Download - INFORME SER TÃO VIVO #1
SerTãoVerde
Tiragem: 1000 exemplares
Publicação especial do Núcleo Sertão do Instituto de Permacultura da Bahia
edição 1 Maio 2014
Projeto Águas do jacuíPe ProPõe reflorestamento de matas
ciliares em VÁrzea da roça
Águas do Jacuípe vai mobilizar cerca de 450
pessoas ao longo de 2 anos, na missão de recuperar
as margens e nascentes do Riacho do Urubu e Rio
Camizãozinho, afluentes do Rio Jacuípe.
Boa parte dos riachos e nascentes do
semiárido veem sofrendo com a degradação
ambiental decorrente da ação humana, reverter
este cenário é um dos objetivos do Projeto Águas
do Jacuípe, no município de Várzea da Roça – BA,
que visa construir coletivamente uma proposta de
sustentabilidade socioambiental no sertão.
O projeto é uma realização do Instituto
de Permacultura da Bahia, com o patrocínio da
Petrobras, e atua por meio do desenvolvimento de
ações comunitárias de recuperação e conservação
de recursos hídricos, propondo a utilização dos
SAFs – Sistemas Agroflorestais no reflorestamento
das áreas degradadas. A idéia é estimular um
novo olhar sobre a utilização dos recursos naturais,
buscando uma nova forma de se relacionar com
o ambiente, integrando o sistema produtivo à
dinâmica da natureza.
Também estão previstas no projeto a criação
de um viveiro escola; dois bancos comunitários de
sementes crioulas e nativas; e a implantação de
tecnologias sociais de captação e armazenamento
de água. Essas ações tem como objetivo o aporte
necessário para o desenvolvimento do trabalho de
reflorestamento e transição agroecológica que o
projeto pretende realizar.
EQUIPE TÉCNICA | COORDENAÇÃO GERAL | Dirce Almeida | ASSESSORIA TÉCNICA | Beto Oliveira | ASSESSORIA PEDAGÓGICA | Renata Rangel | TÉCNICOS | Alajaque Souza e Gerivaldo Santana | ADMINISTRATIVO | Eliane Rios e Roselma Maria | ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO | André Souza
Apresentação Águas do Jacuípe.
Agroecologia e Feminismo: Mulheres Oragnizadas.
Como Sistemas Agroflorestais podem ajudar no reflorestamento de Matas Ciliares?
Juventude e as sementes do semiárido.Ariel e Marleide contam sua história.
SUMÁRIO
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Instituto de Permacultura da Bahia
Em mais de duas décadas de trabalho, o IPB já realizou dezenas de projetos estruturantes
e educacionais, tendo suas metodologias reconhecidas no âmbito da Convivência com o Semiárido, no fortalecimento da Educação Contextualizada, na consolidação de Tecnologias Sociais para o Saneamento Ecológico e na promoção da Transição Agroecológica. Apoiou diversas iniciativas para a construção de
um mundo pautado pelo paradigma da sustentabilidade e da solidariedade.
www.permacultura-bahia.org.br
AGROECOLOGIA E
MULHERES ORGANIZADAS:
UM DESEJO, NOSSA AÇÃO!
O projeto Mulheres Organizadas: Um Desejo, Nossa Ação! Apoia os grupos produtivos de mulheres dos municípios de Quixabeira e Várzea da Roça. A intenção é fortalecer os grupos produtivos de mulheres do campo com base na Agroecologia, na Economia Solidária e no Feminismo, tendo como objetivo ao longo de 2 anos, a formação da rede de Mulheres do Jacuípe. O projeto é financiado pela SETRE - Secretaria de Trabalho, Renda e Esportes do Estado da Bahia e tem sede em Várzea da Roça-BA. Desde seu início em julho de 2013 um leque de ações foram realizadas, com a parceria de atores locais importantes para as mulheres do campo.
Assim, houve na primeira fase um processo de identificação e aproximação dos grupos de mulheres através dos diagnósticos baseados em metodologia participativa. Além disso, estão sendo realizadas várias oficinas de formação e capacitação, como identidade visual coletiva, cooperativismo e relações de gênero, entre outros. Em março comemoramos o Dia Internacional da Mulher em parceria com os Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e outras entidades locais, sensibilizando sobre a valorização do trabalho da mulher. Atualmente, Mulheres Organizadas: Um Desejo, Nossa Ação! foca sua atenção a nível municipal na intermediação do processo do PNAE-Programa Nacional de Alimentação Escolar e na criação de uma feira agroecológica quixabeirense.
NÚCLEO SERTÃO IPB | END: Praça da Bandeira, 358, 1º andar, CEP: 44.635-000 Várzea da Roça - BA | FONE: 74 3669 2468 | E-MAIL: [email protected]
EXPEDIENTE | EDIÇÃO E REVISÃO | André Souza DIAGRAMAÇÃO | Ravi Santiago | FOTOS | André Souza, Beto Oliveira, Dirce Almeida, Eliane Reis e Renata Rangel | TEXTOS | André Souza, Dirce Almeida, Mathilde Chaigneau e Renata Rangel
Núcleo Sertão
Localizado em Várzea da Roça, o Núcleo atua desde 2009 através do
projeto Umbuzeiro: Escola Sustentável do Semiárido, construiu relações de parcerias locais com prefeituras, Sindicatos, Associações Comunitárias e a UNAVAR - União das Associações de Várzea da Roça. Atualmente realiza
os projetos Águas do Jacuípe e Mulheres Organizadas: Um
Desejo, Nossa Ação!
O QUE É SISTEMA AGROFLORESTAL?
Agrofloresta ou Sistema Agroflorestal é uma forma de produzirmos alimentos ao mesmo tempo em que conservamos ou recuperamos a natureza. Isso é possível porque nessa forma de produção, ao invés de retirarmos toda vegetação original e plantarmos apenas uma cultura em uma larga extensão de terra, procuramos entender o funcionamento da natureza e imitá-la, utilizando as relações entre os seres vivos a nosso favor e estimulando a biodiversidade. O Sistema Agroflorestal (SAF) é uma forma de uso da terra na qual se combinam vários tipos de árvores frutíferas, madeireiras, medicinais e outras, com plantas agrícolas de ciclo curto, como o milho, o aipim, a abóbora, etc. Todas as plantas são combinadas em um mesmo espaço levando em conta o tempo de vida, tamanho, forma de crescimento e função no sistema.
Um aspecto que determina a sustentabilidade desses sistemas é a presença das árvores, que têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, e trazer para a superfície, assim como o excelente trabalho de cobertura da terra, tanto com a sombra quanto com as folhas que caem. A adubação então é feita pela própria natureza, através da poda das árvores e da adubação verde, imitando o que a floresta faria ao longo de um tempo maior. Não utilizamos agrotóxicos, nem adubos químicos que causam desequilíbrio ao sistema. Na Agrofloresta, o planejamento da combinação das plantas ajuda no controle natural dos insetos, através do reestabelecimento do equilíbrio ecológico.
Para começar uma agrofloresta pense:
O que eu quero plantar?, o que a minha terra produz?, o que vou dar para
terra comer? (quais as plantas serão podadas para dar “alimento” para a terra).
Nada é queimado! Tudo que for podado, antes do início ou durante a agrofloresta, as folhas, palha, capim roçado, toda a matéria orgânica vai para terra, cobrindo, mantendo a umidade e aumentando a fertilidade do solo.O princípio da Agrofloresta é imitar o que a natureza faz! Então o primeiro passo é observar
para saber como é a combinação das plantas, os tamanhos, as formas, tempo de vida e
perceber como vivem em equilíbrio dinâmico e cooperação!
A proposta do Projeto Águas do Jacuípe é contribuir com a
recuperação de trechos das margens do Riacho do Urubu e Rio Camizãozinho,
utilizando Sistemas Agroflorestais. O trabalho já foi iniciado com o planejamento das atividades
junto às famílias de agricultores que têm propriedade nessas margens ou dentro da Bacia. O objetivo das Agroflorestas nessas áreas é de recuperar a cobertura vegetal e ao mesmo tempo, produzir alimento para as famílias e para suas criações
animais. Serão utilizadas espécies de árvores nativas, frutíferas, plantas agrícolas,
adubos verdes e palma.
OS SAFS SERÃO IMPLANTADOS
NAS MARGENS E NASCENTES
Jovens participam das ações do Águas do Jacuípe, como no curso de Produção de Mudas. Possibilitar a construção de uma identidade e protagonismo juvenil com enfoque na convivência com o semiárido a partir da criação de novos modelos produtivos no campo é um dos objetivos do Águas do Jacuípe, que proporciona formação técnica para a juventude de Várzea da Roça. Jovens de diferentes idades participaram do curso de Produção de Mudas, dividido em 3 módulos, sendo o módulo I com foco na Coleta de Sementes, o módulo II em Beneficiamento e Armazenamento de Sementes e o módulo III Produção de Mudas e Viveiro. O curso foi facilitado pela assessora pedagógica Renata Rangel e serviu para a criação de mudas que irão abastaecer o Viveiro Escola e as agroflorestas implantadas pelo projeto.
A JUVENTUDE E AS SEMENTES DA CAATINGA
NOSSO POVO
Ariel Carneiro e sua companheira, Marleide da Silva, já vivem há 26 anos tirando da terra o sustento que lhes permitiu criar e educar os 3 filhos. Fazem parte das primeiras famílias que implantarão agroflorestas nas terras às margens do rio, através do projeto Águas do Jacuípe. Quando criança Ariel era chamado para cantar nos mutirões que sua comunidade fazia, “fosse para despalhar o milho, para bater o
feijão o trabalho era todo feito em mutirão... os mutirões serviam para organizar a comunidade”, relembra o mateiro.
Marleide sempre teve horta em casa, os filhos ajudavam na colheita e rega
das plantas, “comíamos tudo que a gente produzia... antes eu plantava
quiabo, cebola, alface, cenoura, tomate, coentro, plantas medicinais”, mas com a
seca pararam com a produção na horta. O mateiro concorda que a criação do gado foi responsável por boa parte da degradação do ambiente, “o rio sempre corria mais, antigamente em tempo de trovoada passava 30 dias correndo água” relembra Ariel, com os olhos de quem observou ao longo do tempo a exploração dos recursos naturais e a transformação da caatinga local.
As formações pretendem envolver os jovens locais e os empoderar dos conhecimentos, práticas e técnicas de implantação de agroflorestas. Esses cursos são também uma resposta às solicitações feitas pelas comunidades visitadas durante as reuniões de mobilização, apresentando alternativas para que os jovens aprendam a conviver com seu território e não precisem se deslocar para outras terras em busca de trabalho, fortalecendo a relação dos jovens com as sementes e a caatinga.
“O mateiro vive na mata, conhece as árvores,
as plantas medicinais, os animais, trazem informações
sobre a mudança da paisagem”. Ariel
“Espero que no futuro volte a cobertura
vegetal com o SAF como era antigamente e possamos ter mais água na propriedade, aí podemos plantar mais e ficar
menos dependente dos ciclos da chuva e seca.”
Ariel Carneiro