OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
CONTRIBUIÇÕES DO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO NO ENSINO DE
CIÊNCIAS NA PREVENÇÃO DA ASCARIDÍASE
BUENO1, Joceli Maria
SUTIL2, Noemi
RESUMO Neste artigo, pretende-se discutir potencialidades de Tecnologias de Informação (TIC) para o ensino de Ciências, nomeadamente no que se refere a motivação e aprendizagem dos alunos. As novas tecnologias trouxeram grandes transformações sobre a educação nos dias atuais, possibilitando diferentes maneiras de aprendizado e novas formas de relações entre professor e aluno. Os alunos desta geração nasceram em meio à tecnologia e o professor reconhecendo essa característica poderá aproveitá-la. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo contribuir no uso de tecnologias de informação e comunicação para aprendizagem e motivação no ensino de Ciências, com o desenvolvimento de atividades educacionais em abordagem de ascaridíase, com estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental, na disciplina de Ciências, do Colégio Estadual do Campo Antonio Lacerda Braga, Lapa, Paraná. A metodologia envolve o uso dos recursos tecnológicos disponíveis na escola para o desenvolvimento de 14 (catorze) Planos de Aula, 32 horas-aula. Para a análise de indícios de motivação e aprendizagem foram coletados dados por meio de observação direta, com gravação em áudio e registros escritos em diário de campo, e trabalhos elaborados pelos alunos. Para a análise de dados foram utilizados procedimentos característicos de Análise de Conteúdo. Foram desenvolvidas, durante o projeto, alternativas para que a tecnologia na escola não representasse apenas um recurso em sala de aula; as tecnologias trazidas pelos alunos não eram apenas uma forma de entretenimento ou de distração durante as aulas, mas auxiliaram na motivação e aprendizagem e na compreensão dos conteúdos abordados, proporcionando reflexões, críticas e proposições de alternativas aos problemas da ascaridíase discutidos em sala de aula. Palavras-chave: Tecnologias de Informação e Comunicação; Aprendizagem; Prevenção da Ascaridíase. INTRODUÇÃO
As novas tecnologias trouxeram grandes mudanças sobre a Educação
nos dias atuais, possibilitando diferentes formas de aprendizado e novas formas
1 Rua Pedro Shraier, 525, complemento Casa Bairro: Mariental CEP:83.760-000-
Município Lapa-Estado: Paraná, e-mail: [email protected] 2 Departamento Acadêmico de Física. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: [email protected].
de relações entre professor e aluno. Esse impacto das tecnologias tem
provocado mudanças na Educação, que precisa incorporar novos recursos
tecnológicos.
Dentro da sala de aula, na maioria das escolas, é proibido o uso de
aparelhos celulares ou de outras tecnologias pelos alunos, mas, durante o
intervalo e no pouco tempo entre uma aula e outra, muitos alunos mandam
mensagens, ouvem músicas, acessam redes sociais, ligam e recebem ligações.
Os aparelhos eletrônicos em sala são um convite à distração durante as aulas,
muitas vezes prejudicando o aprendizado.
Os alunos de hoje cresceram com estas novas tecnologias e estão muito
mais familiarizados com as ferramentas da era digital. A habilidade dos
estudantes com a tecnologia pode contribuir para as aulas visto que pedir o
apoio do aluno é valorizá-lo. Os alunos dessa geração nasceram em meio à
tecnologia e o professor reconhecendo essa característica poderá aproveitá-la.
É evidente a necessidade de planejamento democrático dentro do
Colégio que busque incorporar essas tecnologias trazidas pelos estudantes,
desenvolvendo estudos mais dinâmicos e interessantes, e trabalhar o lado
crítico e reflexivo. “Esse é também o duplo desafio da educação: adaptar-se aos
avanços das tecnologias e orientar o caminho de todos para o domínio e
apropriação crítica desses novos meios” (KENSKI, 2008, p.18).
A relação tecnologia e educação necessita de análise mais aprofundada,
pois a tecnologia está nas mãos dos alunos e consequentemente nas salas de
aula, sem ser usada ainda, de forma a potencializar a motivação para o
aprendizado.
As ferramentas tecnológicas podem auxiliar ou facilitar o trabalho dentro
das escolas para os alunos e professores. Mas nem sempre é bem visto por
todos, pois existe uma grande quantidade de professores que não estão
preparados devido à falta de conhecimento, preparo ou interesse em utilizarem
essas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem.
Essa inovação pedagógica pode contribuir para levar ao educador muito
mais oportunidades de compreender os processos de aprendizagem dos
estudantes. Assim, com esse conhecimento, o docente pode viabilizar esses
processos.
Existe uma necessidade de agrupar os recursos tecnológicos que temos a
disposição e que os alunos possuem no processo de ensinar e aprender.
Integrar novas tecnologias à sala de aula é pouco frequente e um desafio para
docentes. Embora alguns ainda se sintam inseguros e despreparados, muitos
educadores já perceberam o potencial dessas ferramentas.
Neste trabalho, propõe-se o questionamento: Quais as contribuições do
uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) para a aprendizagem e
motivação no ensino de Ciências que remeta o aluno a reflexões sobre a
temática da ascaridíase?
1. O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO
ENSINO DAS CIÊNCIAS
O uso das tecnologias vem desde a antiguidade, na pré-história quando
os seres humanos começaram a utilizar ferramentas para facilitar a vida,
mesmo que nesta época não fosse utilizada com o nome de tecnologia.
Na atualidade, continuam sendo utilizadas, da melhor forma, para
facilitar os trabalhos, tornando-os mais rápidos e práticos. Elas estão em
qualquer lugar, seja no trabalho, em casa, e demais segmentos da vida. Assim,
não poderiam ficar de fora da educação auxiliando no processo de ensino.
Com o avanço tecnológico e as mudanças que se percebe diariamente no
mundo, a escola também precisa se adaptar, tornando-se necessário criar
possibilidades de aprendizado. Uma dessas possibilidades é utilizar, em sala de
aula, recursos tecnológicos como computador, notebook, Internet, rádio, TV
multimídia, pendrive, data show para motivar os alunos a trabalharem com
recursos com os quais a sociedade já está familiarizada.
Acredita-se que o ensino de Ciências, bem como de outras disciplinas,
pode se tornar mais fácil e agradável, quando se dispõe destes recursos.
Ensinar sobre ascaridíase pode ser mais prático e atraente se o professor,
primeiramente, utilizar um vídeo ou slides, demonstrando ao aluno o que são
áscaris e os problemas causados por esses vermes e depois debater sobre o
assunto. Somente falando sobre o assunto ou lendo nos livros didáticos, corre-
se o risco de tornar a aula monótona e desinteressante. Além disso, há que se
considerar que cada aluno aprende de uma forma única, alguns aprendem com
facilidade pela via auditiva, mas há outras formas, como a visual, utilizando ou
associando imagens, movimento de imagens e sons. As tecnologias de
informação e comunicação trazidas pelos alunos nas aulas podem contribuir
para motivação e aprendizagem que remeta a reflexões sobre a temática da
ascaridíase.
Segundo as Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino
Fundamental (2008, p.42): “A historicidade da ciência está ligada não somente
ao conhecimento científico, mas também às técnicas pelas quais esse
conhecimento é produzido, as tradições de pesquisa que o produzem e as
instituições que as apoiam”.
Nesse sentido, segundo FREIRE (1999, p. 248):
O papel do(a) professor(a) é, então importante, como coordenador(a) do processo educativo, que usando de sua autoridade democrática
cria, em conjunto com alunos(as), um espaço pedagógico
interessante, estimulante e desafiador, para que nele ocorra a construção de um conhecimento científico significativo.
Em sala de aula, presencia-se o uso de tecnologias pelos alunos para
passar mensagens, ouvir músicas, ver vídeos, entrar no Facebook e telefonar.
Modificar essa realidade não é tarefa fácil, pois são necessárias propostas
pedagógicas que incluam a tecnologia como mediadora do ensino-
aprendizagem. Uma das maneiras de fazer com que aprendam é usar o que o
aluno já sabe para incorporar novas informações.
Ao longo do tempo, as tecnologias provocam modificações na maneira
de pensar e fazer a educação e, muitas vezes, os alunos têm maior
conhecimento sobre o uso de TIC que o próprio professor.
A formação de qualidade dos docentes deve ser vista em um amplo quadro de complementação às tradicionais disciplinas pedagógicas e
que inclui, entre outros, um razoável conhecimento de uso de computador, redes e de demais suportes midiáticos [...] em variadas
e diferenciadas atividades de aprendizagem. É preciso saber utilizá-los
adequadamente. Identificar quais as melhores maneiras de usar as tecnologias para abordar um determinado tema ou projeto específico
ou refletir sobre eles, de maneira a aliar as especificidades do
“suporte” pedagógico [...] ao objetivo maior da qualidade de
aprendizagem dos alunos (KENSKI, 2008, p. 106).
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino
Fundamental (2008, p.62):
A aprendizagem significativa no ensino de Ciências implica no
entendimento de que o estudante aprende conteúdos científicos escolares quando lhes atribui significados como elemento central do
processo de ensino-aprendizagem.
Tendo em vista o problema da ascaridíase na comunidade e a
importância de se garantir que os conteúdos de parasitologia sejam trabalhados
de forma significativa, usar as TIC vem ao encontro da proposta deste trabalho.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1 Características gerais
Este trabalho envolve pesquisa qualitativa (FLICK, 2009). A metodologia
envolveu pesquisa de campo exploratória, na qual se fez uso dos recursos
tecnológicos em sala de aula. A pesquisa foi realizada em uma escola da cidade
da Lapa, em uma turma do 8º ano do ensino fundamental no Colégio Estadual
do Campo Antonio Lacerda Braga, situado em Mariental/PR, com um total de 26
alunos na sala de aula. Esta proposta foi desenvolvida no período de fevereiro
de 2015 a setembro de 2015.
A constituição de dados foi realizada por meio de registros escritos em
diário de campo, gravações em áudio e vídeo, trabalhos elaborados pelos
alunos. Foram realizadas, também, entrevistas semiestruturadas, gravadas em
áudio e vídeo, pelos discentes com 21 moradores das comunidades.
A análise de dados foi realizada conforme Análise de Conteúdo. Para
Bardin (2011), o termo análise de conteúdo designa:
um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47).
Na análise de dados, os estudantes são identificados pela letra E seguida
de um número, e moradores pela letra M seguida de um número.
2.2 Sequência didática
Na aula 1, foi feita uma apresentação das principais TIC a serem
utilizadas durante a implementação da proposta e discussão sobre a
responsabilidade e a proibição do uso de celulares, em sala de aula. Os alunos
sugeriram a criação de um grupo no WhatsApp, que foi feito logo em seguida.
Durante a aula 2, foi feita uma demonstração de como fazer uma busca
no Google, usando assuntos sugeridos pelos próprios alunos. Aproveitou-se
ainda para criar e-mails para os alunos que ainda não tinham. Os trabalhos
elaborados pelos alunos foram enviados por e-mail e a maioria das informações
sobre andamento e datas dos encontros foi discutida pelo WhatsApp.
Na aula 3, a turma foi dividida em grupos, para fazerem uma pesquisa
sobre o tema ascaridíase, seguida de uma discussão. Os resultados das
pesquisas foram salvos em pendrive para posterior postagem no blog. Em
seguida, houve a discussão e montagem de tabelas sobre as informações
coletadas e salvas em pendrive. Isso aconteceu na aula 4.
Durante a aula 5, foram apresentados os resultados das entrevistas em
power point. Na aula 6, foi criado e nomeado um blog para postar os trabalhos
realizados no decorrer da implementação, com as devidas explicações de como
postar e comentar; também foi discutida a importância de se ter
responsabilidade e ética ao postar e comentar vídeos e imagens na Internet,
bem como os direitos autorais e as penalidades.
Na semana seguinte, aula 7, os alunos convidaram os demais colegas e
educadores para visitarem, trocarem experiências e expressarem opiniões a
respeito do blog e do trabalho realizado. Na aula 9, foi realizada uma discussão
e exposição de opiniões no grupo do WhatsApp, sobre os pontos positivos e
negativos do trabalho realizado.
3. ANÁLISE DE DADOS
As considerações sobre contribuições do uso de tecnologias de
informação e comunicação (TIC) para a aprendizagem e motivação no ensino
de Ciências que remeta o aluno a reflexões sobre a temática da ascaridíase são
apresentadas conforme quatro eixos de análise: concepções sobre ascaridíase;
aprendizagem de conceitos relacionados à ascaridíase; motivação; Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC).
3.1 Concepções sobre ascaridíase
A proposta educacional desenvolvida possibilitou a problematização de
concepções sobre ascaridíase. Nesse sentido, podem ser destacadas essas
concepções de estudantes, identificadas e discutidas em sala de aula, e de
moradores das comunidades Feixo e Mariental, apontadas a partir de
entrevistas semiestruturadas realizadas por esses estudantes. Foram
problematizadas as concepções de abiogênese e crenças populares.
3.1.1 Estudantes
No quadro 1, são apresentados exemplares relacionados às concepções
dos estudantes que foram discutidas em sala de aula.
Quadro 1.Concepções de estudantes sobre ascaridíase.
Item Discurso Concepções
1 E1: “Eu estava andando pela rua e de repente
saiu uma lombriga. Saí correndo com medo”.
Concepção de abiogênese
2 E2: “Eu estava com dor de garganta e fiquei com
vontade de tomar refrigerante, mas meu pai não
quis ir buscar. Daí começou a doer minha barriga
e eu e meu pai fomos ao mercado e eu passei
mal e vomitei uma lobriga no corredor do
mercado”.
3 E3: “Minha mãe disse que tem que tomar
lombrigueiro nos meses que não tem a letra ‘R’
(maio, junho, julho e agosto), e na lua
minguante”.
Medicamento.
Concepção de crenças
populares
4 E4: “Um dia fiquei com dor de barriga e minha
mãe disse que era bicha, daí ela passou banha de
porco sem sal com querosene na minha barriga”.
Medicamento caseiro de uso
tópico.
5 E5: “Minha mãe me dá chá de hortelã e me leva
no Seu M1 para benzer”.
Concepção de crenças
populares
Fonte do Autor.
3.1.2 Comunidade
Alguns aspectos da medicina popular, crendices e superstições, podem
ser verificados nas comunidades, sobretudo nas pessoas mais idosas. Com o
progresso da ciência e medicina convencional, acreditava-se que estes métodos
teriam desaparecido gradualmente, mas se verifica que ainda não.
No que concerne às concepções de moradores das comunidades Feixo e
Mariental sobre ascaridíase, no quadro 2, são destacadas algumas
considerações, a partir das entrevistas realizadas pelos estudantes.
Quadro 2. Informações gerais sobre ascaridíase nas comunidades Feixo e Mariental.
Pergunta Sim Não Comentário
Você sabe o
que é
ascaridíase?
9 12 No que se refere ao termo ascaridíase, 9 dos
entrevistados afirmaram desconhecer o termo e 12 não
tinham uma definição clara.
Já teve
lombrigas?
17 3 As pessoas que disseram sim demonstraram certo
constrangimento, mas afirmaram que foi durante a
infância.
Alguma
pessoa da sua
família já teve
ou tem
lombrigas?
19 2 A maioria dos entrevistados afirmou que já tiveram
pessoas na família com ascaridíase.
Na sua casa
tem
saneamento
básico?
4 17 Para todos os entrevistados, os alunos tiveram que dar
uma definição clara do que é saneamento básico.
Costuma ter
hábitos de
higiene
preventivos
como lavar as
mãos depois
de ir ao
banheiro e
antes de
comer?
19 2 A maioria afirmou lavar as mãos depois de irem ao
banheiro e antes de comerem.
Sabe como se
dá a
contaminação
por
lombrigas?
17 4 Apesar de a maioria afirmar saber como se dá a
contaminação, muitos afirmaram que todas as pessoas
nascem com lombrigas ou que se passar vontade de
determinado alimento a criança “ganha bicha”.
Sabe como se
previne a
18 3 A maioria afirma saber como se previne.
ascaridíase?
Fonte do Autor.
No Quadro 3, a seguir, são apresentados exemplares dessas situações
envolvendo ascaridíase nas referidas comunidades. Confirmando a teoria, ainda
aceita, da geração espontânea.
Quadro 3. Concepções de abiogênese em discursos sobre ascaridíase.
Item Discurso Comentários
1 M3: “Quando minha filha era pequena, escutei ela se
afogando, corri para ver e ela estava com uma lombriga
saindo pela boca”.
2 M4: “Uma criança com sete anos morreu porque sentiu
vontade de comer frango”. Concepção de abiogênese
3 M5: “O meu pai pegou lombrigas por vontade de comer
uma maçã e uma coxinha”. Concepção de abiogênese
Fonte do Autor.
O quadro 4 expressa a relação religiosa com o problema da ascaridíase.
Apesar dos avanços verificados na medicina, as práticas de benzimentos ainda
são comuns.
Quadro 4. Concepções religiosas em discursos sobre ascaridíase.
Item Discurso Comentários
1 M6: “As benzedeiras pegam um fio de costura e
cortam dentro de um copo cheio de água, e se
esse fio se mexer a criança tem ‘bicha braba’”.
Concepção religiosa.
2 M7: “O benzedor ‘A’, da comunidade de Mariental,
pega um barbante, reza e dá nós , e isso acalma
as bichas”.
Concepção religiosa.
Fonte do Autor.
Os comentários citados nos quadros foram feitos espontaneamente
durante as entrevistas realizadas pelos alunos. As entrevistas fluíram
tranquilamente quando realizadas nas residências das pessoas entrevistadas.
Essas concepções de estudantes e moradores se constituíram em pontos de
partida para discussão e aprendizagem de conteúdos sobre o tema ascaridíase,
a partir de conhecimentos prévios.
3.2 Aprendizagem de conceitos relacionados à ascaridíase
Foram abordados os conteúdos: nome científico da lombriga, ciclo de
vida, contaminação, sintomas, prevenção e tratamento. Em relação a esses
conteúdos, a partir da análise das relações estabelecidas pelos estudantes,
foram identificados indícios de aprendizagem e resultados positivos em relação
à sensibilização para as medidas higiênicas.
Partindo-se do conhecimento prévio, a maioria dos alunos passou a
construir e reconstruir conceitos sobre o tema ascaridíase. Através da aplicação
em situações-problema, eles entenderam a realidade na qual eles se situam.
Esses indícios de aprendizagem foram verificados em atividades de sala de
aula. Quando questionados sobre o nome científico todos souberam dizer o
nome científico e a escrita correta. Quanto ao hábito de higienizar as mãos
antes das refeições e após ir ao banheiro, 21 alunos responderam que sempre
realizam tal prática e 5 responderam que, às vezes, esquecem e não houve
respostas para raramente e nunca. Quanto às condições sanitárias das
comunidades em questão, o aluno E2 explicitou que as verminoses são
adquiridas pelas pessoas por andarem em solo contaminado, seja por fezes
humanas e animais ou em lugares onde existe esgoto a céu aberto e depósito
de lixo sem nenhum tratamento. Os alunos E3, E4 e E5, após a implementação
da proposta, passaram a ferver a água antes de beber, demonstrando aversão
à possibilidade de estarem com vermes. Quanto ao conhecimento do ciclo do
parasita, apenas um aluno apresentou um equívoco sobre um dos locais de
desenvolvimento do ciclo no corpo humano. Observou-se que esta forma de
trabalho pedagógico proposto pôde contribuir para a produção de condições
favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem dentro do espaço escolar.
3.3 Motivação
Quando solicitados a indicarem aspectos negativos relacionados à
implementação da proposta, 12 alunos não apontaram pontos negativos e 10
fizeram referências à falta de disponibilidade de wifi e lentidão da Internet no
laboratório de informática.
Quanto aos aspectos positivos 26 alunos apontaram o uso de celulares e
as saídas para as entrevistas, afirmaram que foi muito divertido e que
aprenderam muito. Cinco alunos ressaltaram que foi muito importante entender
e explicar para algumas pessoas da comunidade a importância de se prevenir a
ascaridíase.
O espaço esteve aberto para troca de experiências. Os conhecimentos
que os alunos apresentaram foram fundamentais na aprendizagem de novos
conteúdos e influenciaram o comportamento em cada momento do processo. A
aprendizagem se relacionava com a motivação.
3.4 Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
Antes do desenvolvimento desta proposta, presenciou-se o uso de
recursos eletrônicos como distração e forma de ignorar a aula do professor que
alguns alunos consideravam desinteressante; foram feitos relatos por parte dos
alunos evidenciando o uso desses aparelhos eletrônicos para colarem nas
provas. Os alunos usam bastante os celulares na escola, primeiramente para
mandar mensagens e telefonar, em segundo lugar para ouvir música e em
terceiro para pesquisarem, conforme mostra o quadro abaixo.
Quadro 5. Uso de celulares por alunos antes da implementação da proposta.
Enviar mensagem Sim: 24
Não: 0
Telefonar Sim: 24 Não: 0
Ouvir músicas Sim: 22 Não: 2
Pesquisa escolar Sim: 4
Não: 20
Fonte do Autor.
Esta alteração se insere no enfrentamento de várias questões que
desafiam o ensino atual, na procura da melhoria da sua qualidade, como o
combate à indisciplina e ao insucesso e o despertar da motivação. Todos os
alunos defenderam que se deve utilizar e usufruir das TIC em sala de aula para
a motivação e aprendizagem, tornando a aula mais interessante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade atual é muito dinâmica, e as tecnologias que nela estão
inseridas são a cada dia mais atraentes e rápidas, e o aluno faz parte desse
contexto. A escola como se conhece terá que se preparar para responder às
novas solicitações apresentadas pelas evoluções tecnológicas, já que elas
colocam novos desafios ao sistema educativo. Porém, dentro da sala de aula, o
aluno, muitas vezes encontra o professor tradicional, ainda usando a fala e o
quadro de giz. Incorporar em suas aulas esses novos recursos tecnológicos
pode propiciar diferentes possibilidades de aprendizagem.
Com a realização das referidas atividades no Colégio Estadual do Campo
Antonio Lacerda Braga, foi possível estabelecer um cenário educacional local
relacionado ao uso das TIC no ensino de Ciências. Apesar de ter sido
desenvolvido em apenas uma disciplina, foi possível verificar que a
implementação das TIC, para a aprendizagem e motivação no ensino de
Ciências na prevenção da ascaridíase, proporcionou um ambiente de trabalho
mais motivador, onde os alunos focavam mais a atenção, empenho e interesse
no desenvolvimento das atividades. Notou-se ainda que os alunos
apresentavam maior versatilidade no manuseio dos celulares e dos
computadores. Ansiavam a ida para a sala de informática e sair para fazer
entrevistas na comunidade em que tivessem que utilizar as TIC como suporte.
Várias vezes acharam que a aula passou rápido demais e ansiavam pela
próxima. Portanto, pode-se considerar que as estratégias revelaram, de uma
forma geral, resultados bastante satisfatórios.
No referido colégio, foram encontrados os mesmos obstáculos
observados em outros cenários escolares, como o número superior de alunos
em relação ao número de computadores, turmas agitadas, falta de manutenção
do maquinário, falta de apoio ao uso com a presença de um técnico
responsável pelo laboratório de Informática, proibição da entrada de celulares e
pouco tempo para planejar aulas com a presença das TIC.
Se a tecnologia que os alunos trazem para sala de aula serve como
forma de distração em relação ao conteúdo abordado, há a necessidade de
rever tais atitudes, para que os estudantes possam aprender a utilizar tais
recursos para a sua formação.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 1 ed. São Paulo: Edições 70, 2011.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
Fundamental . 2008.
FREIRE, A. M. A. (org.). A pedagogia da libertação em Paulo Freire . São
Paulo, Editora Unesp, 2001.
FREIRE, Paulo. Pegagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.
KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.
Campinas: Papirus, 2008.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2010.