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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – CAMPUS II
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
ORIENTADOR (A): FABIANA SATAKE
ALUNO: VINÍCIUS MENDES GONÇALVES
PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA
Areia, 2014
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COLHEITA, CONSERVAÇÃO E REMESSA DE AMOSTRAS BIOLÓGICAS AO LABORATÓRIO Para obter resultados laboratoriais confiáveis é necessário que as amostras sejam colhidas sob as
condições mais adequadas possíveis. Alguns erros comuns que ocorrem no pré, trans e pós-colheita das
amostras para realização do hemograma são:
Pré-colheita: o animal muito estressado no momento da colheita (irá levar a uma eritrocitose,
leucocitose e trombocitose relativas, que será explicado posteriormente); Tubos sujos ou
molhados irão diluir o sangue (a água passa para o meio mais concentrado, ou seja, o interior das
hemácias “inchando-as” e consequentemente rompendo-as, diminuindo o VG/hematócrito); uso
de frascos de vidro para realizar a contagem de plaquetas (os trombócitos/plaquetas irão se aderir
ao frasco de vidro comprometendo a contagem);
Transcolheita: a colheita traumática, onde se fura várias vezes o animal acaba vindo líquido
tissular levando à aceleração da coagulação; Perder o vaso no momento da colheita, se preencher
o microtubo com um pouco de sangue o EDTA vai ser consumido, e ao adicionar um pouco mais
de sangue ao tubo ocorrerá coagulação. Se a quantidade de EDTA for muito grande, as hemácias
vão perder líquido para o meio e ficar “crenadas”; utilizar frascos errados para o transporte do
material biológico; trocar os nomes dos pacientes nos tubos;
Pós-colheita: o armazenamento errado (deixado em temperatura ambiente por tempo prolongado
ou congelar a amostra); fazer o esfregaço sanguíneo após 30 minutos irá provocar alterações na
morfologia dos leucócitos; o transporte errôneo (agitação excessiva irá desencadear hemólise;
quebra das lâminas); trocar os frascos no laboratório no momento da análise; técnicos mal
treinados para realizar as técnicas laboratoriais;
Vacutainer; Microtubo tipo “eppendorf”;
Antes de se realizar a colheita de sangue, o ideal seria que o animal estivesse 12 horas de jejum, o
que auxiliaria na dosagem de glicose e evitaria hiperlipidemia. Se o animal for de pequeno porte e for
realizar apenas o hemograma, o vacutainer pode ser utilizado, mas se for necessário um volume bem
maior de sangue ou se quiser fracionar o volume do sangue em vários tubos diferentes, utiliza-se a
seringa. Algumas observações devem ser levadas em consideração:
-Se o animal fez algum tipo de exercício repentino antes de colher o sangue, irá ter uma resposta
esplênica (ação da adrenalina), onde ao contrair, o baço libera o seu estoque de hemácias e plaquetas
(promovendo uma eritrocitose e trombocitose relativas, ou seja, não é verdadeira, pois no momento em
que o animal se acalmar as taxas voltarão ao normal). A adrenalina também aumenta a frequência
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cardíaca e respiratória, e consequentemente o fluxo sanguíneo pelos vasos, retirando os leucócitos
aderidos na parede dos vasos (compartimento marginal) e liberando-os na circulação, o que irá aumentar
também na amostra de sangue (leucocitose relativa);
- Se o animal está passando por alguma terapia medicamentosa, como por exemplo, o uso de
corticosteroides, onde estes irão promover o aumento de neutrófilos hipersegmentados circulantes (será
melhor explicado em “leucometria”); os corticoides também aumentam enzimas hepáticas;
- Se o animal ingeriu colostro irá aumentar Gama Glutamil Transferase (GGT) em até 200 vezes;
-Animais com inanição alimentar, caquéticos, poderão ter alterações tanto hematológicas quanto
bioquímicas (hipoalbuminemia, podem ter aumento de uréia por degradação de proteína muscular);
- Obesos terão hiperlipidemia;
- Os que se alimentam única e exclusivamente de carne terão aumento de uréia e proteínas;
Colheita de amostras
Quanto aos locais de venopunção, as veias jugulares (Fig. 2) são as melhores para colheita de
sangue, pois vem um maior volume de uma só vez, diminuindo os riscos de perder a veia, vir líquido
tissular e consequentemente ocorrer coagulação da amostra. As cefálicas (fig. 1) e safenas podem ser
utilizadas também, mas de preferência em cães de grande porte.
(Fig.1) (fig.2)
A coleta de urina pode ser feita por micção espontânea, aguardando o animal urinar. Se for para
realizar cultura microbiológica essa técnica não é adequada, pois há contaminação da urina no decorrer da
uretra. Cistocentese é a técnica de colheita por punção direta da bexiga com uma agulha e seringa, sendo
o melhor método para cultura (deve-se fazer uma antissepsia prévia). O responsável por fazer a colheita
deve informar ao laboratório se o sangue presente na amostra é proveniente de algum vaso atingido
durante a punção.
Processamento da amostra
Deve ser feita uma homogeneização cuidadosa, principalmente de amostras sanguíneas para evitar
que ocorra hemólise.
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HEMOGRAMA
Após ser colhido, o sangue deve ser armazenado em frasco de plástico (as plaquetas se aderem aos
de vidro), devendo respeitar a proporção sangue/anticoagulante. 1,5ml de sangue já é o suficiente para o
hemograma. O sangue pode ficar em temperatura ambiente por até 3 horas, após isso começa a ter
alterações leucocitárias, e sob refrigeração, 4°C (para reduzir a proliferação bacteriana e evitar hemólise)
por 24 horas irá sofrer mínimas alterações. O plaquetograma deve ser feito em até 2 horas da coleta.
Os tipos de anticoagulantes:
EDTA: na concentração de 10% para sangue de mamíferos e 3-5% para aves e répteis. É o
anticoagulante de eleição para a maioria dos exames hematológicos, não devendo nunca ser
congelado ou submetido à temperaturas maiores que 37ºC, pois a amostra ficará totalmente
inviável. A exposição prolongada provoca alterações nos neutrófilos e monócitos (vacuolização);
CITRATO DE SÓDIO: é o ideal para os testes de coagulação na concentração de 3,8%;
FLUORETO DE SÓDIO: é o mais adequado para a dosagem da glicemia, pois atuam impedindo
que as hemácias consumam a glicose presente na amostra (a dosagem deve ser feita em até 6 horas
da colheita).
HEPARINA: é o de eleição para aves e répteis, não sendo recomendado para as outras espécies
por causar alterações morfológicas das células sanguíneas. É utilizada quando quer dosar cálcio,
pois diferente dos anteriores, ela não é quelante do cálcio e sim evita a conversão de pró-trombina
em trombina na cascata de coagulação.
Ao receber a amostra de sangue para realização do hemograma, a primeira coisa a ser feita é o
esfregaço sanguíneo (em até 30 minutos), para evitar que ocorram alterações na morfologia dos
leucócitos. Pode ser corado em até 48 horas, desde que esteja fixada com o metanol.
Passo a passo: antes de confeccionar o estiraço, é preciso que a lâmina esteja limpa, sem gordura dos
dedos (passando álcool 70%).
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A- Coloca-se uma pequena gota de sangue em umas das extremidades da lâmina que está na
horizontal (sobre a bancada); a segunda lâmina ou extensora é posta sobre a primeira à frente da
gota de sangue (formando um ângulo de 30-45°);
B- Vai deslizando a extensora para trás, até que encoste no sangue e ele se espalhe por sua borda;
C- Em seguida, sem exercer força, desliza a extensora pra frente até a outra extremidade de forma
rápida e única (sem pausas);
D- O esfregaço contendo uma porção mais espessa, uma boa área para observação e a franja que
serve mais para pesquisa de hemoparasitos.
O esfregaço sanguíneo é importante para poder fazer o diferencial dos leucócitos (podendo contar 50
leucócitos na borda superior e 50 na inferior, seguindo o sentido da linha amarela, andando dois campos
pra frente, dois pra dentro, etc. pode ser feita em diagonal, ilustrada pelas setas vermelhas, indo de uma
borda a outra até que se conte 100 leucócitos) e avaliar importantes alterações que podem estar presentes
nos leucócitos, hemácias e plaquetas. Quando o animal tiver leucopenia (poucos leucócitos) deve-se
realizar a contagem dos leucócitos na objetiva de 40x, mas se tiver leucocitose, conta-se 100 células em
linha reta em cada lateral da lâmina, soma e tira uma média.
Para a Bioquímica utiliza-se o soro sanguíneo, ou seja, colhe-se o sangue sem anticoagulante, deixa o
tubo inclinado (podendo por em banho-maria 37°C para acelerar a coagulação) e espera coagular, em
seguida centrifuga o tubo e separa o soro do coágulo que irá se formar no fundo do frasco. A presença de
hemólise ou hiperlipidemia pode interferir nos resultados quando se dosa atividade de algumas enzimas.
A hiperlipidemia pode ser corrigida ao administrar heparina por via IV (100UI/kg).
*HEMATOPOIESE
É a produção de células do sangue, compreendendo a eritropoiese (hemácias), leucopoiese (leucócitos) e
trombocitopoiese (plaquetas), podendo ser dividida em duas fases:
Pré-natal: o sangue e vasos sanguíneos começam a se formar no saco vitelínico, sendo primeiro
formado os vasos por diferenciação das células mesodérmicas. Depois dos vasos as células
mesenquimais vão formar as células sanguíneas primitivas, chamada de ilhotas sanguíneas. As
células começam a e multiplicar dentro dos vasos e migram para o fígado, que se torna um órgão
hematopoiético, ou seja, produtor de células, seguido pelo baço, medula óssea, timo e linfonodos.
Pós-natal: antes do nascimento a medula óssea passa a ser exclusivamente produtora de células,
com exceção dos camundongos, onde o fígado continua sendo órgão hematopoiético.
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A atividade hematopoiética (produtora de células sanguíneas) se limita aos ossos chatos e
extremidades dos ossos longos. Os locais de predileção pra colher medula óssea são no esterno (é melhor,
pois ao fazer a punção não vem sangue circulante) e tuberosidade do ísquio (geralmente vem sangue
circulante e atrapalha na leitura – muitas hemácias).
Fisiologicamente no organismo são produzidos cerca de 2,5 bilhões/kg/dia de hemácias e plaquetas, 1
bilhão/kg/dia de leucócitos.
Atualmente se aceita que na medula óssea esteja presente uma célula pluripotencial indiferenciada,
que ao se dividir, vai dar origem a uma célula idêntica a ela (pra manter a população produtora na
medula) e outra célula que é chamada de unidade formadora de colônia (UFC). Essa UFC pode dar
origem a uma UFCe (eritróide – dará origem às hemácias), UFCm (megacariocítica- dará origem às
plaquetas), UFCmm (mielóide –dará origem aos leucócitos (granulócitos ou monócitos)) e ainda tem a
que dará origem aos linfócitos (linfóide).
Eritropoiese
Rubroblasto > Prorrubrócito > rubrócito > metarrubrócito > reticulócito > eritrócito
Rubroblasto ou rubriblasto: é uma célula grande, com o núcleo bem redondo, cromatina frouxa
e granular, nucléolos bem proeminentes, citoplasma azul-escuro;
Prorrubrócito ou prorrubrícito: célula tão grande ou maior que o rubroblasto, núcleo redondo,
nucléolos bem definidos ou não, cromatina grosseira. Citoplasma azul com traços vermelhos.
Rubrócito ou rubrícito: menor que o seu antecessor, núcleo redondo, sem nucléolos e sim
aglomerados de cromatina e o citoplasma predominantemente azul, com maior quantidade de
vermelho.
Metarrubrócito ou metarrubrícito: menor que o antecessor, o núcleo está bem condensado
(cromatina densa), pequeno e excêntrico (fora do centro), o citoplasma é bem mais azul-
avermelhado. Está célula está prestes a expulsar o núcleo para tornar-se um reticulócito.
Reticulócito: são eritrócitos imaturos, azulado, pouco maior que as hemácias devido à quantidade
de organelas presentes em seu citoplasma. Organelas estas produtoras de proteínas, como a
hemoglobina. Quando são observados na coloração do panótico rápido na lâmina de sangue total,
são chamados de eritrócitos policromatofílicos, ou pode-se dizer que há presença de policromasia
na lâmina.
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Hemácia: após a expulsão das organelas, o reticulócito torna-se hemácia, com sua quantidade
normal de hemoglobina. Por perderem suas organelas, não produzem mais proteínas, sendo
incapazes de reparar qualquer dano à sua membrana, morrendo rapidamente.
Morfologia das hemácias: as hemácias de mamíferos são anucleadas, diferentemente dos répteis, peixes,
anfíbios e aves. A hemácia dos mamíferos possui um halo central pálido devido à forma bicôncava, com
menor teor de hemoglobina nessa área (isso confere uma flexibilidade maior para passar nos capilares e
uma troca melhor troca de oxigênio). Nas espécies com hemácias pequenas, como os gatos, ruminantes e
equinos, esse halo central pálido não é notado.
Fig 1. Hemácias de ave (nucleadas); Fig 2. Hemácias de mamíferos;
Eritropoiese é o processo de produção de hemácias, à medida que as células precursoras das hemácias
vão amadurecendo vai ocorrendo: perda de organelas, diminuindo de tamanho, núcleo vai se
condensando, e aumentando a síntese de hemoglobina. A Eritropoiese é dividida em duas fases, sendo a
primeira de divisão celular e a segunda de síntese de hemoglobina. Os nutrientes necessários na primeira
fase são: nessa fase ocorre a síntese do material genético e bases nitrogenadas, sendo necessário de
vitamina B12 e Ácido Fólico (maturadores). Então, se há falta dessas substâncias, não irá ocorrer a
maturação (divisão) das “hemácias” e serão liberadas grandes na circulação, adquirindo uma anemia
(porque uma hemácia jovem que iria dar origem a 16-32 hemácias, não vai se dividir) macrocítica (pois
vão ser grandes, mas não é indicativo de regeneração). Na segunda fase ocorre síntese da hemoglobina,
são necessários: ferro, aminoácidos para síntese de globina, cobre em pequena quantidade, vitamina B6 é
um cofator enzimático e traços de cobalto e níquel.
Formação de hemoglobina: 5-ala-sintetase (B6 é um cofator enzimático que atua sobre a 5-ala-
sintetase) é uma enzima necessária para produção de aminolevulinato que leva a formação de
porfobilinogênio, que dará origem à protoporfirina, que junto ao ferro formam-se 4 hemes, se unindo a
globina e formando hemoglobina.
Para que ocorra a produção de hemácias deve haver um estímulo, que é feito através da
eritropoietina, uma citocina eritropoiética produzida nos rins (células justaglomerulares) e no fígado
(15%), com exceção dos cães, que é restrito aos rins. Quando o animal está anêmico, ocorre um déficit na
oxigenação do organismo levando a uma hipóxia tissular, isso estimula a liberação de um fator induzido
pela hipóxia (HIF-1) que é fator de transcrição, ou seja, ele vai se ligar à fita de DNA e fazer com que a
RNApolimerase transcreva um RNAmensageiro da eritropoietina. Então, toda vez que há hipóxia é
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produzido o HIF-1, que adentra na célula justaglomerular (rins) ou de Kupffer (fígado), vai até o núcleo
induzir a produção de eritropoietina, que cai na corrente sanguínea e vai até a medula óssea atuar:
Diminuindo a apoptose das células progenitoras eritróide, então uma célula que entraria em
apoptose, irá continuar a se desenvolver e dar origem a mais 16-32 novas células.
Aumentando o número de unidades formadoras de colônias (UFC);
Diminuindo o tempo de liberação de hemácias da medula óssea, então as células jovens mesmo
sem receptores de membrana saem da medula por estímulo da eritropoietina (fisiologicamente as
hemácias maduras possuem receptores de membrana, onde se ligam citocinas e fazem com que
elas deixem à medula).
1- Quais os corantes utilizados para visualização dos reticulócitos?
São os chamados corantes supravitais, o NAM (normo azul de metileno) e o ACB (azul de cresil
brilhante). Esses corantes promovem uma agregação nas organelas, formando redes (retículos – daí o
nome) de organelas condensadas sendo facilmente visualizadas. Quando se cora com o panótico, não
ocorre essa agregação, as organelas ficam espalhadas e ficam de cor azul-acinzentada, devendo ser
chamado de policromasia/policromatofília.
Fig 1. Reticulócitos (corante supravital – ACB); Fig 2- policromasia (corante: panótico)/seta;
Observações:
-As hemácias são compostas basicamente por 65% de água e 35% de sólidos (hemoglobina);
-O volume de sangue total é de 7% do peso vivo, ou em mL/Kg: Cão: 72-74 ml/Kg; Gato: 62-70; Boi:
64-82; Cavalo: 75-90;
-Em relação à sobrevida x taxa metabólica: quanto maior o tamanho, > o tempo de vida, < a taxa
metabólica; quanto menor o tamanho, < tempo de vida, > taxa metabólica;
HEMOCATARESE (destruição das hemácias)
Com o passar dos dias, as hemácias vão sofrendo lesões/danos em suas membranas e por não
terem a capacidade de se regenerar vão ficando rígidas, perdendo a flexibilidade e a capacidade de passar
pelos capilares do baço, medula óssea e fígado, onde acabam ficando presas, expondo o antígeno
eritrocitário banda 3 (imunologia*) em sua membrana, ocorrendo uma ligação dos macrófagos do
“sistema mononuclear fagocitário” e fagocitose.
A hemácia após ser fagocitada, será destruída pelo macrófago, liberando hemoglobina que será
quebrada em globina (que segue para corrente sanguínea na forma de aminoácido) e heme (é quebrado
em biliverdina e ferro, que fica estocado no baço, medula óssea e fígado). A biliverdina redutase
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transforma a biliverdina em bilirrubina, que cai na corrente sanguínea, se une à albumina ficando na
forma não-conjugada (indireta), segue para o fígado pelo sangue. No fígado a BI se desprende da
albumina e se liga ao ácido glicurônico, tornando-se conjugada (direta). Segue para vesícula biliar e é
eliminada no intestino, sofrendo ação da microbiota se transformando em urobilinogênio. Cerca de 10% é
reabsorvido, parte irá formar mais sais biliares e o resto é eliminado na urina na forma de urobilina. Os
90% são eliminados nas fezes na forma de estercobilina.
Um insuficiente hepático não consegue converter com eficácia a BI em BD, ocorrendo o seu
aumento no sangue, sendo possível dosar. Nos casos de Colestase, obstrução biliar, onde não elimina a
BD ela irá aumentar na circulação sanguínea.
2- Explique como podemos diferenciar laboratorialmente as causas pré-hepática, hepática e
pós-hepática de icterícia.
Na prática conseguimos dosar Bilirrubina Total (BT) e bilirrubina Direta/conjugada, então para obter-
se a bilirrubina indireta é só: BT-BD = BI
Na icterícia pré-hepática: ocorre uma intensa destruição de hemácias, e a grande concentração de
bilirrubina liberada se ligam à albumina, mas o fígado não dá conta de converter a BI em BD. Ao dosar
bilirrubina haverá aumento da BI. Além de outros sinais de hemólise encontrados ao se fazer um
hemograma (esferocitose, reticulocitose, etc.), além do aumento das atividades enzimáticas (ALT; AST);
Na hepática: o fígado é o responsável por converter BI em BD e produzir albumina, que por sua vez é
responsável por carrear a bilirrubina no sangue. Ao dosar, irá ter aumento de BI e hipoalbuminemia.
Na pós-hepática: a bilirrubina não-conjugada já foi convertida em conjugada, e quando há Colestase por
exemplo, a BD não consegue ser eliminada, tornando à circulação. Ao dosar terá aumento de BD, urina
mais amarelada (eliminação aumentada pelos rins), aumento da atividade da Fosfatase Alcalina.
O Hemograma é dividido em eritrograma (série vermelha), Leucograma (série branca) e
plaquetograma (plaquetas).
ERITROGRAMA
Devemos quantificar:
Volume Globular (VG) ou Hematócrito (Hct);
Concentração de Hemoglobina (técnica de cianometahemoglobina);
Hematimetria (Número de hemácias por Litro);
Índices de Wintrobe (VGM e CHGM);
Contagem de Reticulócitos;
*Volume Globular (Hematócrito)
O VG corresponde à porcentagem de hemácias presentes no sangue, é um método confiável que possui
maior reprodutibilidade com menor erro. É utilizado como base pra outros exames, mas quando se tem
hemólise o exame confiável passa a ser a [Hemoglobina], que não se altera.
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É determinado através da técnica de micro-hematócrito. Deve homogeneizar o sangue (com
EDTA), em seguida preencher 2 capilares (1 para o hematócrito e PPT e o outro para o fibrinogênio) de
vidro por capilaridade, preenchendo cerca de 70%. Em seguida, os capilares são postos na horizontal e
vedados em uma das extremidades com massa ou fogo. Por último eles são postos na centrífuga de micro-
hematócrito com a parte vedada para fora, e posto para rodar numa velocidade de 12.000rpm por 5
minutos. Terminado a centrifugação, os capilares são levados para uma “régua” onde avaliará a proporção
entre a papa de hemácias e o plasma e determinar a % de hematócrito. O resultado é dado em
porcentagem e deve ser passado para L/L, dividindo por 1000 (ex.: 35% /1000 = 0,35 L/L).
Preenchendo o capilar; selando com massa; centrífuga;
Capilares nos dois tipos de escalas, para medir o hematócrito;
após centrifugação:
Capilar
preenchido por
sangue antes de
centrifugar;
Plasma;
Papa de
leucócitos
Papa de
hemácias
Ao observar na seguinte ordem: Plasma: a coloração pode estar transparente (normal), amarelada (hiperbilirrubinemia), turvo/branco (lipemia) ou avermelhado (hemoglobina/hemólise); Papa de leucócitos: só serve para nos dar uma noção geral da leucometria global. Por exemplo, se o animal tiver uma infecção como uma piometra, esta papa vai estar maior. Quando o sangue possui muitas hemácias nucleadas (jovens) elas ficam misturadas com os leucócitos ficando levemente avermelhado. Técnica de Woo: leva o capilar ao microscópio, se tiver microfilárias ou Trypanossoma, observa-se uma movimentação ondular no local entre a papa de leucócitos e hemácias. Quantifica o VG: colocando na escala;
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*Concentração de Hemoglobina (g/L)
É feito pela técnica de Cianometahemoglobina no aparelho de espectrofotometria, onde através de um
foco de luz emitido pelo aparelho se obtém a [] de hemoglobina na amostra. Toda vez que ocorrer
hemólise da amostra (diminui o VG e hematimetria) essa técnica passa a ser a mais confiável, pois a
concentração de hemoglobina não se altera, é fidedigno/preciso para estimar a “quantidade de hemácias
que há na amostra”. [perguntar]
3- Quais são as causas de falso aumento da concentração de hemoglobina? E a causa
verdadeira?
Quando a amostra estiver lipêmica (aumento de lipídeos – turva), com hiperbilirrubinemia ou
hiperproteinemia, ocorrerá um “escurecimento” da amostra, e durante a leitura no espectrofotômetro
passa pouca luz e o aparelho capta/interpreta como se fosse aumento de hemoglobina. Quando houver
eritrocitose (aumento no número de hemácias acima do valor de referência) ocorrerá aumento verdadeiro
da concentração de hemoglobina.
*Hematimetria (número de hemácias por litro de sangue)
Unidade x1012
/L
A quantidade de hemácias pode ser analisada através do uso de aparelhos próprios, ou da contagem
manual na câmara de Neubauer.
Índices de Wintrobe
São utilizados o VG, hematimetria e a hemoglobina para calcular.
VGM (volume globular médio) é um índice de tamanho das hemácias:
VGx1000 = fL Se o valor após calculado ficar abaixo do valor de referência, a anemia é
HMC classificada como MICROCÍTICA, se estiver dentro do valor é NORMOCÍTICA e se
estiver acima é MACROCÍTICA. Esses índices só são utilizados pra classificar as anemias, se o animal
não apresentar anemia no hemograma não é necessário classificar, apenas calcular.
Microcitose: a principal causa de microcitose é por deficiência de ferro por má nutrição ou hemorragias
crônicas, onde o organismo vai perdendo o estoque de ferro.
Macrocitose: a principal causa é o aumento de células imaturas (reticulócitos), ou por liberação de
células mais jovens ainda (rubrócitos, rubroblastos, etc). Pode ocorrer nos casos de deficiência de
vitaminas (B12 e ácido fólico), as hemácias jovens sofrem uma maturação do citoplasma, mas um atraso
na maturação do núcleo e não conseguem se dividir, tornando-se hemácias grandes (megaloblastos).
Normocitose: pode ocorrer em hemorragias agudas. Quando ocorre uma hemorragia ou hemólise, a
medula só irá responder produzindo e liberando reticulócitos em 2-4 dias, e até que isso ocorra, a anemia
irá continuar sendo Normocítica Normocrômica. Ainda pode não ter dado tempo de responder, ou ela não
irá responder nos casos de hipoplasia e aplasia de medula.
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CHGM (Concentração média de hemoglobina nas hemácias) é um índice de cor:
Hb x 100 = g/dL ou __Hb__ Classificada em Normocrômica ou Hipocrômica; o mesmo serve
VG VGx10 para o CHGM, se não houver anemia não tem pra que classificar. A
hipercromia não é levada em consideração, pois só haverá quando o animal tiver uma eritrocitose
(aumento de hemácias). Mas, se a amostra estiver lipêmica, ou com hiperbilirrubinemia,
hiperproteinemia, vai dá um aumento de hemoglobina e consequentemente com CHGM. Pipetar sangue
demais na hora de diluir para dosar hemoglobina, ou reagente de menos. Deve-se justificar o aumento de
CHGM no exame, caso consiga identificar a causa.
Normocrômica: mais comum quando a medula ainda não respondeu à perda de hemácias (não deu 2-4
dias da hemorragia ou hemólise).
Hipocrômica: geralmente são macrocíticas por aumento de reticulócitos (ainda não sintetizou toda a
hemoglobina); se for microcítica, pode ser por deficiência de ferro.
4- Os cavalos tem uma particularidade, não liberam reticulócitos na corrente sanguínea,
sabendo disso, qual a forma de saber se está ocorrendo regeneração pela medula óssea?
Por não apresentar macrocitose ou reticulocitose, devem ser feitos vários hemogramas seriados a cada 4
ou 5 dias para avaliar essa regeneração a partir dos valores da hematimetria (número de hemácias).
5- Quais são as formas que temos de saber se a medula óssea está respondendo?
Através da quantificação de reticulócitos, observação de células nucleadas (metarrubrócito, rubrócito,
etc.) e policromasia na lâmina, além de corpúsculos de Howell Jolly, ponteado basófilo (mais comum em
hemácias de bovinos).
Exemplos:
O animal que apresenta uma reticulocitose:
Terá aumento do VGM devido ao número de hemácias grandes, porém os reticulócitos
possuem a concentração menor de hemoglobina. Portanto, classifica-se: Anemia
macrocítica hipocrômica regenerativa. Ao olhar na lâmina irá ter policromasia
acentuada. Ex.: Um animal saudável sofre uma perda excessiva de sangue repentinamente, obteve uma
anemia. Ocorrerá uma hipóxia tissular que fará com que seja liberado o HIF-1, produção de
eritropoietina, que atua na medula para aumentar a produção de hemácias, diminuir apoptose, liberar
células jovens na circulação, e tudo isso irá ocasionar em: Anemia (perda grande de hemácias)
Macrocítica (aumento de células jovens sendo produzidas, principalmente reticulócitos) hipocrômica (os
reticulócitos ainda estão sintetizando hemoglobina, portanto possuem um teor menor) regenerativa.
Animais que possuem uma deficiência em algumas vitaminas (B12 e ácido
fólico): vão ter um tipo de anemia chamada de “megaloblástica”, ou seja, ocorre
um defeito na maturação dos núcleos das hemácias jovens, enquanto o citoplasma
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continua se desenvolvendo e produzindo hemoglobina, sendo essas células chamadas de megaloblastos.
São duas vezes maiores que uma hemácia normal, com o citoplasma bem desenvolvido, cheio de
hemoglobina, porém com o atraso na expulsão do núcleo. Então essas células imaturas não se dividem (a
hemácia fica bem grande e expulsa o núcleo mesmo havendo esse atraso), e não vão dar origem a 32
novas hemácias (medula hiporresponsiva), e o animal vai adquirir uma anemia, que será macrocítica
devido à grande quantidade desses megaloblastos e não por estar havendo regeneração, coisa que não
ocorre, pois há ausência de reticulócitos (sem policromasia). Anemia Macrocítica Normocrômica (a
quantidade de Hb está normal) Arregenerativa.
Caso de livro:
6- Existem ainda as condições em que as hemácias ficam pequenas, são os micrócitos e os
esferócitos:
Micrócito: quando há uma deficiência em ferro, as hemácias não conseguem sintetizar a quantidade
suficiente de hemoglobina, sendo preciso que essas células sofram uma divisão adicional para que
consigam ficar com a concentração normal de hemoglobina no citoplasma. Então ficam pequenas e com
um halo pálido no centro (biconcavidade). É comum nas hemorragias crônicas onde perde sangue
constantemente, a medula vai regenerando, porém o estoque de ferro vai encerrando (suplementar ferro
injetável, e na dieta). Alta carga de Haemonchus spp., Trichostrongylus spp., neoplasias, etc.
Esferócitos: é quando uma hemácia normal fica pequena porque parte do seu citoplasma foi fagocitado
por um macrófago que se ligou à membrana contendo algum antígeno ou imunocomplexos (Ac+Ag) e
acabou fagocitando. A hemácia sem parte de sua membrana consegue se reestruturar (não regenerar) e se
manter ainda arredondada, porém pequena, sem o halo pálido no centro e com a mesma quantidade de
hemoglobina (por isso fica bem vermelha). É encontrado nas anemias imunomediadas/autoimunes
causadas por babesia, viroses (forma-se imunocomplexos que se depositam na membrana das hemácias
favorecendo à ligação dos macrófagos e fagocitose), etc.
Gato: na foto estão presentes três eritroblastos, o da seta laranja está com o citoplasma não desenvolvido (azul-escuro, com pouca hemoglobina, deveria estar avermelhado), o da seta preta apresenta o que foi falado acima, um atraso na maturação do núcleo e o desenvolvimento normal do citoplasma. Observar a coloração citoplasmática avermelhada, indicando que há uma concentração normal de hemoglobina (deveria estar azul-escuro). O gato apresentava uma anemia severa com VGM muito alto (macrocítica), mas nenhum aumento de reticulócitos (arregenerativa).
14
Fig 1. Micrócitos (halo central pálido); Fig 2. Esferócitos (sem halo central);
O VGM pode estar menor como no caso da microcitose, ou normal no caso da
esferocitose. Quando se formam os esferócitos também ocorre hemólise de parte das
hemácias, e isso provoca uma estimulação à medula óssea, que aumenta a produção
(regeneração intensa), liberando células jovens na circulação, então os reticulócitos
(maiores que as hemácias) em grandes quantidades compensam a esferocitose.
*Contagem de Reticulócitos (% de reticulócitos em 100% de hemácias)
É muito útil para classificar as anemias, sendo um indicador da função da medula óssea em liberar
células jovens. Assim que os metarrubrócitos eliminam o núcleo condensado tornam-se reticulócitos, que
são precursores das hemácias, contendo organelas (mitocôndrias e ribossomos) em seu citoplasma, para
produzir hemoglobina que ainda não está em concentrações adequadas em seu interior. Após 1-2 dias
após a perda do núcleo os reticulócitos perdem suas organelas tornando-se hemácias.
Em um tubo de ensaio adiciona o corante supravital (novo azul de metileno ou azul de cresil
brilhante) e uma quantidade do sangue do animal, leva ao banho-maria por 20 minutos (37°C), após, faz
um esfregaço na lâmina com essa amostra, aguarda secar e faz a contagem. Vai contando 1000 hemácias
em diferentes campos e anotando a quantidade de reticulócitos, para depois calcular:
Ex.: 1000 hemácias e 10 reticulócitos;
Se em 1000 hmc______10 retic.
Em 100 _________ X
X= 1 %
Após achar a %, faz-se o:
Reticulócito corrigido: % reticulócitos x VG do paciente
VG médio da espécie
Ex.: cão, com VG: 18; reticulócitos: 1%; VG médio para espécie: 46 (37-55);
RC = 3% x 18 RC= 1,17
46
15
Obs.: A contagem de reticulócitos é útil em cães e gatos, e tem uma aplicação de vacas, porém os equínos
não liberam reticulócitos na circulação.
Se o animal está com o VG muito baixo e os reticulócitos estão em quantidades normais, significa
dizer que ou ocorreu uma perda aguda de sangue e a medula ainda não respondeu (precisa de 2-4 dias) ou
ela não está respondendo (hiporresponsiva), sendo uma anemia Arregenerativa.
I N F O R M A Ç Õ E S A D I C I O N A I S
*Proteínas Plasmáticas Totais (PPT)
Após centrifugar os 2 capilares, um deles é quebrado na divisão entre a papa de leucócitos e o
plasma, onde este é depositado no refratômetro e medido a [] de PPT, que é dada em g/L.
*Fibrinogênio Plasmático
O segundo capilar centrifugado vai para o banho-maria 56°C por 3 minutos, e em seguida é
centrifugado novamente (5 minutos 12.000 rpm). O fibrinogênio será convertido em fibrina e durante a
rotação irá precipitar e ficar junto à papa de leucócitos. Então, quebra o 2º capilar e avalia as PPT, depois
calcula-se: 1ºPPT – 2ºPPT = fibrinogênio
PPT:F = PPT –FP
FP
Causas de Hipoalbuminemia com Hipoglobulinemia
Hemorragias: ocorre uma perda proporcional de todos os componentes do sangue. Perdendo
albumina e globulinas, e após a hemorragia ocorre uma passagem dos fluidos intersticiais passam
para circulação e dilui os componentes sanguíneos.
Enteropatia com perda de proteínas: em algumas enfermidades inflamatórias no intestino, ocorre o
extravasamento de albumina e globulina para o lúmen, sendo posteriormente digeridas e
excretadas.
Queimaduras graves: devido ao aumento da permeabilidade vascular, ocorre extravasamento
dessas proteínas, mas, em muitas vezes a perda de líquido (desidratação) e aumento de globulinas.
Derrames cavitários: acúmulo de líquido proteico em cavidades.
Causas de Hipoalbuminemia com Teor de Globulinas Normal ou Aumentado
Insuficiência Hepática: o fígado é o maior produtor de albumina, e por ter uma capacidade
regenerativa e de reserva, muitos distúrbios não provocam a diminuição da produção proteica.
Quando fígado perde mais de 75-80% de sua massa irá ocorrer a hipoalbuminemia por diminuição
da produção.
≤ 10 – aumento de FP devido à desidratação;
>10 e <15 – aumento FP é real;
≥ 15 – o aumento FP é real e acentuado;
16
Inanição: o fígado utiliza aminoácidos para a síntese de albumina, e quando há inanição ocorre a
diminuição na produção.
Parasitismo gastrointestinal: os parasitas podem consumir os aminoácidos intestinais e diminuir a
absorção, com isso não se formará albumina. Caso os parasitas se liguem à mucosa e ingiram
sangue por longos períodos, irá ocorrer a perda de albumina e também globulinas.
Má absorção intestinal: síndrome da má absorção intestinal, menor absorção de aminoácidos e
menor formação de albumina. Esses animais geralmente apresentam fezes diarreicas crônicas;
Insuficiência pancreática exócrina (IPE): com a deficiência na liberação de enzimas digestivas
pelo pâncreas, não ocorrerá digestão de proteínas em aminoácidos, que não serão absorvidos e
consequentemente não terá produção de albumina. Os animais apresentam sinais típicos, com
fezes em grandes volumes e amolecidas.
Doença que provoca uma perda acentuada de albumina
Doenças renais/glomerulares: a albumina é menor que a globulina, então em lesões glomerulares
graves ocorrem o extravasamento proteico para a urina, ocasionando em hipoalbuminemia com
globulinas normais.
Causas de aumento da concentração de proteína
Hiperalbuminemia e hiperglobulinemia: aumenta apenas em casos de desidratação. Nota-se o
hematócrito aumentado ou próximo ao limite superior.
Hiperglobulinemia (gamaglobulina, betaglobulina e alfaglobulina): a alfa e beta aumentam em
doenças inflamatórias, na fase aguda.
Causas de aumento de fibrinogênio
Desidratação: aumenta junto com outras proteínas;
Inflamação: é um importante componente do hemograma de ruminantes, pois sua concentração de
eleva muito nos processos inflamatórios, enquanto nas outras espécies é inespecífico.
Doença renal: a glomerulonefrite promove o aumento de fibrinogênio em cães e ruminantes;
Nas hemorragias crônicas, onde o fígado aumenta a produção e quando há fraturas (calo fibroso),
piometra (gatas), cinomose, parvovirose, enterites, erliquiose, peritonite séptica;
A N E M I A S
É a diminuição da massa eritróide (série vermelha), são classificadas como regenerativas ou
arregenerativas baseando-se na resposta da medula óssea.
Anemia Regenerativa
Ocorre uma perda acentuada de hemácias, entretanto a produção se mantém aumentada com a
finalidade de retornar a massa eritróide ao valor basal. A anemia regenerativa pode ser causa por:
17
Hemorrágica: aguda – quando ocorrem traumas com rupturas de grandes vasos e perda intensa
de sangue, o hematócrito fica normal, devido à perda de hemácias e plasma na mesma proporção,
porém, com o tempo o líquido intersticial começa a ser deslocado para o plasma a fim de tentar
reduzir as perdas (hipovolemia) e aumentar o volume sanguíneo, com isso o hematócrito começa a
reduzir (diluição do sangue) e a anemia começa a ficar evidente. Após 2-4 dias os reticulócitos
começam a ser liberados em quantidade maior, tornando uma anemia Macrocítica hipocrômica
que vai variar de acordo com o grau de anemia com a resposta da medula. A reticulocitose
aumenta o VGM, pois são hemácias de maior tamanho, porém diminui o CHGM por possuírem
uma menor quantidade de hemoglobina sintetizada em seu citoplasma. Causas = procedimentos
cirúrgicos, traumas, desordens de coagulação e deficiência de vit K (ingestão de dicumarínicos,
warfarin, etc.).
Com a cronicidade da hemorragia e perda constante de ferro, a anemia passa a ser
Microcítica hipocrômica. O ferro é essencial para formação de hemoglobina, com sua deficiência
as hemácias sofrem uma ou mais divisões adicionais para conseguir atingir uma concentração
adequada de hemoglobina em seus citoplasmas, ficando pequenas ou microcíticas (Micrócitos).
Causas = lesões gastrointestinais, neoplasias “sangrantes” (hemangiossarcoma), trombocitopenias,
parasitas (pulgas, carrapatos, parasitas intestinais, etc.).
Quando a hemorragia é interna (em cavidades), as hemácias são destruídas e o ferro é reutilizado.
Hemolítica: a hemólise, ou destruição dos eritrócitos pode ocorrer intravascular, onde ocorre
dentro dos vasos, havendo um aumento na hemoglobina circulante, que pode passar a ser
eliminada pela urina (hemoglobinúria). Causada por Clostridium perfringens tipo A, Leptospira
spp.,Mycoplasma haemofelis (gatos) agentes que provocam a formação de metahemoglobina
(alho, cebola, paracetamol, etc.), imunomediada (transfusão incompatível ou isoeritrólise
neonatal), medicamentos (cefalosporinas, penicilinas, levamisol, etc.).
A hemólise extravascular ocorre no baço, mediada por células do sistema mononuclear fagocitário
(macrófagos), que removem as hemácias danificadas que vão passando, doenças imunomediadas
(transfusão), ingestão de substâncias oxidantes (alho, cebola, etc.), hemoparasitas. São as mesmas causas.
Os animais com anemia hemolítica possuem uma alta regeneração medular, com a concentração de
reticulócitos muito superior às causadas por hemorragias, pois as hemácias destruídas liberam seu
conteúdo na circulação, sendo utilizados para formação de novos eritrócitos, portanto uma resposta
medular mais rápida e exacerbada.
Anemia Arregenerativa (não-regenerativa)
Esse tipo de anemia é resultado de eritropoiese ineficiente (anemias por defeito de maturação) ou
reduzida produção de hemácias (anemias hipoproliferativas). Classificada em Primária, cujas causas são
por aplasia de medula (idiopático), uso de corticoides por tempo muito prolongado, medicamentos
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(cloranfenicol), insuficiência renal crônica (diminuição de eritropoietina), agentes infecciosos (FIV, Felv,
cinomose, erliquiose), qualquer doença crônica inflamatória. Secundária tem como principal causa a
falta de nutrientes essenciais para produção de hemácias.
Anemia por defeito na maturação de núcleo: são as anemias megaloblásticas já comentadas
anteriormente. Causa uma Anemia Macrocítica (podendo ser normocítica) Normocrômica
Arregenerativa. São mais comuns em gatos que em cães, onde o vírus da leucemia felina (Felv)
está envolvido.
Anemia por defeito na maturação do citoplasma: a principal característica dessa anemia é um
defeito na síntese de hemoglobina, então a maturação do núcleo da hemácia continua, mas o
citoplasma não. As principais causas são por deficiência de ferro ou B6 e intoxicação por chumbo.
A deficiência de ferro = o ferro é essencial para a sintetização de hemoglobina, sendo ela responsável
por cessar a divisão das hemácias quando sua concentração citoplasmática está ideal. Se a hemoglobina
não está sendo formada ou em pouca quantidade, isso promove uma divisão a mais nas hemácias
(duplicação adicional) ficando menores, Microcíticas e Hipocrômicas/Normocrômica. Acometem
principalmente neonatos de todas as espécies, sendo a anemia Ferropriva dos suínos comum em recém-
nascidos que ficam privados de locais que contenham terra (ferro). Em adultos é mais comum por
hemorragias crônicas.
Anemia das doenças crônicas inflamatórias: é a forma mais comum nos animais domésticos. Os
achados compreendem uma Anemia (hematócrito de 17-35%) Normocítica Normocrômica e a
presença de Leucograma inflamatório (ocorre a liberação de citocinas que inibem a proliferação
eritróide). Doenças neoplásicas, distúrbios imunomediados e infecções também podem estar
envolvidos com esse tipo de anemia.
Hipoplasia eritróide seletiva: ocorre apenas a diminuição na produção de hemácias, estando os
leucócitos e plaquetas normais. Pode ser causada por deficiência de eritropoietina nas IRC.
Hipoplasia medular generalizada: anemia, leucopenia e trombocitopenia severa. Em alguns casos
de Erliquiose, Felv, animais submetidos à quimioterapia, endrocrinopatias, AIE, etc.
Obs.: Deficiências nutricionais: o ferro, o ácido fólico e B12 já foram comentados anteriormente. A
deficiência de cobalto nos ruminantes faz com que a vitamina B12 não se forme no rúmen por ação dos
microrganismos levando também a uma Anemia Normocítica Normocrômica Arregenerativa.
A intoxicação por cobre em ruminantes, especialmente em ovinos resulta em uma anemia
regenerativa hemolítica por formação de corpúsculos de Heinz. O cobre fica acumulado no fígado e em
situações estressantes é liberado, resultando em uma crise hemolítica. A deficiência do mesmo também
leva à formação de corpúsculos de Heinz.
19
ERITROCITOSE É definida pelo aumento da massa de eritrócitos circulantes, sendo encontrada em livros como
“policetemia”, porém esse termo é designado para o aumento de todos os componentes do sangue
(leucócitos, hemácias e plaquetas). Ocorre o aumento dos valores de hematócrito, contagem de hemácias
e concentração de hemoglobina. Pode ser classificada em:
Relativa: é um falso aumento devido à hemoconcentração ou esplenocontração;
Absoluta: pode ser dividida em primária ou secundária (apropriada ou inapropriada);
Eritrocitose Relativa
Hemoconcentração: é a mais comum e ocorre quando há perda de volume plasmático causada
por desidratação, deixando as células concentradas. Então ao se fazer o hemograma e observar
eritrocitose, deve-se avaliar sinais de desidratação no animal (turgor da pele, enoftalmia, TPC,
histórico de vômitos e diarreia).
Achados: PPT aumentadas (podendo estar normais); pode ocorrer um aumento discreto de leucócitos
(nem é perceptível); azotemia pré-renal pode estar presente (aumento de creatinina e uréia), pois se há
desidratação, consequentemente diminui a taxa de filtração pelos rins e acúmulos desses metabólitos.
Esplenocontração: em animais que realizam exercícios antes da colheita do sangue ou aqueles
que passam por um estresse intenso antes da coleta ocorre uma liberação de adrenalina que atua
sobre o baço provocando sua contração, liberando hemácias e plaquetas na circulação. É um efeito
transitório e após 20-60 minutos o baço “relaxa” e os glóbulos vermelhos e plaquetas que haviam
sido liberados retornam para seu interior. É bem comum em gatos e equínos.
Histórico: Animal agitado, taquicárdico, taquipnéico, sinais de medo antes da colheita.
Eritrocitose Absoluta
Primária: é causada por um distúrbio mieloproliferativo raro, no qual ocorre a proliferação
desordenada de eritrócitos e consequentemente o aumento de hematócrito. Células eritróide
neoplásicas que independem de eritropoietina para proliferar.
Secundária: Apropriada: ocorre o aumento da produção de hemácias devido ao aumento da
liberação de eritropoietina induzido pela hipóxia, ou seja, o número de eritrócitos mesmo estando
normal ocorre uma hipóxia e aumento da liberação e Epo. As causas mais comuns de hipóxia
sistêmica são as doenças pulmonares crônicas, as insuficiências pulmonares, hipoperfusão renal,
Tetratologia de Fallot, tromboses e animais que moram em locais de alta altitude com baixo teor
de oxigênio. Inapropriada: ocorre um aumento na liberação de eritropoietina, porém não está
relacionado com hipóxia e sim devido a cistos, neoplasias encontradas nos rins e fígado, que
promovem essa liberação excessiva de Epo e consequentemente aumento de hemácias.
7- Sabendo das causas de eritrocitose, como se deve proceder em caso de um animal com
aumento de VG/HCT?
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Primeiramente deve-se analisar se o animal fez algum exercício antes da colheita, se estava estressado e
se apresenta algum sinal de desidratação, caso haja sinais de excitação, deve-se esperar o animal se
acalmar para proceder com a colheita e fazer o hemograma confirmatório. Se caso haja aumento de PPT é
devido à desidratação, porém em doenças gastrointestinais a PPT podem estar normais ou diminuídas.
Após excluir a eritrocitose relativa deve-se levar em conta a absoluta secundária apropriada, decorrente de
uma insuficiência cardíaca ou pneumonias (há hipóxia), podendo pedir raio X de tórax, ECG, Eco. Se não
houver indício de hipóxia sistêmica aí sim a inapropriada deve ser levada em consideração, devendo
buscar por cistos, neoplasias renais ou hepáticas. A possibilidade de uma eritrocitose primária deve ser
avaliada (distúrbio mieloproliferativo), mesmo sendo rara.
8- Quais são os sinais clínicos da eritrocitose e os tratamentos estabelecidos?
Mucosas congestas, dispneia, o volume de hemácias é muito grande e o sangue não circula direito.
-Relativa por hemoconcentração: fluidoterapia;
-Absoluta primária: é feito através de flebotomias (sangrias) para manter o VG na normalidade, e também
com o uso da quimioterapia para reduzir as taxas eritrocitárias.
-Absoluta secundária apropriada e inapropriada: tratar a causa base e fazer flebotomia em casos de VG
muito alto.
CASOS CLÍNICOS
1) Cadela de 9 semanas, apática, com melena, sem vacinação e vermifugação, palidez de
mucosa. Foi solicitado o hemograma para saber se realmente há anemia. No esfregaço
sanguíneo observou-se: policromasia moderada e anisocitose.
Variáveis Valor observado Valor de referência
Hematimetria (x1012/L) 1,59 5,5 – 8,5
Hemoglobina (g/L) 39 120 – 180
Volume globular (L/L) 0,13 0,37 – 0,55
VGM (fL) 81 60 – 77
CHGM (g/L) 30 32 – 36
PPT (g/L) 40 57 – 77
Fibrinogênio (g/L) 5 1 – 5
Reticulócitos (%) 10,6 relativo 2,99 corrigido
0,5 - 1,5
Plaquetas (x109/L) 750 200 – 500
Índice ictérico normal -
VGM: VGx1000/hmc = 0,13x 1000/ 1,59 = 81,7
21
CHGM: Hb/ VGx10 = 30;
Contagem de Reticulócitos: 10,6
Reticulócitos corrigidos: %ret x VG do animal/ Vc médio da espécie = 10,6 x 0,13/ 0,46 = 2,99
O animal apresenta uma anemia grave representada por 1,59 de hematimetria e VG 0,13. Além disso, é
possível saber que essa anemia é regenerativa devido ao aumento de reticulócitos (2,99) e policromasia
moderada vista na lâmina. A regeneração ocorre em anemias causadas por hemólise (O que não pode ser
nesse caso, pois o índice ictérico estaria aumentado e proteínas plasmáticas aumentadas ou normais). No
histórico fala que a cadela possui sangue nas fezes (hemorragia) e hipoproteinemia (sendo as causas:
desnutrição; problemas digestivos (IPE), problema de absorção (fezes amolecidas); hemorragias crônicas
(perde hemácias e plasma); não produz proteínas (IH); perda de proteínas na urina, em queimaduras
extensas ou nas fezes). O aumento de plaquetas é mais um indício de hemorragias crônicas, onde a
medula responde aumentando a produção (trombocitose).
*Anemia Macrocítica Hipocrômica regenerativa com hipoproteinemia e trombocitose sendo indicativo de
hemorragia crônica.
2) Sem histórico. No esfregaço sanguíneo foram observados: policromasia intensa, esferocitose,
corpúsculos de Howell jolly.
Variáveis Valor observado Valor de referência
Hematimetria (x1012/L) 2,52 5,5 – 8,5
Hemoglobina (g/L) 70 120 - 180
Volume globular (L/L) 0,24 0,37 – 0,55
VGM (fL) 95 60 - 77
CHGM (g/L) 29 32 - 36
PPT (g/L) 88 57 - 77
Fibrinogênio (g/L) - 1 - 5
Reticulócitos (%) Corrigido: 12 0,5 - 1,5
Plaquetas (x109/L) 100 200 - 500
Índice ictérico aumentado
O animal possui uma Anemia Macrocítica Hipocrômica extremamente Regenerativa (reticulocitose e
corp. de Howell jolly) com presença de esferócitos (característicos de anemia hemolítica imunomediada),
aumento do índice ictérico e trombocitopenia (deve ser provavelmente consequência da doença primária,
onde os imunocomplexos ou anticorpos se ligam também às plaquetas).
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*Por que no caso anterior (hemorragia crônica) o animal possuía 3 de reticulócitos corrigidos e nesse caso
de anemia hemolítica tem reticulócito de 12?
Na hemorragia ocorre a perda de todos os componentes do sangue, hemoglobina e ferro, enquanto na
hemólise não, o que permite uma melhor resposta na regeneração pela medula óssea. Então nesses casos a
anemia vai ser Extremamente regenerativa.
*Por que nesse caso não é indicado o uso da transfusão sanguínea?
Como geralmente não se utiliza a tipagem sanguínea em rotina nos animais, faz-se a primeira transfusão e
sensibiliza o animal caso o sangue seja incompatível. Se o animal vier a precisar futuramente de uma
segunda transfusão e receber o sangue com o qual foi sensibilizado, irá adquirir uma anemia hemolítica
autoimune. Então, só se faz a transfusão em casos realmente necessários, de hematócrito 0,10, casos
graves.
Discussão: a AHIM ocorre quando há produção de ac´s contra ag´s eritrocitários, hipersensibilidade tipo
II ou citotóxica (transfusão de sangue), hipersensibilidade tipo III (quando se formam imunocomplexos
de antígenos ligados a anticorpos, que se depositam na superfície das hemácias, plaquetas, células
endoteliais, rins, articulações desencadeando uma resposta dos macrófagos que vão fagocitar essas
hemácias e plaquetas, e além disso, as células granulocíticas vão degranular nas articulações, rins e vasos
(pode ter hemorragia) provocando um processo inflamatório nesses locais.
9- Por que um animal que sofreu uma hemólise intensa (aguda) ficando com VG de 0,15
apresenta sinais clínicos diferentes (mais graves) de um animal com uma alta carga
parasitária (ascarídeos) e que perdeu sangue lentamente (crônico) e também está com o VG
0,15?
Os sinais clínicos vão variar de acordo com a velocidade de instalação da anemia, quando o animal perde
sangue de forma brusca, repentina, aguda (hemorragia aguda ou hemólise), o organismo sofre um grave
dano, não estando preparado para essa queda brusca do VG. Quando o animal tem uma babesiose,
mycoplasmose, hemorragia crônica, o VG vai reduzindo lentamente (dias) o organismo se adapta a essa
condição e os sinais não se tornam tão exacerbados.
10- Um gato atropelado, com suspeita de hemorragia interna. No hemograma todos os valores
estavam dentro da normalidade, com exceção do fibrinogênio e plaquetas que estavam
reduzidos. Explique o porquê da suspeita de hemorragia mesmo os valores do hemograma
estando “normais”.
O animal com uma hemorragia aguda vai ter perda de hemácias, plasma, leucócitos tudo na mesma
proporção, então, se colher sangue momentos após a hemorragia não irá ter alterações. Não levar em
consideração o hemograma, mas sim pressão arterial, TPC, mucosas hipocoradas ou cianóticas, distensão
23
abdominal, ultrassom pode ajudar e a punção abdominal (paracentese). O fibrinogênio e as plaquetas são
utilizados para fazer a hemostasia, por isso há diminuição.
Quando a perda de sangue não é corrigida com fluidoterapia ou transfusão, o organismo vai responder
tentando aumentar a volemia, ocorrendo passagem dos fluidos intersticiais para a circulação, e se colher
sangue neste momento irá ocorrer as alterações no hemograma: diminuição de VG, hematimetria e
proteínas, que de início é Normocítica Normocrômica Arregenerativa, mas depois de 2-4 dias a medula
responde, tornando-se Macrocítica Hipocrômica, e no 7º dia ocorre o pico de reticulócitos.
11- Em uma consulta realizada no hospital veterinário você examinou o animal com histórico
de prostração, vômitos, apatia, anorexia e urina de cor escura. Durante o exame clínico
foram constatados: icterícia, esplenomegalia e hipertermia. Foram solicitados um
hemograma e pesquisa de sangue periférico por hemoparasitos (ponta de orelha). Na
avaliação da extensão sanguínea foi observada presença de hemácias nucleadas (16), e teve a
pesquisa negativa por hemoparasitos. Sobre o caso clínico, responda:
a) Calcule o VGM, CHGM, reticulócitos corrigidos e classifique a anemia;
b) Dê um provável diagnóstico (classificação fisiopatológica da anemia);
c) Cite 3 alterações eritrocitárias que podem ser observadas na lâmina deste animal;
d) Explique as causas das alterações;
variáveis Valor observado Valor de referência
Hematimetria (x1012
/L) 2,0 5,5 – 8,5
Hemoglobina (g/L) 59 120 -180
Volume Globular (L/L) 0,16 0,37 – 0,55
VMG (fL) 80 60-77
CHGM 36,8 32-36
PPT (g/L) 81 57-77
Fibrinogênio 5 1-5
Índice ictérico 8 2-5
Reticulócitos (%) 23 (ret. Corrigido= 8) 0,5 – 1,5
a) VGM: 0,16x1000/2 = 80 CHGM: 59/ 0,16x10 = 36,8 Ret. Corrig.: 23 x 0,16/0,46 = 8
Anemia macrocítica com discreto aumento do CHGM regenerativa (reticulocitose);
b) Apesar de não ter sido observado hemoparasitos na extensão da lâmina não significa que o animal
seja negativo para a doença, pois é um exame pouco sensível. O animal pode sim estar infectado
por hemoparasitas (Babesia canis, Mycoplasma haemocanis) que estão provocando uma anemia
hemolítica imunomediada, com liberação de grande concentração de hemoglobina na circulação e
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eliminação na urina (hemoglobinúria), ou pode estar com leptospirose que também provoca
hemólise e aumento do índice ictérico.
c) Policromasia, corpúsculos de Howell Jolly e esferócitos;
d) O animal possui uma anemia severa causada de forma hemolítica, onde não houve perda
sanguínea pra o meio externo, propiciando assim uma regeneração eficiente da medula óssea
(justificado pela reticulocitose, presença de hemácias nucleadas e aumento do VGM). Com a
hemólise ocorreu liberação de hemoglobina e formação de bilirrubina aumentando o índice
ictérico, e também o CHGM de forma discreta. O aumento de proteína pode ter ocorrido devido à
liberação de hemoglobina na circulação (que é uma proteína) ou até mesmo devido à produção
aumentada de anticorpos.
Obs.: A hemoglobina se liga a uma proteína chamada Haptoglobina, para ser carreada na circulação.
Quando a concentração de Hb liberada é muito alta ocorre uma ocupação de todas as haptoglobinas, e a
Hb restante que não se liga vai se depositar nos glomérulos (glomerulonefrite) e uma parte sair na urina
(que fica escura / castanho).
12- Quais as principais causas de aumento de hemoglobina e CHGM? Por que na hemólise
ocorre o aumento do CHGM?
Hiperproteinemia, hiperlipidemia, hiperbilirrubinemia e hemólise. E a hemólise aumenta o CHGM
porque a concentração de hemoglobina continua igual, mesmo tendo hemólise, porém o número de
células destruídas é alto, então o VG diminui (“muita hemoglobina pra pouca célula”), por isso que o
CHGM aumenta.
Ex.: CHGM = _ Hb__ (fica normal) ao dividir o valor de Hb que está normal pelo VG diminuído,
VG(diminuído)x 10 a Hb irá dá um valor maior.
PROTEÍNAS DO SANGUE α
PPT = albumina + globulinas β- fibrinogênio
γ- imunoglobulinas
Se suspeitar de insuficiência hepática deve-se dosar Albumina;
As imunoglobulinas aumentam em doenças infecciosas crônicas;
A dosagem de fibrinogênio é importante para identificar processos inflamatórios nos ruminantes;
ALTERAÇÕES NOS ESFREGAÇOS SANGUÍNEOS
1 – Hemácias Normais;
2 – Eritrofagocitose (hemácia fagocitada por macrófago);
3 – policromasia;
Proteínas de fase aguda da inflamação
25
4 – Metarrubrócitos (precursores dos reticulócitos): indicam regeneração, porém a presença deles sem que
haja policromasia indica distúrbio mieloproliferativo (leucemia eritróide);
5 – Reticulócitos: coloração com azul de cresil brilhante;
6 – Ponteado basofílico: são agregados de ribossomos em forma de pequenos grânulos no citoplasma das
hemácias. Em ruminantes está associado à hemácias imaturas. Em cães e gatos pode ser visto em anemias
extremamente regenerativas. Também ocorre em intoxicação por chumbo;
7 – Corpúsculo de Howell-Jolly: estão presentes em anemias regenerativas;
8 – Corpúsculo de Lentz: inclusões virais característicos da infecção pelo vírus da Cinomose canina;
9 – Leishmania spp;
10 – Ehrlichia canis: aspecto granular dentro de um monócito;
11 – Hepatozoon canis;
12 – Anaplasma platys
13 – Agregação plaquetária: deve ser anotada também ao fazer a análise do esfregaço sanguíneo. Indica
que o anticoagulante está inadequado, ou a colheita foi estressante (líquido tissular na seringa);
14 e 14* – Babesia canis;
15 – Mycoplasma haemofelis: Ficam na membrana das hemácias de felinos;
Fonte: pessoal (com exceção das imagens 1, 5 e 15).
1 2 3 4
5 6 7 8
9 10 11 12
13 14 14* 15
26
LEUCOGRAMA
Os leucócitos são as células de defesa do organismo. Sua contagem no sangue auxilia a
compreender as possíveis disfunções que os pacientes apresentam. Os valores relativos e absolutos
associados às informações sobre a morfologia dos leucócitos é conhecido como Leucograma.
São divididos em dois grupos:
Granulócitos (polimorfonucleares):
Neutrófilos;
Eosinófilos;
Basófilos;
Agranulócitos (mononucleares):
Linfócitos;
Monócitos;
Neutrófilos (NØ)
São produzidos pela medula óssea e em algumas situações como no caso de infecções crônicas
podem ser originados também do baço, são liberados na corrente sanguínea, circulam um breve intervalo
de tempo e depois migram para os tecidos. O tempo de produção até a liberação é de 4-6 dias, porém a
medula óssea possui um estoque de neutrófilos maduros que podem suprir o sangue por 5 dias (caso a
medula pare de produzir).
As células-tronco diferenciam-se em mieloblastos que são as células mais jovens da série
granulocítica. Com a sua diferenciação ocorre formação de progranulócitos (promielócito) e mielócito
que ainda tem a capacidade de sofrer divisão.
O mielócito dará origem ao metamielócito (núcleo com formato retiniforme), neutrófilo bastonete
(núcleo com formato de ferradura, sem nenhuma constrição), neutrófilo segmentado e hipersegmentados,
que possuem capacidade fagocítica e microbicida. Os neutrófilos apresentam diversos grânulos que são
discretamente corados em algumas espécies (um roxo claro) e incolores em outras.
De mieloblasto até segmentado tem um tempo de 7 dias, entretanto, quando ocorre uma estimulação por
uma resposta inflamatória esse tempo reduz para 2 ou 3 dias.
27
Mielócito Metamielócito NØ Bastonetes NØ Segmentado NØ hipersegmentados
Eosinófilos (EØ)
Eles possuem proteínas que se ligam e lesionam as membranas de parasitas (helmintos), além
disso, também estão envolvidos em alguns mecanismos das alergias inflamatórias (quando os mastócitos
degranulam liberam histamina que possui efeito quimiotático sobre os eosinófilos). A presença de
grânulos vermelho-alaranjados em seu citoplasma é característico desses leucócitos. Os grânulos dos
eosinófilos de felinos são uniformes, enquanto os dos equinos são arredondados e muito grandes
deixando a célula com aspecto de “framboesa” (chegam a sobrepor o núcleo).
Gato; -Cavalo;
Basófilo (BØ)
Sobre a função fisiopatológica na circulação é desconhecida. Acredita-se que possuam uma
função semelhante aos mastócitos, onde estão presentes histamina e heparina em seus grânulos. A
histamina tem papel fundamental nas reações de hipersensibilidade imediata (urticária, alergia aguda e
anafilaxia), enquanto a heparina tem função anticoagulante. Os basófilos são maiores que os neutrófilos,
com núcleo segmentado, e os grânulos que variam de acordo com a espécie: os cães possuem poucos
grânulos (violeta-escura); os gatos possuem grandes grânulos (ligeiramente acinzentados); os dos grandes
animais possuem tantos grânulos que chegam a sobrepor o núcleo.
BØ de jumentos (3 e 4);
Monócitos (MØ)
São produzidos na medula óssea, caem na circulação, migram para os tecidos onde continuam um
processo de maturação para se transformar em macrófago (alguns autores falam que a partir do momento
em que o monócito é ativado e passa a fagocitar, torna-se macrófago). Tem inúmeras funções e dentre
elas: fagocitar microrganismos, destruição de hemácias no baço e reciclagem do ferro, fazem a “limpeza”
tecidual nos processos inflamatórios, fagocitando restos celulares e partículas estranhas.
28
Possuem o núcleo sem segmentos, citoplasma azul-acinzentado, vacúolos no citoplasma podem
estar presentes como também pequenos grânulos de coloração ligeiramente púrpura.
(Fonte: pessoal) A presença de monócitos (setas vermelhas) em um cão com erliquiose (seta azul –
mórula de Ehrlichia canis). Reparar na coloração azul-acinzentada dos monócitos em relação aos
neutrófilos (setas amarelas), núcleo não segmentado e o tamanho que chega a ser 4 vezes maior. Aumento
de 100x.
(Fonte: pessoal – imag. 1 e 2) Macrófagos com presença de vacúolos (setas pretas). Na segunda imagem
notar a diferença de tamanho e morfologia entre os neutrófilos vizinhos. Na terceira imagem estão
presentes pequenos grânulos no citoplasma.
Linfócitos (LØ)
Os linfócitos são originados do timo e medula óssea, vão para circulação sanguínea, em seguida
passam para os tecidos. Os LØ possuem uma capacidade de retornar ao sistema vascular para
recirculação. Esta propriedade dos linfócitos torna difícil e imprecisa a estimativa de sua meia vida. O
fenômeno de recirculação é de suma importância biológica porque proporciona um mecanismo de
distribuição generalizada de células linfoides ocupadas com a resposta imune sistêmica. Como resultado,
um grande número de linfócitos podem ser expostos a um antígeno depositado localmente no tecido.
Estas células antigenicamente expostas podem ser transportadas por vários lugares no corpo para
propagar e montar uma vigorosa resposta imune (sangue ->linfonodos ->linfa ->sangue).
29
Não é possível diferenciar as subpopulações dos linfócitos no esfregaço sanguíneo, sendo
composta por LB (se diferenciam em plasmócitos e passam a produzir anticorpos) e LT (responsáveis
pela imunidade celular). Os LT´s podem ser classificados ainda em LTCD4 (auxiliares) e LTCD8
(citotóxico). Ainda possui uma terceira classe que não possuem esses antígenos (CD4 ou CD8) na
superfície, são as exterminadoras ou Natural killer (podem ser visualizados pequenos grânulos em seu
citoplasma).
Obs.: é difícil a diferenciação entre monócitos com pouco citoplasma e linfócitos grandes, pois são
muito semelhantes. Se na lâmina tiver poucos, não conta, mas se tiver em número muito alto você terá
que observar de forma geral a morfologia de todos os linfócitos para poder diferenciar.
(Fonte: pessoal) Na primeira imagem, um linfócito típico, normal, núcleo arredondado e excêntrico,
pouco citoplasma de coloração azul clara. Na segunda imagem há um linfócito reacional, ou ativado, com
o citoplasma azul intenso. Na terceira imagem, têm-se um plasmócito (seta preta) que é um LB, em seu
citoplasma estão presentes os corpúsculos de Russel, que são vacúolos de cor azul-claro, indicam que há
produção de imunoglobulinas. Ao lado do LB temos um monócito. Aumento de 100x.
Leucometria global: é o número de leucócitos por litro de sangue = x109/L;
Diferencial de leucócitos: contagem de 100 leucócitos no esfregaço sanguíneo. A maneira da contagem
já foi descrita anteriormente, devendo ser feita em “torre” e anotando todas as alterações morfológicas,
hemoparasitas, etc.
13- Quais são os métodos que determinam a concentração de leucócitos?
- Contagem na câmara de Neubauer;
- Contagem no esfregaço sanguíneo (lâmina corada);
- Aparelhos semiautomáticos (através de diluições);
- Aparelhos automáticos (põe o sangue direto no aparelho);
Nomenclatura
Citose: aumento do número;
Filia: aumento do número;
Penia: diminuição do número;
LEUCOCITOSE LEUCOPENIA
LINFOCITOSE LINFOPENIA
NEUTROFILIA NEUTROPENIA
EOSINOFILIA EOSINOPENIA
BASOFILIA -
MONOCITOSE MONOCITOPENIA
*”basopenia” não existe, pois o valor normal é 0, ou seja, é raro de ser
encontrado.
30
Cálculos:
Após contar 100 leucócitos no esfregaço sanguíneo deve-se calcular os valores absolutos, exemplo:
Leucometria global: 30,0 x109/L
Diferencial de leucócitos: Valor absoluto:
NØ = 70; Se em 100 leuco ________ 70 NØ
EØ = 5; em 30,0 LG_________X
LØ = 14; X = 21,0
BØ= 0; faz isso com todos os leucócitos e anota os valores;
MØ= 11;
Total: 100
OBS.: os aparelhos semiautomáticos e automáticos contam as hemácias nucleadas (metarrubrócitos)
como leucócitos, então, mesmo fazendo no aparelho, deve-se fazer o diferencial olhando a lâmina no
microscópio e contando o número de metarrubrócitos para fazer o cálculo de “Leucócitos Corrigidos”.
Lcorrigido = LG x (100)
100+HN
Ex.: 4 metarrubrócitos (HN)
Lc = 30,0 x (100) = 100/104 x 30,0 = 28.8 x109/L
100+4
Leucocitose Os neutrófilos estão em maior número que os outros leucócitos, e pra entender as respostas
neutrofílicas às doenças, é importante considerar os compartimentos onde estes leucócitos se distribuem:
Medula óssea;
Compartimento marginal;
Compartimento circulante;
Tecidos;
A capacidade de estocagem de neutrófilos nos cães é máxima, nos ruminantes é mínima e
intermediária em felinos e equínos.
A leucocitose é definida pelo aumento de leucócitos acima dos valores de referência. A leucocitose
pode ser fisiológica, reativa e proliferativa. As mudanças na contagem dos leucócitos podem envolver
anormalidades de produção, liberação, distribuição intravascular, vida média e ingresso tecidual de vários
leucócitos. Por exemplo: os neutrófilos circulantes estão num equilíbrio dinâmico com os do
compartimento marginal e o de reserva na medula óssea. Quando ocorre uma demanda funcional imediata
de neutrófilos, ocorre uma mobilização das células dos compartimentos circulantes e marginal, depois
pela reserva na medula óssea e por fim pelo aumento da proliferação e liberação de células jovens pela
medula, sendo observado pelo “desvio à esquerda” que será falado posteriormente.
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Leucocitose Fisiológica: quando o animal passa por um estresse repentino, por uma emoção
muito forte, ocorre a liberação de adrenalina que aumenta a frequência cardíaca e respiratória,
aumentando o fluxo sanguíneo, que retira os neutrófilos e linfócitos que estavam no
compartimento marginal e liberam no circulante, então, ao colher o sangue vai ter um “aumento”
relativo dos leucócitos. Sabe-se que os cães, cavalos e bois possuem uma proporção de 1:1 de
células nos dois compartimentos (circulante e marginal), então, se as células do marginal forem
pra o circulante pode ocorrer do valor de leucócitos chegar a dobrar (máximo). Os gatos possuem
de 1:3, podendo triplicar em situações de estresse.
Leucocitose Reativa: ocorre em resposta às doenças, certas doenças podem induzir uma resposta
específica, mas usualmente um padrão geral de resposta dos leucócitos é evidente, independente
da doença. Pode ter desvio à esquerda ou não. O grau de leucocitose varia entre as espécies e é
relativa para relação neutrófilos:linfócitos (N:L). Em animais com N:L alta, possuem uma maior
resposta imune que os de baixa relação N:L. A maneira de se diferenciar uma leucocitose
verdadeira de uma induzida por adrenalina ou corticoide é observando: desvio à esquerda;
hiperfibrinogenemia; monocitose em outras espécies que não seja o cão; ausência de linfopenia ou
eosinopenia; [perguntar]
Compartimento de reserva:
Cão: 1N:3,5L Gato: 1,8N:1L Cavalo: 1,1N:1L Boi: 0,5N:1L
Leucocitose Proliferativa: resulta de uma mudança neoplásica da célula pluripotencial, sendo as
formas mais comuns de leucemias: linfocíticas (são os linfomas) ou mieloproliferativos
(originados de células-tronco).
Leucopenia A leucopenia ocorre por conta da neutropenia e linfopenia, sendo a neutropenia a causa primária
em animais com relação N:L maior que 1, e linfopenia em animais que a relação N:L é menor que 1. A
neutropenia inicialmente em infecções bacterianas graves nos ruminantes (0,5N:1L) e a linfopenia ocorre
em casos virais. Uma acentuada linfopenia ocorre também em casos de cinomose, devido à atrofia e
necrose do tecido linfóide, produzido pelo vírus.
DIAPEDESE
TECIDOS
Comp. De
proliferação
Mieloblastos
Promielócito
Mielócitos
Comp. De
reserva
Metamielócito;
NØ bastonete;
Segmentados
MEDULA ÓSSEA
32
14- O que pode levar ao aparecimento de neutrófilos “velhos” (hipersegmentados) na corrente
sanguínea?
Os neutrófilos segmentados passam algumas horas na circulação, depois expressam proteínas de
adesão na superfície, fazem marginação e depois diapedese para os tecidos. Quando o animal passa por
situações estressantes, doenças graves (insuficiência renal, cetoacidose diabética, desidratação, dor
associada à traumas, etc.), ocorre um estímulo na hipófise e liberação de hormônio adrenocorticotrópico
que age sobre as adrenais aumentando a liberação de cortisol. O cortisol atua no material genético dos
neutrófilos fazendo com que eles demorem a expressar as moléculas de adesão (adesinas) na membrana,
demoram a marginar, e o núcleo continua a se condensar, apresentando mais segmentos e constrições,
tornando-se hipersegmentado (mais de 6 segmentos), aumentando (duplicando) o número de neutrófilos
circulantes. O cortisol atua também sobre os linfócitos causando linfopenia, alguns autores falam que
induz a apoptose e impede a recirculação, outros falam que os linfócitos migram para os órgãos linfóides
e a medula reduz a produção. A terceira alteração é a eosinopenia (inibição da produção pela medula), e
em cães pode ocorrer uma monocitose. Então, uma leucocitose com neutrofilia e desvio nuclear de
neutrófilos à direita, linfopenia, eosinopenia, e monocitose = cortisol = estresse ou uso de corticoide
exógeno.
Classificação de Acordo com a Resposta Leucocitária Toda vez que houver um estímulo (inflamatório e/ou infeccioso) para aumentar a produção de
leucócitos irá ocorrer: -estimulação pelas citocinas inflamatórias (fator estimulante de colônia – FEC); -o
tempo de produção irá cair de 6 pra 4 dias; -o FEC estimula a diferenciação, aumenta o compartimento de
proliferação, o de maturação e reserva (mais células jovens sofrendo divisões mitóticas em menor tempo,
células sendo liberadas mais cedo e mais jovens (desvio à esquerda), os Mielócitos sofrem divisão (ões)
adicional (is) aumentando as células no compartimento de reserva da medula óssea, e ao invés de originar
16-32 células, irão se formar 64).
O Desvio nuclear de neutrófilos à esquerda deve-se à liberação de neutrófilos jovens no sangue.
A primeira linha de defesa são os neutrófilos segmentados, em seguida aumenta o número de bastonetes,
e se não der conta da infecção vão sendo liberados Metamielócitos e por fim os Mielócitos, daí vem o
“desvio à esquerda”.
Mielócito Metamielócito NØ bastonete NØ segmentado
33
A classificação pode ser de acordo com o GRAU DE MATURAÇÃO DOS NEUTRÓFILOS:
1- Discreto: aumenta os segmentados e os bastonetes;
2- Moderado: aumenta os segmentados, os bastonetes e os Metamielócitos;
3- Acentuado: aumenta os segmentados, os bastonetes, os Metamielócitos e os Mielócitos;
Pode ser ainda de acordo com a EVOLUÇÃO DO PROCESSO INFLAMATÓRIO:
1- Regenerativo: quando o número de NØ segmentados for maior que o somatório das formas
imaturas dos neutrófilos. Ex.:
NØ segmentados: 67
NØ bastonetes: 20
Metamielócitos: 5 26 então 67>26 = regenerativo (prognóstico favorável).
Mielócitos: 1
2- Degenerativo: quando o número de NØ segmentados for menor que o somatório das formas
imaturas. Ex.:
NØ segmentados: 30
NØ bastonetes: 25
Metamielócitos: 10 40 então 30<40 = Degenerativo (prognóstico Desfavorável).
Mielócitos: 5
Isso significa dizer que o organismo não está conseguindo combater a infecção, que as células
adultas estão sendo destruídas e forçando a medula a aumentar muito a produção e liberação de células
jovens > bastonetes > Metamielócitos > Mielócitos. Casos comuns de ocorrer a Leucocitose com
neutrofilia e desvio nuclear de neutrófilos à esquerda (DNNE) Acentuado Degenerativo acompanhado de
uma anemia arregenerativa dos processos inflamatórios em cadelas e gatas com piometra.
15- O que são, quais são os GRAUS DE TOXEMIA e as células envolvidas?
Quando o animal possui um processo infeccioso que estimula muito a produção de neutrófilos, a medula
libera muitas células com sinais de imaturidade do citoplasma, que são os chamados “Graus de Toxemia”.
São eles:
Basofilia Citoplasmática: o citoplasma (segmentados, bastonetes, Metamielócitos e Mielócitos) é
corado levemente de azul, fica “parecendo um monócito”. É o mais comum.
Vacuolização Citoplasmática: são vacúolos no citoplasma dos neutrófilos. É o segundo mais
comum.
Granulações tóxicas: os grânulos dos neutrófilos ficam ácidos e acabam sendo corados pelo
panótico vermelho (eosina). 3º mais comum.
Corpúsculos de Dohle: inclusões intracitoplasmáticas irregulares e basofílicas (azuil-escuro);
Outras “alterações” apresentadas pelos leucócitos:
34
Aglomeração leucocitária: quando o sangue é submetido ao frio são ativadas “imunoglobulinas
do frio”, se ligam aos leucócitos e fazem com que eles se aglutinem;
Corpúsculo de Russel: já foi falado anteriormente, são vacúolos de cor azul-claro encontrados
nos plasmócitos (linfócitos B) que indicam que há produção de imunoglobulinas;
Lise citoplasmática e degeneração: geralmente em esfregaços confeccionados após 30 minutos
da colheita do sangue.
Agentes infecciosos vistos no citoplasma de leucócitos:
Ehrlichia: são vistos em forma de mórulas arredondadas, de aspecto granular (bactérias), que
afetam monócitos (erliquiose monocítica canina) ou neutrófilos (erliquiose granulocítica canina);
Hepatozoon: inclusões grandes e alongadas, em forma de “feijão” de coloração clara (branco)
com um ponto mais escuro no centro.
Leishmania: encontra-se na forma amastigota no interior de monócitos e neutrófilos (contém um
cinetoplasto);
Corpúsculos de Lentz: inclusões intracitoplasmáticas em neutrófilos e linfócitos de cães com
cinomose, encontrados na fase de replicação viral.
Anormalidades hereditárias na morfologia dos neutrófilos:
Mucopolissacaridose: os neutrófilos possuem granulações púrpura-escura e linfócitos também
apresentam grânulos e vacúolos. Os animais com esse distúrbio possuem nanismo, doença óssea
grave, opacidade de córnea, espessamento de valva cardíaca, etc. Enfim, possuem um menor
tempo de vida.
Síndrome de Chédiak-Higashi: os neutrófilos apresentam grandes lisossomos no citoplasma
ligeiramente róseos. Esses gatos acometidos apresentam hemorragias devido à função anormal das
plaquetas.
Anomalia de Pelger-Huët: os neutrófilos ficam “hipossegmentados”, com um núcleo de forma
imatura (como de um bastonete ou metamielócito), mas com a cromatina densa. Não traz maiores
consequências aos animais, porém tem que ser identificado para diferenciar de um desvio à
esquerda.
Anomalia de granulação neutrofílica em gatos da raça Birman: gatos dessa raça que são
acometidos possuem neutrófilos com grânulos de coloração eosinofílica (róseos). A doença não
traz consequências para o animal.
Chédiaki-Higashi Perger-Huët mucopolissacaridose (LØ e NØ)
35
Nesta imagem os neutrófilos
apresentam alguns graus de Toxemia. O
citoplasma está intensamente basofílico
(basofilia citoplasmática – seta maior).
O corpúsculo de Döhle está sendo
mostrado pela seta menor. No
citoplasma ainda é possível ver os
grânulos corados (granulações tóxicas);
no neutrófilo do canto inferior direito
apresenta vacuolização citoplasmática
fina, enquanto o do canto superior
esquerdo é um NØ normal apenas para
comparação. (Fonte: Thrall).
Os cães e gatos possuem mais células no compartimento de reserva, enquanto os ruminantes são
os que menos possuem, por isso geralmente ocorre uma leucopenia na fase aguda da infecção em
ruminantes, necessitando de um tempo (crônico) para a medula estabelecer a produção e ter uma
leucocitose, que nunca será exacerbada como nos carnívoros.
Quando ocorre uma inflamação/infecção tecidual tem uma liberação de citocinas (TNF; IL-1)
pelos leucócitos que estão no tecido, e estas vão atuar sobre o endotélio estimulando à expressão de
moléculas de adesão (adesinas), levando ao aumento de marginação leucocitária e consequentemente
reduzindo no compartimento circulante. Então, só em ter uma diminuição dos leucócitos no Leucograma
não significa dizer que a produção está reduzida, pois pode está havendo marginação e diapedese.
16- O que ocorre num Leucograma de um animal com sepse?
Quando se tem bactérias em todos os tecidos há um estímulo para os leucócitos liberarem citocinas que
irão induzir a expressão de adesinas endoteliais por todos os tecidos, desencadeando uma marginação
generalizada e consequentemente leucopenia no leucograma, mesmo a medula óssea aumentando muito a
produção e liberando grande quantidade de leucócitos presentes no compartimento de reserva.
Obs.: não podemos dizer que um animal que possui leucopenia no Leucograma tem uma hipoplasia
medular, pois a medula pode ter aumentando a produção (+),
liberado as células do compartimento de reserva (+), mas a
marginação ter aumentando muito (+++), diminuindo o número
de leucócitos no CC. Ao fazer o esfregaço sanguíneo observamos
um número muito grande de leucócitos por campo.
(fonte: pessoal; leucocitose)
36
17- O que ocorre no Leucograma de um animal com piometra?
A piometra é igual a qualquer outro abscesso, promove um estímulo grande para a medula óssea aumentar
a produção, liberar leucócitos do compartimento de reserva, porém o local para onde os leucócitos vão ter
que marginar é bem menor (útero, ou outro local com abscesso), então muitos vão ficar no compartimento
circulante, e o animal vai apresentar uma leucocitose no Leucograma.
Existem animais que ao ficarem estressados, agitados, adquirem uma leucocitose fisiológica
(falada anteriormente), devido ao aumento da frequência cardíaca, fluxo sanguíneo responsável pela
liberação de adrenalina. Essa leucocitose se dá pela diminuição da marginação de leucócitos e pela
retirada dos leucócitos que estão marginados no endotélio vascular. Os cães possuem uma proporção de
neutrófilos no compartimento circulante e marginal de 1:1, então, quando a leucocitose pode chegar a
dobrar. O valor de referência para os leucócitos de cães é de 6.000 -17.000, se o animal possui um valor
leucocitário fisiológico próximo ao valor inferior de 6 mil, quando passar por uma situação estressante
esse número pode chegar em até 12 mil, o que não é leucocitose. Entretanto, quando o animal possui o
valor leucocitário próximo ao limite superior, 15 mil, por exemplo, ao se estressar, esse valor pode dobrar
chegando próximo aos 30 mil = “leucocitose fisiológica”. Para saber se esse aumento de leucócitos é
devido a algum processo inflamatório deve-se procurar no esfregaço por bastonetes, mesmo sabendo que
o número na circulação é de até 3%, se o animal tem 2% e após o estresse esse valor dobrar pra 4%, vai
ter aumento, então continua a busca por metamielócito e mielócito para saber se realmente a leucocitose é
verdadeira, além dos graus de toxemia. A leucocitose pode ser com DNNE discreto (4% de bastonetes) ou
sem DNNE, neutrofilia madura.
Leucograma Inflamatório: nos cães, na fase aguda sempre há uma leucocitose, pois o
compartimento de reserva é grande, tem muitas células para enviar. Nos bovinos sempre há leucopenia,
pois o compartimento de reserva é pequeno. Nos cães a Leucopenia com DNNE Acentuado Degenerativo
é de prognóstico desfavorável, enquanto nos bovinos não, pois sempre na fase aguda terá a leucopenia
com DNNE podendo ser até acentuado e degenerativo, então deve-se acompanhar com leucogramas
frequentes para ver se o valor dos leucócitos estão aumentando.
Na recuperação o DNNE vai de acentuado > moderado > discreto, e de Degenerativo >
Regenerativo. Ocorre aumento de linfócitos (após infecção deixam os órgãos linfóides) e
monócitos/macrófagos (limpeza tecidual pós-inflamação).
ALTERAÇÕES NO NÚMERO DOS LEUCÓCITOS Neutrofilia: é a principal causa de leucocitose, por ser o leucócito em maior número no sangue. Causas:
Pode ser fisiológica como já foi falada;
Inflamação aguda;
37
Inflamação crônica: algumas lesões supurativas (piometra, abscessos, piodermite). Neutrofilia
com DNNE, graus de toxemia, monocitose, hiperglobulinemia. Anemia arregenerativa das
doenças inflamatórias crônicas;
Leucemia, dentre outras causas;
Neutropenia: é a causa mais frequente de leucopenia. Causas:
Demanda/consumo excessivo na inflamação aguda: ocorre quando a demanda para os tecidos
supera a capacidade do compartimento de reserva medular. O processo inflamatório é tão grave e
agudo que não há tempo suficiente para a reposição através da produção e liberação do
compartimento de reserva. Neutropenia com intenso DNNE e presença dos graus de Toxemia é
comum na peritonite aguda, ruptura de vísceras (intestinos), mastite gangrenosa, etc.
Diminuição na produção medular: causada por graves insultos à medula (quimioterápicos,
Ehrlichia, Fiv, Felv, vírus da panleucopenia felina, parvovírus, cloranfenicol, griseofuvina,
fenilbutazona, etc.), ocorre redução dos precursores dos leucócitos, plaquetas e hemácias.
Decorrente do aumento de Marginalização: em casos de anafilaxia e endotoxemia, levam à
marginação intensa dos leucócitos;
Eosinofilia: o aumento de eosinófilos ocorre em:
Alergias: hipersensibilidades mediadas por IgE, dermatite alérgica à picada de ectoparasitas;
Parasitas: trematódeos, nematódeos, dirofilariose, etc.
Granuloma eosinofílico;
Leucemia eosinofílica;
Eosinopenia: em muitos laboratórios o valor mínimo de eosinófilos é zero, em outros chega a ser muito
baixo (1-2), não sendo um achado importante, até porque para uma detecção mais eficiente são precisos
hemogramas seriados. Pode ser causado por administração de corticoide, ou estresse prolongado
(liberação de cortisol).
Basofilia: é incomum, na verdade, os basófilos são tão raros em animais normais que geralmente nem são
encontrados no diferencial (microscópio) das 100 células. Geralmente a basofilia acompanha a
Eosinofilia, e em casos de leucemia basofílica.
Monocitose: é uma alteração relativamente insignificante que pode acompanhar respostas inflamatórias
agudas ou crônicas. Em casos de infecções com presença de necrose, no final de processos inflamatórios
como células de limpeza tecidual, e em cães estressados (aumento de glicocorticoides – cortisol).
Linfocitose: segundo Thrall (2006), para interpretação da linfocitose é necessário uma avaliação da
morfologia dos linfócitos. Uma das causas de linfocitose é a excitação com liberação de adrenalina
(fisiológica) a segunda causa é a leucemia linfocítica. Caso haja um aumento moderado com células
morfologicamente pequenas com linfócitos de aparência normal, deve-se considerar uma resposta à
excitação (considerando a contagem entre 12.000-20.000 células). Quando a contagem exceder as 20 mil
38
células deve-se considerar uma possível leucemia linfocítica (linfoma), claro que devendo antes repetir
nos dias seguintes o hemograma. Um conceito muito errado que as pessoas têm é a possibilidade de haver
linfocitose nas doenças inflamatórias como uma resposta à inflamação, igual aos neutrófilos. A
proliferação linfóide até ocorre, mas é restrita aos órgãos linfóides e raramente se manifesta como
linfocitose no Leucograma. Rebar (2003), fala que uma das causas de linfocitose é a estimulação por
presença de antígenos, como uma infecção, após vacinação, com presença de células reacionais (ativadas)
com o citoplasma azul escuro. Os linfócitos podem aumentar no final de um processo inflamatório (saem
dos órgãos linfóides para o sangue = recirculação).
Linfopenia: as principais causas são:
Resposta aos esteroides (glicocorticoides): cortisol induz a apoptose, diminuição da produção,
reduz a recirculação;
Infecções virais agudas: reduz linfócitos e podem reduzir neutrófilos também;
Interrupção da recirculação linfática nos casos de efusão quilosa: as gorduras e algumas proteínas
são absorvidas por via linfática, então quando há ruptura de vasos linfáticos e extravasamento para
uma cavidade, ocorrendo diminuição dos linfócitos também, pois é a via pela qual utilizam para
retornar ao sangue.
P L A Q U E T A S O U T R O M B Ó C I T O S
Hemostasia: é o conjunto de todos os fenômenos envolvidos na manutenção do sangue em seu estado
líquido dentro dos vasos sanguíneos e na formação do tampão hemostático no vaso lesado, para impedir o
extravasamento de sangue.
Trombose: ativação inapropriada dos processos hemostáticos normais quando não ocorre o
funcionamento dos fatores antitrombóticos.
Produção de plaquetas: são provenientes dos 0,1-0,5% de megacariócitos presentes na medula óssea.
Esses megacariócitos emitem projeções para os capilares sinusóides da medula óssea, onde ocorre a
fragmentação do citoplasma liberando as plaquetas na corrente sanguínea.
18- Como ocorre a regulação do número de plaquetas no sangue?
A trombopoietina é um citocina de origem incerta (provavelmente do endotélio vascular, fígado ou
fibroblasto) que é produzida em concentrações normais e degradada pelas plaquetas. Quando o número de
plaquetas está normal, elas consomem toda a trombopoietina, que deixa de estimular a produção de
plaquetas (diferenciação de células-tronco em megacariócitos), mas quando as plaquetas estão
diminuídas, há menos consumo de trombopoietina e aumento de sua concentração, que passa a estimular
os megacariócitos para aumentar a produção de plaquetas.
39
Dentre as funções das plaquetas, estão:
Manutenção da integridade do endotélio vascular reparando os pequenos danos (elas formam uma
espécie de barreira que reveste todo o endotélio, quando ocorre diminuição plaquetária leva ao
aparecimento de petéquias);
Reparação de lesões ao endotélio, citada anteriormente;
Ativação e aceleração da coagulação sanguínea (fatores de coagulação + cálcio das plaquetas);
Fagocitose;
Sintetizam algumas citocinas, aminas vasoativas;
Cerca de 30-40% das plaquetas ficam armazenadas no baço, elas possuem uma sobrevida de 5-10
dias. Algumas alterações apresentadas pelas plaquetas são:
Megaplaquetas: quando há um estímulo para aumentar a produção plaquetária (hemorragias),
essas plaquetas “gigantes” são liberadas na circulação, então sua visualização significa reposição;
Grânulos Citoplasmáticos grandes que podem confundir com Anaplasma platys;
Anaplasma platys;
Corpúsculo de Lentz podem estar presentes, mas é raro;
Agregação plaquetária (Fig. 1): Os aparelhos semiautomáticos e automáticos não contam essas
plaquetas agregadas, e consequentemente o animal terá trombocitopenia, então a importância em
fazer a leitura da lâmina, realizar o diferencial leucocitário e observar as alterações;
(Fonte: pessoal; Fig. 1)
Hemostasia
Primeiramente ocorre uma vasoconstrição reflexa > hemostasia primária > hemostasia secundária
> coagulação > fibrinólise. Quando há um corte e lesão ao vaso ocorre de imediato uma vasoconstrição
reflexa, pois há liberação de endotelina produzida pelo endotélio que promove essa estimulação,
diminuindo o calibre do vaso para tentar reduzir a hemorragia. Em seguida tem-se a Hemostasia
primária, pois com o corte há exposição do colágeno subendotelial, onde se liga o fator de Von
Willebrand ao colágeno e a ligação das plaquetas a esse fator. As plaquetas possuem receptores de
superfície (glicoproteínas 2b3a) que possibilita a ligação do fibrinogênio, e só através dele que as
plaquetas podem se ligar entre si. As plaquetas são ativadas e contraem-se para liberar grânulos presentes
em seu interior (conteúdo dos grânulos: cálcio, ADP, tromboxane A2), são pró-coagulantes e à medida
que as plaquetas passam no local são ativadas e se unem ao coágulo, junto às hemácias e leucócitos.
40
As plaquetas que são ativadas e não conseguem se ligar ao coágulo serão inativadas por
substâncias (fatores antitrombóticos) produzidas pelo endotélio ileso, para que essas plaquetas
ativadas não formem um trombo em outro local, desencadeando CID (coagulação intravascular
disseminada). Os fatores que impedem a formação de trombos: trombomodulina, óxido nítrico,
prostaciclina, ADP difosfatase.
Os animais com Erliquiose podem ter lesões endoteliais disseminadas e uma constante ativação
plaquetária, podendo formar trombos disseminados ou hemorragias por consumo dos fatores de
coagulação.
Após a hemostasia primária, ocorre a Hemostasia secundária, tem ativação da cascata de
coagulação com liberação de cálcio pelas plaquetas (via intrínseca) e pela presença da tromboplastina
tissular (via extrínseca) que ativa protrombina em trombina, que vai atuar sobre o fibrinogênio
transformando-o em fibrina, onde esta irá contrair ainda mais, formando um coágulo sólido.
Depois que o coágulo já exerceu sua função de evitar a hemorragia e permitir a cicatrização
através de sua contração e aproximação dos bordos da ferida, ocorre a fibrinólise (quebra do coágulo
para liberação do fluxo sanguíneo). No momento em que o fibrinogênio se aderiu ao coágulo também
se ligou o plasminogênio. A trombina atua sobre as células endoteliais fazendo com que elas
produzam fatores inibidores do ativador do plasminogênio, então enquanto houver trombina o fator
inibidor do plasminogênio é inibido. Quando o coágulo exerce sua função e não há mais trombina
ocorre ativação do ativador do plasminogênio (deixa de ser inibido), que ira converter
plasminogênio em plasmina desencadeando a fibrinólise (quebra do coágulo). Quando a plasmina
degrada o coágulo, libera no sangue os produtos de degradação da fibrina. Outra observação
importante: a plasmina depois que quebra o coágulo se liga à Globulinaα2-antiplasmina, impedindo
que ela saia degradando outros coágulos formados recentemente. Se suspeitar de CID, pode-se dosar
os PDF´s (produto da degradação da fibrina), que estará muito elevado.
Figura: mostra a ativação das plaquetas ao passarem pelo local do coágulo, e em seguida a inativação.
O número de plaquetas na Corrente sanguínea depende da:
41
Taxa de produção pelos megacariócitos;
Consumo (coágulos) nas hemorragias;
Taxa de destruição pelo SMF (em casos de infecções virais onde se formam imunocomplexos que
se depositam nas plaquetas, ou Anaplasma platys), é a trombocitopenia imunomediada;
Deslocamento das plaquetas, do baço para a corrente sanguínea (aumenta mais 30-40%);
Tanto em cães quanto em gatos, 10-12 plaquetas por campo de imersão (x100) sugere que o animal
apresenta um número adequado de plaquetas. As dos gatos são mais predispostas à agregação, o estresse
que esses animais sofrem na hora da colheita é bem maior que os cães, adquirindo uma esplenocontração
e liberação do estoque (30-40%) no sangue. A dificuldade na colheita do sangue em gatos propicia a
aspiração de líquido tissular e consequentemente ativação da coagulação.
Laboratorialmente é muito difícil dizer por que há diminuição ou aumento de plaquetas no sangue,
apenas em algumas situações, como o achado de Anaplasma, uma trombocitose com anemia regenerativa
que sugere hemorragias crônicas.
19- Quais são as principais causas de trombocitopenia?
Defeitos na produção de plaquetas: hipoplasia medular (geralmente tem diminuição da série vermelha e
branca – Quimioterapia, infecção por Ehrlichia canis, Fiv, Felv, intoxicações); hipoplasia megacariocítica
pura (diminui a produção só de plaquetas – sulfadiazinas, AINES, estrógenos), leucemia megacariocítica.
Remoção acelerada das plaquetas: trombocitopenia imunomediada primária (presença de anticorpos
antiplaquetários que provocam a destruição acelerada das plaquetas pelos macrófagos); trombocitopenia
imunomediada secundária é a causa mais comum de baixa de plaquetas (lúpus, pênfigo, algumas
neoplasias, Fiv, Felv, erliquiose, leishmaniose, complexo vasculite imunomediada, babesiose, vacinação
contra cinomose com o vírus modificado). Trombocitopenia secundária não-imunomediada (CID).
Distribuição anormal de plaquetas: sequestro esplênico das plaquetas (patológico);
20- Quais são as principais causas de trombocitose?
Trombocitose essencial: distúrbio mieloproliferativo raro, também chamada de idiopática, trombastenia
ou trombocitemia hemorrágica primária.
Trombocitose secundária (reacional): neoplasias (melanoma, mastocitoma, adenocarcinoma, etc.);
distúrbios gastrointestinais (pancreatite, colite, hepatite); hemorragias crônicas; uso de glicocorticóides, e
após a esplenectomia em cães.
Trombocitose Fisiológica: quando os animais são submetidos a situações estressantes, havendo liberação
de adrenalina e contração esplênica, ocorrendo a translocação do compartimento de reserva das plaquetas
do baço para o sangue. Animal desidratado tem hemoconcentração.
Distúrbios da função das plaquetas (trombocitopatias ou trombopatias)
Podem ser adquiridas: caracterizada como uma diminuição da função plaquetária
(hiporresponsividade) ou aumento da função plaquetária (hiperresponsividade). A hiporresponsividade
42
tem como causas a uremia (IRC), o uso de Aines, autoimunes e alguns antibióticos (penicilina,
cefalotina). As causas de hiperresponsividade (formação de trombos) são o Diabetes mellitus,
hiperadreno, peritonite infecciosa felina, dirofilariose, e algumas neoplasias.
Podem ser hereditárias: Doença de von Willebrand, trombastenia de Glanzmann, Síndrome de
Barnard Soulier.
Na doença de von Willebrand (dvW): o fator de vW é responsável por se ligar ao colágeno
subendotelial (1) exposto durante a lesão vascular, permitindo que as plaquetas (4) se liguem através da
glicoproteína GpIb (3) e forme-se o coágulo. Nesta doença não há o fator de vW, que consequentemente
não se liga ao colágeno e não permite a ligação das plaquetas, não formando o
trombo/coágulo (imagem inferior).O diagnóstico é dado através da contagem de
plaquetas, TTPA (tempo de tromboplastina parcial ativada) e TP (tempo de
protrombina) que estão todos normais, porém o tempo de sangramento de mucosa
(gengiva) está bem aumentado.
Na Trombastenia de Glanzmann há uma deficiência na glicoproteína de
membrana das plaquetas Gp2b-3ª, que não permite com que o fibrinogênio se ligue para unir as plaquetas
e formar o coágulo.
Na Síndrome de Bernard Soulier não ocorre a formação de
Glicoproteínas Gp Ib que são responsáveis por se ligar ao fator de vW e permitir a
formação do coágulo, então sem ela não haverá essa ligação e coagulação.
Os sinais clínicos de um animal com trombopatia:
petéquias, epistaxe, ao fazer a colheita do sangue não ocorre o
estancamento e forma-se um hematoma no local, hematúria, hematoquezia.
As patologias que acometem os Fatores de Coagulação são chamadas de
COAGULOPATIAS:
Adquiridas: deficiência de vitamina K (intoxicação por dicumarínicos, são competidores de VitK –
raticidas), insuficiência hepática grave (diminuição na síntese dos fatores de coagulação, principalmente o
fibrinogênio responsável por fazer a ligação entre as plaquetas), Síndrome nefrótica (diminui proteínas e
aminoácidos devido à excreção renal) e CID (consumo exacerbado).
Hereditárias: Hemofilias, deficiência no fator VIII (anti-hemofílico A), IX (anti-hemofílico B) e XI
(anti-hemofílico C).
Obs.: A vitamina K é necessária para os fatores de coagulação “dependentes de VitK”: 2, 7, 9 e 10; é
normalmente produzida pela flora intestinal, então, animais submetidos a longos períodos de
antibioticoterapia podem apresentar a deficiência, devido à morte da flora intestinal.
Síndrome BS
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O animal apresentando o quadro de hemorragias espontâneas, petéquias, epistaxe, deve-se
proceder fazendo testes para diagnosticar a causa desses distúrbios hemorrágicos.
1º HEMOGRAMA: serve para avaliar o número de plaquetas, se estiver baixa, procurar as causas de
trombocitopenia (Erliquiose é a mais comum em cães), mas se estiver normal deve-se avaliar a função das
plaquetas e os fatores de coagulação. Também vem junto o valor de fibrinogênio.
2º PROVAS DE HEMOSTASIA: para realizar essas provas o sangue deve ser colhido da forma mais
atraumática possível (o de colheita estressante não presta para estas provas), usando EDTA para o
plaquetograma e fibrinogênio, enquanto o citrato de sódio 3,8% é usado para os tempos (1 parte de
anticoagulante para 9 partes de sangue). O sangue sem anticoagulante é usado para o tempo de
coagulação.
Teste Clínico: feito na presença do animal.
Tempo de sangramento: é um teste que serve para avaliar a hemostasia primária, função e
quantidade de plaquetas, além das doenças hereditárias. Consiste em fazer uma lesão com um
“instrumento cortante” (lanceta) na parte interna da orelha em cães ou mucosa labial do equíno ,
iniciar a marcação do tempo com cronômetro e a cada 30 segundos encosta-se o papel filtro no
sangramento (de leve, sem encostar-se à lesão, apenas próximo para absorver o sangue que está
escorrendo). Quando o sangramento parar, desliga a marcação do tempo e avalia. Valor de
referência: 1-5 minutos é normal; Tempos acima de 5 minutos indicam alguma alteração na
função, número, doença de von Willebrand, etc.
Testes laboratoriais:
Concentração de fibrinogênio: é feito através da precipitação pelo calor e leitura no
refratômetro. A hiperfibrinogenemia indica processos inflamatórios (aumenta as globulinas –
sendo o fibrinogênio uma beta) principalmente em ruminantes, desidratação promove um aumento
relativo (não real). A hipofibrinogenemia pode ser pela diminuição da síntese pelo fígado (IH),
aumento do consumo (CID, hemorragia aguda), aumento por perdas (hemorragias e lesão renal).
Plaquetograma: feito através da contagem direta (manual ou automática) ou indireta (esfregaço
sanguíneo).
Tempo de coagulação: sangue com citrato de sódio 3,8%. Serve para determinar a eficiência dos
mecanismos de coagulação (via intrínseca, extrínseca e comum).
Pode ser feito através do uso do capilar de microhematócrito, ou através de um tubo Vacutainer pré-
aquecido 37°C, onde dispara-se o cronômetro a partir do momento que o primeiro jato de sangue toca
o tubo. Deve-se inverter o tubo 5 vezes para homogeneizar e por em banho-maria 37°C. Após um
minuto deve-se avaliar se houve coagulação da amostra olhando de 10 em 10 segundos ou 30-30
segundos. Quando coagular por completo, para o cronômetro.
Referência: cão = 79 segundos em média; bovinos 145; equinos 163.
44
Se o tempo for prolongado demais indica: redução mínima de 5% de um ou mais fatores de
coagulação, contagem de plaquetas inferior a 10 x 109/L e deficiência do fator três plaquetário.
Tempo de Retração do Coágulo: utiliza uma amostra de sangue sem anticoagulante em tubos de
ensaio. Tem a função de avaliar a retração do coágulo.
Referência: 25% do volume sanguíneo em soro após 1 hora;
Aumento = trombocitose;
Diminuição= trombocitopenia;
Tempo de protrombina: amostra de sangue com citrato de sódio 3,8% podendo ser feito de
forma manual, automático, através de kits comerciais ou coagulômetro. Põe o reagente, o cálcio e
o plasma num tubo de ensaio, aciona o cronômetro e leva ao banho-maria 37°C, onde segue
homogeneizando até a hora que coagular, encerrando o cronômetro. Não por EDTA, pois é
quelante de cálcio, devendo usar o citrato que também quela cálcio, porém só o da amostra
(sangue), não o que é adicionado para o teste. Tem a função de avaliar a eficiência do fator VII e
“via comum”.
Referência (segundos): cão (7-10), gato (7-12) e equínos (9,5-11,5).
O tempo prolongado se dá à deficiência dos fatores I, II, VII e X (IH, CID, e deficiência ou
antagonismo da vitamina K (dicumarínicos)).
Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada: É feito da mesma forma que o anterior, servindo
para avaliar os fatores de coagulação das vias intrínseca e comum.
Referência (segundos): cão (<11), gato (<15), bov (25-45), equin (10-15).
Tempo prolongado indica deficiência nos fatores VIII, IX, X, XI ou XII; deficiência de fibrinogênio
(<0,5g/L) e inibição por uso de anticoagulante (heparina).
Tempo de Trombina: O método é o mesmo, utilizando kit comercial, de forma manual ou
automática. Serve para avaliar a concentração de fibrinogênio e sua capacidade de conversão em
fibrina.
Referência (segundos): cão (<11) e gato (<20);
O tempo prologado indica hipofibrinogenemia (produção diminuída ou aumento do consumo) ou
presença de inibidores (heparina).
Produto de degradação da fibrina/fibrinogênio: amostra de sangue sem anticoagulante (usa o
soro), utilizando um kit comercial. Tem a função de avaliar o mecanismo da fibrinólise (quebra do
coágulo).
Referência: cão e gato <10mg/mL;
Aumentos indicam CID, IH ou hemorragia interna profusa.
45
CASOS CLÍNICOS E QUESTÕES
Tabela de hemograma, Leucograma e bioquímica sérica de cães.
HEMOGRAMA BIOQUÍMICA SÉRICA
Variáveis Valor
observado
Valor de
referência
Variáveis Valor
observado
Valor de
referência
Hematócrito (0,37-0,55) Albumina (g/L) 25-40
Hemoglobina (120-180) Globulinas 25-45
Hema x1012
/L (5,5-8,5) Glicose (mg/dL) 60-100
VGM (60-77) Uréia (mg/dL) 15-40
CHGM (32-36) Creatinina 0,5-1,5
PPT (60- 75) ALT (UI) 10-88
Plaquetas (200-500) FA (UI) 20-150
I.Ict. (2-5) GGT (UI) 1-10
fibrinogênio (1-5) Amilase (UI) 300-2.000
Reticulócitos (0,5-1,5)
Variáveis Valor relativo
(%)
Valor de
referência (%)
Valor absoluto
(x109/L)
Valor de
referência
Leucócito Global 6.000-17.000
Neutrófilos seg. 60-80 3.000-11.500
Bastonetes 0-3 0-300
Metamielócitos 0 0
Mielócitos 0 0
Linfócitos 10-34 1.000-4.800
Monócitos 1-11 150-1.350
Eosinófilos 2-10 100-750
Basófilos raros raros
46
Observações:
1) Um cão de 6 anos, castrado da raça Dachshund chegou à clínica com histórico de dor na coluna,
com paresia posterior durante 2 dias. No exame físico observou-se uma protrusão do disco
intervertebral em T13-L1. Assim que apresentou esse quadro o veterinário por telefone prescreveu
dexametasona 3mg/kg 1 vez ao dia.
HEMOGRAMA
Variáveis Valor observado Valor de
referência
Hematócrito 0,40 (0,37-0,55)
Hemoglobina 133 (120-180)
Hemat. x1012/L 6 (5,5-8,5)
VGM 66 (60-77)
CHGM 33 (32-36)
PPT 75 (60- 75)
Plaquetas Adequado (200-500)
I.Ict. - (2-5)
fibrinogênio - (1-5)
Variáveis Valor relativo
(%)
Valor de referência
(%)
Valor absoluto
(x109/L)
Valor de referência
Leucócito Global 28.000 6.000-17.000
Neutrófilos seg. 89 60-80 25.000 3.000-11.500
Bastonetes 0 0-3 0 0-300
Metamielócitos 0 0 0 0
Mielócitos 0 0 0 0
Linfócitos 3 10-34 840 1.000-4.800
Monócitos 8 1-11 1.960 150-1.350
Eosinófilos 0 2-10 0 100-750
Basófilos 0 raros 0 raros
2) Uma Cadela castrada, Sheepdog, 5 anos, chegou à clínica apresentando um quadro de anorexia
parcial, vômitos intermitentes, e o proprietário relata que o seu animal “não vem sendo o mesmo”
durante as últimas duas semanas. No exame clínico não foi notada nenhuma anormalidade.
Variáveis Valor observado Valor de referência
Hematócrito 0,35 (0,37-0,55)
Hemoglobina 119 (120-180)
Hemat x1012/L 5,3 (5,5-8,5)
VGM 66 (60-77)
CHGM 33 (32-36)
PPT 73 (60- 75)
Plaquetas 231 (200-500)
I.Ict. - (2-5)
O animal possui uma leucocitose com
neutrofilia sem DNNE, linfopenia, Eosinopenia e monocitose absoluta. Na lâmina sanguínea foi
observado há presença de vários neutrófilos
hipersegmentados, o que é justificado pelo uso de
glicocorticoides, que atuam atrasando a expressão de moléculas de adesão,
consequentemente reduzindo a marginação de
neutrófilos que permanecem mais tempo no sangue, e seus núcleos sofrem mais constrições.
O corticoide também promove a baixa de
linfócitos, já explicado, e pode causar monocitose em cães.
Esse quadro é bem comum em animais com
hiperadrenocorticismo
Análise da lâmina: anisocitose, metarrubrócitos
(3), ponteado basofílico (+). O LG encontrado foi 23.400, mas como foram
observados 3 metarrubrócitos foi feito o leucócito
corrigido.
Leve anemia arregenerativa Normocítica Normocrômica.
Há uma metarrubrocitose branda sem presença de
policromasia, macrocitose, e aumento de reticulócitos.
47
fibrinogênio - (1-5)
reticulócitos 0,4 (0,5-1,5)
Variáveis Valor relativo
(%)
Valor de referência
(%)
Valor absoluto
(x109/L)
Valor de referência
Leucócito Global 22.700 6.000-17.000
Neutrófilos seg. 86 60-80 19.522 3.000-11.500
Bastonetes 1 0-3 227 0-300
Metamielócitos 0 0 0 0
Mielócitos 0 0 0 0
Linfócitos 6 10-34 1.362 1.000-4.800
Monócitos 7 1-11 1.589 150-1.350
Eosinófilos 0 2-10 0 100-750
Basófilos 0 raros 0 raros
Discussão: Há uma anemia arregenerativa, com presença de ponteado basofílico e de metarrubrócitos,
sem que haja policromasia ou reticulocitose (indícios de regeneração), o que indicam regeneração, sendo
isso uma anormalidade, pois pra ter metarrubrócitos liberados na circulação é necessário que se encontre
uma policromasia moderada à acentuada. Então, esse achado sugere que há uma neoplasia medular ou
intoxicação por chumbo. Com essas alterações, solicitou-se a dosagem de chumbo que foi 1,6ppm
(normal Pb <0,35ppm), confirmando a intoxicação. A leucocitose neutrofílica com monocitose sugerem o
processo inflamatório com presença de necrose tecidual. Diagnóstico: metarrubrocitose inadequada por
causa de intoxicação por chumbo.
3) Um cão de 1 mês de vida, macho, pastor alemão, chegou à clínica apresentando apatia, anorexia e
aparentemente anêmico. O proprietário relata que isso começou com 3 semanas de vida, e que os
outros cães da ninhada morreram após alguns dias da manifestação dos sinais. No exame clínico
foram observados: depressão moderada, fraqueza, anorexia, fezes alaranjadas, febre (39,8°C),
mucosas pálidas e ictéricas, esplenomegalia e infestação por carrapatos.
HEMOGRAMA BIOQUÍMICA SÉRICA
Variáveis Valor
observado
Valor de
referência
Variáveis Valor observado Valor de
referência
Hematócrito 0,10 (0,37-0,55) Albumina (g/L) 25-40
Hemoglobina 29 (120-180) Globulinas 25-45
Hema x1012/L 1,43 (5,5-8,5) Glicose (mg/dL) 60-100
VGM 70 (60-77) Uréia (mg/dL) 15-40
CHGM 29 (32-36) Creatinina 0,5-1,5
PPT 45 (60- 75) ALT (UI) 156 10-88
Plaquetas 35 (200-500) FA (UI) 20-150
I.Ict. 10 (2-5) GGT (UI) 1-10
fibrinogênio - (1-5) Amilase (UI) 300-2.000
48
Reticulócitos 10,2 (0,5-1,5) Parasitológico Ovos de ancilóstomo
Variáveis Valor relativo
(%)
Valor de referência
(%)
Valor absoluto
(x109/L)
Valor de referência
Leucócito Global 33.000 6.000-17.000
Neutrófilos seg. 82 60-80 27.000 3.000-11.500
Bastonetes 10 0-3 3.500 0-300
Metamielócitos 0 0 0 0
Mielócitos 0 0 0 0
Linfócitos 3 10-34 800 1.000-4.800
Monócitos 5 1-11 1.700 150-1.350
Eosinófilos 0 2-10 0 100-750
Basófilos 0 raros 0 raros
No esfregaço sanguíneo: anisocitose (+++), policromasia (+++), macrocitose (+++), Babesia canis (++).
Discussão: O animal apresenta uma Anemia Normocítica Normocrômica Regenerativa, com
reticulocitose, aumento do índice ictérico, esplenomegalia, fezes alaranjadas e ausência de hemorragia
indicam doença hemolítica. A causa foi a Babesiose, que promove a destruição das hemácias (lise).
Outras causas de hemólise são: corpúsculo de Heinz, intoxicações, leptospirose, etc. A ausência de
aumento do VGM e a hipoproteinemia devem-se à perda de sangue e depleção de ferro à ancilostomose
(parasitas intestinais que se alimentam de sangue). A causa da leucocitose é devido ao processo
inflamatório em resposta à destruição de hemácias. [perguntar]
AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO EXÓCRINA E ENDÓCRINA DO
PÂNCREAS O pâncreas possui o seu parênquima dividido em:
Ácinos pancreáticos: Função exócrina do pâncreas
Células produtoras de amilase, lipase, tripsinogênio e quimotripsinogênio.
Ilhotas de Langerhans: Função endócrina do pâncreas
Células α – produzem Glucagon; as β – produzem insulina; as γ- somatostatina.
FUNÇÃO ENDÓCRINA
A maioria das células só consegue adquirir glicose a partir da ligação da insulina em seus
receptores de membrana, permitindo o influxo de glicose para o meio intracelular. Quando aumenta a
glicose no sangue (hiperglicemia) a insulina é liberada em maior concentração para permitir a
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glicogenogênese (armazenamento de glicose na forma de glicogênio no fígado e músculos) e inibir a ação
das lipases sobre os adipócitos (impede a quebra de lipídeos).
As duas principais patologias que acometem a função endócrina do pâncreas:
INSULINOMA (é mais raro) é uma neoplasia das células β-pancreáticas, que aumenta muito a insulina
sanguínea e consequentemente o armazenamento de glicose no fígado e músculos, desencadeando uma
hipoglicemia persistente.
DIABETES MELLITUS é bem comum, ocorre diminuição na produção de insulina, causando uma não
entrada de glicose nas células. O animal vai ter uma hiperglicemia persistente, glicosúria, diurese
osmótica.
Na DM o animal apresenta polifagia, poliúria, polidipsia em resposta à poliúria, glicosúria,
cetoacidose e cetonúria (como a glicose não é utilizada, os lipídeos passam a ser a principal fonte de
energia, e como metabólitos são formados os corpos cetônicos, que passam a ser eliminados na urina em
grandes quantidades), o animal come muito e tem emagrecimento progressivo.
Quando o animal suspeito de ter DM chega à clínica deve-se proceder da seguinte maneira:
Buscar o máximo de informações que aumentem o indício de DM, procurando saber
detalhadamente os sinais clínicos;
Glicose Sanguínea: com um glicosímetro ou colher o sangue com fluoreto (impede que as células
utilizem a glicose da amostra) + EDTA (anticoagulante), centrifugar em até 30 minutos, separar o
plasma (a cada hora que passa junto às hemácias, mesmo com o fluoreto, é consumido 10% de
glicose da amostra) e passar no espectrofotômetro;
Glicose Urinária: colhe a urina e com a fita reagente verifica a presença e concentração de
glicose urinária, ou pode ser feito no espectrofotômetro através de Kits comerciais. O diabético
possui uma hiperglicemia persistente, a glicose filtrada pelos glomérulos ultrapassa o limiar de
reabsorção renal, e acaba sendo excretada, levando junto água, causando uma diurese osmótica.
Teste da Tolerância à Glicose Oral: consiste em administrar glicose por via oral e avaliar se o
animal tem intolerância à mesma.
Metodologia: O animal deverá estar em jejum por 12 horas, o sangue é colhido para medir a glicemia
basal antes de realizar o teste, devendo deixar a veia canulada (cateter). Fornece 1g/kg de glicose por via
oral e a cada 30 minutos faz a colheita do sangue, separa o plasma e identifica os tubos, isso até que se
complete 4 horas.
Interpretação: animal Saudável: após 30 minutos a glicemia aumenta e com 1 hora começa a baixar
progressivamente (pico de insulina) até abaixo do valor basal devido ao armazenamento na forma de
glicogênio e consumo pelas células, onde é liberado glucagon para equilibrar/estabilizar a glicemia.
Animal diabético: com 30 minutos há um aumento da glicemia, que será maior que a de um animal
saudável (pico glicêmico) e depois começa a cair lentamente devido ao consumo pelas hemácias e células
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do SNC (não dependentes da ligação à insulina) e também pela eliminação renal. Porém, a glicemia
demora muito mais pra baixar, pois não há estoque na forma de glicogênio.
Animal com Insulinoma: Ocorre uma queda brusca da glicemia para baixo do valor basal (hipoglicemia),
onde se mantém.
Diabético
Saudável
Teste da tolerância à Glicose Intravenosa: é mais confiável que a técnica anterior, pois não
depende da absorção intestinal.
Metodologia: fazer o jejum de 12 horas, colher o sangue para verificar a glicemia basal e deixar a veia
canulada. Faz a administração de 0,5 g/kg de glicose intravenoso, e colhe sangue com 5-15-25-35-45-60
minutos e faz um gráfico.
Interpretação:
Dosar a insulina sérica: é feito através de kits comerciais;
FUNÇÃO EXÓCRINA A principal função do pâncreas exócrino é a produção de enzimas digestivas tais como
tripsinogênio e quimotripsinogênio que irão degradar proteínas em peptídeos, a Amilase que degradará
amido e glicogênio em maltose (que sofrerá ação da maltase tornando-se glicose) e a Lipase que atua
sobre os triglicerídeos, convertendo-os em AGL+glicerol.
Através do exame laboratorial podemos diagnosticar a lesão do parênquima pancreático, no caso
das pancreatites, ou a produção e secreção insuficiente de enzimas pancreáticas, nos casos de
Insuficiência Pancreática Exócrina (IPE).
As principais doenças que acometem a função exócrina do pâncreas são:
A desvantagem desse método
é que depende da absorção
intestinal, pois um animal com
alguma enterite, colite,
diarreia, irá ter interferência
no resultado.
5 25 15 35 45 55 60
Calcular o tempo gasto para ocorrer a
redução da glicemia em 50%, ou seja, o
tempo que leva para o valor da glicose
marcado em 5 minutos (410) cair pela
metade (205) em até 45 minutos. No gráfico
exemplificado, a queda em 50% ocorreu
antes dos 45 minutos, aos 35 minutos,
sendo considerado um animal normal. O
diabético, essa queda em 50% demora bem
mais que 45 minutos.
410
205
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PANCREATITE AGUDA
Pode ser causada por traumas, manuseio inadequado durante cirurgias, obstruções,
inflamações/infecções.
Os ácinos produzem enzimas digestivas, quando há inflamação pancreática as células aumentam a
produção dessas enzimas que acabam extravasando para o interstício e caindo na cavidade abdominal até
atingir a circulação sanguínea, havendo aumento da atividade enzimática no sangue. A pancreatite aguda
costuma evoluir para crônica e depois para uma insuficiência pancreática.
O diagnóstico de Pancreatite não é fácil, pois se devem levar em conta os sinais clínicos que muitas
vezes são inespecíficos (dor abdominal aguda, inapetência, vômitos, apatia, anorexia), um hemograma
pode mostrar um processo inflamatório, a ultrassom, e os exames laboratoriais que servem como auxílio.
Os mais utilizados são os que determinam as atividades séricas das enzimas pancreáticas Amilase e
Lipase.
Amilases: a dosagem da atividade pode ser feita, porém é um teste de baixa especificidade e
sensibilidade, visto que ela pode aumentar por outras causas, tais como:
Disfunção renal: animais que possuem a redução da filtração glomerular, ou seja, possuem azotemia
(acúmulo de uréia e creatinina) deixam de eliminar a amilase inativada, ocorrendo o seu acúmulo no
sangue.
Doenças gastrointestinais: a amilase está presente no epitélio da mucosa, então nos casos de enterite,
obstrução intestinal ou perfuração (a amilase extravasa para o peritônio).
Doença hepática: o fígado é responsável por metabolizar a amilase, transformando de ativa para inativa,
para que possa ser excretada, sem a função normal hepática ocorre esse comprometimento.
Neoplasias: não se sabe a causa, mas em cães com linfomas ou hemangiossarcoma ocorre o aumento da
atividade de amilase (hiperamilasemia) no sangue.
Lipases: igual a lipase, também é um teste de baixa sensibilidade e especificidade, pois essa
enzima costuma aumentar sua atividade em animais com disfunções:
Renais: pelo mesmo motivo da amilase, os rins deixam de excretar e ocorre o aumento sérico de lipase.
Doença hepática: o mecanismo é desconhecido.
Terapia com corticosteróide: não se conhece o mecanismo, mas em cães tratados com dexametasona a
atividade de lipases chegam a ser 5 vezes maior, e com prednisona duas vezes. Porém aumenta apenas
lipases enquanto a amilase se mantém normal, sendo uma forma de diferenciar. Então, em animais
submetidos ao tratamento com corticoide e que se deseja dosar as enzimas pancreáticas, a amilase é a
mais sensível nessa situação.
Doenças gástricas e duodenais;
Neoplasias: idem à anterior.
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Costumam considerar algum grau de lesão pancreática quando a lipase está 2x maior que o limite
superior, isso em cães que não estão sendo tratados com dexametasona ou prednisona.
Lipase e amilase no Fluido Peritoneal: em animais normais uma pequena quantidade dessas
enzimas podem ser dosadas no líquido peritoneal, mas quando há lesão pancreática com grande
quantidade de extravasamento dessas enzimas para o peritônio, ocorre o aumento da atividade
enzimática no líquido peritoneal, bem superior à encontrada no sangue (soro).
Imunorreatividade Semelhante à Tripsina Sérica; é um teste que identifica e quantifica a
atividade de tripsina no sangue, é o teste mais sensível e específico dos citados.
Outros testes que podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico:
Hemograma: leucocitose inflamatória, podendo ter DNNE ou DNND (quando passa a ser crônica, com
dores fortes, há estresse e liberação de cortisol) e linfopenia. Nota-se hemoconcentração (aumento do
hematócrito) devido aos vômitos e desidratação.
Glicemia: animal sentindo dores e estressado, tem liberação de epinefrina, cortisol, e glucagon, levando
ao aumento da glicemia (glucagon remove o estoque de glicose em glicogênio). Nos cães com pancreatite
crônica a hiperglicemia pode ser por Diabetes mellitus, pois as enzimas podem ter lesado as células
produtoras de insulina.
Lipidemia: O aumento sérico de lipase acaba atuando sobre o tecido adiposo, aumentando os
triglicerídeos no sangue (hiperlipidemia).
INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA EXÓCRINA
Uma pancreatite crônica é resultado de várias pancreatites agudas, ou uma não tratada, onde as
enzimas lesam todo o tecido acinar, causando sua destruição total, necrose, insuficiência pancreática
exócrina. Os animais com esse distúrbio apresentam polifagia, emagrecimento progressivo, fezes em
grandes volumes e amolecidas (não ocorre a digestão (síndrome da má digestão) e consequentemente
a não absorção dos nutrientes, ocorrendo o aumento do volume fecal).
É importante diferenciar se o animal possui a “Síndrome da Má Digestão” (IPE), causada pela
diminuição da secreção de enzimas pancreáticas, ou se possui “Síndrome da Má Absorção”, que é
causada pela perda da absorção de nutrientes pelo epitélio intestinal que sofreu várias lesões. Os sinais
clínicos são basicamente os mesmos, citados anteriormente, porém o prognóstico e o tratamento são
diferentes, por isso é importante a diferenciação.
Quando o animal chega apresentando polifagia, aumento do volume fecal (amolecidas) e
emagrecimento progressivo, deve-se prossegui da seguinte maneira:
Uma anamnese e exame clínico bem feitos, além de testes laboratoriais básicos, como
hemograma, perfil bioquímico e urinário.
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Coproparasitológico: vários testes parasitológicos diretos (esfregaço direto das fezes para
observar ovos e vermes), preparação úmida, técnica de flutuação de ovos (Willis), Técnica de
Bearmann (pesquisa de larvas), sedimentação;
Pesquisar Sangue oculto nas fezes: é feito através de uma fita reagente posta em contato com as
fezes, se alterar a cor indica a presença de sangue;
Citologia fecal: um esfregaço fino de fezes corado com o panótico rápido para buscar células ou
algum agente patogênico (giárdia).
Testes de Digestão e Absorção:
Amido: se não produz enzimas pancreáticas, a amilase não irá digerir o amido, que sai nas fezes,
sendo identificado ao adicionar algumas gotas de lugol sobre uma pequena quantidade de fezes
em uma lâmina com uma lamínula por cima. Observa-se grânulos de amido de coloração azul
escura a pretas. Se o animal tiver ingerido muito amido, uma parte vai ser eliminada nas fezes
mesmo sem ter IPE.
Gordura: se não produz lipase não há quebra da gordura, que sairá nas fezes, sendo identificada ao
adicionar algumas gotas na lâmina sobre as fezes do corante Sudan (amarelo-alaranjado). Caso o
animal ingira muita gordura, irá sair nas fezes mesmo sem possuir IPE.
Fibras musculares: não produz quimotripsinogênio e tripsinogênio, não ocorre a degradação das
proteínas musculares, que são encontradas íntegras nas fezes ao corar com lugol. Também deve-se
levar em consideração a dieta do animal, se for de grande quantidade de carne, irá sair nas fezes
mesmo se haver IPE.
Teste da Digestão da Gelatina: (descrito em “relatórios de aulas práticas”) consiste em adicionar
uma quantidade de bicarbonato, uma de fezes, e gelatina incolor, homogeneizando e levando ao
banho-maria, e por fim à geladeira. Se não ocorrer o “endurecimento” é porque o colágeno da
gelatina foi degradado através da ação proteolítica, ou seja, não há IPE.
Teste da Digestão do RaioX: Faz uma mesma solução com bicarbonato e fezes frescas do animal,
homogeneíza e adiciona um pedaço do filme de raio x não revelado (ainda com a película
protéica), leva ao banho-maria por 1 hora. Se ocorrer a degradação dessa película significa que há
ação proteolítica e consequentemente não há IPE.
Teste da Turvação Plasmática: esse teste serve para avaliar a capacidade de digestão e absorção
dos lipídeos. Deixa o animal em jejum por 12 horas, colhe sangue para saber o valor basal. Em
seguida administra-se 3ml/kg de óleo de milho por via oral, colhendo o sangue com 1-2-3 horas
após. Se ocorrer a turvação plasmática significa que ocorreu a digestão e a absorção, portanto, não
há IPE (é feito comparando a coloração do plasma colhido antes do teste e os colhidos após a
administração do óleo). Se não turvar há problemas na absorção ou digestão, devendo diferenciar
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da seguinte maneira: -administra-se óleo de milho digerido, se ocorrer a turvação o problema é de
digestão (não há enzimas pancreáticas –IPE), e continuar sem turvar o problema é na absorção.
21- Você atendeu uma cadela da raça poodle com 5 anos de idade. A queixa da proprietária era
de que o animal apresentava um aumento de volume abdominal e diarreia persistente há 1
mês, apresentando emagrecimento progressivo desde então. O apetite estava aumentado. No
exame clínico constatou que o volume abdominal de tratava de ascite. Avalie os resultados
dos exames realizados abaixo e:
a) Calcule o VGM, CHGM e os valores absolutos do Leucograma, classificando-o;
b) Dê o provável diagnóstico e explique quais resultados o fizeram chegar a este diagnóstico;
HEMOGRAMA BIOQUÍMICA SÉRICA
Variáveis Valor
observado
Valor de
referência
Variáveis Valor observado Valor de
referência
Hematócrito 0,38 (0,37-0,55) Albumina (g/L) 10 25-40
Hemoglobina 125 (120-180) Globulinas 24 25-45
Hema x1012/L 5,7 (5,5-8,5) Glicose (mg/dL) 75 60-100
VGM 66,7 (60-77) Uréia (mg/dL) 37 15-40
CHGM 32,8 (32-36) Creatinina 1,2 0,5-1,5
PPT 34 (60- 75) ALT (UI) 91 10-88
Plaquetas Normais (200-500) FA (UI) 20-150
I.Ict. 4 (2-5) GGT (UI) 1-10
fibrinogênio 2 (1-5) Amilase (UI) 1.300 300-2.000
Reticulócitos 1,0 (0,5-1,5) Parasitológico Ovos de ancilóstomo Negativo
Exame Resultado
Coproparasitológico Negativo
Coloração das fezes com lugol Sem coloração
Presença de fibras musculares nas fezes Negativo
Teste da digestão da Gelatina Amostra sem endurecimento
Teste da Turvação plasmática Plasma ligeiramente (pouco) turvo nos tempos 1,2 e 3 horas.
Urinálise Sem alterações
Ultrassom abdominal Sem alterações
Análise do líquido peritoneal Transudato puro
Leucograma
Variáveis Valor relativo
(%)
Valor de referência
(%)
Valor absoluto
(x109/L)
Valor de referência
Leucócito Global 12.400 6.000-17.000
Neutrófilos seg. 92 60-80 11.400 3.000-11.500
Bastonetes 2 0-3 0 0-300
Metamielócitos 0 0 0 0
Mielócitos 0 0 0 0
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Linfócitos 5 10-34 620 1.000-4.800
Monócitos 1 1-11 124 150-1.350
Eosinófilos 0 2-10 0 100-750
Basófilos 0 raros 0 raros
Obs: Presença de neutrófilos hipersegmentados;
Respostas:
a) VGM= VGx1000/HMC, 0,38x1000/5,7 = 66,7
CHGM= Hb/VGx10, 125/0,38x10 = 32,8
A Leucometria global mostrou-se dentro da normalidade, com neutrofilia relativa e DNND com presença
de neutrófilos hipersegmentados, Eosinopenia, linfopenia e monocitopenia (em cães costuma aumentar)
absolutas, indicando um Leucograma de estresse.
b) O animal apresenta os sinais clássicos de paciente com distúrbios de digestão ou absorção, tendo
polifagia, emagrecimento progressivo e fezes diarreicas, tais como nos exames laboratoriais, uma
hipoalbuminemia, hipoproteinemia e ascite por consequência. O diagnóstico para esse caso foi o de
SÍNDROME DE MÁ ABSORÇÃO, pois no teste da digestão da gelatina houve ação proteolítica das
enzimas pancreáticas (descartando IPE). No teste da turvação plasmática o animal apresentou o plasma
ligeiramente turvo (pouco), que pode ter sido devido ao jejum de 12 horas ou até mesmo a uma leve
capacidade de absorção ainda presente no intestino. Se não tivesse distúrbio de absorção o plasma ficaria
branco, intensamente turvo. A hipoproteinemia é outro indicativo de que não há absorção neste caso. O
aumento da ALT se deu por uma degradação do tecido muscular ou até mesmo pela lipidose hepática
adquirida pelo animal que não está absorvendo nutrientes.
AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO HEPÁTICA
O fígado possui funções como sintetizar substâncias (albumina, fibrinogênio, α-globulinas,
lipoproteínas (HDL, LDL e VLDL), colesterol, fatores de coagulação com exceção do fator VIII e cálcio),
armazenar (glicose na forma de glicogênio, além das vitaminas A, D, K e do complexo B), função de
excreção e secreção (bile – os sais biliares são formados a partir do colesterol presente no fígado),
metabolismo (diversas substâncias: proteínas, lipídeos, converte bilirrubina indireta em direta, amônia em
uréia, substâncias tóxicas, medicamentos e etc.) e possui função fagocitária (as células de Kupffer -
macrófagos hepáticos).
A Doença Hepática vs Insuficiência Hepática: A doença Hepática (DH) é qualquer distúrbio
que provoque lesão aos hepatócitos, colestase ou ambas. Seja por uma intoxicação, hipóxia (neoplasias,
ICC, anemia severa, etc.), causas metabólicas (diabetes mellitus leva a uma lipidose, cetonemia da vaca
leiteira, da mesma forma, promove o deslocamento de lipídeos muito grande para o fígado - lipidose),
inflamações, infecções, traumas, obstrução do ducto biliar extra ou intra-hepático. As doenças hepáticas
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desencadeiam a insuficiência hepática (IH), onde o fígado lesionado perde cerca de 70-80% de sua massa
funcional, deixando de produzir substâncias, metabolizar e excretá-las. A DH nem sempre desencadeia a
insuficiência, pois o fígado é um órgão com grande capacidade de regeneração, podendo as lesões ser
reversíveis ou não.
Existem alguns testes que avaliam a doença hepática ou a insuficiência hepática:
Determinação da atividade de enzimas que indicam que há lesão de hepatócitos
(integridade): são as chamadas enzimas de extravasamento (ALT e AST) e enzimas de indução
(GGT e FA);
Dosar substâncias que estão relacionadas com a função de secreção do fígado: Bilirrubina
Total e Direta;
Testes Relacionados com o “clearence” portal: ácidos biliares, amônia;
Testes que avaliam a capacidade de sintetização hepática (função de hepatócitos): dosagem
de albumina, ureia (metabolismo da amônia), fatores de coagulação (fibrinogênio);
As funções de avaliar bioquimicamente o fígado são de revelar hepatopatia subclínicas (sem
manifestação dos sinais ou sinais inespecíficos), saber se o tratamento está surtindo efeito, se há evolução
do quadro/doença e para classificar as doenças hepáticas (lesão hepatocelular, colestase ou insuficiência
hepática).
A lesão hepatocelular: com a lesão aos hepatócitos (podendo ter até necrose) ocorre o
extravasamento de enzimas que ficam no interior de organelas ou no citoplasma para o espaço
extracelular (interstício) e em seguida atingem o sangue, apresentando-se como aumento da atividade.
Podem apresentar atividade aumentada em horas após a lesão. ALT em cães e gatos, e AST em
ruminantes e equídeos.
A Colestase/doenças obstrutivas: as enzimas de indução estão presentes na membrana das células
epiteliais dos canalículos, portanto sua atividade não aumenta quando há lesão, mas sim quando há um
estímulo indutor, que faz com que aumente a produção e liberação no sangue, ocorrendo em dias.
Insuficiência Hepática: ocorre a perda de mais de 75% da massa funcional do fígado, ocorrendo
perda de funções como síntese, secreção, metabolismo e armazenamento.
Quais são os sinais clínicos de um animal com:
*Lesão hepatocelular: vômitos, dor abdominal, hepatomegalia, sinais de hepatite.
*Colestase: icterícia, dor, coloração das fezes alteradas (bile não é liberada e não emulsifica as gorduras),
diminuição na consistência, aumento de volume e gordura nas fezes.
*IH: função de síntese de albumina vai estar comprometida, vai ter uma ascite, acúmulo de amônia, nos
estágios finais aparece icterícia e depois as hemorragias por déficit dos fatores de coagulação.
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A enzimologia é quando se determina a atividade de uma enzima no soro (sangue), ou melhor, a
atividade dela em degradar um substrato. Sabendo disso, quais as causas de aumento da
atividade enzimática no sangue?
-Liberação aumentada após lesão aos hepatócitos: ocorre perda de parte do citoplasma e organelas onde
estão presentes as enzimas de extravasamento para o interstício, e após, para o sangue.
-Indução enzimática: a Colestase faz com que os sais biliares fiquem retidos no interior dos canalículos
biliares, aumentando a pressão na luz desses ductos e sobre as células epiteliais da parede dos canalículos,
consequentemente induz o aumento da produção de enzimas de indução (GGT e FA) pela membrana das
células epiteliais dos canalículos. Ocorre muitas vezes a compressão de hepatócitos que acabam sofrendo
lesão, desencadeando o extravasamento de enzimas presentes em seu citoplasma (ALT; AST).
-Hiperplasia/neoplasia: o aumento do número de células, com cada uma produzindo e liberando enzimas,
ocorrerá o aumento da atividade no sangue.
-Depuração diminuída: nos casos de IH o fígado deixa de inativar algumas enzimas por estar insuficiente,
e por consequência ocorre o aumento sérico.
-Ingestão e absorção: ocorre o aumento da atividade no sangue devido à ingestão de determinada enzima,
como é o caso dos neonatos após ingerirem o colostro rico em GGT (gama-GT).
Quais são os fatores que interferem na atividade enzimática?
Normalmente a enzima presente no soro/plasma é proporcional à atividade enzimática nos tecidos.
A massa total do tecido produtor: se o tecido estiver aumentado, como nos casos de hiperplasia,
por consequência a atividade da enzima também estará, ou o contrário, caso a massa tecidual
esteja reduzida, nos casos de cirrose hepática, a atividade enzimática estará reduzida.
Especificidade do tecido: a melhor enzima para dosar atividade é aquela que está presente em 1 ou
poucos tecidos em altas concentrações e em outros em baixa concentração, então quando a sua
atividade aumenta no sangue é indício de que há lesão nos tecidos de maior concentração. O
coração, músculos e fígado podem aumentar a atividade de AST quando sofrem lesões, então não
é um bom teste para avaliar a função hepática.
Meia vida da enzima no soro e sua estabilidade: as enzimas que são degradadas rapidamente não
são boas para fazer o diagnóstico, pois vão ser inativadas rapidamente e não quebrar o substrato
no momento da análise. Existem casos em que a mesma enzima é liberada por diferentes tecidos,
mas possuem meia-vida diferente, por exemplo: nos cães a FA (fosfatase alcalina – enzima de
indução) está presente em grandes quantidades na placenta, porém sua meia-vida é de minutos, no
entanto, quando é secretada por células dos canalículos a meia-vida é de dias, portanto não se deve
considerar a placenta como fonte de aumento de FA.
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Localização da enzima dentro da célula: existem enzimas que estão na membra das células e de
suas organelas, e as que estão livres no citoplasma. As que estão na membrana das organelas vão
demorar mais pra aumentar que às presentes no citoplasma.
O que interfere na velocidade de extravasamento enzimático?
Enzimas de extravasamento como já foi dito, são aquelas que saem para o meio
extracelular/interstício após ocorrer uma lesão às células produtoras (onde se destacam pedaços de
citoplasma, organelas), e vão parar no sangue, havendo aumento de suas atividades.
O 1º fator é o Grau de Lesão: se for muito grave as células irão morrer e liberar todo o seu
conteúdo (enzimas) que estão na membrana, organelas e citoplasma. É importante levar em conta
que o aumento da atividade de uma enzima não é proporcional à gravidade da lesão, por exemplo,
a lesão que provoca a morte de células hepáticas faz com que ela libere todo o conteúdo e não
produza mais determinada enzima. Quando há lesão subletal, aquela em que a célula continua viva
ocorre perda de parte das enzimas, porém a célula continua produzindo enzimas, portanto essas
células parcialmente lesadas podem provocar um aumento maior do que as necrosadas.
Ex.: Se todo o fígado sofre uma isquemia temporária, e todos os hepatócitos sofrem uma lesão subletal,
ocorre o extravasamento de uma parte de suas enzimas para o sangue, aumentando muito a atividade
enzimática, porém o insulto foi removido e o fígado se regenerou. Mas se caso ocorra uma trombose em
um pequeno vaso que irriga uma pequena porção do fígado, essa região deixa de receber sangue e morre,
necrosa, ocorrendo o extravasamento de todo o conteúdo enzimático para o sangue, porém, por ser uma
pequena porção, não ocorreu um aumento intenso da atividade enzimática. Então, ao compararmos os
dois casos, o segundo foi mais grave, pois houve morte celular, enquanto o primeiro houve regeneração.
Entretanto, ao dosar atividade enzimática, no primeiro caso houve um aumento bem mais considerável
que o segundo, portanto não se deve considerar como mais grave aquele animal que possui um maior
aumento de atividade de enzimas hepáticas no sangue.
Concentração intracelular;
Localização intracelular: as que estão no citoplasma extravasam mais rápido que às presentes
nas membranas das organelas;
Vias de acesso ao sangue (as enzimas pancreáticas demoram bem mais pra aumentar, pois caem
na cavidade abdominal para depois serem reabsorvidas pelo sistema linfático e atingir o sangue);
Suspeita de problemas na excreção, obstrução biliar, dosa:
FOSFATASE ALCALINA (FA)
É uma enzima de indução sintetizada pelo fígado, pelos osteoblastos (ossos), epitélio intestinal, renal
e placenta, porém os hepatócitos correspondem à maior parte de sua atividade sérica normal.
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A fosfatase alcalina proveniente dos rins, placenta e intestino (gastroenterites podem provocar o
aumento) nos cães tem meia-vida de 6 minutos, e nos gatos de 2 minutos, portanto não são consideradas
fontes importantes de aumento de atividade.
As causas de aumento são: atividade osteoblástica aumentada (cães em fase de crescimento,
quando há fraturas, cânceres ósseos (osteossarcoma)), Colestase, gastroenterites e uso de algumas drogas
(fenobarbital e glicocorticóides).
O aumento da pressão no lúmen de ductos biliares nos casos de Colestase induz o aumento da
produção de FA pelas células epiteliais dos ductos (lesões em nível de membrana celular). O aumento nos
casos de Colestase é distinguível do aumento por lesões ósseas, pois quando há a Colestase também
aumenta as enzimas presentes no parênquima hepático, as de extravasamento (AST e/ou ALT).
Cães possuem uma meia-vida de 72 horas;
Gatos: 6 horas, é de baixa estabilidade, mas qualquer aumento já se considera distúrbio
hepatocelular (recomendado a dosagem de GGT).
Não é utilizada em ruminantes por possuir um valor de referência muito amplo, nem em equídeos.
γ – GLUTAMILTRANSFERASE (GGT)
É uma enzima de indução, que aumenta nos casos de obstrução biliar intra ou extra-hepática. É
sintetizada em quase todos os tecidos corporais, sendo que em maior concentração pelos rins e pâncreas,
mas a de origem renal grande parte sai na urina (atividade de GGT urinária), e a do pâncreas, grande parte
sai junto com as outras enzimas digestivas. A maior parte da GGT sérica (do sangue) vem do fígado,
ocorrendo também o aumento da síntese nos casos de Colestase. Aumenta também com o uso de
glicocorticóides.
A dosagem da atividade de GGT para diagnosticar colestase é utilizada em gatos, equínos e
ruminantes (tem maior especificidade e sensibilidade para as doenças hepatobiliares, exceto quando há
lipidose, onde a FA que estará aumentada).
A GGT também aumenta em neonatos após a ingestão do colostro, se elevando em até 200 vezes
do limite superior da referência.
BILIRRUBINA
A bilirrubina não é uma enzima, mas sim um subproduto da degradação da hemoglobina celular
pelos macrófagos, sua dosagem serve para identificar se o fígado consegue converter a BI (indireta ou
não-conjugada) em BD (direta ou conjugada), ou seja, avalia a função de metabolização hepática, e se
está sendo excretada (nos casos de colestase a BD não é excretada, se acumula e acaba indo para o
sangue). É possível dosar “Bilirrubina Total” (BT) e “Bilirrubina Direta” (BD), e a subtração das duas dá
origem ao valor de “Bilirrubina indireta” (BI). BT-BD = BI.
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A bilirrubina é fotossensível, então se quer solicitar a dosagem, deve envolver o tubo com papel
alumínio e ser o primeiro teste a ser realizado.
Suspeita de disfunções hepáticas que alterem a integridade dos hepatócitos, dosa:
ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT)
Anteriormente era denominada de Transaminase glutâmico-pirúvica ou TGP, é uma enzima de
extravasamento que está livre no citoplasma, sendo encontrada em maior concentração nos hepatócitos de
cães e gatos, é hepato-específica, mas já foi relatado o aumento de atividade sérica em animais com lesão
muscular grave, sem lesão hepática aparente. Então, deve-se considerar que há lesão subletal ou necrose
de hepatócitos ou células musculares, entretanto, ao dosar a “Creatina Cinase” (CK) que é uma enzima
específica para diagnosticar lesão muscular, é possível diferenciar.
Causas de lesões aos hepatócitos: toxinas, hipóxia tissular (choque, isquemia, ICC, anemia
severa), hepatopatias primárias (hepatites, leptospirose, neoplasias), hepatopatias secundárias (Diabetes
mellitus – causa lipidose hepática, acúmulo de lipídeos nos hepatócitos; Cetonemia da vaca leiteira –
aumenta os corpos cetônicos por queima de lipídeos em excesso, lipidose; Síndrome da má absorção –
não absorve os nutrientes nem glicose, obrigando a queimar lipídeos estocados, levando à lipidose; uso de
corticóides ou hiperadrenocorticismo – aumentam a função hepática e consequentemente produção dessa
enzima).
ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST)
Anteriormente denominada de Transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), é uma enzima de
extravasamento presente em maior concentração nos hepatócitos e células musculares de todas as
espécies. É utilizada para diagnosticar lesão aos hepatócitos em Ruminantes e Equídeos, igual à ALT
em cães e gatos, devendo dosar CK junto a AST para diferenciar das lesões musculares.
Meia-vida de até 50 horas nos equínos.
Existem outras enzimas mais específicas, como a Sorbitol desidrogenase (SDH) que é específica
do fígado, porém como sua meia-vida é muito curta não é boa para se avaliar atividade e realizar o
diagnóstico. O Glutamato desidrogenase também pode ser utilizado, mas seus kit são instáveis e não-
confiáveis.
Quando o fígado perde mais de 75% de sua massa funcional e torna-se insuficiente, existem outros
testes para diagnosticar a Insuficiência Hepática:
Dosar Albumina: geralmente não se observa hipoalbuminemia até que o fígado perca mais de 70-
75% de sua função.
Uréia: é sintetizada nos hepatócitos através da metabolização da amônia, então, quando há
insuficiência hepática ocorre menos conversão de amônia em uréia e acúmulo de amônia no
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sangue, podendo desencadear a encefalopatia hepática (amônia tóxica em altas concentrações para
o SNC).
Fatores de coagulação: o fígado sintetiza a maior parte dos fatores de coagulação (I, II, V, IX e X),
se estiver insuficiente ocorrerá diminuição dos mesmos. A obstrução biliar pode causar menor
absorção de vitamina K e menor produção dos fatores que dependem dessa vitamina (II, VII, IX e
X).
Glicose: o fígado tem um importante papel no metabolismo da glicose, pois aquela que é
absorvida é armazenada na forma de glicogênio (gliconeogênese), e quando o organismo necessita
ela é liberada na circulação através da glicogenólise. Animais com IH podem ter aumento ou
diminuição da glicemia, como nos casos em que a glicose absorvida não é armazenada na forma
de glicogênio nos hepatócitos, ocorrendo uma hiperglicemia prolongada.
AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL
Os rins tem a função de excretar toxinas e
metabólitos inúteis para o organismo, de regular a
concentração de eletrólitos e água, de manutenção do
balanço ácido-básico, metabolismo da vitamina D, produção
de renina, prostaglandina e eritropoietina, além de recuperar
proteínas de baixo peso molecular.
Néfron, glomérulo, cápsula de bowman, túbulo
contorcido proximal (TCP), alça de henle (AH), túbulo
contorcido distal (TCD), ducto coletor. O néfron é envolto
pelos vasos sanguíneos e estes são responsáveis por tudo que é filtrado pelo glomérulo e também de levar
para circulação sistêmica aquilo que é reabsorvido pelos túbulos e alça.
Os três mecanismos para formação da urina: é formada por filtração glomerular, reabsorção
tubular ativa ou passiva e secreção tubular.
Filtração glomerular: o sangue chega pela arteríola ascendente, passa para os capilares do
glomérulo, o líquido passa dos vasos para a cápsula de bowman formando o “ultrafiltrado
glomerular”. Esse líquido formado tem a densidade muito próxima ao do plasma e no momento
que vai passando pelos túbulos vai sofrendo modificações.
A filtração: O líquido chega com certa pressão hidráulica que o empurra para cápsula de bowman, mas
ao mesmo tempo existe uma pressão (menor) dentro da cápsula de bowman que empurra o líquido de
volta para os capilares, e ainda tem a pressão coloidosmótica (oncótica), que é a força exercida pelas
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proteínas presentes nos vasos (meio mais concentrado) que segura o líquido nos capilares, então o
resultado dessas forças é que promove a filtração glomerular.
Os fatores que vão interferir para que uma molécula consiga passar do sangue para cápsula de
bowman são: -tamanho, as células são muito grandes; -peso molecular, proteínas acima de 70 kDa não
passam pelas fenestras dos capilares (albumina 69 kDa – tem uma pequena passagem de 0,2-0,3% da
quantidade que estiver no sangue; hemoglobina 67kDa – 5% da hemoglobina livre no sangue é filtrada,
aquela hemoglobina que não está ligada à Haptoglobina (proteína plasmática)); - carga elétrica, a carga
elétrica da membrana basal é negativa, então as moléculas que possuem carga positiva são filtradas.
Reabsorção tubular: o filtrado começa a sofrer alterações, parte dele sai do túbulo para as células
tubulares, em seguida para o interstício e depois atingem os
vasos sanguíneos.
O líquido pode acompanhar a reabsorção de algumas moléculas,
como de aminoácidos (reabsorção passiva de água), ou pode ser
reabsorvido devido ao meio hiperosmótico presente na alça de henle
dos néfrons justamedulares (néfrons que vão até a região medular
renal). Em uma condição normal irá ocorrer reabsorção de toda a
glicose filtrada, a não ser que exceda a capacidade/limiar de
reabsorção (nos casos de Diabetes mellitus), o sódio e os aminoácidos também vão ser reabsorvidos.
Secreção tubular: substâncias que estão no interstício vão ser secretadas na luz tubular;
Túbulo Contorcido Proximal
Em uma condição normal 100% da glicose e aminoácidos são reabsorvidos de forma ativa (com
gasto de energia). A Uréia, em média 65% é reabsorvida junto com a água (parte dela nos TC e DC), por
ser uma molécula muito pequena. Fosfato, cálcio, sódio, cloro, magnésio, potássio, bicarbonato (forma
ativa) – reabsorvidos, com secreção de hidrogênio que vai se associar com NH3 e formar amônia NH4;
Alguns autores falam que há secreção de uma pequena quantidade de creatinina e que ela não é
reabsorvida como a uréia;
Alça de Henle descendente e ascendente:
Alguns néfrons não possuem alça de henle ascendente (néfrons corticais - a alça não chega na
porção medular do rim). Na alça descendente tem reabsorção de água e secreção de uréia do interstício
para a luz do túbulo. A alça Ascendente é impermeável à água, não ocorrendo sua reabsorção; Secreção
de K+ e reabsorção de Cl
-, Na
+ e uréia;
Túbulo Contorcido Distal:
Já é permeável à água;
Ocorre reabsorção de Na+, excreção de K
+ (efeito da aldosterona);
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Secreção de hidrogênio (H+);
Túbulo Coletor e Ducto Coletor:
Reabsorção de água sob efeito do hormônio ADH/vasopressina;
Reabsorção de cloro, secreção de hidrogênio, bicarbonato;
Quando reabsorve água a uréia segue de forma passiva (então ela é reabsorvida no TCP e nos Túbulos e
ductos coletores sob efeito do ADH);
A capacidade de concentração da urina vai depender da secreção do ADH e de um gradiente de
concentração medular para que na alça de henle descendente ocorra reabsorção de água.
Quando tem uma lesão aos rins, como uma isquemia, animal com uma anemia severa,
desidratação, não tem sangue suficiente para realizar a perfusão renal, diminuindo a pressão arterial de
oxigênio, as células tubulares vão sofrer lesões, deixar de produzir energia, alterar seu ph e a célula pode
entrar em apoptose. Se for uma lesão reversível (o agente tóxico é eliminado, ou o animal recebe
transfusão para corrigir a anemia severa, etc.) pode haver recuperação desde que não haja perda de mais
de 75% da massa funcional dos dois rins, pois nem todos os néfrons funcionam ao mesmo tempo, então
quando uns morrem outros são ativados. Quando há morte de algumas células dos túbulos, elas se
destacam e vão para a luz do túbulo causando obstrução, e como houve perda da célula do túbulo acaba
ocorrendo passagem de proteínas do sangue para a luz do túbulo, formando o que chamamos de cilindros
(agregados de proteínas). Tudo isso promove a diminuição da taxa de filtração glomerular, então na fase
inicial da insuficiência renal o animal apresenta oligúria e depois a poliúria (o rim perde a capacidade de
concentrar urina).
Obs.: os rins podem eliminar óxido nítrico e prostaglandinas que impedem a agregação plaquetária,
podendo desencadear a formação de trombos.
Animal com Insuficiência Renal apresenta anorexia, perda de peso, vômitos, diarreia, hemorragias
no trato gastrointestinal, estomatite ulcerativa, hálito urêmico, gastrite, úlceras gástricas, letargia,
hipotermia, convulsões e morte.
Avaliação laboratorial da função renal
Dosando uréia e creatinina e através da urinálise para avaliar a densidade urinária
(refratômetro);
Pode-se dosar algumas enzimas na urina, como GGT e NAG (chamado de enzimúria);
Proteínas na urina;
Relação PTN:creatinina urinária;
Depuração;
INULINA ( administra por via IV, e dosa na urina para avaliar filtração glomerular);
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URÉIA É proveniente do metabolismo da amônia, que vem da degradação de proteínas ingeridas ou dos
próprios tecidos (catabolismo). Uma pequena parte uréia que está na corrente sanguínea vai ser eliminada
por difusão pelo intestino (que pode ser degradada pela flora em amônia novamente e ser reabsorvida), e
a maior parte vai ser eliminada pelos rins.
A uréia contribui com cerca de 50% do meio hiperosmótico na porção medular dos rins, na
insuficiência hepática ocorre diminuição da uréia e perda da hiperosmolaridade renal, havendo um déficit
na reabsorção de água.
Foi visto anteriormente que nos rins a uréia é reabsorvida junto com a água no túbulo contorcido
proximal e túbulo coletor, e secretada na alça de henle descendente.
A Uréia pode estar aumentada nos casos de Azotemia pré-renal (azotemia: aumento dos
metabólitos que são eliminados pelos rins, mas o animal não tem sinais de IR; -Uremia: o animal tem
sinais clínicos de IR): os rins estão funcionando normalmente mas houve aumento de uréia no sangue,
seja por aumento da ingestão de proteínas (muita amônia convertida em uréia pelo fígado), pode aumentar
devido à degradação tecidual (catabolismo);
Causas Renais: A excreção da uréia vai depender:
Taxa de filtração glomerular: Se diminuir a taxa de filtração glomerular (animais com ICC,
desidratação, neoplasias que comprimem vasos que irrigam os rins) diminuirá a excreção de uréia.
% de Reabsorção (em média 60%) que ocorre no TCP: se diminuir a reabsorção aumenta a
excreção;
Secreção que ocorre na Alça de Henle: se diminui a secreção aumenta uréia no sangue
Reabsorção no ducto e túbulo coletor sob efeito do ADH: Nos casos de falta do hormônio ADH
(Diabetes insipidus), não ocorrerá reabsorção de água e consequentemente também de uréia.
Causa Pós-Renal:
Obstruções por cálculos, mais comuns em gatos (DTUIF);
Valor de referência em Cães: 15-40 mg/dL
Em alguns livros internacionais eles não falam em uréia e sim “nitrogênio uréico sanguíneo”
(NUS), então para converter o valor dado em NUS deve-se multiplicar por 0,357.
A uréia tem uma estabilidade no soro em temperatura ambiente de 1 dia, refrigerada vários dias e
congelada de 2-3 meses;
Os Yorkshires, os cães adultos e idosos possuem uma concentração de uréia um pouco superior
aos demais, chegando até 90mg/dL sem que o animal tenha algum problema.
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Quais são os fatores extra-renais que alteram a concentração de uréia na corrente sanguínea?
Pode ser fisiológica, por aumento da ingestão de proteínas de origem animal (mais amônia > mais
uréia);
Hemorragias no TGI superior, pois há digestão do sangue e absorção de proteínas no duodeno;
Aumento do catabolismo tissular (febre, exercícios físicos – aumentam a destruição de proteínas
teciduais > aumentam amônia > aumentam uréia);
Diminuição da taxa de filtração glomerular causada por desidratação, devido à redução da
volemia, e diminuição da perfusão renal. Os animais com ICC não tratados também.
Terapia com corticóides aumentam a quebra de proteínas para que sejam transformadas em
glicose pelo fígado (gliconeogênese), aumentando a glicemia e uréia;
Terapia com tetraciclinas pode agravar a uremia ao inibir a síntese de algumas proteínas e
provocar efeito catabólito;
Insuficiência Hepática: não ocorre a conversão da amônia em uréia (diminui uremia), havendo
acúmulo de amônia que é tóxico para o organismo;
Quais as principais causas de Insuficiência Renal?
Doenças inflamatórias, amiloidose, nefrite, pielonefrite, glomerulonefrite, isquemia,
mioglobinúria, medicamentos nefrotóxicos (cloranfenicol), hipóxia renal, hipoplasia ou aplasia congênita,
neoplasias renais, são todas causas de insuficiência renal, provocando aumento de uréia e creatinina.
A redução da uréia não tem significado clínico, nos casos de IH o animal apresenta vários outros
sinais antes de você dosar e notar que a uréia diminuiu.
CREATININA Tem origem da degradação não-enzimática da fosfocreatina dos músculos, ocorre de forma lenta,
constantemente e espontaneamente, e essa degradação não se altera com o aumento da intensidade de
exercícios, com o desgaste muscular (diferente da uréia, que sofre aumento devido o aumento do
catabolismo muscular). Dependendo da quantidade de músculo que o animal possua pode sim ter um
valor basal mais alto, pois quanto mais massa muscular, mais fosfocreatina sendo degradada lentamente e
espontaneamente, formando mais creatinina. A creatinina é encontrada no sangue, é eliminada uma
pequena parte pelo trato digestório (difusão), e a maior parte pelos rins.
A sua excreção é influenciada apenas pela taxa de filtração glomerular, não há reabsorção e
secreção (alguns autores dizem que uma pequena parte é secretada no TCP) como a uréia. A unidade
internacional de medida é em µmol/L, para transformar de mg/dL para µmol/L deve-se multiplicar por
88,4.
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A estabilidade da creatinina na amostra em temperatura ambiente é de 4 dias, refrigerada vários
dias e congelada de 1-3 meses.
A creatinina diferente da uréia, é eliminada rapidamente na urina, por não haver reabsorção e
secreção, então demora mais pra aumentar no sangue. Quando o animal tem uma lesão renal a uréia
aumenta primeiro, porém existem inúmeros fatores que interferem nesse aumento, enquanto a creatinina
não, apenas a taxa de filtração glomerular. A creatinina é mais específica, porém demora um pouco mais
para aumentar no sangue. Pode ocorrer de assim que dosar uréia e creatinina, a uréia estar alta e a
creatinina normal, indicando um início de doença/lesão renal. Deve-se perguntar ao proprietário sobre a
alimentação, exercícios, se notou febre, se o animal está com as fezes enegrecidas (hemorragias no TGI
superior), etc.
Pequenos aumentos da creatinina sem azotemia ocorrem em casos de septicemia, com neoplasias,
se tiver muita massa muscular, e têm a diminuição nos casos de caquexia (atrofia muscular).
Na insuficiência renal o rim perde a capacidade de eliminar substâncias tóxicas do organismo. Só
terá aumento da uréia e creatinina quando o animal tiver perda de mais de 70-75% da função dos dois
rins, então, demora a conseguir diagnosticar, pois ao mesmo tempo em que ocorre perda de néfrons
ocorre também a ativação de néfrons que estavam inativos, compensando a perda.
CONTEÚDO DE AULAS PRÁTICAS
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA Nº 2
Técnica de Cianometa-Hemoglobinemia.
Determinar a concentração de hemoglobina, ou hemoglobinemia. A hemoglobina reage com o
“reagente de cor de hemoglobina”. O reagente vem em frascos de 10 ml para serem diluídos em 1 litro de
água destilada e postos em um frasco de coloração âmbar, pois é degradado se exposto à luz. Tendo assim
um prazo de 6 meses de validade, devendo ficar explícito no frasco sua validação.
Material necessário: 1 tubo de ensaio; reagente de cor de hemoglobina; sangue do paciente; pipeta;
ponteiras; pipeta de vidro; pêra pipetadora de borracha; microtubo (eppendorf); espectrofotômetro semi-
automático;
Procedimento: Separou-se a quantidade do reagente que seria utilizado em outro frasco, para que em
caso de contaminação não comprometesse todo o litro do reagente, sendo descartado o que restou. Em um
tubo de ensaio é posto 2,5 ml do reagente de cor com o auxilio de uma pipeta de vidro. Em seguida o
sangue foi homogeneizado por inversão, aberto o eppendorf com ajuda do papel toalha, pipetado 10 µL
de sangue e posto dentro do tubo de ensaio, homogeneizando novamente para que todas as hemácias
fossem destruídas/rompidas e liberassem a hemoglobina na solução.
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Quando essa técnica é realizada em sangue de aves, répteis, anfíbios, peixes, onde as hemácias
contém o núcleo, ao rompê-las, eles são liberados na solução, e se a solução for posta no
espectrofotômetro sem uma centrifugação prévia, irá promover resultados errôneos (falsos). O aparelho
de espectrofotômetro emite um foco de luz que atravessa a amostra, que caso esteja muito escura, pouca
luz atravessará, indicando que a amostra está com um alto teor de hemoglobina. Porém, em casos que a
amostra estiver lipêmica (turva), com hiperproteinemia ou até mesmo hiperbilirrubinemia também irão
deixá-la escura, e o espectrofotômetro traduzirá como um aumento de hemoglobina, dando um “falso
positivo”. Por isso toda vez que uma amostra estiver com tais alterações não se deve confiar no resultado
do exame, pois será inválido.
Após a leitura da amostra, obtiveram-se os seguintes resultados:
A: 0,452
C: 15,92 g/dl x 10= 159 g/L, o resultado encontrou-se dentro do normal, pois os valores de referência
compreendem-se em 120-180 g/L.
*A=absorbância; *C=concentração; multiplicou-se o valor por 10, pois os valores são dados em g/dl
pelo aparelho de espectrofotometria, sendo que os valores de referência são em g/L.
Contagem de Eritrócitos através da Câmara de Neubauer.
Material necessário: Câmara de Neubauer, lamínula, pipeta, diluente (solução fisiológica), tubo de
ensaio, microscópio;
Procedimento: Pipetou-se 2 ml de solução fisiológica e colocou-a em um tubo de ensaio ou
“eppendorf”, em seguida homogeneizou-se bem a amostra de sangue e pipetou-se 10 µl de sangue e
adicionado a solução fisiológica. A câmara de Neubauer e a lamínula foram limpas com auxilio do papel
toalha, e logo após as laterais da área de contagem foram umedecidas com água (retirando o excesso), e a
lamínula foi posta em cima dessa área e “esfregada” sobre a câmara até que fixasse (A lamínula ficando
em cima das áreas de contagem). A câmara de Neubauer foi posta sobre a bancada e em seguida a
diluição (solução fisiológica mais sangue) foi homogeneizada e pipetada uma quantidade necessária para
preencher as duas áreas de contagem da câmara.
Dois pedaços de papel toalha foram molhados e amassados, sendo colocados nas laterais da
câmara de Neubauer, foi posta uma tampa (da própria caixa da câmara) sobre a mesma, cronometrando 3
minutos, pois vai proporcionar umas espécie e câmara úmida, evitando que a solução fisiológica evapore.
Os 3 minutos são essenciais para que as hemácias sedimentem.
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A câmara de Neubauer foi levada ao microscópio para realizar a contagem dos eritrócitos, iniciou-
se com a objetiva de 10x, diminui o foco de luz, e após focalizar, aumentou para objetiva de 40x. A
contagem foi feita no quadrado central da área de contagem, onde possui 25 quadrados grandes, sendo
contados apenas 5 destes. No interior de cada um dos 5, existem 16 quadrados menores. As hemácias que
chegaram (tocaram) até a segunda linha superior e/ou esquerda foram inclusas na contagem, enquanto as
que estiveram na primeira linha inferior e/ou direita estavam fora da contagem. Após contar os 16
quadrinhos do 1º quadrado maior, passou para o do lado direito e em seguida para o de baixo, pois a
contagem dos 5 quadrados maiores deve ser feita em sentido diagonal.
Após a realização da contagem dos 5 quadrados, os valores foram somados e dividido por 100,
sendo dado o resultado em x10¹²/L.
Os valores de referência para os animais domésticos (x10¹²/L):
Cães: 5,5-8,5
Gatos: 6-10
Cavalos: 6,8-12,9
Bovinos: 5-10
Contagem de Leucócitos através da Câmara de Neubauer (Leucometria
global).
Os leucócitos ou glóbulos brancos como também são chamados, são células responsáveis pela
defesa do organismo contra infecções microbiológicas. São separadas por grupos, o dos granulócitos
(grânulos) ou polimorfonucleares (forma), são as células que possuem grânulos citoplasmáticos e um
núcleo de várias formas (divididos em segmentos). Os principais representantes dos granulócitos são os
neutrófilos, eosinófilos e basófilos. O grupo dos agranulócitos ou mononucleares corresponde às células
que possuem grânulos em menor quantidade e núcleo sem segmentos, sendo os principais representantes
os linfócitos e monócitos.
Material necessário: Câmara de Neubauer, lamínula, pipeta, líquido de Turk, tubo de ensaio,
microscópio;
Procedimento: Pipetou-se 380 µl do líquido de Turk e colocou-a em um tubo de ensaio, em seguida
homogeneizou-se bem a amostra de sangue e pipetou-se 20 µl de sangue (limpou-se a área externa da
ponteira), que foi adicionado ao líquido de Turk, este líquido tem em sua composição o ácido acético 2%,
que provoca a lise das hemácias deixando apenas os leucócitos corados levemente por um corante
chamado de Violeta Genciana (presente no líquido de Turk). A câmara de Neubauer e a lamínula foram
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limpas com auxílio do papel toalha, e logo após as laterais da área de contagem foram umedecidas com
água (retirando o excesso). A lamínula foi posta em cima dessa área e “esfregada” sobre a câmara até que
fixasse (A lamínula ficando em cima das áreas de contagem). A câmara de Neubauer foi posta sobre a
bancada e em seguida a diluição foi homogeneizada e pipetada uma quantidade necessária para preencher
as duas áreas de contagem da câmara (foram preenchidos os dois retículos da câmara de contagem,
evitando excesso de líquido e bolhas de ar sob a lamínula).
Dois pedaços de papel toalha foram molhados e amassados, sendo colocados nas laterais da
câmara de Neubauer, foi posta uma tampa (da própria caixa da câmara) sobre a mesma, cronometrando 3
minutos, pois vai proporcionar umas espécie e câmara úmida, evitando que o diluente evapore. Os 3
minutos são essenciais para que os leucócitos sedimentem.
A câmara de Neubauer foi levada ao microscópio para realizar a contagem dos leucócitos, iniciou-
se com a objetiva de 4x, após focalizar passou para de 10x, diminui o foco de luz, aumentou para objetiva
de 40x. A contagem de leucócitos é feita nas quatro extremidades, ou seja, nas áreas encontradas ao redor
da área central.
Os Leucócitos que chegaram (tocaram) até a segunda linha superior e/ou esquerda foram inclusos
na contagem. Após contar os 16 quadrinhos do 1º quadrado superior do canto esquerdo, passou para o do
lado direito (fez a contagem), em seguida para o de baixo, e por último o inferior do canto esquerdo.
Após a realização da contagem dos 4 quadrados, os valores foram somados, o resultado foi
multiplicado por 0,5 e dado em x109/L.
Resultados e Discussão
Valores de referência para Cães: 6,0-17,0 (x109/L);
Felinos: 5.5-12,5;
Equinos: 5,5-12,5;
Bovinos: 4,0-12,0;
As principais causas de aumento de Leucócitos (leucocitose)
Fisiológica: ocorre como uma resposta à adrenalina (excitação, medo, exercício extremo, gestação e
parto), no qual o compartimento marginal de neutrófilos e/ou linfócitos são mobilizados para a circulação
geral, aumentando a contagem total de leucócitos e o número de neutrófilo absoluto e/ou linfócitos
(também é conhecida como pseudo-neutrofilia já que o compartimento de neutrófilos circulantes totais,
na verdade, mantém-se inalterado). Assim uma neutrofilia ou linfocitose transitórias, ou ambas, podem se
manifestar. Esta condição é comum em animais jovens e geralmente é desencadeada por distúrbios
emocionais e físicos. (KERR, 2003).
Reativa: ocorre em resposta às doenças. Certas doenças podem induzir uma resposta específica,
mas usualmente um padrão geral de resposta dos leucócitos é evidente, independente da doença. A
leucocitose reativa pode ocorrer com ou sem desvio à esquerda (KEER, 2003).
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As infecções podem levar ao aumento da produção de leucócitos, o uso de algumas medicações
anti-inflamatórias (corticoides) pode “atrasar” a transcrição de RNAm para moléculas de adesão
(adesinas) dos neutrófilos, impedindo com que eles realizem a diapedese para os tecidos, envelhecendo na
circulação (hipersegmentados) e consequentemente aumentando seu número circulante. Algumas
desordens mieloproliferativas também podem ser a casa de leucocitose, etc.
As principais causas de diminuição de leucócitos (leucopenia)
Em muitos animais, ocorre por neutropenia e linfopenia. A neutropenia é causa primária de
leucopenia em animais com uma relação N:L maior que 1, e linfopenia em animais que a relação N:L é
menor que 1. A neutropenia é mais comum em infecções bacterianas e linfopenia em infecções virais.
Severas infecções bacterianas e virais podem causar leucopenia associada à neutropenia e linfopenia, ou
ambas e também podem reduzir o número de outros leucócitos (KERR, 2003).
Um animal pode ter leucopenia por lesões medulares causadas por infecções (parvovirose,
Ehrlichia spp, vírus da leucemia felina, etc), pelo aumento da destruição desses leucócitos por agentes
intracelulares obrigatórios, pode ser pelo aumento do uso desses glóbulos brancos, por uso de drogas
(quimioterápicos antineoplásicos, trimetoprim), etc.
Prova de Compatibilidade Sanguínea.
O principal objetivo da transfusão de sangue total é a recuperação da capacidade de transporte de
oxigênio e da volemia em casos de anemias graves por perda aguda de sangue (MORRIS, 1999). Segundo
COUTO (1998), “antes de qualquer transfusão é necessário verificar a compatibilidade entre o plasma e
hemácias de doadores e receptores, e identificar a presença de anticorpos pré-existentes responsáveis por
hemólise ou hemaglutinação utilizando a prova de reação cruzada, ou compatibilidade sanguínea”.
Esta prova visa diminuir o risco de reações transfusionais hemolíticas imunomediadas,
principalmente onde a tipificação sanguínea não é feita. Embora a ocorrência de reações transfusionais
hemolíticas agudas sejam raras em uma primeira transfusão, é recomendado que se faça a prova da reação
cruzada antes de qualquer transfusão, principalmente quando a indicação para esta são problemas
imunomediados (LOPES, 2007).
Material necessário: sangue do doador (colhido com EDTA); sangue do receptor (com EDTA); soro do
doador; soro do receptor; tubos de ensaio; pipetas; solução fisiológica; centrífuga; lâminas de vidro;
lamínulas; microscópio;
Procedimento: Primeiramente foi necessário realizar a lavagem das hemácias do doador e receptor, a fim
de remover os anticorpos presentes no plasma. Após homogeneizar, em um tubo de ensaio colocou-se
100µl de sangue do doador e completou com solução fisiológica (preenchendo cerca de 80% do tubo),
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realizando o mesmo com o sangue do receptor. Ambos foram levados à centrífuga por 1 minuto a 3.500
rpm, em seguida removeu-se o sobrenadante com o auxílio de uma pipeta, e preencheu novamente os
tubos com solução fisiológica, homogeneizando para lavar as hemácias e centrifugando (esse
procedimento foi repetido por mais duas vezes). Os tubos foram identificados para não serem trocados na
hora de ir para centrífuga.
Feita a lavagem das hemácias, removeu-se 20µl das hemácias e adicionou 980µl de solução
fisiológica tamponada em um microtubo (eppendorf), produzindo uma solução de hemácias lavadas.
Então, em 4 tubos de ensaios fora adicionados:
TUBO A- Prova Maior: 50µl da solução de hemácias do doador + 100µl do soro do receptor;
TUBO B- Prova Menor: 50µl da solução de hemácias do receptor + 100µl do soro do doador;
TUBO C- Controle negativo do doador: 50µl da solução de hemácias do doador + 100µl do soro também
do doador;
TUBO D- Controle negativo do receptor: 50µl da solução de hemácias do receptor + 100µl do soro do
receptor;
Após realizar o “cruzamento” das amostras, os tubos de ensaio foram levados ao banho-maria
37ºC por 10 minutos (podendo ficar em temperatura ambiente por 30 minutos). Os sangues presentes nos
interiores de cada tubo foram pipetados e postos sobre as lâminas de vidro e cobertos por lamínulas, para
observação das reações de compatibilidade no microscópio (objetiva de 40x).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao retirar os tubos de ensaio do banho-maria, foram observados os aspectos das amostras em seus
interiores. Onde não ocorreu reação de compatibilidade a amostra ficou turva, com as hemácias intactas
(ocorre quando há compatibilidade ou nos tubos controles). Onde ocorreu a reação, o sangue ficou
translúcido (avermelhado), é um sinal de que ocorreu a destruição das hemácias (hemólise).
Na prova de reação cruzada maior, as hemácias do doador são testadas com o plasma do receptor
para verificar se há presença de anticorpos no receptor contra as hemácias do doador. Esta prova é a mais
importante, devendo ser sempre compatível, pois em uma reação incompatível todas as hemácias
transfundidas serão destruídas. Na menor, cruza-se hemácias do receptor com plasma do doador para
verificar a existência de anticorpos no plasma do doador contra as hemácias do receptor. É usada
concomitantemente com a anterior, principalmente na segunda transfusão, porém é menos importante
devido à diluição do plasma do doador no paciente (MORRIS, 1998).
Na prova maior ocorreu incompatibilidade, ou seja, ocorreu a destruição das hemácias por uma
reação imunológica exacerbada. Na prova menor, não ocorreu incompatibilidade, porém é de menor
importância, visto que os doadores geralmente nunca recebem nenhuma transfusão (é o indicado), sendo
normal a ausência de anticorpos anti-eritrocitários (contra as hemácias do receptor). Com base nas
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reações ocorridas, o receptor não deve receber sangue do doador, pois são incompatíveis, e ocorreria uma
destruição de todas as hemácias transfundidas.
Outras respostas que poderiam ocorrer é a hemaglutinação, quando os sangues são incompatíveis,
os anticorpos do receptor aglutinam as hemácias do doador, visíveis na microscopia, e no tubo de ensaio
aparecem como pequenos grânulos vermelhos. Outra reação que pode ocorrer é quando o sangue controle
negativo do receptor apresenta hemólise. Isto se deve à produção prévia de anticorpos contra as próprias
hemácias devido a uma resposta autoimune estimulada por hemoparasitas ou imunocomplexos.
Urinálise
A urina é um líquido formado pelos rins, como resultado da filtração do plasma. Suas principais
funções são: eliminação de substâncias produzidas pelo catabolismo e indesejáveis ao organismo,
eliminação de medicamentos e drogas ingeridas e manutenção da homeostasia do plasma. O rim é
formado por milhares de néfrons, que são unidades morfofuncionais capazes de formar urina (GARCIA-
NAVARRO, 1996).
Segundo GARCIA-NAVARRO (1996), a urinálise compõe-se de três etapas, o exame físico, o
químico e a análise microscópica do sedimento. Esses exames fornecem informações sobre o
funcionamento do sistema urinário, no entanto, outros órgãos também podem ser avaliados, como o
pâncreas endócrino e o fígado. A urinálise fornece ainda informações preliminares no que diz respeito a
distúrbios como hemorragia glomerular, hepatopatias, erros inatos do metabolismo e infecções do trato
urinário. A aferição da densidade urinária ajuda na avaliação da função dos túbulos renais. Os resultados
do exame físico da urina também podem ser utilizados para confirmar ou explicar achados do exame
químico e microscópico.
MATERIAL NECESSÁRIO
Fita reagente de urinálises; tubo de ensaio tipo “falcon”; refratômetro; centrífuga; lâmina de
vidro; lamínula; microscópio; Urina do paciente; Luvas;
PROCEDIMENTO
Primeiramente é necessário que a urina seja colhida, que pode ser por micção espontânea
(devendo descartar os 3 primeiros jatos, pois conterá detritos, leucócitos, exsudatos provenientes da
uretra, prepúcio, etc.), cateterismo ou cistocentese.
Segundo Lopes & Cunha (2002), A urina deve ser colhida em recipiente limpo, podendo ser de
vidro ou plástico. Se a amostra de urina não for analisada imediatamente após a colheita, os frascos
escuros são preferíveis, pois a luz solar pode causar a degradação de certos constituintes da urina, tais
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como bilirrubina e urobilinogênio, em menos de uma hora. Pode-se fazer o exame em até 12 horas com a
amostra refrigerada.
Quando a urina chega ao laboratório faz-se o exame físico que é divido em:
Volume da amostra, não tem importância saber o volume de apenas uma micção, mas o
interessante é mensurar a quantidade de urina produzida em 24 horas. Como em animais a
obtenção de urina padrão de 24 horas é muito difícil, o volume é na verdade a quantidade de urina
recebida pelo laboratório. O volume mínimo para a realização adequada do exame é de 10 ml
(LOPES & CUNHA, 2002).
Cor, pode ser amarelo-clara (urina com baixa densidade associada à poliúria); amarelo-escura
(urina com alta densidade associada à oligúria); castanha/marrom (mioglobinúria ou
hemoglobinúria); avermelhada (presença de sangue); azul-esverdeada (pode ser devido ao azul de
metileno, que comumente é encontrada na composição de antissépticos urinários);
O Aspecto pode ser límpido/translúcido ou turvo. Segundo Lopes & Cunha, 2002, a turbidez da
urina pode representar uma grande quantidade de leucócitos, eritrócitos, células epiteliais de
descamação, muco e bactérias do trato urinário.
Odor, não é mais utilizado esse método de inalação de amostra biológica.
PH e Densidade são métodos físicos que são avaliados através de uma fita reagente (pH) e
refratometria (densidade);
Após avaliar volume, cor e aspecto, faz-se o exame químico, que consiste em imergir rapidamente
(por alguns segundos) uma fita reagente na urina do paciente, retirar o excesso de urina com o auxílio
do papel toalha e realizar a leitura em até 1 minuto após a emersão da fita, e leucócitos em 2 minutos.
Esta fita de urinálise nos informa a presença, ausência e quantidade de substâncias (ou células)
presentes na urina, tais como: sangue, bilirrubina, urobilinogênio, cetonas, nitrito, glicose, proteínas,
leucócitos, pH, densidade específica e ácido ascórbico.
Em seguida a urina deve ser centrifugada por 10 minutos a 1500 rpm, cerca de 5 a 10 ml de urina,
para que os sedimentos decantem no fundo do tubo. A calibração do aparelho de refratometria deve
ser realizada para avaliar a densidade urinária (outra forma de avaliação, além da fita reagente),
pipetando cerca de 30-50 µl da urina centrifugada.
Descarta a maior parte da urina, deixando apenas uma quantidade suficiente para cobrir os
sedimentos no fundo do tubo “falcon”. Suspende os sedimentos, pipeta uma quantidade suficiente para
formar uma gota espessa e põe na lâmina de vidro cobrindo com uma lamínula. Leva ao microscópio,
diminui o foco de luz e pesquisa a presença de hemácias, leucócitos, bactérias, células epiteliais, de
transição, escamosas, os diversos tipos de cristais, cilindros (hialino, hemático, leucocitário, granuloso, de
células renais, etc). A objetiva de 10x para ver cilindros e a de 40x para leucócitos, hemácias e cristais.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados avaliados da amostra de urina processada em laboratório foram:
Exame físico:
Volume: 65 ml;
Cor: amarelo-ouro;
Aspecto: límpida;
Ph: 6,0;
Densidade: 1030 (fita reagente),
A que medida no refratômetro foi de
1020;
Exame químico:
Bilirrubina: ++
Sangue: ausente
Urobilinogênio: normal 1(16)
Cetonas: negativo
Glicose: negativo
Proteína: negativo
Nitrito: negativo
Leucócitos: negativo
Ácido Ascórbico: +20(1.2)
Hemólise: negativo
Na microscopia foi observada a presença de células escamosas, são grandes, com bordas angulares
e núcleos pequenos (figura 1), poucas células de transição (com bordas arredondadas, um formato de
“raquete”) e cristais de amoníaco magnesiano (figura 2). Todos os valores encontrados no exame de
urinálise estavam dentro da normalidade.
Figura 1. Foto de microscopia óptica de células escamosas presentes no sedimento urinário (setas pretas).
Fonte: Vinícius Mendes Gonçalves.
Figura 2. Cristais de fosfato amoníaco magnesiano.
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Teste da Digestão da Gelatina.
A porção exócrina do pâncreas é organizada em ácinos, e as células acinares são as responsáveis
pela secreção de enzimas para a digestão de carboidratos, proteínas e lipídios (ARGENZIO, 1996). O
pâncreas exócrino tem uma reserva funcional considerável, mas quando há perda da capacidade de
secreção enzimática efetiva, ocorrem sinais de má digestão, caracterizando a insuficiência pancreática
exócrina (IPE) (RALLIS, 2004). A IPE é geralmente consequência da redução grave da massa
pancreática, causada por atrofia acinar ou pancreatite crônica, mas também pode ser decorrente de
desnutrição protéica grave (TAMS, 2005).
Os animais com IPE apresentam perda de peso progressiva, polifagia e esteatorréia. Além de
alterações no volume e consistência das fezes. Existem testes laboratoriais responsáveis por avaliar a
função exócrina do pâncreas, e diagnosticar a deficiência na excreção de enzimas digestivas (IPE). Os
testes utilizados para avaliar a ação proteolítica nas fezes é o da “digestão da gelatina”, “digestão do
raioX”, avaliar a presença de fibras musculares nas fezes. Para avaliar a digestão e absorção de lipídeos
utilizam testes da “turvação plasmática” e observação da presença de gordura nas fezes. Para avaliar a
digestão dos carboidratos, observa-se a presença de amido nas fezes. A presença de lipídeos, proteínas e
carboidratos nas fezes não são testes confiáveis para avaliação da função exócrina do pâncreas, pois irão
depender da dieta do animal, da quantidade e tipo de alimento ingerido. Animais que possuem uma dieta
rica em gordura terá esses lipídeos presentes em grandes concentrações nas fezes, e o mesmo serve para
os demais, carboidratos e proteínas.
MATERIAL NECESSÁRIO: fezes frescas do paciente; tubo de ensaio; pipeta; balança analítica de
precisão; bicarbonato de sódio; gelatina sem sabor; becker;
PROCEDIMENTO
Pesou-se 1g de fezes em uma balança de precisão;
Solução de Gelatina 7,5%, foi posta em um Becker 0,75g de gelatina sem sabor, adicionado a 10
ml de água aquecida.
Solução de bicarbonato 5%, em um Becker foi adicionado 0,5g de bicarbonato, junto a 100ml de
água destilada;
Em um tudo de ensaio foram adicionas 1 parte de fezes e 9 partes de bicarbonato de sódio (1 grama de
fezes e 9ml de bicarbonato), além de 0,5 ml de gelatina.
Essa “mistura” foi levada ao banho-maria 37ºC por uma hora e em seguida para o refrigerador por
aproximadamente o mesmo tempo, onde depois foi observado o resultado.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que a gelatina se manteve amolecida (não endureceu), mostrando que ocorreu a ação
das enzimas proteolíticas liberadas pelo pâncreas (tripsina e quimotripsina), degradando o colágeno e não
permitindo seu endurecimento.
Nem toda vez que amostra endurecer significa que o animal tem IPE, pois a dieta pode interferir
no resultado. Em casos em que o animal ingere uma dieta muito rica em proteínas, ocorre uma utilização
maior da quimotripsina e tripsina pra degradá-las, e as enzimas acabam ficam ausentes nas fezes (falso-
negativo). Deve-se fazer o mesmo teste por cerca de três dias consecutivos para obter resultados mais
confiáveis.