ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO
ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DEBATER O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
IMPLANTADO NO ESTADO DE MATO GROSSO, REALIZADA NO DIA 07 DE MAIO DE
2015, ÀS 09 HORAS, EM TANGARÁ DA SERRA.
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ATA Nº 014
PRESIDENTE - DEPUTADO WILSON SANTOS
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Invocando a proteção de Deus, e em
nome do povo mato-grossense, declaro aberta esta Audiência Pública, com o objetivo de debater o
Ciclo de Formação Humana, implantado no Estado de Mato Grosso.
Convido para compor a mesa o Exmº Sr. Deputado Saturnino Masson; o Exmº Sr.
Deputado Wagner Ramos; a professora da UFMT, Alvarina de Fátima dos Santos, a nossa
palestrante, a provocadora deste debate... (PALMAS)
Convido, também, o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, Assessor de Gabinete da SEDUC,
neste ato representando o Secretário de Educação, Permínio Pinto Filho; o Professor Cristiano
Cezario de Souza, presidente do SINTEP de Sapezal, representando, aqui, os profissionais da
educação do nosso Estado; o Vereador Sebastian Ramos, neste ato representando o presidente da
Câmara Municipal de Tangará da Serra.
Composta a mesa de honra, convido a todos para, em posição de respeito, cantar o
Hino Nacional Brasileiro.
(EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL BRASILEIRO.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Convido para compor também
conosco a mesa de honra o Professor Edinaldo Gomes de Souza, Coordenador de Formação de
Professores da Secretaria de Estado de Educação, o Professor Edinho. (PALMAS)
Nós registramos e agradecemos, com muita honra, a presença da imprensa local e
de toda a região; agradecemos a presença da Professora Lenilda Roberto de Souza, Diretora do
CEFAPRO, que nos cedeu este belíssimo ambiente; agradecemos o apoio do CEFAPRO de Tangará
da Serra, de forma geral; da Professora Fátima Dias de Carvalho, Diretora da Escola Estadual Paulo
Freire, do assentamento Antônio Conselheiro, do município de Barra do Bugres; da Professora
Josiane Santiago de Lima, da Escola Estadual Parecis, do Município de Campo Novo do Parecis; da
Sra. Eliana Costa Bessa, Diretora da Escola Estadual Luiz Frutuoso da Silva, de Sapezal; do
Professor Thiago Baldrighi, Diretor da Escola Estadual André Maggi, de Sapezal - muito bem
Sapezal, que veio em peso -; da Sra. Paula Lopes Coelho, assessora, neste ato representando a
Assessoria Pedagógica de Sapezal; da Sra. Maria Lucinéia Baruff, Secretária da Escola Estadual 07
de Setembro, de Barra do Bugres; da Sra. Sônia Maria dos Santos Filho, Coordenadora da Escola
Estadual 07 de Setembro, de Barra do Bugres; do Professor Ronaldo Gomes dos Santos,
Coordenador da Escola Estadual Reinaldo Dutra Vilarinho, do município de Nova Olímpia; do
Professor Clodoaldo Fernandes Barbosa, Diretor da Escola Estadual Professora Francisca de Souza
Alencar, de Nova Olímpia; da Sra. Katia Silene Venturi Rutz, Diretora da Escola Estadual Julieta
Xavier Borges, do município de Barra do Bugres; da Sra. Márcia de Fátima Testa Neves, Diretora da
Escola Evangélica Assembleia de Deus, do município de Barra do Bugres; da Professora Marilene
Nadir de Souza, Diretora da Escola Estadual Cláudio Aparecido, do município de Tangará da Serra;
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do Professor Marco Antônio de Almeida, Diretor da Escola João de Campos Borges, do município
de Barra do Bugres; da Sra. Maria Gomes, Diretora da Escola Jonas Lopes da Silva, do município de
Tangará da Serra; da Professora Rosinei Aparecida Torres, Diretora da Escola Estadual Professora
Jada Torres, do Município de Tangará da Serra; da Professora Karini Volkmer dos Santos, Diretora
da Escola Estadual Professor João Batista, do Município de Tangará da Serra; agradecemos a
presença dos alunos da Escola Emanuel Pinheiro - cadê os alunos? Por gentileza, levantem os
braços, queremos vê-los; mais ouvi-los do que vê-los.
Agradecemos ainda a presença do Professor Bruno Ferreira Borges, Diretor da
Escola Estadual Emanuel Pinheiro, do município de Tangará da Serra; do Professor Cesar Augusto
Guedes, Diretor da Escola Estadual Padre Arlindo Ignacio de Oliveira; da Professora Maria
Aparecida Alves, neste ato representando a Diretora Rosalina Peres Parpineli, da Escola Estadual
Ramon Sanches Marques, do município de Tangará da Serra; do Professor Clodoaldo Lopes, Diretor
da Escola Municipal Jardim das Palmeiras, do município de Campo Novo do Parecis. Agradecemos
todos os professores das escolas estaduais e municipais dos municípios de Tangará da Serra, Barra
do Bugres, Nova Marilândia e toda a região; e a Professora Elizete Oliveira dos Passos, Diretora da
Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida.
Eu quero expor, de maneira bem objetiva, que na nossa concepção - do Deputado
Wagner Ramos, do Deputado Saturnino Masson e na minha -, não há nenhuma tarefa mais
importante a ser feita neste Estado, a não ser melhorar a qualidade da educação ofertada pela
máquina pública, aos meninos, às meninas, aos moços e moças deste Estado.
Eu sempre digo que tenho uma visão diferenciada. Mato Grosso tem um potencial
que talvez nenhum outro Estado tenha.
Deus nos deu um privilégio natural sem precedentes; nós somos berço das duas
grandes bacias hidrográficas, Amazônica e Platina; aqui nascem o rio Xingu, o rio Teles Pires, o rio
São Manoel, o rio Sepotuba, o rio Jauru, o rio Cuiabá, o rio São Lourenço, o Juruena, Araguaia e o
mais internacional dos rios brasileiros, o rio Paraguai. Aqui nascem todos esses rios, aqui estão as
bacias Platina e Amazônica; só nós temos, juntos, o ecossistema amazônico, pantaneiro e do
cerrado; Mato Grosso do Sul tem o Pantanal e o Cerrado, mas não tem a Amazônia.
A Amazônia tem a Amazônia, mas não tem Cerrado, nem Pantanal; só nós temos
esses três ecossistemas. Quando o mundo briga, vai à guerras pela água... Os Estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais estão desesperados para buscar a solução... Água! Nós temos aqui
fartura, em abundância, água boa e em quantidade.
Nós vamos trabalhar neste Governo a criação da Universidade Internacional da
Água, para atrair investimentos da ONU, via UNESCO, Banco Mundial, WWF, Greenpeace; nós
vamos, o Deputado Saturnino Masson, Deputado Wagner Ramos e eu, trabalhar coisas para os
nossos filhos, netos e bisnetos.
Mato Grosso não pode e não deve ser conhecido, apenas, como o Estado da soja, do
algodão e do boi, tudo isso é economia primária, barata.
Somos campeões de soja, de algodão, de girassol, de milho de pipoca, milho não sei
de que, milho não sei de que... E não chegamos a 2% do PIB nacional. O que dá dinheiro é
industrializar, é tecnologia, são ideias...
Steven Jobs inventou isto aqui...
(NESTE MOMENTO, O ORADOR MOSTRA O CELULAR.)
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Morreu com cinquenta e seis anos, a sua empresa é a mais valiosa do mundo, vale
dez Petrobrás, vale cinco Mitsubishi, Toyota. O que vale é tecnologia, inteligência, um chip, uma
bateria de lítio.
Dia 05, lá em Mimoso, o Governador levou um menino de 14 anos, do Araguaia,
que ganhou o Prêmio Nacional de Robótica. Um guri, um moleque, lá do Araguaia, de uma
cidadezinha, não sei se é de Campinápolis ou se é de Confresa. Esse guri, com 14 anos, ganhou um
Prêmio Nacional de Robótica! Esse é o caminho que nós temos que construir em Mato Grosso, e
para isso, tudo passa pela educação.
A Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso comparece aqui nesta manhã,
oficialmente, com todo o seu aparato de taquígrafas, as nossas taquígrafas, essas moças bonitas que
estão aqui desde ontem; a nossa equipe de segurança, de televisão e de rádio. Tudo isto será gravado,
então, quando for concedida a palavra à plenária, obrigatoriamente, fale o seu nome e use o
microfone, porque tudo isto estará, depois, à disposição da Prefeitura, da Secretaria Municipal e do
CEFAPRO, porque é um documento do Parlamento Estadual, que este ano completa 180 anos de
existência.
O objetivo desta Audiência Pública é ouvir com sinceridade os alunos que estão
recebendo o Ciclo de Formação Humana, popularmente chamado de escola ciclada, alguns não
gostam... Apelidado de escola ciclada, que nós chamamos, tecnicamente, de Ciclo de Formação
Humana.
Que vocês abram a caixa de ferramentas e coloquem a boca no trombone, nós não
viemos aqui para fazer média e nós não vamos dar a nossa opinião.
O objetivo nosso é colher subsídios para a elaboração de um documento que
chegará às autoridades do Estado em julho, e a SEDUC, o Governador e a Assembleia Legislativa
vão decidir o futuro do ciclo em Mato Grosso, se mantém o ciclo ou se acaba com o ciclo; se volta a
escola seriada, se tem outro modelo.
Nós não vamos emitir a nossa opinião, o nosso papel é permitir aos nossos
profissionais da educação, aos alunos, aos dirigentes escolares, a sua opinião. Hoje quem fala, aqui,
são vocês, nós viemos aqui, principalmente, para ouvi-los.
A Srª Alvarina é professora da UFMT, é a primeira palestra que ela concede a
todos nós.
Nós estamos realizando a quarta Audiência Pública, a primeira foi em
Rondonópolis, no dia 20 de março; a segunda foi em Sinop, no dia 16 de abril; a terceira em Alta
Floresta, no dia 17 de abril; hoje é a quarta, em Tangará da Serra; amanhã é a quinta, em Cáceres;
depois faremos em Barra do Garças, São Félix do Araguaia e a última na Baixada Cuiabana.
Após uma rodada de oito Audiências Públicas, nós vamos elaborar um relatório; e
a partir daí, junto com o SINTEP, o colégio de diretores e diretoras de escolas, coordenadoras,
secretários de escola, professores, alunos, as entidades representativas dos alunos, AME, ACES,
enfim, nós queremos apresentar um documento que será de conhecimento público.
Eu quero convidar a Professora Alvarina, que é a nossa palestrante de hoje,
professora também da rede estadual de ensino, colega nossa, da rede estadual, para que ela possa
usar o tempo de 40 a 50 minutos, o que ela quiser. E, enquanto ela falar, nós não iremos abrir para
perguntas; após a fala dela, quem não quiser usar o microfone poderá fazer a pergunta por escrito,
porque a mesa fará a leitura.
Eu gostaria de receber a professora, nossa colega, com uma salva de palmas.
(PALMAS)
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A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS – Bom dia, eu sou a Alvarina.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, só um minutinho.
Desculpe-me.
Quero convidar para compor a mesa a Exmª Secretária Municipal de Educação e
Cultura, Iolanda Garcia, neste ato representando o Professor, o meu colega Fabinho. Nós o
convidamos: vai lá Fabinho, vai lá. Os prefeitos quase não vêm, só foi a essa Audiência Pública o
Prefeito de Alta Floresta.
Também quero convidar para compor a mesa o Prefeito de Denise, o Exm°
Prefeito Pedro Tercy, representando todos os prefeitos desta região. (PALMAS)
Prefeito Pedro Tercy, meu amigo.
Por favor, Professora, a senhora está com a palavra.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS – Bom dia.
Peço permissão à mesa para ficar em pé e peço perdão ao Deputado Wilson Santos
para retificar: eu não sou Professora da Universidade Federal, eu fui acadêmica da Universidade
Federal, mas sou Professora da Rede Estadual de Educação, hoje lotada na Escola Historiador
Rubens de Mendonça, em Cuiabá.
O meu contato com a organização por ciclo e as discussões, das quais tenho
participado, é do tempo que permaneci como técnica no Conselho Estadual de Educação e na
Comissão de Estudos do Ciclo de Formação Humana; então, faço a retificação com relação a não ser
Professora da Universidade Federal.
Peço permissão para descer, porque professor fala em pé.
Enquanto o slide é ligado... A minha abordagem é sobre a concepção do Ciclo de
Formação Humana. Eu sou Pedagoga, há trinta e dois anos estou na educação; então, já tive a
oportunidade, em Mato Grosso, de trabalhar na educação há vinte e seis anos.
Como grande parte das pessoas, nós já lutamos na escola seriada por qualidade de
educação; assim como, depois que mudou para Ciclo de Formação Humana, os estudos continuaram
e nós continuamos, também, a luta por qualidade na educação.
Os teóricos que estudam sobre a organização do Ciclo de Formação Humana,
fazem a seguinte abordagem... Principalmente o José Carlos de Freitas, quando ele teoriza dizendo
que a escola não está nem para aprovar, nem para reprovar. Então, qual é a função da escola?
Independente do nome que se dê na sua organização, é aprendizagem.
Com os estudos sobre o Ciclo de Formação Humana, o que nós temos de
historicidade em Mato Grosso? Porque antes de chegar aqui, na nossa terra, ela era uma discussão
iniciada pelos neoliberais, em virtude dos índices de evasão e reprovação nas décadas de 80 e 90,
que eram alarmantes, e a escola seriada não estava dando conta da democratização do ensino.
Por quê? Primeiro, vinha universalização do ensino fundamental, nem se discutia
educação infantil, e com o alto índice de reprovação e o mais alarmante, a evasão escolar, a escola se
tornou para poucos, porque muitos tinham o acesso, mas poucos conseguiam fazer a terminalidade
dos estudos, ainda que lutando no Brasil pela democratização e universalização do ensino
fundamental.
Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996, é que passa para o
cenário das discussões a educação básica, incluindo a educação infantil, pré-escolar; então, a partir
de 04 a 17 anos, educação básica. Deixa de ser obrigatório apenas o ensino fundamental e passa a
obrigatoriedade à educação básica, dos 04 aos 17 anos. E aí centra: o que fazer com os altos índices
de evasão e repetência?
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Em Mato Grosso, essa discussão começou em Jaciara, quando os professores de
uma escola estadual faziam grupos de estudos, como hoje tem na escola, formação profissional, eles
já faziam grupos de estudos, naquela época, para discutir qual é o problema da evasão, o problema
da não aprendizagem e achar meios para que a educação fosse diferenciada.
E dessa iniciativa de profissionais da educação, no contexto de uma escola
estadual, agrupou outras escolas, e aí nós tivemos o Projeto Terra, que era discussão em nível de
município, em Jaciara, mas no contexto da escola estadual de educação. Assim, nasce a ideia de
tornar a organização por Ciclo de Formação Humana a política do Estado.
E quem vinha discutir? Nós já tínhamos duas bases, que já eram organização por
ciclo no Brasil e que fundamentou a formação por ciclos em Mato Grosso lá na sua gênese, em
Jaciara, que é Porto Alegre e a Escola Plural, e que já aconteceram mudanças também.
A gênese não é uma coisa que foi implantada, que começou de um gabinete para a
escola, mas da escola foi ampliando-se e fortalecendo a discussão. O foco central era a questão de
superar o que a escola seriada já não dava conta, que era a aprendizagem de qualidade e a
universalização. Então, nasce das discussões a organização escolar por Ciclo de Formação Humana
em Mato Grosso.
Fazendo um parêntese: essa discussão que eu já mencionei, começou da
preocupação neoliberal, para achar um meio de superar os altos índices de evasão e reprovação, mas
foi encampada pelos movimentos sociais não só no Brasil, mas no mundo.
(A PALESTRANTE INICIA A APRESENTAÇÃO DE QUADRO SINÓPTICO DOS TEMAS A
SEREM TRATADOS, POR MEIO DE DATA-SHOW.)
Na França, a organização por ciclos é muito forte, inclusive nas escolas
particulares, porque é uma ideia que vem da fundamentação legal, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), em 1996, quando diz que a organização escolar pode ser por série, por
ciclo, pedagogia da alternância ou qualquer outra forma, de acordo com o que a comunidade escolar
discute e tem a liberdade de buscar atingir os objetivos que almejam.
Marineusa Gazzetta (in memoriam) era professora da UNICAMP, trabalhou no
Projeto GerAção e no Projeto Tucum, ela dizia: “A escola pode ser muito boa, em qualquer forma de
organização, desde que ela atinja os objetivos que almejou”.
E com isso, hoje, a legislação atualizada é a Resolução nº 04/10, do Conselho
Nacional de Educação, que tem de forte - e que o ciclo já vinha discutindo desde 2000 - é a
democratização do ensino, tendo a educação como direito social. Então, se é direito social, é direito
de todos e, então, precisariam ser assegurados o acesso pela matrícula, mais a permanência, o
sucesso na aprendizagem escolar e a terminalidade dos estudos.
Lembrando que na própria LDB diz que a educação básica é de 4 a 17 anos. Então,
seria um percurso se restringirmos para o ensino fundamental, em 9 anos. O aluno inicia com 06 e,
aos 14 anos ou 15 anos, ele já daria a terminalidade ao ensino fundamental.
E em Mato Grosso a Resolução que fundamenta, legalmente, o ciclo é a Resolução
nº 262/2002, que já passou por debate no Conselho Estadual de Educação, no qual, como já
mencionei, eu era integrante da Comissão de Estudos do Ciclo de Formação Humana.
Hoje eu não trabalho mais no Conselho Estadual, mas ainda existe a Comissão de
estudos sobre o ciclo, que também fez umas audiências, em quatro regiões, visitando as escolas e
ouvindo os professores e comunidades escolares. Algumas, os pais compareceram e outras não, mas
em todas as regiões que foram realizadas, havia alunos do ensino fundamental, que também
expuseram as suas opiniões.
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A Resolução atualizada, que é da educação básica, do Conselho Estadual de
Educação, é a Resolução nº 02/13, que também é para a educação básica, e ela traz a questão do
ciclo, que junto com a Resolução nº 262 vai organizando o pensamento pedagógico, o planejamento
pedagógico das escolas.
Que concepção nós temos dessa organização por ciclos? É a organização - a maior
delas - do tempo escolar, respeitando o tempo de vida do estudante e da estudante, porque com o alto
índice de evasão e reprovação, o que tínhamos no ensino fundamental de 1ª à 4ª séries? Alunos com
defasagem de idade, alunos já na adolescência, mas enturmados com as crianças. E isso, parece que
não, mas os interesses são diferenciados, a forma de construir compreensão também é diferenciada.
Imaginem uma criança de seis anos estudando com uma de doze anos, ou até mais.
Dentro, ainda, da concepção ideológica, a questão da interação sócio-histórica é
cognitiva e socioafetiva, por quê? Se nós trabalhamos no contexto atual o interacionismo, teorizado
na parte da cognição por Piaget, e sócio-histórico, que Vygotsky traz a abordagem da importância de
o sujeito ter autonomia na sua realidade vivida.
É a partir dessa realidade, dessa interação, que se vai construindo o diálogo, a
comunicação e vai se transformando a própria realidade em que se vive. Então, desmitifica aquela
intenção que o professor é quem sabe e ensina, e o aluno é aquele que aprende para reproduzir,
repetindo ideias já construídas.
Nesse aspecto do sociointeracionismo, o professor deixa de ser o detentor do saber,
como o próprio Deputado colocou a respeito do prêmio para o jovem de quatorze anos; o
conhecimento que ele construiu, não construiu sozinho, mas numa relação de mediação entre os
outros colegas, os saberes tecnológicos que ele pesquisa e o seu professor, que também é mediador
nessas aulas de robótica. Então, desconstrói aquela visão de escola seriada que nós tínhamos, em que
o professor era quem detinha o conhecimento e repassava para o aluno.
Hoje, para a nossa felicidade: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de
repente aprende”, já nos disse Guimarães Rosa.
Esse momento de interação sócio-histórica é que vem fazer a diferença nesse
contexto educativo, e aí a escola seriada perde o sentido, ela tem o seu valor, mas na
contemporaneidade a interação sócio-histórica grita mais alto no próprio contexto, independente da
idade, porque até na educação infantil existe essa interação, a criança não é tábula rasa, mas ela
também tem conhecimentos que precisam ser valorizados, porque ela vive uma realidade social e a
turma é oriunda de diferentes grupos. Aí a importância de nós estabelecermos as relações de
diversidade no próprio contexto escolar. Então, se nós pensássemos isso na escola seriada, nós
também deveríamos desconstruí-la para reconstruí-la.
Quais são os princípios políticos e curriculares que nós encontramos como
fundamentos da organização por ciclos? Um deles eu já disse: a educação como direito social; a
obrigatoriedade da educação básica de 04 a 17 anos; a escola pública democrática, inclusiva; o
ensino de qualidade; valorização profissional; formação integral para o exercício da cidadania;
aprendizagem processual contínua e significativa; construção da identidade, autonomia, valores
pessoais e coletivos; estudantes, sujeitos socioculturais e históricos, centro do processo de
aprendizagem; organização didática por área de conhecimento; agrupamento por idade; progressão
contínua e a negação, reprovação e repetência.
Eu volto para falar, principalmente, com relação ao ensino de qualidade, porque se
eu quero um ensino de qualidade, então passar sem saber... Porque a progressão no ciclo é contínua,
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só que, ainda, há um entendimento que ela é automática e na concepção de ciclo não é a progressão
automática; se aprendeu vai e, se não aprendeu, também vai.
Que qualidade nós estaríamos defendendo se fosse, realmente, a aprovação
automática, como em muitos contextos é assim entendido? A formação integral para o exercício da
cidadania, aprendizagem processual, contínua e significativa.
Se o aluno não está aprendendo, quais são as estratégias necessárias e importantes
para que ele, então, aprenda? Porque se eu penso em democratização, aqui, na concepção, então é
direito de todos, para todos.
Quem trabalha muito isso é o Miguel González Arroyo, e naquele caderno que ele
escreveu para o MEC, “Indagações Curriculares”, ele faz uma reflexão sobre isso, que nós temos
uma cultura escolar de séculos, que vê na educação um parâmetro: aqueles que têm facilidades de
aprender, caminham, e aqueles que por algumas dificuldades... Aí eles são taxados de deficientes,
reprovam com uma ideia que precisa ser trabalhada com ele, o conhecimento. Se ele não construiu,
ele reprova e vai se repetir os mesmos conhecimentos, quantas vezes forem necessárias, até que ele
aprenda. Enquanto isso ou ele fica com muita defasagem de idade ou acaba evadindo da escola.
Isso é para refletirmos: se ele não está aprendendo - e aí o Miguel González Arroyo
aborda isso também, que se já identificou no contexto escolar, que a forma de aprender, as
capacidades de aprendizagem são diferenciadas, então, por que nós continuamos -, isso é fala do
Miguel Arroyo, pensando um currículo único, padrão, para atender quem tem facilidade e quem não
tem facilidade, também.
A grande reflexão que nós precisamos fazer na organização por ciclos é sobre esse
currículo, e buscar aquilo, aqui, na sua gênese, que a organização por ciclo se propunha, a reflexão e
a flexibilidade desse currículo, para que atenda as diferenças; para que atenda as diversidades que
estão na escola, porque todos nós somos iguais em direito, mas as nossas capacidades são diferentes.
Nós olhamos um grupo de crianças de quatro a cinco anos, dá a impressão que elas
estão brincando, mas é a característica delas, que aprendem brincando. E com seis ou sete anos
também aprendem brincando.
E o que vemos? As nossas crianças de seis a sete anos, quando inclui as de seis -
nós já fizemos essa reflexão no contexto de Mato Grosso, por muitos professores no processo de
formação continuada - na antecipação dos sete anos para os seis, não houve a adaptação para o
ingresso da criança de seis, mas uma antecipação de currículo, quando no advento do ensino
fundamental de nove anos.
E lá, se vocês olharem, o material de CBA I, CBA C que foi precursor do ciclo,
porque a criança com seis anos não construiu aprendizagem, ela reprova? Então, estendeu o tempo,
ampliou-se o tempo de permanência dela nesse processo de alfabetização, para que houvesse o
tempo para construir a aprendizagem e tivesse sucesso no processo de alfabetização, estendeu-se por
dois períodos.
E a partir de 2000, houve uma ampliação maior, que é esse tempo do primeiro ciclo
que a criança entra com seis e faz a terminalidade do primeiro ciclo aos oito, que é o tempo
necessário para que ela seja alfabetizada.
Muitas pessoas ficaram assustadas, lá no começo, nós questionávamos, também.
Não sabe, então continua?
Hoje, com a lei do ensino fundamental de nove anos, nós tivemos essa ampliação,
não só no ciclo, mas também no ensino fundamental, que não é ciclo. Pode ser qualquer outra
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organização, que a lei do ensino fundamental coloca que não há processo de reprovação. Isso nós já
começamos, em 2000, em Mato Grosso, há outros estados que começaram antes.
Qual é o significado dessa aprendizagem processual, contínua e significativa? Essa
é a grande charada do ciclo, um ciclo ser de três anos ininterruptos, para que essa criança seja
motivada, sejam apresentadas para ela diferentes formas de construir o conhecimento, porque não
aprendemos igual, nenhuma criança de seis anos aprende igual a outra, mas aprende de formas
diferenciadas. Aí, tem as múltiplas inteligências que nos dão subsídios para pensar como seria a
metodologia que nós vamos usar, aqui, para assegurar o ensino de qualidade.
Às vezes, nós ficamos olhando o macro, mas quando eu chego lá no contexto da
minha escola, eu começo a olhar não só a minha turma de oito anos, mas eu preciso olhar o processo
de alfabetização inteiro e o que se convencionou chamar o coletivo de ciclo, porque em vez de ser
uma professora com sua turma, se forem três turmas, já serão três professores para pensarem quais
são as problemáticas e buscarem estudos, ampliarem suas formações, discutirem com o coletivo todo
da escola quais são as iniciativas necessárias para que a aprendizagem seja significativa e de
qualidade, e que haja a progressão contínua e não a aprovação automática.
A concepção não traz a abordagem, que é para o aluno passar sem saber, e aí o
grande nó, Deputados, é a questão da não reprovação, porque se ele não construiu, passa; se
construiu, passa; mas o meio termo da intervenção pedagógica, nós ficamos devendo? Ou a
enturmação por idade, que é o outro grande nó.
Tem criança de oito anos que nunca estudou, parece que é tudo perfeitinho, estão
todos na escola, mas na realidade não estão. Ontem mesmo, eu tive notícias de uma criança com
nove anos que nunca foi à escola, lá em Cuiabá. Vamos nos assustar quando essa criança de nove
anos chegar à escola, onde vamos enturmá-la? Com as crianças de nove anos, a enturmação não é
por idade? Parece maluquice, não é? Ela não sabe ler, não sabe escrever, nunca foi à escola. Aí vai
para a sala de aula de crianças com nove anos? E aí? É direito dela ser enturmada com os pares, mas
só enturmar resolveu o problema? Claro que não. Então, entra outra questão, que é a formação
integral, que também está ali na concepção.
Se é formação integral, então, a enturmação com os pares de idade é importante,
mas o apoio pedagógico, a proposta de superação, é a escola que vai planejar de acordo com a
realidade daquele aluno que ela está recebendo.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Desculpe-me interrompe-la, só para
convidar o Professor e Prefeito de Tangará da Serra, que componha conosco a mesa, Fábio Martins
Junqueira. Por favor, professor Fabinho. (PALMAS)
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - ...Então, isso para dizer que se
um dos princípios políticos e curriculares é a negação da reprovação e a repetência, não é verdadeiro,
porque negou a reprovação e a repetência, é a aprovação automática, mas para negar evasão e a
reprovação eu preciso ter estratégias pedagógicas que vão ser mediadas pelos professores,
acompanhadas pelo coordenador pedagógico e, também, pelo professor articulador, que há uns três
anos que vem sendo rediscutido, o papel do professor articulador. Para que? Para assegurar que
realmente os nossos alunos tenham sucesso escolar.
Isso é mérito só do ciclo? Se nós formos olhar, hoje, qualquer estrutura pela
avaliação que nós temos do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), os indicadores... Aí,
vejam bem, são indicadores de resultados, mas é para nós fazermos algo com eles e não para
ficarmos felizes ou tristes, por causa do resultado, abaixo ou acima da média.
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Se são indicadores e esses indicadores são baixos, então, o que planejar? Como
pensar? E aí não é papel só do professor, porque com a diversidade que nós temos na sociedade, uma
das coisas que mais é colocada é a desestruturação familiar.
Nós temos outra questão também: o aluno não vem para escola e também não é só
papel da família e da escola, seria então uma ação institucional, porque nós também temos alunos
que têm bloqueios, por traumas vividos, e quem pode resolver esses bloqueios? O professor não é
psicólogo, e aí essa ação interinstitucional seria importante. E isso não é projeto só de escola, é
projeto de sociedade. Para que haja o sucesso escolar, às vezes, o aluno precisa da intervenção da
saúde, às vezes, ele até precisa da intervenção da Promotoria Pública, por causa da questão das
faltas.
Vejam bem, eu coloquei ali: a educação básica é obrigatória, mas a LDB coloca
que o aluno tem direito a 25% de faltas. E aí o acompanhamento docente e o acompanhamento dos
coordenadores, dos diretores de escola, se o aluno já está perigando os 25%, o que fazer então?
Lembram que eu falei da ação interinstitucional? Às vezes, a equipe escolar
precisa acionar o Conselho, aí não tem projeto que cai, por quê? Porque é uma ação
interinstitucional, não é o coordenador e não é o professor que vai à casa da família, porque se
chegar lá, a família vai ficar brava e pode até nos colocar para correr.
Essa ação vai além da escola, é uma ação interinstitucional, e há muitos
municípios que ainda não conseguiram essa articulação. Ele está ainda iniciando, e aí arrebenta,
aqui, na questão da progressão contínua, que vira progressão automática, o aluno não tem condição,
ele está com bloqueio de aprendizagem, como é que ele vai aprender? E o milagre não é feito pelo
professor, é uma ação que é dever do Estado, da família e da escola, também; por isso essa
importância que seja uma ação, efetivamente, interinstitucional.
A progressão contínua - ali nós temos alguns equívocos de interpretação quando
falamos o PS, o PPAP e o PASE -, o que é que significa isso? Muitas pessoas acham que são
conceitos, e muitos lugares já fizeram e não fazem mais, mas tem outros que ainda fazem aquela
comparação, assim: se cinco era a média, é OS, progressão simples, que são aqueles alunos, fazendo
comparação, ali, equivocadamente. Então, quanto vale em nota o PS? PS não é nota, PS é situação
de aprendizagem.
Aqueles alunos que não têm dificuldade no processo, eles avançam. Esses alunos
que têm facilidade de interpretar, por quê? As oportunidades dadas socialmente, na família e até
mesmo na escola, são diferenciadas, elas não são iguais para todos. E o PPAP, progressão com plano
de apoio pedagógico, são aqueles alunos que não conseguem caminhar com tanta facilidade, mas
eles precisam de processo de intervenção. Então, é conceito? É nota? Não, é uma situação de
aprendizagem que pode acontecer com qualquer um de nós.
Até eu vou pegar um exemplo bem simples: a dificuldade que muitos de nós temos
para nos dar com o celular de tecnologia mais avançada; se dermos para uma criança, ela nos ensina
rapidinho. Então, quem é que está precisando de apoio pedagógico, neste caso? Nós, e vai ter
crianças que, dependendo de como é a sua realidade no contexto onde ela vive, ela pode precisar de
mais apoio ou menos apoio.
E o PASE, plano de apoio de serviços especializados, porque a inclusão é direito de
todos, nós temos os cadeirantes, os cegos, os surdos e outros com múltiplas deficiências que vêm
para o contexto escolar. Só que quando ele chega, como é que eu, professora na minha turma, que já
tenho um número de 30 alunos, ainda vou conseguir trabalhar com esse que tem necessidades
educativas especiais e precisa dos serviços especializados?
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Com o incentivo do MEC, muitas escolas já receberam o laboratório, a sala
multifuncional, que eu estou chamando de laboratório. Por que eu chamo de laboratório? Porque na
Resolução nº 262/02 diz que: “... para desenvolver com qualidade é preciso o laboratório de
aprendizagem”, e vira uma confusão.
O que é esse laboratório de aprendizagem?
Laboratório de aprendizagem é a escola como um todo; a sala de aula é um
laboratório; a sala de informática é um laboratório; a sala multifuncional - as escolas que têm - é um
laboratório.
Diante dessa progressão com apoio de serviços especializados, a criança consegue
desenvolver algumas situações, mas nunca vai desenvolver igual àquele que não tem as necessidades
especiais.
E o que fazer então? A discussão vem para o número de alunos que na própria
Resolução e nas Portarias da própria SEDUC, em relação à escola estadual, muitas escolas
municipais que são organizadas nos ciclos, seguem tanto a Resolução nº 262/02, como também
procuram pesquisar o que tem nas portarias para fazerem a sua adequação. Vai acertando, vai
conflitando, mas também vai achando saídas, porque esse conflito é necessário para que nós
possamos refletir, para mudar, melhorar e transformar, mas sempre caminhar progredindo.
A instituição de novos tempos e espaços escolares, esse é provocativo!... Quando
nós começamos em Mato Grosso a Organização por Ciclos era só no ensino fundamental. Educação
infantil é do município, mas se você olhar a Resolução de educação infantil de 2009, do Conselho
Nacional de Educação, aquela Resolução nº 04/2009, que é para toda a educação básica, e a
específica que é a Resolução nº 07/2010, nacional, para o ensino fundamental, você vai percebendo
que aqueles princípios que eu coloquei lá, de democratização, de ensino de qualidade e inclusão, eles
são trazidos nessas Resoluções, porque o ponto forte delas são educar e cuidar.
E o que é o cuidado? Não é ficar, lá, protegendo, mas conhecer o que ele precisa,
para que eu faça a mediação, para auxiliá-lo em seu processo de aprendizagem. Eu enquanto
professora docente, enquanto coordenadora, se for, ou professora articuladora, por quê? Porque
movimenta toda a escola, a responsabilidade não é só de quem está com a turma, mas a
responsabilidade é de todos, inclusive da mantenedora, que também precisa fazer a discussão; como
eu disse antes, é projeto da sociedade, não é projeto só da escola.
Por que é projeto de sociedade? Se o aluno que tem mais de 25% de faltas não está
na escola, onde ele está? Na prostituição infantil? No trabalho escravo? Onde está a criança, que não
está na escola? Onde está o adolescente que tem 50% de faltas? Será que só está dormindo?
Eu puxei esse exemplo, porque uma das características do adolescente é o sono,
como gosta! Hoje, tem uns que nem tanto, porque depois do facebook, então passa mais tempo
acordado, e já tem pesquisa apontando que crianças e adolescentes tidas como hiperativos, na
realidade, eles estão dormindo pouco, e as oito horas de sono necessárias para todo o funcionamento
do corpo do ser humano, inclusive do cérebro, para facilitar a aprendizagem...
Aquele tempo dos alunos - deixe-me voltar o slide - o ensino fundamental,
retratando o 1º ciclo da alfabetização – seis, sete e oito anos; o 2º ciclo – nove, dez e onze; o 3º ciclo
– doze, treze e quatorze anos.
Dá para perceber como se adapta as fases do desenvolvimento humano, de acordo
com os psicólogos, estudiosos e teóricos da educação também. Um deles é o Miguel Arroyo; Elvira
Lima é outra; porque o Miguel Arroyo vai buscar na base da psicologia, mas a Elvira Lima vai
buscar essa divisão na questão antropológica. Andrea Krug - que mudou depois - vai buscar na base
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do desenvolvimento da linguagem. Então, as características de proximidade no desenvolvimento,
não significam que o desenvolvimento é igual, mas tem uma proximidade, aí a importância de levar
em conta essa realidade de quem é o estudante, para poder auxiliá-lo mediando atividades, mediando
conteúdo sócio-histórico-cultural, para que a aprendizagem seja desenvolvida.
E aí a provocação, ensino médio, ciclo da juventude, a Resolução nº 262/02 já traz
isso, que o ensino médio também pode ser organizado por ciclos. Então, parece que vamos passar os
alunos para a universidade sem ter aprendido.
Olha! Se for começar pensando que é dessa forma que tem que ser, então, é melhor
ele não ser mesmo organizado por ciclo, porque o que precisa é respeitar o processo de
aprendizagem do aluno, para mediar situações, a interação coletiva, aluno e aluno, professor e aluno,
para que realmente tenha sucesso no processo de aprendizagem.
E não é tarefa fácil, porque vai envolver o tempo dos professores, esse tempo dos
professores é a jornada de trabalho dele naquela escola, que geralmente são trinta horas, se for
efetivo.
Por quê? Esse tempo tem que ser dedicado para planejamento e ação coletiva,
avaliação coletiva, intervenção e apoio pedagógico necessário e definido coletivamente, superação
nos casos em que o aluno chega já com a defasagem da idade, ano escolar ou ciclo, os registros e
formação continuada; essas são algumas das ações que o professor faz na escola, que o coletivo de
professor trabalha.
E se ele tem uma jornada de trabalho nos três períodos, em qual tempo é possível
essa ação coletiva? Ela fica inviável. Então, esse professor faz as três jornadas de trabalho porque ele
quer? Aí que entra a questão da valorização profissional, que está ali no meio da concepção também,
porque se ele não tem, financeiramente, a valorização, ele precisa mesmo correr atrás dos outros dois
períodos para complementar a renda, porque sustentar uma família, nessa conjuntura social que
vivemos... Às vezes, ele ainda fica procurando uma chance de ter o quarto tempo, essa é a nossa
realidade.
Para terminar, entra a questão da avaliação. No contexto geral, avaliamos o aluno
em aprendizagem, mas dentro da concepção da organização por ciclos, toda a conjuntura precisa ser
avaliada, tanto no âmbito do projeto político-pedagógico que a escola desenvolve, mas também as
ações das mantenedoras. Se é da Secretaria Estadual de Educação ou da Secretaria Municipal de
Educação, as ações, as implementações e o fortalecimento que ela traz para fortalecer a
aprendizagem na escola também precisam ser avaliados, que é isso que está acontecendo agora nesta
Audiência Pública, é uma avaliação.
E na aprendizagem, ela precisa ser processual, diagnóstica, formativa, reflexiva e
contínua. Por quê? Se o aluno não aprendeu é paralelo ao processo de aprendizagem, não é depois.
Então, o que ele não aprendeu? Por que ele não aprendeu? E se for diferente, não tem como mediar,
ele vai ser mantido com a dificuldade.
E os aspectos qualitativos precisam predominar sobre os quantitativos. Por quê?
Lembram-se? Não aprendemos as mesmas coisas ao mesmo tempo.
Se eu tivesse que aprender robótica, eu estaria reprovada, porque eu, em
tecnologia, sei para o gasto, mas é muito pouco em relação ao que os adolescentes já dominam.
Essa ação precisa considerar as possibilidades e os avanços ocorridos, porque até
na organização seriada também considera avanço. Nós temos, lá na seriada, progressão parcial, não
temos? Por que progressão parcial? Porque vai valorizar o que o aluno já avançou, antes da
progressão parcial, se ele reprovasse, estava reprovado, ele teria que fazer todas as disciplinas
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novamente. Então, vem a progressão parcial, que muitos também criticam: “Como? Ficam dando
chance”. A questão não é dar chance pela chance, e sim oportunizar para que ele tenha problema,
mas o problema, o desafio da aprendizagem, seja superado.
Na organização por ciclo são três situações: o professor docente avaliando,
acompanhando essa aprendizagem e cuidando, e quando esgotam as possibilidades de intervenção
do próprio docente, é que entra em cena a atuação do professor articulador, que precisamos
repensar, porque ele não é só para ser mais um profissional e nem aquele profissional, que já está
adoecido e sem condição de estar na sala, vem para o desvio de função e vai ser professor
articulador. Que sucesso nós vamos conseguir num processo de articulação pensado dessa maneira?
E o relatório descritivo que traz os conteúdos de natureza cognitiva, a mediação
docente, ele tem caráter evolutivo e caráter individualizado. Por quê? Porque você avalia
coletivamente, mas você também precisa avaliar e registrar o processo individualizado.
E o quantitativo de alunos dentro do ciclo, se é unidocência não são tantos alunos,
são até trinta, mas quando chega a partir dos onze anos e 3º ciclo, fica mais complicado, porque o
número de alunos é grande.
A própria Resolução coloca a questão de 250 alunos para cada professor, mas o
professor sozinho não consegue fazer esse acompanhamento. Por isso, a orientação lá na concepção
de que essa organização seja por áreas de conhecimentos e que haja os Conselhos de Ciclos, porque
aquilo que dentro da área de linguagem, um professor não conseguiu acompanhar, o outro está
atento. Então, soma para depois nós termos os subsídios que foram registrados no caderno de campo,
no portfólio e outros, para que assegure o processo de desenvolvimento desse relatório. Se não, nós
teremos modelos de relatórios que assemelham só os alunos, é o mesmo modelo, às vezes, troca só o
nome. É isso a qualidade do desenvolvimento de um aluno para outro; tem coisas que vão ser
bastante semelhantes, sim, mas em que elas são diferenciadas?
Talvez, até no próprio empenho que o aluno tem dentro daquilo que é sua
característica de aprendizagem, que uns tendem para a música, outros tendem para o movimento do
corpo, para a cognição; uns aprendem falando, outros só observando, ouvindo.
Essas diferenças precisam ser levadas em conta, e se o processo de aprendizagem
não estiver dando conta disso, nós ficaremos fadados ao fracasso, independente de qual seja a
organização, mas, principalmente nesta, que é a organização por ciclos.
Dentro dos seus quinze anos de história, é bem incipiente se compararmos com os
séculos que temos da escola tradicional. Então, não começamos nem a engatinhar ainda, e muitas
coisas precisam ser avaliadas para melhorar, porque da forma como está, também considerando que
nós temos a aprovação automática, que não é da concepção, mas que vai se configurando no
cotidiano escolar. Então, nós precisamos ver coletivamente, em cada município, e nessas discussões
regionais, que depois abarcam uma discussão mais de Estado mesmo, para que percebamos em que
precisamos buscar a transformação.
Agradeço a oportunidade. (PALMAS)
(O SR. DEPUTADO WAGNER RAMOS ASSUME A PRESIDÊNCIA ÀS 10H19MIN.)
O SR. PRESIDENTE (WAGNER RAMOS) - Muito obrigado, Professora, pela
visita a Tangará da Serra e pela palestra também.
Vamos abrir a palavra para as pessoas presentes, mas, antes disso, agradecemos a
presença do Vereador Luiz Henrique Barbosa Matias, vice-presidente da Câmara Municipal de
Tangará da Serra; do Professor Antônio Carlos da Silva, Diretor da Escola Estadual Ministro
Petrônio Portela, de São Jorge do Patrocínio, nosso amigo Carlinhos; da Professora Adriana
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Germana Luzia, Diretora da Escola Estadual Vereador Manoel Marinheiro, também do Município de
Tangará da Serra; da Sra. Francisca Alda Ferreira de Lima, Presidente do SINTEP em Tangará da
Serra; dos Vereadores do PSDB Wagner Constantino, que está desde o início, juntamente com
Vereador Fabião, muito obrigado pela presença. Esta conosco também o Vereador Sílvio José
Somavilla, de Tangará da Serra; o suplentes de Vereador Claudinho Frare e também o Pedro
Francisco da Silva, o Vereador Pedrinho.
Gostaria também de ouvir o pessoal da assessoria pedagógica, que está aqui
conosco. Claudiomar, nós vamos abrir espaço, gostaríamos que vocês fizessem parte da mesa,
vamos solicitar uma cadeira para que vocês, representantes legais do Estado, possam participar na
mesa conosco. Solicito da nossa assessoria mais uma cadeira para o nosso amigo Claudiomar,
Assessor Pedagógico.
Com a palavra, o Vereador Sebastian Ramos, neste ato representando o presidente
da Câmara Municipal de Tangará da Serra, Vereador Romer Sator Yamashita (Romer Japonês).
O SR. SEBASTIAN RAMOS - Obrigado, Deputado Wagner Ramos.
Muito bom dia a esta mesa, minha saudação a todos, sem nominar os já
nominados, reforçando a preseça do Parlamento Municipal neste ato, nesta Audiência Pública, meus
colegas vereadores: Professor Wagner, Fabio Brito, Luiz Henrique e o Silvio, que passaram ou
devem estar por aí, bem como os demais vereadores que não puderam estar presentes em virtude de
outros compromissos e outras agendas, inclusive o nosso presidente, Romer Japonês.
Muito bom dia a todos os presentes, aos representantes da Assembleia Legislativa,
sejam muito bem-vindos a nossa cidade.
O Município de Tangará da Serra é um município pujante e precisa que a
Assembleia Legislativa venha aqui mais vezes, seja com essas ações, com Audiências Públicas ou
com outras ações, inclusive com recursos para o nosso Município e para a nossa região.
Sejam todos bem-vindos, representantes de cidades vizinhas e de outros
municípios; todos os meus colegas profissionais da educação, especialmente aos educadores o meu
carinho, o meu afeto e o meu respeito a cada um aqui presente.
Sem muitas delongas, quando o assunto é ciclo, Senhores Deputados, o propositor
Deputado Wilson Santos, que está em uma entrevista, certamente, há muito a ser conversado, há
muito a ser discutido e há muito, ainda, a ser peneirado entre escola seriada e escola ciclada. Eu fico
com a escola de qualidade, se vai ser seriada, se vai ser ciclada, se permanece, se não permanece...
(PALMAS)... Eu fico com a educação e com a escola de qualidade, Deputados presentes e o
propositor, Deputado Wilson Santos.
O nosso Município de Tangará da Serra e o Estado de Mato Grosso, inclusive,
coincidentemente nesta semana, ao celebrarmos a semana de Mato Grosso, no próximo sábado é dia
de Mato Grosso, me parece muito pertinente discutirmos uma educação, justamente nesta semana.
Inclusive, para nós de Tangará da Serra, em preparação ao aniversário do nosso
município, está aqui o Prefeito, que certamente vai também frisar essa situação. De modo que,
enquanto educador que sou e humanista, eu sonho, ainda, com a educação pensada por Paulo Freire,
pensada por Moacir Gadotti, pensada por Lev Vygotsky, aqui citado pela Professora; sonho também
com a escola pensada por Jean Piaget e com a escola inocente e humilde, pensada por Cora
Coralina, grande poetisa brasileira.
Os nossos alunos, os nossos educandos almejam e esperam uma educação, esperam
que as escolas estejam de pé, com o teto no lugar, com as paredes no lugar, com os professores
sendo valorizados, com as possibilidades de educação.
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Eu vou dizer de novo: seja seriada ou ciclada, o que nós precisamos urgentemente
é de uma educação que valorize, acima de tudo, o seu profissional, porque se colocarmos uma
educação ciclada e não valorizarmos o profissional da educação... (PALMAS) Não há milagre,
Deputados, que vá curar a nossa educação.
Entendo que essas Audiências Públicas são legítimas, são coerentes, e eu desejo
muito que ao chegar à Assembleia Legislativa e ao Governo do Estado - aqui representado,
inclusive, na figura do Sr. Alfredo, que está ali e que certamente vai levar ao Secretário Permínio
Pinto o assunto aqui falado e discutido - que nós pensemos numa educação mato-grossense que
esteja atenta aos olhares do século XXI, e não uma educação jesuítica que ficou lá no século XVI e
que alguns ainda insistem em colocar em prática nos dias de hoje.
Obrigado pela oportunidade, o Parlamento Municipal agradece este espaço e deseja
que esta Audiência Pública seja proveitosa e frutífera.
Bom dia a todos! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WAGNER RAMOS) - Muito obrigado, Professor e
Vereador Sebastian Ramos, pelas palavras, é isso que queremos ouvir de todos vocês.
A nossa equipe também está pegando informações com quem desejar fazer uso da
palavra, nós estaremos à disposição.
Com a palavra, o Prefeito Municipal de Tangará da Serra, o Professor Fábio
Martins Junqueira.
O SR. FÁBIO MARTINS JUNQUEIRA – Bom dia a todos e a todas!
Cumprimento a mesa, aqui, formada pela Professora; os Deputados Wagner Ramos
e Sartunino Masson, o Sr. Alfredo, da SEDUC; a professora Alvarina, já conhecida de algum tempo;
a Secretária Iolanda; o Vereador Sebastian Ramos, representando a Câmara, estava até agora mesmo
com o Vereador Romer, num outro compromisso, e ele até me pediu para reforçar que a ausência
dele é em virtude de compromissos anteriormente agendados, que inclusive me motivaram a chegar
aqui após o início. Também o senhor que está ao lado do Vereador Sebastian Ramos, e demais
autoridades, Prefeito de Denise, Pedro Tercy; professores e professoras; assessores e vereadores aqui
presentes. É uma satisfação estar aqui a convite do Deputado Wilson Santos, que neste momento
está ocupado, falando com a imprensa, a quem nós cumprimentamos pela realização desta Audiência
Pública.
Educação é sempre motivo de muita reflexão e de muita importância. Hoje,
ouvindo a professora Alvarina fazer sua apresentação, eu me reportei a uma reflexão: nós quando
implantamos no Estado e no país o ciclo de aprendizagem, a organização do ensino fundamental, em
forma ciclada, onde houve essa implantação, o primeiro pensamento era assegurar o sucesso dos
nossos alunos e assegurar a qualidade.
Houve percalços na implantação, talvez por falta de, exatamente, formação
continuada, qualificação, um preparo antecedente, e acabou confundindo-se o ciclo com a figura da
progressão automática, e isso realmente trouxe uma série de pontos negativos e críticos para essa
questão, porque na verdade o ciclo não se confunde com a progressão automática, pelo contrário,
desde a antiga LDB, a anterior já dizia que o calendário e o ensino poderiam ser organizados na
forma seriada anual, semestral ou por outros ciclos de organização.
E o ciclo também é vinculado a tempo, a um tempo; de uma forma ou de outra,
equivale a um interregno de tempo que diferencia da seriação anual e da seriação semestral apenas
pelo prazo de duração, mas a qualidade exigida teria que ser a mesma, ou até superior, porque a
organização por ciclos atenderia a orientações metodológicas e pedagógicas de relevância, que tem o
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apoio e a formatação definida por grandes educadores, alguns deles citados aqui pelo Vereador
Sebastian.
Apenas a Cora Coralina, citada pelo Vereador Sebastian, teve uma formação
inicial autodidata. Ela teve um ensino através de preceptores na infância, na fazenda e, depois, se
tornou uma grande autodidata, chegou a ser uma pessoa de alta formação, isso demonstra que nós
temos que pensar que no ato de ensinar e aprender tem dois polos: tem o polo daquele que está na
função de coordenar e orientar o processo educativo e aquele que é o agente destinatário do processo
educativo. Eu me preocupo bastante com a questão da confusão ocorrida entre o ciclo e a progressão
automática.
No Município de Tangará da Serra, nós implantamos há vários anos apenas o ciclo
básico de alfabetização, e a partir do 4º ano voltamos para a forma seriada anual, mas nós também
temos essa preocupação, exatamente porque ocorreram algumas situações do aluno que está no final
do ano na série na nossa organização seriada, nas séries finais do fundamental, quando por uma
questão de avaliação ele percebe a possibilidade da retenção, ele se transfere para uma escola que
adota o ciclo no ensino fundamental integral e, logicamente, ele é aprovado, pela aprovação dita
automática. Depois, no outro ano, ele pede para voltar para a escola municipal que está com a
seriação, e isso gera uma expectativa de disputa por escola em termos de qualidade, que na verdade
não deve existir de forma nenhuma.
Quando me preocupo com a questão de confundir a escola ciclada com a
progressão automática, eu me reporto a outra situação: antes de Cristo, os chineses avaliavam - o
tempo é curtinho, eu estou me excedendo, mas já vou concluir - o ensino através de exames, tipo
concurso, eu gravei bem na época no meu curso de pedagogia, que o nome dado ao estudante chinês
que concluía uma determinada fase com aplicação da avaliação, ele levava o nome de talento florido,
o diploma dado a ele, a categoria dada a ele era de talento florido.
Não desejo fazer um comparativo da educação chinesa, tão antiga, com a nossa.
Até mesmo porque a educação chinesa até uma determinada época, bastante recente, era
completamente decorativa, utiliza muito a metodologia da retenção da memória, por conta dos
signos e símbolos utilizados.
De uma forma ou de outra, nós temos uma dicotomia; nós estabelecemos uma
sistemática de avaliação no ciclo, que acabou se confundindo com a progressão automática e a
sociedade continua avaliando sistemicamente através do vestibular, para o acesso ao ensino superior,
através de “n” concursos realizados para ingresso nas carreiras, as mais diversas, no serviço público:
municipal, estadual, federal e mesmo por outras organizações, que também avaliam, sistemicamente,
o cidadão para o acesso aos cargos, a empregos e a outras situações.
Essa avaliação sistemática feita pela sociedade difere da avaliação que nós temos
feito nas nossas escolas, no ensino fundamental, e isso tem de fato provocado uma dificuldade muito
grande. Hoje, todo mundo busca a culpa do insucesso.
Onde é que está a culpa? A culpa no ensino superior vem do ensino médio, que
preparou mal; no ensino médio jogam a culpa para o fundamental, as séries finais; o fundamental
culpa as séries iniciais do fundamental, e daqui a alguns dias nós vamos jogar a culpa na educação
infantil, que tem uma história tão recente no país, e vamos continuar buscando culpados pelas
dificuldades que nós temos na qualidade do ensino.
Eu penso que nós conseguimos eliminar uma determinada situação, eu fui
Secretário de Educação até o final de 2003, em Tangará da Serra; no comecinho de 2004, eu deixei a
Secretaria, naquela ocasião, nós tínhamos na rede municipal de educação, cerca de doze mil alunos,
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entre fundamental e infantil, e hoje nós estamos quase que por volta do mesmo número, um
pouquinho menos, mas em função da correção das distorções da série, da eliminação da diminuição
dos índices de reprovação, manteve-se o número.
Havia uma cifra no ensino fundamental que era alimentada pela evasão e pela
repetência muito grande ao longo dos anos, tanto nas escolas municipais quanto nas estaduais, e isso
vem sendo eliminado gradativamente. À medida que a terminalidade real é alcançada, há mais
possibilidade de investir na qualidade.
E eu – concordando, em tese, com as palavras da Professora Alvarina, quando fala
da questão do articulador - vejo que na medicina o médico cirurgião não opera sozinho, ele opera
com o médico auxiliar, com anestesista, com uma equipe de enfermagem e tal... Mas tudo bem, eu
estou falando de operação somática, no corpo físico, e o educador também provoca alterações na
formação do educando, que são verdadeiras operações mentais. E, a meu ver, esse trabalho em
equipe da educação tem que ser cada vez mais ampliado.
Hoje, nós temos um pouquinho de dificuldade, que é o limite da Lei de
Responsabilidade Fiscal, que coloca indicadores para despesas com pessoal; penso eu que o da
educação deveria ser separado, que os índices da Lei de Responsabilidade Fiscal para educação
deveriam ser mensurados separadamente do restante do quadro de pessoal, tanto do Município
quanto do Estado, até mesmo para que pudéssemos ter investimentos maiores em pessoal da
educação.
De qualquer forma, eu vim até aqui apenas para prestigiar, para ouvir um pouco,
aprender um pouco mais sobre a questão, para prestigiar o Deputado Wilson Santos e demais
Deputados, que representam a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, o Deputado
Wagner Ramos, da nossa região, e o Deputado Saturnino Masson, para estar aqui participando desta
iniciativa, parabenizar a Assembleia Legislativa pela realização do evento...
(O SR. DEPUTADO WILSON SANTOS REASSUME A PRESIDÊNCIA ÀS 10H37MIN.)
O SR. FÁBIO MARTINS JUNQUEIRA – Quero dizer que Tangará da Serra é uma
cidade que está sempre aberta para a Assembleia Legislativa e que temos o orgulho de ter dois
representantes tangaraenses, e por que não dizer três? Porque o Deputado Wilson Santos sempre
teve votação em Tangará da Serra e é amado por muitos de Tangará da Serra.
Nós, às vezes, encontramos pessoas que quando ouvem falar que o Deputado
Wilson Santos vai estar em Tangará da Serra, fala assim: “Ah, fui aluno dele no cursinho; ah, fui
aluno dele e tal...” Então, tem toda uma história na educação que merece ser louvada.
Foi um prazer estar com vocês. Muito obrigado! E desculpe-me por ter me
excedido no tempo. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós vamos agora ouvir a platéia.
Estão inscritas as seguintes pessoas: a Sra. Francisca Alda Rezende, a Sra. Maria Elisabete, a Sra.
Sônia Maria Santos Filho, a Sra. Eunice Maria Cipriano, o Sr. João Costa Longa, a Sra. Adriana
Germano, a Sra. Josete Ribeiro, o Sr. César Guedes, a Sra. Antônia Miranda, o Sr. Vagner
Guimarães e a Sra. Edinéia Cardoso.
Aqui ainda é bom, dá para pronunciar bem os sobrenomes, o duro é quando sobe
ali para Sinop, Alta Floresta... Menino do céu! (RISOS) É só alemão, italiano...
Vamos fazer o seguinte, cada pessoa terá em média direito a três minutos, eu sei
que alguns acabam falando quatro, cinco... Mas, em média, três minutos.
Nós queremos ouvir bastante, então vamos ouvir agora, cinco pessoas da plateia e
depois passaremos a palavra para a professora dar as respostas, caso haja alguma indagação.
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Não tem problema se você não quer perguntar. Se quiser fazer uma
contextualização, pode fazer! Se quiser fazer uma análise, não tem nenhum problema, às vezes, a
pessoa não quer perguntar, mas tem o direito de falar o que pensa.
Com a palavra, a Professora Francisca Alda Ferreira de Lima...
Desculpem-me, só uns minutinhos, porque antes o Prefeito Pedro Tercy quer falar,
ele veio de Denise e vai fazer uso da palavra.
O SR. PEDRO TERCY – Bom dia a todos.
Eu pedi, Deputado Wilson Santos, para interromper a sequência. Eu nem poderia
estar aqui hoje, nós estamos com uns probleminhas lá no município, porque ontem foi feriado de
fato, ontem foi o dia do aniversário da cidade, e nós paramos a administração para cumprir o feriado
da cidade, e como Vossa Excelência foi Prefeito, por duas vezes, sabe que no dia seguinte “o bicho
cai”. Então, nós viemos, em primeiro lugar, em respeito à educação e, em segundo, em respeito a sua
pessoa, por ser nosso amigo, por ser educador e por ser uma pessoa extremamente ligada à área da
educação, e eu quero lhe parabenizar pela iniciativa.
Quero agradecer também a presença do nosso assessor pedagógico, o Sérgio
Furlan, os diretores da escola, o Professor Luiz, a Professora Meire; também estou vendo a
professora filha do meu amigo Terrinha, e a presença de todos os denisienses que estão por aqui.
Quero ressaltar a presença do meu Vice-Prefeito, o Abotoado, que inclusive nos
deu uma carona, de lá para cá, porque o nosso carro, Prefeito Fábio, na semana passada, sofreu uma
colisão aqui no centro de Tangará da Serra, mas faz parte. O povo do interior que chega à cidade
grande tem que bater no carro do “bicho besta”.
Antes de assumir a Prefeitura, durante minha campanha, eu dizia que seria o
prefeito da educação, falava isso, alguns davam risada – mais ou menos, vou contar uma história
bem rápida para vocês: eu assumi a educação, e a maior escola do meu município não tinha nem
água para os nossos alunos tomarem. Professores desmotivados, escolas caindo aos pedaços, ônibus
todos sucateados...
Eu quero... Ele tem nome francês, Sebastian, que fala bonito, Vereador Sebastian,
parabéns! Você nos colocou o seguinte: “Para fazer educação, primeiro, precisamos valorizar o
profissional de educação”, e foi o que nós fizemos.
Lá, Deputado Wilson Santos, nós fizemos todos os reajustes que os professores
tinham direito, sei lá se o Prefeito vai conseguir pagar ou não, mas nós fizemos e pagamos em dia, lá
se recebe em dia, não teve discussão.
Todas as nossas escolas estão reformadas, água para os alunos beberem. Eu não
sei como faziam numa escola, há 20 anos, que não tinha uma quadra para praticar esporte.
Entregamos uma quadra nova no valor de R$ 509.000,00 para a nossa população, toda a nossa frota
a caminho da escola, são treze ônibus novos, Deputado Wilson Santos, e temos dois de reserva, isso
em dois anos e quatro meses.
Nossas creches - e aí eu quero pedir a intervenção dos Deputados Wagner Ramos,
Saturnino Masson e do senhor Deputado Wilson Santos... Nós temos 150 creches paradas no Brasil,
numa empresa irresponsável chamada Casa Alta de Curitiba. Estou com R$ 850.000,00 em conta,
necessitando de creche, porque a última creche em Denise foi inaugurada em 1994.
Fui para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), andei de
joelhos, consegui uma creche para Denise, eles reabriram, me fizeram colocar o aterro, toda a
infraestrutura e viraram as costas, sem dar satisfação ao povo de Denise e para ninguém, e eu estou
com o dinheiro em conta. Então, solicito a Vossas Excelências que entrem em contato com as
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autoridades. Eu acho que Vossa Excelência passa por essa realidade, Prefeito Fabio. Fabinho tem
três creches nessa situação. Isso é uma vergonha para o país, não se faz, Sr. Sebastian, educação
pensando desse jeito, não se faz.
Se Vossas Excelências não sabiam disso, comecem a brigar, vão a Brasília, lutem
por isso, pela informação que eu tenho. São cento e cinquenta, no Brasil, só aqui entre eu, Fabinho,
são quatro, e numa cidade onde tem uma creche em que cabem 43 crianças, essa creche para 320
crianças seria muito bem-vinda para melhorarmos a nossa educação, cuidem disso, Vossas
Excelências nos ajudarão muito. Então, fizemos muito na educação em cima do discurso e ouvindo,
hoje, o conselho do professor Sebastian.
Agora, eu tenho muito medo de uma coisa e vou alertá-los... Ele falou outra coisa
importante, falou em qualidade, e eu tenho medo de o professor perder o discurso: piso em dia,
escolas reformadas, quadra para o aluno estudar, a merenda – não sou eu, viu, Fabinho! É uma
escola que diz que sou a melhor merenda do médio norte - e aí como é que fica o nosso professor,
tem que tomar cuidado, tem que tomar cuidado.
O que é que eu fiz? Eu apliquei uma prova nos alunos, logo que eu iniciei o meu
mandato. Nossa! Foi um pandemônio em Denise. Eles ficaram loucos, mas eu precisava saber como
é que estava o meu aluno, Sebastian, como é que estava o ensino do meu aluno.
Apliquei uma prova: “Nossa, ele vai divulgar, ele vai acabar...” Não, eu precisava
saber, porque quando eu fosse falar com o professor, ele estava sabendo...
Era aquele negócio do rato e do gato, ele sabe quem sou eu, e eu sei quem é ele.
Preocupei-me quando eu vi o aluno do 7º ano colocando sapo como mamífero e
cobra como anfíbio, não ligar pontinho... Eu falei: tem alguma coisa errada. E nós temos que ver até
onde vai a responsabilidade nos processos.
Outra coisa que eu bato, e bato duro – e está aqui o pessoal lá de Denise – nós
precisamos, Sebastian - você com toda a sua sapiência, se esqueceu de falar disso -, envolver a
família na escola.
Nós temos que parar com aquele problema do pai: “Ufa! Graças a Deus, vou ficar
livre desse demônio, pelo menos por quatro horas”. E o professor: “Ufa! Graças a Deus, terminou a
aula e esse demônio vai embora para a casa dele”. É um problema nosso! Esse demônio é um
problema nosso, e nós temos que cuidar desse demônio. De que jeito? Com dedicação, cada um
assumindo o seu papel e melhorando a educação. Aí sim, a família tem que estar na escola – eu
tenho brigado por isso, e brigado duro.
Eu dou presentinho, eu faço sorteio: Ah! Dia das Mães, presente... Eu nunca vi um
povo que gosta de ganhar presente como esse povo de Denise. Aí, vai todo mundo para ganhar
presentinho. Portanto, eu peço, pelo amor de Deus, acompanhem os seus filhos; pelo amor de Nossa
Senhora Aparecida, venham para dentro da escola, acompanhem, peguem o livro do seu filho, vejam
o que ele fez hoje! É um meio.
Se vocês estão de frente para um “cara” que é contra a tal escola ciclada, esse cara
sou eu. Nossa!... (PALMAS) Esse cara sou eu! Eu não sei se é porque eu sou da moda antiga.
Observando a Professora falar aqui, a escola ciclada parece ser a melhor coisa do mundo, mas faltou
informar o povo do que é a escola ciclada. O aluno não sabe; o professor faz de conta que não sabe;
a mãe, então: é de comer? Nem sabe o que é isso... (RISOS)... Ninguém! Então, é complicado.
Eu sou da moda antiga, eu sou daquela época em que tinha: 1º ano A, 1º ano B, 1º
ano C; 2º ano, 3º ano, 4º ano, admissão; ginásio; 1ª série, 2ª série, 3ª série e 4ª série. Aí vinha: 1º
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ano, 2º ano e 3º ano. Então, você estava preparado para o vestibular; e eu com seis anos de idade
sabia ler e escrever.
Hoje, eu tive que assinar um pacto em Denise, obrigando o aluno a ser alfabetizado
aos oito anos de idade, como se isso fosse obrigatoriedade. Não, gente! Isso é uma necessidade. E o
pacto pela educação só tem obrigação: “O Prefeito tem que assinar o pacto, que todos os alunos aos
oito anos de idade serão alfabetizados”. O que é isso? Isso é obrigação, gente!
É a mesma coisa que falar para o Deputado Wilson Santos se candidatar ao cargo
de Deputado e não vir aqui em Denise e em Tangará da Serra pedir voto. Não vai ser Deputado
nunca! Ser alfabetizado aos oito anos é necessidade, não precisa criar um pacto, é um compromisso.
Lógico que quando o cara se propõe a ser professor e você se propõe a ser aluno, é
o mínimo que se pode ter necessidade. Não, lá nós fizemos um pacto, e tem mais, fizemos a festa um
ano depois do pacto, tivemos que fazer a festa. Mas se é para melhorar, vamos fazer a festa, vamos
assinar o pacto, vamos tudo.
Eu vou dizer uma coisa para vocês: a única coisa que ainda fazia o aluno levar,
Fabinho, a educação a sério, era a tal da prova, pelo menos para dar uma pegadinha no livro. Meu
amigo, se não tem prova...
Esse negócio de: “Não, ascensão não quer dizer...” “Não sei mais o quê...” As
palavras da professora aqui - não estou criticando a senhora, não, professora, é a ideologia do
negócio. Mas o que o aluno entendeu? Se for o contrário, vocês me falam: “Se eu estudar, eu passo;
se eu não estudar, também; então, até logo e dane-se”.
Eu sou chato... Eu parei em frente de um ônibus, Deputado Wilson Santos, que
vem de um assentamento, com 18 crianças - e é caro o ônibus, estão querendo dar 1,95 por
quilômetro para nós, Fabinho, e nós gastamos 3,10 por quilômetro, Vossa Excelência sabe disso...
Eu parei em frente à porta do ônibus – que é caro, são 45 quilômetros –, e sabe quantos alunos
desceram deste ônibus e entraram para a sala de aula? E o Prefeito contando, sou chato, chuta aí,
Deputado Wilson Santos! Somente um. Não foi a metade, foi um, os demais foram todos para a rua,
um foi jogar bola, o outro foi tomar cachaça e o outro foi jogar sinuca.
Aí, terminou a hora das aulas, todo mundo voltou com o livrinho debaixo do
braço, sem uma linha escrita no caderno. Gente, eles não foram à escola.
O que eu fiz? Fundei o 2º grau, lá no meio do mato. Estão para me matar, ou seja,
cortei a mamata, estão para me matar: “Esse Prefeito desgraçado, esse miserável”.
Eu estou preocupado com aquilo que o Vereador Sebastian Ramos falou: não
quero saber se é ciclado, se é seriado, eu quero escola de qualidade. É isso que eu quero, eu me
propus, lá, a isso; é isso que eu preciso que seja feito.
Agora, numa escola onde não tem a obrigatoriedade... E se pelo menos tem uma
avaliação, num país como este, onde está todo mundo fazendo de conta, fica difícil escola de
qualidade.
Muito Obrigado.
Desculpem-me se me excedi. (PALMAS)
Vou ter que ir embora para cuidar de lá, porque, hoje, é o primeiro dia de serviço, é
difícil!
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Com a palavra, a Srª Francisca Alda
de Lima.
A SRª FRANCISCA ALDA DE LIMA – Bom dia a todos, bom dia à Mesa.
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Eu sou a Professora Francisca, presidente do SINTEP, subsede de Tangará da
Serra, estou na educação de Tangará da Serra há trinta e um anos e como cidadã desde sempre.
Então, falar de escola ciclada para nós é de extrema importância.
A minha preocupação maior é quando se trata da questão da repetência, parece-me
que tem uma ansiedade muito grande em reprovar; e reprovar para quê? Vai se fazer o que, depois
que reprovar o aluno? Porque durante toda a minha vida eu vi reprovar, reprovar, reprovar, e nada
estava sendo feito para recuperar esse estudante. Então, essa ansiedade em reprovar, nós precisamos
avaliar melhor.
Aqui, também, enquanto profissionais da educação, falando de escola ciclada, nós
temos que respeitar as diferenças. Existem as diferenças dentro da escola para ser respeitada; temos
as crianças da educação especial, dentro da escola também, então, não podemos generalizar.
Nós precisamos ver o foco de tudo isso; estamos tratando a escola ciclada como
vilã, mas será mesmo que o problema é a escola ciclada?
Quando nós, profissionais da educação, somos colocados dentro de uma sala de
aula com 35 a 40 crianças, de oito a nove anos, sem uma climatização; quando 200 a 300 alunos
estão sentados no chão para fazer a refeição; quando 50% dos profissionais da educação não
passaram por um concurso público, porque esse concurso público, também, não está sendo ofertado
e não está sendo avaliado com a importância que deveria para garantir a qualidade.
Sem eximir a responsabilidade das redes, tratando das duas redes, muitos dos
nossos profissionais não têm a hora-atividade para fazer o planejamento, para corrigir a prova,
porque precisamos aplicar prova. Posso ver, como professora mais ou menos antiga, que a avaliação,
a prova ainda se faz necessária; ninguém disse que não pode dar prova, e se disse, também, não está
dentro da sala de aula e não sabe o que é necessário; quem está dentro da sala de aula com alunos é
que sabe o que precisa ser feito; o que ser avaliado etc.
Nós precisamos investir em educação e ver que o único vilão dessa história não é a
escola ciclada, precisamos observar e ir ao chão da escola, receber as visitas dos Deputados, dos
Vereadores e dos Prefeitos na escola.
Para falar de Tangará da Serra, nós temos estudantes na plateia, para nós falta até o
livro didático, que é o mínimo que se pode oferecer para uma criança dentro da escola.
Eu estava numa sala de aula, comecei com 41 alunos de quinto ano, tinha dez
livros didáticos; dez de geografia e doze de história... Então, culpar uma escola, uma forma de
ensino, que não merece o mínimo... Precisamos mudar o foco, com certeza o foco não é apenas a
escola ciclada.
Nossa valorização profissional, concurso público, livro didático, material de
qualidade. E não é comprar joguinhos de EVA (etil vinil acetato) e encher os armários da escola
desses joguinhos, que não respondem às nossas necessidades e às nossas expectativas, porque
estamos tendo necessidade.
Nós, enquanto profissionais da educação, devemos ser consultados para ver que
material realmente atende a necessidade daquela clientela, daqueles estudantes, que estão lá no
universo da escola, passando por todas as necessidades, que são propostas a eles.
Devemos debater, sim, como disse o nosso companheiro, professor Sebastian,
educação de qualidade. E para defender a escola ciclada da forma que ela está posta, precisa ser
bastante avaliada, porque são muitos atores envolvidos na educação, para garantir essa qualidade.
Nós precisamos, realmente, debater, mas onde está o problema? Onde estão, no
mínimo, os nossos livros didáticos? Onde está a merenda de qualidade? Onde está a valorização do
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profissional de educação? Onde está a hora-atividade para o professor preparar suas aulas? Onde
está nossa quadra coberta?
É isso, companheiro, que eu gostaria de contribuir e dizer: é de extrema
importância a audiência, mas que não fique apenas no discurso, que essas audiências, realmente, se
transformem em ações.
Nós ouvimos, enquanto educadores, muitos discursos, mas as ações acontecem
lentamente, muito lentamente.
As nossas creches estão paradas, as reformas não estão acontecendo, temos que
colocar o aluno do bairro distante para vir para o centro da cidade, porque lá no bairro, onde estão
sendo construídas, três salas levarão três anos para serem construídas, e nós, de repente, fazemos
uma audiência para bater na escola ciclada, vamos bater onde nós devemos realmente, manter o foco
dessa discussão e realinhar ações que resolvam a nossa situação, enquanto cidadãos e profissionais
da educação.
Muito obrigada a todos! Boa Audiência Pública. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Com a palavra, a Sra. Maria
Elizabete, Coordenadora do Mestrado da UNEMAT e depois as Senhoras Sônia Maria Santos Filho
e Eunice Maria, que são as próximas inscritas.
A SRª MARIA ELIZABETE – Bom dia a todos os educadores aqui presentes.
Eu sou da UNEMAT, campus de Barra do Bugres. Vejo aqui vários ex-alunos de
matemática.
Eu concordo em gênero, número e grau em relação às condições das escolas e nem
convido Deputado nenhum para visitá-las, olhem para o acondicionamento deste espaço físico, a
quantidade de ares-condicionados – eu vejo vocês aqui na frente se abanando... A quantidade de
ares-condicionados para este espaço nos diz tudo: falta planejamento e seriedade.
Eu estava lembrando, eu não sei se a professora, colega da SEDUC, de velhos
tempos, se lembra, mas está fazendo – se eu não me engano – dezoito anos da implantação da escola
ciclada, hoje denominada Ciclos de Formação Humana.
Desculpem-me a seriedade, para muitos, dezoito anos de brincadeira, de falta de
seriedade, de pegar o boi pelo chifre; porque muitos falam assim: eu conseguia fazer o aluno ler e
escrever, eu não consigo mais. E não é só falta do professor, os pais lavam as mãos, a comunidade
lava as mãos, relatos de coordenadores, aos montes, e de alguns diretores - porque com esses eu
tenho menos contato - de que falta o acompanhamento, limites.
Nós professores da escola, às vezes, não damos mais limites aos alunos. Vivi isso,
aqui em Tangará da Serra, na Escola Emanuel Pinheiro em 2011, acompanhada por vários
acadêmicos, quando uma aluna me enfrentou e falou assim: “Como é que é, professora?”
Eu coloquei-a no lugar e fiz uma atividade naquele dia, que depois virou um
Trabalho de Conclusão de Curso de Matemática (TCC), que eu nem me lembro de quem mais,
porque, às vezes, o aluno precisa ver no professor a autoridade de quem sabe mais, de quem tem
mais experiência e de quem sabe o que quer, porque eu avalio que tem muitos professores que
precisam repensar qual é o seu papel na escola, qual é o meu papel enquanto educador.
Eu acredito na transformação que a educação fez em mim, enquanto sujeito
cidadão, que vem lá do interior do Rio Grande do Sul. Eu tenho 32 anos de magistério, falo que vou
me aposentar este ano, ainda, se Deus quiser! Mas eu continuo sonhando com uma educação de
qualidade, uma educação cidadã, que torne esse jovem, esse adolescente, essa criança que sonha, que
sabe muito, que usa tecnologia, de uma forma... Mas e na escola, gente? Que uso nós fazemos disso?
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Os laboratórios de informática aqui desta cidade, como de Nova Olímpia, de
Nortelândia, de Barra do Bugres, de Rondonópolis, de Cáceres, de Sinop – em todos esses
municípios eu atuei num projeto chamado Observatório da Educação, nós trabalhamos em 22
escolas, e eu digo para vocês: estão criando telha de aranha, mofo, se tornando obsoletos, os
professores não sabem usar ou não querem usar. Dá mais trabalho, desafia mais, nos coloca em
choque, porque eu preciso dizer que eu também não sei tudo, que eu aprendo com o outro.
Desculpem-me se eu extrapolei, mas não me peçam opinião sobre continuar ou não
o Ciclo de Formação Humana.
Eu sou uma pessoa engajada na luta por uma educação de qualidade, trabalhamos
aqui sobre o IDEB, percebi que... Inclusive coordenadores sequer sabem o que é o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica, o nosso IDEB. O que é Prova Brasil? O que os índices
refletem? Como nós alteramos os índices?
Concordo em gênero, número e grau quando o Deputado Wilson Santos fala das
águas que nós temos, eu nem digo das águas, a riqueza que nosso Estado tem, só enquanto setor
primário. Cadê o secundário? Cadê o terciário? Eu sempre apresentei isso nos projetos que faço nas
CAPS, tinha um sucesso.
Estou aqui, também, para apresentar a Vossas Excelências, como um esforço de
um grupo de professores da UNEMAT de Barra do Bugres, Tangará da Serra, Sinop e Cáceres, a
proposta de um mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, que abrirá as inscrições - era para ter
aberto ontem, mas a lentidão das coisas, ainda não abriu, deve abrir na semana que vem - para nove
professores fazerem um mestrado em Ensino de Ciências e Matemática.
Isso não é solução, pessoal, é apenas mais uma tentativa de aprimoramento de
alguns professores, para ajudar a ser fermento nessa massa, que nós precisamos, sim, arregaçar as
mangas, vestir a camisa e fazer mudar, porque nós somos inteligentes, nós somos um povo
extremamente diverso e capaz.
Não dá para largar em nome de desculpa de Ciclo de Formação Humana de “não
sei o quê”, não fazer com que este Estado, com os educadores que tem, se transforme numa riqueza
cultural e diversa que nós temos.
Quem quiser me procure, a clientela mais indicada são os professores de
matemática, física, química, biologia e pedagogia.
Muito obrigada. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Com a palavra, a Srª Sônia Maria
Santos.
A SRª SÔNIA MARIA SANTOS – Bom dia, primeiro eu quero agradecer ao
Deputado Wilson Santos pela oportunidade de nos ouvir.
Ouvimos muito o Governo, os representantes e agora queremos ser ouvidos. É
muito bonito ouvir Vossas Excelências, mas nós também queremos ser ouvidos, acho que agora é
nossa vez, Vossas Excelências poderiam falar em outro momento.
Vossa Excelência falou muito bonito, gostei da sua colocação, mas desnecessária,
porque nós já sabemos o que pensam.
Por que já sabemos? Por causa disto aqui, todos conhecem este livro, todo
professor conhece este livro, isto aqui é livro de cabeceira, Deputado Wilson Santos, de todos os
funcionários da escola, mas para o governo virou calço de pé de mesa, nunca foi cumprindo o que
está neste livro, por isso a escola ciclada não funciona. (PALMAS) Porque o Governo implantou o
sistema, mas não tem condições de bancar o custo para esse sistema funcionar, o ciclo não é ruim, o
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ciclo não teve o que precisava: verba, dinheiro; esse dinheiro não chegou na escola, nunca! E nem
espaço físico foi adequado até hoje.
Obrigado por este tablet, temos trinta professores e recebemos cinco tablets no
sorteio, nunca funcionou esta porcaria.
Muito obrigada! (PALMAS)
Desculpem-me, porque estou tremendo, eu espero esta oportunidade de ser ouvida
há dezoito anos, é muito tempo para vocês pararem para ouvirem o professor.
O Governo foi descompromissado com a escola ciclada, por isso ela não
funcionou, nós trabalhamos noite e dia, recebemos trinta horas e trabalhamos sessenta, de segunda a
segunda.
O professor é o único profissional que não tem descanso, não tem feriado nem
horário de almoço; ele almoça fazendo planejamento de aula, atendendo e dando reforço para aluno;
nenhum outro profissional faz isso, médico descansa, se o paciente não puder esperar, ele vai
morrer; o aluno não, ele tem atendimento na escola, porque o professor se desgasta para dar o que
ele precisa, mas não é o suficiente, porque nós não vamos recuperar o mundo sozinhos, não!
As nossas salas de recurso, até o ano passado as escolas eram proibidas de
lançarem um número “x” de Plano de Apoio Pedagógico (PPAP), não podia ser usado, era
informação que vinha da SEDUC; então, tínhamos que esconder os números.
“Ah, coitadinho desse aluno, é pobre, não tem nem comida!” Não é problema da
escola, é problema do governo. E eu tenho que levar em conta se esse aluno come; se ele mora com
mãe, com pai ou com a tia; se ele tem acesso à saúde.
Está neste livro que deverá ter a disponibilidade de um médico para atender uma
comunidade com três mil pessoas; mas não tem um psicólogo, não tem um assistente social. Está no
livro que esses profissionais deveriam estar lá, para amparar minha escola, mas nunca consegui, em
dezoito anos, um atendimento psicológico para um aluno com indicação de professor, o professor
não é ninguém, professor não manda em saúde... (PALMAS)
Deveria o meu aluno chegar ao posto de saúde com um encaminhamento, com um
pedido de um professor, para avaliação psicológica, e ele ter acesso, mas ele não tem; a família não
tem.
Quando esse aluno consegue essa assistência, uma vez na semana, na comunidade,
é a vinte quilômetros do centro, e não tem como ele ir, porque é carente, ele vai ter gasto com
ônibus. Por isso, não vai; a família não tem condições de mantê-lo fazendo o tratamento que precisa,
que é o apoio para o professor da sala de recurso, que também não chegou até hoje!
Está neste bendito livro que a cada seis turmas de ciclo - se eu não me engano, na
página sessenta e três... Página sessenta e três: “Para cada seis turmas de ciclo, a escola tem direito a
um professor em sala de recurso”. A minha escola nunca teve isso, infelizmente.
Não adianta pedir, porque nós batemos na burocracia, quem deveria me ouvir, não
sabe do meu problema, foi o que a Srª Graziela me falou: “Se vocês não falarem, nós não vamos
adivinhar!”. Mas como é que eu vou fazê-la me ouvir? Eu consegui o telefone dela e falei, mas ela
não resolve mais o meu problema, passou para outra pessoa que eu não achei até hoje. E já estamos
com quatro meses do ano passado, quinto mês do ano, a minha escola tem quatorze turmas de ciclo e
nenhum professor na sala de recurso, até hoje o sistema não liberou, eu não posso contratar.
Quem é que dá assistência para esse aluno? Os professores, porque eles têm
obrigação de recuperar esse aluno. Ele é obrigado a recuperar de graça, trabalhar de graça para o
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Governo, para a sociedade; fazemos o serviço que o Governo tinha que fazer e não eu, mas eu tenho
dó da população, da sociedade, então eu tenho que ajudar.
É isso que o professor pensa, eu vejo a dor dele, porque estou do lado; o Governo
não está nem aí para mim, ele nem me conhece, se me conhecesse, eu já estaria desempregada, não
seria mais contratada como professora.
Passei no último concurso público em 16º lugar, eram cinco aprovados e dez
classificados, um dos candidatos, eu não sei o porquê, reprovou, e nunca corrigiram a minha prova;
eu estou lá, classificada, dependendo... E nunca... Passou, esqueceram de mim...
O outro concurso que era para ter saído com dois anos, já tem quantos? Foi em
2006, enrolou até 2009, e já estamos em 2015. Tem quantos anos que não tem concurso público no
Estado de Mato Grosso?... (PAUSA)... Mas é porque enrolou, o edital saiu em 2006.
Demorou quatro anos para sair o concurso: renova, repete, cancela, faz de novo, faz
prova, cancela prova e faz de novo. O professor que se vire. Se o professor não tiver condições de
gastar R$ 30,00 para vir a Tangará da Serra, fazer a prova, ele não faz.
Eu conheço muitos que perderam a prova, fizeram duas vezes. O Governo não
devolveu o nosso dinheiro, o que gastamos, ficou perdido, infelizmente.
Todas as escolas têm direito a ter uma sala multifuncional, pois todas as escolas
têm alunos com problemas. Depois que as escolas passaram a receber os alunos excepcionais –
porque eu não sou contra eles serem recebidos nas escolas. Trabalhei entre quatro a cinco anos nas
APAEs, adoro os serviços das APAEs, e acho que não devem acabar – eu não sou contra eles virem
para as nossas escolas, pelo contrário, é bom para o meu aluno, que é dito normal, conhecer a
realidade.
Eu só não estou conseguindo diferenciar quem é normal ali dentro mais, está
complicado, está bem difícil, e a sala multifuncional também não vem.
Primeiro, nós tínhamos o espaço, agora somos obrigados a cedê-lo, porque a escola
é obrigada a arrumar a sala de aula se tiver alunos, pois o Governo não quer saber se tem espaço
físico, mas você é obrigada a arrumar a sala. A coordenadora tem que se virar! Então, usamos a sala
multifuncional como sala de aula em um período, porque houve a necessidade. Uma sala com mais
de quarenta alunos, e mais cinco alunos especiais, não tem como.
Um TAE – era o antigo ADI, agora é TAE –, que vai dar atendimento a este aluno
especial, segundo a lei é um TAE para cada aluno especial. E segundo a SEDUC é um para cada
cinco salas. Dois para uma turma de vinte alunos, se tiverem dois alunos especiais, lá, em situação
grave. Então eu pergunto: qual é a idade mínima para a minha escola receber o aluno especial?
A nossa reforma está parada há anos, nunca concluíram o banheiro dela. Eu tenho
aluno que usa fraldas, aluno que precisa de banho, que tem que ser trocado e não tem trocador; não
tem uma mesinha em que caiba esse aluno de onze anos, não tem banheiro adequado. O pátio dessa
escola está todo inadequado, e um TAE para cuidar de cinco alunos especiais, o coitado fica louco.
Temos um aluno que operou recentemente e corre mais do que um sacizinho, o
TAE não pode deixá-lo cair, tem que cuidar; o outro fica lá e não faz nada sozinho, e o TAE tem que
ficar do lado dele para cuidar; a outra não pode passar nervoso, porque acabou de fazer cirurgia do
coração, tem problema neurológico e sofre do coração. Se ela passar nervoso e alguém tirá-la do
sério, ela desmaia, o TAE não pode sair do lado dela também. Quem é que vai ser cuidado?
Eu deixo o meu serviço e vou cuidar de um; a Sra. Edivânia deixa o serviço dela e
vai cuidar de outro; o Gilmar sai da função dele, que é bibliotecário – e é pau para toda obra na
escola, ajuda todo mundo –, e quem é que vai cuidar do outro que sobrou? Sobrou um ainda, e aí?
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Eu tenho aluno que faz coco e passa na parede. Como é que o TAE vai cuidar dele
junto com os outros? Não tem lugar para dar banho, mora com a avó. Coitadinho dele, não é? Só que
o problema não é meu, eu estou segurando problema dos outros. Alguém tem que ver isso, eu não
vou resolver o problema dos cinco.
O Governo tem obrigação de ver isso, é por isso que o Governo está lá, assistência
social, médico, atendimento médico especializado, eu tenho que trabalhar a parte pedagógica. Tirar
direito de família de educar filho e jogar nas costas de professor? Quem é o culpado? Sou eu? Vocês
são culpados do que a família não pode fazer? Eu não sou, se vocês quiserem pegar para vocês o
problema, peguem. Eu não, isso é obrigação da família. Mas o Governo faz lei afirmando que a
família não pode educar... Eu queria ver se eles tivessem cinco, seis, dez filhos... Se eles iam bater
ou não, porque é muito fácil ter um filho e só conversar.
Eu quero ver, Deputado, Vossa Excelência, ter dez filhos em volta de uma mesa
comendo arroz, e educar os dez sem bater, não perder a paciência nunca com eles. Não ser preso por
isso.
Eu quero ver o dia que Vossa Excelência falar alto com seu filho, o vizinho
denunciá-lo, e Vossa Excelência ter que responder a um processo, porque o educou da forma que
achou melhor, preparando-o para a sociedade, e depois ter que responder por isso criminalmente.
O Governo não sabe as condições que aquela família está vivendo, da situação
dela, e a família é obrigada a dar conta de tudo.
Nós não denunciamos, porque sabemos que quem será responsabilizado é a
família, não é o professor, não é a criança e não é o Governo. Eu queria muito que fosse o Governo,
porque o problema é dele. Problema social é do Governo, não é meu, eu não sou presidente, não sou
governadora e não sou deputada.
As autoridades fazem leis para amparar quem? Porque tem lei que diz que...
Aconteceu na minha escola, escola do campo, a trinta metros da BR, eu não tenho
direito a um agente de pátio; este ano, a escola foi invadida mais de três vezes. Tem BO registrado, é
pai que entrou armado, é esquizofrênico que pulou o muro, colocando em risco a vida de crianças; o
Estado não pode dar um agente de pátio, porque minha escola não está numa área de risco. Eu queria
saber o que é área de risco para o Governo, para o Estado?
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS ) – Sônia, você tem mais dois minutos.
A SRª SÔNIA MARIA SANTOS – É, para mim eles estipulam um tempinho,
desse tamanhozinho. Dezoito anos, e eu tenho que falar em cinco minutos...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS ) - Sonia, você já falou doze minutos e
vai ter mais dois, porque tem outras “Sônias” também que querem falar.
A SRª SÔNIA MARIA SANTOS – Vamos falar dos nossos laboratórios, a minha
escola tem um laboratório – a de vocês, muitas têm laboratórios de informática –, vinte
computadores, nenhum funciona, são pré-históricos, aqueles computadores têm vinte, quinze anos,
não tem recuperação.
O Governo não manda, todo ano nós pedimos, nunca chega à pessoa certa, porque
se manda para um, tem que mandar para outro: “Ah! Tem que mandar o ofício”, “Tem que ter o
parecer do conselho”; o Gilmar faz. “Tem que ter um parecer da assessoria”, a Marlene ou a Jucélia
fazem. Na semana seguinte, ligamos para eles...
Esta aí, a minha sala de multimeios: “Ah, mas eu não achei o seu ofício, manda de
novo”. Eu informo: mas eu mandei. “Ah, mande de novo”. Quatro meses, até agora não chegou a
resposta do ofício, isso porque ele vai via malote, já encaminhamos duas vezes, e também vai via e-
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mail; na hora que eles nos orientam a enviar, nós o enviamos novamente, não sei para onde está
indo, deve ter algum desvio, um furo no meio do caminho.
Na mesma situação andam os laboratórios de química e física, o governo não tem
dinheiro para gastar com os nossos alunos, eu tenho que me virar com material reciclado para dar
aula de física e química, porque o Governo não me dá laboratório, ele não tem dinheiro, coitadinho.
Quero saber para onde vai toda arrecadação do Estado, porque para a escola, para a
educação, não está indo; ou, se está, está caindo por algum buraco no meio do caminho, pois na
minha escola não chegou o laboratório até hoje.
A SEDUC nos deu o seguinte recado: não tem verba, não tem dinheiro para nada,
não comprem nenhum computador este ano. De novo, porque eu ouço isso há dezoito anos: não tem
dinheiro, não tem verba para isso; eu tenho que me virar, o meu aluno entende de tecnologia mais do
que eu, e ele vai conhecer por muitos anos, porque eu passo o tempo inteiro procurando livro velho
para dar aula, pesquisando na minha casa e amparando a escola; o aluno não tem acesso.
Como é que eu vou garantir qualidade, se o meu aluno não tem acesso ao material
de qualidade? Não tem como, eu não posso levar quase quinhentos alunos para a minha casa para
usar o meu computador.
Se algum Deputado quiser, disponibilize uma casa que eu levo! Mande um ônibus,
por favor, porque a minha escola trabalha com projeto e o meu aluno tem que conhecer todos esses
afluentes que Vossa Excelência falou, essas nascentes desses rios lindos. Não é, Deputado?
Só que o meu aluno não pode ir lá para conhecer, só conhece na teoria, porque
quando chega na hora da prática, o Governo não tem dinheiro para pagar ônibus, para ele conhecer,
não.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Sônia, por favor, vamos encerrar.
A SRª SÔNIA MARIA SANTOS - Muito obrigada...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - A senhora falou dezesseis minutos...
A SRª SÔNIA MARIA SANTOS - Muito obrigada! E eu espero que agora vocês
nos ouçam, porque somos nós, enquanto professores, que sabemos dos problemas. Deputados e
Vereadores não sabem. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado!
Com a palavra, a Sra. Eunice Maria, Assessora Pedagógica da SEDUC, e depois o
Sr. João Costa Longa Filho, que é o próximo inscrito. Nós temos doze inscritos.
A SRª EUNICE MARIA – Bom dia a todos!
Eu já ouvi muito do que eu tinha a dizer nas colocações anteriores.
Quando o Sebastian fala da qualidade da educação acima de tudo, seja por ciclo,
seja por série, o nosso foco deve ser realmente a qualidade. Então, não seria desmerecendo a
proposta da Escola Organizada por Ciclo e jogar tudo fora, porque eu vejo que em tempos de
inclusão nós não podemos mais excluir os alunos da escola, através da reprovação, como a Francisca
do SINTEP falou aqui. O que faremos com o reprovado? Qual é o objetivo que você tem em
reprovar? Quando eu era diretora, eu sempre perguntava isso para os meus professores, para a nossa
equipe.
Eu vejo na fala da professora que terminou agora, são dezoito anos de angústia, eu
reconheço que foi um momento de desabafo, mas nós também temos... Inclusive, eu estou na
educação desde 89 e fui me efetivar só em 2000, porque de 90 eu perdi o concurso e aí só 2000.
Então, como assessora pedagógica, há quatro anos na assessoria de Tangará da Serra, eu vejo
também algumas falhas.
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Quero deixar claro que não sou contra as propostas da Escola Organizada por
Ciclos, porém acho que tem que ser revistas, existem muitas falhas, e essas falhas precisam ser
corrigidas. Como eu disse a princípio, o aluno não pode ser jogado fora, no lixo.
Na fala do Prefeito Fábio, quando diz que o município reprova o aluno e ele vai
para o Estado, enturma e volta para o Município. Isso é vergonhoso, gente!
Muitos pais procuram a assessoria e dizem que a escola municipal mandou vir aqui,
disseram que vocês recebem o meu filho, porque lá ele não tem espaço.
É preciso um diálogo coletivo, porque como diz aquele provérbio africano, é
preciso toda uma aldeia para educar uma criança. Então, é preciso que a família, a sociedade, os
políticos, os Governos, a escola, o professor, quem está na administração da escola, façam o seu
papel.
A assessoria tem um nome de pedagógica, mas nós desempenhamos,
essencialmente, de acordo com a LC nº 206, atividades administrativas, não sobra espaço para
acompanhar o pedagógico nas escolas e, às vezes, nos é cobrado.
Eu sei que este Governo que entrou agora já está preocupado com esta situação e
pretende apresentar uma proposta neste sentido, mas o que quero dizer é que hoje... Vocês que estão
nas escolas vão dizer se eu estou falando bobeira ou não.
Quem é o coordenador pedagógico? É um professor efetivo, 40 horas, que falam
para ele que vai ganhar dedicação exclusiva. Na verdade, é só um aumento de carga horária, porque
ele trabalhava 30, aumenta mais 10 horas e só. Não tem dedicação exclusiva, então, o efetivo não
quer ir para a coordenação. A coordenação pedagógica é a mola mestra da escola, por ela passar todo
o processo de ensino e de aprendizagem. Então, há mil atribuições para o coordenador pedagógico.
Tudo é cobrado desse coordenador; quem entrou, ficou um ano.
Eu tive um caso, no ano passado, de uma coordenadora excelente de uma escola do
campo, que o marido falou: “Ou você continua coordenadora ou vamos nos separar”. É claro que ela
ficou com o marido e largou a escola. E quem pegou a coordenação da escola? Quem teve coragem?
Aquele contratado que vai para lá, para trabalhar 30 horas, e são despejadas em cima dele todas
aquelas atribuições da LC nº 206, e algumas outras da portaria também.
O coitado não sabe; no fim ele sai estressado, acabado e doente. A mesma coisa
acontece com os diretores, é feito o processo de escolha de diretores. Eu quero lembrar, inclusive,
que no processo seletivo que teve no final do ano, para o cargo de assessor, eu fiz este
questionamento na banca pela qual eu passei: por que pedagógico, se eu vou cumprir
administrativamente?
Outra coisa que eu estou colocando aqui como uma indicação de assessor: para ser
diretor de escola não basta ter vontade, o coitado está lá na sala de aula, trabalhando a disciplina
dele, aí falam que qualquer um pode ser, porque a gestão é democrática, e ele quer melhorar a escola
dele, porque vê tantos problemas e vai para a direção.
Para isso, ele tem que entender de legislação, relacionamento pessoal, de gestão,
disso e daquilo, o coitado quase se mata, então, alguns vêm e falam: “Não quero mais!”, e entrega.
Ele não teve exigência de um curso de gestão a priori como pré-requisito, ele não teve, e este deve
ser dado de graça.
Ele tem que ter, por exemplo... Na última eleição... Porque este ano vai ter eleição
de novo. Pergunto aqui aos diretores presentes: quem fez curso de gestão escolar? Quem conhece as
cinco dimensões da gestão e as aplica na prática? Ninguém. Então, tem aqueles mais antigos, mas
tem os novatos. Então, o que nós temos? Gestores intimidados por uma equipe antiga, gestores que
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não conhecem se eles vão defender o direito da categoria, se ele é SINTEP ou se é gestão; se durante
uma greve, ele entra em greve ou tenta conversar, ele não sabe nada.
O financeiro então, você entra no GPO, o que tem de... Agora é notificação
extrajudicial.
O coitado quer fazer, mas o sistema está travado. Então, o que eu solicito, para ser
mais breve, Deputado... Inclusive eu quero dizer que a sua atitude é muito louvável, porque a base
tem que ser ouvida, realmente, a professora tem razão; mas, professora, tem mais pessoas, nós
sabemos que uma oportunidade desta raramente vai aparecer, é por isso que nós precisamos falar.
Quem trabalha com gestores, precisa de curso de capacitação. Nós temos, hoje, no
Estado, 60% de professores contratados, é preciso fazer concursos, nós temos um número enorme de
pessoas se aposentando. Esse profissional que está na escola recebe o novato, mas o novato, muitas
vezes, não foi preparado para trabalhar o ciclo, lá na universidade; aí, ele vem com aquela ideia que
o ciclo não presta, porque não reprova. O pai vem com essa ideia, se deixa levar por quem está na
escola e também assume isso; não presta, porque não reprova; mas nós sabemos que o nosso foco é
na aprendizagem e não na reprovação.
É preciso, agora que vai ter concursos, abraçar quem está chegando à escola;
oferecer cursos para que essas pessoas entendam o que é ciclo, porque eu, enquanto não fui para o
CEFAPRO, também era contra, aí eu tive que entender o que era o ciclo e passei a admirá-lo, a sua
proposta original, mas assim, com todos seus mecanismos em funcionamento.
Não adianta querer uma feijoada - eu sempre cito este exemplo -, dar só feijão e
querer que saia gostosa, porque aí não dá. Portanto, é preciso que se cumpra a proposta na íntegra.
Eu vejo que é preciso que tenha mais formação. Olhem o CEFAPRO, como
formadora e coordenadora de formação que já fui, o CEFAPRO vê o sofrimento da escola e não
consegue fazer nada, porque ninguém quer ir para o CEFAPRO. Quem quer ser prejudicado na
carreira? Quem quer perder aposentadoria especial? Eu devia estar aposentada, mas passei pelo
CEFAPRO, estou aqui e vou até 2017 ainda, porque tenho tempo de carteira. Então, é preciso rever
os cargos de assessor, a carreira de assessores, a carreira do coordenador pedagógico, as atribuições
de cada um, o que realmente é o trabalho pedagógico e o que não é. Então, é isso que coloco aqui,
gente, como contribuição e eu acredito que... Gostaria de ser respaldada pela categoria, em nos dizer
se realmente o que estou falando tem fundamento ou estou falando besteira aqui. Quero perguntar:
vocês concordam?... (A PLATEIA RESPONDE COM APLAUSOS)
A SRª EUNICE MARIA - Muito obrigada!
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, professora Eunice.
Com a palavra, o Sr. João Costa Longa Filho, que também é professor e nosso
colega; após a fala do Sr. João, nós vamos passar a palavra para a professora Alvarina, para que ela
possa responder aos questionamentos.
O SR. JOÃO COSTA LONGA FILHO - Bom dia a todos.
Eu sou João Costa Longa Filho, professor da rede estadual de ensino, da área de
matemática, e servidor da Secretaria Municipal de Educação, da qual sou professor, mas trabalho na
Secretaria junto com a gestão.
É necessário, Deputados, nós fazermos uma reflexão, muito daquilo que iria ser
colocado, já foi debatido. Vou procurar ser breve para não ser redundante dentro do processo.
Não se faz educação via decreto, então, acho que Vossas Excelências vieram ouvir
sobre a escola ciclada, mas ouviram uma tempestade de ideias e situações; tenho certeza de que nas
outras cidades deve ter sido da mesma forma.
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Quando Vossas Excelências retornarem para a Assembleia Legislativa, para
fazerem um relatório, penso que irão muito além daquilo que está estruturado, ou não. Portanto,
como já foi dito várias vezes, a estrutura em si montada é uma situação menor dentro do processo, se
nós vamos trabalhar com o ciclo de formação, se vai mudar para escola seriada, ou para outra
modalidade, isso é de menos, é preciso resgatar toda essa angústia que os senhores viram e verificar
a veracidade e a possibilidade, se estão cumprindo e melhorando toda essa organização da educação.
O Estado fez, até hoje, aquilo que era mais fácil ou, de repente, aquilo que foi
possível, penso que as intenções, lá atrás, foram muito boas. Para nós mexermos nessa proposta que
está agora, nós precisamos, também, pensar um pouco além do Estado de Mato Grosso, precisamos
ir para o Ministério da Educação. De repente, sugerir o seu processo de avaliação dos indicadores.
Quando a escola ciclada veio, veio numa série de propostas muito bonitas, como a
professora colocou, mas falando em gestão, nós tínhamos um problema grave que era a reprovação,
a repetência, nós tínhamos um índice de aprovação baixo, e viu-se nessa proposta do ciclo de
formação a possibilidade de resolver isso. Se implantarmos o ciclo, nós vamos diminuir esse índice
de reprovação, que vai ser uma grande coisa para o nosso sistema, nós vamos ter uma aprovação, lá
em cima, com isso conteremos a evasão escolar e já mataremos a terceira situação, que é a distorção
idade-série; e isso o Estado fez.
Não dá para negar que isso foi uma grande vantagem para o sistema estadual de
ensino. No município de Tangará da Serra, o nosso sistema de ensino resistiu e não fez essa opção,
nós ainda continuamos trabalhando lá no primeiro ciclo de formação, isento por uma temporada, e
continuamos com o ensino seriado, reprovando.
O resultado disso, também, não tem sido muito diferente, só que quando chegou
em 2009, o Ministério resolveu aplicar a Prova Brasil para testar a proficiência daquilo que estava
sendo feito e isso daí, nós vamos ter que conversar com os nossos gestores maiores para tratarem
dessa questão no Ministério da Educação.
Hoje, se você retroceder dentro desse processo, tirar a escola ciclada e voltar a
subir o índice de reprovação, o índice do abandono e a evasão escolar, comprometerá o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do Estado. E nenhum sistema de ensino, hoje... Teria
que ser muito seguro dentro de um processo, para você admitir que dentro de uma gestão o nosso
IDEB iria recuar.
O governo tem que ser muito corajoso para poder tomar uma atitude como essa.
Então, aquilo que foi conquista dentro do ciclo de formação, tem que ser pensado e tem ser mantido,
não retroceder dentro do processo.
O sistema de ensino de Tangará da Serra tem uma proficiência em português e
matemática um pouco melhor do que a do Estado. Ele não está 100%, não estamos satisfeitos, tem
muita coisa a fazer, mas nós perdemos no nosso IDEB, no município, pela reprovação e pela evasão
causada exatamente pela distorção idade-série. E com os instrumentos legais que foram criados pelo
Estado de Mato Grosso, só foram feitas as coisas mais fáceis até agora; se essas discussões tivessem
acontecido há dez anos e colocado, de fato, o dedo na ferida, ouvido e discutido as políticas
educacionais que solucionassem os processos que eram do aprendizado, hoje, talvez não precisasse
discutir esse fato. Você teria um IDEB forte, coerente, baseado na proficiência.
Nós fizemos aquilo que era mais fácil em termos de instrumento, aprovamos
decretos e resoluções, nós tiramos em forma de gabinete, zeramos a nossa reprovação, colocamos
em 100% a nossa aprovação; conquistamos! Certo? E a proficiência? Agora, não tem mais
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instrumento, porque o IDEB é calculado em cima da proficiência, da evasão, da repetência e da
aprovação. Não tem mais jeito de fazer isso via decreto.
O problema da aprendizagem precisa ser resolvido, eu acho que a luta de vocês,
em construir esse instrumento, é muito maior do que se pensa, não vai ser fácil, porque uma gestão
tem que ser muito corajosa para poder assumir um Governo e falar: “Nós ficamos quatro anos nesse
Governo e o nosso IDEB abaixou”. Não por incompetência da SEDUC ou de qualquer órgão, mas
porque você muda a regra do jogo. Então, a briga de vocês vai ser ampla.
Eu gostaria que vocês levassem essa preocupação para dentro do Governo, para
que vocês fizessem essa análise, porque as coisas não são simples assim – reprovar, não dar
condições para que o aluno participe e que seja incluído. Ela também não é uma coisa legal, fere
direitos. Então, ainda tem uma discussão muito grande pela frente.
Muito obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Com a palavra, a professora Alvarina
de Fátima dos Santos, que dispõe de 10 minutos para responder essas indagações.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS – Excelentes contribuições, e o
que eu fui me apropriando das falas... A Sônia foi fantástica no seu desabafo de 18 anos, e ela não
está sozinha nesse desabafo.
Deu para perceber que, de formas diferentes, o que ficou retratado aqui é para
olharmos para a questão da melhoria da qualidade da estrutura física e pedagógica, porque perpassa
pela qualidade de ensino.
É verdade que muitas escolas receberam as adequações, enquanto melhoria do
aparente, mas com a universalização do ensino da educação básica, nossos espaços ficaram
pequenos, porque a demanda por educação é muito grande. E aí um pedagogo, eu vou pegar lá o
pedagogo da educação infantil, quatro e cinco anos, que é a ação, hoje, do município.
Quantos alunos são possíveis para se ter uma educação de qualidade? Porque, hoje,
eles são alunos, não são mais para receber assistência social. E na legislação... Eu gosto da
legislação, porque ela aponta parâmetros, e nós precisamos fazer mediação quando é possível;
quando não dá, que arranjos são feitos dentro do município na Educação Infantil, porque quatro e
cinco anos, hoje, são obrigatórios, mas de zero a três é direito.
Como estão as estruturas físicas das creches? Aquelas que estão, hoje, participando
do programa do Governo, que estão recebendo a estrutura – que já foram abandonadas em alguns
municípios, estão esquecidas, e precisamos cobrar isso –, elas são padrão para o Brasil todo, mas
você chega em alguns municípios, como é que está essa adequação? Porque na educação infantil,
eles são pequeninhos, onde está a janela da sala de educação infantil? A cadeirinha que eles sentam,
que o pezinho nem alcança no chão e que isso vai ser problema na coluna da criança mais tarde – às
vezes, não é mais tarde, é no presente mesmo.
Quando nós olhamos de quatro a dezessete anos, lá na escola de ensino
fundamental, nós temos a necessidade de adequação das carteiras também. Então, infraestrutura e
recursos pedagógicos parece que têm um ponto em comum, é necessário um olhar, porque se nós
falamos em qualidade, a avaliação é do todo.
E esta Audiência Pública é uma avaliação também. Em 2012 nós tivemos o
CONEC, não foi publicado o material e distribuído, mas há os registros do que os profissionais
discutiram em cada unidade escolar.
Vocês participaram do CONEC, não participaram? Foi uma ação regional. Eu,
como integrante do Conselho, também participei. E onde estão essas falas e aqueles indicadores de
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necessidades de melhoria de infraestrutura, que lá aparece? E da questão da valorização
profissional? Pegando a fala da Sônia, não é da escola, não é do professor, mas é muito mais amplo,
por isso eu disse que é um projeto de sociedade. Então, a qualidade da educação, no chão da escola,
hoje, depende muito de quem está lá; mas também depende muito das ações interinstitucionais,
porque é o olhar de todos para cuidar da educação.
A questão fundamental, que ficou em todas as falas, foi a inclusão, e o projeto de
sala multifuncional é do MEC, é ele que manda instrumentos, e também tem alguns critérios que nós
precisamos rever e até discuti-los com o MEC, porque na resolução do Conselho Estadual, com a
inclusão, as APAEs – de acordo com o que está na resolução hoje, porque na prática não está
acontecendo –, as APAEs e a Pestalozzi seriam Centros de Apoio Pedagógico a todos os alunos
daquele município que tenha APAE ou Pestalozzi, para que esse aluno tivesse esse atendimento
multifuncional.
Se fosse de saúde: fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistência social e outros
recursos também. O aluno da educação especial seria incluso um período, mas em outro ele poderia
frequentar os Centros, que essas escolas de educação especial seriam transformadas. É um caminho.
Vai resolver?
Só quero dizer que nós aprendemos a fazer, fazendo. Nesses dezoito anos de
organização por ciclo, nós aprendemos muita coisa fazendo, não é Sônia? E ainda tem muito a se
fazer para alcançarmos essa qualidade que esperamos.
O professor quando falou da evasão e da reprovação, elas ainda são o calcanhar de
Aquiles. Dezoito anos se passaram, porque o ciclo veio para mudar aquela realidade da escola
seriada, mas nesses dezoito anos ainda está no caminho, engatinhando ainda... Eu não escrevi o
nome do último professor que falou... (PAUSA) João... Ele é muito feliz quando coloca a questão de
como é apurado o IDEB, a questão da evasão, da reprovação, mas também a proficiência.
E quanto à evasão e à reprovação, nós melhoramos no Estado de Mato Grosso,
porque você chega lá, olha no indicativo de formação docente, a maioria é com graduação,
especialização, mestrado... Mas também atingimos a permanência do aluno na escola, porque está
dado o acesso, os municípios têm o FICAI para ir atrás dos alunos que somem da escola, mas
precisamos melhorar a proficiência. E aí? Se olharmos antes da implantação do ciclo, vemos
também os indicadores que precisaríamos melhorar.
Esta é a pergunta que muitos fizeram: reprovar é a solução? O que vai fazer com
quem reprovou? Vamos ter um regresso naquilo que o Professor João pontua aqui?
A caminhada está bem avançada para retroagirmos, mas essa questão do
investimento e com todas as dificuldades na organização por ciclo, nós somos referência nacional
em gestão escolar, Escola Luiza Nunes Bezerra, vocês têm conhecimento disso lá em Juara.
Como é que esse pessoal trabalha? Fazendo como vocês colocaram aqui, às vezes
não tem o apoio pedagógico, todo mundo vira apoio, até pais vão para esse apoio, para ajudar esses
alunos e, então, desenvolver um projeto de escola, porque não adianta olharmos na escola. Como a
assessora do processo de gestão pedagógica falou, às vezes, o diretor é eleito e tem um projeto de
escola que ele abandona para implantar um novo e em dois anos não dá conta.
E essa escola que é referência em gestão escolar no Brasil, começou o seu Projeto
Político Pedagógico nos anos 90. Quando eu cheguei nessa escola - porque eu fui professora lá -,
eles já tinham um projeto de escola e não de diretor. E aí, a cada ano, precisava de uma nova
autorização para funcionamento da escola, porque passa tudo isso, uma nova autorização para
funcionamento da escola é a cada cinco anos, e dentro desses cinco anos, como é que é feita a
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avaliação, para ela ter a renovação da autorização? Isso é a escola quem avalia e nós sentimos falta
na organização por ciclos, porque na LC nº 262 já coloca que quando completasse cinco anos,
precisaria fazer uma avaliação e quem iria avaliar era a sociedade, só que essa avaliação aconteceu
só em 2012. Então, o que é que acontece? Em 2012 já houve mudança de governo e começamos a
ouvir os professores através desta Audiência Pública. Então, evasão e reprovação é um foco a ser
pensado.
E a questão da nossa formação? Porque alguém também falou assim: “E a
formação inicial do professor, como está se dando?” De que forma esse professor sai?
Nós já sabemos que tem muitas discussões tanto da UNEMAT quanto da UFMT,
com relação a essa formação inicial do professor, mas ainda há necessidade e vai sempre haver a
necessidade da formação continuada. Então, é como se fosse uma articulação jurídica, mais a
financeira e a administrativo-pedagógica; então, formando um tripé de que todos precisam
participar, inclusive as famílias, como já foi dito aqui.
Agora, ser contra ou a favor de ciclo, eu acho que já foi pontuado para quem falou,
não é o caso, mas vamos discutir qualidade. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Obrigado, professora! A senhora
ainda vai voltar a falar no final. Tem mais sete inscritos aqui.
Eu quero só pontuar aqui, senão ficam bravos comigo... Quero agradecer as
presenças do Sr. Roberto Castro, Coordenador da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, deste
município; do Professor Luiz Carlos, Diretor da Escola Dr. Presidente Marques, do Município de
Denise; do Sr. Sérgio Roberto de Morais, Assessor Pedagógico de Denise; da Professora Maria
Barroso, Coordenadora da Creche Tânia Arantes, aqui de Tangará da Serra; da Sra. Nelzita Santana
da Silva, Coordenadora Pedagógica da Escola Estadual Marechal Cândido Rondon, de Campo Novo
dos Parecis; da Sra. Laura Cristina Galvão, Coordenadora da Escola Estadual Júlio Müller, em Barra
do Bugres; da Sra. Rosimeire, Diretora da Escola Sagrado Coração de Jesus, do Município de
Denise; da Sra. Maria de Fátima Alves de Brito, Chefe do Departamento Pedagógico da Secretaria
Municipal de Educação de Tangará da Serra; do Professor Abínio Pinto, Diretor da Escola Estadual
Pedro Alberto, de Tangará da Serra; do Sr. Sérgio Andrilho, Diretor da Escola Estadual 13 de Maio,
do Município de Tangará da Serra; da Sra. Ângela Cristina, Diretora da Escola Estadual Ernesto Che
Guevara, de Tangará da Serra; do Professor Saulo Scariot, Diretor da Escola Estadual Dr. Élcio de
Souza, de Tangará da Serra; da Professora Valéria Constantino de Guimarães, Diretora da Escola
Estadual Patriarca da Independência, no Distrito de Progresso; da Sra. Rosângela Ferreira,
Coordenadora da Escola Estadual 29 de Novembro, em Tangará da Serra; do Sr. Claudiomar Pedro
Silva, Assessor Pedagógico, do Município de Tangará da Serra; do Sr. Gilmar Santana Neves, que
neste ato representa o Grêmio Estudantil.
Os estudantes terão que falar aqui, se não tiver nenhum inscrito, o Gilmar falará.
Eu quero só fazer três pontuações: a escola ciclada reprova, também, senhores!
Certo? Só não reprova no primeiro ciclo, no segundo ciclo reprova, o aluno volta e faz o último ano
do ciclo anterior...
(PARTICIPANTES DA PLATEIA MANIFESTAM-SE SIMULTANEAMENTE.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - A legislação permite. Não é, Alfredo?
No primeiro ciclo não reprova...
(O SR. ALFREDO DIALOGA COM O PRESIDENTE DA MESA - INAUDÍVEL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - No último ano do primeiro ciclo pode
ter também, mas daqui a pouco a SEDUC vai colocar para vocês.
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ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DEBATER O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
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2015, ÀS 09 HORAS, EM TANGARÁ DA SERRA.
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(PARTICIPANTES DA PLATEIA MANIFESTAM-SE SIMULTANEAMENTE.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Uma coisa é a legislação e a outra
coisa é a prática. É por isso que nós temos que estar aqui, ouvindo e conversando. Tem muita coisa
que já se tornou tácita, que se tornou costume e passa a ser verdade.
Segunda observação que quero fazer aqui: Professor Fábio, eu achei
superinteressante, Tangará da Serra tem tanto a escola ciclada quanto a escola seriada, tem as duas
coisas. Os primeiros três anos, o aluno vai de ciclada, o resto do ensino fundamental vai de seriada e
todo o segundo grau é seriado... Não! Eu não sei se está certo! Nós estamos... E nem sei se está
errado, eu só estou achando interessante, porque pelo que penso, pelo que sei, é uma exceção. Não é
isso, Alfredo? A maioria... Ou está sendo implantado gradualmente? (PAUSA)
E dizer, também, que nós estamos aqui para ouvir!
Teve uma colega professora que colocou... Eu entendi, até acho que entendo
porque ela faz essas observações, mas quero dizer que aqui não trazemos posição do Governo, aqui
não é a posição do Governo, quem está aqui é o Parlamento.
É a Assembleia Legislativa que convidou o Executivo, e ele encaminhou os seus
representantes, Professor Alfredo e Professor Edinho, os dois são da SEDUC, mas esta Audiência
Pública não é do Governo do Estado, é da Assembleia Legislativa.
Nós queremos ouvir sem contaminar o debate, essa é a nossa obrigação, e todos os
que falaram, tiveram todo o respeito da mesa e continuarão tendo, nós vamos passar a palavra ao
representante da SEDUC, para que ele responda alguns questionamentos, mas ainda temos alguns
inscritos: Sra. Adriana Germano, Diretora da escola Manoel Marinheiro; a colega Professora Jozete
Ribeiro; o colega Professor Cesar Guedes; a colega Professora Antônia Miranda; o colega Professor
Wagner Guimarães; a Professora Edineia Cardoso e a diretora do CEFAPRO – esses são os
inscritos.
Alguém que por ventura já se sentiu respondido, está satisfeito com a resposta,
quer abster-se da inscrição? (PAUSA) Todos mantêm.
Então, com a palavra o professor, técnico de carreira efetivo da SEDUC, Sr.
Alfredo.
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA – Bom dia a todos. Cumprimento a mesa, em
nome do Deputado Wilson Santos. É com muito prazer que nós encontramos outro professor, que é
Prefeito, isso é muito importante.
Eu gostaria de iniciar a minha colocação dizendo que sou da rede desde 1989,
trabalhei durante oito anos na gestão do Ex-Governador Dante de Oliveira, e muitas das propostas
que hoje estão em vigência, foram conquistas juntamente com o sindicato, que nós conseguimos a
Lei nº 7.040, da gestão democrática; a Lei Complementar nº 49, que trata dos sistemas; a Lei
Orgânica de Profissionais da Educação Básica (LOPEB) e a Lei Complementar nº 50, que são
marcos na política de Mato Grosso e também de referência em nível nacional.
Esse foi um processo de construção e também, volto a reafirmar, foi naquele
período em que foram criados doze CEFAPROs, um aqui em Tangará da Serra e, possivelmente,
ampliados para quinze CEFAPROs.
O que marca uma gestão, um governo? É o seu marco legal. Então, nós temos já
todo esse caminhar, inclusive em 2002, foi discutida a implantação da Escola Organizada em Ciclos,
a Resolução nº 262 foi referendada pelo Conselho e se tornou a política pedagógica da SEDUC.
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O que nós observamos? Eu fiz parte no final daquele governo, e naquela ocasião,
Deputado Wilson Santos, nós na equipe do Dante não tínhamos essa visão de que perderíamos -
digamos assim - a continuidade da gestão.
Todas as pesquisas apontavam para a continuidade do nosso trabalho. O que é que
aconteceu naquele momento? Nós perdemos uma eleição, entrou outra gestão e ficou aquela
situação...
Nós tínhamos todo o material preparado para fazer capacitação; inclusive, a
professora Eunice deveria estar, naquela época, acompanhando o trabalho do CEFAPRO.
Nós fizemos a seguinte opção: se nós deixássemos todo aquele material da
formação – inclusive o exemplar que a professora mostrou aqui – que nós tínhamos preparado
dentro da Secretaria, poderia acontecer de a equipe nova desconsiderar aquele material e nem
entregar para as escolas. Então, nós resolvemos encaminhar para todas as unidades escolares e
CEFAPROs, no sentido de que as escolas pudessem assimilar e incorporar à proposta e dar
continuidade.
Após esse período, eu saí da Secretaria e estou retornando este ano para a SEDUC.
Durante esse período estive no Município de Cuiabá, nós fizemos parte da equipe – naquela ocasião,
do Prefeito Wilson Santos –, e lá no município nós retomamos essa questão da implantação das
Escolas Organizadas por Ciclos. Lá, inclusive, foi uma experiência pioneira, uma das primeiras
escolas da prefeitura que teve o Projeto Escola Sarã, que era a implantação na rede municipal.
Nós resgatamos lá esse processo, e no ano passado nós saímos do município para
retornar ao Estado. E durante esse período, eu queria frisar dois aspectos, Deputados: nós temos uma
coisa muito positiva que Vossa Excelência colocou lá, que é a retomada da questão da proposta
pedagógica organizada em ciclos e a questão da implantação do Programa Escola com Saúde. Esse
Programa foi implantado em parceria com a Secretaria de Saúde, envolvendo uma equipe
multidisciplinar, com médicos, enfermeiras, dentistas, fisioterapeutas e psicólogos, e funcionou
muito bem, inclusive eu era um dos articuladores desse programa.
Ele atendia aquelas crianças que tinham deficiência e dificuldade, nas escolas, de
aprendizagem, e uma das coisas que nós mais observávamos era a grande leva de alunos que tinham
dificuldade de aprendizagem e eram encaminhados a psicólogos.
Os psicólogos faziam o atendimento e depois encaminhavam para atendimento
personalizado. Esse atendimento personalizado implicava a presença dos pais. Os pais compareciam
uma, duas vezes e na terceira eles não compareciam mais, porque o problema não estava na criança,
o problema estava na família.
Outro fato muito grave que nós observamos foi o seguinte: há uma incidência
muito grande de situações dentro da família, onde a criança de quatro, cinco e seis anos sofre abuso
sexual. Isso é uma coisa que nos detectamos no trabalho que fizemos.
Hoje o programa não continua mais, infelizmente, mas há uma proposta no sentido
de tentarmos retomar isso em nível de Estado. É um trabalho que estamos fazendo um estudo,
porque nós entendemos o seguinte...
O que observamos na rede pública? Quando fazem o atendimento dentro da
unidade escolar, todos os alunos são atendidos compulsoriamente.
Se deixarmos para o pai ou a mãe procurar a rede, eles não participam. E aí, a
criança fica naquela situação... É um programa que nós estamos analisando com bastante cuidado e
carinho, para implantarmos na rede.
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Outro aspecto importante: o Prefeito, naquela ocasião, assinou um convênio com a
UNESCO. O que era esse convênio? Programa de Avaliação Institucional, ele era um programa
praticamente inédito naquela ocasião, era caro, mas com resultado muito importante.
Durante esse período, houve um processo de implantação. Hoje, nós temos lá o
sistema implantado em que a avaliação... É como o professor João colocou, acontece o quê? A Prova
Brasil, no quarto e no último ano. Então, o que aconteceu? Nós implantamos um processo de
avaliação em todos os anos. Portanto, nós temos como fazer o monitoramento desse aluno, como
está a sua dificuldade de aprendizagem, de cada ano, e não apenas um dado que venha lá do MEC.
Neste aspecto foi muito importante, porque criou a cultura da avaliação, esse é um
ponto fundamental para que possamos discutir tanto a questão da escola em ciclo como a seriada
também. Nós temos que ter o processo de avaliação contínua.
A Escola Organizada em Ciclos exige muito trabalho, porque você tem que fazer o
acompanhamento direto, todo dia, toda hora; isso dá muito trabalho, mas o resultado é muito
compensador.
E nós criamos, no final do ano passado, um sistema para monitorar e avaliar os
professores, avaliar o trabalho dos diretores, através de um sistema criado para avaliação.
Esse é um trabalho que foi de iniciativa do Prefeito Wilson Santos, que deu certo e
que nós também queremos fazer em nível de Estado.
Outro aspecto que quero frisar para vocês é que estou no Governo há um pouco
mais de 120 dias, fiz parte da equipe de transição e, naquela equipe de transição, o relatório que
recebemos da Secretaria de Educação era muito diferente da realidade que nós encontramos.
Quando nós pegamos a Secretaria no início do ano, tivemos várias surpresas:
atraso no repasse dos transportes escolares dos municípios – o Prefeito está aqui e sabe dessa
dificuldade. Nós tivemos que repassar duas parcelas do transporte escolar que estavam atrasadas de
2014.
O orçamento implantado foi feito no ano passando, sendo que de um bilhão e
novecentos milhões previstos no orçamento; um bilhão, oitocentos e sessenta é para a folha de
pagamento.
O Governador Pedro Taques e o Secretário de Educação Permínio Pinto, em
comum acordo, estabeleceram como prioridade a questão da reforma administrativa. Na SEDUC foi
feita uma reforma no aspecto de reduzir as secretarias adjuntas; nós tínhamos quatro e reduzimos
para duas; tínhamos 116 cargos de confiança e reduzimos para 65 cargos de confiança.
Lá na sede, nós tínhamos 1.080 servidores e hoje temos pouco mais de 80
servidores.
Qual o objetivo de tudo isso? Para que os recursos da Educação fossem destinados
para a ponta da Educação, que são as escolas, os alunos e os professores – que estão lá na ponta da
Educação.
Nesse sentido, foi feito outro compromisso pelo Governador, que assegurou que
este mês é uma data especial para todos os profissionais, é o mês da data-base. Eu queria colocar
para vocês que isso está assegurado, é um compromisso firmado pelo Governador, de assegurar o
ganho real, mais a reposição da inflação.
Há um bochicho por aí falando que não haverá aumento, e coisa e tal, mas apesar
de toda essa dificuldade econômica – todos sabem que o Brasil está passando por uma situação
econômica muito grave, a arrecadação está caindo, os repasses estão caindo, os municípios sabem
muito bem disso, Prefeito, porque estão tendo muita dificuldade financeira também –, todo esse
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esforço está sendo feito para que possamos garantir e assegurar essa questão do cumprimento com os
profissionais da educação.
Agora, o orçamento foi elaborado em 2014; as normativas também foram em
2014; então, nós teremos várias dificuldades ainda este ano.
Na verdade, nós estamos arrumando a casa, planejando para que no próximo ano
possamos tirar e sanar vários problemas que foram colocados aqui.
Neste ano, nós estamos colocando abertamente, pedindo a compreensão e
colaboração de todos, porque ainda é um ano de fazermos ajustes e consertos, para que possamos
colher alguma coisa a partir do ano que vem.
Outra coisa importante que queremos colocar para os senhores: este prédio ainda
não foi recebido pelo Secretário de Estado de Educação; então, muitas coisas que vocês colocaram
aqui, como a falta de ar-condicionado, que falta isso, que falta aquilo, na verdade, a obra ainda não
foi entregue até hoje.
Essa é uma situação que enfrentamos não só nesta escola, nós temos escolas que já
recebemos, mas que estão interditadas, porque não tem condição de funcionamento, porque o projeto
foi muito mal feito. Além do projeto ser mal feito, foi mal executado, e infelizmente os gestores
anteriores tiveram coragem de pagar essas obras. É uma situação que ainda estamos administrando e
vamos fazer um trabalho diferenciado, o projeto da Secretaria de Educação será feito por uma equipe
tecnicamente mais capacitada, para que não haja esse erro de execução de projetos.
Outro ponto importante que quero colocar para vocês é que a SEDUC já tem uma
comissão constituída pela SEDUC, Conselho Estadual de Educação, União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (UNDIME), Comissão de Educação da Assembleia Legislativa e pelo
Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público do Mato Grosso (SINTEP), para discutir a Escola
Organizada em Ciclos, para que possa ser feito um trabalho de debate na comunidade escolar e uma
conferência escolar, e quem vai definir isso será o plano de trabalho dessa comissão.
A professora da UNEMAT colocou para nós que a UNEMAT vai oferecer um
mestrado em física, química e matemática; eu sei que a academia muitas vezes... Nós temos uma
distância entre a realidade e a necessidade que temos na rede.
Nós ainda temos, professora, uma deficiência muito grande de professores nessas
áreas, se nós pudéssemos trabalhar com prioridade, gostaria muito de contar com a parceria no
sentido de que a universidade oferecesse licenciatura nessas áreas e ainda não o mestrado, porque
ainda temos deficiência muito séria no ensino médio.
Essa questão dos contratos que vocês colocaram, é devido a essa situação; nós não
temos profissionais formados exatamente nessas áreas.
Quero pontuar que já existe uma comissão trabalhando com o sindicato e a
Secretaria de Gestão e Planejamento, para elaboração do edital para concurso público que sairá ainda
este ano.
Era isso, obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Muito bem, o Sr. Alfredo continuará
aqui. Se houver mais questionamentos, ele voltará a usar a palavra. Então, voltamos agora à plateia,
que é a razão principal desta Audiência Pública.
Com a palavra, a Sra. Adriana Germano, Diretora da Escola Estadual Vereador
Manoel Marinheiro e, em seguida, o Sr. Josete Ribeiro.
Já são 12h05min, nós não podemos sair daqui depois das 18 horas, porque
educação é assunto sério, nós temos fome de educação, não é isso? Essa é a nossa fome.
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Eu fico vendo gente barrigudinha aí, querendo comer. Comer o quê, meu filho?
Você tem que ficar seis meses sem comer, eu ainda posso comer um pouquinho, você não, Alfredo.
(RISOS)
Com a palavra, a Professora Adriana Germano.
A SRª ADRIANA GERMANO LUZIA – Bom dia a todos!
Eu acho que uma Audiência Pública deste porte deveria ser extensa, o dia todo,
para que todos pudessem colocar as suas opiniões.
Sobre a questão da Organização por Ciclo, eu acredito que a maioria das pessoas já
fez suas colocações.
Eu vou reiterar as falas que as pessoas já fizeram na questão de primar no que o
Professor Sebastian colocou, que antes de discutirmos Escola Organizada por Ciclo de Formação
Humana ou escola seriada, nós temos que primar pela questão do direito da aprendizagem dentro das
escolas.
E para que nós tenhamos direito de aprendizagem dentro das escolas, perpassa por
vários aspectos que já foram colocados, como a formação do professor e, principalmente, vamos nos
ater mais ao Ciclo de Formação de Mato Grosso, que já está colocado – como a professora pontuou
aqui – há dezoito anos, e há quatorze no ensino fundamental.
A nossa preocupação é na questão de que não pode ficar no senso comum, já que
há uma discussão tão ampla, Deputado Wilson Santos, apenas dizer assim: “Ah, o ciclo está todo
errado”, durante esses quatorze anos em que se implementou, como bem colocou o Sr. Alfredo – eu
fiquei feliz após a sua fala, em saber que o senhor está na SEDUC, para saber que a gestão anterior
que começou com a escola ciclada, colocou daquela forma repentina para as escolas, pensando para
que as escolas tivessem conhecimento e buscassem se apropriar.
Então, sobre o ciclo, nós esperamos da nova gestão da SEDUC e dos nossos
representantes o mesmo olhar, ver as fragilidades que nós ainda temos na implantação do Ciclo de
Formação Humana, observar os avanços que foram conseguidos para a rede estadual, como o
Professor Costa Longa pontuou com relação ao IDEB, como zerar e nós começarmos um novo
projeto.
Como a professora bem colocou, quando nós vamos na gestão... Eu estou no
quarto ano à frente da direção e já estou na educação há 14 anos, desde 2001, consegui o meu
primeiro contrato como interina. Nós chegamos à escola e temos que ver um projeto de escola, a
realidade da escola. A mesma coisa é a gestão, os nossos representantes, os políticos têm que ver o
que está falho no Ciclo de Formação Humana, como foi bem colocado pelos nossos colegas, todas as
fragilidades.
Um ponto que eu coloco, é a questão que falamos, que é a qualidade, todo mundo
coloca que existe no Brasil – não temos que pensar só no Estado de Mato Grosso, nós temos que
considerar Mato Grosso localizado Brasil, e o Brasil em relação ao que as grandes potências fazem
na área da educação.
Por que na Inglaterra os alunos terminam os estudos na idade correta para entrar no
mercado de trabalho? Não há reprovação. Mas por que nos países ricos não há reprovação? Porque
lá a educação já caminhou, tem os subsídios, tem o custo aluno-qualidade.
O que é o custo aluno-qualidade? É todo o mecanismo, a infraestrutura, todo apoio
pedagógico que está na CONAE. Participei da CONAE, participei da CONEC, sempre fiz
contribuições para pensar quais são as fragilidades e o que precisamos para melhorar; e penso que
ainda tenho 20 anos na educação, como a professora indignada... Também compreendo... Eu não
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acredito que não deve ser feito de forma simplista, tem que ser analisados todos os aspectos que os
colegas e a professora convidada colocaram, para que nós possamos avançar.
Na educação, precisamos dos apoios, desses subsídios. Quais seriam os subsídios?
Uma coisa que eu coloco como gargalo,na implantação do Ciclo de Formação Humana é a questão
dos apoios pedagógicos, dos articuladores, de todas as funções que viriam para implementar esse
direito à aprendizagem dos alunos.
Sr. Alfredo, a primeira legislação, a Resolução nº 262/2002 do Conselho Estadual
de Educação é perfeita para ser cumprida, do jeito que a Organização por Ciclo precisa. Na
Resolução nº 262/2002 fala – como a professora abriu e leu nas páginas daquele caderno – quantos
alunos para ter um articulador, lá coloca a questão de que a enturmação não é automática. Na
Resolução nº 262/2002 coloca, é um coletivo de professores e na CONEC de 2012, Sr. Alfredo, nós
sugerimos tudo.
É preciso que a gestão da SEDUC considere esse levantamento da CONEC de
2012, porque os profissionais da educação participaram dela ativamente. Lá foram colocadas todas
as angústias, mas infelizmente, por troca de gestão, ela não foi divulgada para nós. E nós
necessitamos, a partir dessa sugestão da CONEC, não desconsiderar, porque lá o professor que está
no chão da escola já sugeriu tudo, já colocou tudo o que deve ser colocado, Deputado Wilson
Santos, para melhorarmos o nosso sistema estadual.
Outra coisa que foi colocada, não adianta retrocedermos, por quê? Como a
professora colocou aqui, nós trabalhamos, hoje, na perspectiva do direito da qualidade social da
educação, e o direito da qualidade social da educação é trabalhar com a diversidade de alunos que
chegam à escola. Então, se nós somente reprovarmos, o que será desses alunos que não conseguem e
que não são atendidos na sua individualidade de atendimento que o ciclo possibilita?
Então, os recursos... É na seriada que precisa ter professor de apoio pedagógico,
precisa ter superação para os alunos que têm dificuldade diferenciada. Independentemente de ser
seriado, precisa dos recursos humanos, dos projetos necessários de apoio pedagógico.
Senão, como Vossa Excelência colocou, a industrialização, nós como bons
professores de História... O Brasil só vai melhor quando os alunos terminarem a educação, quando a
maioria dos cidadãos terminar na fase correta. Senão, eles evadem no ensino médio, e esses alunos,
uma vez evadidos no ensino médio, não conseguem entrar no mercado de trabalho. E a tecnologia, a
industrialização que Vossa Excelência colocou bem na sua fala... Eu vou firmando, então, com
relação ao posicionamento, e ver os avanços que teve, e não é ir às fragilidades que nós precisamos.
Enturmação não pode ser automática, tem que ser como está na Resolução nº 262;
então, no mínimo, vamos pedir como foi no CONEC, em coro, que se cumpra a Resolução nº 262
para a organização do ciclo.
Muitos aqui já falaram com relação aos recursos, mas um colega pediu... Além
desses apoios, nós precisamos da qualidade e de investimento. O aluno precisa da escola equipada,
equiparada, é o custo aluno-qualidade. Precisamos dos recursos didáticos necessários para uma boa
aprendizagem, mas nós temos alguns gargalos.
O Professor Alfredo já explicou, mas o colega pediu...
Nós temos muitas dificuldades em fazer educação nas escolas. Por quê? Vamos
dizer em relação ao ano passado; em relação ao ano passado, para a rede estadual, no último repasse
do PDE, na quarta parcela, o capital não veio. O capital é para investir e para melhorar - eu acho que
muitos diretores querem falar –, para melhorar aquele computador do laboratório que não funciona
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há muito tempo. Eu sou diretora e tem um monte de coisas na minha escola que não funciona, como
este ar-condicionado aqui. Então, o capital não veio.
Vejam bem, não veio capital e muitas escolas, através de seus diretores, mandaram
a prestação de contas certinha em janeiro, agora veio a ordem dizendo: “Está errado, então vocês
reprogramam o capital, porque, senão, não bate a prestação”. Então, a escola reprograma, porque
subentende que estamos pensando “Acho que vai vir, porque tem que reprogramar”, mas não tem
garantia que esse capital, essa verba do ano passado vai vir.
A segunda parcela do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do ano
passado, no âmbito federal, também não está tendo investimento, então, nós precisamos... Os nossos
Deputados... Nós já estamos sabendo do corte, da austeridade, de toda a questão no âmbito nacional,
mas não investir em educação é penalizar o futuro, é punir o futuro do nosso país! Então, a segunda
parcela também do PDDE não veio, e ficam mandando e-mail: “Talvez vai vir... Talvez vai vir até
dezembro”. E para fazer a prestação de contas precisa reprogramar, e nós ficarmos crentes que talvez
vai vir.
E os equipamentos que estão estragados em nossas escolas? O Professor da Escola
Estadual Laura Vieira de Souza pediu para eu fazer essas colocações. O recurso é insuficiente, até
hoje só vieram dois repasses da merenda. Para ele, que a realidade é de escola pequena, é muito
difícil trabalhar hoje. Acho que subiu um pouquinho, subiu para quarenta centavos, porque eram
trinta e três centavos desde a política nacional de 2008 do FNDE. Então, teve um acréscimo de sete
centavos no sétimo repasse da merenda 2014. Portanto, não tem como, isso agrega o custo aluno-
qualidade, vamos bater nisso.
Também está vindo para o meio do ano o PDE deste ano de 2015, mas o Sr.
Alfredo já orientou, e o PDDE, nada, também só veio a primeira parcela, e já está a tempo da
segunda parcela de 2015, do PDE, plano de desenvolvimento da Secretaria.
Senhores, antes ciclo e antes seriação, nós temos que contextualizar, nos tempos
em que nós vivemos, temos que reorganizar a escola, porque hoje, a sociedade e os pais - mesmo
que de forma ainda muito falha - sabem que têm direito à aprendizagem, independente de ser seriado
ou ciclado, mas precisa dos instrumentos para os alunos aprenderem dentro da sala de aula, dentro
das escolas. Então, se é seriado, vai precisar de um atendimento para esse aluno que não acompanha
o mesmo ritmo, não basta excluir, porque esse excluído vai roubar nossa casa e não tem detenção
para todo mundo.
Os instrumentos que ciclo tem e nós percebemos no âmbito nacional, o pacto da
alfabetização na idade certa, como o Prefeito colocou, ele já vem na perspectiva de atender o que já
está na proposta do ciclo e pedindo que as escolas seriadas também se adaptem. Então, vamos focar
no que é necessário para a aprendizagem, o que deu certo e o que tem que se reorganizar, como São
Paulo fez: reorganizou o Ciclo de Formação Humana, mas nunca apagou o caminhar. Como a
professora colocou: o caminhar que nós temos de vinte anos.
Nós temos um caminhar. São Paulo reorganizou. Escutem a categoria e vamos
reorganizar o que precisamos, juntos.
Muito obrigada pela oportunidade. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora e Diretora
Adriana.
Com a palavra, a Professora Josete Ribeiro e depois o Sr. Cezar Guedes.
A SRª JOSETE RIBEIRO – Bom dia a todos e todas!
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Eu quero dar continuidade ao pronunciamento da Adriana. Acho que é uma grande
injustiça mexer no ciclo sem levar em conta a estrutura de escola. Então, vocês estão percebendo aí
que a estrutura de escola que nós temos deixa a desejar, precisa ser melhorada.
Eu gostaria de chamar atenção, especialmente, para um item que é a condição de
trabalho dos professores: os professores têm que ser os autores de qualquer mudança dentro da
escola organizada em ciclo, lá no chão da escola, a partir daquilo que tem de experiência vivenciada
até aqui.
Agora, para fazer isso, é necessário que o professor tenha esse tempo, e é esse
tempo que está em jogo. A maioria dos nossos professores tem de duas a três jornadas de trabalho.
Não é possível pensar esse contexto de escola, mal pegar o livro didático, trabalhar o que está ali e
pronto; fazer avaliação - a avaliação continua sim, os professores continuam avaliando da sua forma.
O que nós precisamos é pensar, sim, qual a condição de trabalho dos professores. E
aí entra na questão remuneração. Para você manter, hoje, o professor com um único vínculo –
inclusive, é uma das metas do Plano Nacional e do Plano Estadual de Educação que o professor
tenha um único local de trabalho, que se dedique exclusivamente, integralmente o seu tempo àquele
local de trabalho; para fazer, para pensar, repensar, por exemplo, escola organizada em ciclo ou
mesmo a seriada, as suas formas de avaliação, se vai reprovar, se não vai reprovar, por quê.
Agora, isso custa e custa alto, educação é cara! Já dizia Anísio Teixeira que
educação é um dos serviços sociais mais caros e que merece ter investimento, porque é para a
humanidade, é a formação da humanidade.
A Adriana lembrou aqui do custo aluno-qualidade, é isso mesmo; nós temos
bandeiras de luta de mais de 20 anos, pela implantação de um custo aluno-qualidade e que parte dele
seja encaminhado para remuneração de professores. Que a remuneração de professores seja uma das
melhores remunerações, como são os países ricos e que têm a educação com um parâmetro alto de
qualidade. Os professores são os profissionais mais reconhecidos e mais bem remunerados.
Agora, isso é imposto, por exemplo: Mato Grosso aumentou a nossa energia em
30% de ICMS, um dos Estados que mais aumentou a energia foi o Estado de Mato Grosso, de ICMS
e todos os outros impostos; além disso, os 10% do PIB, que é uma velha bandeira de luta da
educação, e atualmente os recursos do petróleo, que é uma das nossas grandes riquezas e que rende
muitos recursos, isso tem que ser revertido para a educação do povo brasileiro.
Se não houver isso, não tem como mudar ciclo, mudar seriado, mudar qualquer
tipo. É ter o professor no único local de trabalho. Hoje, o que o professor ganha correndo de uma
escola para outra, ele tem que ganhar isso, e um pouco mais, numa única escola.
E aí o Legislativo tem muito a fazer mesmo, o nosso querido Deputado Saturnino
Masson,... (PALMAS)... O nosso companheiro Deputado Wagner Ramos e Deputado Wilson Santos
são autoridades para isso hoje. Como é que vamos melhorar esses salários dos professores e garantir
que novos recursos sejam aplicados na educação?
Eu tenho certeza de que o Município de Tangará da Serra, por exemplo, não teria
condições, hoje, de ter professor num único local, mesmo que a rede estadual e a rede municipal
tentem, não vai ter condições de ter o professor numa única escola, ganhando o que ele ganharia
trabalhando nas duas escolas.
Qual é o desafio que nós temos? Quanto ainda nos falta para isso? Nós temos que
começar a trabalhar com os cálculos matemáticos. Quanto tempo nos resta para chegar à
implementação do custo aluno-qualidade? O que significa isso? Esse custo, quanto custa esse aluno
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tendo o professor trabalhando integralmente e mais a estrutura que a escola ainda não possui...
Então, eu acho que o caminho é esse.
Quero parabenizar os Deputados por estarem aqui discutindo isso conosco.
Muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Nós é que agradecemos, professora
Josete.
Com a palavra, o Sr. Cezar Guedes, e em seguida a Professora Antônia Miranda.
O SR. CEZAR GUEDES – Bom dia!
Eu quero, Deputado Wilson Santos, em seu nome cumprimentar esses amigos que
compõem a Mesa, porque hoje estamos aqui, mesmo sendo uma Audiência Pública, até mesmo na
condição de amigos, porque somos parceiros. Por isso que nessa questão, pelo fato de Vossa
Excelência ser Professor de formação também, esse é o momento de cumprimentar.
E quero cumprimentar a todos aqui e lembrar que o Município de Campo Novo do
Parecis está presente até este momento. Nós fizemos questão de ficar aqui. Nós estamos em alguns
professores, profissionais de Educação. Então, a todos, tenhamos a certeza de que vale a pena.
Eu só quero dizer a todos algo a mais: dói!... Está doendo muito ainda, foi uma
facada na educação. Essa facada foi dada há quase quinhentos anos, no caso do Brasil, numa época
colonial em que se privilegiava uma igreja e os educandos eram aqueles que, se soubessem rezar,
estariam salvos. Então, é uma educação de ratio studiorum que se massificou. A educação servia
para alguém.
Mesmo no Brasil Império, quando se chegou a uma educação de liceu, lembrando
aqui Aristóteles, uma educação peripatética. Você tinha algo, um pouco mais, que formou pessoas:
escritores, pensadores, que no início do século XX até chegaram a fazer um manifesto para que a
educação não servisse a ninguém, mas isso retrocedeu, porque no Brasil República, a serviço do
capital, nós temos uma educação seriada em que nós fomos formados. Servia para alguém que tinha
o domínio, e agora que nós estamos num processo histórico, entrando para um momento de
educação que vai servir a todos, uma formação humana, não podemos deixar essa faca continuar
fincada no coração da educação.
Então, eu peço que o Legislativo, aqui com esta Audiência Pública, possa sair
dessa mesmice que temos enquanto politicagem no Brasil. Não estou me referindo diretamente aos
que aqui estão, mas estou dizendo que estamos numa época em que se fala e que se diz o que é
prioridade.
Ontem, o Secretário estava em Campo Novo do Parecis – está lá hoje ainda – e eu
fiz esta fala no sentido de que basta, chega!...
A prioridade nós sabemos... E no ano que vem haverá eleição e terá novamente
prioridades. Então, nós temos que tirar essa faca, fazer a educação estar a benefício de todos, não
dessa igreja, não daquele poder, não de outras situações, porque é muito bom o povo continuar sem
saber, isso agrada a quem tem poder. Seja de igreja, de futebol, de política, seja do poder que for,
agrada e nós não queremos isso.
Nós profissionais da educação, como Vossas Excelências bem sabem, nós
queremos uma educação de qualidade. Se este governo que está sendo aí representado, puder de fato
fazer isso, estaremos de parabéns, sabemos que vai longe; mas os Deputados podem, sim, fazer
algumas coisas, como ciclo, três anos... Então, o contratado tem que ter uma garantia de três anos,
para que haja uma sequência, o efetivo também fazer essa...
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Nós temos uma proposta de formação humana de ciclo por três anos, diretamente,
e o contrato ainda continua seriado, isso tem que mudar, isso não pode existir. Então, este é papel do
Legislativo: forçar e fazer acontecer, e também é necessário trabalhar essas questões no Congresso
Nacional, precisamos sim, nós queremos educação de qualidade, e em Campo Novo se quer isso.
Podem ir a Campo Novo do Parecis quando for preciso, como já estiveram o Deputado Wagner
Ramos, o Deputado Saturnino Masson, no momento em que o Governador esteve em nossa escola,
Escola Padre Arlindo, e nós dissemos isto: queremos sim educação de qualidade, portanto, tirem a
faca do coração da educação. Obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós é que agradecemos a
participação do colega Professor Cezar.
Com a palavra, a Professora Antônia Miranda, e em seguida o Sr. Wagner
Guimarães.
O SR. ANTÔNIA MIRANDA - Bom dia a todos!
Cumprimento todos da Mesa, todos os profissionais aqui presentes.
Vejo um momento ímpar e quero parabenizar a iniciativa da Assembleia
Legislativa, e não poderia deixar de falar um pouquinho, ainda que seja para repetir as falas aqui,
porque também eu entendo que foram muitos poucos momentos nesses dezoito anos de ciclo, que
nós tivemos a oportunidade de falar a respeito.
Meu nome é Antônia, sou professora há vinte anos também, tenho uma caminhada
bastante significativa, pelo menos para mim, dentro da educação, desde bem novinha enquanto
professora, eu sempre procurei participar de todos os momentos da educação e buscar formação
profissional para mim.
Hoje, eu estou como professora formadora no CEFAPRO de Tangará da Serra, e
entendo que o professor precisa estar a todo momento buscando essa formação, essa compreensão;
eu acho muito louvável todas as memórias das pessoas mais velhas relativas à forma como elas
foram educadas, mas eu não aplaudo quem, hoje, reprova o ciclo; não aplaudo, porque eu entendo
que a sociedade vem numa constante evolução, as famílias evoluíram.
E hoje, dentro da sala de aula, as nossas crianças reproduzem a educação que elas
recebem em casa, nós também reproduzimos. Então, nós ali na sala de aula, não cabe mais ficarmos
só pensando no passado, como eu fui educada, como o meu pai e a minha mãe me educaram. Tudo
isso é muito válido, mas nós temos que pensar o hoje, o agora. E nesse hoje e agora não cabe mais
uma educação exclusiva, uma educação que reprova; que diz você não pode prosseguir, tem que
parar aqui. Cabe, sim, refletir a todo momento sobre o desafio que está em nossas mãos, encararmos
cada criança, ali, como um desafio para nós elevarmos o aprendizado dela, trabalharmos com
qualidade na sala de aula.
Eu me reporto muito à sala de aula porque todas as políticas públicas serão
concretizadas nas mãos do professor, e o professor vai receber o resultado dessa evolução que está
ali, no reflexo do aluno.
Diante desse contexto da mudança de famílias que nós temos hoje, não cabe mais
voltar atrás. Então, nós temos que... Como o Professor João colocou, a educação caminhou num
processo de matricular as pessoas, de alfabetizá-las, incluir todo mundo no processo, e agora nós
estamos caminhando, evoluindo no pensamento de melhorar a qualidade da educação.
Esse é o momento de voltar o olhar para melhorar a qualidade. É isso que se fala
agora, e para melhorar essa qualidade da educação, a educação precisa de mais investimento. Por
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isso, eu acho muito válido falarmos aqui com a Assembleia Legislativa, que volte esse olhar para
investir na educação.
Esse investimento é na infraestrutura física e também humana, porque o professor
precisa de formação teórica o tempo todo. Por isso, eu defendo muito o Centro de Formação, nós
temos um papel muito grande, uma tarefa muito importante de estarmos juntos com esse professor,
refletindo sobre os problemas da sala de aula, buscando conhecimento teórico para melhorar essa
prática da sala de aula, para alcançar uma educação de qualidade, mas à medida que nós estudamos,
nós alcançamos conhecimento, vamos compreendendo que estamos amarrados em muita coisa,
esbarramos em muita coisa.
Não é só o querer, não é só o conhecer. Quanto mais nós conhecemos, quanto mais
compreendemos, mais entendemos que para melhorar a aprendizagem, esbarramos em muita coisa.
Aquela criança que não consegue aprender é o nosso desafio de todo dia e, muitas
vezes, para ela aprender, precisa de um diagnóstico multidisciplinar, e isso não foi garantido, ainda,
dentro da escola ciclada. Ela precisa de um diagnóstico que, às vezes, a família não tem condições
de fornecer para aquela criança.
Nós, professores, ficamos barrados ali, e nenhuma teoria dá mais conta, porque nós
não estamos imbuídos da competência de diagnosticar aquela criança que precisa de um diagnóstico
de um profissional da área da saúde e de outras áreas, para compreendermos mais e buscarmos mais
suporte para auxiliar essa criança que necessita aprender, que não consegue acompanhar dentro do
tempo normal da sala de aula, aquela aprendizagem que é oferecida. Então, neste sentido, olhar a
educação...
Eu quero reportar a uma mensagem anônima que a educação é a maior provisão na
jornada rumo ao futuro. Então, temos que colocar realmente isso. Nós precisamos investir na
educação.
A ideia da escola ciclada é linda, é maravilhosa e precisa ser efetivada nas nossas
escolas, não é retroceder à escola seriada. É um retrocesso muito grande que não vai nos levar a
nada. Então, nós estamos caminhando, agora, é no processo de melhoria, de buscar a qualidade. E
para se efetivar essa qualidade é preciso investir de verdade na formação dos professores, no
subsídio, que o professor precisa ali, o professor desespera.
E nós, enquanto professor formador, ao ouvi-los... Nós lemos, discutimos as
teorias e ouvimos o professor: E aí, o que eu faço? O aluno está assim... Porque ele esbarra em outro
profissional que ele precisa, ele chama a família, e a família não tem como dar esse suporte ou a
família nem vai à escola. Então, há que se olhar mais para esse suporte físico e humano que a escola
precisa, para promover a qualidade social da educação.
Obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora Antônia
Miranda.
Com a palavra, o Professor e Vereador Vagner Constantino Guimarães.
O SR. VAGNER CONSTANTINO GUIMARÃES – Bom dia, quase boa-tarde a
todos.
É uma satisfação enorme estar aqui participando, Deputado Wilson Santos,
Deputado Saturnino Masson, Deputado Wagner Ramos, Prefeito, demais autoridades, senhores e
senhoras.
Vou pegar um pouquinho da linha do meu colega Sérgio Guedes, ele falou nos três
anos. Se nós estamos em ciclo, que pelo menos o contrato dos professores fosse de três anos.
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Vou ficar numa situação muito mais conflituosa, Sérgio e colegas.
Hoje, a situação que está, e quando falamos que precisamos da melhoria da
educação, Deputado, nós temos que analisar o seguinte: o ano letivo inicia em 09 de fevereiro; a
atribuição ainda está sendo dia 09, dia 10, dia 11, dia 12 para os interinos; você mata o início do ano
letivo quando você atrasa esse processo. Como é que esse professor que nem sabe qual turma vai
pegar, se prepara para ir à sala de aula?
A indústria dos pontos, a fórmula de atribuição tem que ser repensada, Sr. Alfredo,
não dá para se sacrificar professores fazendo formações por causa de uma industrialização dos
pontos para fazerem atribuição de aula. Os professores têm, sim, que fazer formação, mas não é uma
formação para não ficar para trás dos outros. Se eu sou um mau professor e minha colega é uma
excelente professora, está dando aula no ciclo, está indo muito bem, e eu não estou nem aí, mas
tenho muito mais pontos que ela; na hora que a turma dela organiza, eu pulo dentro e pego essa
turma; isso não tem sequência.
Nós temos que analisar que a educação... Como disse o meu colega e Vereador
Sebastian, que também faz parte da Comissão de Educação e Esportes da qual sou presidente, a
Professora Azenate Carvalho também faz parte da Comissão... Nós temos discutido muito isso, nós
temos que chegar, nós temos que fazer o Governo entender isso, e nós não estamos falando isso
hoje. Eu estava ao lado da colega Edalina, como os demais colegas que estão aqui, nós participamos
de tudo quanto é coisa; formação de ciclo, desde o início, desde 2000, o primeiro encontro no TTC
aqui em Tangará da Serra, da CONAI, de todas as conferências, nós estamos apontando problemas e
precisamos solucioná-los.
O ciclo não é mal, e eu não sou contra ele, o que precisa é dar garantias que as
coisas aconteçam naquilo que foi firmado e fazer as melhorias. Pegar um exemplo claro do ciclo,
como é que ele pode ser bom, se nós não pensamos em nada, em aumentar... Sair das 800 horas, são
800 horas anuais, não tem mais nada. O aluno chega às sete e vai embora as onze. Por que não
pensar em aumentar a carga horária? Por que não melhorar a carga horária?
Pensou-se agora no Programa Ensino Médio Inovador, e nós temos uma
dificuldade para os alunos participarem desse programa, alunos que até agora, neste exato momento,
não estão participando das aulas porque têm dificuldades, Alfredo, com transporte. Eu estive lá,
Prefeito, apontei essa situação ao Secretário e pedi para ele encarecidamente: será que esse problema
é em virtude da necessidade de um ônibus? Qual é a solução para que os alunos possam frequentar
as aulas?
Não pode... Alunos que precisam, que são carentes, não terem direito de continuar
uma hora a mais. Eu tive formação com 1200 horas, está aqui meu professor, foi diretor da minha
escola, o Prefeito. Eu tive formação com 1200 horas, fiz magistério, eu tinha contraturno, eram
várias aulas no contraturno. Hoje, para os nossos alunos são oitocentas horinhas. Então, nós temos
que analisar que precisamos melhorar muitos pontos, e esses pontos são importantes.
Concordo com o Sérgio, há muitas coisas que a Assembleia Legislativa pode fazer,
inclusive essa questão de estudar mesmo a possibilidade de um concurso; da questão de contratação
por tempo maior de professores interinos, para formação do ciclo; da estabilização dos professores
dentro dos ciclos; da concorrência só dentro do ciclo, para que você tenha uma formação específica.
De repente, a pessoa é um bom alfabetizador, fica sem aula e obrigado a ir para os últimos anos do
ciclo; então, nós temos que estudar caminhos que se resolvam, mas de forma nenhuma nós podemos
pensar que podemos perder alguns avanços.
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Eu acho que não se deve pensar em estimular de novo a evasão, não se pode pensar
de novo em criar dificuldades para que você continue com repetência, mas de maneira nenhuma nós
podemos manter a qualidade da educação da forma que está. A educação está penalizando os que
mais precisam; as escolas sozinhas não são capazes de resolver os problemas da sociedade, a escola
precisa de união de forças.
Hoje é muito difícil ser diretor de escola. O Carlinhos, da São Jorge, está lá atrás;
esse menino está há setenta e cinco quilômetros daqui, lá não tem comunicação, Deputado Wilson
Santos, com pouquíssimos recursos você coloca comunicação lá dentro – não tem comunicação.
Ninguém entrega a merenda na escola dele, ele tem que buscar no carro de sua propriedade. A
educação no campo sofre, pede socorro; não tem uma quadra coberta... Como falaram aqui, essa
dificuldade é enorme! (PALMAS)
O município sozinho não dá conta, temos que ser claros; precisa melhorar o valor
do recurso do transporte escolar, R$ 0,80 é pouco demais, o nosso município divide, lá em cima, em
Sapezal, lá em Conquista do Norte. São municípios muito extensos, com muita rede de transporte
escolar. Então, as coisas não são simples, as coisas não são fáceis.
Eu vi uma vez um programa que iria qualificar a alimentação, um programa para
atender o povo na rua, que com R$ 1,00. Seria ótimo, daria para fazer um restaurante bom para o
pessoal comer na rua. Eu falei: beleza! A escola já dá esse exemplo, porque ela faz com R$ 0,30,
com R$ 0,30 ela faz a alimentação do povo! Tem que se analisar. (PALMAS)
Nós temos o Projeto Mais Educação, é ótimo, é bom. Nós queremos que as crianças
fiquem o tempo todo dentro da escola. Nós temos esse Projeto Mais Educação, mas esse projeto está
sem recurso! Quem economizou, está tocando e torcendo para sair essa assinatura e a liberação dos
recursos para o Projeto Mais Educação. Então, as coisas não estão funcionando, nós não estamos
aqui inventando.
Precisamos melhorar o sistema; nós temos hoje... Eu tenho na minha escola “n”
professores que não conseguem fazer o diário. Como que eu não faço o diário? Como que o sistema
não funciona? Então, essas pendências é que devem ser resolvidas, a estrutura das escolas é que deve
ser resolvida, para que tenhamos condições de ter uma educação melhor.
Subsídio dos professores é ótimo!... Eu gostaria... Eu tenho 27 anos dando aula,
tenho 27 anos nas duas redes, não aconselho ninguém a ficar nas duas redes. Para você chegar com
saúde, você tem que ter muita sorte, e depois poder viver a aposentadoria tem que ter duas vezes
sorte, se é que nós vamos chegar lá - eu não aconselho. Mas com uma rede ganhando salário de um
professor de 30 horas, que ganhamos com vinte e sete anos trabalhando, é o suficiente, gente? Dá
para nós? Temos que fazer bico! Não dá!
Ontem, o Alexandre Garcia foi perfeito na fala dele. A maioria dos assessores de
Vereadores deste Brasil afora... Não estou falando de Deputado Estadual, nem de Deputado Federal,
nem de Senador, nem de Ministro, nem de ninguém, estou falando que a maioria dos assessores de
vereadores ganham igual ou melhor do que os professores, sem nenhuma obrigação com a formação.
É isso que temos que analisar. Nada contra os assessores, nada contra ninguém, mas será que não
tem milagre que possa melhorar a questão da educação, a questão dos recursos? E o pior, os recursos
existem, mas eles não são bem distribuídos. É isso.
Muito obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Com a palavra, a Professora Edineia
Cardoso e, em seguida, a última inscrita, Professora Lenilda Roberto de Souza.
A SRª EDINÉIA CARDOSO – Bom dia a todos!
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Eu quero iniciar a minha fala apresentando alguns dados, pesquisa com os
professores do primeiro ciclo, em Campo Novo dos Parecis, a respeito do Ciclo de Formação
Humana que estamos debatendo agora em Mato Grosso.
Segundo as pesquisas levantadas, 80% dos professores não tiveram nenhuma
formação sobre o Ciclo de Formação Humana; 66% não conhecem a proposta do ciclo. O que eles
conhecem é o que está no sistema, que tem os blocos, que tem o PPAP e o OS. Oitenta por cento não
acreditam que o currículo do ciclo e do seriado mudou, é a mesma coisa. Cem por cento dos
professores acreditam que o ensino ciclado piorou e 92% acreditam que a avaliação classificatória
não é motivo de evasão escolar.
Então, nós temos o sistema ciclado em Mato Grosso, nós vimos - eu não sou
contra o ciclo, a proposta dele é boa, só que ele está... Eu não sei, colocaram o ciclo, mas o trabalho
é em série ainda. Nós, enquanto professores que estamos na educação, sabemos que é isso. Eles
colocaram o nome ciclo, mas ainda estamos trabalhando em série.
Então, a minha sugestão, Deputados, enquanto professora alfabetizadora, nós
sabemos que se a base de uma casa não é bem construída, desmorona, e na educação é a mesma
coisa.
O primeiro ciclo é primeira, segunda e terceira fase. A minha sugestão é que seja o
primeiro ciclo, enquanto contas do Governo - vamos colocar assim -, teria condições para que seja
de dedicação exclusiva, pelo menos o primeiro ciclo, que é a base.
Por que dedicação exclusiva? Porque, como já foi colocado numa fala, nem
sempre é culpa do aluno, se eu estou com dedicação exclusiva, eu posso trazer os pais para a escola;
trabalhar diretamente com o aluno e com os seus pais.
Então, nós pensamos em coisas que possam minimizar os danos da educação de
Mato Grosso, porque os índices de evasão e de repetência diminuíram, porém a proficiência é muito
baixa. Portanto, não podemos falar que o ciclo está com a qualidade que nós almejamos.
A minha sugestão também é que se comece de imediato – se a proposta continuar
em ciclo em Mato Grosso – uma formação para os professores a respeito do ciclo; uma formação
que eu, há quatro anos, em Mato Grosso, não tive nenhuma. Para não dizer que nunca teve nada,
teve leitura da Resolução de modo muito tradicional, que o professor termina os trabalhos em sala de
aula e vai ler aquilo lá, e vai aprender o quê? Nada.
Eu fiz o Pacto pela Educação. Eu defendo o pacto porque não fiz magistério, a
minha didática era pobre e com o pacto eu consegui melhorar a minha didática. Então, se for para
pensar na formação do ciclo para os professores, que seja nos moldes do pacto, porque ele é mais
fácil e mais dinâmico para você aprender.
Também, eu deixo a minha fala no seguinte: nós precisamos mudar totalmente as
estruturas das escolas. Como todos falaram, não tem articulação. Nós vamos dar reforço na mesa do
refeitório. A poeira de Mato Grosso, todos sabem como é; como vamos chegar, nós não sabemos
como é que vamos fazer.
Então, para minimizar os danos – porque não podemos acreditar que tudo será
mudado, porque já é utopia –, começar com formação do professor, porque o que adianta o professor
trabalhar o ciclo, se ele não sabe o que é.
Investir na estrutura: que tenha pelo menos a sala de articulador e a sala para
professor trabalhar o reforço. E a dedicação exclusiva também, porque eu felizmente consigo e
posso trabalhar só 30 horas, e como alfabetizadora eu preciso de mais horas para que o meu aluno
possa ter todas as competências que ele precisa nos três anos.
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É preciso rever a educação do Estado de Mato Grosso, sim! Tem coisas que são
urgentes, nós não podemos esperar, e precisam ser revistas.
E a questão da prova, discutiu-se muito sobre a prova. No livro que a professora
mostrou aqui, que eu também tenho, fala que a prova também é uma forma de avaliação sim, só que
ela não pode ser feita só como nota para o aluno, mas como uma verificação de aprendizagem.
Então, eu acredito que o nosso primeiro passo, como sugestão, é a formação dos
professores e pensar sobre a dedicação exclusiva, pelo menos, do primeiro ciclo, para que nós
possamos minimizar esses danos que temos há dezoito anos.
Essa é minha fala. Obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Obrigada, professora Edinéia. A
senhora é de qual escola?
(A SRª EDNÉIA FALA FORA DO MICROFONE – INAUDÍVEL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) – Escola Estadual Parecis.
Com a palavra, a nossa Diretora do CEFAPRO, a Sra. Lenilda Roberto de Souza,
que nos cedeu o auditório e não cobrou nada.
A SRª LENILDA ROBERTO DE SOUZA - Bom dia a todos!
O legal de nós ficarmos por último, é porque todos já falaram e tem um número
menor de pessoas para nos bater lá fora, se falarmos alguma coisa... (RISOS) Mas brincadeiras à
parte.
Eu gostaria, para não me tornar muito repetitiva, só de dar as boas-vindas, sei que
deveria ter dado no início desta Audiência, mas já estamos finalizando-a, então, desejo um bom
retorno a todos. Dizer que é uma satisfação muito grande recebê-los aqui em nosso Centro de
Formação. Muito obrigada, Deputado, por essa oportunidade.
Quero pontuar três coisas que eu acredito que não foram contempladas aqui: nós
não podemos fechar uma discussão tão importante como esta, numa única fala, que é a não
reprovação, isso não podemos mesmo. Nós, como profissionais, temos que ter isso muito claro, que
discutir Ciclo de Formação Humana, parte do humano primeiramente; e nós estamos aí, há dezoito
anos, como já colocaram muito bem aqui, e ainda não nos apropriamos do que é realmente o Clico
de Formação Humana, parte desse princípio.
Quero registrar, também, a importância da nossa formação continuada. Não estou
aqui defendendo o CEFAPRO, certo? Porque, antes de estar diretora, eu sou educadora há trinta
anos, já perpassei por vários momentos do Estado e nunca vi um momento que a educação teve tanto
espaço para discussão quanto agora. Tantos projetos para serem analisados, é claro, nós não vamos
pegar o pacote, colocar debaixo do braço e levar para casa, temos que discuti-lo, sim. Mas, em
nenhum momento desses trinta anos, teve tanta oportunidade para se discutir como agora.
De quem é o privilégio? Nosso mesmo, porque nós fomos para o embate, isso aqui
não foi conquistado com facilidade, não! Isso foi conquistado através de lutas! Eu tenho marca na
canela, de briga sindical.
E o terceiro ponto, para não avançar muito, porque já extrapolamos no horário, é
lembrar que a formação continuada está aí quase paralela ao Ciclo de Formação Humana! E nós
ainda não nos apropriamos dela, nós ainda não construímos esse espaço na nossa escola, dessa
formação continuada.
Nós temos um espaço lá, sim, que é a sala do educador, mas a formação continuada
como direito nosso, direito adquirido, gente!... O Governo não foi bonzinho e disse assim: “De hoje
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em diante, vocês irão ganhar para estudar”. Em momento nenhum! Nós conquistamos isso através de
lutas, e tem gente que está chegando depois disso que não sabe.
A equipe gestora da escola tem que chamar esse profissional que está chegando,
como já foi dito aqui em outros momentos, e trabalhar isso; colocar no seu acolhimento - se eu não
me engano, foi a assessora que se lembrou disso -, acolher esse pessoal que está chegando; dizer:
“Olha, nós temos uma organização”, como a colega falou, que ela está com quatro anos - ela veio de
outro Estado, provavelmente. A nossa política é essa, agora, em que ponto ela precisa ser
melhorada? Nós vamos definir juntos, porque quem faz a educação somos nós, não é o Governo, não
é a equipe que sentou para pensar em formação, mudar de série para ciclo. De jeito nenhum, quem
faz o dia a dia, lá na escola, sou eu.
Não é admissível que o aluno fique três anos em um ciclo e vá para o segundo sem
saber, a não ser que ele tenha problema; e isso já foi discutido aqui, que nós precisamos sim – e nós
vamos cobrar – do apoio pedagógico e tudo mais.
Só lembrando mais uma coisinha, para fechar o assunto a respeito da formação
continuada. Além de formação continuada, nós precisamos trazer para o interior da nossa escola,
Coordenadores e Diretores que estão aqui, trazer para a nossa discussão a formação inicial também,
e chamar a UNEMAT e a UFMT para discutirmos.
Eu estive nos últimos dias lá, numa avaliação dos cursos... Porque nós, aqui, como
Centro de Formação, às vezes, trazemos os profissionais para a discussão, Deputado, e nós vamos
perceber na nossa fala que o que faltou não foi a formação continuada e, sim, lá na inicial, porque
ficou um vácuo. Não é que está errado, não, não, não... É porque ficou uma lacuna, e essa lacuna
precisa ser discutida e preenchida, senão, a educação não vai avançar.
Mais uma vez, muito obrigada a todos, é uma honra muito grande...
Não vou pedir desculpas, porque a culpa não é minha, e o ar também não está
estragado, ele é novinho, é porque é um só, e o espaço é muito grande, com muitas pessoas não é
mesmo possível que mantenha o espaço gelado.
O nosso Centro de Formação está aberto para a sociedade. Nós vimos fazendo o
que podemos aqui, sem nenhum pedido de desculpas, mas na medida do possível, Deputado, nós
estamos aqui para promover esses momentos – e espero que tenhamos mais, porque não se esgota
aqui.
O Ciclo de Formação Humana é uma proposta – e temos aí 18 anos que não
conseguimos manter o currículo, gente! Você pega um PPP, como estudamos no ano passado, cadê
os assessores? Cadê os diretores da escola? Porque nós pegamos os PPPs das escolas para serem
analisados e lá não contempla a proposta da escola, o que realmente a escola precisa para o primeiro
ciclo, o perfil de entrada e o perfil de saída em cada ciclo.
Nós precisamos definir isso, gente, e nós que temos que fazer, lá na nossa escola, o
espaço de formação continuada. É pouco? É, mas isso é o mínimo! Oitenta horas? É o mínimo. A
escola poderá organizar-se em 100, 200... A escola é que sabe, mas nós precisamos ter essa
discussão, lá na nossa escola, o perfil de entrada e o perfil de saída. É claro que tem toda parte
estrutural que eu não vou deixar de dizer, porque vocês mesmos estão vendo que nós, aqui, também
não temos.
Eu tenho formadores em sala, aqui, sem ar-condicionado. Tem sala de formador
que não tem ar-condicionado. E na sala de aula e na assessoria pedagógica também não tem. Tem
um espaço lá, de formação, onde hoje à noite iremos, que também não tem. Tudo isso nós
precisamos discutir.
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Eu quero mais uma vez agradecer e parabenizar a equipe, dizer que é uma honra
muito grande para o CEFAPRO, além de ceder esse espaço, participar desses momentos.
Sintam-se todos acolhidos – minha fala não é despedida, mas eu estou me
despedindo – e que tenham um bom retorno às suas casas, e que ao chegar lá, todos encontrem os
entes queridos do jeito que os deixaram, porque, além de educadores, nós somos uma espécie de
mãe, gostamos e zelamos pelos nossos, assim como na nossa escola.
Muito obrigada e felicidades a todos!
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Obrigado, Professora e Diretora,
colega Lenilda.
Passo a palavra ao Professor Edinho, Coordenador de Formação e Capacitação dos
docentes e diretores, que também é professor efetivo, concursado da rede estadual e que está lá na
SEDUC.
O SR. EDINALDO GOMES DE SOUSA - Boa tarde a todos e a todas.
Eu quero cumprimentar o Deputado Wilson Santos por esta iniciativa brilhante;
quero cumprimentar todos os educadores do Polo de Tangará da Serra em nome dos meus colegas
do CEFAPRO.
Primeiramente, eu quero dizer que a SEDUC já tomou posição em relação àquilo
que entende de educação. A posição da SEDUC é que os nossos alunos têm direito a uma educação
de excelência e é essa educação que nós vamos oferecer aos nossos alunos. É uma educação integral,
em que ao mesmo tempo que nós valorizamos o conhecimento científico, sabemos da importância
do conhecimento científico, também não podemos nos furtar de oferecer uma educação humana e
social. Então, essa é a posição da SEDUC, uma educação de excelência.
E aí, a principal ação da SEDUC, que não é fácil – e aí, eu quero usar as palavras
do Rubens Alves –, é despertar os nossos educadores desse sono profundo. É um sono profundo que
é trazido em função de muita angústia, de muita surra, de muito pedido de socorro, e o Estado não
fez nada até agora, não tem feito. Então, nós precisamos...
Se o professor não assumir esse compromisso, não estiver feliz, não estiver
contente, não adianta modalidade, não adianta prédio bonito, não adianta nada. Então, o nosso
principal foco é o professor, para que possamos ofertar uma educação de excelência. E como nós
conseguimos despertar os nossos professores? Valorizando-os.
Não é possível mais continuarmos nesse sentido, que um professor dê aulas em
três, quatro escolas. Não é porque nós queremos, nós somos obrigados, senão minha filha não come;
minha esposa não pode ir ao médico e eu não tenho qualidade de vida. É urgente a necessidade da
dedicação exclusiva, nós precisamos dialogar essa questão, porque aí eu vou viver aquela escola,
vou me dedicar àquela escola. Então, nós estamos tomando posição, com relação a essas questões.
Com relação à escola, a SEDUC... E aí mais uma vez, reportando a Moacir
Gadotti, que vai dizer que “A escola é um lugar bonito, é um lugar de alegria, é um lugar de
confraternização, apesar de faltar tudo, naquela escola ainda há o que há de melhor, ainda há o
essencial, há gente.”
Nós sonhamos, nós acreditamos e a SEDUC vai lutar para que as nossas escolas
sejam um espaço de produção de conhecimento científico e também um espaço de socialização. A
escola não pode resolver tudo, mas a escola pode dar respostas para muitas coisas, porque somos nós
educadores, e a escola consegue enxergar o que os olhos não vêem, aquela criança que não aprende,
aquela criança que é mal-educada, que é fechada, ela está nos fazendo um pedido de socorro, e é isso
que nós fazemos.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO
ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DEBATER O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
IMPLANTADO NO ESTADO DE MATO GROSSO, REALIZADA NO DIA 07 DE MAIO DE
2015, ÀS 09 HORAS, EM TANGARÁ DA SERRA.
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Por isso, companheiros, a nossa missão não é fácil, porque nós precisamos olhar
para vocês, vocês precisam olhar para a SEDUC e sentir segurança naquilo que nós estamos falando,
os nossos olhos precisam brilhar, e aí a SEDUC tem que deixar de ser aquela instituição de
inquisição, só de cobrança.
Não, a ideia nossa, a ideia do Secretário Permínio é de que a SEDUC seja a nossa
referência. Quando eu me lembrar da SEDUC, quando eu passar pela SEDUC, vou dizer: aquele ali
é meu espaço, é ali que sou defendido, é ali que sou respeitado, é ali que sou valorizado.
É isso que defendemos. Como falou o Alfredo, estamos começando agora, não é
desculpa, vai ser um ano, ainda, de difíceis questões financeiras, mas dias melhores estão por vir,
não tenham dúvida disso.
Quero dizer que nós estamos vivendo um momento muito bom, se aqui alguém
tem alguma... Diretor, coordenador, professor, que busca a SEDUC e não é atendido, é uma
orientação totalmente adversa, porque todos os Superintendentes e Coordenadores estão intimados a
prestar serviço de excelência.
Se eu não resolvo o problema, eu tenho que dar a resposta, e a nossa resposta tem
que ser imediata; então, se ainda não está acontecendo isso, não deveria estar acontecendo mais; não
podemos resolver, mas resposta nós temos como dar.
Para finalizar, quero dizer que estamos vivendo um momento muito importante.
Por quê? Porque nós temos uma Assembleia Legislativa que foi renovada, está com ideias novas;
nós temos ali um Presidente da Comissão de Educação que é professor, que foi prefeito, que foi o
único da região Centro-Oeste que recebeu o selo Prefeito Amigo da Criança. Quando ele esteve lá, o
índice da educação subiu em vinte posições, se tornando uma das melhores da região Centro-Oeste.
Esse professor é o ex-prefeito Wilson Santos. Então, nós estamos bem com ele na coordenação da
Comissão de Educação da Assembleia Legislativa.
Nós temos um Secretário que, apesar de não ser professor, nos demandou essa
forma de ver a educação diferenciada. Nós precisamos construir essa relação com os nossos
educadores; uma relação verdadeira, honesta e justa; essa é a determinação do nosso Secretário.
Nós temos um Governador que é filho de professora, que é neto de professora, que
é professor e que acredita que nós só vamos sair dessa condição de país subdesenvolvido, país em
desenvolvimento para um país de uma boa qualidade de vida, país desenvolvido, se investirmos na
educação. Esta é a palavra do nosso Governador: todos os esforços para a educação pública de Mato
Grosso, que os nossos alunos têm direito.
Além disso, nós temos aí o que há de melhor, que apesar de estar sofrendo, apesar
das angústias, apesar das lágrimas, nós temos ainda uma grande quantidade de professores e
professoras que acreditam e querem que a nossa educação melhore. E é isso que nos fortalece, é a
esperança de vocês, é aquilo que não deixaram morrer, o que há de melhor, é o meu acreditar numa
educação.
Por isso, ainda temos neste ano muitas dificuldades, mas não tenham dúvidas,
caríssimos amigos e amigas, de que nós estamos entrando num novo momento da educação básica
deste Estado. Não tenham dúvida disso, e que nós precisamos construir uma relação justa e honesta,
para que nós possamos conseguir os nossos objetivos.
Nós não vamos conseguir isso sem você que está na sala de aula, não temos a
menor condição. Por isso, é um convite que fazemos: dêem esse tempo para nós, continuem
cobrando, mas venham conosco, porque estamos vivendo um novo momento da educação pública
deste Estado.
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Muito obrigado e uma boa-tarde a todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professor Edinho.
Eu quero agora, consultar a Secretária se ela quer usar da palavra. (PAUSA)
Com a palavra, a Secretária Municipal de Educação, Iolanda Garcia.
A SRª IOLANDA GARCIA – Boa tarde a todos!
Eu quero mais uma vez registrar que é louvável este momento dessas discussões e
a presença da Assembleia Legislativa em nosso município, mas os nossos agradecimentos aos
nossos profissionais da educação, que veem a nossa persistência quando o nosso tema é relevante e,
como disse a Sra. Lenilda, muitas coisas que temos, hoje, são conquistas de profissão e de luta.
Queremos relembrar quantos anos temos de carreira, do que nós participamos, e
justamente dizer que a história da educação foi construída pelos educadores. Nós ainda temos que
lutar, mas nós temos uma caminhada consolidada.
E quero dizer que em nenhum momento, aqui, foi colocado que o que temos do
ciclo precisa ser mexido na proposta, ele precisa ser consolidado no que temos para a educação de
qualidade.
A Secretaria de Educação agradece a oportunidade de participar. Nós também
temos alguns pontos já diagnosticados, que precisam de uma intervenção imediata, e estamos
trabalhando para isso. Mas temos também avanços, quando se fala em proficiência, quando se fala
em estrutura, de repente, mais consolidada, mais próxima, e sabemos também em que precisamos
avançar ainda, colocar e atender a comunidade.
Já fomos os professores que saímos atrás do aluno para vir para dentro da escola e
hoje trabalhamos exatamente para garantir esse direito da escola, mas não queremos também
assumir o papel da sociedade, como foi muito bem colocado aqui.
Meus agradecimentos a esta participação, pela oportunidade que nos foi dada e
colocamos a Secretaria de Educação à disposição de Vossas Excelências, professores, colegas
visitantes de outros municípios também, para trocarem ideia conosco e participarem da formação
humana da nossa sociedade.
Obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado!
Com a palavra, o professor e Prefeito Fábio Martins Junqueira. O Prefeito Fabinho
pediu para fazer as suas últimas considerações.
O SR. FÁBIO MARTINS JUNQUEIRA - Eu fiz algumas anotações, bem rápidas,
sobre tudo que ouvi aqui.
Uma delas é a questão da formação do educador. As nossas universidades não
estão trabalhando na formação do educador em consonância com a realidade educacional que nós
temos no país, por isso, há uma distorção muito grande na hora do professor ir para a sala de aula,
sair da universidade e ir para a sala de aula. É um desencontro muito grande com a realidade e a
parte teórica obtida na universidade.
Outro gargalo que precisa ser trabalhado e que, talvez, dependa de um trabalho
feito pela Assembleia Legislativa, pelos Deputados, em outra instância de poder que é o Congresso
Nacional, Deputados Federais e Senadores, para que haja uma modificação no sistema, não no
sistema educacional apenas.
O Brasil precisa de um novo pacto, o Pacto Federativo que nós temos, hoje, judia
das pessoas. Por que judia das pessoas? Porque é organizado de forma a que todo recurso tributário
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se centralize nas mãos do Governo Federal, e isso não é de pouca data, não. Isso vem de anos e anos,
olha lá se não remonta ao período imperial.
O fato é que hoje 65% das receitas tributárias deste país estão nas mãos do
Governo Federal; aproximadamente 20% nas mãos dos vinte e sete Estados e, aproximadamente,
15% nas mãos dos 5.560 municípios. Inversamente a isso, nós temos as responsabilidades para o
povo – para atender as necessidades da população – nas mãos dos dois entes que têm o menor
volume de recurso.
A segurança nas mãos, quase que integral, do Estado; a educação, dividida
concorrentemente entre Município e Estado; a saúde, praticamente, nas mãos dos municípios, com
um pouquinho de participação do Estado, e a União muito pouco, em todos os aspectos.
Hoje, nós estamos recebendo informações de que o Sistema Único de Assistência
Social (SUAS) promoverá uma paralisação no país, estão se organizando no país para uma
manifestação dentro dos próximos dias, em virtude de que os recursos do SUAS, estão com meses e
meses de atraso.
Há uma colocação de competências cada vez maiores para os municípios e para os
Estados também, sem a competente repartição tributária. O país só mudará se houver um
chamamento que, inclusive, venha do público para essa repactuação, que passa pela nova divisão
tributária. Enquanto continuar do jeito que estão, não vai mudar muito, porque 25% dos recursos da
educação no município vão continuar sendo os 25% da educação do pouco que os municípios têm;
os 25 % dos Estados, vai continuar sendo o pouco que os Estados têm.
Nós ouvimos a fala do Deputado Wilson Santos dizendo que quase R$
2.000.000.000,00 do orçamento da SEDUC, R$ 1.900.000.000,00 é folha de pagamento. O que isso
demonstra? Isso demonstra que a pactuação tributária que nós temos no país não é suficiente. Não dá
para fazer o que se pretende. É o mesmo problema com o SUS, os valores repassados pelo Governo,
via SUS, para manutenção das unidades de Saúde da Família e outros órgãos da saúde, são
insuficientes para tudo. É vergonhoso, não dá, não dá mesmo para falar que dá para fazer alguma
coisa.
É a mesma coisa na linha da merenda escolar. Um pouquinho para fazer o muito
na merenda. Se faz com esforços das escolas, porque tem também a complementação da família, a
criança não come só na escola, come em casa também. Mas, fora isso, os valores são insuficientes
para desenvolver políticas públicas importantes.
Outra questão, existe uma cifra negra aí, quando falamos que essa nova
sistemática diminuiu a evasão, tem uma cifra negra que não é registrada; ela não é registrada por
conta da aprovação automática, mas continua havendo evasão, sim. Ainda continua havendo evasão
nas escolas, os indicadores estão maquiados – eles estão maquiados –, teria que se modificar.
Eu concordo em gênero, número e grau com a educadora lá da Escola Parecis, de
Campo Novo, Professora Edinéia, a respeito disso. Esses indicadores não estão retratando a
realidade.
Aqui no Município de Tangará da Serra, nós estamos fazendo uma intervenção
pedagógica, um processo de intervenção, para fazermos uma avaliação, porque o Governo criou
Provinha Brasil, Prova ANA e outros mecanismos de avaliação, e nós, aqui, que já tivemos uma
avaliação institucional no passado, estamos retomando essa avaliação com critérios próprios; vamos
avaliar o português, a matemática e outras disciplinas, na série inicial, no fim do ciclo, no meio do
outro ciclo, na série final do Ensino Fundamental, para também termos uma ideia institucional do
que está acontecendo, porque nós não temos controle de quem elabora essas avaliações em nível de
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Governo Federal, de como são e quais são os critérios para essa avaliação. E aí vem de cima uma
avaliação, não participa do processo, aqui, com o professor. Mede e fala: olha, está muito mal.
Então, vamos tentar avaliar aqui, institucionalmente, local, já fizemos uma primeira avaliação
diagnóstica, tem aí um processo de intervenção e neste ano nós vamos fazer uma avaliação dessas
intervenções, o que é que isso vai nos dar de suporte para avaliar as intervenções que nós temos que
fazer no processo como um todo. Não apenas no aspecto da relação professor-aluno, também na
questão do prédio, das instalações, de todos os aspectos, em todas as áreas.
O que eu acho é que tem que bater duro, que essa divisão tributária tem que ser
modificada, tem que ter um novo pacto federativo, em que os recursos cheguem de verdade nos
Estados e nos municípios, que são os entes da federação que trabalham as políticas públicas, que
executam as políticas públicas propriamente ditas. E nós temos uma relação inversa.
Desculpe ter demorado. (PALMAS).
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Prefeito; muito
obrigado, Professor Fabinho.
Passo a palavra para nossa palestrante, para que ela faça as últimas respostas e as
suas considerações finais. Depois ouviremos os dois Deputados; não sei se o Alfredo ainda quer
falar? (PAUSA)
Com a palavra, a Professora Alvarina.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - A partir da fala da Diretora do
CEFAPRO, eu quero dizer da questão da apropriação da concepção do Ciclo de Formação Humana
e remeter ao seguinte: se é formação humana, não há reprovação, retenção. E aí tem uma confusão
com o Ciclo de Aprendizagem, então, nos nossos estudos precisamos ter claro quais são, realmente,
os conceitos de Ciclo de Formação Humana e no que ele se difere de Ciclo de Aprendizagem.
No Ciclo de Aprendizagem, como já foi pontuado aqui, no primeiro ciclo não tem
a reprovação, mas no último ano de cada ciclo, nos ciclos posteriores, reprovam. Isso é ciclo de
aprendizagem.
No Ciclo de Formação Humana a progressão é continuada, não é automática. E
com os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, nós temos as estratégias que precisam
ser melhor planejadas por nós, que estamos na ação e, também, por quem implementa.
Isso já é discussão de longa data, não é, Edinho? No processo de formação do
CEFAPRO, na formação, principalmente, dos coordenadores pedagógicos, para trabalhar o apoio
pedagógico do articulador que trabalhava, antes, quando tínhamos essa figura no cenário da escola, a
intervenção pedagógica do professor, que já foi pontuado por vocês, o quanto já fazem e, também, a
questão nessa apropriação e o apoio pedagógico, entra também no cenário a superação. Então, se o
aluno ainda precisa de tempo maior para construir a sua aprendizagem, completar o seu processo de
construção de conhecimento no Ciclo de Formação Humana, temos a proposta de superação, na qual
o aluno permanece até um ano para superar as dificuldades que ele tem, que ainda possa apresentar.
Portanto, tem diferenciações.
Outra questão que eu preciso pontuar, é que quando o Prefeito Fábio diz: “Começa
com o ciclo, e os alunos saem do ciclo para a série”... E aí é o cuidado que nós, educadores, temos
que ter com essa questão, porque, se o aluno inicia num processo, ele precisa dar continuidade a esse
processo; e quando passamos de ciclo para série, na mesma escola, nós interrompemos e começamos
outra ideia, interrompendo o ciclo. Então, são coisas que precisamos refletir, do ciclo para a série e
da série para o ciclo. Lembrar que, legalmente, nós precisamos assegurar que o aluno inicie o
processo e termine, nós precisamos da terminalidade.
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Essa questão acontece em vários municípios: os primeiros anos do ensino
fundamental ficam para a Prefeitura, a Secretaria Municipal e a continuidade no segundo e terceiro
ciclos ficam para o Estado.
Também precisamos refletir sobre o seguinte: você lida com o ensino fundamental
de nove anos, que inicia com seis e termina com quatorze ou quinze. Esse projeto, então, é coletivo?
Município e Estado? Por quê? O aluno não é do Estado ou do Município, ele é aluno do sistema de
ensino de Mato Grosso.
Então, independentemente se a responsabilidade mantenedora é do Município ou é
do Estado, mas esse projeto pedagógico, como é coletivo, precisa ser discutido entre esses gestores
dentro do próprio município. Por quê? Aqui ele está aprendendo uma coisa – vocês mesmos
colocaram isso –, ele está aprendendo uma coisa aqui, não está avançando, porque a escola é seriada.
Aí, pega transferência, muda a modalidade de ensino, porque não reprova, e depois ele não
reprovou, volta para ser enturmado na seriação novamente. E fica assim, nessa baila, de uma escola
para outra, só para resolver a situação, para não ficar reprovado.
Esse projeto precisa ser discutido, enquanto o currículo de escola se desenvolve
naquele município. Às vezes tem diferenças entre campo e cidade, dentro de uma instância que é
essencialmente agrícola, mas para quem mora no setor urbano, o currículo é totalmente diferenciado,
não leva nem em conta a sua própria contextualização, que deveria desenvolver os conteúdos
voltados para a educação do campo, essencialmente agrícola.
Portanto, essas questões que parece que não influenciam muito, aí quando você vai
avaliar currículo e educação, influenciam bastante. Então, quando vamos pensar em currículo
escolar, essa discussão precisa ser ampliada para além do portão da escola, de cada escola. As
escolas precisam se unir nessa discussão e alinhar o currículo que se desenvolve para aquela
localidade, para os seus moradores, e sempre é muito bom. Eu gosto de discutir Ciclo de Formação
Humana, porque se o direito é de todos, nós precisamos segurar nas mãos e assegurar, realmente,
esse direito de todos.
Onde encontrei isso? No início, quando eu me referi, ali, 32 anos de profissão, só
que na organização seriada, a minha turma, na porta, assim... Eu nem conhecia ainda Vygotsky e
Wallon, porque eu fiz magistério, mas em cima da porta da minha sala de aula para crianças de seis
anos, porque ainda não era ensino fundamental, era educação infantil, a plaquinha era sala de
desenvolvimento humano, e eu não conhecia nem Vygotsky, nem Wallon, porque no magistério
minha formação era behaviorista, era comportamental. Mas tinha algumas coisas que na minha
experiência eu não achava bacana, então, eu ficava procurando meios de como ser melhor, e nunca,
mesmo trabalhando na seriada, eu não era favorável, nunca fui favorável à reprovação, eu sempre fui
favorável à produção da aprendizagem, construção de saberes, dentro de uma realidade vivenciada e
que o sujeito fosse ativo nessa realidade.
Acredito e gosto muito da formação humana, mas sempre temos o senso crítico de
avaliar e perceber o que nós, coletivamente, precisamos melhorar. Então, por essa oportunidade de
discutir de novo o Ciclo de Formação Humana, eu agradeço o convite, agradeço essa oportunidade
de estar discutindo com vocês.
Muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora. Com
certeza a senhora será convidada para novas rodadas. Nós gostamos muito.
Com a palavra, o Sr. Alfredo da SEDUC, que fará, também, suas considerações
finais.
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Pág. 55 - Secretaria de Serviços Legislativos
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Gostaria de anunciar para vocês que na
próxima semana o Secretário de Educação estará aqui em Tangará da Serra, e nessa ocasião ele
aproveitará para conhecer as escolas daqui de Tangará da Serra, e conversará com vocês, com o
pessoal do CEFAPRO, da assessoria pedagógica e das unidades escolares também.
Outro ponto, que quero abordar está relacionado com a questão do Plano
Municipal de Educação. Aqui, em Tangará da Serra, Sr. Prefeito, o Plano Municipal está na fase de
conferência? Esta finalizando? Já tem o documento base e agora vai para conferência? (PAUSA)
A SRª IOLANDA GARCIA - Nós realizamos, aqui, Sr. Alfredo, os eixos
temáticos do plano, por conferências temáticas e está faltando três conferências para finalizarmos o
documento base para a Assembleia Geral.
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Esse é um momento muito importante, eu
acho que a participação tanto da rede estadual como da rede municipal é um momento muito
importante para que possamos discutir essas políticas e também essa questão que foi colocada, que
na rede municipal uma parte está ciclada e a outra está seriada, e na estadual está ciclada.
São estratégias que nós temos em nível nacional, em nível estadual e em nível
municipal, e vocês poderão debater e discutir as metas para os próximos dez anos. Então, é
fundamental que haja a participação efetiva dos profissionais, dos diretores, do pessoal do
CEFAPRO, para que possamos enriquecer esse trabalho de articulação com os municípios.
Atualmente, eu estou coordenando, em nível estadual, a elaboração do Plano
Municipal de Educação. Nós estamos, ainda, com um pouco mais de vinte municípios que não
conseguiram fechar o diagnóstico, mas a nossa proposta é que até o dia 24 de junho todos os
municípios tenham os seus planos municipais aprovados, que é um instrumento de planejamento
muito importante para a educação do município e, também, do Estado e do Brasil. É a primeira vez
que nós vamos ter uma articulação de planos municipais, estaduais e o Plano Nacional de Educação,
todos voltados com algumas metas estabelecidas em nível nacional.
Gostaria de reforçar o convite para que vocês participem e, novamente, agradecer a
Assembleia Legislativa, a presença do Deputado Wilson Santos, por trazer essa discussão
qualitativa. É um momento muito importante, porque nós estamos discutindo como nós aprendemos.
Esse é um ponto fundamental, porque nós temos, hoje, estrutura de escola do século XIX, nós temos
professores do século XX e alunos do século XXI. Esses desafios somente serão superados com o
envolvimento de todos, debatendo, discutindo e propondo mudanças.
Muito obrigado! Uma boa-tarde! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Passo a palavra ao Deputado Wagner
Ramos, que foi um dos principais incentivadores para que nós escolhêssemos o polo de Tangará da
Serra, juntamente com o Deputado Saturnino Masson, e vocês estão de parabéns pelos dois
Deputados. Tangará da Serra ficou muito tempo sem deputado, e eu sou do tempo do Jaime Muraro.
Eu estou no meu terceiro mandato, com intervalo de 16 anos. Quem olha para
mim, acha que eu sou novo, eu sou avô de cinco netos, comecei nessa estrada, há muito tempo.
Quando cheguei à Assembleia Legislativa, em 1991, lá estavam os representantes aqui de Tangará
da Serra, que eram o Jaime Muraro e o Porfírio. Eu sou desse tempo, do século passado. Eu não me
lembro de Tangará da Serra, dessa região ter dois Deputados Estaduais de uma vez só. Então, vocês
têm que montar nesses cabras e carcar esporas neles, fazer o resultado aparecer.
O município sofreu muito com aquelas brigas, sai prefeito, entra prefeito, vai
prefeito, bota prefeito, vice-prefeito, presidente da câmara. Eu me lembro muito bem de tudo isso,
até vereador foi assassinado por aqui. Tangará da Serra perdeu muito com aquilo, perdeu muito
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tempo com aquilo, muitas empresas que queriam vir para cá, foram para Sorriso, Primavera do
Leste, Sapezal, Campo Novo do Parecis, Lucas do Rio Verde, porque havia um ambiente muito ruim
politicamente. Eu espero que os dois possam juntos somar forças e trazer tudo o que puderem para
Tangará da Serra, porque essa região merece.
Com a palavra, o nobre Deputado Wagner Ramos.
O SR. WAGNER RAMOS - Muito obrigado, Deputado Wilson Santos.
Eu quero cumprimentar a todos os presentes neste evento tão importante e dizer
que hoje, especificamente nesta data, nesta Audiência Pública, nós tiramos vários aprendizados.
Eu quero cumprimentar o Prefeito Fábio Martins Junqueira, que está vivendo um
momento interessante, já que, na próxima semana, é o aniversário da cidade de Tangará da Serra,
Deputado Wilson Santos. Eu quero aproveitar a oportunidade para convidar todos os visitantes aqui,
das cidades vizinhas, para participar conosco das atividades, cumprimentar o representante da
SEDUC e os professores que estão aqui até esse horário, atentamente, acompanhando esta Audiência
Pública, discutindo diversos assuntos.
Nós tiramos um grande aprendizado aqui, por mais que entendamos as
necessidades, as reivindicações que são feitas neste momento, nós temos sempre muito o que fazer
pela educação. E hoje, nesta Audiência Pública, Deputado Wilson Santos, juntamente com o
Deputado Saturnino Masson, nós estávamos na estrada de lá para cá e pensando na quantidade de
pessoas que viriam para esta Audiência Pública. Chegamos a pensar: será que vai ter gente ou não
vai ter, e vemos a qualidade de pessoas que estão aqui hoje, acompanhando esta Audiência Pública.
Então, hoje, é o momento sincero de parabenizá-los. Nós vemos aqui pessoas de
Nova Olímpia, Barra do Bugres, Porto Estrela, Sapezal, Denise, Arenapólis, Campo Novo dos
Parecis, toda a região aqui presente para discutir esse sistema.
A Assembleia Legislativa estará, ao longo de oito Audiências Públicas requeridas
e coordenadas pelo Deputado Wilson Santos, avaliando tudo aquilo que vai ser discutido em todos
os polos, envolvendo praticamente o Estado de Mato Grosso nessa discussão.
Então, também lhe parabenizo, Deputado, pela iniciativa e tenho certeza de que ao
final disso tudo nós vamos encontrar um denominador para que o nosso Governador, Pedro Taques,
possa avaliar qual é o pensamento da sociedade e brigar com o Governo Federal, os Deputados,
Senadores e, principalmente, com a própria categoria, para discutir um futuro melhor para a
educação do nosso Estado. Portanto, parabéns a todos vocês que participaram. Podem ter certeza de
que nós sofremos muito, Deputado Wilson Santos, na gestão passada, com diretor e professor
cobrando melhorias nas salas de aula, na própria escola.
Há situações, aqui em Tangará da Serra, que ocorreram, que o povo pediu para
aumentar o muro da escola, dois metros de altura, porque bandidos estavam indo atrapalhar a sala de
aula, à beira da janela da escola, interferindo, e o professor sem saber o que fazer, para tomar
providências em relação a isso. Então, é um absurdo o que tem acontecido na área da educação e,
principalmente, por falta de investimento do Estado e do Governo Federal.
Eu digo isso acreditando muito no novo modelo de gestão que o Governador Pedro
Taques quer implantar em nosso Estado de Mato Grosso. Ainda é cedo para fazermos as cobranças,
mas tenho certeza de que ao longo desse período ele irá conseguir colocar aquilo que tem em mente
e, com certeza, melhorar o nível educacional no Estado de Mato Grosso.
Muito obrigado a todos.
Parabéns a vocês que permaneceram até agora. (PALMAS)
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O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Passo a palavra ao nosso ex-Prefeito,
decano da Assembleia Legislativa, que fez questão de estar conosco aqui, membro titular da
Comissão de Constituição, Justiça e Redação, daquela Casa; o nosso amigo, Deputado Saturnino
Masson, popular “Satu”.
O SR. SATURNINO MASSON - Quero cumprimentar o Deputado Wilson Santos
e parabenizá-lo por esta Audiência Pública; o Deputado Wagner Ramos; os assessores da SEDUC; o
Prefeito Fabio; cumprimentar a todos e a todas aqui presentes e parabenizá-los porque apesar do
avançado da hora, quase duas, vocês permaneceram, saíram poucas pessoas, isso é importante.
E aqui foi discutido um assunto da mais alta relevância, eu acredito que esse
trabalho vai gerar frutos importantes, não é Deputado Wilson Santos? Porque foi tudo catalogado,
tudo gravado, e em outras audiências foram dessa forma também.
E juntamente agora com técnicos da Secretaria, com a equipe do Governo do
Estado, nós estamos esperançosos que o Governador Pedro Taques irá, sim, com sua equipe... E
também poderá contar com a Assembleia Legislativa, não só com estes três presentes aqui, mas com
os vinte quatros Deputados, para que possamos aprovar projetos importantes para todas as áreas,
para o segmento das indústrias, da infraestrutura, da saúde, que está com muita dificuldade no
Estado, mas, especialmente, para a educação, que é a mola mestra.
Quero me despedir nesta tarde cumprimentando e deixando um abraço a todos.
Coloco-me à disposição dos professores e coordenadores de Tangará da Serra e da região, o nosso
gabinete está à disposição, da mesma forma o Deputado Wilson Santos, o Deputado Wagner Ramos,
o meu gabinete, a minha equipe, minha assessoria está à disposição para receber as demandas, as
cobranças, nós queremos ser um portal desta região. Então, muito obrigado, uma abraço a todos e
que Deus os acompanhe em seu retorno. Obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Eu quero fazer algumas
considerações para encerrar esta Audiência Pública.
Primeiro, dizer à professora que ela me ensinou e eu aprendi. Eu não sabia que o
Ciclo de Formação Humana não reprovava, e a senhora fez a correção que é o ciclo de aprendizagem
que faz essa retenção, depois com as salas de superação - estamos sempre aprendendo.
Quero falar um pouquinho que nesses quatorze anos... Na verdade, em Mato
Grosso o Ciclo chegou em 2001, no finalzinho da gestão do Governador Dante de Oliveira; em
Cuiabá chegou em 1998, no meio da gestão do Prefeito Roberto França; e no Brasil chegou primeiro
em Minas Gerais, em São Paulo, em Mato Grosso do Sul, mais ou menos no início dos anos 80.
E por que chegou esse modelo? Chegou com aquele movimento que balançou o
Brasil, da redemocratização, da Lei da Anistia Política, das Diretas Já. Aquele momento, Fabinho,
que o Brasil viveu, para enterrar o regime militar e renascer a democracia. E também os
profissionais da educação embalaram nesse momento histórico e propuseram uma nova escola para
o País. Então, desde o início dos anos 80, a ideia nascida na França, em 1943, influenciada por esses
filósofos, sociólogos, educadores Piaget, Wallon... Todos eles influenciaram uma nova escola para o
mundo.
E o mundo europeu também, ao terminar a segunda guerra, queria um novo
mundo, um novo padrão de relação entre as pessoas. Então, veja você que a educação está sempre
associada às mudanças, sempre associada. Quando os ventos da democracia começam a soprar no
Brasil, os profissionais também querem uma nova escola. E ela vem daí, em alguns Estados e
Municípios mais rapidamente, e em outros mais demoradamente.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO
ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DEBATER O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
IMPLANTADO NO ESTADO DE MATO GROSSO, REALIZADA NO DIA 07 DE MAIO DE
2015, ÀS 09 HORAS, EM TANGARÁ DA SERRA.
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Quero dizer ao Professor Cesar Guedes – está aí ainda, Cesar? – que lá no Egito
poucos sabiam ler e escrever, os faraós eram analfabetos, só os escribas dominavam a leitura e a
escrita. Aqui, na idade média é o domínio da igreja católica, só os padres, os bispos, os monges
sabiam ler e escrever, e a grande parte da educação no Brasil foi feita pela escola.
A escola laica e republicana demorou muito para surgir, quando ela surge, não
consegue atender a massa, pouquíssimos tinham acesso à educação. Somente agora, no início dos
anos 2000, é que o Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental.
Posso afirmar com segurança que mais de 50% dos jovens brasileiros não
conseguem chegar ao 2º grau. Temos uma das piores taxas de escolaridades da América do Sul, não
estou dizendo do mundo, da América do Sul. Então, o desafio deste país é educação.
A Coreia do Sul, há 40 anos, não era nada, era uma republiqueta de banana.
Singapura, China, tudo isso é capital humano que está se buscando.
Educação pelo amor de Deus!
A soja vai passar, como passou a borracha, como passou a poaia, como passou a
erva-mate, o algodão vai passar, essa produção primária vai passar.
Este Estado é berço das bacias Amazônica e Platina, nascedouro das melhores
águas do país, isto é dinheiro nas mãos de quem sabe, isto é riqueza nas mãos de quem sabe – mas
tem que saber. E quem tem que dar ao povo conhecimento e sabedoria? O Estado! Seja ele
municipal, estadual ou nacional. É a figura do Estado.
E aqui foram faladas frases maravilhosas, esta aqui, do Professor Wagner: “A
educação está penalizando os que mais precisam”.
A classe média alta e os ricos não estão nem aí para a educação pública. Que se
lixem a educação ciclada, seriada, joguem tudo na lata de lixo.
Quanto menos pessoas como nós que viemos das classes “c”, “d” e “e”, tiverem
acesso à educação de qualidade, melhor - não querem nem saber de nós. Querem os nossos filhos
como empregadas domésticas, vigilantes noturnos, açougueiros. Não que essas profissões sejam
demeritórias, mas porque pagam muito pouco. Há uma segregação social, sim, neste país. Eu sou
filho de uma lavadeira e costureira. Só cheguei aonde cheguei, porque a educação me trouxe aqui.
A minha profissão é só professor, eu sou licenciado em ciências de curta duração.
Não sou fazendeiro, não sou médico, não sou empresário, não sou dentista, não sou agrônomo, eu
não sou nada disso. Eu sou professor de 1º grau, do ensino fundamental. Não consegui nem me
formar em licenciatura plena em física. Fiz um semestre e ficou faltando dois semestres.
A educação transforma as pessoas, só Deus e a educação, na minha concepção,
transformam as pessoas.
Antes de ontem, um bugrinho, um indiozinho, lá de Mimoso, todo mundo batendo
palmas para ele, Rondon – dos quatro lados sanguíneos, três são de índios: Guarás, Terenas e
Bororos. É o maior herói deste País! O homem mais homenageado pelo mundo é brasileiro! Tem um
museu, lá em Nova York, daquele filme “Uma noite no museu”, um pedaço é só das coisas de
Rondon. Tem um Estado chamado Rondônia. Tem um meridiano chamado Rondon. Ele foi indicado
duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz.
Por quê? Porque estudou. Foi ao exército, formou-se como professor de
matemática e ciências; estudou, adquiriu conhecimento; se não estudasse, estava lá no Pantanal até
hoje, como pescador, como vaqueiro.
E não tem tarefa para os políticos neste País – ainda subdesenvolvido em muitos
aspectos – mais importante do que a educação. O resto é enxugar gelo, é enxugar gelo!
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO
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E quem são os nossos professores? Primeiro, há um ditado que diz que os
professores são os únicos, Deputado Wagner Ramos e Deputado Saturnino Masson, que têm um
lugar garantido no céu, porque ser professor num país deste, para ganhar R$ 1.500,00, R$ 1.600,00,
R$ 1.800,00, tem que ter um lugar reservado no céu.
O professor, Deputado Saturnino Masson, não tem ambição material nenhuma. Ele
já faz uma opção no vestibular, sabendo que aquela profissão não vai lhe enriquecer nunca
materialmente, que ele vai viver a duras penas, criar a sua família num padrão de vida abaixo da
classe média. Quem tem um coração desprendido das riquezas materiais, não é um ser normal.
Tem uma passagem da Bíblia que diz que nenhum rico vai entrar no reino dos
céus: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico...” O dinheiro é um
ópio, é uma droga, ele entorpece e droga. E quem tem dinheiro, quer ter mais; eu convivo com essas
pessoas e fico impressionado. Se o cara viver quinhentos anos, não consegue acabar com a grana que
tem, mas ele quer mais, quer mais e quer mais... Quer ir para a Revista Forbes, quer mais um avião,
dois aviões, casa em Paris, casa em Nova York, casa em São Paulo, casa em Brasília... Meu Deus, é
uma loucura! Ele vira escravo do dinheiro e não é o inverso.
Então, um profissional que não tem esse sentimento, Deputado Wagner Ramos e
Deputado Saturnino Masson, ele é diferenciado.
Tivemos uma experiência importante em Cuiabá, nós pegamos Cuiabá na vigésima
primeira posição no IDEB, dentre as vinte e seis capitais do Brasil - Brasília e as vinte e seis capitais
estaduais. Em cinco anos, trouxemos Cuiabá da vigésima primeira posição para a sétima posição no
IDEB.
Como isso foi feito? Nós fizemos um pacto, para começar, com o SINTEP. Eu
entreguei a Subsecretaria da Educação da capital para o SINTEP. Mandaram uns três doidos, lá, para
mim; e nós mais doido ainda, deu doido com doido. Oito anos de gestão, não teve um dia de greve
na educação de Cuiabá, nem meio dia de greve, mas triplicamos o piso em Cuiabá.
Todos os professores ganharam computadores – não desse “canhaim, canhaim”
que você mostrou aqui, esse é “canhaim, canhaim” – e computadores de última geração, do Grupo
Itaú, que ganhou a concorrência. Eu comprei dois mil computadores, todos os dois mil professores
em sala de aula receberam computador.
Sabe como eu fiz, Prefeito Fábio? Eles pagavam um terço do computador e a
Prefeitura dois terços, e ficava como patrimônio do professor. Se o senhor quiser, inclusive, eu
tenho o contrato para passar. Esse é o mínimo, não dá para dar aula mais sem ter pelo menos um
computador, não tem mais como, meu filho, um professor não ter um computador, tem que ter de
última geração. Isso é investir, não é gastar, é investir em capital humano. Ele vai ter acesso a filmes,
vai ter acesso a mapas, a dados estatísticos, tudo ali reunido, não precisa ir à biblioteca atrás de
livros, igual doido.
Criamos oito programas pedagógicos – e o Alfredo falou aqui, oito – para a
disciplina de matemática, que é o bicho papão. Criamos um programa chamado “Matemática, qual é
o problema?”. Para o professor, não é para o aluno, não. Fizemos rodas de conversa...
Eu pegava a região de Cuiabá e reunia trinta a quarenta professores de matemática,
a tarde inteira, e eu junto com eles. Como você ensina essa equação do segundo grau? Como é que
você trabalha tabuada? Aquele mais adiantado dividia com os demais colegas a sua experiência de
sucesso, rodas de conversa aos sábados pela manhã, aos sábados à tarde.
Para a educação no campo, criamos uma metodologia própria, específica. Cuiabá
tem vinte e quatro escolas da rede na zona rural, são quase cinquenta mil alunos em Cuiabá.
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Esse garoto com deficiência física e mental, nós viramos referência do MEC
Nacional. Pegamos com aproximadamente sessenta crianças e deixamos com mais de oitocentas
crianças.
A elite cuiabana, que tem filhos com deficiência física ou mental, tirou os seus
filhos das escolas filantrópicas e privadas e trouxe para a rede municipal. Lá, eu tinha um TDI, um
técnico em desenvolvimento infantil, para cada criança que necessitava, por sala.
E o que é que acontecia com aquele menino com deficiência? Ele crescia, porque
os mais habilitados o puxavam para crescer e passavam a ver que o mundo não era perfeito. E não é
porque ele não anda que não pode pensar, que não pode dar um sorriso, um abraço, um beijo
gostoso, ser feliz também. Já desde cedo os sãos fisicamente, mentalmente, convivendo com a
diversidade, com o diferente e respeitando as diferenças.
Ganhamos um prêmio nacional, África Brasil/2009, a melhor política de promoção
de igualdade racial de órgãos públicos do Brasil. Melhor do que a do Ministério, das Secretarias de
Estado, foi a de Cuiabá.
O que é que eu fiz? Cumpri a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB). O que é que Darcy Ribeiro pôs lá na LDB, como relator? Tem que ter no ensino fundamental
conteúdo programático sobre a África. Capacitamos duzentos professores da rede municipal, depois
eles voltaram para a sala de aula, ensinando história e cultura da pátria-mãe.
Além de levar conhecimento, sabe o que isso provocou? Reduziu a quase zero a
taxa de discriminação racial entre os coleguinhas, porque eles passaram a saber que muitos que
vieram na condição de escravos eram engenheiros, médicos e generais de exército na África; dotados
de inteligência privilegiada; preparados fisicamente e emocionalmente; e produziram essa cultura
multirracial que é o Brasil.
Prêmio nacional! Ganhamos o Prêmio da Fundação Privada Abrinq “Prefeito
Amigo da Criança”. O único Prefeito do Centro-Oeste, o único de Mato Grosso, quatro anos de
avaliação.
E eu resolvi voltar à política motivado principalmente pela educação. Educação não
tem partido – “PA”, “PB”, “PC”. Da mesma forma que criticamos alguns momentos da postura
dessa igreja, daquela igreja e daquela; partido também um dia está aqui, outro dia já sumiu,
desapareceu, acabou, fundiu.
Educação está acima de qualquer partido, educação está acima da prefeitura, a
educação é mais importante do que o Prefeito e do que a Prefeitura, tudo junto. Educação é mais
séria do que o Governador, do que o Presidente, muito mais séria. A figura do Estado é abstrata, a
figura do País é abstrata. O que existe é o município de fato. A educação é mais séria do que
qualquer dessas coisas.
Deixei Cuiabá com o segundo maior piso do Brasil. Quando saí de lá, há cinco
anos, o piso para 20 horas era R$ 1.700,00, só perdia para Campo Grande naquele momento.
Eu fiz algumas observações e fiquei feliz quando o Sr. Alfredo anunciou o
concurso este ano, tem que ser anual. Por quê? Porque o professor, que é contratado... Eu fui
interino, entrei em 1981, no Governo Frederico Campos. Dei aula na Escola Estadual de 1º e 2º
Graus Eurico Gaspar Dutra, no Porto, antigo Ginásio Brasil. Eu fui interino, fiquei oito meses sem
receber – assim que era, não sei se ainda é. Se ainda é, eu vou dar uma paulada em você, Alfredo.
Vamos ver se muda neste Governo nosso - é brincadeira... Fiquei trabalhando oito meses sem
receber, depois recebi um monte de dinheiro também.
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Professora Alvarina, esse é outro problema que não foi falado aqui, o professor
contratado. E aí um absurdo, mais de 50% dos docentes da rede estadual, mais de 50% são
contratados. Jogar campeonato com garoto amador não dá, meu filho. Mais de 50% da rede estadual
de docentes é constituída por professores contratados.
O rapaz que faz engenharia, dá aula de geografia. Outro faz lá arquitetura: “Só
sobrou história, vai lecionar história”... E ele começa no ciclo, ele dá aula no primeiro ano e pinta
um emprego melhor, um estágio, ele abandona tudo e vai embora.
Então, a maioria dos contratados são voláteis. No máximo, ele dá aulas, um ano no
ciclo, como disse a professora. No ciclo tem que haver, pelo menos no primeiro, a dedicação
exclusiva. Os professores que começarem, têm que trabalhar os três anos do ciclo. Então, Alfredo,
essa questão do contrato, eu vou perturbá-los lá.
Nós teremos que fazer concurso todos os anos. É claro que sempre haverá um
espaço para o contratado, porque é um segmento que é tocado, muito mais, pelas mulheres. Boa
parte, ainda, muito moça, jovem, tem muita gravidez, e você tem que vir com a contratação. Sempre
haverá espaço para o contratado, mas não pode o contratado ser a maioria, o rabo balançar o
cachorro. Aí, é uma loucura. Então, professor Fábio, o Vereador Fábio já foi embora? (PAUSA)
Ficou bravo comigo por falar.
Sabe por que o Ciclo não prestou? Eu falo sempre para a minha mulher: hoje, eu
amo você mais do que no dia em que te conheci, mais do que no dia em que me casei, porque o
tempo nos ensinou, sofremos muito. Filho doente, ali, aquelas noites, juntos, fomos aprendendo,
convivendo com os defeitos, aceitando, fomos virando um só.
A escola ciclada foi empurrada goela abaixo, foi o meu Governo que fez isso, o
então Governo Dante de Oliveira. Nós nos enamoramos, nós não conquistamos. Os professores não
foram consultados, não foram avisados, não foram preparados, tiveram que aceitar uma imposição
do Estado: “a partir de amanhã acabou a escola seriada, joguem os seus diários todos fora; agora,
mudou tudo, agora é escola ciclada”.
Nunca fizeram um seminário, uma capacitação de cem horas, uma capacitação de
duzentas horas, mil horas. “Ninguém me avisou, que loucura é essa?” Então, houve uma imposição
autoritária do modelo ciclado e paradoxalmente é até irônico, porque é uma forma muito mais
democrática de ensinar, mas a forma de introduzir a escola ciclada foi autoritária.
Se você for dar um colar de pérolas a sua mulher: “Pega aí, comprei para você”...
O encaminhamento, às vezes, é tão ou mais importante que a substância.
Eu já vi pessoas comprando, Deputado Saturnino Masson, presente de aniversário,
anel, colar de ouro... Aí chega: “Amor, hoje é seu aniversário...” Já vi o cara comprar suspiro,
colocar na caixa, colocar papel celofane, fazer a fitinha e o cartão: “Você será sempre...” A mulher
desmancha! “Eu ia passando ali e peguei essa flor para você, meu bem”. A forma de encaminhar as
coisas também é importante na vida.
Você falar com o seu filho no meio de pessoas ou reservadamente... Tudo tem o
seu momento, o seu jeito de acontecer. Infelizmente, a escola ciclada foi imposta a fórceps, e é claro
que ninguém gosta.
A maioria dos professores, a maioria é contra, é antipática, em que pese com o
passar do tempo reconhecer teoricamente que é um avanço, que é a modernização.
Agora, Alfredo, nós não vamos, em minha concepção, atingir os objetivos da
escola ciclada, do Ciclo de Formação Humana ou mesmo do Ciclo de Formação de Aprendizagem,
se nós não dermos o pneu e o motor para o carro andar. Pega o carro e fala: “Está aqui este carro, vai
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lá em São Paulo para mim; só que está faltando o motor e os quatros pneus”... Como é que você vai
sair daqui, filho?
É mais ou menos a visão que tenho, nós precisamos introduzir as salas de
superação, nós precisamos fazer os concursos anualmente, fazer disso uma regra. Nós precisamos
melhorar os salários, nós precisamos manter a boa relação com o sindicato que representa todos os
profissionais de educação, nós precisamos arrumar mais dinheiro para educação. Além de arrumar
mais fontes de financiamento, nós temos que melhorar a qualidade do gasto, aumentar a autonomia
administrativa e financeira das escolas, avançar na gestão democrática, ouvir mais os alunos. O alvo
não é o professor, não; a escola nasceu em razão do aluno, o aluno que é alvo, ele que é o objetivo, o
objetivo é o aluno.
Quero agradecer a todos e dizer que fiquei até emocionado com uma fala de uma
pessoa, porque a educação é seria, Senhores, não tem nada mais importante que educação.
Eu termino nossa Audiência Pública e convido a todos a ficarem em pé para
cantarmos o Hino de Mato Grosso.
Encerro com a frase daquele grande empresário, que nunca foi educador, Antônio
Ermírio de Moraes, que escreveu um livro com o seguinte título: “Educação, pelo amor de Deus!”
Muito obrigado, Tangará da Serra! Valeu a presença.
(EXECUÇÃO DO HINO DE MATO GROSSO.)
Equipe Técnica:
- Taquigrafia:
- Amanda Sollimar Garcia Taques Vital;
- Ariadne Fabienne e Silva de Jesus Carvalho;
- Cristiane Angélica Couto Silva Faleiros;
- Cristina Maria Costa e Silva;
- Dircilene Rosa Martins;
- Donata Maria da Silva Moreira;
- Isabel Luíza Lopes;
- Luciane Carvalho Borges;
- Tânia Maria Pita Rocha.
- Revisão:
- Verenice Correa de Moraes da Costa.