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MS DE NOSSA SENHORA DO SANTSSIMO SACRAMENTO
MEDITAES EXTRADAS DOS ESCRITOS
do
BEM-AVENTURADO PEDRO JULIAO EYMARD
Fundador
DA CONGREGAO DO SANTSSIMO SACRAMENTO
pelo
Revmo. Pe. ALBERTO TESNIRE
DA MESMA CONGREGAO
Com um exemplo, uma prtica e uma jaculatria
para cada dia.
Traduo do Francs
por uma adoradora.
Nihil obstat
quominu imprimatur.
So Paulo, 11 de fevereiro de 1946.
Festa de Nossa Senhora de Lourdes.
P. ANGELO SCAFATI,
Censor ad hoc S. S. S.
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PREFCIO
"De Maria numquam satis!" Nunca se fala demasiado acerca de Maria, ensinam os doutores e Santos da Igreja.
Eis uma primeira razo catlica que justifica esta traduo do francs das meditaes
sobre Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, extradas dos escritos do Apstolo da Eucaristia
,o Bem-aventurado Pedro Julio Eymard, fundador da Congregao dos Padres do SSmo.
Sacramento e das Servas do SSmo. Sacramento.
uma obra original, como, alis, todos os escritos do Bem. Eymard; um pequeno tratado
sobre a devoo a Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, destinado, temos certeza, a fazer
grande bem s almas.
Baseia-se esta nossa convico no fato doloroso porm real, entre ns, da quase absoluta
carncia de livros sobre Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, e fato no somente doloroso
mas tambm prejudicial para a piedade e a vida crist, que se ressentem, em muitas almas, do
conhecimento das relaes entre Nossa Senhora e Jesus Cristo Sacramentado. Ah!!
quisramos em poucas palavras fazer ressaltar o mal imenso que representa para a piedade
crista esta falta de orientao eucarstico-mariana, principalmente para as almas que aspiram a perfeio e as que trabalham no campo da Ao Catlica ou desejam ingressar em suas fileiras.
A devoo a Nossa Senhora do SSmo. Sacramento necessria, pois que descortina s almas
novos e encantadores horizontes de piedade e de apostolado, e lhes revela inesgotveis recursos de
doutrina e de energia para os maiores empreendimentos e sacrifcios. . Descobre-lhes, ainda, novos
aspectos da santidade de Nossa Senhora. Me da Vida, em suas relaes profundas e teolgicas com o
Mistrio da Vida, o SSmo. Sacramento, em torno do qual gravitam todos os problemas da graa, da
Redeno e salvao.
A devoo a Nossa Senhora do SSmo. Sacramento uma das mais teolgicas e fecundas que se
pode cultivar para com Maria SSma.; o prolongamento de sua divina Maternidade, Maternidade que
constitui o fundamento slido e divino de todas as demais devoes que a piedade crist, guiada pelo
Esprito Santo, lhe consagra. Ainda mais: esta devoo a mais atual de todas e a mais necessria
para ns que invernos no sendo da SSma. Eucaristia e da Ao Catlica, porquanto, por meio de
Nossa Senhora do SSmo Sacramento que temos livre acesso a Jesus-Eucaristia, e por Maria, Me e
Modelo dos adoradores, que recebemos todas as graas que dimanam do Corao Eucarstico de
Jesus.. E a Virgem adoradora que nos ensina a adorar, amar e servir dignamente a Jesus Cristo
Sacramentado em seu trono da Adorao perptua.
"A SSma, Eucaristia Jesus Cristo passado, presentemente e futuro", o centro de todas as graas,
o Sacrifcio da Cruz que se renova perpetuamente na Santa Missa, verdadeiro Sacrifcio,
Sacrifcio propriamente dito, como o definiu o Conclio de Trento, aplicao atual e universal
de todos os merecimentos e satisfaes de Jesus Cristo Crucificado, antdoto contra todas as
enfermidades espirituais, fermento de imortalidade, como chamado pelos Santos Padres,
a rvore da Vida, o Man da Nova Lei, o Testamento do amor infinito do Sagrado Corao
Eucarstico de Jesus o penhor da futura ressurreio.........
Ora, Nossa Senhora do SSmo. Sacramento a irradiao de Jesus Cristo Sacramentado, a
projeo luminosa da vida e das obras de Jesus Cristo Eucaristia, a transparncia de suas
virtudes e das maravilhas que realiza nas almas. Maria Santssima, no dizer de Santo
Agostinho, a forma de Deus "forma Dei", um Cristo abreviado, segundo Bossuet, o molde
de Jesus Cristo nas almas, conforme So Luiz Grignion de Montfort.
Ora, a SSma. Virgem efetua estas obras divinas nas almas, atravs dos sculos, em virtude
de sua dependncia de Jesus Cristo Sacramentado, e de seu papel de Medianeira de todas as
graas, e ainda pelo seu influxo de intercesso junto ao trono de todas as misericrdias do
Eterno e Sumo Pontfice Jesus Cristo, na SSma. Eucaristia.
Eis, carssimos leitores, almas piedosas, devotos de Jesus Cristo Sacramentado e de Nossa
Senhora do SSmo. Sacramento, algumas das muitas razes que nos levaram a empreender
esta traduo e publicao das belssimas e originais meditaes do Bem. Pedro Julio
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Eymard sobre a devoo a Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, adaptadas para o ms de
maio.
Alimentamos a esperana de que este livro, que poderamos definir um manual de educao e formao eucarstico-mariana h de fazer um bem imenso a todos os que tiverem a boa vontade de l-lo e medit-lo. So estes os nossos votos ao entregar ao pblico
cristo este mimo do Bem. Eymard para com a sua Me SSma., Nossa Senhora do SSmo.
Sacramento, a quem se confessara devedor de todo o bem de sua vida.
Com as bnos de Deus, de Maria Santssima, do Bem-aventurado Eymard e dos nossos
Superiores, esperamos que os nossos votos no sero frustrados.
S. Paulo. 13 de abril de 1946
Pe. Primo Mason. S. S. S.
PREFCIO
da Stima Edio Francesa
Transcrevemos, como prefcio desta nova edio, um artigo publicado na revista "O
Santssimo Sacramento" em janeiro de 1906; mostrar-nos- ele que poderoso incentivo
devoo para com Nossa Senhora do Santssimo Sacramento recebeu do Soberano
Pontfice, e a preciosa sano concedida iniciativa do Bem-aventurado Pedro Julio
Eymard, de conferir este novo ttulo Santssima Virgem.
" conhecido de nossos leitores o culto piedoso com que a famlia eucarstica do
venerando Padre Eymard honra este nome bendito de NOSSA SENHORA DO
SANTSSIMO SACRAMENTO, que ele conferiu Santssima Virgem para exprimir, numa
palavra caracterstica, todos os laos que unem Maria a seu Filho Sacramentado, e todos os
motivos que nos impelem a recorrer-lhe como medianeira necessria entre nossa indigncia e
a admirvel santidade de seu Filho. Aprovado por um certo nmero de Bispos e enriquecido
de indulgncia para suas respectivas dioceses, aclamado no Congresso Eucarstico de
Lourdes, este novo nome de uma coisa muito antiga comeou a se propagar entre as almas
devotas da Eucaristia, que sentem a necessidade de no separar o Filho de sua Me, tanto no
culto que lhes prestam como em seus coraes. Faltava porm a este ttulo, a fim de que
pudesse desferir seu voo alm dos limites diocesanos e se propagar livremente no universo
catlico, a bno do Pastor da Igreja universal.
E esta bno ele recebe agora: autntica, como no-lo prova o Rescrito que temos em
nossas mos e que vamos transcrever; espontaneamente concedida, como nos informa uma
carta bem noticiosa chegada de Roma.
Eis o Rescrito, do prprio punho de Sua Santidade Pio X:
"Cunctis qui coram SSmo. Sacramento publicae adorationi exposito, recitaverint hanc
jaculatoriam:
"Domina nostra Sanctissimi Sacramenti, ora pro nobis". Indulgentiam tercentorum dierum
concedimus".
Die 30 Mensis Decembris an. 1905. PIUS P. P. X.
"A todos que diante do Santssimo Sacramento exposto recitarem a orao jaculatria
seguinte:
"Nossa Senhora do Santssimo Sacramento rogai por ns, concedemos uma indulgncia de 300 dias".
30 de Dezembro de 1905, PIO X, PAPA.
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As circunstncias que acompanharam a redao e a concesso, pelo Santo Padre, desse
precioso Rescrito, tm alguma coisa de gracioso e de tocante como uma pgina de lenda,
alguma coisa tambm de espontneo e de decisivo como um motu prprio.
Um arcebispo do Canad, cuja piedade para com a Eucaristia to grande quanto a sua
cordialidade, Mons. Gauthier, arcebispo de Kingston, visitando, h pouco tempo, Roma, foi
solicitado pelo Revmo. Padre Estvenon, Superior geral da Congregao do Santssimo
Sacramento, cuja residncia, na Igreja de So Cludio, bem conhecida dos peregrinos da
Cidade Eterna, a pedir ao Soberano Pontfice, em favor dos fiis de sua diocese, uma
Indulgncia para a recitao desta frmula: NOSSA SENHORA DO SANTSSIMO
SACRAMENTO, Me o Modelo dos adoradores, rogai por ns. Sua Excelncia, acolhendo
favoravelmente este desejo, redigiu uma splica para submeter ao Santo Padre numa
audincia fixada para 30 de dezembro ltimo. No decorrer da audincia, tendo recebido o
consentimento para fazer a leitura da referida splica, em vo a procura nos seus bolsos e
manda procur-la, com igual resultado, em seu sobretudo, deixado na antecmara. Grande
embarao para o bondoso Prelado, que expe ento de viva voz o objeto da splica
extraviada; e Pio X, sorridente e solicito, com a espontaneidade atenciosa e amvel que lhe
peculiar, toma da pena e escreve, sem um instante de hesitao, o texto acima transcrito,
entregando-o a Mons. Gauthier, que se sentiu duplamente sensibilizado: pela graa que
acabava de receber e pela boa vontade com que lhe era a mesma concedida.
O mui caro correspondente que nos relatou este acontecimento, acrescenta: "Bem avaliais
a imensa alegria que esta noticia causou a todos ns. Exultantes de emoo, fomos
imediatamente nos lanar aos ps da Santssima Virgem (diante da mesma imagem da capela
de So Mauricio (1) onde nosso venerando Pai aclamou Maria pela primeira vez.
Nossa Senhora do Santssimo Sacramento), e entoamos o Magnificat, e repetimos com ardor
a invocao abenoada".
Nossos leitores partilharo conosco estes sentimentos de ao de graas. Temos, de ora
avante, na linguagem da Igreja, uma frmula autntica e definitiva do ttulo de Nossa Senhora
do Santssimo Sacramento que o Padre Eymard exprimiu em francs.
Vrias vezes havamos desejado traduzi-lo em latim, no somente para apresent-lo
aprovao de Bispos estrangeiros, mas tendo ainda em vista obter dos Soberanos Pontfices
indulgncias para a sua recitao. E hesitvamos em fazer a traduo litoral diante da objeo
de que a palavra "Domina" parecia dar a Maria, sobre o Cristo Eucarstico, uma autoridade
ou superioridade que ela no possui. A objeo, entretanto, apesar de no ser destituda
inteiramente de fundamento, no se apresentava irrefutvel. A f, simples e terna, do
Soberano Pontfice, a generosa e ardente piedade que ele manifesta em todos os seus atos
pontificais, no o detiveram a discutir as diversas opinies; com sua mo que somente assina
palavras de verdade e de vida, escreveu com simplicidade: "Domina nostra Sanctissimi
Sacramenti, ora pro nobis.'" E a traduo literal da invocao inspirada pela f e pelo amor
de nosso Pai por Maria: "Nossa Senhora do Santssimo Sacramento, rogai por ns!"
Eis-nos sem receio: rezamos apoiados na verdade, nosso louvor autntico; Maria se
reconhecer sob este ttulo, e, portanto, h de prestar ouvidos nossa voz quando a Ela nos
dirigirmos suplicantes chamando-a Nossa Senhora do Santssimo Sacramento. Sim, Ela
nossa me, nossa mestra e nosso modelo, por conseguinte "Nossa Senhora"; sim, ela a Me
do Cristo Eucarstico, a dispensadora do Dom eucarstico e de todas as graas que ele
encerra, e, por conseguinte, Nossa Senhora do Santssimo Sacramento!; e no queremos
__________
(1) Casa do primeiro Noviciado da Congregao, na diocese de Versailles, fundada e habitado
pelo Beato Padre Eymard e extinta em consequncia dos decretos de 1880 contra as Congregaes
religiosas
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mais de hoje em diante, nos acercar do Santssimo Sacramento para Lhe render qualquer
homenagem, seja consagr-lO, receb-lO, ador-lO ou torn-lO conhecido, sem nos
acolhermos sombra da proteo, dos mritos, das virtudes, do nome de Nossa Senhora do
Santssimo Sacramento. E nos lembraremos ainda de que as almas queridas que sofrem
esperam que o repitamos muitas vezes, pois que este nome estende at a sua priso de fogo a
uno da esperana para lhes dar alivio e os tesouros das indulgncias para libert-las.
Domina nostra Sanctissimi Sacramenti, ora pro nobis! A. TESNIRE, S. S. S.
MEDITAES EXTRADAS DOS ESCRITOS DO BEM-AVENTURADO
PEDRO JULIO EYMARD
Meditao preparatria
O ms de Maria o ms das bnos e das graas, porque, como assegura So Bernardo, e
com ele muitos santos, todas as graas nos vm por Maria. uma festa de trinta e um dias em
honra da Me de Deus e uma preparao ao belo ms do Santssimo Sacramento.
I. A profisso especial que fazemos de honrar a Eucaristia no deve diminuir a nossa
devoo para com a Santssima Virgem. Longe disso! Proferiria uma blasfmia quem
dissesse; Basta-me o Santssimo Sacramento; no preciso de Maria! Mas, onde encontraremos Jesus na terra seno em seus braos?
No foi Ela que nos deu a Eucaristia? Foi o seu consentimento Encarnao do Verbo no
seu seio que iniciou o grande mistrio de reparao para com Deus e de unio conosco que
Jesus realizou durante sua vida mortal e continua agora no Santssimo Sacramento.
Sem Maria no poderamos ir a Jesus, porque Ela O possui em seu corao: a encontra
Ele as suas delcias, e todos que quiserem conhecer as virtudes ntimas de Jesus, seu amor
recndito e privilegiado, devem procur-los no Corao de Maria; os que amam esta boa Me
encontram Jesus em seu corao to puro.
Oh! jamais separemos Jesus de Maria; no poderamos ir a Ele sem passar por Ela. Ouso
mesmo afirmar que quanto mais amarmos a Eucaristia, tanto maior ser nosso amor para com
a Santssima Virgem; amamos tudo quanto ama um nosso amigo; ora, existe por ventura uma
criatura mais amada de Deus, me que tenha sido mais ternamente querida por seu filho do
que foi Maria por Jesus?
Oh! sim, Nosso Senhor teria grande pesar se ns, servos de sua Eucaristia, no
honrssemos deveras a Maria, porque Ela sua Me; Nosso Senhor tudo lhe deve na ordem
de sua Encarnao e de sua natureza humana; foi pela carne que d'Ela recebeu que Ele tanto
glorificou a seu Pai, que nos salvou e que continua a alimentar e salvar o mundo no
Santssimo Sacramento.
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Nosso Senhor quer que A honremos tanto mais agora quanto em sua vida mortal Ele
pareceu ter se descuidado de fazer. Sem dvida Ele A honrou em sua vida particular; porm,
em pblico, deixou-A na sombra; antes de tudo tinha que afirmar e sustentar a sua dignidade
de Filho de Deus.
Mas hoje Nosso Senhor quer que de algum modo indenizemos Santssima Virgem de tudo
quanto Ele no pde fazer exteriormente por Ela; e somos obrigados, no interesse de nossa
salvao, a honr-l'A como Me de Deus e como nossa prpria Me.
II. Visto que somos consagrados de uma maneira especial ao servio da Eucaristia, e que
somos adoradores, nessa qualidade que devemos um culto particular a Maria.
Religiosos do Santssimo Sacramento, Servas do Santssimo Sacramento. Agregados do
Santssimo Sacramento, somos, pelo nosso estado, adoradores da Eucaristia; o nosso belo
ttulo, abenoado por Pio IX. Que quer dizer adoradores? Quer dizer que somos ligados
Pessoa adorvel de Nosso Senhor vivendo na Eucaristia. Mas, se pertencemos ao Filho,
tambm pertencemos Me; se adoramos o Filho, devemos honrar a Me, e somos
obrigados, para entrar plenamente na graa de nossa vocao, e nela permanecer, a prestar um
culto especial Santssima Virgem como Nossa Senhora do Santssimo Sacramento.
Esta devoo no est muito espalhada, e este culto ainda no foi explicitamente adotado
pela Igreja. que o culto de Maria segue o de Jesus; segue-lhe as fases e o desenvolvimento.
Quando honramos Nosso Senhor na Cruz, oramos a Nossa Senhora das Dores; quando
meditamos a vida submissa e retirada de Nazar, tomamos por modelo Nossa Senhora da
vida oculta; a Santssima Virgem acompanha todos os estados de seu Filho.
Maria ainda no tinha sido saudada com esse belo ttulo de Nossa Senhora do Santssimo
Sacramento.
Eis que o culto da Eucaristia se propaga; jamais, como em nossos dias, foi le to grande, to
universal; espalha-se por toda parte.
a graa trazida ao mundo pela Imaculada Conceio. Sem dvida, a devoo ao
Santssimo Sacramento no nova; mas, presentemente, h uma outra manifestao da
Eucaristia: o Deus oculto sai de seu Tabernculo; por toda parte, dia e noite, faz-se a
Exposio do Santssimo Sacramento; a Eucaristia vai se tornar uma fonte de salvao para
este sculo; o culto da Eucaristia ser a sua glria e grandeza. Pois bem; a devoo a Nossa
Senhora do Santssimo Sacramento crescer com o culto da Eucaristia.
Ainda no encontrei esta devoo explicada em livro algum; jamais ouvi falar nela, a no
ser nas revelaes da Madre Maria de Jesus, onde li alguma coisa da Comunho de Maria, e
nos Atos dos Apstolos, em que vemos Maria no Cenculo.
III. Que fez a Santssima Virgem no Cenculo? Adorou; foi a Rainha e a Me dos
adoradores; foi, numa palavra, Nossa Senhora do Santssimo Sacramento. Vossa ocupao
durante este ms ser honr-lA sob este belo ttulo, meditar o que Ela fazia, e procurar
compreender como Nosso Senhor aceitava as Suas adoraes; descobrireis a perfeita unio
desses dois coraes: o de Jesus e o de Maria, perdidos num s amor, em uma nica e mesma
vida. necessrio que a vossa piedade levante o misterioso vu que esconde a vida adoradora
de Maria.
Ficamos admirados de que os Atos dos Apstolos nada nos digam a respeito, e se
contentem em deixar Maria no Cenculo. Ah! que toda a sua vida a foi unicamente uma
vida de amor e de adorao.
Como descrever o amor e a adorao? Como exprimir esse reinado de Deus na alma, e esta
vida da alma em Deus? No se pode explicar; a linguagem no tem expresses para
interpretar as delcias do cu, e assim acontece com a vida de Maria no Cenculo.
So Lucas apenas nos diz que ali Nossa Senhora vivia e orava. Compete meditao e ao
amor estudar o interior desta vida. Tudo o que nos for possvel avaliar de potncia no amor, e
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de santidade e perfeio nas virtudes, podemos atribuir a Maria; mas, porque Ela viveu ali de
unio ao Santssimo Sacramento, durante mais de vinte anos, todas as suas virtudes se
revestiam do carter eucarstico, alimentadas que foram pela comunho, pela adorao, por
uma constante unio a Jesus Eucaristia. As virtudes da Santssima Virgem atingiram no
Cenculo o apogeu de sua perfeio, uma perfeio ilimitada, por assim dizer, e somente
ultrapassada pela perfeio das virtudes de Jesus Cristo.
Pedi a Nosso Senhor que vos revele o que se passava no Cenculo entre Ele e sua Me;
Ele vos dir, certamente, algumas dessas maravilhas; no todas, porque no podereis
entend-las, porm uma parte, e isso far a vossa felicidade.
Quanto me sentiria feliz se pudesse compor um ms de Maria adoradora! Para isto
necessrio rezar e meditar muito; preciso compreender a ao de graas do amor de Maria.
Eis o que eu desejo ardentemente; mas, para consegui-lo, mister maior preparao. (1)
IV. Efetivamente, todos os mistrios da vida de Nossa Senhora revivem no Cenculo. Se
meditardes o nascimento de seu Filho em Belm, completai o Evangelho, e vereis o
nascimento eucarstico deste mesmo Filho no altar. A fuga para o Egito? No vedes que
Nosso Senhor ainda est no meio de brbaros e de estranhos em tantas cidades e aldeias nas
quais se fecham as Igrejas e onde ningum vai visit-lO? E sua vida oculta em Nazar? No
est Ele ainda mais escondido aqui? Completai pela Eucaristia todos os mistrios e meditai a
parte que Nossa Senhora tem neles.
O essencial procurar praticar uma das virtudes da Santssima Virgem; escolhei, de
preferncia, as mais humildes, as mais pequeninas; j as conheceis; depois, gradualmente,
chegareis at as suas virtudes interiores, at o seu amor.
Ademais, oferecei todo dia um sacrifcio; vede o que mais vos h de custar; h sacrifcios
que podemos prever, como tal pessoa a visitar, certa coisa a fazer. Oferecei, pois, esse
sacrifcio, que h de contentar a Santssima Virgem e ser mais uma flor acrescentada na
coroa que Ela deseja oferecer em vosso nome a seu Filho no dia de sua festa, a bela festa do
Corpo de Deus.
Se no puderdes prever sacrifcios particulares, conservai-vos pelo menos no propsito
firme e generoso de aceitar todos os que Deus vos enviar; cuidai em apanhar em pleno voo
esse pssaro do cu. H mensageiros de Deus que nos trazem graas ocultas em uma coroa de
espinhos. Deveis receb-los bem. Um sacrifcio pressentido d lugar reflexo, e o raciocnio
diminui-lhe o valor; ao passo que os sacrifcios imprevistos, feitos generosamente, sem
exame, so mais meritrios. Deus nos quer surpreender, e nos diz apenas: "Estai preparados!"
E a alma fiel est disposta para tudo que Deus quiser. O amor gosta de surpresas. No deixeis
passar tais ocasies. Para isso, bastante ser generoso.
Oh! quanto bela a alma generosa! Deus por ela glorificado; e referindo-se a esta alma,
o Senhor repete, com um sentimento de jbilo e admirao, o que dissera de Job: "Viste meu
servo Job?..." Quem ama no deixa passar esses sacrifcios; est sempre alerta, e ao sentir que
se aproxima uma cruz, prepara-se para receb-la bem.
Vamos, honrai a Santssima Virgem por um sacrifcio cotidiano; ide a Jesus por Maria;
segui-lhe os passos, abrigai-vos sob seu manto; revesti-vos de suas virtudes; sede apenas uma
sombra de vossa Me; oferecei a Nosso Senhor todas as suas virtudes, seus mritos e aes;
para isto, nada mais tendes a fazer do que tom-los de Maria e dizer a Jesus: "A vs ofereo
as riquezas adquiridas por minha boa Me." E Nosso Senhor ficar contente convosco.
__________
(1) 0 Bem-aventurado ps mos obra; deixou-nos algumas meditaes sobre a vida adoradora de
Maria. Penetrou no ntimo da vida de Nossa Senhora e procurou nos revelar os sentimentos de seu
corao, a intensidade do seu amor. So estas as meditaes que se encontram no presente volume.
A fim de apresentar diariamente, no ms de maio, uma delas, reunimos todas as instrues do Bem-
aventurado sobre a SSmn. Virgem, nas quais, sem excepo, ele nos apresenta Maria unida a Jesus
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Cristo e d'Ele recebendo ou a Ele referindo todas as suas graas e perfeies; e visto que a Eucaristia
o prprio Jesus Cristo, a Santa Virgem , consequentemente, nestas meditaes, Nossa Senhora do
SSmo. Sacramento.
* * *
O capelo de Nossa Senhora do Santssimo Sacramento
Sentimos necessidade de um modelo, um patrono, um guia, em nossa devoo a Nossa
Senhora do Santssimo Sacramento. Escolheremos So Joo Evangelista. Jesus lhe confiou
sua Me, e So Joo celebrava diariamente a Santa Missa em presena de Maria; era ele que,
tomando de sobre o altar o Po divino, o depunha nos lbios da Santssima Virgem: "Me, eis
vosso filho!" Ecce filius Tuus! meu Deus! que palavra e que momento! So Joo foi
testemunha das adoraes de Maria; foi o confidente de seu amor; e se ele conseguiu falar to
divinamente da Eucaristia, se entoou esse belo cntico de ao de graas que o seu Evangelho
encerra, foi porque, alm de o haver recolhido dos prprios lbios de Jesus, escutou a Santa
Virgem repeti-lo. "O Salvador deu So Joo Maria, diz M. Olier, no somente para que ele
ficasse em seu lugar de filho, mas ainda para que proporcionasse a sua Me Santssima, pelos
santos mistrios que celebrava para Ela, e segundo suas intenes, o meio de lhe satisfazer os
anelos ardentes do corao quanto ao estabelecimento da Igreja; e tambm o meio de se
consolar da ausncia de seu Filho, que era a felicidade de se nutrir diariamente de seu divino
Corpo." (Vida de M. Olier, tomo II, 3. parte, p. 207).
Haveis de nos ensinar, glorioso Capelo do Cenculo, a conhecer os mistrios da vida de
Nossa Senhora do Santssimo Sacramento; fazei que possamos partilhar as suas disposies,
todas s vezes, que, a seu exemplo, recebermos ou adorarmos o Deus da Eucaristia.
PRTICA Cumprir todos os deveres eucarsticos em unio a Nossa Senhora do Santssimo Sacramento.
JACULATRIA Salve, Maria, de quem nasceu Jesus-Hstia!
MS DE NOSSA SENHORA DO SANTSSIMO SACRAMENTO
PRIMEIRO DIA
Maria Me dos adoradores da Eucaristia
V). Louvores e graas se deem a todo momento.
R). Ao Santssimo e Divinssimo Sacramento.
(300 dias de ind. Plenria ao ms P. et P. O. 110).
V). Bendita seja a Santa e Imaculada Conceio.
R). Da Bem-aventurada Virgem Maria. Me de Deus.
(300 dias de ind. Plenria ao ms P. et P. O. 324).
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ORAO PREPARATRIA PARA TODOS OS DIAS
V). Vinde, Esprito Santo, Enchei os coraes de vossos fiis e acendei neles o fogo do
vosso amor.
V). Enviai, Senhor, o vosso esprito e tudo ser criado.
R). E renovareis a face da terra.
Oremos Deus, que instrustes os coraes de vossos fiis com a luz do Esprito Santo, concedei-nos por esse mesmo Esprito o conhecimento e o amor da justia e fazei com que
Ele nos encha sempre de suas divinas graas, pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor.
R). Amen.
I. Se nossa vida no estivesse sob o patrocnio de Nossa Senhora, poderia haver dvidas
quanto nossa perseverana e salvao. Nossa vocao, que de modo especial nos liga ao
servio do divino Rei dos reis, exige terminantemente que recorramos a Maria. No
Santssimo Sacramento Jesus Rei, e quer a seu servio servos adestrados e que tenham feito
o seu tirocnio; antes de algum se apresentar ao rei, aprende a servir. Jesus nos deixou sua
divina
Me para ser a Me e o Modelo dos adoradores. Segundo a opinio mais aceita, deixou-A
vinte e cinco anos na terra para que nos ensinasse a ador-lO perfeitamente. Quo sublime foi
esta vida de vinte e cinco anos passados na adorao! Quando se considera o amor que Jesus
dedicava a sua Me, fica-se admirado de que tenha consentido separar-se d'Ela. Acaso no
atingira o seu termo a santidade de Maria? No tinha sofrido bastante no Calvrio, onde
padeceu mais do que todas as criaturas? Sem dvida; porm os interesses da Eucaristia
reclamavam sua presena; Jesus no queria ficar no Santssimo Sacramento sem a companhia
de sua Me; no desejava que a primeira hora da adorao eucarstica fosse confiada a pobres
adoradores, incapazes de ador-lO dignamente. Os Apstolos, obrigados a se dedicar
salvao das almas, no dispunham do tempo necessrio adorao eucarstica; apesar do
amor que os teria retido aos ps do Tabernculo, a sua misso de apstolos chamava-os a
outros lugares. Aos cristos, semelhantes a criancinhas ainda no bero, era necessrio uma
boa me que os educasse e um modelo que pudessem copiar; e foi a Sua Me Santssima que
Jesus Cristo lhes deixou.
II. Se bem a considerarmos, a vida de Maria se resume nesta palavra: adorao, porque a
adorao o servio de Deus em toda a sua perfeio, abrangendo os deveres da criatura para
com o seu Criador.
Nossa Senhora foi a primeira adoradora do Verbo Encarnado, pois Ele j estava em seu
seio e ningum sabia na terra. Oh! como Nosso Senhor foi bem servido no seio de Maria!
Jamais encontrou Ele um cibrio ou vaso de ouro mais precioso e mais puro do que o seio de
sua Me. Esta sua adorao lhe era mais agradvel do que a de todos os anjos. O Senhor colocou o seu Tabernculo no sol, diz o Salmista, e este o corao de Maria.
Em Belm, a primeira a adorar seu divino Filho, reclinado no prespio. Adora-O com o
perfeito amor de Virgem Me, um amor de dileo, segundo a palavra do Esprito Santo;
depois d'Ela, adoram-nO So Jos, os pastores e os Magos; foi Maria quem abriu este sulco
de fogo que se estender pelo mundo.
Que coisas sublimes, que palavras divinas no diria Ela, vivendo num estado de amor que
no podemos avaliar nem medir!
Maria continua a adorar Nosso Senhor em sua vida oculta de Nazar; depois, em sua vida
pblica, e enfim no Calvrio, onde sua adorao foi o sofrimento. Considerai a natureza da
adorao da Santssima Virgem; adora Nosso Senhor conforme os seus diversos estados,
adaptando sua adorao ao estado de Jesus; mais: o estado de Jesus determina o car ter
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de sua adorao. Maria no permaneceu numa adorao invarivel; adorou o Deus
aniquilado em seu seio, depois pobre em Belm, trabalhando em Nazar, e mais tarde
evangelizando e convertendo os pecadores; adorou Jesus nos sofrimentos do Calvrio,
padecendo com Ele; sua adorao acompanhava todos os sentimentos de seu divino Filho,
que lhe eram conhecidos e manifestos, e seu amor A fazia entrar em perfeita conformidade de
pensamentos e de vida com Ele.
III. A vs, adoradores, tambm se recomenda: Adorai sempre Jesus Eucaristia, mas a
exemplo da Santssima Virgem, variai as vossas adoraes. Relacionai todos os mistrios
com a Eucaristia, fazendo-o reviver nela. Sem isto, caireis na rotina. Se o esprito, de vosso
amor no for alimentado de uma forma, de um pensamento novo. haveis de vos sentir
lnguidos e ridos na orao. necessrio, pois, celebrar todos os mistrios na Eucaristia,
como fazia a Santssima Virgem no Cenculo.
Nos aniversrios dos grandes mistrios que se haviam realizado sob os seus olhos, pensais
por acaso que Ela no renovava em si as circunstncias, as palavras e as graas desses
mistrios? Na festa do Natal, por exemplo, julgais que Maria no recordava a seu Filho, ento
oculto sob os vus eucarsticos, o amor de seu nascimento, seu sorriso, suas adoraes, bem
como as de So Jos, dos pastores e dos Magos? Procurava, neste como nos demais mistrios,
regozijar o Corao de Jesus, relembrando-Lhe o seu amor.
Que fazemos ns com um amigo? Acaso lhe falamos sempre do presente? No, de certo;
evocamos o passado, fazendo-o reviver. E quando queremos cumprimentar o nosso pai ou a
nossa me, no lhes recordamos o imenso amor, a dedicao constante e generosa que nos
prodigalizaram em nossa infncia? Pois bem; da mesma forma, em suas adoraes no
Cenculo, a Santssima Virgem repetia a Jesus tudo o que Ele havia feito para a glria de seu
Pai; lembrava-Lhe seus grandes sacrifcios, e assim penetrava na graa da Eucaristia. O
Santssimo Sacramento o memorial de todos os mistrios e renova-lhes o amor e a graa.
Deveis imitao de Maria, corresponder a esta graa, reavivando as aes de Nosso
Senhor, adorando todos os seus estados, e unindo-vos a eles.
A Santssima Virgem tinha uma atrao to forte pela Eucaristia, que no lhe era possvel
separar-se do Santssimo Sacramento; vivendo, portanto, n'Ele e por Ele. Passava os dias e as
noites aos ps de seu divino Filho; porm, sem deixar de se entreter com os Apstolos e os
fiis que A procuravam; seu ardente amor para com o Deus oculto transluzia ento em seu
semblante, e comunicava seus ardores a todos que A cercavam.
Maria, ensinai-nos a vida de adorao! Fazei-nos encontrar, como vs, todos os
mistrios e todas as graas na Eucaristia; reviver o Evangelho, e ler as suas pginas na vida
eucarstica de Jesus. Lembrai-vos, Nossa Senhora do Santssimo Sacramento, que sois a
Me dos adoradores da Eucaristia.
* * *
Nossos Modelos
Entre os santos personagens que ilustraram o sculo XVII, muitos nos mostram como
podemos unir o culto da Eucaristia devoo para com a Santssima Virgem, fazendo-os se
auxiliarem mutuamente.
O venervel Cardeal de Brulle, que mereceu do Papa Urbano VIII o ttulo de Apstolo do
Verbo Encarnado, e cuja predileo por Maria era mais anglica do que humana, e o Padre de
Condren, que recebeu, conforme atestam os mais ilustres doutores de seu tempo, luzes
sublimes sobre os mistrios, tinham o costume de oferecer a Santa Missa, aos sbados, em
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honra da Santssima Virgem. Mons. Olier, o santo fundador de So Sulpcio e o reformador
do clero na mesma poca, imitou-lhes esta piedosa prtica; fazia celebrar diariamente trs
missas, cujos frutos colocava entre as mos da Santa Virgem, a fim de que, oferecendo-os a
seu Filho, obtivesse para a Igreja tesouros infinitos de graas.
Houve tambm um piedoso missionrio jesuta, em Qubec, que props a So Joo Eudes,
fundador da Congregao que tem o seu nome, um projeto de associao de padres, que se
chamariam os Capeles de Nossa Senhora, e que se deveriam unir para oferecer o Santo
Sacrifcio segundo as intenes desta augusta Rainha do Cu, a fim, dizia ele, de que o Filho
de Deus se apresentasse ao seu Pai, no estado de Hstia, pelas mos purssimas d'Aquela de
quem se servira para descer at ns em se fazendo homem.
(Vida de M. Olier, t. II, passim,).
PRTICA Oferecer nossas adoraes a Jesus Sacramento pelas mos de Maria.
JACULATRIA Bendita sois entre as mulheres, Maria, e bendito o fruto do vosso ventre, Jesus Eucaristia!
Orao Final
Virgem Imaculada, Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, que durante os anos que
vivestes depois da Ascenso, fostes modelo perfeito de servio Divina Eucaristia: Vs que
passveis diante de Jesus Sacramentado os dias e as noites, consolando-vos assim no exlio,
ensinai-nos a avaliar o tesouro que possumos no Altar e inspirai-nos visitar frequentemente o
SSmo. Sacramento no qual Jesus fica conosco para dirigir-nos, consolar-nos, proteger-nos e
receber em troca as homenagens que Lhe so devidas por tantos ttulos.
Me cheia de bondade e Modelo admirvel dos adoradores da Eucaristia, j que sois a
Medianeira das graas do Altssimo, concedei-nos como fruto deste piedoso exerccio, as
virtudes que, tornando-nos menos indignos do servio de vosso Divino Filho, obter-nos-o a
vida eterna. Assim seja.
Nossa Senhora do SSmo. Sacramento, rogai por Ns.
SEGUNDO DIA
A Imaculada Conceio e a Comunho
I. A Imaculada Conceio de Maria foi predita desde o paraso terrestre. A Santssima
Virgem aquela mulher privilegiada que com o seu calcanhar esmagou a cabea da serpente
infernal. Deus, criando Maria Imaculada, alcanou a maior vitria sobre o demnio,
restabeleceu o Seu imprio sobre a terra e assumiu, na sua criao, o seu papel de senhor
absoluto. Foi acima de tudo para a Sua glria que Ele preservou Maria da culpa original,
porque, em todas as suas obras, Deus considera, em primeiro lugar, os interesses desta mesma
glria.
A criatura pela culpa e mancha de seu nascimento no podia ser inteiramente possesso de
Deus; Satans se apoderava da alma logo ao ser criada. Deus criava e Satans se apossava da
obra de Deus. A glria de Deus era humilhada em suas criaturas, e quando o Senhor expulsou
Ado e Eva do paraso terrestre, Satans triunfou de Deus; foi esta a sua vitria.
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Eis que aparece Maria; Deus A protege e preserva por um privilgio todo particular; Ela
passa pela concepo natural como todos os homens descendentes de Ado, porm Deus,
para sua honra, quer conserv-lA pura. Eva, a primeira me, foi manchada; Maria, a
verdadeira me dos vivos, ser imaculada. Deus A encobre com sua sombra; Ela seu jardim
fechado, sua fonte selada; somente o Rei h de beber de suas guas. Satans no ousar se
aproximar de Maria; ela nasce entre os braos do amor de Deus: "Dominus possedit me in
initio viarum suarum" (Prov. VIII, 22); a verdadeira filha de Deus: Primogenita ante
omnem creaturam. (Eccli. XXIV, 5.) O Verbo no devia se envergonhar de sua Me. Por
isso, dotou-A com a plenitude de seus dons, de tal modo que, em Maria, Deus contemplava
sua honra e sua glria!
As trs pessoas da Santssima Trindade concorreram para a Imaculada Conceio da
Virgem, como exigia a glria de Deus. Quando Satans precede a Deus, vencedor; quem
nasce escravo, por mais que se reabilite, conserva sempre alguma coisa de sua ignomnia. E,
desta maneira, foi restabelecida a glria de Deus na humanidade; a imagem de Deus foi
restaurada e reconstituda; o Senhor poder descer e habitar em Maria sem receio; Ela um
tabernculo mais puro do que o sol, e, por sua pureza o paraso de Deus que, com Ela,
renovar o mundo. Vede o que nos deu a Imaculada Conceio; em primeiro lugar, Jesus
Cristo, este belo sol de justia de que a aurora; em seguida, os santos, astros refulgentes do
firmamento da Igreja, pois que foram todos formados por Maria; tudo nos vem deste paraso
do Senhor. A Imaculada Conceio o grmen de todas as graas que nos tm sido
concedidas; semelhante nuvenzinha que o profeta Elias avistou, , em si mesma, apenas um
ponto, que vai ento se estendendo, se dilatando, e suas divinas influncias atingem a terra
inteira.
II. Devemos ns, adoradores, considerar outra coisa ainda no mistrio da Imaculada
Conceio. Se Deus preserva Maria deste modo, porque deseja habitar nEIa, o quer encontrar um santurio puro e perfeito. O Pai Celeste e o Esprito Santo purificam Maria
unicamente para fazerem d'Ela o digno tabernculo do Verbo de Deus, um novo cu; a fim de
receber em si o Verbo Divino era indispensvel que Maria no tivesse mancha. A Imaculada
Conceio, portanto, a preparao para a Comunho. Oh! com que prazer o Verbo
contemplava esta morada, cujos adornos eram feitos por Ele mesmo, e qual se precipitou
em passos de gigante. Exultavit ut gigans. (Ps. XVIII. 6.)
Seria preciso que para a Santa Comunho Jesus fizesse outro tanto em relao a ns, que
suspirasse pelo momento em que O fizssemos sair do seu Tabernculo e descesse s nossas
almas com o mesmo prazer, como fez para com Maria. Assim suceder se formos puros.
Jesus espera de ns esta preparao de pureza, e isso unicamente o que nos pede. Uma
grande pureza, para a Comunho, eis o fruto que devemos retirar da Conceio Imaculada de
Maria; sem a pureza, de nada nos valeriam as demais virtudes. Nosso Senhor sentiria
repugnncia em descer ao nosso corao, que ser-lhe-ia como uma priso: "Ah! deveria Ele
dizer ao Sacerdote, seu ministro, onde me levas? a um corao que no me pertence, que est
ocupado por meu inimigo! Deixa-me, deixa-me, no meu Tabernculo!"
Maria, emprestai-nos vosso manto de pureza, revesti-nos da candura e do esplendor de
vossa Imaculada Conceio, pois compete me adornar seu filho para os dias solenes.
Revestido por vs, Maria, serei bem acolhido por Jesus, que vir a mim com prazer, e,
vendo-vos em mim, far suas delcias em habitar no meu corao.
* * *
Maria pede que se prestem honras ao Santssimo Sacramento
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Em um mosteiro de Beneditinas, em Florena, no ms de dezembro de 1230, uma gota de
vinho consagrado, deixada no clice por um venerando Sacerdote, cuja vista estava
enfraquecida pela idade avanada, foi subitamente, no momento das ablues, transformada
em vermelho sangue. Trs dias depois, registrava-se um outro milagre: esta gota de vinho
consagrado transformada em sangue, e que fora guardada com a abluo em uma ampola de
cristal, tomou o aspecto de carne humana e ficou suspensa dentro desse receptculo, sem
tocar as superfcies internas do cristal; ao mesmo tempo, o vinho no consagrado, que servira
s ablues e enchia quase a metade da ampola, tomou uma cor rsea e se evaporou
instantaneamente, sem deixar vestgio de humildade.
Foi para esta Santa Espcie miraculosa que, por duas vezes, o cu pediu homenagens. Em
primeiro lugar, ao prprio Bispo de Florena. Durante o sono, certa vez, uma voz estranha lhe
murmurou por trs vezes: " Bispo, me recebeste nu, e nu me fizeste voltar!" exprobrando-
lhe assim a dureza e irreverncia para com a santa relquia de que por um momento tinha sido
possuidor, e que devolvera ao mosteiro, que a reclamava, sem lhe prestar as devidas honras.
Em reparao de sua falta, o referido Bispo mandou fazer um magnfico tabernculo de
marfim, ornado de lminas de ouro e revestido de prpura, para servir de morada ao Corpo do
Salvador.
Um outro apelo do cu se fez ouvir, pedindo novas homenagens para o milagroso
Sacramento. A Santssima Virgem, que, hoje em dia, tal como outrora para com o prespio de
seu Divino Filho em Belm, vela o seu bero eucarstico, apareceu em sonho a uma jovem do
mosteiro, em que se dera o milagre, e pediu: "Vai dizer Irm Margarida (sacrist do
mosteiro e mais tarde Abadessa de Ripoli) que bem perto desta Igreja se encontra sem abrigo
o objeto sagrado da Omnipotncia de meu Filho". Ildebandesca, como se chamava a moa,
obedeceu Virgem desempenhando logo de manh a sua misso. Irm Margarida,
esclarecida pelo cu, compreendeu o misterioso aviso; um rico cibrio foi encomendado a
artistas de renome e o Bispo veio colocar nele, solenemente, a Santa Espcie milagrosa. (Os
Milagres histricos do Santssimo Sacramento, pelo Padre Eugnio Couet).
PRTICA Preparar-se Santa Comunho com grande desvelo e em unio a Maria.
JACULATRIA O seio purssimo de Maria para Jesus Sacramentado uma habitao mais querida do que todos os Tabernculos de Jacob.
TERCEIRO DIA
O dote de Maria Imaculada
I. No dia da sua Imaculada Conceio. Maria recebeu um dote magnfico, proporcionado
aos seus deveres sublimes e a sua incomparvel dignidade de Me de Deus; recebeu, nesse
momento, o tesouro de graas que faria d'Ela a co-redentora do gnero humano, associando-
A a obra de nossa salvao.
No duvido que o privilgio da Imaculada Conceio supere todas as graas concedidas a
Maria, mesmo a graa da sua maternidade divina. , sim, menor que esta quanto dignidade;
porm, aos olhos de Deus e para Maria, mais importante; o fundamento e a origem de
todas as dignidades e de todos os privilgios que lhe sero conferidos mais tarde.
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Valeria pouco ser Me de Deus e ao mesmo tempo pecadora. O que constitui a grandeza
diante de Deus no a dignidade que Ele confere, porm a santidade e a pureza com que a
sustentamos. Lanai sobre os ombros de um mendigo um manto de prpura, no deixar de
ser um mendigo. A Imaculada Conceio, tendo sido a causa da pureza e da santidade de
Maria, , pois, a mais sublime de suas graas; por isso, desde o momento de sua criao, foi a
Santssima Virgem mais agradvel a Deus do que todos os seres reunidos, e um s ato de
amor dessa dbil criatura, ainda oculta no seio materno, mais meritrio e de maior glria para
Deus do que todo o amor dos santos e dos anjos em conjunto. Os juros so sempre
proporcionados ao capital; Maria possui um fundo de graas ilimitado, que produz o
cntuplo.
II. A Imaculada Conceio o ponto de partida de todas as virtudes de Maria; a sua
virtude soberana, no sentido de que Ela trabalhou sempre, e fez render o cabedal de graas
ento recebido. princpio aceito que Maria jamais foi infiel menor inspirao do Esprito
Santo, e fez frutificar, em toda a sua extenso, as graas que lhe foram concedidas. Nenhum
santo atingiu esse ponto; fica-se, de ordinrio, muito aqum da correspondncia s graas.
Por isso, o Anjo A sada "cheia de graa" O Senhor convosco, lhe diz ele, convosco sempre, em toda parte; em vs no se encontra vcuo que no seja preenchido pela graa.
Ah! Maria foi fiel a todos os seus deveres, fiel a todos os desejos do Senhor! Jamais se
descuidou da menor parcela do bem a praticar; recebeu sempre os raios da santidade de Deus,
absorvendo-os inteiramente sem desperdiar nenhum.
E esta fidelidade a todas as graas f-la progredir continuamente nas virtudes. Maria
velava sobre o seu tesouro como se o pudesse perder. Grande lio para ns! Quaisquer que
sejam as graas que recebermos, sejamos atentos em conserv-las! Maria, confirmada em
graa, no por natureza, mas em consequncia de sua unio com Deus, Ela, de quem jamais
tentao alguma ousou se aproximar, vela sobre si mesma, trabalhando incessantemente na
obra de sua santificao; caminha e se eleva sempre. Recolhe-se ao Templo na idade de trs
anos, para fugir do mundo; treme diante da presena de um anjo, puro esprito, a lhe falar
exclusivamente de Deus! Contudo, no julga fazer bastante. Mais tarde, sofrer um
verdadeiro martrio, e sem conforto; vai assim bordando a veste de sua Imaculada Conceio,
enriquecendo-a e adornando-a das mais belas flores de virtudes. sempre esta graa inicial
que Ela desenvolve e embeleza por suas virtudes e sacrifcios.
III. A Imaculada Conceio ainda a medida de seu poder e de sua glria. Somente a
pureza e a santidade nos tornam poderosos junto de Deus, que opera as grandes coisas por
meio das almas puras; s atende Ele s vozes inocentes ou purificadas. E a pureza de Maria
jamais foi empanada pela menor mancha. Qual ser, pois, o seu poder? Diz-se que a me
omnipotente sobre o corao do filho; mas, quando perde a sua dignidade, no tem mais
poder.
Que se poder recusar, porm, se Ela for pura? Salomo disse a sua me, depois que ela fez
penitncia: "Nada vos posso recusar". Que diremos ento de Maria, visto que todas as graas
passam por suas mos e que Ela o reservatrio dessas graas? Na ordem da salvao, Jesus
lhe entregou todos os poderes.
E a glria de Maria? Sua pureza lhe mereceu tornar-se Me do Rei, e hoje est sentada
num trono direita do seu Filho; exceto a adorao, recebe todas as honras e homenagens;
to bela e to gloriosa, que por si s faria a felicidade do paraso!
IV. Assim, pois, todas as graas, as virtudes, o poder e a glria de Maria derivam de sua
Imaculada Conceio e formam seu magnfico dote. O Batismo nos purifica, nos tornando
imaculados, sem mancha; logo que a criana o recebe, se transforma em templo de Deus,
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num paraso; com que vigilncia devemos conservar essa pureza batismal! E se a tivermos
perdido podemos nos purificar por meio da Penitncia; necessrio ser puro. No falo
somente da pureza dos sentidos; mister, alm disso, uma grande pureza em todas as nossas
aes, em nossa vontade, em todas as nossas intenes: em resumo, a pureza da vida; nisto se
encerra tudo. Sem a pureza no podemos agradar ao Deus da Eucaristia, que todo pureza;
somente os coraes puros conseguem v-LO, atravessando os vus que O encobrem.
Manifesta-se Ele unicamente ao corao puro porque a pureza o amor, a delicadeza da
amizade que no quer desagradar. Por isso que a finalidade de Nosso Senhor vindo s
nossas almas, purifcar-nos cada vez mais; purificando-nos, nos santifica; santificando-nos,
nos une mais intimamente a Ele, e quando estivermos bem puros nos atrair a Si e nos
coroar no cu.
* * *
A Santa Virgem vela sobre as Santas Hstias
Paterno (Itlia) 1772
Em 28 de janeiro de 1772, a aldeia de So Pedra de Paterno, situada a cerca de duas milhas
de Npoles, foi teatro de horrvel sacrilgio: uns ladres roubaram do tabernculo dois
cibrios contendo uma centena de hstias consagradas, que foram depois encontradas graas
a uma interveno milagrosa: apareceram luzes nos dois lugares onde haviam sido
escondidas. A primeira vez, na manh de 26 de fevereiro desse mesmo ano, um Sacerdote de
Npoles, cavando a terra ao p de um lamo que se tornara resplandecente, teve a consolao
de recolher quarenta: apesar de um rigoroso inverno e chuvas torrenciais, estavam brancas,
intactas, em perfeito estado de conservao, tendo apenas as bordas levemente salpicadas de
lama. Alm disso, a terra que estivera em contacto com o Corpo de Jesus Cristo, e que se
recolhera absolutamente seca em uma toalha muito limpa, comeou a destilar uma gua
purssima. Na tarde da quinta feira seguinte as outras hstias foram encontradas da mesma
maneira milagrosa: como as primeiras, estavam perfeitamente conservadas.
Apraz-nos citar aqui o testemunho do Cura de Paterno, Matias d'Anna, e que constitui o
eco de uma tradio corrente no lugar. Durante o tempo decorrido entre o roubo sacrlego e a
apario das luzes, um arrieiro chamado Francisco Jodice, de 27 anos de idade, ao voltar de
Npoles tarde, via sempre, no lugar onde as hstias haviam sido enterradas, uma senhora
que se apoiava numa rvore. Uma tarde, atreveu-se a perguntar-lhe o que fazia to sozinha
nesse lugar: "Estou aqui, lhe responde Ela, fazendo companhia a meu Filho!" Quando as
hstias consagradas foram descobertas, todos compreenderam que esta senhora devia ser a
augusta Virgem Maria.
O Vigrio Geral de Npoles fez o reconhecimento cannico das santas Espcies, objeto de
tantas maravilhas, e encerrou-as em dois cilindros de cristal fechados com aros de prata, a fim
de que pudessem elas ser expostas a venerao dos fiis. (Os Milagres histricos do
Santssimo Sacramento, pelo Padre Eugnio Couet).
PRTICA Em todas as comunhes pedir, por intercesso de Maria, a pureza de uma vida perfeita.
JACULATRIA Cantaremos vossos louvores, Maria, gloriosa cidade do Deus Eucarstico!
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QUARTO DIA
A Natividade da Santssima Virgem
I. Alegremo-nos e saudemos jubilosos o bero de Maria. O nascimento de nossa Me e
Soberana faz a alegria do Cu, a consolao da terra, e o terror do inferno. Eis que aparece a
mulher forte, a Me predestinada do Messias.
O lugar e as circunstncias de seu nascimento so desconhecidos, mas de crer que tenha
nascido na pobreza, como seu divino Filho, e em Jerusalm. SantAna e So Joaquim eram pobres, e viviam do dzimo do Templo, como pertencentes famlia levtica. Maria porm,
nasce com a aurola de grandezas que ultrapassam todas as riquezas das filhas deste
mundo.
II. Maria possui todas as dignidades humanas; nasce filha, irm e herdeira dos Reis de
Jud. O Verbo quer que sua Me pertena estirpe real; quer, segundo a carne, ser irmo de
reis, a fim de mostrar sensivelmente que d'Ele procede toda a realeza; por isso, os prprios
reis viro ador-lO como a seu Senhor e soberano dominador. Sua Me portanto, rainha.
verdade que, assim como seu Filho ser um rei sem domnio terrestre, sem riquezas, nem
exrcitos, Ela tambm ser pobre e desconhecida; tudo isto no constitui a realeza, mas
somente o seu esplendor; o direito subsiste ainda mesmo quando no reconhecido. Alis,
dia vir em que a realeza de Maria, bem como a de seu Filho, h de ser proclamada e
honrada: a Igreja a saudar como sua Rainha, a Rainha do cu e da terra. Salve Regina! O
anjo anunciara: "Dabit illi sedem David patris ejus". (Luc. I, 32). O Senhor restituir a vosso Filho, Maria, o trono de David seu pai. Mas ser preciso reconquist-lo por meio do
combate da humildade, da pobreza e do sofrimento.
III. Maria possui todas as grandezas sobrenaturais. A grandeza sobrenatural o reflexo de
Deus sobre uma criatura que Ele associa ao seu poder e sua glria. Ora, o que faz Deus por
Maria? Quis associ-la ao seu grandioso e divino mistrio; o Pai lhe d o nome de filha, o
Filho A venera como sua Me, e o Esprito Santo A protege como sua Esposa. Maria foi
chamada a cooperar nas grandes obras da omnipotncia divina, e foi associada ao imprio do
prprio Deus. Contemplai-A, pois, nesse belo dia do seu nascimento! Vede-A, com So Joo,
revestida de sol "amicta sole", provinda de Deus e resplandecente dos fulgores divinos; est, por assim dizer, invadida pelos raios da Divindade, semelhante a um cristal purssimo
penetrado completamente pelo sol. E a lua, sob os seus ps, significa que o seu poder
inabalvel, que a Virgem Santssima desafia a inconstncia, tendo vencido, para sempre, o
drago infernal. Sua fronte est cingida por um diadema de doze estrelas que representam as
graas e virtudes de todos ou eleitos. Maria como que o centro da criao; Jesus colocou em
suas mos todos os meios da Redeno; e os santos formam a sua coroa, porque todos so
obras de seu amor e de seu patrocnio.
IV. Maria nasce com todas as grandezas pessoais. Fora enobrecida com os dons de Deus.
mas isso no basta; ao nascer, ostenta a riqueza de mritos pessoais; possui tesouros infinitos
de merecimentos adquiridos durante os nove meses de adorao silenciosa e ininterrupta no
seio materno, onde, penetrada pela luz divina, se entregou inteiramente a Deus, consagrando-
Lhe um amor de que no podemos fazer a menor ideia. Nasce, pois, com os tesouros que
conquistou, e com as riquezas que agenciou. Oh! se tivssemos podido presenciar
espiritualmente o nascimento de Maria, contemplar este sol no momento em que surgiu no
oceano do amor de Deus! Em sua inteligncia, a mais pura luz; em seu corao, o mais
ardente amor; em sua vontade, a mais completa dedicao; jamais criatura alguma teve igual
nascimento.
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Assim, no seu pequenino bero, objeto das complacncias da Santssima Trindade e da
admirao dos anjos! Quem esta criatura privilegiada, perguntam eles entre si, rica de tantas
virtudes e cumulada de tamanha glria desde o alvorecer da vida? Quae est ista?
E os demnios estremecem; veem-na adiantar-se para eles, forte como um exrcito em
ordem de batalha; pressentem a humilhao da derrota de seu chefe, antevendo a guerra
implacvel que lhes far essa recm-nascida: Sicut acies ordinata...
O mundo, porm, rejubila. Vemos chegar nossa libertadora; seu nascimento nos anuncia o
nascimento de nosso Salvador. Oh! sim, alegremo-nos: "Nativitas tua gaudium annuntiavit
universo mundo." (Sacr. Liturg. in fest.).
E ns, adoradores, devemos nos regozijar porque Maria nos traz o nosso Po de vida, e,
desde esse dia, cumpre-nos saud-lA como a aurora da Eucaristia, porque sabemos que
d'Ela que o Senhor h de tomar a substncia do corpo e do sangue, que nos ser dada em
alimento no Mistrio de Seu amor.
** *
So Pedro de Verona e os maniqueus
Um rico e fervoroso catlico do territrio de Milo costumava oferecer hospitalidade a
So Pedro de Verona em suas viagens apostlicas. Certa noite, Pedro chega exausto de
fadiga; seu amigo, sempre to respeitoso e solcito, limita-se apenas a lhe abrir a porta. Como
explicar semelhante transformao?... No correr da palestra, se desvenda o segredo. Um
herege maniqueu, em visita ao bom hospedeiro, lhe exprobara a hospitalidade que oferecia ao
"inimigo da verdade", dizendo-lhe ainda: "Vem, e te mostrarei a Santa Virgem, que h de te
falar melhor". Vencido pela curiosidade, acompanhou o seu interlocutor assembleia dos
maniqueus. Uma senhora, refulgente de luz, apareceu sobre o altar, com o seu filho
nos braos: "Meu filho, disse ela, ests vivendo no erro, a verdade est aqui e no com os
catlicos; a prpria Me de Jesus que assim te fala". Convencido, o infeliz se tornara
maniqueu.
"Ide avisar ao homem que vos falou, que eu tambm me tornarei maniqueu se ele me
mostrar a Santa Virgem", disse Pedro. O hoteleiro se apressou em dar a notcia ao seu novo
amigo, que o recebeu com alegria. Pedro passou a noite em orao. Pela manh, ao celebrar a
Santa Missa, encerrou uma hstia consagrada em um pequeno cibrio porttil, que colocou
respeitosamente sobre o peito. Assim limado, dirigiu-se assembleia dos maniqueus. O
sectrio que desempenhava o papel de mdium fez aparecer sobre o altar a refulgente
senhora, que lanou em rosto do visitante sua ignorncia da verdade. Pedro, ento, elevando a
Hstia santa, exclamou: "Se s verdadeiramente a Me de Deus, adora o teu Filho!" A estas
palavras, o fantasma se desfez em nuvem de fumaa negra, deixando a sala impregnada de
um mau cheiro horrvel. O demnio fugira vista do seu Senhor.
(Os Milagres histricos do Santssimo Sacramento).
PRTICA Oferecer a Deus pelas Mos do Maria os frutos do Santo Sacrifcio da Missa.
JACULATRIA Ns vos saudamos, Maria, que nos trazeis, de to longe, o nosso Po de vida, a Divina Hstia!
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QUINTO DIA
A apresentao de Maria no templo
I. Maria no teve infncia, no sentido rigoroso da palavra; no se entregou a folguedos
pueris, nem conheceu a volubilidade, a inconstncia e ignorncia das crianas. Desde sua
conceio teve o conhecimento de Deus, e comeou a merecer; todas as suas faculdades se
elevavam para o seu Deus e n'Ele se fixavam; Deus era sua vida. Somente o seu corpo foi
submetido debilidade e pequenez da infncia. Logo que pode caminhar sozinha, pediu a
seus pais que lhe permitissem recolher-se ao Templo: contava apenas trs anos de idade.
Recebida entre as donzelas consagradas ao Senhor, ali permaneceu doze anos. Nada sabemos
acerca de sua vida nesse lugar, a no ser que vivia oculta aos olhos dos homens e que
praticava todas as virtudes. Piedosos escritores e santos Doutores, tais como Cedreno e So
Joo Damasceno, dizem que Maria procurava, de preferncia, conviver com as crianas que
sofriam, dispensando-lhes cuidados nas enfermidades e consolando-as em suas pequenas
tristezas. Quando surgia qualquer desavena, a pequenina Maria era logo chamada pura
conciliar as partes e restabelecer a paz, que sabia difundir onde se encontrava. A sua vida, de
grande simplicidade, no chamava a ateno, fazendo-se Ela a serva e a ltima de todas, de
nada se desgostando, e acorrendo ao encontro dos desejos de suas pequeninas companheiras.
Os anjos A protegiam estava sempre rodeada pelos espritos celestiais; o demnio no podia
se aproximar dEla, assim protegida por to fiis guardas; Maria, portanto, era esse jardim fechado que ningum pde abrir a no ser o Esposo dileto.
II. justamente nessa vida oculta no Templo que Maria deve ser nosso modelo. Deus
preparava Maria, no segredo, no silncio, e sem que Ela percebesse, para a grandiosa misso
que deveria desempenhar. Mais tarde, Nosso Senhor h de se preparar tambm para sua
misso evanglica por trinta anos de silncio em Nazar; e. depois, preparou os seus
discpulos durante trs anos para a manifestao do mistrio da Eucaristia, revelando-lhes
somente na vspera de sua morte todo o seu amor.
O retiro e o silncio so a alma das grandes coisas. Nosso Senhor no permitiu que
Satans conhecesse que Ele era o Filho de Deus; se o demnio tivesse disto a certeza, jamais
teria instigado os judeus a darem a morte a Jesus. Satans ignorava, do mesmo modo, que
esta donzela seria mais tarde a Me de Deus. Enquanto uma obra permanece em segredo,
desconhecida do mundo, est garantido o seu desenvolvimento; porm, apenas o demnio a
descobre e a revela ao mundo, este investe contra ela, combatendo-a com todas as foras. Se
o gro lanado na terra for muitas vezes revolvido no poder germinar; importa deix-lo em
repouso, enterrado. O mesmo suceder convosco; se quiserdes crescer, escondei-vos e
permanecei ignorados do mundo; do contrrio, o demnio h de vos suscitar muitas
contrariedades, e o sopro do amor prprio vos perder.
III. Nosso Senhor vem nos preparando h muito tempo; desde a infncia nos rodeou de
graas, a fim de nos introduzir mais tarde no Cenculo de Sua Eucaristia; agradeamos pois,
muito, a Deus. Apesar de no nos termos dado a Ele em to tenra idade como Maria, estamos,
contudo, na infncia da vida eucarstica, cuja manifestao apenas se inicia. E Nosso Senhor
nos escolheu como os primeiros a quem seria concedida esta graa.
A Santssima Virgem no Templo adorava a Deus em esprito e em verdade: apressava, por
suas oraes e ardentes desejos, a vinda do Messias Salvador.
Quanto a ns, O adoramos realmente presente em nossos altares, sem precisarmos clamar
por Ele, de longe, como Maria. Est conosco, no meio de ns, possumo-1O sempre.
Imitemos este silncio, este retiro, esta vida oculta na Eucaristia.
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Hoje em dia s se pensa em galgar posies e gozar imediatamente as suas vantagens;
ningum sabe esperar: fora-se a planta; esta, ao princpio, produz muito, mas no fim de
algum tempo se esgota e morre.
Abraai, portanto, a vida simples e oculta, os empregos modestos de vossa posio;
alegrai-vos por no serdes conhecidos, escondei debaixo do alqueire a pequenina chama de
vossa lmpada, pois o menor sopro poderia apag-la.
Maria se consagra a Deus prontamente, inteiramente, e para sempre. Faz a doao total de
si mesma: seu esprito, seu corao, sua liberdade; nada se reserva. Oh! entreguemo-nos
inteiramente a Jesus Sacramentado, que, por sua vez, se d todo a ns! fcil dizer: "Meu
Deus, consagro-me totalmente a vs" porm difcil realizar plenamente esta resoluo.
Contemos com a sua graa e o auxilio de nossa Me, e quando se apresentarem as ocasies,
lembremo-nos de sua perfeita consagrao a Deus; seu exemplo ser o nosso estmulo e a
nossa fora.
* * *
Jamais separemos Jesus de sua Me Santssima
So Jacinto, da Ordem dos Irmos Pregadores, tendo notcia de que os Trtaros iam atacar
a cidade de Kiew, onde ele morava, correu Igreja do Convento e retirou o santo Cibrio, a
fim de subtrair seu divino Mestre impiedade desse brbaros infiis. Ao sair da Igreja,
levando seu tesouro, uma esttua de Maria, grande e pesada, que se achava perto da porta,
chama-o por trs vezes. Jacinto, admirado, pergunta Santssima Virgem o que deseja e
Maria lhe responde: '"Meu querido Jacinto, como queres tu subtrair o Filho aos ultrajes dos
brbaros e lhes deixas sua Me?" E ante a excusa do Santo alegando no lhe ser possvel
carregar uma esttua to pesada, a Virgem replicou: "Oh! se me tivesses um pouco de amor,
seria fcil carregar-me; pede a meu Filho e Ele tornar leve esse fardo." O Santo, sem hesitar,
toma a imagem e a transporta to facilmente como se fora uma flor.
E assim, com o Santssimo Sacramento sobre o peito, e a imagem de Maria entre os
braos, atravessou, sem ser importunado, as linhas inimigas, e se dirigiu para Cracvia, onde
chegou sem incidente desagradvel. (Rossignoli).
PRTICA Repetir continuamente: Maria o Jesus! Jesus e Maria!
JACULATRIA Encontraram o Menino com sua Me e prostrando-se O adoraram.
SEXTO DIA
A Anunciao
(Luc. T. 26 e seg..)
I. Ao meditarmos as circunstncias do mistrio da Anunciao, descobrimos em Maria as
mais sublimes qualidades.
Que glria para Maria ter sido chamada a tomar parte nessa obra da Encarnao do Verbo,
a mais grandiosa das obras divinas! Que sublimes virtudes nos ensina com seu exemplo!
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Um arcanjo enviado por Deus: o arcanjo da fora divina, e vem trazer da parte de Deus
uma mensagem a uma criatura. Foi esta a misso mais importante que a um mensageiro
celeste coube desempenhar. E esse anjo baixa dos cus cheio de glria, belo como um astro,
resplandecente dos raios da divindade.
A quem se dirige ele? Ah! se o mundo tivesse sido informado da partida desse mensageiro
celeste, sem dvida teria procurado entre os ricos e poderosos do sculo o feliz mortal a quem
era destinada a grande mensagem, porque o mundo julga de boa mente que a perfeio se
encontra na grandeza. Mas o Anjo se dirige a uma virgem humilde, desconhecida, de
quinze anos de idade, legalmente desposada com um modesto operrio, e habitando uma
casinha pobre, em cidade pouco conhecida e mesmo desprezada. Dirige-se a Maria! Como possvel?! Tanto aparato para uma jovem de condio to modesta?! Sim. O prestgio social desaparece bem depressa, no ? Isto serve de confuso para o orgulhoso esprito
humano, que d valor somente ao que tem, brilho, e apreo ao ouro e aos diamantes; mas, que
tudo isso? No dia do juzo final sero estas coisas calcadas aos ps como o lodo da terra,
servindo de pavimento ao inferno. O Anjo se dirige, pois a uma virgem. Deus no estabelece
intimidade seno com as almas puras; perdoa o pecador, mas se une to somente s almas
em que reina uma pureza extrema.
O Anjo se apressa em saudar Maria, porque, efetivamente, inferior a Ela. Maria, nesse
momento, soberana, e desde que se tornou objeto dos desgnios divinos, tem nas suas mos
a sorte do mundo. Quo poderosa , ento, esta humilde virgem!
Ave, cheia de graa! Maria a nica cheia de graa entre as filhas de Eva. Quanto a ns,
somos cheios de misrias do pecado original; Maria pura como o sol; Deus plasmou-A de
uma argila especial, moldando-A com particular esmero.
O Senhor convosco. Sim, porque Ele habita na pureza de vosso corao como num paraso de delcias, e vossas virtudes so flores que exalam em sua presena os mais suaves
perfumes. A que hora apareceu o Anjo? O Evangelho no diz; pensam os comentadores que
foi meia noite, no instante em que termina um dia e comea o outro. Maria a aurora
mstica que separa as trevas da luz. A chegada do Anjo, estava em orao, suspirando pela
vinda do Messias, o que se pode presumir, sem receio de errar, baseado em que Deus concede
geralmente s almas um dom de orao em conformidade com a graa que lhes deseja
comunicar, preparando-as para isto. Orai tambm vs com Maria, nessa hora solene da
Encarnao, e, mais tarde, no Nascimento do Filho de Deus feito homem, e adorai em unio
com Ela o Deus que se encarna por vosso amor.
Maria se perturba. prprio das virgens, diz Santo Ambrsio, perturbar-se aproximao
de um homem e recear suas palavras. Maria se perturba tambm com os elogios que lhe so
dirigidos, se bem que os merecesse; a verdadeira virtude, porm, no se reconhece.
O Anjo tranquiliza Maria. Eis o caracterstico das vises divinas; a princpio, perturbam;
depois, infundem a paz. Ao contrrio, as vises diablicas comeam pela paz e acabam pela
guerra.
Concebereis um filho a quem chamareis Jesus. Nome celeste, nome divino, que nenhum
homem podia inventar, mas que devia ser trazido do cu por um Anjo. Este filho ser
poderoso, e chamado o Anjo do grande Conselho, o Forte, o Admirvel.
A Santssima Virgem porm dedicava um tal amor virgindade que consagrara a Deus,
que no acede logo. "Como se cumprir esse mistrio?" pergunta Ela. "Sou virgem, e virgem
quero permanecer". Que momento! Maria tem, por assim dizer, os cus e a terra suspensos! Deus espera o consentimento dessa humilde donzela! No podia dispens-lo, e
Maria, nesse instante, mais poderosa que o prprio Deus. Como pode o Senhor submeter-se
a essa espcie de inferioridade diante de Maria? Ah! porque a tudo mais Ele preferia a
virgindade de sua Me!
O Anjo cede, pois, em nome de Deus. Maria triunfa e ouve estas palavras: "A virtude do
Altssimo vos cobrir com sua sombra, e, vos tornando Me, permanecereis virgem."
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E Maria responde: Esse ancilla Domini Eis aqui a Serva do Senhor, faa-se em mim segundo a vossa palavra. Oh! palavra profunda, palavra admirvel e cheia de humildade! Quantas coisas se encerra nesse Ecce! Quando a Igreja vos apresenta a sagrada Hstia antes
da Comunho, vos diz: Ecce agnus Dei; quando So Joo quis mostrar Nosso Senhor a seus
discpulos, tambm lhe disse: Ecce.
porque esta palavra encerra o dom completo de si mesmo Eis-me aqui inteiramente
disposio do Senhor. um ato de f perfeito.
Maria no diz: "Eis aqui a Me do Senhor, se bem que assim fosse no mesmo instante;
quanto mais Deus eleva os santos, tanto mais se tornam humildes. Com muita razo pode So
Bernardo dizer de Maria: Virginitate placuit, humilitate concepit. Tornou-se agradvel ao
Senhor por sua virgindade, e O concebeu por sua humildade.
Notai a sobriedade das palavras de Maria; apenas diz o estritamente necessrio; o silncio
e a modstia so a salvaguarda da pureza.
O Esprito Santo opera ento em Maria sua obra divina. O consentimento dessa pobre
donzela transformou a face da terra. Deus reassume o seu domnio: vai recomear suas
relaes com os homens de um modo mais perfeito e mais duradouro do que no paraso
terrestre.
Este mistrio nos enobrece, trazendo Deus terra. no mesmo tempo um mistrio todo
interior, um mistrio de comunho. Na Santa Comunho, Jesus Eucaristia se encarna em ns
de uma certa maneira, e a Comunho o fim de sua Encarnaro. Ao comungarmos
dignamente, entramos no plano divino e o completamos. A Encarnao prepara e anuncia a
Transubstanciao.
Maria no recebe o Verbo somente para si; compraz-se em que participemos de sua
felicidade. Una-mo-nos pois, Virgem quando recebemos Jesus, entoemos seu Magnificat;
grandes coisas operou nEla o Senhor, nesse mistrio, e vindo a ns tambm realiza grandes coisas.
Oxal possamos imitar suas virtudes, a fim de que Jesus Cristo encontre em ns, como em
sua santa Me, uma digna e agradvel morada!
* * *
A Santssima Virgem recompensa Santo Andr Corsini por sua devoo para com a
Santa Eucaristia
Santo Andr Corsini, j ilustre por suas virtudes e santidade, foi, por insistentes pedidos de
seu povo, e no obstante as resistncias de sua humildade, elevado s sagradas Ordens.
Apesar dos desejos de seu pai de que a sua primeira Missa fosse celebrada na Matriz da
cidade, com toda a pompa possvel, o Santo obteve de seu Superior licena para oferecer seu
primeiro Sacrifcio em um convento solitrio e perdido no meio do bosque, onde pde ento
se abismar no amor da Hstia Santa que imolava. A atitude corajosa do Santo foi to
agradvel a Maria que, lhe aparecendo logo depois da Comunho, lhe disse: "s meu servo,
eu te escolhi e me glorificarei em ti, Andr."
Esta boa Me nos manifesta, por esta graa, o prazer que lhe causam o nosso respeito e
amor para com seu divino Filho presente no Santssimo Sacramento. (Bolland. 5 fevereiro).
PRTICA Evitar toda palavra, movimento brusco e dissipao na presena do Santssimo Sacramento.
JACULATRIA O fruto de meu seio. Jesus-Hstia, mais precioso do que todo o ouro e prata do mundo. Et fructus meus pretiosior auro et argento. (Eccles.)
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STIMO DIA
A primeira adoradora do Verbo Encarnado (1)
Eis aqui o meu modelo, minha Me: Maria, a primeira adoradora do Verbo Encarnado, em
seu prprio seio! Oh! quo perfeita em si mesma e quo bem aceita por Deus e rica de graas
deve ter sido essa primeira adorao da Virgem Me!
Meditemos essa perfeita adorao de Maria no primeiro instante da Encarnao.
1. Foi uma adorao de humildade, de aniquilamento ante a soberana majestade do Verbo pela escolha que fez de sua pobre serva, impelido por um excesso de bondade e de amor para
com Ela e para com a humanidade. Tal deve ser o primeiro ato, o primeiro sentimento de
minha adorao, ao comungar. Foi este o sentimento de Isabel ao receber a visita da Me de
Deus, levando-lhe o Salvador, ainda oculto no seio. Unde hoc mihi? Donde me vem esta honra que eu to pouco mereo?" Foi tambm esta a palavra do centurio, em cuja casa se
dispunha Jesus a entrar: "Senhor, eu no sou digno!"
2. O segundo ato de adorao de Maria foi, naturalmente, de gratido jubilosa pela inefvel e infinita bondade de Deus para com os homens; um ato de humilde reconhecimento
por ter escolhido sua indigna mas feliz serva para uma graa to insigne. O reconhecimento
da Santssima Virgem se exprime em atos de amor, de louvor e de aes de graas; Ela exalta
a bondade divina, pois a gratido abrange tudo isto. a expanso da alma para com a pessoa
do benfeitor; expanso magnnima e amorosa: a gratido o corao do amor.
3. O terceiro ato da adorao da Virgem Santssima deve ter sido um ato de homenagem: a oferta, o dom de si mesma, de toda a sua vida ao servio de Deus: Ecce ancilla Domini; um
ato de pesar por se reconhecer to pequena e to pobre, no podendo servi-lO dignamente.
Maria se oferece para servi-lO como Ele quiser, disposta a todos os sacrifcios que Ele se
dignar pedir-lhe, julgando-se ditosa de poder agradar a Deus por tal preo, e de assim
corresponder ao amor que Ele patenteou aos homens na Encarnao.
4. O ltimo ato da adorao de Maria foi indubitavelmente um ato de compaixo pelos pobres pecadores, por cuja salvao o Verbo se encarnara. Soube interessar a divina
misericrdia em favor deles, oferecer-se para reparar e fazer penitncia em lugar deles, a fim
de lhes alcanar o perdo e a volta para Deus. Procurou obter que lhes fosse concedida
a graa de conhecer seu Criador e Salvador, de am-lO e servi-lO, tributando assim
Santssima Trindade a honra e a glria que lhe so devidas por toda a criatura, mas
especialmente pelo homem, terno objeto das misericrdias e do amor de Deus, to grande
e to bom! Oh! eu desejaria adorar a Nosso Senhor como O adorava essa boa Me, pois que,
na Santa Comunho, eu O possuo do mesmo modo que Ela!
Oh! meu Deus, fao-vos um pedido importante e grandioso: dai-me a Santssima Virgem
adoradora por minha verdadeira Me; fazei-me participar de sua graa, desse estado de
adorao contnua em que se manteve durante todo o tempo em que vos trouxe em
seu purssimo seio, este cu de virtudes e de amor.
Sinto, meu Deus, que seria esta uma das maiores graas de minha vida; quero, doravante,
fazer todas as minhas adoraes em unio com esta Me dos adoradores, a Rainha do
Cenculo.
__________ (1) Esta meditao foi publicada, em parte, na segunda srie dos escritos do Bem-aventurado Pedro
Julio Eymard. aqui, porm, o seu lugar competente; por isto a reproduzimos, completando-a.
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A casula da Maria
So Bonnet, bispo de Clermont, devoto servo de Jesus e Maria, se recolhera, na vspera da
Assuno, Igreja de So Miguel, a fim de passar a noite era orao e se preparar melhor
para a grande festa de sua querida Soberana. Enquanto se expandia em suspiros e ardentes
desejos, chegaram-lhe do cu aos ouvidos acordes de uma doce melodia; o templo se ilumina
de repente, e suas abbadas ressoam como nos dias solenes em que regurgita de fiis.
Admirado e como que fora de si, v o santo a Virgem Me, cercada de uma multido de anjos
e de virgens, dirigir-se em procisso para o altar. As virgens e os anjos cantavam louvores
sua Rainha e ao seu divino Filho. Ento os anjos perguntaram quem celebraria os santos
Mistrios, e Maria lhes responde: Ser meu servo Bonnet, que reza em segredo nesta Igreja. Os Anjos vo chamar o santo, que amedrontado se escondera num recanto da Igreja. Revestem-no de magnficos ornamentos e lhe servem de aclitos na celebrao da Santa
Missa, a que assiste Maria.
Terminado o Santo Sacrifcio, a Santssima Virgem abenoa o seu devoto servo, e, como
lembrana de sua visita cheia de amor, deixa-lhe a bela casula que trouxera do cu. Este belo
ornamento milagroso estava guardado em Clermont, antes da Revoluo. Jamais se pode
saber de que material era feito, to fino e to delicado era, alm de macio e to habilmente
bordado que somente os dedos de um anjo, ou antes, da Rainha dos anjos, poderiam t-lo
feito.
(Bolland, 15 de janeiro).
PRTICA Fazer, com a maior fidelidade, a ao de graas da Comunho em unio a Maria.
JACULATRIA Maria, recebi vosso querido Filho; no O deixarei afastar-se de mim.
OITAVO DIA
Grandeza da maternidade de Maria
Maria, Me de Jesus, Filho de Deus! Maria de qua natus est Jesus, eis o sublime elogio
que o Evangelho faz da Santssima Virgem. O Esprito Santo no louva os seus dons nem as
suas virtudes; contenta-se em apontar o princpio divino, a lei de convenincia desses dons e
virtudes, isto , a maternidade divina. Maria recebeu todas as graas e todas as honras porque
devia ser Me de Deus, e esse ttulo diz tudo de Maria, narra-lhe todas as grandezas.
I. Veio Ela reerguer o gnero humano, restituindo me a coroa de glria e de nobreza
que Eva perdera pelo pecado. Satans destronara nossa primeira me, Maria a reabilita.
Representada pelas nobres figuras da antiga lei, Judite, Ester, Dbora, Maria se apresenta
como Rainha e libertadora. Por esta razo, o Anjo A sada com profundo respeito, sem
se atrever a pronunciar seu nome: Ave gratia plena. Notai a diferena entre a linguagem do
anjo verdadeira me dos viventes, e a do serafim decado nossa infeliz Eva.
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Maria habitao de Deus: traz consigo o Salvador do mundo, o foco do amor, Aquele
que vem trazer a paz aos homens, enquanto Caim, o primognito de Eva, um pecador, um
fratricida.
Maria recebe as homenagens dos pastores e dos reis dos pobres e dos ricos; sua qualidade
de Me do Messias a constitui soberana do universo e o prprio Filho de Deus A reconhece
como sua verdadeira Me, tributando-lhe todos os deveres de um bom filho; e nos d, assim,
o exemplo perfeito da observncia deste mandamento: "Honrar pai e me".
II. Eva, por culpa prpria, perdeu a liberdade e o poder, sub potestate viri eris; "Ficars,
diz-lhe o Senhor, sob o domnio do homem"; e desde ento a mulher se tornou escrava ou
tutelada do homem.
Eis, porm a mulher forte, a me por excelncia! A me deve ter direito sobre seu filho,
seja ele rei, ou seja, Deus, e por isso Maria manda em Jesus. E Aquele diante de quem as
potestades celestes tremem, obedece a Maria. Somente Ela O governa, Lhe fala em pblico,
reivindica seus direitos de me: Fili, quid fecisti nobis sic? (Luc. II, 48.) Compreendeis agora
o poder de Maria? Foi Ela que, em Can, desligou a omnipotncia de Jesus e Lhe deu, de
algum modo, o gozo da maioridade. Coroa de soberania , portanto, o segundo privilgio da
maternidade divina.
III. Esta graa ainda confere a Maria uma coroa de glria. Eva, por sua ambio, perdeu
toda a glria; foi expulsa vergonhosamente do paraso e condenada a conceber na dor e na
ignomnia.
Maria Santssima concebe o Salvador na alegria, sem conhecer as dores da maternidade.
Ao passar em seu bendito seio, o Salvador deixa nele os vestgios de sua glria, e Maria se
torna ento Rainha, por ter dado ao mundo Jesus Rei.
Rainha dos Anjos e Rainha da Igreja ver os soberanos depositarem a seus ps os seus
imprios, os povos lhe confiarem a prpria salvao, e em todo o lugar em que se oferecer
um trono a Jesus, ter, igualmente, o seu. O altar de Maria estar sempre ao lado do de Jesus!
Eis a honra, o poder e a glria da maternidade divina: Maria venerada, poderosa e
gloriosa em Jesus e por Jesus; sua divina Me!
***
O Conclio de feso
Houve um Bispo de Constantinopla, chamado Nestorius, que ousou dizer que a Santssima
Virgem no era Me de Deus.
a Me de Cristo, dizia ele, isto , de um homem a quem o Filho de Deus se uniu. E atreveu-se a pregar este seu erro do alto do plpito, aos fiis de Constantinopla; mas o povo
protestou indignado, exclamando que Jesus Cristo era Deus e no um homem
simplesmente, e que a Santssima Virgem sendo sua verdadeira me, era, portanto, Me de
Deus. O caso foi submetido ao Papa, chefe dos Bispos e juiz infalvel nas questes de f.
So Celestino I, o Papa reinante, convocou ento na cidade de feso, na sia Menor, um
grande Conclio geral de todos os Bispos, a fim de condenar a heresia de Nestorius.
No ano de 431, iniciou-se o Conclio, com grande solenidade. Desde manh cedo o povo
cercava a Igreja de Santa Maria, onde se deviam reunir os membros do Conclio. Os fiis
pediam em altas vozes que fosse vingada a honra da Santssima Virgem. Nestorius, intimado
trs vezes a comparecer diante do Conclio, no se apresentou. A casa em que ele se refugiara
estava guardada por uma tropa de soldados que um certo conde, chamado Canddio,
embaixador do Imperador, pusera sua disposio.
Finalmente, tarde, as portas da Igreja se abriram e So Cirilo, patriarca de Alexandria,
legado do Santo Padre, proclamou o decreto do Conclio que declarava ser a Santa Virgem
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verdadeiramente Me de Deus, e que Nestorius, culpado de blasfmia por ter afirmado o
contrrio, estava destitudo de seu mnus pastoral, deixando assim de ser Bispo e Patriarca
de Constantinopla.
No mesmo momento toda a cidade de feso vibrou em cnticos de jbilo; por toda a parte
se ouvia clamar: "Viva Maria, Me de Deus!" Ao sarem da Igreja, os Bispos foram levados
s suas residncias em triunfo, ao claro de mil tochas. O ar se embalsamara com os perfumes
que as senhoras, em honra dos Padres do Conclio, queimavam em caoulas. A cidade foi
iluminada de modo extraordinrio, e a alegria dos filhos de Deus se estendeu em breve por
todo o universo.
Nestorius ainda tentou resistir ao Papa e ao Conclio, porm o imperador, informado da
verdade, o abandonou e condenou ao exlio; e o infeliz nunca se submeteu ao dogma e
autoridade da Igreja. Viveu ainda oito anos, com o rancor no corao e a blasfmia sobre os
lbios, morrendo miseravelmente, o corpo todo estragado e a lngua, que blasfemara contra
a Santssima Virgem, dizendo e repetindo: Seja antema quem disser que Maria Me de Deus, foi devorada pelos vermes antes que ele exalasse o ltimo suspiro. (Mgr. de Sgur).
PRTICA Receber frequentemente o Deus da Eucaristia como remdio concupiscncia e salvaguarda da pureza.
ASPIRAO Salve, Maria, paraso espiritual de Deus, onde floresceu o lrio perfumoso e imaculado. Jesus Eucaristia.
NONO DIA
A Vida Interior de Maria
I. Maria, ornada de todos os dons, enriquecida com todas as virtudes, perfeita em todas as
suas graas, aparece no entanto ao mundo sob um exterior vulgar. Seus atos nada tm de
extraordinrio; suas virtudes parecem comuns; sua vida transcorre no silncio, na
obscuridade, e o prprio Evangelho no a menciona. porque Maria deve ser o modelo da
vida oculta em Deus com Jesus Cristo que ns devemos honrar e retraar fielmente em nossa
conduta, pois desejo vos mostrar como a lei da santidade que Deus segue em nossas almas a
mesma que seguiu em Maria.
Ora, a Igreja canta de Maria: "Toda a glria da filha do rei est no seu interior." Tal o
carter da santidade de Nossa Senhora: nada de exterior nem de ostensivo; tudo para Deus e
somente d'Ele conhecido. E, entretanto foi Ela a mais santa e a mais perfeita das criaturas, e
amada por Deus acima de todas, deve ter recebido de sua bondade as graas mais abundantes
e inestimveis, e os mais excelentes dons. O Pai Eterno lhe concedeu todas as virtudes de
me; o Filho, todas as graas da Redeno; o Esprito Santo, todas as graas do amor.
Contudo, Maria levou uma vida comum, oculta e desconhecida. Que concluir disto seno que
este estado de vida retirada e interior o mais perfeito? A vida exterior, mesmo quando
dedicada a Deus menos perfeita. Foi por isso tambm que Nosso Senhor se ocultou mais do
que se manifestou, e os santos todos so formados por esse molde, porquanto, para ser amigo
de Deus preciso ser pulverizado e reduzido a nada, preciso aniquilar-se como Jesus e
Maria.
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II. Donde, concluindo, vos digo: Quereis ser santos? Tornai-vos interiores. Sois a isto obrigados por vossa vocao adoradora; como pretendeis orar sem este esprito interior? Se
no podeis passar um instante sem livro na presena de Nosso Senhor, se nada Lhe sabeis
dizer de vosso corao, que vindes fazer aos seus ps? Que tristeza, nunca falar por si
mesmo e andar sempre pedindo emprestado pensamentos e palavras dos outros!
Oh! trabalhai para vos tornardes interiores. No possvel, de certo, ser tanto quanto Jesus
e Maria, porm cada qual poder conseguir o grau que lhe proporcionam sua graa e sua
virtude. Sem isto jamais recebereis consolaes nem incentivo, e vos sentireis infelizes na
adorao.
Para ser adorador necessrio ser interior, saber conversar no genuflexrio, consultar
Nosso Senhor e esperar sua resposta; preciso, em resumo, gozar de Deus. Devemos nos
sentir felizes em sua companhia, felizes em seu servio; precisamos gozar de sua intimidade
to suave e to animadora! Mas, para atingir o Corao e o amor de Jesus, mister que a
alma seja interior. E o que isto, afinal? amar bastante, de modo a poder conversar e viver
com Jesus; porm no se faz Ele ouvir pelos nossos ouvidos naturais, nem se deixa ver pelos
nossos olhos do corpo; fala somente alma recolhida. Jesus no Santssimo Sacramento todo
interior; no penetra mais os coraes com o seu olhar como durante sua vida mortal,
vai diretamente alma para lhe falar em segredo. Quando vossa alma no se expande em sua
presena porque Ele no atua sobre ela; existe algum obstculo entre ela e Jesus.
Ah! que no deixe de ser verdadeira a palavra de Nosso Senhor. Disse Ele que seu jugo
suave e o seu fardo leve; mas isto somente para quem vive de orao e de vida interior; do
contrrio, tornar-se- pesado e enfadonho. Quando no somos interiores, tudo se ressente em
nossa vida. Oh! como eu desejaria que se cumprisse em vs esta sentena to perfeitamente
realizada na Santssima Virgem: "O reino de Deus est dentro de vs", reino de virtudes, de
amor e de graas interiores, pelo qual comeareis a ser adoradores e santos!
A erva dos campos morre todos os anos porque no tem razes profundas, mas o carvalho,
a oliveira e o cedro no morrem, porque as suas razes penetram o seio da terra. Para
perseverar, para ser forte, mister descer at o fundo de si mesmo, cavar at atingir o prprio
nada;