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Microsoft Word - TCC_ShayenneCampos_GR34.docxINSTITUTO DE
TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE
GOIÂNIA - ITGT
RESSIGNIFICAÇÃO DO VÍNCULO AMOROSO DEPENDENTE
Shayenne Campos de Oliveira
INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE
GOIÂNIA - ITGT
RESSIGNIFICAÇÃO DO VÍNCULO AMOROSO DEPENDENTE
Shayenne Campos de Oliveira
Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de
Goiânia (ITGT) como requisito parcial à
conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-Senso
em Gestalt-terapia em parceria com a Pontifícia
Universidade Católica de Goiás.
Orientador(a): Ms. Isadora Samaridi
Possíveis intervenções na clínica gestáltica: Processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente
Possible interventions in the gestalt clinic: Process of resignification of the dependent love bond
Posibles intervenciones en la clínica gestáltica: proceso de resignificación del vínculo amoroso dependiente
RESUMO
Os relacionamentos amorosos são compreendidos socialmente como vínculos que podem trazer a sensação de completude e felicidade ou de sofrimento emocional quando as relações conjugais são estruturadas sob o vínculo de dependência emocional. Assim, este trabalho tem como objetivo identificar intervenções baseadas na Gestalt-terapia que pode favorecer a ressignificação dessa forma de se relacionar, via estudo de caso. Os dados foram coletados por meio de encontros clínicos, registro documentais e análise do diário de campo que contém as percepções e intervenções realizadas pela psicoterapia, os dados foram analisados por meio do método fenomenológico. As intervenções baseadas na postura da psicoterapeuta, na filosofia dialógica, no método fenomenológico e o uso de técnicas auxiliaram a paciente expandir suas funções e contato e na ampliação da sua awareness, o que possibilitou a ressignificação da sua forma de amar. Palavras-chave: Amor; Dependência emocional; Gestalt-terapia; Estudo de caso.
ABSTRACT Love displacements are socially understood as bonds that can bring the feeling of completeness and happiness or emotional suffering when marital relationships are structured under the bond of emotional dependence. Hus, this work aims to identify interventions based on Gestalt- therapy that can favor the redefinition of this way of relating, via a case study. Data were collected through clinical meetings, documentary records and analysis of the field diary that contains the perceptions and interventions carried out by psychotherapy, the data were analyzed using the phenomenological method. Interventions based on the psychotherapist’s posture, on the dialogic philosophy, on the phenomenological method and the use of techniques helped the patient to expand her functions and contact and in the expansion of her awareness, which enabled the redefinition of her way of loving. Key words: Love; Emotional Dependence; Gestalt therapy; Case study.
RESUMEN Las relaciones amorosas se entienden socialmente como vínculos que pueden traer la sensación de plenitud y felicidad o sufrimiento emocional cuando las relaciones matrimoniales se estructuran bajo el vínculo de la dependencia emocional. Así, este trabajo tiene como objetivo identificar intervenciones basadas en la terapia Gestalt que pueden favorecer la redefinición de esta forma de relacionarse, a través de un estudio de caso. Los datos fueron recolectados a través de reuniones clínicas, registros documentales y análisis del diario de campo que contiene las percepciones e intervenciones realizadas por la psicoterapia, los datos fueron analizados mediante el método fenomenológico. Las intervenciones basadas en la postura del psicoterapeuta, en la filosofía dialógica, en el método fenomenológico y el uso de técnicas ayudaron a la paciente a expandir sus funciones y contacto y en la expansión de su conciencia, lo que le permitió redefinir su forma de amar. Palabras llave: Amor; Dependencia emocional; Terapia Gestalt; Estudio de caso.
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Possíveis intervenções na clínica gestáltica: Processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente
O amor é um sentimento que permeia as relações humanas e um tema relevante no
contexto clínico. Cardella (1994) concebe o amor como um modo de ser, uma atitude no mundo
caracterizada pela integração e diferenciação de um indivíduo com o outro, o que permite ver,
aceitar e encontrar a outra pessoa como um ser único, singular e ao mesmo tempo semelhante.
Para Lins (2017), o amor é uma construção social, cada cultura elege sua forma de amar
e de se relacionar com o outro. Na cultura ocidental a forma de amar é baseada em crenças,
princípios e idealizações do amor romântico. Esse amor tem como principal característica a
idealização da pessoa amada o que permite projetar no outro tudo aquilo que você gostaria que
ele fosse e, ao se deparar com a realidade tem-se como principal consequência a frustração,
dessa forma o amor romântico não sobrevive a uma relação mais íntima e profunda.
Nesse contexto, Sophia (2018) compreende quatro estágios do amor: a atração física
e/ou emocional, paixão, desilusão e o amor saudável ou rompimento. Os dois primeiros estágios
do amor (atração física e/ou emocional e paixão) correspondem dos primeiros meses até dois
anos de um relacionamento saudável, é o momento no qual existe o desejo de estar ao lado da
pessoa amada a todo instante, há uma idealização do outro e uma frequente ebulição física.
Já a desilusão corresponde à etapa do relacionamento na qual há uma constatação da
pessoa como ela é e não da maneira como ela é idealizada, o que pode gerar sentimento de
tristeza, raiva e angústia. Após esse estágio, encontra-se a possibilidade de duas posturas: o
rompimento ou a continuação no relacionamento. Quando há o desejo de permanecer na
relação, evolui-se então para o último estágio do amor, o amor saudável. Essa última etapa é na
qual ocorre o apaziguamento da paixão e da desilusão passando a existir confiança,
cumplicidade, projetos compartilhados, respeito pela individualidade um do outro (Sophia,
2018).
Atentando-se a essa perspectiva, para Sophia (2018), a dependência emocional é
alicerçada no amor romântico e o relacionamento fica fixado na atração física e/ou emocional
e na paixão, não conseguindo evoluir para os outros estágios em direção a um amor saudável.
Analogamente, Norwood (2011) afirma que as pessoas dependentes se mantêm em
relacionamentos insatisfatórios, demonstram ser possesivas, controladoras, altruístas,
inseguras, instáveis e possuem medo de serem abandonadas, além de serem obcecadas por uma
pessoa e nomear essa obsessão de amor.
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No que concerne ao desenvolvimento dessa forma de amar, percebe-se que a maior parte
das pessoas que vivenciam a dependência emocional vêm de famílias disfuncionais. Vale
ressaltar que para Castilho (2003), citado por Silveira (2016), o sistema familiar é um lugar de
reconhecimento das diferenças, da aprendizagem, da capacidade de união e separação, das
trocas afetivas, da construção da identidade e autoestima, que causam um senso de
pertencimento nos seus membros.
A partir dessa concepção, nota-se que a família disfuncional é um lar em que essas
necessidades não foram acolhidas e/ou supridas. Desse modo, isso reduz a capacidade da
criança de confiar em si mesma, tendo a sensação de não ter sido alimentado afetivamente, o
que influencia na construção da sua autoestima, identidade e o senso de pertencimento e
futuramente na qualidade dos seus vínculos amorosos (Bourbeau, 2017; Norwood, 2011).
Compreende-se que o amor é um momento de conexão com o outro e de separação, da
mesma forma que se pode amar e sentir-se amado de uma forma saudável, pode-se também
amar de uma maneira disfuncional. Dessa forma, a dependência emocional é uma maneira de
amar que provoca sofrimento e adoecimento no relacionamento e também na própria pessoa
dependente (Norwood, 2011, Cardella 2004).
Diante do exposto, percebe-se que a forma que nos relacionamos com o outro pode gerar
um adoecimento psíquico, pois somos considerados seres de relação e estamos em constante
movimento com o outro e com o mundo. Nesse contexto, Ribeiro (1985) assegura que a Gestalt-
terapia é uma abordagem que adota uma visão holística de homem e do mundo que o circunda,
o que pode ser eficaz no trabalho com pessoas dependentes emocionais. Essa abordagem possui
um arcabouço filosófico, teórico, metodológico e prático capaz de auxiliar em amplas
demandas.
A Gestalt-terapia é considerada uma abordagem voltada para o contato. Na literatura
gestáltica, o contato é a função que assimila o que é nutritivo e distancia-se daquilo que é
danoso, de acordo com as necessidades do indivíduo. Essa interação acontece na fronteira de
contato, que é onde organismo e ambiente interagem (Frazão, Fukumitsu, e Salomão 2014;
Polster & amp; Polster, 2001).
É na fronteira de contato que o “eu” e o “não eu” se encontram e se diferenciam. Em
um organismo saudável essa fronteira é rica de plasticidade e permeabilidade que, ao encontrar
com a novidade, permite a assimilação e apropriação do que é nutritivo e a rejeição do que é
danoso, se ajustando de uma maneira saudável (Frazão, Fukumitsu e Salomão, 2014).
O bloqueio de contato também ocorre na fronteira, e quando as funções de contato, ou
seja, o tocar, o olhar, o escutar, o cheirar, o degustar, o falar, se encontram adoecidas, podem
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ficar fechadas, assim como, abertas demais, não havendo respeito entre limite do “eu” e “não
eu”. Dessa forma, o indivíduo começa a se relacionar com o mundo de maneira disfuncional,
afastando-se das suas próprias necessidades, e interrompendo o contato, cai em um ciclo de
repetição sem lugar para o novo e nem para a satisfação das suas necessidades (Fukumistu, 201,
Polster Polster 2001).
Os bloqueios de contato ocorrem via mecanismos como: fixação, dessensibilização,
deflexão, introjeção, projeção, proflexão, retroflexão, egotismo e confluência (Ribeiro (2007).
Desse modo, destaca-se que os bloqueios de contato predominantes na forma de vinculação
dependente são: introjeção, proflexão e confluência.
No bloqueio de contato introjeção a pessoa incorpora crenças, normas e atitudes
provenientes do meio externo na sua personalidade. Percebe-se crenças, modelos de
relacionamentos e concepções negativas sobre amor introjetadas na forma de se relacionar
dependente. Assim como nota-se a sensação de fazer para o outro, aquilo que gostaria de
receber, característica da proflexão, bloqueio no qual a pessoa deseja que os outros sejam como
ela é, manipulando-os a fim de receber deles aquilo que precisa (Cardela, 1994 e Ribeiro, 2007).
Por confluência, Perls (1988) concebe que esse bloqueio é caracterizado pela pessoa não
conseguir diferenciar o que é ela e o que são os outros, em um processo de ligar-se
completamente ao outro. Dessa forma, na confluência o “nós” passa a existir em detrimento do
“eu” (Ribeiro, 2007).
Conforme Cardella (1994), o amor nada mais é do que contato, a capacidade de
aproximação e retração do outro com fluidez, respeitando os limites saudáveis entre si e o outro.
Em contrapartida, na dependência emocional o amor deixa de ser sinônimo de saúde e passa a
ser fonte de adoecimento, comprometendo o crescimento pessoal e amoroso.
Tendo em vista as interrupções e inibições de contato, é importante ressaltar o processo
de autorregulação organísmica, descrito por Lima (2014) como uma forma de interação e
negociação entre o que se busca e a resolução de uma situação em desequilíbrio. Para tal
autorregulação, é necessário haver um ajustamento criativo que envolve criar condições e
recursos para lidar com as experiências.
A Gestalt-terapia tem como objetivo auxiliar o indivíduo a ampliar a awareness, a qual
é descrita por Yontef (1998, p. 215), como “... uma forma de experenciar. É o processo de estar
em contato vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/ambiente, com total
apoio sensório, motor, emocional, cognitivo e energético”. Por esse ângulo, a psicoterapia com
base gestáltica utiliza-se da prática dialógica na psicoterapia para ajudar o cliente a ampliar a
consciência de si e do mundo, ou seja, ampliar a sua awareness (Cardoso, 2013).
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Hycner (1995) enfatiza que a prática dialógica na psicoterapia coloca o psicoterapeuta
a serviço do “entre”. Nesse sentido, há o reconhecimento de que há algo maior no contexto
terapêutico do que a presença física, ou seja, o reconhecimento do mais-que-pessoal. É por
meio da esfera ontológica do “entre”, que o encontro entre psicoterapeuta e cliente ocorre, assim
como, a inclusão, a aceitação e a confirmação do cliente. Nesse contexto, a inclusão refere-se à
postura de colocar-se no lugar da pessoa, mas sem que o psicoterapeuta perca a sua
individualidade; a aceitação refere-se em aceitar o outro como ele é; e a confirmação é o esforço
de voltar-se para o outro e confirmar sua experiência singular no mundo.
Para aceitar e confirmar o cliente é necessário que o psicoterapeuta tenha uma postura
aberta, de acolhimento ao indivíduo, se despindo de qualquer prejulgamento. Sendo assim, é
por meio da presença genuína e da disponibilidade do psicoterapeuta que é possível entrar na
experiência singular do cliente, isso está intrinsicamente ligado à postura de entregue ao entre,
quando por meio da relação psicoterapeuta e cliente, entram em contato um com o outro
(Cardoso, 2013; Hycner 1995).
Vale destacar que a relação dialógica com o cliente é permeada pela escuta
fenomenológica. Nessa perspectiva, a escuta é desprovida de juízos de valores, busca priorizar
os significados da fala do cliente e abre a possibilidade da interação psicoterapêutica. Ao escutar
o cliente o psicoterapeuta mergulha inteiramente no seu mundo vivido, permitindo o contato
com a sua essência. Esse modelo de escuta atentiva consistiu-se em um importante elemento
que facilita o desenvolvimento da awareness (Cardoso, 2002).
À vista disso, a abordagem gestalática alicerça-se na fenomenologia, que segundo
Bucher (1989) é o estudo dos fenômenos. Nesse sentido, trata-se de uma metodologia que busca
por meio da descrição esclarecer aquilo que se manifesta à consciência. E, por fenômeno, de
acordo com Forghieri (2015), entende-se aquilo que se mostra, o que aparece, tudo aquilo que
se revela por si mesmo a uma consciência intencional. A consciência é atentiva, livre de ‘a
prioris’. Assim, por meio da intencionalidade da consciência se capta a correlação sujeito-
objeto, o que permite captar o sentido do fenômeno, captar a essência dessa correlação por meio
do retorno às coisas mesmas.
Por conseguinte, se pretende “voltar às coisas mesmas”, ou seja, voltar às origens, ao
que já foi vivido antes de ser teorizado. Forghieri (2015) pontua que a fenomenologia utiliza do
recurso da redução para retornar às coisas mesmas, para tal, suspende-se, coloca-se os
preconceitos entre parênteses.
Conforme Rehfeld (2013), a redução fenomenológica ou a epoché consiste em ‘colocar
entre parênteses’ a realidade do senso comum, para assim captar a essência e o sentido das
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coisas. A fenomenologia é considerada uma filosofia e também uma metodologia que implica
uma nova maneira de ver o mundo. Por ser tratar de uma epistemologia compreensiva, utiliza-
se da descrição para compreender e interpretar os fenômenos que se apresenta à percepção
(Forghieri, 2015).
A Abordagem Gestáltica utiliza também técnicas ou experimentos para a
conscientização do indivíduo. Para Figueroa (2015), os experimentos estão sempre a serviço do
cliente e são utilizados quando de alguma maneira auxiliam no processo de tomada de
consciência, ou seja, a promoção da awareness.
De acordo com Beisser (1971), a pessoa que busca a terapia deseja ser mudada, pois
está em conflito com, pelo menos, duas facções intrapsíquicas que se guerreiam, está se
deslocando entre o que deveria ser e o que pensa que é. Nesse contexto, o Gestalt-terapeuta
possui a habilidade em favorecer esse processo, solicitando que a pessoa seja simplesmente o
que ela é no momento psicoterapêutico, pois “a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o
que é, não quando tenta converter o que não é” (Beisser, 1971, p. 110).
Posto isso, a Gestalt-terapia alicerça-se na teoria paradoxal da mudança, dessa forma
Pinheiro (2014) assinala que o psicoterapeuta, tem como finalidade favorecer que o cliente
amplie a awareness e sua integração com o meio, pois à medida que a pessoa amplia seu nível
de integração com meio, amplia a consciência de si e do mundo, e consequentemente as
mudanças vão ocorrendo.
O processo psicoterápico, nessa perspectiva, não tem necessariamente como intuito a
cura, mas sim a mudança, a qual, pode levar à cura. Mudar significa ressignificar as coisas, e
sobretudo, a própria existência. Assim sendo, o objetivo da psicoterapia é favorecer ao cliente
o processo de mudança, mas para que esse processo ocorra é necessário acolher o cliente em
sua totalidade capturada em uma atitude ética fundamental, proporcionando a possibilidade de
encontro na relação psicoterapêutica (Ribeiro, 2007; Cardella, 2015, Pinheiro, 2014).
Destarte, é mediante a sensação de vazio em decorrência da separação conjugal que
algumas mulheres dependentes buscam a psicoterapia, pois podem ainda sentir-se “presas” ao
relacionamento antigo. Nessa forma de amar observa-se que as pessoas não conseguem formar
vínculo amoroso genuíno, mas sim um vínculo compensatório, de modo que os parceiros
deleguem um ao outro uma função psicológica que deveria ser responsabilidade de si mesmo,
configurando uma situação inacabada (Bandeira, 2015, Cardella, 2014, Sophia, 2018).
A partir dessa concepção, entende-se que o processo psicoterapêutico na abordagem
gestáltica com dependentes emocionais, visa caminhar com o cliente desvendando novas
formas de se contatar com o mundo de uma maneira saudável, facilitando o crescimento do
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indivíduo de forma global, e, como consequência, a atualização do potencial amoroso
(Bandeira, 2015).
Para tal, é fundamental o estabelecimento de uma relação terapêutica acolhedora,
respeitosa, aceitando a maneira singular de o cliente ser e estar no mundo. Elementos esses, que
contribuem para a criação de um ambiente seguro e consequentemente para consolidação do
vínculo entre terapeuta e cliente.
Metodologia
Participou deste estudo a paciente Alice (nome fictício), sexo feminino, 22 anos,
divorciada, estudante e estagiária de relações públicas. É a filha do meio de uma prole de três
irmãos, natural de São Luiz – MA, porém, atualmente, mora em Goiânia com dois amigos.
Alice iniciou o processo psicoterapêutico com a pesquisadora em agosto de 2019 alegando
sentir-se muito triste, com dificuldade em se reconstruir depois do término do seu casamento,
que aconteceu em maio de 2018, vivenciando uma sequência de relacionamentos amorosos
frustrados e uma dificuldade de autoaceitação. Seu processo psicoterapêutico foi finalizado em
fevereiro de 2021.
Os materiais utilizados para a realização desta pesquisa foram: notebook, papel A4,
lápis, canetas, marcadores de texto, impressora, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
artigos e livros. Os atendimentos foram realizados no consultório particular da psicoterapeuta,
o qual possui duas poltronas, uma mesa, duas cadeiras, ar condicionado, tapete e um relógio
para o controle do tempo.
Já os instrumentos utilizados para que este projeto se desenvolvesse foram: os encontros
clínicos, 43 sessões de psicoterapia entre agosto de 2019 a fevereiro de 2021, com a duração
média de 50 minutos cada. Os registros das sessões foram feitos em um diário de campo, no
qual a psicoterapeuta registrou após cada sessão os relatos elaborados por Alice, assim como,
as suas impressões e a intervenções realizadas sob a perspectiva da Gestalt-terapia e o registro
de evolução do atendimento psicológico.
O presente projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica
de Goiás (PUC Goiás), sendo analisado e aprovado pelo número de identificação
39254020.6.0000.0037. Ao início do processo psicoterapêutico, Alice entrou em contato com
a secretária de triagem do Instituto de Pesquisa e Treinamento em Gestalt-terapia (ITGT) em
agosto de 2019 e foi encaminhada à psicoterapeuta. No decorrer das sessões foram ressaltadas
as normas de sigilo e ética que resguardam o conteúdo trabalhado e o material das sessões,
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assim como foi realizado o convite para a participação no presente estudo, a fim de utilizar o
seu caso para uma reflexão mais aprofundada acerca dos temas que são trabalhados nos
atendimentos.
Após ser apresentada ao estudo, Alice concordou com a participação e relatou felicidade
em ser escolhida para este projeto. A participante assinou o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, se mostrou interessada, e consentiu a utilização de fragmentos de suas falas que
foram registradas no diário de campo e na ficha de registro de evolução dos atendimentos
clínicos, e também consentiu o compartilhamento dos recursos utilizados durante algumas
sessões realizadas.
Posteriormente, os dados coletados foram analisados pela psicoterapeuta com base no
método fenomenológico. Esse método, conforme Andrade e Holanda (2010), apresenta-se à
psicologia como um recurso eficaz para pesquisar o mundo vivido do sujeito, com o intuito de
compreender o significado da vivência individual da pessoa.
Conforme Fukumitsu (2013) pontua, o método fenomenológico abre a possibilidade de
compreensão da vivência do que está sendo pesquisado, os pesquisadores procuram, a partir de
observações e de análises abertas, descobrir os processos que explicam o porquê dos
fenômenos.
Para identificar as intervenções baseadas na abordagem gestáltica que auxiliaram Alice
desenvolver formas mais saudáveis de se relacionar, será descrito a vivência trazida pela
paciente ao longo de 43 sessões de psicoterapia, porém para efeito deste trabalho o foco será
nas sessões: 1, 3, 4, 8, 9, 11, 16, 17, 18, 19, 20, 27 e 33, bem como as intervenções realizadas
com base na Gestalt-terapia durante o processo psicoterapêutico.
Em suas sessões iniciais, Alice relatou que o seu desejo a priori com a psicoterapia era
aprender vivenciar formas mais saudáveis de se relacionar e conseguir “caminhar na vida”, pois
sentia-se paralisada diante ao meio externo. Destaca-se que Alice é a filha do meio de uma prole
de três filhos, sua chegada foi um momento esperado e desejado por ser a primeira menina na
família. Contudo, após o suicídio do irmão aos 13 anos de idade, a mãe começou a negligenciar
os cuidados físicos e emocionais da paciente, Alice recorda-se de diversas vezes ter ficado com
fome e/ou suja esperando o pai chegar do trabalho para atender as suas necessidades, relatou,
ainda sentir-se abandonada pela mãe.
Na sua infância e adolescência a paciente vivenciou uma série de conflitos na sua relação
com a mãe, nomeia esse vínculo como conturbado. Discorreu sentir que não correspondia às
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idealizações que a mãe projetou para si e não se sentia pertencente na sua família de origem.
Durante a sua adolescência, aos 15 anos de idade, Alice conheceu o ex-marido, ambos
estudavam juntos na mesma escola e a partir daí começaram a namorar e aos 17 anos se casaram
com o consentimento da família. Pontuou sentir pelo ex-marido um amor genuíno, profundo e
que ele trouxe para si uma família na qual ela sentia-se aceita e querida por ser quem ela era.
Logo após o seu casamento, Alice passou no vestibular para relações públicas em uma
faculdade em Goiânia e decidiu mudar-se para a cidade, escolhendo manter o seu
relacionamento à distância. Nesse contexto, Alice se descreveu como uma boa estudante e
profissional, ocupou um lugar de destaque no meio acadêmico, porém, em contrapartida,
vivenciou conturbações no seu relacionamento conjugal.
Após uma série de conturbações no seu relacionamento: brigas por excesso de controle,
ciúmes, insegurança e desconfiança, Alice descobriu que foi traída sexualmente pelo esposo e
decidiram terminar o relacionamento. Pelo processo do seu término, a paciente pontua que foi
o período mais complicado da sua vida, sentiu-se sem forças, triste, apática, com pensamentos
recorrentes de morte, e foi esse o momento no qual ela buscou ajuda psicoterapêutica e
psiquiátrica. Posteriormente, Alice vivenciou uma série de relacionamentos frustrados, o que
gerava nela culpa, ressentimento, distanciamento de si e uma necessidade de agradar outras
pessoas.
Outra vivência descrita por Alice ao iniciar o processo psicoterapêutico com a psicóloga
pesquisadora, foi sua relação conturbada com a mãe; estava ressentida por não se sentir-se
amada por não corresponder às idealizações que a mãe projetava para si. Acrescentou, também,
que se sentia paralisada por não conseguir se reconstruir após o término do seu casamento.
Nesse primeiro momento, a pesquisadora utilizou-se de uma escuta atentiva e
acolhedora com o intuito de compreender os principais motivos que impulsionaram a paciente
a buscar o atendimento, assim como, propiciar a criação de um vínculo psicoterapêutico sólido.
Para Cardoso (2002), a escuta desprovida de julgamento, críticas e desqualificações, permite a
psicoterapeuta a mergulhar no mundo de significados e entrar em contato com a essência da
paciente. Dessa maneira, a partir da postura da psicoterapeuta, Alice sentiu-se em um ambiente
seguro para expressar suas dores, angústias e a sua maneira de existir.
Ao expressar suas dores, Alice pontuava sobre seus sentimentos de tristeza e raiva diante
da relação materna. Em uma das sessões realizadas, Alice reviveu momentos da sua infância,
na qual sentia que as suas necessidades básicas não eram satisfeitas; relatou que, por vezes, a
mãe negligenciava cuidados físicos e emocionais, em decorrência de um processo depressivo,
o que era compreendido pela paciente como um abandono emocional. Dessa forma, a
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psicoterapeuta utilizou-se do experimento da “cadeira vazia” para que a paciente conseguisse
expressar essa dor e também compreender de forma acolhedora as atitudes da mãe.
A cadeira vazia, conforme Figueroa (2015), é uma técnica na qual uma cadeira ou uma
almofada são destinadas a ser ocupadas por uma representação. Tal representação se dá por
meio de um diálogo que o paciente assume com outra parte e vai intercambiando os papeis,
mudando de lugar.
Nessa perspectiva, Alice queixava-se de não se sentir amada pela sua mãe, e internalizou
que para ser amada precisava moldar-se nas expectativas projetadas em si: de ser uma filha
comportada, esteticamente magra e com uma personalidade submissa. Desse modo, por
diversas vezes, Alice frustrava-se por não conseguir corresponder essas expectativas, o que
corrobava para sua dificuldade de autoaceitação e consequentemente a necessidade de se
moldar para entrar nas suas relações amorosas.
O ambiente clínico demonstrou ser um lugar de aceitação e confirmação da paciente
como ela é, o que funcionou como um suporte para que Alice expressasse sua forma de ser-no-
mundo de uma maneira clara e real, sem máscaras emocionais. Isso só foi possível a partir da
postura adotada pela psicoterapeuta pesquisadora que se fundamentou na filosofia dialógica,
adotando os princípios da aceitação e confirmação do paciente tal como ele é na relação
terapêutica. E tal postura pressupõe validar a forma única do paciente ser e de se comportar,
seus sentimentos, pensamentos, valores e, principalmente, considerar sua existência dinâmica
(Hycner, 1995).
Dessa forma, na medida em que Alice conseguia expressar-se e sentir-se aceita no
setting psicoterapêutico, mais fortalecida ela se sentia, para enfrentar o mundo além do
ambiente clínico, o que contribuiu também para o fortalecimento da sua autoestima e
autoaceitação.
É importante destacar que a Gestalt-terapia é uma abordagem voltada para o contato.
Cardella (1994), nos seus estudos, compreende que o amor é a capacidade que desenvolvemos
de estabelecer limites saudáveis entre si e o outro, o que envolve um contato de boa qualidade
e a retração. Percebe-se que Alice bloqueava o seu contato via os mecanismos de: introjeção,
confluência e proflexão, o que a impedia de estabelecer limites e diferenciar-se do outro,
contribuindo para desenvolver uma forma adoecida de amar (Polster e Polster, 2001, Ribeiro,
2007).
A paciente descreveu sentir-se triste por não conseguir que os seus relacionamentos se
concretizassem e, ao perceber que as suas relações não fluíam, ela acreditava que a
responsabilidade era somente dela, afirmando que: “sufocava as pessoas pelo seu jeito de ser”.
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Por meio da investigação fenomenológica, compreende-se que o sentido atribuído a essa
responsabilização vem de falas da sua mãe, foi relatado que a progenitora dizia: “Alice você
não pode ser assim, o seu jeito sufoca demais as pessoas, você é uma pessoa intensa, desse
jeito ninguém vai te aguentar”.
Nesse recorte, observa-se que no decorrer da sua vida Alice introjetou normas e visões
que eram da sua mãe sobre sua forma de se relacionar, ela acreditava, no seu íntimo, que para
merecer o amor do outro precisava se moldar, e quando seus relacionamentos não se
concretizavam sentia uma intensa culpa e vergonha. Nesse contexto, foi utilizada a descrição
fenomenológica, que para Bucher (1989) é uma forma de esclarecer aquilo que se manifesta à
consciência para facilitar a paciente a compreender as suas introjeções.
Alice também introjetava crenças culturais sobre o amor, por meio de metáforas
expressava: “sinto que eu estou me afogando, como se sempre precisasse de uma boia salva-
vidas para eu não afundar”. Desse modo, ela acreditava que para ser feliz precisava
necessariamente estar com alguém, projetando a sua felicidade no outro. Crenças estas advindas
do amor romântico e idealizado que permeia a nossa cultura.
Outra função de contato descrita em sua vivência foi a confluência, na medida em que
se moldava para sentir-se aceita nos seus relacionamentos; se em um ambiente uma pessoa não
gostava dela, ela buscava provar para essa pessoa que ela é digna de amor. Dessa maneira,
muitas vezes diminuía suas diferenças para sentir-se melhor e semelhante aos demais.
Já a proflexão, Ribeiro (2007) assinala que é o processo no qual o indivíduo deseja que
os outros sejam como ele deseja. Nesse âmbito, Alice desejava que nos seus relacionamentos o
outro fosse da maneira como ela queria, pontuava: “sinto que doou mais do que eu recebo.
Estou cansada disso, quero um relacionamento que me sinto verdadeiramente amada”.
Esperava que seus companheiros demonstrassem o amor da mesma forma que ela demonstrava.
À vista disso, o processo psicoterapêutico fundamentou-se no método fenomenológico,
portanto, utilizou-se da epoché, investigação fenomenológica e descrição fenomenológica. Vale
destacar a importância da descrição fenomenológica, que no ambiente clínico foi utilizada para
favorecer a cliente a se escutar e entrar em contato consigo mesma e com o outro, em alguns
momentos, a descrição permitiu Alice clarificar as introjeções, diferenciar-se do outro e
perceber o seu movimento nas relações amorosas. Petrelli (2001) assinala que a fenomenologia
utiliza da descrição da realidade e redução fenomenológica e permite o retorno “às coisas
mesmas”.
Segundo Polster e Polster (2001), o contato é o sangue vital para o crescimento, o meio
para mudar a si mesmo e a experiência que se tem do mundo. Ante disso, a psicoterapeuta
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buscou com que a paciente ampliasse suas funções de contato propiciando a sua própria escuta
e a percepção do seu contexto relacional, para que assim a paciente se torne consciente dos seus
sentimentos e do mundo da coexistência.
No decorrer do processo psicoterapêutico, Alice precisou retornar para a casa dos seus
pais em São Luís – MA, em março de 2020 por conta da pandemia do Covid-19, o que a deixou
mais em contato com o ex-marido. Nesse sentido, ela foi compreendendo que o término do seu
matrimônio ainda é uma Gestalt em aberto, e que esse processo precisaria ser encerrado para
que ela conseguisse caminhar nos seus relacionamentos amorosos.
Sobre o seu casamento, Alice descreveu que se sentia como a pessoa mais importante
do mundo, era uma relação que se conseguia enxergar como perfeita, era totalmente aceita
dentro da família do ex-marido, o único lugar que não precisava moldar-se para caber nos
ambientes, algo que ela não possuía na sua família de origem. Foi compartilhado também que,
o ex-marido representava para ela, uma “vitória” para a mãe, mostrando que Alice é uma mulher
forte, desejada, querida.
Durante o processo psicoterapêutico, compreendeu que fez de tudo para manter a sua
relação e mesmo depois da separação sentia-se disponível para seu ex-marido, em momentos
de fragilidades ele ligava pedindo ajuda por não saber lidar com suas crises existenciais e Alice
se colocava à disposição para auxiliar nesses momentos. Acrescenta que, por mais que se sentia
mal e usada, também se sentia importante, o que a fazia se questionar se essa sua atitude remetia
à falta de amor-próprio e a não valorização.
Alice descreve que o ex-marido possuía um “poder” sobre ela, o que passava a sensação
de ser, em suas palavras: “me sinto como uma roupa velha, quentinha, que a gente adora usar
em casa, sabe? Mas que a gente tem vergonha de usar fora, porém eu não quero mais essa
sensação, quero me sentir como uma roupa nova”. Tal situação possibilitou Alice sentir-se
mais aberta e disponível para a compreensão do seu vínculo amoroso e consequentemente a
ressignificação dele.
Percebe-se que o vínculo amoroso que Alice ainda mantinha com o seu ex-marido
consolidava-se por meio de um vínculo compensatório. Sophia (2018) pontua que essa forma
de vínculo ocorre quando ele é deslocado das relações afetivas primárias para coisas ou
comportamentos compulsivos. No caso da dependência emocional, os parceiros delegam um
ao outro uma função psicológica que deveria ser responsabilidade de si mesmo.
Observa-se que ex-marido trazia à Alice uma sensação de pertencimento, como ela
pontua:
15
“No meu casamento foi a primeira vez que eu me sentia aceita, minha sogra e minhas cunhadas me adoram até hoje, posso ser quem eu sou e comer o que eu quero” ... “Já na casa da minha mãe me sinto forçada a caber em uma caixa que não me cabe, presa em um lugar que me traz recordações ruins”. Em psicoterapia, Alice, de forma plena e integralizada, entra em contato e amplia a sua
awareness: “eu precisei voltar e entender que eu tinha uma dependência emocional dele,
entender o sentido contigo, para eu me libertar”.
Na medida em que a paciente amplia sua awarenss, Alice vai caminhando para um
processo de fortalecimento emocional e construindo fronteiras com o seu ex-marido. Percebe
que enxergava a sua relação de uma forma romantizada, não vivia uma relação perfeita, mas
uma relação com dificuldades, na qual ela se colocava em uma posição de doação para o outro
de forma desproporcional.
Ao abrir-se para compreender de fato seu relacionamento, Alice começa o seu processo
de se posicionar com limites bem definidos. Ela relata:
“Hoje ele vem falar comigo, falar dos problemas dele, eu não dou moral, por meio da dó, aquilo que a gente já trabalhou ele viu que não dá mais certo e vem conversar comigo coisas do trabalho”. “Eu precisei adoecer, para sair desse relacionamento”[...] “Vi que o R. não precisava de ninguém, para nada, antes eu tentava ajudar demais, mas ele é uma pessoa forte e da conta de se virar”. Além disso, começa a resginificar o seu pertencimento, assim como, caminha na jornada
de autoaceitação. Desse modo, Alice começa a compreender que ela pode se permitir pertencer,
ser amada, sem a necessidade de se moldar e a partir daí, começa a se fortalecer em direção a
própria vida e busca estar mais disponível para a sua família nuclear, especialmente, a mãe.
Alice descreve:
“Precisei voltar para casa, reconstruir minha casa, a minha base. Estar em São Luís, significa ficar próxima de dores, próxima de um quarto no qual tentou suicídio, próxima do meu ex-marido, aquele que me traiu, passar em frente a uma escola que eu sofria bullying. Quando eu cheguei em Goiânia, eu cheguei sem identidade nenhuma, só a que meu marido tinha criado de mim, e aí eu fui criada em mim mesma, tive que aprender a me olhar, olhar meu corpo que eu tanto odiava, hoje eu gosto, assim não são todos os dias, mas agora eu tenho meus rituais, tomo banho, cuido da minha pele, eu sempre fui vaidosa, mas hoje é diferente, eu sinto prazer em cuidar de mim. Que dia que eu teria coragem de sair na rua com short e ‘cropped’? Você lembra?! Hoje eu saio […] demorei muito para encontrar meu estilo, era muito difícil ser feminina e masculina o mesmo tempo” [...] “Ontem fui no shopping com a I. ela olhou uma roupa e disse: “nossa, Alice, é sua cara!” Fiquei tão feliz, demorei muito para encontrar meu estilo, isso para mim é um elogio, antes eu nem sabia o que eu gostava de vestir e as pessoas nem sabiam também, sabe o que é olhar algo e falar: ‘Essa é a cara de fulano’, para mim é um elogio maior do que falar que eu ‘tô’ bonita.”
16
Destarte, a Gestalt-terapia alicerça-se na teoria paradoxal da mudança, dessa forma,
Pinheiro (2014) assinala que o psicoterapeuta tem como finalidade favorecer que o cliente
amplie a awareness e sua integração com o meio, pois à medida que a pessoa amplia seu nível
de integração com meio amplia a consciência de si e do mundo, e consequentemente as
mudanças vão ocorrendo. Portanto, o processo psicoterápico, nessa perspectiva, não tem
necessariamente relação com a cura, mas sim com a mudança, a qual pode levar à cura.
Considerações finais
A dependência emocional é considerada uma forma adoecida de amar que traz prejuízos
para a pessoa dependente, assim como, para o seu relacionamento amoroso. Logo, o presente
estudo de caso teve como principal objetivo identificar as intervenções alicerçadas na Gestalt-
terapia que auxiliaram a paciente a ressignificar o vínculo amoroso que se configurava como
uma gestalten em aberto com o ex-marido.
A psicoterapeuta pesquisadora fundamentou-se em uma presença acolhedora e uma
escuta desprovida de juízos de valores, críticas e desqualificações, que facilitou na criação de
um ambiente seguro para que Alice conseguisse expressar suas dores, angústias e dificuldades,
e consequentemente permitiu a consolidação de um vínculo terapêutico.
A partir da construção do vínculo terapêutico, a pesquisadora pôde ampliar sua forma
de atuação. Sendo assim, a profissional utilizou de princípios da psicoterapia dialógica: a
inclusão, aceitação e confirmação como instrumento de trabalho. De forma análoga, fez uso de
técnicas da Gestalt-terapia, que facilitaram que Alice compreendesse a sua forma de amar. As
técnicas buscam promover a awareness, portanto, nas sessões foi utilizada a técnica da cadeira
vazia como meio de auxiliar a cliente se expressar e também se utilizou de metáforas para a
conscientização da sua forma de ser-no-mundo.
Todo o trabalho psicoterapêutico baseou-se no método fenomenológico, isto é, na
epoché, investigação fenomenológica e descrição das vivências para facilitar o contato de Alice
consigo e com o mundo. A paciente apresentava como bloqueios de contato a introjeção,
confluência e proflexão, que quando cristalizados a impedia de contatar-se com o mundo de
maneira mais nutritiva.
Na medida em que Alice entra em contato e se conscientiza acerca seu lugar no seu
antigo relacionamento, ela consegue compreender sua forma de amar e consequentemente
ressignificar esse vínculo, que até então era disfuncional. A gestalten que se configurava em
17
aberto toma um novo fechamento e, assim, Alice se demonstra mais aberta para o seu
crescimento de forma geral e busca a atualização do seu potencial amoroso.
Em suma, o estudo contribui com a apresentação de intervenções na perspectiva
gestáltica que são eficientes no contexto clínico para a ressignificação do vínculo amoroso
disfuncional.
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Yontef, G. M, (1998). Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus.
ANEXO - A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de Pesquisa sob o título: Possibilidades de intervenções na clínica gestáltica: o processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente. Meu nome é Shayenne Campos de Oliveira, sou Psicóloga, especializanda em Gestalt-terapia sob supervisão da Ms. Isadora Samaridi. Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser assinado em todas as folhas e em duas vias, sendo a primeira de guarda
20
e confidencialidade do pesquisador responsável e a segunda ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o pesquisador responsável através do número (62) 982829144, ligações a cobrar (se necessárias) ou através do e-mail [email protected]. Em caso de dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da PUC Goiás, telefone: (62) 3946-1512, localizado na Avenida Universitária, N° 1069, St. Universitário, Goiânia/GO. Funcionamento: das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas de segunda a sexta-feira. O CEP é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) que por sua vez é subordinado ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é responsável por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que segue os princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares. Pesquisadores: Shayenne Campos de Oliveira e Isadora Samaridi.
O motivo que nos leva a propor essa pesquisa é a importância em compreender como a psicoterapia na perspectiva da Gestalt-terapia possibilita a ressignificação do vínculo dependente nos relacionamentos amorosos, assim como, contribuir para maior reflexões sobre essa temática para a literatura gestáltica. Esta pesquisa refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Gestalt-terapia do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Tem por objetivo identificar intervenções baseadas na abordagem gestáltica que auxiliam a mulher dependente emocional desenvolver formas mais saudáveis de se relacionar consigo e com o outro. O procedimento de coleta de dados será mediante a descrição de encontros clínicos realizados, análise de Diário de Campo e do Registro de evolução do atendimento psicológico.
Riscos: A presente pesquisa é de risco mínimo. Assim, pode vir a acarretar transtornos emocionais ou desconfortos em decorrência de sua participação. Se você sentir qualquer desconforto é assegurado assistência imediata e integral de forma gratuita, para danos diretos e indiretos, imediatos ou tardios de qualquer natureza para dirimir possíveis intercorrências em consequência de sua participação na pesquisa. Para evitar e/ou reduzir os riscos de sua participação sua identidade será tratada com padrões profissionais de sigilo, você não será identificada em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo, será garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências.
Benefícios: Esta pesquisa terá como benefícios a possibilidade de clarificação, reflexão e compreensão à cerca de como a psicoterapia gestáltica pode auxiliar na ressignificação do vínculo dependente nos relacionamentos amorosos. Além disso, a divulgação dos resultados obtidos à sociedade poderá contribuir para com a promoção de estudos e debates a respeito da temática de utilidade pública.
Não há necessidade de identificação, ficando assegurados o sigilo e a privacidade. Caso você se sinta desconfortável por qualquer motivo, poderemos interromper a pesquisa a qualquer momento e esta decisão não produzirá qualquer penalização ou prejuízo.
Você poderá solicitar a retirada de seus dados coletados na pesquisa a qualquer momento, deixando de participar deste estudo, sem prejuízo. Os dados coletados serão guardados por, no mínimo 5 anos e, após esse período será incinerado. Se você sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tem direito a indenização.
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Será garantido, que o material e os dados obtidos na pesquisa serão enviados a você, caso desejar, e que serão utilizados apenas com a finalidade acadêmica.
Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira por sua participação neste estudo, mas caso tenha algum gasto decorrente do mesmo este será ressarcido pelo pesquisador responsável. Adicionalmente, em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao pesquisador responsável pela pesquisa para esclarecimentos de eventuais dúvidas
Declaração do Pesquisador
O pesquisador responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declara que cumprirão com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência integral e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa; que sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que será devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que acatarão decisões judiciais que possam suceder.
Declaração do Participante
Eu,__________________________________________________________________, abaixo assinado, discuti com a Psicóloga Shayenne Campos de Oliveira e/ou sua equipe sobre a minha decisão em participar como voluntário (a) do estudo Possibilidades de intervenções na clínica gestáltica: o processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia integral e gratuita por danos diretos, imediatos ou tardios, quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
Goiânia, ______, de _______________, de 2020.
GOIÂNIA - ITGT
RESSIGNIFICAÇÃO DO VÍNCULO AMOROSO DEPENDENTE
Shayenne Campos de Oliveira
INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE
GOIÂNIA - ITGT
RESSIGNIFICAÇÃO DO VÍNCULO AMOROSO DEPENDENTE
Shayenne Campos de Oliveira
Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de
Goiânia (ITGT) como requisito parcial à
conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-Senso
em Gestalt-terapia em parceria com a Pontifícia
Universidade Católica de Goiás.
Orientador(a): Ms. Isadora Samaridi
Possíveis intervenções na clínica gestáltica: Processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente
Possible interventions in the gestalt clinic: Process of resignification of the dependent love bond
Posibles intervenciones en la clínica gestáltica: proceso de resignificación del vínculo amoroso dependiente
RESUMO
Os relacionamentos amorosos são compreendidos socialmente como vínculos que podem trazer a sensação de completude e felicidade ou de sofrimento emocional quando as relações conjugais são estruturadas sob o vínculo de dependência emocional. Assim, este trabalho tem como objetivo identificar intervenções baseadas na Gestalt-terapia que pode favorecer a ressignificação dessa forma de se relacionar, via estudo de caso. Os dados foram coletados por meio de encontros clínicos, registro documentais e análise do diário de campo que contém as percepções e intervenções realizadas pela psicoterapia, os dados foram analisados por meio do método fenomenológico. As intervenções baseadas na postura da psicoterapeuta, na filosofia dialógica, no método fenomenológico e o uso de técnicas auxiliaram a paciente expandir suas funções e contato e na ampliação da sua awareness, o que possibilitou a ressignificação da sua forma de amar. Palavras-chave: Amor; Dependência emocional; Gestalt-terapia; Estudo de caso.
ABSTRACT Love displacements are socially understood as bonds that can bring the feeling of completeness and happiness or emotional suffering when marital relationships are structured under the bond of emotional dependence. Hus, this work aims to identify interventions based on Gestalt- therapy that can favor the redefinition of this way of relating, via a case study. Data were collected through clinical meetings, documentary records and analysis of the field diary that contains the perceptions and interventions carried out by psychotherapy, the data were analyzed using the phenomenological method. Interventions based on the psychotherapist’s posture, on the dialogic philosophy, on the phenomenological method and the use of techniques helped the patient to expand her functions and contact and in the expansion of her awareness, which enabled the redefinition of her way of loving. Key words: Love; Emotional Dependence; Gestalt therapy; Case study.
RESUMEN Las relaciones amorosas se entienden socialmente como vínculos que pueden traer la sensación de plenitud y felicidad o sufrimiento emocional cuando las relaciones matrimoniales se estructuran bajo el vínculo de la dependencia emocional. Así, este trabajo tiene como objetivo identificar intervenciones basadas en la terapia Gestalt que pueden favorecer la redefinición de esta forma de relacionarse, a través de un estudio de caso. Los datos fueron recolectados a través de reuniones clínicas, registros documentales y análisis del diario de campo que contiene las percepciones e intervenciones realizadas por la psicoterapia, los datos fueron analizados mediante el método fenomenológico. Las intervenciones basadas en la postura del psicoterapeuta, en la filosofía dialógica, en el método fenomenológico y el uso de técnicas ayudaron a la paciente a expandir sus funciones y contacto y en la expansión de su conciencia, lo que le permitió redefinir su forma de amar. Palabras llave: Amor; Dependencia emocional; Terapia Gestalt; Estudio de caso.
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Possíveis intervenções na clínica gestáltica: Processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente
O amor é um sentimento que permeia as relações humanas e um tema relevante no
contexto clínico. Cardella (1994) concebe o amor como um modo de ser, uma atitude no mundo
caracterizada pela integração e diferenciação de um indivíduo com o outro, o que permite ver,
aceitar e encontrar a outra pessoa como um ser único, singular e ao mesmo tempo semelhante.
Para Lins (2017), o amor é uma construção social, cada cultura elege sua forma de amar
e de se relacionar com o outro. Na cultura ocidental a forma de amar é baseada em crenças,
princípios e idealizações do amor romântico. Esse amor tem como principal característica a
idealização da pessoa amada o que permite projetar no outro tudo aquilo que você gostaria que
ele fosse e, ao se deparar com a realidade tem-se como principal consequência a frustração,
dessa forma o amor romântico não sobrevive a uma relação mais íntima e profunda.
Nesse contexto, Sophia (2018) compreende quatro estágios do amor: a atração física
e/ou emocional, paixão, desilusão e o amor saudável ou rompimento. Os dois primeiros estágios
do amor (atração física e/ou emocional e paixão) correspondem dos primeiros meses até dois
anos de um relacionamento saudável, é o momento no qual existe o desejo de estar ao lado da
pessoa amada a todo instante, há uma idealização do outro e uma frequente ebulição física.
Já a desilusão corresponde à etapa do relacionamento na qual há uma constatação da
pessoa como ela é e não da maneira como ela é idealizada, o que pode gerar sentimento de
tristeza, raiva e angústia. Após esse estágio, encontra-se a possibilidade de duas posturas: o
rompimento ou a continuação no relacionamento. Quando há o desejo de permanecer na
relação, evolui-se então para o último estágio do amor, o amor saudável. Essa última etapa é na
qual ocorre o apaziguamento da paixão e da desilusão passando a existir confiança,
cumplicidade, projetos compartilhados, respeito pela individualidade um do outro (Sophia,
2018).
Atentando-se a essa perspectiva, para Sophia (2018), a dependência emocional é
alicerçada no amor romântico e o relacionamento fica fixado na atração física e/ou emocional
e na paixão, não conseguindo evoluir para os outros estágios em direção a um amor saudável.
Analogamente, Norwood (2011) afirma que as pessoas dependentes se mantêm em
relacionamentos insatisfatórios, demonstram ser possesivas, controladoras, altruístas,
inseguras, instáveis e possuem medo de serem abandonadas, além de serem obcecadas por uma
pessoa e nomear essa obsessão de amor.
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No que concerne ao desenvolvimento dessa forma de amar, percebe-se que a maior parte
das pessoas que vivenciam a dependência emocional vêm de famílias disfuncionais. Vale
ressaltar que para Castilho (2003), citado por Silveira (2016), o sistema familiar é um lugar de
reconhecimento das diferenças, da aprendizagem, da capacidade de união e separação, das
trocas afetivas, da construção da identidade e autoestima, que causam um senso de
pertencimento nos seus membros.
A partir dessa concepção, nota-se que a família disfuncional é um lar em que essas
necessidades não foram acolhidas e/ou supridas. Desse modo, isso reduz a capacidade da
criança de confiar em si mesma, tendo a sensação de não ter sido alimentado afetivamente, o
que influencia na construção da sua autoestima, identidade e o senso de pertencimento e
futuramente na qualidade dos seus vínculos amorosos (Bourbeau, 2017; Norwood, 2011).
Compreende-se que o amor é um momento de conexão com o outro e de separação, da
mesma forma que se pode amar e sentir-se amado de uma forma saudável, pode-se também
amar de uma maneira disfuncional. Dessa forma, a dependência emocional é uma maneira de
amar que provoca sofrimento e adoecimento no relacionamento e também na própria pessoa
dependente (Norwood, 2011, Cardella 2004).
Diante do exposto, percebe-se que a forma que nos relacionamos com o outro pode gerar
um adoecimento psíquico, pois somos considerados seres de relação e estamos em constante
movimento com o outro e com o mundo. Nesse contexto, Ribeiro (1985) assegura que a Gestalt-
terapia é uma abordagem que adota uma visão holística de homem e do mundo que o circunda,
o que pode ser eficaz no trabalho com pessoas dependentes emocionais. Essa abordagem possui
um arcabouço filosófico, teórico, metodológico e prático capaz de auxiliar em amplas
demandas.
A Gestalt-terapia é considerada uma abordagem voltada para o contato. Na literatura
gestáltica, o contato é a função que assimila o que é nutritivo e distancia-se daquilo que é
danoso, de acordo com as necessidades do indivíduo. Essa interação acontece na fronteira de
contato, que é onde organismo e ambiente interagem (Frazão, Fukumitsu, e Salomão 2014;
Polster & amp; Polster, 2001).
É na fronteira de contato que o “eu” e o “não eu” se encontram e se diferenciam. Em
um organismo saudável essa fronteira é rica de plasticidade e permeabilidade que, ao encontrar
com a novidade, permite a assimilação e apropriação do que é nutritivo e a rejeição do que é
danoso, se ajustando de uma maneira saudável (Frazão, Fukumitsu e Salomão, 2014).
O bloqueio de contato também ocorre na fronteira, e quando as funções de contato, ou
seja, o tocar, o olhar, o escutar, o cheirar, o degustar, o falar, se encontram adoecidas, podem
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ficar fechadas, assim como, abertas demais, não havendo respeito entre limite do “eu” e “não
eu”. Dessa forma, o indivíduo começa a se relacionar com o mundo de maneira disfuncional,
afastando-se das suas próprias necessidades, e interrompendo o contato, cai em um ciclo de
repetição sem lugar para o novo e nem para a satisfação das suas necessidades (Fukumistu, 201,
Polster Polster 2001).
Os bloqueios de contato ocorrem via mecanismos como: fixação, dessensibilização,
deflexão, introjeção, projeção, proflexão, retroflexão, egotismo e confluência (Ribeiro (2007).
Desse modo, destaca-se que os bloqueios de contato predominantes na forma de vinculação
dependente são: introjeção, proflexão e confluência.
No bloqueio de contato introjeção a pessoa incorpora crenças, normas e atitudes
provenientes do meio externo na sua personalidade. Percebe-se crenças, modelos de
relacionamentos e concepções negativas sobre amor introjetadas na forma de se relacionar
dependente. Assim como nota-se a sensação de fazer para o outro, aquilo que gostaria de
receber, característica da proflexão, bloqueio no qual a pessoa deseja que os outros sejam como
ela é, manipulando-os a fim de receber deles aquilo que precisa (Cardela, 1994 e Ribeiro, 2007).
Por confluência, Perls (1988) concebe que esse bloqueio é caracterizado pela pessoa não
conseguir diferenciar o que é ela e o que são os outros, em um processo de ligar-se
completamente ao outro. Dessa forma, na confluência o “nós” passa a existir em detrimento do
“eu” (Ribeiro, 2007).
Conforme Cardella (1994), o amor nada mais é do que contato, a capacidade de
aproximação e retração do outro com fluidez, respeitando os limites saudáveis entre si e o outro.
Em contrapartida, na dependência emocional o amor deixa de ser sinônimo de saúde e passa a
ser fonte de adoecimento, comprometendo o crescimento pessoal e amoroso.
Tendo em vista as interrupções e inibições de contato, é importante ressaltar o processo
de autorregulação organísmica, descrito por Lima (2014) como uma forma de interação e
negociação entre o que se busca e a resolução de uma situação em desequilíbrio. Para tal
autorregulação, é necessário haver um ajustamento criativo que envolve criar condições e
recursos para lidar com as experiências.
A Gestalt-terapia tem como objetivo auxiliar o indivíduo a ampliar a awareness, a qual
é descrita por Yontef (1998, p. 215), como “... uma forma de experenciar. É o processo de estar
em contato vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/ambiente, com total
apoio sensório, motor, emocional, cognitivo e energético”. Por esse ângulo, a psicoterapia com
base gestáltica utiliza-se da prática dialógica na psicoterapia para ajudar o cliente a ampliar a
consciência de si e do mundo, ou seja, ampliar a sua awareness (Cardoso, 2013).
7
Hycner (1995) enfatiza que a prática dialógica na psicoterapia coloca o psicoterapeuta
a serviço do “entre”. Nesse sentido, há o reconhecimento de que há algo maior no contexto
terapêutico do que a presença física, ou seja, o reconhecimento do mais-que-pessoal. É por
meio da esfera ontológica do “entre”, que o encontro entre psicoterapeuta e cliente ocorre, assim
como, a inclusão, a aceitação e a confirmação do cliente. Nesse contexto, a inclusão refere-se à
postura de colocar-se no lugar da pessoa, mas sem que o psicoterapeuta perca a sua
individualidade; a aceitação refere-se em aceitar o outro como ele é; e a confirmação é o esforço
de voltar-se para o outro e confirmar sua experiência singular no mundo.
Para aceitar e confirmar o cliente é necessário que o psicoterapeuta tenha uma postura
aberta, de acolhimento ao indivíduo, se despindo de qualquer prejulgamento. Sendo assim, é
por meio da presença genuína e da disponibilidade do psicoterapeuta que é possível entrar na
experiência singular do cliente, isso está intrinsicamente ligado à postura de entregue ao entre,
quando por meio da relação psicoterapeuta e cliente, entram em contato um com o outro
(Cardoso, 2013; Hycner 1995).
Vale destacar que a relação dialógica com o cliente é permeada pela escuta
fenomenológica. Nessa perspectiva, a escuta é desprovida de juízos de valores, busca priorizar
os significados da fala do cliente e abre a possibilidade da interação psicoterapêutica. Ao escutar
o cliente o psicoterapeuta mergulha inteiramente no seu mundo vivido, permitindo o contato
com a sua essência. Esse modelo de escuta atentiva consistiu-se em um importante elemento
que facilita o desenvolvimento da awareness (Cardoso, 2002).
À vista disso, a abordagem gestalática alicerça-se na fenomenologia, que segundo
Bucher (1989) é o estudo dos fenômenos. Nesse sentido, trata-se de uma metodologia que busca
por meio da descrição esclarecer aquilo que se manifesta à consciência. E, por fenômeno, de
acordo com Forghieri (2015), entende-se aquilo que se mostra, o que aparece, tudo aquilo que
se revela por si mesmo a uma consciência intencional. A consciência é atentiva, livre de ‘a
prioris’. Assim, por meio da intencionalidade da consciência se capta a correlação sujeito-
objeto, o que permite captar o sentido do fenômeno, captar a essência dessa correlação por meio
do retorno às coisas mesmas.
Por conseguinte, se pretende “voltar às coisas mesmas”, ou seja, voltar às origens, ao
que já foi vivido antes de ser teorizado. Forghieri (2015) pontua que a fenomenologia utiliza do
recurso da redução para retornar às coisas mesmas, para tal, suspende-se, coloca-se os
preconceitos entre parênteses.
Conforme Rehfeld (2013), a redução fenomenológica ou a epoché consiste em ‘colocar
entre parênteses’ a realidade do senso comum, para assim captar a essência e o sentido das
8
coisas. A fenomenologia é considerada uma filosofia e também uma metodologia que implica
uma nova maneira de ver o mundo. Por ser tratar de uma epistemologia compreensiva, utiliza-
se da descrição para compreender e interpretar os fenômenos que se apresenta à percepção
(Forghieri, 2015).
A Abordagem Gestáltica utiliza também técnicas ou experimentos para a
conscientização do indivíduo. Para Figueroa (2015), os experimentos estão sempre a serviço do
cliente e são utilizados quando de alguma maneira auxiliam no processo de tomada de
consciência, ou seja, a promoção da awareness.
De acordo com Beisser (1971), a pessoa que busca a terapia deseja ser mudada, pois
está em conflito com, pelo menos, duas facções intrapsíquicas que se guerreiam, está se
deslocando entre o que deveria ser e o que pensa que é. Nesse contexto, o Gestalt-terapeuta
possui a habilidade em favorecer esse processo, solicitando que a pessoa seja simplesmente o
que ela é no momento psicoterapêutico, pois “a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o
que é, não quando tenta converter o que não é” (Beisser, 1971, p. 110).
Posto isso, a Gestalt-terapia alicerça-se na teoria paradoxal da mudança, dessa forma
Pinheiro (2014) assinala que o psicoterapeuta, tem como finalidade favorecer que o cliente
amplie a awareness e sua integração com o meio, pois à medida que a pessoa amplia seu nível
de integração com meio, amplia a consciência de si e do mundo, e consequentemente as
mudanças vão ocorrendo.
O processo psicoterápico, nessa perspectiva, não tem necessariamente como intuito a
cura, mas sim a mudança, a qual, pode levar à cura. Mudar significa ressignificar as coisas, e
sobretudo, a própria existência. Assim sendo, o objetivo da psicoterapia é favorecer ao cliente
o processo de mudança, mas para que esse processo ocorra é necessário acolher o cliente em
sua totalidade capturada em uma atitude ética fundamental, proporcionando a possibilidade de
encontro na relação psicoterapêutica (Ribeiro, 2007; Cardella, 2015, Pinheiro, 2014).
Destarte, é mediante a sensação de vazio em decorrência da separação conjugal que
algumas mulheres dependentes buscam a psicoterapia, pois podem ainda sentir-se “presas” ao
relacionamento antigo. Nessa forma de amar observa-se que as pessoas não conseguem formar
vínculo amoroso genuíno, mas sim um vínculo compensatório, de modo que os parceiros
deleguem um ao outro uma função psicológica que deveria ser responsabilidade de si mesmo,
configurando uma situação inacabada (Bandeira, 2015, Cardella, 2014, Sophia, 2018).
A partir dessa concepção, entende-se que o processo psicoterapêutico na abordagem
gestáltica com dependentes emocionais, visa caminhar com o cliente desvendando novas
formas de se contatar com o mundo de uma maneira saudável, facilitando o crescimento do
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indivíduo de forma global, e, como consequência, a atualização do potencial amoroso
(Bandeira, 2015).
Para tal, é fundamental o estabelecimento de uma relação terapêutica acolhedora,
respeitosa, aceitando a maneira singular de o cliente ser e estar no mundo. Elementos esses, que
contribuem para a criação de um ambiente seguro e consequentemente para consolidação do
vínculo entre terapeuta e cliente.
Metodologia
Participou deste estudo a paciente Alice (nome fictício), sexo feminino, 22 anos,
divorciada, estudante e estagiária de relações públicas. É a filha do meio de uma prole de três
irmãos, natural de São Luiz – MA, porém, atualmente, mora em Goiânia com dois amigos.
Alice iniciou o processo psicoterapêutico com a pesquisadora em agosto de 2019 alegando
sentir-se muito triste, com dificuldade em se reconstruir depois do término do seu casamento,
que aconteceu em maio de 2018, vivenciando uma sequência de relacionamentos amorosos
frustrados e uma dificuldade de autoaceitação. Seu processo psicoterapêutico foi finalizado em
fevereiro de 2021.
Os materiais utilizados para a realização desta pesquisa foram: notebook, papel A4,
lápis, canetas, marcadores de texto, impressora, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
artigos e livros. Os atendimentos foram realizados no consultório particular da psicoterapeuta,
o qual possui duas poltronas, uma mesa, duas cadeiras, ar condicionado, tapete e um relógio
para o controle do tempo.
Já os instrumentos utilizados para que este projeto se desenvolvesse foram: os encontros
clínicos, 43 sessões de psicoterapia entre agosto de 2019 a fevereiro de 2021, com a duração
média de 50 minutos cada. Os registros das sessões foram feitos em um diário de campo, no
qual a psicoterapeuta registrou após cada sessão os relatos elaborados por Alice, assim como,
as suas impressões e a intervenções realizadas sob a perspectiva da Gestalt-terapia e o registro
de evolução do atendimento psicológico.
O presente projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica
de Goiás (PUC Goiás), sendo analisado e aprovado pelo número de identificação
39254020.6.0000.0037. Ao início do processo psicoterapêutico, Alice entrou em contato com
a secretária de triagem do Instituto de Pesquisa e Treinamento em Gestalt-terapia (ITGT) em
agosto de 2019 e foi encaminhada à psicoterapeuta. No decorrer das sessões foram ressaltadas
as normas de sigilo e ética que resguardam o conteúdo trabalhado e o material das sessões,
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assim como foi realizado o convite para a participação no presente estudo, a fim de utilizar o
seu caso para uma reflexão mais aprofundada acerca dos temas que são trabalhados nos
atendimentos.
Após ser apresentada ao estudo, Alice concordou com a participação e relatou felicidade
em ser escolhida para este projeto. A participante assinou o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, se mostrou interessada, e consentiu a utilização de fragmentos de suas falas que
foram registradas no diário de campo e na ficha de registro de evolução dos atendimentos
clínicos, e também consentiu o compartilhamento dos recursos utilizados durante algumas
sessões realizadas.
Posteriormente, os dados coletados foram analisados pela psicoterapeuta com base no
método fenomenológico. Esse método, conforme Andrade e Holanda (2010), apresenta-se à
psicologia como um recurso eficaz para pesquisar o mundo vivido do sujeito, com o intuito de
compreender o significado da vivência individual da pessoa.
Conforme Fukumitsu (2013) pontua, o método fenomenológico abre a possibilidade de
compreensão da vivência do que está sendo pesquisado, os pesquisadores procuram, a partir de
observações e de análises abertas, descobrir os processos que explicam o porquê dos
fenômenos.
Para identificar as intervenções baseadas na abordagem gestáltica que auxiliaram Alice
desenvolver formas mais saudáveis de se relacionar, será descrito a vivência trazida pela
paciente ao longo de 43 sessões de psicoterapia, porém para efeito deste trabalho o foco será
nas sessões: 1, 3, 4, 8, 9, 11, 16, 17, 18, 19, 20, 27 e 33, bem como as intervenções realizadas
com base na Gestalt-terapia durante o processo psicoterapêutico.
Em suas sessões iniciais, Alice relatou que o seu desejo a priori com a psicoterapia era
aprender vivenciar formas mais saudáveis de se relacionar e conseguir “caminhar na vida”, pois
sentia-se paralisada diante ao meio externo. Destaca-se que Alice é a filha do meio de uma prole
de três filhos, sua chegada foi um momento esperado e desejado por ser a primeira menina na
família. Contudo, após o suicídio do irmão aos 13 anos de idade, a mãe começou a negligenciar
os cuidados físicos e emocionais da paciente, Alice recorda-se de diversas vezes ter ficado com
fome e/ou suja esperando o pai chegar do trabalho para atender as suas necessidades, relatou,
ainda sentir-se abandonada pela mãe.
Na sua infância e adolescência a paciente vivenciou uma série de conflitos na sua relação
com a mãe, nomeia esse vínculo como conturbado. Discorreu sentir que não correspondia às
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idealizações que a mãe projetou para si e não se sentia pertencente na sua família de origem.
Durante a sua adolescência, aos 15 anos de idade, Alice conheceu o ex-marido, ambos
estudavam juntos na mesma escola e a partir daí começaram a namorar e aos 17 anos se casaram
com o consentimento da família. Pontuou sentir pelo ex-marido um amor genuíno, profundo e
que ele trouxe para si uma família na qual ela sentia-se aceita e querida por ser quem ela era.
Logo após o seu casamento, Alice passou no vestibular para relações públicas em uma
faculdade em Goiânia e decidiu mudar-se para a cidade, escolhendo manter o seu
relacionamento à distância. Nesse contexto, Alice se descreveu como uma boa estudante e
profissional, ocupou um lugar de destaque no meio acadêmico, porém, em contrapartida,
vivenciou conturbações no seu relacionamento conjugal.
Após uma série de conturbações no seu relacionamento: brigas por excesso de controle,
ciúmes, insegurança e desconfiança, Alice descobriu que foi traída sexualmente pelo esposo e
decidiram terminar o relacionamento. Pelo processo do seu término, a paciente pontua que foi
o período mais complicado da sua vida, sentiu-se sem forças, triste, apática, com pensamentos
recorrentes de morte, e foi esse o momento no qual ela buscou ajuda psicoterapêutica e
psiquiátrica. Posteriormente, Alice vivenciou uma série de relacionamentos frustrados, o que
gerava nela culpa, ressentimento, distanciamento de si e uma necessidade de agradar outras
pessoas.
Outra vivência descrita por Alice ao iniciar o processo psicoterapêutico com a psicóloga
pesquisadora, foi sua relação conturbada com a mãe; estava ressentida por não se sentir-se
amada por não corresponder às idealizações que a mãe projetava para si. Acrescentou, também,
que se sentia paralisada por não conseguir se reconstruir após o término do seu casamento.
Nesse primeiro momento, a pesquisadora utilizou-se de uma escuta atentiva e
acolhedora com o intuito de compreender os principais motivos que impulsionaram a paciente
a buscar o atendimento, assim como, propiciar a criação de um vínculo psicoterapêutico sólido.
Para Cardoso (2002), a escuta desprovida de julgamento, críticas e desqualificações, permite a
psicoterapeuta a mergulhar no mundo de significados e entrar em contato com a essência da
paciente. Dessa maneira, a partir da postura da psicoterapeuta, Alice sentiu-se em um ambiente
seguro para expressar suas dores, angústias e a sua maneira de existir.
Ao expressar suas dores, Alice pontuava sobre seus sentimentos de tristeza e raiva diante
da relação materna. Em uma das sessões realizadas, Alice reviveu momentos da sua infância,
na qual sentia que as suas necessidades básicas não eram satisfeitas; relatou que, por vezes, a
mãe negligenciava cuidados físicos e emocionais, em decorrência de um processo depressivo,
o que era compreendido pela paciente como um abandono emocional. Dessa forma, a
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psicoterapeuta utilizou-se do experimento da “cadeira vazia” para que a paciente conseguisse
expressar essa dor e também compreender de forma acolhedora as atitudes da mãe.
A cadeira vazia, conforme Figueroa (2015), é uma técnica na qual uma cadeira ou uma
almofada são destinadas a ser ocupadas por uma representação. Tal representação se dá por
meio de um diálogo que o paciente assume com outra parte e vai intercambiando os papeis,
mudando de lugar.
Nessa perspectiva, Alice queixava-se de não se sentir amada pela sua mãe, e internalizou
que para ser amada precisava moldar-se nas expectativas projetadas em si: de ser uma filha
comportada, esteticamente magra e com uma personalidade submissa. Desse modo, por
diversas vezes, Alice frustrava-se por não conseguir corresponder essas expectativas, o que
corrobava para sua dificuldade de autoaceitação e consequentemente a necessidade de se
moldar para entrar nas suas relações amorosas.
O ambiente clínico demonstrou ser um lugar de aceitação e confirmação da paciente
como ela é, o que funcionou como um suporte para que Alice expressasse sua forma de ser-no-
mundo de uma maneira clara e real, sem máscaras emocionais. Isso só foi possível a partir da
postura adotada pela psicoterapeuta pesquisadora que se fundamentou na filosofia dialógica,
adotando os princípios da aceitação e confirmação do paciente tal como ele é na relação
terapêutica. E tal postura pressupõe validar a forma única do paciente ser e de se comportar,
seus sentimentos, pensamentos, valores e, principalmente, considerar sua existência dinâmica
(Hycner, 1995).
Dessa forma, na medida em que Alice conseguia expressar-se e sentir-se aceita no
setting psicoterapêutico, mais fortalecida ela se sentia, para enfrentar o mundo além do
ambiente clínico, o que contribuiu também para o fortalecimento da sua autoestima e
autoaceitação.
É importante destacar que a Gestalt-terapia é uma abordagem voltada para o contato.
Cardella (1994), nos seus estudos, compreende que o amor é a capacidade que desenvolvemos
de estabelecer limites saudáveis entre si e o outro, o que envolve um contato de boa qualidade
e a retração. Percebe-se que Alice bloqueava o seu contato via os mecanismos de: introjeção,
confluência e proflexão, o que a impedia de estabelecer limites e diferenciar-se do outro,
contribuindo para desenvolver uma forma adoecida de amar (Polster e Polster, 2001, Ribeiro,
2007).
A paciente descreveu sentir-se triste por não conseguir que os seus relacionamentos se
concretizassem e, ao perceber que as suas relações não fluíam, ela acreditava que a
responsabilidade era somente dela, afirmando que: “sufocava as pessoas pelo seu jeito de ser”.
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Por meio da investigação fenomenológica, compreende-se que o sentido atribuído a essa
responsabilização vem de falas da sua mãe, foi relatado que a progenitora dizia: “Alice você
não pode ser assim, o seu jeito sufoca demais as pessoas, você é uma pessoa intensa, desse
jeito ninguém vai te aguentar”.
Nesse recorte, observa-se que no decorrer da sua vida Alice introjetou normas e visões
que eram da sua mãe sobre sua forma de se relacionar, ela acreditava, no seu íntimo, que para
merecer o amor do outro precisava se moldar, e quando seus relacionamentos não se
concretizavam sentia uma intensa culpa e vergonha. Nesse contexto, foi utilizada a descrição
fenomenológica, que para Bucher (1989) é uma forma de esclarecer aquilo que se manifesta à
consciência para facilitar a paciente a compreender as suas introjeções.
Alice também introjetava crenças culturais sobre o amor, por meio de metáforas
expressava: “sinto que eu estou me afogando, como se sempre precisasse de uma boia salva-
vidas para eu não afundar”. Desse modo, ela acreditava que para ser feliz precisava
necessariamente estar com alguém, projetando a sua felicidade no outro. Crenças estas advindas
do amor romântico e idealizado que permeia a nossa cultura.
Outra função de contato descrita em sua vivência foi a confluência, na medida em que
se moldava para sentir-se aceita nos seus relacionamentos; se em um ambiente uma pessoa não
gostava dela, ela buscava provar para essa pessoa que ela é digna de amor. Dessa maneira,
muitas vezes diminuía suas diferenças para sentir-se melhor e semelhante aos demais.
Já a proflexão, Ribeiro (2007) assinala que é o processo no qual o indivíduo deseja que
os outros sejam como ele deseja. Nesse âmbito, Alice desejava que nos seus relacionamentos o
outro fosse da maneira como ela queria, pontuava: “sinto que doou mais do que eu recebo.
Estou cansada disso, quero um relacionamento que me sinto verdadeiramente amada”.
Esperava que seus companheiros demonstrassem o amor da mesma forma que ela demonstrava.
À vista disso, o processo psicoterapêutico fundamentou-se no método fenomenológico,
portanto, utilizou-se da epoché, investigação fenomenológica e descrição fenomenológica. Vale
destacar a importância da descrição fenomenológica, que no ambiente clínico foi utilizada para
favorecer a cliente a se escutar e entrar em contato consigo mesma e com o outro, em alguns
momentos, a descrição permitiu Alice clarificar as introjeções, diferenciar-se do outro e
perceber o seu movimento nas relações amorosas. Petrelli (2001) assinala que a fenomenologia
utiliza da descrição da realidade e redução fenomenológica e permite o retorno “às coisas
mesmas”.
Segundo Polster e Polster (2001), o contato é o sangue vital para o crescimento, o meio
para mudar a si mesmo e a experiência que se tem do mundo. Ante disso, a psicoterapeuta
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buscou com que a paciente ampliasse suas funções de contato propiciando a sua própria escuta
e a percepção do seu contexto relacional, para que assim a paciente se torne consciente dos seus
sentimentos e do mundo da coexistência.
No decorrer do processo psicoterapêutico, Alice precisou retornar para a casa dos seus
pais em São Luís – MA, em março de 2020 por conta da pandemia do Covid-19, o que a deixou
mais em contato com o ex-marido. Nesse sentido, ela foi compreendendo que o término do seu
matrimônio ainda é uma Gestalt em aberto, e que esse processo precisaria ser encerrado para
que ela conseguisse caminhar nos seus relacionamentos amorosos.
Sobre o seu casamento, Alice descreveu que se sentia como a pessoa mais importante
do mundo, era uma relação que se conseguia enxergar como perfeita, era totalmente aceita
dentro da família do ex-marido, o único lugar que não precisava moldar-se para caber nos
ambientes, algo que ela não possuía na sua família de origem. Foi compartilhado também que,
o ex-marido representava para ela, uma “vitória” para a mãe, mostrando que Alice é uma mulher
forte, desejada, querida.
Durante o processo psicoterapêutico, compreendeu que fez de tudo para manter a sua
relação e mesmo depois da separação sentia-se disponível para seu ex-marido, em momentos
de fragilidades ele ligava pedindo ajuda por não saber lidar com suas crises existenciais e Alice
se colocava à disposição para auxiliar nesses momentos. Acrescenta que, por mais que se sentia
mal e usada, também se sentia importante, o que a fazia se questionar se essa sua atitude remetia
à falta de amor-próprio e a não valorização.
Alice descreve que o ex-marido possuía um “poder” sobre ela, o que passava a sensação
de ser, em suas palavras: “me sinto como uma roupa velha, quentinha, que a gente adora usar
em casa, sabe? Mas que a gente tem vergonha de usar fora, porém eu não quero mais essa
sensação, quero me sentir como uma roupa nova”. Tal situação possibilitou Alice sentir-se
mais aberta e disponível para a compreensão do seu vínculo amoroso e consequentemente a
ressignificação dele.
Percebe-se que o vínculo amoroso que Alice ainda mantinha com o seu ex-marido
consolidava-se por meio de um vínculo compensatório. Sophia (2018) pontua que essa forma
de vínculo ocorre quando ele é deslocado das relações afetivas primárias para coisas ou
comportamentos compulsivos. No caso da dependência emocional, os parceiros delegam um
ao outro uma função psicológica que deveria ser responsabilidade de si mesmo.
Observa-se que ex-marido trazia à Alice uma sensação de pertencimento, como ela
pontua:
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“No meu casamento foi a primeira vez que eu me sentia aceita, minha sogra e minhas cunhadas me adoram até hoje, posso ser quem eu sou e comer o que eu quero” ... “Já na casa da minha mãe me sinto forçada a caber em uma caixa que não me cabe, presa em um lugar que me traz recordações ruins”. Em psicoterapia, Alice, de forma plena e integralizada, entra em contato e amplia a sua
awareness: “eu precisei voltar e entender que eu tinha uma dependência emocional dele,
entender o sentido contigo, para eu me libertar”.
Na medida em que a paciente amplia sua awarenss, Alice vai caminhando para um
processo de fortalecimento emocional e construindo fronteiras com o seu ex-marido. Percebe
que enxergava a sua relação de uma forma romantizada, não vivia uma relação perfeita, mas
uma relação com dificuldades, na qual ela se colocava em uma posição de doação para o outro
de forma desproporcional.
Ao abrir-se para compreender de fato seu relacionamento, Alice começa o seu processo
de se posicionar com limites bem definidos. Ela relata:
“Hoje ele vem falar comigo, falar dos problemas dele, eu não dou moral, por meio da dó, aquilo que a gente já trabalhou ele viu que não dá mais certo e vem conversar comigo coisas do trabalho”. “Eu precisei adoecer, para sair desse relacionamento”[...] “Vi que o R. não precisava de ninguém, para nada, antes eu tentava ajudar demais, mas ele é uma pessoa forte e da conta de se virar”. Além disso, começa a resginificar o seu pertencimento, assim como, caminha na jornada
de autoaceitação. Desse modo, Alice começa a compreender que ela pode se permitir pertencer,
ser amada, sem a necessidade de se moldar e a partir daí, começa a se fortalecer em direção a
própria vida e busca estar mais disponível para a sua família nuclear, especialmente, a mãe.
Alice descreve:
“Precisei voltar para casa, reconstruir minha casa, a minha base. Estar em São Luís, significa ficar próxima de dores, próxima de um quarto no qual tentou suicídio, próxima do meu ex-marido, aquele que me traiu, passar em frente a uma escola que eu sofria bullying. Quando eu cheguei em Goiânia, eu cheguei sem identidade nenhuma, só a que meu marido tinha criado de mim, e aí eu fui criada em mim mesma, tive que aprender a me olhar, olhar meu corpo que eu tanto odiava, hoje eu gosto, assim não são todos os dias, mas agora eu tenho meus rituais, tomo banho, cuido da minha pele, eu sempre fui vaidosa, mas hoje é diferente, eu sinto prazer em cuidar de mim. Que dia que eu teria coragem de sair na rua com short e ‘cropped’? Você lembra?! Hoje eu saio […] demorei muito para encontrar meu estilo, era muito difícil ser feminina e masculina o mesmo tempo” [...] “Ontem fui no shopping com a I. ela olhou uma roupa e disse: “nossa, Alice, é sua cara!” Fiquei tão feliz, demorei muito para encontrar meu estilo, isso para mim é um elogio, antes eu nem sabia o que eu gostava de vestir e as pessoas nem sabiam também, sabe o que é olhar algo e falar: ‘Essa é a cara de fulano’, para mim é um elogio maior do que falar que eu ‘tô’ bonita.”
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Destarte, a Gestalt-terapia alicerça-se na teoria paradoxal da mudança, dessa forma,
Pinheiro (2014) assinala que o psicoterapeuta tem como finalidade favorecer que o cliente
amplie a awareness e sua integração com o meio, pois à medida que a pessoa amplia seu nível
de integração com meio amplia a consciência de si e do mundo, e consequentemente as
mudanças vão ocorrendo. Portanto, o processo psicoterápico, nessa perspectiva, não tem
necessariamente relação com a cura, mas sim com a mudança, a qual pode levar à cura.
Considerações finais
A dependência emocional é considerada uma forma adoecida de amar que traz prejuízos
para a pessoa dependente, assim como, para o seu relacionamento amoroso. Logo, o presente
estudo de caso teve como principal objetivo identificar as intervenções alicerçadas na Gestalt-
terapia que auxiliaram a paciente a ressignificar o vínculo amoroso que se configurava como
uma gestalten em aberto com o ex-marido.
A psicoterapeuta pesquisadora fundamentou-se em uma presença acolhedora e uma
escuta desprovida de juízos de valores, críticas e desqualificações, que facilitou na criação de
um ambiente seguro para que Alice conseguisse expressar suas dores, angústias e dificuldades,
e consequentemente permitiu a consolidação de um vínculo terapêutico.
A partir da construção do vínculo terapêutico, a pesquisadora pôde ampliar sua forma
de atuação. Sendo assim, a profissional utilizou de princípios da psicoterapia dialógica: a
inclusão, aceitação e confirmação como instrumento de trabalho. De forma análoga, fez uso de
técnicas da Gestalt-terapia, que facilitaram que Alice compreendesse a sua forma de amar. As
técnicas buscam promover a awareness, portanto, nas sessões foi utilizada a técnica da cadeira
vazia como meio de auxiliar a cliente se expressar e também se utilizou de metáforas para a
conscientização da sua forma de ser-no-mundo.
Todo o trabalho psicoterapêutico baseou-se no método fenomenológico, isto é, na
epoché, investigação fenomenológica e descrição das vivências para facilitar o contato de Alice
consigo e com o mundo. A paciente apresentava como bloqueios de contato a introjeção,
confluência e proflexão, que quando cristalizados a impedia de contatar-se com o mundo de
maneira mais nutritiva.
Na medida em que Alice entra em contato e se conscientiza acerca seu lugar no seu
antigo relacionamento, ela consegue compreender sua forma de amar e consequentemente
ressignificar esse vínculo, que até então era disfuncional. A gestalten que se configurava em
17
aberto toma um novo fechamento e, assim, Alice se demonstra mais aberta para o seu
crescimento de forma geral e busca a atualização do seu potencial amoroso.
Em suma, o estudo contribui com a apresentação de intervenções na perspectiva
gestáltica que são eficientes no contexto clínico para a ressignificação do vínculo amoroso
disfuncional.
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K.O.F. (Orgs). Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia (pp.140-167). São Paulo: Summus.
Sophia, E. (2018) Como lidar com amor patológico: guia prático para pacientes, familiares e profissionais da saúde. São Paulo: Hogrefe.
Yontef, G. M, (1998). Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus.
ANEXO - A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de Pesquisa sob o título: Possibilidades de intervenções na clínica gestáltica: o processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente. Meu nome é Shayenne Campos de Oliveira, sou Psicóloga, especializanda em Gestalt-terapia sob supervisão da Ms. Isadora Samaridi. Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser assinado em todas as folhas e em duas vias, sendo a primeira de guarda
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e confidencialidade do pesquisador responsável e a segunda ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o pesquisador responsável através do número (62) 982829144, ligações a cobrar (se necessárias) ou através do e-mail [email protected]. Em caso de dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da PUC Goiás, telefone: (62) 3946-1512, localizado na Avenida Universitária, N° 1069, St. Universitário, Goiânia/GO. Funcionamento: das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas de segunda a sexta-feira. O CEP é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) que por sua vez é subordinado ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é responsável por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que segue os princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares. Pesquisadores: Shayenne Campos de Oliveira e Isadora Samaridi.
O motivo que nos leva a propor essa pesquisa é a importância em compreender como a psicoterapia na perspectiva da Gestalt-terapia possibilita a ressignificação do vínculo dependente nos relacionamentos amorosos, assim como, contribuir para maior reflexões sobre essa temática para a literatura gestáltica. Esta pesquisa refere-se a um Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Gestalt-terapia do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Tem por objetivo identificar intervenções baseadas na abordagem gestáltica que auxiliam a mulher dependente emocional desenvolver formas mais saudáveis de se relacionar consigo e com o outro. O procedimento de coleta de dados será mediante a descrição de encontros clínicos realizados, análise de Diário de Campo e do Registro de evolução do atendimento psicológico.
Riscos: A presente pesquisa é de risco mínimo. Assim, pode vir a acarretar transtornos emocionais ou desconfortos em decorrência de sua participação. Se você sentir qualquer desconforto é assegurado assistência imediata e integral de forma gratuita, para danos diretos e indiretos, imediatos ou tardios de qualquer natureza para dirimir possíveis intercorrências em consequência de sua participação na pesquisa. Para evitar e/ou reduzir os riscos de sua participação sua identidade será tratada com padrões profissionais de sigilo, você não será identificada em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo, será garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências.
Benefícios: Esta pesquisa terá como benefícios a possibilidade de clarificação, reflexão e compreensão à cerca de como a psicoterapia gestáltica pode auxiliar na ressignificação do vínculo dependente nos relacionamentos amorosos. Além disso, a divulgação dos resultados obtidos à sociedade poderá contribuir para com a promoção de estudos e debates a respeito da temática de utilidade pública.
Não há necessidade de identificação, ficando assegurados o sigilo e a privacidade. Caso você se sinta desconfortável por qualquer motivo, poderemos interromper a pesquisa a qualquer momento e esta decisão não produzirá qualquer penalização ou prejuízo.
Você poderá solicitar a retirada de seus dados coletados na pesquisa a qualquer momento, deixando de participar deste estudo, sem prejuízo. Os dados coletados serão guardados por, no mínimo 5 anos e, após esse período será incinerado. Se você sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tem direito a indenização.
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Será garantido, que o material e os dados obtidos na pesquisa serão enviados a você, caso desejar, e que serão utilizados apenas com a finalidade acadêmica.
Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira por sua participação neste estudo, mas caso tenha algum gasto decorrente do mesmo este será ressarcido pelo pesquisador responsável. Adicionalmente, em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao pesquisador responsável pela pesquisa para esclarecimentos de eventuais dúvidas
Declaração do Pesquisador
O pesquisador responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declara que cumprirão com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência integral e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa; que sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que será devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que acatarão decisões judiciais que possam suceder.
Declaração do Participante
Eu,__________________________________________________________________, abaixo assinado, discuti com a Psicóloga Shayenne Campos de Oliveira e/ou sua equipe sobre a minha decisão em participar como voluntário (a) do estudo Possibilidades de intervenções na clínica gestáltica: o processo de ressignificação do vínculo amoroso dependente. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia integral e gratuita por danos diretos, imediatos ou tardios, quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
Goiânia, ______, de _______________, de 2020.