – é representada pelo período de férias, com duração mínima de
duas semanas, ao final de onze meses trabalhados.
ü Pausa de recuperação – é a organizada de forma a compensar o trabalho em
certos lugares insalubres, como temperatura elevada ou baixa, ruído excessivo ou
em certos tipos de trabalho caracterizados como monótonos, de vigilância, pesados
e outros. Devem ser calculadas por médicos especialistas em medicina do trabalho.
Normalmente são períodos não trabalhados, variando de acordo com o tipo e local
de trabalho. Também podem acontecer em outros locais de trabalho, onde não
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ocorram os mesmos problemas. O trabalhador continua trabalhando, porém, em
local menos inóspito. É importante observar que esse tipo de pausa deve ocorrer
fora do ambiente normal de trabalho.
O planejamento das pausas leva em conta alguns fatores como os períodos de disposição
(elevada ou baixa) do trabalhador, bem como o tipo e o local de trabalho. Por exemplo:
ü No período de disposição elevada do trabalhador, as pausas devem ser evitadas;
ü Nos períodos de menor disposição do trabalhador, devem ser mais longas.
Hoje em dia é bastante comum nas fábricas, escritórios, setores administrativos e outros
a adoção de ao menos uma pausa de dez a quinze minutos no período da manhã e,
muitas vezes, também no período da tarde. Essas pausas têm como objetivo principal a
prevenção da fadiga, a alimentação e a oportunidade para manter-se o contato social.
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8. ERGONOMIA
A palavra ergonomia tem origem nas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras,
leis naturais).
É o nome dado ao conjunto de estudos sobre a adaptação do trabalho ao homem, sobre o
relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamentos e ambiente, em particular,
sobre a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos
problemas surgidos desse relacionamento.
É um estudo sobre a busca da sintonia entre o homem e os objetos de sua criação. Pode
ser definida como a ciência do conforto (com segurança e eficiência).
Histórico
Teve início na pré-história: onde o homem escolhia uma pedra de formato melhor que se
adaptasse à forma e movimento de sua mão, para usá-la como instrumento de caça.
ü Europa - Por volta de 1900 (Alemanha, França e outros) surgiram pesquisas na
área de Fisiologia do Trabalho. Em Estocolmo e Copenhagem foram criados
Laboratórios de Treinamento e coordenação muscular para o desenvolvimento de
aptidões;
ü Estados Unidos - foi criado o Laboratório de Fadiga Muscular e aptidão física;
ü Inglaterra - na 1ª Guerra Mundial aconteceu a criação da Comissão de Saúde dos
Trabalhadores na Indústria de Munições.
No esforço de guerra, na segunda Guerra Mundial, a ciência e tecnologia se voltam ao
desenvolvimento de equipamentos militares complexos, com preocupação nas
características anatômicas, fisiológicas e psicológicas.
91
No período pós-guerra cresce rapidamente o interesse pela Ergonomia na Europa e nos
Estados Unidos. Em 1961 é criada a Internacional Ergonomics Association (IEA), na
Inglaterra.
NR 17 - Ergonomia
“Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e
descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do
posto de trabalho e à própria organização do trabalho.
Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a
mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho conforme estabelecido nesta Norma
Regulamentadora.” (Norma Regulamentadora 17)
Propostas da Ergonomia
ü Aperfeiçoamento da relação entre o homem e a máquina
ü Organização do Trabalho
ü Melhoria das condições de trabalho
a) Aperfeiçoamento da relação entre o Homem e a máquina
É a adaptação de máquinas, equipamentos e postos de trabalho, na fase do projeto
destes, bem como, das modificações de sistemas (interação homem X máquina) já
existentes, adaptando-os às capacidades e limitações do organismo humano.
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b) Organização do Trabalho
O arranjo físico (layout) é a distribuição espacial dos diversos elementos que compõem o
posto de trabalho e são necessárias às realizações de tarefas. O principal aspecto deste
arranjo é a funcionalidade imediata e também a médio e longo prazos.
Tem em vista a diminuição dos ritmos mecânicos impostos ao trabalhador, reduzir a fadiga
e tornar o trabalho menos repetitivo e monótono. Visa também aumentar a participação
dos trabalhadores nas decisões que dizem respeito ao seu próprio trabalho.
c) Melhoria das condições de trabalho
É a análise das condições físicas como temperatura, iluminação, ruídos, vibrações e gases
tóxicos presentes no posto de trabalho. Essas melhorias ambientais contribuem para a
melhoria da eficiência, confiabilidade e qualidade das operações industriais e tarefas de
quaisquer níveis.
A aplicação da Ergonomia pode ser dividida em três etapas:
ü Etapa da concepção
ü Etapa da correção
ü Etapa da conscientização
Etapa da concepção
É a fase inicial do projeto do produto, da máquina ou do ambiente de trabalho. Nela
podemos analisar amplamente as alternativas, porém, exige-se maior conhecimento e
experiência, porque as decisões são tomadas com base em situações hipotéticas e
conhecimentos adquiridos anteriormente.
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Etapa da correção
Nesta etapa a ergonomia é aplicada em situações reais, postos de trabalho já existentes,
procurando corrigir os problemas relacionados à segurança, fadiga excessiva, doenças do
trabalhador ou com a quantidade e qualidade da produção. Em muitas situações a solução
para determinados problemas não é satisfatória, exigindo muitos gastos. Em outras,
podem ser adotadas melhorias como: mudança de postura, dispositivos de segurança e
aumento de iluminação com relativa facilidade, eficiência e economia.
Etapa da conscientização
Muitas vezes, os problemas não são solucionados nas etapas de concepção e de correção.
É necessária então a conscientização do trabalhador, através de cursos de treinamento e
freqüentes reciclagens, nos quais ele aprende a trabalhar de forma segura, reconhecendo
os fatores de risco que possam surgir a qualquer momento no ambiente de trabalho e as
medidas a serem tomadas. Essa conscientização pode ser individual, quando o problema
afeta um ou alguns poucos trabalhadores, ou coletiva quando o problema é geral no
ambiente de trabalho.
Postura do corpo e a ergonomia
O corpo humano assume em geral três posturas básicas: deitada, sentada e em pé.
ü Posição deitada é a posição anatômica, confortável e relaxante. Permite
descanso muscular e bom fluxo sanguíneo. No trabalho, por exemplo, os
mecânicos de automóveis necessitam sustentar a cabeça que pesa de 4 a 5 Kg
com a musculatura do pescoço, causando desconforto e dor.
ü Posição em pé o corpo todo fica apoiada na região plantar. É altamente
fatigante quando o indivíduo permanece parado por longos períodos (trabalho
estático). Em trabalhos dinâmicos a fadiga é menor.
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ü Posição sentada nesta posição são exigidos os músculos do dorso e do ventre.
Usada para trabalhos que necessitam pouco movimento ou exercícios físicos.
A postura ligeiramente inclinada para trás é mais natural e menos fatigante que a ereta.
O assento deve permitir mudanças frequentes de postura, para retardar o aparecimento
de fadiga.
Condições ergonômicas que devem ser observadas em relação à cadeira, à
mesa e ao equipamento de trabalho.
1- Altura do assento e da mesa reguláveis: Pessoas com biótipos diferentes irão
trabalhar neste ambiente, sendo assim, é necessário um mecanismo para regular mesas e
cadeiras quanto a altura e a distância do objeto de trabalho.
2- Ângulo de leitura para vídeo
3- Posicionamento e suporte para membros superiores
4- Apoio para o tronco: Deve-se usar um apoio para o tronco (encosto) para diminuir
a pressão do peso na coluna lombar.
ü apoio lombar
ü meio apoio
ü apoio de todo o dorso
5- Ângulo tronco-coxas / coxa-perna:
ü Tronco-coxas--- >100 graus - O ideal é 110graus pois diminui a pressão no
disco cervical e a atividade muscular na região lombo-sacro.
ü Coxa-perna ---> 100 graus a 110 graus
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6- Sentar-se sobre toda a extensão do assento: Aproveitar todo o conforto que o
mobiliário projetado oferece.
7- Borda anterior do assento arredondada: Evita a compressão do plexo
vaso/nervoso, que se localiza na parte posterior do joelho.
8- Apoio para os pés: Dependendo da altura do trabalhador pode-se ou não, adaptar
apoios para os pés, apoio este regulável em altura e ângulo.
9- Possibilidade de virar-se sem torcer o corpo
10- Conforto do mobiliário (espumas nos assentos e encostos)
11- Espaço para as nádegas
12- Espaço para as pernas
13- Espaço para girar o corpo
Conforto Ambiental
ü Organização do local de trabalho - acessórios ao alcance do trabalhador, gavetas,
objetos, utensílios etc.
ü Ambiente de trabalho limpo, arejado, iluminado, organizado de acordo com as
exigências do tipo de serviço realizado.
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ü Distribuição de tarefas de acordo com a capacidade, o treinamento e condições
físicas de cada trabalhador.
A Ergonomia no local de trabalho tem como prioridade otimizar a qualidade de vida do
trabalhador, diminuindo as intercorrências tais como: lombalgias, cervicalgias, bursites,
tendinites e tenossinovites, bem como, outras doenças profissionais que surgem em
decorrência de um ambiente de trabalho inadequado.
A Ergonomia também interfere no ambiente psicológico, pois de nada adiantaria um local
ergonomicamente planejado se o trabalhador não encontrar neste ambiente harmonia.
Somado a todos estes fatores estudado na Ergonomia deve-se diminuir o stress no local
de trabalho, evitando-se: pressões para execução de tarefas, cobranças indevidas de
realização de trabalho, movimentos viciosos e desnecessários, promover orientação e
treinamento de trabalhadores, bom relacionamento social criando assim, um ambiente
harmonioso, confortável e produtivo.
A ergonomia e o levantamento e transporte de carga
Os trabalhadores têm sofrido traumas constantes devidos ao manuseio errôneo de cargas
pesadas. É necessário conhecer a capacidade humana máxima para levantar e transportar
cargas, para que as tarefas e as máquinas sejam corretamente dimensionadas dentro
desses limites.
As situações quanto ao levantamento de peso podem ocorrer das seguintes formas:
levantamento esporádico de carga e trabalho repetitivo com levantamento de cargas. No
primeiro caso, está envolvida a capacidade muscular para levantar carga e, no segundo,
incluem-se a capacidade energética do trabalhador e a fadiga física.
A musculatura das costas é a que mais sofre com o levantamento de peso. A coluna
vertebral é composta de discos superpostos, sendo pouco resistente a forças que não
tenham a direção de seu eixo. Portanto, é indicado que, na medida do possível, a carga
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seja levantada com a coluna vertebral no sentido vertical, evitando-se as cargas com as
costas curvadas. ( ver demonstração na figura abaixo)
Os trabalhadores mais atingidos por traumas na coluna por levantamento excessivo de
peso são os estivadores (trabalhadores dos portos), trabalhadores da construção civil, da
agricultura, de transportadoras e outros.
Recomendação para o levantamento de cargas
As recomendações práticas para o levantamento de cargas são as seguintes:
ü Manter a coluna reta, usando a musculatura das pernas, como fazem os
halterofilistas;
ü Manter a carga o mais próxima do corpo;
ü Procurar manter cargas simétricas;
ü Remover os obstáculos que possam atrapalhar o levantamento do peso;
ü Fazer uso de meios auxiliares para o carregamento de cargas grandes e pesadas;
ü Trabalhar em equipe, quando a carga for excessiva para uma só pessoa;
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Os problemas mais comuns ligados ao levantamento errôneo ou excessivo de peso pelo
trabalhador são:
ü Espondilopatias – qualquer processo patológico das vértebras;
ü Lombalgias – dores na região lombar;
ü Hérnia de disco – degeneração da substância gelatinosa existente entre as
vértebras;
ü Cifose, lordose e escoliose (já explicadas);
ü Bursite – processo inflamatório das bolsas serosas;
ü Artrose de joelho e quadril – afecção crônica degenerativa e não-inflamatória
das articulações;
ü Hérnias abdominais e inguinais – entende-se por hérnia a saída, parcial ou
total, de uma estrutura anatômica através de um orifício natural ou acidental, de
sua localização normal para outra, anormal;
ü Prolapsos de vísceras abdominais – queda ou deslocamento de órgãos
abdominais ou pélvicos, principalmente órgãos genitais da mulher;
ü Partos prematuros e abortos.
99
9. FADIGA
A fadiga resulta de um trabalho continuado que provoca uma redução reversível da
capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse trabalho.
O termo “fadiga” é aplicado a várias condições que vão desde um declínio na curva de
trabalho até um estado de colapso total do organismo.
Podemos reconhecer dois tipos de fadiga:
ü Somática (física ou orgânica)
ü Psíquica (mental)
Podem ser desencadeadas por fatores fisiológicos, ambientais e psicológicos.
9.1 Fadiga somática ou física ou orgânica
É o estado de desequilíbrio orgânico decorrente do tipo de trabalho, de suas condições
organizacionais e do ambiente físico em que se processa. Pode ser revertido com
descanso (repousar ou dormir).
Alterações orgânicas
Certos tipos de trabalhos, em vista das condições e dos ambientes físicos em que são
realizados, podem provocar alterações orgânicas que, isolada ou combinadamente levam a
um quadro de fadiga somática. Essas alterações são, entre outras:
Em resumo a fadiga é o cansaço REVERSÍVEL físico ou mental
100
ü Alterações da circulação sanguínea e do equilíbrio hídrico-salino dos líquidos
corporais, principalmente quando o trabalho é realizado em ambientes de
temperatura elevada.
ü Abastecimento insuficiente de oxigênio, por exemplo, em trabalhos realizados em
localidades de altitude elevada, como é o caso da aviação.
ü Aumento dos metabólitos ácidos no sangue, decorrente de trabalho muscular
pesado e exaustivo. O acúmulo de ácido lático nos músculos é devido à atividade
muscular muito intensa. Existem casos nos quais a produção desse ácido é tão
grande que o sistema circulatório não tem tempo para fazer sua remoção, o que
provoca desequilíbrio orgânico (trabalho em construção civil, em mineração,
pedreiras e outros).
ü Redução das reservas de energia, verificada em trabalhos pesados, se manifesta
por baixo teor de açúcar no sangue e pode ser compensada com ingestão de
glicose ou outra substância que possa ser facilmente utilizada pelo organismo.
ü Alterações do sistema hormonal, que ainda não foram suficientemente estudadas,
decorrentes de trabalho mental atento e de trabalho muscular que embora leve, é
realizado mediante repetição contínua de movimentos, obrigando o uso constante
dos mesmos trajetos nervosos.
Fatores desencadeantes
A fadiga pode ser desencadeada por diversos fatores:
ü Fisiológicos - fadiga somática, decorrente do trabalho e das condições de
trabalho;
ü Ambientais - fadiga psíquica, decorrente conflito das relações entre o indivíduo e
a situação;
ü Psicológicos - fadiga cognitiva, decorrente da rapidez, da memorização, das
tomadas de decisões, das necessidades de processamento.
No caso do trabalho noturno a fadiga é decorrente da incapacidade de adaptação a
trabalhos em horários distintos daqueles em que o indivíduo está habituado ou no qual
101
ele não funciona adequadamente. É sabido que o organismo humano não funciona
uniformemente durante as 24 horas do dia e que existem diferenças de capacidade
funcional de um indivíduo para outro, em certos horários.
Cada organismo possui um relógio interno (ritmo circadiano, estudado anteriormente) que
regula o nível de suas atividades fisiológicas, e estas podem ser mais intensas durante o
dia e menos intensas durante a noite, ou vice versa.
Algumas pessoas adaptam-se com mais facilidade ao trabalho noturno. Outras, porém,
não conseguem adaptar-se, o que pode gerar uma situação estressante, levando o
indivíduo à fadiga.
Prevenção
ü Planejamento de pausas – durante a jornada de trabalho devem ser
programadas pausas que permitam a recuperação da capacidade funcional,
diminuindo a monotonia e preservando o funcionamento normal do organismo.
ü Planejamento ergonômico do posto de trabalho - promover um layout
planejado do posto de trabalho, com dimensionamento correto dos elementos que
o compõe, estabelecer equilíbrio entre o trabalhador, a máquina e o ambiente de
trabalho gerando assim o bem estar do trabalhador.
ü Adaptação ao trabalho ou automação das atividades – a mecanização das
atividades deve ser pensada sempre que possa reduzir a fadiga, diminuindo
movimentos e transportes de cargas.
ü Seleção profissional – colocar o trabalhador certo no trabalho certo, ou seja,
selecionar o trabalhador que mais se adapte as condições específicas de cada tipo
de trabalho.
ü Racionalização do trabalho – a divisão de tarefas de acordo com a capacidade
de cada trabalhador em sua função específica, contribui para a redução do gasto
de energia.
ü Dieta do trabalhador - visando à reposição de energia gasta com o trabalho
através de uma alimentação racional e devidamente balanceada, levando em conta
cada tipo de trabalhador.
102
ü Redução da jornada de trabalho – estudos mostram que essa redução ajuda
muito na diminuição da fadiga, sem prejuízo da produção. O indivíduo descansado
produz mais, em menor espaço de tempo. A flexibilidade de horários para a
realização de tarefas também auxilia na prevenção da fadiga.
ü Motivação para o trabalho – a administração participativa onde o trabalhador
tem poder de decisão, quanto à forma de realizar suas atividades, a
responsabilidade na distribuição do tempo das tarefas entre o grupo e o
treinamento nos diversos postos visando a polivalência podem ser formas de
motivar os trabalhadores e evitar a fadiga.
9.2 Fadiga psíquica ou mental
Também conhecida como “fadiga nervosa”, apresenta um quadro predominantemente
psíquico, podendo produzir repercussões orgânicas. Pode ser revertida com lazer (higiene
mental), que é variável para cada pessoa.
Sintomatologia
Os sintomas da fadiga mental são variáveis, destacando-se:
ü Cefaléias, tonturas, anorexias, tremores de extremidades, adinamia, dificuldade de
concentração e crises de choro;
ü Alterações do sono – o indivíduo dorme por curtos períodos um sono pesado e sem
sonhos e, em seguida, surgem sonhos angustiantes e ele acorda, sem conseguir
dormir mais durante a madrugada;
ü Diminuição da libido – redução do apetite sexual e muitas vezes com impotência
(homem) e frigidez (mulher);
ü Neuroses depressivas – diminuição da memória, tendência à hipocondria,
alterações na visão, depressão do humor;
ü Neuroses de angústia – ansiedade anormal, palpitações, vertigens, dores gerais e
precordiais, sudorese facial e diarréias.
103
Um trabalhador em estado de fadiga mental representa perdas econômicas importantes,
podendo apresentar queda de sua eficiência pela diminuição da quantidade ou má
qualidade das peças produzidas, cometer mais erros, aumentando o desperdício de
material e de tempo ocioso da máquina, diminuição da produção devido ao aumento do
absenteísmo principalmente por doenças, chegando até ao abandono do emprego.
Fatores desencadeantes
Estes fatores podem estar ligados à vida extraprofissional ou a vida profissional.
Os fatores extraprofissionais podem estar relacionados com baixo padrão de vida
como: alimentação, habitação, vestuário, educação, saúde, problemas familiares,
condições precárias de transporte, alcoolismo e uso de drogas.
Os fatores profissionais estão ligados à vida profissional: as condições ambientais,
organização do trabalho, chefia insegura, níveis hierárquicos, bloqueio de carreira,
responsabilidades mal delegadas, conflito entre chefias, falta de plano de cargos e salários
e falta de comunicação entre os trabalhadores.
Prevenção
A fadiga psíquica é de mais difícil prevenção que a física, pois envolve o comportamento
humano.
Em muitos casos a prevenção depende de um trabalho intenso de um grupo de
profissionais da empresa, o que não é muito freqüente.
Algumas medidas de prevenção podem amenizar a fadiga mental:
ü Motivação para o trabalho;
ü Flexibilidade de horário;
ü Música ambiente;
ü Salas de repouso e recreação.
Na prevenção da fadiga psíquica deve-se levar em conta, antes demais nada a
individualidade de cada trabalhador, a fim de detectar suas particularidades.
104
10. ESTRESSE
ESTRESSE ou STRESS é a resposta do organismo a um acúmulo de pressões externas e
internas e está geralmente relacionado a um ritmo de vida desgastante.
Fatores que colaboram no aparecimento do estresse
Pressões profissionais
Pressões sociais e políticas
Pressões econômicas ESTRESSE
Pressões familiares
Pressões individuais
Reação do organismo
às pressões
Todos podem ser atingido pelo estresse: homens, mulheres, adolescentes e crianças
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Situações extremas levam ao estresse
Dificuldade
Ansiedade
Estresse
Fluir
Desafios
Desinteresse
Estresse
Habilidade
Um trabalho que apresente desafios, à medida que estes desafios vão sendo superados
tarefa por tarefa, dia-a-dia traz satisfação ao trabalhador, não o conduzindo ao estresse.
Os desafios provocam um estresse positivo no trabalhador, ou seja, estimulam o
desenvolvimento do trabalho.
Alguns fatores existentes no ambiente de trabalho podem conduzir o trabalhador mais
facilmente ao estresse.
Fontes de insatisfação mais comuns
ü Ambiente físico
ü Ambiente profissional
ü Remuneração
ü Plano de carreira
ü Jornada de trabalho
ü Valores pessoais
ü Medo de errar
ü Necessidade de ser perfeito
106
Como essas pressões agem no organismo
TIREÓIDE (tiroxina, triiodotironina)
HIPÓFISE SUPRA-RENAL (cortisol, aldosterona)
OVÁRIOS (progesterona)
TESTÍCULOS (testosterona)
“PRESSÕES” alteram a produção hormonal desencadeiam
desorganização fisiológica levam ao desequilíbrio psíquico e físico
“ESTRESSE”
Fisiopatologia do estresse
A glândula pituitária ou hipófise produz hormônios que exercem efeitos sobre outras
glândulas (tireóide, supra-renal, ovários e testículos). Essas glândulas produzem seus
respectivos hormônios mantendo o organismo em equilíbrio.
À medida que um indivíduo enfrenta uma situação de “perigo” desencadeia o estresse
pela alteração do funcionamento da hipófise e, conseqüentemente, altera a liberação de
hormônios, desencadeando uma desorganização fisiológica. Essa desorganização se
mantida por períodos prolongados pode desenvolver patologias graves como: doenças
cardiovasculares, distúrbios menstruais, gastrintestinais, sexuais e outros.
Etapas:
ü reação de luta ou fuga
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ü resistência
ü adoecimento
ü exaustão e morte
A sociedade moderna vive cada vez mais em condições estressantes, como medo de
perder o emprego, competição, dificuldades pessoais e outras. As pessoas estressadas
perdem principalmente a auto-estima e a autoconfiança, relaxando, primeiramente, com
os cuidados pessoais de higiene e saúde. Sofrem de insônia, tornam-se agressivas e
podem fazer uso abusivo de cigarros, bebidas e drogas.
As alterações endócrinas e fisiológicas tornam o indivíduo mais suscetível às dores,
problemas gastrintestinais e doenças cardiovasculares, levando a desequilíbrios físicos e
mentais.
Desequilíbrios físicos
Início:
ü Tensão muscular (dores)
ü Vertigens e tonturas
ü Alterações gastrintestinais
ü Alterações cardiovasculares
ü Alterações respiratórias
Evolução:
ü Hipertensão arterial
ü Angina/infarto
ü Doenças gastrintestinais
ü Disfunções sexuais
ü Obesidade/emagrecimento
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As doenças são o apelo final do nosso corpo. Elas tiram as pessoas de circulação por
algum tempo. Fazem-nos refletir sobre o nosso estilo de vida e cobram-nos mudanças
radicais.
Desequilíbrios psíquicos
ü Diminuição da concentração
ü Distúrbio da memória
ü Hesitação na tomada de decisões
ü Diminuição da criatividade
ü Sentimento de perda, tédio, culpa e apatia
ü Ansiedade, tensão e irritação
ü Medo, tristeza e negativismo
ü Visão pessimista do futuro
ü Diminuição da autoconfiança
ü Depressão, neurose, doença mental e suicídio
Mudanças comportamentais por estresse
Geral:
ü Uso excessivo de café, cigarros, álcool e medicamentos;
ü Mudança de hábitos alimentares;
ü Distúrbios do sono;
ü Negligência nos exercícios físicos;
ü Tendência a estar doente;
ü Mudanças no estilo de vida em geral;
ü Distúrbios interpessoais e na vida sexual;
ü Suicídio.
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No trabalho:
ü Queda na produtividade;
ü Queda na qualidade do serviço;
ü Aumento de acidentes de trabalho;
ü Aumento de absenteísmo;
ü Aumento da rotatividade de trabalhadores;
ü Diminuição da vigilância;
ü Aumento da ansiedade e da depressão;
ü Adiamento de tarefas.
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Não existe uma forma única para a redução do estresse, pois as causas são variadas e ele
afeta de formas diferentes as pessoas. Algumas medidas podem ser adotadas para
prevenir ou combater o estresse, elas podem ser individuais ou coletivas.
Medidas Individuais propostas para diminuir o estresse
Ø Organize sua vida, não queira fazer tudo ao mesmo tempo;
Ø Delegue tarefas a outras pessoas;
Ø Planeje adequadamente o que irá fazer;
Ø Utilize bem o seu tempo;
Ø Reconheça seus limites;
Ø Procure rever seus valores de vida;
Ø Aprenda a administrar conflitos;
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Ø Não sofra por problemas que não merecem sua atenção;
Ø Pratique atividades físicas regularmente;
Ø Realize atividades que lhe dão prazer;
Ø Repouse o suficiente;
Ø Seja cuidadoso com sua alimentação, evite excessos e respeite horários;
Ø Reserve uma parte do dia para o lazer;
Ø Evite tomar medicamentos por conta própria para aliviar o estresse, quando
sentir necessidade, procure ajuda de um terapeuta.
Medidas propostas para diminuir o estresse no trabalho
Ø Bloqueios de engenharia para evitar acidentes de trabalho;
Ø Melhoria ergonômica dos postos de trabalho;
Ø Adequação física e mental do indivíduo a seu posto de trabalho;
Ø Enriquecimento de tarefas;
Ø Integração do grupo de trabalho;
Ø Melhoria na troca de informações;
Ø Plano de cargos e salários;
Ø Treinamento e reeducação dos trabalhadores;
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Ø Lazer democrático;
Ø A gerência deve ter com o trabalhador: compromisso ético e meios de incentivo.
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