Download - O Homem e a Mente
O HOMEM
e
a MENTE
Ensaio de
Vítor de Figueiredo, FRC
Vítor de Figueiredo, FRC
Círculo do Graal
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 1
O HOMEM
e A MENTE
UMA ABORDAGEM PSICOLÓGICA E
ESOTÉRICA
ENSAIO
VITOR DE FIGUEIREDO
FRC
LISBOA – 1999
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 2
INTRODUÇÃO
Entre as várias funções que o Autor desempenhou, como membro e
trabalhando na Grande Loja dos Países de Língua Portuguesa da Antiga e Mística
Ordem Rosacruz - AMORC, em Curitiba - Paraná, Brasil, de antiquíssima tradição,
fundamentada no Egipto antigo - durante cerca de 10 anos naquela Organização, o
Autor desenvolveu intensa actividade em Publicidade, Marketing e Relações
Públicas, destacando-se como conferencista, e dando Cursos e Palestras do foro
espiritualista e esotérico sobre controlo Mental, Aura Humana, Poder da Mente,
Reencarnação, Carma, etc.
Tendo cedido os direitos autorais para o Brasil à referida Ordem, esta editou
a primeira parte deste Ensaio num folheto para venda aos seus membros,
conjuntamente com outros, titulados como “Série N de Discursos”, adaptando-o ao
Português praticado na escrita do Brasil. Do mesmo modo, a segunda parte foi
editada, certamente pelo seu carácter esotérico, apenas para leitura nas
“Convocações” (rituais) dos Templos que a Grande Loja possui no Brasil e em
Portugal, denominados Lojas, Capítulos e Pronaoi.
Depois de o autor ter regressado a Lisboa em 1986, este Ensaio fez parte da
colectânea de artigos publicados no "Jornal do Incrível", denominada “A Vista da
Pirâmide”.
Lisboa, Julho de 1999
Vitor de Figueiredo, FRC
***
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A PSICOLOGIA E A MENTE
Duas questões básicas, embora contraditórias, motivaram a análise que nos
propomos fazer neste trabalho. Foram-nos colocadas por um leitor, através da secção de
correspondência de que éramos responsáveis no dito jornal de Lisboa.
1ª QUESTÃO
O "INCONSCIENTE" E FREUD
"Algumas pessoas perfilham radicalmente a ideia de que, por influência de
Freud, nossos actos são determinados pelo "Inconsciente", não podendo as mesmas
controlá-los sem a intervenção de psicanalistas, e recorrendo, muitas vezes, a astrólogos
e a videntes. Devido a esta crença, essas pessoas crêem poder libertar-se das culpas e
das responsabilidades das suas más acções, atribuindo-as às "maquinações" do
"Inconsciente", e tornando-se, assim, de culpados em vítimas."
2ª QUESTÃO
O "PODER DA MENTE"
"À situação exposta, contrapõem certos críticos a possibilidade de os místicos, e
mesmo quaisquer outras pessoas, usarem o poder da Mente, que julgam poder dominar
os traumas e frustrações que as pessoas retêm no seu "Inconsciente". Por outras
palavras, concluem que, através do seu Subconsciente e de pensamentos positivos, as
pessoas podem modificar situações adversas, eliminar as perturbações psíquicas e seguir
o caminho que desejam, pois é o Homem que constrói o seu destino e que é responsável
pelos seus actos, pela felicidade ou infelicidade."
***
Em decorrência destas duas questões, apercebemo-nos de que um número
considerável de pessoas acredita num determinismo, ou fatalismo, baseados no poder do
"Inconsciente" Freudiano, contra o qual pensam nada poder fazer, excepto recorrer aos
psicanalistas, astrólogos e videntes. Inevitavelmente, esta crença traz para essas pessoas
maior sofrimento e infelicidade, sobretudo porque, supomos nós, só uma mínima parte
dessas pessoas poderá vir a receber auxílio psicanalítico ou psicológico adequados, quer
por dificuldades económicas, quer por receio de submeterem suas perturbações mentais,
de foro íntimo, aos psicólogos, como ainda ocorre. Por outro lado, a recorrência a
videntes e magos, poderá perturbá-las ainda mais, pois estes, obviamente, raramente
sabem tratar sujeitos com problemas do foro psíquico, e só em casos raros poderão ser-
lhes úteis.
O problema parece-nos, fundamentalmente, da área psíquica e, por
consequência, intrinsecamente mística. Como não temos formação académica em
Psicologia, nossa abordagem visa, apenas, uma análise muito superficial do ângulo
psicanalítico do tema e, tanto quanto possível, sua correlação com os aspectos
psicomentalistas e místicos. Deste modo, e por que supomos a maioria dos leitores um
tanto distanciados da problemática psicológica que está na base deste ensaio,
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entendemos útil, mesmo sumariamente, trazer aqui alguma informação. Assim, faremos
uma breve análise e algumas considerações auxiliares sobre Freud, assim como sobre a
significação de "Inconsciente" e a nossa visão particular sobre eles.
Por razões da nossa formação autodidáctica e de opção espiritualista e mística,
tivemos, durante longo tempo, uma certa relutância em considerar a Psicologia, de
modo geral, e a Psicanálise, em particular, como processos humanísticos e terapêuticos
capazes de entender e de resolver as múltiplas complexidades e perturbações da psique
humana. Baseávamo-nos, então, de maneira firme, no facto da Psicologia, (após a sua
rotura com a Filosofia e autonomia como ciência), assim como a Psicanálise, terem
adoptado, logo desde as primeiras correntes estruturalistas e behavioristas, uma visão e
metodologia empíricas, em moldes estritamente científicos. Cremos que isto foi
resultante da poderosa influência do modelo mecanicista e dualista de Descartes
(Corpo-Mente) e de Newton, com seu rigor e objectividade pragmáticos.
Essa visão e metodologia condicionaram sempre, também, a perspectiva das
outras ciências, o desenvolvimento da Física Clássica (hoje já liberta), e a Medicina
Alopática, por exemplo, que ainda hoje não tem a necessária compreensão holística do
Homem e vê o corpo apenas como uma máquina química e biológica, sem considerar a
Mente distinta do cérebro.
Não obstante, uma palavra de advertência sobre este modelo Cartesiano-
Newtoniano deve ser dita. Descartes e Newton eram profundamente místicos e
Rosacruzes, e a influência que exerceram no foro pragmático e empírico das ciências
deve-se à má e parcial interpretação dos seus postulados, e não porque eles assim o
desejassem em suas teorias e conceitos.
Posta esta introdução, essencial e transparente da nossa posição pessoal,
iniciaremos a abordagem do problema.
A MENTE - O CONSCIENTE E O "INCONSCIENTE"
O "Inconsciente" foi um termo aparentemente criado por Freud, aplicável à base
da sua "Psicologia Afectiva" ou "da Profundidade". Vamos encontrá-lo, já dotado de
grande significado, em Nietzsche, e na Filosofia, no final do Século XVIII, como
herança dos antigos místicos. E, recuando mais, em Platão, no qual, possivelmente,
Freud se inspirou.
Para podermos definir este vocábulo, temos de falar do seu oposto, o
"Consciente" Freudiano, sem o qual não teria sentido. Ambos os termos nos levam a
falar da Mente, palavra cuja compreensão (por se tratar de algo abstracto) é
particularmente difícil para quem não tenha uma orientação místico-filosófica; e, por ser
algo de difícil visualização, ela é, vulgarmente, confundida com o intelecto e com o
cérebro humanos.
Em princípio, podemos dizer que a Mente compreende tanto o aspecto que se
expressa no Homem como Consciência Interior, dita Subconsciente (sinónima de
"Inconsciente"), quanto o aspecto exterior, vigilante, dito Consciente, ou Consciência
Objectiva. Por outras palavras, tentando simplificar, estes são, no Homem, os dois
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campos antinómicos, principais, de actividade da Mente. Esta transcende muito - como
deverá deduzir-se - qualquer analogia com o cérebro, com o qual nada a identifica, a
não ser pelo facto de o cérebro humano utilizar a Mente parcialmente. Pela sua natureza
Cósmica, ela não é, também, estritamente ligada ao ser humano ou nele individualizada
e, sim, um elo permanente e universal de contacto com todos os homens, e como que
uma teia invisível, porém real, que inter-relaciona todos os seres vivos.
Um outro aspecto é o de que todos os órgãos do corpo humano, incluindo o
cérebro, são mortais, ao passo que a Mente, fazendo parte da Alma Universal e da
personalidade anímica do Homem, é imortal. A experiência demonstra que a Mente está
activa, quer nas funções involuntárias dos seres vivos (o bater do coração, a respiração,
a circulação do sangue, etc.), quer mesmo depois do término destas funções, isto é,
depois de declarada a morte cerebral.
Queremos observar que, em rigor, não existe propriamente algum estado que
possamos designar por morte; ocorre uma transformação, ou como os Rosacruzes da
AMORC consideram, uma transição de um estado ou plano vibratório, relativamente
denso, para um outro mais subtil, mais elevado.
Podemos afirmar ainda, seguramente, que a Mente Universal, sendo parte da
indefinível Inteligência, ou Consciência, de Deus - com a qual todos estamos em
permanente contacto, em maior ou menor grau - é uma Energia ilimitada, infinita, de
elevada frequência vibratória, infusa em todo o espaço terreno, planetário e cósmico. É
invisível e imensurável, pelos meios físicos de que a Humanidade dispõe actualmente,
mas pode ser percebida pelas faculdades subjectivas de qualquer pessoa que saiba usar
técnicas de harmonização, ou pela intuição, meditação, etc.
Julgando suficiente esta tentativa de definição da Mente, pelo ponto de vista
metafísico, parece-nos interessante avaliarmos agora, através de alguns exemplos, a
conceituação e divisões que algumas correntes psicológicas, instituições espiritualistas e
psicólogos reconhecidos aplicaram à Mente, em relação à possibilidade humana da sua
percepção.
Para facilitar a compreensão do leitor, criámos uma imagem fictícia e arbitrária
para uma possível concepção racional:
Imagine, como sendo o seu "mundo mental", um pequeno prédio, com um porão
escuro, fechado, ligado por uma escada interior ao piso térreo, onde habita. Imagine
também que a grande maioria das pessoas (99% da Humanidade) vive no piso térreo de
suas casas, que é a sua consciência desperta, activa, ignorando a existência do porão, o
Subconsciente, bem como a escada interna de acesso, a qual está fechada com uma
resistente porta, atrás de um pesado móvel. Há outros andares, acima, mas estão
dissimulados por fora e pelo interior do prédio, motivo por que os julgamos
inexistentes. Normalmente, também, não vemos nunca uma outra escada interior que
leva do térreo àqueles pisos superiores. Esta escada foi tapada e pintada da cor da
parede e é, assim, praticamente invisível.
Agora, considere e memorize os símbolos seguintes, que vamos usar para as
divisões da Mente, segundo a terminologia usada pelos psicólogos, correntes e
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instituições que anteriormente referimos, em analogia com os pisos do prédio
imaginado:
Letra "P": o porão do prédio;
Letras "EP": escada do térreo ao porão; e
Letras "PT": o piso térreo.
Estas divisões referem-se aos níveis da Mente Cósmica (ou Consciência
Cósmica) passíveis de alcance pelo Homem, e onde os vocábulos “Inconsciente” e
“Subconsciente” se equivalem.
Em FREUD:
"P" é o "Inconsciente Pessoal";
"EP" é o "Pré-Consciente";
"PT" é o "Consciente".
Na conceituação de JUNG:
"P" é o "Inconsciente Pessoal" e o "Inconsciente Colectivo".
(Querendo, podemos colocar o "Inconsciente Pessoal" na escada do porão, o que
é arbitrário);
"PT" é o "Consciente" que, segundo Jung, se origina do "Inconsciente".
Nos KAHUNAS (do Hawai):
"P" é a "Consciência Inferior";
"EP" é a "Consciência Média";
"PT" é a "Consciência Superior".
(Os KAHUNAS consideram dez níveis de Consciência; apresentámos somente
os três mais vulgares).
Na PSICOLOGIA TRANSPESSOAL:
"P" é o "Inconsciente Psicodinâmico";
"EP" é o Pré-consciente;
"PT" é a "Consciência de Vigília".
(No 5º andar do prédio situa-se a "Supra Consciência");
Mais tarde falaremos um pouco mais da Psicologia Transpessoal e de seus
outros níveis de Consciência. Aqui estamos simplesmente apontando os três principais
níveis, para não fugirmos da simplificação do tema. Assagioli, Maslow, Wilber e outros
notáveis psicólogos transpessoais postulam individualmente, "Cartografias da
Consciência" muito mais elaboradas e complexas).
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No MISTICISMO PANTEÍSTA e da ORDEM ROSACRUZ - AMORC:
"P" é o "Subconsciente";
"EP" é a "Consciência Subjectiva";
"PT" é a "Consciência Objectiva".
(No 5º andar colocamos, pessoal e arbitrariamente, a "Consciência Cósmica", ou
"Iluminação").
Como se pode observar, através dos exemplos apresentados, a terminologia dos
níveis da Mente varia, de acordo com as diferentes concepções, pelo que tivemos de
fazer aqui algum esforço de enquadramento e ajustamento, para traçar uma cartografia
simples e aproximada dos níveis mais acessíveis. Para dar uma ideia, existem vinte
palavras em Sânscrito para definir diferentes níveis da Mente, aos quais, provavelmente,
é possível aceder mediante avançadas técnicas de harmonização.
Lembramos que a nossa pretensão é equacionar e solucionar neste ensaio,
teoricamente, as duas contraditórias questões iniciais, concernentes ao facto de algumas
pessoas acreditarem, por influência das teorias de Freud, que são vítimas fatalistas dos
conteúdos recalcados no seu "Inconsciente," e de, segundo os seus críticos, essas
pessoas poderem, através do poder da Mente, resolver os traumas e as frustrações
contidos no citado "Inconsciente" que, genericamente, traduzimos aqui por
Subconsciente. Anulando esses conteúdos, comandariam, julgam, seu próprio destino,
sem cometerem os erros e acções perniciosas.
Após uma breve definição da mente Cósmica e dos exemplos simples da
analogia e terminologia dos principais níveis mentais em diferentes abordagens, é
importante notar-se que esses níveis da Mente não se situam abaixo ou acima uns dos
outros, no sentido vertical, nem em qualquer outro sentido espacial, e o exemplo do
prédio pretendeu, apenas, facilitar ao leitor uma visualização racional destes conceitos
abstractos, tornados coerentes pela experiência psicológica e mística.
De modo geral, podemos conceituar a "Consciência Objectiva" do Misticismo
(de vigília, ou activa), como sendo o nível mais directamente relacionado com o mundo
que nos cerca, com as coisas exteriores a nós, perceptíveis através dos canais sensoriais
(tudo o que vemos, sentimos, ouvimos, etc., interpretadas pelo cérebro e sistema
nervoso central), considerada por muitos psicólogos como o nível central e padrão da
Consciência.
Quanto ao "Pré-consciente", de Freud, (ou "Consciência Subjectiva", na
AMORC), é uma espécie de ligação intermédia (a escada do porão) entre o
"Consciente" e o "Inconsciente Pessoal", não dependendo a sua dinâmica de estímulos
sensoriais directos, como ocorre com o "Consciente". Geralmente é activado,
indirectamente, por aqueles estímulos de natureza física e objectiva, convertendo-os o
"Pré-consciente", então, em memória, vontade, imaginação, etc.
É nesta fronteira entre o "Pré-consciente" e o "Inconsciente Pessoal" que Freud
situou a região dos conflitos com os conteúdos esquecidos e reprimidos neste último, ao
pretenderem exprimir-se e chegar à região "Consciente", que não deseja abrir-lhes a
porta de entrada. Esses impulsos recalcados forçam a sua libertação para o
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"Consciente", o qual, por sua vez, exerce uma força contrária. A "censura", ou "luta"
dessas energias opostas é travada na área "Pré-consciente".
O Subconsciente, como um alegórico "porão", referido, é, de modo geral, a
região oculta da Mente, metaforicamente subjacente aos seus níveis superiores (a escada
que o liga ao piso térreo e o próprio térreo).
O Homem não tem uma percepção normal dos seus conteúdos, que só podem ser
compreendidos através da análise indirecta e simbólica, quando trazidos à superfície da
Consciência Objectiva. Podemos, pois, considerá-lo como uma zona de memórias
profundas e, segundo o conceito místico, é o nível transcendente do Ser, sem
pensamentos ou sensações, e totalmente isolado dos estímulos dos sentidos. É este vasto
campo do interior do Eu humano ("Pessoal" e "Colectivo" na teoria Junguiana) que está
directa e indissoluvelmente ligado à grande Mente Universal e a todos os seres vivos da
existência. É neste Eu Interior, também (sem que o possamos localizar em qualquer
parte ou órgão do corpo físico de qualquer ser), que ocorre a maioria dos fenómenos
psíquicos, ditos paranormais, como a projecção do "Corpo Psíquico" (conhecida como
"Viagem Astral", "Teletransporte", etc.), a Pré-Cognição, a Intuição, a Harmonização
Cósmica, etc.
Os níveis mentais (ou campos de Consciência) que referimos, apesar da teoria
Freudiana e outras nos darem uma ideia de divisão, não são isolados; interagem,
enérgica e dinamicamente, uns com os outros.
Parece simples, agora, concretizar o que Freud designou por "Inconsciente
Pessoal". Todavia, enfatizamos que o conceito de um determinado aspecto da Mente ser
inconsciente, no ser humano, já existia anteriormente, implícito no sentido da Mente
Subconsciente dos místicos e filósofos antigos, em geral. Fica, pois, claro que Freud não
o inventou. Contudo, Freud deu-lhe uma conceituação diferente, considerando-o
"Pessoal", assim como o dotou com definições de conteúdos dinâmicos específicos;
deste modo, a nível pessoal, deu ao "Inconsciente" um significado paralelo, porém
bastante reduzido e diferente do verdadeiro Subconsciente.
Não obstante, o "Animal Racional", como o Homem era, então, concebido, já
desde Platão, ficou em cheque com a formulação científica Freudiana, ao determinar a
existência de pensamentos, impulsos e emoções inconscientes; esta tese chocou
frontalmente com o preconceito intelectual da época, o qual considerava o ser humano
absolutamente consciente dos seus actos e dono de si mesmo e de sua vontade. Assim,
ao rotular o "Inconsciente" de "Pessoal" e preenchendo-o com algo comumente
desconhecido, Freud inova e surpreende a Psicologia Clássica, sobretudo ao atribuir-lhe
a sede e origem de todos os fenómenos e perturbações psíquicos.
Atribuiu-lhe, ainda, a origem das compulsões responsáveis pelos
comportamentos histéricos e psiconeuróticos que, em sua tese, apesar de enraizados
profundamente na individualidade humana, podiam ser revelados com o auxílio da
Psicanálise.
Numa segunda fase, Sigmund Freud descreveu o "Inconsciente", de modo geral,
como um repositório de "material" (ideias, imagens, memórias antigas, etc.) que ali foi
esquecido, reprimido ou ignorado pela Consciência vigilante, no fundo do qual, e mais
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profundamente, reside o "ID", onde permanecem fortes impulsos instintivos básicos.
Desejando estes expressar-se - definiu Freud - entram em conflito com as forças
inibidoras do "Superego", que se situa mais próximo do "Consciente".
Consideramos, pois, a Psicanálise como uma "Psicologia de Conflito" dos
traumas, culpas, complexos, e dos instintos primários contidos no "ID" (uma espécie de
"gangster" banido), com o "Superego", dotado de energias vigilantes e repressoras (o
"polícia" desta "aventura" oculta).
No meio deles, em campo aberto, se me permitem gracejar e colocar neste ponto
uma topografia arbitrária, semelhante à própria descrição Freudiana, está o "Ego", uma
força frágil, por um lado preocupada com uma dura sobrevivência existencial e, por
outro, na linha de tiro entre os dois enérgicos e fortes contendores, o "ID" e o
"Superego", tentando escapar da feroz luta entre eles.
Bastante conhecedor de Neurologia e supondo, pela sua formação racional
anterior, que os distúrbios mentais podiam ser compreendidos e resolvidos através da
Neuroquímica, Freud deve ter-se deparado com um processo bastante paradoxal e
conflituante consigo mesmo, para aceitar a evidência de um "Inconsciente Pessoal",
pleno de energias activas, e transigir em atribuir-lhe as causas primordiais do
comportamento humano. Com sua teoria, contrariou também, de maneira radical, a
Psicologia Behaviorista, de John Watson, a qual baseava os problemas mentais somente
em padrões de comportamento fisiológico. Era a Psicologia de um Homem sem Alma,
cujo comportamento era reduzido a processos determinados estritamente pelas leis
biológicas e químicas. Um homem sem Mente, sem sentimentos, comparado aos
animais irracionais e só diferenciado destes pela sua conduta moral e existencial.
A PSICANÁLISE E O MÉTODO DE FREUD Ao criar e desenvolver uma nova visão da estrutura e dos conteúdos da
Consciência, em nível humano, Sigmund Freud poderia ter atingido a estatura de
Einstein na Psicologia, se tivesse logrado emancipar-se da influência e das limitações do
Modelo Cartesiano-Newtoniano que, actualmente, ainda se fazem sentir em várias áreas
do pensamento e da actividade humanas. Em nossa opinião, esse lugar cimeiro coube ao
seu discípulo Carl Jung. Não obstante, tentando uma apreciação justa, em nossa visão
limitada e relativa das coisas, temos de reconhecer-lhe a genialidade de um verdadeiro
cientista que contribuiu decisivamente para o reconhecimento geral da existência da
Mente na personalidade humana. Foi pioneiro numa área praticamente desconhecida na
época, como era o psiquismo do Homem. E quem, pela primeira vez, abordou de modo
sistemático e profundo as perturbações do foro mental.
Também não podemos deixar de referir que ele criou a Psicanálise fora da linha
incipiente da Psicologia, que era somente uma extensão da Psiquiatria e da Neurologia,
pouco desenvolvidas no final do Século XIX, tendo sido, todavia, fortemente
influenciado pelos trabalhos pioneiros de Jean Charcot. Freud visitou-o, em Paris, e
com ele aprendeu a teoria e a prática hipnóticas do tratamento da histeria. Ainda neste
aspecto, foi ajudado também, inicialmente, por Joseph Breuer, em Viena, com quem
praticou e desenvolveu a hipnose no tratamento de pacientes neuróticos. E foi de
parceria com Breuer que publicou, em 1895, a obra "Estudos sobre a Histeria".
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Julgamos que sua originalidade se deve a ter posto de parte a hipnose aprendida
com Charcot, Breuer, e mesmo com Bernheim, já que estes trabalhavam sobre o
Subconsciente dos doentes de forma limitada, procurando obter deles as imagens
significativas de seus traumas psíquicos durante o próprio processo hipnótico, que não
permitia fazê-los aflorar à Consciência Objectiva.
Com as novas técnicas psicanalíticas, criadas por Freud, de "Livre Associação" e
de "Transferência" - básicas no seu método - o psicanalista deixa que o paciente fale,
aleatória e livremente de seus sentimentos e problemas, com a emoção que lhes é
intrínseca, permitindo que ele próprio, em estado relaxado mas consciente, os associe.
Através de suas palavras, transfere-os para o psicanalista, mesmo quando lhe parecem
sem nexo e significado. Cabe ao psicanalista fazer a interpretação simbólica dessa
narrativa, aparentemente incoerente e, por indução, trazer à Consciência Objectiva do
paciente, os conteúdos traumáticos, perturbadores e complexos, até então recalcados no
seu "Inconsciente Pessoal".
Parece-nos, actualmente, que a centelha iluminadora de Freud se deva a uma
profunda reflexão sobre a Hipnose, e relativamente a um pormenor que, hoje, se torna
bastante óbvio, quase como um "Ovo de Colombo": se um paciente hipnotizado executa
ordens, involuntariamente, e sem qualquer controlo, à voz de comando de um
hipnotizador, das quais não pode lembrar-se depois de voltar a estar objectivamente
consciente, e nem mesmo recordar-se de quem lhas ordenou, é por que o sentido dessas
ordens actua e é memorizado em alguma região indefinível da sua Mente. Se o paciente
não está em estado de Consciência desperta, activa, vigilante, para poder optar por
cumpri-las ou não (portanto, coarctado em seu livre arbítrio e poder de escolha), então
esse "estado" tem de ser considerado um nível de Consciência adormecida ou
"Inconsciente".
Freud imaginou, então, esse "Inconsciente" como uma vasta área subterrânea,
subjacente à Consciência na superfície, onde existiam poderosas energias psíquicas,
invisíveis, influentes no comportamento das pessoas, especialmente caracterizadas por
ele como impulsos de natureza sexual e vital, que denominou de "Libido". Arrojou-se,
ainda, na época, arrostando com sérias críticas e conflitos, a afirmar a existência de uma
sexualidade infantil, com fases de desenvolvimento, e também a importância simbólica
dos sonhos como sendo um dos meios de expressão do "Inconsciente Pessoal".
Em síntese, coincidindo flagrantemente com o objectivo místico do
autoconhecimento (fazer aflorar à Consciência Objectiva o Eu Interior, diluído no
Subconsciente), a Psicanálise considerou especificamente a causa das histerias e
perturbações neuróticas, no recalcamento de traumas, inibições sexuais, etc., desde a
infância e, assim, auxilia o paciente à percepção dos seus problemas íntimos, inibidos e
ocultos da sua visão objectiva, levando-o directamente à possibilidade da sua resolução.
Assinalamos que o célebre psicanalista jamais considerou a necessidade de
aprimoramento ou de minimização do "Ego", instrumento psíquico da personalidade
humana, da mesma forma que ignorou a sexualidade e a psique femininas.
É curioso que, sendo um espiritualista e interessado em Religião, ele tenha
colocado à margem da Psicanálise, paradoxalmente, por um lado, as experiências
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místicas, religiosas e os estados alterados de consciência e, por outro, tenha atribuído à
Religião o estatuto de "Neurose obsessiva-compulsiva da Humanidade", aproximando-
se do conceito de Carl Marx.
A óptica mística, em nossa opinião, foi sempre a de que o Homem é o único
responsável pelo seu próprio Destino. Substituindo esta palavra, vulgarmente conotada
com um sentido determinista e fatalista a que o Homem estaria sujeito, pela palavra
"Caminho", que preferimos, queremos simbolizar aqui, não somente a livre trajectória,
mundana, objectiva, existencial, de cada homem, em cada encarnação. Desejamos
também significar a sua caminhada pela "Senda" interior, evolutiva, que é de sua
responsabilidade: a grande "Viagem" da sua Consciência e "Personalidade-Alma", ao
longo de muitas e sucessivas vidas, num aprendizado cumulativo e inevitavelmente
progressivo, em razão das Leis Naturais de Causa e Efeito (Carma) e Reencarnação.
Considerando que o ser humano apenas toma consciência do seu "Caminho"
cármico e somente começa a conhecer-se a si mesmo em resultado das múltiplas
experiências de cada vida; considerando que só começa a entender a importância da sua
natureza psíquica através da percepção de conflitos íntimos com a sua natureza
mundana e objectiva, e que eles ocorrem, apenas, depois de ser duramente testado entre
as opções do prazer e da dor, do bem e do mal; parece-nos ser irrelevante a apreciação
que cada indivíduo faça, em determinado momento do seu percurso na vida, quanto às
motivações do seu comportamento existencial.
Tentando explicar de outro modo, a Lei Cármica, como todas as Leis Naturais da
Criação, não se compadece com a ignorância de qualquer indivíduo e com as suas
tentativas de fuga à responsabilidade que lhe cabe, como "Personalidade-Alma" que,
inexoravelmente, só pode colher aquilo que semeia. Cada homem deve, em cada
existência encarnada, aprimorar o seu comportamento, sua acção e objectivos, o que só
conseguirá pela consciencialização do que ele pensa, do que ele é interiormente, no seu
quase eterno processo de "vir-a-ser" aquilo que ele já é, real e potencialmente.
Enfatizamos, pois, o facto de ser indiferente que um indivíduo atribua às
imagens, memórias e ideias recalcadas no seu "Inconsciente Pessoal" os fundamentos
do seu comportamento agressivo, anti-social, amoral, competitivo, desumano, etc., para
desculpar a sua Consciência Objectiva, mundana. Isso não o isentará da
responsabilidade, como segmento activo e integrado da Ordem Cósmica, nem do
julgamento da sua própria Consciência Interior, mesmo porque todas as "motivações"
soterradas no seu "Inconsciente" não deixam de ser resultantes do aprendizado, nos
conflitos travados entre ele e o mundo, quer na sua infância, quer na maturidade desta
vida actual ou de vidas passadas.
Recorrer ao Psicanalista ou a profissionais de outros ramos da Psicologia,
adequados, procurar conhecer-se, através do seu auxílio em situações de "stress"
(melhor dizendo, "distress"), depressão, ansiedade, ou neurose, decorrentes de
frustrações, medos e inibições rejeitados, é uma busca de solução normal para equilibrar
a Mente, assim como se busca o médico alopata ou a cirurgia para se tratar o corpo
quando não dispomos de outros recursos. Todavia, atribuir toda a infelicidade pessoal a
esses distúrbios (como se lhe fossem estranhos, aleatórios e impessoais), por que não se
assume a responsabilidade pela própria vida Mental, é uma atitude que consideramos
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como fuga e contra-senso. O Homem é um ser dual, em sua natureza: Corpo e Alma; e a
Mente é um dos atributos da Alma.
FREUD, JUNG E OUTRAS CORRENTES DE PSICOLOGIA
Ainda não consideramos Freud ultrapassado porque a Psicanálise vingou de
forma muito firme e existem, actualmente, milhares de dedicados psicanalistas,
auxiliando muitos pacientes de maneira eficaz. Todavia, e reconhecendo, hoje, uma
importância transcendente na Psicologia, as novas correntes psicológicas que a partir da
Psicanálise foram sendo criadas, ampliaram, de forma surpreendente, as teorias de
Freud. Essas correntes tornaram-se verdadeiras ciências humanas, já possuidoras de
uma perspectiva holística e abrangente do Homem e da Consciência Humana,
perspectiva totalmente afastada do arcaico dualismo "Matéria-Mente" Cartesiano e da
estreita visão do empirismo científico, falso herdeiro de Newton. Embora a "Psicologia
Afectiva" Freudiana não tenha perdido a sua validade, não podemos já compará-la, em
nossa opinião, com as mais recentes Escolas investigadoras da Mente, assim como não
comparamos a Física Teórica com a Física Quântica, ou a Magia primitiva com a
Metafísica actual.
Não querendo alongar-nos, falámos sumariamente de Freud, omitindo os
fundamentos existentes na sua Psicologia sobre a sexualidade, a influência dos traumas
da infância no desenvolvimento equilibrado da personalidade, a interpretação dos
sonhos, etc. Quanto a nós, são muito limitados como modelos comportamentais
originários da Consciência humana que, em sua visão, era dominada por instintos
inferiores. O desenvolvimento posterior da Psicologia permitiu que a natureza humana
não fosse julgada estritamente pelas manifestações existenciais de indivíduos neuróticos
e psicóticos, nem pelos casos e perturbações individuais, conseguindo, ao invés, obter
uma visão maior, quase total, do ser humano. Este passou a ser compreendido, em sua
patologia, como um ser largamente afectado pelo contexto social, familiar, religioso,
histórico, geográfico, etc.
É evidente que a Psicologia Behaviorista (comportamental) e a Psicanálise,
dominantes nas primeiras décadas do Século XX, não podiam, em princípio, alargar a
sua visão, limitadamente científica, para este novo horizonte - amplo e profundo - que
compreende o Homem em sua complexidade humana e Cósmica. Pelos motivos
anteriormente apontados, a Psicanálise seria incapaz de visionar aqueles aspectos, já
que, lidando com os aspectos dinâmicos dos recalcamentos no "Inconsciente" (traumas
sexuais, etc.), no campo neurótico, nunca se propôs abordar e tentar resolver
experiências mais profundas da Mente Subconsciente das pessoas, nas áreas psicótica,
esquizofrénica, transpessoal e mística.
Dizer que a Psicologia encara, actualmente, a Mente humana numa visão
profunda, que não hesitamos em colocar em paralelo com a abordagem mística, poderá
parecer um exagero. Contudo, esta comparação surge, inevitavelmente, quando se lêem
as obras de Jung, Assagioli e Maslow; e, mesmo sem nos determos nas experiências
consagradas de Stanislav Groff, através do LSD, na constatação experimental dos
"Estados Alterados de Consciência", certificamo-nos do avanço extraordinário que,
especialmente desde o início dos anos setenta, foi consagrado ao estudo da Mente,
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 13
sobretudo com a Psicologia Transpessoal, nas obras de Ken Wilber e de outros autores
desta nova visão psicológica.
Os místicos sentem-se confortados, agora, com essa visão científica da
Psicologia moderna, que torna coerentes e acreditados os conhecimentos que, de há
muito, difundiam sobre a Mente, sobretudo no que concerne à comparação que alguns
psicólogos clássicos faziam entre eles e os esquizofrénicos. Aliás, são flagrantemente
coincidentes os relatos de autênticos místicos, como Santa Teresa de Ávila, nas suas
visões e alcance da Consciência Cósmica, que chamou de "Castelo Interior", e dos
esquizofrénicos que puderam "voltar" de suas "viagens" através das profundas regiões
da Consciência.
Conforme prometemos anteriormente, transcrevemos a seguir um quadro
cartográfico dos níveis de Consciência (ou Mente), apresentado por Keneth Ring,
Psicólogo da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos da América, como
exemplo da desenvolvida abordagem que existe na Psicologia Transpessoal,
relativamente à exploração do Eu Interior humano. O mapa do autor é dividido em áreas
concêntricas, ou coroas circulares, partindo do centro com a "Consciência de Vigília",
até à última área, no círculo mais exterior, denominada "Vácuo". Como não o
reproduzimos, ordenamos aqui os níveis, de 1 a 9, partindo da zona central, nível mais
comumente conhecido como "Consciente", ou "Consciência Objectiva", até ao mais
exterior. Para a maioria das pessoas que, no Ocidente, simplesmente se habituaram à
singeleza de apenas dois níveis opostos da Mente - "Consciente" e "Inconsciente" - ou
àqueles três de que demos alguns exemplos, antes - este mapa poderá parecer
surpreendente.
l - A "Consciência de Vigília";
2 - O "Pré-Consciente";
3 - O "Inconsciente Psicodinâmico";
(até este ponto considerados níveis normais, e dentro da visão Freudiana);
4 - O "Inconsciente Ontogenético";
(fenómenos perinatais - ou à volta do nascimento); (Este 4º nível é considerado
como o último dos níveis pessoais e até onde se situam as neuroses);
5 - O "Inconsciente Transindividual";
(ao nível do "Inconsciente Colectivo" e de seus "Arquétipos", de Jung. Iniciam-
se neste nível as chamadas regiões transpessoais da Consciência, a partir da qual se
situam as psicoses);
6 - O "Inconsciente Filogenético";
(compreendendo o código genético – as experiências ancestrais herdadas
geneticamente);
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 14
7 - O "Inconsciente Extra Terreno";
(já no nível de "Viagem Astral" ou "Projecção Psíquica");
8 - O "Supraconsciente";
(que nós julgamos equivalente ao "Samadhi", da Yoga, e à "Consciência
Cósmica" ou "Iluminação" dos Místicos);
9 - O "Vácuo";
(que já não seria propriamente um estado – ou nível - da Consciência, mas uma
condição nirvânica de puro Ser, que é chamado no Budismo de "Nirodh").
Para encerrar esta dissertação, não podemos deixar de falar, resumidamente, de
Jung, pois este transcendeu toda a visão clássica da Psicologia (até chegarmos à
Transpessoal), aproximando-se tanto da sabedoria mística sobre a Mente - sempre
ignorada pela Psicologia - que somos tentados a reconhecê-lo como um psicólogo
verdadeiramente místico.
Jung foi muito além do "Inconsciente Pessoal" Freudiano, ao visionar este estado
mental como já existente no próprio nascimento do indivíduo e, portanto, além de mais
distante da "Consciência de Vigília", abordando já um nível ontogenético. Esta tese
aproxima-se das tentativas de definição que enunciámos sobre a Mente, no início deste
trabalho, mormente quanto à natureza de uma única Energia, ubíqua e Cósmica, que se
expressa, no Homem, em vários níveis, dos quais apenas dois são racionalmente mais
compreendidos - Consciente e Subconsciente.
Assim, Jung distinguiu duas regiões distintas na Mente Subconsciente: uma de
natureza pessoal, com os motivadores da experiência individual anteriores ao
nascimento, muito mais variados e abrangentes do que discerniu Freud - o "Inconsciente
Pessoal"; e uma outra - surpreendente e original, se tivermos em vista tratar-se de uma
abordagem psicológica - que chamou de "Inconsciente Colectivo", comum a toda a
Humanidade, e como um vínculo entre um qualquer indivíduo e todos os outros
indivíduos, com determinados padrões de ordem dinâmica, presentes colectivamente em
todos, aos quais chamou "Arquétipos". Definiu estes como experiências ancestrais da
Humanidade, inseridas na Mente Cósmica, que infunde todos, e que são reflectidos em
sonhos individuais, mitos antigos, contos de fadas, etc.
Ao contrário do seu Mestre, Jung não considerou a necessidade da Religião e da
Espiritualidade como uma ilusão e obsessão neurótica do ser humano, mas inatas e
intrínsecas na natureza das pessoas.
Além de Jung, o discípulo favorito de Freud e, na verdade, o grande herdeiro da
Psicanálise, também Reich, Rank e Adler foram seus discípulos, deixando-o e criando
suas próprias escolas e teorias, e ampliando, cada um deles, as ideias e estruturas da
Consciência postuladas pelo Mestre. Rejeitaram algumas e colmataram certas lacunas
que Freud não preencheu, por não ter ousado romper totalmente com os modelos
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 15
científico e tradicional da época, aos quais não quis afrontar por coerência e integridade
profissionais.
Sem Freud - pensamos nós, em posição absolutamente pessoal - e relativamente
à Psicologia - não seria, possível ter-se avançado tanto na investigação da Mente.
Haveria um Einstein sem ter existido Newton? Carl Jung teria sido quem foi sem a
precedente existência de Freud? Ken Wilber seria o mestre da Psicologia Transpessoal
sem o pioneirismo de William James, de Reich, Maslow e outros?
Os místicos do Oriente e do Ocidente - e entre eles os Rosacruzes - conheciam
há muito a transcendência da Mente, mas não eram ouvidos pelos cérebros científicos e
pragmáticos da Psicologia Clássica. Todavia, Jung, como Einstein, e antes deles
Newton, Demócrito, Galileu, Bruno e outros, ouviram a voz interior da Consciência
Cósmica, através da intuição. Souberam discerni-la, em sua Mente Objectiva, como
sendo a Verdade maior, interpretá-la e torná-la inteligível para a compreensão objectiva
da Humanidade. Foi esse o seu génio.
Freud foi grande mas não pôde ouvir a Voz Divina. Foi esse "golpe de asa" que
lhe faltou para ser verdadeiramente um génio. Reconhecê-lo como um admirável
precursor e mestre daqueles que lograram aprender com ele e continuá-lo, e que
admiramos hoje, é um preito de gratidão que devemos outorgar-lhe, aqui.
***
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 16
A MENTE UNIVERSAL
“O TODO É MENTE - O Universo é Mental"
("O Caibalion")
"O Caibalion" (ou "Kibalion") é um daqueles raros livros - como "Luz no
Caminho" ou "Estâncias de Dzyan", por exemplo, cuja leitura se torna mais difícil para
quem não tenha já percorrido uma boa parte da senda esotérica e desvendado um pouco
do segredo da "Esfinge". Talvez por isso, é nele que se encontram os sete grandes
princípios Herméticos (de Hermes Trismegistus, o três vezes sábio - 2700 a.C.), dos
quais o primeiro é o do Mentalismo.
Seu axioma básico é aquele que, intencionalmente, acima citámos, e da mesma
obra extraímos duas valiosas advertências para os sérios buscadores da Verdade, que se
completam:
- Segundo um velho Mestre Hermético, "Aquele que compreende a verdade da
Natureza Mental do Universo está bem avançado no caminho do Domínio".
- "Sem esta Chave-Mestra, o Domínio é impossível, e o estudante baterá em vão
nas diversas portas do Templo" (templo psíquico e mental do conhecimento).
Parece-nos que estas duas referências da sabedoria egípcia justificam a razão por
que vimos nos alongando e seriamente tratando este tema, pois sempre sentimos -
mesmo quando ainda não o tínhamos aprofundado e suficientemente compreendido -
que ele era um dos aspectos mais profundos do longo percurso místico; A compreensão
da Mente é, realmente, uma chave indispensável para o alcance da Verdade.
O "PODER DA MENTE"
Talvez por insuficiência de interesse ou de boa informação, a maioria das
pessoas não consegue compreender aquilo que é chamado, vulgarmente, de "Poder da
Mente". Consequentemente, essas pessoas não acreditam no seu valor prático e,
portanto, não o estudam melhor nem o usam para a transformação da sua vida e
realização de seus objectivos; apegam-se a valores menores e erroneamente consagrados
como mediadores do sucesso, tais como a força de vontade, a tenacidade, a sorte, o
trabalho árduo, etc.
Poucos homens percebem, portanto, a existência desse tesouro latente e
disponível em si mesmos, tão valioso que lhes permite, apenas com o uso da sua
vontade, dar forma e realidade externa aos seus desejos íntimos, isto é, plasmar em
formas densas (a que chamamos materiais), e em estados e condições reais, as vibrações
da energia dos seus pensamentos e das suas imagens mentais.
Relevamos o facto do poder da mente ser, em certo aspecto, altamente
construtivo, terapêutico e criador, quando correctamente compreendido e devidamente
usado, concedendo ao Homem o mesmo poder criador Divino, embora algumas
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 17
religiões o neguem e o creiam somente como privilégio de Deus. Todavia, sob outro
aspecto, pode tornar-se, paradoxalmente, negativo, prejudicial e causador de um grande
número de problemas e infortúnios, pela simples razão de ser ignorado, desconsiderado
e relegado pelo Homem para o foro do imaginário e do oculto.
Mais tarde explicaremos melhor este aspecto, tendo em vista, particularmente,
elucidar as pessoas que se julgam fadadas à infelicidade pelo Inconsciente (questão
inicial que motivou este trabalho), de que não têm razão.
Em outras palavras, todos nós possuímos, realmente, em nosso interior, um
génio milagroso, protector, bondoso, que somente espera as nossas ordens para as
transformar em realidades positivas; todavia, este génio, apenas pelo simples facto de o
desconhecermos e desprezarmos, o que lhe fazemos habitualmente, torna-se um
feiticeiro demoníaco, impiedoso e traiçoeiro.
Assim, ele transforma em realidade, sim, mas negativa - e sempre contra nós
mesmos - tudo quanto descuidadamente pensamos, tudo quanto sentimos e imaginamos
(nossos medos, frustrações, complexos, desejos de vingança, raiva, inveja, etc.), isto é, a
incontrolada multidão dos nossos secretos pensamentos e sentimentos, voluntários ou
involuntários.
Como se compreende, é uma personagem oculta e terrível quando desprezada. E
por não considerarmos nem acreditarmos nesta figura de duas faces, instalada desde
sempre em nosso subconsciente, paga-se um elevado preço na vida. Seu duplo rosto é,
ora o de um mágico amigo, bom e generoso, pronto a ajudar-nos graciosamente a ser
felizes, ora o de um bruxo cruel que capta silenciosamente os nossos mais íntimos
segredos, assim como o nosso pessimismo, nossas dúvidas, maldade, egocentrismo, etc.,
jogando-os, então, contra nós, sem aviso, conduzindo-nos implacavelmente para o
sofrimento, o fracasso e a derrota.
Vemos nele um instrumento cármico para nos levar a aprender, a evoluir e a
sermos melhores e mais fraternos, assim como a nos tornarmos mais conscientes da
nossa realidade, duplamente material e mental, humana e cósmica.
Parece-nos oportuno recordar, aqui, para reflexão, parte de um texto do Mestre
Bhagwan Shree Rajneesh:
"Tu atrais para ti, não a condição que pedes; não a condição que esperas;
não a condição que queres: tu atrais para ti a condição, de acordo com o
que tu és. És uma pessoa que dás, sempre? Então, o mundo te dará muito.
És uma pessoa que sempre espera receber? Então, o mundo reterá muito de
ti. Dás, poderosamente? Então o poder virá a ti. Dás, amorosamente?
Então, o amor virá a ti. Dás, belamente? Então, beleza virá a ti. Dás,
abundantemente? Então, a abundância virá a ti.
Que vais dar, afinal? A dádiva mais bela, a mais poderosa, a mais
maravilhosa de todas as dádivas, ÉS TU MESMO! É A TUA FÉ! TUA
CONFIANÇA! TEU AMOR!"
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 18
É possível que algumas pessoas cépticas, condicionadas à razão e ao intelecto,
possam ainda perguntar: "Existe mesmo essa coisa do "Poder da Mente?" Ou, "Existe
mesmo a Mente?".
Os mercados livreiros de todos os países estão actualmente inundados com
alguns milhares de livros - melhores e piores - alguns profundos, outros superficiais,
variando numa imensidade de títulos, que tentam transmitir ao leitor a efectiva
possibilidade do uso e a real existência da Mente, de acordo com a óptica pessoal,
filosófica, religiosa, psicológica ou mística dos seus autores. Abrangem um leque
enorme de exemplos dos resultados e êxitos da aplicação do Poder da Mente, em várias
circunstâncias existenciais e com inúmeras pessoas.
Lamentavelmente, os métodos e técnicas mais comuns, que vão desde a
imaginação à visualização, passando pela invocação, prece, auto-hipnose, concentração,
auto-sugestão, afirmações, negações, etc., ou são ocultados em algumas obras ou
insuficiente e confusamente explicados noutras. Isto é, a tónica geral é a ênfase na acção
e em seus resultados, povoada de casos para o leitor seguir ou imitar, na prática, e só
com poucas excepções são explicados os fundamentos da Mente e o processo básico em
que assenta o poder mental para se atingirem resultados concretos. Ou os autores julgam
desnecessário referi-los, ou acham demasiado trabalhoso (e é, na verdade) revelarem de
modo inteligível o processo de operação da Mente Cósmica e sua interacção com o
Homem. Ou talvez nem o conheçam correctamente, impressão que nos ficou em certas
obras que lemos.
De resto, e parece útil dizê-lo, a generalidade baseia-se, apenas, em técnicas de
"emissão" de pensamentos e imagens para o Subconsciente, para a Mente Universal,
para Deus, etc., e não em qualquer método de "recepção", talvez porque isso invadiria o
foro psicológico e místico, ao qual, normalmente, esses autores se furtam.
Na verdade, não existe qualquer poder mental no Homem como algo pessoal, ou
por dote, privilégio ou capacidade especial. O que ele possui é a faculdade de usar, por
diversas formas ao seu alcance, a energia (força ou vibrações) da Mente total do
Universo, que é inerente a todos os seres vivos, embora o privilégio de autoconsciência
restrinja ao ser humano o seu uso e controlo.
É a isso que se tem chamado, vulgarmente, "Poder da Mente", "Força Mental",
"Energia Cósmica", "Poder da Energia Mental", "Poder Cósmico", "Força Mágica do
Pensamento", "Força Interior", "Poder Superior da Mente", etc., a bel-prazer dos autores
dessa vasta literatura, pretendendo dizer a mesma coisa sem repetir os conceitos e títulos
das obras alheias.
Infelizmente, a grande maioria das pessoas é involuntariamente influenciada e
levada a inculcar, dia a dia, no Consciente (que se encarrega, em grande parte, de o
remeter, de imediato, ao Subconsciente) um aflitivo quadro multifacetado de uma
sociedade violenta e doente: guerras, misérias, catástrofes, assassinatos, desemprego,
destruição, etc. Por uma natural rejeição, isto converte-se subconscientemente em
angústia, "stress", depressão, insegurança, ansiedade, frustrações, medos, defesa
agressiva e egocêntrica de sobrevivência, desorientação, isolamento, desconfiança,
hostilidade, etc. Os livros e cursos são úteis para essas pessoas e podem cooperar
validamente no sentido de as estimular a tentar readquirir equilíbrio psicossomático,
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 19
coragem, esperança e auto-valorização, assim como a iniciarem um aprendizado para se
defenderem destas agressões externas ao seu mundo mental.
Contudo, a leitura apressada, céptica ou distractiva dessas obras, e a eventual
assistência a cursos do género, mal fundamentados e elaborados, não logram conseguir
suficientemente nas pessoas a necessária metamorfose, e não bastam para a sua
transformação interior. É verdade que muitas pessoas começam com eles e encontram
neles bases para se direccionarem para a espiritualização, para um conhecimento mais
profundo de si mesmas e, até, para as organizações místicas, tradicionais, esotéricas, nas
quais podem desenvolver a colheita dessas sementes na grande árvore de conhecimento
e evolução que elas detêm potencialmente.
As imagens paradoxais do feiticeiro demoníaco e do mágico bondoso - as duas
faces do Subconsciente - que comentámos anteriormente, podem ter parecido chocantes
e algo excêntricas para os habituais leitores de obras e participantes de cursos sobre o
poder da Mente. Normalmente, neles aparece somente a face positiva e simpática do
génio bondoso. Nós próprios nos surpreendemos ao descrevê-los assim, pois,
geralmente, também são raras as instituições espiritualistas, bem como livros e cursos,
que falem do lado negativo do Subconsciente.
O que estamos tentando é dividir objectivamente as duas faces de uma mesma
realidade, para um melhor entendimento do leitor, pois os psicanalistas preocupam-se,
apenas, em minorar os recalcamentos do Subconsciente, para diminuírem ou anularem
os seus efeitos patológicos. Ignoram sempre o seu aspecto criativo, regenerador e
positivo. Ao contrário, a maioria dos mentalistas enfatiza somente este aspecto
construtivo e transformador, desprezando, em regra, o seu lado negativo.
É natural que, ao tentarmos exprimir conceitos tão abstractos como os que vêm
sendo apresentados neste trabalho, tenhamos de recorrer a imagens simplistas, a fim de
podermos ser compreendidos.
Qualquer estudante de misticismo, ou da AMORC, pode ficar surpreso com o
conceito de que o Subconsciente (que sabe estar ligado, de modo indissolúvel, à Mente
Divina) possa ter um aspecto negativo, mau, prejudicial, vingativo e amoral,
representado por uma figura simbólica como a do feiticeiro diabólico.
Neste sentido, uma explicação se impõe, imediatamente, já esboçada
anteriormente: é que o aspecto negativo do Subconsciente (ganha-pão dos psicólogos,
psicoterapeutas, curadores, etc.) só existe na personalidade humana em decorrência da
ignorância que as pessoas têm dele. A sua natureza essencial, puramente criadora,
curativa, benéfica, é adulterada porque é nele que os seres humanos, ao longo de uma
sucessão de vidas, depositam as frustrações, dúvidas, emoções, imagens e pensamentos
perniciosos que, em sua Consciência Objectiva repudiam. Deste modo, "entulham" o
Subconsciente com medos, complexos, anseios e instintos não assumidos, os quais
moldam a inevitável realidade das suas vidas infelizes, em virtude da sua maneira errada
de pensar.
Buscando nisto um sentido maior, vemos, cada vez mais, neste processo, as
sábias e inexoráveis leis do Carma e da Evolução, em sua acção correctora e
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 20
rectificadora da "Personalidade-Alma" dos indivíduos, que deve estruturar-se
paralelamente com os objectivos maiores da Criação.
Na natureza da Criação Universal não existe esse feiticeiro diabólico que, em
princípio, nos parece ser adverso; mas ele assume realidade para fazer acontecer o que
nós pensamos e imaginamos; isto é, para colhermos o que mentalmente semeamos.
Oculta-se em nosso Eu interior para pôr em prática o que nós somos, realmente, em
nossa consciência íntima. Ele só é negativo porque nós somos negativos, em razão do
nosso Ego. Não seria justo, afinal, que o Subconsciente ignorasse o nosso lado maldoso,
egoísta, passional, interesseiro, materialista, para realizar, exclusivamente, nossos bons
pensamentos e anseios, e apenas nos tornar felizes, saudáveis, realizados e triunfantes.
Aqueles que praticam este lado positivo, obtêm o que desejam, mas se não
anulam totalmente as causas do aspecto negativo, convivem, ora com a fortuna, ora com
o fracasso. A maioria, ignorando o duplo rosto transformador do Subconsciente, e
permanentemente tendo uma atitude derrotista, vencida e resignada perante a vida,
convive, de modo geral, apenas com a miséria, a dor e a derrota. Os místicos e
espiritualistas, em paciente processo auto transformador, trabalham sobre o lado
negativo, para anularem, pouco a pouco, os conteúdos dessa região do Eu profundo,
recalcados e motivadores de grande número de problemas existenciais. Ao mesmo
tempo, despertam e usam a face positiva a fim de projectarem na realidade seus sonhos
e necessidades e, por essa razão, são os poucos homens que equilibram a sua balança
cármica e vivem em paz. Raramente enfrentam grandes tormentas, na existência, pois
sabem empreender, com esforço e persistência, a prática de valores positivos em troca
de negativos, e o caminho do autoconhecimento, sem os quais não é possível o domínio
da vida.
Esqueçamos, agora, as duas figuras simbólicas e imaginemos que possuímos um
computador interno, que é o nosso Subconsciente. Existe nele uma memória de muitos
"Megabytes", em parte já gravada, e com um espaço ainda virgem para futuras
gravações; é a nossa memória total, como seres humanos, provavelmente com algumas
encarnações anteriores. O seu computador está ligado a cinco mil milhões de outros
computadores, que também estão ligados entre eles, numa rede invisível. Por outro lado,
seu computador, à semelhança de todos eles, está também directamente conectado a um
Super Computador Central. Este, detém uma base de dados, total, abrangendo todas as
informações das memórias individuais, base que, esotericamente, é designada pelo
termo sânscrito "Akasha", traduzido, geralmente, por "Registos Acásicos" ou "Memória
Universal".
Recorremos a esta simbologia simples por que nos pareceu óptima para a
compreensão fácil das relações do nosso Subconsciente. Posto isto, o que vamos dizer,
seguidamente, também é sumamente revelador de si mesmo. Na memória pessoal,
subconsciente (onde estão adormecidas as experiências dos primeiros anos de vida que,
no nível objectivo, não somos capazes de lembrar) e, por extensão, também na Memória
Universal, estão indelevelmente registadas:
1. As impressões de origem genética, decorrentes de várias gerações de
ancestrais, pais, avós, trisavós, etc., que, através dos genes (e do ADN, com seu código
genético) o indivíduo herdou deles, com as suas características pessoais, traduzidas em
tendências, motivações, aptidões naturais, excentricidades, etc. Por vezes, e na
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 21
impossibilidade de identificar claramente a sua origem, percebemos alguns desses
aspectos hereditários através da intuição ou da reflexão sobre a nossa individualidade.
2. As impressões que trouxe das suas encarnações anteriores, embora as mais
vívidas e que mais o condicionam sejam, naturalmente, da encarnação anterior ou das
mais recentes encarnações; não devemos esquecer que, em cada nova existência,
somente mudamos o corpo físico. A "Personalidade-Alma" é a mesma de sempre, com
o mesmo computador e uma memória subjectiva cada vez mais enriquecida de
experiências e conhecimento.
3. As impressões adquiridas na infância e adolescência, na presente encarnação,
por influência do "habitat" onde a pessoa nasceu e viveu, e da educação dos pais,
familiares e professores, as quais se tornam grandemente condicionantes ao chegar à
maturidade. Dessa vivência e educação ficam, inconscientemente, gravadas uma grande
quantidade de inibições, medos, complexos, superstições, tabus e preconceitos
deformadores do que poderia ser uma personalidade sã e positiva.
4. As inúmeras impressões das experiências ao longo da vida já vivida, as quais
não impressionaram suficientemente, no momento em que ocorreram, a Consciência
Objectiva do indivíduo, porque ele não lhes deu muita atenção e importância (imagens
da TV, cenas de filmes, conversas ocasionais, ocorrências diversas do quotidiano) e que
na referida memória se fixaram, à sua revelia, sem que a Consciência Objectiva
chegasse a aperceber-se delas.
5. As impressões da Mente Subconsciente de outras pessoas, que chegam, de
vários modos, também, ao Subconsciente do indivíduo, por harmonização mental ou
psíquica; note-se que se essas impressões forem de carácter malévolo, somente poderão
prejudicá-lo se a sua formação e ética pessoais as aceitar e registar, num fenómeno de
osmose ou empatia psíquicas.
À medida que avançamos, percebemos que este assunto é, realmente, mais
profundo do que à primeira vista poderia parecer, e talvez fosse mais difícil de ser
entendido, por algumas pessoas, sem a abordagem inicial sob o ponto de vista
psicológico. Freud intuiu, parcialmente, apenas os conteúdos descritos aqui no item 3;
Jung e outros psicólogos foram, entretanto, muito mais longe. Lentamente, e com uma
linguagem diferente, a Psicologia alcançou, pouco a pouco, um desenvolvimento que,
praticamente, engloba os aspectos sumariamente aqui descritos como "impressões" na
subconsciência humana, que não são, efectivamente, ficção. Todavia, muito antes de a
Psicologia avançar para a abordagem actual do mapeamento dos níveis de Consciência
denominados transpessoais, esses níveis foram intuídos, visionados e compreendidos,
ao longo dos séculos, por filósofos, pensadores e místicos, e também pelos Rosacruzes.
O Super Computador Central, a Mente Cósmica, à qual o homem tem acesso em
vários "estados" de consciência (considerados na Psicologia como "Alterados", em
relação à Consciência Objectiva) tem o poder de conhecer plenamente toda a
programação e informações já registadas em nosso computador pessoal; e porque ele é
energicamente dinâmico e actuante, transforma-as sempre na presente e na futura
realidade de nossa vida.
Círculo do Graal
Vítor de Figueiredo, FRC Página 22
Considerando que todo o processamento se faz através dos nossos pensamentos
e imagens mentais, isto é, por uma substância de subtil energia vibratória, o Super
Computador aceitará, sem qualquer discriminação, todos os dados que, além daqueles
já anteriormente memorizados, sejam introduzidos no computador pessoal de cada
indivíduo, sejam eles bons ou maus, voluntários ou involuntários. Com eles, altera ou
apaga os registos já existentes, ou cria novos "motivadores" da existência pessoal,
futura; tudo isto em nível subconsciente.
Talvez tenhamos recorrido demais a uma simbologia técnico-informática, mas
ela vai ajudar-nos na compreensão do processo, eminentemente abstracto, da interacção
pessoal com o lado oculto da Mente Universal, que vamos equacionar a seguir.
Na prática, deparam-se-nos algumas dificuldades técnicas para explorarmos a
valiosa potencialidade do nosso computador pessoal (fechado no "porão"), visto que é,
unicamente, através da nossa Consciência Objectiva que podemos trabalhar e
estabelecer contacto efectivo com ele.
Essas dificuldades, comuns à maioria das pessoas, podem resumir-se em cinco
interrogações básicas, para as quais oferecemos uma resposta, de modo necessariamente
sintético:
1ª. - Sabendo-se que a Mente Cósmica - o Super Computador Central - obedece
fielmente aos registos do computador pessoal, desde que estes sejam claros, precisos e
individualizados, a pergunta é: quais as técnicas correctas, em criação mental, para que
a Consciência Objectiva transfira para a memória subconsciente pessoal as mensagens
ou determinações a efectuar, a fim de serem criadas em nossa vida novas condições,
situações e circunstâncias? (INPUT).
O indivíduo deve sentar-se, confortavelmente, colocando-se em estado passivo,
relaxado, afastado de estímulos sensoriais (ruídos, luzes, aromas, etc.), se possível num
ambiente sem cores fortes, com música suave e de olhos fechados; deve, depois, serenar
a sua agitação mental (ideias, preocupações, sentimentos) e voltar-se mentalmente para
o seu interior. É, então, o momento de imaginar impressivamente, de forma clara e
nítida, a situação (objectivo, projecto, etc.) que deseja realizar, devendo fazê-lo com
muita emoção, sinceridade e plena confiança na Mente Cósmica. O passo seguinte é
projectá-la para a Mente Cósmica, sem tornar a pensar na situação mentalmente criada,
e sem conjecturar sobre os meios cósmicos da sua realização. Um exemplo: se a pessoa
deseja um emprego de porteiro, num hotel, então não deve imaginar situações
intermediárias; Visualiza-se já na porta do hotel, recebendo os hóspedes, como se fosse
uma cena de um filme, no qual também entra. E, a seguir, deve esquecê-la. Se a pessoa
ficar insistindo na situação criada, ela se anulará; assim como apodrecerá a raiz de uma
planta se a regarmos demasiadamente. Tudo o que se desejar assim - saúde, casamento,
promoção, nova casa ou carro novo, etc., - pode ser criado desta forma, e visualizando
sempre imagens concretas, definidas e finais.
2ª. - Quais os elementos que devem ser seleccionados e introduzidos para tornar
a nossa vida bem sucedida, com êxito e felicidade? (INPUT).
O indivíduo pode programar e introduzir em seu computador interno todos os
desejos que anseia ver realizados (o casamento da filha, a formatura do cônjuge, a
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edição de um livro, a viagem de férias, um novo emprego, etc.) desde que sejam éticos e
bem-intencionados.
Todavia, deverá visualizar, sempre, um de cada vez; e é importante que não se
limite, simplesmente, a pensar ou a imaginar, pois isso não é suficientemente poderoso
para ser registado, criativamente, na Mente Universal. A postura e o ambiente
adequados são os mesmos já anteriormente referidos, e pode fazê-lo de dia ou de noite,
onde possa estar só e tranquilo. Lembramos, ainda, que simples afirmações ou negações
(como no método de Emile Coué) também não resultam. Repetimos que é preciso
"viver" a situação desejada, intensamente, sentindo-a como se ela já fosse verdadeira.
SENTINDO-A EMOCIONALMENTE, com veemente CONFIANÇA, sem nunca duvidar
do poder da Mente Universal. Ela saberá como agir e realizar. Finalmente, é importante
que o indivíduo sinta, também, que é merecedor da realização do seu projecto e que ele
não irá prejudicar alguém.
3ª. - Considerando que certos conteúdos motivadores de fracasso, doença e
infelicidade, já existem na memória subconsciente (guardados do nosso passado), quais
são os registos que devem ser alterados, ou anulados, para não impedirem e desviarem
os nossos objectivos de felicidade, de saúde e de paz de espírito? (INPUT).
Não responderemos, no momento, a esta questão, cuja análise e resposta,
tentaremos fazer quase no final deste trabalho.
4ª. - Que técnicas devemos utilizar para conseguirmos ter acesso aos registos das
memórias pessoal e Universal, e como podemos interpretar coerentemente a sua
linguagem simbólica de impulsos e impressões, que não usa palavras, mas cujo
conteúdo é extraordinariamente valioso e compensador conhecer? (OUTPUT).
Muitas pessoas (que não os místicos ou psicólogos) pensam que a recepção de
impressões do Subconsciente não é importante; ocupam-se, apenas, com o uso criador
do poder da Mente, praticando somente a emissão de imagens mentais relativas aos seus
desejos e objectivos. Mesmo incorrecta ou deficientemente, é só esta aquela que os
livros ensinam. Não preparadas para aquela prática de recepção, essas pessoas ficam
impossibilitadas de conhecer as "mensagens" do seu Eu profundo (arquivando tudo e
nada tirando do arquivo) e, consequentemente, não contactam receptivamente a Mente
Cósmica. Às vezes são surpreendidas, de maneira súbita e inesperada, por essas
"mensagens", que perturbam e confundem a sua Consciência Objectiva, descuidada e
racional; são "mensagens" que essas pessoas não esperam, e a que não dão valor e, por
isso, pouco ou nada entendem desses "insights" do Eu Interior.
Assim, e procedendo como foi exemplificado, relativamente ao relaxamento
indispensável do corpo e da actividade cerebral, e ao ambiente favorável, é preciso a
pessoa deixar que o seu Subconsciente envie para o seu Eu Objectivo as "mensagens"
nele arquivadas. Elas surgem através de imagens, frases, ideias, lembranças ou avisos,
ou mesmo como rostos, sons, paisagens, vozes, música estranha, etc. Então, deve tentar
interpretá-las, objectivamente, como um recado, uma instrução válida, pré-cognição de
algo, resposta a uma dúvida, uma questão ou desejo, sugestão para um caminho a
seguir, decisão a tomar, etc.
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Algo pode surgir na Mente Objectiva sob o aspecto de mensagem telepática,
contacto psíquico com alguém (vivo ou desencarnado), ou solução para um problema
aflitivo, etc. Por vezes, essas previsões ou pré-cognições surgem deslocadas no tempo e
no calendário humanos, e também no local da ocorrência, porque no Plano Cósmico não
existem Tempo e Espaço, como na concepção humana. Por outro lado, como tudo isso é
simbólico, nem sempre o indivíduo conseguirá descodificar claramente essas
percepções psíquicas, ou só virá a consegui-lo mais tarde. Todavia, não deverá nunca
assustar-se e, sim, tentar captar, o melhor que puder, um sentido inteligível naquilo que
lhe pareça desconexo, como ocorre frequentemente com os sonhos, que estão no mesmo
nível de fenómenos.
É necessário ter em conta que nenhuma outra pessoa poderá interpretar
correctamente essas percepções pessoais. Um psicólogo ou um místico, experientes,
poderão ajudar um indivíduo a fazê-lo, porque têm uma sensibilidade psíquica
desenvolvida; mas a "leitura" correcta da "mensagem" do Eu Interior terá de ser feita
por ele próprio.
5ª. - Como evitar a gravação involuntária na memória subconsciente (que, como
sabemos, tudo percebe, guarda e executa) de pensamentos, imagens e devaneios
mentais, que não queremos ali armazenar (recalcar), a fim de impedirmos realizações
inconvenientes e não desejadas em nossa vida? (INPUT INVOLUNTÁRIO).
A razão por que se concluiu que o "Homem é aquilo que ele pensa" e, portanto,
um produto final de seus pensamentos, em sua expressão existencial, deve-se à
constatação de que os seus pensamentos se transferem para o seu Subconsciente, sem
qualquer filtragem ou selecção, independentemente da sua vontade.
O Subconsciente, como já apontámos, é o grande condicionador da sua vida.
Deste modo, introjectando continuamente nesse computador interior, imagens, ideias e
construções mentais negativas e, por vezes, confusas, incoerentes e contraditórias,
concebidas e acumuladas quotidianamente, sem cuidado e sem uma autocensura, o
indivíduo regista todas elas na memória, sempre disponível, desse computador, que as
transforma na realidade da sua existência e naquele ser complexo que ele é.
Esta é a imagem exacta do feiticeiro maquiavélico a que aludimos
anteriormente; a face oculta e indesejável do Subconsciente, que recebe todo o "lixo
mental" de nossa vivência consciente e o transfere para o Super Computador Central.
Este, por sua vez, devolve-o à nossa vida em realizações concretas, equivalentes.
O grande problema, sobre o qual devemos meditar seriamente, é que a Mente
Cósmica NÃO TEM CRITÉRIO CRÍTICO OU SELECTIVO, DE MODO A
EXECUTAR SOMENTE AQUILO QUE NOS CONVIRIA. ELA PROCESSA TUDO
O QUE PENSAMOS, INDIFERENTEMENTE; E, SIMPLESMENTE, REALIZA-O. É
esta a razão pela qual convivemos, duplamente, com um génio bondoso e um feiticeiro
demoníaco dentro de nós. De acordo com o que pensamos, eles trazem-nos,
respectivamente, AMOR, SUCESSO, SAÚDE e FELICIDADE, ou AMARGURA,
FRACASSO, DOENÇA e MISÉRIA. Cabe aqui uma reflexão sobre o Livre Arbítrio
humano e a "Balança Cármica", sobre os quais se podem tirar conclusões pessoais.
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Como podemos evitar a acção do feiticeiro demoníaco? Que podemos fazer?
Bem, sendo a Consciência (ou Mente) um atributo intrínseco da nossa "Personalidade-
Alma", um privilégio que cobra seu preço em nosso auto-aperfeiçoamento e evolução,
obrigatórios, teremos de policiar, de vigiar, constante e activamente, as nossas imagens
e pensamentos. Assim como nossos desejos, sentimentos e emoções, eles não são
privados nem inconsequentes como, provavelmente, pensávamos, motivo por que
teremos de evitar que sejam eivados de maldade, de pessimismo, de descrença ou
derrotismo. Também deverão estar isentos de inveja, de ciúme, de malquerença. Neste
sentido, se não os conseguirmos evitar, eles serão como "boomerangs" que atiramos e
que voltarão, com todo o impacte destrutivo e fatal, para nós mesmos, tornando nossa
vida miserável.
Se, no entanto, ainda precisarmos de paradigmas e de regras de ouro para
alcançarmos o lado positivo da existência, através de uma nova atitude mental, podemos
sugerir aquelas que conhecemos e que são infalíveis. São simples e do domínio público:
"Os Versos de Ouro", de Pitágoras; "Os Dez Mandamentos", de Moisés; o "Sermão da
Montanha" e o "Pai Nosso", do Cristo. Em resumo, simbolizam o paradigma maior: O
AMOR.
Analisemos agora a 3ª questão, cuja resposta adiámos, intencionalmente, pelo
facto de não concordarmos com uma solução genérica, no sentido de que todas as
pessoas que se consideram vítimas do "Inconsciente" possam usar o poder da Mente
para alterar ou anular os conteúdos (traumas, inibições, fobias diversas, etc.) nele
recalcados.
Assim, recordando a questão básica (quanto aos registos que devem ser alterados
ou anulados no Subconsciente), e considerando que tudo o que aqui já expusemos deve
ter levado a perceber aqueles que nos são prejudiciais, podemos ampliar, agora, aquela
interrogação, no sentido de saber se podemos, pessoal e voluntariamente, alterar ou
apagar esses registos de natureza negativa gravados no Subconsciente.
Simplificando, para tentarmos atingir o cerne do problema, nossa opinião é a
seguinte: PODERÍAMOS FAZÊ-LO, SIM, DESDE QUE SOUBÉSSEMOS QUAIS
SÃO ESSES REGISTOS, JÁ QUE A SIMPLES TOMADA PESSOAL DE
CONSCIÊNCIA DELES, ELIMINÁ-LOS-IA.
Ora, de modo geral, não os conhecemos, a não ser, algumas vezes, pelos seus
efeitos, que nos levam a intuir as suas causas. E é exactamente por não os
identificarmos, e pela dificuldade em trazê-los, pessoalmente, à Consciência Objectiva,
que as pessoas perturbadas enchem os consultórios dos psiquiatras e psicoterapeutas,
assim como os pavilhões dos hospitais de doenças mentais.
A questão desdobra-se, agora: É POSSÍVEL, ENTÃO, TRANSFORMAR O
NOSSO EU INTERIOR, MESMO SEM O CONHECER? A resposta é afirmativa: é
possível a qualquer homem que esteja firmemente disposto a fazê-lo, o que não ocorre,
normalmente, com os indivíduos comuns. Para explicar o porquê, precisamos, no
entanto, fazer ainda algumas ponderações.
A nossa opinião, comumente inaceitável, é a de que o ser humano é totalmente
responsável pelo seu mundo mental, que inclui todos os aspectos da sua memória
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pessoal subconsciente, anteriormente descritos, com excepção do aspecto referido em
"1": a Herança Genética. A menos que consideremos esta herança como uma resultante
cármica.
Este mundo mental compreende também - não o podemos esquecer - a sua
Consciência Objectiva, que tem uma comprovada interdependência com o
Subconsciente. E é esta interdependência, normalmente desconhecida pelo Homem, que
nos serve de base para a conclusão mais importante: o maior problema humano está no
modo indisciplinado, inconsequente e insensato como ele procede na vida, através da
sua Consciência Objectiva.
Por outras palavras, e genericamente falando, o Homem, em sua "corrida"
egocêntrica pela vida, além de quase sempre ignorar o aspecto subconsciente da Mente,
também despreza o aspecto consciente; foge à percepção do seu Ser Interior e
desrespeita o privilégio da sua autoconsciência e a sua condição dual de ser físico e
psíquico. Ora pratica uma existência quase instintiva, obedecendo ao "ID" (indiferente
aos resultados drásticos dessa conduta, para si mesmo e para os outros), ora se motiva a
viver materialmente e centrado em si próprio, numa busca exclusiva de prazer, sexo,
riqueza, poder e luxúria, por apelo do "EGO". Em decorrência deste comportamento
alienado, vem a suportar, inevitavelmente, a censura severa da autoconsciência, o
"SUPEREGO", até ao ponto de desequilíbrio psicossomático e patológico.
Este homem, extraviado de si mesmo, poderia realmente usar o poder da Mente
para transformar a sua vida desorientada e o consequente "entulho" existente na sua
vida interior, numa existência saudável, equilibrada e feliz. Mas não sabe ou não quer
usá-lo. Para fazê-lo teria de tornar-se, expansiva e integradamente, consciente de si
mesmo, como ser dual que é, em união com todos os seres da Criação.
Por isso, não é aceitável a solução como regra geral. Somente desejarão recorrer
ao poder da Mente aquelas pessoas que (sem usar o recurso psicológico) se crêem como
personagens psíquicas em evolução.
Essas, sabem que podem alterar e apagar os registos psíquicos negativos,
mesmo sem poderem conhecê-los especificamente, pela ampliação da sua Consciência
Objectiva das coisas do Universo e do Homem, pois ampliando esta, expandem e
transformam também a sua Consciência Interior.
Esta é a Pedra Filosofal dos místicos e dos antigos alquimistas. Na prática, os
místicos fazem-no pelo estudo e persistente experimentação, contemplação e meditação.
Conseguindo ficar despertos para a realidade que os cerca, trazem à superfície de si
mesmos os "destroços encalhados" no oceano subterrâneo da Mente que, uma vez
consciencializados, se auto-eliminam facilmente. Esses místicos são capazes de
renunciar ao mundo das aparências e de se aperfeiçoarem, indiferentes ao transitório
aqui e agora da vida e à doce ilusão das compensações imediatas. Vivem com olhos
interiores e serenos, voltados para a sua eternidade, procurando harmonizar a "sua"
Mente com a Mente Divina.
Finalizando, acreditamos que, num futuro próximo, o Homem se tornará num ser
diferente e mais evoluído do que é actualmente. Será fraterno, amoroso, integrado e
feliz. Então, o "Mito de Sísifo", ainda aplicável à maioria dos seres humanos, não mais
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terá razão de ser, pois o Homem, nesse futuro, saberá o sentido da sua existência e
compreenderá plenamente a sua missão, em eterna coerência com a Mente Cósmica.
Também a "Alegoria da Caverna" (de Platão) terá perdido seu significado metafórico,
pois todos os "acorrentados", quase cegos, da "Caverna", já se terão libertado e
encarado a luz do Sol com naturalidade e júbilo.
Nesse horizonte do ilusório Tempo, os cientistas de hoje, que já buscam e
antevêem o homem triplo, manifestado em Corpo, Mente e Alma, deixarão de
simbolizar, na estreiteza da dualidade Cartesiana, o corpo e a Mente como o
"Hardware" e o "Software" dos computadores. Nessa altura, entenderão, clara e
objectivamente, que "Hardware" e "Software", corpo e Mente, ou Consciente e
Subconsciente, são divisões arbitrárias e opostos imaginados, em princípio necessários
ao entendimento cerebral humano, mas que não têm dualidade real. São, apenas, um só,
procedentes e compostos da mesma e Única Essência Divina.
Não tivemos a pretensão de desvendar aqui, o amplo horizonte da Mente. Mas
deixamos ao leitor um desafio para continuar a pesquisa que iniciámos com humildade.
Valerá a pena, cremos, ir mais longe neste apaixonante tema e expandir a pequena luz
que, somente para alguns, aqui acendemos. A Grande Luz poderá ser encontrada,
pessoalmente, em compensação do esforço individual e do interesse que cada um de nós
tiver em aproximar-se e ouvir os sussurros da Verdade.
Pois, como refere "O Caibalion": "OS LÁBIOS DA SABEDORIA ESTÃO
FECHADOS, EXCEPTO AOS OUVIDOS DO ENTENDIMENTO".
*** TEXTO DO LIVRETO: “O HOMEM E A MENTE”, DE:
VITOR DE FIGUEIREDO, FRC
(DIREITOS AUTORAIS REGISTADOS NOS TERMOS LEGAIS.)
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BIBLIOGRAFIA
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- Pesch, Edgar: Freud, Edições 70, Lisboa, l986.
- Haar, Michel: Introdução à Psicanálise - Freud, Edições 70, Lisboa,
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mapeamento das mais distantes regiões do espaço interior - in
Cartografia da Consciência Humana , Pequeno Tratado de Psicologia
Transpessoal, Editora Vozes, Petrópolis, l978
- Três Iniciados: O Caibalion, Editora Pensamento, S. Paulo,
l978
- Albersheim, Walter J. : Conhece-te a Ti Mesmo - (Coletânea) - Vol. 2
e 3 - Ordem Rosacruz - AMORC - Grande Loja do Brasil, Curitiba-
Pr, 1985
- Petrie, Sidney e Stone, Robert B.: Como Ganhar Novas Forças com a
Ginástica Mental, Editora Record, 2ª Edição, Rio de Janeiro
- Coddington, Mary: A Energia Curativa, Editora Record, Rio
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- Rajneesh, Bhagwan Shree: Tu Atrais para Ti, Rajneesh Foundation,
Poona