Download - HABILIDADES SOCIAIS NO CASAMENTO.pdf
-
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA
Habilidades sociais no casamento: avaliao e contribuio para a satisfao conjugal
Miriam Bratfisch Villa
Zilda A. P. Del Prette
Tese apresentada Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto da USP, como parte das exigncias para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias, rea: Psicologia.
RIBEIRO PRETO - SP
2005
-
FICHA CATALOGRFICA
Villa, Miriam Bratfisch
Habilidades sociais no casamento: avaliao e contribuio para a satisfao conjugal. Ribeiro Preto, 2005.
121p.; 30 cm Tese, apresentada Faculdade de Filosofia, Cincias e
Letras de Ribeiro Preto / USP Dep. de Psicologia e Educao.
Orientador: Del Prette, Zilda Aparecida Pereira 1. Relacionamento conjugal 2. Habilidades sociais 3.
satisfao conjugal
Foram seguidas as normas de publicao da American Psychological Association.
ii
-
FOLHA DE APROVAO
Miriam Bratfisch Villa
Habilidades sociais no casamento:
Avaliao e contribuies para a
Satisfao conjugal
Tese apresentada Faculdade de Filosofia,
Cincias e Letras de Ribeiro Preto da USP,
como parte das exigncias para a obteno
do ttulo de Doutor em Cincias, rea:
Psicologia
Aprovado em:
Banca examinadora
Prof. Dr. ___________________________________________________________________
Instituio:________________________________Assinatura:______________________
Prof. Dr. ___________________________________________________________________
Instituio:_________________________________Assinatura:_____________________
Prof. Dr. ___________________________________________________________________
Instituio:________________________________Assinatura:______________________
Prof. Dr. ___________________________________________________________________
Instituio:________________________________Assinatura:______________________
Prof. Dr. ___________________________________________________________________
Instituio:________________________________Assinatura:______________________
iii
-
Ao Enias, com amor.
iv
-
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus,
professora Zilda, orientadora sempre presente e ao Almir pelas dicas e
sugestes,
Aos casais, lderes de grupos e instituies e demais pessoas que colaboraram
de forma imprescindvel para obtermos os dados deste estudo,
professora Snia Loureiro pela chance de iniciar o doutorado to
rapidamente,
Ao Prof. Tadeu (ESALQ) pela ajuda com a estatstica,
amiga Fabola pela ajuda na coleta de dados e revises no ingls,
Ao meu marido, pelo apoio, incentivo e por fazer muitas vezes a minha parte
no cuidado com a Mariana,
Aos meus pais pelo apoio constante e ajudas diversas,
Aos familiares e amigos que contriburam de tantas maneiras,
Andrieli e a Susani,
Mariana que me concedeu neste perodo, em meio a tanto trabalho,
paradas estratgicas, risadas, choros, momentos inesquecveis.
FAPESP, pelo apoio financeiro.
v
-
Villa, M. B. (2005). Habilidades sociais no casamento: avaliao e contribuio para a satisfao conjugal. Tese apresentada Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto da USP, como parte das exigncias para a obteno do ttulo de Doutor em Cincias, rea: Psicologia.
RESUMO
A qualidade dos relacionamentos interpessoais tem grande influncia nos diversos
contextos da vida de qualquer indivduo, aqui se incluindo o contexto conjugal,
fonte potencial de prazer e realizao ou frustrao e transtornos psicolgicos.
Pesquisas tm mostrado a importncia de habilidades sociais especficas para a
maximizao da qualidade do relacionamento conjugal, como sua estabilidade e
durao, sugerindo seu impacto possvel tambm sobre a satisfao conjugal,
embora no se disponha, ainda, de estudos empricos suficientes para sustentar esta
ltima relao. Essa lacuna est, em parte, relacionada falta de instrumentos para
a avaliao das habilidades sociais conjugais e sua possvel especificidade em
relao s habilidades gerais dos cnjuges. Este estudo props-se verificar a relao
entre a satisfao conjugal dos cnjuges e habilidades sociais gerais e conjugais e,
concomitantemente, aperfeioar um instrumento de avaliao destas ltimas.
Participaram 406 respondentes de ambos os sexos (a maioria casais), com nvel
mnimo de escolaridade de segundo grau e idades entre 20 e 73 anos , que
responderam ao Inventrio de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette), Inventrio de
Habilidades Sociais Conjugais (IHSC) e Escala de Satisfao Conjugal (ESC). Foram
obtidos escores individuais para cada instrumento, procedendo-se a anlises
descritivas de cada um e a comparaes entre eles, especialmente entre maridos e
esposas, alm de anlise da influncia de variveis scio-demogrficas. Os
resultados apontaram correlao significativa entre escores do IHS-Del-Prette, IHSC e
escore da ESC, sugerindo que quanto mais elaborado o repertrio de habilidades
vi
-
sociais (conjugais e gerais) do respondente, maior sua satisfao com o
casamento, confirmando a hiptese inicial do estudo. Correlaes entre fatores do
IHSC, IHS-Del-Prette e da ESC apontaram classes de comportamentos do
respondente e de seu cnjuge especificamente associadas satisfao conjugal.
O IHSC apresentou boa consistncia interna (Alfa de Cronbach = 0,81) e uma
estrutura de seis fatores que explicaram 45,407 da varincia total obtida. So
discutidas a aplicabilidade do instrumento a novos estudos e ao contexto prtico de
atuao do psiclogo, bem como as implicaes dos resultados obtidos para novas
pesquisas.
Palavras chave: relacionamento conjugal, habilidades sociais, satisfao conjugal,
avaliao.
vii
-
ABSTRACT
The quality of interpersonal relations has a great influence on many life contexts,
including here the marital context, a potential source of pleasure and
accomplishment or of frustration and psychological disorders. Researches have
shown the importance of specific social skills for the maximization of the marital
relation quality as well as upon its stability and duration, suggesting a possible impact
also upon the marital satisfaction. Nevertheless, these relations dont have enough
supportive empirical studies. This gap is partially related to the lack of instruments to
access the social marital skills and to its possible specificity in relation to the spouses
global skills. This study was aimed to verify the relation between the spouses marital
satisfaction and global and marital social skills and simultaneously to improve an
instrument to evaluate social skills. 406 participants from both sexes (most couples,
with high school educational level, age between 20 and 73 years) completed the
Social Skills Inventory (SSI-Del-Prette), the Marital Social Skills Inventory (MSSI) and the
Marital Satisfaction Scale (MSS). It was computed individual scores for each
instrument, then proceeding to descriptive and statistical analyses, especially
comparing husbands and wives and social-demographic variables influence. The
results showed a significant correlation between the SSI-Del-Prette, MSSI and MSS
scores, suggesting that the more elaborated was the respondents social skills
repertoire (marital and global), greater was his/her marital satisfaction, confirming
the initial hypothesis. Correlations between the SSI, MSSI and MSS factorial scores
showed which respondents social skills classes was specifically associated to the
marital satisfaction. The MSSI presented a good internal consistency (Alpha of
Cronbach = 0,81) and a six factors structure that explained 45,407 of the obtained
total variance. It has been discussed the instrument applicability to new studies and
viii
-
to practical context of psychologist professional work as well as these results
implications to further researches.
Keywords: marital relation, marital satisfaction, social skills, evaluate.
ix
-
LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classes gerais e habilidades avaliadas na verso inicial do IHSC 36
Tabela 2. Caractersticas scio-demogrficas da amostra 42
Tabela 3. Correlaes entre escores total e fatoriais dos instrumentos IHSC e ESC para
a amostra geral (homens e mulheres) 54
Tabela 4. Correlao entre os itens do IHSC e o escore da ESC (Spearmans rho) 56
Tabela 5. Correlao de Spearman e coeficiente de correlao (Pearson) entre os
escores dos instrumentos IHSC e a ESC, para mulheres e homens 57
Tabela 6. Correlaes entre escores total e fatoriais do IHSC das esposas (M) e
escores total e fatoriais do ESC dos maridos (H) 58
Tabela 7. Correlaes entre escores total e fatoriais do IHSC dos maridos (H) e
escores total e fatoriais do ESC das esposas (M) 60
Tabela 8. Correlaes entre escores total e fatoriais dos instrumentos IHS-Del-Prette e
ESC para a amostra geral (homens e mulheres) 62
Tabela 9. Correlao de Spearman e coeficiente de correlao (Pearson) entre os
escores dos instrumentos IHS-Del-Prette e a ESC, para homens e mulheres 63
Tabela 10. Correlaes entre escores total e fatoriais do IHS-Del-Prette dos maridos
(H) e escores total e fatoriais do ESC das esposas (M) 64
Tabela 11. Correlaes entre escores total e fatoriais do IHS-Del-Prette das esposas
(M) e escores total e fatoriais do ESC dos maridos (H) 65
Tabela 12. Correlaes entre escores total e fatoriais dos instrumentos IHSC e IHS-Del-
Prette para a amostra geral (homens e mulheres) 66
Tabela 13. Correlao de Spearman e coeficiente de correlao (Pearson) entre os
escores dos instrumentos IHS-Del-Prette e IHSC para homens e mulheres 68
Tabela 14. Correlao (Spearmans rho) entre satisfao conjugal e variveis scio-
demogrficas da amostra 69
Tabela 15. Diferenas nos grupos de variveis quanto ao escore da ESC 69
Tabela 16. Matriz das cargas fatoriais da Anlise dos Componentes Principais com
nove fatores (F), com rotao Varimax, autovalores associados a cada fator,
varincia explicada pelo fator, porcentagem da varincia total, nmero de
itens com cargas significativas, coeficientes alfa e valor das
comunalidades (h) 72
x
-
Tabela 17. Sntese das anlises Fatorial e PC para o IHSC com descrio dos critrios
adotados, rotaes e principais resultados 76
Tabela 18. Matriz das cargas fatoriais da Anlise dos Componentes Principais com
seis fatores (F), com rotao Varimax, autovalores associados a cada fator,
varincia explicada pelo fator, porcentagem da varincia total, nmero de
itens com cargas significativas, coeficientes alfa e valor das comunalidades
(h) 77
Tabela 19. Descrio dos itens que compe cada fator do IHSC 82
Tabela 20. Distribuio de freqncia dos 400 respondentes aos itens do IHSC de
acordo com grupos de maior (A), mdio (B) e menor (C) escore 83
Tabela 21. ndice de discriminao e coeficiente de correlao de Pearson entre os
itens e o escore total no IHSC 84
xi
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuio amostral dos escores no IHS-Del-Prette 50
Figura 2. Distribuio amostral dos escores no IHSC 51
Figura 3. Distribuio amostral dos escores na ESC 52
Figura 4. Distribuio scree para os autovalores da matriz fatorial dos escores do
IHSC com nove fatores 74
Figura 5. Distribuio scree para os autovalores da matriz fatorial dos escores do
IHSC com seis fatores 79
xii
-
LISTA DE APNDICES
APNDICE 1.
Tabela A. Itens do antigo IHSC e classes de habilidades avaliadas
APNDICE 2.
Tabela B. Correlao entre itens do IHSC que avaliam habilidades correspondentes
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1.
Escala de Satisfao Conjugal (ESC)
ANEXO 2.
IHS-Del-Prette
ANEXO 3.
Inventrio de Habilidades sociais Conjugais (IHSC)
ANEXO 4.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
xiii
-
SUMRIO
RESUMO VI
ABSTRACT VIII
LISTA DE TABELAS X
LISTA DE FIGURAS XII
LISTA DE APNDICES XIII
LISTA DE ANEXOS XIII
1. INTRODUO 1
1.1. REFERENCIAL CONCEITUAL DO ESTUDO 1
1.1.1. CONCEITOS DA REA DO TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS 1
1.1.2. HABILIDADES SOCIAIS E RELACIONAMENTO CONJUGAL 10
1.1.3. SATISFAO CONJUGAL E HABILIDADES SOCIAIS 15
1.2. QUESTES METODOLGICAS 19
1.2.1. O DESAFIO METODOLGICO DA AVALIAO PSICOLGICA 19
1.2.2. VANTAGENS E LIMITAES DOS TESTES DE AUTO-RELATO (INVENTRIOS) 27
1.2.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS PARA A AVALIAO DE HABILIDADES SOCIAIS
CONJUGAIS 29
1.2.4. A ELABORAO INICIAL DO INVENTRIO DE HABILIDADES SOCIAIS CONJUGAIS 32
1.2.5. PROCEDIMENTOS DE REFORMULAO DO INVENTRIO DE HABILIDADES SOCIAIS
CONJUGAIS 34
1.3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 39
2. MTODO 40
2.1. AMOSTRA 40
2.2. INSTRUMENTOS 43
xiv
-
2.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS 45
2.4. TRATAMENTO DOS DADOS 46
2.5. ASPECTOS TICOS 48
3. RESULTADOS 50
3.1. ANLISES DESCRITIVAS DOS INSTRUMENTOS IHS-DEL-PRETTE, IHSC E ESC 50
3.2. ANLISES COMPARATIVAS 52
3.2.1. ANLISES DE CORRELAO ENTRE O INVENTRIO DE HABILIDADES SOCIAIS CONJUGAIS
E A ESCALA DE SATISFAO CONJUGAL 54
3.2.2. ANLISES DE CORRELAO ENTRE O IHS-DEL-PRETTE E A ESCALA DE SATISFAO
CONJUGAL 61
3.2.3. ANLISES DE CORRELAO ENTRE O INVENTRIO DE HABILIDADES SOCIAIS CONJUGAIS
E O IHS-DEL-PRETTE 66
3.2.4. ESCALA DE SATISFAO CONJUGAL E CARACTERSTICAS SCIO-DEMOGRFICAS 68
3.2.5. ESTUDOS PSICOMTRICOS DO INVENTRIO DE HABILIDADES SOCIAIS CONJUGAIS 70
4. DISCUSSO 86
5. CONCLUSO 98
6. REFERNCIAS 102
xv
-
1. INTRODUO
Tendo em vista o foco central deste estudo - habilidades sociais e
satisfao conjugal e a relao emprica entre estes constructos - apresenta-se
inicialmente o referencial conceitual do estudo, as habilidades sociais e outros
aspectos do relacionamento conjugal, com nfase na satisfao conjugal,
culminando nas possibilidades de relaes entre estas duas grandes reas.
A segunda parte trata dos aspectos metodolgicos da avaliao
psicolgica e, especificamente, da avaliao em Habilidades Sociais no
contexto conjugal, seus mtodos, possibilidades e a proposta deste estudo, ou
seja, o desenvolvimento de um Inventrio de Habilidades Sociais Conjugais.
1.1. Referencial conceitual do estudo
A rea do Treinamento em Habilidades Sociais (THS) ser abordada, nesta
seo, com breve referncia sua origem e evoluo, definies histricas e
atuais dos principais conceitos na rea, alm de especificidades ligadas a
componentes situacionais, no caso, ao contexto conjugal. O relacionamento
entre cnjuges ser abordado em termos de sua importncia para o bem-estar
geral dos indivduos, bem como da investigao de fatores relacionados
satisfao com o mesmo.
1.1.1. Conceitos da rea do THS
O relacionamento interpessoal e as habilidades sociais tm sido
abordados sob vrios enfoques. Um dos principais campos de investigao e
aplicao do conhecimento, voltados para esta temtica, o do Treinamento
de Habilidades Sociais, ou THS (Argyle, 1967/1994; Del Prette & Del Prette, 1996;
Hidalgo & Abarca, 1992), historicamente com origens no denominado
-
Treinamento Assertivo (Lange & Jakubowski, 1976). Phillips (1985), num apanhado
histrico sobre as habilidades sociais, remonta h 150 anos a primeira noo de
feedback (um dos conceitos chave da abordagem das Habilidades Sociais,
embora tambm presente em outras reas) e detalha a evoluo da rea ao
longo de dcadas de trabalho de vrios cientistas. Segundo Caballo (1996), esse
campo teve maior difuso e desenvolvimento nas dcadas de 60 e 70,
incorporando, nos anos 80, resultados de pesquisa de outras reas da Psicologia,
principalmente elementos de orientao cognitiva.
Considerando que as habilidades sociais conjugais fazem parte dessa
rea de produo e aplicao de conhecimento psicolgico, denominada
Treinamento de Habilidades Sociais, vale destacar que os pesquisadores do
campo terico-prtico das habilidades sociais tm concentrado seus esforos
em trs vertentes principais: (1) explicao da origem e desenvolvimento do
comportamento socialmente competente; (2) proposio de tcnicas para
desenvolvimento de habilidades sociais (THS); e (3) avaliao do repertrio de
habilidades sociais e da competncia social.
Alguns conceitos-chave deste campo so definidos de forma bastante
especfica por A. Del Prette e Z. A. P. Del Prette (2001), evitando confuses
geralmente presentes na literatura da rea. Assim, segundo esses autores, os
termos desempenho social, habilidades sociais e competncia social so
diferenciados e definidos como:
O desempenho social refere-se emisso de um
comportamento ou seqncia de comportamentos
emitidos em uma situao social qualquer. J o termo
habilidades sociais refere-se existncia de diferentes
classes de comportamentos sociais no repertrio do
2
-
indivduo para lidar de maneira adequada com as
demandas das situaes interpessoais. A competncia
social tem sentido avaliativo que remete aos efeitos do
desempenho social nas situaes vividas pelo indivduo [...]
qualificando portanto a proficincia de um desempenho e
referindo-se capacidade do indivduo de organizar
pensamentos, sentimentos e aes em funo de seus
objetivos e valores articulando-os s demandas imediatas e
mediatas do ambiente (Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P.,
2001, p. 31).
A compreenso destes conceitos de extrema importncia para que
sejam utilizados corretamente. Neste estudo, focaliza-se, de maneira mais direta,
o conceito de habilidades sociais, ou seja, o repertrio comportamental do
indivduo, que possibilita e aumenta a probabilidade do mesmo ser competente
em determinada situao e que pode ser avaliado por meio de diferentes tipos
de instrumentos e procedimentos, sendo mais comuns, no caso de pesquisas em
larga escala, os inventrios de auto-relato. No o caso de eleger uma ou outra
definio como a mais correta; trata-se de adotar o constructo exato que est
sendo efetivamente avaliado como uma das dimenses pertinentes ao
relacionamento social. O estudo investigativo de cada uma dessas dimenses
exige metodologia diferenciada: quando se trata de componentes
comportamentais, o foco sobre o desempenho de habilidades sociais;
quando se avalia a funcionalidade desse desempenho (conseqncias no
ambiente e para o prprio indivduo), se possvel com avaliao da coerncia
entre componentes comportamentais, afetivos e cognitivos desse desempenho,
est se acessando a dimenso da competncia social.
3
-
As habilidades sociais so aprendidas e/ou aperfeioados na interao
do indivduo com seu ambiente. Embora as bases de algumas habilidades sejam
inatas (por exemplo, a tendncia a comportamentos pr-sociais), o repertrio de
habilidades sociais comea a ser desenvolvido na infncia por meio de
diferentes processos de aprendizagem (modelo de pessoas prximas,
modelagem social e esquemas de reforamento) no exerccio crescente de
novos papis e assimilao de normas culturais (Del Prette & Del Prette, 1999;
Hidalgo & Abarca, 1992). Essas habilidades podem ser aperfeioadas ou
deterioradas, na histria de vida das pessoas, dependendo das contingncias a
que so submetidas (Skinner, 1989). Portanto, os comportamentos sociais emitidos
por um adulto refletem contingncias passadas e atuais (quer sejam de
reforamento positivo ou de reforamento negativo, com ou sem o envolvimento
de regras) e podem tambm ser recuperados por meio de programas especiais
de treinamento ou terapia.
As diversas situaes e demandas sociais envolvem uma gama de
habilidades, algumas mais gerais e outras bastante especficas e complexas.
Como forma de identificar estes comportamentos e facilitar o planejamento de
programas de Treinamento de Habilidades Sociais, A. Del Prette, e Z. A. P. Del
Prette, (2001) sugerem uma organizao de classes e subclasses de habilidades
sociais, propondo sete conjuntos (classes mais gerais) de habilidades sociais
relevantes para a avaliao e interveno com adultos: de automonitoria; de
comunicao; de civilidade; assertivas, direito e cidadania; empticas; de
trabalho; de expresso de sentimento positivo. Cada uma destas classes de
comportamento composta de vrias subclasses.
O repertrio de habilidades sociais de um indivduo (e sua competncia
social) ir determinar grande parte da qualidade de suas relaes interpessoais,
4
-
destacando-se, neste estudo, as relaes no contexto do casamento. Algumas
das classes de habilidades sociais anteriormente referidas, so particularmente
crticas para a qualidade do relacionamento conjugal. Considerando-se a
classificao proposta por Del Prette, A. e Del Prette, Z. A. P. (2001), pode-se
efetuar uma anlise mais detalhada do papel potencial, nas relaes conjugais,
das seguintes habilidades: assertivas, empticas, de expresso de sentimento
positivo, de automonitoria, de civilidade e de comunicao, mais
detalhadamente tratadas a seguir.
A assertividade, por alguns autores considerada como um conceito
equivalente ao de competncia social (p.e. Caballo, 1993), por outros
entendida como uma das principais classes do conjunto das habilidades sociais
(Del Prette & Del Prette, 1999; Hidalgo & Abarca, 1992; Alberti & Emmons, 1978).
Del Prette e Del Prette (2003) fazem uma reviso na literatura do Treinamento
Assertivo apresentando o histrico e a evoluo do conceito de assertividade.
Segundo esses autores, o Treinamento Assertivo comeou a ser difundido nos
anos 50 e teve maior destaque nos anos 70, com base em estudiosos como
Wolpe (1976), Lazarus (1968), Alberti e Emmons (1978). O conceito de
assertividade foi definido como a afirmao direta dos direitos individuais e a
expresso de sentimentos e crenas, de modo claro, com controle da ansiedade
e de forma a no violar os direitos do outro (Wolpe, 1976; Wolpe & Lazarus, 1966).
A literatura em geral coloca o termo assertividade em oposio no-
assertividade (referindo-se a ausncia de comportamentos de expresso e
defesa de direitos) e agressividade (comportamentos que tendem a violar os
direitos do outro). Desta forma, Alberti e Emmons (1978) e Lange e Jakubowski,
(1976) j conceituavam, discutiam e exemplificavam o comportamento assertivo
em oposio ao no assertivo e ao agressivo. Para estes autores, a reao
5
-
assertiva caracteriza-se por geralmente atingir os objetivos, aumentar a auto-
apreciao de seu emissor e expressar honestidade. J a reao no-assertiva
evidencia uma negao e inibio dos sentimentos do emissor, podendo se
associar ansiedade e a uma baixa auto-estima, alm de ter pouca
probabilidade de atingir os objetivos da relao interpessoal. A reao agressiva,
por sua vez, na maioria das vezes consegue atingir os objetivos, mas custa de
infringir o direito do outro ou desrespeit-lo. O emissor, mesmo que se perceba
como expressivo, compromete o relacionamento, pois magoa a pessoa com
quem interagiu.
Os conceitos de assertividade, at aqui apresentados, tm sido
questionados por alguns autores que sugerem uma definio menos estrita e
uma maior variabilidade de tipos de comportamentos considerados assertivos.
Hargie (apud Del Prette & Del Prette, 2003) prope o fim da dicotomia entre
assertivo/agressivo, passivo/assertivo, substituindo-a por um contnuo em que a
agressividade e a passividade se situariam nos extremos, com a assertividade no
ponto intermedirio.
Aperfeioando ainda mais essa concepo de um contnuo, Del Prette e
Del Prette (2003) propem levar em conta o carter situacional, mais
especificamente considerando a subcultura na qual o comportamento ocorre.
Desta forma, o contnuo passividade-assertividade-agressividade teria um carter
flexvel, entendendo como varivel a distncia passividade-assertividade e
assertividade-agressividade, de acordo com o carter situacional e a subcultura
na qual o comportamento est ocorrendo. Mesmo levando em conta esse
contnuo, principalmente em termos de caractersticas da topografia do
comportamento, possvel identificar as habilidades mais especficas que fazem
parte dessa classe.
6
-
Considerando a tendncia clssica da literatura (revisada por Del Prette &
Del Prette, 2001), de classificar como assertivas as habilidades que envolvem
enfrentamento de situaes onde h risco potencial de reao indesejvel do
interlocutor, as principais habilidades que compem a classe das assertivas
seriam: manifestar opinio, concordar, discordar; fazer e recusar pedidos;
desculpar-se, admitindo falhas; expressar desagrado, pedir mudana de
comportamento do outro e lidar com crticas (fazer, aceitar, recusar). fcil
pensar que essas habilidades devem fazer parte de interaes conjugais onde os
dois cnjuges expressam abertamente seus pensamentos, sentimentos e opinies,
bem como os possveis efeitos negativos, sobre a qualidade e sinceridade dessa
relao, quando tais comportamentos so inviabilizados por algum motivo.
As habilidades empticas, uma classe especialmente importante no
contexto conjugal, so definidas como a capacidade de compreender e sentir
o que algum pensa e sente em uma situao de demanda afetiva,
comunicando-lhe adequadamente tal compreenso e sentimento (Del Prette &
Del Prette, 2001, p. 86). A empatia envolve trs componentes: o cognitivo
(interpretar e compreender os sentimentos do outro); o afetivo (experenciar a
emoo do outro); e o comportamental (expressar compreenso e sentimentos
relacionados demanda do outro). Entre os componentes desta classe, podem
ser particularmente relevantes para o contexto conjugal as habilidades de
expressar compreenso, oferecer apoio, validar e refletir os sentimentos do outro.
Thomas e Fletcher (1997) apontam a acuracidade emptica como, via de regra,
importante para as relaes ntimas, estando associada a uma maior
estabilidade e satisfao na relao. Christensen et al. (2004), apontam o
engajamento dos cnjuges em comportamentos empticos como parte
integrante da proposta da Terapia de Casais Integrativa.
7
-
A automonitoria outra classe de comportamentos a ser considerada. Na
definio de Del Prette e Del Prette (2001), considerando as interaes com o
ambiente social, podemos conceber o automonitoramento como uma
habilidade metacognitiva e afetivo-comportamental pela qual a pessoa
observa, descreve, interpreta e regula seus pensamentos, sentimentos e
comportamentos em situaes sociais (p. 62). Os autores no citam subclasses
nesta categoria de habilidades sociais, pois ela j traz implcitos comportamentos
requeridos para o seu desempenho. Gottman e Rushe (1995), em sua proposta
de uma Terapia Conjugal Mnima, destacam o papel da identificao de
alterao de estados fisiolgicos (em si e no outro) como habilidade (de
automonitoria) a ser trabalhada pelos casais. Alm disso, a construo de
relaes mutuamente satisfatrias certamente implica em sensibilidade de cada
um dos cnjuges para observar e regular o efeito dos prprios comportamentos
sobre o outro, o que constitui a base da automonitoria nesse contexto.
A classe de habilidades para expresso de sentimento positivo
caracteriza-se pelo seu carter positivo que denota sade e equilbrio emocional
nas relaes interpessoais, alm de satisfao com os comportamentos
apresentados pelo outro. O desempenho desta habilidade depende menos de
componentes verbais e mais dos no verbais como gestos, expresso facial,
toques. Uma das subclasses apontada por Del Prette e Del Prette (2001), a ser
aqui destacada a de cultivar o amor, o que tambm pode ser feito por meio
de expresso verbal e gestual de sentimentos de carinho. A expressividade de
sentimentos positivos, de forma geral, tem sido identificada por vrios autores
(Langis, Sabourin, Lussier & Mathieu, 1994; Rang & Dattilio, 1995; Snyder, Cozzi, &
Luebbert, 2001) como habilidade crucial para consolidar o carter afetivo do
relacionamento conjugal.
8
-
As habilidades sociais de civilidade compem uma classe de
comportamentos relacionados ao que o senso comum denomina boa
educao. So desempenhos simples, padronizados segundo o contexto em
que ocorrem, envolvendo habilidades (dizer por favor, agradecer, pedir licena
entre outras) que so requeridas em encontros breves, situaes de pouca
intimidade ou envolvimento emocional (Del Prette & Del Prette, 2001). No
entanto, as relaes de intimidade, caractersticas do relacionamento conjugal
tambm demandam tais comportamentos, medida que denotam cortesia,
gentileza e delicadeza no tratamento com o outro, podendo ser consideradas
complementares s habilidades de expresso emocional positiva.
H ainda um conjunto de habilidades sociais definidas por Del Prette e Del
Prette (2001) como habilidades de comunicao. Diversos autores (Gottman &
Rush, 1995; Rang & Datilio, 1995; Zimerman, 2000; Snyder, Cozzi & Luebbert, 2001)
tm apontando a importncia da comunicao no relacionamento conjugal:
Zimerman (2000) aponta os mal-entendidos na comunicao como um dos
motivos mais manifestos para a procura de tratamento; Snyder, Cozzi e Luebbert
(2001) relatam que um ponto forte a ser trabalhado na terapia conjugal a
comunicao do casal; Rang e Dattilio (1995) analisam trs enfoques de terapia
de casal dos quais dois enfatizam o treinamento em comunicao e o terceiro o
ensino de habilidades expressivas como propostas de tratamento; Gottman e
Rush (1995) incluem o treinamento em comunicao na proposta da Terapia
Conjugal Mnima. Do conjunto de classes de comportamentos definidos como
comunicao, por Del Prette e Del Prette (2001), podem ser destacadas, como
particularmente relevantes no contexto conjugal: fazer e responder perguntas,
elogiar, manter e encerrar conversao, ouvir atentamente e de forma no
9
-
defensiva (esperar o outro terminar o que tem a dizer para depois manifestar
opinio).
1.1.2. Habilidades sociais e relacionamento conjugal
Entre os vrios contextos de interaes sociais que os indivduos vivenciam,
o do relacionamento conjugal (na unio legal ou consensual) de extrema
importncia, medida que seu sucesso ou fracasso determinante para a
qualidade de vida dos envolvidos. Alm disso, as relaes com outros membros
da famlia (principalmente com os filhos) so influenciadas pela qualidade do
relacionamento entre os cnjuges (Feldman & Wentzel, 1990).
Segundo Silliman, Stanley, Coffin, Markman e Jordan (2002), os laos
conjugais criam nichos sociais e de desenvolvimento importantes, promovendo
conseqncias emocionais de grande impacto para o bem-estar dos adultos,
crianas e comunidade.
O fato de ter um bom casamento produz status e aceitao social, bem
como ganhos afetivos e emocionais. Alm das cincias, outros tipos de
conhecimento como a religio, as crenas populares e o senso comum buscam
e indicam formas de obter um relacionamento amoroso satisfatrio. Diversos
campos de conhecimento cientfico (tanto na rea psicolgica como reas
mdicas, sociais e outras) tm focalizado estas questes, abordando temas
como relacionamento conjugal, famlia, amor, sexo e outros relacionados. Porm,
apesar do grande nmero de informao nesta rea do conhecimento, h
ainda lacunas a serem preenchidas. Os relacionamentos sociais, em qualquer
contexto e instituio social, no so estticos; ao contrrio, passam por
mudanas que exigem novos posicionamentos e novas formas de comportar-se.
Este tambm o caso do casamento, que passa por crises ao longo da
vida do casal e por mudanas sociais ao longo da histria, com a necessidade
10
-
de reformulao dos papis de esposa, marido, pai e me, medida que a
sociedade muda, criando novas demandas de atuao dos indivduos. Jablonski
(1991-1998) aponta algumas questes sociais e culturais que parecem estar na
base das crises mais comuns do casamento contemporneo: mudanas na
vivncia religiosa dos indivduos, modernizao e urbanizao, aumento da
longevidade, emancipao feminina, entre outros aspectos. Estes fatores,
certamente iro influenciar o relacionamento do casal, embora possam ser
considerados externos ao relacionamento, propriamente dito.
Ao longo da histria, a investigao e tratamento das dificuldades
conjugais foram realizados sob diferentes prismas. Monteiro (2001), numa anlise
sobre a evoluo da conjugalidade, sugere que, at certo perodo, o estudo das
interaes familiares era focado nas motivaes individuais inconscientes,
passando, a partir da dcada de 50, a se pautar pelo campo das interaes
sociais. Snyder, Cozzi e Mangrum (2002) criticam as abordagens psicodinmicas,
anteriores aos modelos atuais de terapia conjugal e familiar, por enfatizarem a
psicopatologia individual em detrimento dos processos didicos e familiares. Esses
autores criticam, tambm, as abordagens sistemticas subseqentes que,
inicialmente, enfatizavam influncias sociais mais amplas deixando de lado os
fatores individuais.
H a necessidade, portanto, de analisar as questes interpessoais,
subjacentes ao relacionamento do casal e ao comportamento de cada
cnjuge, que so objeto de estudo e interveno da Psicologia.
As classes e subclasses de habilidades sociais destacadas na seo
anterior (assertivas, empticas, de automonitoria, de expresso de sentimento
positivo, de civilidade e de comunicao), tm sido apontadas como
importantes ingredientes dos relacionamentos conjugais. Muitos estudos tm sido
11
-
feitos a respeito da ocorrncia destes e de outros comportamentos interpessoais
no casamento, ressaltando a sua importncia para um relacionamento conjugal
satisfatrio (Bratfisch, 1997; Sanders, Halford & Behrens, 1999; Starkey, 1991; Rang
& Dattilio, 1995; Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. , 2001; Gottman & Rushe, 1995;
Schaper, 2000; Flora & Segrin, 1999).
Pesquisando os efeitos de um Programa de Treinamento de Habilidades
Sociais (THS) para casais no-disfuncionais (i.e., que no estavam em terapia,
nem com srios problemas de relacionamento ou em vias de separar-se),
Bratfisch (1997) verificou que os participantes relataram ganhos no
relacionamento conjugal e que esses ganhos estavam associados aquisio e
aumento de freqncia no desempenho de vrias habilidades tais como:
expresso de sentimentos positivos, manejo de crticas, resoluo de problemas,
valorizao recproca pelos cnjuges, lidar com direitos e deveres, qualidade da
comunicao, expresso de confiana mtua, utilizao de feedback e
assertividade. Pesquisas realizadas por Sanders, Halford e Behrens (1999)
apontaram, tambm, a importncia do repertrio de habilidades sociais
previamente ao casamento, no sentido dos pares se comunicarem de forma
efetiva, preparando-se para o casamento, falando de seus objetivos de vida,
sonhos e expectativas. Os autores estabeleceram uma relao entre histria de
divrcio e falhas de comunicao antes do casamento.
Em muitos casos de separao e/ou busca de auxlio teraputico, tem-se
constatado1 que h dificuldades de um ou ambos os cnjuges no que diz
respeito s habilidades interpessoais. Estas pessoas, por algum motivo, no
desenvolveram um repertrio de habilidades necessrias para se comunicarem,
1 Dados de observao e experincia clnica da autora.
12
-
expressarem sentimentos, opinies e desejos, ouvirem o outro, criando um
ambiente aversivo para ambos, com escassez de reforadores positivos.
Por outro lado, observa-se que cnjuges extremamente competentes
socialmente, que conseguem reforar-se mutuamente, expressar seus
sentimentos, desejos e opinies, estabelecem um ambiente saudvel de
convivncia, possibilitando o desenvolvimento pessoal de ambos e a educao
de seus filhos para serem tambm emocionalmente saudveis e socialmente
competentes.
Os aspectos reforadores dos relacionamentos conjugais, ou seja, mais
conseqncias recompensadoras que negativas e reciprocidade do casal na
emisso de reforadores, possibilitam a manuteno do relacionamento,
maximizando sua qualidade. Analisando a importncia do repertrio de
habilidades sociais em uma situao especfica em que a esposa passou a
trabalhar fora de casa, Starkey (1991) encontrou que a competncia social do
marido foi um fator fundamental para que o relacionamento conjugal no se
desmoronasse quando ela passava a obter rendimentos com seu trabalho.
Muitas pessoas encontram dificuldade em manter a qualidade dos
relacionamentos e acabam buscando ajuda teraputica. Rang e Dattilio (1995)
analisaram trs enfoques da terapia de casal: o comportamental (Bandura,
Jacobson), o cognitivo (Beck, Dattilio) e o integrativo dos aspectos
comportamental, cognitivo e afetivo (Guerney). Apesar de algumas diferenas
apontadas, os trs modelos defendem a necessidade de instrumentalizar os
membros do casal em termos de habilidades interpessoais, especialmente as de
comunicao e resoluo de problemas, consideradas cruciais para o bom
relacionamento. O enfoque comportamental de Jacobson ressalta a
importncia do repertrio de habilidades de comunicao no relacionamento
13
-
conjugal, sugerindo treinamento especfico, sempre que sejam constatados
dficits nestas e em outras habilidades (comportamentais e cognitivas)
importantes. A. Del Prette, e Z. A. P. Del Prette (2001) tambm discorrem sobre a
importncia do desempenho social, por parte dos cnjuges, para lidar com as
demandas do relacionamento familiar, defendendo que a qualidade deste
desempenho poder ser fonte de satisfao ou conflitos no relacionamento do
casal.
Em uma reviso da histria da Terapia Conjugal, Gottman e Rushe (1995)
discutem os resultados das vrias propostas teraputicas relatadas na literatura,
concluindo que nenhuma abordagem conseguiu mostrar superioridade sobre as
outras. Analisando mais detalhadamente os ingredientes comuns das terapias
bem sucedidas, esses autores propem o que denominaram de Terapia Conjugal
Mnima (TCM), incluindo vrios componentes que remetem, direta ou
indiretamente, competncia social dos cnjuges. Especificamente, destacam
as seguintes habilidades que, independentemente de diferenas tericas,
deveriam ser objeto de ateno em uma TCM: (a) acalmar-se e identificar
alterao dos estados fisiolgicos do cnjuge2; (b) ouvir o cnjuge de forma no
defensiva; (c) validar a fala do cnjuge, referindo-se ao ouvir ativo, um
componente da compreenso emptica; (d) substituir esquemas disfuncionais
de interao do casal de modo a romper o ciclo queixa-crtica-comportamento
defensivo-desdm ou de desprezo-afastamento; (e) ter sensibilidade aos estilos
de persuaso do parceiro para, em meio a uma discusso, evitar que ela
continue e se agrave (modelo cascata).
2 Os autores chamam de estados de DPA (diffuse physiological arousal).
14
-
1.1.3. Satisfao conjugal e Habilidades Sociais
So vrias as definies de satisfao conjugal encontradas na literatura e
no h um consenso entre elas (Spanier, 1976 apud Farias, 1994). Ainda que
defendendo a satisfao conjugal como um fator fundamental na vida de um
casal, Perlin (2001) se refere a esta falta de consenso, na terminologia e nas
definies, como uma polmica que ainda est longe de ser resolvida.
Farias (1994) define satisfao conjugal e felicidade conjugal como
referentes aos sentimentos e comportamentos positivos de cada indivduo em
relao ao parceiro e sua experincia compartilhada.
Segundo Norgren (2002), o conceito de satisfao conjugal subjetivo, j
que satisfao implica ter as prprias necessidades e desejos satisfeitos, assim
como corresponder ao que o outro espera, definindo o dar e receber de forma
espontnea [...], relaciona-se com bem-estar, contentamento, companheirismo,
afeio e segurana, fatores que propiciam intimidade no relacionamento, e,
ainda, interferem no nvel de expectativa de cada um dos parceiros para com a
relao (Norgren, 2002, p. 60-61).
Neste estudo, satisfao conjugal est sendo entendida como um
conceito relativo a um conjunto de variveis envolvendo: (a) interao com o
cnjuge; (b) aspectos emocionais do parceiro; e (c) aspectos prticos do
casamento (estruturais).
Alm da inexistncia de um consenso na conceituao do termo
satisfao conjugal, h tambm divergncias e diversidade nos estudos com
relao a aspectos envolvidos na determinao da satisfao conjugal. Sabe-se
que muitos fatores influenciam na satisfao conjugal, porm no h uma
sistematizao destes em torno de uma determinao.
15
-
Spanier e Lewis (1980, apud Dela Coleta 1989) apontam que um dos mais
significativos desenvolvimentos na pesquisa conjugal dos anos 70 foi o
reconhecimento de que a qualidade [do relacionamento conjugal] envolve um
fenmeno multidimensional. Neste caso, qualidade e satisfao so entendidas
como tendo o mesmo significado.
Dos estudos disponveis que consideram fatores e dimenses da interao
social potencialmente relacionados satisfao conjugal, somente um deles faz
referncia explcita ao termo habilidades sociais (Flora & Segrin, 1999); os demais
se referem ao estilo interpessoal e a pelo menos duas habilidades que, segundo
o referencial terico da presente pesquisa, so classes de habilidades sociais -
comunicao e resoluo de problemas embora os autores no faam essa
vinculao.
Estudando satisfao conjugal, complementaridade e estilos interpessoais,
Schaper (2000) encontrou que a satisfao conjugal das mulheres foi afetada
pelo estilo interpessoal dos homens, porm a satisfao destes no foi
influenciada pelo estilo interpessoal das esposas, sendo afetada por seu prprio
estilo interpessoal. Outros fatores, como a existncia de objetivos do casal e
progressos em direo a eles, tambm proporcionaram nveis mais altos de
satisfao conjugal.
A satisfao conjugal est, ainda, indiretamente relacionada
capacidade de resoluo de problemas, aqui entendida como um componente
das habilidades sociais: no estudo de Dela Coleta (1992), experincias de sucesso
na resoluo de problemas levaram o casal a aumentar suas expectativas de
controle interno, o que estava relacionado a uma maior satisfao conjugal.
Flora e Segrin (1999), pesquisando um grupo de cnjuges e namorados,
concluram que indivduos com repertrio adequado de habilidades sociais tm
16
-
maior probabilidade de apresentarem satisfao com o relacionamento (entre o
casal) do que aqueles que no o desenvolveram. Ainda, parceiras de homens
que apresentam bom repertrio de habilidades sociais tendem a relatar maior
satisfao com o relacionamento. Apesar de esse estudo relacionar satisfao
conjugal a classes de habilidades sociais, a questo da direo e intensidade da
influncia das habilidades sociais para a satisfao conjugal no est
claramente delimitada. Alm disso, parece no ter levado em conta as mltiplas
dimenses que definem a natureza situacional-cultural dessas habilidades.
Referindo-se a esse carter multidimensional das habilidades sociais, Del
Prette e Del Prette (1999) enfatizam trs dimenses importantes na anlise de
qualquer desempenho social que servem de base para caracteriz-lo como
socialmente competente ou no competente: a pessoal, a situacional e a
cultural. Essas trs dimenses so bastante sobrepostas e imbricadas entre si,
embora suas caractersticas possam ser associadas, respectivamente, ao
indivduo que est sendo objeto de avaliao em seu repertrio de habilidades
sociais, situao imediata de interao em que ele se encontra e ao seu
contexto histrico-cultural.
A dimenso pessoal se refere pelo menos trs aspectos do desempenho
do indivduo: (a) comportamental, que focaliza os aspectos verbais ou no
verbais diretamente observveis do desempenho e que servem de base para
caracteriz-lo como socialmente aceitvel; (b) cognitivo-afetivo, que focaliza as
expectativas, crenas, conhecimentos prvios, estratgias e habilidades de
processamento, que devem ser coerentes com o desempenho observvel; (c)
fisiolgico, referindo-se s reaes autonmicas que caracterizam a facilidade
ou dificuldade (grau de ansiedade, incmodo, mal estar) do indivduo em lidar
com as diferentes demandas de interaes sociais, de acordo com os critrios
17
-
estudados na literatura da rea. Pode-se incluir aqui, ainda, as caractersticas
scio-demogrficas, que so inerentes ao indivduo, e que culturalmente so
carregadas das expectativas que remetem dimenso cultural (Del Prette & Del
Prette, 1999; 2001).
A dimenso situacional refere-se s caractersticas dos interlocutores e da
situao de interao, com seus papis, objetivos, familiaridade etc., criando
demandas para desempenhos diferenciados que se ajustem a tais
caractersticas. A dimenso cultural refere-se s regras, normas e valores
culturalmente estabelecidos, ou seja, aos padres culturais que definem
expectativas diferenciadas de desempenho social para os diferentes contextos
de interao, em articulao com as dimenses pessoal e situacional.
Focalizando essas dimenses, o estudo de Villa (2002) mostrou que os
homens apresentaram menores escores em habilidades sociais do que mulheres
(dimenso pessoal) em questes especificamente relacionadas ao casamento
(dimenso situacional), enquanto que nas habilidades sociais em geral, ocorreu o
inverso (dimenso situacional). A discusso sobre tais resultados levou em
considerao as normas e valores culturalmente estabelecidos para os papis
masculino e feminino (dimenso cultural), buscando-se, portanto, articular essas
dimenses.
A medida de satisfao conjugal tem sido um indicador importante da
qualidade do relacionamento conjugal, porm, como se v, no h clareza na
sua determinao e diversos fatores tm sido apontados, parte deles
relacionados s habilidades conjugais. Alguns dos estudos aqui apresentados
relacionaram a satisfao conjugal s habilidades sociais de modo indireto, ou
seja, apontando alguns dos componentes das habilidades sociais relacionados
satisfao conjugal sem considerar o conjunto de habilidades de forma
18
-
sistemtica. Em apenas um dos estudos (Flora & Segrin, 1999) foi investigada a
relao entre habilidades sociais e satisfao conjugal, no entanto, no foi
possvel acessar a descrio dos comportamentos avaliados. Outros estudos
apresentados enfatizaram a importncia das habilidades sociais para o
relacionamento entre os cnjuges mas no avaliaram especificamente a
influncias destas sobre a satisfao conjugal.
1.2. Questes metodolgicas
Nesta segunda parte sero descritos aspectos da metodologia de
avaliao psicolgica, ou seja, teorias, modelos e mtodos para avaliao
psicolgica de forma geral e, em especial, no campo das Habilidades Sociais.
Sero abordados tambm conceitos relativos psicometria e construo de
testes psicolgicos. luz destes conceitos, ser analisada a proposta
(parcialmente desenvolvida no projeto de mestrado) de construo de um
Inventrio de Habilidades Sociais Conjugais.
1.2.1. O desafio metodolgico da avaliao psicolgica
A elaborao e disponibilizao de testes psicolgicos dos mais variados
so indiscutivelmente teis sociedade como um todo, servindo psicologia nas
suas diversas reas (clnica, pesquisa, escolar, trabalho, organizaes,
desenvolvimento etc). Porm, para que possam ser utilizados com segurana
pelos psiclogos e pesquisadores, estes instrumentos precisam atender s
exigncias da psicometria. O estudo da psicometria deixa clara a importncia
da ateno aos parmetros que visam fazer dos testes psicolgicos instrumentos
realmente confiveis para medir o que se prope.
A construo de testes psicolgicos envolve vrias fases de elaborao,
aplicao e verificao das caractersticas psicomtricas at chegar a um
19
-
instrumento realmente preciso e normatizado para aplicao na populao. Este
processo demanda estudos avanados da teoria que fundamenta a rea a ser
avaliada, diversas anlises estatsticas, vrias aplicaes, enfim, um investimento
de longo prazo que deve ser considerado. Estando o instrumento concludo e as
caractersticas psicomtricas avaliadas satisfatoriamente, devem ser
determinadas as normas para o teste e estas constantemente revisadas a fim de
garantir um instrumento adequado para a populao e o mais abrangente
possvel.
Os estudos e produtos relacionados aos diversos instrumentos e
procedimentos para avaliar caractersticas psicolgicas das pessoas compem
uma rea da Psicologia denominada Psicometria. Segundo Da Silva (2003) este
campo desenvolveu-se a partir do incio do sculo XIX, atendendo
necessidade de discriminar indivduos, em funo de suas caractersticas, para
objetivos clnicos, educacionais ou de trabalho. Este mesmo autor afirma que a
testagem psicolgica um dos campos mais amplos da psicologia aplicada e
uma das mais importantes contribuies da cincia psicolgico/comportamental
para a sociedade.
Anastasi e Urbina (2000) caracterizam testes psicolgicos como uma
amostra comportamental, uma medida objetiva e padronizada de uma amostra
de comportamento. Referindo-se especificamente ao instrumento, enquanto
condio estmulo, mais do que aos resultados, Da Silva (2003) define teste
psicolgico como uma situao experimental padronizada que serve de
estmulo a um dado comportamento ou construto que se pretende mensurar.
Esse comportamento avaliado mediante uma comparao estatstica com
comportamentos similares de outros indivduos na mesma situao (Da Silva,
2003, p. 149).
20
-
Na construo dos testes psicolgicos essencial a verificao e garantia
de propriedades ou caractersticas desse instrumento, que so fidedignidade,
validade, padronizao e ausncia de vieses (Alchieri & Cruz, 2004; Anastasi &
Urbina, 2000, Da Silva, 2003; Pasquali, 2003). A verificao das caractersticas
psicomtricas dos testes tem sido tema de vrios estudos no Brasil no sentido de
melhorar sua qualidade (Alchieri & Cruz, 2004) e se consolida atualmente no pas
com a sistemtica de avaliao pelo Conselho Federal de Psicologia3.
Atendendo a esta exigncia, durante e aps a construo dos itens,
devem ser realizados vrios procedimentos com a finalidade de assegurar e
verificar as caractersticas de fidedignidade e validade do instrumento, aqui se
incluindo a anlise de itens que visa simultaneamente as duas caractersticas
anteriores e que ser tratado separadamente ao final desta seo (Anastasi &
Urbina, 2000, Da Silva, 2003; Pasquali, 2003).
A fidedignidade ou confiabilidade de um teste refere-se consistncia
dos escores obtidos pelas mesmas pessoas quando elas so reexaminadas com o
mesmo teste em diferentes ocasies, ou com diferentes conjuntos de itens
equivalentes, ou sob outras condies variveis de exame (Anastasi & Urbina,
2000, p.84). H vrios mtodos utilizados para estimar a fidedignidade, dentre os
quais pode-se destacar:
a) Teste-reteste. Consiste em repetir o teste aps um tempo determinado
na mesma populao avaliando a persistncia dos resultados. Esta seria a forma
mais bvia ou mais direta de verificar a fidedignidade dos escores de um teste
(Anastasi & Urbina, 2000; Da Silva, 2003). Neste caso, o coeficiente de
fidedignidade a correlao entre os escores obtidos pelas mesmas pessoas nas
duas aplicaes, correlao produto-momento de Pearson (Da Silva, 2003). A 3 www.pol.org.br
21
-
fonte de varincia de erro considerada no teste-reteste a amostragem de
tempo.
b) Formas paralelas ou forma-alternada. Consiste em aplicar duas verses
equivalentes de um mesmo teste, em que ambas meam o mesmo construto,
porm com diferentes itens. O coeficiente de fidedignidade obtido
calculando-se a correlao produto-momento de Pearson entre os escores das
duas formas. Este coeficiente uma medida tanto da estabilidade temporal
quanto da consistncia da resposta a diferentes itens. A fonte de varincia de
erro considerada nas formas paralelas a amostragem de contedo ou tempo e
contedo na forma retardada.
c) Mtodo das metades ou split half. Esta uma forma de estimar a
fidedignidade bastante semelhante ao das formas paralelas, porm, ao invs de
ser aplicado outro teste (paralelo) um mesmo teste dividido ao meio e suas
metades so correlacionadas. A base desta verificao tambm a correlao
produto-momento de Pearson, que representa a correlao de metade do teste,
porm, para obter a fidedignidade total do teste deve-se aplicar a frmula
Spearman-Brown. A fonte de varincia de erro considerada no mtodo das
metades a amostragem de contedo.
d) Fidedignidade de Kuder-Richardson e Coeficiente Alfa. Esta forma
baseia-se na consistncia das respostas a todos os itens do teste; consistncia
interiten que influenciada por duas fontes de varincia de erro: amostragem do
contedo e heterogeneidade do domnio comportamental amostrado. Esta
medida calculada a partir da frmula de Kuder-Richardson ou coeficiente alfa
(Anastasi & Urbina, 2000).
O conceito de validade de um teste refere-se quilo que o teste mede e
se o faz bem (Anastasi & Urbina, 2000). A validade nos diz a respeito do que o
22
-
teste est medindo, ou seja, o seu significado. Desta forma, dizer que um teste
apresenta boas medidas de validade dizer que realmente tem capacidade de
medir o que est se propondo a medir. consenso na psicometria que a prova
de validade das medidas na cincia psicosocial indispensvel (Anastasi &
Urbina, 2000; Da Silva, 2003; Pasquali, 2003). Segundo Da Silva (2003) a validade
a caracterstica mais importante na avaliao de um teste; a medida de quo
til um teste, se ele est ou no mensurando os atributos do mundo real que se
prope a mensurar. Desde o incio da construo de um teste a validade deve
ser objeto de preocupao, j desde a escolha dos itens (Anastasi & Urbina,
2000). Para o desenvolvimento de um teste vlido so aplicados vrios
procedimentos durante todo processo de construo do mesmo.
H vrias formas de estimar a validade, mas importante ressaltar que se
trata de uma propriedade que cumulativamente construda por um conjunto
de evidncias. A seguir descreveremos os vrios tipos de validade.
a) Validade Aparente. A validade aparente refere-se ao processo de
aceitabilidade dos itens do teste tanto quanto pelo construtor do teste quanto
pelo examinando, com relao operao que est sendo desempenhada
(Da Silva, 2003, p. 155). Anastasi e Urbina (2000) destacam que este conceito no
se refere ao contedo que efetivamente o teste mede e, sim, ao que ele parece
medir, no sentido que causar uma boa impresso ao sujeito facilitando a
seriedade em sua execuo.
b) Validade de contedo. Este tipo de validade de um teste examina a
extenso em que a especificao sobre a qual ele foi construdo reflete o
propsito para o qual est ele sendo desenvolvido (Da Silva, 2003, p. 155).
Verifica se o teste abrange amostra representativa das habilidades e
conhecimentos especificados e se o desempenho do sujeito no teste est livre de
23
-
variveis irrelevantes (Anastasi & Urbina, 2000). Ou seja, de forma mais geral,
pode-se dizer que a validade de contedo se refere ao quanto um conjunto de
itens (o teste) representativo de um universo definido.
c) Validade preditiva (de critrio). uma estatstica de validade e indica a
efetividade do teste para predizer o desempenho de um sujeito em atividades
especificadas por um perodo de tempo. A validade preditiva determina o valor
prognstico de um teste, ou seja, se aquilo que foi previsto realmente
confirmado com os resultados do teste (Da Silva, 2003).
d) Validade concorrente. uma validade estatstica e descreve a
correlao de um novo teste com outros j existentes que medem supostamente
o mesmo tipo de construto (Da Silva, 2003). Segundo Anastasi e Urbina (2000), a
validade concorrente atende ao objetivo especfico de medir as habilidades
disponveis no momento da testagem e no depois como no caso da validade
preditiva.
e) Validade de construto - Anlise fatorial. A Validade de construto de um
teste, segundo Anastasi e Urbina (2000), pode ser verificada utilizando-se o
procedimento de anlise fatorial. A Anlise Fatorial est intimamente ligada
validade de um teste (Laros, 2002; Anastasi & Urbina, 2000). Trata-se de uma
tcnica estatstica, derivada da matemtica, imprescindvel para a psicometria,
principalmente para validao de testes psicolgicos (Pasquali, 2002); Laros
(2002) esclarece que um dos procedimentos psicomtricos mais utilizados para
a construo e reviso de instrumentos de avaliao psicolgica. Anastasi e
Urbina (2000) destacam a relevncia da anlise fatorial procedimentos de
validao de construto, j que um meio de identificao de traos
psicolgicos medidos pelo teste.
24
-
A Anlise Fatorial consiste em uma srie de tcnicas estatsticas utilizando
anlises multivariadas e matrizes de intercorrelaes entre as variveis envolvidas
(itens do teste). Tem como finalidade verificar a possibilidade de agrupar vrios
itens do teste numa nica varivel ou dimenso, nomeada fator, no qual as
variveis envolvidas encontram-se relacionadas (Pasquali, 2003; Tabachnick &
Fidell, 2001). Em outras palavras, a Anlise Fatorial serve para verificar a
dimensionalidade do instrumento, ou seja, se ele mede um fator (construto)
apenas ou quantos fatores ele esta avaliando e quais itens compem cada fator
(Pasquali, 2002).
A carga fatorial de cada item varia de 1.0 a +1.0 e mostra a relao
(expressa pela correlao ou covarincia) deste com o fator, sendo que, quanto
maior a carga mais relacionado est. Neste sentido, itens com cargas fatoriais
altas em determinado fator (itens unidimensionais) devem constitu-lo, enquanto
que itens cargas fatoriais baixas (prximo de zero) para determinado fator so
estranhos a ele e devem ser descartados (Pasquali, 2003).
A anlise fatorial feita a partir de uma matriz de correlaes, ou seja, os
resultados das diversas variveis envolvidas em determinado estudo so
correlacionados entre si formando esta matriz de correlaes e a entra a anlise
fatorial (Pasquali, 1999). Ou seja, esta tcnica analisa inter-relaes de dados
comportamentais (Anastasi & Urbina, 2000). Segundo Laros (2002), h vrios tipos
de usos e tcnicas de anlise fatorial (confirmatrias e exploratrias) que devem
ser definidos pelo pesquisador, conforme os seus objetivos, e tambm diversas
decises a serem tomadas pelo pesquisador em conjunto com o estatstico com
relao natureza e tamanho da amostra, adequao da distribuio das
variveis observadas, seleo das variveis a serem submetidas anlise,
incluso de variveis marcadoras, nmero e fatores extrair, anlise de
25
-
componentes principais ou comum, procedimento de rotao, interpretao
dos resultados, investigao de soluo hierrquica, clculo de escores fatoriais,
realizao de estudo de validade cruzada, investigao da invarincia da
estrutura fatorial em amostras diferentes, seleo dos resultados na publicao.
A Anlise Fatorial produz escores fatoriais, ou seja, estimativas dos
escores dos indivduos que compem a amostra, medidos em termos de
cada um dos fatores obtidos. Pode se dizer que os escores fatoriais
correspondem a uma combinao linear das estimativas dos fatores
obtidos na anlise fatorial, ou seja, os escores fatoriais podem ser
representados por uma regresso dos fatores sobre as variveis
padronizadas (Tabachnick & Fidell, 1996).
Alm dos mtodos anteriores, um procedimento importante, j durante a
construo dos itens de um instrumento, para assegurar sua validade e
fidedignidade a Anlise de Itens. Anastasi e Urbina (2000) apresentam duas
formas de analisar os itens: quantitativa (propriedades estatsticas) e
qualitativamente (quanto ao seu contedo e forma). A anlise qualitativa
compreende a considerao da validade de contedo e avaliao dos itens
quanto sua redao. A anlise quantitativa trata da mensurao da
dificuldade e do poder de discriminao de cada item. Os itens devem ser
analisados cuidadosamente pelo pesquisador, de forma a garantir,
antecipadamente, um instrumento confivel. Neste sentido, Pasquali (1999)
tambm sugere uma anlise terica dos itens a fim de assegurar a validade de
um teste, ou seja, verificar se os itens realmente representam o construto a ser
avaliado. Esta anlise terica constitui-se de Anlise Semntica dos Itens e
Anlise de Juzes. A Anlise Semntica tem como objetivo verificar se os itens so
26
-
compreensveis para todo o pblico alvo (se so inteligveis para extratos
avanados em escolaridade e se so elegantes para uma amostra mais
sofisticada). A Anlise dos Juzes, tambm chamada de anlise de contedo,
tem como objetivo verificar se os comportamentos avaliados em cada item
esto verdadeiramente representando o construto a ser avaliado.
1.2.2. Vantagens e limitaes dos instrumentos de auto-relato (inventrios)
Os inventrios so instrumentos h muito utilizados para avaliao das
habilidades sociais, especialmente os de auto-relato com adultos, deste o incio
do surgimento do Treinamento Assertivo. H uma gama de inventrios de
habilidades sociais na literatura, enfocando tanto a avaliao da dimenso
comportamental como tambm a cognitivo-afetiva das habilidades sociais (Del
Prette & Del Prette, 1999).
Trower (1995) coloca as medidas de auto-relato como uma das formas de
avaliao possveis em habilidades sociais que, apesar de receber crticas por
suas limitaes (simplismo com relao natureza da interao social,
problemas de descontextualizao e linguagem), tm evoludo no sentido de
aceitao psicomtrica e possibilidades de anlises estatsticas das
caractersticas da interao social.
Com relao a instrumentos de auto-relato, Caballo (1993) afirma que a
estratgia mais empregada para avaliao de habilidades sociais tanto de
forma geral como para atributos especficos (i.e., ansiedade). Em pesquisas,
permite avaliar grande quantidade de sujeitos em pouco tempo com economia
de tempo e energia, explorando grande amplitude de comportamentos, muitos
deles de difcil acesso pblico (observao). Na clnica, permite uma rpida
viso das dificuldades do cliente, que posteriormente sero investigadas de
outras formas. Tambm como medida pr e ps-treino.
27
-
A idia bsica subjacente a estas medidas parece ser geralmente a
mesma: conseguir uma amostra representativa das respostas de um sujeito
a um conjunto de temas supostamente selecionados as partir de uma
rea comum de situaes interpessoais (Caballo, 1993, p. 123).
Tal como outros mtodos de avaliao, os instrumentos de auto-relato
devem ser utilizados com cautela e sempre associados a outros mtodos, sob
uma perspectiva multimodal que considera o carter multidimensional das
habilidades sociais.
A despeito dos ganhos decorrentes da possibilidade de avaliar
competncia social e habilidades sociais e do emprego do auto-relato para esta
finalidade, h tambm dificuldades a serem consideradas.
Uma das dificuldades encontradas na avaliao das habilidades sociais,
segundo Del Prette e Del Prette (1999), a diversidade dos conceitos de
competncia social e habilidades sociais, decorrentes da multidimensionalidade
do desempenho social e heterogeneidade de seus componentes. Alem disso, os
autores apontam como dificuldade a falta de consenso na definio de
competncia social.
Outro aspecto, inerente avaliao de construtos psicolgicos em geral,
e, portanto, tambm o de habilidades sociais, a falta de um critrio externo
para validar os resultados da avaliao. Porm, a prpria Psicometria se
encarrega de minimizar isto, propondo a utilizao de critrios e testes de
fidedignidade. Isto se d atravs de vrias estratgias, tais como: avaliao da
sensibilidade da escala a efeitos de tratamento, anlises de correlao entre
escalas, avaliao do grau em que as pontuaes se relacionam com um
critrio independente, exames das relaes entre escalas e os testes tradicionais
de personalidade.
28
-
1.2.3 Instrumentos e procedimentos para a avaliao de habilidades
sociais conjugais
Apesar do avano recente na produo de conhecimentos da
psicometria no Brasil, ainda so escassos instrumentos validados para analisar a
qualidade do relacionamento conjugal, principalmente no que se refere s
habilidades sociais dos cnjuges. Investimentos nesta rea so muito importantes
para o campo prtico da terapia conjugal e de programas educativos ou
preventivos nesta rea, o que lhe confere validade social.
No mbito internacional, apesar da grande quantidade de testes
disponveis para avaliao de variveis ligadas ao casamento e famlia,
tambm encontram-se dificuldades, visto que, entre outros problemas, h uma
proliferao de medies sem ateno adequada s qualidades psicomtricas
(Snyder, Cozzi & Mangrum, 2002). Com isso, segundo os mesmos autores, h
pouco consenso sobre os constructos relevantes interveno conjugal e
familiar, bem como sobre tcnicas para avali-los.
Vrios autores tm destacado a importncia da avaliao em habilidades
sociais (Del Prette & Del Prette, 1999; Caballo, 1993; McDonel, 1995; Trower, 1995).
Linehan (1984) afirma que uma terapia efetiva em assertividade passa
obrigatoriamente pela avaliao, que deve ser realizada utilizando-se diferentes
mtodos.
Apesar dos vrios critrios para qualificar um comportamento como
socialmente competente, h atualmente um consenso pelo menos de que: (a)
uma boa avaliao depende de conceitos bem definidos e, nesse sentido, a
diferenciao entre habilidades sociais e competncia social importante para
se caracterizar exatamente o que est sendo avaliado; (b) as habilidades sociais
e a competncia social so conceitos multidimensionais e, por isso, precisam ser
29
-
avaliados sob um enfoque multimodal (Del Prette & Del Prette, 2004; 2005), ou
seja, por meio de diferentes instrumentos, procedimentos e informantes. Tendo
em vista esta necessidade, Del Prette e Del Prette (1999) apresentam cinco
conjuntos de metodologias usualmente citadas na literatura referente a tcnicas
de avaliao em habilidades sociais: (a) auto-relato (entrevistas, inventrios); (b)
observao em situao natural e estruturada; (c) testes de desempenho de
papis; (d) avaliao por outros significantes e; (e) medidas fisiolgicas. Esses
autores destacam que, dado o carter multidimensional (que envolve
componentes comportamentais, cognitivo-afetivos e fisiolgicos) e situacional-
cultural das habilidades sociais, as limitaes inerentes a cada um desses
instrumentos ou procedimentos recomendam entend-los como
complementares, sob a perspectiva multimodal (Del Prette & Del Prette, 2003;
2005; Del Prette, Monjas & Caballo, s.d.).
Dentre os diversos procedimentos e instrumentos de avaliao antes
referidos, as medidas de auto-relato, mais especificamente aquelas obtidas por
meio de inventrios, so as mais extensivamente utilizadas porque apresentam
diversas vantagens em sua utilizao, embora tambm existam limitaes que
no podem ser ignoradas.
Um instrumento para avaliar habilidades sociais conjugais
Diante da importncia da avaliao em habilidades sociais e da carncia
de instrumentos disponveis em nosso meio, especialmente para o contexto
especfico do relacionamento conjugal, iniciou-se a construo do Inventrio de
Habilidades Sociais Conjugais (IHSC).
Os itens do IHSC foram elaborados como de auto-relato, originalmente
adaptados do Inventrio de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette, Del Prette & Del
Prette, 2001), que aborda diferentes aspectos envolvidos no desempenho
30
-
socialmente competente e solicita que os respondentes avaliem a freqncia
com que se comportam da maneira descrita em cada item. Esta freqncia
deve ser um indicativo das caractersticas do repertrio do respondente,
produzindo um escore geral do repertrio habilidades sociais do indivduo.
Histrico
O processo de construo do instrumento de avaliao do repertrio de
habilidades sociais especficas ao contexto conjugal, denominado Inventrio de
Habilidades Sociais Conjugais (IHSC), iniciou-se em 1997 com um estudo intitulado
Maximizao das relaes conjugais atravs de um Treinamento em
Habilidades Sociais para casais (Bratfisch, 1997). Naquele estudo foi realizado um
Treinamento de Habilidades Sociais para casais e verificou-se a necessidade de
um instrumento que avaliasse o repertrio social dos cnjuges antes e aps o
programa de interveno.
Antes disso, porm, destacamos o trabalho de Z. A. P. Del Prette e A. Del
Prette (2001), de construo e normatizao do Inventrio de Habilidades Sociais
(IHS-Del-Prette), com base no qual foi elaborada a primeira verso do instrumento
em questo (Inventrio de Habilidades Sociais Conjugais, IHSC). O IHS-Del-Prette
um instrumento construdo segundo as normas psicomtricas atuais, validado,
normatizado e inclusive comercializado no pas, com o parecer favorvel do
Conselho Federal de Psicologia.
Seguindo-se ao primeiro estudo, uma pesquisa denominada Habilidades
sociais conjugais e religio permitiu a aplicao e uma anlise inicial das
propriedades psicomtricas do IHSC, que foi aplicado a uma populao de 148
sujeitos. Com base nessas anlises, o instrumento foi reformulado para uso no
presente estudo, que inclui objetivos de reviso das propriedades psicomtricas
desta nova verso.
31
-
Relacionamento conjugal
Habilidades Sociais
1.2.4. A elaborao inicial do IHSC
A construo dos itens do IHSC baseou-se na literatura e em dados
empricos. O IHSC, de certa forma, envolve duas reas da Psicologia, sendo uma
interseco das mesmas como representa a figura seguinte:
Em sua primeira verso (Villa, 2002), a composio dos itens do IHSC foi
mais diretamente baseada nas habilidades contempladas pelo IHS-Del-Prette
com vrias delas (como falar em pblico, abordar autoridade, abordar
desconhecidos) sendo substitudas por outras especficas para o contexto
conjugal; na segunda verso (objeto do presente estudo) foram includas novas
habilidades, a partir do levantamento, na literatura da rea de relacionamento e
terapia conjugal, daquelas consideradas importantes que no estavam
contemplados na verso anterior. Assim, a verso atual do IHSC contempla um
conjunto de habilidades que, conforme a literatura especializada, so
pertinentes e potencialmente relevantes para a qualidade do relacionamento
no contexto conjugal.
A construo do IHSC deu-se durante um longo processo, cujas fases de
construo buscaram sempre atender os requisitos metodolgicos bsicos
apontados pelos principais autores da rea (destacando-se, aqui, Pasquali, 1999;
e Anastasi & Urbina, 2000). Utilizando-se procedimentos como anlise semntica
dos itens, anlise de contedo, anlise fatorial e anlises de correlao entre
itens, foi feita a retirada e adaptao de alguns itens, reformulando-se
32
-
sistematicamente o instrumento at o formato atual. As etapas de construo do
instrumento sero descritas sucintamente a seguir em tpicos e na prxima seo
os procedimentos utilizados sero descritos em detalhes:
1. Formulao dos itens com base no IHS-Del-Prette (Del Prette, Z. & Del
Prette, A., 2001), efetuando-se sua adaptao para situaes e
interlocutores do contexto conjugal;
2. Verificao da quantidade e distribuio dos itens, anlise semntica,
anlise de constructo por juzes qualificados;
3. Aplicao piloto e reformulaes na redao e seqncia dos itens;
4. Aplicao em amostra de 148 sujeitos e realizao de anlises estatsticas
preliminares;
5. Anlise fatorial inicial, que permitiu a identificao de cinco fatores que
agruparam os itens e permitiram nomear as classes mais gerais de
habilidades sociais contempladas no instrumento;
6. Anlise das caractersticas psicomtricas iniciais do instrumento: validade
(anlise fatorial), fidedignidade (Coeficiente alfa indicando a consistncia
interna do teste).
Buscando atender s exigncias fundamentais para construo de um
teste psicolgico, o IHSC passou por vrios procedimentos durante sua
construo e h ainda alguns a serem realizados no sentido de assegurar
caractersticas psicomtricas aceitveis, que so descritos a seguir.
- Elaborao dos itens: nesta fase foram realizadas a anlise semntica e a
anlise por juzes (de forma simplificada) chegando-se a itens mais
compreensveis para o respondente potencial e mais representativos do
construto avaliado, segundo pesquisadores experientes da rea. Na elaborao
33
-
da segunda verso, ocasio do acrscimo de itens, estes passaram novamente
por anlise semntica;
- Quanto validade aparente, o IHSC mostrou-se adequado com itens
que realmente aparentavam relevncia e relao com o tema abordado;
- Aps a primeira aplicao, o inventrio foi submetido anlise fatorial
que agrupou os itens em cinco fatores. Alguns itens, que no entraram em
nenhum dos fatores foram eliminados. O coeficiente alfa para cada fator, variou
de 0,8527 a 0,4297, indicando alguma fidedignidade. Tambm aps a primeira
aplicao, foi encontrado um Alpha de Cronbach = 0,807, valor que indica uma
boa consistncia interna do teste.
1.2.5. Procedimentos de reformulao do instrumento IHSC
Tendo em mos os resultados das anlises psicomtricas feitas com o IHSC
em estudos anteriores, foram realizadas reformulaes no instrumento e nova
coleta de dados seguindo as seguintes etapas: (a) reformulaes no instrumento
a partir dos resultados da anlise fatorial (retirada de itens com baixo poder de
explicar a varincia de fatores); (b) retirada de itens que avaliavam a mesma
habilidade e apresentaram correlao significativa com outros; (c) acrscimo de
itens no instrumento, com contedos considerados importantes segundo novo
levantamento da literatura na rea de relacionamento conjugal; (d) estudo
piloto; (e) reformulaes de formato; (f) nova aplicao; (g) novas anlises
psicomtricas.
Descreve-se, a seguir, mais detalhadamente cada uma destas etapas e as
reformulaes realizadas nos itens do IHSC, a partir dos resultados das anlises
psicomtricas realizadas no estudo com 148 sujeitos e de nova reviso
bibliogrfica.
34
-
A verso inicial do IHSC contemplava quatro classes de habilidades
(habilidades gerais de comunicao, civilidade, assertividade direito e
cidadania, e expresso de sentimento positivo) descritas na literatura (Del Prette,
A. & Del Prette, Z. 2001). Com base no primeiro estudo (Villa, 2002), verificou-se,
posteriormente que os itens do instrumento no estavam contemplando algumas
classes de habilidades apontadas na literatura como importantes no
relacionamento conjugal e que alguns itens, abordando habilidades
semelhantes, poderiam ser retirados.
Como vrios itens podiam contemplar uma mesma classe de habilidades
sociais, para aperfeioar o contedo do instrumento, procedeu-se, inicialmente,
a uma anlise das classes que estavam sendo avaliadas em cada item
(Apndice 1). Verificou-se que o instrumento contemplava quatro classes de
comportamentos, duas com mais de um item (habilidades de comunicao e
assertivas) e duas com somente um. Tambm se constatou, ento, que trs outras
classes, analisadas como relevantes para o contexto conjugal (seo 1.1.1.) no
estavam contempladas no instrumento (automonitoramento, habilidades
empticas e de resoluo de problemas).
A Tabela 1 mostra a quantidade e quais habilidades especficas estavam
contempladas em cada uma das classes identificadas na verso inicial do IHSC.
35
-
Tabela 1 Classes gerais e habilidades avaliadas na verso inicial do IHSC
Classes de habilidades sociais Habilidades especficas avaliadas Nmero de itens
Elogiar 2
Iniciar e manter conversao 1
Encerrar conversao 1
Fazer perguntas 1
Habilidades gerais de
comunicao
Fornecer feedback 1
Habilidade de civilidade Agradecer 2
Discordar 4
Fazer pedidos 3
Recusar pedidos 2
Expressar desagrado 3
Manifestar opinio 4
Habilidades Assertivas,
direito e cidadania
Estabelecer relacionamento sexual 1
Expresso de sentimento
positivo
Cultivar o amor 3
No caso de alguns itens que avaliavam a mesma habilidade dentro de
determinada classe e envolviam a mesma situao e interlocutores, decidiu-se
verificar a possibilidade de retir-los do inventrio para evitar que se tornasse
muito extenso e repetitivo. Para selecionar tais itens, foi realizado um estudo de
correlao (Spearman) entre os itens que eram semelhantes (Apndice 2). Os
resultados mostraram correlaes significativas entre os itens que tratavam da
mesma habilidade. Diante das semelhanas entre os itens e correlaes
significativas encontradas entre estes, permaneceram os julgados mais
apropriados, sendo retirado um dos itens dos pares correlacionados4.
4 As correlaes encontradas entre os itens apresentados, apesar de significativas, no justificariam por si s a retirada dos mesmos, j que os itens no so colineares. Porm, somando-se o fato dos itens avaliarem a mesma habilidade, num mesmo contexto e com mesmos interlocutores s correlaes significativas julgou-se apropriada a retirada destes.
36
-
A retirada dos itens repetitivos permitiu a incluso de outros com base nas
classes ainda no suficientemente contempladas, conforme se descreve a
seguir.
Automonitoramento: Gottman e Rushe (1995) colocam como uma das
reas a serem trabalhadas pela Terapia Conjugal Mnima o acalmar-se e
identificar estados de DPA, o que pode ser tratado como um componente da
habilidade de automonitoramento. O autocontrole tambm estaria presente
nesta classe, sendo definido por Hanna & Ribeiro (2005) como uma resposta
emitida deliberadamente para reduzir impulsos. Assim, os itens acrescentados
foram:
- Autocontrole: Durante uma discusso, ao perceber que estou
descontrolada emocionalmente (nervosa) consigo me acalmar antes de
continuar a discusso.
- Identificar estados emocionais: Em meio a uma discusso consigo
perceber quando eu ou meu cnjuge estamos abalados (nervosos) e que hora
de encerrar a conversa.
Habilidades empticas: Gottman e Rush (1995) destacam que uma
Terapia Conjugal Mnima implica em promover a capacidade dos cnjuges em
validar os sentimentos do outro. Para atender esta demanda acrescentaram-se
os itens:
- Validar sentimentos: Quando meu cnjuge est chateado por algum
motivo, procuro compreender seus sentimentos e expresso isto a ele.
- Manifestar apoio: Se meu cnjuge est sofrendo por algum problema
tenho dificuldade em fazer algo para demonstrar meu apoio.
37
-
Comunicao: Apesar de j existirem alguns itens sobre comunicao,
constatou-se que nenhum deles tratava especificamente de ouvir o cnjuge,
que Gottman e Rush (1995) referem como ouvir no defensivo e que a
literatura das habilidades sociais destaca a importncia em termos de ouvir com
ateno. Para preencher essa lacuna, os itens acrescentados foram:
- Ouvir no defensivo: Quando meu cnjuge e eu estamos conversando,
costumo ouvir e entender o que ele tem a dizer para depois manifestar minha
opinio.
- Ouvir com ateno: Quando meu cnjuge est me falando sobre algo
importante para ele, ouo com ateno.
Desculpar-se: esta importante habilidade no estava sendo abordada na
verso original do IHSC. Ela categorizada, segundo Del Prette, A. e Del Prette, Z.
(2001) como uma subclasse da classe das habilidades de assertividade, direito e
cidadania. Segundo esses autores, desculpar-se no uma tarefa
emocionalmente fcil, porm importante no somente para a relao como
para o autoconceito e auto-estima de quem est se comportando. Sem dvida,
trata-se de uma habilidade ainda mais crtica quando se trata de
relacionamentos ntimos e foi contemplada na nova verso do IHSC.
- Se cometi alguma falha para com meu cnjuge procuro pedir
desculpas.
Resoluo de problemas: esta habilidade apontada por vrios autores
(Gottman & Rushe, 1995; 2000; Rang & Dattilio, 1995; Snyder, Cozzi, & Luebbert,
2001) como essencial para o bom relacionamento interpessoal e conjugal e foi
includa do IHSC.
38
-
- Quando temos problemas em comum para resolver, conseguimos
conversar e chegar a um acordo sobre o que fazer.
Aps a retirada e o acrscimo de itens conforme descritos, dentre outras
alteraes simples de linguagem, o IHS-Del-Prette passou pela aplicao piloto,
outras alteraes simples e ento por nova aplicao (consta dos
procedimentos de coleta de dados).
Assim, foram retirados sete itens dos 31 inicialmente constantes no
inventrio e foram acrescentados 8 itens, resultando no IHSC utilizado neste
estudo, com 32 itens.
1.3. Justificativa e objetivos
O presente estudo representa o encaminhamento, em termos de
investigao emprica, da preocupao, referida na primeira parte da
justificativa deste trabalho, com a relao entre habilidades sociais conjugais,
habilidades sociais gerais e satisfao conjugal, bem como com a preocupao,
delineada na segunda parte, com o aperfeioamento de um instrumento para
avaliar as habilidades sociais conjugais. Embora o instrumento seja condio
para o encaminhamento da investigao emprica daquelas relaes,
entendeu-se que seu aperfeioamento poderia ser conduzido paralelamente
em uma seqncia de tarefas e procedimentos.
Assim, em relao questo emprica, as consideraes anteriores
sugerem que, dado o carter situacional das habilidades sociais, um bom
repertrio de habilidades sociais gerais no se reverte, necessariamente, em um
bom repertrio de habilidades sociais conjugais. Por outro lado, so escassos os
estudos que relacionam habilidades sociais (sejam elas gerais ou especficas do
relacionamento conjugal) satisfao conjugal. Com relao a essas
39
-
consideraes, este estudo tem, como parte de seus objetivos: (a) caracterizar o
repertrio de habilidades sociais conjugais, habilidades sociais gerais e satisfao
conjugal de uma amostra de sujeitos casados, aqui se incluindo a associao
dessas variveis com caractersticas scio-demogrficas (sexo, idade,
escolaridade, nmero de filhos e tempo de casamento); e (b) analisar as
correlaes entre habilidades sociais conjugais, habilidades sociais gerais e
satisfao conjugal, verificando-se, adicionalmente, o quanto a satisfao de
cada um dos cnjuges est relacionada s habilidades sociais gerais e conjugais
do parceiro.
Para viabilizar o encaminhamento desses objetivos e, adicionalmente
contribuir para futuras pesquisas da rea de relacionamento conjugal, um
objetivo adicional deste estudo foi o de aperfeioar o Inventrio de Habilidades
Sociais Conjugais e verificar as caractersticas psicomtricas de sua segunda
verso.
2. MTODO
2.1. Amostra
Foram sujeitos deste estudo 406 pessoas, sendo 149 casais (com
participao de marido e esposa) e 108