Projecto FEUP
Ana Coutinho
Ana Sousa
Miguel Costa
Pedro Cordeiro
Tiago Ferreira
Tierri Oliveira
Monitora: Dr.ª Sofia Sousa
Supervisor: Dr. Domingos Barbosa
Coordenadora: Dr.ª Lúcia Santos
Porto, Outubro de 2010
iii
Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o
que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio
tem qualquer terra longa, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?
Fernando Pessoa
iv
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer a algumas pessoas que nos apoiaram e ajudaram nesta
nova fase da nossa vida, a iniciação do percurso académico, em particular, na
elaboração do presente trabalho.
Ao nosso supervisor, Dr. Domingos Barbosa, à nossa monitora, Dr.ª Sofia
Sousa, expressamos aqui o nosso reconhecimento, por nos terem incentivado e
apresentado um novo mundo: o mundo da investigação, da pesquisa, da procura, com
rigor e utilidade.
E, a todas as pessoas com quem nos cruzamos, que de forma directa ou indirecta,
pudemos partilhar ideias, aprendendo algo mais.
v
RESUMO
Os biopesticidas surgiram como uma alternativa viável aos pesticidas químicos,
que podem ter repercussões extremamente nefastas para o ambiente, nomeadamente
devido à contaminação dos lençóis freáticos e solo podendo afectar a saúde pública.
A venda dos 21 biopesticidas registados em pelo menos cada um Estado –
Membro da União Europeia representa 20% dos produtos do mercado mundial avaliado
em 135 milhões dólares, e com uma projecção de crescimento para atingir 270 milhões
de dólares num futuro próximo. Face ao patamar alcançado pelos biopesticidas, o
mercado dos pesticidas químicos tem sofrido um decréscimo de 7.4% de 1990 a 2005.
Com o rápido desenvolvimento dos biopesticidas tem-se vindo a desenvolver
três principais grupos: biopesticidas microbianos; proteínas incorporadas nas plantas
(PIPs); controlo biológico. Na actualidade o mercado dos biopesticidas é dominado
pelos biopesticidas microbianos, e mais particularmente pelas subespécies da bactéria
Bacillus thuringiensis (Bt). Existem mais de 40 produtos baseados na Bt disponíveis
globalmente representando cerca de 1% de todos os insecticidas vendidos.
Portugal também desempenha um papel para o desenvolvimento e produção de
biopesticidas, como é o caso da empresa ClamiTec. Esta empresa portuguesa usa a
biotecnologia para explorar o potencial dos fungos e, assim, criar produtos competitivos
que podem ser aplicados em várias áreas da actividade humana.
Palavras-chave: Biopesticidas, bioinsecticidas, bioherbicidas, biofunjicidas, bacillus
thuringiensis, pesticidas, pragas.
vi
LISTA DE ABREVIATURAS
ADN – Ácido desoxirribonucleico
Bt – Bacillus thuringiensis
US EPA – United States Environmental Protection Agency (Agência de Protecção
Ambiental dos Estados Unidos da América)
EUA – Estados Unidos da América
PIP’s – Plant Incorporated Protectants (Proteínas Incorporadas nas Plantas)
OMS – Organização Mundial de Saúde
vii
ÍNDICE GERAL
Agradecimentos………………………………………………………………...….……iv
Resumo……………………………………………….………………………….………v
Lista de abreviaturas…………………………………………………………………….vi
Índice de figuras………………..………………………………...……………………viii
Introdução………………………………………………………………………………..1
2. Produção de Biopesticidas
2.1. Biopesticidas no palco do mundo - Importância económica e social…………….....3
2.2. Processos de produção…………………………………………………….........…...5
2.3. Descrição detalhada de um dos processos de produção………………………..…...8
2.4. Empresa nacional – ClamiTec…………………………………………………..…10
2.5. Tendências actuais…………………………………………………………………14
3. Conclusões & perspectivas futuras…………...……………………..……………….16
Bibliografia……………………………………………………………………………..17
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - A taxa real de crescimento para o mercado global de protecção das culturas.
Fonte: modificado a partir do De vida das culturas Relatório Anual Internacional
(2005/2006)………………………………………………………………………………………….......4
Figura 2 – Modo de acção de Bacillus thuringiensis……………………………..…….7
Figura 3 – Armadilha de feromonas……………………………………………..….…..8
Figura 4 – Esquema representativo do processo de produção……………………....…..9
Figura 5 - a) Planta saudável; b) Planta galhada [18]………………………….....…...10
Figura 6 - Amostra de biopesticida, PcMR-1[18]…………………………..………....11
Figura 7 - Ovo parasitado com PcMR-1 [18]……………………………….………....12
1
1. Introdução
Pesticida é o nome genérico dado às substâncias que visam matar, controlar e/ou
inibir organismos indesejados que possam por em causa uma dada cultura, podendo ser
agrupados em herbicidas, fungicidas, insecticidas, de acordo com o grupo de
organismos alvo, respectivamente ervas/plantas, fungos e insectos. Com efeito, sem que
no quotidiano se tome consciência da inferência assustadora, a verdade é que para além
da indústria de armamento apenas a indústria agroquímica de produção de pesticidas
tem como um dos seus objectivos produzir materiais ou substâncias mortíferas. [1]
A maioria dos pesticidas contém substâncias activas que interferem na
respiração, alimentação, crescimento e reprodução das pragas, de uma forma muito
generalizada, ou seja, frequentemente actuam segundo características patentes na base
destes processos biológicos, o que implica afectarem um amplo leque de organismos
alvo. Isto significa que, para além de um dado pesticida eliminar uma determinada
espécie de praga, elimina também outros seres vivos morfologicamente idênticos à
praga. Um fungicida, por exemplo, não mata apenas o fungo que ataca as folhas de uma
planta, mas também outro tipo de fungos que podem ser altamente benéficos e
importantes para o desenvolvimento normal das plantas. Os pesticidas estão também
associados a ressurgências de pragas e ao desenvolvimento de resistências nas pragas.
Como a maioria dos pesticidas não são muito selectivos, frequentemente a aplicação de
um pesticida não elimina apenas a praga, mas também os seus inimigos naturais
(predadores, parasitas). As pragas podem reproduzir-se mais rapidamente e são mais
abundantes que os seus inimigos naturais e assim, podem reaparecer com maior
intensidade após a aplicação de pesticidas, obrigando a um uso cada vez mais frequente
e em doses mais elevadas deste produto. No entanto, existem diversos mecanismos
através dos quais as pragas podem desenvolver resistências aos pesticidas. Note-se que
mesmo em condições de produção agrícola muito controladas, resíduos de pesticidas
podem permanecer no meio, sendo lixiviados contaminando lençóis freáticos, pondo
assim em risco a saúde humana.
Num plano mais objectivo, podemos ainda acrescentar que a Organização
Mundial da Saúde (OMS) calculou recentemente que todos os anos aproximadamente
25 milhões de trabalhadores agrícolas sofrem intoxicações devido a pesticidas, dos
2
quais 20.000 casos são mortais. Sendo assim, urge a necessidade de uma forma de
pesticidas que consiga minimizar os problemas associados à resistência das pragas,
reduzida especificidade de combate, bem como a poluição e contaminação do meio em
que é utilizado. Surgem assim os biopesticidas, cuja origem está unicamente associada a
materiais naturais por exemplo animais, plantas, bactérias.
Apesar das grandes vantagens dos biopesticidas a sua elevada especificidade,
requer uma identificação exacta do agente patogénico/peste e, possivelmente, a
necessidade de usar mais biopesticidas, a sua eficácia é variável devido à influência de
factores bióticos e abióticos (como por exemplo a temperatura e pH) e a distribuição
irregular dos biopesticidas no mercado, constituem inconvenientes ao seu uso.
Os variadíssimos tipos desta nova forma de pesticidas serão agrupados ao longo
deste trabalho em dois grupos principais. Por um lado, teremos em estudo formas de
combate directo às pestes, por outro lado, formas particulares de conferir à planta a
capacidade destas resistirem a peste em causa, ou seja, o agente representa um combate
indirecto. Os biopesticidas não são nocivos ao Homem e ao meio ambiente.
Porém, independentemente do tipo de combate o presente estudo pretende
demonstrar a validade da ideia de que é possível que uma forma “não agressiva para o
ambiente” de resolução de problemas agrícolas resulte simultaneamente numa clara
rentabilidade económica. A viabilidade económica da produção de biopesticidas é um
factor importante que deve ser abordado.
3
2. Produção de Biopesticidas
2.1. Biopesticidas no palco do mundo – Importância
económica e social
Biopesticidas, pela definição mais lata, são organismos vivos ou produtos
naturais derivados desses organismos que suprimem populações de pragas.
A avaliação global dos mercados de biocontrolo mostra que a percentagem de
biopesticidas tem crescido constantemente desde 1997 e prevê-se que continue a crescer
a uma taxa de 10% ao ano [2]. As vendas globais de biopesticidas foram estimadas em
460 milhões dólares em 2000 e continuam a aumentar anualmente prevendo-se que
atinjam em 2010 o valor de US $ 1 bilião. Existem aproximadamente 225 biopesticidas
fabricados em 30 países membros da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico [3].
Os países Nafta (EUA, Canadá, México), usam 44% de todos os produtos de
controlo biológico vendidos no mundo inteiro. [4]. Há 53 biopesticidas registados nos
EUA [5], que têm vendas no valor de 205 milhões de dólares e prevê-se que este
mercado cresça para os 300 milhões de dólares até ao final da década [6].
A União Europeia tem 21 biopesticidas registados em pelo menos um Estado-
Membro [5]. A venda desses biopesticidas representa 20% dos produtos do mercado
mundial avaliado em 135 milhões dólares com uma projecção de crescimento para
atingir 270 milhões de dólares num futuro próximo [4] e [6] . No entanto, ao contrário
da América do Norte, o uso na Europa diminuiu de 95% a 25% da quota de mercado
entre 1985 e 2004, em oposição a este caso geral os biopesticidas que combatem os
nematóides chegaram a representar 55% do mercado em 2004 [4]. O restante da quota
do mercado mundial está dividido entre os países da Oceânia em 20%, os países da
América Latina em 10%, e menos de 5% atribuído à Ásia e Índia [6]. O crescimento
futuro nestes últimos países é variável. Devido à grande quantidade de terra em áreas de
pastagens na Oceânia, o mercado pode estar saturado em poucos anos, de modo
4
limitado o potencial de crescimento é esperado, enquanto a Ásia, especialmente a
China, está preparada para a expansão, para o crescimento de biopesticidas.
Em contraste com o crescimento mundial observado nos biopesticidas, o
mercado global de protecção de culturas de produtos tradicionais (pesticidas sintéticos)
teve um decréscimo de 7,4% de 1990 a 2005 [7]. As maiores perdas registaram-se 1999-
2003 (Figura 1). Outros investigadores independentes também indicaram tendências de
declínio nos mercados de pesticidas convencionais de 1,5% ao ano [8] e [6]. Essa
tendência continuou em 2006, com uma queda de 2,5% nas vendas de herbicidas,
fungicidas e insecticidas em relação ao ano anterior [7], mas em 2007 houve um
aumento de 9,7% dos pesticidas químicos, em consequência dos preços mais baixos
registados no Brasil e na Europa [7].
Figura 1 – A taxa real de crescimento para o mercado global de protecção das
culturas.Adaptado: modificado a partir do De vida das culturas Relatório Anual Internacional
(2005/2006).
No entanto, apesar da tendência de queda nas vendas de pesticidas
convencionais nos últimos 6/7 anos, a proporção de pesticidas convencionais permanece
muito elevada e deve continuar assim.
5
Muitos biopesticidas descobertos têm surgido a partir de programas de
investigação apoiados pelos governos e laboratórios de universidades, enquanto
algumas empresas pequenas investiram na investigação de biopesticidas desenvolvendo
os seus programas de iniciação próprios [9] e [10].
Também foi previsto que as empresas multinacionais assumam um papel mais
activo no desenvolvimento de biopesticidas, incluindo a selecção de ingredientes
activos (os microrganismos e seus metabolitos secundários). Em vez disso, empresas
agroquímicas desenvolvem novas moléculas de microrganismos sintéticos que levam a
novos químicos de risco reduzido [9] e [11].
As pequenas e médias empresas representam o segmento da indústria que está
mais interessado em comercializar biopesticidas. No entanto, muitas vezes carecem de
infra-estruturas e capital para investir em pesquisa [12]. Durante os últimos oito anos no
Canadá, 55 biopesticidas foram registados, resultando numa onda de novos produtos de
risco reduzido (2000-2008). Apesar do aumento recente do número de registos, os
biopesticidas na indústria do Brasil ainda estão numa fase inicial.
Apenas algumas médias empresas lucram com a venda de biopesticidas e muitas
são apenas pouco rentáveis [12] e [5. A fim de reforçar as capacidades, os
investigadores, os académicos e as indústrias devem trabalhar de forma colaborativa
para a formação pessoal e científica, com experiência nesta área.
2.2. Processos de produção
Os biopesticidas são a principal alternativa aos pesticidas convencionais na
protecção de culturas contra pestes, organismos patogénicos, e espécies indesejadas. No
final de 2001 encontravam-se registadas cerca de 195 substâncias activas com
propriedades biopesticidas e 780 produtos (dados US EPA) [13]. Os biopesticidas
podem ser divididos em três grupos principais:
Biopesticidas microbianos;
Proteínas Incorporadoras nas Plantas (PIPs);
Controlo biológico;
6
2.2.1. Biopesticidas microbianos
Para o desenvolvimento de biopesticidas microbianos são utilizados organismos
patogénicos, isolados a partir de insectos doentes no decorrer de grandes epidemias de
origem natural. O primeiro biopesticida microbiano a ser utilizado foi desenvolvido
pelo biólogo japonês Shigetane Ishiwata em 1901. Durante o seu trabalho, Shigetane
Ishiwata isolou a bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que ainda hoje é amplamente
utilizada.
Actualmente mais de 400 espécies de fungos e de 90 espécies de bactérias são
produzidas e vendidas em todo o mundo como biopesticidas, contra diferentes tipos de
insectos. Os mais amplamente utilizados são as subespécies da bactéria Bacillus
thuringiensis (Bt), que têm despertado um grande interesse face ao grave problema de
poluição ambiental registado em todo o mundo. Existem mais de 40 produtos baseados
na Bt disponíveis globalmente para o controlo de larvas, besouros e mosquitos, que no
seu conjunto perfazem cerca de 1% de todos os insecticidas vendidos [14].
2.2.2.Proteínas Incorporadas nas Plantas (PIPs)
A revolução na área da biologia molecular e da biotecnologia desde os
princípios de 1980 promoveu um rápido desenvolvimento dos métodos de combate
biológico, proporcionando aos biopesticidas competitividade no mercado dominado
pelos pesticidas químicos.
O combate biológico através das Proteínas Incorporadas nas Plantas (PIPs)
baseia-se na técnica de ADN recombinante, onde é introduzido material genético nas
plantas proveniente de um organismo com as características pretendidas. Assim, a
própria planta passa a produzir o seu biopesticida, como consequência da transcrição e
posterior tradução do gene introduzido, conferindo-lhe novas características. Esta via
tem vindo a ser amplamente desenvolvida, tendo já conseguido atingir resultados
bastante promissores em batatas, tomates, tabaco e algodão [14]. A Figura 2 mostra o
modo de acção da bactéria Bt.
7
Figura 2 – Modo de acção de Bacillus thuringiensis
2.2.3.Controlo biológico
O controlo biológico pode ser definido pela acção dos inimigos naturais das
diferentes pestes. Pode ser dividido em 2 grupos principais, controlo biológico natural e
controlo biológico aplicado. O controlo biológico natural ocorre quando as espécies
nativas combatem e reduzem o número de indivíduos da espécie indesejada, por outro
lado, o controlo biológico aplicado envolve a intervenção do Homem para eliminar a
peste [15].
A principal via de controlo biológico é a sua forma aplicada que consiste no uso
de feromonas no combate às pestes. Este processo consiste na utilização de feromonas
sexuais das espécies indesejadas em armadilhas, com o objectivo de atrair os
organismos - alvo, controlando assim o número de indivíduos da peste.
8
Figura 3 – Armadilha de feromonas
2.3. Descrição detalhada de um dos processos de produção
As subfracções da Bt são obtidas pela separação rigorosa de cada produto da Bt num
supernadante (sem partículas) e um “pellet” (com partículas) através de centrifugação
(12,000g por 10 min). O supernadante sem partículas é filtrado (filtros com poros de
0,45 µm) sendo diluído em 10% (v/v) numa solução tampão salina de fosfato.
As partículas resultantes da filtração são primeiramente concentradas 20x por osmose
inversa durante 6 horas a uma temperatura de 4ºC. A semi-purificação das fracções de
CIP (corpos de inclusão paraesporal) é realizada segundo Thomas e Ellar [16] com as
seguintes modificações: Alíquotas 500 µL de cada produto da Bt diluído 2x e
centrifugado (5 min) com 50 µL de vidro esmagado esterilizado para separarem os
agregados. Após da centrifugação descontínua do gradiente de sacarose (80,000g por 14
horas a uma temperatura de 4°C) a camada de CIP rica em cristais é verificada através
de uma análise proteica. A sacarose é removida recorrendo a uma diluição em 2
volumes e centrifugação com H20 duplamente destilada. Esta purificação é repetida 3
vezes. A solubilização dos CIP e conversão da pro- -endotoxina para activar -
endotoxina envolvem incubação quer dos produtos da Bt quer das fracções dos CIP
enriquecidos em 40mM de Carbonato de Sódio (pH 10) e a enzima tripsina (0.1% w/v)
9
a 37ºC. Para tal é efectuada uma eletrofurese para monitorizar a digestão, e são
recolhidas partículas residuais, incluindo esporos, através da centrifugação seguida de
filtração por uma membrana (com poros de 0,2 µm). Dose equivalente é baseada na
contagem dos esporos e na produção total de proteínas Bt. [17]
Figura 4. Esquema representativo do processo de produção.
Centrifugação
Bacillus thuringiensis (Bt)
Supernadante
(sem partículas)
Pellet
(com partículas)
Supernadante
Filtrado
Filtração
Diluição 10% (v/v) em solução tampão salina de
fosfato
Concentração 20x por osmose inversa a 4ºC
CIP’s
Semi-purificação com base em Thomas e Ellar
CIP’s ricos em cristais
Centrifugação descontínua do gradiente de sacarose
Sacarose
Diluição e centrifugação com água destilada
Incubação com carbonato de Sódio (a enzima tripsina)
-endotoxina Partículas residuais
Centrifugação
10
2.4. Empresa nacional – ClamiTec
2.4.1.ClamiTec, uma empresa inovadora portuguesa
A ClamiTec é uma empresa de base biotecnológica constituída em Julho de
2008 e liderada por Carlos Franco, especialista na protecção de plantas, e Marco
Catarino, economista, que se encontra a funcionar no Laboratório de Micrologia
Aplicada da Universidade de Évora [18].
A jovem empresa portuguesa usa a biotecnologia para explorar o potencial dos
fungos e, assim, criar produtos competitivos que podem ser aplicados em várias áreas da
actividade humana [19].
A área de negócio inicial é a produção e venda de um biopesticida inovador,
contra o nemátode-das-galhas-radiculares. O produto será utilizado na luta biológica de
Protecção de Plantas, combatendo a doença causada pelo nemátode referido, que ataca
grande parte das plantas cultivadas em regiões tropicais e temperadas (Fig. 2) [19].
Figura 5. a) Planta saudável; b) Planta galhada [19].
Até 2012, a empresa pretende consolidar a sua tecnologia e obter a homologação
do biopesticida, encontrando-se numa fase de instalação. O seu crescimento neste
período dependerá muito do desenvolvimento do produto, algo que fará crescer o valor
dos activos da empresa. Actualmente, a concorrência é quase inexistente, o que pode
tornar a solução da ClamiTec muito competitiva [20].
11
O negócio estará virado essencialmente para o mercado internacional, mas este
processo decorrerá sobretudo após o início da comercialização do biopesticida. A
comercialização será iniciada na bacia mediterrânica da Europa, e evoluirá
posteriormente para os EUA. Após conquistar estes mercados, a venda do biopesticida
estará disponível para o resto do mundo [20].
2.4.2.O biopesticida
O biopesticida está provisoriamente designado por PcMR-1 e tem como
princípio activo o fungo Pochonia chlamydosporia, da estirpe PcMR, um parasita de
ovos do nemátode-das-galhas-radiculares, uma das doenças que causa grandes prejuízos
nas culturas hortícolas, e comprovadamente eficaz no combate a esta doença por
extensivos estudos em laboratório e no campo [18].
Em 1998, foram obtidos em Portugal vários organismos isolados dessa espécie
originários de diversas zonas do país, a partir de ovos do nemátode-das-galhas-
radiculares. Recorrendo a testes in vitro e a estirpe PcMR foi então seleccionada pela
sua forte potencialidade na luta à doença. O PcMR-1 é constituído por clamidósporos,
esporos da estirpe PcMR, formulados de maneira a formar suspensões aquosas
destinadas à aplicação nos sistemas de rega, especialmente os de gota-a-gota, os de
aspersão e microaspersão ou os de rega por sulcos. O produto também pode ser
distribuído na superfície do solo em pequenas parcelas, por aspersão duma suspensão
concentrada, para depois ser incorporado mecanicamente no solo (Figura 6) [18].
Figura 6. Amostra de biopesticida, PcMR-1 [19].
12
2.4.3.Modo de acção
Após a aplicação do biopesticida, que deve ser efectuada de forma a distribuir os
clamidósporos uniformemente de modo a atingir as raízes de todas as plantas presentes
na cultura, os clamidósporos do fungo Pochonia chlamydosporia germinam, dando
origem a hifas que entram em contacto com as raízes infectadas com o nemátode das
galhas radiculares e com as massas de ovos e fêmeas que se encontram à superfície [19].
Estas hifas envolvem as massas gelatinosas que rodeiam e protegem os ovos,
entram em contacto com estes, aderem à sua casca e formam estruturas de penetração,
os apressórios, que perfuram a casca do ovo e fazem penetrar as hifas no seu interior
fazendo com que o fungo consuma o seu conteúdo e destrua o ovo (Figura 4) [19].
Figura 7. Ovo parasitado com PcMR-1[18].
2.4.4.Vantagens
O produto inovador da ClamiTec possui diversas vantagens, pois:
- Não possui intervalo de segurança. O biopesticida pode ser aplicado em
qualquer fase do ciclo produtivo, até durante a colheita onde actualmente não existe
nenhuma solução contra o nemátode-das-galhas-radiculares que possa ser aplicada.
- Pode ser utilizado em complementaridade aos nematicidas químicos,
nomeadamente das famílias dos carbamatos e dos organofosforados, que se encontram
actualmente homologados.
13
- Ajuda a combater a resistência aos nematicidas químicos, já que contribui para
melhorar a eficácia e prolongar a vida útil dos de pós-plantação, uma vez que possui um
modo de acção completamente diferente.
- É adequado para Agricultura Biológica, não deixando resíduos químicos no
solo ou nas culturas, não provocando efeitos secundários inconvenientes e não tendo
nenhum efeito tóxico para os consumidores, operadores, animais domésticos e fauna
presente nas culturas e zonas envolventes.
- Pode ser aplicado quantas vezes for necessário, em qualquer momento do ciclo
cultural.
- É fácil de conservar, de manusear e de transportar. O produto pode ser
conservado à temperatura ambiente, desde que esta não ultrapasse os 25 ºC, e não se
deteriora até à abertura das embalagens.
- A sua matéria activa é constituída por clamidósporos, que são adequados para
distribuir no solo a fim de parasitarem os nemátodes, porque são aproximadamente 100
vezes maiores que os conídios e não necessitam de fontes de energia adicionais que
promovem o desenvolvimento de competidores saprofíticos, sendo por isso muito mais
eficientes na colonização do solo e da rizosfera.
- A massa activa recomendada, 6250g, facilita o manuseamento e distribuição do
produto, melhorando a eficácia da aplicação.
- É fácil de aplicar, bastando apenas misturá-lo com água e, em seguida, injectá-
lo nos sistemas de irrigação, especialmente os de gota-a-gota, os de aspersão e
microaspersão ou os de rega por sulcos.
- Está vocacionado para ser utilizado em Protecção Integrada. O uso do PcMR-1
está especialmente indicado durante o intervalo de segurança dos nematicidas químicos,
quando estes não podem ser aplicados. Assim, é possível beneficiar da diminuição
inicial da população de nemátodes que estes provocam, porque populações elevadas
destes organismos dificultam a acção do fungo, uma vez que é uma acção permanente e
contínua no tempo, mas lenta. Por outro lado, esta diminuição inicial da população
favorece o aparecimento de massas de ovos à superfície das raízes, facilitando a acção
do biopesticida, que, neste caso, impede o crescimento da população de nemátodes,
14
mantendo-a baixa durante todo o período da cultura e estimulando uma diminuição da
população presente no solo para a cultura seguinte, que é mais facilmente diminuída
pelo uso de nematicidas químicos de pós-plantação, no começo dessa próxima cultura.
2.5. Tendências actuais
Tornou-se evidente que havia uma necessidade urgente de um agente biológico,
que possuísse as propriedades desejáveis de um pesticida químico, pois o controlo de
pragas com pesticidas químicos tem gerado diversos problemas, incluindo a resistência
aos insecticidas, os surtos de pragas secundárias, riscos de segurança para os humanos e
animais domésticos, a contaminação dos lençóis freáticos, a diminuição da
biodiversidade e outras preocupações ambientais [21].
A necessidade de desenvolver "pesticidas mais seguros" tornou-se assim uma
prioridade da United States Environmental Protection Agency (US EPA) [22].
Não há dúvida de que os biopesticidas podem desempenhar um papel
fundamental no controlo das pragas e contribuir significativamente para a redução do
consumo de pesticidas químicos.
Como tal, a agricultura sustentável do século XXI depende cada vez mais de
biopesticidas para o controlo de pragas, pois estes são ecológicos e reduzem o contacto
humano com pesticidas químicos [23].
Actualmente o maior mercado individual de biopesticidas Europeu é a Espanha,
seguida pela Itália e França. Apesar de o crescimento global do mercado biopesticida
não ter vivido à altura das expectativas da década de 1990, o potencial permanece e
existem elevadas oportunidades, que poderiam aumentar o mercado total em 2020 [23].
Os biopesticidas geralmente mais utilizados são os biofungicidas (Trichoderma),
bioherbicidas (Phytopthora) e bioinsecticidas (Bacillus thuringiensis). Os seus
benefícios potenciais para a saúde pública e para a agricultura são consideráveis. O
interesse em biopesticidas é baseado nas vantagens associadas a tais produtos, que são
15
inerentemente menos prejudiciais para o ambiente, geralmente eficazes em quantidades
muito pequenas e, muitas vezes decompõem-se rapidamente, resultando assim em riscos
menores e evitando largamente problemas de poluição [22].
Recentemente uma nova estirpe mais activa de Bt foi produzida, o que aumentou
o desempenho e a aceitação de produtos comerciais e ampliou o seu uso contra as
pragas de outros insectos.
Os produtos biológicos representam actualmente apenas 1% do mercado
mundial e 80% dessa fracção são dominados por um produto Bt.
Alguns analistas estimam que os produtos de controlo biológico podem
substituir pelo menos 20% dos produtos químicos.
O uso de biopesticidas tem potencial para expandir no futuro, como produtos a
serem usados no combate a pragas.
16
3.Conclusão & perspectivas futuras
Como podemos constatar os biopesticidas podem ser divididos em três grupos
principais: os microbianos que se baseiam em organismos patogénicos, isolados a partir
de insectos doentes epidémicos naturais, e uma posterior esporulação em que se
sintetiza a proteína pesticida, as Proteínas Incorporadas nas Plantas (PIPs) que baseiam-
se na técnica de ADN recombinante, na qual é introduzido o material genético nas
plantas, tornando-as produtoras de um biopesticida com as características pretendidas, e
por fim o Controlo Biológico que ocorre quando as espécies nativas combatem e
reduzem o número de indivíduos da espécie indesejada.
Os biopesticidas são apenas uma prova entre muitas outras, de que é
perfeitamente possível escolher um caminho que respeite um desenvolvimento
sustentável do planeta, e por desenvolvimento desse mesmo caminho criar condições
para que se torne, por sua vez, também mais eficaz que todos os restantes e assim capaz
de uma rentabilidade económica em prole do desenvolvimento da actividade laboral em
causa.
Com isto, pretende-se aferir que da mesma forma que as proteínas traduzidas por
bactérias específicas permitem uma acção eficaz e duradoura, no que diz respeito ao
combate de pragas, outros tipos de intervenção industrial ou agrícola podem
perfeitamente fazê-lo, pois uma parte maioritária destas escolhas, apesar dos altos
custos iniciais rentabiliza a actividade a longo prazo, devido à sua alta e longa eficácia.
Actualmente o maior mercado individual de biopesticidas Europeu é a Espanha,
seguida pela Itália e França. Apesar de o crescimento global do mercado biopesticida
não ter vivido à altura das expectativas da década de 1990, o potencial permanece e
existem elevadas oportunidades, que poderiam aumentar o mercado total em 2020.
17
Bibliografia
[1] Quercus (Associação Natural da Conservação da Natureza) 2009. A agricultura
industrializada.
http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?categoryID=631&a
rticleID=1780
[2] Bailey and Mupondwa, 2006. Developing microbial weed control products:
commercialization, biological, and technological considerations. In: H.P. Singh, D.R.
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