IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
O SUJEITO IDOSO TECNOLÓGICO: UM MOVIMENTO DESCRITIVO-
ANALÍTICO
Daniela POLLA (Uem)
Pedro NAVARRO (Uem)
Introdução
Atualmente circulam, nos mais variados veículos midiáticos, discursos acerca dos
sujeitos idosos, muitas vezes tomados como a Melhor Idade. Esses discursos, atravessados
pelas práticas de saber e poder de campos como a medicina, a nutrição, a educação física,
tendem a construir uma imagem discursiva de um sujeito idoso que continua ativo mesmo
após a aposentadoria, um sujeito que viaja, volta a estudar, permanece trabalhando (ou seja,
se mantém economicamente ativo), consome diversos tipos de produtos. Haja vista a
representação de idoso descrita acima, muitos meios convencionaram denominar a fase da
vida após os sessenta anos1 como a Melhor Idade, já que fazem crer que a aposentadoria –
aliada à inovações como remédios, energéticos, séries de exercícios específicas, aumento na
expectativa e qualidade de vida – permitiria aos idosos aproveitar ao máximo a vida.
Contudo, essa visão de Melhor Idade ainda não se cristalizou, ou seja, nem todos os
discursos que circulam na mídia atual compartilham desta visão e acabam por construir
outra representação discursiva dos sujeitos idosos.
Além disso, especialmente, observa-se nas mídias uma constante relação dos
sujeitos idosos à busca por conhecer e dominar as Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTIC’s). Contudo, importa investigar de que forma a mídia representa
discursivamente essa busca dos idosos por conhecer e dominar as novas ferramentas
tecnológicas. Sendo assim, importa questionar: quais séries enunciativas referentes a esse
assunto podem ser recortadas? Existem regularidades na imagem criada pela mídia para
esses sujeitos? Pode-se observar o funcionamento da função enunciativa na série recortada?
1 Não existe um consenso referente ao início da Melhor Idade, alguns definem sessenta anos, outros cinquenta
e cinco. Entretanto, há predomínio da ideia de que esta fase iniciaria aos sessenta anos, portanto, será esse o
marco etário preconizado neste artigo.
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Sendo assim, uma das maneiras possíveis para a verificação dessa nova construção
discursiva da imagem dos sujeitos idosos seria analisar sua relação com as novas
tecnologias de informação e comunicação. Especialmente, quando um discurso publicitário
do sistema operacional de computadores mais utilizado no mundo circula relacionando a
imagem de idosos à ideia de “novas possibilidades”. Nesse sentido, importa perceber a
maneira como os discursos midiáticos atuais constroem discursivamente a imagem dos
idosos em sua relação com a tecnologia. Assim, o objetivo deste trabalho será o de cotejar o
discurso publicitário mencionado acima com um discurso que circulou no site de
relacionamentos Facebook e o discurso de um portal eletrônico intitulado “Nossa Melhor
Idade”. Isso será feito com o intuito de verificar quais saberes e poderes atravessam os
discursos dos referidos suportes midiáticos, quais as representações da relação
idoso/tecnologias são veiculadas, bem como quais as estratégias empregadas para
possibilitar tais representações. Verificar-se-á, igualmente, em um gesto de descrição-
interpretação os sentidos produzidos pela circulação destas representações discursivas
acerca do sujeito idoso.
Para tanto, empregam-se os ferramentais teórico-metodológicos da análise de
discurso de linha francesa, preconizando-se aqueles descritos por Michel Foucault. Além
disso, como suporte acessório, verifica-se o aporte teórico de trajeto temático descrito por
Guilhaumou e Maldidier (1994). Destarte, nas próximas seções serão expostas estas teorias,
e, por fim, esboça-se um movimento descritivo-interpretativo visando verificar quais as
representações discursivas da relação idoso/tecnologias são veiculadas nas materialidades
descritas acima.
1. Análise de Discurso e a (da) Mídia
Para Michel Foucault, os enunciados obedecem a certas regras de formação. Estas
regras são entendidas pelo autor como “as condições a que estão submetidos os elementos
(...) (objetos, modalidade de enunciação, conceitos, escolhas temáticas)” (FOUCAULT,
2009, p. 43). Estas regras de formação definem a inscrição dos enunciados em uma dada
formação discursiva, que pode ser identificada
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no caso em que se puder descrever, entre um certo número de
enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os
objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se
puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e
funcionamentos, transformações). (FOUCAULT, 2009, p. 43)
Assim, “as regras de formação são condições de existência (mas também de
coexistência, de manutenção, de modificação e de desaparecimento) em uma dada
repartição discursiva” (FOUCAULT, 2009, p. 43).
Já com relação ao enunciado, o filósofo afirma não se tratar de uma categoria
fechada, mas de uma função. Nas palavras dele,
O enunciado não é, pois, uma estrutura (isto é, um conjunto de relações
entre elementos variáveis, autorizando assim, um número talvez infinito
de modelos concretos); é uma função de existência que pertence,
exclusivamente, aos signos, e a partir da qual se pode decidir, em
seguida, pela análise ou pela intuição, se eles “fazem sentido” ou não,
segundo que regra se sucedem ou se justapõe, de que são signos, e que
espécie de ato se encontra realizado por sua formulação. (FOUCAULT,
2009, p. 98)
Sendo assim, o enunciado é uma função e não estrutura. Para Michel Foucault, tem-
se enunciado na medida em que se puder descrever a função enunciativa, descrita por ele
em quatro domínios que uma dada sequência enunciativa precisa contemplar para ser
descrita como enunciado. Estes domínios são: referencial, posição sujeito, campo associado
e existência material. Com base na afirmação da funcionalidade dos enunciados, pode-se
argumentar que, mesmo o referido autor nunca ter se dedicado a materialidades midiáticas
ou imagéticas, quando se puder atribuir a um texto imagético as quatro categorias da função
enunciativa, pode-se afirmar que há enunciado; bem como aplicar os princípios teórico-
metodológicos do autor para realizar o movimento descritivo-interpretativo.
Cabe, portanto, descrever brevemente os quatro princípios da função enunciativa.
Inicialmente, para Foucault (2009), o enunciado não possui correlatos como uma
proposição tem um referente, mas está, sim, ligado a um referencial, que
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forma o lugar, a condição, o campo de emergência, a instância de
diferenciação dos indivíduos ou dos objetos, dos estados de coisa e das
relações que são postas em jogo pelo próprio enunciado; define as
possibilidades de aparecimento e de delimitação do que dá à frase seu
sentido, à proposição seu valor de verdade. (FOUCAULT, 2009, p. 103)
Como segundo elemento da função enunciativa, o autor não fala em sujeito, mas em
uma posição sujeito. Dito de outro modo, não há um sujeito específico, mas uma posição
vazia que pode ser ocupada por vários enunciadores. Assim, “descrever uma formulação
enquanto enunciado não consiste em analisar as relações entre o autor e o que ele disse (ou
quis dizer, ou disse sem querer), mas em determinar qual é a posição que pode e deve
ocupar todo indivíduo para ser seu sujeito.” (FOUCAULT, 2009, p. 108).
Para Foucault, quanto ao campo associado, “não há enunciado que não suponha
outros: não há nenhum que não tenha, em torno de si, um campo de coexistências, efeitos
de série e de sucessão, uma distribuição de funções e de papéis.” (FOUCAULT, 2009, p.
112). Como último elemento da função enunciativa, o enunciado precisa ter uma existência
material, sendo que o enunciado precisa ter uma superfície, um suporte, um lugar e uma
data, quando essa materialidade se altera o próprio enunciado também se modifica.
(FOUCAULT, 2009).
Além disso, como a preocupação neste trabalho repousa sobre discursos midiáticos,
importa destacar que, apesar de ser muito citado em análises destes discursos, Michel
Foucault, em seus trabalhos, não se dedicou especificamente aos discursos da mídia. Mas,
existem maneiras de operacionalizar os contributos teóricos/metodológicos do filósofo aos
estudos que se debruçam em textos midiáticos. Uma destas formas é a aproximação com o
conceito foucaulteano de “vontade de verdade”, já que os “discursos da mídia são movidos
por vontade de verdade e, dessa forma, mesmo não trabalhando em torno de saberes,
podemos ter portas de entrada para a análise de objetos midiatizados quando os
relacionamos com a vontade de verdade que os sustenta.” (VOSS; NAVARRO, 2011, p.
68). Assim, os discursos da mídia mantém e fazem circular “discursos verdadeiros” a ponto
de (trans)formar seus objetos. Conforme Voss e Navarro,
Os objetos de discurso, aqueles possíveis de serem definidos a partir de
relações entre suas superfícies de emergência, suas instâncias de
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delimitação e suas grades de especificação, podem, então, ser recortados
como produtos da mídia e analisados com base nas relações entre a mídia
e a vontade de verdade e de saber, sem que, com isso, necessariamente
nos detenhamos no estatuto dos saberes na produção de verdades na
mídia. Passamos, assim, a descrever objetos que não virão, mais tarde, se
tornar estritamente objetos dos saberes e das ciências. (VOSS;
NAVARRO, 2011, p. 74)
Nesse sentido, ao articular os conceitos foucaulteanos e a análise da mídia é preciso
considerar o “lugar” e a “posição” de sujeito que perpassam as práticas discursivas
midiáticas, bem como o fato de que na mídia não são fundadas discursividades, o autor do
discurso midiático é atravessado por elas e procura estabelecer uma unidade à dispersão de
discursos (NAVARRO, 2009, p. 130). Além disso, faz-se necessário considerar que
Por ser uma prática discursiva legitimada na sociedade como produtora e
difusora de cultura, o discurso jornalístico construiu, ao longo do tempo,
uma imagem de confiança que – sabemo-lo – é estrategicamente
ancorada em índices de objetividade, oriundos de “universos logicamente
estabilizados” (PÊCHEUX, 1997). Tal imagem contribuiu para
transformar o jornalismo em um discurso autorizado. Em outros termos,
o poder que se exerce nesse discurso lhe permite produzir um
determinado saber, ou, para usar os termos empregados por Foucault,
“efeitos de poder”, que circulam entre os enunciados da mídia. Esses
efeitos de poder, paradoxalmente, pesam como uma força que diz não e
como algo que “produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz
discurso” (FOUCAULT, 1998, p. 8).
Assim, ao produzir a “verdade” amparada no poder, o jornalista
tem o estatuto de dizer o que funciona como verdadeiro de uma época.
(NAVARRO, 2006, p. 84)
Desta forma, após abordar os contributos teórico-metodológicos que basearão o
movimento descritivo/analítico, na próxima seção será abordada brevemente a noção de
trajeto temático, a qual contribuirá para a seleção do corpus e delimitação da análise.
2. Trajeto Temático
A noção de trajeto temático pode ser notadamente relevante para a delimitação de
corporas muito vastos. Isto porque, de acordo com Guilhaumou e Maldidier (1994), a
análise de um trajeto temático tem relação com a compreensão. Já que,
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A análise de um trajeto temático remete ao conhecimento de tradições
retóricas, de formas de escrita, de usos da linguagem, mas sobretudo,
interessa-se pelo novo no interior da repetição. Esse tipo de análise não
se restringe aos limites da escrita, de um gênero, de uma séria: ela
reconstrói os caminhos daquilo que produz o acontecimento
discursivo.(GUILHAUMOU; MALIDIDER, 1994, p. 166)
Além disso, de acordo com Navarro, citando Charaudeau e Maingueneau, no
Dicionário de Análise do Discurso (2004), o conceito de trajeto temático possibilita ao
estudioso “apreender feixes de sentido de enunciados que se agrupam em torno do
itinerário de uma posição de sujeito, da formação de um conceito e da organização de um
objeto.” (NAVARRO, 2006, p. 78-79). Já que, para Guilhaumou e Maldidier, “a análise de
um trajeto temático fundamenta-se em um vai-e-vem de atos linguageiros de uma grande
diversidade e atos de linguagem que podemos analisar linguisticamente e nos quais os
sujeitos podem ser especificados.” (GUILHAUMOU; MALIDIDER, 1994, p. 167)
Cabe destacar ainda a relevância da união da noção de trajeto temático com os
ferramentais teórico-metodológicos da análise de discurso para a análise da construção
discursiva de imagens. Isto porque a
articulação dessa noção com a de enunciado (FOUCAULT, 1972) tem
servido como instrumento para compreender as imagens (...) resultantes
do exercício da função enunciativa na produção discursiva em foco.
Além disso, a noção de trajeto temático articulada com a séria
enunciativa recortada oferece condições para depreender uma unidade na
dispersão de posições discursivas heterogêneas que se manifestam nos
textos analisados. (NAVARRO, 2006, p. 79)
Desta forma, a noção de trajeto temático contribui, neste trabalho, para recortar do
corpo de textos existentes sobre os sujeitos idosos aqueles que se referem à posição de
sujeito idoso na sua relação com as novas tecnologias. Isto posto, passa-se, por fim, ao
movimento descritivo-interpretativo do discurso dos enunciados agrupados em torno do
trajeto temático Relação Idoso/Tecnologias.
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3. Análise
O que, de certa forma, motivou a elaboração deste artigo foi a emergência e
circulação, na grande mídia brasileira de uma campanha publicitária do sistema operacional
de computadores Windows ligando a imagem de um casal de sujeitos idosos à noção de
novas possibilidades. No caso da campanha de forma especial novas possibilidades na
relação Idoso/Tecnologias. O referido comercial inicia com um plano geral, o qual permite
visualizar uma senhora idosa sentada a mesa, utilizando o computador para ouvir músicas,
jogar um game de luta, dentre outras tarefas já aparecem várias janelas do Windows
abertas. Ao fundo, vê-se um senhor idoso sentado no sofá, também ao computador,
realizando variadas tarefas. O som do comercial fica por conta de um rock bem pesado, o
qual o casal dança enquanto realiza as tarefas ao computador.
Figura 01 – Início do comercial do Windows.2
2 Vídeo disponível como Microsoft Windows 7 – Vovó Techno, em www.youtube.com. Acesso em: 15 nov.
2011.
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De repente, o senhor ouve o neto chegando e avisa a esposa por um programa online
de bate-papo que o neto do casal estaria chegando. Ao ler a mensagem, a música é mudada
para uma suave melodia clássica, o senhor esconde o computador e passa a ler um livro,
enquanto a senhora fecha todas as janelas do sistema operacional, jogos e música, passando
a fingir que tenta buscar uma receita de bolo na internet sem muito sucesso. Ao chegar o
neto olha com ternura para o casal e passa a “ajudar” a avó na busca pela receita. Neste
momento, a imagem é cortada para uma tela preta com a logomarca do sistema operacional,
e se vê/ouve o slogan: Windows 07: Abre novas possibilidades.
Figura 02 – Final do Comercial do Windows.3
Assim, analisando o enunciado imagético do comercial, aliado ao enunciado do
slogan lido ao final, percebe-se que as “novas possibilidades” prometidas pelo Windows 07
podem ser ligadas igualmente aos sujeitos idosos. Isto pode ser percebido já que a imagem
que os idosos querem passar quando o neto chega é diferente daquela mostrada quando o
casal está sozinho. Dessa forma, pode-se perceber que existe a possibilidade dos sujeitos
idosos assumirem, sim, uma posição de sujeito que domina a tecnologia e conhece as novas
3 Vídeo disponível como Microsoft Windows 7 – Vovó Techno, em www.youtube.com. Acesso em: 15 nov.
2011.
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possibilidades oferecidas por esses meios, haja vista a execução de múltiplas tarefas que o
Windows 07 abre a possibilidade de realizar, bem como a nova possibilidade de uma
posição sujeito dos idosos na sua relação com a tecnologia.
Importa perceber também que um enunciado, com um referencial de idoso
dominando a tecnologia, somente parece emergir nas materialidades contemporâneas, como
sites e televisão, já que a memória discursiva não apresenta registro de imagens discursivas
de sujeitos idosos associadas às tecnologias de informação e comunicação. Contudo, a
memória discursiva de idoso calmo, quieto, passivo, que ouve música clássica, lê livros e
cozinha para os netos não deixe de ser mostrada, a imagem do “novo idoso” fica em
evidência por aparecer primeiro e ser retomada pelo slogan no final do comercial, de certa
forma instaurando um regime disciplinar e governando os sujeitos idosos a aderirem a essas
novas possibilidades tecnológicas e de posição de sujeito.
Outro enunciado que parece conjugar duas posições sujeito para os idosos (essa
nova e aquela da memória discursiva, ligada à música clássica e a cozinhar para os netos)
circulou recentemente no site de relacionamentos Facebook. O referido enunciado
apresenta a imagem em plano médio de uma senhora idosa, fazendo um gesto característico
de rebeldia. Embora, no enunciado textual leia-se “Respeite os mais velhos, eles se
formaram sem Google e Wikipédia.”
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Figura 03 – Idosa e ferramentas de busca.4
Conforme pode ser observado na Figura 03, o texto não usa expressões como
“Melhor Idade”, “Terceira Idade” ou “Idosos”, porém emprega a expressão “Mais Velhos”
como forma de suavizar o discurso acerca de um idoso que se formou sem acesso à
ferramentas eletrônicas de busca como o Google e a Wikipédia. Em contrapartida, o
enunciado imagético permite ver um sujeito idoso alegre, exibindo um gesto característico
de rebeldia, com as unhas feitas, cabelos brancos e rugas mentidos, feliz com a sua idade.
Assim, esse contraste parece criar o sentido de que a tecnologia de busca online pode não
ter feito parte da formação “escolar” dos idosos de hoje, contudo isso não impede que agora
eles se “rebelem” (conforme o gestual da imagem) e passem a buscar as novas tecnologias,
figurando, inclusive, na materialidade de um site de relacionamento, tendo como campo
associado as modernas ferramentas de busca como o Google, a Wikipédia.
Ainda nesse trajeto temático da Relação Idoso/Tecnologia, o constante crescimento
de sujeitos idosos que dominam a tecnologia digital, bem como todas as possibilidades que
ela abre, pode ser verificada pela existência de sites específicos para os sujeitos idosos. Um
exemplo disso é o portal Nossa Melhor Idade. O qual traz notícias e conteúdos voltados
4 Imagem disponível em:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=286746981358204&set=a.269979363034966.73269.2
62158970483672&type=1&theater. Acesso em: 06 nov. 2011.
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especificamente para os idosos. Se o sujeito idoso de hoje não fizesse parte da ordem do
discurso que domina as tecnologias existiria um portal exclusivo para ele?
Figura 04 – Site Nossa Melhor Idade.5
Importa destacar que o portal além de sem online, dito de outro modo, o sujeito
idoso precisa dominar as tecnologias para o uso do computador e da internet, o Nossa
Melhor Idade, tem um link específico para falar sobre tecnologia. Assim, ao lado de temas
comumente ligados memória discursiva referente à terceira idade dos anos oitenta e
noventa (por exemplo, nostalgia, política, saúde) vê-se nesse portal temas como turismo,
esportes, vídeos da semana e tecnologia. Assim, verifica-se que é da história recente
discursos como estes, que atribuem aos sujeitos idosos o interesse por informação das
novas tecnologias, turismo, esportes, apenas o momento atual permite que emirjam estes
enunciados e não outros em seu lugar.
Ainda com relação ao site da Figura 04, destaca-se que o mesmo pressupõe um
público alvo da Melhor Idade, ou seja, maior de sessenta anos. Mesmo assim, as matérias
principais do dia falam sobre um carro do futuro super tecnológico: “Toyota imagina um
5 Portal disponível em: http://www.nossamelhoridade.com.br/home/index.php. Acesso em: 22 out. 2011.
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futuro alucinante para o seu carro [vídeo].” Dito de outro modo, este enunciado tem como
referencial uma tecnologia “alucinante” para os carros do futuro; bem como uma posição
de sujeito idoso que se interessaria por um carro tecnológico e domina as tecnologias da
rede já que é preciso realizar o download de um vídeo para poder ter acesso a esta matéria.
Outra notícia em destaque, e que pelo seu enunciado vincula ao idoso o domínio da
tecnologia online é o segundo no centro da Figura 04: “Ganhe tempo e evite filas gigantes
para fazer a primeira via ou atualizar seu título de eleitor! Faça o cadastro para a emissão de
Título de Eleitor pela internet.” Mais uma vez o portal atribui ao seu público alvo (a Melhor
Idade) o domínio das ferramentas digitais, já que utiliza até mesmo o modo imperativo:
“Faça”. Dito de outro modo, o enunciado desta notícia parece dizer: já que você sabe fazer,
vá e faça.
Considerações Finais
Assim, ao encerrar este trabalho, tendo por base a reflexão teórica aliada ao
verificado no movimento descritivo-analítico, verifica-se com relação ao trajeto temático
Relação Idoso/Tecnologia que a mesma aparece de forma acentuada na mídia
contemporânea. Os discursos midiáticos parecem levar a crer que o idoso de hoje ocupa
uma posição sujeito que usa e domina as novas ferramentas de informação e comunicação.
Isto sobretudo quando se analisa a circulação desses discursos em materialidades digitais,
como é o caso do Faceboook e do site Nossa Melhor Idade. Além disso, destaca-se o fato
de que publicidades ligando a imagem discursiva de idoso dominando a tecnologia já
podem ser veiculadas na televisão aberta, por exemplo, mesmo com a imagem de idoso
predominante na memória discursiva coletiva não sendo silenciada, as “novas
possibilidades” dos sujeitos idosos com relação à tecnologia já figuram nestes discursos.
Por fim, cabe ressaltar a necessidade de novos e mais aprofundados estudos
referentes às mudanças discursivas que perpassam e constituem os discursos acerca dos
sujeitos idosos. Já que, por exemplo, não existe um consenso de como se referir a estes
sujeitos, circulam discursos sobre “os mais velhos”, os “idosos”, a “terceira idade”, a
“melhor idade”, dentre outras denominações. Desta forma parece se justificar o
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desenvolvimento de pesquisas que investiguem o tratamento discursivo com relação os
sujeitos idosos, procurando verificar porque, na contemporaneidade, emergem estes
discursos e não outros em seu lugar.
Referências Bibliográficas
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2009.
GUILHAUMOU, J.; MALDIDIER, D. Efeitos do Arquivo: A Análise do Discurso no lado
da História. In: ORLANDI, E. P. Gestos de leitura da História no Discurso. Homenagem
a Denise Maldidier. Tradução por Bethania Mariani [et al]. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1994.
NAVARRO, P. O pesquisador da mídia: entre a “aventura do discurso” e os desafios do
dispositivo de interpretação das AD. In: NAVARRO, P. (org.) Estudos do Texto e do
Discurso: mapeando conceitos e métodos. São Carlos: Claraluz, 2006.
NAVARRO, P. O Texto como objeto de análise discursiva: questões de sentido, memória e
autoria. In: ANTONIO, J. D.; NAVARRO, P. (orgs.) O Texto como objeto de ensino, de
descrição linguística e de análise textual e discursiva. Maringá: Eduem, 2009.
VOSS, J.; NAVARRO, P. Sobre o conceito de formação discursiva em Foucault e o
tratamento de objetos da mídia. In: POSSENTI, S.; BENITES, S. A. L. (orgs.) Estudos do
Texto e do Discurso: materialidades diversas. São Carlos: Pedro & João Editores, 2011.