MEMÓRIA & INFORMAÇÃO Fundação Casa de Rui Barbosa
O CONSERVADORO CONSERVADOR‐‐RESTAURADOR DE BENS CULTURAIS RESTAURADOR DE BENS CULTURAIS NA ADMINISTRANA ADMINISTRAÇÇÃO PÃO PÚÚBLICA BRASILEIRA:BLICA BRASILEIRA:
UMA ABORDAGEM HISTUMA ABORDAGEM HISTÓÓRIOGRRIOGRÁÁFICAFICA
Dr. Aloisio Arnaldo Nunes de Castro Restaurador – Museu de Arte Murilo Mendes
Universidade Federal de Juiz de Fora
Grupos de PesquisaGrupos de Pesquisa CNPqCNPq
LAPA –
Laboratório de Patrimônios Culturais
Vinculado ao Programa de Pós‐ graduação em História ‐
UFJF
Líder: Prof. Dr. Marcos Olender
ArCHE ‐
Arte, Conservação & História – Espaços
Vinculado ao Programa de Pós‐ graduação em Artes da EBA ‐
UFMG
Líder: Profa. Dra. Yacy‐Ara Froner
OBJETOOBJETO
Construção cultural da profissão do Conservador‐Restaurador de
Bens
Culturais
na
Administração
Pública
Brasileira (1855‐
1980).
Lacuna historiográfica
Tema
ainda
pouco
explorado
em
sua
dimensão
histórica,
em suas
temporalidades
e
em
suas
múltiplas
relações
com
as
instituições e com os variados extratos sociais.
Revisão historiogrRevisão historiográáficafica
Profa.
Maria
Justicia
sustenta
que
“a
reconstrução
da História
da
Restauração
daria,
sem
dúvida,
resposta
a
múltiplas
interrogações,
proporcionaria
novos
dados
e, consequentemente, nos livraria de muitos equívocos.”
Consoante
com
as
proposições
da
História
Cultural, busca‐se
ampliar
o
território
de
reflexão
crítica
acerca
dos
novos
temas
e
dos
novos
objetos
que
emergem
no seio das questões histórico‐culturais.
OperaOperaçção historiogrão historiográáficafica
Conservador‐Restaurador de Bens Culturais (sujeito histórico)
As reflexões da pesquisa procuraram delinear, numa perspectiva sócio‐ histórica a construção da profissão do Conservador‐Restaurador de
Bens Culturais, investigando:
a) Perfil de atuação;b) Seus modos de conduta; c) As práticas e os valores que caracterizaram a sua atuação.
Sociogênese da área de conhecimento
As relações que a profissão estabeleceu com o Estado, tendo em vista o
entendimento
da
participação
do
profissional
Conservador‐
Restaurador de Bens Culturais no espaço preservacionista brasileiro.
REFERENCIAL TEREFERENCIAL TEÓÓRICORICO‐‐METODOLMETODOLÓÓGICOGICO
História Cultural e a História da Ciência: exame das narrativas, etapas epistemológicas
Matrizes teóricas oriundas da Escola dos
Annales
Perspectiva historiográfica da Micro‐História italiana
Redução da escala de observação: análise das práticas sociais, por meio dos indícios, de
pormenores reveladores e dos itinerários individuais
Michel de Certeaux “Operação
historiográfica”
Marc Bloch
“Leitura dos
documentos”
Jacques Revel “Jogo de
escala”
Giovanni Levi
“Metáfora do
microscópio”
Carlo Ginzburg
“Paradigma
indiciário”
Roger ChartierRoger Chartier
Análise da construção cultural por meio da ação interativa das noções complementares:
“práticas”
e “representações”.
Identificar
“os
modos”
como em
diferentes
lugares
e
momentos
uma
determinada realidade
social
é:
construída,
pensada e dada a ler.
Pierre BourdieuPierre Bourdieu
Campus e habitus: categorias analíticas
Lente sociológica: ao trabalhar as diferentes acepções de capital
(capital cultural, capital simbólico, capital social e capital econômico)
Itinerários biográficos – percurso do ator social seja no âmbito ontológico, seja no âmbito social
campus campus e e habitus: habitus: categorias analcategorias analííticas de Pierre Bourdieuticas de Pierre Bourdieu
O espaço social da preservação do patrimônio cultural demarcado como: arena social, campo de conflito, de disputa.
deterioração
versus
preservação efêmero
versus perene
obsolescência
versus
modernidade esquecimento
versus
memória
Segundo Bourdieu:
Quem são os atores sociais que atuam no espaço social
demarcado pela preservação do patrimônio cultural?
Aportes teAportes teóóricorico‐‐metodolmetodolóógicos da gicos da ConservaConservaççãoão‐‐RestauraRestauraççãoão
Paul Philippot
A restauração na perspectiva da ciências humanas (1983)
Ao situar a Restauração em bases humanistas , Philippot nos forneceu um cenário de
entendimento teórico que salienta o caráter dialogal da atividade, como ação crítica, como ato
de cultura.
“Um fenômeno moderno de manter contato com os trabalhos culturais do passado.”
É
impossível separar “a pura decisão intelectual e a pura decisão material”.
Restaurador de painRestaurador de painééisis Segundo Reinado Segundo Reinado ‐‐18411841
Academia Imperial de Belas Artes ‐
AIBA
Félix Taunay
Ata da reunião de
15/01/1841 : “conveniência da criação de
diversos lugares como o de o restaurador de painéis para a conservação da Coleção Nacional
que vai‐se deteriorando.”
Matriz francesa
SEGUNDO REINADO (1840‐18889) Academia Imperial de Belas Artes
Contexto Histórico:
• 1855
‐
Manuel Araújo Porto Alegre, apoiado por D. Pedro II, iniciou ampla reforma na
AIBA.
• Reforma Pedreira: modernização da instrução pública no Segundo Reinado, aos
moldes europeus.
• modus operandi :
incorporação dos valores e práticas das chamadas “nações civilizadas”
• Formação de Porto‐Alegre
na Europa: École des Beaux‐Arts , Museu do Louvre
• 1855
‐
Criação
do
cargo
do
“Restaurador
de quadros
e
Conservador
da
Pinacoteca”
nos
estatutos da AIBA.
Reclamos pela conservaReclamos pela conservaçção e restauraão e restauraçção ão da Coleda Coleçção Nacional ão Nacional ‐‐
18541854
“São
estes
objetos
dos
quais
a
Academia
confia
na
solicitude
do
Governo de
Sua
Majestade,
adicionando‐lhes
a
lembrança,
já
diversas
vezes
apresentada,
da
criação
de
um
lugar
indispensável,
o
de
restaurador
de quadros
no
estabelecimento.
Há
muitas
peças
belas
da
Coleção
Nacional
que
necessitam
dos
acertados
reparos
de
uma
mão
hábil
para
não perecerem de todo.”
“Logo que concluir a Pinacoteca, e que aí
se colocarem os melhores painéis e
estátuas,
os
Professores
de
Pintura
e
de
Paisagem
terão
grande
alívio,
porque para lá
irão trabalhar os seus alunos, copiarem a gosto, e deixarem de estragar os painéis da coleção da casa, com o têm feito até
agora”.
Restaurador de quadros Restaurador de quadros e Conservador da Pinacotecae Conservador da Pinacoteca
Perfil profissional
Matriz francesa. École de Beaux‐Art e Museu do Louvre
Artista‐pintor, hábil artista
Meritocracia artística (Capital de honra)
Prevalência das práticas intervencionistas
Pintor histórico Carlos Luiz do Nascimento 1854‐1876
Pintor histórico Vasco José
da Silva 1876‐1889
Estabelecimento da “Oficina de Restauração”
1857‐
1888
“Ajudante de Conservador da Pinacoteca”
1860Prevalência de alunos da AIBA
Cargo ocupado por professores da AIBA, pintores históricos:‐
Carlos Luiz do Nascimento (1854)‐
Vasco José
da Silva (1876)
“Ajudante de Conservador da Pinacoteca”
(1860)
‐
Relação mestre e discípulo.‐
Prevalência de alunos da AIBA com melhor rendimento acadêmico.
“Oficina de Restauração”
(1857)
‐
Demarcação do primeiro lócus
de atuação do profissional na esfera pública
brasileira
Profissional qualificado como “artista‐pintor”, “hábil artista”.
Ênfase na meritocracia artística –
títulos e honraria acumulados nos Salões de Arte
(Capital de honra)
RESTAURADOR DE QUADROSRESTAURADOR DE QUADROSE CONSERVADOR DA PINACOTECAE CONSERVADOR DA PINACOTECA
RESTAURADOR DE QUADROSRESTAURADOR DE QUADROS E CONSERVADOR DA PINACOTECAE CONSERVADOR DA PINACOTECA
Matriz conceitual:
Modelo francês Peinter‐restaurater des tableaux
Repertório cultural de práticas e similitudes vinculados aos tratados
da disciplina “Arte da Restauração”, Subordinação ao campo da Pintura
Valoração do objeto:
Significado didático do acervo da “Coleção Nacional” Modelo para a execução de cópias as obras dos grandes mestres
Prevalência dos valores visuais, tendo em vista a práxis pedagógica
da AIBA
Academia Imperial de Belas ArtesAcademia Imperial de Belas Artes
O
marco
inaugural
da
instauração
da profissão
do
conservador‐restaurador
de
bens
culturais
no
Brasil
se
dá
no
âmbito das
práticas
pedagógicas
da
AIBA,
orientado
por
matrizes
do
dito pensamento europeu.
Como
instituição
de
ensino
artístico fundada
e
mantida
pelo
Estado,
a
AIBA
propicia
e
legitima,
em
meados
do
século XIX (1855), por meio da Reforma Pedreira, a
inserção
do
profissional
conservador‐
restaurador
de
bens
culturais na
esfera pública brasileira.
Contexto histórico:
Proclamação da República (1889)transformação na AIBA em ENBA
Propósitos democráticos republicanos
Renovação dos cânones artísticos
Atuação de Rodolfo Bernardelli na modernização do ensino artístico
ConservadorConservador
Conservador‐restaurador
Conservador‐restaurador 1901
Conservador‐restaurador – Pintura e Gravura 1911 Conservador‐restaurador ‐
Escultura 1911
Ajudante de Conservador‐restaurador
Perfil profissional: Artista‐restaurador, pintor‐restaurador , escultor‐ restaurador
Prevalência dos aspectos visuais: refrescamento, reentelamento, troca de chassis deteriorado, refazimento de partes faltantes,
retoques e repinturas Ampla
variedade
tipológica
de
objetos:
“gravuras,
estampas
de
arquitetura,
fragmentos
de
decorações
arquitetônicas,
coleções
de escultura, e outros ”.
Matrizes conceituraisMatrizes conceiturais:: O perfeito restauradorO perfeito restaurador Giovanni SeccoGiovanni Secco‐‐Suardo Suardo ‐‐
18941894
• O perfeito restaurador
deve
ser
um
pintor em toda a extensão do termo e versado em todas
as
práticas
de
arte.
Como
recuperar
as
peças
às
vezes
até
mesmo importantíssimas,
em
um
quadro
que
sofreu
danos,
e
restaurá‐los
de
tal
forma que
estejam
de
acordo
com
o
resto
de
modo
que
não
se
possa
distinguí‐los,
sem ser um verdadeiro pintor?
• Como
restaurar
pinturas
com
diversos sistemas,
a
óleo,
cola,
manuscritos
iluminados,
etc,
sem
saber
perfeitamente tudo o que está
relacionado a cada sistema
em particular?
Serventes e Guardas Serventes e Guardas
Contexto histórico:
1922:
criação do Museu Histórico Nacional.
Gustavo Barroso: Ideário exaltação dos grande feitos e heróis da
história brasileira.
Vertente nacionalista e patriótica.
Perfil profissional (1920‐1960):
Guardas e serventes: “Asseio e fiscalização”
Indivíduo dotado de habilidades manuais e artísticas
Atividades: higienização, reparos e restauração em variada tipologia
de objetos (livros, documentos, mobiliário, pinturas e gesso).
Conduta hierárquica: funcionários subalternos e de baixa
remuneração
Conservador de MuseuConservador de Museu MNBA MNBA ‐‐
19391939
Contexto histórico:
Era Vargas (1930‐1945)
Aparato burocrático do Estado:
“Colocar a Nação brasileira nos trilhos da modernidade”
Em
1937, ocorre :a) Estabelecimento da legislação brasileira de proteção ao
patrimônio –
Decreto‐Lei nº
25 ‐
1937; b) Criação do Museu Nacional de Belas Artes;c) Reforma administrativa nos quadros do serviço público
Ministério da Educação e Saúde: criação do cargo de Conservador de Museu.
Conservador de Museu Conservador de Museu 19391939
Matriz conceitual:
Conferência Internacional de Roma 1930.
Apropriação das matrizes teóricas do Escritório Internacional de Museus por meio da Revista Mouseion .
Detecta‐se o rompimento com os preceitos da Arte da Restauração .
Inaugura‐se o processo de construção do discurso científico da conservação‐
restauração, especialmente em relação à pintura de cavalete.
Valoração do objeto:
Reclamo pelo estatuto histórico do objeto ‐
esfera mitificada do museu
oficial.
Noção jurídica do objeto museológico –
tombamento das coleções .
Surgimento de protocolos e de produção técnica relativa à
preservação de
acervos museológicos.
Conservador de Museu:Conservador de Museu: Perfil profissionalPerfil profissional
Constatação da extinção do cargo de conservador‐
restaurador
nos quadros do serviço público federal.
Inserção da carreira de Conservador de museu .
Em 1939:
Realização do 1º. Concurso público
brasileiro para o cargo de Conservador de museu.
Caráter inovador da Monografia da candidata
Regina Liberalli
Rompe com os preceitos da “Arte da
Restauração”
praticada no âmbito da AIBA e ENBA.
Embasada em literatura técnica francesa, adota os
princípios da conservação‐restauração científica.
De linhas inéditas, o texto monográfico reclama a
autoridade científica da conservação‐restauração
como domínio subjacente ao campo da Museologia.
AtuaAtuaçção de Gustavo Barrosoão de Gustavo Barroso
Matriz conceitual:
Demarca‐se a forte influência do Escritório
Internacional de Museus por meio da Revista Mouseion
Em 1947, publica “Introdução à
Técnica de Museus”.
Subordinação da Conservação‐Restauração ao campo
da Museologia: descreve procedimentos de conservação‐restauração
Aulas práticas de restauração no acervo do MHN
Valoração do objeto:
Defende a proteção das “relíquias do passado”
“Objetos gloriosos”
Excelência histórica e artística
Perfil do restaurador:
requer duas virtudes essenciais –
paciência e modéstia.
Perito em Belas ArtesPerito em Belas Artes 19441944‐‐1960 1960
Em 1944, Edson Motta é
convidado por Rodrigo
de Melo Franco para ocupar o cargo de Perito em Belas Artes, da então DPHAN.
De 1945‐47, faz estágio no Fogg Art Museum,
Universidade de Harvard, recebendo formação tipicamente norte‐americana calcada nos
chamados “Estudos Técnicos”.
Em 1948, Edson Motta cria o Laboratório de
Restauração de Papel na Biblioteca Nacional e restaura gravuras da Seção de Iconografia.
Em 1951, cria a disciplina “Teoria, Conservação
e Restauração da Pintura”
na EBA – UFRJ, considerada pioneira na América do Sul.
Matriz americana: Introduz a “liturgia da
conservação‐restauração científica no Brasil”.
Edson Motta:Edson Motta: RestauraRestauraçção pelo vião pelo viéés dos estudos dos materiais arts dos estudos dos materiais artíísticossticos
Filosofia de trabalho:Filosofia de trabalho: LLóógica da racionalidade: gica da racionalidade: AplicaAplicaçção da encaão da encaúústica stica
Setor de ConservaSetor de Conservaçção e Restauraão e Restauraçção de Pinturas, Esculturas, ão de Pinturas, Esculturas, Talhas, Impressos e Manuscritos. Talhas, Impressos e Manuscritos. DPHAN DPHAN ––
ddéécada de 1960cada de 1960
Visão racional e metodizada: Visão racional e metodizada: criacriaçção/adaptaão/adaptaçção de equipamentos de trabalhoão de equipamentos de trabalho
João José Rescala
Perito em Belas Artes Pintor pela ENBA Formação com Edson Motta Largo desempenho no Nordeste brasileiro
Em 1956, cria a disciplina de “Teoria,
Conservação e Restauração de Pintura”
na EBA – UFBA
Técnico no IPHAN
Jair Afonso Inácio
Pintor amador de Ouro Preto
Em 1956, formação inicial com Edson Motta na DPHAN
Em 1961, bolsa de estudos para o IRPA – Bélgica, tendo sido orientado por Paul
Coremans
Grande atuação no
patrimônio barroco mineiro
Em 1970, cria o primeiro curso
brasileiro de formação de restauradores na Fundação de
Arte de Ouro Preto ‐
FAOP
Década de 1950 Aspecto de restauração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária. Itu ‐
São Paulo ‐
1957
Conservador do Patrimônio HistConservador do Patrimônio Históórico e Artrico e Artíísticostico 1960 1960
Contexto:
regime
militar
Reforma
nos
quadros
do
serviço público federal
Valoração:
de
cunho
positivista,
ou
seja,
obras
de
arte
que alcançaram a excelência histórica e artística.
Acervos: históricos, militares e eclesiásticos.
Prática
intervencionista:
reposição
de
partes
faltantes, refazimento de pátinas e reintegração cromática.
Aspecto da aula prática do Curso de Conservação e Restauração de Obras de Arte
(extensão universitária) realizada no Gabinete de Restauração.
Museu Histórico Nacional ‐
Junho de 1968.
TTéécnico em Assuntos Culturais cnico em Assuntos Culturais Regime Militar (1964‐1985) Etapa tecnicista, criação dos laboratórios pioneiros
Aportes
teóricos
dos
cientistas
Garry Thomson e Giorgio Torraca ingressam no campus
acadêmico.
Investigações
no
contexto universitário brasileiro.
Implantação
dos
laboratórios
pioneiros de
conservação
e
restauração
nas
instituições
públicas
detentoras
de acervos.
Implantação
dos
laboratórios
de conservação
e
restauração
em
instituições
de
ensino
universitário
com objetivos pedagógicos.
Ênfase no arsenal técnico‐científico e no estabelecimento
de
metodologias
de
trabalho.
DDéécadas de 1970 e 1980cadas de 1970 e 1980 CriaCriaçção dos laboratão dos laboratóórios de conservarios de conservaççãoão‐‐restaurarestauraççãoão
A
partir
da
década
de
1970,
as
linhas
de
trabalho
pautam‐se, notadamente,
no
conceito
europeu,
seja
pelo
despertar
advindo
das
experiências
da
enchente
de
Florença
(1966),
seja
pela
formação pioneira dos restauradores brasileiros em centros europeus.
O
arsenal
tecnológico,
os
equipamentos
científicos,
as
instalações
e mobiliários específicos atuam como elementos constituintes do espaço simbólico e de afirmação do habitus
profissional, do capital intelectual.
São
também
legitimadores
de
uma
categoria
profissional
que buscava,
de
modo
insistente,
um
lugar
de
reconhecimento
no
espaço
social preservacionista (campus).
ConservadorConservador‐‐restaurador de bens culturais mrestaurador de bens culturais móóveis:veis: Abertura polAbertura políítica e tica e redemocratizaredemocratizaçção Brasileira ão Brasileira
Gestão de Aloisio Magalhães no IPHAN
(1979‐1981).
“Fase moderna”: mudança de paradigma
conceitual.
Adoção do conceito antropológico de
cultura.
Substituição da noção de “patrimônio
histórico e artístico”
por “bem cultural”.
Em 1980:‐
Adoção da designação de Conservador‐
Restaurador de Bens Culturais
por meio de proposição elaborada por Maria Luísa
Guimarães Salgado;‐
Criação do Centro de Restauração de Bens
Culturais
do IPHAN
DDéécada de 1980:cada de 1980: associativismo e participaassociativismo e participaçção da sociedade civilão da sociedade civil
1980, criação da ABRACOR.
Representação da categoria, congressos: fórum de discussão.
1987, criação da ACCR.
1988, a ABRACOR traduz e publica a Carta de Copenhagen:
“Conservador‐restaurador: a definição de uma profissão”.
1989, criação da ABER.
1986, Destacada atuação da VITAE – Apoio à
Cultura, Educação e Promoção Social.
ANO DESIGNAÇÃO DO PROFISSIONALDEMANDA
INSTITUCIONAL
1841 Restaurador de painéis AIBA
1855 Restaurador de quadros e Conservador da Pinacoteca AIBA
1860 Ajudante de Conservador da Pinacoteca AIBA
1890 Conservador ENBA
1911 Conservador‐restaurador (gravura e pintura)Conservador‐restaurador (escultura)Ajudante de conservador‐restaurador
ENBA
1915 Conservador‐restaurador (seção de pintura)Conservador‐restaurador (seção de escultura)
ENBA
1922 Serventes e Guardas MHN
1937 Conservador de Museu MES
1944 Perito em Belas Artes DPHAN
1960 Conservador do Patrimônio Histórico e Artístico A e BAuxiliar de Conservador do Patrimônio Histórico e ArtísticoPreparador de Museu
DPHAN
1973 Técnico em Assuntos Culturais IPHAN
1980 Conservador‐Restaurador de Bens Culturais IPHAN
CONCLUSÃOCONCLUSÃO
Como
decifrar
os
enigmas
que
permeiam
a
trajetória histórica
do
conservador‐restaurador
de
bens
culturais
na esfera pública brasileira?
O
que
subjaz
nos
itinerários
biográficos
dos
agentes sociais
que
se
dedicaram
à tarefa
de
conservar,
reparar,
reconstituir,
recompor
e
restaurar
os
vestígios
materiais de um passado histórico?
CONCLUSÃOCONCLUSÃO
Pensar
a
construção
social
do
trabalho
do conservador‐restaurador
de
bens
culturais
a
partir
da
trama
complexa
que
envolve
o
habitus
do
ator social
e
a
compreensão
do
mercado
de
trabalho
como
campus
permite,
portanto,
responder
às indagações suscitadas.
CONCLUSÃO CONCLUSÃO
Construção histórica: lenta, fragmentada e heterogênea
Na busca de uma epistemologia da prática profissional a pesquisa aponta para a percepção de um “não lugar”
Constatação de sua vaga e imprecisa visibilidade social da profissão
Memória silenciada e inexplorada
nos fundos documentais
CONCLUSÃOCONCLUSÃO
CONCLUSÃOCONCLUSÃO
A Reforma Pedreira (1855) constitui‐se como marco institucionalizador e legitimador da inserção do
“Restaurador de quadros e Conservador da pinacoteca”
na esfera pública brasileira.
Profissão que ao longo de 159 anos existe “de fato”, todavia, não existe “ de direito”.
Constatação da vaga visibilidade social e do restrito reconhecimento político.
CONCLUSÃOCONCLUSÃO Matrizes teMatrizes teóóricasricas
Identificação de matrizes teóricas que balizaram a construção do espaço social preservacionista
brasileiro
Período Histórico
Matriz conceitual Espaço Social
1855‐1939 Arte da Restauração AIBA e ENBA
1939 ‐1944 Escritório Internacional de Museus
MEC
19471961
Estudos Técnicos SPHANDPHAN
CONCLUSÃOCONCLUSÃO Perfil profissionalPerfil profissional
Constatação
do
caráter
heteregôneo,
no
que
diz
respeito
à
posse
de capital cultural, capital de honra, capital econômico.
habitus: dom, virtudes e meritocracia artística.
Profissional
preocupado
em
dar
conta
dos
problemas
de
natureza visual
emanados
do
objeto
deteriorado,
sem,
contudo,
resolver
as
questões científicas relativas à
preservação do bem cultural.
Tom
de
mistério,
ocultismo
e
segredo
de
trabalho
em
que
esteve circunscrita a profissão.
Perfil
multifacetado:
atuação
numa
extensa
variedade
tipológica
de objetos, em distintos suportes materiais.
CONCLUSÃOCONCLUSÃO ValoraValoraçção do objeto a ser preservadoão do objeto a ser preservado
Prevalência da noção didática da Coleção Nacional no âmbito da AIBA e ENBA.
Demarcação do estatuto histórico do objeto material, tendo em vista o processo de institucionalização:
a) dos museus oficiais (MHN, MNBA);b) do organismo oficial de preservação do Estado brasileiro
(SPHAN/DPHAN/IPHAN).
CONCLUSÃOCONCLUSÃO:: capital culturalcapital cultural
No
que
se
refere
à
proposição
de
identificar
o
perfil
profissional
do
conservador‐restaurador,
deparamo‐nos
com
a
configuração
de
um
quadro heterogêneo e complexo, no qual se verificam grandes contrastes.
Se
Carlos
Luis
do
Nascimento,
o
primeiro
Restaurador
de
quadros
e
Conservador
da
pinacoteca
da
AIBA,
gozava
de
certo
prestígio
na
estrutura hierárquica
da
AIBA,
ao
ponto
de
ser
agraciado
com
honrarias
pelo
sistema
acadêmico,
tal
distinção
social
não
é conferida
aos
demais
conservadores‐ restauradores que o sucederam.
Ao
contrário,
percebe‐se
na
trajetória
subsequente
que
os
alunos
e
professores que ocupavam o cargo de conservadores‐restauradores da AIBA e ENBA não eram aqueles possuidores de maior destaque na estrutura acadêmica e competitiva característica daquelas unidades de ensino artístico.
Isso
conferiu
um
sentido
secundário
e,
de
certo
modo,
depreciativo
à
profissão
de
conservador‐restaurador.
Em
outras
palavras,
naquele
cenário
o conservador‐restaurador
poderia
ser
interpretado
como
um
indivíduo
de
insucesso em sua carreira artística.
CONCLUSÃO:CONCLUSÃO: mudanmudançça de paradigmasa de paradigmas
Do empirismo à
cientificidade, a trajetória do conservador‐ restaurador
de
bens
culturais
no
Brasil
foi
socialmente
construída em meio ao jogo de permanente tensão entre a memória e o esquecimento, bem como entre a condição de artista e os reclamos de prática científica.
CONCLUSÃOCONCLUSÃO: : capital econômicocapital econômico
No
que
concerne
à análise
do
capital
econômico
apresentado
pelos conservadores‐restauradores,
ao
longo
das
distintas
temporalidades
pesquisadas,
os
dados
levantados
nesta
pesquisa
apontaram
para
a configuração de um quadro com valores salariais díspares.
Conforme
investigado,
Carlos
Luis
do
Nascimento
recebia
um
salário
que
o
inseria numa posição intermediária na sociedade carioca oitocentista.
Todavia, num salto temporal para o século XX, verifica‐se que os salários pagos
pelo
governo
federal
não
eram
atrativos
nos
anos
sessenta.
Em
1961,
os vencimentos
que
Jair
Afonso
Inácio
recebia
da
DPHAN
eram
inferiores
ao
salário mínimo vigente.
Já
em maio de 1974, os restauradores do IPHAN recebiam Cr$ 1.200,00, ou seja,
o
equivalente
a
3,18
salários
mínimos
da
época,
então
considerados
baixa remuneração
a
ponto
dos
restauradores
graduados
pela
Escola
de
Belas
Artes
da
UFRJ
abandonarem
a
profissão
para
optar
pela
carreira
de
datilógrafo,
da qual receberiam uma remuneração 40% maior.
CONCLUSÃOCONCLUSÃO: :
A
operação
historiográfica
aponta
para
o
surgimento
da profissão do Conservador‐Restaurador de Bens Culturais na esfera pública brasileira, há
exatos 159 anos.
Constatação da vaga visibilidade social e do restrito reconhecimento político.
Na perspectiva contemporânea, trava‐se a luta dos agentes sociais
pela
regulamentação
da
profissão
que
em
suas
raízes
históricas
contabiliza,
de
fato,
um
século
e
meio
de exercício não oficialmente reconhecido.
Conclusão: Conclusão: construconstruçção cultural da profissãoão cultural da profissão
À luz
do
pensamento
bourdieusiano,
concluímos
que
a construção cultural do profissional Conservador‐restaurador de bens culturais foi (e será) forjada, cronologicamente, em meio:
a)
apropriação
do
conhecimento
científico
como
base normativa da área de conhecimento;
b)
implementação
de
laboratórios
e
núcleos
de
conservação‐ restauração;
c) criação de associações de representação da classe;
d) implementação da graduação universitária em Conservação‐
Restauração de Bens Culturais (REUNI);
e)
luta
pela
regulamentação
da
profissão
do
Conservador‐
restaurador de bens culturais no País.
Tal
modus
operandi
conferiu
à
profissão
a
construção
de
um
novo padrão
identitário
que
–
associado
à posse
de
conhecimentos
técnicos,
científicos
e
humanistas,
assim
como
ao
ideal
de
serviço
à coletividade
–
travou
a
busca
do
seu
reconhecimento,
imprescindibilidade
funcional
e
legitimação
no
mundo
social
do trabalho.
Muito obrigado! [email protected]
Do restaurador de quadros ao conservador‐restaurador de bens culturais:
o corpus operandi
na administração pública brasileira de 1855 a 1980
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