nem tanto,
nem tão
pouco algumas reflexões em educação socioambiental
FRANCISCO ANTONIO ROMANELLI
Varginha, MG – 2007
O presente trabalho constitui-se de pequenos
artigos originalmente publicados entre os anos de
2004 e 2006 em colunas periódicas dos jornais Jornal
do Sul de Minas e Correio do Sul, com circulação na
região do Sul de Minas Gerais, e em outras
publicações esparsas de diversas localidades.
À guisa de apresentação
os que tiverem acesso a este trabalho, ou partes dele,
confiamos a tarefa de bem aproveitá-lo.
Como?
Inicialmente, reconhecendo que todos nós precisamos
melhorar nossas consciências ambientais: todos degradamos,
todos somos responsáveis pela redução da qualidade ambiental
do planeta e, por isso, sempre temos campo para aprimorar
nossa consciência ambiental e social, em busca de um mundo
melhor, mais justo, mais bonito, mais limpo, com mais saúde e
com melhor qualidade de vida.
Devemos isso ao nosso planeta, a nossos semelhantes, a nós
mesmos e, principalmente, a nossos descendentes. Nossos filhos
não deveriam ser onerados com a responsabilidade de
consertar aquilo que estragamos. Nem deveriam sofrer, na
saúde e na vida, as nefastas consequências de nossa
inconsequência.
Aprimorar a consciência é essencial. Mas não é tudo. O leitor
bem intencionado deverá aconselhar-se com sua consciência
ampliada e fazer coisas práticas. Melhorar efetivamente o
mundo que o rodeia, o mundo que é parte do universo a seu
redor e sobre o qual tem influência. Qualquer pequena ação
será sempre enorme, quando somada a inúmeras outras
pequenas ações.
Por fim, a cada um de nós sempre cabe a missão de
retransmitir, paciente e dedicadamente, a todos a quem
pudermos, nossa ansiedade pela cura do ambiente planetário; a
cessação da degradação e o início da recuperação. Somos
todos educadores e dessa tarefa missionária não devemos nos
apartar em nenhum instante de nossa existência.
A
NEM TANTO, NEM TÃO POUCO
xistiria uma medida exata em que fosse possível avaliar o
grau de consciência ecológica de cada indivíduo?
Estamos todos em um mesmo barco, ou uma mesma nave,
como queiram (ou em um lindo balão azul), viajando pelos
confins do espaço, na periferia de uma galáxia que nós
denominamos de Via Láctea. Sim. Somos punks da periferia. Algo
como estar morando em um bairro que ficasse a dois ou três
quilômetros do centro da cidade. Quando olhamos para o azul
noturno estrelado e aveludado do céu (isso onde não há
excesso de poluentes que ofusquem a visão), e vemos aquele
caminho conhecido como via láctea, estamos, nem mais nem
menos, que olhando as luzes do centro da "cidade", ou melhor,
da galáxia.
Somos, portanto, algo como um cidadão classe média do
espaço, que mora nos arredores do centro movimentado e
nervoso da cidade. Somos pouco importantes, em termos
astronômicos. Nossa estrela, uma estrela média, sem
características de grande importância, perdida dentre as
prováveis outras duzentos milhões de estrelas da galáxia. Não
bastasse isso, nossa galáxia se perde em seu próprio grupo local
de galáxias e nosso grupo local se perde nas estimadas duzentos
milhões de grupos. Enfim, olhar para o centro da cidade, para o
brilho das estrelas mais distantes - e todas as visíveis a olho nu
estão dentro da galáxia - é olhar para o infinito.
E o que isso tem a ver com o grau de consciência ecológica
do indivíduo? Muito. Se soubéssemos o quão frágil e pequeno é
nosso sistema planetário, a rede que abarca a vida e todos os
sistemas vivos, teríamos mais cuidado com esse pequeno ponto
azul esquecido em uma via secundária de uma periferia
distante, em uma galáxia perdida, onde, para o macro, somos
quimeras e poeira. Uma existência sem ser percebida, um
sistema que desaparece na distração do imenso colosso de
construções estelares que compõem a galáxia. Idem, para a
nossa galáxia em meio às demais. Idem, para o ser humano em
uma visão planetária...
Não somos tanto, mas também nem pouco. Partimos do
princípio que somos dotados da maior riqueza que se pode
imaginar no universo. A vida. E dentro de um quadro de
tamanha fragilidade, essa vida precisa e merece ser cuidada e
preservada. Conscientizar-se ecologicamente é perceber a
importância desse quase nada que merece quase tudo; é
batalhar pela sua permanência e persistência na vastidão do
espaço. Ao infinito e além, sempre. Conhecer problemas sociais,
E
econômicos, ambientais é uma coisa. Estar consciente o risco
que esses problemas representam ao nosso precioso tesouro, a
vida, é outra conversa...
Os números, os dados, as estatísticas não mentem. Somos a
maior das causas de destruição em massa da vida no planeta.
Estamos reduzindo nossa biodiversidade a uma acelerada
velocidade que pode estar chegando a duas ou três espécies
extintas por hora. Nem mesmo a famosa catástrofe cósmica
representada pela possível queda de um asteroide ou de um
cometa nas costas do México e que provocou a extinção da
dinastia sáuria no planeta se equipara à nossa força de
destruição. Vamos nos conscientizar de que se não somos tão
pouco, também não somos tanto a ponto de se arvorar na
espécie que pode subjugar, dominar e destruir as demais. Tarde
demais, aprenderemos que a extinção das espécies por nós
gerenciada será a nossa própria extinção.
ÁGUA, O TESOURO QUE VASA PELO RALO
im, quando se trata de recursos naturais, o Brasil é o grande
vencedor. Medalha de ouro em quantidade de água
(cerca de 13% da água potável disponível no planeta), em
biodiversidade (quase 20% das espécies vivas), em florestas
(cerca de 60% da maior floresta tropical úmida, a Amazônica).
Mas, na direção oposta, somos também grandes competidores:
alto índice de desmatamento (a Mata Atlântica está reduzida a
míseros 5 ou 6% da área original – tendo como parâmetro o
descobrimento oficial, 1500 -, a floresta Amazônica está sofrendo
um desmatamento equivalente a uns três mil metros quadrados
por hora), poluição atmosférica crescente (milhares de
toneladas de carbono originárias das queimadas, dos motores a
combustíveis fósseis, das fábricas) etc.
Fixemo-nos, por ora, no enorme desperdício da água. A
metade da água distribuída é desperdiçada, quantidade que
daria para abastecer ao mesmo tempo a França, Bélgica, Suíça,
Norte da Itália e Holanda, conforme atesta o teólogo, filósofo e
ecologista Leonardo Boff. Ressalta, ainda, que, para que seja
produzido um quilo de carne bovina, são gastos 15 mil litros de
água; um quilo de vegetais, mil e 300 litros. Um ovo nos custaria
mais de mil litros.
Apenas 3% da água existente no planeta são potáveis e
somente 0,75% está acessível para consumo humano e utilização
agrícola e industrial. A maior parte, cerca de 70%, vai para a
irrigação e produção agrícola e para a agroindústria. As
indústrias utilizam a média de 20% e 10% são utilizados nas casas.
O maior desperdício vem na má utilização, distribuição irregular
e poluição da água urbana e industrial. As construções e vias
impermeabilizam o solo, cerca de ¼ parte da água tratada e
distribuída se perde em vazamentos, entre o fornecedor e as
torneiras do consumidor. A destruição da cobertura vegetal,
principalmente a eliminação das matas de topo, alteram
radicalmente a distribuição dos reservatórios. A falta das matas
ciliares permite que as águas escoem em velocidade
inconveniente para os cursos principais, provocando
assoreamentos e não raramente enchentes no período de
chuvas e escassez no período de secas.
O excesso de agrotóxico utilizado nas lavouras, além de
contaminar lençóis freáticos, escoa com rapidez, água abaixo,
contaminando cursos de água. Idem, no que se refere ao lixo
irregularmente atirado no ambiente. As queimadas ressecam e
S
aquecem em demasia o ar, alterando os ciclos dos ventos e das
chuvas. As consequências: desertificação, tempestades tropicais
e extratropicais anômalas, secas em um dos pratos da balança,
com temperaturas extremamente altas, e esfriamento em outro,
com tempestades de neve, inundações etc. etc.
Hoje, perto de 70% das internações hospitalares e doenças
tratadas têm origem em veiculações hídricas, ou seja, vêm da
água ou de sua carência. Mais de 2 bilhões de humanos, dos 6
que habitam o planeta, padecem pela falta ou má qualidade
da água, segundo dados da ONU, que também adverte que
essa proporção crescerá, em menos de vinte e cinco anos, para
2/3 do contingente populacional.
A água, também segundo dados da ONU, mata, pela má
qualidade, dez vezes mais que as guerras armadas. Informa que
cerca de 70 conflitos existem hoje pelo acesso a esse precioso
líquido. O grande tesouro do século atual se degrada
rapidamente. Nós estamos sofrendo as consequências da
degradação. Sofreremos cada vez mais, enquanto não
soubermos aproveitar bem tão precioso. Sem dúvida, estamos
deixando escapar pelos ralos uma riqueza inestimável. Nossos
descendentes nos cobrarão essa dívida.
DE VOLTA AO MEU ACONCHEGO
e volta ao meu aconchego, depois de uns dias em
missões extra urbanas, penso no quão bom e agradável
é estar em nossa casa, nosso Lar. E faço, em meus
devaneios, uma analogia com o planeta. Se de volta de uma
viagem interestelar, encontrasse o descanso em nossa casa
global. Imagino a sensação de ver surgir na escotilha reluzente
de minha nave, na escuridão do espaço, uma pérola azul,
brilhando ao ser iluminada pela estrela mais próxima, de início
pequena, depois aumentando... aumentando... Tanto
contentamento, só no campo da imaginação. Nos devaneios
de quem se recorda que é morador de uma casa comum, o
planeta Terra.
Hoje, dia em que escrevo esta coluna, 22 de abril, é dia
internacional da Terra. Nosso planeta lar. Uma pérola azul
perdida na imensidão do espaço. Um abrigo para algo em torno
de alguns milhões de espécies de vida, inclusive para mais de 6
bilhões de indivíduos da espécie dominante, conhecida como
humana, que se arvorou em proprietária absoluta e definitiva
desse lindo balão azul. No artigo da semana passada, que não
chegou a ser publicado, pois se extraviou nas linhas complexas
da rede mundial de computadores (ah, essas tecnologias
terrestres de ponta...), refletia sobre o dia da conservação do
solo, 15 de abril, e constatava que a degradação continuou e
continua cada vez mais acelerada. Estamos corroendo nossa
mãe Terra, nosso lar, quais vorazes cupins cuja fome é insaciável.
Ki, meu imaginário amigo do imaginário planeta Og (se
existisse, estaria orbitando a estrela Tetha da Constelação de
Centauros), depois de visitar uma vez mais a Terra, para colher
materiais para sua dissertação de mestrado, volta ao seu próprio
lar, esboçando um tópico do trabalho (em hologramas de
altíssima resolução, já que a tecnologia ogniana superou, há
milênios, a necessidade de se fabricar papéis utilizando a
celulose da madeira, evitando derrubadas espetaculares e
desmatamentos formidáveis), pondera: "Há vida inteligente no
Planeta Terra? Provavelmente, sim. Pesquisas recentes,
contrariando as linhas de pensamento acadêmicas majoritárias,
demonstraram que uma das bilhares de espécies de vida
existentes no planeta, conhecida por canina, e que vive se
fazendo acompanhar e habitando junto com a espécie
dominante, conhecida como humana, tem demonstrado
manifestar uma espécie de inteligência, ainda que primária e
rude".
D
A pergunta sobre a existência de vida inteligente no espaço
não é recente, mas foi retomada após alguns fatos ufológicos
da década de 50. As décadas de 60 e 70 viveram momentos de
uma fantástica revolução intelectual e de costumes. A pergunta
cada vez mais aguçou o pensamento pseudocientífico e
científico do período. Mas os olhos estavam voltados para o
espaço, para as utopias, para os sonhos, para os ideais e
ninguém se olhou. Nem se olhou no espelho. Perguntaram,
movimentos culturais e comunidades hippies, se havia
inteligência no Planeta Terra. Ninguém soube responder.
Os mesmos, hoje, desbastados de suas vastas cabeleireiras,
substituídas por calvas da idade, despidos de suas vestes floridas
e da embriaguez sonambúlica dos ideais que trajavam e que
foram substituídas por terno e gravata, se assentam nas cadeiras
do poder. São os dirigentes do mundo. Agitaram a bandeira do
"paz e amor". Hoje fabricam guerras e sugam riquezas, atos iguais
aos ancestrais, então combatidos. Mero erro conceitual. A frase
deveria ser "paz é amor"...
MEIO AMBIENTE COMO INSTRUMENTO DE BEM ESTAR
SOCIAL
dequada condição ambiental propicia qualidade de
vida ao indivíduo e, consequentemente, contribui com o
bem estar social.
O bem estar social depende da sadia qualidade de vida da
população. E a sadia qualidade de vida é baseada em um meio
ambiente equilibrado e em um ideal de cidade sustentável. Isso
significa uma população que tenha acesso à saúde, ao
emprego pleno, à moradia, à educação, à segurança etc.
Os instrumentos técnicos de proteção ambiental são
disponibilizados constitucionalmente para uso do Estado como
um todo (englobados os três poderes políticos – Executivo,
Legislativo e Judiciário – e os três níveis de governo da
federação – Federal, Estadual e Municipal). São eles,
principalmente, o processo legislativo (Legislativo), a execução
das normas legais (Administração) e sua aplicação coercitiva
(Judiciário).
Da soma desse encadeamento político surge a efetividade
das normas de proteção ambiental visando o bem estar social.
Esse processo visa, primordialmente, nos agrupamentos
sociais, o saneamento básico, a disposição de resíduos sólidos e
a preservação de ambientes necessários à qualidade de vida e
à saúde da população.
Na parte de saneamento, destacam-se a qualidade das
águas, seu tratamento e distribuição, o esgotamento sanitário de
resíduos líquidos e seu tratamento para devolução aos cursos de
água etc.
Quanto aos resíduos sólidos, a maneira de coleta (coleta
seletiva, reciclagem etc.) e a deposição final dos resíduos (aterro
sanitário, aterro controlado, lixão).
A
Na preservação ambiental, a proteção de áreas verdes, a
educação ambiental, criação de unidades de preservação
(parques, estações ecológicas etc.), o monitoramento da
qualidade das águas, o combate às diversas formas de poluição
(incluindo a poluição do ar: queima de combustíveis fósseis,
emissões oriundas do processo fabril, queimadas etc.).
O Estado dispõe de um sistema de meio ambiente, tanto a
nível federal, como estadual e municipal. Na União, o Ministério
do Meio Ambiente, no Estado a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e nos municípios a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente ou um serviço especializado e adequado às funções
de preservação ambiental.
Todos esses sistemas são assessorados por Conselhos
(CONAMA, da União, COPAM, no Estado de Minas Gerais, e
CODEMA, no Município de Varginha), que são órgãos de
elaboração da política ambiental e por autarquias ou
fundações, que são os órgãos técnicos (IBAMA – federal -, IEF,
FEAM – estaduais. O município de Varginha ainda não possui
órgão equivalente).
Através desse sistema de proteção ambiental são feitas as
análises de impacto e o licenciamento de atividades
potencialmente poluidoras, a fiscalização e a punição
administrativa dos infratores.
Todo esse sistema visa o bem estar social através do ambiente
equilibrado e que possa abrigar vida que tenha uma qualidade
ideal e seja saudável.
AMAZÔNIA, SOB FOGO CERRADO
Amazônia nunca esteve tão em evidência nos meios
científicos e governamentais. Em primeiro lugar, uma
revista de circulação nacional, em fins do ano passado,
informou que o desmatamento estava diminuindo. E os que se
preocupam com aquele vasto ecossistema respiraram aliviados.
Afinal, a informação vinha de fontes possivelmente bem
credenciadas. Dois anos antes, o IPA – Instituto de Pesquisas da
Amazônia, em trabalho conjunto com o Smithonian Institution,
face iminente risco de desastre que se potencializava no projeto
governamental “Avança Brasil”, publicaram um relatório nada
confortável. Segundo suas previsões, até 2020 pelo menos 25%
da Floresta Amazônica brasileira teria desaparecido (utilizando-
se como parâmetro o ano de 1500, ano da descoberta oficial do
Brasil). Isso em uma visão otimista. Uma visão pessimista
apontava o desmatamento de cerca de 47%. Até 2000, segundo
o mesmo estudo, já haviam desaparecido 13% da imensa
floresta.
A alegria durou pouco. Quando o INPE – Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais, que monitora, via satélite, a degradação
amazônica, publicou seu relatório 2003 (que inclui as medições
entre agosto de 2001 a julho de 2002) o susto foi geral. De uma
devastação de cerca de 17 mil e 500 quilômetros quadrados
apurada no período anterior (agosto 2000 a julho de 2001), o
desastre saltara para 23 mil e 500 quilômetros quadrados. O
Presidente da República, assustado, pediu novas medições, que
confirmaram o quadro nada agradável. A devastação
galopante assola sem piedade a floresta.
Culpados foram apontados, ora pecuaristas, que estariam
desmatando e queimando áreas enormes para criação de
gado. Ora, agricultores, que causavam semelhante desastre
para abrir áreas de plantação, principalmente de soja.
Madeireiros abocanham um bom naco da culpa. A construção
da BR 163, que liga Cuiabá a Santarém (fruto do projeto Avança
Brasil) é outra dos muitos vilões que interpretam esse drama.
Em seguida, vieram ideias de privatização das áreas públicas
amazônicas colocando mais lenha na fogueira – digo, na mata.
O Estado de São Paulo, publicação renomada de circulação
nacional, publicou ontem – 16/8, na seção Geral (pág. A-13),
que “Pesquisadores brasileiros e americanos vão tocar fogo na
Amazônia a partir de hoje. O experimento faz parte do Projeto
Savanização, que vai estudar a dinâmica do fogo e os seus
A
efeitos sobre a floresta em áreas de transição com o Cerrado, a
savana brasileira. Os pesquisadores querem saber detalhes
como a velocidade de propagação, a temperatura e a altura
das chamas de uma queimada em diferentes situações”.
Os ruralistas, bancada de produtores rurais na Câmara e no
Senado, querem que a lei seja modificada, para que apenas
20% da Amazônia brasileira possam ter o status de área de
preservação. A soja avança, a criação de gado avança, a
economia avança, a estrada, a despeito das muitas
controvérsias e brigas judiciais a respeito, também avançará. O
fogo transforma parte do território em cerrado. A floresta chorou
gotas de chuva maiores de que quaisquer outras anteriormente
anotadas pela ciência. Sem dúvida, a maior floresta tropical do
mundo, que abriga o maior volume da água do planeta, a
maior biodiversidade da Terra, está declinando, sob fogo
cerrado...
OS PROPRIETÁRIOS RURAIS E A RESPONSABILIDADE
NA RECARGA HÍDRICA
assa da hora de focalizar atenção nas propriedades rurais,
como principais colhedores e receptáculos das águas. As
informações escolares sobre o “nascimento” das fontes de
água são, dentro de um padrão didático, razoáveis. O aluno
aprende que a água vem das chuvas, que vêm das nuvens, que
vêm da evaporação da água. Em níveis mais adiantados,
aprende até que grandes evaporações ocorrem nos oceanos e
que o regime dos ventos conduz grandes nuvens que deságuam
nos continentes. Pronto: o milagre da formação da água
aconteceu.
Tal quantidade de informação acadêmica poderia ser
suficiente não houvesse necessidade de otimizar o
aproveitamento dessa dádiva preciosa da natureza. Os seres
vivos são, no geral e na média, água em mais de 70% de sua
composição. Para os humanos, além do consumo direto, a água
ainda é preciosa para lazer, higiene, processos industriais etc.
Ocorre que o século XX terminou com a consciência e o
conhecimento humanos em xeque. A razão: pela forma e no
ritmo em que é utilizada, a água aproveitável está ficando cada
vez mais escassa.
A população aumenta, o consumo também e em
proporção ainda muito maior. Há sobrecarga de poluentes e
resíduos que são direcionados para o solo ou cursos de água – e
daí sempre para os reservatórios hídricos. Atividade humana
pressupõe crescimento econômico: mais produção, mais
construções, o que equivale a desmatamento, e
impermeabilização de solo; o que equivale a menos retenção
hídrica em ambiente natural.
Qual a solução imediata? “Fabricar” mais água. É possível?
Claro, mas apenas se houver esforço maciço e conjunto de
todos os órgãos de educação e preservação ambiental,
públicos ou privados, para alertar os proprietários e produtores
rurais da sua responsabilidade na captação de água e na
ampliação da recarga hídrica. Demonstrar a importância,
como preciosos instrumentos de captação e retenção da água,
das matas de topo, das barragens e poços de contenção das
chuvas, das áreas de nascentes, das matas ciliares e áreas de
reserva legal etc. Basicamente, tornar nítido que a propriedade
valiosa do futuro será aquela que possuir um melhor índice de
riquezas naturais, principalmente água.
P
QUEM É O VILÃO DA NOSSA HISTÓRIA?
de junho, Dia Mundial da Ecologia está próximo. Muitas
manifestações preparadas ao redor de todo o planeta. Há
o que comemorar? Plantar mudas de árvores, participar de
encontros em escolas, falar sobre os muitos problemas e as
poucas soluções que existem... Mas vamos fazer um exame de
consciência ecológica? Reconhecer as nossas culpas? Ótimo. A
reflexão é a mãe da sabedoria. Mas, daí, até vestir a carapuça
de vilão ecológico de nossa história, ainda há muita distância.
"Você já foi ao espelho, nego? Não?! Então, vá" (*). Nós temos
medo de ir ao espelho, fitar os nossos olhos de vilões. Ser
obrigado a reconhecer nossa vilania. Porque, se assim fizer,
teremos que repensar nosso modo de vida, mudar nossa
maneira de pensar e, por acréscimo, nossa maneira de habitar o
planeta. E quebrar um paradigma é muito mais difícil que
quebrar um recorde.
Aliás, em termos de degradação ambiental, o ser humano
nem mais se surpreende, tantos os recordes quebrados. Estudos
da ONU concluíram que 60% da água potável do planeta já
foram degradadas, poluídas e contaminadas e que a
veiculação hídrica é responsável por cerca de 50% das doenças
e óbitos, matando 10 vezes mais que as guerras. A NASA já
concluiu que temos tanta poluição suspensa na atmosfera que o
planeta precisaria de cerca de 500 anos para reciclar-se. O
desmatamento da Amazônia no último ano, bateu o recorde de
mais de 25.000 k² devastados no período. Na Mata Atlântica, se
muito, restam 5 a 7% da área original. Pesquisas dão conta que
nos dias atuais, dos prováveis 30 ou 40 bilhões de espécies que
compõem a biodiversidade planetária, estamos vorazmente
extinguindo de uma a duas por hora... Houve um aquecimento
médio de 1ºC desde 1850 - e isso representou um aumento de 15
cm no nível dos oceanos, por degelo de calotas polares.
Pressupõe-se que a temperatura irá se elevar em até 10°C até o
final do século. Dá para imaginar as catástrofes que isso
representaria?
Tá bem. Sua consciência está pedindo-lhe que plante uma
muda de árvore. Faça-o. A Natureza agradecerá. Mas não
deixe de se olhar fundo nos olhos, na frente do espelho, e
questionar o percentual de vilania com que você tem tratado o
meio ambiente. Claro que você não poderá, de uma hora para
outra, deixar de degradar. Afinal, precisamos de veículos
motorizados, precisamos de minérios e madeiras, precisamos ler
e nos informar, ao custo da vida de algumas árvores. Não se
pode estancar bruscamente o crescimento. O problema social
5
seria, de imediato, uma catástrofe ainda maior e mais
perniciosa. Mas vamos por passos, aos poucos. Que tal começar
a pensar na separação seletiva do lixo? Doe os materiais
recicláveis (papeis secos e limpos, latas, garrafas plásticas etc.).
Que tal começar a fiscalizar as incipientes queimadas? Não as
faça, não deixe que outros as façam. Denuncie os piromaníacos
ao CODEMA ou à Polícia Militar Ambiental. Que tal não atirar
resíduos a esmo? Que tal....?? Que tal fazer um profundo exame
de consciência na frente do espelho, no dia internacional da
ecologia?
Falta ao ser humano a humildade de reconhecer que ele, e
sua gananciosa maneira de querer, é o grande vilão da nossa
história atual. E começar, com os pequenos gestos, uma
grandiosa ação de socorro à vida humana.
(*) trecho da letra de música de Raul Seixas
TERRA, UMA MÃE ESQUECIDA
ais uma vez, com a vinda do segundo domingo de
maio, comemoramos o dia das mães. Festividades.
Abraços. Risos. Choros. Presentes... Homenagens e mais
homenagens. Mensagens, cartões, flores, comerciais e notícias,
muitas notícias. A mãe nos deu luz, vida e amor; carinho,
renúncias, cuidados, ternura e alimentos. Foi quem nos gerou e
nos nutriu, física, psicológica e espiritualmente. São justas as
homenagens. Merecidas, apropriadas e apreciadas.
Mas, como é habitual, uma mãe continua esquecida e
carente das homenagens que merece: a Mãe Terra. Doa-se a
nós, como qualquer mãe faz. Está se sacrificando, exaurida,
vilipendiada, ofendida e degradada, com o risco da própria
existência, para nos manter vivos. Não foi lembrada, nem
homenageada, nem ao menos, nem por isso, pelo menos
poupada um pouco dos ataques reais que lhe são desferidos, a
golpes duros e impiedosos.
Se não lhe posso render as merecidas homenagens, nem me
comprazer daquelas que por outros filhos seriam prestadas,
mitigo minha dor de inconsciência em uma oração:
Querida Mãe,
tu, que nos geraste no amor
de tuas benditas dádivas,
que nos nutres com a vida de teu sopro e a matéria de teu
corpo;
que nos dás calor, luz, alimento;
que nos acolhes e abrigas na segurança de tua proteção,
no carinho de teu aconchego,
na confiança de tua provisão;
tu, que nos concedes todas essas graças
pela benignidade paciente e gratuita
da grande Mãe que és;
M
tu, que dás arrimo
às obras da razão,
aos voos de sonhos e ideais
que em ti são concretizados;
tu, que nos sustentas e amparas
e nos conduzes com o carinho de teu amor
em nossa viagem pelo universo infinito,
perdoa-nos.
Perdoa-nos se subjugamos
e oprimimos nossos semelhantes
aviltando neles o milagre e a graça da vida que lhes
concedeste;
perdoa-nos se em troca dos alimentos que, gentil, nos ofereces,
nós devastamos as tuas riquezas,
destruímos tuas belezas
e fazemos desertos de teu solo;
perdoa-nos se pelo ar que nos concedes
como alento e vida,
nós, desastrados,
envenenamos a atmosfera
e na ganância de adquirir poder e lucro
nela depositamos elementos perniciosos a toda forma de vida;
perdoa-nos se em troca de teu abrigo e de tua proteção
nós desmatamos,
destruímos,
matamos,
ofendemos,
queimamos;
se cegamente, ferozes,
te violentamos todo o tempo,
e tantas e tão profundas chagas te provocamos;
perdoa-nos se, impiedosos, te degradamos,
arrancando com ganância, dores e danos os frutos de tuas
vísceras;
perdoa-nos se tornamos estéril e venenosa a abençoada água,
que tão docemente nos concedeste para sangue de nosso
corpo
e para alimento de todos os teus rebentos;
se depositamos detritos e sujeiras e escórias
nos tapetes das habitações que em ti nos acolhem;
perdoa-nos se em troca da abundância que nos concedes,
nós fomentamos a miséria
e a degradação física e moral
dos que são mais fracos
e menos afortunados;
se lhes destruímos a dignidade,
e os humilhamos,
e os aniquilamos
pelas doenças não tratadas,
pela fome não satisfeita,
pela esperança destruída,
pela instrução sonegada;
perdoa-nos se por tantas bênçãos e dádivas
que a cada segundo nos ofereces,
em troca te devolvemos todos esses e tantos outros sofrimentos;
perdoa-nos porque era de nossa obrigação e responsabilidade
conhecer que enquanto houver um só ferimento na harmonia
da Criação,
em ti, em toda a tua extensão,
em cada um dos elementos de tua existência,
existirá a dor agoniante e o lamento angustiante
que, pelo filho,
só a mãe é capaz de sofrer.
Perdoa-nos, Mãe,
perdoa-nos, se puderes,
porque...
...nós não sabemos o que fazemos!
MEIO AMBIENTE COMO INSTRUMENTO DE BEM ESTAR
SOCIAL
dequada condição ambiental propicia qualidade de
vida ao indivíduo e, consequentemente, contribui com o
bem estar social.
O bem estar social depende da sadia qualidade de vida da
população. E a sadia qualidade de vida é baseada em um meio
ambiente equilibrado e em um ideal de cidade sustentável. Isso
significa uma população que tenha acesso à saúde, ao
emprego pleno, à moradia, à educação, à segurança etc.
Os instrumentos técnicos de proteção ambiental são
disponibilizados constitucionalmente para uso do Estado como
um todo (englobados os três poderes políticos – Executivo,
Legislativo e Judiciário – e os três níveis de governo da
federação – Federal, Estadual e Municipal). São eles,
principalmente, o processo legislativo (Legislativo), a execução
das normas legais (Administração) e sua aplicação coercitiva
(Judiciário).
Da soma desse encadeamento político surge a efetividade
das normas de proteção ambiental visando o bem estar social.
Esse processo visa, primordialmente, nos agrupamentos
sociais, o saneamento básico, a disposição de resíduos sólidos e
a preservação de ambientes necessários à qualidade de vida e
à saúde da população.
Na parte de saneamento, destacam-se a qualidade das
águas, seu tratamento e distribuição, o esgotamento sanitário de
resíduos líquidos e seu tratamento para devolução aos cursos de
água etc.
Quanto aos resíduos sólidos, a maneira de coleta (coleta
seletiva, reciclagem etc.) e a deposição final dos resíduos (aterro
sanitário, aterro controlado, lixão).
A
Na preservação ambiental, a proteção de áreas verdes, a
educação ambiental, criação de unidades de preservação
(parques, estações ecológicas etc.), o monitoramento da
qualidade das águas, o combate às diversas formas de poluição
(incluindo a poluição do ar: queima de combustíveis fósseis,
emissões oriundas do processo fabril, queimadas etc.).
O Estado dispõe de um sistema de meio ambiente, tanto a
nível federal, como estadual e municipal. Na União, o Ministério
do Meio Ambiente, no Estado a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e nos municípios a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente ou um serviço especializado e adequado às funções
de preservação ambiental.
Todos esses sistemas são assessorados por Conselhos
(CONAMA, da União, COPAM, no Estado de Minas Gerais, e
CODEMA, no Município de Varginha), que são órgãos de
elaboração da política ambiental e por autarquias ou
fundações, que são os órgãos técnicos (IBAMA – federal -, IEF,
FEAM – estaduais. O município de Varginha ainda não possui
órgão equivalente).
Através desse sistema de proteção ambiental são feitas as
análises de impacto e o licenciamento de atividades
potencialmente poluidoras, a fiscalização e a punição
administrativa dos infratores.
Todo esse sistema visa o bem estar social através do
ambiente equilibrado e que possa abrigar vida que tenha uma
qualidade ideal e seja saudável.
COMPETIÇÃO x COOPERAÇÃO
natureza, protegendo a evolução da vida no planeta,
criou a competição entre espécies e entre seres de uma
mesma espécie. Uma maneira de especializar e de
controlar raças. De proporcionar proles mais fortes e mais
adaptadas ao ambiente, aumentando, assim, a chance de
sobrevivência da espécie. Mas, dentro de um mesmo quadro de
evolução, alguns seres aprenderam que a cooperação
proporcionaria uma melhor oportunidade de evoluir e passaram
a ter uma relação simbiótica. Assim, a Criação trabalha seu
próprio progresso, protegendo e preservando a vida.
O que dizer dos seres humanos? Tal e qual os irmãos naturais,
são também seres viventes que compartilham ambiente comum,
mas desenvolveram técnicas diferentes de competir, partindo
de cérebros mais complexos. Seres racionais, enquanto o resto
da vida planetária é, segundo rotulado, irracional. Razão
utilizada como ferramenta de crescimento tecnológico e
avaliação unilateral dos sistemas vivos que coabitam o meio
ambiente planetário, causando visão equivocada de
superioridade aos demais seres da biodiversidade - supremacia
predatória e destrutiva. Os artefatos tecnológicos humanos não
permitem a competição honesta e equilibrada. Afetados ou
atacados por alguns "seres", como microrganismos, têm pronta
resposta tecnológica através de drogas e medicamentos que
restabelecem condições saudáveis ou aumentam a vida.
Nessa deslealdade competitiva, a raça dominou, procriou
em excesso e colocou seus rebentos em um patamar cada vez
mais alto de segurança contra os demais seres. Nada de errado
em ser a raça dominante da atualidade. Outras, como a dos
dinossauros, dominaram em tempos remotos. Ao contrário,
deveria ser motivo de orgulho. Aliada à razão, essa supremacia
coroaria a obra prima da Criação: a vida comandada pela
razão e pela inteligência. Mas esse "projeto divino", digamos
assim, está naufragando. A arca de Noé afunda rapidamente.
Em nome da razão, se arremessa para o extermínio da raça,
levando junto inúmeras outras. A razão se aliou à vaidade e à
competitividade. Isso gerou a máquina que está nos devorando.
Um monstro que embala uma desmedida ânsia de poder e de
domínio. Poder, sempre poder e, por fim, mais poder. Traduzindo:
competição elevada ao grau de sofisticação que permitiu o uso
de uma razão mais refinada.
A
Gostamos de levar vantagem em tudo, certo? Lei de
Gerson, artigo único. Pobre ex-jogador que, submisso ao poder
econômico, naturalmente inconsciente do deslize, além de
propagandear o uso dos reconhecidos venenos tabaco e
nicotina, teve seu nome agregado a uma norma que é
expressão exata de nosso cinismo desmascarado. Sim, gostamos,
queremos e exigimos levar vantagem em tudo quanto nos for
possível. Ao custo da própria permanência no planeta. E da vida
de milhões de outros seres da biodiversidade.
Está na hora de revogar esse artigo e editar a provável Lei
do Bom Senso, para sustento e esteio da vida. Cooperar, ao
invés de competir. Afinal, irracionais, os dinossauros dominaram
cerca de 300 milhões de anos. Nós estamos no comando há
pouco tempo - 150 mil anos? - e naufragando. Se não taparmos
logo os furos do barco, desta vez a arca de Noé não poderá nos
conduzir a uma sobrevida além de um curto, negro e doloroso
futuro. De que nos valeram a inteligência e a razão?
A LUTA CONTRA A DESERTIFICAÇÃO E A
CONSERVAÇÃO DO SOLO
m dos problemas ambientais de grande potencial de
danos a médio e longo prazo é a insidiosa desertificação.
Como o próprio nome indica, a desertificação é um
processo de esterilização do ambiente afetado. A imagem de
um ambiente desértico não é novidade para qualquer pessoa
de cultura mediana ou que tenha atravessado os primeiros anos
escolares do ensino básico. Fala-se em deserto e logo vêm à
mente as paisagens arenosas, quase estéreis e inóspitas do
grande Saara, o maior do planeta. Não é esse conceito de
deserto que se pretende destacar aqui, mas sim aquele que
teve origem em ações humanas.
O grande erro do raciocínio civilizado a respeito é
exatamente esse: não conceber a grandiosidade do problema
nas pequenas, múltiplas e espalhadas áreas de desertificação
que brotam em todos os lugares, na imensidão do planeta, onde
a conservação do solo não é parte da preocupação dos
habitantes locais. Diz-se aqui conservação do solo uma vez que
o foco dessa pequena análise é exatamente o deserto que
nasce nas regiões secas, deixando-se por ora a denúncia das
áreas aquáticas, de corpos hídricos menores, rios e oceanos,
que têm sido esterilizadas pela ação direta do ser humano.
Os desertos somados ocupam cerca de 1/3 da superfície
seca do planeta, o que representa mais de 51 milhões de
quilômetros quadrados de solo. Grande parte deles tem seu
ponto inicial nas ações típicas do ser humano. Em razão do
descuido na preservação do solo, nascem e crescem,
insidiosamente, geralmente sem que sejam percebidos, os
pequenos e perniciosos desertos domésticos.
De onde vêm? Para onde vão?
Esses nocivos desertos têm início em ações simples,
habitualmente consideradas necessárias para a sobrevivência
humana: desmatamentos para ocupação, construção, plantio e
pecuária. O solo desnudo é presa fácil para processos erosivos,
provocados habitualmente pelas chuvas e auxiliados pelos
ventos. A terra descoberta é levada de roldão pelos volumes de
água das precipitações. No meio desse processo também é
levada a verdadeira riqueza produtiva do solo: a cobertura de
U
compostos orgânicos que lhe dão fertilidade. E um pequeno
deserto começa a aparecer.
Mas não somente os locais de fácil erosão são vítimas da
desertificação. Desde a deposição de resíduos produzidos pelos
humanos, como as áreas transformadas em lixões ou aterros, até
o pisoteio provocado pela atividade do gado, uma enorme
gama de intervenções quebra o frágil equilíbrio da proteção
verde do terreno e cria uma chaga que nem sempre tem
condições de se cicatrizar. Um bom exemplo disso são as
queimadas ditas controladas. Com o interesse de limpar o solo
para plantio de culturas vegetais necessárias ao consumo
humano, ou pastos necessários à sobrevivência da pecuária,
utiliza-se do fogo como instrumento de capina. A alta eficácia e
o baixo custo do processo motivam essa antiga prática rural
extremamente danosa ao solo.
O empobrecimento da fertilidade da área é rápido, porém
gradual, dando de início ao proprietário a falsa ilusão de que o
sistema é eficaz. Quando chega a se conscientizar dos danos
que provoca, de modo geral já é muito tarde e a área já se
tornou estéril e improdutiva.
O ciclo de desertificação é, por outro lado, um círculo
vicioso: qualquer processo de redução da cobertura vegetal
diminui a fertilidade e provoca o empobrecimento produtivo da
área, tornando-a sempre mais suscetível aos processos erosivos e
cada vez menos protegida. Como consequência,
paulatinamente sem vida. A morte do solo dá oportunidade ao
surgimento de um deserto que, como uma ferida infectada, vai
quase sempre se expandindo para horizontes sempre mais
distantes.
Os seres humanos, cegos à sua interferência, de um modo
geral abandonam aquela gleba destruída e vão reiniciar o
processo em outro local, dando início a um novo movimento
degenerativo.
A situação ameaça o equilíbrio ecológico do planeta e,
nessa esteira, a sobrevida da espécie e a sadia qualidade de
vida que se pretende destinar ao homem. Por isso, inúmeros
encontros internacionais têm ocorrido desde os anos setenta, no
final do século XX, para avaliação da extensão do problema,
sua evolução e os mecanismos de luta contra o processo de
desertificação. Esses encontros culminaram com a aprovação e
assinatura, por mais de 160 países, em 17 de junho de 1994, em
Paris, da Convenção Mundial de Luta contra a Desertificação.
Por esse motivo, o dia 17 de junho passou a ser considerado
o dia mundial de combate à desertificação. Não é uma data
que incentiva qualquer comemoração, mas incita a uma luta
que emerge como uma das mais importantes batalhas
ambientais: a preservação do solo.
A RESPEITO DE HUMANOS E HUMANIDADE
emos como uma das definições do termo humano um
agregado moral que enaltece as qualidades nobres do
indivíduo: bondade, caridade, grandeza de alma etc.
Segundo o Houaiss eletrônico, “que mostra piedade,
indulgência, compreensão para com outra(s) pessoa(s)”. No
mesmo dicionário a etimologia apontada é “lat. humánus,a,um
'próprio do homem, bondoso, erudito, instruído nas
humanidades'”.
Pela lógica caolha do humor típico das comunidades de
internautas, se ser humano é ser bondoso logo o Ser Humano é
bondoso. Certo? Infelizmente, não. Essa talvez seja uma das
máximas menos adequadas a qualificar essa espécie de
mamífero que adquiriu capacidades tecnológicas, se expandiu,
adaptou-se, habitou e dominou todo o planeta.
A toda poderosa espécie humana, que se diz criação direta
das mãos da Divindade Suprema, e se gaba de ser
representação material da imagem e semelhança do Criador, é
também a única que se diverte pela perversidade. De todas as
espécies vivas que habitam o planeta, e que os cientistas
estimam em cerca de dez ou quinze milhões, uma única goza e
se compraz no sofrimento de outras e de outrem de sua própria
espécie. Infelizmente, fala-se aqui da espécie humana. De
cérebro capaz de elaborar questões metafísicas da mais alta
indagação, processar cálculos de extrema complexidade e de
engendrar e construir parafernálias tecnológicas de altíssima
precisão e complexos arquitetônicos de assustadora
grandiosidade, o indivíduo da espécie humana sente prazer em
provocar e presenciar dor.
Para que houvesse equilíbrio no desenvolvimento da vida no
planeta, a Criação, em sabedoria quase didática, adotou um
mecanismo de controle rígido conhecido por predação. Todos
os seres vivos que compõem o sistema natural do planeta Terra
são predadores. Isso significa que há um processo natural de
seleção através do desenvolvimento da chamada cadeia
trófica, isto é, ainda nas palavras do Houaiss eletrônico, “forma
esquemática us. para representar a transferência de energia ou
as relações alimentares, em parte de uma comunidade ou
ecossistema, através de uma série em que os seres vivos se
alimentam e servem de alimento para outros seres vivos”. Nesse
processo, a crueldade inerente ao indivíduo de qualquer
espécie tem como característica a utilidade. O impulso de
T
sobrevivência está diretamente ligado à predação de indivíduos
de outra espécie que, por solução da própria natureza,
passaram a compor a cadeia alimentar do predador.
O mecanismo natural é simples e eficaz, embora muitas
vezes reputado de cruel. Propicia a manutenção da vida, o
controle da quantidade de indivíduos, a sobrevivência dos mais
aptos e o desenvolvimento do processo de seleção natural.
Fora desse sistema, os animais sempre nos surpreendem com
atos de verdadeira caridade, sem discriminar espécies. Exemplo
recente, fartamente explorado pelas mídias, é o da cadelinha
que salvou um recém nascido humano. O ser humano, no
entanto, quebrou a regra natural. Privilegiado com a evolução
de cérebro dotado de maior capacidade de processamento de
dados, aprendeu a burlar os mecanismos naturais de existência
e aumentou suas possibilidades de sobrevivência. Graças a seu
processo mental pôde se adaptar às mais variadas e adversas
condições do ambiente.
Esse mesmo mecanismo cerebral de extrema complexidade
e altíssima capacidade de elaboração acabou por solidificar
processos psicológicos intrincados e enigmáticos. Um deles é a
gratificação psicológica que o humano sente em presenciar ou
provocar a dor em outros seres vivos. Nem Freud explicaria. E se
explicasse, não se justificaria. As crueldades gozosas enfocam
não só a própria espécie – vejam-se exemplos de esportes
violentos, como os de luta – mas as demais espécies naturais,
principalmente animais. Nem é preciso apontar exemplos, que
abundantes eles são: maltratos em rodeios, circos, zoológicos,
rinhas de galo, caçadas, adestramento etc. Isso sem falar em
queimadas, poluição generalizada, extração comercial
inescrupulosa de riquezas etc.
Para confirmação basta acessar as páginas
www.renctas.org.br e www.pea.org.br . Mostram o trabalho de
duas instituições brasileiras sérias que combatem,
respectivamente, o tráfico de animais silvestres e a crueldade
contra animais.
O certo é que a espécie humana precisa reformular seus
conceitos sobre humanidade. Ou nós usamos esse maravilhoso
cérebro que nos diferencia dos demais seres vivos do planeta
para aprimoramento de nossas relações harmoniosas entre os
seres da própria espécie e entre seres humanos e outras espécies
vivas ou então devemos rever e reescrever em nossos dicionários
algumas das acepções ligadas às palavras humano e
humanidade.
O CALOR NOSSO DE HOJE EM DIA
studos publicados por cientistas da Universidade de
Estocolmo, Suécia, dão conta de que não existe qualquer
registro de uma década tão quente como a de 90. Mesmo
o registro natural em vegetais, fósseis e rochas autoriza a
afirmativa de que não houve década mais quente nos dois
últimos milênios. O fascinante estudo, que considera dados
obtidos pela análise dos núcleos dos sedimentos e dos anéis dos
troncos de árvore, acompanhou a variação da temperatura nos
últimos dois mil anos e confirmou o que as ciências ambientais
vêm relatando: apesar de existir variações de temperatura por
causas absolutamente naturais, a interferência humana está
acelerando o processo de aquecimento global.
As pressões naturais sobre o aquecimento vêm
habitualmente de grandes erupções vulcânicas, responsáveis
pelo depósito de quantidades enormes de gases carbonados,
principalmente CO2 (dióxido de carbono), na atmosfera e de
alterações dos ciclos de radiação solar. Mas a existência de uma
vida tecnologicamente avançada, creditada ao ser humano,
interage com os processos naturais provocando uma
aceleração incontida no processo.
Por um lado, no mundo civilizado de hoje é necessário
aumentar as emissões de gases carbono pela queima artificial
de combustíveis fósseis, principalmente para manter a
continuidade e o crescimento do processo fabril e a grande
frota de veículos automotores em funcionamento. Por outro,
imperativo que se destruam áreas verdes, responsáveis pela
absorção desses gases, para ampliação de culturas e pastagens
e para sustentar o crescimento demográfico e a extração de
riquezas.
O crescente processo de “desertificação” dos mares e
oceanos do globo, principalmente pela deposição de resíduos
de esgotos domésticos e industriais, mata enormes áreas de
fitoplânctons, alga unicelular que é responsável tanto por
emissão significativa de oxigênio como pelo sequestro de gases
carbono.
Estudos pessimistas afirmam que a temperatura do planeta
subiu 1° C em média nos últimos cento e cinquenta anos e
subirá, ainda dentro deste século, cerca de mais 15° C. Os
otimistas fixam esses limites em 0,5° C e 5° C. Mas em uma coisa
E
todas as pesquisas convergem: o planeta está em franco
processo de aquecimento. Cinco ou quinze graus representam
catástrofes de grande amplitude – enormes áreas submersas ou
alagadas, tempestades abundantes e destruidoras, redução de
áreas para sobrevivência humana, maior concentração
demográfica, processo de destruição mais acelerado... tudo isso
contabilizando o corte de milhares de vidas – humanas ou não.
No extinguir do século XX a humanidade participou de uma
grande convenção sobre aquecimento global. Dela, surgiu um
protocolo de ações que visa a redução gradual da emissão de
gases causadores do chamado efeito estufa. São ações tímidas,
frente a uma situação de tremendo potencial agressivo. Com a
queda da cortina de ferro e do muro de Berlim, o capitalismo
desenfreado ampliou a cultura do consumo e da extração
ilimitada de riquezas. Fala-se muito em crescimento sustentável e
consumo sustentável. Mas nenhum processo se sustentará, em
um quadro de mudanças climáticas tão rápidas como as que se
tem vivenciado e que ainda serão vividas, enquanto faltar o
principal ingrediente dessa fórmula: o bom senso do governo dos
países economicamente mais poderosos.
O FUTURO DO PLANETA: ESTAMOS PRONTOS PARA
VIVER O NONO DIA DA CRIAÇÃO ou O SEGUNDO
DIA DA DESTRUIÇÃO?
grande questão desse início de milênio e de século é
avaliar as possibilidades de paralisar e reverter o quadro
dramático da degradação de nosso planeta. Caso isso
não ocorra a humanidade será, em futuro bastante próximo,
flagelada por catástrofes ambientais de grandes consequências,
dizimando não só a raça humana como todas as demais
espécies que o habitam.
Para que o planeta tenha futuro há a necessidade de um
movimento imediato no sentido de reverter o quadro atual. Isso
depende da conscientização global sobre a existência dos
problemas e da vontade de cada um de tomar parte na luta
pela recuperação e pela preservação do ambiente planetário.
Os países mais ricos têm que se conscientizar que, ao invés
de exercitar a atual política imperialista adotada vorazmente em
todo o mundo, eles precisam auxiliar os países devedores e os
países pobres. A sua própria sobrevivência depende disso.
As pessoas mais ricas, em todos os países, precisam ter
consciência em melhorar a distribuição de renda.
A legislação ambiental precisa ser ampliada e cumprida e
aplicada. As mínimas agressões ao meio ambiente devem ser
impedidas e evitadas.
O ser humano precisa de se conscientizar, imediatamente,
que ele não é um organismo único e isolado no planeta, que ele
não está só, nem sobrevive individualmente, mas que faz parte
de um grande organismo vivo, que serve de sua morada e de
fonte de alimentos e riquezas, o planeta Terra. Que esse grande
organismo também pode adoecer e até morrer. A morte desse
organismo, por qualquer motivo que seja, vitimará todos os seus
habitantes.
Há a necessidade de adoção de novos paradigmas. O ser
humano precisa deslocar-se de seu centro individualista e se
colocar em comunhão mental e espiritual com seus semelhantes
A
e com todas as formas vivas do planeta. Precisa entender que
há uma interdependência cósmica unindo, como uma única
trama de fio, toda a espécie de vida em todo o planeta.
Qualquer coisa que prejudique qualquer forma de vida em um
singelo e longínquo recanto ressoa em todo o planeta.
Como medidas objetivas, é necessário que, imediatamente
haja educação permanente e persistente, maciça e impositiva,
apontando a necessidade de se reconstruir muito do que já foi
prejudicado. Há que se preservar o que ainda existe e criar
condições mais favoráveis ao meio ambiente, priorizando-se a
contenção do crescimento demográfico, a cessação das
atividades degradadoras, a erradicação da miséria e a reversão
drástica de degradações ambientais perigosas.
O futuro imediato poderá ser para nós ou o nono dia da
Criação, ou o segundo e definitivo dia da destruição. Cabe ao
ser humano decidir por qual dos dois caminhos irá optar.
Como será nosso “dia seguinte” dentro da Criação?
Será que o belo poema de Carlos Drummond de Andrade,
Dia seguinte, da obra Mata Atlântica, deixará o campo da
poesia e se solidificará em tenebrosa profecia?
Ouçamos a voz da arte e reflitamos sobre seus poderosos
desígnios:
Não, não haverá para os ecossistemas aniquilados
Dia seguinte,
O ranúnculo da esperança não brota
No dia seguinte
A vida harmoniosa não se restaura
No dia seguinte.
O vazio da noite, o vazio de tudo
Será o dia seguinte.
PLANETA TERRA, UMA MÃE PEDINDO SOCORRO
No globo ocular colidem a visão e a percepção, a
criação e a reflexão. As esferas oculares de Jano são
uma porta giratória mágica em que o espírito criador
encontra a si mesmo no criado. O olho que olha para
o Universo é o olho do próprio Universo.
(...)
Precisa-se de bilhões de anos para criar um ser
humano. E ele só precisa de alguns segundos para
morrer.
Jostein Gaarder(*)
Planeta Terra é o nosso lar na imensidão do universo. É o
único lugar onde podemos viver e sobreviver. De suas
riquezas, extraímos todo o necessário à nossa existência,
desde a matéria que forma nosso corpo, o alimento que nos
nutre, até o ar que nos mantém vivos, o material para nossas
habitações e os lugares para nossa diversão. A Terra é a nossa
grande mãe. Ela nos gera e nos sustenta, e vai gerar e sustentar
nossos filhos e descendentes.
Mas, agora, esse nosso lar, essa grande mãe, corre perigo de
morrer. Ela está contaminada por uma doença que, à
semelhança de um câncer devorador, a está corroendo e
esgotando sua força vital. Essa doença está matando o único lar
que nós temos certeza que pode abrigar nossa forma de vida, e
que pode abrigar vida com consciência. A morte de nosso lar
vai ser a nossa morte, a morte de nossos filhos, e a não existência
de nossos netos. A vida levou quatro bilhões de anos para
chegar ao ser humano, o único animal que, segundo sabemos,
pôde abrigar a consciência. Em questão de poucos anos todo o
imenso trabalho dessa Consciência Cósmica pode vir a ser
destruído pela doença que corrói nosso planeta.
Essa doença somos nós mesmos. Os mesmos seres que
tiveram o privilégio de, após alguns bilhões de anos de
evolução, receber a dádiva da consciência, hoje a estão
usando para destruir o próprio meio em que sua evolução foi
incubada e em que sua consciência foi gerada... Nós, seres
humanos que tivemos o privilégio de receber a consciência, a
mais alta benção divina entre todos os seres vivos por nós
conhecidos no universo – e talvez sejamos um caso único, ou
raro, na vastidão do espaço infinito –, somos um câncer a O
devorar a vida dessa nossa grande geradora e provedora: nossa
mãe Terra.
Nós consumimos as áreas verdes que são responsáveis pelo
equilíbrio da distribuição de nossa água, pela conservação de
nosso solo, pelo abrigo de milhares de outras formas de vida,
pelo frescor da temperatura, pela qualidade do ar que
respiramos... Nós produzimos lixo que intoxica a terra, que mata
os cursos de água, que contamina por diversas formas nosso
ambiente; nós provocamos queimadas, que destroem o verde,
exterminam florestas e sua biodiversidade – uma imensa e rica
massa de formas de vida que, na maioria das vezes, jamais
iremos conhecer, jamais iremos saber quantos e tantos remédios
para grandes males são e foram assim perdidos, quantos e
tantos alimentos que nós nunca experimentamos ou
experimentaremos... Nós provocamos queimadas de entulhos,
lixos, elementos tóxicos e nocivos, que causam doenças e
danos, que apodrecem nosso ar, o ar que respiramos, que
nossos filhos respiram, que nossos netos respirariam, se pudessem
viver...
Nós jogamos grandes quantidades de elementos perniciosos
no ar que nos alenta, como fumaça, excesso de gás carbônico,
metano, e muitos outros, que nos envenenam e que
sobrecarregam a atmosfera de gases efeito estufa, aumentando
o calor do planeta e as catástrofes naturais, como secas,
enchentes, furacões, desertificação, carência de água em
alguns lugares e excesso em outros. Nós nos procriamos sem
medidas e submetemos nossos semelhantes à escravidão do
poder econômico, gerando miséria, com todas as suas nefastas
consequências, como violência, fome, doenças, e degradação
ambiental de grande porte.
Nós somos a ingrata e nefasta doença que está
envenenando, corroendo, destruindo e matando nossa grande
mãe, a Terra. A grande mãe, que agora nos pede socorro. Que
agora nos implora para que a socorramos, para que cessemos
de destruí-la, para que a poupemos da morte que se demonstra
iminente. Não implora a vida para que possa sobreviver para si
mesma, porque seu objetivo, pelos bilhões de anos de sua
existência, como uma pérola perdida no infinito do espaço
sideral, sempre foi o de abrigar a vida de seus filhos e de lhes
conceder a consciência, para que, como verdadeiros filhos,
pudessem fazer a consciência divina se manifestar e ser
consciente de si mesma; para que a vida consciente
manifestada no ser humano possa se evoluir a patamares mais
altos de – quem sabe? – um projeto maior de Deus.
Com o coração negro pelo luto que brota dessa terrível
doença que está matando a nossa mãe, infelizmente não
podemos, de sã consciência, comemorar com despreocupada
alegria e com a tranquilidade que o amor nos oferece, a nossa
existência.
Meus pêsames, meus irmãos, meus pêsames... porque nós
estamos matando nossa mãe e temos tapado nossos ouvidos a
seus apelos de socorro e fechado nossos olhos às chagas
abertas que ela, ainda com humilde doçura, nos oferece como
testemunho da nossa culpa, esperando, talvez, que a
consciência que ela gestou por bilhões de anos para nos
presentear, como uma flor nascida do lodo do pântano,
desabroche em um ato manifesto de amor que a possa salvar e,
assim, ainda possa salvar seus filhos... Inclusive a própria raça
humana.
(*) Do livro “Maya”, Companhia das Letras, SP, 2000
REFLEXÕES SOBRE O TEMA: “O PLANETA TEM
FUTURO?”
bservando os problemas ambientais, sociais e
econômicos do nosso Planeta, tornam-se óbvias a
nossos olhos as seguintes conclusões:
1. Se persistir o modelo de civilização hoje adotado,
baseado na submissão, no exercício de poder pela força, no
extrativismo ilimitado, no imperialismo e na falta de harmonia e
comunhão entre os seres que habitam o planeta, a humanidade
está em rota de choques iminentes com desgraças e
hecatombes ambientais, que poderão comprometer toda a
forma de vida que o habita.
2. Há uma urgente necessidade de mudança de
paradigmas. O ser humano precisa se deslocar do foco da
individualização cega para o da humanização; precisa saber e
sentir que é apenas uma parte de um todo maior e infinito e que
tudo o que lhe diz respeito afeta o todo e a todos os demais,
assim como é afetado por qualquer alteração do todo.
3. O futuro do planeta depende de como cada um dos seus
habitantes passe a se relacionar e a interagir com o todo. Cada
um tem que se conscientizar da existência dos problemas
ambientais e perceber que é um dos responsáveis pelo estado
geral do meio ambiente, sendo agente conjunto de sua
degradação ou de sua recuperação.
4. Cada um tem que adotar seriamente posição definida e
eficaz no sentido de direcionar suas ações para uma melhora do
mundo como um todo. Há de se acatar como lema a filosofia
do grande pacifista Gandhi de que “Nós precisamos ser a
mudança que queremos ver no mundo” e se libertar
urgentemente do paradigma atual, que hoje, mais que nunca,
pode ser identificado pela desolação íntima e pessoal muito
bem retratada pela frase “Erguemos muros que nos dão a
garantia que morreremos cheios de uma vida tão vazia” (trecho
de letra de música da banda Engenheiros do Hawaii).
5. Cabe, portanto, a cada um de nós, como parte
integrante e indivisível do todo, consciente da participação
O
efetiva nos processos de coexistência com os demais seres e
elementos do planeta e de ocupação e utilização ambiental,
responder se a Terra tem futuro, e qual a qualidade do futuro
que terá.
OS PROPRIETÁRIOS RURAIS E A RESPONSABILIDADE
NA RECARGA HÍDRICA
assa da hora de focalizar atenção nas propriedades rurais,
como principais colhedores e receptáculos das águas. As
informações escolares sobre o “nascimento” das fontes de
água são, dentro de um padrão didático, razoáveis. O aluno
aprende que a água vem das chuvas, que vêm das nuvens, que
vêm da evaporação da água. Em níveis mais adiantados,
aprende até que grandes evaporações ocorrem nos oceanos e
que o regime dos ventos conduz grandes nuvens que deságuam
nos continentes. Pronto: o milagre da formação da água
aconteceu.
Tal quantidade de informação acadêmica poderia ser
suficiente não houvesse necessidade de otimizar o
aproveitamento dessa dádiva preciosa da natureza. Os seres
vivos são, no geral e na média, água em mais de 70% de sua
composição. Para os humanos, além do consumo direto, a água
ainda é preciosa para lazer, higiene, processos industriais etc.
Ocorre que o século XX terminou com a consciência e o
conhecimento humanos em xeque. A razão: pela forma e no
ritmo em que é utilizada, a água aproveitável está ficando cada
vez mais escassa.
A população aumenta, o consumo também e em
proporção ainda muito maior. Há sobrecarga de poluentes e
resíduos que são direcionados para o solo ou cursos de água – e
daí sempre para os reservatórios hídricos. Atividade humana
pressupõe crescimento econômico: mais produção, mais
construções, o que equivale a desmatamento, e
impermeabilização de solo; o que equivale a menos retenção
hídrica em ambiente natural.
Qual a solução imediata? “Fabricar” mais água. É possível?
Claro, mas apenas se houver esforço maciço e conjunto de
todos os órgãos de educação e preservação ambiental,
públicos ou privados, para alertar os proprietários e produtores
rurais da sua responsabilidade na captação de água e na
ampliação da recarga hídrica. Demonstrar a importância,
como preciosos instrumentos de captação e retenção da água,
das matas de topo, das barragens e poços de contenção das
chuvas, das áreas de nascentes, das matas ciliares e áreas de
reserva legal etc. Basicamente, tornar nítido que a propriedade
valiosa do futuro será aquela que possuir um melhor índice de
riquezas naturais, principalmente água.
P
INVERNO, FRIO E SECA - UMA MISTURA INCENDIÁRIA
frio chegou. Novas frentes frias estão chegando ao
litoral sul. Provavelmente devem trazer geadas para
nossa região. Com a natural seca do tempo frio, baixa
umidade do ar e matos ressequidos, chega o triste período das
queimadas. Neste ano, por uma generosidade natural, a
temporada de chuvas se estendeu até agora, reduzindo o risco
dos incêndios. No entanto, a seca tarda mas não falha. É o
estopim das queimadas.
A despeito da ignorância da maioria a respeito, queimar
lotes urbanos é crime. Essa má técnica utilizada para limpeza,
está, em vários aspectos, enquadrada como atividade criminosa
na Lei dos Crimes Ambientais, com previsão de penas que
variam entre quatro meses e oito anos, dependendo da
gravidade do resultado que a queimada atingiu.
A queimada provoca morte e extinção de seres da
biodiversidade, como animais e plantas. Coloca no ar uma
quantidade perigosa de diversos tipos de poluentes, inclusive
alguns venenosos, como, por exemplo, o resíduo da queima de
plásticos, pneus, tintas, peças industrializadas, pilhas etc. Essa
poluição, somada à baixa umidade do ar, acarreta um visível
aumento de doenças nos seres humanos e em animais de
estimação. São doenças cardiorrespiratórias, alergias de amplo
espectro, doenças oculares, irritação de pele, vômitos, enjôos,
dores de cabeça... As principais vítimas, os idosos e os recém
nascidos.
Há um vultoso aumento das internações hospitalares no
período. Socorros médicos são procurados de forma incessante.
Há prejuízos econômicos ao setor produtivo. A previdência, que
já se diz deficitária, arca com um volume enorme de prejuízos
em internações, atendimentos, exames e fornecimento de
remédios.
Prevenir, nos diz a sabedoria dos antigos, continua sendo o
melhor remédio. A ausência de poluição atmosférica
provavelmente reduziria os atendimentos médicos e hospitalares
em até 50%, ou mais, e representaria uma economia bastante
apreciável tanto ao setor produtivo como ao setor público. E
essas despesas são naturalmente contabilizadas aos
consumidores e aos contribuintes. O repasse final de qualquer
prejuízo, em qualquer esfera, é para o povo. A população,
como um todo, não apenas sofre os efeitos diretos e imediatos
O
em sua saúde e em sua qualidade de vida, como também em
seu bolso, já naturalmente extorquido pela economia recessiva
que maltrata o país.
Não bastasse isso, o acúmulo exagerado de gases efeito
estufa, na atmosfera, sofre uma maior pressão, contribuindo para
o aquecimento global e as naturais catástrofes que isso provoca.
Os jornais mostram diariamente o resultado desse desarranjo
natural: secas, tempestades e inundações, frio intenso em
algumas regiões, enquanto em outras o calor mata dezenas de
pessoas. Até o Brasil, país que se sentia imune ao ataque de
ciclones extratropicais vem sendo por eles vitimado.
Um ar mais limpo e puro proporciona uma condição
bastante melhor de existência, mais conforto, mais calma,
menos estresse. Vamos dar nossa contribuição para reduzir esse
mal que nos afeta ano após ano. Não faça queimadas. Não
permita que outros a façam. Denuncie os incendiários. Eduque,
quem estiver ao alcance de seu poder de persuasão para que
não as faça. Vamos melhorar nosso ar, nossa qualidade de vida
e nossa saúde e a de nossos filhos.
OLHOS BAÇOS E OUVIDOS MOUCOS
ormi mal.
Acordei com os olhos ardendo. Arranhados pela
secura e pela sujeira do ar. Olho, da janela, a
cidade, sonolenta ainda, acordando aos poucos.
Embaçada. Horizontes imprecisos, de cor indefinida.
Serão meus olhos, gastos pelo tempo e cansados pela vida, que
as lentes dos óculos não conseguem corrigir? Ou fumaças
vagueando insidiosas nas brumas da manhã?
Lembranças brotam desconexas, miasmas em cantos
indefinidos da mente, e invadem meus pensamentos. Distantes
no tempo, as aulas da D.ª Cecília, em manhãs sonolentas como
esta, ecoam no silêncio da sala de aulas do Grupo Escolar
Aphonso Pena (ou no escuro de minha memória?): “O céu é azul
marinho”. E era. A gente via, comprovava.
“Lembranças, quantas lembranças / dos tempos que lá se
vão ”. Lembrança puxa lembrança e sopra versos nostálgicos no
poema de infância: “... vai para o céu a fumaça / fica na terra o
carvão”. A fumaça está no céu, e o céu deixou de ser anil. A
memória infantil realça os detalhes. O azul marinho seria apenas
uma aquarela a reforçar a memória de criança? Acho que não.
Para os jovens de hoje eu garanto: “meninos, eu vi!”. Vi de
fato um céu anil; azul profundo, lindo e comovente. Manhãs
como esta, dias claros e limpos, ficávamos em algum ponto alto
olhando o perfil da Serra da Mantiqueira, compondo e
recompondo as linhas mágicas, divisas de uma Shangrilá de
maravilhas incalculáveis, olhos postos longe no horizonte que
sonhávamos ganhar e ultrapassar. Hoje, os horizontes estão
próximos e indistintos. Não se prestam a embalar sonhos das
crianças aventureiras.
“...Criança! /Não verás nenhum país como este! / Olha que
céu! Que mar! Que rios! Que floresta! / A natureza, aqui,
perpetuamente em festa...”. Em sã consciência eu poderia
atiçar a imaginação das crianças de hoje: olha que céu, que
mar?! Vã ilusão. Que céu sujo! que mar poluído! Difícil me vestir
do patriotismo do poeta. Afinal, que país é esse que ostenta o
nefasto título de quarto maior emissor mundial de gases
prejudiciais ao ar? E ao azul do céu? Que país é esse onde as
queimadas destroem as matas, matam a vida e vedam a vista
de céus e horizontes? De esperanças e de sonhos?
“Santa Clara, clareai”, mais um eco no meio de tantos
outros. Clareai o anil de nossos céus, mas também e
principalmente a mente e a alma de nosso povo. Com
sabedoria, diz o popular que pior cego é aquele que não quer
D
enxergar. Horizontes opacos são ideais para quem não quer
enxergar. Um homem sábio e justo já disse: “quem tem olhos,
veja; quem tem ouvidos, ouça”. Eu me pergunto: quem quer
enxergar? Há alguém disposto a ver?
O carro passa acelerado na rua, dispersando meus
devaneios no ruído do motor desregulado e barulhento. Solta
fumaça escura e fedorenta. Lá dentro, o rádio ligado executa
tão alto quanto o motor, ou mais alto ainda, uma sequência de
batidas fortes (que alguém me disse se chamar funk): “tem-que-
tê, tem-que-tê, tem-que-tê uma amante!”.
E essa lágrima, teimosa, que insiste em correr?
É a secura do ar?
AGENDA 21 ESCOLAR
esde a realização da Eco-92, também conhecida como
Rio-92, fala-se de Agenda 21, mas poucos se
aprofundaram no assunto. Apesar de cobertura
jornalística razoável, persistem dúvidas, confusões e mal
entendidos. O documento mestre que resultou do evento, a
Agenda 21 Global, é vasto, com quarenta tópicos. A ideia que
veicula, entretanto, é simples: desenvolvimento sustentável. Ou
seja, como não se pode frear o desenvolvimento a curto prazo,
há que se balizá-lo para que não haja degradação ambiental,
social e individual como incômodo e perigoso resíduo do
progresso.
As bases do modelo econômico dominante não se
sustentarão sem que sofram uma radical e eficaz interferência e
correção de rumos e nós, bípedes dominantes do planeta,
seremos engolidos e devorados pela ânsia de poder e lucro,
junto com muitos outros seres da biodiversidade. Quadro
perturbador e evidência iminente: em algumas dezenas ou em
uma centena de anos, nossa raça será fustigada e destroçada
por cataclismos e catástrofes ambientais de larga escala.
Enterrados no monstruoso volume do lixo que produzimos,
queimamos a atmosfera, destruímos reservas naturais e
envenenamos o ar. Promovemos mudanças da temperatura.
Degradamos e desperdiçamos água. Cultivamos a miséria e a
segregação social, amplificando a violência a níveis
assustadores.
A ideia de se adotar a Agenda 21, ou seja, um modelo mais
tolerável e menos prejudicial no século XXI, surge em momento
crucial na história da humanidade. Dependemos de predatória
extração de riquezas da natureza. Madeira, ferro, barro, cimento
e areia para nossas casas. Utilizamos e queimamos produtos e
subprodutos de elementos fossilizados. Agora, há que se
controlar o estouro da ânsia que impele às chamadas riquezas e
ao sonhado progresso, à custa de um preço que pode vir a ser
impossível de se pagar. E a palavra mágica para esse momento
é: sustentabilidade.
Previu-se a criação das agendas 21 nacionais e locais. As
primeiras para uso dos países participantes. As segundas, para
adoção por estados, municípios, distritos, localidades, regiões,
etc. A genialidade da ideia está em que poderá ser ela
adaptada para qualquer universo, tanto no macro como no
microcosmo da ocupação humana. Pretende-se que possa ser
D
estendida a um conceito de idealização, servindo de meta para
um ajuste a médio ou longo prazo, mas que também seja
aplicada, de forma prática, de imediato, aos fatos emergentes;
é, ao mesmo tempo, um horizonte a se chegar e os primeiros
passos a dar. Parte-se da prática do caminhar, no aqui e agora,
corrigindo direção, evitando tropeços, aprendendo caminhos.
O primeiro e mais importante passo pode estar
potencializado no embrião da cultura e do conhecimento, elo
que na base e na alma une indivíduos, meio social, econômico e
ambiental: a escola. É aí - na fertilidade do terreno onde se
formam opiniões, pensamentos e se produz conhecimento - que
encontramos solo para plantar uma primeira semente, a Agenda
21 Escolar...
POSSO PERGUNTAR?
uando se fala de problemas ambientais, é seguro que
todos têm ciência de grande parte deles. Ninguém
desconhece que, persistindo a atual situação geral, de
deposição irregular dos resíduos humanos, chamados de
resíduos sólidos, o planeta vai ficar literalmente atolado em lixo.
Da mesma forma, todos sabem que o lixo contamina e polui
água, solo e ar. Não é mistério para ninguém que o volume de
água doce disponível para consumo está sofrendo redução
gradual, cada vez mais acelerada, principalmente pela
poluição oriunda dos esgotos domésticos e industriais, pelo uso
inconsequente e pela distribuição irregular, fruto de
desmatamentos, queimadas e outras atividades humanas que
interferem na qualidade da água e nos regimes dos ventos e
chuvas.
Quando se fala em aquecimento global, todos são
verdadeiros especialistas. Muitos, escorados na ampla
divulgação da mídia, sabem qual vai ser o potencial das águas
gélidas que se somarão aos oceanos, aumentando-lhes nível e
afetando negativamente a atualmente famosa Corrente do
Golfo, em razão do derretimento das geleiras da Groelândia.
Sabem quantos graus a temperatura vai se elevar nos próximos
dez anos, quantos centímetros os oceanos vão subir, qual o
aumento da incidência de furacões, tornados e outras
tempestades tropicais.
O mesmo acontece quanto a outros prejuízos ambientais
causados pelas atividades humanas no planeta. Difícil encontrar
quem não se diga conhecedor de situações prejudiciais de
grande vulto, causadas por atividades como queimadas ou uso
descontrolado e excessivo de produtos químicos, papel, água
ou energia elétrica.
Se alguém perguntar para qualquer estudante, dona de
casa, operário ou empresário, servidor público (aqui incluídos os
políticos) ou a quem quer que seja quem é o responsável pelos
agravos à natureza, a resposta é unânime: o homem, no sentido
lato de ser humano. Cada um de nós observa com bastante
acuidade a “pegada ecológica” de nosso semelhante. Pegada
ecológica, aqui, tem o sentido técnico que lhe é emprestado: a
pressão que cada um exerce no ambiente pela sua maneira de
viver, produzir e consumir. Mas poucos olham, atrás de si, seu
próprio rastro no ambiente.
Q
Vamos simplificar. Se você tem casa, carro, consumo de
classe média, provavelmente para que todos os habitantes do
planeta pudessem ter o mesmo padrão de vida que o seu, seria
necessária a existência de riquezas equivalentes às disponíveis
em dois planetas Terra. Assusta? Mas essa é a realidade.
Segundo estudos dos técnicos responsáveis pela avaliação de
dados do “peso” ecológico de cada um, um padrão de classe
média do cidadão dos EEUU pede a existência de três a quatro
planetas Terra de riqueza. A conta é complexa, mas lógica:
pega-se o valor somado das riquezas globais disponíveis e
disponibilizáveis, dividindo-o pelo número de habitantes. O
resultado é a riqueza a que cada um de nós tem direito. Usar
mais que isso é ter uma pegada ecológica mais pesada do que
o sistema natural pode suportar.
Tire a prova dos nove: veja seu peso ecológico no site
www.myfootprint.org. Na página principal, direcione o mouse no
mapa do Brasil, clique em português (esse é o idioma escolhido)
e faça o teste que se abre a seguir. No final, o site vai
certamente acusá-lo de excesso de peso na natureza.
Naturalmente, para seguir esses procedimentos ou para ler este
artigo você necessita ter computador e ligação com a rede
mundial. Só esse privilégio já o posiciona em uma situação
ambiental pouco confortável: não dá para toda a população
do planeta gozar desses privilégios.
Vamos, então, ligar os elos de nosso raciocínio: conhecemos
os problemas ambientais, sabemos que o ser humano é causa
de influência negativa e aceleração desses processos de
degradação, temos consciência de que somos humanos e que,
portanto, degradamos produzindo lixo, gastando água, usando
combustível fóssil à base de carbono e consumimos
excessivamente. Parece lógico concluir-se que se somos a causa
de efeitos negativos ao ambiente, basta desacelerar nossa
influência prejudicial ao meio que os problemas serão
minimizados. Lógico, mas...
Incoerentes. É o que somos: incoerentes. Será que não
percebemos e não tivemos nossa consciência desperta para o
fato de que se somos o agente prejudicial podemos, por nossa
vontade espontânea, ajudar a reverter a gravidade da
situação? Qualquer um sabe prever as catástrofes que estão por
vir, sabe identificar o porquê dessas catástrofes. Será que não
pode contribuir para estancar as causas das catástrofes? Em sua
própria vida, em sua casa, em seu trabalho, em seu consumo?
Então, posso perguntar? O que você tem feito de efetivo e
prático para reduzir a sua influência perniciosa no ambiente?
Você já percebeu que você é, como todos os outros seis bilhões
e meio de habitantes do planeta, responsável pela degradação
ambiental? Pense nisso. Pergunte-se isso na próxima vez que se
mirar em um espelho.
PROBLEMAS AMBIENTAIS RELEVANTES:
UM RESUMO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS QUE MAIS ASSUSTAM
OS BRASILEIROS
O desaparecimento da água potável
isponibilidade: 97,5% de água salgada e 2,5% de água
doce, assim distribuídos:
- 68,9% calotas polares e geleiras
- 29,9% águas subterrâneas
- 0,9% outros reservatórios
- 0,3% rios e lagos
- 0,75% da água do planeta é disponível para satisfazer as
necessidades humanas
- 0,7% dessa água são águas subterrâneas
- 0,05% águas de superfície
Dados da Organização das Nações Unidas - 2000:
"No ritmo atual de poluição e explosão demográfica, as
perspectivas são sombrias. Em 25 anos um terço da humanidade
estará morrendo por sede ou contaminação de água. As
primeiras vítimas serão moradores de metrópoles e regiões
desérticas".
Uso da água pelo ser humano:
- alimento
- ingestão direta
- agricultura
- elaboração de alimentos
- doméstica
- industrial
- escassez de água
- fome
- desidratação
D
O corpo humano é composto de 70% de água
Necessita de consumir, em estado natural, uma média de 2/3
litros dia
O corpo humano perde:
- 0,80 litro pela transpiração
- 1,5 a 3 litros, pela urina
- 0,50 litro na respiração
- 0,20 nas fezes
Cerca de 3 a 4,5 litros/dia de perda.
Média ideal de gasto por pessoa dia: 40 litros
Média de gasto no Brasil, por pessoa dia: 200 litros de água
tratada.
Estima-se que 70% da água tratada no Brasil são desperdiçados
em vazamentos
O consumo sobe em média 5% ao ano - tendendo a aumentar
proporcionalmente ao aumento da população
Isso equivale à construção de uma Usina de Itaipu a cada 4 anos
78% da água do Brasil estão na Região Norte, sendo 60% só na
Amazônia
13% de toda água doce disponível no mundo estão no Brasil
Os problemas da falta d’água são em razão de:
- distribuição irregular dos reservatórios
- contaminação
- poluição
- desperdício
- maior demanda (crescimento demográfico e ampliação dos
rebanhos)
Mais de um bilhão de pessoas no mundo não tem acesso a
água potável
58% dos municípios brasileiros não têm água tratada
25 mil pessoas morrem diariamente como consequência direta
ou indireta da carência de água
Poluição/Contaminação:
- produtos químicos e pesticidas (Sul)
- metais tóxicos - mercúrio (Centro)
- esgotos industriais e residenciais (Sudeste)
No agreste nordestino uma lata de 20 litros custa 50 centavos
Em São Paulo, mil litros de água tratada custam 66 centavos (no
agreste, a mesma quantidade custaria 25 reais)
Segundo dados das Nações Unidas, em menos de 25 anos 2 em
cada 3 habitantes do planeta serão afetados por alguma forma
de escassez: sede, pobreza ou doenças contagiosas. Hoje, a
proporção é de 1 por 3.
Hoje há pelo menos 70 conflitos declarados por causa da água.
O consumo dobra em média a cada 25 anos, tendendo a
aumentar
No ritmo atual, em 2008 - 60% da população mundial não
disporá de água doce potável.
Desmatamento – Amazônia
uase 70% das florestas do mundo estão distribuídas entre
Brasil, Rússia e Canadá.
Madagascar hoje tem apenas 10% da cobertura original
Q
Indonésia e Ilhas Sumatra e Bornéos, 7,8%
Filipinas, 3%.
No Brasil:
- 13% da área da Floresta Amazônica brasileira foram
desmatados desde 1500
- 57,4% da Floresta Amazônica está no Brasil - equivalente a 4,9
milhões de quilômetros quadrados
- Os cerrados têm apenas 20% da área original
- A Mata Atlântica, apenas 7,5%
A cobertura vegetal é necessária para
- ambiente para vida - ecossistemas
- liberar oxigênio necessário à respiração
- reter dióxido de carbono - prejudicial
- sombrear - refrescar
- reter água na terra e umidade no ar
- produzir frutos/alimento e abrigo
- proteger o solo da desertificação
As destruições de cobertura vegetal se dão principalmente em
razão de:
- queimadas
- madeireiras
- ocupação humana
O programa oficial Avança Brasil - a ser implantado até 2007 -
com pavimentação da BR 163 - Cuiabá/Santarém vai acelerar o
desmatamento da Amazônia, que poderá chegar, em 20/30
anos a 42% da floresta brasileira original (de 1.500), com apenas
5% de área intocada (dados do IMPA e do Smithsonian
Institucion)
75% do desmatamento ocorrem em torno das rodovias
Até 100 quilômetros ao lado delas são ocupados
O consumo de madeira cresceu em mais de 60% em 40 anos, a
maior parte, como lenha nas regiões pobres (aumentando a
pobreza, aumenta o desmatamento para esse fim).
Aquecimento Global
umentos periódicos de temperatura são comuns (em
períodos de cerca de 120 mil anos)
O aquecimento hoje é causado em grande parte pelo homem.
Vai afetar sua existência.
Efeito estufa é causado principalmente pelo acúmulo de CO2,
gás carbônico na biosfera, impedindo a fuga de parte do calor.
É imprescindível para a vida (sem os gases “efeito estufa” a
temperatura média do planeta seria em torno de - 18º).
A concentração desses gases está crescendo de forma
alarmante,
Principalmente, por causa de:
- queima de combustíveis fósseis (carros, indústrias)
- incêndios e queimadas
- plantações de arroz e criação de gado (metano, óxido nitroso
e outros)
Acredita-se que a emissão desses gases deve dobrar
neste século Desde 1861, o nível do mar já subiu até 15 cm em
razão de degelo de geleiras.
Com o aumento do nível do mar, morrem os recifes de
coral, responsáveis pela habitação de 65% das espécies de
peixes.
O aquecimento altera e prejudica todo o ecossistema do
mundo
Pesquisadores e o último Painel Intergovernamental da
ONU apontam o ser humano como o responsável por uma
assombrosa mudança no clima.
Há previsão de que a temperatura suba cerca de 6º até o
final do século, causando inúmeras catástrofes em todo o
mundo e para toda forma de vida.
O aquecimento agrava o problema
- das queimadas,
- da desertificação,
- dos desmatamentos
- e, consequentemente, da fome, da miséria, etc
- das áreas próprias para ocupação - que diminuem
Com o aquecimento, aumenta o nível dos mares, pelo
degelo das calotas polares e pelo aquecimento da água (que,
aquecida, aumenta de volume). A água e a atmosfera
aquecidas propiciam maior número de catástrofes naturais,
como tufões, furacões, tornados, temporais tropicais, etc.
Apenas por interesses econômicos, os países do mundo
não chegam a um consenso quanto à redução de emissões.
A
Os EEUU, com 4% da população mundial e responsável
por 25% da emissão de gases, não aceitam em firmar o
Protocolo de Kioto que prevê a redução gradativa dessas
emissões.
Destruição da amada de ozônio - chuva ácida
tribuem-se a destruição da camada de ozônio aos gases
clorofluorcarbonos
A camada de ozônio, na estratosfera, retém parte dos raios
ultravioletas vindos do sol. Os buracos são áreas com a camada
mais rarefeita.
Prejuízos no ser humano:
- câncer de pele
- envelhecimento precoce da pele
- manchas solares
- queimaduras
- prejuízos ao sistema imunológico
Prejuízos nos ecossistemas marinhos:
- afetam os fitoplânctons (algas unicelulares), prejudicando toda
a cadeia alimentar dos oceanos
- prejudica a fotossíntese
- altera estruturas de DNA
Chuvas ácidas são provocadas por gases provenientes de
combustíveis fósseis que se convertem, através de reações
químicas na atmosfera, em ácidos nítrico e sulfúrico. São
depostos pela chuva ou neve.
A
O que fazer com o lixo?
ada brasileiro produz, pela média, 440.000 quilos de
lixo/ano
O Brasil produz 88 milhões de toneladas/ano e
240.000 toneladas/dia
Degradação no meio ambiente:
- papel, 3 meses
- filtro de cigarro, 1 a 2 anos
- goma de mascar, 5 anos
- madeira pintada, 14 anos
- náilon, 30 anos
- latas alumínio, 200 a 500 anos
- plásticos, 450 anos
- fraldas descartáveis, 600 anos
- vidro, 4.000 anos
- borracha, inestimado
No Brasil, 25% da população joga lixo nas ruas, terrenos baldios e
encostas
O lixão, praticado na maior parte das cidades do país, é um
sério problema, já que deixa o lixo a céu aberto
O lixo industrial é altamente tóxico - indústrias químicas,
eletroeletrônicas, metalúrgicas, indústrias de peças para carros e
materiais de borracha, etc.
Cerca de 50% do volume e 30% do peso do lixo são compostos
por embalagens
O lixo atômico é composto principalmente de plutônio, que leva
cerca de meio milhão de anos para perder seu potencial
agressivo
A produção anual de plutônio é de cerca de 200 a 250 quilos,
sendo que bastariam 500 gramas para causar câncer de
pulmão em todos os habitantes do planeta.
No Brasil, apenas 137 municípios, dos 5.507 existentes, praticam
alguma forma de coleta seletiva de lixo.
C
São Paulo produz 13.800 toneladas de lixo dia. Segundo dados
da Limpurb, 92% vão para grandes aterros, 7% para
incineradores e usinas de compostagem e 1% é reciclado.
PERDA DA BIODIVERSIDADE
Biodiversidade estimada no mundo: 5 a 50 milhões de espécies.
Dessas, apenas cerca de 1,4 milhão foram identificadas e
catalogadas.
- 800 mil insetos
- 250 mil vegetais
- 40 mil vertebrados
- restante: invertebrados, algas, fundos e microrganismos.
No Brasil estão 10 a 20% de todas as espécies do planeta.
A biodiversidade é destruída por
- desmatamentos
- queimadas
- extração mineral
- comércio ilegal de variedades
A velocidade da destruição das espécies:
- Entre 1500 e 1850 - 1 espécie eliminada por cada dez anos
- Entre 1850 e 1950 - 1 espécie por ano
- Em 1990 foram eliminadas 10 espécies por dia
- Em 2000, uma espécie por hora ou 24 por dia.
De 1975 a 2000 foram extintas 20% das espécies vivas.
De 1950/2000 eliminado 1/5 das florestas tropicais
Mais de 14% das espécies vegetais estão em extinção
2/3 das 9.600 espécies de aves do planeta estão em declínio e
11% ameaçadas de extinção
11% das 4.400 espécies de mamíferos encontram-se em perigo
iminente de desaparecimento
1/3 de todas as espécies de peixes estão sob ameaça.
Excesso de poluição no ar, na água e no solo
esde o início da revolução industrial - 1751 - 271 bilhões
de toneladas de carbono foram depositadas na
atmosfera.
Nos últimos 50 anos, apenas os EEUU lançaram 186 bilhões de
toneladas.
Problemas mais sérios:
- gases "efeito estufa" em quantidade excessiva
- resíduos tóxicos nas bacias hidrográficas
- "smog" - massa de ar estagnado composto por diversos gases,
vapores de ar e fumaça
80% da poluição atmosférica das grandes cidades vêm do
escapamento dos carros.
20% das fábricas, incineradores de lixo, incêndios, etc.
A poluição das águas é causada por lixo, esgoto, deposição de
detritos e outras formas de sujeira, mercúrio dos garimpos,
resíduos de baterias e pilhas, etc.
A poluição sonora provoca estresse, distúrbios físicos, mentais,
psicológicos, insônia, deficiência auditiva, altera a pressão
arterial, causa problemas digestivos, má irrigação sanguínea da
pele e até impotência sexual.
A poluição do solo vem principalmente da deposição de
resíduos e da excessiva e má utilização de agrotóxicos e
algumas formas de adubo. Afeta diretamente água, solo e
atmosfera.
A poluição visual prejudica a qualidade de vida das pessoas,
ofende sua integridade psíquica, causa nervosismo, cansaço e
mal estar; prejudica o hábito de alguns animais, confundindo-os.
D
Queimadas
ão responsáveis em grande parte pela extinção da
biodiversidade, eliminando plantas e animais.
Causam:
- doenças nos seres humanos:
- respiratórias
- asfixia
- alérgicas
- oculares
- de pele
- cardiológicas, etc.
- ressecamento da atmosfera
- aumento da poluição do ar, do solo e das águas
- aquecimento global
- deposição de gases tóxicos pela queima de lixo (borracha,
tintas, materiais de construção, etc.) e materiais químicos - e
industriais
- desertificação.
Superpopulação
tualmente, pouco mais de 6 bilhões de habitantes
ocupam o planeta.
Para 2010 estão previstos 7 bilhões de habitantes e 8 bilhões em
2021.
S
A
Nos últimos 25 anos a população cresceu em 2 bilhões de
pessoas; no mesmo período, a cobertura florestal planetária
diminuiu 10%, as 100 principais espécies de água doce
reduziram-se em 45%, desapareceram 50% de todos os mangues
e várzeas - houve uma queda de 30% nos ecossistemas (1,5% ao
ano) - segundo o IPV (Índice Planeta Vivo) do Fundo Mundial da
Natureza.
O aumento da população provoca derrubada de árvores para
ocupação, deposição de lixo e resíduos no solo, nos rios e
oceanos, eliminando formas de vida, aumento da atividade
produtiva agrícola e industrial, na criação de gados, aumento
da emissão de gás carbônico, de incêndios e queimadas,
demandas por alimentos, etc.
Nos próximos 30 anos, os 30% de países mais pobres responderão
por 90% do crescimento populacional.
Segundo o relatório "State of the World", do Worldwatch Institute,
"dentro de no máximo uma geração países como Mauritânia,
Etiópia e Haiti estarão praticamente sem vegetação por causa
da busca de lenha para cozinhar".
O desmatamento da Amazônia brasileira - responsável por 20%
de toda a biodiversidade mundial - chega a 18.000 quilômetros
quadrados, o equivalentes a 1 milhão e 800 mil Maracanãs, ou
49,34 quilômetros/dia, equivalentes a 4.931,5 Maracanãs.
Nos últimos 40 anos, a pesca oceânica saltou de 18 milhões de
toneladas anuais para 95 milhões. As espécies mais importantes
estão esgotadas.
Estimam-se 90 milhões de novos habitantes por ano, o que vai
exigir 26 milhões de toneladas de alimentos a mais em cada
ano.
O que pensar do nosso futuro?
grande questão desse início de milênio e de século é
avaliar as possibilidades de paralisar e reverter o quadro
dramático de nosso planeta.
Para que a vida no planeta tenha futuro há a necessidade de
um movimento emergente no sentido de reverter o quadro. Isso
A
depende da conscientização global da existência dos
problemas e da vontade de cada um de tomar parte nessa luta.
Os países mais ricos têm que se conscientizar que, ao invés de
exercitar a atual política imperialista adotada vorazmente em
todo o mundo, eles precisam auxiliar os países devedores e os
países pobres. Sua própria subsistência depende disso.
Os mais ricos, em todos os países, precisam ter consciência em
melhorar a distribuição de renda.
A legislação ambiental precisa ser ampliada e cumprida e
aplicada. As mínimas agressões ao meio ambiente devem ser
coibidas.
Algumas medidas possíveis de serem adotadas
principal medida a ser adotada é a de que o ser
humano se conscientize de que ele não é um organismo
único no planeta, que ele não está só, mas faz parte de
um grande organismo vivo. A morte desse organismo, por
qualquer motivo que seja, vitimará todos os seus habitantes. A
doença social ou ambiental desse organismo afetará
igualmente a todos de uma ou de outra forma.
Há a necessidade de adoção de novos paradigmas. O ser
humano precisa se ver em seus semelhantes e em todas as vidas
do planeta. Precisa entender que há uma interdependência
cósmica unindo toda a espécie de vida em todo o planeta
como um único fio. O que prejudica a vida em um singelo e
longínquo lugar ressoa em toda a vida, em todo o planeta. E
talvez em todo o Universo.
Como medidas objetivas, é necessário que, imediatamente:
- haja uma educação permanente e persistente, maciça e
impositiva, apontando a necessidade de se reconstruir o muito
que já foi prejudicado, preservar o que ainda existe, e construir
condições mais favoráveis ao meio ambiente;
- contenha-se a explosão demográfica;
A
- cessem as atividades de degradação;
- a miséria seja erradicada;
- haja a reversão de degradações, principalmente em regiões
ambientalmente vulneráveis ou que representem situações
ambientais perigosas.
O futuro imediato poderá ser para nós ou o nono dia da
Criação, ou o segundo e definitivo dia da destruição.
Cabe ao ser humano decidir sobre qual dos dois caminhos irá
adotar.
15 DE ABRIL - DIA NACIONAL DA CONSERVAÇÃO
DO SOLO
adrão de solidez e robustez para nossas comparações
cotidianas, suporte de 6 bilhões de habitantes da raça
humana, o solo começa a dar mostras de cansaço e de
esgotamento. O solo terrestre não é muito novo, já que a
formação do sistema solar data de alguns bilhões de anos.
Nunca foi muito calmo, passando por transformações constantes
e muitas vezes violentas no vômito de uma atividade vulcânica,
no sacolejo de um terremoto. Foi estruturado e reestruturado,
pintado, desenhado, redesenhado, esculpido, e transformado,
pelos cinzéis afiados do vento, das tempestades, dos cursos de
água, mas sempre sustentou uma importante fatia da biota
planetária.
Esbarrou, enfim, com a sofreguidão, a ânsia e a ganância de
uma das raças que sustentou e alimentou, a humana. E esse filho
desnaturado está a comprometer, sem medidas e sem
precauções, a vitalidade do solo, a exemplo de um tumor
maligno que alastra-se por toda a pele até sua máxima
exaustão e morte (naturalmente, morrendo junto) do hospedeiro.
Parece uma comparação drástica. Afinal, a raça humana,
pressuposto de uma criação superior divina, tem consciência,
tirocínio e inteligência. Sabe avaliar e diagnosticar, comparar e
medir, criar e corrigir. Mas, a comparação procede. Agimos
como câncer de pele, deitando tentáculos e sugando a
vitalidade de nosso hospedeiro, o planeta.
Dia 15 de abril foi, acanhado, dia nacional comemorativo
da preservação do solo, instituído pela Lei 7.876/89.
Comemorativo?! Quando se trata de itens ambientais
dificilmente há um dia comemorativo. No máximo, uma vaga
lembrança e na melhor das hipóteses, um dia de reflexão. Não é
diferente, quando se trata da conservação do solo, degradado
de forma irresponsável pela deposição de uma quantidade
alarmante de detritos, e pelo despejo de metais tóxicos e
pesados, pesticidas, adubos e outros produtos agro protetores
de alto potencial danoso.
Difícil acreditar que uma simples goma de mascar possa
demorar 5 anos para se decompor no solo, como parece coisa
de ecologista leviano estimar que o plástico pode durar 500 anos
sem se degradar. A preocupação com produtos químicos,
agrotóxicos, adubos e metais pesados parece arroubo de
pessimistas românticos estressados que vêem em tudo um risco à
P
existência. Não há pessimismo (ainda que haja muito estresse)
em tais constatações. Alguns venenos usados na agricultura ou
na pecuária podem levar dezenas de anos para se decompor.
O mesmo se diz de muitos outros produtos químicos, às vezes
camuflado na singeleza da tinta que deu graça e vida a um
simples rótulo de um produto de consumo qualquer. Centros
mundiais de pesquisa avaliam os custos dessa verdadeira
invasão às entranhas de nosso solo. Queimadas,
desmatamentos, impermeabilizações e outras atividades típicas
do ser humano também constrangem as possibilidades naturais
de auto regulação e de se auto recuperação do solo. Criamos
desertos em um canto, ilhas de concreto em outro, terras
pisoteadas e improdutivas mais adiante. Extraímos das vísceras
da terra grande parte das chamadas "riquezas minerais",
deixando catastróficos impactos no ambiente manipulado.
Não comemorados. Nem deveríamos. Mas, vamos
aproveitar a oportunidade e a chance de refletir sobre a
importância de nosso solo e o descaso com o qual o vimos
tratando.
ESTAMOS QUEIMANDO NOSSA ATMOSFERA
uem assistiu ao primeiro dos filmes da série Matrix,
realizado no final dos anos 90, viu que o nosso planeta,
depois de ter sua atmosfera queimada pelos seres
humanos, passou a viver em um inferno glacial (perdoem a
aparente contradição dos termos). Foi um filme chocante que
ocupou e incentivou acaloradas discussões filosóficas dos meios
acadêmicos e, dentre uma série de temas focados, trouxe à
baila discussões ecológicas relevantes. Pôs a claro e denunciou
chagas profundas que a humanidade dissimula em favor de
interesses particulares. Acusou o ser humano de se comportar
não como um mamífero, mas sim como um vírus: uma forma de
vida danosa a seu hospedeiro e que pode destruí-lo.
Ficção à parte, o ser humano está, literal e velozmente,
queimando a atmosfera do planeta. Entre abril e outubro -
época que antigamente era caracterizada pelo famoso céu
azul-anil – a paisagem comum é manchada por densos e grossos
novelos de fumaça em todos os cantos das cidades e ao longo
das estradas, como se cercadas por uma infinidade de vulcões
ativos com suas esfaimadas e destrutivas bocas prontas a engolir
o ambiente natural. Essa fumaça está envenenando o ar pela
deposição de gases tóxicos, provocando ou agravando
inúmeras doenças. Os que mais sofrem são os idosos e as
crianças, o que se agrava para os portadores de problemas
cardiorrespiratórios e alérgicos. Por outro lado, grandes são os
prejuízos ecológicos, principalmente pelo aumento da
concentração de gases carbônicos na atmosfera, que acelera o
famoso efeito estufa, aquecendo desmesurada e irregularmente
o planeta.
Os brasileiros aprenderam e aprendem que o Brasil é o
grande paraíso ecológico da humanidade, mas não tomaram
consciência de que está entre os vinte países mais poluidores da
atmosfera global. Na maior parte em virtude das inúmeras
queimadas que ocorrem em todo o território nacional. Em alguns
dias secos os satélites de monitoramento chegam a captar seis
ou oito mil grandes focos de incêndios no país. O sonho de
alguns, de receber ajuda econômica pelo hoje em dia tão
divulgado seqüestro de carbono pode estar ameaçado pelo
excesso que as queimadas depositam na atmosfera. Quase 80%
dos gases efeito estufa produzidos no Brasil são compostos por
dióxido de carbono liberado pelos focos de incêndio.
Em 1997 uma grande parcela dos países do planeta se
reuniu no Japão, em Kyoto, quando se firmou um acordo para
redução das emissões de gases que provocam o aquecimento
global. A despeito de apontar metas para a redução de gases-
estufa para vários países, a convenção, conhecida como
Q
Protocolo de Kyoto, não estabelece metas para o Brasil, apesar
de ser ele um dos países signatários do acordo.
Mesmo um olhar mais acanhado para as cidades demonstra
a gravidade dessa situação. Em alguns dias, cidades do porte
de Varginha chegam a ter 10 ou 15 rolos de fumaça evoluindo
na atmosfera do entardecer. Um cenário às vezes semelhante a
um campo de guerra recém bombardeado. A fuligem e a
fumaça, e o característico mau cheiro, prejudicam imensamente
a qualidade do ar.
Não existe mais o céu azul-anil de antigamente. Os olhos dos
jovens de hoje não puderam, e os das gerações futuras não
poderão ver o profundo azul, típico dessa época, que os olhos
dos jovens de ontem, um dia tiveram o privilégio de admirar. Os
netos das atuais gerações, provavelmente nem mais verão o
azul pálido e anêmico dos dias de hoje, se conseguirem
sobreviver às catástrofes ecológicas iminentes. A comparação
com uma infestação virótica do planeta, como feito no filme
acima citado, foi bem colocada.
E o que é pior: a humanidade não está participando de uma
superprodução hollywoodiana, não está vivendo em um
hipotético mundo no reino da ficção científica, descartável nos
letreiros finais, mas na mais dura e crua realidade.
O TEMPO ENLOUQUECEU OU ENLOUQUECEMOS
NÓS?
ntigamente, as águas de março fechavam o verão. As
enchentes das goiabas. Hoje, todos se perguntam sobre
os destemperos do tempo. Ano passado foi muito seco.
Este ano está chovendo muito, a não mais parar... Meados de
maio, época de estio, mas, lá fora, a chuva continua caindo,
impassível, como se não conhecesse as mínimas leis de respeito
aos ciclos do tempo. No começo do ano, época de chuvas, fez
seca no sul. Mas o sertão nordestino, que costuma ser
ressequido, inundou. O sertão virou mar, os campos plantados
de soja, no sul, viraram desertos.
No litoral sul do país, ciclones extratropicais provocaram
estragos, mortes e, acima de tudo, sustos. Até nos cientistas. Não
existiam registros desse tipo de temporal no Brasil. As altas
temperaturas do verão europeu, no ano passado, mataram
centenas de pessoas. Os governos, principalmente o francês,
estão preocupados e tomando medidas que mitiguem os danos
de um verão ainda mais quente este ano. A previsão é que a
temperatura vá subir muito além do que deveria. No Canadá,
no Alasca e no norte dos EEUU, ursos acordam de sua
hibernação natural cedo demais. Não há alimentos, nem é
temporada de seus petiscos prediletos. Invadem cidades e
fazendas em busca de alimentos. Tempos de tempo maluco.
Imprevisível.
O tempo enlouqueceu... Ou nós enlouquecemos. Afinal, dos
motores de nossos carros, das chaminés de nossas indústrias, dos
pastos que queimamos para “limpeza”, sobem centenas de
toneladas de compostos e particulados para a atmosfera todos
os dias. Gazes, alguns venenosos, tóxicos, outros que
sobrecarregam a atmosfera, agravando o efeito estufa. É bem
verdade que, sem um efeito estufa providencial, teríamos dias
extremamente quentes e noites geladas. A temperatura média
do planeta cairia para alguns graus Célsius abaixo de zero e a
vida humana seria inviável.
O planeta especializou-se, no curso de alguns bilhões de
anos, em abrigar e manter a vida, tal como a conhecemos. Em
apenas alguns anos, desequilibramos o sistema. Os processos
naturais são lentos e eficientes. Afoitos, assumimos o papel que a
filosofia e a literatura antecipavam: homem, lobo do homem.
Alteramos o ambiente aquecendo a atmosfera, matando-nos a
nós próprios e outras vidas do sistema. Considerando-se o pouco
A
tempo que a raça humana é a dominante, e a velocidade
meteórica com que se multiplica e multiplica os processos de
agressão ao ambiente, estamos em acelerado ritmo de
autodestruição. Desde 1850, quando começaram medições,
houve aumento médio da temperatura do planeta em 1º C. Os
mares subiram cerca de 15 centímetros (por degelo de calotas
polares). Estudos otimistas concluem que, na velocidade atual
de poluição atmosférica e acréscimo de gases efeito estufa, a
temperatura média se elevará em pelo menos 4 graus neste
século 21. O suficiente para causar catástrofes inconcebíveis,
alagamentos de cidades costeiras, inundação de países baixos
e tempestades gigantescas de alto poder destrutivo. Os mais
pessimistas... bem, é melhor não citá-los.
Para nossas loucuras, a resposta não menos louca da
natureza. Ação e reação. Recebemos o retorno dos próprias
atos. O tempo não enlouqueceu: nós, em nossa insana maneira
de viver, estamos provocando-o a se alterar. O resultado, nem
mesmo as raras mentes sãs podem prevê-lo.
EM BUSCA DE ESMERALDAS NO RIO DOS DOURADOS
io de águas esmeraldas. Pontos de luzidios reflexos verdes.
Águas que abrigam vida, muita vida. E dourados – peixe
grande, escamas de ouro, de carne saborosa, em imensos
cardumes. Haja fartura. E as matas das margens? Árvores
imensas, pendidas em um balanço dolente, abaixando-se em
solene cumprimento à passagem às vezes molenga, outras
apressadas e até brabas de vez em quando, das águas mornas
de vida. Cipós, lianas, flores. Capões e capoeirões a se perder
de vista. Cheios de vida alegre e saltitante, gritos animados de
muriquis, sauás e bugios. E o barulho da passarada? Nem dá
para separar, tantos tons de sons, tantos tons de cores, que se
sobrepõem e se mostram e escondem nas vastidões desses
maciços da Mata Atlântica.
Água que nasce prata, nas muitas pingadeiras, cascatas,
que correm e se precipitam em centenas, ou milhares, de pontos
murmurantes, qual arrulho de juriti apaixonada, refletindo,
quando o sol invade sua intimidade, mil pontos de estrelas;
constelação no meio da mata, na flor da terra. Joias celestes
incrustadas em pedacinho de chão. Milagre divino de Criação!
Isso lá dentro da frondosa Mata Atlântica, que veste de muita
riqueza as vertentes, costas e encostas da Mantiqueira. Prata
que acolhe o ouro dos dourados e que se transforma nas
esmeraldas da correnteza que vai deslizando suas riquezas pelos
mansos, remansos, caudalosos, escandalosos, precipitados, mas
sempre vivos, deliciosos e delicados caminhos em direção ao
grande rio, ao Rio Grande – lá onde se despeja com muita
graça e contribui, solene mas em humilde entrega, para reforçar
a grandeza do donatário... - depois de ser dadivado com
tributários limpos e cristalinos, que ainda trazem o perfume e o
cheio das matas.
Rio Verde.
Rio Verde?!
É; Rio Verde de minha infância. Tempos distantes, quase
meio século atrás. Serão tão distantes assim? Para a humilde
mediocridade de uma vida que, se tanto, pode apenas resvalar
em 80 anos, parecem um não mais findar de voltas do planeta,
a seu redor, ao redor do Sol... Mas, comparando-os aos quatro
bilhões de anos em que a Terra é depositária da vida, riqueza
maior da Criação, são, quando muito, um único grão de areia
R
jogado nas praias sem fim desse nosso belo país. Pode ser. Mas
tempo suficiente para que o rio fosse esterilizado. Para que as
matas fossem destroçadas, e sua infertilidade matasse a alegria
da vida esfuziante e esvoaçante que as ornamentava,
impedindo a plenitude de seu ciclo de captura e
aproveitamento de água. Para que secassem nascentes,
corrompessem terrenos e envenenassem a seiva do sangue de
transluzido verde, dando-lhe coloração escura, opaca e
indefinida.
A infância dos meus filhos é mais moderna, mais civilizada.
Mas muito mais pobre. Pobre deles, que não podem colher as
riquezas da prata, do ouro, das esmeraldas, que eram vivas,
alegres e puras. Pobres de meus netos que hão de nascer,
pobres deles ao receberem a perversa herança de uma
modernidade corrompida, de uma civilização destroçada. E de
uma existência sem qualidade necessária o suficiente para
sustentar padrões mínimos de saúde e de alegria. Sem as
riquezas de prata, ouro e esmeraldas do Rio Verde, que,
submisso e humilhado, chora sua correnteza por lamentos
soluçados nas pedras afiadas que rasgam seu peito. Febris
delírios pelo leito imundo de tralhas, lixos e esgotos. Coitado, nem
se pode dar ao luxo de se sentir verde...
PLANO DE AÇÃO DO SOLDADO AMBIENTALISTA
ambientalista moderno não é apenas um estudioso dos
problemas ambientais e das condições de vida do meio
ambiente. É um verdadeiro soldado, engajado na luta
para a reversão da degradação ambiental, para a preservação
do ambiente ainda intacto e para a recuperação moral e ética
do ser humano. Batalha na natureza, nos gabinetes dos políticos
e administradores, nas escolas e estabelecimentos educacionais,
nas organizações governamentais e não governamentais, nas
praças e logradouros.
Sabe que precisa vencer a violência e a miséria. Que o
desemprego e a falta de instrução são inimigos do bem estar
comum e colocam em risco a existência e a coexistência
pacífica da espécie. Sabe que não se pode falar em meio
ambiente ecologicamente equilibrado referindo-se apenas ao
meio ambiente natural – ar, água, solo, fauna e flora – mas que o
equilíbrio ambiental se escora no tripé: natureza, sociedade e
economia. Sem um desses pés, os outros dois desabam.
O ecologista moderno engaja-se nessa guerra consciente de
que somente a vitória poderá fazer com que o mundo seja
viável para as futuras gerações. E, por isso, luta sem se descuidar
um só momento, e luta bravamente.
Aqui está um pequeno plano de ação, com batalhas que
você pode lutar e vencer:
Assuma uma missão ecológica diária:
Todos os dias, determine-se alguma ação concreta em prol
do ambiente. Se não puder fazer algo grande, faça uma tarefa
simples: coleta seletiva em sua casa, um plano para economizar
energia e água ou para o consumo útil e consciente. Destine-se
uma tarefa como, por exemplo, catar dez garrafas ou latas de
bebidas que estiverem espalhadas em vias públicas ou terrenos
baldios e coloque-as apropriadamente no lixo. Use a
criatividade.
Faça uma agenda de conscientização ecológica:
O
Adquira uma agenda, ou um caderno, e anote todos os
dias, como em um diário, de um lado, em uma primeira coluna,
as boas ações socioambientais praticadas. Faça um exame de
consciência e anote em uma segunda coluna os atos
ecologicamente incorretos (jogar lixo em lugares impróprios,
quebrar ou danificar árvores ou arbustos etc) e as omissões
(poderia ter gasto menos eletricidade, gasto menos água,
poderia ter ajudado a plantar uma árvore etc). Esforce-se
permanentemente para que a cada dia mais ações sejam
registradas na primeira coluna e menos na segunda.
Adote uma árvore:
Escolha uma árvore em uma praça pública e cuide dela.
Peça ajuda a pessoal especializado. Acompanhe seu
crescimento. Informe-se sobre sua espécie e suas características
próprias. Observe a vida que depende dela (pássaros, insetos
etc).
Exerça a cidadania:
Anote as boas ideias que beneficiem o meio socioambiental.
Apresente suas ideias aos órgãos oficiais responsáveis.
Apresente-as aos políticos (prefeito, secretários, vereadores) de
sua cidade. Cobre o resultado das ações apropriadas. Fiscalize a
execução das obras. Una-se a outras pessoas, interessadas na
solução dos mesmos problemas, para juntos exercerem com
mais eficácia esse controle.
Participe:
Exerça com energia a cidadania, mas não espere que os
resultados venham apenas dos poderes políticos. Faça sua
parte. Avalie ações com as quais você pode participar. Esforce-
se para colocar em prática suas ideias. Procure parceiros e
amigos. Arregace as mangas e trabalhe. Sempre que possível,
procure sensibilizar as pessoas de seu relacionamento: parentes,
amigos, vizinhos, colegas. Some forças.
Some forças:
Seja ativo em uma organização ou em um movimento de
cidadania socioambiental. Procure algum grupo já existente e
afilie-se a ele ou forme um grupo com seus amigos ou colegas e
seja atuante. Mantenha-se em contato com outras entidades
ambientalistas ou sociais, principalmente com aquelas que têm
mais experiência e maior número de projetos realizados.
Recrimine os atos ecologicamente incorretos:
Demonstre sua insatisfação com empresas, entidades ou
pessoas que pratiquem atos prejudiciais ao meio
socioambiental. Não compre produtos de origem duvidosa. Não
adquira nem crie animais selvagens. Boicote estabelecimentos
ecologicamente incorretos e prestigie os que respeitam e
protegem o meio ambiente e têm compromissos de
responsabilidade social.
Cuide dos resíduos:
Não jogue poluentes em cursos d'água ou no esgoto. Separe
o lixo reciclável, doando a entidades beneficentes os papelões,
as latas de alumínio e as garrafas de refrigerante. Não deixe
pilhas e baterias jogadas diretamente no meio ambiente. Cuide
para que o lixo de sua casa seja acondicionado de maneira
apropriada e entregue aos caminhões de coleta.
Este plano é só um esboço. Acrescente-lhe ações
apropriadas. Execute-as. Divulgue-as sempre em seu meio de
relacionamento. Lembre-se: um soldado deve estar sempre
alerta e sua batalha deve ser continuada. Comece a agir agora.
A situação socioambiental do mundo de hoje exige ação
imediata. Não há tempo para pausas ou descansos.
QUEIMADAS – SAÚDE, DINHEIRO E BEM ESTAR QUE
VIRAM FULIGEM E FUMAÇA
m dos grandes problemas que assolam em especial o
ambiente planetário e, em particular, o brasileiro são as
queimadas. Com ocorrência habitual entre os meses de
maio e outubro, época mais seca, são geralmente provocadas
de forma intencional. Ou seja, com autoria consciente, pré-
determinada e intencional de um ser humano. Sejam as
queimadas urbanas ou rurais, ambas causando elevado grau de
prejuízo ambiental, são uma forma drástica e danosa de,
literalmente, queimar dinheiro e saúde. As queimadas, em
qualquer ambiente em que ocorram, lançam no ar uma
quantidade enorme e prejudicial de gases efeito estufa, como o
dióxido de carbono, contribuindo para o acelerado processo de
aquecimento global que hoje já causa sérios transtornos – como
inundações, fortes temporais intra e extra tropicais, excesso de
nevascas, calor, seca etc.
É de se considerar ainda que, computando-se as inúmeras
queimadas nesse período em território brasileiro, o País é o
quarto maior emissor de gases efeito estufa do planeta.
Mas não param aí os estorvos e prejuízos do ar poluído pelos
gases que se originam das queimadas. Há um aumento de
distúrbios físicos consequentes: desde pequenas irritações
oculares, peles ressecadas, enjoos e mal estar digestivos, até
sérios problemas cardíacos e respiratórios. Ocorre considerável
volume de internações hospitalares associadas à má qualidade
do ar, fruto principalmente de escapamento de veículos
automotores, fábricas e incêndios. Muitos óbitos são, inclusive,
registrados e associados a tais causas nos períodos secos,
normalmente agravados pela coincidência com a época de
frio. Além disso, relacionam-se à má qualidade do ar o
aparecimento ou agravamento de cânceres e a ocorrência de
morte súbita em recém nascidos.
O período seco e frio do ano é época de fácil transmissão
de gripes e pneumonias e a má qualidade do ar, que provoca
irritação e pequenas lesões nas vias respiratórias superiores (nariz,
garganta), facilita grandemente a transmissão e o contágio
dessas doenças, possibilitando fácil ingresso dos respectivos
agentes patogênicos nos organismos humano e de animais
domésticos.
U
As queimadas rurais empobrecem a terra, destroem
cobertura vegetal imprescindível à manutenção do ciclo hídrico
regular e causam desertificação. O solo, sem a proteção da
cobertura vegetal, é vulnerável às erosões. A radiação de calor
devolvida ao espaço aumenta, incrementando o processo de
aquecimento do planeta. Isso quando o prejuízo não é
infinitamente maior pela transposição do fogo para matas e
florestas, destruindo habitações da fauna, inviabilizando a
ocorrência de biodiversidade e ressecando áreas de recarga de
água, sem falar no agravamento das chuvas ácidas.
Áreas, sejam rurais ou urbanas, submetidas insistentemente
às queimadas acabam por ter seu valor econômico diminuído.
Isso, sem falar nos inúmeros acidentes que o fogo acarreta,
danificando e destruindo patrimônios públicos e particulares,
além de danos nas linhas de transmissão de eletricidade,
gerando grande custo a todos. Pesquisas realizadas por
universidades concluíram que a desvalorização patrimonial em
razão de danos ambientais pode chegar a mais de 20%.
Lugares, com áreas naturais preservadas, são comercialmente
mais valorizados e, consequentemente, mais procurados.
O fogo sacrifica a vida que se tenta proteger nos parques
florestais. Terras expostas em razão de queima da cobertura
vegetal, permitem um fluxo maior e mais rápido de poluentes e
agentes contaminantes para o ar e para os leitos de água.
Permitem, também, um trânsito rápido e inadequado de
material orgânico necessário à qualidade sadia do solo. A
queima de produtos tóxicos, como plásticos, tintas, papéis
industrializados, borracha etc., envenena o ar. Os prejuízos são
incontáveis: desde o aborrecimento das donas de casa,
assaltadas pela sujeira impertinente da fuligem, até as graves
doenças associadas ao ar ressequido, poluído e envenenado.
É imprescindível que sejam tomadas medidas drásticas e
imediatas para reduzir o volume das queimadas. Cabe a cada
cidadão, no exercício do direito e do dever de resguardar um
ambiente saudável e adequado para a manutenção da vida no
planeta, principalmente das gerações futuras, impedir que atos
tão perniciosos, como a prática danosa de provocar
queimadas, continuem a ocorrer.
ÁGUA, O TESOURO QUE VASA PELO RALO
im, quando se trata de recursos naturais, o Brasil é o grande
vencedor. Medalha de ouro em quantidade de água
(cerca de 13% da água potável disponível no planeta), em
biodiversidade (quase 20% das espécies vivas), em florestas
(cerca de 60% da maior floresta tropical úmida, a Amazônica).
Mas, na direção oposta, somos também grandes competidores:
alto índice de desmatamento (a Mata Atlântica está reduzida a
míseros 5 ou 6% da área original – tendo como parâmetro o
descobrimento oficial, 1500 -, a floresta Amazônica está sofrendo
um desmatamento equivalente a uns três mil metros quadrados
por hora), poluição atmosférica crescente (milhares de
toneladas de carbono originárias das queimadas, dos motores a
combustíveis fósseis, das fábricas) etc.
Fixemo-nos, por ora, no enorme desperdício da água. A
metade da água distribuída é desperdiçada, quantidade que
daria para abastecer ao mesmo tempo a França, Bélgica, Suíça,
Norte da Itália e Holanda, conforme atesta o teólogo, filósofo e
ecologista Leonardo Boff. Ressalta, ainda, que, para que seja
produzido um quilo de carne bovina, são gastos 15 mil litros de
água; um quilo de vegetais, mil e 300 litros. Um ovo nos custaria
mais de mil litros.
Apenas 3% da água existente no planeta são potáveis e
somente 0,75% está acessível para consumo humano e utilização
agrícola e industrial. A maior parte, cerca de 70%, vai para a
irrigação e produção agrícola e para a agroindústria. As
indústrias utilizam a média de 20% e 10% são utilizados nas casas.
O maior desperdício vem na má utilização, distribuição irregular
e poluição da água urbana e industrial. As construções e vias
impermeabilizam o solo, cerca de ¼ parte da água tratada e
distribuída se perde em vazamentos, entre o fornecedor e as
torneiras do consumidor. A destruição da cobertura vegetal,
principalmente a eliminação das matas de topo, alteram
radicalmente a distribuição dos reservatórios. A falta das matas
ciliares permite que as águas escoem em velocidade
inconveniente para os cursos principais, provocando
assoreamentos e não raramente enchentes no período de
chuvas e escassez no período de secas.
O excesso de agrotóxico utilizado nas lavouras, além de
contaminar lençóis freáticos, escoa com rapidez, água abaixo,
contaminando cursos de água. Idem, no que se refere ao lixo
irregularmente atirado no ambiente. As queimadas ressecam e
S
aquecem em demasia o ar, alterando os ciclos dos ventos e das
chuvas. As consequências: desertificação, tempestades tropicais
e extratropicais anômalas, secas em um dos pratos da balança,
com temperaturas extremamente altas, e esfriamento em outro,
com tempestades de neve, inundações etc. etc.
Hoje, perto de 70% das internações hospitalares e doenças
tratadas têm origem em veiculações hídricas, ou seja, vêm da
água ou de sua carência. Mais de 2 bilhões de humanos, dos 6
que habitam o planeta, padecem pela falta ou má qualidade
da água, segundo dados da ONU, que também adverte que
essa proporção crescerá, em menos de vinte e cinco anos, para
2/3 do contingente populacional.
A água, também segundo dados da ONU, mata, pela má
qualidade, dez vezes mais que as guerras armadas. Informa que
cerca de 70 conflitos existem hoje pelo acesso a esse precioso
líquido. O grande tesouro do século atual se degrada
rapidamente. Nós estamos sofrendo as consequências da
degradação. Sofreremos cada vez mais, enquanto não
soubermos aproveitar bem tão precioso. Sem dúvida, estamos
deixando escapar pelos ralos uma riqueza inestimável. Nossos
descendentes nos cobrarão essa dívida.
CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA:
A ÁGUA QUE MATA A SEDE E O SER QUE MATA A ÁGUA
evidência da “morte” de nossas águas salta à vista: a
má qualidade hídrica é responsável por cerca de até
70% das doenças diagnosticadas e internações
hospitalares. Mais da metade da água doce aproveitável do
mundo está comprometida por poluição e contaminação. De
todos os grandes rios do planeta, apenas dois estão despoluídos:
o Amazonas, na América do Sul, e o Congo, na África.
A imundície carregada pelos cursos de água já transformou
imensas áreas marinhas em verdadeiros desertos – cerca de 150
zonas mortas, uma delas no sudeste brasileiro – que estão
evoluindo em ritmo veloz e voraz. Cada um com um índice de
oxigênio dissolvido na água inferior ao necessário para manter a
vida. A cada década a área morta dos oceanos dobra. Muitas
espécies de peixes marinhos, grande fonte de alimentação,
estão criticamente ameaçadas pela progressão das zonas
mortas.
Queimadas ressecam o ar, prejudicam a saúde da
biodiversidade, destroem habitat e, dentre tantos outros
prejuízos, envenenam a água, além de interferir prejudicialmente
no ciclo das chuvas. Os inúmeros rolos de fumaça que evoluem
na atmosfera das periferias e arredores mostram um cenário de
pós-bombardeio. Um campo de batalha onde todos são vilões e
vítimas.
O quadro de desolação não tem um fim: esgotos nos cursos
de água, lixo atirado a esmo, agrotóxicos esbanjados
contaminando lençóis freáticos e aqüíferos; garimpos
despejando mercúrio e assoreando os leitos aquosos;
desmatamentos, impedindo a concentração de água na
atmosfera e no solo... Uma interminável lista de armas letais que
estão levando nossos escassos recursos hídricos – menos de 1%
do total da água planetária – à morte.
Enquanto isso, por outro lado, a demanda aumenta. Durante
o século XX a população mundial triplicou (de 2 para 6 bilhões
de habitantes), o consumo de água foi multiplicado por sete, as
áreas irrigadas cresceram mais de 6 vezes, enquanto a
degradação dos mananciais subtraiu um terço das reservas
hídricas do planeta. Estão nítidas as advertências de morte da
A
água potável. Ou acordamos a tempo de resgatar a vida da
água que nos mata a sede, ou morreremos junto com ela, na
maior e mais catastrófica extinção de espécies que já pudemos
algum dia supor.
DIA DA AMAZÔNIA – 5 DE SETEMBRO
alvez alguém se pergunte: por que nós, que estamos tão
distantes da Amazônia, devemos nos preocupar com a
lembrança do dia instituído em sua homenagem? A
resposta é fácil: nós devemos efetivamente nos ocupar em
lembrar daquela imensa área de nosso país, como nos
preocupar com o que acontece com ela.
Quer um motivo simples? Ela é nossa. Mais da metade –
cerca de 60% - da Floresta Amazônica está no território brasileiro.
Some-se a isso o fato de ser ela a maior floresta do mundo.
Acrescente que detém entre dez a vinte por cento da
biodiversidade global, sendo a área que comporta a maior
diversidade de vida do planeta. Lembre-se, ainda, que é a área
que possui maior quantidade de água doce disponível de todo
o globo, sustentando cerca de sessenta por cento da água
brasileira – país que tem sob sua responsabilidade uma média de
12% de toda a água doce do mundo.
Você não acha isso pouco, acha? Por apenas esses
pequenos dados você consegue ter consciência da grandeza e
da riqueza da Amazônia? Resumo em uma única e pequena
frase: é a área naturalmente mais rica – e incrivelmente mais rica
do que qualquer outra – de todo o mundo. E é, em grande
parte, brasileira. Esses, por si só, já seriam motivos suficientes para
que pensássemos permanentemente nela.
Recentemente circulou pela internet – e ainda circula até
hoje – um mapa mundi, que teoricamente seria elaborado por
autoridades americanas (dos Estados Unidos da América do
Norte), destacando a Amazônia não como uma área brasileira,
mas sim multinacional, de interesse de todos os governos do
mundo. Milhares de internautas circularam o tal mapa, cheios de
indignação e de orgulho cívico ferido. Um professor universitário
comentou em classe com os alunos que, tendo visitado a
América do Norte, viu, ao vivo, em cores e em papel, o Atlas em
que estaria estampado. Posteriormente, e de forma tímida,
circulou um desmentido – o mapa brasileiro, com a deformação
que lhe emprestava a carência da Amazônia, teria sido um
trote, um brincadeira comum a alguns internautas,
habitualmente geniais mas com maturidade que beira a
infância, que sentem prazer e orgulho em engodar, via
eletrônica, os milhares de consumidores dessa mídia.
T
Brincadeira de mau gosto, ou verdade, o fato é que a
Amazônia realmente interessa a todo o mundo. É nela que está
o rio que tem o maior volume de água do planeta e que
também pode ser considerado seu maior rio (no meio científico
tradicional, o Rio Nilo continua a ser apontado como o de maior
extensão, mas estudiosos mais evoluídos e mais comprometidos
com a verdade, aceitam que o Rio Amazonas é o detentor
desse status). Na imensa biodiversidade vegetal existem ainda,
às escondidas, milhares de elementos químicos que poderão se
transformar em remédios e medicamentos, aguardando apenas
que o ser humano os saiba pesquisar. Lá estão animais e
incontáveis formas de vida que contribuem para o equilíbrio
ecológico do planeta. Se destruída, a temperatura da Terra,
apenas por isso, elevaria em mais de um grau Celsius. Se fosse
queimada de uma hora para outra, sua fumaça encobriria o
céu no mundo todo.
Temos motivos para pensar na Amazônia? Para deseja-la
íntegra e protegida? Sim, porque apesar de constituir tamanha
riqueza, está sofrendo um ataque de degradação incalculável.
Por hora, hoje, são desmatados cerca de dois quilômetros
quadrados da Floresta, o que corresponde a uma cidade de
porte médio. Milhares de espécies vivas estão sendo
definitivamente destruídas ou correm risco de desaparecimento
iminente, em razão de queimadas, de ocupação humana, do
desmatamento e da caça e do comércio ilegal de variedades.
Poucos dias atrás, satélites do Impe apontaram o absurdo
número de mais de cinco mil focos de queimadas no país, a
maioria na Amazônia. A degradação chega a um tamanho tão
absurdo que é percebida do espaço, pelos astronautas da
NASA.
A Amazônia é a maior riqueza natural do mundo, é vital para
a existência humana, e sua maior parte está em nosso território.
Temos por isso muitos motivos para permanentemente pensar a
respeito de sua proteção. Antes que, por uma forte pressão de
interesses econômicos, às vezes até baseados na força bélica,
desculpando-se em nome da preservação ambiental de uma
Floresta que afeta em muitos aspectos todo o mundo, aquele
mapa espúrio da internet acabe sendo oficial e definitivamente
estampado em todos os Atlas Geográficos do globo.
MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS
(parte 1)
Desvalorização patrimonial
s queimadas, comuns nas épocas secas do ano, podem
provocar acidentes, destruir patrimônios, prejudicar a
saúde humana e agredir ao meio ambiente, além de ser
uma prática criminosa.
Observe como as queimadas são danosas: sujam suas
residências e degradam o ambiente de sua rua e seu bairro,
onde são realizadas e, por isso, desvalorizam seu patrimônio.
Pesquisa universitária realizada por alunos da USP
demonstrou que em bairros limpos, não poluídos, sem lixo
espalhado, sem queimadas, os imóveis valem em média cerca
30% a mais que em bairros semelhantes que sofram problemas
ambientais.
Pesquisas médicas indicam que a qualidade de vida em
bairros ambientalmente preservados, com arborização de
calçadas, praças e parques cuidados, é muito superior à de
áreas não preservadas. Morar em ambiente preservado ajuda a
eliminar o estresse, incentiva o rejuvenescimento e colabora
para que as pessoas sejam mais calmas e tranquilas, e, portanto,
mais felizes.
Ambientes preservados são mais arejados, têm temperatura
mais amena, são mais agradáveis de se viver e, portanto, fazem
bem à saúde física e mental dos habitantes.
A
Danos à saúde
s queimadas provocam danos sérios à saúde humana e
de animais. As queimadas poluem o ar que respiramos,
depositando nele fuligem, fumaça e gases tóxicos e
prejudiciais à saúde e à vida. Quando os ambientes queimados
contêm lixo ou entulhos, há muitas vezes a deposição no ar de
gases venenosos oriundos da queima de pneus, borrachas,
plásticos, certos alimentos e óleos, tintas, vernizes, remédios,
materiais de limpeza, lixos contaminados etc.
Esse ar poluído e contaminado, ao entrar em contato com o
organismo humano e dos animais, através da respiração e do
contato com a pele, provoca inúmeros males, destacando-se:
pessoas idosas, com problemas respiratórios podem ser vítimas
de pneumonias, ataques de bronquites, agravamento de asmas,
diminuição da circulação cardiovascular, falta de oxigenação
cerebral e ataques cardíacos. Muitas vezes, casos de óbito são
relacionados com suspeita de má-qualidade do ar respirado.
Crianças, principalmente recém-nascidos, sofrem de
intoxicação, asfixia, problemas alérgicos, bronquite, asma,
broncopneumonias, rinites, sinusites e agravamentos de outras
doenças crônicas ou episódicas, como gripes etc. Existem
inúmeros casos de óbitos infantis relacionados com suspeitas do
envenenamento por poluição do ar.
Em qualquer idade, há agravamento de doenças
cardiovasculares, respiratórias, oculares, secura de pele,
aparecimento de escamas, eczemas e feridas pelo corpo,
agravamento de feridas provocadas por varizes, redução da
circulação periférica e da circulação cerebral, nervosismo, falta
de ar, tonturas, enjoos, vômitos, mal estar generalizado, dores de
cabeça, irritação dos olhos e da conjuntiva (conjuntivite), perda
de apetite, disfunções sexuais, fadigas imotivadas, desatenção
etc.
Como se vê, apesar de as crianças e os idosos serem os mais
prejudicados, mesmo pessoas jovens e saudáveis sofrem os
efeitos do ar poluído pelos gases oriundos das queimadas.
Animais, inclusive animais domésticos, são também prejudicados
com o ar poluído, chegando muitas vezes a morrer por causa de
intoxicação e envenenamento causados pelo ar de má
qualidade. O excesso de gases venenosos no ar, inclusive o gás
carbônico, diminui a oxigenação necessária à boa saúde física
e mental das pessoas, em qualquer idade e mesmo que
saudáveis.
A
MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS
(parte 2)
Degradação ambiental
s queimadas degradam o meio ambiente. Dentre
inúmeros prejuízos que as queimadas provocam ao meio
ambiente, podem ser destacados os seguintes: as
queimadas, por colocarem grande quantidade de micro
resíduos na atmosfera, juntamente com os gases de
escapamento dos carros e os chaminés de indústrias, reforçam a
camada (cúpula) de elementos que impedem o necessário
vazamento do calor vindo do sol para o espaço, aumentando o
“efeito estufa” e o calor médio do planeta, o que é causa de
muitas catástrofes naturais, como secas, calor excessivo,
enchentes, furacões e tornados, ventania, diminuição da água
etc. No Brasil, são responsáveis por mais de 70% da poluição
atmosférica total do país.
As queimadas degradam o solo, muitas vezes tornando-o estéril
e provocando a desertificação de grandes áreas, propiciando
as erosões, tornando o solo improdutivo ou fraco. As queimadas
ressecam o ar, destroem a cobertura vegetal que é necessária
para conservar a umidade do ar, formar evaporação necessária
às nuvens, resfriar as altas temperaturas, manter nascentes e
cursos de água. Com isso, agravam o problema do
aquecimento ambiental, diminuem a quantidade de chuva,
reduzem o volume de água das nascentes, ribeiros e rios.
As queimadas destroem locais de habitação e ninho de animais
silvestres, além de matar diversos animais, principalmente filhotes,
provocando, com isso, desequilíbrio ecológico. Animais
daninhos, como ratos, ou peçonhentos, como cobras, fogem
das queimadas e das áreas estéreis podendo invadir áreas
urbanizadas, colocando em risco a saúde e integridade física
dos moradores. O gás carbônico, abundante nas queimadas, e
outros gases produzidos pelas queimadas, são fatores prejudiciais
à destruição da camada de ozônio.
A
As queimadas são ilícitas
s queimadas são legalmente ilícitas e até criminosas. A
prática de se fazer queimadas é punida pela lei, inclusive
pela lei penal, podendo sujeitar o infrator a diversas
penalidades, dentre elas:
a) processo criminal: poluir o ar, por queimadas, prejudicar a
saúde pública, através dos gases resultantes das queimadas,
destruir áreas de preservação permanente ou de interesse
público, destruir a fauna ou a flora, são atividades criminosas,
sujeitando o infrator a prisão de até seis anos, dependendo dos
resultados agravados de seu ato;
b) indenização em dinheiro: além do processo criminal, o
infrator poderá ser condenado a indenizar o meio ambiente,
através da ação civil pública, e a indenizar o proprietário da
área atingida, por perdas e danos ocasionadas pelo fogo. Tais
indenizações são pecuniárias e podem atingir a grandes cifras
de dinheiro;
c) multas e penalidades alternativas, administrativas: além
de se sujeitar a processo crime, de indenizar os danos causados
ao meio ambiente e a terceiros, a pessoa envolvida na prática
de queimadas pode ser ainda multada pelo poder público em
valores que atingem cifras superiores a mil reais, ou se submeter
ao exercício de trabalho comunitário alternativo.
As queimadas colocam patrimônios em risco de incêndio ou
outros danos, são uma das grandes causas de acidentes,
inclusive com vítimas fatais e lesões graves e irreversíveis.
Proteja seu patrimônio,
Proteja sua vida,
Proteja a vida e a saúde de seus filhos,
Respeite o meio ambiente,
Tenha melhor qualidade de vida, vida mais longa e mais
saudável. Seja mais feliz:
Dê um basta às queimadas!
Denuncie quem as provoca ao Corpo de Bombeiros, à
Polícia Militar do Meio Ambiente, à Vigilância Sanitária ou
Secretaria de Saúde do seu município, ao CODEMA, nos
municípios em que existir, ao Promotor de Justiça Curador do
Meio Ambiente ou a ONGs atuantes. Mas não fique calado! Não
permita que destruam sua vida, a vida de seus entes queridos,
seu patrimônio e sua qualidade de vida.
A
INVERNO, FRIO E SECA - UMA MISTURA INCENDIÁRIA
frio chegou. Novas frentes frias estão chegando ao
litoral sul. Provavelmente devem trazer geadas para
nossa região. Com a natural seca do tempo frio, baixa
umidade do ar e matos ressequidos, chega o triste período das
queimadas. Neste ano, por uma generosidade natural, a
temporada de chuvas se estendeu até agora, reduzindo o risco
dos incêndios. No entanto, a seca tarda, mas não falha. É o
estopim das queimadas.
A despeito da ignorância da maioria a respeito, queimar
lotes urbanos é crime. Essa má técnica utilizada para limpeza,
está, em vários aspectos, enquadrada como atividade criminosa
na Lei dos Crimes Ambientais, com previsão de penas que
variam entre quatro meses e oito anos, dependendo da
gravidade do resultado que a queimada atingiu.
A queimada provoca morte e extinção de seres da
biodiversidade, como animais e plantas. Coloca no ar uma
quantidade perigosa de diversos tipos de poluentes, inclusive
alguns venenosos, como, por exemplo, o resíduo da queima de
plásticos, pneus, tintas, peças industrializadas, pilhas etc. Essa
poluição, somada à baixa umidade do ar, acarreta um visível
aumento de doenças nos seres humanos e em animais de
estimação. São doenças cardiorrespiratórias, alergias de amplo
espectro, doenças oculares, irritação de pele, vômitos, enjoos,
dores de cabeça... As principais vítimas, os idosos e os recém-
nascidos.
Há um vultoso aumento das internações hospitalares no
período. Socorros médicos são procurados de forma incessante.
Há prejuízos econômicos ao setor produtivo. A previdência, que
já se diz deficitária, arca com um volume enorme de prejuízos
em internações, atendimentos, exames e fornecimento de
remédios.
Prevenir, nos diz a sabedoria dos antigos, continua sendo o
melhor remédio. A ausência de poluição atmosférica
provavelmente reduziria os atendimentos médicos e hospitalares
em até 50%, ou mais, e representaria uma economia bastante
apreciável tanto ao setor produtivo como ao setor público. E
essas despesas são naturalmente contabilizadas aos
consumidores e aos contribuintes. O repasse final de qualquer
O
prejuízo, em qualquer esfera, é para o povo. A população,
como um todo, não apenas sofre os efeitos diretos e imediatos
em sua saúde e em sua qualidade de vida, como também em
seu bolso, já naturalmente extorquido pela economia recessiva
que maltrata o país.
Não bastasse isso, o acúmulo exagerado de gases efeito
estufa, na atmosfera, sofre uma maior pressão, contribuindo para
o aquecimento global e as naturais catástrofes que isso provoca.
Os jornais mostram diariamente o resultado desse desarranjo
natural: secas, tempestades e inundações, frio intenso em
algumas regiões, enquanto em outras o calor mata dezenas de
pessoas. Até o Brasil, país que se sentia imune ao ataque de
ciclones extratropicais vem sendo por eles vitimado.
Um ar mais limpo e puro proporciona uma condição
bastante melhor de existência, mais conforto, mais calma,
menos estresse. Vamos dar nossa contribuição para reduzir esse
mal que nos afeta ano após ano. Não faça queimadas. Não
permita que outros a façam. Denuncie os incendiários. Eduque,
quem estiver ao alcance de seu poder de persuasão para que
não as faça. Vamos melhorar nosso ar, nossa qualidade de vida
e nossa saúde e a de nossos filhos.
O conteúdo desse trabalho pode ser livremente copiado,
replicado, repassado, retransmitido, divulgado, publicado,
distribuído etc. para uso em atividades educacionais e/ou com
objetivo socioambiental. Mas, por favor, não o adultere e
sempre faça a citação da fonte. Caso queira contatar o autor,
escreva para [email protected].