Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
UTILIZAÇÃO DE JOGOS PARA APRENDIZAGEM DE CONCEITOS
COM TURMA DO 6ºANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Manoel Alexandre Pedroso1
André Fabiano Steklain Lisbôa2
Resumo
Este trabalho apresenta os jogos na aula de matemática como forma alternativa para tornar as
aulas mais interessantes. A utilização de jogos em aulas de matemática não é nenhuma novidade. O
jogo é uma atividade de aprendizagem tão séria quanto qualquer outro tipo de tarefa. A vantagem é
que o aluno pode se interessar no que está fazendo. Os cálculos realizados durante os jogos são
facilmente memorizados, e com isso os alunos desenvolverem habilidades do cálculo mental de
maneira divertida.
Palavras chave: Matemática, Jogos, Ensino
1 Licenciado em Matemática, Professor do Colégio Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira, Lapa PR. 2 Doutor em Matemática Aplicada, Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Introdução
Atualmente existe uma maior necessidade de despertar no aluno o gosto pela
matemática, o prazer de estudar e de descobrir e redescobrir conceitos
matemáticos, através de uma dinâmica inovadora e envolvente. Isto porque, alguns
teóricos têm afirmado, e não é difícil essa identificação no interior da escola, que o
mundo do entretenimento tem disputado, e de forma extremamente desigual, o
tempo, a energia e o prazer de nossos alunos. O nível de interesse pelos conteúdos
da matemática tem tornado as aulas cansativas tanto para o aluno como para o
professor.
Pensando nisso tudo, procurou-se trabalhar os conteúdos de uma forma
diferenciada, de maneira que todos os alunos se mostrassem interessados pelos
conteúdos a serem estudados. Essa proposta metodológica chega com desafios
através dos jogos para despertar o interesse dos alunos em questão. Nesse
contexto, a utilização de técnicas lúdicas, quando bem direcionadas
pedagogicamente em sala de aula, podem estimular os alunos a construção do
pensamento lógico matemático de forma significativa. Em matemática foi necessário
apoiar-se nas contribuições de outras áreas de conhecimento, tais como; de Piaget
(1968), que em sua teoria do construtivismo, declara que o sujeito constrói seu
conhecimento na relação com o meio (natural e social). Este conhecimento também
é adquirido através de materiais manipuláveis. O jogo assume a característica de
promotor da aprendizagem. Ao ser colocado diante de situações de brincadeira, o
aluno compreende a estrutura lógica do jogo e, poderá compreender a estrutura
matemática presente neste jogo. Vigotsky (1925) tem uma visão socioconstrutiva no
desenvolvimento, com ênfase no papel do ambiente social no desenvolvimento da
aprendizagem. A aprendizagem se dá em colaboração entre os alunos, entre eles e
os adultos, quer dizer, a aprendizagem é o produto da ação dos adultos que fazem a
mediação. Na primeira seção será apresentado os jogos que usarei como apoio no
ensino aprendizagem dos alunos em questão.
Desenvolvimento
O trabalho foi desenvolvido com conteúdos de matemática para alunos do
6ºano do ensino fundamental, no Colégio Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira
na cidade de Lapa PR.
Os jogos foram organizados de acordo com os conteúdos que seriam
trabalhados ao longo do ano letivo de 2014. As atividades desenvolvidas em sala de
aula foram as seguintes.
O JOGO DA MULTIPLICAÇÃO
Tendo em vista que no início do ano letivo sempre procuramos retomar alguns
conteúdos básicos com nossos alunos do 6ºano, como por exemplo: operações com
adição, subtração, multiplicação e divisão, optei então em iniciar o projeto de ação
com o jogo da multiplicação.
Este jogo possibilita o desenvolvimento da multiplicação, cálculo essencial para
vários outros conteúdos. Por meio dele, o aluno desenvolve e realiza com maior
rapidez cálculo mental, além de desenvolver concentração, atenção e observação
constante.
O objetivo desta atividade é estimular a realização de cálculos mentais, em particular
a multiplicação, por meio de um ambiente lúdico onde se estimula a competição.
Na primeira aula expliquei aos alunos de como seria o jogo da multiplicação. E para
dar o inicio mostrei a eles como é o tabuleiro do jogo e em seguida solicitei que cada
grupo precisaria fazer a confecção de seu tabuleiro. Em seguida expliquei as regras,
e então demos inicio aos jogos para que os alunos aos poucos fossem interagindo e
observando cada detalhe do jogo.
Os alunos confeccionaram o tabuleiro em EVA composto de 42 números
predeterminados, fizemos as tiras numeradas, que são os bancos e 40 marcadores
de duas cores. O tabuleiro está mostrado na figura 1.
Formamos várias duplas para a realização dos jogos, e realizamos os mesmos
durante umas cinco ou seis aulas.
No inicio tivemos alguns problemas na interpretação do jogo, um deles foi que eles
não entenderam de como deveriam enfileirar as 4 fichas de uma mesma cor na fila
da horizontal para então ser o vencedor do jogo. Outro problema que tivemos logo
de inicio foi como deveriam completar o tabuleiro com o produto efetuado pelos
números do banco. Mas aos poucos os alunos que foram entendendo passaram a
auxiliar os demais. No inicio foi permitido consultar a tabuada, mas com o passar
das aulas, a medida que os alunos foram memorizando a tabuada e se adaptando
ao jogo foi então proibida a utilização deste recurso.
Observei que por algumas vezes os alunos se cansavam do jogo, e nestes
momentos, eu intervinha com alguns exercícios rotineiros e dava prosseguimento
nos jogos em outras aulas.
As atividades foram alternadas em algumas aulas nós usávamos o jogo da
multiplicação e em outras, nós alternava com exercícios referentes a operações com
multiplicação e também divisão.
FIGURA 1. O JOGO DA MULTIPLICAÇÃO
O JOGO DO TANGRAN
O Tangran é um quebra-cabeça milenar de origem chinesa, composto de sete
peças, sendo 5 triângulos, 1 quadrado e 1 paralelogramo, chamado Tcb’i.
Tcb’iao pan, e tem o significado “as sete tábuas da argúcia”. A partir de suas sete
peças é possível formar um quadrado e várias figuras, utilizando todas as peças
sem sobrepô-las. (IEZZI et al, 2005 p.152).
Para realizar as atividades, as sete peças do Tangran devem ser utilizadas, sem
sobreposição das mesmas, formando figuras geométricas, animais, objetos, letras
do alfabeto. Poderá ser confeccionado com cartolina americana de várias cores,
para que os jogadores possam trocar as peças comuns. Mas afinal como foi feito
isso em sala de aula. Todos os grupos de posse das cartolinas coloridas fizeram o
recorte das sete peças originais de um tangran de madeira nas cartolinas coloridas e
em seguida com auxilio de uma tesoura, fizeram o recorte das figuras. Tendo assim
cada grupo mais um jogo do tangran com as sete peças em cartolina.
Como recurso pedagógico pode ser aplicado para desenvolver alguns conceitos
matemáticos, entre eles: área, perímetro, ângulos, frações, figuras planas.
Iniciamos o jogo do tangran dividindo os alunos da sala em grupos de três.
Determinei que cada grupo de alunos de posse das peças do jogo poderiam formar
a figura geométrica que desejassem e depois em seguida cada grupo de alunos
falava o nome da figura que confeccionou. No inicio eu comentei que eles poderiam
confeccionar figuras como de um quadrado, de um retângulo, de um triângulo,
losango ou qualquer figura geométrica que lembrassem.
Depois que cada grupo se familiarizou com as peças do tangran na confecção das
figuras, passamos então com questões mais específicas. Como por exemplo
verificar quantos ângulos retos as figuras geométricas formavam, e com isso fixamos
muito bem o conceito de um ângulo reto visto em aulas anteriores. Verificamos
também se em algum caso quais dos polígonos do tangran que possuía ângulo
obtuso. qual seria esse polígono. qual seria a medida desse ângulo e assim por
diante. Na construção dos triângulos, temos a pergunta de qual é a soma dos
ângulos internos de um triângulo? Estas perguntas eram feitas no memento em que
eles construíam as figuras geométricas e depois foi elaborado um questionário
escrito para que todas as equipes respondessem como forma de avaliação.
Quando trabalhei frações voltei a usar o tangran com os grupos de alunos,
verificamos que fração do tangran representa cada um dos triângulos maiores.
Qual é a menor figura do tangran e que fração ela representa considerando o total
de peças. O paralelogramo e o quadrado cada um deles corresponde a que fração
do tangran? E ainda respondemos que fração do tangran representa os cinco
triângulos juntos.
O tangran foi usado também no estudo de Área e Perímetro, verificando a área do
triângulo maior, do triângulo menor entre outras atividades como por exemplos:
medir com auxílio do transferidor os ângulos opostos dos triângulos e constatar que
estes ângulos são congruentes. Que a figura do quadrado que forma o tangran tem
os quatro lados iguais. Que os cinco triângulos formados são isósceles e certamente
tem dois lados iguais e um diferente, como podemos observar na figura 2.
Figura 2. O JOGO DO TANGRAN
O JOGO DO CALENDÁRIO MATEMÁTICO
No uso deste jogo é muito importante ter um calendário com medidas extremas
para poder mostrar a todos os detalhes de um calendário.
Precisamos apenas repetir alguns conceitos referentes a um calendário,
para dar inicio as idéias que pretendemos implantar com estes alunos.
No uso do jogo do calendário matemático, solicitei a todos os alunos que na próxima
aula precisaria que todos tivessem em seu poder um calendário para que todos
acompanhassem as curiosidades deste jogo.
Iniciei a aula com um conteúdo bem simples que são os números pares e ímpares
dentro do calendário. Separei os alunos em duplas para que os mesmos trocassem
idéias e, também facilitasse meu trabalho para acompanhar os trabalhos em classe.
Solicitei as duplas que transcrevessem no caderno todos os números pares e depois
os números ímpares que tinha no calendário. E em seguida fizemos alguns
comentários com relação a estes números.
O JOGO DO DOMINÓ DA SUBTRAÇÃO
Este jogo como o próprio nome diz vai estimular os alunos a fazerem contas de
subtração com maior rapidez apenas memorizando os resultados. Com este tipo de
jogo podemos separar os alunos em pequenos grupos, com cerca de 5 alunos em
cada grupo.
Este jogo apresenta dois níveis, um mais fácil (1), e um mais difícil (2).
Cada aluno deve ter um conjunto de peças.
O professor divide a classe em vários grupos de até 5 alunos. Cada grupo
embaralha as 36 peças, e as coloca viradas para baixo, cada aluno tira 7 peças, e
as restantes permanecem na mesa. Para iniciar o jogo o primeiro jogador coloca
uma peça qualquer na mesa. Cada jogador na sua vez, coloca outra peça encostada
numa das extremidades da peça que esta na mesa de modo a ir formando uma fila
ou linha em qualquer formato.
A peça a ser colocada deve ter, numa de suas extremidades, o resultado da
subtração proposta da peça que já está na mesa. O aluno pode se necessário usar o
lápis e o caderno para fazer as contas que julgue necessário. Depois de acabar o
monte , o jogador que não puder combinar alguma peça, passa a vez para outro
jogador. Ganha o jogo quem, em primeiro lugar, ficar sem nenhuma peça ou quem
ao final, ficar com a menor quantidade delas Com este jogo o Dominó da Subtração,
podemos deixar os alunos a vontade para fazerem suas jogadas e através de uma
atividade que parece alguma coisa para relaxar, eles na verdade estão
memorizando operações de subtrações, através de uma simples brincadeira.
O JOGO DA MEMÓRIA DE SÓLIDOS GEOMÉTRICOS
Vamos seguir o seguinte procedimento para o bom andamento do jogo:
O professor prepara o jogo desenhando, em 15 fichas, os sólidos geométricos. Para
cada sólido desenhado, deverá ter uma peça de figura correspondente. Por
exemplo: O cubo pode ter como figura correspondente um dado.
O cone tem como figura correspondente a figura de um chapéu de palhaço. O
cilindro pode ter como figura correspondente uma lata de azeite, e assim até
completar as 15 peças que compõe o jogo.
Agora vamos ver quais são os procedimentos desse jogo:
O professor divide a classe em duplas. Cada dupla arruma as cartas em filas
ordenadas viradas com o desenho para baixo. Cada aluno na sua vez vira duas
cartas, tentando formar os pares correspondentes. Quando alguém consegue virar
duas cartas formando os pares correspondentes, vai retirar os pares e continua a
jogada. Quando não, ele desvira as cartas que tentou e dá a vez para o próximo
jogador. Aquele que conseguir fazer mais paresserá o vencedor.
Neste jogo com os sólidos geométricos os alunos terão um amplo conhecimento dos
sólidos geométricos através de uma brincadeira de memorização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de intervenção se desenvolveu por meio de diálogo com os alunos
sobre a importância dos jogos no estudo da matemática, experimentação e
resolução de problemas através dos jogos e trabalhos em grupo.
Em todos os jogos usados durante esse processo de ensino aprendizagem, os
alunos se mostraram muito participativos. Isso devido ao fato dos jogos em sala de
aula serem uma atividade diferenciada, e com isso todos saímos do cotidiano dos
exercícios em sala de aula. Procurou-se possibilitar a troca de experiências e
conhecimento entre os alunos em seus diversos grupos formados.
Sem perceber eles foram adquirindo novos conceitos matemáticos através dos
jogos e, então podemos afirmar que nossos objetivos foram atingidos. Pois o
objetivo fundamental do projeto em questão seria o ensino dos conceitos
matemáticos com o uso dos jogos, em aulas fora do cotidiano.
Algumas dificuldades surgiram ao longo do processo. Desde pequenos atritos entre
alunos que não queriam participar da mesma equipe por motivos fúteis, até as mais
complexas como em um certo dia uma das equipes encontrou enorme dificuldade
para formar as figuras geométricas solicitadas no uso do tangran, neste caso fiz a
intervenção acalmando os integrantes da equipe e deixamos esta atividade para o
dia seguinte. Notei que os alunos ficam nervosos quando todas as equipes terminam
uma determinada tarefa e a sua equipe ainda não conseguiu fazer o que foi
solicitado. Todos querem ser os primeiros a terminar, há uma certa aflição por parte
da maioria dos alunos.. E no dia em que nós combinamos de trabalhar o calendário
matemático, duas das equipes não trouxeram o material solicitado, mas neste caso
foi tranquilo, apenas prorrogamos o jogo para o dia seguinte.
Analisando todos os recursos usados no uso dos jogos nas aulas de matemática no
ensino fundamental, podemos concluir que foi de fundamental importância essa
estratégia para atrair a atenção dos alunos, pois alcançamos o grande objetivo que
foi o de ensinar os conteúdos de matemática através do uso destes jogos
enunciados no projeto em questão.
Vejo que o professor de matemática e, obviamente, de qualquer outra área do
conhecimento, ao introduzir em suas metodologias jogos e brincadeiras,
disponibiliza um leque de possibilidades que favorecem tanto no processo de
ensino, como no processo de aprendizagem, para que ambos os processos ocorram
de forma participativa e, com isso, com uma grande possibilidade de melhores
resultados no campo da aprendizagem.
Notamos que os jogos na matemática exigem o desenvolvimento da capacidade
dos alunos de atuar só ou em grupo, uma vez que estes estimulam a criação e a
seguir regras, o que os leva a agirem e reagirem a estímulos próprios em relação à
atividade em que estão trabalhando. É de fundamental importância que o docente
realize um profundo estudo dos jogos que serão utilizados e, principalmente, da
forma como serão abordados no trabalho em sala de aula.
Então notamos que sempre que saímos do cotidiano, ficamos um pouco
apreensivos, pois na realidade não gostamos muito de mudanças. Mas depois da
experiência realizada e visto que os prós foram bem maior que os contras, podemos
então repetir essas experiências em outros anos seguintes e ainda com grandes
possibilidades de serem ampliadas e melhoradas cada vez mais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MURCIA, J.A.M. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2005. KISHIMOTO, T.M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2005. HUIZINGA, J. Homo luddens - o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2007. RIBEIRO, F. D. Jogos e modelagem na educação matemática. São Paulo: Saraiva, 2009. SMOLE, K. S. Jogos de matemática de 6º a 9º ano.Porto Alegre: Artmed, 2007. SMOLE,K.S. Brincadeiras infantis nas aulas de matemática. Porto Alegre: Artmed, 2000 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases (1996). BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). IEZZI, G. et al, 2005 p.152.