MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL
JESSICA TAINARA SILVA DE ANDRADE
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA RAIVA HUMANA E ANIMAL NO
ESTADO DO PARÁ NO PERÍODO DE 2015 A 2018
BELÉM – PA
2019
JESSICA TAINARA SILVA DE ANDRADE
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA RAIVA HUMANA E ANIMAL NO
ESTADO DO PARÁ NO PERÍODO DE 2015 A 2018
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Coordenadoria do Curso e
ao Instituto de Saúde e Produção Animal
da Universidade Federal Rural da
Amazônia para obtenção do grau de
Bacharel em Medicina Veterinária.
Orientador: Profa. Dra. Nazaré Fonseca de Souza.
BELÉM – PA
2019
Andrade, Jessica Tainara Silva de
Aspectos epidemiológicos da raiva humana e animal no Estado do Pará no
período de 2015 a 2018 / Jessica Tainara Silva de Andrade. - Belém, 2019.
37 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) –
Universidade Federal Rural da Amazônia, 2019.
Orientadora: Dra. Nazaré Fonseca de Souza
1. Vírus da Raiva 2. Vigilância Epidemiológica 3. Saúde Pública 4.
Zoonose I. Título. II. Souza, Nazaré Fonseca de
CDD – 614.563
DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente à Deus que me deu forças e me guiou nos
momento em que eu achava que não iria aguentar, ao meu filho
Leonardo por ser minha luz e a melhor parte de mim, aos meus
pais Cris e Roberto e companheiro-marido Ronaldo por me
apoiarem e aconselharem em todo os momentos possíveis, amo
cada um de vocês.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço à Deus por me dar força, discernimento e sabedoria nessa
caminhada. Grandes foram às lutas, mas sempre estivestes comigo, sem ti, eu nada sou,
Obrigada, Deus do Impossível!
À minha família, que acompanhou a minha luta diária, em especial aos meus pais,
Cristina e Luiz Roberto que sem dúvidas foram o alicerce nessa minha caminhada,
agradeço por todo apoio, compreensão e amor incondicional.
Agradeço aos meus avós maternos e paternos pelo carinho e paciência, Luiz Roberto e
Maria Sebastiana (In memoriam), Raimunda Lúcia e bisavós Maria Ubelinda (In
memoriam) e Neuza Maria (Neca), vocês foram incríveis nessa minha caminhada,
obrigada por acreditarem em mim.
Obrigada ao meu companheiro do dia-a-dia Ronaldo Melo, por me aturar e me amar de
uma forma única, e agradeço por me proporcionar o meu maior tesouro o meu lindo filho
Leonardo que é a minha força pra nunca desistir dos meus sonhos.
Obrigada a minha sogra e cunhada dona Elis Regina e Juliana Vilaça vocês fazem parte
disso. Obrigada à alguns dos meus tios, tias e alguns primos e primas por me ajudarem
em momentos difíceis. Obrigada a família Vilaça que me acolheu e me ajudou em muitos
momentos!
Obrigada a todos os meus amigos que sempre estiveram ao meu lado cada um fez parte
de algum momento único na minha vida.
Obrigada a toda a equipe da SESPA por me acolher e paciência de me ensinar e de abrir
as portas para fazer esse trabalho incrível, obrigada em especial a dra. Elke por me
ajudar e tirar as minhas dúvidas a respeito do trabalho, ao Dr. Begot por ser uma
inspiração.
Obrigada a cada médico veterinário que me ensinou ser uma pessoa melhor, com mais
empatia e amor ao próximo e aos animais.
Obrigada a cada estagiário que conviveu comigo e lutou para que em meio as
dificuldades estivéssemos sempre o melhor ambiente de trabalho.
A todos os docentes, pois com eles aprendi que o conhecimento deve sempre ser passado
a diante, e que apesar das adversidades da universidade devemos pensar sempre nas
gerações que virão. Obrigada Tomás e Ivan por me ajudarem em todos esses longos 5
anos, a xerox e os salgados foram essenciais nessa fase da minha vida.
Agradeço ao meu coorientador professor Raimundo Nelson por me acolher e me
direcionar no assunto. Agradeço a professora Andrea Negrão pela oportunidade e por
transmitir grandemente sobre os conhecimentos das doenças e importância para a saúde
única.
E por fim, agradeço a minha Professora e orientadora Nazaré Fonseca de Souza, pela
oportunidade, dedicação, amizade, paciência e conhecimento proporcionado, foi uma
honra trabalhar ao seu lado, meus sinceros agradecimentos.
E por último agradeço aos meus animais gatinhos e cadelinhas Lily-minha riqueza linda,
a doce e querida Bubu, Chroninho- o orelha, Luna- a rueira , Preto e Branco-Ulysses e
Gandalf- o cinzento(cinza), Mel e Lili por serem fonte inesgotável de amor e
companheirismo.
"Mas, embora o medo fosse tão grande que parecia ser parte da
própria escuridão que o envolvia, Frodo se viu pensando em
Bilbo Bolseiro e suas histórias, nas caminhadas que faziam pelas
alamedas do Condado, conversando sobre estradas
aventuras. Há uma semente de coragem escondida (bem no
fundo, é verdade) no coração do hobbit mais gordo e mais tímido,
aguardando algum perigo definitivo e desesperador que a faça
germinar. Frodo não era muito gordo, nem muito tímido; na
verdade, embora não soubesse disso, Bilbo (e Gandalf) o
consideravam o melhor hobbit do Condado. Pensou que tivesse
chegado ao fim de sua aventura, um fim terrível, mas esse
pensamento renovou suas forças. Percebeu seus músculos se
contraindo, como para um salto final; deixara de se sentir frágil
como uma vítima indefesa."
RESUMO
A raiva, é uma doença caracterizada por uma progressiva e fatal encefalite, causada por
um vírus do gênero Lyssavirus, apesar de ser conhecida desde a antiguidade e possuir
grande relevância nos dias atuais, principalmente por ser uma doença zoonótica, na qual
traz grande risco a saúde tanto humana quanto animal, provoca a morte de animais
selvagens, domésticos e animais de importância agropecuária. Assim, objetivou-se
avaliar os aspectos epidemiológicos da Raiva e apresentar dados retrospectivos, do
período compreendido entre janeiro de 2015 a dezembro de 2018 no estado do Pará,
durante esse período obteve-se 1731 notificações da doença, dentre as raças notificadas,
as mais frequentes são as espécies: quirópteros, bovinos, equinos, caninos, felinos e
humanos. No presente trabalho o maior registro de notificações foi no ano de 2018, sendo
os Quirópteros os mais notificados no estado do Pará. A maior quantidade de notificações
positivas foi em herbívoros, com um total de 95 animais. Durante os quatro anos de
estudo a Mesorregião do Sudeste Paraense foi a que apresentou a maior quantidade de
positivos, e o município do estado com mais índice de positividade foi o município de
Bragança. Ressalta-se a importância da imunização anual de animais de produção, e das
campanhas de vacinação de animais domésticos para o controle da raiva, além do
controle de outras espécies a fim de reduzir a incidência e a letalidade da doença.
Palavras-chave: Vigilância Epidemiológica, Vírus da raiva, Saúde Pública, Zoonose.
ABSTRACT
Rabies is a disease characterized by a progressive and fatal encephalitis, caused by a virus
of the genus Lyssavirus, although it has been known since antiquity and has great
relevance in the present day, mainly because it is a zoonotic disease, in which it poses
great risk to human and animal health, causes the death of wild animals, domestic
animals and animals of agricultural importance. The objective of this study was to
evaluate the epidemiological aspects of rabies and to present retrospective data from the
period from January 2015 to December 2018 in the state of Pará, during which 1731
reports of the disease were reported among the races reported, the highest the species:
bats, cattle, horses, canines, felines and humans. In the present study, the greatest number
of notifications was in the year 2018, with the Quirópteros being the most reported in the
state of Pará. The highest number of positive notifications was in herbivores, with a total
of 95 animals. During the four years of study the Meso-region of Southeast of Paraense
was the one with the highest number of positives, and the municipality of the state with
the highest positivity index was the municipality of Bragança. The importance of the
annual immunization of production animals and the vaccination campaigns of domestic
animals for the control of rabies, as well as the control of other species in order to reduce
the incidence and the lethality of the disease, should be emphasized.
Keywords: Epidemiological Surveillance, Rabies Virus, Public Health, Zoonosis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Taxa de mortalidade de raiva humana por tipo de animal agressor (1986 – 2018) .........17
Figura 2 - O ciclo epidemiológico da raiva....................................................................................18
Figura 3 - Patogênese da infecção pelo VRab ...............................................................................19
Figura 4 - Distribuição dos casos positivos da Raiva distribuídos por mesorregião......................30
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Número de casos notificados e examinados no período de 2015 a 2018 no estado do Pará....... 27
Tabela 2 - Número de casos positivos de raiva no estado do Pará no período de 2015 a 2018....................28
Tabela 3 - Municípios do estado do Pará com o maior índice de positividade.............................................29
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
IF Imunofluorescência Direta
SESPA Secretaria Estadual de Saúde do Pará
MS Ministério da saúde
OMS Organização Mundial de Saúde
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
SNC Sistema Nervoso Central
VRab Vírus da Raiva clássico
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................14
2. OBJETIVOS.................................................................................................................15
2.1 Geral...............................................................................................................................15
2.2 Específicos. ............... .....................................................................................................15
3. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................16
3.1 Epidemiologia................................................................................................................16
3.2 Reservatórios.................................................................................................................17
3.3 Formas de transmissão.................................................................................................19
3.4 Sintomatologia e período de incubação......................................................................20
3.4.1 Raiva em humanos.........................................................................................................20
3.4.2 Raiva em cães e gatos....................................................................................................21
3.4.3 Raiva em herbívoros......................................................................................................21
3.4.4 Raiva em mamíferos silvestres......................................................................................22
3.4.5 Raiva em morcegos........................................................................................................22
3.5 Diagnóstico...................................................................................................................23
3.6 Controle e profilaxia....................................................................................................23
4. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................... 25
4.1 Material ........................................................................................................................25
4.2 Métodos ........................................................................................................................25
4.3 Aspectos éticos ............................................................................................................ 25
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 26
6. CONCLUSÕES...........................................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................33
ANEXOS.......................................................................................................................36
14
1. INTRODUÇÃO
A raiva é considerada uma das zoonoses de maior importância em saúde pública, não só por
sua evolução letal, como também por seu elevado custo social e econômico. É uma antropozoonose
conhecida desde os tempos remotos, caracterizada por uma encefalomielite aguda fatal nos animais
e no ser humano. Quando se consideram os prejuízos econômicos causados pela raiva, devem ser
computados, além das mortes dos animais de interesse econômico, os prejuízos indiretos, como a
quebra da produção leiteira e da carne, a depreciação do couro dos animais, pelos frequentes ataques
dos morcegos hematófagos, e o dano econômico pelas horas perdidas por homem nos tratamentos
antirrábicos bem como o próprio custo dos tratamentos. De acordo com a Organização Mundial de
Saúde, um programa de controle da raiva em animais domésticos deve atuar, em ordem de
prioridade, na vigilância epidemiológica, na imunização e no controle da população canina. O
Programa Nacional de Controle da Raiva (PNCR), criado em 1973 pelo Ministério da Saúde, tem
como principais linhas de ação de controle da doença: a vacinação de cães e gatos, o tratamento
profilático de pessoas expostas, a vigilância epidemiológica, o diagnóstico laboratorial, o controle da
população animal e a educação em saúde.
O estado do Pará possui seis mesorregiões, devido a sua grande extensão territorial e sua
localização na Amazônia é importante realizar estudos para saber a área de maior incidência e
ocorrência e relacionar com os casos que foram notificados. Nos anos de 2015 até 2018 houve uma
crescente quantidade de casos notificados e reagentes, além disso no ano de 2018 houve um surto
de raiva humana, com 7 pacientes positivos e 4 suspeitos, localizada na ilha do Marajó na cidade de
Melgaço, atribuindo assim a importância deste estudo, essa zoonose é considerada uma doença
negligenciada, pois a sua erradicação é possível através de uma série de estratégias e sua prevenção
e controle são prioridades para a Organização Mundial de Saúde (OMS), fazendo parte dos
programas de vigilância de diversos países, inclusive do Brasil.
15
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
Caracterizar os aspectos epidemiológicos da raiva humana e animal, por meio de dados
epidemiológicos retrospectivos do período compreendido entre 2015 a 2018 no estado do
Pará.
2.2. Específico
Verificar as mesorregiões de maior concentração de animais confirmados com a doença;
Mapear a região com maior incidência da doença;
Quantificar casos notificados e reagentes por espécie e períodos trabalhados;
Comparar os dados epidemiológicos da raiva animal e humana.
16
3. REVISÃO DE LITERATURA
A raiva é uma doença conhecida em animais e humanos desde a antiguidade, a qual era
atribuída nesta época a fenômenos sobrenaturais, os primeiros registros conhecidos da doença foram
encontrados no século X antes de Cristo (a.C). A raiva em animais domésticos foi descrita por
Demócritus há mais ou menos 500 anos a.C. e Aristóteles 322 anos a.C., que demonstraram que,
cães sadios mordidos por um cão raivoso ficavam “loucos”, além da possível transmissão da “raiva
de animais furiosos” para o ser humano, fazendo referência ao termo “Lyssa”, o que significa raiva
em grego (SCHNEIDER ET AL.,1994).
Na antiguidade havia duas interpretações sobre as causas das enfermidades. Uma maneira
vista pelos egípcios, hebreus e outros povos, que era de caráter religioso, e outra desenvolvida pelos
chineses e hindus, na qual a enfermidade era vista como um desequilíbrio entre os elementos que
compunham o organismo humano. Na década de 1950, no Chile, foi desenvolvida a vacina contra a
raiva canina, utilizada por órgãos públicos brasileiros, é a vacina modificada do tipo Fuenzalida &
Palácios, e aperfeiçoada nos anos seguintes, tornando-se mais segura e mais potente. A vacina é
constituída de vírus inativado, 2% de tecido nervoso (BABBONI ET AL., 2011).
O Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH), instituído no Brasil
pela Instrução Normativa nº 05/2002, tem como objetivo baixar a prevalência da raiva na população
de herbívoros domésticos e sua estratégia de atuação está baseada na adoção da vacinação dos
herbívoros domésticos, controle de transmissores e de outros procedimentos de defesa sanitária
animal que visam à promoção da saúde pública e o desenvolvimento de fundamentos de ações
futuras para o controle dessa enfermidade. A ocorrência da raiva dos herbívoros não é homogênea
no Brasil e as variações na incidência estão relacionadas a fatores como os diferentes biomas
presentes no país e as ações antrópicas nestes biomas (que podem favorecer natural ou
artificialmente a permanência de morcegos hematófagos), o aumento do efetivo de bovinos e outras
produções animais extensivas (que representa aumento da oferta de alimento para os morcegos
hematófagos)(BRASIL, 2009).
3.1. Epidemiologia
A distribuição da raiva é mundial, com cerca de 40.000 a 70.000 mortes ao ano, quase todas
em países em desenvolvimento. Na América Latina, os morcegos hematófagos, principalmente o
Desmodus rotundus, constituem-se nos principais transmissores para os animais de interesse
econômico, embora os cães tenham sido os principais transmissores da raiva humana até o ano de
17
2003. Outras espécies de morcegos também vêm desempenhando importante papel na transmissão
da raiva. A partir de 2004, os morcegos hematófagos se tornaram o principal transmissor da raiva na
América Latina e, em particular, no Brasil (BRASIL, 2016).
A raiva é uma zoonose causada por um vírus da família rhabdoviridae, gênero Lyssavirus e,
que possui sete genótipos; sendo o genótipo I o vírus da Raiva clássico (VRab), nas Américas,
atualmente, somente o genótipo I tem sido identificado como causador da doença (BATISTA ET
AL.,2007).
Trata-se de um vírus envelopado, com aspecto de projétil e genoma constituído por uma fita
simples de RNA Apresenta dois antígenos principais: um de superfície, glicoproteico, responsável
pela formação de anticorpos neutralizantes e pela adsorção vírus-célula, e outro interno,
nucleoproteico, que é grupo específico (FUNASA, 2002). É pouco resistente fora do organismo
animal, sendo rapidamente inativado por raios ultravioletas, por dessecação e por solventes
orgânicos, como sabão e detergente (PASTEUR, 2000).
Essa antropozoonose acomete os mamíferos, sendo os carnívoros e os quirópteros os principais
hospedeiros, é uma doença muitas vezes negligenciada em várias partes do mundo e
consequentemente causa grandes danos socioeconômicos, sendo ainda uma ameaça para saúde
pública (BANYARD ET AL., 2011).
No Brasil, a cadeia epidemiológica da raiva é dividida, didaticamente, em quatro ciclos de
transmissão: urbana, rural e silvestre aéreo e silvestre terrestre (KOTAIT ET AL., 2009).
Na figura 1 observa-se a taxa mortalidade de raiva humana por tipo de animal agressor no Brasil de
1986 até 2018.
Figura 1- Taxa de mortalidade de raiva humana por tipo de animal agressor (1986 – 2018)
18
Fonte: MS, 2018
3.2. Reservatórios
A raiva varia em termos geográficos e de espécies afetadas, de acordo com países e regiões,
devido a sua distribuição desigual, é possível que em um mesmo país podem existir áreas livres e
outras endêmicas, apresentando eventuais epizootias. No Brasil a raiva é endêmica, apresentando
variações de acordo com a região geográfica e com grande importância dos quirópteros na
manutenção da cadeia de transmissão selvagem (FUNASA, 2002). Didaticamente podemos dividir a
doença em ciclos de transmissão conforme os principais reservatórios da raiva encontrados no Brasil
ciclo aéreo, que envolve os morcegos; ciclo rural, representado pelos animais de produção e o
morcego hematófago; ciclo urbano, relacionado aos cães e gatos; ciclo silvestre terrestre, que
engloba os saguins, cachorros do mato, raposas, guaxinim, macacos entre outros animais
selvagens(BRASIL, 2011).
Figura 2- Ciclo epidemiológico da raiva
19
Fonte: Instituto Pasteur- SES\SP
Apenas os mamíferos são acometidos pelo VRab, os caninos e felinos constituem as
principais fontes de infecção nas áreas urbanas. Os quirópteros (morcegos) são os responsáveis pela
manutenção da cadeia silvestre, entretanto, outros mamíferos, como canídeos silvestres (raposas e
cachorro do mato), felídeos silvestres (gatos do mato), outros carnívoros silvestres (jaritatacas, mão
pelada), marsupiais (gambás e saruês) e primatas (saguis), também apresentam importância
epidemiológica nos ciclos enzoóticos da raiva. Na zona rural, a doença afeta animais de produção,
como bovinos, equinos e outros (BRASIL, 2017).
3.3. Formas de transmissão
A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado,
principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas. O
vírus se replica no local da inoculação, inicialmente nas células musculares ou nas células do tecido
subepitelial, até que atinja concentração suficiente para alcançar as terminações nervosas, sendo este
período de replicação extraneural responsável pelo período de incubação relativamente longo da
raiva. Após sua replicação no sistema nervoso central, o vírus rábico se espalha para diferentes
tecidos por meio de nervos periféricos e atinge as glândulas salivares onde fica disponível para
transmissão e eliminação, que ocorre durante um curto período, concomitante ao aparecimento dos
sinais clínicos, podendo iniciar alguns dias antes do óbito do hospedeiro. Ocasionalmente, pode
20
ocorrer morte súbita do animal, sem a manifestação de qualquer sinal clínico (JORGE ET AL.,
2010).
Figura 3 - Patogênese da infecção pelo VRab
Fonte: MURRAY et al., 1992
3.4. Sintomatologia e período de incubação
O período de incubação da raiva e extremamente variável e depende fundamentalmente, da
concentração do inoculo viral e da distância entre o local do ferimento e o cérebro. De igual forma,
está relacionada com a extensão, a gravidade e o tamanho da ferida causada pelo animal agressor. E
o período que vai desde o momento em que o agente penetra no organismo até o aparecimento da
sintomatologia clínica. Podendo variar, em média, de 20 a 90 dias, em humanos e animais
(BRASIL, 200 8).
Estudos experimentais realizados em diferentes animais, utilizando amostras de VRab de
origens distintas, demonstraram variações com períodos extremamente longos ou demasiadamente
21
curtos. A variabilidade do período de incubação depende de fatores como: capacidade invasiva,
patogenicidade, carga viral do inóculo inicial, ponto de inoculação, idade e imunocompetência do
animal (MAPA, 2009).
Em animais, a doença pode apresentar diferentes manifestações clínicas, variando com a
espécie, podendo, no entanto, apresentar-se de todas as formas independentemente do animal
acometido. De maneira geral, pode-se considerar duas apresentações da raiva em animais: furiosa e
paralítica (BRASIL, 2008).
3.4.1 Raiva em humanos
O período de incubação varia de dias a anos, encontrando-se geralmente entre quatro a oito
semanas. Os sinais inespecíficos duram de dois a quatro dias. Posteriormente, a infecção progride,
com manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, desorientação, delírios,
espasmos musculares involuntários generalizados e/ou convulsões. Há preservação da consciência
alternada com períodos de inconsciência, até a instalação do coma e evolução para óbito,
frequentemente relacionado à falência respiratória (FUNASA, 2002).
Com a evolução do quadro, começam a surgir sinais diminuição da acuidade auditiva ou
surdez, diplopia, visão turva e estrabismo. Em metade dos enfermos, é possível observar espasmos
da musculatura da orofaringe, da laringe e diafragmática, geralmente incitadas por tentativas de
ingestão de água, ou raramente, pela simples visão da mesma, caracterizando a hidrofobia. O
paciente evolui paulatinamente para o coma, com o êxito letal acontecendo em quatro a 10 dias,
geralmente durante convulsão ou ocorrência de apnéia. Já na forma paralítica esta modalidade pode
ser decorrente da afecção raquimedular, acompanhando ou seguindo a excitação (GOMES, 2012).
3.4.2 Raiva em cães e gatos
Em cães e gatos a fase prodrômica dura, em média, três dias e ocorrem alterações sutis de
comportamento. Na maioria das vezes, a raiva em carnívoros apresenta-se da forma furiosa.
Geralmente, o óbito ocorre por parada das funções cardiorrespiratórias, com paralisia dos músculos
respiratórios e diafragma (FUNASA, 2002).
A salivação torna- se abundante, uma vez que o animal é incapaz de deglutir sua saliva, em
virtude da paralisia dos músculos da deglutição. Há alteração do seu latido, que se torna rouco ou
bitonal, devido a paralisia parcial das cordas vocais. Os cães infectados pelo vírus rábico têm
propensão de abandonar suas casas e percorrer grandes distâncias, durante a qual podem atacar
outros animais, disseminando, dessa maneira, a raiva. Na fase final da doença, e frequente observar
22
convulsões generalizadas, que são seguidas de incoordenação motora e paralisia do tronco e dos
membros. A forma muda se caracteriza por predomínio de sintomas do tipo paralítico, sendo a fase
de excitação extremamente curta ou imperceptível. A paralisia começa pela musculatura da cabeça e
do pescoço; o animal apresenta dificuldade de deglutição e suspeita-se de “engasgo”, quando então
seu proprietário tenta ajudá-lo, expondo-se a infecção. A seguir, vem a paralisia e a morte nos gatos
a maioria das vezes a doença é do tipo furioso, com sinais clínicos semelhantes à raiva canina
(BRASIL, 2015).
3.4.3 Raiva em herbívoros
Passado o período de incubação, podem surgir diferentes sinais da doença, sendo a paralisia o
mais comum, porém pode ocorrer a forma furiosa, levando o animal a atacar outros animais ou seres
humanos. Não foram observadas diferenças acentuadas entre as manifestações clínicas nos bovinos,
equinos, e outros animais domésticos de importância econômica, como caprinos, ovinos e suínos. O
sinal inicial é o isolamento do animal, que se afasta do rebanho, apresentando certa apatia e perda do
apetite, podendo apresentar-se de cabeça baixa e indiferente ao que se passa ao seu redor. Seguem-
se outros sinais, como aumento da sensibilidade e prurido na região da mordedura, mugido
constante, tenesmo, hiperexcitabilidade, aumento da libido, salivação abundante e viscosa e
dificuldade para engolir (BRASIL, 2009).
Com a evolução da doença, observam-se contrações tônico-clônicas e incoordenação motora;
os animais apresentam dificuldade de deglutição e param de ruminar. Os sinais de paralisia
aparecem entre o segundo e terceiro dia após o início dos sintomas, sendo a duração da doença,
geralmente, de dois a cinco dias. Após entrar em decúbito, não consegue mais se levantar e ocorrem
movimentos de pedalagem, dificuldades respiratórias, opistótono, asfixia e finalmente a morte, que
ocorre geralmente entre 3 a 6 dias após o início dos sinais, podendo prolongar-se, em alguns casos,
por até 10 dias (BRASIL, 2008).
3.4.4 Raiva em mamíferos silvestres terrestres
A raiva ocorre naturalmente em muitas espécies de canídeos e outros mamíferos. Com base
em estudos epidemiológicos, considera-se que os lobos, as raposas, os coiotes, saguins e os chacais
são os mais susceptíveis (Brasil, 2008). Os sinais clínicos nas raposas são caracterizados por apatia,
paralisia de membros posteriores, ataxia, espasmos musculares, fadiga, tremores, convulsões,
agitação e agressividade. Nos saguins, o período de incubação varia de quatro a oito dias e sinais
23
clínicos de incoordenação motora, debilidade, prostração, inapetência e hiperexcitabilidade são
encontrados em 87,5% dos animais, opistótono (75%) e vômito (10%). Todos apresentam paralisia
de membros posteriores e de cauda, evoluindo para respiração abdominal e morte três a seis dias
após o início dos sinais (SILVA, 2012).
3.4.5 Raiva em Quirópteros
A crescente notificação de casos humanos associados aos morcegos e outras espécies
silvestres em diversas regiões do mundo, alerta para a forma de transmissão da raiva silvestre para
os seres humanos (ROCHA, 2014).
O período de incubação em morcegos hematófagos é bastante variável, de semanas até mais
de um ano. Os principais sinais clínicos são atividade alimentar diurna, hiperexcitabilidade,
agressividade, falta de coordenação de movimentos, tremores musculares, paralisia e morte. Em
morcegos não hematófagos ocorre paralisia sem agressividade e excitabilidade, sendo os animais
encontrados em locais não usuais. O período de incubação varia de 2 a 25 semanas e a morte ocorre
poucos dias após o início dos sintomas (SILVA, 2012).
3.5. Diagnóstico
Segundo MACHADO (1994), o diagnóstico laboratorial in vivo baseia-se no isolamento do
vírus a partir da saliva e, mais raramente, do líquido cefalorraquidiano e urina, podendo ainda se
demonstrar a presença de antígenos do vírus em células da córnea, obtidas por esfregaço e coradas
por anticorpos específicos em IF; e também no bulbo piloso pela técnica de RT-PCR; no entanto,
resultados negativos não excluem a raiva como causa da doença se o diagnóstico clínico é indicativo
da virose, e nesses casos, está indicada a pesquisa de vírus em material do SNC obtido após a morte
(CASSEB, 2009).
Nos casos clássicos, pode-se fazer um diagnóstico sugestivo para raiva, combinando sinais
clínicos ao curso agudo, com progressão contínua da doença e morte do paciente entre cinco e dez
dias. No entanto, o diagnóstico final deve ser laboratorial (SCHUCH, 2008).
O teste padrão ouro, aprovado tanto pela World Health Organization (WHO), como pela
Organização Internacional de Epizootias (OIE), para o diagnóstico laboratorial da raiva é o teste de
IFD em amostras de tecido cerebral, realizado post-mortem. Na obtenção de resultado positivo para
24
a IFD, em amostras de saliva, faz-se necessária a investigação epidemiológica do caso suspeito, bem
como, a confirmação através do teste de IFD em amostras de SNC (AGUIAR, 2011).
3.6. Controle e profilaxia
Em outras áreas do mundo, a educação em saúde tem sido adotada como ação estratégica no
controle da doença (SARAIVA, 2014). A vacinação em animais é uma forma eficiente de controle
da enfermidade nas espécies domésticas, sendo vacinados tanto animais domésticos de estimação,
importantes no ciclo urbano da raiva, quanto aqueles de interesse econômico, suscetíveis à doença
em seu ciclo silvestre, onde morcegos hematófagos são os principais reservatórios (BELOTTO,
2005).
Ao suspeitar de um caso de raiva, os órgãos de saúde competentes organizam um bloqueio
vacinal em animais domésticos em até 72 horas após a notificação, obedecendo um raio de 5km ou
mais, dependendo da zona de abrangência (zona urbana ou rural) onde o paciente foi agredido, não
sendo necessário aguardar resultados de exames laboratoriais para confirmação do caso suspeito.
Esse bloqueio é para ser feito casa a casa independente que o animal tenha história recente de
vacinação antirrábica ou não (BRASIL, 2009). É importante destacar a alteração no perfil
epidemiológico da raiva nessa década, os avanços no controle no ciclo urbano e a expansão do ciclo
silvestre. As atividades de vigilância e controle em cães devem ser mantidas e as dos ciclos
silvestres, intensificadas.
É importante que a população procure atendimento em qualquer situação de agressão; e de os
profissionais de saúde permanecerem atentos à avaliação e indicação adequada e oportuna da
profilaxia, quando esta se fizer necessária (WADA, 2011).
A profilaxia pós exposição ao vírus da raiva, (mordeduras, arranhaduras, lambeduras e
contatos indiretos) devem ser avaliadas de acordo com as características do ferimento e do animal
envolvido para fins de conduta ver de esquema profilático (BRASIL,2011).
25
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Material
Foi realizado o levantamento de dados epidemiológicos (planilha) utilizando
informações oriundas do banco de dados da SESPA, para a obtenção de informações
referentes ao período de janeiro de 2015 a dezembro de 2018, tendo como área de abrangência
o estado do Pará.
4.2 Métodos
Os dados obtidos foram inseridos em uma planilha do programa Microsoft Excel 2016, que
resultou na construção de tabelas e figuras. As variáveis epidemiológicas foram separadas de acordo
com espécies, anos e mesorregião. Para auxiliar no entendimento foram agrupados no grupo dos
herbívoros os equinos, bovinos, bubalinos e ovinos.
4.3 Aspectos éticos
O Presente trabalho foi realizado por meio de solicitação de dados oriundos da SESPA sobre o
número de protocolo 2019-195226, estes dados foram informados em planilhas excel que foram
analisadas e os dados quantificados, destacando-se ainda que durante a execução deste TCC, não
foram utilizados animais.
26
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No estado do Pará entre o ano de 2015 até o ano de 2018, houve 1728 notificações da doença,
dentre as espécies notificadas, as mais frequentes são as espécies quirópteros (hematófagos),
bovinos, equinos, caninos, felinos e humanos, essa diversidade de espécies é demonstrada na tabela
1, a qual mostra a quantidade de notificações por ano, separados por espécies.
No ano de 2015 foram realizadas 455 notificações, destas 21 foram positivas e 434 negativas,
em quirópteros foram 240 notificadas, todas negativas; na espécie canina foram 137 notificadas
sendo todas negativas; na espécie felina foram 14 notificadas sendo também todas negativas; em
herbívoros foram notificados 58 casos sendo 21 casos positivos e 37 negativos; em mamíferos
silvestres terrestres e humanos não houveram notificações, e em outras espécies (suíno, anta, raposa)
tiveram 6 notificações não obtendo nenhum positivo, segundo Cavalcante et. al (2019), a maiorias
das notificações de raiva em humanos foi presenciada na região norte, sendo que o estado com mais
notificações foi o Pará, relata-se ainda que o maior número de notificações foram em regiões rurais
onde existem grande presença de quirópteros e animais silvestres.
No ano de 2016 obteve-se 311 notificações dessas 9 foram positivas, em quirópteros foram
136 notificações sendo todas negativas, na espécie canina foram 99 notificações sendo todas
negativas, na espécie felina tiveram 8 notificações sendo todas negativas, já em herbívoros foram
notificados 68 casos sendo 9 positivos e 59 negativos; em mamíferos silvestres terrestres e humanos
não houveram nenhuma notificação, e em outras espécies (suínos, anta e raposa) não houve
nenhuma notificação, os resultados encontrados em animais silvestres diferem de Antunes et. al
(2018), onde o maior número de positividade foi encontrado nesses animais, enquanto que o número
de quirópteros ter sido significativamente maior .
No ano de 2017 obteve-se 475 notificações sendo 30 positivas, em quirópteros houveram 197
notificações sendo 1 positiva, na espécie canina houveram 67 notificações sendo todas negativas, na
espécie felina tiveram 17 notificações sendo todas negativas, já em herbívoros tiveram 102
notificações sendo 30 casos positivos e 72 casos negativos, em mamíferos silvestres terrestres 90
casos notificados sendo nenhum positivo, em humanos não houve nenhum caso notificado, e em
outras espécies(suíno, anta e raposa) houve 2 casos notificados e no fim deram negativos, os
resultados encontrados corroboram com Teixeira et. al (2015), que encontrou na espécie bovina o
maior número de notificações e também de positividade, o mesmo relaciona o aumento dos casos de
notificações bem como o aumento de positividade ao melhor emprego dos sistemas de notificações,
ao melhor aporte do serviço de veterinário e aos aprimoramentos dos laboratórios na realização dos
exames pelos órgãos governamentais.
27
No ano de 2018 obteve-se 487 notificações sendo 47 positivas, em quirópteros houveram 231
notificações sendo 4 positivas, na espécie canina foram 117 notificações sendo 1 caso positiva, na
espécie felina foram 3 notificações e todas deram negativas, em herbívoros foram 94 notificações
destas 35 foram positivas, em mamíferos silvestres terrestres foram notificadas 28 casos sendo todas
negativas, em outras espécies (suínos, anta e raposa) foram notificados 7 sendo todas negativas, e
em humanos no município de Melgaço-PA foram notificados 14 casos, 7 foram positivos, 3 foram
descartados e 4 suspeitos permanecem em investigação por não terem diagnóstico laboratorial, o
aumento de casos positivos em humanos difere do estudo de Vargas et. al (2019), que demonstrou
uma redução dos casos de raiva no Brasil, bem como na América Latina devido ao aumento da
disponibilização do tratamento antirrábico, e o aumento da quantidade de informações sobre a
doença. É da opinião da autora que mesmo com o crescente aumento da disponibilidade e o maior
aporte a informações sobre a doença, as dimensões do estado, bem como a estrutura de alguns
municípios, principalmente no Marajó contribuem para o maior aumento da doença nesses locais.
Quanto aos mamíferos silvestres terrestres ainda não houveram casos positivos no estado
mesmo com a proximidade da população com esses animais na região amazônica, na tabela 1
percebe-se que houve um aumento das notificações desses animais podendo ser atribuída as ações
dos programas e disseminação de informações a população, corroborando com Rodrigues et.
al(2018), diferente do encontrado por Aguiar et. al (2011) no estado do Ceará.
Tabela 1 - Número de casos notificados e examinados no período de 2015 a 2018 no estado do Pará
Fonte: SESPA
A prevalência da doença em herbívoros conforme mostra a tabela 2, pode estar relacionada com a
alta prevalência em quirópteros fazendo a manutenção do ciclo, corroborando com os estudos de
Rodrigues et. al. (2018) e Romerson Dognani et al. (2016). Na tabela 2 observa-se um aumento de
casos positivos em algumas espécies acometidas, tais como a bovina, a equina, na humana e em
quirópteros, de acordo Gonçalves et.al (2018) no decorrer dos anos demostrado que apesar dos
avanços nos programas de controle a raiva, ainda é necessário aprimorar os mesmos programas de
QUANTIDADE DE CASOS NOTIFICADOS E
EXAMINADOS
ESPÉCIES 2015 2016 2017 2018
TOTAL POR
ESPÉCIE
Herbívoros 58 68 102 94 322
Canina 137 99 67 117 420
Felina 14 8 17 3 42
Humana 0 0 0 7 7
Mamíferos Silvestres 0 0 90 28 118
Quirópteros 240 136 197 231 804
Outros 6 0 2 7 15
TOTAL POR ANO 455 311 475 487 1728
28
controle de as todas as espécies relacionadas, em virtude da grande dimensão do estado e da
estrutura regional ainda ser ineficiente.
Tabela 2 - Número de casos positivos de raiva no estado do Pará no período de 2015 a 2018.
Fonte: SESPA
Segundo Vaz (2013), as elevadas notificações de quirópteros são decorrentes dos impactos
ambientais, pois os mesmos propiciam a continuidade de transmissão do vírus rábico, devido à
agressão por quirópteros, além de que com o avanço da população humana com o habitat natural
desses animais contribui para que haja uma interação e consequentemente surgir possíveis surtos.
De acordo com Silva et. al (2012) as espécies não hematófagas infectam-se por interações com os
morcegos hematófagos portadores do vírus rábico e podem também transmitir acidentalmente a
enfermidade, por contato direto à espécie humana e a outros animais.
O reaparecimento dos casos de raiva humana no estado intensifica a grande necessidade de
notificações compulsórias, segundo Gonçalves et.al (2018) o aparecimento desses novos casos após
dezenas de anos sem casos confirmados pode estar associado à necessidade de ações voltadas para o
controle e profilaxia.
A situação epidemiológica nos municípios do estado do Pará são bem diferentes entre si, os
municípios com maiores índices de positividade foram os municípios de: Bragança (Nordeste
Paraense) com 11 casos confirmados, Paragominas (Sudeste Paraense) com 10 casos confirmados,
seguido dos municípios de Melgaço (Marajó) e Piçarra (Sudeste Paraense) ambos com 7 casos cada,
os municípios de Tailândia (Nordeste Paraense) e Ipixuna do Pará (Nordeste Paraense) com 6 casos
cada, como demostrado pela tabela 3 existe uma evolução de casos positivos no período de 2015 a
2018, esse resultado difere do estudo de Pereira et. al (2017) onde foi encontrado o maior índice de
positividade nos munícipios de Augusto Corrêa, Belém e Irituia.
NÚMERO DE CASOS POSITIVOS
HERBÍVOROS QUIRÓPTEROS CANINA FELINA HUMANA
MAMÍFEROS
SILVESTRES
OUTRAS
ESPÉCIES
TOTAL
ANO
2015 21 0 0 0 0 0 0 21
2016 9 0 0 0 0 0 0 9
2017 29 1 0 0 0 0 0 30
2018 35 4 1 0 7 0 0
47
TOTAL\ESPÉCIE 94 5 1 0 7 0 0 107
29
Tabela 3 - Municípios do estado do Pará com maior índice de positividade
MUNICÍPIOS 2015 2016 2017 2018 TOTAL
Abel Figueiredo 1 0 0 0 1
Augusto Correa 0 0 3 0 3
Baião 3 0 0 0 3
Banach 1 0 0 0 1
Bom Jesus do Tocantins 1 0 0 0 1
Bragança 0 2 7 2 11
Breu Branco 0 1 2 2 5
Capanema 0 0 0 1 1
Capitão-Poço 0 0 1 2 3
Conceição do Araguaia 0 0 2 0 2
Cumaru do Norte 1 0 0 0 1
Curionópolis 0 1 0 0 1
Dom Eliseu 1 0 0 0 1
Goianésia do Pará 0 0 1 2 3
Inhangapi 0 1 0 0 1
Ipixuna do Pará 0 0 5 1 6
Itaituba 0 0 0 1 1
Itupiranga 1 0 1 1 3
Mãe-do-rio 0 0 0 1 1
Marabá 0 0 0 1 1
Melgaço* 0 0 0 7 7
Novo Repartimento 0 1 1 1 3
Pacajá 2 0 0 0 2
Paragominas 4 2 4 0 10
Piçarra 0 0 0 7 7
Redenção 0 0 0 1 1
Santa Maria das Barreiras 0 0 0 3 3
São Geraldo do Araguaia 0 1 0 2 3
Tailândia 0 0 0 6 6
Tomé-açu 0 0 2 3 5
Tracuateua 0 0 0 3 3
Ulianópolis 4 0 0 0 4
Viseu 0 0 1 0 1
São Domingos do Araguaia 2 0 0 0 2
TOTAL 21 9 30 47 107
Fonte: SESPA
Nahum et. al (2016) realizou um levantamento na região do Nordeste Paraense, os municípios
com maiores notificações de atendimentos antirrábicos humanos, nos quais o quiróptero era o
agressor foram: Viseu ( 47,2%) e Augusto Corrêa (38,6%), segundo o autor mesmo tendo um
número bastante significativo de notificações devido a divulgação do surto de raiva que ocorreu em
Viseu e Augusto Corrêa (2004-2005), o que chama a atenção é que as notificações dos municípios
adjacentes são quase ausentes mesmo apresentando condições ambientais e situação de
30
vulnerabilidade parecidas já neste estudo os municípios de Augusto Corrêa e Viseu tiveram
respectivamente 3 e 1 casos positivos demostrados pela tabela 3, essa diminuição demostra que
após o surto houve uma maior vigilância epidemiológica nesses municípios.
Segundo Scheneider et al. (2003) a maioria dos tratamentos antirrábicos pós-exposição ocorre
em áreas desfavorecidas de países em desenvolvimento, onde há subnotificação de casos de raiva
humana, a falta de diagnóstico e negligência de tratamento, corroborou com a área que deram
positivos em humanos, além das poucas condições financeiras a localidade era simples e as
residências ficavam à margem do rio, assim tendo acesso facilitado que não impediu a entrada de
quirópteros na residência das vítimas.
Nos anos de 2015 a 2018 no estado do Pará tiveram 107 casos positivos de raiva conforme
mostra a figura 4, dentre elas a mesorregião que apresentou o maior índice de positividade foi a
região do Sudeste Paraense com 50 casos confirmados, em seguida do Nordeste Paraense que obteve
42 casos positivos, no Marajó obteve-se 8 casos confirmados, na região do Sudoeste Paraense
houve 5 casos confirmados, na região Metropolitana de Belém houve 1 caso confirmado, e no Baixo
Amazonas não houve nenhum caso confirmado. Diferente dos resultados encontrados por Rodrigues
et.al (2018) e Pereira et. al (2017) que observaram que o maior índice de positividade foi
respectivamente nas mesorregiões do Sudoeste Paraense e do Nordeste Paraense.
Figura 4 - Distribuição dos casos positivos da Raiva distribuídos por mesorregião no período de 2015 a 2018
31
Fonte: SESPA
As regiões Norte e Nordeste apresentaram os maiores índices da doença segundo o MS, e
consequentemente a maior incidência nestas duas décadas MS (2016) mesmo após anos de estudos
a situação epidemiológica do estado do Pará ainda é preocupante, de acordo com a WHO\OPAS
(2005) apenas é considerada como um local livre de raiva quando por mais de 10 anos não se
registra a circulação de vírus na população canina, por isso o estado do Pará deve melhorar a sua
vigilância epidemiológica, para Lima et. al. (2016) além de intensificar os programas de controle e
ações epidemiológicas para que se evite novos surtos.
A raiva traz consequências muito graves para o estado do Pará, as principais são as
socioeconômicas que são de extrema importância acarretando prejuízos financeiros, perda de
produtividade, custos para o tratamento em humanos, e falta de confiança no mercado de
internacional, todas essas consequências afetam todas as espécies acometidas causando graves
problemas na saúde única do estado.
32
6. CONCLUSÃO
Dentre as notificações para o controle da raiva a maior quantidade está referida aos
quirópteros, porém o maior número de positividade se encontra nos herbívoros com predominância
na espécie bovina.
O número de notificações aumentou ao longo dos anos, muito provavelmente por uma maior
eficiência dos programas de controle. No entanto, é necessário ampliar os programas para outras
espécies, pois não foram obtidos dados expressivos quanto a espécies silvestres naturais da região.
A mesorregião com maior número de positividade foi a região sudeste do Pará, muito
provavelmente devido ao avanço da pecuária e o aumento do extrativismo na região, além é claro
que o maior número de casos foi encontrado em bovinos na mesorregião.
Contudo os casos em humanos no ano de 2018, podem estar relacionados a falta de maiores
campanhas de controle da raiva, além de que com o avanço da população humana com o habitat
natural desses animais contribuiu para que houvesse uma interação e consequentemente surgiu
surtos, e também a escassez no acesso à informação relacionado ao protocolo vacinal por parte da
população.
A educação e a conscientização dos profissionais que atuam nessa área e da sociedade, em
geral, continuam sendo ferramentas importantes para o controle efetivo da doença. É de suma
importância que os animais domésticos (cães e gatos) recebam a vacina contra a Raiva para que o
vírus não esteja circulante, também deve-se realizar o controle de reservatórios e que venha haver
uma vigilância sempre ativa, e que as pessoas façam de forma correta o protocolo de vacinação, esta
ação já reduz grandemente que a doença venha se instalar no organismo. Para isso deve-se realizar
um controle epidemiológico em todas as mesorregiões do estado, independente se a região houve
alguma notificação, e a educação da população juntamente com os programas de controles e
vacinação são a chave para que se evite a disseminação da raiva humana e animal.
33
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ANEXOS
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