RELAÇÃO TEORIA – PRÁTICA: UM OLHAR ACERCA DO CONTEÚDO DO
XADREZ EM UMA ESCOLA ESTADUAL DO PARANÁ.
*Jaqueline Kugler Tibucheski
** Drª Glaucia da Silva Brito
RESUMO
O objetivo deste trabalho é problematizar a relação teoria - prática e analisar alguns elementos
a partir da prática pedagógica, que faz uso do ensino do conteúdo do xadrez, em uma escola
estadual do Paraná. Parte-se da experiência enquanto docente da disciplina de educação física
da escola Profª Isolda Schmidt, e também por considerar pertinente identificar, em âmbito
desse fazer pedagógico, a utilização do conteúdo do xadrez como um elemento mediador entre
a teoria e a prática. O estudo de teor qualitativo utilizou-se dos seguintes instrumentos: análise
dos dados coletados; entrevista aberta; observação de aulas e de cursos de capacitação no
período letivo de 2008 e análise de documentos. Traz primeiramente alguns aspectos
históricos do jogo de xadrez, além das considerações acerca do princípio filosófico e
pedagógico que vêm influenciando o contexto escolar na atualidade, e das imbricações com o
conteúdo do xadrez. Identifica-se a contradição que incide entre o pensamento racionalista em
contra posição à vertente que destaca na prática pedagógica, assim como outras
possibilidades para as práticas cotidianas dos professores de educação física. Este estudo está
divido em três partes: 1) Aspectos históricos do xadrez; 2) A relação teoria – prática:
indagações acerca do conteúdo do xadrez escolar. 3) Apresenta, finalmente, aspectos
encontrados nesta pesquisa que relacionam o xadrez enquanto conteúdo eletivo, e valorizador
das disciplinas obrigatórias inerentes ao currículo oficial da escola pesquisada. O que se
procurou, portando, foi demonstrar que a teoria pedagógica é gerada no exercício prático do
convívio social.
Palavras-chave: Educação; Escola; Teoria; Prática; Xadrez.
*Professora PDE 2007, professora de Educação Física da Rede Estadual de Educação, e formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, 1985. **Professora Orientadora do PDE, convênio entre a SEED e a UFPR.
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RELACIÓN TEORIA-PRÁTICA: UNA MIRADA A CERCA DEL CONTENIDO
DEL AJEDREZ EN UNA ESCUELA ESTADUAL DEL PARANÁ.
*Jaqueline Kugler Tibucheski
** Drª Glaucia da Silva Brito
RESUMEN
El objectivo de este trabajo es problematizar la relación teoria - práctica y analisar algunos
elementos a partir de la práctica pedagógica, que hace del enseño del contenido del ajedrez,
en una escuela estadual del Paraná. Parte-se da experiencia encuanto docente de la disciplina
de Gimnasia de la escuela Profª Isolda Schmidt, y también por considerar pertinente identificar,
en ambito de ese hazer pedagógico, la utilización del contenido del ajedrez como un elemento
mediador entre la teoria y la práctica. El estudio del teor cualitativo utilizose de los siguientes
instrumentos: análisis de los datos colectados; pesquisa abierta;obsrevación de clases y curso
de capacitación en el año lectivo de 2008 y analisis de documentos. Traje de primero algunos
aspectos históricos del juego de ajedrez, mas alla de las consideraciones acerca del princípio
filosófico y pedagógico que vienen influenciando el contexto escolar en la actualidad, y de las
fijaciones con el contenido del adjedrez. Identificase la contradicción que incide entre el
pensamiento racionalista en contra posición a la vertente que destaca en la práctica
pedagógica, así como otras posibilidades para las prácticas cuotidianas de los profesores de
Gimnasia. Este estudio está divido en tres partes: 1) Aspectos históricos del ajedrez; 2) La
relación teoria – práctica: indagaciones acerca del contenido del ajedrez escolar. 3) Presenta,
finalmente, aspectos encontrados en esta pesquisa que relacionan el ajedrez encuanto
contenido electivo, y valorizador de las asignaturas obligatórias inerentes al curriculum oficial
de la escuela pesquisada. Lo que se procuró, por lo tanto, fue demonstrar que la teoria
pedagógica es gerada en el ejercicio práctico de la convivencia social.
Palabras-llave: Educación, escuelas, teoria, prática, ajedrez.
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1 Introdução
Este estudo faz parte das experiências pedagógicas desenvolvidas
durante o ano letivo de 2008 na escola estadual Profª Isolda Schmidt. As
atividades realizadas junto a três turmas de 5ª série no turno da manhã,
comportam o projeto de implementação da escola e consiste num dos
requisitos para conclusão do Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE
turma 2007.
Resulta de um trabalho desenvolvido com as turmas acima
mencionadas, o qual propiciou investigação e coleta de dados por meio de
observação em aulas, através dos cursos de capacitações oferecidos pela
Secretaria de Estado da educação - SEED, Centro de Excelência de Xadrez -
CEX e em outros cursos com ênfase à alfabetização enxadrista e entrevista
aberta.
A fundamentação teórica parte de autores que tratam da metodologia
do ensino do xadrez: Tirado (2003); Rezende (2002); Nottinghan, Wade e
Lawrence (2001). Também foram usadas apostilas e exercícios dos jogos
localizados nos sites xadrezlivre.ufpr.br e cex.org.br. Na seqüência, o trabalho
com os alunos foi primordial, pois propiciou um maior aprofundamento teórico
em autores que discutem a História do xadrez: Lasker,1999; a relação teoria e
prática Rays (2000); Vazquez (2007); a práxis revolucionária Marx (2007) e a
pesquisa qualitativa em Moreira; Caleffe (2006).
A análise de documentos, diretrizes curriculares de educação física
(2008); Declaração dos direitos humanos (1999); Estatuto da criança e do
adolescente – ECA (1990) contribuiu significativamente para localizar
primeiramente o xadrez em âmbito da educação física, seguidas das
imbricações que comportam as relações sócio - políticas incidentes no contexto
escolar.
As conversas informais com professores das outras disciplinas
serviram para voltar um olhar mais atento à fala dos sujeitos que comportam o
contexto escolar, propiciando assim maior entendimento do plano de ação e do
planejamento destes professores, bem como, a forma como pensam as suas
práticas.
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Os recursos materiais utilizados na realização das aulas consistiram
em tabuleiros e jogos de peças pertencentes à escola; vale registrar, que este
suporte contribuiu para um significativo avanço do projeto de implementação do
PDE de Xadrez Escolar.
A aplicação das idéias para o trabalho pedagógico consistiu no formato
de laboratório, composto por trinta e cinco alunos em três turmas, sendo que a
metade dos alunos era originária das séries iniciais da própria escola e a outra
metade de escolas municipais das imediações. Uma parte destes alunos
possuía certo conhecimento do jogo, porém, com erros conceituais e de
entendimento acerca da importância do xadrez em suas inúmeras
significações. A outra parte dos alunos não possuía nem o conhecimento e
nem tampouco o entendimento do jogo.
Percebe-se, a partir deste estudo, que somente o conhecimento da
movimentação das peças não é suficiente para desenvolver um trabalho
pedagógico, tornando – se um dos agravantes para que se iniciasse o exercício
pedagógico em sua totalidade, ou seja, para tecer uma aproximação maior
entre objeto de conhecimento, professor e alunos, foram necessárias outras
possibilidades de aplicação do conteúdo.
Para sanar as dificuldades de entendimento e evitar desvios ou falha
no aprendizado, optou-se por começar do zero, além do que, não seria
possível dividir o grupo para um trabalho mais especifico mais personalizado, a
exemplo de uma organização em forma de projeto.
Este estudo parte do pressuposto de que os professores da rede
estadual de ensino do Paraná têm tido a possibilidade de refletirem acerca de
suas práticas pedagógicas, além de terem convivido com a complexidade de
lidar com a relação teoria – prática cotidianamente em seu exercício docente,
advindas das implicações políticas, sociais e econômicas que historicamente
estão postas neste contexto.
Portanto, a problematização da pesquisa parte das seguintes
interrogações: Como o conteúdo de xadrez pode ser utilizado na prática
pedagógica do professor? Em que medida a aplicação deste conteúdo
pode contribuir no aprendizado do aluno?
Sabe-se que o xadrez é contemplado pelas às Diretrizes Curriculares da
disciplina de Educação Física - SEED como Cultura Corporal e Ludicidade,
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Desportivização, Técnica e Tática, Lazer e Mídia, podendo estar vinculado à
abordagem que o professor escolher para desenvolver.
2 Aspectos históricos do xadrez
Há aproximadamente dois mil anos, na Índia surgia o chaturanga, que se
transformou no atual jogo de xadrez. Para Lasker (1999, p.31), o chaturanga tal
como se praticava na Índia, significava “exército formado de quatro membros”.
Pela representação desses membros sobre o tabuleiro de xadrez como
elefantes, cavalos, carros e soldado a pé (Bispos, Cavalos, Torres e Peões),
podemos fazer certas especulações quanto à idade provável do xadrez, bem
como admitir que o jogo data no ano 326 antes de Cristo, século IV a.C.
Segundo Lasker (1999), o xadrez foi introduzido em muitos países do
ocidente, por meio de inúmeras guerras e rotas comerciais, tendo passado por
transformações, sofrendo várias influências. Dentre elas, encontram - se as
cores no tabuleiro, casas pretas e brancas alternadas e a mudança do
movimento das peças.
A maneira da transmissão do jogo era somente oral, seu
desenvolvimento e perpetuação passava de pai para filho e era tido como um
passatempo e não um esporte.
A característica principal do xadrez praticado nessa época deve-se a sua
popularidade, chegando a ser chamado de ‘jogo dos reis e rei dos jogos’. Era
comparado ao Go, o xadrez japonês, em que as peças não ficam dentro das
casas e, sim, na interseção das casas, sendo que nove peças compunham em
cada linha o jogo.
O xadrez embora fosse um jogo popular no oriente, na Europa
representava para as classes menos abastadas um jogo elitista, pois, além de
difícil, o estudo das técnicas enxadristas era quase inacessível para o povo.
Com o advento da modernidade e com ele a invenção da imprensa a
difusão do xadrez inicia - se por meio dos livros. Para Vasconcelo (1991) a
imprensa trouxe significativas alterações, que se dão no século XV quando
Gutemberg cria o tipo móvel, peças que possibilitaram a impressão de livros.
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Destaca-se que no século XV, o livro Arte breve y introduccion muy
necessaria para saber jugar el Axedrez do espanhol Lucena, publicado em
1497 escreve sobre esse jogo. Com a proliferação dos livros de xadrez ocorre
a primeira divulgação significativa do jogo. Um destaque em 1561, Ruy López,
um bispo espanhol, publica sua obra denominada: Livro de La Intención,
Liberdade y Arte Del Juego de Axedrez. Ruy Lopes reina por 20 anos, sendo
considerado o maior jogador da Espanha, destacando-se inclusive, por sua
habilidade em jogar partidas às cegas. (VASCONCELOS, 1991).
Em conformidade com LASKER (1999), o xadrez na Rússia é de origem
puramente asiática. Nos anos de 1000 D.C., com a entrada do cristianismo na
Rússia, tentou-se impedir o xadrez (com a mesma falta de êxito que tiveram
tentativas semelhantes no Oriente Próximo e na Europa Ocidental), depois de
várias ameaças e com o auxílio dos czares, baixando vários editos, colocando-
o como um passatempo proibido. A reação dos russos foi inversa,
conseqüentemente, torna-se um dos divertimentos mais populares na época.
No início do século XX, a URSS investe massivamente no jogo de
xadrez e resolve adotá-lo como um complemento à educação. Assim, todas as
crianças que tirassem boas notas nas matérias de ensino geral, recebiam
orientação sobre como jogar xadrez.
Até aqui escreve-se a aspectos da história do xadrez antigo até o xadrez
moderno. Passa-se a discorrer acerca da influência dos veículos de
comunicação especificamente relacionados ao conteúdo de xadrez escolar.
2.1 O Xadrez e a Mídia
A partir da dominação dos países socialistas na supremacia dos torneios
mundiais (iniciando em 1927 com Alekihine e atualmente com Kasparov em
1990), a imprensa tratava de expandir os limites do jogo de xadrez. Os
campeonatos mundiais eram acompanhados pelos jornais, assim um
campeonato ou torneio realizado em algum ponto da Europa ou Ásia era
acompanhado pelos outros países aonde um jornal de grande circulação
chegasse. Revistas especializadas, livros, telegramas poderiam ser enviados
aos aficionados em quase todos os lugares do mundo.
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Os sistemas de correios contribuíam para essa interação mundial, pois
era comum aos jogadores trocarem correspondências, em que podiam
aprimorar técnicas e até participarem de torneios. Mesmo as partidas que
duravam anos, tornavam-se motivo de aproximação e proporcionavam a troca
de experiências entre jogadores.
A vantagem do xadrez utilizando os meios da mídia impressa era
principalmente o de divulgar os grandes confrontos. Era possível representar o
jogo num simples diagrama e sentir as mesmas emoções de quem
acompanhava a partida pessoalmente. Diferentemente de outros esportes, a
exemplo do futebol que quando visto em foto não transmite a emoção de um
evento ao vivo.
A partir da invenção da televisão, inicia - se mais um desafio à
perpetuação do xadrez, pois os esportes modernos, principalmente os
coletivos, passam a ser assistidos por diferentes lugares do mundo em tempo
real, isto acaba desestimulando a participação das novas gerações em jogos
de xadrez.
Vale ressaltar que a transformação do jogo de xadrez, em uma prática
desportiva ‘maçante’, tem predominado na maioria dos veículos de
comunicação. A desvalorização que a mídia televisiva tem proporcionado a
este jogo é evidente, decorrente da ênfase que tem dado aos esportes
coletivos e de maior visibilidade, ou seja, aqueles esportes que se utilizam do
deslocamento do corpo no espaço.
Entende-se que embora o xadrez não envolva grandes deslocamentos
corporais, assistir a uma partida ‘ao vivo’ de xadrez, possibilita vivenciar a
emoção dos jogadores. Contudo, alguns elementos são impossibilitados de
vivenciar por intermédio da televisão, a exemplo dos olhares, o gesto de tocar
as peças, os comentários e outros.
Já com o surgimento do computador, muitos programadores e cientistas
começam a testar em máquinas as variáveis do jogo de xadrez. Surge um
hobby e os resultados transformam - se em uma prática que contribuiu para
aprimorar a técnica do xadrez.
Na medida em que se valiam das informações do jogo, melhora-se a
velocidade das jogadas, o movimento inicial, as possibilidades das jogadas e
desta forma testar suas variáveis.
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Na última década do século XX, quando a internet torna-se real e o seu
acesso multiplica-se na mesma velocidade de seu uso, o xadrez volta à voga,
pois a sua divulgação pela rede da internet permite que os torneios sejam mais
interessantes, além do computador tornar-se uma ferramenta de estudo
contribuindo para os confrontos entre o homem e a máquina e um poderoso
material para treinamento.
Em conformidade com os dados coletados junto à Secretaria Estadual
de Educação – SEED, portal dia – a – dia Educação, o Paraná tem
desenvolvido ações conjuntas que objetivam o acesso ao processo de
informatização de professores e alunos nas escolas da rede estadual do
Paraná.
Pode-se ver registrado junto ao Portal Paraná digital que o governo
pretende investir no aprimoramento e desenvolvimento dessas questões,
usando para tanto um multiterminal, ao invés de adaptar as máquinas antigas.
O Estado conta atualmente com 16 mil máquinas, sendo que sete mil estão nas
escolas para uso pedagógico. Conforme as informações, 99% dessas
máquinas são obsoletas e necessitam de adaptações e de convênio para
desenvolvimento de software e aplicativos.
Esta realidade denota a preocupação por parte do governo, que em
grande parte advém das reinvidicações e discussões de professores,
estudiosos e pesquisadores que arduamente vêm demonstrando a importância
da informatização em âmbito escolar.
O acesso possível por meio da implantação de laboratórios de
informática nas escolas do estado do Paraná permite dentre tantos benefícios,
o reconhecimento do xadrez na atualidade como uma ferramenta incentivadora
do diálogo com outras áreas do conhecimento.
Teve início em 2003 inicia-se o Projeto de Ensino de Xadrez nas Escolas
Públicas do Brasil, através dos Ministérios da Educação e do Esporte, em
parceria com os Governos Estaduais. A metodologia do projeto foi
desenvolvida pelo Centro de Excelência de Xadrez (CEX) combinando a
utilização de recursos tradicionais da educação com os desenvolvidos pelo
Centro de Computação Científica Livre da UFPR para a internet. (Tirado, 2003)
Com a utilização das novas tecnologias no ambiente escolar,
nota-se que o xadrez passa a ter maior visibilidade e valorização. O seu caráter
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estratégico, com regras bem definidas, impossibilita a sua relação com jogos
de azar, permitindo uma maior aceitação entre pais e professores, destacando-
se por ser um jogo de cavalheiros.
Entende-se que as Leis do Xadrez são mais do que regras. Elas
comportam valores socialmente instituídos, que buscam facilitar a vida em
sociedade, a exemplo da organização.
A forma como se organizam os torneios, pode ser desenvolvida por meio
dos softwares de aplicativos, de treinamento, do banco de dados das partidas e
emparceiramento.
É característico do jogo de xadrez emparceirar, colocar para jogar no
confronto direto jogadores que estejam no mesmo nível técnico (sistema
suíço). Esta forma de organização direcionada a um pequeno grupo de
jogadores torna-se fácil e possível; de certa forma pode ser desenvolvida
manualmente. Já em torneios com muitos jogadores, os softawers de
emparceiramento facilitam e dinamizam os torneios e conseqüentemente
evitam possíveis erros e injustiças.
As informações que antes eram impressas, muitas vezes inacessíveis
pelo seu alto custo, agora se tornam mais baratas e de fácil acesso. No caso
do sistema de emparceiramento para os torneios, a diminuição do tempo é
notável, pois um emparceiramento dos competidores que antes demorava
horas torna-se quase instantâneo.
Os sites em que os enxadristas montam as suas salas de bate-papos
têm o intuito de divulgarem conhecimentos sobre xadrez. Desta forma, as
informações dos enxadristas podem ser socializadas, desde que se respeite a
patente própria, ou seja, o criador do site na divulgação dos seus trabalhos.
Estes trabalhos objetivam a venda de programas específicos para treinamento,
bem como, de servidores onde as comunidades estão localizadas sob a
patente dos patrocinadores.
Os servidores de xadrez constituem-se em redes que permitem jogar
partidas de xadrez pela internet, além de aulas ministradas, gerenciadas e
intermediadas por um servidor desse jogo. A interação é feita por meio de uma
janela. O participante de torneios virtuais utiliza-se de alguns comandos. Como
se pode observar, o xadrez volta a aproximar as pessoas igualmente ao tempo
da mídia impressa, porém agora de maneira instantânea.
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Tratando da utilização do conteúdo do xadrez na prática pedagógica,
parte-se do pressuposto de que os professores têm tido a possibilidade de
repensar as suas práticas, por meio de cursos de capacitação, debates e em
reuniões para planejarem os conteúdos eletivos da disciplina de educação
física. Dentre estas discussões, incide a prática pedagógica envolta pelos
meios da mídia, sejam impressos, cinema ou virtual.
Embora alguns docentes utilizem-se do conhecimento adquirido para
ressignificar as suas práticas, outros professores têm dificuldade em se
relacionarem com a novidade, ou seja, resistindo ao novo, e desta forma,
impossibilitando a intermediação entre o conhecimento adquirido, prática
pedagógica e a proposta político pedagógica da escola.
Já o rumo que tem tomado as diretrizes curriculares para a área de
educação física demonstra um grande avanço. Isso foi muito interessante
porque se percebe no contexto escolar um desconhecimento da historicidade e
da relevância deste documento registrado em âmbito estadual.
Faz-se necessário destacar que desde a realização do I Seminário
Estadual das diretrizes curriculares para o ensino fundamental no mês de maio
de 2004 na cidade de Curitiba – PR, envolvendo assessores pedagógicos do
ensino superior, equipe técnico – pedagógica de educação física do
departamento de Educação física da SEED/DEF e professores da rede
estadual de ensino, muitas discussões têm sido desenvolvidas na forma de
encontros de assessoria, encontros descentralizados e reuniões técnicas.
Considera-se que o conteúdo do xadrez vem sendo construído durante
décadas, razão pela qual o pressuposto acima mencionado intenciona
fortalecer as discussões de pesquisadores, estudiosos e teóricos acerca do
conteúdo do xadrez no contexto escolar, na forma de diálogo com outras
disciplinas, conforme reza as Diretrizes Curriculares de Educação Física de
2008.
Existem várias correntes entre os enxadristas que estudam as origens
do xadrez. Muitas dúvidas ainda não foram esclarecidas sobre a sua trajetória
e evolução no mundo antigo.
Os pesquisadores do xadrez acreditam que somente com novas provas
científicas pode – se chegar à conclusão definitiva sobre a origem deste jogo
milenar.
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Uma comprovação científica dessa natureza não mudará o
entendimento do jogo que na atualidade tem o status de esporte, mas a
averiguação e os registros podem contribuir neste percurso e possivelmente
corroborar para futuras mudanças.
A transcendência ao senso comum e a desmistificação de formas
enraizadas de entendimento, sobre o que seja a prática pedagógica, estão
presentes no ato de assumir a pesquisa no fazer cotidiano do professor, não
como um pesquisador profissional, mas se utilizando do ato investigativo.
Portanto, o professor ao ampliar sua visão acerca do xadrez, contribui
significativamente nos impactos gerados na aprendizagem dos alunos e na
relação entre professor aluno e, possivelmente, no fortalecimento da base de
entendimento do jogo como um elemento da cultura mundial.
Portanto, a partir da utilização do xadrez enquanto conteúdo escolar, a
sua relação intrínseca com a prática pedagógica especificamente no exercício
de co-laboração incide entre professor - aluno; aluno - aluno; professor -
professor; professor - comunidade e comunidade - escola. Além do que implica
no reconhecimento do conhecimento sistematizado como uma oportunidade
para reelaborar idéias e práticas que ampliem a compreensão do aluno
apreendente acerca dos saberes produzidos pela humanidade e suas
implicações com a materialidade humana.
3 A relação teoria – prática : indagações acerca do conteúdo do xadrez
escolar
Neste segmento do estudo, a intenção é problematizar a relação teoria –
prática incidente no exercício pedagógico, bem como a utilização do conteúdo
do xadrez no contexto escolar e o seu aporte teórico-metodológico que
contribui para a formação humana e, portanto, em prol da historicidade dos
sujeitos.
A ênfase neste estudo se faz a partir de um acordo conciso entre a
relação teoria e prática, que implica diretamente no pensamente científico, e
que vem sendo assumido e classificado no contexto escolar como negativo ou
positivo.
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Para Rays (2000), no campo educacional na atualidade incide duas
formas de se pensar a relação teoria e prática: a forma negativa e a forma
positiva. Este autor identifica como negativa, a teoria submetendo-se à prática,
ou seja, as características de uma não teoria. O oposto nesta discussão
consiste na prática submetendo-se à teoria e assumindo característica de uma
não prática. Desta forma, ambas não se complementam.
Entende-se que o teor positivo nesta relação constitui-se em
reciprocidade entre sujeito e objeto. Nesse entendimento, a evolução da teoria
corresponde à evolução da prática e que, conseqüentemente, ocorre sempre
ligada à evolução da teoria, tornando-se dinâmica e continuamente
transformadora: teoria - prática - teoria.
Dentre os escritores citados, alguns discutem o conteúdo do xadrez,
com base em suas experiências. Isto permite trazer para a discussão o
proceder do professor no exercício cotidiano de trabalho.
O posicionamento teórico e metodológico de alguns atletas profissionais,
denominados enxadristas, que participam de competições oficiais está
influenciando o pensamento educacional. Eles defendem o desenvolvimento de
técnicas enxadrísticas eficazes para jogar bem.
Para Rays (2000), o pensamento educacional na atualidade divide-se
em dois pólos: o pólo simbólico e o pólo concreto. Ambos tratam da
contradição posta no proceder cotidiano do professor, envolvida pelos
posicionamentos assumidos diante de suas práticas pedagógicas, a saber:
1 - O pólo simbólico que se processa de forma acrítica e determinada; a crença
de que as circunstâncias histórico-sociais são alheias e estranhas à escola,
aportando a prática pedagógica real, ou seja, distanciando o saber cotidiano do
saber escolar e vice-versa.
2 - O pólo concreto promove a conexão teoria – prática de forma a permitir por
meio da prática pedagógica uma aproximação entre condições objetivas e
subjetivas das circunstâncias histórico-sociais dos sujeitos e que aproximam o
saber escolar do saber cotidiano.
Entende-se o cotidiano de uma categoria objetiva por somar ao saber de
uma época que se transforma em patrimônio de um só sujeito. Portanto, o que
se procurou neste estudo foi tratar de um determinado número de saberes
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cotidianos como o uso da linguagem, dos usos particulares de representações
coletivas, do uso de meios ordinários, alguns elementos absorvidos com a
soma de conhecimentos que os sujeitos interiorizam para existir humanamente
em seu ambiente de inserção.
Os enxadristas com um domínio insuperável da técnica do jogo buscam
associações lógico-matemáticas para desenvolverem a técnica das jogadas. A
base destes métodos sempre se faz em particularizar as técnicas do jogo em
aplicações em jogadas específicas, como se diz tecnicamente, buscando
aplicar em jogos pré-enxadrísticos. A utilização destes jogos é essencial para o
entendimento do jogo.
As diferenças que surgem, baseiam-se no fato de ensinar as jogadas a
partir do final do jogo: método holandês, ou ainda de se inicia a partir do
conhecimento de todas as peças e movimentos e finalmente partir para o
entendimento do jogo: o método tradicional.
Tanto no método holandês, em que após o conhecimento das peças do
rei e da dama o aluno passa para a noção do xeque-mate, ou seja, da parte
final do jogo, como no método tradicional em que o aluno após conhecer o
tabuleiro e todas as peças do jogo inicia na fase da abertura, ou seja, do início
do jogo, as técnicas são percebidas.
As dificuldades que surgem para o professor a partir das técnicas acima
mencionadas estão relacionadas às atividades propostas em aula. Trata-se do
entendimento que o aluno tem do jogo; as técnicas são propostas pelos
enxadristas, que partem do princípio de que o aluno as domina, que sabe o que
é o jogo de xadrez.
Estes métodos surgem para serem tratados em ambientes propícios ao
ato de jogar xadrez em pequenos grupos, ou ainda, ao autodidatismo, em que
o aluno de posse de livros especializados apreenda individualmente a técnica
no sistema passo a passo.
Partindo da realidade da escola pesquisada, percebe-se que no primeiro
caso alguns alunos já estão familiarizados com o jogo de alguma maneira, já
estão convencidos que querem saber mais sobre o jogo. Na disciplina de
educação física, a maioria dos alunos acredita que vai ter uma aula em que o
movimento corporal está presente e que esta aula acontecerá bem longe do
ambiente fechado da sala de aula.
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Primeiramente, torna-se necessária a conscientização de que não se
pode estabelecer uma ruptura entre conhecimento (teoria) e a ação (prática). O
que se busca é a unidade entre teoria e prática, uma vez que a teoria funciona
como um fio condutor para a prática.
Para a maioria dos alunos da escola pesquisada, o xadrez ocorre como
teoria (conhecimento) onde o movimento corporal – a prática (ação) é
descartada. Para eles, o jogo de xadrez é uma atividade em que o ato e o
esforço do pensamento os distanciam da mobilidade corporal, e, portanto, a
motivação para o aprendizado sofre diretamente a influência do pensamento
racionalista, implicando dificuldades de conexão entre a teoria e a prática.
Para Rays (2000, p. 36), ao tratar da motivação incidente na relação
teoria e prática, afirma:
É a atividade teórico – prática do homem que motiva e promove, criticamente, transformações na realidade objetiva e no próprio homem.Nesse sentido, pode-se afirmar que é a atividade (o conhecimento teórico – prático do homem) que assegura ao ser humano as condições sócioculturais e as bases materiais de sua própria existência. Desse modo, a teoria – conhecimento – é um momento da prática – ação, assim como a prática é um momento da teoria e do próprio pensar.
Em algumas escolas da rede estadual existem locais apropriados para
se ensinar o xadrez.São ambientes em que a simples disposição das mesas e
do material de ensino propiciam exercícios didáticos capazes de aproximar os
sujeitos do ato pedagógico: professores e alunos.
Compreende-se que a superação da dualidade entre teoria e prática
parte da elucidação do equívoco político-pedagógico presente em boa parte
dos cursos de formação de professores, que enaltecem a necessidade de
conhecer para depois fazer e ou fazer para depois conhecer.
O conhecer e o fazer no pensamento pedagógico crítico abrangem o
processo educativo em sua totalidade, incidindo em métodos de trabalho que
priorizam a inter-relação do cotidiano escolar com o contexto social e intervêm
por meio de propostas pedagógicas alternativas na vida real dos sujeitos,
partindo da perspectiva marxista denominada práxis.
Para Marx (2007, p. 100), criticando Feuerbach, Bruno Bauer e Max
Stirner, “a consciência de mudança das circunstâncias e da atividade humana
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ou automudança só pode ser considerada e compreendida racionalmente como
praxis revolucionária”.
Por outro lado, no entendimento de Vazquez (2007), a práxis consiste na
teoria pedagógica gerada no exercício prático do convívio social. Teoria
constrói-se na prática social e, à medida que esta se faz, modifica-se ou
adensa-se a primeira. Teoria pedagógica esta gerada da prática social e
valorizada pela escola de forma geral, construída no coletivo, que evidencia a
necessidade constante da construção teórica. Trata-se de um processo teórico-
prático-teórico que já tem frutos e indícios de que o movimento práxico
continua.
A atividade humana consciente não ocorre no vazio, ocorre na
complexidade da vida humana, que se caracteriza como uma prática simbólica.
Constitui-se no complexo da sociedade de forma concreta e traduz a
historicidade dos sujeitos que não se encontram estáticos e/ ou os mecânicos.
3.1 A voz dos sujeitos da escola: o ensino do xadrez, possibilidades e
contradições.
O trabalho consciente sobre a realidade humanizada busca a verdade
das coisas na realidade concreta. Sendo assim, esta facção do estudo traz
alguns elementos identificados durante o período de observação e trazidos por
meio das falas dos professores participantes de reuniões e cursos de
capacitação.
Conforme já se mencionou, neste texto, o pressuposto de que os
professores pertencentes à rede estadual de ensino do Paraná refletem suas
práticas pedagógicas, permite o reconhecimento de que se deparam
cotidianamente com a complexidade que reside na relação teoria e prática.
A problemática maior está centrada no ensino do conteúdo do xadrez
escolar, e como diz o termo ‘escolar’, faz parte do universo de alunos e
professores durante o percurso da escolarização.
Este conteúdo tem sido influenciado por metodologias inculcadas nas
práticas pedagógicas, particularmente dos professores de educação física que
vêm sofrendo com a contradição entre a possibilidade de ensinar através de
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técnicas disseminadas por alguns enxadristas ou voltar-se para o exercício
pedagógico crítico.
O posicionamento de alguns professores de educação física é
identificado como contrário à mercantilização do conteúdo do xadrez. Os
professores têm buscado neste conteúdo uma possibilidade transformadora e
valorizadora de suas práticas pedagógicas, ou seja, refletir sobre elas.
Com a massificação do ensino do xadrez e a elitização do conteúdo,
acentua a crença de que os professores não conseguem ter domínio técnico e
satisfatório para atingir o patamar de um atleta profissional.
Embora não seja esta a idéia central deste estudo, vale lembrar que a
diferenciação entre o professor e o enxadrista se faz a partir da discussão que
trata da formação dos professores. Já que estes professores adquirem
conhecimentos inerentes ao exercício docente e, conseqüentemente,
desenvolvem o reconhecimento da realidade que norteia o universo da escola
pública em âmbito nacional, ou seja, turmas que comportam em média 30 a 40
alunos, envoltas por complexas relações sócio - econômicas, dentre outros
aspectos.
Reconhecer e planejar os conteúdos pertinentes a cada série, para os
professores torna-se uma preocupação e um compromisso. Alguns enxadristas
não detêm esta outra face da escola, em que o desenvolvimento humano se
faz em várias frentes. Quer dizer que através da organização seriada vários
conteúdos são ensinados ao mesmo tempo, de unidade em unidade e
desenvolvidos em conformidade com cada uma das perspectivas consideradas
pelo corpo docente, preconizando a formação humana.
No conteúdo da disciplina de história contido nos estudos sobre mundo
antigo e suas civilizações, encontram–se as raízes do xadrez antigo, seja na
Pérsia, no Egito, na Grécia, na Índia, na China.
Na disciplina de Geografia, conteúdos como o Caminho das Especiarias,
a Rota da Seda, por exemplo, encontram-se os subsídios para tratar o tempo e
suas máquinas, tais como os relógios de areia (ampulheta) e os pontos
cardeais, que orientam o ensino da movimentação das peças e o uso do
relógio para determinar o tempo.
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Na disciplina de artes, localizam – se as técnicas das artes plásticas
para criar jogos e peças: no teatro, o jogo da mímese e da interpretação dos
personagens que compõem o jogo, a exemplo do xadrez humano.
Em matemática, é possível apreender conceitos de espaço e a sua
aplicabilidade correlacionada às técnicas de estratégia de jogo, sendo possível
também aprender as técnicas e o reconhecimento do tabuleiro.
Considera-se que o ensino do xadrez escolar está para a prática
educativa como mais um elemento de ligação, contribuindo para com a
motivação do aluno, bem como o entendimento dele quanto ao processo de
ensino e sua relação entre o passado e a realidade. A utilidade do xadrez
constitui-se mais pelo fazer do que pelo aprimoramento técnico. Sua utilização
na escola só será incorporada se for desenvolvida por profissionais engajados
na equipe da escola, conscientes da sua função enquanto educadores, sem a
intenção de criar no aluno expectativas e ansiedades.
3.2 A metodologia do ensino de xadrez: aspectos identificados
A dificuldade encontrada na aplicação do conteúdo de xadrez na
prática educativa identifica – se na contradição da vertente racionalista. Esta,
por sua vez, tem inculcado no pensamento escolar que jogar xadrez não
consiste em uma atividade que envolve deslocamento do corpo no espaço,
portanto, não faz parte da disciplina de educação física.
Para os alunos, a educação física está restrita ao ambiente externo da
sala de aula, quadra, pátio e outros. O xadrez por tratar – se de uma atividade
que envolve outros elementos, menos restritos à coordenação motora geral,
implica aspectos cognitivos mais específicos da coordenação motora fina o que
propicia certa resistência por parte dos alunos.
Logo após inúmeras negociações de horários, os alunos acordaram
em se dedicar ao ensino do xadrez apenas utilizando um quarto das aulas de
educação física, ou seja, o restante do tempo consistiu em atividades
tradicionais da prática da educação física, como a ginástica, outros jogos e
esportes com bolas.
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A receptividade, apoio e incentivo para a aplicação do projeto por parte
da direção, equipe pedagógica, funcionários e pais, somaram-se positivamente
para a conclusão e efetividade deste estudo.
As metodologias do xadrez utilizadas foram compostas das seguintes
atividades: ensino do xadrez básico, não somente o ensino de técnicas
enxadristas, mas, principalmente; estudos de história; geografia e artes entre
outros. Os conteúdos tratados obedeceram às séries trabalhadas, segundo
sugestão das Diretrizes Curriculares, e conforme o planejamento dos
professores da referida série da escola, ou seja, uma contribuição da cultura
enxadrística.
A diferenciação na aplicação das metodologias do ensino do xadrez
exigiu adaptações. As metodologias tradicionais preconizam desenvolver
estudos, trabalho em pequenos grupos. Mas com turmas de trinta e cinco
alunos, não seria possível desenvolver atividades sem adaptação diferente,
porém satisfatória, daí formar grupos com tempo maior. Além dessa
dificuldade, esses alunos traziam em seu percurso escolar e de vida, pouco ou
nenhum conhecimento do jogo.
Por meio de adaptações, averiguou-se que os alunos começaram a
reconhecer o jogo, ou seja, para eles o xadrez tinha significado, pois se tratava
de uma ferramenta que complementava os seus estudos.
De maneira articulada, a aprendizagem destes alunos aconteceu de
forma significativa, pois incluiu outras disciplinas. Conforme a fala dos
professores, houve maior interesse por parte dos discentes. Sendo assim, o
conteúdo do xadrez agiu como um complemento.
A motivação inicial para o ensino do conteúdo de xadrez foi
desenvolvida por meio da história do jogo, ou seja, o diálogo com outras
disciplinas que comportam o currículo oficial da escola pesquisada.
A seguir, alguns aspectos encontrados neste estudo foram
enumerados na forma de resultados:
1) Dizer aos educandos que o jogo é tradicional e que foi estudado por
inúmeras culturas, desde a antiguidade. Ao apoderarem-se deste
conhecimento nas aulas de história, podiam vivenciar a história do
mundo no tabuleiro de xadrez.
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2) A forma em que as peças se movem propicia na prática o conhecimento
da disciplina de geografia, dos pontos cardeais, e outros.
3) Ao jogarem xadrez com a utilização de relógios, ampulheta ou relógio
mecânico, os discentes vivenciam a marcação do tempo. Também são
incentivados pela superação e por meio do autocontrole, além de lidar
com suas emoções. Tudo isso é característico de situações e atividades
que envolvem horários para o seu cumprimento.
4) Por meio de leituras de histórias, os alunos socializaram seus
conhecimentos e colocaram a sua criatividade em prática. Com a
construção de histórias em quadrinhos, foi possível entenderem a
significação do texto, o que propiciou incentivo a leitura.
5) A construção de um tabuleiro de jogo de peças com os movimentos
gravados nas peças permitiu que cada aluno tivesse posse de um jogo
completo para utilizar em casa. Assim aumentou o tempo de estudo,
porém, numa perspectiva de lazer em que poderiam envolver o seu
núcleo familiar e de amigos. Esta atividade adiantou o trabalho em sala,
como contribuiu para acelerar o aprendizado e memorização do
movimento das peças, bem como o início do desenvolvimento do jogo.
6) Na medida em que jogam, utilizam – se de cálculo, pois ao executarem
os lances do xadrez necessitam de abstração e de memória. Cada lance
pode ser revisto ou repetido e necessita de uma nova solução para
atingir um objetivo específico.
7) As Leis do Xadrez trazem implicações morais, contribuindo para a
melhora da disciplina em sala de aula, quando é necessário aprender a
ouvir par depois falar, aprender a assumir e arcar com suas decisões
sejam de erro ou acerto. Estes são de um significado especial para os
professores, no tocante à defesa do jogo do xadrez na escola.
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8) Na utilização da Informática, destaca - se a busca por alguns alunos em
continuar a conhecer mais o xadrez, através da indicação do site Xadrez
Livre de UFPR/CEX. O acesso foi feito de maneira facilitada, ou seja, os
alunos de suas casas buscavam dicas para melhorarem sua técnica e
assim o seu desempenho em sala. A modalidade selecionada durante o
exercício pedagógico foi ‘em sala’ denominada ‘xadrez relâmpago’, a
mesma modalidade usada na internet, sendo que esta guarda em média
dois minutos e em sala pode – se usufruir até cinco minutos para
reflexão.
A proposta das Diretrizes Curriculares de educação física (2008)
compromete-se com a formação de alunos críticos. Entende - se que a
formação humana não está restrita aos muros da escola, pois, pequenas
atitudes podem somar – se a hábitos cotidianos do estudante, não eximindo
este proceder de esforço e de atividades lúdicas e prazerosas.
Não se trata de uma defesa apaixonante pelo ensino de xadrez, mas
fruto de uma observação atenta e criteriosa, como por exemplo, que a
estratégia do jogo foi bastante útil para o entendimento do desenvolvimento de
outras modalidades desportivas desenvolvidas paralelamente ao conteúdo do
jogo de xadrez.
Neste período de aplicação do conteúdo do xadrez, incidiram inúmeras
contribuições, a exemplo do filme ‘O xadrez das cores’, da coleção de Curtas
da Escola, da Petrobrás (2008), que serviu de suporte para outra atividade
desenvolvida no decorrer do ano. Buscou – se com esta atividade melhorar o
entendimento do regulamento da escola, passando pela pesquisa e estudo da
Declaração dos Direitos Humanos (1999) e do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA (1990).
Neste estudo, observa-se o respeito às fases do desenvolvimento do
aprendizado humano, as quais permitem o entendimento sobre o conteúdo do
xadrez, ou de qualquer outro assunto. Esses saberes e conhecimentos são
crescentes na medida em que se estabelecem relações que passam a ser
significativas para a vida do sujeito apreendente e não simplesmente mais um
conhecimento isolado adquirido.
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Considerações Finais
Diante do exposto, os resultados de modo geral evidenciados neste
estudo tratam da relação teoria – prática. No âmbito da prática pedagógica, o
conteúdo do xadrez comporta os seguintes elementos a partir de observação:
Motivação; avanços no aprendizado escolar; diálogo com outras disciplinas;
fortalecimento de valores socialmente instituídos; avanços nos estudos
enxadrísticos; utilização das novas tecnologias; conhecimento de inúmeros
aplicativos do jogo e sites de xadrez na WEB; proximidade com o computador
gradativamente disponibilizado nos laboratórios de informática das escolas
estaduais.
Mais do que a técnica do jogo, torna-se necessário o reconhecimento do
conteúdo do xadrez, como uma ferramenta de apoio à prática pedagógica, aos
professores de educação física. Com isso, sabe-se que por meio do diálogo
com outras disciplinas, torna-se possível a aplicação deste conteúdo, desde
que em conformidade com o debate proposto no campo da educação: a
formação humana é um caminho possível em prol da emancipação social por
meio da criticidade.
A contribuição do projeto desenvolvido em sala de aula buscou introduzir
a prática do xadrez relâmpago e do xadrez rápido (de até 30 minutos de
reflexão) para alunos que estão iniciando a segunda fase do ensino
fundamental. Acredita-se que além de proporcionar uma fonte de lazer, seja da
prática do xadrez ou do xadrez virtual, esta prática pedagógica amplia a cultura
enxadrística, dando ao aluno um novo significado ao jogo, agregando-lhe
novos valores, e assim, contribuir para uma reflexão quanto às condutas tanto
do aluno, como do docente referente ao cotidiano e ambiente escolar em que
atuam.
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