TIAGO ALVES NOGUEIRA DE SOUZA
JORNALISMO ONLINE E REDES SOCIAIS NA INTERNET: UM
ESTUDO DE CASO DOS PORTAIS CADA MINUTO, TUDO NA
HORA E GAZETAWEB
MACEIÓ - AL
2011
TIAGO ALVES NOGUEIRA DE SOUZA
JORNALISMO ONLINE E REDES SOCIAIS NA INTERNET: UM
ESTUDO DE CASO DOS PORTAIS CADA MINUTO, TUDO NA
HORA E GAZETAWEB
MACEIÓ - AL
2011
Monografia, apresentada ao Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo - da Universidade Federal de Alagoas como requisito para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
COMUNICAÇÃO SOCIAL
TERMO DE APROVAÇÃO
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, avalia a Monografia
Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de caso dos
portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb, elaborada por Tiago Alves
Nogueira de Souza.
Monografia examinada:
Maceió, _____de___________de 20____.
Comissão Examinadora:
______________________________________________
Orientador: Prof. Ph.D Sivaldo Pereira da Silva
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Profª. Ms. Andréa Moreira Gonçalves De Albuquerque
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Prof. Ms. Érico de Melo Abreu
Universidade Federal de Alagoas
______________________________________________
Profª. Dr. Magnolia Rejane Andrade dos Santos
Universidade Federal de Alagoas
Maceió
2011
Àqueles que me amam, eu os amo também.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu papai e à minha mamãe por todo apoio que sempre precisei.
Não poderia ser diferente, afinal, são meus pais. Gostaria também de dizer o
quanto sou grato aos meus amigos pessoais, Ubiratan, Lucas e Paulo e à minha
companheira de alma, Lay, pelos excelentes momentos de relaxamento, paz e
lazer que auxiliaram no desafio desta criação. Agradeço ao professor Ronaldo
Bispo por ter me introduzido na vida acadêmica e ter me servido de inspiração.
Foram dias incríveis durante a pesquisa e devo muito a ele por diversas coisas
que aprendi na área de comunicação. Queria lembrar também de meus amigos
da época do Colégio, cuja atual distância não os tornam menos especiais: André,
Henkeo, Jamerson e Fábio.
Alguns personagens não poderiam ficar de lado. Obrigado Gregory House e
Dexter Morgan pelas implacáveis noites de Vicodin e Etorfina que me
tranquilizaram e deram paciência para continuar este trabalho, mesmo ao ver o
Sol nascer pelo reflexo do monitor de meu notebook. Gostaria de agradecer ao
meu notebook, mas só gostaria mesmo. Travou bastante, bateria sempre fraca e
monitor com defeito. Nunca comprem um Dell.
Um “muito obrigado” à Plus! Agência Digital por permitir que eu pudesse por em
prática minhas ideias e estudos na área de mídias sociais. Um verdadeiro ninho
de criatividade. Sem vocês, dificilmente estaria onde estou neste momento.
Finalmente, obrigado à banca que aceitou participar desta avaliação mesmo com
o prazo curtíssimo e em um período praticamente sem aulas na Ufal. Deixa eu ver
quem mais... Não, é isso.
NOGUEIRA, Tiago. Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de
caso dos portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb. 2011, 85f. Monografia
(Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade
Federal de Alagoas, Maceió, 2011.
RESUMO
O jornalismo online se modificou nos últimos anos com o crescimento das
plataformas de mídias sociais, especialmente com o desenvolvimento de sites de
redes sociais na internet como o Twitter e o Facebook. Praticamente não há mais
nenhum portal de notícias no país que não tenha percebido o potencial de
distribuição e aquisição de informações através das redes sociais na internet.
Este trabalho procura: fazer uma linha do tempo sobre a evolução do jornalismo
online em comparação com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
e a Cibercultura; define o momento atual do jornalismo online ao conectá-lo com
duas características principais: personalização e interação; faz apontamentos
sobre a modificação do jornalismo contemporâneo com base na internet e; analisa
os três portais alagoanos com maior presença nos Sites de Redes Sociais com
base em pontos qualitativos e quantitativos.
Palavras-chave: redes sociais, jornalismo online.
NOGUEIRA, Tiago. Jornalismo online e redes sociais na internet: um estudo de
caso dos portais Cada Minuto, Tudo Na Hora e Gazetaweb. 2011, 85f. Monografia
(Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade
Federal de Alagoas, Maceió, 2011.
ABSTRACT
Online Journalism has changed in the last few years with the growing of social
media platforms, especially with the development of Social Network Sites Twitter
and Facebook. Practically there isn’t any news site at Brazil that has not
discovered yet the potential of distribute and acquire information thru the social
network sites. This monograph pursuit to: timeline the evolution of online
journalism with the new technologies of information and communication; define the
nowadays online journalism by connecting it with two main characteristics:
personalization and interactivity; do appointments about the change in
contemporary journalism at internet and; analyze three local portals of Alagoas
with biggest presence at Social Networks Sites by quantitative and qualitative
points.
Keywords: social networks, online journalism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Esferas que ilustram a delimitação das terminologias...........................36
Gráfico 1 – O crescimento do tráfego via web até meados dos anos 2000. .........39
Gráfico 2 - Índice de volume de buscas pra a palavra “web” vem caindo desde 2005.......................................................................................................................40
Gráfico 3 - Índice de volume de buscas para a palavra “online” cresceu bastante entre os anos de 2007 e 2010...............................................................................40
Quadro 1 - JDBD: novo paradigma surge entre a 3ª e a 4ª geração.....................43
Figura 2 - Da esquerda para a direita: redes centralizada, descentralizada e distribuída..............................................................................................................56
Figura 3 - Página inicial de login do Facebook em novembro de 2011.................58
Figura 4 - Página inicial de login do Twitter em novembro de 2011......................59
Figura 5 - Usuários de mídias sociais e suas principais utilizações......................67
Figura 6 - Página inicial do portal Tudo na Hora em novembro de 2011...............79
Figura 7 - Página inicial do portal Cada Minuto em novembro de 2011................80
Figura 8 - Página inicial do portal Gazetaweb em novembro de 2011..................81
Figura 9 - Página do Facebook do TNH publica uma imagem agradecendo aos usuários que curtiram a página..............................................................................82
Figura 10 - No dia 13 de novembro, o Gazetaweb publicou um novo layout........83
Figura 11 - Durante 48 horas entre os dias 21, 22 e 23 de novembro, a página inicial do Cada Minuto se transformou num banner interativo que ocupava toda área do monitor, agradecendo aos 6 mil fãs no Facebook....................................84
Gráfico 4 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @tudonahora........85
Gráfico 5 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @gazetaweb.........86
Gráfico 6 - Número de tweets registrados por mês pelo perfil @cadamin.............87
Gráfico 7- Número de menções aos perfis dos portais no Twitter.........................88
Gráfico 8 - Número de seguidores no Twitter por mês..........................................88
Gráfico 9 – Quanto os meios cresceram ou diminuíram entre 2009 e 2010..........95
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo..............................36
Tabela 2 - Proporção de indivíduos que já acessaram a internet - Percentual sobre o total da população....................................................................................44
Tabela 3 - Fases do jornalismo online e suas características dominantes............52
Tabela 4 - Número de comentários no Facebook e no site da revista Veja..........78
Tabela 5 - Número de interações nas páginas de Facebook dos portais..............92
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................11
2. Comunicação, jornalismo e cibercultura........................................................................13
2.1 Considerações iniciais..............................................................................................13
2.2 Adeus mundo linear..................................................................................................17
2.3 Cibercultura: contextualização.................................................................................21
2.4 Era da Informação....................................................................................................25
2.5 Breves considerações necessárias sobre digital e virtual........................................29
3. JORNALISMO E INTERNET.........................................................................................32
3.1 Ao Jornalismo Contemporâneo................................................................................32
3.2 Nomenclaturas: por que jornalismo online?.............................................................33
3.3 Jornalismo Online.....................................................................................................41
3.4 A Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo digital online.....................45
4. JORNALISMO NA ERA DAS REDES SOCIAIS E DAS MÍDIAS SOCIAIS...................53
4.1 Redes sociais...........................................................................................................53
4.2 Redes sociais na Internet.........................................................................................54
4.3 Facebook..................................................................................................................57
4.4 Twitter.......................................................................................................................59
4.5 Comunidades virtuais...............................................................................................61
4.6 Mídias Sociais...........................................................................................................64
4.7 Jornalismo Participativo, Jornalismo em Rede e Social Journalism........................67
4.8 Jornalismo online e Redes Sociais na Internet........................................................72
4.9 A distribuição da informação....................................................................................75
5. ESTUDO DE CASO.......................................................................................................78
5.1 Metodologia..............................................................................................................78
5.2 Tudo na Hora............................................................................................................79
5.3 Cada Minuto.............................................................................................................80
5.4 GazetaWeb...............................................................................................................80
5.5 Uso das Redes Sociais............................................................................................81
5.6 Uso do Twitter pelos portais.....................................................................................84
5.7 Uso do Facebook pelos portais................................................................................89
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................93
REFERÊNCIAS..................................................................................................................96
INTRODUÇÃO
O jornalismo, enquanto instituição, não tem suporte. Ou poderíamos ainda afirmar
que o jornalismo pode ser executado em qualquer lugar. Vivemos numa era em
que não podemos mais fazer citações do tipo “com o advento da internet”. A
internet já está aí, bem na frente de nossos seus olhos. Até mesmo a grande
mídia tradicional já sucumbiu aos “encantos” do mundo digital. O jornalismo
mudou. E continuará mudando.
Para navegar nesses oceanos, entretanto, é necessário bagagem. E velocidade.
Os termos mudam numa velocidade incrível, as páginas se atualizam, e quem
não for rápido o suficiente será colocado de lado. Mas não é somente sobre
velocidade, é também sobre querer e poder. Estamos num momento em que não
somente jornalistas estão presentes nos meios de comunicação, mas também os
chamados “usuários comuns”. Através as mídias sociais eles geram conteúdo
que, a um clique de distância, pode viralizar e contagiar toda a internet. Com suas
redes sociais em ambientes facilmente administráveis, conduzem todos os seus
contatos a lerem e replicarem seus conteúdos. É assustador. E fantástico.
No primeiro capítulo deste trabalho, enfatizamos alguns aspectos teóricos
necessários para a compreensão do jornalismo online e fazemos conexão com a
cibercultura e evolução dos meios até o atual momento. Discutimos a questão da
mensagem, do conteúdo e do valor por trás da meio internet. Apresentamos o
mundo não-linear, através de hiperlinks, hiperdocumentos e hipertexto. Vemos o
que é a comunicação muitos-para-muitos e fundamentos da cibercultura. Por fim,
compreendemos que os limites da era da informação impõem um novo modelo de
jornalismo, onde a informação quer e deve ser livre e grátis.
No segundo capítulo, avaliamos o jornalismo contemporâneo através da óptica da
internet. Trabalhamos as nomenclaturas para o jornalismo praticado com novas
tecnologias e explicamos o porquê da nossa proposta com jornalismo online.
Apontamos questões sobre Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo
digital online. Afirmamos que cada geração do jornalismo online possui uma
11
característica dominante e que, na quarta geração, as características dominantes
são a interação e a personalização.
No terceiro capítulo trabalhamos a influencia direta das mídias e redes sociais no
jornalismo online. Desenvolvemos os conceitos de redes sociais na internet,
apresentamos o Facebook e o Twitter e destacamos a importância das
comunidades virtuais no processo de construção das interações mediadas por
computador. Apresentamos também as definições de mídias sociais, de
Jornalismo Participativo, Jornalismo em Rede e Social Journalism e
demonstramos como são feitas as distribuições de informações nas redes sociais.
O quarto e último capítulo apresenta o estudo de caso sobre os portais Tudo na
Hora, Cada Minuto e Gazetaweb, com entrevistas e análises de dados dos
portais. São feitas análise do Twitter e do Facebook dos portais, com gráficos e
projeções das ações. A distribuição e aquisição de informações através das redes
sociais tornam mais eficazes as práticas jornalísticas e ajudam a consolidar o
jornalismo online.
12
1. Comunicação, jornalismo e cibercultura
1.1 Considerações iniciais
São muitas as possibilidades de se iniciar um TCC sobre jornalismo Online, mas
uma abordagem com números parece ser a mais eficiente para demonstrar a
importância sobre o assunto. Segundo o F/Nazca, somos 81,3 milhões de
internautas brasileiros (a partir de 12 anos)1. Já para o Ibope/Nielsen, somos 78
milhões (a partir de 16 anos - setembro/2011)2. De acordo com a
Fecomércio-RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados à internet aumentou
de 27% para 48%, entre 2007 e 2011. O principal local de acesso é a lan house
(31%), seguido da própria casa (27%) e da casa de parente ou amigos, com 25%
(abril/2010)3. O Brasil é o 5º país com o maior número de conexões à Internet. O
último relatório do instituto ComScore4 sobre a ascensão das redes sociais na
América Latina aponta que 90,8% dos brasileiros que acessam a internet
acessam redes sociais. O que isso significa para o jornalismo?
A evolução do jornalismo se confunde com a evolução dos meios de
comunicação. A apropriação dos meios para o jornalismo contemporâneo é
constante. O suporte muda com o passar dos anos, adquirindo novas feições.
Mesmo em uma única mídia existem diferenças. No impresso, o jornalismo ocorre
nos jornais propriamente ditos, nas revistas, nos folhetins, nos livros-reportagem.
Na televisão, o jornalismo ocorre em programas com diferentes formatos: desde o
padrão Jornal Nacional até a revista eletrônica semanal, Fantástico. Isso apenas
para citar exemplos globais.
Na internet não poderia ser diferente. O formato jornalístico começou com os
famosos portais, dominadores nas primeiras décadas da internet, mas já existem
1 http://www.adnews.com.br/internet/110788.html (Acessado em 21/11/2011 )2 http://info.abril.com.br/noticias/internet/internet-no-brasil-chega-a-78-mi-de-usuarios-12092011-5.shl (Acessado em 22/11/2011 )3 http://info.abril.com.br/noticias/internet/metade-da-populacao-possui-acesso-a-internet-08112011-46.shl (Acessado em 21/11/2011 )4 http://www.missmoura.com/panorama-do-brasil-nas-redes-sociais-em-2011-com-dados-comscore (Acessado em 22/11/2011 )
13
diversos modos de se fazer jornalismo online. Blogs5, wikis6, tumblrs7, fotologs8,
redes sociais9. As possibilidades são muitas. Em seu livro Jornalismo Opinativo,
José Marques de Melo expõe sua opinião sobre o jornalismo e os suportes de
comunicação:
O jornal, assim como a revista, ou o rádio e a televisão, constitui instrumento indispensável para o exercício do jornalismo, mas não exclusivamente. É possível encontrar um jornal que contenha apenas matérias jornalísticas. Mas é possível encontrar um jornal que só contenha anúncios (propaganda) e nenhuma matéria vinculada ao universo da informação de atualidades. Logo, o jornalismo articula-se necessariamente com os veículos que tornam públicas suas mensagens, sem que isso signifique dizer que todas as mensagens ali contidas são de natureza jornalística. (MARQUES DE MELO, 2003, p. 16)
Marques de Melo, portanto, aponta para a ausência de suporte na atividade
jornalística. Ou para que qualquer meio pode conter informações jornalísticas,
desde que esses meios tornem públicas as mensagens, algo que as redes sociais
e as mídias sociais fazem com maestria, como veremos mais à frente.
Para o jornalista brasileiro Luis Nassif (2011), a blogosfera, por exemplo, já é
utilizada pelas mais diversas camadas da sociedade, mas a questão jornalística
não está na tecnologia utilizada: “a questão mais importante não é a tecnologia
em si, que está em constante transformação, mas nos valores por trás dela.”10
Para o jornalista, os valores da informação são mais importante que o meio em
que ela está vinculada.
A questão do meio é, entretanto, trabalhada em outra óptica através dos estudos
de Marshall McLuhan em Os meios de comunicação como extensões do homem
(understanding media). Para o autor, “o meio é a mensagem”:
Isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos – constituem o resultado do novo estalão introduzido em
5 Plataforma que permite a hospedagem e publicação de conteúdo na internet.6 Plataformas que permitem a edição de conteúdo por qualquer usuário.7 Um tipo de plataforma de blogs que permite a replicação de conteúdos.8 Blogs cujo principal foco está na publicação de fotos e imagens.9 Ver capítulo “Jornalismo , redes sociais e mídias sociais”10 http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=740019 (Acessado em 22/11/2011 )
14
nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos. (MCLUHAN, 1995, p. 21).
McLuhan explica ainda que o meio é a mensagem “porque é o meio que configura
e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas. O conteúdo
ou usos desses meios são tão diversos quão ineficazes na estruturação da forma
das associações humanas.” (idem, p. 23). É correto, portanto, afirmar que o
conteúdo vinculado nos suportes online, por serem meios distintos, possui uma
carga diferente das informações vinculadas nos suportes “tradicionais”. A questão
do valor retorna ainda mais à frente em seu texto:
Ao aceitar um grau honorífico [...] Gen. David Sanoff declarou o seguinte: “Estamos sempre inclinados a transformar o instrumental técnico em bode expiatório dos pecados praticados por aqueles que os manejam. Os produtos da ciência moderna, em si mesmos, não são bons nem maus: é o modo com que são empregados que determinam o seu valor.” Aqui temos a voz do sonambulismo de nossos dias. É o mesmo que dizer: “Uma torta de maçãs, em si mesma, não é boa nem má: o seu valor depende do modo com que é utilizada.” [...] E ainda: “As armas de fogo, em si mesmas, não são boas nem más: o seu valor é determinado pelo modo como são empregadas.” Vale dizer: se os estilhaços atingem as pessoas certas, as armas são boas; se o tubo da televisão detona a munição certa e atinge o público certo, então ele é bom. Não estou querendo ser maldoso. Na afirmação de Sarnoff praticamente nada resiste à análise, pois ela ignora a natureza do meio, dos meios em geral e de qualquer meio em particular [...] (MCLUHAN, 1995, p. 25)
O autor afirma que cada produto da ciência traz consigo implicações próprias para
a vinculação da mensagem. Embora a questão do meio pareça estar bem
vinculada ao valor por trás de seu uso, e nesse ponto McLuhan e Nassif parecem
estar em lados opostos, ainda é interessante expor o pensamento de Marc
Bresseel (2010), vice-presidente da Microsoft Advertising. Ele defende que o
conteúdo deve se adaptar a qualquer suporte, ou seja, nem só o jornalista é
multimídia11, a notícia também o é12:
11 No contexto do jornalismo online, multimidialidade, refere-se à convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico. A convergência torna-se possível em função do processo de digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou disponibilização em múltiplas plataformas e suportes, numa situação de agregação e complementaridade.12 http://www.webdialogos.com/2010/cibercultura/o-meio-ainda-e-a-mensagem/ (Acessado em 22/11/2011 )
15
Costumávamos dizer que o meio era a mensagem, mas agora não faz mais sentido. O meio é o que menos importa num mundo multimidiático como o de hoje em dia [...] agora uma boa história que se adapte a todos os suportes é necessária.
Essa abordagem, entretanto, carece de uma reflexão mais profunda. Se o que
mais importa é uma história que se adapte a todos os suportes, então estamos
numa era em que toda história deve ser feita pensando em todos os meios. Ou
seja, compreender que cada meio possui um ponto característico. Alex Primo e
Marcelo Ruschel Träsel (2006) tentam uma abordagem conciliatória nesse
sentido, afirmando que, enquanto fenômeno midiático, o jornalismo mantém
íntima relação com os canais tecnológicos, seus potenciais e limitações. Embora
a matéria do estudo esteja focada no jornalismo, é bem verdade que a aplicação
pode ser ampliada em outras modalidades. Para os autores:
Como processo complexo, a alteração do canal repercute de forma sistêmica sobre o processo comunicacional como um todo. A produção e leitura de textos em jornal impresso e online se transformam em virtude dos condicionamentos do meio. Isso não é o mesmo que defender algum tipo de determinismo tecnológico (perspectiva que se desvincula de outros condicionamentos sociais, políticos, culturais etc.), nem adotar impunemente a máxima macluhaniana de que o meio é a mensagem. Mas aceitar que o meio também é mensagem. Se a relação entre homem e técnica é recursiva, o processo comunicacional (ou mais especificamente o jornalístico) demanda rearticulações a partir das estruturas tecnológicas em jogo. (PRIMO; TRÄSEL, 2006, p. 3). [grifo nosso]
Aceitar que o meio também é mensagem é compreender que existem vários
pontos próprios numa comunicação, e cada um desses pontos modifica a
mensagem de maneira própria. Quando Nassif aponta a questão do valor em
detrimento do meio, aponta principalmente para o valor ético, embora este não
seja o único tipo de valor. Pode-se ainda argumentar sobre os valores
socioeconômicos, culturais, mercadológicos, ideológicos, e numa grande
amplitude de valores. Para nós, é importante analisar os valores por trás da
cultura digital, da cibercultura, pois ela influencia diretamente os fazeres
jornalísticos nas redações dos portais digitais. Ao perceber como funcionam as
comunidades virtuais, a comunicação não-linear, a interação, entre outras
características a cibercultura e do ambiente em rede, o jornalista abre um leque
16
com diversas opções para a aquisição, a produção, a distribuição e o consumo de
informações.
1.2 Adeus mundo linear
A comunicação em sociedade inicia com a linguagem. O primeiro suporte da
história da comunicação foi o próprio corpo humano, através dos gestos, dos
grunhidos, dos olhares. Com a evolução da habilidade, o homem passou a
transcrever sua mente para as paredes das cavernas através das pinturas
rupestres. A representação através de imagens não sofreu grandes mudanças até
o surgimento do alfabeto. Por isso,
[...] embora tenha surgido há mais de 3.500 anos antes de Cristo, inventada pelos sumérios, a escrita e toda a sua carga linear não se ratificaram como meio de comunicação de massa até a invenção da moderna tipografia (ou imprensa) com caracteres metálicos móveis, por Gutenberg, por volta de 1440, em Estrasbrugo. (ESTRÁZULAS, 2010, p. 29).
Ou seja, desde o surgimento das primeiras formas de comunicação humana, a
expressão prosseguiu de maneira linear. Até aquele momento, para compreender
um texto, era necessário percorrê-lo da primeira à última página.
Pierre Lévy argumentará em Cibercultura (2000), entretanto, que o primeiro
modelo de leitura não-linear surgiu antes dos meios digitais. Através do
hipertexto, presente em enciclopédias, o homem conhece sistemas de navegação
por documentos que facilitam a busca e a leitura de conteúdo específico. Foram
os sumários e os índices que permitiram a leitura não-linear:
A abordagem mais simples do hipertexto é descrevê-lo, em oposição a um texto linear, como um texto estruturado em rede. O hipertexto é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e por links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, “botões” indicando a passagem de um nó a outro (LÉVY, 2000, p. 55-56).
17
No artigo Jornalismo Online, informação e memória: apontamentos para debate,
Marcos Palacios (2002)13 estudou algumas das características do jornalismo
desenvolvido para Web, afirmando que a hipertextualidade:
Possibilita a interconexão de textos através de links (hiperligações). Canavilhas (1999) e Bardoel & Deuze (2000) chamam a atenção para a possibilidade de, a partir do texto noticioso, apontar-se (fazer links) para “várias pirâmides invertidas da notícia”, bem como para outros textos complementares (fotos, sons, vídeos, animações etc), outros sites relacionados ao assunto, material de arquivo dos jornais, textos jornalísticos ou não que possam gerar polémica em torno do assunto noticiado, publicidade etc. (PALACIOS, 2002, p. 3)
Embora o hipertexto tenha surgido antes das tecnologias digitais, é fato que sua
relevância tenha sido enormemente ampliada graças aos suportes baseados em
hiperlinks, aí sim, totalmente digitais. Hiperlinks são parte dos fundamentos das
linguagens usadas para construção de páginas na Web e em outros meios
digitais. Geralmente são elementos clicáveis, em forma de texto ou imagem, que
levam a outras partes de um site. “Navegar na web” é, portanto, seguir uma
sequência de links. Os links agregam interatividade no documento. Ao leitor torna-
se possível localizar rapidamente conteúdo sobre assuntos específicos.
É a interatividade, portanto, que fundamenta o hipertexto digital. Os hiperlinks vão
além da não-linearidade. Jimi Aislan Estrázulas explica o início da linguagem
digital com base na interação no que ele chama de mundo mosaico:
A linguagem do meio digital foi inicialmente parasitária, pois dependia das linguagens do impresso, do rádio e da televisão. Com a confluência, tornava-se difícil manter as linguagens separadas, porque diferente dos meios analógicos, o meio digital criava de fato um diálogo, que foi nomeado de interatividade. [...] É possível interagir com o meio digital, responder às críticas, e no extremo da participação, criar páginas de interação próprias. (ESTRÁZULAS, 2010, p. 79).
Quando o autor fala que “no extremo da participação” o usuário pode criar página
própria, a situação é parece complexa demais. E de fato era. No passado, o
usuário precisava ter conhecimentos de técnicas de edição de texto em HTML, de
hospedagem e de servidores na internet. Enfim, não era algo que leigos poderiam
13 http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2002_palacios_informacaomemoria.pdf (Acessado em 22/11/2011 )
18
fazer. Hoje, com as plataformas de User generated content14 (UGC), praticamente
qualquer usuário pode construir páginas de interação próprias, mesmo que
hospedadas por terceiros.
Palacios (2002) considera que a interatividade é uma chave fundamental para o
jornalismo online. A notícia tem uma capacidade de fazer com que o leitor sinta-se
parte do processo jornalístico num grau mais elevado, através de diversas formas
de interação:
[...] Isto pode acontecer de diversas maneiras: pela troca de e-mails entre leitores e jornalistas, através da disponibilização da opinião dos leitores, como é feito em sites que abrigam fóruns de discussões, através de chats com jornalistas etc. Machado (1997) ressalta que a interactividade ocorre também no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto também pode ser classificada como uma situação interactiva. Adopta-se o termo multi-interactivo para designar o conjunto de processos que envolvem a situação do leitor de um jornal na Web. Diante de um computador conectado à Internet e a acessar um produto jornalístico, o Utente estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, através do hipertexto; e c) com outras pessoas – autor(es) ou outro(s) leitor(es) - através da máquina (Lemos, 1997; Mielniczuk, 1998).(PALACIOS, 2002, p. 3)
O jornalismo é uma atividade interativa. Mas antes das Novas Tecnologias da
Informação e de Comunicação, essa interatividade esteve presente na aquisição
e produção de informações. No cenário digital online, a distribuição e o consumo
de informações se tornaram interativos também. Voltaremos mais à frente no
trabalho a tratar da interatividade em termos sociais no capítulo 2.4, A Web 2.0,
interação e a quarta geração do jornalismo digital online.
No hipertexto digital, Alex Primo e Marcelo Ruschel Träsel (2006)15, trabalharam
também os conceitos de Landow (1997), que transforma os usuários em “co-
autores” do processo textual:
14 Em português: Conteúdo gerado pelo usuário. Esse termo é usado quando empresas ou instituições criam alguma ferramenta que possibilite o usuário criar o conteúdo. O termo surgiu em torno de 2005 juntamente com a web 2.0, onde a interatividade e o diálogo tornaram-se as principais características da web. Com isso a informação tornou-se mais democrática, não estando somente nas mãos das grandes corporações midiáticas. Qualquer pessoa com o conhecimento mínimo de informática poderia opinar e criar algum tipo de conteúdo, seja ele um blog, um comentário, um vídeo, uma fotomontagem, entre tantas outras possibilidades.15 http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/webjornal.pdf (Acessado em 22/11/2011 )
19
Durante os primeiros tempos do hipertexto digital, Landow (1997) já apontava que a fronteira entre autor e leitor estava borrada. O modelo transmissionista (emissor -> mensagem -> canal -> receptor), que parecia para alguns ser o modelo natural da comunicação de massa, ganha nova maquiagem. O fluxo jornalista -> notícia -> jornal -> leitor, por exemplo, renova-se em jornalista -> notícia -> site -> “usuário” [...] É verdade, porém, que escrita e leitura tornam-se hipertextuais, o que em si já altera o processo interativo. Conforme Landow, a leitura no hipertexto demanda que o internauta assuma uma postura ativa na seleção dos links que apontam para diferentes lexias na estrutura hipertextual, o que o converteria necessariamente em co-autor.(PRIMO, TRÄSEL; 2006: p. 2) [grifo nosso]
Destacamos no texto acima o “usuário” como peça fundamental no processo
introdutório do hipertexto digital. No meio digital, não mais um leitor, mas sim um
usuário. Além dos hipertextos e da interatividade, outro elemento fundamental
para o surgimento do mundo “não-linear” é o modelo comunicacional muitos-para-
muitos. Em artigo para o 3º Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação
intitulado Mídias Sociais na Educação: inteligência coletiva entre docentes e
discentes, foi explicado, através dos conceitos de Lévy (1998), como funciona a
comunicação muitos-para-muitos:
O meio digital permite um alcance de nível global, mantendo, entretanto, as características pessoais de um diálogo, ou melhor, de um multílogo (Lévy, 1998). As mídias sociais podem ser compreendidas como espaços virtuais onde a troca de informações é caracterizada de maneira não hierárquica. Não existe um grande emissor que detém o poder das informações, nem existe um único meio de enviá-las. O repasse de informações ocorre de forma igual para todos, de maneira colaborativa, onde o homem é emissor e receptor ao mesmo. É a comunicação muitos-para-muitos. (SANTOS; NOGUEIRA, 2010, p. 6)
Em Britto (2009), encontramos que na comunicação muitos-para-muitos a
referência de emissor e receptor é atenuada, já que existe a troca, a interação, o
diálogo, citando Lévy: “No ciberespaço, em troca, cada um é potencialmente
emissor e receptor num espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto
pelos participantes, explorável” (LÉVY apud BRITTO, 2009, p. 145).
O mundo “não-linear” (ou mundo hiperlinkado) modificou profundamente o modo
como as pessoas adquirem informações. E se o jornalismo é, par excellence, uma
20
atividade vinculada à aquisição, distribuição, consumo e produção de
informações, é lógico que esta atividade “sofrerá” grandes consequências.
1.3 Cibercultura: contextualização
“A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço,
simulação, tempo real, processos de virtualização etc.), vai criar uma nova
relação entre a técnica e a vida social que chamaremos de cibercultura.” (LEMOS,
2002: p. 15). Se o novo jornalista online não compreende os processos de
comunidades virtuais, meritocracia, ética hacker, apenas para citar alguns pontos
da cibercultura, ele não será capaz de extrair ao máximo as informações da rede.
Após dois anos de estudos sobre o futuro do jornalismo, Sandra Ordonez16
publicou um post17 no Media Shift, expondo quais seriam as principais
qualificações necessárias para os novos jornalistas. Segue a lista:
1. Ser multitarefa tendo várias responsabilidades e papéis, muitos dos quais
podem não ter nada a ver com o jornalismo "tradicional".
2. Ter excelente conhecimento tecnológico, tendo pelo menos um
conhecimento básico de programação, ferramentas web e cultura web.
3. Ser um gatekeeper em diferentes ritmos, direcionando os leitores para as
notícias mais atuais e confiáveis, independentemente de quem a escreveu
ou onde está alojado.
4. Ser um contador de histórias versátil (storytelling), que sabe como
apresentar uma linha de história em vários formatos.
5. Ser um gerente de comunidades e de marcas, cultivando uma conversa
constante e interativa com seus leitores.18
16 http://www.pbs.org/mediashift/sandra-ordonez-1/17 http://www.pbs.org/mediashift/2010/06/what-skills-will-future-journalists-need160.html18 Tradução própria do original em inglês: “A multitasker, juggling various responsibilities and roles,
many which may have nothing to do with "traditional" journalism. Technologically savvy, having at
least a basic understanding of programming, web tools, and web culture. A gatekeeper for a
particular beat, directing readers to the most current and trustworthy news, regardless of who wrote
it or where it's housed. A versatile storyteller, who knows how to present a story online in various
formats.A brand and a community manager, who cultivates a constant and interactive conversation
with their readership.
21
Temos aí, portanto, diversos pontos propostos onde somente uma pessoa
completamente imersa na tecnologia e cibercultura poderá atingi-los.
Um conceito de cibercultura conhecido é o pensamento de Pierre Lévy (2005).
Para Lévy, a essência da cibercultura está no universo sem totalidade, isto é, na
ampliação do ciberespaço e da inteligência coletiva:
“Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna ‘universal’, e menos o mundo informacional se torna totalizável. O universal da cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo particular. Ou antes, ele os aceita todos, pois se contenta em colocar em contato um ponto qualquer com qualquer outro, seja qual for a carga semântica das entidades relacionadas” (LÉVY, 2005, p. 111).
Esse novo universal seria diferente das formas culturais que vieram antes dele,
pois ele se constrói justamente na indeterminação de um sentido global qualquer.
O ciberespaço seria a dimensão que possibilita a conexão de todas as qualidades
subjetivas, que permite que os bilhões de cérebros sejam considerados como
neurônios de um grande cérebro universal.
“O ciberespaço é uma espécie de objetivação ou de simulação da consciência humana global que afeta realmente essa consciência, exatamente como fizeram o fogo, a linguagem, a técnica, a religião, a arte e a escrita, cada etapa integrando as precedentes e levando-as mais longe ao longo de uma progressão de dimensão exponencial.” (LÉVY apud BRITTO, 2009, p. 141).
Para André Lemos, o ciberespaço pode ser entendido ainda a partir de duas
perspectivas:
[...] como o lugar onde estamos quando entramos num ambiente virtual (realidade virtual), e como o conjunto de redes de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta (BBS, videotextos, Internet...). Estamos caminhando para uma interligação total dessas duas concepções do ciberespaço, pois as redes vão se interligar entre si e, ao mesmo tempo, permitir a interação por mundos virtuais em três dimensões. O ciberespaço é assim uma entidade real, parte vital da cibercultura planetária que está crescendo sob os nossos olhos. (Lemos apud Mielniczuk; 2003, p. 3).
22
A questão das tecnologias indeterminantes é igualmente fundamental para a
compreensão do potencial da internet no jornalismo online. Embora as novas
tecnologias tenham um papel importante na evolução do jornalismo (aqui
evolução como adaptação, não necessariamente uma melhoria), é mais correto
afirmar que as novas tecnologias são condicionantes, e não determinantes no
surgimento de novas práticas na redação:
Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença. Mas muitas possibilidades são abertas, e nem todas são aproveitadas [...] A prensa de Gutenberg não determinou a crise da Reforma, nem o desenvolvimento da moderna ciência europeia, tampouco o crescimento dos ideais iluministas e a força crescente da opinião pública no século XVIII – apenas condicionou-as. Contentou-se em fornecer uma parte indispensável do ambiente global no qual essas formas culturais surgiram. (LÉVY, 2005: p. 26-27)
O resgate às informações passadas permite uma ampliação sem limites dos
portais de notícias. Pegue o melhor e mais completo jornal de domingo da sua
cidade. Quantas informações estão presentes nele? Agora visite um modesto
portal de notícias da sua região. Pode até mesmo ser um portal sobre o seu
bairro. Inevitavelmente ele conterá muito mais informações acessíveis naquele
instante. Naquele instante. Um jornal online possui mais acesso à informação
devido ao seu mecanismo de estoque, de banco de dados, de memória19.
Grandes jornais como a Folha e o Globo possuem muitas informações
armazenadas em suas milhares de edições anteriores. Mas esta não é uma
informação acessível instantaneamente, como o jornalismo online permite. Talvez
essa seja uma das questões mais importantes da influência da cibercultura no
jornalismo online. Não há limites (incluímos aí também imagens, vídeos,
comentários, comunidade e uma infinidade de outros elementos dinâmicos.).
Compreender que a técnica condiciona é perceber que as novas tecnologias
digitais permitem um grande número de novas possibilidades no jornalismo
online. 19 Palacios (1999) argumenta que a acumulação de informações é mais viável técnica e economicamente na Web do que em outras mídias. Desta maneira, o volume de informação anteriormente produzida e directamente disponível ao Utente e ao Produtor da notícia é potencialmente muito maior no jornalismo online, o que produz efeitos quanto à produção e recepção da informação jornalística, como veremos adiante. (PALACIOS, 2002: p. 4).
23
Como demonstraremos mais à frente neste TCC, o Twitter20, por exemplo,
permitiu importantes pautas para o jornalismo online alagoano. Nas páginas de
Facebook21, sugestões de pautas são realizadas pelo leitores, que se sentem
muito mais confortáveis em realizar a denúncia num ambiente conhecido por eles.
As novas técnicas (tecnologias) dão novas condições para o jornalismo
contemporâneo, permitindo a realização de novas práticas:
A prática jornalística tem sido, historicamente, dependente da tecnologia, como afirma Deuze (2006, p. 17): “A profissão conta com a tecnologia para a recolha, edição, produção e disseminação da informação.” É a tecnologia, segundo o autor, que tem permitido ao jornalismo se organizar a partir de um principio básico: transmitir informações de maneira rápida. Para ele, a história da tecnologia na comunicação social permite associar a imprensa escrita ao século XIX, o rádio e a TV ao século XX e as plataformas multimídias e digitais ao século XXI. (RODRIGUES, 2009: p. 15).
O jornalismo contemporâneo está intrinsecamente ligado às novas tecnologias de
informação e comunicação. O jornalismo deve acompanhar a velocidade em que
os consumidores adquirem novos hábitos, conforme adquirem novas tecnologias.
Um grande exemplo dessa transformação atual está no boom de vendas dos
tablets22. No Brasil, o Estadão foi o primeiro jornal online a ter uma versão
exclusiva para tablets através de uma assinatura de R$29,90 por mês. Cada
edição avulsa do Estadão para este dispositivo custa US$ 1,99, e pode ser
baixada na App Store23. A diferença do Estadão em relação aos modelos
existentes no País é que toda a concepção teve como foco o ponto de vista do
usuário de iPad24 e suas necessidades. Uma das mudanças, por exemplo, é a
possibilidade de leitura sem dependência da web. Ou seja, depois de baixar a
edição, o usuário não terá de se manter conectado à internet 3G ou Wi-Fi para
navegar ou ler as matérias. E, ainda assim, tem um botão no aplicativo caso
deseje se conectar para ver mais novidades no portal do jornal.
20 É uma plataforma de “microblogging”, isto é, uma plataforma de blogs que apenas permite publicações curtas, em até 140 caracteres. O conceito será estudado no decorrer do trabalho.21 Plataforma de Rede Social. O conceito será estudado no decorrer do trabalho.22É um dispositivo pessoal em formato de prancheta que pode ser usado para acesso à Internet, organização pessoal, visualização de fotos, vídeos, leitura de livros, jornais e revistas e para entretenimento com jogos.23 Loja virtual para venda de produtos comercializados pela empresa Apple24 Tablet fabricado pela Apple, considerado um divisor de águas na era da computação pessoal móvel.
24
1.4 Era da Informação
Considerar que a sociedade informacional é um fenômeno positivo ou negativo
não é de interesse deste trabalho. Mas de afirmar que o culto ao número, à
padronização e à globalização mudaram de forma permanente o percurso do
jornalismo nos séculos XX e XXI. “É fato que o homem sempre teve vontade,
interesse e aptidão para saber o que se passa. Informar e informar-se constituiu o
requisito básico da sociabilidade.” (MELO, p. 19: 2003). Portanto, não é de hoje
que o homem tem vontade de viver num ambiente completamente informacional,
mas a vontade nunca esteve tão próxima da realidade como visualizamos nos
últimos anos. Serão feitas breves discussões sobre sociedade informacional, mas
não da sociedade informacional.25
O desenvolvimento da tecnologia da informação motivou o surgimento do
informacionalismo como a base para a nova sociedade informacional. No
informacionalismo, a geração de riqueza, o exercício do poder e a criação de
símbolos culturais passaram a depender da capacidade tecnológica das
sociedades e dos indivíduos, sendo a tecnologia da informação um dos elementos
principais dessa capacidade.
A tecnologia da informação tornou-se ferramenta indispensável para a
implantação efetiva dos processos de reestruturação social e econômica. Seu
papel permitiu a formação de redes de modo dinâmico e auto-expansível. A venda
de informações (independente de seu formato) se tornou um dos principais
negócios no século XXI. Cabe lembrar, entretanto, que a informação, per se, em
muitos casos, não é diretamente lucrativa. A publicidade e a propaganda
aparecem de forma simbiótica na aquisição de informações, estas sim,
responsáveis pelo lucro.
O excesso de informações dispostas na internet gera um novo paradigma no
jornalismo. Primeiro: Se a informação é abundante, para que a necessidade de
25 Um entendimento mais completo sobre a noção pode ser obtida no livro “História da sociedade da informação”, de Armand Mattelart (2006).
25
jornalistas? Segundo: como os jornais poderiam sobreviver online com tanta
informação em diversos locais?
Começamos a reposta às perguntas com as afirmações do jornalista e sociólogo
espanhol Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique. Segundo Ramanet
"Hoje a informação é superabundante e, por isso, não tem mais valor em si, é
gratuita. [...] Por isso, há qualidades do jornalismo tradicional, no tratamento da
informação, que não podem ser eliminadas e contribuem para qualificar o uso das
novas tecnologias".
Para a segunda pergunta, voltaremos à 1984, quando o jornalista Steven Levy
publicou Hackers: Heroes of the computer Revolution, relatando a vida da
subcultura digital dos hackers e da comunidade virtual da internet. Ele relacionou,
durante seu trabalho, sete princípios da “ética dos hackers”. Entre os sete, o mais
famoso é o número 3: “Toda a informação deve ser grátis”. Em seu livro Free,
Chris Anderson (2009), procura remontar a origem dessa frase. Para o autor, foi
Stewart Brand, criador do livro Whole Earth Catalog, que
[...] reelaborou a regra número 3 de uma forma que viria a definir a era digital que despontava na época [1984]. Ele disse: “Por um lado, a informação quer ser cara, por ser tão valiosa. A informação certa no lugar certo muda a sua vida. Por outro lado, a informação quer ser grátis, porque o custo de acessá-la está sempre caindo. Então você tem essas duas forças lutando uma com a outra” (ANDERSON, 2009: p. 97).
Para o autor, o melhor modo de entender a frase de Brand seria: “A informação
commoditizada (todo mundo recebe a mesma versão) quer ser grátis. A
informação customizada (você recebe algo único e que faz sentido para você)
quer ser cara. [...] Mas essa forma de dizer também não está totalmente correta
[...] vamos tentar novamente: A informação abundante quer ser grátis. A
informação escassa quer ser cara.” (ANDERSON, 2009: p. 98).
Então não é toda informação que é grátis. Quando questionado sobre o futuro do
jornalismo durante a quinta Bienal Internacional do Livro de Alagoas, o jornalista e
escritor Fernando Morais respondeu que o jornal impresso deveria sobreviver
através do vinculação de fatos exclusivos, do jornalismo investigativo, da
informação em primeira mão. Isto é: ele falava da informação escassa.26
Mas, enquanto o jornalismo impresso não tenta mudar a sua redação, Anderson
demonstra como alguns jornais estão sobrevivendo à era da informação grátis
através de outros métodos:
Os jornais perceberam que a geração do Google podia não adotar o hábito dos pais de pagar diariamente por um jornal impresso, de forma que lançaram jornais gratuitos direcionados a jovens adultos e começaram a distribuí-los em esquinas e estações de metrô. Outros jornais mantiveram o preço, mas incorporaram brindes, de prataria à [CDs e DVDs de] música. Enquanto o restante da indústria dos jornais decaía, os jornais gratuitos continuaram como uma solitária luz de esperança, crescendo 20% ao ano (em sua maioria, na Europa) e respondendo por 7% da circulação total de jornais em 2007. (ANDERSON, 2009: p. 142).
Para além da mídia tradicional, novos veículos (em especial os blogs) já estão
adaptando seus formatos de financiamento. Os portais gratuitos são uma
realidade (embora muitos ainda insistam em cobrar uma mensalidade de seus
usuários). Mas os modelos publicitários não vão muito além dos links
patrocinados (Google Adsense26) ou dos banners. Fred Wilson, venture capitalist27
de Nova York, acredita que...
a maioria das aplicações da Web será monetizada com algum tipo de modelo de mídia. Não pense em anúncios em banners quando eu digo isso. Pense em todas as várias formas como um público que está prestando atenção a seu serviço pode ser pago por empresas e pessoas que querem um pouco dessa atenção. (ANDERSON, 2009, p. 145).
De fato, tweets28 e posts29 patrocinados no Facebook já se tornaram rotina para
profissionais de conteúdo que não têm vínculo com a mídia tradicional. Em alguns
casos, são criadas verdadeiras matérias pagas (posts publicitários) e sessões
com nomes de empresas (branded channels30). Empresas tradicionais de
comunicação ainda não perceberam o potencial da mídia muito além dos
banners31.
26 Formato de anúncio publicitário que “lê” a página para retornar anúncios textuais relevantes.27 Investidor de risco28 Tweet é uma postagem feita no Twitter.29 Postagem. Atualização. Colocar algo em alguma plataforma de conteúdo.30 Formato publicitário em que uma parte do site é completamente modificada para se adequar a um anunciante.31 Típico formato de anúncio publicitário em que uma parte do site é cedida para anunciantes.
27
Marcos Palacios, em artigo intitulado “Jornalismo online, Informação e Memória:
apontamentos para debate” (2002), cita Dominique Wolton para demonstrar a
necessidade dos jornalistas na era da informação:
Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica. Isso apela para sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede pode dar acesso a uma massa de informações, mas ninguém é um cidadão do mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informação há, maior é a necessidade de intermediários- jornalistas, arquivistas, editores etc- que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém quer assumir o papel de editor chefe a cada manhã. A igualdade de acesso à informação não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisa com a outra é tecno-ideologia. (WOLTON,1999, p 85 apud PALACIOS, 2002, p. 4).32
Palácios sugere que o jornalismo não irá desaparecer com o crescimento da
massa de informações disponíveis aos cidadãos. Ao contrário: “torna-se ainda
mais fundamental o papel desempenhado por profissionais que exercem funções
de ‘filtragem e ordenamento’ desse material, seja a nível jornalístico, académico,
lúdico etc.” (PALÁCIOS, 2002: p. 5).
Em uma busca pelo “problema do conteúdo” nas instituições jornalísticas,
Rodrigues (2009) busca apoio em Castillho, encontrando características da
profissão que não estariam relacionadas apenas ao uso de ferramentas e das
transformações tecnológicas trazidas pela Internet:
Castilho, quando afirma que o “jornalismo on-line está empurrando a profissão para sua maior transformação desde o surgimento dos jornais, há quase 350 anos” (2005, p. 234), está se referindo ao fato de que as NTICs [Novas tecnologias de informação e comunicação] estão alterando profundamente o modo de produção de notícias. Essas transformações, é importante observar, não afetariam apenas aqueles que se dedicam à prática do webjornalismo, mas todos os profissionais do jornalismo. (RODRIGUES, 2009, p. 19)
Para Castilho, entre as principais mudanças, está justamente o fato dos
jornalistas estarem “perdendo” o controle da informação, já que o leitor pode
buscar informações em outras fontes da imensa Internet (blogs, wikis, redes
sociais etc.). Outra mudança é que “o ambiente web traz um novo conceito de
32 http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2002_palacios_informacaomemoria.pdf (Acessado em 22/11/2011 )
28
notícia, transformada ‘num processo contínuo de informação’” (RODRIGUES,
2009: P. 19). Essa ideia é importantíssima para compreendermos o jornalismo em
tempo real. Este já é praticado com eficiência através das rádios e das emissoras
de televisão, mas na web ganha um novo conceito, já que o usuário tem mais
controle sobre suas escolhas e sobre a construção do conteúdo. Em tempo real
também são os tweets quando determinado evento acontece, ou os comentários
em páginas de Facebook. Tempo real também quer dizer “o tempo real do leitor”.
Isto é, a informação aparece para o leitor no tempo em que ele quiser, não tendo
necessariamente que se submeter ao tempo que a televisão ou a rádio levam
para trazer a informação ao espectador.
1.5 Breves considerações necessárias sobre digital e virtual
Compreender o jornalismo digital requer o conhecimento das novas tecnologias
de comunicação. A cada nova tecnologia de comunicação, o jornalismo se
adapta. Para finalizarmos os conceitos teóricos sobre a internet, vamos verificar
brevemente questões como o digital, o virtual e as atualidades da cibercultura.
A terminologia “comunicação digital” deve acabar na próxima década. Não porque
as mídias digitais vão desaparecer, mas porque a tendência é que as mídias mais
utilizadas pelo homem “se tornem” digitais. Portanto, utilizar o termo
“comunicação digital” (que hoje diferencia basicamente a comunicação de massas
da comunicação via computadores, internet e dispositivos móveis) no futuro será
o mesmo que utilizar o termo “comunicação”, propriamente dito. A TV já deu um
grande passo para a digitalização, e até 2016 todas as televisões brasileiras
deverão abandonar o formato analógicos, quer seja através da compra de novos
aparelhos ou através da compra de adaptadores para o formato digital.
Da mesma forma surge a rádio digital, a tecnologia de rádio que utiliza sinais
digitais para transmissão da informação através do método de modulação digital.
As principais vantagens do rádio digital estão na melhoria da qualidade do som
(rádio AM com qualidade de FM e rádio FM com qualidade de CD) e em mais
opções para o ouvinte, através da interatividade, por exemplo. O Ministério das
29
Comunicações no Brasil já está testando e avaliando sistemas de rádio digital e
abriu chamada pública para envio das avaliações dos sistemas atualmente
existentes.
Um sistema digital é um conjunto de dispositivos de transmissão, processamento
ou armazenamento de sinais digitais que usam valores descontínuos (zeros e
uns). Em contraste, os sistemas analógicos usam um intervalo contínuo de
valores para representarem informação. A informação digital quando
representada pode ser discreta, como números, letras, ou icones, ou contínua,
como sons, imagens etc. Os circuitos digitais são circuitos eletrônicos que
baseiam o seu funcionamento na lógica binária, em que toda a informação é
guardada e processada sob a forma de zero (0) e um (1). Esta representação é
conseguida usando dois níveis discretos de Tensão elétrica. Desse modo,
praticamente todas as novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs)
são digitais. Entretanto, tem-se feito uma verdadeira confusão entre os termos
digital e virtual, que são, em essência, muito distintos.
O virtual, muitas vezes tratado simplesmente como ausência de existência e de
realidade é, possui, na verdade, um sentido muito mais amplo. Sua concepção,
inclusive, é muito mais antiga que a era computacional, remetendo à filosofia
grega. Para Lévy (1998), o virtual é o que existe como problemático e não em ato.
É o que está disponível, mas que não foi realizado (ainda): “Em termos
rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade
e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes.” (LÉVY, 1998: p. 15). O
virtual é aquilo que existe enquanto potencia, mas que ainda não foi realizado
(embora isso não signifique que de fato um dia seja realizado): “Virtual, no caso,
quer dizer integralmente vivo: o mundo pode crescer por aqui ou por ali, na
medida em que a atenção se coloca aqui ou ali. O mundo é uma imensa reserva
de virtualidades porque nutrimos temores e projetos, porque imaginamos e
desejamos.” (LÉVY apud BRITTO, 2009: p. 142). Portanto, o virtual é algo que é
apenas potencial ainda não realizado. É uma categoria tão verdadeira como a
real, sendo oposto, em fato, da atualidade, porque o virtual carrega uma potência
de ser, enquanto o atual já é (ser).
30
2. Jornalismo e Internet
2.1 Ao Jornalismo Contemporâneo
Nunca tantas tecnologias de informação e comunicação novas foram introduzidas
ao homem num espaço tão curto de tempo como nas últimas décadas. O
jornalismo, uma profissão que necessita de informações para se desenvolver, viu-
se diante de profundas mudanças em um curto período de tempo. Nenhuma
delas, entretanto, tão profunda como a que a Rede propôs. Isso porque, como foi
explicado, a internet não é uma tecnologia de cunho único, isto é, assim como a
eletricidade, muito mais importante não é o que ela é, mas sim o que ela
possibilita. A internet não cabe em si, transborda.
Emails33, chats34, Instant messengers35, comunidades virtuais, blogs, Fotologs,
vlogs36, microblogs, redes sociais, favoritos, Questions & Answers37, Live
Streaming38, ecommerce39, social commerce40, crowdsourcing41, Wikis,
Buscadores, Podcasts42, Fóruns, Redes de nichos, Sistemas de comentários,
Sistemas de reputação, geolocalização, Sharing43, taggings44 e mundos virtuais.
Só para citar alguns dos serviços criados pela internet. Todos podem ser
perfeitamente utilizados pelos jornalistas.
Embora o surgimento da Internet remonte à década de 60, foi somente na década
de 80 que seu uso passou a ser de “domínio público”, e apenas na década de 90
que se tornou comercialmente importante, graças à Web.
33 Sistema de correspondência online.34 Salas de bate papo online.35 Sistemas de comunicação instantânea via internet.36 Formato de blog em vídeo.37 Plataformas que permitem a construção e resposta de perguntas.38 Sistemas que permitem a transmissão ao vivo de áudio ou vídeo.39 Comércio eletrônico (geralmente via web sites).40 Comércio eletrônico com foco em mídias sociais41 Plataformas que permitem a participação de colaboradores na resolução de problemas.42 Gravações em áudio, geralmente no formato de programa de rádio, que podem ser baixados e escutados a qualquer momento.43 Sistemas de compartilhamento de informações.44 Sistemas de etiquetagem. Permitem que os usuários possam definir certos elementos na web.
31
As primeiras experiências de jornalismo online datam da década 80, nos Estados
Unidos, a partir de sistemas de videotexto produzidos por empresas como a Time,
Times-Mirror e a Knight-Ridder. No final da década de 80, com a ainda incipiente
expansão da Internet, jornais digitais eram mantidos por empresas de serviços
online, como a American Online e a Prodigy. Em 1993, existiam apenas 20 jornais
online, todos eles norte-americanos.
A maioria dos sites jornalísticos surgiram como meros reprodutores do conteúdo publicado em papel. Apenas numa etapa posterior é que começaram a surgir veículos realmente interativos e personalizados. O pioneiro foi o norte-americano The Wall Street Journal, que em março de 1995 lançou o Personal journal, veículo entendido pela mídia como sendo o “primeiro jornal com tiragem de um exemplar.” (FERRARI, 2009: p. 23)
O primeiro site jornalístico brasileiro apareceria no mesmo ano. Em 1995 o
tradicional Jornal do Brasil, entraria na versão online. Curiosamente, após uma
profunda crise, em julho de 2010, anunciou o fim da edição impressa do jornal
que, a partir de 1 de setembro do mesmo ano, existiria somente em versão online,
com alguns conteúdos restritos a assinantes através do JB Premium. Hoje o JB
agora autodenomina-se "O Primeiro jornal 100% digital do País!". Mas seria
apenas em 1997 que o termo “portal” seria adotado com o significado de “portal
de entrada”, ou seja, o primeiro site a ser acessado quando se entra na internet.
2.2 Nomenclaturas: por que jornalismo online?
Hoje o uso da internet para fins jornalísticos não é mais nenhuma novidade e
existem centenas de portais e milhares de blogs jornalísticos espalhados pelo
país. Entretanto, numa busca rápida por artigos sobre jornalismo e internet,
encontraremos diversas nomenclaturas sobre o assunto. Aqui é demonstrado o
porquê da escolha do termo “online” ao trabalhar o jornalismo com redes sociais.
Para Helder Bastos (2000) após realização de um levantamento bibliográfico
contendo a opinião de diversos autores, termo jornalismo eletrônico serve para
englobar duas vertentes de jornalismo: o online e o digital. Segundo o autor, as
práticas do jornalismo assistido por computador estão integradas com a pesquisa
32
online, a qual ele denomina de jornalismo online. O jornalismo online seria, então,
a pesquisa realizada através da internet em tempo real e cujo objetivo é a
apuração jornalística (pesquisa de conteúdos, recolha de informações e contato
com fontes). As possibilidades referentes à disponibilização de informações
jornalísticas na rede são denominadas, pelo autor, de jornalismo digital. Para o
autor, fazer apuração é jornalismo online; desenvolver e disponibilizar produtos,
jornalismo digital.
Outro autor, Elias Machado (2000), pensando na questão do suporte, prefere a
denominação jornalismo digital a jornalismo online. Segundo o autor, o conceito
de digital está alinhado com o novo suporte e o termo online seria mais restrito do
que digital, referindo-se a apenas a uma característica do meio, não
contemplando todas as especificidades da nova realidade, por isso seria melhor
utilizar o termo jornalismo digital:
Jornalismo digital é todo produto discursivo que constrói a realidade por meio da singularidade dos eventos, que tem como suporte as redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por onde se transmitam sinais numéricos e que incorpore a interação com os usuários ao longo do processo produtivo. É uma das atividades que se desenvolve no ciberespaço (MACHADO, 2000, p.19).
Já Luciana Mielniczuk propõe uma sistematização que privilegia os meios
tecnológicos, através dos quais as informações são trabalhadas, como fator
determinante para elaborar a denominação do tipo de prática jornalística, tanto na
produção, como na disseminação de informações jornalísticas. Para a autora,
existem os âmbitos eletrônico, digital, ciber, online e web.
O âmbito eletrônico:
[...] seria o mais abrangente de todos, visto que a aparelhagem tecnológica que se utiliza no jornalismo é, em sua maioria, de natureza eletrônica, seja ela analógica ou digital. Assim, ao utilizar aparelhagem eletrônica seja para a captura de informações, seja para a disseminação das mesmas, estaria-se exercendo o jornalismo eletrônico. (MIELNICZUK, 2003, p. 2).
Dentro do espectro eletrônico, existe, como dito anteriormente, a tecnologia
digital, que ocupa um espaço maior a cada dia que passa, uma vez que diversos
meios eletrônicos estão deixando de serem analógicos e passando a se tornarem 33
digitais. Esse crescimento acontece tanto na captura, processamento ou
disseminação das informações. Ainda segundo a autora, o jornalismo digital
também seria denominado de jornalismo multimídia, pois implica na possibilidade
da manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas, como
texto, som e imagem.
Já o prefixo ciber remete à palavra cibernética, cibercultura, ciberespaço.
Portanto, o ciberjornalismo:
[...] vai remeter ao jornalismo realizado com o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética ou ao jornalismo praticado no - ou com o auxílio do - ciberespaço. A utilização do computador para gerenciar um banco de dados na hora da elaboração de uma matéria é um exemplo da prática do ciberjornalismo. (MIELNICZUK, 2003, p. 3).
Continuando, o termo online reporta à idéia de conexão em tempo real, ou seja,
fluxo de informação contínuo e praticamente instantâneo. As possibilidades de
acesso e transferência de dados online utilizam-se, na maioria dos casos, de
tecnologia digital. Porém, nem tudo o que é digital é online, e nem tudo que está
no ciberespaço está necessariamente online.
Por fim, temos o Webjornalismo. Ele refere-se a uma parte específica da Internet,
que disponibiliza interfaces gráficas de uma forma bastante amigável, a Web. A
Internet envolve recursos e processos que são mais amplos do que a web,
embora esta seja, sem sombra de dúvidas, a maior aplicação da Internet. O
quadro a seguir, produzido por Mielniczuk (2003), apresenta, de forma resumida,
as delimitações terminológicas elaboradas:
34
Nomenclatura Definição
Jornalismo eletrônico utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos
Jornalismo digital ou
Jornalismo
multimídia
emprega tecnologia digital, todo e qualquer
procedimento que implica no tratamento de dados em
forma de bits
Ciberjornalismo envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço
Jornalismo online é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão
de dados em rede e em tempo real
Webjornalismo diz respeito à utilização de uma parte específica da
Internet, que é a web
Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção
e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo.
Fonte: Mielniczuk (2003, p. 4)
Cada uma das definições apresentadas encontram-se dentro de esferas, de
acordo com a sua abrangência. Mielniczuk (2003) produziu também a ilustração
abaixo, onde ela relativiza o posicionamento dos tipos de jornalismo de acordo
com as novas tecnologias:
35
FIGURA 1 – Esferas que ilustram a delimitação das terminologias.
Fonte: Mielniczuk (2003, p. 5)
Na rotina de um jornalista contemporâneo estão presentes atividades que se
enquadram em todas essas nomenclaturas. Para exemplificar: durante o dia
numa redação, não raro os jornalistas utilizam o rádio e a TV, meios eletrônicos,
para adquirir novas informações (jornalismo eletrônico); usam o computador para
redigir suas matérias (jornalismo digital); consultam informações produzidas em
wikis e em comunidades virtuais (ciberjornalismo); enviam emails para fontes e
fazem entrevistas (jornalismo online); e finalmente visitam e leem sites noticiosos
disponibilizados na web (webjornalismo).
E o material veiculado final pode se enquadrar também em cada uma dessas
áreas e, para nós, é isso que vai identificar o tipo de jornalismo em questão. Ora,
o jornalista pode se valer de diversas técnicas para adquirir informações
suficientes para sua produção, mas é o meio no qual a matéria será veiculada que
determinará o tipo de jornalismo.
36
Usamos a nomenclatura Jornalismo Online por acreditarmos que serve melhor ao
nosso trabalho. Outras nomenclaturas como jornalismo eletrônico e jornalismo
digital foram logo descartadas principalmente pelo fato de que, no futuro, toda a
mídia eletrônica será digital. Isso é uma tendência. Pode-se trabalhar com
ciberjornalismo também, mas a premissa do “tempo real” é fundamental para este
trabalho. Por fim, o webjornalismo é descartado neste trabalho por restringir o
jornalismo às plataformas web. Isso não significa que não falaremos sobre
webjornalismo, pelo contrário. Quando falamos de redes sociais e de plataformas
móveis, já estamos saindo do campo do webjornalismo. A web, por sinal, está
perdendo força no ambiente online.
Em artigo para a revista Wired, Chris Anderson e Michael Wolff45 sentenciaram:
“The Web is dead. Long live the Internet.” As frases tiveram grade repercussão no
mundo inteiro. Com base em diversos estudos, entre eles uma importante análise
dos dados trafegados através de sistemas CISCO nos Estados Unidos, eles
observaram que o uso da web nos últimos anos vem diminuindo quando
comparado com outras atividades na internet. Para eles, hoje é possível passar o
dia todo usando a internet sem acessar um site sequer através de navegadores e
da Web. Podemos ler jornais, acessar e-mails e mandar mensagens instantâneas
através de aplicativos específicos. Com o domínio dos smartphones46 e tablets e
dos apps especializados produzidos para estes gadgets47, estamos utilizando
cada vez menos a web no dia a dia.
45 http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/all/1 (Acessado em 22/11/2011 )46 Smartphone (em português: telefone inteligente) é um telefone celular com funcionalidades avançadas que podem ser estendidas por meio de programas executados por seu sistema operacional.47 Gadget (em português: geringonça, dispositivo) é um equipamento que tem um propósito e uma função específica, prática e útil no cotidiano. São comumente chamados de gadgets dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de mp3, entre outros. Em outras palavras, é uma "geringonça" eletrônica.
37
Gráfico 1 – O crescimento do tráfego via web até meados dos anos 2000. Na
década atual esse volume de informações caiu consideravelmente.
Fonte: http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/all/1 (Acessado em 13
de Outubro de 2011).
Outra análise muito interessante pode ser feita através da ferramenta Google
Trends48. O Google Trends é uma ferramenta da Google que mostra os mais
populares termos buscados em um passado recente. A ferramenta apresenta
gráficos com a freqüência em que um termo particular é procurado em várias
regiões do mundo, e em vários idiomas. O eixo horizontal do gráfico representa
tempo (a partir de algum tempo em 2004), e o vertical mostra em que freqüência
um termo é buscado globalmente. Também permite o usuário comparar o volume
de procuras entre duas ou mais condições. Notícias relacionadas aos termos
buscados são mostradas ao lado e relacionadas com o gráfico, apresentando
possíveis motivos para um aumento ou diminuição do volume de buscas.
Utilizamos essa ferramenta para verificar o percentual de buscas contendo a
palavra “web” no mundo inteiro, o resultado aparece no gráfico seguinte:
48 http://www.google.com/trends?q=web&ctab=0&geo=all&date=all&sort=0 (Acessado em 22/11/2011 )
38
Gráfico 3 – Índice de volume de buscas pra a palavra “web” vem caindo desde
2005.
Fonte: Google Trends
Se buscarmos, entretanto, a palavra “online”, perceberemos que seu uso vem
crescendo a cada ano:
Gráfico 4 – O índice de volume de buscas para a palavra “online” cresceu
bastante entre os anos de 2007 e 2010.
Fonte: Google Trends
Outras questões que nos levam a não utilizar o termo webjornalismo é justamente
o crescimento do uso de plataformas móveis para adquirir informações. Nesses
casos, os usuários geralmente utilizam aplicativos específicos para obter
informações. Leitores de feeds, apps de redes sociais, sistemas de mensagens
instantâneas etc. não são necessariamente acessados de um navegador web.
39
2.3 Jornalismo Online
Em 2000, Cabrera Gonzalez49 identificou quatro fases da evolução do jornalismo
nos primeiros anos de formação em Portugal. Apesar do modelo ter sido
desenvolvido em outro país, podemos perceber que no Brasil não foi diferente.
Para o autor, a primeira fase denominada Fac-simile, corresponde à reprodução
de páginas da versão impressa, quer através da sua digitalização em HTML ou
em PDF, sem nenhum recurso de interação. A segunda fase, chamada de
“modelo adaptado”. Os conteúdos da web ainda são iguais aos das versões
escritas dos jornais, mas a informação é apresentada num layout próprio. Nesta
fase começam a aparecer também os links nos textos. Na terceira fase - modelo
Digital – os jornais têm um layout pensado e desenvolvido para o meio online. A
utilização do hipertexto e a possibilidade de comentar se tornam presença
praticamente obrigatória e as notícias de última hora se tornam um grande
diferencial em relação às versões imprensas, aproximando-se muito mais do rádio
e da televisão em termos de instantaneidade. Ao final do século XX, surge o
quarto modelo, o Multimídia, uma fase em que as publicações tiram
aproveitamento máximo das características do meio, principalmente da
interatividade e da possibilidade de integrar de som, vídeo e animações nas
notícias.
No Brasil, em 2002, Silva Jr.50 discorreu sobre a relação das interfaces enquanto
mediadoras de conteúdo do jornalismo na internet, e estabelecer três principais
estágios de desenvolvimento dos sites de jornais. Não muito diferente de
Gonzalez, Silva Jr. Propôs os seguintes estágios de desenvolvimento. O primeiro
seria o transpositivo, como modelo eminentemente presente nos primeiros
jornais online onde a formatação e organização seguia diretamente o modelo do
impresso. “Trata-se de um uso mais hermético e fiel da idéia da metáfora,
seguindo muito de perto o referente pré-existente como forma de manancial
simbólico disponível.” (SILVA JR., 2002, p.4).
49 http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-jornalismo-online-webjornalismo.pdf (Acessado em 22/11/2011 )50 http://www.compos.org.br/data/biblioteca_711.pdf
40
O perceptivo seria um segundo nível de desenvolvimento, onde há uma maior
agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao
jornalismo online:
Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o reaproveitamento para a versão online. No entanto há a percepção por parte desses veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede. (Silva Jr., 2002, p.4)
Depois viria o hipermidiático, onde é possível constatar que há demonstrações
de uso hipermidiático por alguns veículos online: “o uso de recursos mais
intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes
(multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas
e/ou serviços informativos”. (SILVA JR., 2002, p.5).
Entretanto essas fases cobrem apenas a primeira década do jornalismo online.
Na segunda e mais recente década, o jornalismo (impresso e online) sofreu
outras mudanças, principalmente por conta da chamada web 2.0, da banda larga
e das mídias sociais. Carla Schwingel chega a afirmar inclusive que “Do nosso
ponto de vista, o ciberespaço é plural e pode ser somente usado como suporte ou
mesmo para a elaboração e divulgação de produtos híbridos. Porém, a
preocupação aqui apresentada é para com aqueles processos característicos da
terceira fase do Jornalismo Digital. E vamos além, afirmando que somente nela é
que o termo concretiza-se.” (SCHWINGEL, 2005: p. 2).
Com base no trabalho de Mielniczuk e na categorização de Silva Jr., Suzana
Barbosa (2007), durante o período correspondente ao ano de publicação de sua
Tese Jornalismo Digital em Banco de Dados, afirmou que estaria ocorrendo uma
fase de transição do 3º estágio (o Hipermidiático) para um 4º estágio (ainda sem
nomenclatura). Segundo Barbosa, essa etapa intermediária estaria movendo a
segunda década de jornalismo digital online através do emprego das tecnologias
de base de dados, de participação e de interação, conforme a autora ilustra:
41
Quadro 1 – JDBD: novo paradigma surge entre a 3ª e a 4ª geração.
Fonte: Barbosa (2007)
A autora, entretanto, não entra em detalhes sobre o que seria esta 4ª fase do
jornalismo digital online, mas afirma que a fase de transição ocorre em função da
complexificação dos processos para a implementação de produtos jornalísticos no
ciberespaço. É curioso notar que uma das exigências para esta nova fase seria a
evolução no nível de exigências do consumidor final, o usuário. É nessa mesma
época que começa a ocorrer uma grande mudança no padrão dos acessos à
internet no país. Segundo dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (CETIC), de 200551 à 200752, o crescimento na
proporção de indivíduos que já acessaram a internet entre as classes B e C foi
tremendo, como podemos observar na tabela abaixo:
51 http://www.cetic.br/usuarios/tic/2005/rel-int-04.htm (Acessado em 23/11/2011 )52 http://www.cetic.br/usuarios/tic/2007/rel-int-01.htm (Acessado em 23/11/2011 )
42
Classe
social
2005 2006 2007
A 85,57% 95,08% 94,00%
B 63,31% 72,29% 73,00%
C 27,40% 38,85% 47,00%
D-E 7,65% 12,23% 17,00%
Tabela 2 - proporção de indivíduos que já acessaram a internet - Percentual
sobre o total da população.
Fonte: Adaptação de dados constantes em http://www.cetic.br/
Dados mais recentes, referentes ao ano de 201053, apontam que mais da metade
da Classe C já se acessou a internet. Aproximadamente uma a cada quatro das
classes D e E já acessaram também. A internet cresceu rapidamente nesta fase
de transição entre as gerações do jornalismo digital online. Os produtos
jornalísticos neste ambiente precisaram (e ainda precisam) adequar melhor seus
formatos para tornarem cada vez mais autêntica, envolvente e participativa a
experiência dos usuários. Isso significa também que os produtores de notícias
online deverão modificar a estratégia econômica de seus produtos. Barbosa
afirma ainda que:
Os avanços na tecnologia de base de dados as tornaram a solução para compatibilizar a incorporação de recursos novos e linguagens de programação para dar forma a produtos dinâmicos e melhor elaborados, a partir do desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos, visando: aperfeiçoar os sistemas de produção, assegurar maior agilidade, qualidade e descomplicar o trabalho dos jornalistas, entregando sistemas mais fáceis de operar e compatíveis com as características do jornalismo no suporte digital:
53 http://www.cetic.br/usuarios/tic/2010/rel-int-01.htm (Acessado em 23/11/2011 )43
hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização54, memória/arquivo, atualização contínua55. (BARBOSA; 2007: p. 151).
Pollyana Ferrari aponta que o público com maior domínio das ferramentas online
é não somente ativo - como também proativo. Isso significa que esse público
possui maior controle das próprias escolhas e ações frente às situações impostas
pelos meios. São comportamentos que vão além do básico, em que o usuário
busca espontaneamente por mais informações que possam preencher a sua
curiosidade:
Diversas pesquisas apontam ainda que o público on-line tende a ser mais ativo do que o de veículos impressos e mesmo do que um espectador de TV, optando por buscar mais informações em vez de aceitar passivamente o que lhe é apresentado. É importante também, de acordo com Dube, pensar quais são os objetivos do seu público. “Como o seu leitor está acessando as notícias on-line, há mais chances de ele se interessar por matérias relacionadas à Internet do que leitores de jornais ou espectadores de TV”, afirmou. “Por isso, faz sentido dar mais ênfase a esses assuntos.” (FERRARI, 2009: p. 47)
2.4 A Web 2.0, interação e a quarta geração do jornalismo digital online
O período que vivemos atualmente reflete uma quarta fase de jornalismo online.
Durante os últimos anos vários pesquisadores apontaram diferentes direções
sobre o qual seria a característica dominante desta fase. Outro ponto é que
parece ter acontecido um certo “esfriamento” sobre a questão. Não há artigos
recentes (2010-2011) sobre a “quarta” fase do jornalismo online56, ou até mesmo
sobre uma “quinta” fase. Nossa hipótese é a de que o jornalismo online e a
54 Também denominada individualização, a personalização ou customização consiste na opção oferecida ao Utente para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. Há sites noticiosos que permitem a pré-selecção dos assuntos, bem como a sua hierarquização e escolha de formato de apresentação visual (diagramação). Assim, quando o site é acessado, a página de abertura é carregada na máquina do Utente atendendo a padrões previamente estabelecidos, de sua preferência. (PALACIOS, 2002: p. 3-4).55 A rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção e de disponibilização, propiciadas pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas, permitem uma extrema agilidade de actualização do material nos jornais da Web. Isso possibilita o acompanhamento contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse. (PALACIOS, 2002: P.4)56 Como indicamos, as nomenclaturas jornalismo online, web jornalismo, jornalismo digital e ciberjornalismo estão presentes em muitos artigos como sinônimos. Em nosso trabalho, utilizaremos jornalismo online para designar as questões referentes às fases brasileiras.
44
internet evoluíram tão rapidamente após a proclamação da “web 2.0” que faz
pouco sentido tentar etiquetar algo que vai mudar nos próximos meses. Nesse
sentido, procuramos uma definição abrangente para o período atual do jornalismo
online, de forma que não se torne obsoleta pelo menos nos próximos dois anos.
O termo “web 2.0” surgiu em 2004, embora só viesse a tomar forma no final de
2005, no artigo de Tim O’Reilly, O que é Web 2.0. Para o autor, a web teria se
tornado uma plataforma: “A Web como plataforma - Como muitos conceitos
importantes, o de Web 2.0 não tem fronteiras rígidas, mas, pelo contrário, um
centro gravitacional. Pode-se visualizar a Web 2.0 como um conjunto de
princípios e práticas que interligam um verdadeiro sistema solar de sites que
demonstram alguns ou todos esses princípios e que estão a distâncias variadas
do centro.” (O’REILLY; 2005: p. 2)57 No outro ano58, O’Reilly conceituaria
novamente a web 2.0: “Web 2.0 é a revolução de negócios na indústria de
computadores causada pela mudança da internet para plataforma, e uma
tentativa de entender as regras para o sucesso nessa nova plataforma. Entre
várias regras, a principal é esta: construir aplicações para aproveitar os efeitos da
rede para se tornarem melhores conforme mais pessoas o utilizem. (Isto é o que
eu tenho chamado de ‘aproveitamento da inteligência coletiva’).”59 (O’REILLY;
2006: online). Desde então, esta definição se tornou padrão em diversos outros
artigos e resumiu bem a era da web 2.0. Alex Primo (2007, p.1-2)60, entretanto, vai
além, apontando que a web 2.0 não é apenas uma combinação de técnicas
informáticas. Tem repercussões sociais importantes:
A Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas (serviços Web, linguagem Ajax, Web syndication etc.), mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação
57 http://www.cipedya.com/doc/102010 (Acessado em 23/11/2011 )58 http://radar.oreilly.com/2006/12/web-20-compact-definition-tryi.html (Acessado em 23/11/2011 )59 Tradução literal nossa para: “Web 2.0 is the business revolution in the computer industry caused by the move to the internet as platform, and an attempt to understand the rules for success on that new platform. Chief among those rules is this: Build applications that harness network effects to get better the more people use them. (This is what I've elsewhere called ‘harnessing collective intelligence.’)”60 http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf (Acessado em 24/11/2011 )
45
mediados pelo computador. [...] A Web 2.0 tem repercussões sociais importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática. São essas formas interativas, mais do que os conteúdos produzidos ou as especificações tecnológicas em jogo, que serão aqui discutidas.
É justamente na época da Web 2.0 que começam os primeiros movimentos para
a formação de uma 4ª fase do jornalismo online. “Se na primeira geração da Web
os sites [e portais] eram trabalhados como unidades isoladas, passa-se agora
para uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo. Logo, O’Reilly
destaca a passagem da ênfase na publicação (ou emissão, conforme o limitado
modelo transmissionista) para a participação.” (PRIMO, 2007: p.2). Suzana
Barbosa (2007) nos adiantou algumas das características da 4ª fase no que ela
chamava de “fase de transição”. Entretanto, em 2005, Carla Schwingel dedicou
um artigo para apontar tendências para a consolidação de uma quarta fase do
Jornalismo Digital, através da utilização de tecnologias de banco de dados
associadas a sistemas automatizados para a apuração, edição e veiculação de
informações. A autora considera que o Jornalismo Digital de quarta geração
consolidaria a utilização de bancos de dados complexos (relacionais, voltados a
objetos) através da utilização de ferramentas automatizadas e diferenciadas
(sistemas para a apuração, a edição e a veiculação das informações) na
produção de produtos jornalísticos. Essas ferramentas vinculariam diferentes
plataformas (web, e-mail, wap) e ambientes distintos (web chats, fóruns),
utilizando-se de tecnologias também diferenciadas (Twiki, PHP, Pearl, XML) de
acordo com seus interesses e necessidades. Para Schwingel, portanto, a
emergência de sistemas automatizados para o processo de produção industrial no
Jornalismo Digital seriam um passo importante para a quarta geração do
jornalismo online, o que nós concordamos, mas apontamos que esta não é a
única, nem a principal, questão para a nova fase do jornalismo online. Em fato,
isso se parece muito mais com a fase de transição proposta por Barbosa (2007).
No ano após a publicação de sua tese, Barbosa (2008) publicou um artigo
chamado Modelo JDBD e o ciberjornalismo de quarta geração61. Para ela, no
61 http://grupojol.files.wordpress.com/2011/05/2008_barbosa_jdbd.pdf (Acessado em 24/11/2011 )46
contexto do ciberjornalismo, as bases de dados (BDs) possuiam caráter
estruturante para a atividade jornalística em suas dimensões de pré-produção,
produção, disponibilização/circulação, consumo e pós-produção. Como explanado
anteriormente, o Modelo de jornalismo digital de base de dados (JDBD) teve o
seu surgimento localizado na etapa de transição entre a terceira e a quarta
geração de evolução para o jornalismo no início da segunda década de
desenvolvimento deste tipo de jornalismo.
De acordo com Barbosa (2008, p. 9) o cenário no qual emergiria a quarta geração
do ciberjornalismo (nomenclatura da autora) seria marcado pela consolidação das
bases de dados como estruturantes da atividade jornalística e como agentes
singulares no processo de convergência jornalística; equipes mais especializadas.
A autora também cita outros pontos importantes para esta quarta fase, como: o
desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos (SGC) mais complexos e
baseados preponderantemente em softwares e linguagens de programação com
padrão open source; o acesso expandido por meio de conexões banda larga; a
proliferação de plataformas móveis; a consolidação do uso de blogs; a adoção de
recursos da Web 2.0 em larga escala; a incorporação de sistemas que habilitam a
participação efetiva do usuário na produção de peças informativas; a criação de
produtos diferenciados e mantidos de modo automatizado; as narrativas
multimídia; a utilização de recursos como RSS (Really Simple Syndication) para
recolher, difundir e compartilhar conteúdos; a aplicação da técnica do tagging na
documentação e na publicação das informações; o uso crescente de aplicações
mash-ups; o uso de geolocalização nas notícias ou do chamado geocoding news;
o uso do podcasting para distribuição de conteúdos em áudio; a adoção do vídeo
em streaming; uma maior integração do material de arquivo na oferta informativa;
o aparecimento de produtos experimentais que incorporam o conceito de web
semântica; o emprego de metadados e de data mining para categorização e
extração de informações; a aplicação de novas técnicas e métodos para gerar
visualizações diferenciadas para os conteúdos jornalísticos que auxiliam a
sobrepujar a metáfora do impresso (broadsheet metaphor) como padrão
(exemplo: infográficos).
47
Podemos perceber que tanto Schwingel como Barbosa focam principalmente no
uso de técnicas, ferramentas e tecnologias para compor uma nova fase do
jornalismo online. Mas qual a característica fundamental para o surgimento de
uma nova fase do jornalismo online? As novas tecnologias de informação e
comunicação fizeram desabrochar novas formas de jornalismo e dar força a
antigos modelos que não conseguiam impactar uma grande quantidade de
usuários devido à natureza dos meios de comunicação de massa. A quarta fase
do jornalismo está amarrado essencialmente à característica “interatividade”.
Ao final de 2009, Vivian Belochio, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) escreveu um artigo durante o XXXII Congresso Brasileiro de Ciências
da Comunicação chamado O jornalismo digital e os efeitos da convergência:
meta-informação, encadeamento midiático e a cauda longa invertida. O artigo
discute as transformações do jornalismo digital ao longo das suas quatro
gerações e o surgimento de uma nova fase de desenvolvimento das suas práticas
e dos seus produtos em tempos de convergência midiática. Para nós, Belochio
foge da similaridade de pensamento entre Schwingel e Barbosa, como também
faz uma análise mais à frente em questão temporal. A autora defende que os
sistemas colaborativos nos meios jornalísticos, com destaque para a interação
mútua sejam um diferencial da quarta geração do jornalismo online.
Segundo Primo (2007), existem dois tipos de interação mediada por computador:
a interação reativa e a interação mútua. Estas formas distinguem-se pelo
“relacionamento mantido” (PRIMO, 2003: p. 61 apud RECUERO, 2009: p. 32)
entre os agentes envolvidos. A primeira é “[...] limitada por relações
determinísticas de estímulo e resposta.” (PRIMO, 2007, p.57). Este tipo de
interação ocorre em sistemas como enquetes e outros com resultados pré-
programados. A interação ocorre apenas como uma reação do usuário a um
conjunto de opções previamente estabelecidas. A utilização de tais recursos
tornou-se comum na terceira geração do jornalismo digital online, fase marcada
pela presença, nos sites noticiosos, de links, de elementos multimídia e recursos
de memória, entre outros. Os portais de notícias proclamam-se “dinâmicos e
interativos” quando a única opção que disponibilizam é determinada por um
gatekeeper digital.
48
Por outro lado, e é aqui que as coisas ficam interessantes, temos que a interação
mútua, é “[...] caracterizada por relações interdependentes e processos de
negociação, em que cada interagente participa da construção inventiva e
cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente” (PRIMO, 2007: p.57).
Belochio (2009, p. 7-8) acredita que “a interação mútua é um elemento estratégico
dos meios jornalísticos em sua quarta geração na ambiência digital.”. A autora
considera ainda que nesta fase “os veículos aderem aos modelos colaborativos e
de conversação seguindo as suas normas internas de ação, isto é, adaptando tais
sistemas à sua realidade”. A interação mútua seria uma estratégia que permite o
debate de ideias, a composição coletiva de informações e outras formas de troca
que resultam em diferentes manifestações no âmbito online. Para compreender
como o processo acontece, a autora reflete sobre a interação mútua nas páginas
colaborativas e nas mídias de referência. Citando García e Otero López, as
manifestações informativas nas páginas colaborativas...
[...] no parten únicamente de las organizaciones empresariales. El abanico de opciones está representado también por la ciudadanía que ha encontrado em la red um vehículo de expresividad e interconexión rápido y no excesivamente costoso. El ciudadano se ha convertido en editor y productor de sus próprias inquietudes a través, por ejemplo, de las bitácoras62 que evidencian ya un fenómeno de información y comunicación, de interacción y retroalimentación que escapa al control de los médios institucionalizados. Los usuários crean sus particulares herramientas especializadas, em relación a sus intereses yo saberes, que sacian grados de atomización. (GARCÍA; OTERO LÓPEZ, 2007, p.122 apud BELOCHIO, 2009: p. 8).
Nas mídias de referência (leia-se: nos portais) a interação mútua pode ser
visualizada nas seções de colaboração, nos blogs e nos fóruns de discussão. A
notícia passa a ser construída de maneira coletiva, o que também traz
consequências para a própria personalidade do leitor, ou melhor, do usuário:
Em consonância com Mielniczuk (2003), percebe-se, nesse tipo de comunicação, potencial de ruptura das bases jornalísticas consideradas sólidas até pouco tempo atrás. Afinal, quando o movimento de trocas entre interagentes é realizado, um produto ou uma notícia é formatado a partir da contribuição coletiva. Como afirma Gillmor (2005, p.131), “o público que participa no processo
62 Bitácora, segundo os autores, é a palavra em castelhano que significa blog49
jornalístico é mais exigente do que os consumidores passivos de notícias. Mas poderá também sentir-se detentor do poder para fazer a diferença”. Além disso, a própria relação dos jornalistas com as suas fontes pode mudar a partir desse processo. A intensificação das trocas entre jornalistas e amadores pode ocorrer ou ser facilitada através dos sistemas que possibilitam a interação mútua. (BELOCHIO, 2009: p. 9).
O crescimento da interação mútua na Web 2.0, a adoção das bases de dados
como paradigma e a implantação dos sistemas colaborativos pelas mídias de
referência seriam as bases da quarta geração do jornalismo digital online. A
principal característica desta fase seria a adoção, no interior dos meios noticiosos,
de estratégias comunicacionais de apropriação de tecnologias e dos modelos
participativos de produção da informação. A autora compreende ainda que as
possíveis rupturas identificadas acontecem dentro dos limites editoriais dos meios
jornalísticos, que utilizam a tecnologia para agregar e inter-relacionar conteúdos,
criar novas formas estéticas e dinamizar/automatizar os produtos disponibilizados
ao público. As bases de dados facilitam a implantação de seções que contemplam
os princípios de colaboração da Web 2.0 nos produtos informativos, alargando as
suas fronteiras, mas mantendo o seu território de ação bem delimitado.
Por outro lado, à medida que se considera meios amadores e meios jornalísticos
como membros de um único e vasto circuito informativo, capazes de se
complementar mutuamente, admite-se a possibilidade de que o jornalismo tenha
entrado numa nova fase de desenvolvimento. A submissão dos meios
jornalísticos às regras de meios externos (dos 140 caracteres do Twitter, por
exemplo) é considerada como marca de uma mudança. Finalizando o artigo, a
autora ainda se pergunta se não estaríamos entrando numa “quinta fase” do
jornalismo digital online.
Ao observarmos as fases do jornalismo digital online propostas por Silva Jr.
(2002), a fase de transição (3ª para 4ª fase) de Barbosa (2007), os apontamentos
de Schwingel (2005) e Barbosa (2008) e o artigo de Belochio (2009) com as
características do jornalismo digital online (hipertextualidade, interatividade,
multimidialidade, personalização, memória/arquivo, atualização contínua),
podemos traçar um paralelo em que cada fase corresponde à uma característica
dominante.
50
Na primeira fase (Transpositiva), a característica dominante seria a memória, já
que o principal objetivo era transcrever o jornal para a Web. Depois, na fase
perceptiva, a hipertextualidade entra em cena com navegações em HTML e o
leitor começa a se transformar no usuário. Na terceira fase, é o multimídia e
atualização contínua (tempo real) que surgem como diferenciais. É nessa época
que surgem vídeos, galerias de imagens, web rádios e que os portais começam a
“furar” a mídia tradicional com as atualizações em tempo real. Para a 4ª fase do
jornalismo digital online, as características dominantes são a personalização e a
interatividade.
Isso não significa que não exista personalização ou interatividade nas outras
fases. Não se afirma que as características surgem de acordo com cada fase,
estamos considerando que cada fase possui um conjunto de características que
se sobressaem, isto é, que se destacam em função da época e das tecnologias
da informação e comunicação utilizadas. Para nós, a personalização na 4ª fase
surge com a mescla dos portais de notícias com as redes sociais (tópico que
abordaremos mais à frente). Dessa forma cada leitor terá uma home (página
principal) baseada nos seus gostos e ações (comentários, votos, enquetes,
páginas mais lidas etc.). Com relação à interação, damos destaque à interação
mútua e social. Essas características darão um forte suporte às novas formas de
jornalismo, algumas das quais abordaremos mais à frente. Dessa forma, embora
nenhum autor tenha denominado ou determinado uma nomenclatura para a 4ª
fase do jornalismo, compreendemos que os nomes social ou participativa sejam
adequados para o momento atual do jornalismo digital online. O quadro abaixo
sistemiza o pensamento:
Fase Característica dominante
Transpositiva Memória
Perceptiva Hipertextualidade
Hipermidiática Multimidialidade/atualização contínua
Social (participativa) Personalização/Interatividade
Tabela 3 – Fases do jornalismo online e suas características dominantes
51
3. JORNALISMO NA ERA DAS REDES SOCIAIS E DAS MÍDIAS SOCIAIS
[...] o início do século XXI tem sido intenso e também tenso para vários segmentos produtores de conteúdos de relevância social e para alguns profissionais que não compreenderam, ainda, a revolução digital que culminou na convergência de mídias e divergência de meios, atingindo em cheio os processos de elaboração e consumo de informações jornalísticas. (LIMA JUNIOR, 2009: p. 168).
O jornalismo social não poderia ter surgido em outra época senão a das redes e
mídias sociais na internet. Igualmente nesta época, o jornalismo participativo,
cujas raízes estão no jornalismo cívico das mídias tradicionais, começa a florescer
no ambiente online, dando um “poder” muito maior ao usuário. A participação
ocorre principalmente nas plataformas online de redes sociais.
3.1 Redes sociais
Na internet, embora ainda não existam estudos claros para determinar suas
fases, pode-se afirmar que o surgimento das plataformas de redes sociais foi um
grande divisor de águas, modificando completamente o nosso entendimento de
rede. Redes sociais, entretanto, não são um fenômeno recente, como aponta
Martha Gabriel (2010: p. 193):
Apesar de parecer um assunto novo, redes sociais existem há pelo menos três mil ano, quando homens se sentavam ao redor de uma fogueira para conversar sobre assuntos de interesse em comum. O que mudou ao longo da história foi a abrangência e difusão das redes sociais, conforme as tecnologias de comunicação interativas foram se desenvolvendo.
Redes sociais são estruturas sociais compostas por pessoas (ou instituições),
conectadas por um ou vários tipos de relações. Portanto, comunidades, tribos,
amigos, são apenas exemplos de redes sociais. O que nós vivemos hoje na
internet é um boom das plataformas que permitem a curadoria dessas relações,
através de interações sociais mútuas e reativas:
52
Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos:
atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas
conexões (interações ou laços sociais) (Wasserman e Faust, 1994;
Degenne e Forse, 1999). Uma rede, assim, é uma metáfora para
observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das
conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de
rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível
isolar os atores sociais e nem suas conexões. (Recuero, 2009: p.
24).
Portanto, redes sociais são estruturas sociais que existem desde a antiguidade e
vêm se tornando mais abrangentes e complexas devido às NTICs. É importante
ressaltar que as redes sociais são formadas por pessoas, instituições, grupos etc.,
não por sites ou aplicativos na web. Os sites de redes sociais, cuja explicação
vem a seguir, são plataformas onde as redes sociais podem ser visualizadas.
3.2 Redes sociais na Internet
A internet trouxe grandes mudanças para a sociedade. A possibilidade
comunicação e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediadas
por computador (CMC) modificou vários paradigmas de interação. Essas
ferramentas permitiram que uma determinada pessoa pudesse construir, interagir
e comunicar-se com outra pessoa. As principais ferramentas da atualidade são os
sites de redes sociais.
Sites de redes sociais (SRS) como Orkut, Facebook, Google+, e até mesmo o
Twitter, têm atraído milhões de usuários63, muitos dos quais têm integrado esses
sites em suas práticas cotidianas. Ainda existem milhares de SNS, com vários
focos definidos (redes sociais de nicho) que juntas também possuem milhões de
usuários. A maioria dos sites serve como apoio para manutenção de redes sociais
pré-existentes, mas diversas outras ajudam usuários estranhos a conectarem-se
através de interesses em comum, opiniões públicas ou atividades físicas. Esses
63 Enquanto este TCC está sendo escrito, o Facebook, já passou dos 800 milhões de usuários ativos; o Twitter tem pelo menos 200 milhões de perfis registrados e o Google+ possui ao menos 100 milhões de usuários registrados.
53
sites também variam na forma como as interações ocorrem e na estrutura,
podendo suportar conexões em vídeo, fotos, texto, imagens etc. Danah Boyd e
Nicole Ellison definem os sites de redes sociais:
[...] como um serviço baseado na web, que permite que indivíduos: (1) construam um perfil público ou semi-público dentro de um sistema limitado, (2) articulem uma lista de outros usuários com os quais eles compartilhem um conexão, e (3) ver e pesquisar sua lista de conexões e outras feitas por quem esteja dentro do sistema. (Boyd; Ellison, 2007)
Depois de entrar em um site de rede social, os usuários geralmente são
solicitados a identificar outros no sistema com o qual eles têm um relacionamento.
O rótulo para essas relações difere dependendo do site: “amigos”, “Contatos” etc.
Os SRS normalmente exigem uma confirmação bi-direcional para a amizade
(exemplo: Facebook), mas outros não (Exemplo: Twitter). Estes laços
unidirecionais às vezes são rotulados como “Fãs” ou “seguidores”. O termo
“amigo”, por outro lado, pode ser enganoso, porque a conexão não significa,
necessariamente, a amizade, no sentido vernacular todos os dias, e as razões
para a conexão são variadas. (boyd, 2006a). Para Recuero (2009: p. 102-103): “A
grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de comunicação
medida pelo computador é o modo como permitem a visibilidade e a articulação
das redes sociais, a manutenção dos laços sociais64 estabelecidos no espaço off-
line.”
Para os jornalistas, a passagem de informações através de redes articuladas é de
fundamental importância, pois um dos fatores característicos da interação
mediada pelo computador é a sua capacidade de migração: “As interações entre
atores sociais podem, assim, espalhar-se entre as diversas plataformas de
comunicação, como, por exemplo, em uma rede de blogs e mesmo entre
ferramentas como, por exemplo, entre Orkut e Blogs” (Recuero, 2009: p. 36).
Quando um portal de notícias coloca ao final da matéria botões para o usuário
64 Segundo Recuero (2009: p. 38): “O laço é a efetiva conexão entre os atores que estão envolvidos nas interações. Ele é o resultado, deste modo, da sedimentação das relações estabelecidas entre agentes. Laços são formas mais institucionalizadas de conexão entre atores, constituídos no tempo e através da interação social.” Wellman (2001: p. 7) define ainda que: “Ties consist of one or more specific relationships, such as kinship, frequent contact, information flows, conflict or emotional support. The interconnections of these ties channel resources to specific structural locations in social systems. The pattern of these relationships --- the social network structure --- organize systems of exchange, control, dependency, cooperation, and conflict.”
54
possa compartilhar a página entre suas redes sociais, está facilitando a migração
da informação, isto é, realocando-a em outras áreas da internet.
A forma como as redes sociais podem se apresentar varia de acordo com os
atores e interações envolvidos, alterando o que é chamado de “topologia da rede”.
Recuero (2009) discute a estrutura organizativa das redes em função de seus
fluxos de comunicação e intercomunicação, de acordo com os estudos de Franco
(2008) sobre um memorando de Paul Baran (1964), onde surgem três topologias
básicas possíveis de redes sociais: centralizada, descentralizada e distribuída,
conforme ilustra a imagem abaixo:
Figura 2 – Da esquerda para a direita: redes centralizada, descentralizada e
distribuída
Fonte: http://www.cffn.ca/img/articles/Centralized-Decentralized-And-Distributed-
System.jpg
A rede centralizada possui um forte nó central que distribui conteúdo para
diversos outros nós, de forma semelhante ao que faz a mídia tradicional na
55
presença da televisão, do rádio e do jornal impresso. Já a forma descentralizada
possui vários centros de agregação, distribuindo ali fluxos de comunicação e
poder, de forma bastante semelhante à teoria do two-step-flow65. A figura “C”
demonstra uma rede distribuída, onde as conexões dos nós estão mais
equilibradas, sem hierarquia. Segundo Recuero (2009: p. 57):
Essa topologias são interessantes para o estudo de vários elementos das redes sociais, tais como os processos de difusão de informações. No entanto, é preciso ter claro que se trata de modelos fixos e que uma mesma rede social pode ter características de vários deles, a partir do momento em que se escolhe limitar a rede.
Para o nosso estudo, focaremos em duas grandes plataformas de redes sociais
que estão sendo utilizadas pelas instituições jornalísticas no Brasil: Facebook e
Twitter.
3.3 Facebook
O Facebook é um site de rede social lançado em 4 de fevereiro de 2004. Foi
fundado por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris
Hughes, ex-estudantes da Universidade Harvard. Inicialmente, o Facebook era
restrita apenas aos estudantes da Universidade Harvard. Somente em 2006 o
Facebook permitiria a entrada de qualquer usuário com 13 anos de idade ou mais.
Segundo o anúncio feito pelo fundador e CEO da empresa, Mark Zuckerberg,
durante a abertura da conferência para desenvolvedores de 2011, a f8, a
plataforma possui mais de 800 milhões de usuários. No Ad Planner Top 1000
Sites66, que registra os sites mais acessados do mundo, através do mecanismo de
busca do Google, divulgado em fevereiro de 2011, o Facebook aparece como 1º
colocado, com 590 milhões de visitas e um alcance global de 38,1%.
65 Two-step flow é uma teoria de comunicação proposta por Paul Lazarsfeld (1944). Em português é chamada também de a teoria do fluxo comunicacional em duas etapas, que enfatiza o papel dos formadores de opinião comunitários como construtores da opinião pública em escala micro.66 http://www.google.com/adplanner/static/top1000/ (Acessado em 24/11/2011 )
56
Figura 3 – Página inicial de login do Facebook em novembro de 2011.
Fonte: Facebook.com
O site é gratuito para os usuários e gera receita proveniente de publicidade,
incluindo banners e grupos patrocinados. Usuários criam perfis que contêm fotos
e listas de interesses pessoais, trocando mensagens privadas e públicas entre si
e participando de grupos de amigos. A visualização de dados detalhados dos
membros é restrita para membros de uma mesma rede ou amigos confirmados.
Outro ponto fundamental desta rede social é forma como se lida com empresas,
instituições e marcas. Através das fan pages, usuários podem se conectar com
perfis não-humanos (empresas, ONGs, locais etc.). Nessa situação, a conexão é
unidirecional. Quem tiver interesse de acompanhar a fanpage basta “curtir” a
página. Os três portais que iremos analisar (gazetaweb, Tudo na hora e Cada
Minuto) possuem fan pages no Facebook. O Facebook possui uma preocupação
perante à mídia. Em meados de 2011, lançou a página Facebook + Journalists,
que reúne jornalistas do mundo inteiro, buscando ensinar as melhores práticas de
jornalismo na rede social.67
O Facebook é, ainda, um site de rede social propriamente dito. Recuero explica o
termo:
67 https://www.facebook.com/journalists (Acessado em 24/11/2011 )57
Sites de redes sociais propriamente ditos são aqueles que compreendem a categoria dos sistemas focados em expor e publicar as redes sociais dos atores. São sites cujo foco principal está na exposição pública das redes conectadas aos atores, ou seja, cuja finalidade está relacionada à publicização dessas redes. [...] Em geral, esses sites são focados em ampliar e complexificar essas redes, mas apenas isso. O uso do site está voltado para esses elementos, e o surgimento dessas redes é consequência direta desse uso. [...] Toda interação está, portanto, focada na publicização dessas redes. (Recuero, 2009: p. 104)
3.4 Twitter
Twitter é uma rede social e servidor para microblogging, que permite aos usuários
enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos (em textos de até 140
caracteres, conhecidos como "tweets"), por meio do website do serviço, por SMS
e por softwares específicos de gerenciamento.
As atualizações são exibidas no perfil de um usuário em tempo real e também
enviadas a outros usuários seguidores que tenham assinado para recebê-las. As
atualizações de um perfil ocorrem por meio do site do Twitter, por RSS, por SMS
ou programa especializado para gerenciamento. O serviço é gratuito pela internet,
entretanto, usando o recurso de SMS pode ocorrer a cobrança pela operadora
telefônica.
Desde sua criação em 2006 por Jack Dorsey, o Twitter ganhou extensa
notabilidade e popularidade por todo mundo. Algumas vezes é descrito como o
"SMS da Internet". Hoje possui aproximadamente 200 milhões de usuários.
58
Figura 4 - Página inicial de login do microblogging Twitter em novembro de 2011.
Fonte: Twitter.com
Existem inúmeros estudos sobre o uso do Twitter como ferramenta jornalística e
ele já está aceito em diversas modalidades de jornalismo no país inteiro. O Twitter
é, entretanto, um site de rede social apropriado. Recuero (2009: p. 104-105)
define que:
Sites de redes sociais apropriados são aqueles sistemas que não eram, originalmente, voltados para mostrar redes sociais, mas que são apropriados pelos atores com este fim. [...] são sistemas onde não há espaços específicos para perfil e para a publicização das conexões. Esses perfis são construídos através de espaços pessoais ou perfis pela apropriação dos atores. É o caso, por exemplo, de alguns fotologs. O Fotolog não é um espaço de perfil, mas pode ser construído como tal a partir das fotos publicadas e dos textos publicados pelo ator. Esse espaço também pode ser construído como um perfil a partir das interações de um determinado ator com outros atores, como, por exemplo, através dos comentários e dos apelidos criados pelos atores e mesmo pelas coisas que são ditas. [...] A partir dessa construção, redes sociais também podem ser construídas através dos comentários e dos links.
59
3.5 Comunidades virtuais
Uma das consequências da sociedade em rede é a formação das comunidades
virtuais. O conceito de comunidade é costumeiramente usado para descrever um
conjunto de pessoas em uma determinada área geográfica. Comunidades virtuais,
entretanto, recebem este nome por não existirem em territórios físicos. Sua
perpetuação se dá através da comunicação entre os membros e o capital
simbólico construído através das interações sociais. Para FernBack e Thompson
(1995, p. 8 apud Primo, 1997: p. 2)68, comunidades virtuais são definidas como
“relações sociais formadas no ciberespaço através do contato repetido em um
limite ou local específico (como uma conferência eletrônica) simbolicamente
delineado por tópico ou interesse”. Comunidades sociais podem emergir através
de blogs, redes sociais, chats etc. Geralmente os laços da comunidade são
formados através de interesses em comum.
Na definição de Howard Rheingold, “as comunidades virtuais são agregações
sociais que emergem da rede quando muitas pessoas continuam abastecendo as
discussões públicas por um tempo, suficiente sentimento humano, para formar
relacionamentos” (1993: p.5 apud Lima Junir, 2009: p. 173). Nesse sentido,
tempo, sentimento humano e relacionamento são variáveis importantes para a
construção de uma comunidade virtual. O fator tecnológico, embora existente
para garantir uma comunicação não física, não é preponderante. Vários tipos de
tecnologias (além da digital e da online) permitem a criação de comunidades
virtuais, como era comum no passado através das correntes de cartas. Stone
(1991: p. 81-112 apud Santaella, 2003: p. 122) demonstra a evolução histórica
das comunidades virtuais em quatro fases:
(a) No século XVII, em 1669, Robert Boyle inventou um método chamado de testemunho virtual que permite formar uma comunidade de cientistas pelo testemunho à distância para a validação do trabalho de seus pares. (b) Nas comunicações elétricas (1900), fase em que surgiram o telégrafo, o telefone, o fonógrafo, o rádio e a televisão, todos eles formas de compartilhamento que criam vínculos virtuais na formação de comunidades de espectadores, ouvintes e telespectadores. (c) Na informática (1960), com o primeiro computador e os primeiros BBSs
68 http://www.sitedaescola.com/downloads/portal_aluno/Maio/A%20emerg%EAncia%20das%20comunidades%20virtuais.pdf (Acessado em 24/11/2011 )
60
apareceu a primeira comunidade virtual com base na tecnologia da informação e, finalmente, (d) Na fase do ciberespaço, da comunicação mediada por computador, surgiram as comunidades virtuais das redes telemáticas.
O termo Comunidade Virtual não é sinônimo de Rede Social na Internet, embora
toda plataforma de rede social na internet possua várias comunidades virtuais.
Mas quando Boyd e Ellison (2007) travavam um debate sobre o conceito dos sites
de redes sociais, eles resolveram optar por “network” no lugar de “networking”. E
isso é fundamental para compreendermos a diferença entre comunidades virtuais
e redes sociais:
While we use the term "social network site" to describe this phenomenon, the term "social networking sites" also appears in public discourse, and the two terms are often used interchangeably. We chose not to employ the term "networking" for two reasons: emphasis and scope. "Networking" emphasizes relationship initiation, often between strangers. While networking is possible on these sites, it is not the primary practice on many of them, nor is it what differentiates them from other forms of computer-mediated communication (CMC)69.
A principal diferença é que as plataformas de redes sociais na internet geralmente
trazem consigo as redes sociais já existentes no ambiente off-line. E, como
observamos nas citações anteriores, as comunidades virtuais surgem a partir de
interesses em comum não sendo delimitados por ambientes físicos:
Os sistemas de redes sociais online, como blogs, Orkut, Facebook e Twitter, não são tão usados para a formação de novos laços sociais na internet. A maior parte do uso dessas ferramentas de comunicação em rede tem sido voltada para o contato entre pessoas que já se conhecem na vida off-line, para amplificar e fortalecer redes sociais que já existiam (Tubota, 2009 apud Lima Junior, 2009: p. 173)
Para Lemos (2002c apud Recuero, 2009: p. 138-139) o sentimento de
pertencimento a uma comunidade é a base estruturante para se estabelecer
vínculos de relacionamentos, no que o autor chama de agregação eletrônica
comunitária: “[...] são aquelas onde existe, por parte de seus membros, o
sentimento expresso de uma afinidade subjetiva delimitada por um território
simbólico, cujo compartilhamento de emoções e trocas de experiências pessoais 69 Citação deixada no original por conta de expressões que não poderiam ser traduzidas de outra forma.
61
são fundamentais para a coesão do grupo.” O autor defende ainda que existem
agregações eletrônicas não comunitárias: “[...] onde os participantes não se
sentem envolvidos, sendo apenas um locus de encontro e de compartilhamento
de informações e experiências de caráter totalmente efêmero e
desterritoralizado.” Um bom exemplo de agregações eletrônicas comunitárias (um
sinônimo para comunidades virtuais) em redes sociais está nos grupos do
Facebook. Já um exemplo de agregação eletrônica não comunitária pode ser um
trending topic no Twitter, pela sua qualidade efêmera.
Finalmente, Recuero considera as comunidades virtuais como um dos atributos
das redes sociais na internet, surgindo através da densidade de conexões de um
grupo específico: “O principal elemento de definição de uma comunidade em uma
rede social é, justamente, a densidade. Em uma determinada rede social,
comunidades seriam, assim, os agrupamentos de nós, em virtude da densidade
de conexões na rede.” (Recuero, 2009: p. 149).
Os jornalistas podem aproveitar as comunidades virtuais como fontes para
pesquisas e estudos. Dentro das comunidades virtuais existem muitos atores com
grande expertise em diversas áreas de conhecimento. Por serem formadas
principalmente pelo interesse em comum, as comunidades virtuais acabam
ganhando status de especialização, gerando uma grande quantidade informação
e conhecimento sobre os assuntos tratados. Saber encontrar e infiltra-se (no
sentido de ser bem aceito) nessas comunidades é uma importante característica
para o jornalista online. Este é um ponto. Outro ponto é a construção de
comunidades virtuais com fins jornalísticos. Jornalistas e não jornalistas se unem
para construir notícias e portais com credibilidade. Este fenômeno vem surgindo
no Brasil fortemente através de blogs e wikis.
3.6 Mídias Sociais
Embora o termo seja mais conhecido no meio mercadológico/publicitário, as
mídias sociais firmaram-se como as plataformas da web 2.0. A mais famosa
definição de mídias sociais vem de Andreas Kaplan e Michael Haenlein em que
62
são “um grupo de aplicações para Internet construídas com base nos
fundamentos ideológicos e tecnológicos da Web 2.0, e que permitem a criação e
troca de Conteúdo Gerado pelo Utilizador (UCG)”.70
Para Lima Junior (2009: p. 174-175), as tecnologias que estruturaram as redes
sociais forneceram também as ferramentas para a interação entre os usuários e
os produtores de conteúdo informativo de relevância social, seja por intermédio de
sistemas oferecidos dentro de um espaço noticioso (como portais de notícias, por
exemplo) ou por sistemas denominados agregadores, que selecionam e
compartilham conteúdo jornalístico. Para o autor, é essa configuração de
interação que está sendo cunhada de “mídias sociais”. O principal diferencial
entre a mídia social e a “mídia tradicional” é o nível de interatividade e
participação. “As plataformas de mídias sociais permitem aos usuários espaços
ilimitados para armazenar e fatura de ferramentas para organizar, promover e
transmitir os seus pensamentos, opiniões, comportamentos e mídias para os
outros.” (Manovich, 2008: p. 232 apud Lima Junior, 2009: p. 175)
Na área de marketing em mídias sociais (também conhecida como social media
marketing), Dave Evans (2008: p. 33-35 apud Lima Junior, 2009: p. 175) afirmou
que “a mídia social é a democratização da informação, transformando pessoas
leitoras de conteúdo em publicadoras.”. A mídia social é “usada efetivamente
através da participação e da influência, não através de comando ou controle.”. A
ilustração presente no trabalho de Brian Solis e Jesse Thomas71, exemplifica as
mais famosas plataformas de mídias sociais na internet de acordo com algumas
categorias. Numa tentativa de delimitar um recorte adequado sobre as mídias
sociais, Lima Junior (2009: p. 176) define que:
A mídia social é um formato de Comunicação Mediada por Computador (CMC) que permite a criação, compartilhamento, comentário, avaliação, classificação, recomendação e disseminação de conteúdos digitais de relevância social de forma descentralizada, colaborativa e autônoma tecnologicamente. Tem como principal característica a participação ativa (síncrona e/ou assíncrona) da comunidade de usuários na integração de informações, visando à formação de uma esfera pública interconectada.
70 http://pt.wikipedia.org/wiki/Mídias_sociais (Acessado em 24/11/2011 )71 http://www.theconversationprism.com/ (Acessado em 24/11/2011 )
63
Esse novo modus operandis leva os usuário a uma nova cultura participatória.
Henry Jenkins (2008: p.35 apud Saad Corrêa, 2009: p. 192) refere-se à cultura da
rede conectada. Para o autor:
[...] a cultura da rede conectada possibilita uma nova forma de poder de baixo para cima, pois diversos grupos de pessoas dispersas se associam de acordo com suas habilidades e encontram soluções de muitos problemas complexos que talvez não pudessem resolver individualmente. [...] a cultura participatória conta com relativamente poucas barreiras à expressão artística e ao engajamento cívico e dá um grande apoio para se compartilhar criações [...] é igualmente aquela em que os membros confiam no conteúdo material de suas contribuições e sentem algum nível de conexão social uns com os outros.
O posicionamento de Jenkins propõe a liberação do polo de emissão, de
participação tanto na geração de conteúdo quanto na troca de ideias, opiniões e
avaliações, e de estabelecimento de laços associativos e/ou dialógicos entre os
participantes.
Segundo Shirky (2011: p. 90), as pessoas sempre desejaram encontrar outras
pessoas que gostassem dos mesmos assuntos e, dessa forma, trocarem
informações e pensamentos. Consequentemente essas comunidades virtuais
desenvolverem novas habilidades cognitivas e novos aprendizados, estimuladas
pelos novos suportes tecnológicos (mídias sociais), conforme explica Shirky: “O
caráter humano é o componente essencial do nosso comportamento sociável e
generoso, mesmo quando coordenado com ferramentas de alta tecnologia. As
interpretações focadas na tecnologia para entender esses comportamentos erram
o alvo: a tecnologia possibilita esses comportamentos, mas não pode causá-los.”
(SHIRKY, 2011, p. 90). A Forest Research72 criou uma escala para tabular o grau
de participação dos usuários nas mídias sociais, definindo da seguinte maneira:
Criadores (24%): Aqueles que criam conteúdo social para ser consumido
por outros. Publicam em blogs, tem um site próprio, fazem upload de
vídeos, inserem áudio/música criado por eles mesmos, escrevem artigos e
notícias e colocam no ar.
72 http://www.forrester.com/empowered/ladder2010 (Acessado em 24/11/2011 )64
Conversionalistas (33%): Expressam suas opiniões sobre marcas,
produtos, pensamentos etc. através plataformas como sites de redes
sociais e microbloggings.
Críticos (37%): respondem os conteúdos postados por outros usuários.
Postam reviews, comentários em blogs, participam de fóruns e editam
arquivos em wikis.
Colecionadores (20%): Organizam o conteúdo na internet através de feeds
e tags. Participam de votações e enquetes e usam sites agregadores de
conteúdos.
Joiners (59%): Possuem perfis em algumas mídias sociais, mas a sua
participação na internet se restringe apenas à manutenção de sua própria
vida virtual.
Espectadores (70%): Usuários que apenas consomem conteúdos
publicados em mídias sociais como blogs, podcasts, wikis, sem adicionar
ou editar qualquer conteúdo.
Inativos (17%): Não produzem ou consomem qualquer tipo de material em
mídias sociais.
65
Figura 5 – Usuários de mídias sociais e suas principais utilizaçõesFonte: http://www.forrester.com/empowered/ladder2010
O surgimento das mídias sociais e o crescimento das plataformas de redes
sociais na internet impulsionam alguns tipos de jornalismo. Uma vez que a
participação do usuário é maior na internet, o jornalismo participativo ganha força.
Surgem também novos modelos de jornalismo, como o em Rede e o Social.
3.7 Jornalismo Participativo, Jornalismo em Rede e Social Journalism
Jornalismo Participativo é um tipo de jornalismo na qual o conteúdo é produzido
por pessoas sem formação jornalística, em colaboração com jornalistas
profissionais. Esta prática se caracteriza pela maior liberdade na produção e
veiculação de notícias, já que não exige formação específica em jornalismo para
os indivíduos que a executam. O Jornalismo Participativo ganhou força nos
últimos anos graças às mídias sociais e à popularização de dispositivos móveis
equipados com câmeras digitais e conexão com internet: “Os meios de
66
comunicação tradicionais, de uma forma ou de outra, permitem uma baixa
participação do consumidor de informação jornalística nos seus produtos e,
raramente, nos seus processos.” Por outro lado, assim como em outros sistemas
participativos (como o wikis), a precisão e a qualidade das informações são
problemas constantes. Esse gerenciamento é, geralmente, feito por jornalistas
profissionais, que assumem as tarefas de edição do espaço. “Um dos grandes
embates entre teóricos no campo da Comunicação Social e os profissionais do
jornalismo é a necessidade ou não de envolver a audiência nos processos de
produção da informação de relevância social” (idem). Um envolvimento maior do
leitor significa uma melhor qualidade informativa, principalmente na questão da
apuração de informações. Praticamente todos os portais de notícias contém a
opção “reportar erro na notícia” que permite uma melhora do conteúdo
jornalístico. Também são comuns as seções de “você repórter”, onde o usuário é
convidado a enviar materiais de relevância social para a empresa de
comunicação.
É importante frisar que jornalismo participativo não é sinônimo de Jornalismo
Cívico, que é o jornalismo profissional caracterizado pela cobertura jornalística
dos veículos de imprensa voltada para o cidadão. Alguns autores afirmam,
entretanto, que jornalismo participativo e colaborativo são sinônimos. Outros
afirmam ainda que outro sinônimo seria o jornalismo cidadão, embora nós
discordemos. A verdade é que a diferença entre as nomenclaturas são sutis,
embora existam. Nós utilizamos a nomenclatura participativa, pois o usuário
participa do processo de construção de uma notícia. Evitamos o uso do
“colaborativo” que dá a impressão de que o usuário atua como coadjuvante no
processo, o que seria uma inverdade.
Se, nas mídias tradicionais, pela própria configuração tecnológica que os suportes impressos e eletrônicos são estruturados, a participação do receptor da informação jornalística, no processo de produção do jornalismo, é prejudicada, com as mídias digitais conectadas (mídia social), essa inserção pode e deve ser elevada a uma potência superior. (LIMA JUNIOR, 2009: p. 179).
As possibilidades de participação da audiência nos processos e produtos
jornalísticos não são novidades criadas pelas mídias sociais ou pelas redes
67
sociais. Entretanto, as novas tecnologias de informação e comunicação propiciam
uma participação em níveis jamais imaginados pelos idealizadores do conceito de
jornalismo participativo.
Jornalismo em Rede é uma tradução literal para o termo “networked journalism”.
Lima Júnior (2009: p. 181) utiliza a tradução jornalismo enredado, mas nós
acreditamos que o termo em Rede descreva melhor o tipo de jornalismo que
acontece no ambiente da Rede computacional. Esse tipo de jornalismo incorpora
atributos de sistemas tecnológicos que proporcionam a elaboração de conteúdo
de relevância social de forma participativa e colaborativa. Quando o jornalismo
participativo acontece em um ambiente em Rede, é chamado de jornalismo em
Rede. O autor cita Jeff Javis que afirma que um dos atributos do jornalismo em
rede é a sua natureza colaborativa entre profissionais e amadores.
Como a audiência não mais necessita ser, no meio online, observadora passiva, os leitores podem tornar-se co-criadores com os profissionais no processo de produção da notícia. Decerto, tal participação em um ambiente online de jornalismo pode existir mais potencial do que na atual prática, tendo como consequência duas primárias obrigações. (1) Em que medida os usuários estão dispostos a contribuir e qual é a variedade de nível de riqueza na participação (comentário em notícias versus submissão completa de matérias) e (2) em que medida as organizações noticiosas estão dispostas a “abrir as portas” e permitir vários níveis de supervisão (dura moderação da discussão versus colaboração do usuário no processo de informar). (LEWIS; KAUFHOLD; LAROSA, 2009: p.6 apud LIMA JUNIOR, 2009: p. 181-182).
A partir do momento em que o conteúdo jornalístico tem a participação outras
pessoas (leitores, geralmente), um dos pontos mais importantes é saber se este
conteúdo deve ou não se moderado. As formas de participação do usuário na
produção de informações de relevância social devem ser fornecidas, mas sem
que isso afete negativamente as premissas jornalísticas. A participação do
usuário deve sempre acrescentar. Porém, para que isso ocorra no ambiente
online, vem surgindo a figura do gatekeeper 2.0. O gatekeeping enquanto teoria
surgiu na área de comunicação social para estudar a função do jornalismo como
árbitro da informação. O gatekeeping tem sido definido como a seleção,
composição, edição, posicionamento, agendamento, repetição, e transformação
de informações em notícias. Também sendo definido como “overall process 68
through which the social reality transmitted by the news media is constructed.”
(LEWIS; KAUFHOLD; LASORSA, 2009, P. 4)73. Ana Maria Brambilla (2006: p. 20) 74sinaliza o risco da ausência de mediação nas práticas do jornalismo participativo
(na ocasião, Brambilla estuda o jornalismo open source):
Por outro lado, como todo o processo midiático, o jornalismo open source tem suas falhas, como o risco de informações falsas, a banalização da reportagem e, no que diz respeito ao OhmyNews International, a manutenção de uma hierarquia editorial. A figura de um editor, conforme visto em diferentes momentos desta pesquisa, pode parecer um resquício do jornalismo tradicional, especialmente àqueles que anseiam por liberdade ampla e irrestrita à publicação de conteúdo em ambiente digital. Ao contrário, esta pesquisa filia-se à perspectiva da necessidade de uma hierarquia, na presença do editor, para que a ordem seja mantida e para que alguns valores do jornalismo tradicional sejam preservados. Somente assim, acredita-se, é possível intitular jornalismo a prática informacional estudada ao longo destes capítulos.
O estudo de Lewis, Kaufhold e Larosa Thinking about Citizen Journalism
Perspectives on Participatory News Production at Community Newspapers aponta
que a emergência de uma nova mídia para notícias e informações oferece uma
nova possibilidade de observação do fenômeno do gatekeeping. Para os autores,
o gatekeeping permanece surpreendentemente estável apesar da evolução
tecnológica: “Singer argumenta que a ubiquidade da informação disponível no
meio online faz com que a função do gatekeeping seja importante para uma
democracia informada, enquanto outros conteúdos da web, por sua natureza
distribuída, torna o gatekeeping menos relevante.” (Lewis; Kaufhold; Larosa,
2009: p.5 apud Junior Lima, 2009: p. 184). Por exemplo, como demonstra
Brambilla (2006: p. 185) em seu estudo, “A questão da credibilidade vai além. O
fato de um texto opinativo informar os leitores, conforme majoritariamente
verificado, não é garantia para que esta mensagem seja crível. No OhmyNews, a
busca pela credibilidade acontece através da checagem rigorosa das
informações constantes nas matérias enviadas pelos cidadãos-repórteres.”
Por outro lado, existem profissionais que defendem a total desintermediação da
informação, isto é, o fim do gatekeeping. Woody Lewis (apud LIMA JUNIRO,
73 http://online.journalism.utexas.edu/2009/papers/Lewisetal09.pdf (Acessado em 25/11/2011 )74 http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/open_source.pdf (Acessado em 25/11/2011 )
69
2009: p. 184) aponta que o futuro do jornalismo em rede será guiado pela
desintermediação. Em fato, é o que já ocorre quando os usuários utilizam as
redes sociais para veicularem notícias (fotos de acidentes, vídeos sobre a rua,
vlogs etc.). Com isso os jornalistas trabalharão cada vez mais como células
independentes, criando milhares de micro marcas preservadas pelo interesse da
sociedade.
O processo de comunicação em rede favorece a posição do receptor, que passa a ter mais liberdade para interpretar, interferir e reagir diante uma obra. Neste sistema, a comunicação é multidirecional, na qual emissor e receptor se misturam, alternando a postura e os comandos ao longo de uma hipernarrativa. (CAMPOS, 2010, p.6)
Social journalism é um termo em inglês que, traduzido ao pé da letra, significaria
jornalismo social. Entretanto, utilizar essa tradução em português poderia alterar o
significado do termo, uma vez que a “social” em nosso país significaria muito mais
uma espécie de jornalismo preocupado com o bem-estar da sociedade. Social
Journalism, entretanto, é uma junção de Social Media com Journalism. Em uma
breve análise, é o jornalismo de mídias sociais. Grosso modo, a principal
diferença do jornalismo em mídias sociais para o jornalismo participativo está nas
ferramentas utilizadas para essa participação. Em entrevista75 para a Street Fight
Magazine, Jane Stevens, diretora de estratégias de mídia do LJ World, um portal
de notícias norte-americano, definiu o que seria o social journalism76:
Nós incorporamos as ferramentas sociais em nosso site. O conteúdo dos posts de nossa comunidade dentro do sistema de notícias do site vai funciona através da administração de face-públicas. Em outras palavras, tudo o que eles precisam fazer é entrar com seus nomes verdadeiros e então clicar em “novo post” para publicar textos, fotos, gráficos ou vídeos para o site. Ele podem “seguir” outras pessoas no site, iniciar grupos, participar de grupos e mandar mensagens para outros membros dentro do site. Ele usam as mesmas ferramentas que nossos jornalistas usam
75 http://streetfightmag.com/2011/07/07/social-journalism-news-you-can-take-to-the-bottom-line/ (Acessado em 25/11/2011 )76 Tradução do original em inglês: We embedded social tools into our news site. Our community posts content into the site’s news stream through a public-facing admin. In other words, all they have to do is sign on with their real name and then click on “New Post” to post text, photos, graphics or videos to the site. They can “follow” other people on the site, start groups, join groups, and message each other within the site. They use the same tools our journos use to post content. Their content is integrated with our journos’ contente.
70
para postar conteúdo. O conteúdo deles é integrado com o conteúdo de nossos jornalistas.
3.8 Jornalismo online e Redes Sociais na Internet
Antes de continuarmos, é interessante ver o depoimento de Marcos Sá Corrêa à
Carla Rodrigues no artigo “Ainda em Busca de definições para o jornalismo on-
line”, publicado pela autora em 2009. Ao ser questionado pelos alunos sobre o
que caracterizava a prática do jornalismo on-line, Corrêa foi contundente: “Eu
acreditava e ainda acredito que o principal instrumento da comunicação para um
repórter brasileiro é a língua portuguesa, escrita ou falada. E isso a internet não
mudou”. Completo: nem as redes sociais. Mas o computador provocou mudanças
muito significativas na forma em que utilizamos o nosso português, por exemplo.
No capítulo cinco do seu livro “A Cultura da Interface” (2001), Steven Johnson fala
da sua dificuldade em escrever um texto, mesmo um bilhete, no papel. Isso
porque, desde os 12 anos, é acostumado a escrever no computador. De fato,
enquanto escrevo este TCC, apago um trecho aqui, destaco outro ali, copio, colo,
recorto... Tudo isso mudou a forma como nos comunicamos. Afinal, antes, para
escrever, era necessário pensar um pouco antes de colocar a tinta no papel. Hoje
podemos digitar qualquer coisa e depois é só apagar:
A ideia de escrever um livro inteiro a mão é para mim um pouco como filmar Cidadão Kane com uma videocâmera. Pode-se tentar, é claro, mas isso envolve um erro básico na avaliação da escala da tecnologia que se está utilizando. É chocante, eu sei, mas é assim. Sou um digitador, não um escritor. (JOHNSON, p. 103: 2001. Grifo nosso.)
O bom jornalista continua sendo aquele que consegue passar uma informação de
qualidade. Os meios como essa passagem se apresenta é que estão se
modificando. As redes sociais permitem um leque muito maior de opções para
construir notícias, matérias, reportagens. Mas por outro lado, começam a enterrar
outros meios de comunicação. Um estudo recente feito pela ComScore77 nos
Estados Unidos mostra que, enquanto o uso das redes sociais cresce entre os
77 http://www.comscoredatamine.com/2011/02/e-mail-still-popular-among-the-older-generation/ (Acessado em 25/11/2011 )
71
jovens, o uso de e-mail declina. Também está em desuso os portais e os
mensageiros instantâneos.
As redes sociais já substituíram o jornalismo noticioso na questão do furo de
reportagem. Poucas coisas são inéditas na internet. Ao ver um acidente de
transito, por exemplo, um usuário com um smartphone pode fotografar o fato e
publicá-lo no seu perfil do Twitter. Levará ainda um bom tempo para que a equipe
de reportagem chegue ao local. Recentemente também tivemos o caso de um
carro incendiado durante a “ocupação” do morro do alemão. Na ocasião, o jornal
chegou tarde ao local e o fogo já tinha sido controlado. Entretanto, um fotógrafo
amador registrou as chamas e a sua foto (publicada em seu perfil) foi parar na
capa do jornal.
No entanto o uso das redes sociais pelos jornais ainda é uma exceção. Em seu
artigo apresentado no Intercom 2010, Débora Tavares e Vitor Teixeira (2010)
apresentaram o caso do Twitter da TV Centro América, afiliada da rede globo no
estado do Mato Grosso. Nele, constatou-se que a empresa utilizava o perfil
apenas para divulgação de notícias, compreendendo 92,06% de todas as
mensagens enviadas. Apenas 11,31% dos tweets eram de conversação diária.
A conversação é a arma mais poderosa das redes sociais. Ficar de olho no que
as pessoas estão comentando pode gerar uma excelente pauta para os jornais.
Também é uma fonte riquíssima de opiniões. A maioria dos jornais online,
entretanto, usa o Twitter apenas para divulgar os links. Não fazem notícias
diretamente da rede social. Em Alagoas, o portal Cada Minuto, entretanto, já usou
a rede social para produzir uma matéria. Na ocasião de uma enchente na capital
do estado, o portal utilizou o Twitter e o YouTube para coletar fotos e vídeos
enviadas pelos usuários. Mas o sistema de créditos do portal não permitia a
inserção de links para os perfis que colaboraram com a matéria.
Foi durante um recente apagão em todo o estado do Nordeste que o Twitter
demonstrou seu potencial jornalístico. Quando a maior parte dos estados da
região ficou sem energia elétrica, os usuários da rede social que tinham acesso
via celular começaram a twittar sobre a falta de energia. Foi dessa forma que a
72
maioria das pessoas soube do apagão. Quem não teve acesso às redes sociais
só ficou sabendo que a falta de energia atingiu a região inteira no outro dia.
Flávia Valério Lopes (2010), em seu artigo sobre as mídias sociais e o monopólio
dos grandes veículos apontou o fato das mídias sociais estarem flexionando os
jornais a encontrarem outras formas de obter e distribuir informações: “Bem mais
precioso desta era de globalização, digitalização e convergência tecnológica, a
informação tem ganhado novos suportes, ocasionando uma mudança de
paradigmas na maneira como as pessoas produzem e buscam conteúdo noticioso
na atualidade”.
A informação disponível nas mídias sociais e, especialmente, nas redes sociais,
ocorre de maneira muito mais fluída, inocente até. Ao comunicar-se com amigos,
parentes e conhecidos, o usuário pouco sabe da importância jornalística dos seus
atos. Durante o terremoto seguido de um tsunami no Japão em março deste ano
(2011), muitos usuários proveram informações importantes ao falaram através de
redes sociais. Transmitiram informações aos parentes e amigos dizendo quais
regiões a tsunami havia afetado, quem estava desaparecido, onde houve incêndio
etc. . Obviamente os jornais utilizaram estas informações para produzir matérias
mais apuradas.
A rede social mais utilizada para esses fins é, com certeza, o Twitter. O fluxo de
informações em tempo real permite a apuração de acontecimentos em poucos
minutos após o ocorrido. Pesquisas apontam que, proporcionalmente, o Brasil é o
país que mais usa o Twitter no mundo. Nos jornais, está sendo utilizado com certa
frequência na construção de novas matérias, principalmente pelas declarações de
personalidades famosas na rede social.
Uma das formas que se buscou para medir o impacto da utilização de tais redes
foi a análise do material utilizado em sites informativos a partir da expressão
“desmentiu pelo Twitter”. Para isso foi realizado levantamento junto ao Google
Notícias , no período compreendido entre os dias 23 de junho e 15 de julho.
Segundo os dados obtidos, o termo "desmentiu pelo Twitter" foi utilizado em 2.633
matérias de sites de conteúdo noticioso indexados pelo Google Notícias em
período inferior a um mês. (LOPES, p.7: 2010). Neste trabalho é utilizada
73
metodologia semelhante para verificar o quanto os portais de notícias alagoanos
estão produzindo notícias através do Twitter.
As declarações dadas pelas fontes via Twitter e seus comentários em geral
propiciam a criação de novas matérias. O fato das informações serem públicas
permite que os jornalistas retirem as informações sem a necessidade de consultar
o autor delas. Enquanto o copyleft e a creative commons enfraqueceram de certa
forma o conteúdo exclusivo, por outro lado, abriu também uma porta para a
manipulação da informação livre. De fato, como está presente nos termos de
serviço da rede social: ao enviar, postar ou exibir conteúdo, o usuário concede
uma licença livre de direitos autorais, não exclusiva e em âmbito mundial (com
direito à sublicenciamento) de usar, copiar, reproduzir, processar, adaptar,
modificar, publicar, transmitir, exibir e distribuir esse conteúdo em qualquer e em
todos os tipos de mídia ou métodos de distribuição.
Mas é das pequenas declarações que o jornalismo em geral ainda precisa
se apropriar. Os usuários comuns podem produzir declarações muito válidas para
o jornalismo. No recente caso do blog da Maria Bethânia, o jornal Extra produziu
uma matéria incorporando diversos tweets dos usuários . Mas neste caso, deve-
se levar em consideração que a própria rede social fazia parte da matéria (título:
Blog de Maria Bethânia cria polêmica no twitter). De certo modo, faltam
apropriações de matérias desvinculadas com a rede social.
Neste sentido, muitos portais (a maioria em âmbito estadual) possuem uma
política de seguir várias pessoas no seu perfil do Twitter. Embora este fato possa
representar uma forma de sentir o zeitgeist do estado, na maioria dos casos
funciona apenas como uma estratégia para conseguir mais seguidores.
3.9 A distribuição da informação
Um ambiente familiar e cômodo tende a propiciar uma interação mais
fluída. Quando grandes portais começaram a utilizar as redes sociais, os usuários
sentiram-se mais confortáveis para publicar comentários e analisar o conteúdo.
Isso se deve a diversos fatores. A estrutura da rede social favorece a inserção de
74
comentários: o usuário já está logado (não existe a obrigação de preencher
nenhum formulário), já existe um cadastro realizado (muito sites insistem na
necessidade de fazer um cadastro para poder comentar no site), o
posicionamento da caixa de comentário é amigável, os amigos do usuário podem
visualizar a interação (e participar, caso julguem interessante), entre vários outros
fatores. Analisando a página da revista Veja no Facebook fica claro como a rede
social favorece a inserção de comentários.
Com mais de 300 mil fãs78, a Veja tem uma página no Facebook
estruturada de maneira bastante simples. Com apenas dois aplicativos FBML79, a
página serve basicamente para divulgar matérias novas publicadas na versão
online da revista e a capa da próxima edição. Apesar de sub-utilizar o potencial da
rede social (não permitir publicações dos usuários, não ter aba de fotos,
discussões e vídeos etc.), a página ainda consegue centenas de comentários em
cada uma das suas publicações. Como exemplo, escolhemos as cinco matérias
publicadas pela revista no dia 28 de novembro de 2011 (segunda-feira) e
comparamos o número de comentários feitos através do Facebook com os
comentários feitos no próprio site. A escolha da data se deu pelo fato da segunda-
feira ser o dia da semana com maior número de acessos aos portais de notícias.
O número de comentários feitos na página de Facebook superou
completamente o número de comentários realizados no site. Em nossa
amostragem, foram 26 (vinte e seis) comentários no site, mas somaram-se 143
(cento e quarenta e três) na rede social, conforme demonstrado na Tabela 1.
Embora sejam apenas cinco matérias, basta uma breve análise na página e no
site para perceber que a situação se repete diversas vezes. A matéria “Goleiro
Bruno é o novo titular da faxina no presídio” conseguiu ainda 18 comentários no
site, mas a marca foi superada por 69 comentários na rede social.
78 Nomenclatura utilizada para quem curte (acompanha) uma página no Facebook79 Linguagem de programação voltada para o Facebook.
75
Comentários no Facebook e no site da Veja
MatériaNº de comentáriosFacebook Site
Rio: no Alemão, traficantes ainda desafiam estado80
23 5
Abi Ackel: 'Aparelhamento do PT foi nefasto para o país'81
19 0
Goleiro Bruno é o novo titular da faxina no presídio82
69 18
Neymar 'tieta' Vettel em festa de equipe de Fórmula 183
18 3
Com filhos de recuperação, pais devem fazer lição de casa84
14 0
Tabela 4 – número de comentários no Facebook e no site da revista Veja
Enquanto os comentários atuam como uma forma de interação mútua, onde os
usuários podem comentar e responder (e em última análise, embora não seja
padrão, a própria Veja possa também), a interação do botão “curtir” funciona de
forma reativa, pois não há como o usuário manipular subjetivamente a opção.
Mas em última análise, podemos ainda computar as opções de curtir como uma
forma de interação que ampliam ainda mais o poder de divulgação das notícias
nesta rede social.
80 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-delicada-construcao-da-paz-no-alemao (Acessado em 26/11/2011 )81 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/abi-ackel-aparelhamento-do-pt-foi-nefasto-para-o-pais (Acessado em 26/11/2011 )82 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/goleiro-bruno-e-o-novo-titular-da-faxina-no-presidio (Acessado em 26/11/2011 )83 http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/neymar-tieta-vettel-em-festa-de-patrocinador-e-posta-foto-no-twitter (Acessado em 26/11/2011 )84 http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/com-filhos-de-recuperacao-pais-devem-fazer-licao-de-casa (Acessado em 26/11/2011 )
76
4. ESTUDO DE CASOPara o estudo de caso, foram selecionados os três portais de notícias alagoanos
com maior presença nas redes sociais Twitter e Facebook. Por sua vez, essas
redes sociais foram escolhidas por serem as de maior relevância em território
mundial, nacional e regional em termos de propagação de informações.
4.1 Metodologia
Este estudo buscou aproximações de cunho qualitativo e quantitativo. Num
primeiro momento, foram tabulados dados sobre o uso do Twitter pelos portais de
notícias. A análise consistiu em contabilizar o número de seguidores para verificar
o crescimento da base de seguidores de acordo com o gênero jornalístico
empregado nas atualizações dos perfis no microblog num período de
aproximadamente um ano. Essa análise comparativa visa compreender qual dos
estilos de atualização presentes no microblog foi mais efetivo para angariar mais
seguidores.
Em seguida, foi realizada uma análise comparativa para verificar o nível de
interação que cada um dos perfis na rede social Twitter possuía. A análise
contemplou o período de um mês a contar do dia 1º de Novembro através do
sistema Topsy Analytics. Esse sistema permite realizar diversas comparações
entre perfis de Twitter por domínio, nome de usuário85 e palavra-chave. Cada
username foi cadastrado no sistema, demonstrando que o número de seguidores
não está necessariamente relacionado diretamente com o número de interações.
Depois foi traçado um gráfico comparativo visando identificar o crescimento dos
perfis de redes sociais de acordo com cada mês do ano. Para a construção do
gráfico, semanalmente foram anotados os números de seguidores dos perfis de
cada um dos portais. Esse comparativo foi importante para apontar que o uso de
ações interativas indiretamente influencia no número de seguidores e,
consequentemente, no número de acessos que cada um dos tweets é reponsável
por trazer até o portal.
85 Conhecido popularmente pelo relativo em inglês username77
Depois, com base na adaptação da metodologia do trabalho de Lopes (2010), foi
verificado o quanto cada um dos portais utilizou o Twitter para a produção de
matérias jornalísticas. Foi utilizado o buscador Google usando a tag “site:” que
permite a busca exclusiva dentro de um único site. Essa análise serviu para
verificar quais dos portais utilizam o Twitter como ferramenta para produção de
matérias, e não apenas para divulgação de conteúdo jornalístico.
Por fim, foi realizada uma comparação entre as páginas de Facebook do Cada
Minuto e do Tudo Na Hora, a fim de verificar o estilo das atualizações com a sua
capacidade de viralização86.
4.2 Tudo na Hora
O TNH é um produto do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), que em
outubro de 2007 lançou o primeiro portal multimídia de Alagoas. Quatro anos
depois, o Tudo na Hora é líder absoluto no Estado com mais e 300 milhões de
acessos. O site tem uma média de 11 milhões de visualizações por mês. O
Twitter possui mais de 12.000 seguidores e sua página no Facebook já chega
perto de 6.000 pessoas.
86 Viralização na internet é um termo utilizado para designar conteúdos que se espalham através do compartilhamento social entre os usuários (envio de e-mails, tweets, mensagens no Facebook etc.).
78
Figura 6 – Página inicial do portal Tudo na Hora em novembro de 2011.
Fonte: tudonahora.uol.com.br
4.3 Cada Minuto
O portal é atualizado várias vezes durante a manhã, seguido de algumas
atualizações durante o restante do dia, conforme for apurado. O Cada Minuto é o
mais recente dos três portais a serem analisados. Seu crescimento foi muito
rápido e é o único portal 100% digital, isto é, cujo sistema de comunicação existe
somente em ambiente online. O Tudo na Hora pertence ao sistema Pajuçara e o
Gazetaweb pertence a Organização Arnon de Mello (OAM).
Figura 10 – Página inicial do portal Cada Minuto em novembro de 2011.
Fonte: Cadaminuto.com.br
4.4 GazetaWeb
Dos três analisados, o Gazetaweb é o mais antigo portal de notícias de Alagoas
em atividade. A primeira homepage da Gazetaweb foi lançada no ano 2000.
79
Figura 8 – Página inicial do portal Gazetaweb em novembro de 2011.
Fonte: Gazetaweb.globo.com
4.5 Uso das Redes Sociais
Os três portais utilizam sistemas automáticos de atualização. O Tudo na Hora e o
Gazetaweb usam sistemas automáticos onde todas as notícias são publicadas no
Twitter. O Cada Minuto usa um sistema automático com filtros, ou seja, a
quantidade de tweets é inferior ao dos outros portais. Observamos também que o
Twitter do Cada Minuto dá diversos retuites por dia, além de fazer um resumo das
notícias mais importantes do dia no horário noturno.
No Facebook, o Gazetaweb usa um sistema automático semelhante ao do
Twitter, publicando várias notícias diariamente. O Tudo na Hora também utiliza o
sistema automático, mas com um fluxo menor de atualizações. Apenas as
notícias da home são selecionadas para o Facebook. O Cada Minuto usa um
sistema misto de atualizações: algumas automáticas, outras manuais. Também
observamos que o Cada Minuto utiliza muitos comentários nas notícias e
constantemente faz o upload de fotos para a rede social. O TNH (Tudo Na Hora)
eventualmente faz atualizações manuais, mas dificilmente isso ocorre
diariamente.
80
Recentemente os três portais fizeram ações sobre o Facebook em suas redes. O
primeiro portal foi o TNH, que alterou seu avatar no Facebook comemorando a
marca dos 4 mil fãs conseguidos.
Figura 9 – Página do Facebook do TNH publica uma imagem agradecendo aos
usuários que curtiram a página.
Fonte: Facebook.com/tudonahora
Em seguido o Gazetaweb lançou um novo layout do site e instalou no rodapé da
página uma barra móvel convidando os usuários a curtirem a página da
Gazetaweb no Facebook.
81
Figura 10 – No dia 13 de novembro, o Gazetaweb publicou um novo layout. Na
ocasião, inseriu no site convidando o usuário a curtir a página da Gazetaweb no
Facebook.
A Gazetaweb é o mais recente dos portais no Facebook. A página foi criada em 8
de Junho/2011. Até então servia apenas para destacar as principais notícias e o
dia a dia da redação e das equipes da OAM, com bastante foco em fotos e com
atualizações manuais, contando a História do Gazeta Web. Entretanto o trabalho
não teve continuidade e as atualizações se tornaram esporádicas após o boom
inicial. De 14 de julho à 30 de Setembro foram publicadas apenas 2 atualizações.
Em 3 de outubro a página retoma as atualizações através de sistema manual com
várias atualizações diárias. Até o dia 8 de novembro o estilo das postagens é
bastante aberto ao diálogo. Desse dia em diante a Gazetaweb começa a
automatizar o processo com o graffiti RSS e o nível de interação despenca com o
sistema automatizado publicando dezenas de atualizações diárias.
Também o Cada Minuto publicou uma atualização comemorando o seu número
de fãs na página. Na ocasião o Cada Minuto alterou sua home para um hotsite
que agradecia aos fãs pela interação na página do Facebook.
82
Figura 14 – Durante 48 horas entre os dias 21, 22 e 23 de novembro, a página inicial do Cada Minuto se transformou num banner interativo que ocupava toda área do monitor, agradecendo aos 6 mil fãs no Facebook.
4.6 Uso do Twitter pelos portais
O Tudo na Hora utiliza o seu perfil de maneira automática através do sistema
twitterfeed87, numa média de 92,9 tweets por dia e 1635 tweets por mês, contando
com quase 13 mil seguidores:
87 http://twitterfeed.com (Acessado em 26/11/2011 )83
Gráfico 4 – Número de tweets registrados por mês pelo perfil @tudonahora
Fonte: Tweetstats.com
Segundo análise através do sistema Topsy88, o Tudo na Hora já teve mais de 54
mil menções. Nos últimos 30 dias, foram 2.364 menções. Apesar dos números
extremamente favoráveis, para Milena Andrade, editora-chefe do TNH, “O Twitter
hoje não é muita coisa para o Tudo na Hora. De vez em quando acessamos, mas
não utilizamos o Twitter como fonte de informação. Nós estamos presentes lá no
método automático, mas não como fonte de informações. Não é uma fonte
confiável, é um ponto de partida.”
O Gazetaweb também utiliza o seu perfil de maneira automática através do
sistema twitterfeed, numa média de 56,5 tweets por dia e 1469 tweets por mês,
contando com pouco mais de 7.300 seguidores:
88 http://topsy.com (Acessado em 26/11/2011 )84
Figura 16 – Número de tweets registrados por mês pelo perfil @gazetaweb
Fonte: Tweetstats.com
Segundo análise através do sistema Topsy, o Tudo na Hora já teve mais de 45 mil
menções. Nos últimos 30 dias, foram 1.760 menções. De acordo com Eduardo
Almeira, coordenador de T.I. do Gazetaweb, “Surgem muitas pautas do Twitter.
Nós já enxergamos o Twitter como um local onde surgem pautas. É também um
canal muito eficiente para divulgação de informações. Tanto no Twitter com no
Facebook, as matérias que são retuitadas e compartilhadas possuem um número
de acessos imensamente maior do que aquelas que não são. O Twitter e o
Facebook são propulsores do nosso trabalho, ao mesmo tempo em que
conseguimos compreender o que é que o nosso público está discutindo naquele
momento, o que eles estão querendo ver.”
O Cada Minuto usa seu perfil de maneira mista, entre atualizações automáticas e
manuais numa média de 50,1 tweets por dia e 1277 tweets por mês, contando
com quase 8 mil seguidores:
85
Gráfico 6 – Número de tweets registrados por mês pelo perfil @cadamin
Fonte: Tweetstats.com
Segundo análise através do sistema Topsy, o Cada Minuto já teve mais de 12 mil
menções. Nos últimos 30 dias, foram 2.400 menções. Apesar do número de
seguidores ser inferior ao do TNH, podemos observar que o nível de interação é
praticamente o mesmo. De acordo com Carlos Melo, Editor Chefe, “O Twitter
representa o feedback inicial com o usuário. Antigamente as pessoas falavam
conosco através de telefone ou email, agora é o Twitter. Isso é importante porque
toda notícia no Cada Minuto já sai com 8 mil leitores em potencial. Isso supera a
tiragem diária de diversos jornais impressos de nosso estado. O Cada Minuto
também disponibiliza um espaço em sua home para que o usuário possa interagir
diretamente no site. Isso foi uma ideia inovadora.”
O site Topsy permite visualizar também a influência das URLs89 no Twitter, isto é,
saber qual é o site mais twittado de Alagoas. A comparação abaixo mostra o
desempenho de cada portal no mês de novembro de 2011:
89 http://analytics.topsy.com/ (Acessado em 26/11/2011 )86
Gráfico 7 – Número de menções aos perfis dos portais no Twitter. Laranja: Tudo
na Hora; Azul, Gazetaweb; Vermelho, Cada Minuto.
Fonte: topsy.com
É interessante notar que, mesmo sendo o perfil que menos tuita, o Cada Minuto é
o portal com maior número de menções e links nesta Rede Social. Também neste
ano o Cada Minuto superou o perfil do Gazetaweb em número de seguidores no
Twitter. O Gráfico abaixo foi construído através da tabulação dos dados de
número de seguidores de cada um dos portais ao decorrer do ano de 2011:
5/1/2
011
23/1/2
011
10/2/2
011
28/2/2
011
18/3/2
011
5/4/2
011
23/4/2
011
11/5/2
011
29/5/2
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16/6/2
011
4/7/2
011
22/7/2
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9/8/2
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27/8/2
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2/10/2
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20/10/2
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7/11/2
011
25/11/2
0110
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
Cada MinutoTudo Na HoraGazeta Web
Gráfico 8 – Número de seguidores no Twitter por mês
87
Apesar de ter “superado” o Gazetaweb, observamos também que o Cada Minuto
estagnou praticamente no mesmo número de usuários. Também podemos
observar que o TNH teve o seu ritmo de crescimento desacelera, o que pode
indicar uma saturação do Twitter para perfis noticiosos em Alagoas.
Para observar o uso do Twitter como fonte jornalística, utilizamos a metodologia já
citada do trabalho de Lopes (2010) para analisar os portais de notícias de
Alagoas. Foi utilizado o buscador Google usando a tag “site:” que permite a busca
exclusiva dentro de um único site. Os portais foram selecionados e a palavra-
chave “pelo twitter” foi adicionada, retornando que, no último ano: (a) o portal
Tudo na Hora produziu apenas 33 notícias90, (b) o portal Cada Minuto produziu
315 notícias91 e (c) o portal Gazetaweb produziu 132 notícias92.
4.7 Uso do Facebook pelos portais
Como já foi exposto, os três portais demonstram ter uma grande preocupação
com o Facebook, especialmente nos últimos meses. Apesar de toda essa
preocupação, até o inicio deste ano, nenhum dos três portais possuíam uma
página ativa no Facebook.
A forma como as atualizações são feitas no Facebook são bem parecidas quando
comparadas com a atuação dos portais no Twitter. Todos utilizam sistemas
automatizados para publicarem suas atualizações, sendo que o Cada Minuto é o
que menos utiliza o sistema automático, mesclando bastante com atualizações
90 http://www.google.com.br/search?gcx=c&sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=site%3Atudonahora.uol.com.br+%22pelo+twitter%22#q=site:tudonahora.uol.com.br+%22pelo+twitter%22&hl=pt-BR&safe=off&tbo=1&output=search&source=lnt&tbs=qdr:y&sa=X&ei=G9LeTrGEHMrXgQf8hNWmBw&ved=0CA0QpwUoBQ&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_cp.,cf.osb&fp=aea5109196ef9bdc&biw=1280&bih=709 (Acessado em 26/11/2011 )91 http://www.google.com.br/search?gcx=c&sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=%22desmentiu+pelo+Twitter%22+cada+minuto#q=site%3Acadaminuto.com.br+%22pelo+Twitter%22&hl=pt-BR&safe=off&tbo=1&output=search&source=lnt&tbs=qdr:y&sa=X&ei=yNHeTsi2OtDBgAfw86DaBQ&ved=0CA0QpwUoBQ&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_cp.,cf.osb&fp=aea5109196ef9bdc&biw=1280&bih=709 (Acessado em 26/11/2011 )92 http://www.google.com.br/search?gcx=c&sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=site%3Agazetaweb.globo.com+%22pelo+twitter%22#q=site:gazetaweb.globo.com+%22pelo+twitter%22&hl=pt-BR&safe=off&tbo=1&output=search&source=lnt&tbs=qdr:y&sa=X&ei=TtLeTqr-KsucgQe__uypBg&ved=0CA0QpwUoBQ&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_cp.,cf.osb&fp=aea5109196ef9bdc&biw=1280&bih=709 (Acessado em 26/11/2011 )
88
manuais e com comentários e opiniões sobre as notícias. É importante observar
que o trabalho realizado nas mídias sociais do Cada Minuto é terceirizado com
uma agência de publicidade online, como afirma o Editor do portal: “Faz quase um
ano que nós temos uma proposta desenvolvida pela agência digital Plus.”. O
trabalho do Tudo na Hora no Facebook também é feito de forma mesclada, com
atualizações automatizadas e manuais, embora as atualizações automatizadas
sejam maioria neste caso. De acordo com Alexandre Jatobá, o portal conta com
“um comitê chamado de CONECT que orienta todas as áreas e colaboradores em
como fazer a utilização das redes sociais”. Finalmente o Gazetaweb (dos três, o
mais recente a “entrar” no Facebook) demonstrou uma variação muito grande nos
estilos de atualização, sendo utilizado mais recentemente de maneira totalmente
automatizada. Para o Gazetaweb, em termos de atualizações, o Facebook é
tratado de maneira bastante semelhante ao Twitter, algo que não se observa nos
outros dois portais, que tentam reduzir o fluxo de informações nesta rede social.
Entretanto, Eduardo Almeida, coordenador de jornalismo do Gazetaweb considera
que o Facebook vai além do Twitter: “eu vejo no Facebook uma possibilidade
maior das pessoas comentarem e opinarem. A participação é maior no
Facebook.”
Posicionamento semelhante tem o editor do Cada Minuto, em que, para ele, o
Facebook é uma “grata surpresa.”. Carlos acredita que “o público do Facebook
seja mais qualificado que o do Twitter em termos de informação. O Twitter nos dá
um feedback inicial, mas o Facebook nos dá um feedback mais apurado.”. Para
Milena Andrade, editora do TNH, o Facebook é menos “quente” por que não é um
local onde as pessoas [importantes] fazem declarações: “O Twitter ainda é uma
rede social mais quente.”
Para medir o nível de interatividade das páginas, nós utilizamos duas métricas. A
primeira objetivou o número de pessoas falando sobre cada uma das páginas no
Facebook. A segunda se voltou para os portais com maior participação nesta rede
social, procurando verificar quais das duas geravam o maior número de interação.
“Falando sobre isso” é uma métrica do Facebook que mede a quantidade de
pessoas que fizeram posts numa página. A página da Gazetaweb possui
aproximadamente 200 usuários “falando sobre”. A página do Tudo Na Hora 89
possui 600 “falando sobre”. E a página do Cada Minuto possui cerca de mil
usuários “falando sobre”.
Para verificar o nível de interação entre os portais, foram coletados dados durante
3 meses das páginas de Facebook do TNH e do Cada Minuto. No total foram 35
dias analisados, num total de 5 semanas completas. O Resultado segue na tabela
na página seguinte. Podemos observar que o Cada Minuto consegue um número
de interações maior que o Tudo na Hora, mesmo com o Tudo na Hora publicando
um número maior de notícias por dia. Enquanto o Cada Minuto possui uma média
de 7,8 posts por dia, o Tudo na Hora trabalho com um mínimo de 22 posts por
dia. Podemos observar, entretanto, que em número de comentários os dois
possuem números semelhantes. O Facebook divulgou no meio deste ano em sua
página para jornalistas os resultados de um estudo93 que realizou sobre os tipos
de mensagens utilizadas nas páginas de Facebook pelos jornalistas que tiveram o
melhor desempenho. Entre os destaques, o Facebook descobriu que incorporar
análises pessoais nos posts aumenta a taxa de clicks em 20%, e incluir uma
imagem em miniatura ao postar um link aumenta o número de curtis em 65% e o
de comentários em 50%.
A pesquisa apontou ainda que posts que pediam o feedback94 dos usuários ou
continham algum call-to-action95 ganharam, em geral, um número de feedbacks
muito maior que a média. Chamar para ler ou para prestar atenção num post
aumenta em 37% a taxa de cliques. Posts com opiniões pessoais ou com
“bastidores” geram 25% mais cliques. Fotos e imagens são importantes: na
média, os posts de imagens geram 50% mais likes do que posts sem imagens.
Diferentemente dos acessos aos portais de notícias, o dia com maior número de
interações nas páginas de Facebook de portais de notícias foi o domingo, com
25% mais curtis e 8% mais comentários que a média. Os outros dias que ficaram
acima da média foram quinta, sexta e sábado.
Cada Minuto Tudo na Hora
93 https://www.facebook.com/notes/facebook-journalists/study-how-people-are-engaging-journalists-on-facebook-best-practices/245775148767840 (Acessado em 26/11/2011 )94 Retorno95 Chamar o usuário a fazer alguma ação. Exemplos: “Clique aqui”, “Comente”, “Curta”.
90
Curtis ComentáriosPosts
Média por interação Curtis Comentários Posts
Média por interação
25/07 7 6 6 2,17 6 4 22 0,4526/07 20 11 8 3,88 7 0 24 0,2927/07 5 2 5 1,40 3 2 26 0,1928/07 10 5 13 1,15 8 4 27 0,4429/07 17 3 7 2,86 6 2 24 0,3330/07 14 3 4 4,25 6 1 11 0,6431/07 3 1 3 1,33 3 2 14 0,3607/08 4 0 4 1,00 1 1 14 0,1408/08 6 1 10 0,70 1 2 23 0,1309/08 19 9 10 2,80 7 6 30 0,4310/08 8 4 7 1,71 2 5 22 0,3211/08 7 7 10 1,40 3 5 31 0,2612/08 18 3 13 1,62 4 4 29 0,2813/08 4 1 4 1,25 5 2 11 0,6421/08 2 2 5 0,80 14 4 20 0,9022/08 5 4 9 1,00 9 4 27 0,4823/08 33 13 9 5,11 4 3 35 0,2024/08 35 6 11 3,73 9 8 29 0,5925/08 12 6 10 1,80 1 2 26 0,1226/08 17 10 11 2,45 10 3 35 0,3727/08 1 1 4 0,50 8 4 14 0,8604/09 3 2 4 1,25 1 2 14 0,2105/09 35 17 10 5,20 12 2 26 0,5406/09 11 9 9 2,22 4 1 25 0,2007/09 4 0 6 0,67 4 3 19 0,3708/09 14 6 7 2,86 8 4 21 0,5709/09 10 7 11 1,55 6 2 26 0,3110/09 7 7 6 2,33 8 3 17 0,6518/09 7 0 5 1,40 8 3 7 1,5719/09 25 2 10 2,70 11 4 26 0,5820/09 8 0 8 1,00 12 7 23 0,8321/09 30 7 13 2,85 40 8 33 1,4522/09 14 6 11 1,82 15 9 26 0,9223/09 3 2 7 0,71 10 8 19 0,9524/09 8 3 6 1,83 22 4 22 1,18Total 426 166 276 278 128 798Média 12,17 4,74 7,89 2,04 7,94 3,66 22,80 0,54
Tabela 5 – Número de interações nas páginas de Facebook dos portais.
91
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na 4ª fase do jornalismo digital online, os portais projetam-se para fora de seus
ambientes tradicionais, entrando em contato direto com os leitores usuários nas
mídias e redes sociais na internet. Os portais alagoanos entraram tardiamente
neste cenário, mas aparentam estar caminhando bem na direção da interação e
da participação e da personalização. O Cada Minuto mostrou-se o portal mais
interativo nas redes sociais analisadas. No Facebook o Tudo na Hora consegue
mesclar bem as atualizações manuais com as automáticas, principalmente nos
últimos meses. Na tabela de comparação com as interações, observamos que o
TNH vem melhorando a cada semana analisada.
Entretanto os perfis de Twitter do TNH e do Gazetaweb ainda precisam de mais
atualizações manuais para que gerem maior interação com os usuários. A
interação com usuários é capaz de aumentar o tráfego de acessos via redes
sociais. Outro destaque para o TNH é que ele é o único portal de notícias de
Alagoas com manual de uso de mídias sociais, uma espécie de guia interno com
boas práticas sobre o uso das redes sociais.
O relacionamento social e o sentimento de comunidade devem ser prioridades
para o jornalismo online nos próximos anos. Ações que possibilitem a participação
dos leitores para além do “você repórter” devem se integrar cada vez mais aos
portais de notícias. Mais do que contar com a colaboração dos leitores, os portais
devem começar a fornecer ferramentas de visibilidade para os usuários, de forma
que eles sejam recompensados pela participação no portal de notícias. Isso
funcionaria também como uma estratégia de curadoria da reputação online dos
usuários. Conexões podem ser construídas através dessas interações sociais nos
portais.
Essas modificações foram aceleradas nos últimos anos devido à queda no
consumo da versão impressa. Num relatório divulgado pela IAB Brasil96
mostrando a evolução do mercado de anúncios publicitários, o jornal vem
demonstrando queda no share do mercado desde 2001 (onde detinha 21,2% do
share). Atualmente as versões impressas só possuem 12,4%.96 http://www.iabbrasil.org.br/arquivos/doc/Indicadores/Indicadores-de-Mercado-IAB-Brasil.pdf
92
A situação se repete em todos os países desenvolvidos e sub-desenvolvidos. Em
2010, segundo o relatório “The State of the news media” (Figura abaixo), as
pessoas estão gastando cada vez mais tempo consumindo notícias. De acordo
com dados da pesquisa do Pew Research Center, na hora da escolha da
plataforma, a web está ganha terreno, enquanto outros setores estão perdem. Em
2010, a plataforma online foi a única que cresceu em audiência.
Gráfico 9 – Quanto os meios cresceram ou diminuíram entre 2009 e 2010.
Fonte: http://stateofthemedia.org/files/2011/07/sotm_final_2011.pdf
O jornalismo online deve começar utilizar de maneira mais eficaz as redes sociais,
de modo que possa reduzir os custos e ampliar o alcance das informações.
Utilizar estruturas de mídias e redes sociais em conjunto com jornalismo
participativo parece ser uma das formas corretas de atingir essas metas.
A distribuição e aquisição de informações através das redes sociais tornam mais
eficazes as práticas jornalísticas e ajudam a consolidar o jornalismo online. As
redes sociais são um ambiente onde as informações fluem livremente. O jornalista
deve atuar como um atento espectador para os movimentos dentro das
comunidades em rede. De fato, o ineditismo pertence às redes sociais.
93
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97
APÊNDICE A – Entrevistas com responsáveis pelas redações e
redes sociais dos portais.
CADA MINUTO: Carlos Melo, Editor Chefe.
P. Vocês têm uma equipe de mídias sociais ou um editor de mídias sociais?
R. Temos sim. Faz quase um ano que nós temos uma proposta desenvolvida pela
agência digital Plus. Há um tempo que isso era um desejo nosso. Já tínhamos
detectado essa tendência, essa necessidade e hoje eu acredito inclusive que nós
começamos um pouco tarde. Eu acho inconcebível que um portal de informações,
de notícias, não tenha uma equipe de mídias sociais.
P. Vocês têm um gerente/gestor/diretor de inovação?
R. Nós fazemos através de um conselho, formado pela gestão de mídias sociais,
pela direção de nossa agência digital, por mim e por um jornalista. Todas as
inovações são feitas em acordo por essas quatro partes. Sempre analisamos o
aspecto jornalístico, o de inovação e o do usuário. Esses três precisam ser
respeitados.
P. Vocês têm um manual/guia de uso de redes sociais ou mídias sociais
para os funcionários da empresa?
R. Ao longo deste um ano de trabalho nas mídias sociais nós desenvolvemos um
método de trabalho. Mesmo que não haja nada escrito, nós temos regras de
respeito e apontamentos acordados pela equipe de mídias sociais. Não temos um
manual, mas acredito que devemos tê-lo.
P. Como vocês apuram notícias que surgem nas redes sociais?
R. É um trabalho semelhante ao das fontes. Cada perfil, seja no Facebook ou no
Twitter, tem sua credibilidade. A depender nós apuramos ou mais ou menos.
Quando a informação vem de uma fonte já estabelecida o processo é mais ágil,
mas sempre procuramos os órgãos oficiais para a apuração. No caso de um
boato, nós temos um trabalho maior. Nós acreditamos que mesmo um boato pode
ter um fundo de verdade. Talvez não seja da forma como o internauta está
98
passando, mas nós temos que saber o que é que isso significa jornalisticamente
para passarmos aos leitores.
P. Vocês permitem anúncios em suas redes sociais?
R. É um trabalho que nós estamos implementando agora. Esse tipo de anúncio
deve ser compatível com o conteúdo, sem sufocar o usuário. É um caminho que
não tem volta, todos os grandes sites nacionais e internacionais já estão
trabalhando dessa forma.
P. O que é o Twitter para o Portal?
R. Nós temos mais de 8 mil seguidores no Twitter e crescendo. O Twitter
representa o feedback inicial com o usuário. Antigamente as pessoas falavam
conosco através de telefone ou email, agora é o Twitter. Isso é importante porque
toda notícia no Cada Minuto já sai com 8 mil leitores em potencial. Isso supera a
tiragem diária de diversos jornais impressos de nosso estado. O Cada Minuto
também disponibiliza um espaço em sua home para que o usuário possa interagir
diretamente no site. Isso foi uma ideia inovadora.
P. O que é o Facebook para o Portal?
R. O Facebook é uma grata surpresa. Eu tinha meus preconceitos por não ser
usuário dessa rede. Mas o Facebook é a maior rede social do mundo, com mais
que o dobro de usuário diários do Twitter. E ao estabelecermos a nossa estratégia
para o Facebook acertamos em cheio justamente por conseguirmos informar sem
sufocar o usuário. E o público entendeu isso. Estamos chegando a 8 mil fãs no
Facebook e isso é uma marca inatingível para os nossos concorrentes. Eu
acredito que o público do Facebook seja mais qualificado que o do Twitter em
termos de informação. O Twitter nos dá um feedback inicial, mas o Facebook nos
dá um feedback mais apurado.
TUDO NA HORA: Alexandre Jatobá, Gerente de Negócios Online e Milena
Andrade, Editora-chefe do Tudo na Hora.
P. Vocês têm uma equipe de mídias sociais ou um editor de mídias sociais?
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R. Nós temos um comitê chamado de CONECT que oriente todas as áreas e
colaboradores em como fazer a utilização das redes sociais.
P. Vocês têm um gerente/gestor/diretor de inovação?
R. Nós temos também um comitê chamado SIM (Soluções, Inovações e
Melhorias) que permite que as pessoas deem sugestões e ideias para melhorar
nosso sistema.
P. Vocês têm um manual/guia de uso de redes sociais ou mídias sociais
para os funcionários da empresa?
R. Temos um guia interno com boas práticas sobre o uso das redes sociais.
P. Como vocês apuram notícias que surgem nas redes sociais?
R. A apuração é normal, como se recebêssemos por telefone ou por email. Mas
quando uma pessoa já conhecida comenta algo importante nas redes sociais nós
ligamos para a assessoria do responsável para verificarmos a informação. Nós
temos a preocupação de apurar a informação sem a “pressa” de dar a notícia
primeiro, vazia.
P. Vocês permitem anúncios em suas redes sociais?
Já recebemos solicitações, mas não fizemos nada ainda por não termos um
formato definido ainda.
P. O que é o Twitter para o Portal?
O Twitter hoje não é muita coisa para o Tudo na Hora. De vez em quando
acessamos, mas não utilizamos o Twitter como fonte de informação. Nós
estamos presentes lá no método automático, mas não como fonte de
informações. Não é uma fonte confiável, é um ponto de partida.
P. O que é o Facebook para o Portal?
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O Facebook é pior ainda, pois lá as pessoas não dão declarações. O Twitter
ainda é uma rede social mais quente. Por exemplo, no caso do MMF nós usamos
muito o Twitter.
GAZETAWEB: Eduardo Almeida, coordenador de jornalismo da Gazetaweb
P. Vocês têm uma equipe de mídias sociais ou um editor de mídias sociais?
R. Este setor está ligado à coordenação de Tecnologia da Informação.
P. Vocês têm um gerente/gestor/diretor de inovação?
R. Também ligada à coordenação de T.I., nós temos uma equipe formada por
programadores, web designers entre outros colaboradores que pesquisam novas
tendências. Inclusive a nossa nova homepage é completamente diferente de tudo
que existe aqui em Alagoas. É adaptada para tablet.
P. Vocês têm um manual/guia de uso de redes sociais ou mídias sociais
para os funcionários da empresa?
R. Não há nenhum guia, nada que direcione o uso das mídias sociais. O uso não
é proibido na empresa, pelo contrário. Nós temos buscado trazer tudo aquilo que
está em evidência nas redes sociais e trazer para o Gazetaweb, porque o
jornalismo de internet vai muito além do impresso, por exemplo. É necessário que
você esteja atento a tudo que pode ganhar destaque, que pode render acessos e
ser de interesse público. Às vezes uma matéria que pegamos nas redes sociais
pode gerar mais acessos que aquela que ficou uma semana sendo depurada.
P. Como vocês apuram notícias que surgem nas redes sociais?
R. Nós apuramos as notícias das redes sociais da mesma forma que apuramos
todas as notícias que chegam até nós. Todas essas informações tem que ter uma
apuração criteriosa, com o mesmo rigor de uma informação que chegasse pelo
telefone, por exemplo.
P. Vocês permitem anúncios em suas redes sociais?
R. Não, ainda não temos nenhum tipo de anúncio nas redes sociais.
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P. O que é o Twitter para o Portal?
R. Surgem muitas pautas do Twitter. Nós já enxergamos o Twitter como um local
onde surgem pautas. É também um canal muito eficiente para divulgação de
informações. Tanto no Twitter com no Facebook, as matérias que são retuitadas e
compartilhadas possuem um número de acessos imensamente maior do que
aquelas que não são. O Twitter e o Facebook são propulsores do nosso trabalho,
ao mesmo tempo em que conseguimos compreender o que é que o nosso público
está discutindo naquele momento, o que eles estão querendo ver.
P. O que é o Facebook para o Portal?
R. O Facebook vai além do Twitter. Assim como o Twitter serve para sugestões
de pauta e compartilhamento. Mas eu vejo no Facebook uma possibilidade maior
das pessoas comentarem e opinarem. A participação é maior no Facebook.
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