INFORMAÇÕES DE ÚLTIMA MILHA PARA ALAVANCAGEM DO NEGÓCIO DE TELEFONIA MÓVEL
Paulo Fernando Peixoto Da Costa Fazzioni
Edilberto Strauss
Resumo: Este trabalho apresenta um sistema de apoio a decisão focado em um estudo de viabilidade técnica através
dos procedimentos de um site survey, tornando possível melhorar o negócio de telefonia celular. a arquitetura proposta
é baseada em um modelo de negócios conhecido como mobile virtual network operator (mvno). o modelo operacional
full mvno é adotado de modo a atender os requisitos da agência nacional de telecomunicações (anatel) e a metodologia
desenvolvida emprega smartphones atuando como instrumentos de medida dos sistemas de telefonia móvel. assinantes
mvno com um perfil específico podem realizar medidas de campo passivas, ou ativas, em tempo real, gerando uma base
de dados consistente que descreve o comportamento da rede móvel provendo informações para as áreas de agregação
de valor da empresa. a solução de sistema de apoio a decisão proposta pode ser usada por operadores de serviços de
telecomunicações, instaladores de serviços de última milha, integradores de sistemas, consultores de soluções
tecnológicas e forças de venda de serviços de telecomunicações.
Palavras-chaves: sistemas de apoio a decisão, site survey, mobile virtual network operator, location
based services, universal mobile telecommunication system, serviços móveis.
ISSN 1984-9354
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
2
1. INTRODUÇÃO
Uma vez que o aprovisionamento de serviços é o processo que envolve a ativação de um cliente
na rede de comunicações, tem-se que são desejáveis procedimentos automáticos de forma a estabelecer
uma conectividade fácil e uma rápida para a ativação do usuário. Contudo, esta tarefa não é trivial a ser
executada pelo Sistema de Suporte Operacional das operadoras de telefonia. O estudo de
aprovisionamento deve levar em conta um equilíbrio entre a análise técnica e a econômica. A primeira
é limitada pelas tecnologias existentes e a segunda pelo incremento de produtividade e redução de
custos (peopleware e hardware).
Quando se implementa um serviço de comunicação de dados, é importante analisar todas as
características técnicas relacionadas com a instalação física, características estas que são obtidas
através dos procedimentos de site survey. O objetivo do site survey é assegurar que a quantidade dos
nós de rede, suas localizações e configurações assegurem as funcionalidades necessárias e garantam
um desempenho compatível com o investimento proposto no projeto da rede. Os procedimentos
descritos nesta metodologia permitem decidir qual localidade é adequada a receber os
equipamentos/cabeamentos de redes estruturadas, ou pontos de acesso no caso de redes sem fio,
provendo para todas estações conexões de qualidade e acesso integral às aplicações disponíveis na
rede.
A rede de cobertura celular móvel depende não só de fatores naturais, tais como aspectos
geográficos e condições de propagação, mas também das condições de uso do terreno (rural e urbano),
do comportamento humano, do grau de familiaridade do usuário com os serviços das operadoras, etc.
Como a qualidade da cobertura de rede de telefonia celular é medida tradicionalmente através do que
se chama de probabilidade de localização, tem-se que é desejável uma predição confiável e precisa da
posição do assinante. Os dados coletados, através da metodologia proposta, fornecem subsídios para a
tomada de decisão e indicadores de desempenho para criar novos negócios neste nicho de aplicações
móveis. Além disto, estas informações são convertidas em vantagens estratégicas para avaliar o
comportamento da rede móvel. Adicionalmente, ferramentas de pós-processamento suportam a
exportação dos dados para outros sistemas e permitem a geração de relatórios direcionados a
profissionais especializados.
Desta forma, este trabalho apresenta um Sistema de Apoio a Decisão (SAD) associado a um
estudo de viabilidade técnica através dos procedimentos de site survey de modo a incrementar os
serviços VAS (Value Added Services – Serviços de Valor Agregado) do negócio. A característica que é
explorada é o uso dos usuários MVNO (Mobile Virtual Network Operator) como instrumentos de
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
3
coleta de dados para realizar a avaliação dos serviços que são oferecidos pela operadora. Esta
avaliação de última milha oferece vantagens significativas no monitoramento da rede e em eventuais
otimizações, permitindo uma constante manutenção em tempo real e fornecendo benefícios aos
clientes da operadora de telefonia. O SAD proposto pode ser empregado por operadoras de serviços de
telecomunicações, provedores de instalações de serviços de última milha, integradores de sistemas,
consultores de soluções tecnológicas e forças de vendas de serviços de telecomunicações.
2. TRABALHOS RELACIONADOS
Um MVNO é um operador de telefonia móvel que não possui sua própria licença de uso do
espectro de freqüências e que não necessariamente possui uma infra-estrutura de rede. Os MVNOs
normalmente possuem acordos comerciais com os operadores tradicionais de telefonia móvel (MNO –
Mobile Network Operator) os quais dispõe de licença de exploração do espectro de radiofreqüências.
Estes acordos fornecem minutos de uso (MOU - Minutes of Usage) para serem revendidos aos
usuários finais da própria MVNO. Neste sentido, Dewenter e Haucap [1] estudaram o relacionamento
entre MVNOs e MNOs. Cricelli et al. [2] apresentam um modelo para a análise das conseqüências da
competição oriunda de uma diversidade de MNOs e MVNOs. Pattanavichai e Premchaiswadi [3]
propuseram um modelo de precificação para o investimento em redes 3G UMTS de MNO e MVNO,
enquanto que Shin [4] valida um modelo de compreensão do grau de aceitação do usuário de serviços
MVNO.
As aplicações de site survey e a qualidade de serviços são assuntos amplamente estudados na
literatura. Camp et al. [5] apresentam alguns modelos de mobilidade de forma a oferecer aos
pesquisadores opções adequadas aos estudos de avaliação de desempenho. Chalmers e Sloman [6]
escrevem um artigo antigo, porém interessante, sobre a especificação e a gerência da qualidade dos
serviços, particularmente para prover suporte a aplicações multimídia cujos conceitos podem ser
aproveitados em serviços de telefonia celular. Bedhiaf et al. [7] apresentam aplicações de downstream
que possibilitam ao MVNO entregar seus componentes de software mais rapidamente com menor
custo. Varoutas et al. [8] descrevem as condições e a dinâmica do mercado, arquiteturas e diferentes
abordagens para o desenvolvimento de MVNOs 3G como uma tentativa de chamar a atenção para as
vantagens e os óbices do negócio. O presente trabalho é influenciado pelo crescimento significativo da
demanda por comunicação celular móvel observado no Brasil desde que este ganhou o direito de
sediar eventos de larga escala tal como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
4
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) define dois modelos autorizados de exploração de
MVNO [9] e também regula as condições para a exploração das freqüências de 800 MHz, 900 MHz,
1.800 MHz, 1.900 MHz e 2.100 MHz [10].
Um grande volume de literatura está disponível sobre sistemas de apoio a decisão para o
mercado de telefonia móvel, mas muito poucos atentam para a operação das redes móveis. De fato, foi
difícil encontrar estudos sobre este tema uma vez que os trabalhos tendem a dar atenção
preferencialmente às especificidades do negócio de telefonia móvel. Hafez e ElDahshan [4] abordam
os sistemas de apoio a decisão de companhias de telecomunicações e as razões pelas quais estas
necessitam plataformas avançadas de data warehouse, demandando sempre novas tecnologias. Hong
et al. [12] buscam entender empiricamente os fatores motivadores da aceitação de serviços móveis de
dados por parte dos consumidores. Qi et al. [13] propõe que cada modulo do Sistema de Suporte
Operacional seja equipado com gerenciadores de conhecimento. Por sua vez, Qi et al. [14] analisam as
estratégias de competição das portadoras móveis usando balanced scorecards e sistemas dinâmicos de
modelagem. Finalmente, Peppard e Rylander [15] introduzem o conceito de redes de agregação de
valor aplicado ao aprovisionamento de serviços móveis que são explorados a fim de identificar
potenciais implicações estratégicas para os operadores móveis.
3. A PROPOSTA
Este trabalho é baseado no uso de telefones celulares de clientes com tecnologia móvel 3G como
instrumentos de aquisição de dados em um SAD para potencializar os serviços de valor agregado de
um MVNO. A aquisição de dados de campo é obtida utilizando um software desenvolvido para
sistema operacional Symbian e instalado em smartphones 3G. Este software realiza diversas medidas
de voz e dados 3G da área de cobertura dos serviços dos nós de rede, independente do deslocamento
do usuário. Através do monitoramento do serviço de cobertura por nível de sinal, pelas coordenadas
geodésicas e pelo correto funcionamento da comunicação móvel 3G, torna-se possível definir uma
metodologia de diagnóstico e otimização da rede. Os dados obtidos fornecem suporte para a
modelagem de cenários de desenvolvimento de negócios para o MVNO. A opção pelo emprego de um
software embarcado em smartphones deve-se ao baixo custo deste tipo de equipamento e a alta
portabilidade dos mesmos quando utilizados como dispositivos de coleta de dados em campo. Estas
características são muito desejáveis uma vez que os tradicionais site surveys normalmente usam
equipamentos de difícil transporte, geralmente muito caros, e operados por indivíduos altamente
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
5
treinados.
Este trabalho analisa quarto operadores de serviços móveis 3G brasileiros, identificados como
EmpresaT, EmpresaO, EmpresaC e EmpresaV, com o objetivo de validar a metodologia. Os dados são
obtidos simultaneamente, empregados quarto smartphones distintos, cada qual registrado em uma
destas operadoras de forma a determinar o provedor de serviço 3G móvel mais adequado naquele
instante. Para a estratégia de negócios da MVNO é essencial avaliar os operadores celular, pois esta
ação provê indicadores sobre o parceiro mais apropriado. Apesar de esta pesquisa ter sido realizada no
contexto brasileiro, as mesmas técnicas e metodologias podem ser usadas em qualquer serviço de
comunicação móvel 3G que esteja disponível.
Em seguida, uma arquitetura de Sistema de Apoio a Decisão é descrita tomando por base a
experiência do usuário sobre os serviços de telecomunicações de voz e dados, bem como utilizando
medidas qualitativas. Esta arquitetura permite que os dados sejam transformados em conhecimento
estratégico, criando uma cadeia de valor de informação importante para as esferas executivas e
operacionais da empresa, e também para todas outras esferas de tomadores de decisões.
Aquisição de Dados e Avaliação
A aquisição de dados utiliza um notebook, um roteador de banda larga, e quarto smartphone 3G
com plataforma Symbian para medir os serviços de quatro operadoras móveis. Os dados relacionados
com a área de interesse são obtidos empregando um software embarcado que é executado em cada um
dos quatro smartphones (Nokia N8, N97, N82, C6) simultaneamente, cada qual registrado
exclusivamente em uma operadora distinta. A região na qual o site survey foi realizado possui diversos
acidentes geográficos tais como uma grande baía, serras, montanhas, uma ocupação urbana densa,
florestas, etc. A segmentação do mercado controlado pelas operadoras de redes móveis no primeiro
trimestre de 2012 era [16]: EmpresaV 24.3%, EmpresaC 37.0%, EmpresaT 20.7% e EmpresaO
18.0%. Neste mesmo período havia cerca de 144 telefones celulares por 100 habitantes.
As variáveis do sinal de celular observadas são: data, hora, identificação da célula (CELL ID),
código de localização de área (LAC), país, código de país do móvel (MMC), código de rede do móvel
(MNC), latitude, longitude, intensidade de sinal recebida em percentual e dBm, nome da célula, e
informação da célula. Este protótipo utiliza o CellTrack [17] para adquirir as informações da rede de
telefonia móvel. A localização do smartphone pode ser obtida tanto pelo GPS e A-GPS, mas também
usando a informação do CELL ID, garantindo a georeferenciação das medidas amostradas.
Diversas avaliações podem ser realizadas utilizando estas informações: comparação direta entre
operadoras, identificação do melhor serviço oferecido de acordo com condições previamente definidas,
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
6
verificação de estabilidade dos serviços 3G e 2G, detecção de variáveis com picos de máximo e
mínimo. Esta informação sobre a identificação de picos é particularmente relevante já que valores-
limites de máximo e mínimo são associados à qualidade do serviço.
Teste de Campo da Área de Cobertura
Neste estágio do trabalho realiza-se a avaliação da qualidade dos serviços de telecomunicações,
em uma rede GSM/UMTS, de acordo com a perspectiva do usuário/cliente, e usando medidas
automáticas ponto-a-ponto. Estas medidas são obtidas através de testes em deslocamento, o que
significa que áreas com cobertura deficiente, ou mesmo sem qualquer cobertura, são consideradas
durante a análise. Além disto, o uso de um sistema de medição simultâneo e único para avaliação dos
serviços permite um elevado grau de comparabilidade dos resultados, para ambas as dimensões de
tempo e espaço. Desta forma, a metodologia proposta possui três características fundamentais: (1)
medidas ponto-a-ponto, que refletem características técnicas relacionadas com a qualidade dos
serviços; (2) imparcialidade, já que as medidas são realizadas em condições de igualdade para todas as
MNOs; (3) objetividade, pois as decisões e intervenções subjetivas e humanas são eliminadas pela
amostragem automática.
A medida das coberturas de redes utiliza o nível de sinal de downlink, isto é, o RxLev (Received
Signal Level) para GSM e o CPICH RSCP (Common Pilot Channel Received Signal Code Power) para
WCDMA ao longo dos trajetos observados. Os terminais celulares 3G/GSM ficaram exclusivamente
dedicados à tarefa de medição do nível de sinal efetivo, e estes terminais são plenamente capazes de
realizar a amostragem dos canais de GSM e WCDMA de todas as MVOs. O protótipo de medição é
baseado nas especificações técnicas ETSI [21, 22, 23].
A avaliação foi realizada em dois cenários: urbano e rural. O primeiro, o cenário urbano, se
inicia na cidade de Niterói, atravessa o Rio de Janeiro e termina em Petrópolis. Este percurso levou 2,1
horas de medições contínuas e automáticas, cobrindo 110 Km, e visitando o centro comercial de cada
cidade. O segundo cenário, o rural, se inicia na cidade de Petrópolis, passa por Araras, Paty do Alferes,
Miguel Pereira, Japeri, Seropédica, Queimados, Nova Iguaçu, São João do Meriti, Rio de Janeiro e
termina em Niterói. Este percurso levou 4,5 horas de medidas contínuas e automáticas, cobrindo 196
Km. A Figura 1 ilustra o nível de sinal da rede GSM/WCDMA de uma das operadoras no cenário
urbano, obtido pela metodologia descrita. Os quatro picos que atingem 100 dBm, uma forma do
software empregado indicar quatro perdas de sinal durante o percurso.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
7
Fig. 1. Medida do nível de sinal de uma das operadoras em
A Figura 2 apresenta a distribuição de probabilidade do nível de sinal, também obtida pela
metodologia proposta. Os valores de borda da distribuição estão entre [-75dBm,-85dBM], para o
cenário urbano, tal como preconizado pela ETSI. Por outro lado, no cenário rural, esta operadora
entrega um nível de sinal melhor no período de medição.
Fig. 2. Distribuição de probabilidade do nível de sinal nos cenários urbano e rural de uma operadora.
Uma MVNO hipotética pode utilizar esta metodologia para produzir informações sobre o melhor
parceiro a ser contratado, de acordo com características previamente definidas, e a expectativa de
experiência que se deseja disponibilizar ao usuário. Observe que o teste em movimento aqui proposto
oferece informações sobre a disponibilidade dos serviços do MNO em determinadas localizações, bem
como sobre a qualidade de serviço do ponto de vista do usuário. Deve-se ter em mente que os
procedimentos descritos criam uma fotografia da provisão de serviços de telefonia celular de uma
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
8
operadadora em um dado instante. Existe a possibilidade de que, em um dado momento e em uma
localização específica, devido a algum mau funcionamento atípico do sistema da MNO, o teste ofereça
medidas alteradas sobre a qualidade do sinal do operador. Contudo, os autores sustentam que estas
condições de exceção não são relevantes, uma vez que essas situações possuem baixa probabilidade de
ocorrência, e que pode ser corrigida com múltiplos testes. Além disto, o mau funcionamento atípico de
sistemas também afeta a experiência do usuário sobre os serviços de telecomunicações e por isso não
deve ser ignorada.
Arquitetura Integrada do Negócio de Comunicação Celular
Sistemas de informação devem criar um ambiente empresarial com informações confiáveis
fluindo por toda a estrutura organizacional. A arquitetura a seguir, apresentada na Figura 3, descreve
sistema de apoio a decisão baseado em full MVNO que integra os benefícios de um sistema de
informação com ferramentas de assistência aos tomadores de decisão, tal como será explicado adiante.
Fig. 3. Arquitetura do Sistema de Apoio a Decisão proposto.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
9
A arquitetura proposta emprega smartphones como instrumentos de medição do sistema de
telefonia celular móvel. Estes smartphones são equipados tal como descrito anteriormente neste artigo
na subseção de aquisição de dados. Os dados de funcionamento da rede móvel são armazenados em
arquivos de tracelog, localizados nos smartphones. Em seguida, os arquivos de tracelog são enviados
ao MVNO através do Multimedia Messaging Service (MMS). O arquivo é recebido já dentro da
estrutura interna do operador e encaminhado para as áreas de agregação de valor, de forma a serem
processados por diversos departamentos da MVNO, formatados em planilhas, gráficos, ferramentas de
georeferenciação, relatórios e indicadores de desempenho.
No que diz respeito aos clientes da MVNO, pode-se realizar duas opções de modelos de
colaboração e fidelização: (1) uma colaboração ativa, disparada pelo cliente; (2) uma colaboração
passiva, ativada pela MVNO.
A colaboração ativa envolve uma cooperação consciente do usuário. Um teste de campo ativo é
efetuado pelos assinantes dos serviços do MVNO através de execução de uma aplicação pré-instalada
em seus smartphones. Esta aplicação fornece em tempo real, dados de posição e medição de sinais dos
serviços de voz e dados do sistema de telefonia celular móvel ao qual o usuário está conectado. A
informação é depositada no arquivo de tracelog e enviada à operadora usando um cliente MMS nativo
do smartphone, direcionando a mensagem para um número reservado exclusivamente para a coleta
deste tipo de dado. Por exemplo, o operador pode fornecer a seguinte instrução: anexe o arquivo de
tracelog e envie para o número 48500 com a palavra TRACELOG no corpo da mensagem. Neste caso,
é conveniente que o operador forneça condições promocionais para cliente que realize o upload destes
arquivos de tracelog. As promoções podem compreender créditos de uso para voz e dados, pontos para
algum programa de fidelização de clientes, descontos especiais em eventos sociais ou outras
atividades, milhas em programas de milhagem, etc.
A colaboração passiva, por sua vez, emprega a mesma aplicação pré-instalada no smartphone do
usuário, e o mesmo cliente MMS para realizar desta vez o teste passivo, porém com uma diferença
sutil. Observe que um smartphone oferecido ao usuário a custos módicos é subsidiado pela operadora,
e é legal que esta mesma operadora de serviços personalize o sistema operacional do aparelho. Este
sistema operacional customizado é um ambiente favorável a criação de automações de software. Sob
esta ótica, scripts e ferramentas integradas podem disparar a aquisição de dados automática e enviar os
arquivos de tracelog através do MMS sem interferência do usuário. O tempo de uso do sistema e a
periodicidade de ativação do script podem ser definidos favoravelmente ao atendimento da
necessidades de medição da operadora. Neste caso, o bônus oferecido ao usuário deve ser maior que
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
10
aquele oferecido pelo usuário de cooperação ativa uma vez que o consumo de dados e a quantidade de
informações sobre o estado da rede do operador devem ser maiores.
Entretanto, a colaboração passiva possui um aspecto legal relacionado com a violação de
privacidade que deve ser mais bem estudado por vias competentes. Os dados de sinal e a exposição da
localização do usuário fornecem informações sobre o nível de serviços de voz e dados, mas também
fornece uma prospecção do comportamento do usuário. Por exemplo, se o software passivo de
aquisição de dados encontra-se ativado quando o usuário realiza compras em um shopping, é possível
criar um perfil de comportamento de compras do mesmo e criar um modelo de estilo de navegação
dentro de uma loja. Vendedores podem fazer uso deste perfil e deste modelo para se beneficiarem
tentando moldar o comportamento de compra do assinante/cliente. Assim, a aceitação deste modelo de
negócio deve ser estudada com cuidado, e possivelmente deve-se realizar uma avaliação com um
grupo pequeno de assinantes antes de empregar em larga escala esta modalidade de cooperação.
Estas duas colaborações suportam modelos de negócios interessantes e a arquitetura proposta
minimiza os custos operacionais diminuindo as janelas de manutenção e o envio de equipes técnicas
para controlar em tempo real o comportamento da rede móvel. A aquisição de dados, o processamento
da informação, a compilação de resultados, e os indicadores de desempenho do operador possibilitam
novas oportunidades para criar novas soluções e serviços, planejar decisões estratégicas e tomar
decisões executivas. Os departamentos da operadora que podem se beneficiar deste tipo de SAD são:
- Aquisição de Sites: este departamento pode escolher melhor a localização para a
implementação de novos sites, a manutenção e a otimização de rede;
- Centro de Operações de Rede/Segurança (NOC/SOC - Network/Security Operations
Center): o departamento pode executar melhor a identificação de falhas de rede e intervir
melhor nas políticas de segurança de dados da mesma;
- Serviço de Atendimento ao Cliente: ele pode responder melhor às demandas de uso do
cliente, oferecer produtos, e direcionar chamadas técnicas;
- Marketing: o departamento pode combinar a informação da rede móvel com censo
demográficos e identificar novos produtos a serem oferecidos pelo operador para grupos
potenciais de clientes;
- Financeiro: esta área pode aperfeiçoar o sistema de tarifação e ajustar mais
precisamente o retorno do investimento;
- Executivo: ele pode obter indicadores de desempenho do mercado de telecomunicações
para produzir um alinhamento melhor com as estratégias da MVNO.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
11
4. PROVA DE CONCEITO
Para avaliar esta proposta, será considerado um modelo de colaboração ativo para um cliente de
uma full MVNO. Neste sentido, é descrita uma prova de conceito, começando pelo envio dos dados
pelos smartphone para o processo de compilação da informação pela área de Serviços de Valor
Agregado (VAS) da MVNO. Como foi descrito na subseção anterior (III.A), quarto smartphones
enviam, usando o software de MMS, os arquivos de tracelog contendo dados de medidas de nível de
sinal e posicionamento para um servidor de emails, que no nosso caso faz o papel de MMS
Server/Relay. Na Figura 4 é apresentada a visualização gráfica das medições. Neste exemplo, foi
utilizado o Google Earth [21] como plataforma de “mapas” (falta rigor cartográfico no software da
Google para chamar as imagens de mapas, mas não há impedimento de uso para este tipo de aplicação)
e os scripts foram desenvolvidos em linguagem KML [22].
Fig. 4. Coordenadas de um script KML representado no
A Figura 5 apresenta um cliente MVNO chamado USER-POC, o especialista responsável por
processar os dados na área de VAS do MVNO (SME-VAS), o conteúdo dos dados (DATA-POC), e as
planilhas (PLAN-POC) que fornecem a entrada de dados para os sistemas de georeferenciamento,
sistemas de inteligência de negócios, e sistemas de otimização e planejamento de rede móvel. O
USER-POC ativa o software embarcado em seu smartphone iniciando o processo de medição.
Algumas horas depois, por exemplo, o USER-POC encerra esse processo e ativa o software
MMSLocation [23] responsável por enviar o arquivo de tracelog para a operadora. O arquivo de
tracelog, em formato texto é recebido pelo servidor de mensagens que faz o papel de MMS
Relay/Server. Em seguida, o arquivo tracelog é processado pelo especialista de área (SME-VAS) de
modo a produzir uma planilha (PLAN-POC).
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
12
Fig. 5. Esquemático da prova de conceito.
A prova de conceito deste trabalho utiliza um software de inteligência computacional [24] para
construir os dashboards. Estes dashboards permitem uma visão imediata dos indicadores chave de
desempenho que sejam relevantes a um dado objetivo ou processo de negócio. A Figura 6 ilustra tal
visão personalizada do PLAN-POC.
Fig. 6. Ilustração do dashboard de um PLAN-POC.
A otimização da rede de telefonia móvel lida com sites fixos e com antenas já em
funcionamento, atendendo a uma demanda de cliente móveis em constante evolução. Neste sentido,
com o passar do tempo, a tarefa de otimização torna-se cada vez mais difícil de ser realizada. Uma vez
que a rede se torna operativa, seu desempenho é monitorado por indicadores chave de desempenho.
Depois da análise de dados, um ajuste fino é executado produzindo novos parâmetros que são
aplicados à rede. O ajuste fino consiste em estudar características tais como o controle de potência,
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
13
qualidade do sinal, handovers, tráfego do cliente, disponibilidade de recursos e disponibilidade de
acesso.
Este trabalho utilizou um software de escritório em tempo real [25] desenvolvido
especificamente para a otimização de rede, uma ferramenta independente de tecnologia, seja ela 2G ou
3G. O PLAN-POC foi importado para a aplicação e as ferramentas de otimização oferecem
funcionalidades tais como: auditoria de rede, visualização de rede, otimização, investigação
georeferenciada, e representação georeferenciada. Uma vez finalizada a análise de otimização, os
resultados são exportados para uma plataforma cartográfica [21]. A Figura 7, por exemplo, ilustra as
áreas de abrangência das antenas que ofereciam serviços 3G durante os procedimentos de medição
efetuados neste trabalho.
Fig. 7. Ilustração das regiões de direcionamento de antenas.
5. CONCLUSÃO
Este artigo propôs uma arquitetura de sistema de apoio a decisão com gerenciamento de
informações georeferenciadas e medidas de cobertura do nível de sinal dos serviços de dados 3G, que
compila o trabalho de pesquisa de Fazzioni [26]. Os dados obtidos foram submetidos a uma análise
qualitativa e gráfica de modo a avaliar a qualidade dos serviços de cobertura 3G disponíveis, e prover
informação para a implementação de um negócio MVNO. Em seguida, a arquitetura proposta
considerou os componentes dos serviços de agregação de valor, extrapolando a tradicional
representação gráfica dos sinais medidos usado no suporte aos site surveys. A carga das medidas de
nível de sinal em tempo real, usando smartphones de clientes juntamente com uma estrutura
computacional, reduz a carga de trabalho e os custos operacionais das equipes de manutenção das
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
14
operadoras.
Como observado na prova de conceito apresentada, este trabalho oferece uma arquitetura que
possibilita a integração de informações heterogêneas, visualização de informação e serviços de
agregação de valor em um único sistema. Desta forma, é possível utilizar esta arquitetura para dar
suporte à MVNO no planejamento e na tomada de decisão sobre o gerenciamento dos serviços de
telecomunicações.
No futuro, este trabalho vai investigar modelos alternativos de negócios que devem surgir, com
a implementação da quarta geração de tecnologia (LTE) e os novos requisitos técnicos
correspondentes. Além disto, é interessante explorar experimentos da plataforma proposta em maior
escala de forma a atingir um melhor entendimento sobre a evolução do sistema de telefonia móvel,
desempenho de indicadores, qualidade, escalabilidade e retorno de investimentos. Por fim, novos
protótipos embarcados de smartphones podem ser desenvolvidos para outros sistemas operacionais tais
como Android (Google), iOS (Apple) e FirefoxOS (Mozilla).
6. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
[1] Dewenter, Ralf and Haucap, Justus. “Incentives to Licence Virtual Mobile Network Operators
(MVNOs)”, Telecommunications Policy Research Conference (TPRC) 2006, August 15, 2006
[2] Livio Cricelli, Michele Grimaldi, Nathan Levialdi Ghiron. “The competition among mobile
network operators in the telecommunication supply chain”, International Journal of Production
Economics, Volume 131, Issue 1, , pp. 22-29, May 2011.
[3] Pattanavichai, S.; Jongsawat, N.; Premchaiswadi, W. "A Pricing Model and Sensitivity Analysis
for MNO's Investment Decision Making in 3G UMTS Networks," Third International Symposium
on Electronic Commerce and Security (ISECS), 2010, vol., no., pp.274,279, 29-31 July 2010.
[4] Dong-Hee Shin. “MVNO services: Policy implications for promoting MVNO diffusion”,
Telecommunications Policy, Volume 34, Issue 10,pp. 616-632, November 2010.
[5] Camp, T., Boleng, J. and Davies, V. “A survey of mobility models for ad hoc network research”.
Wireless Communication Mobile Computing, 2: pp.483–502, 2002.
[6] Chalmers, D.; Sloman, M., "A survey of quality of service in mobile computing environments,"
Communications Surveys & Tutorials, IEEE , vol.2, no.2, pp.2,10, Second Quarter 1999.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
15
[7] Bedhiaf, Imen Limam; Cherkaoui, Omar; Pujolle, Guy. “A Virtual Machine Location Problem for
IP Multimedia Subsystem”, Cyber Journals: Multidisciplinary Journals in Science and Technology,
Journal of Selected Areas in Telecommunications (JSAT), Volume 3, Issue 5, May Edition, 2013.
[8] Varoutas, D.; Katsianis, D.; Sphicopoulos, TH; Stordahl, K; Welling, I. “On the Economics of 3G
Mobile Virtual Network Operators (MVNOs)”, Wireless Personal Communications, 36: 129–142,
2006.
[9] ANATEL, RRV-SMP/MVNO, “Regulamento sobre Exploração de Serviço Móvel Pessoal – SMP
por meio de Rede Virtual” (RRV-SMP), Agência Nacional de Telecomunicações, Res. n° 550,
Novembro, 2010
<http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=252226
&assuntoPublicacao=null&caminhoRel=Empresas&filtro=1&documentoPath=252226.pdf >
Accesso: 10 de agosto de 2012.
[10] ANATEL, “Regulamento sobre Condições de Uso de Radiofreqüências nas Faixas de 800
MHz, 900 MHz, 1.800 MHz, 1.900 MHz e 2.100 MHz”, Agência Nacional de Telecomunicações,
Res. n° 454, Dezembro, 2006. <http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.
asp?numeroPublicacao=127142&assuntoPublicacao=Resolu%E7%E3o%20n%BA%20454,%20de
%2011%20de%20Dezembro%20de%202006.%20&caminhoRel=null&filtro=1&documentoPath=
biblioteca/resolucao/2006/res_454_2006.pdf > Accesso 10 de agosto de 2012.
[11] Hafez, H.A.A.; ElDahshan, K., "Data Driven DSS in telecommunications industry," Intelligent
Systems Design and Applications (ISDA), 2010 10th International Conference on , vol., no.,
pp.720,723, Nov. 29 2010-Dec. 1 2010.
[12] Hong, Se-Joon; Thong, James Y. L.; Moon, Jae-Yun; Tam, Kar-Yan. “Understanding the
behavior of mobile data services consumers”, Information Systems Frontiers, Volume 10, Issue 4,
pp 431-445, September 2008.
[13] Qi, J., Da Xu, L., Shu, H. and Li, H. “Knowledge management in OSS—an enterprise
information system for the telecommunications industry”. Systems Research and Behavioral
Science, 23: pp.177–190, 2006.
[14] Qi, J., Li, L. and Ai, H. “A system dynamics approach to competitive strategy in mobile
telecommunication industry”. Systems Research and Behavioral Science, 26: pp.155–168, 2009.
[15] Peppard, Joe; Rylander, Anna. “From Value Chain to Value Network: Insights for Mobile
Operators”, European Management Journal , Vol. 24, Issue 2, 2006.
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
16
[16] Teleco. “Cellular Operators Market Share”- Teleco – Telecommunications Inteligence,
DDD:21, February 2013, 2013. < http://www.teleco.com.br/cel_ddd.asp > Access on: 10th
, july,
2013.
[17] Ficher, Axel. “CellTrack 1.18”. <http://www.afischer-online.de/sos/celltrack/index.html>
Access: 11th
July, 2011.
[18] ETSI, “ETSI EG 202 057”, European Telecommunications Standards Institute, sections 3 and 4
ETSI EG 202 057-3 V1.1.1, April, 2005.< http://www.etsi.org/WebSite/homepage.aspx > Accesso
23 de outubro de 2011.
[19] ETSI, “ETSI EG 202 057-4”, European Telecommunications Standards Institute V1.2.1, July,
2008.< http://www.etsi.org/WebSite/homepage. aspx > Access 23rd
, october, 2011
[20] ETSI, “ETSI TS 102 250”, section 5 ETSI TS 102 250-5 V1.5.1, May, 2008.<
http://www.etsi.org/WebSite/homepage.aspx > Accesso 23 de outubro de 2011.
[21] Google, "Google Earth", 2011. <http://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/index.html>
[22] Google, "KML (Keyhole Markup Language) Tutorial", Google Developers, 2011. <
https://developers.google.com/kml/documentation/ kml_tut?hl=pt-BR >
[23] Giampouras, L. "MMSLocation for Symbian phone", Nokia Ovi Store,
2011.<http://store.ovi.com/content/106282>
[24] Bittle, "Bittle - online dashboards and reporting software", 2011. <http://apps.bittle-
solutions.com>
[25] Agileto, "Agileto - 3G optimization tool", 2012. <http://www.agileto.com/optimization.html>
[26] Fazzioni, Paulo Fernando Peixoto da Costa. "Sistema de Apoio a Decisão Aplicado ao Negócio
de Telefonia Móvel", Dissertação de Mestrado: Universidade Estadual do Ceará (UECE), M.Sc.
em Computação Aplicada, Brazill, 2013.