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escrito por Raquel Resende
O espírito escolar
Em São Bernardo do Campo, cidade do estado de São Paulo, existe uma escola muito antiga em que os alunos juram
ouvir barulhos estranhos e misteriosos durante as aulas. É uma escola muito grande onde a movimentação das pessoas
ocorre por meio de escadas e rampas.
A estrutura das escadas e das rampas é de ferro e o
chão de madeira.
Certa vez, Luca, um dos alunos do 4º ano, e seu amigo Frederico foram ao banheiro, e escutaram um barulho na rampa da escola,
como se alguém estivesse pisando fundo no chão de madeira ou até mesmo correndo.
Quando eles olharam, a rampa toda estava vazia.
Outro dia, a turma de Pati estava no recreio e a menina desceu até sua sala para pegar o lanche que havia esquecido. Ao chegar à porta da sala, ouviu um barulho de cadeira sendo arrastada. Ela estranhou e abriu a
porta lentamente. Ao entrar, o barulho cessou.
Como estava muito escuro porque todas as cortinas estavam fechadas e era um dia
nublado, ela acendeu a luz ...
A sala estava do mesmo jeito como ela achou que estava assim que a turma saíra.
Foi pegar seu lanche na mochila. Ao abrir a mochila, sentiu um sopro em sua nuca e ouviu
um barulho muito alto de algo caindo no chão. Ela se assustou e ao olhar para trás, a
cadeira da professora estava caída, mas não havia mais ninguém na sala.
Na semana passada, era semana do dia das crianças, todas as salas estavam fazendo atividades diferentes
da rotina. Em uma sala, a professora deixou os alunos livres para
brincarem com os jogos da turma. Um grupo de 4 alunos se reuniu no fundo da sala para brincar da
brincadeira do compasso. Eram dois meninos e duas meninas.
Eles começaram a brincar, aproveitando que a professora estava ocupada com
outro grupo ensinando uma brincadeira com baralhos.
Outro aluno, o Tininho, que era o mais bobinho da turma, estava encarregado de
ficar vigiando caso a professora se aproximasse.
Pepe era o líder da brincadeira, ele mesmo que levou a ideia porque seu primo mais velho tinha lhe ensinado e ele achou que seria bacana assustar os amigos. Pepe
começou a explicar o jogo:
– O meu primo me ensinou que a gente
tem que cortar as letras do alfabeto. Mas
como a gente está sem tempo, vamos
fazer tudo numa folha mesmo.
Pepe arrancou uma folha no caderno e
desenhou um círculo com todas as letras
do alfabeto em volta.
– Agora, escrevemos as palavras “SIM” e
“NÃO” – ele foi escrevendo enquanto dizia.
Pepe colocou a folha no chão e olhou para a professora. Ela estava olhando para a rodinha
deles. Ele sorriu como se não estivesse fazendo nada de errado e ela voltou a explicar o jogo aos
outros alunos.
Em seguida, ele tirou o compasso do bolso e colocou a ponta com a agulha
no centro do círculo, pousou o dedo em cima do compasso, olhou para os
amigos na roda e perguntou:
– Estão todos preparados?
Todos responderam que sim.
O garoto, então, fez a primeira pergunta
ao compasso:
– Existe algum espírito entre nós?
O compasso girou uma volta completa e
parou na palavra
Sem contar a ninguém e sem que ninguém
percebesse, Pepe havia forçado o
compasso para parar nesta palavra.
– Acho que não deu tempo do
espírito chegar ainda – caçoou Cícero,
o outro menino que estava na roda.
Todos riram, menos Pepe.
– Não se deve brincar com essas
coisas, Cícero. – disse Pepe para colocar
mais medo nas meninas.
Ele continuou com a pergunta:
– Existe algum espírito entre nós?
Pepe sentiu seu dedo ficar leve, ele tentava
forçar o compasso, mas não conseguia mover o
objeto.
O compasso virou em direção a palavra
Uma das meninas queria participar:
– Seja bem vindo espírito, eu me chamo
Caca, você é um homem ou uma mulher?
O compasso seguiu até a direção de uma letra
– E qual o seu nome? – perguntou
Cícero.
O compasso girou e começou a marcar as
letras
Pepe interrompeu:
– Gente, tem algo errado nisso aqui,
eu não consigo tirar o meu dedo.
– Como assim, Pepe? – disse Cícero, pegando no braço do amigo.
Ele forçou, mas também não conseguiu mover o braço dele, era como se o dedo de
Pepe estivesse grudado no compasso.
– Você colou seu dedo nisso? –
perguntou Caca.
– Não! – dizia Pepe enquanto
continuava a puxar o braço.
– Não quero mais brincar com isso
– disse Lila que já ia se levantando
quando Pepe quase gritou para ela:
– Não, você não pode sair sem a
permissão do espírito. Senta logo, antes
que a professora perceba.
A garota se sentou. E perguntou:
– Eu posso sair?
Claro que o compasso girou em direção a
palavra
A menina olhou feio para Pepe.
– Não me olha assim, eu
também quero sair – disse o
menino quase chorando.
De repente, o compasso girou marcando letra
por letra formando a seguinte frase:
Todos olharam para Pepe.
– A professora vai brigar com a
gente se a gente não parar –
disse Caca.
Pepe começou a chorar e abriu o jogo:
– Era mentira gente, eu queria assustar vocês,
mas agora eu não consigo tirar meu dedo desse
compasso e estou com medo. Acho que isso é
real, eu quero parar. Eu quero parar.
Todos começaram a ficar desesperados.
Caca então disse:
– Espírito, faremos o que quiser, mas nos
deixe sair agora do jogo.
O espírito girou o compasso formando a palavra
Todos prometeram, logo o dedo de Pepe se
soltou do compasso.
Ele enxugou as lágrimas do rosto, se levantou e
pediu para a professora para deixa-lo ir ao
banheiro. A professora permitiu e não percebeu
que o olho de Pepe estava vermelho porque ele
escondeu o rosto.
Ao chegar ao banheiro, Pepe lavou o
rosto e secou com o papel.
Quando estava saindo do banheiro, uma
mulher com roupas estranhas estava parada na porta.
Ela olhava para ele, Pepe estranhou, mas
ainda teve coragem para perguntar:
– Está perdida, moça?
Ela balançou a cabeça negativamente.
Pepe estendeu a mão para ela, dizendo:
– Eu sou o Pepe, posso te ajudar
em alguma coisa?
A mulher sorriu para ele, estendeu o
braço e apertou a mão de Pepe, dizendo:
– Meu nome é Joana. E você me
deve um favor.
Pepe não voltou para a sala. Depois de um tempo, a professora mandou Cícero atrás
do amigo, mas ele não o encontrou. Pepe nunca mais foi visto. Ninguém soube
explicar o seu desaparecimento. Mas Cícero, Caca e Lila desconfiavam do
que havia acontecido ao amigo. Eles nunca contaram nada porque ficaram
com medo de serem considerados culpados.
Anos mais tarde, em seu último ano nessa
escola, Caca soube de uma história que
aconteceu há muito tempo. Dizia uma
amiga dela:
– Os alunos dizem que esses barulhos estranhos são feitos pelo espírito de uma
professora que foi encontrada morta dentro do banheiro dos meninos há muitos anos atrás. Minha mãe teve aula com ela e me
disse que essa professora era muito novinha, muito boazinha, tanto que os alunos faziam o
que queriam na aula dela.
Até que um dia – continuou a amiga. - Um grupo de garotos queria assustar essa
professora. Um deles fingiu estar morto no banheiro, os outros correram para a sala de
aula dizendo que havia sido um acidente. Essa professora saiu correndo para ajudar o
aluno, mas no meio do caminho, ela escorregou sob o piso molhado e bateu a
cabeça com muita força.
Os alunos perceberam que ela estava morta quando o sangue começou a escorrer pelo chão.
Eles voltaram para a sala e fizeram a turma inteira prometer que não sabiam de nada e que
nada daquilo havia acontecido. Ninguém falou a respeito, e como esses alunos
nunca foram punidos pelo crime, o espírito dessa professora fica vagando pela escola procurando
por alunos que brincam o tempo todo e não estudam.
– Você sabe como se chamava essa
professora? – Caca perguntou sentindo
um arrepio no braço inteiro.
A amiga respondeu:
– Sei sim, eles vivem mudando o nome
dela com o passar dos anos, mas minha
mãe me disse que a professora se
chamava ...
Joana