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Identidade e Diferença na Educação Inclusiva
Cláudia Abreu e Dênis Roberto da Silva Petuco
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Autores
Tomaz Tadeu da Silva dedica-se a escrever nas áreas de teoria pós-crítica do currículo e de Estudos Culturais. É professor da UFRGS.
Stuart Hall é jamaicano, conhecido por seu papel pioneiro no campo dos Estudos Culturais. É professor na pen University, em Londres.
Kathryn Woodward é professora na Open University.
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Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitualKathryn Woodward
Estou falando com soldados sérvios – reservistas cansados, de meia idade, que preferiam estar em casa, na cama. Estou tentando compreender porque vizinhos começam a se matar uns aos outros. Digo, primeiramente, que não consigo distinguir entre sérvios e croatas. “O que faz vocês pensarem que são diferentes?”
O homem com quem estou falando pega um maço de cigarros do bolso de sua jaqueta cáqui. “Vê isto? São cigarros sérvios. Do outro lado, eles fumam cigarros croatas.”
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“Mas são ambos cigarros, certo?”
“Vocês estrangeiros não entendem nada” – ele dá
de ombros e começa a limpar a metralhadora
zastovo.
Mas a pergunta que eu fiz incomoda-o, de forma
que, alguns minutos mais tarde, ele joga a arma
no banco ao lado e diz: “Olha, a coisa é assim.
Aqueles croatas pensam que são melhores que
nós. Eles pensam que são europeus finos e tudo
o mais. Vou lhe dizer uma coisa. Somos todos
lixos do Bálcãs” (Ignatieff, p. 7).
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Introdução
Identidade é relacional (p. 9);
Identidade é simbólica (pp. 9-10);
Identidade e gênero (pp. 10-11);
Ressignificação do passado (p. 11)
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1. Por que o conceito de identidade é importante?
Crítica ao essencialismo (pp. 15-19);
Representação e significação (p. 17);
Ênfase: processos de identificação (p. 18);
Poder e produção de sentidos (pp. 18-19);
As identidades são contestadas (p. 19).
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2. Existe uma crise de identidade?
Globalização e homogeneidade (p. 21);
Globalização e migração (p. 21);
Identidades plurais e contestadas (p. 21);
Diáspora em Gilroy (p. 22);
Passado resolve o presente (p. 23);
“Comunidade imaginada” (pp. 23-24);
Política da identidade (p. 25).
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2.1 Histórias
História e identidade (p. 25);
Pluralidade histórico-metodológica (pp. 26-27);
Duas formas de se pensar a identidade:
Essencialismo histórico e/ou biológico;
Ser e tornar-se (pp. 27-28).
Différance em Derrida (p. 28).
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2.2 Mudanças sociais
Deslocamento em Laclau (p. 29);
Novos movimentos sociais (p. 29);
Campo em Bourdieu (p. 30);
Novas identidades (p. 31);
Intimidade é política (p. 32);
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2.3 Os “novos movimentos sociais”: o pessoal é político
Novos movimentos sociais (p. 33);
Política da identidade (p. 34);
Autonomia e determinação (p. 35);
Pauta destes movimentos sociais (pp. 35-37): Crítica ao determinismo de classe;
Questionamento ao essencialismo.
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3. Como a diferença é marcada em relação à identidade?3.1 Sistemas classificatórios
Identidades são fabricadas por marcação de diferença (p. 39);
Diferença e classificação (p. 40); Atribuição de sentido (p. 40);
Sagrado-profano, pureza-perigo em Mary Douglas (pp. 41-42);
Estruturas duais em Levi-Strauss (pp. 43-45); Sujeira e desordem em Mary Douglas (pp. 46-48).
Habitus em Bourdieu (pp. 48-49).
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3.2 A diferença
Estruturas duais em Levi-Strauss (p. 50);
Hierarquia em Cixous (pp. 50-52);
Différance em Derrida (p. 53).
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4. Por que investimos nas identidades?4.1 Identidade e subjetividade
“A subjetividade envolve nossos sentimentos e
pensamentos mais pessoais. Entretanto, nós
vivemos nossa subjetividade em um contexto social
no qual a linguagem e a cultura dão significado à
experiência que temos de nós mesmos e no qual
nós adotamos uma identidade” (p. 55)
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4.2 Dimensões psicanalíticas
Interpelação em Althusser (p. 59);
Ideologia interpela sujeitos (p. 60);
Investir em uma identidade (p. 61);
Conflitos inconscientes em Lacan (p. 63);
Linguagem em Lacan (p. 63);
Falta em Lacan (p. 64);
Críticas feministas a Lacan (pp. 65-66).
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Conclusão
A identidade tem se destacado como uma questão central
nas discussões contemporâneas, no contexto da
reconstruções globais das identidades nacionais e étnicas e
da emergência dos “novos movimentos sociais”, os quais
estão preocupados com a reafirmação das identidades
pessoais e culturais. Esses processos colocam em questão
uma série de certezas tradicionais, dando força ao
argumento de que existe uma crise da identidade nas
sociedade contemporâneas. (p. 69)
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Conclusão
Os sistemas sociais e simbólicos produzem as estruturas classificatórias que dão um certo sentido e uma certa ordem à vida social e as distinções fundamentais [...] que estão no centro dos sistemas de significação da cultura. Entretanto, esses sistemas classificatórios não podem explicar sozinhos o grau de investimento pessoal que os indivíduos tem nas identidades que assumem. A discussão das teorias psicanalíticas sugeriu que, embora as dimensões sociais e simbólicas da identidade sejam importantes para compreender como as posições de identidade são produzidas, é necessário estender essa análise, buscando compreender aqueles processos que asseguram o investimento do sujeito em uma identidade (p. 68)
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A produção social da identidade e da diferençaTomaz Tadeu da Silva
Quais as implicações políticas de conceitos como diferença, identidade, diversidade, alteridade? O que está em jogo na identidade? Como se configuraria uma pedagogia e um currículo que estivesse centrados não na diversidade, mas na diferença, concebida como processo, uma pedagogia e um currículo que não se limitassem a celebrar a identidade e a diferença, mas que buscassem problematizá-las? É para questões como essas que se volta o presente ensaio. (p. 74)
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1. Identidade e diferença: aquilo que é e aquilo que não é
Por trás da afirmação “sou brasileiro” deve-se ler:
“não sou argentino”, “não sou chinês”, “não sou
japonês” e assim por diante [...]. Admitamos,
ficaria muito complicado [...]. (p. 75)
[...] na perspectiva que venho tentando
desenvolver, identidade e diferença são vistas
como mutuamente determinadas. (p. 76)
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2. Identidade e diferença: criaturas da linguagem
Atos de criação linguística (p. 76);
Produções sociais (p. 76);
Atos de fala (p. 77);
Sentido se constrói em rede (p. 77).
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3. Mas a linguagem vacila...
Todas as gramáticas vazam (p. 78);
Metafísica da presença em Derrida (pp. 78-79);
Différance em Derrida (pp. 79-80);
A linguagem é caracterizada pela indeterminação
e pela instabilidade (p. 80);
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4. A identidade e a diferença: o poder de definir
Identidade e poder (p. 81);
Identidades não são inocentes (p. 81);
Efeitos de diferenciação (pp. 81-82);
Identidade e hierarquia (p. 82);
Normalização (p. 83).
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5. Fixando a identidade
[...] Juntamente com a língua, é central a construção de símbolos nacionais: hinos, bandeiras, brasões. Entre esses símbolos, destacam-se os chamados “mitos fundadores”. Fundamentalmente, um mito fundador remete a um momento crucial do passado [...] (p. 85);
[...] As chamadas “interpretações biológicas” são, antes de serem biológicas, interpretações, isto é, elas não são mais do que a imposição de uma matriz de significação sobre uma matéria que, sem elas, não tem qualquer significado. Todos os essencialismos são assim, culturais. (p. 86);
...mas as identidades não se fixam... (p. 84)
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6. Subvertendo e complicando a identidade
Flaneur em Benjamin (p. 86);
Historicização (p. 87);
Hibridização (pp. 87-88);
Cruzamento de fronteiras (pp. 88-89);
Teoria queer por (p. 89).
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7. Identidade e diferença: elas tem que ser representadas
Na história da filosofia ocidental, a ideia da representação está ligada à busca de forma apropriadas de tornar o “real” presente – de apreendê-lo o mais fielmente possível por meio de sistemas de significação;
É precisamente por conceber a linguagem – e, por extensão, todo o sistema de significação – como uma estrutura instável e indeterminada que o pós estruturalismo questiona a noção clássica de representação. (p. 90)
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8. Identidade e diferença como performatividade
Performatividade em Butler (p. 92); Sentenças performativas (pp. 92-93); Repetição performativa (p. 93); Atividade performativa (p. 93); Repetibilidade em Derrida (p. 94); Citacionalidade em Derrida (p. 94); Lugar da educação: possibilidade de
problematização e construção de novas identidades (pp. 95-96).
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9. Pedagogia como diferença
Para além da tolerância (p. 96); Discutir o poder (p. 96); Identidade (pp. 96-97):
Estruturas discursivas; Sistemas de representação; Relações de poder.
Práticas pedagógicas (pp. 97-99): Pedagogia liberal – tolerância - paternalismo; Pedagogia terapêutica – sentimentos – terapia; Pedagogia do exotismo - estranhamento – distanciamento.
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Pedagogia da diferença
Identidade e diferença são questões políticas (p. 99);
Refletir sobre os processos de produção da identidade (pp. 99-100);
Estratégia: expor os limites das representações (p. 100);
Diversidade e Multiplicidade (pp. 100-101); Pedagogia como diferença (p. 101).
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Pedagogia do Acolhimento
Fazer pedagogia significa procurar acolher o outro
como outro e o estrangeiro como estrangeiro:
acolher outrem, pois, em sua irredutível diferença,
em sua estrangeiridade infinita, uma estrangeiridade
tal que apenas uma descontinuidade essencial pode
conservar a afirmação que lhe é própria (p. 101).
Blanchot apud Silva
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Quem precisa da identidadeStuart Hall
Onde está a identidade? Quem precisa dela?
Resposta 1: Identidade como um conceito sob
rasura, exposto ao seus limites;
Resposta 2: é possível produzir agenciamentos
identitários (processos de identificação).
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Identidade e Identificação
Identificação: “Um dos conceitos menos bem desenvolvidos da teoria social e cultural, quase tão ardiloso – embora preferível – quanto o de “identidade”. Ele não nos dá, certamente, nenhuma garantia contra as dificuldades conceituais que tem assolado o último. Resta-nos buscar compreensões tanto no repertório discursivo quanto no psicanalítico, sem nos limitarmos a nenhum deles” (p. 105).
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Différance
“Um processo de articulação, uma saturação,
uma sobredeterminação, e não uma
subsunção. Há sempre ‘demasiado’ ou ‘muito
pouco’ – uma sobredeterminação ou uma falta,
mas nunca um ajuste completo, uma totalidade.
Como todas as práticas de significação, ela
está sujeita ao ‘jogo’ da différance” (p. 106).
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Identificação, na psicanálise
Em Freud, é “[...] a mais remota expressão de laço emocional com outra pessoa”;
A identificação é ambivalente desde o início; Aquilo que prende a pessoa a um objeto
perdido; Uma modelagem de acordo com o outro; Fundada na fantasia, projeção e idealização O objeto pode ser odiado ou adorado Movimento para dentro e para fora...
(p. 107)
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Não ao essencialismo!
Identidade como conceito estratégico e
posicional ;
Não assinala um núcleo estável de eu;
Não se trata de uma essência, ancestralidade
ou “alma nacional” (p. 108)
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Identidades e Discursos
Identidades são produzidas nos discursos
Identidade e poder (quem identifica quem?)
Não se trata de “quem somos”, mas de “quem
desejamos ser!”
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Identidade e Diferença
“As identidades podem funcionar, ao longo de
toda sua história, como pontos de identificação
e apego apenas por causa de sua capacidade
para excluir, para deixar de fora, para
transformar o diferente em ‘exterior’, em abjeto.
Toda identidade tem, à sua margem, um
excesso, um algo mais” (p. 110)
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Identidade em Hall
“Utilizo o termo ‘identidade’ para significar o
ponto de encontro, o ponto de sutura, entre, por
um lado, os discursos e as práticas que tentam
nos ‘interpelar’, nos falar ou nos convocar para
que assumamos nossos lugares como os
sujeitos sociais e discursos particulares e, por
outro lado, os processos que produzem
subjetividades, que nos constroem como
sujeitos aos quais se pode ‘falar’”. (pp. 111-112)
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Ideologia e Interpelação
A produção da identidade é o terreno que traz a
psicanálise para a política;
Ideologia age tanto na subjetividade, quanto na
formação das práticas discursivas que
constituem o campo social;
Modos de produção capitalísticos (Guatarri)
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[...] Botei Marx, Engles , Lenin (nenhum Trotsky)no armário da cozinha – ela não iaConferir os panos de prato, isso era certo [...].
[...] Mas assim que chegamos no último cantoo olho dela cai em cima ao mesmo tempo que o meude uma fileira de vinte distintivos pela paz mundial.
Claro como uma foice e um martelo na parede.Ah, diz ela, você e contra armas nucleares?
Azar, seja o que Deus quizer. Com bebê ou sem bebê.Sim, eu digo Sim. Sim, sim, sim.Gostaria que esse bebê vivesse em um mundo sem perigo nuclear.
Ah! Seus olhos se acendem.Também sou a favor da paz, diz ela,e se senta para mais uma xícara de café.
Kay apud Woodward, pp. 56-58