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“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS - CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.

Falando de Axé

ANO I — Edição 03 Julho de 2011

Òrìÿà do Mês

Õsanyìn — O

Grande Mago das Folhas e Florestas

Pretos Velhos — Ancestrais que nos ensinam a

Humildade

Falando de Axé publica entrevista feita com o

Saudoso Zélio Fernandino de Moraes, o Precursor da Umbanda

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EDITORIAL Por Hérick Lechinski (EjòtôlàT’Òÿúmarè)

Depois de dois meses fora do ar, a Revista Falando de Axé volta com a corda toda, na

batalha em prol da divulgação cultural e religiosa afro-brasileira.

À todos os nossos leitores pedimos desculpas, por este tempo que estivemos fora e pedimos

também, que nos entendam. E para compensarmos o tempo perdido, damos a

nossa palavra, que a partir de agora, cada mês a Falando de Axé se empenhará mais ainda na

divulgação e no ensinar da nossa fabulosa cultura e religiosidade afro-brasileira.

Esperamos de todo o coração, que gostem dos

novos artigos e que aguardem os futuros especiais da Revista. Esse mês ainda, nossos

leitores poderão conhecer um pouco mais sobre um dos mais fantásticos temas dentro

do culto, através do Especial: “Ìyámi Òsòròngà — Minha Mãe, Elegante Senhora do Pássaro da

Morte.”, que sairá nas próximas semanas...

Uma ótima leitura e boa sorte...

Wúre fún à.

O Editor

"Ninguém nasce o-

diando outra pes-soa pela cor de

sua pele, por sua origem ou ainda

por sua religião. Para odiar, as

pessoas precisam aprender e, se po-

dem aprender a odiar, podem ser

ensinadas a a-mar."

(Nelson Mandela )

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ÍNDICE Epítetos de Òrúnmìlà Pág. 04 Òrìsà do Mês – Òsanyìn - O Grande Mago das Folhas e Florestas Pág. 06 Folha do Mês – Òsíbàtá – é que superam as águas do rio e também os inimigos Pág. 12 Zélio Fernandino de Moraes – O Prenunciador da Umbanda Pág. 14 Falando de Axé publica Entrevista feita com o Saudoso Zélio Fernandino de Moraes Pág. 16 Pretos Velhos – Ancestrais que nos ensinam a Humildade Pág. 21 Santo do Mês – Santa Ana, a Avó de Jesus Pág. 24 Raça Negra Pág. 28 A Ética e a Moral dentro da Cultura e Religiosidade Africana Pág. 30 Personalidades Negras – Carolina de Jesus Pág. 32 Intolerância e Homofobia podem estar levando religiosos à morte em Manaus Pág. 33 Livro do Mês – Conheça a Umbanda Pág. 35

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Epítetos de

Õrúnmìlà – Ifá

Por Zarcel Carnielli - Ômô Ifá Ilésire (Bàbá Òÿàláÿínà

Omigbàmi Ajétúnbí) Msn:

[email protected]

Os epítetos são na realidade ORÍKÌ, recitações que relatam características

da divindade e as exaltam. Pois, para o povo yorùbá, a melhor forma de invocar

uma energia é exaltando seus feitos e suas qualidades. Os epítetos de Õrúnmìlà-Ifá são vários, apresento neste texto alguns deles, com o intuito de contribuir um

pouco, para a desmistificação dessa divindade aqui no Brasil.

IFÁ OLÓKUN: Se traduzirmos literalmente ficará: Ifá o Senhor do Oceano. Mas,

essa pequena palavra quer dizer muito mais que isso e pode ter várias interpretações. Uma delas é: Ifá é tão amplo quanto o Oceano, por isso seu culto exige total dedicação de seus sacerdotes e devotos. Outra idéia é de que, Olókun

(Deusa do Oceano) após ter ficado anos casada com Odùdúwà (pai do povo

yorùbá), foi casada com Õrúnmìlà-Ifá, e o titulo de senhor dos oceanos foi

atribuído à ele também.

ÇLËRÌÍ ÌPÍN: Senhor que conhece o destino, aquele que está presente no

momento que Olódùmarè (Deus) dá o sopro divino, aquele que conhece os pactos

feitos por cada um de nós antes de virmos ao Àiyé (Mundo – Terra). Por isso,

através da iniciação de Ifá, o devoto conhece os mistérios que envolvem seu destino e sua existência. IBÌKEJÌ ÇLËDÙNMARÈ: A segunda pessoa em importância após Çlëdùnmarè

(Deus), ou seja, a importância de Ifá é tão grande, que, acima dele apenas está o Deus supremo do Õrún (Céu – plano espiritual).

ÕRÚNMÌLÀ AKÉRÉ FINÚ SÔGBÖN: Òrúnmìlà homem pequeno que usa o

próprio interior como fonte de sabedoria. Esse epíteto deixa claro a sabedoria de Ifá, que é, de encontrar as respostas que ele necessita dentro dele mesmo.

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Essa sabedoria é ensinada aos iniciados em Ifá, de utilizar o próprio conhecimento interior para solucionar problemas do dia-dia.

À GBÀIYÉ GBÕRUN: Aquele que vive no mundo visível e no mundo invisível, ou,

o mais antigo nos dois mundos. Deixando claro, que Ifá está presente em todas as partes do universo. ÒKITÌBÌRÍ APA ÔJÖ IKÚ DÀ: O poderoso que altera o dia da morte. Através da

iniciação de Ifá, se as pessoas agirem corretamente, tendem a garantir vida longa, pois, qualquer morte prematura que estiver no caminho da pessoa, Ifá tem o poder para cortar. ÔKÙNRIN ÀGBÔNMÌRÈGÚN: Homem do coquinho que nós nunca esquecemos.

Lembrando a importância do IKIN (COQUINHO DE DENDÊ) dentro do culto de

Ifá, e a importância de que, para que algo tenha força, é preciso que seja lembrado (cultuado).

ÇRIGI A BÔLÀ: Aquele que ao ser venerado, traz a sorte, a prosperidade.

Ressaltando que através de Ifá a pessoa reconquista sua sorte e sua prosperidade.

ALÁDÉ: Senhor da coroa. O que possui uma cabeça tão boa que não perde a

coroa, Ifá é o eterno rei da sabedoria, fonte inesgotável de informações e orientação. Por isso chamado de dono da coroa. São vários os epítetos para Ifá, chamados também de “nomes de louvor”, mas, nesse texto, procurei destacar os mais importantes e utilizados, pois, através deles, qualquer um pode saudar Ifá e também aprender um pouco mais sobre ele e sua importância na vida e no dia-dia da humanidade. Mais uma vez agradeço à todos os mestres que tive e tenho, Bàbá Kekeje (Antonio de Sàngó), Ìyá Dela (Marta de Õÿun), Bàbá Fábùnmi (ni iranti – in

memorian), Bàbá Awodiran e Bàbá King.

* Biografia consultada: CÂNTICOS DOS ORIXÁS NA ÁFRICA, Síkírù Sàlámì – Profº. Dr. King. Ed Oduduwa. * A Interpretação dos epítetos foram feitos por mim, baseado naquilo que pude entender de Ifá nesses 14 anos de iniciado, 14 anos que aprendi que Ifá não é apenas tão amplo como o Oceano, mas sim, tão amplo quanto o próprio Universo. Que Ifá abençoe a todos...

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Õsanyìn — O Grande

Mago das Folhas e Florestas

“Ewéeelére o

Ilé Òmúsà Ewé Õsanyìn”

Òrìÿà do Mês

Õsanyìn (Oÿónyìn, Ossãe, Osaim, Ossanhe, Ossanha) é uma divindade que

independente de como é chamado, conhecido e cultuado, seja no Culto Tradicional

Iorubá – Êsin Yorùbá, ou nos cultos descendentes do mesmo, como o Candomblé,

a Santeria Cubana ou ate mesmo a Umbanda, um fato é certo, não podemos negar sua importância e que dês dos nossos primeiros passados dentro da liturgia de algum desses cultos sua energia se faz presente e necessária ser cultuada.

Muitas dúvidas surgem em nossa mente a respeito do que vem a ser essa

divindade, e verdadeiramente o que vem a ser a sua real finalidade. Divindade da floresta? Divindade das folhas? Divindade da magia? Ou, até mesmo a divindade da Vida?

Sim, Divindade da Vida, ou ate mesmo do Re-nascimento, pois, não podemos negligenciar o fato de que desde o ingresso de uma pessoa dentro da Religião dos Orixás, quando a mesma “morre” para a sociedade e re-nasce para o Culto, até o fim de sua jornada dentro desta, as folhas estão presentes em tudo. Seja no

primeiro Omièrõ (banho de folhas que acalmam e purificam), seja na lavagem e

preparação dos símbolos litúrgicos de adoração de um determinado Òrìÿà, também

conhecidos como Ojúbô, ou ate mesmo na preparação do banho aonde será lavado

nosso corpo nas cerimônias fúnebres - Ìsinkú, sempre encontraremos Õsanyìn.

São conhecidos diversos “relatos” de seu egoísmo e de sua insistência em

não compartilhar com as demais divindades os segredos das folhas, egoísmo esse, que levou os Orixás a buscarem uma maneira de se apoderarem de seu segredo. Onde a partir daquele momento, cada Orixá teve conhecimento de suas folhas. É

sabido também que, apesar de Õsanyìn possuir o conhecimento das folhas (Àwôn Ewé), os Ôfõ’s (poemas de ativação, encantamentos que despertariam o axé de

cada folha) seriam de conhecimento única e exclusivamente de Õrúnmìlà, porem

posso garantir que apesar de tudo isso, o segredo de Õsayìn vai muito além.

Como Sacerdote (Bàbálawo) de Õrúnmìlà-Ifá, me foi passado às sete

principais maneiras de se preparar (montar, assentar) um Ojúbô Õsanyìn, ojubós

estes, utilizados pelos Bàbálawo’s nas mais diversas situações. Os Bàbálawo’s

possuidores dos segredos de Õsanyìn são conhecidos como Adahunÿe:

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“...Kòògo egbòrò ìrin. Aképè nìgbá õràn kò sunwõn... Aquele que é tão forte quanto

uma barra de ferro. Aquele que é invocado quando

as coisas não estão bem...”

Os sete principais Ojúbô Õsanyìn montados pelos Bàbálawo’s Adahunÿe são:

- Osanyin Elewu pupa - Osanyin Olode - Osanyin Alaro - Osanyin Olosun (Opa osun) - Osanyin Onimoriwo - Osanyin Onide - Osanyin Onigi

E assim como os Õsanyìn preparados pelos Àwòl’òrìÿà (Sacerdotes de Òrìÿà), os mesmos têm as mais variadas utilizações e finalidades dentro na liturgia tradicional iorubá.

Mas nada intriga mais, desperta mais curiosidade e derruba mais tabus do que o

Òrìÿà Õsanyìn preparado pelos sacerdotes de Õsanyìn, os Olóõsanyìn ou pelos

conhecedores de sua liturgia, como os Oníÿçgùn (Médicos Herbalistas), ou ainda os

Olóògùn (Magos Tradicionais Yorùbá).

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Um Olóògùn versado na liturgia de

Õsanyìn não necessita de instrumento

divinatório, pois, seu próprio Òrìÿà (Õsanyìn) revela no momento da

consulta, os motivos que levaram o consulente a sua casa, os acontecimentos passados que o levaram a essa situação, o correto tratamento baseado nos elementos presentes na Natureza e os acontecimentos futuros, desde que a pessoa esteja disposta a explorar as potencialidades energéticas que serão despertas após a realização do

Ise (trabalho espiritual).

Questionando um dos meus

mestres, no inicio de minha jornada dentro da tradição e da liturgia de

Õsanyìn, acerca da divisão de seus

conhecimentos a respeito das folhas com as outras divindades e também da

necessidade de se ter o ôfõ (encantamento) adequado pra que cada

Ise (trabalho espiritual) fosse

manipulado, o mesmo sorriu, coçou a cabeça e me disse assim: - Você realmente acredita que, um

Òrìÿà que nos revela a hora que uma

pessoa virá em nossa casa, o que será feito por essa pessoa, e inúmeras outras coisas mais, que nos acorda no meio da noite para nos avisar quando algo vai ocorrer, não teria conhecimento do que as outras divindades estariam tramando. E continuou dizendo:

- Oògùnladé (Sérgio Borges), os

Olóògùn’s são pacíficos, pois possuem o

conhecimento da essência de sua

divindade. E como Õsanyìn sabia o que

iria ocorrer, tendo conhecimento que

essa disputa não cessaria, apenas

compartilhou com as outras divindades

aquilo que queria, guardando pra si, seu

verdadeiro segredo e finalidade. Ainda

buscando mais respostas, dei ênfase na

questão da necessidade dos ôfõ (encantamentos) no preparo das magias

e medicinas e então obtive a seguinte

resposta:

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- Você sabe, que a iniciação de um Olóõsanyìn, ou de um Olóògùn e

composta de sete passos, certo? E que em um desses passos o mesmo recebe e

deve engolir um Olugbohun (magia que faz com que nossas palavras voem com o

vento e tem o poder de fazer com que os nossos desejos aconteçam), um Afose

(magia para dar força à palavra) e um Epe (magia que dá poder de comando, usado

para orar, abençoar e ate mesmo maldizer objetos animados e inanimados) e um

Mayehun (ninguém recusa um pedido meu) e que isso passa a agir internamente,

mesclado-se com sua própria essência. E que posteriormente o Olóògùn passará

por um ritual semelhante ao Ajegun (ritual esse feito as mãos de um Bàbálawo que

potencializa os signos marcados no Ôpön Ifá e também as medicinas preparadas

pelo mesmo) conhecido como Akôògùn, ritual esse que transforma o sacerdote de

Õsanyìn, naquilo que ele e normalmente conhecido: Akô (homem) Oògùn

(medicina; magia) = HOMEM MEDICINA = Mago.

Mas o que vem a ser um Olóògùn, ou um homem medicina = Akôògùn?

É um sacerdote que recebeu corretamente suas iniciações dentro dessa

tradição (Õsanyìn) e passa também a ser conhecido como Ômô Àiyé. Para

entendermos melhor o que é um Omo Àiyé, temos antes que entender que entre o Õrun (Mundo Espiritual) e o Àiyé (Mundo Material), existe um espaço supra

sensível que converge com o Õrun e o Àiyé, habitado por energias e espíritos

poderosos como Èÿù, Ìyámi (Àjë), Oÿó, Êmêrê, Egúngún, Çgbë Worowo e todos os

Ajògún’s, e ao se transformar em um Ômô àiyé, o sacerdote em questão possui

plenas condições de evocar e manipular essas energias buscando restaurar a ordem e o equilíbrio de sua comunidade, afastar pestes e ate mesmo guerrear, quando se torna extremamente necessário, pois, como foi dito anteriormente, o

Olóògùn, por conhecer todas as possibilidades de seu sacerdócio, deve ser antes

de mais nada um homem de paz.

E as mulheres, até onde podem ir dentro desse Culto - Õsanyin?

Conheci em Akaka, na Nigéria, muitas mulheres que manipulavam Õsanyìn e

que passaram por todos os rituais, sendo conhecidas como Aboògùn ou Mulher

Medicina. Porem, sempre são anciãs, as mais velhas da comunidade e só iniciam

seu aprendizado mais elevado dentro dos segredos de Õsanyìn depois que seu

período menstrual chegou ao fim. Preconceito, machismo?

Claro que não, é sabido por todos, que a regra menstrual e um dos maiores

tabus dentro nossa religião, pelo fato da mesma fazer com que a mulher se

aproxime ao máximo da energia negativa de Ìyámi Àjë (Minha Mãe Feiticeira), e ao

encontrar-se nessa situação energética, como a mesma ao ser acordada a noite por

Õsanyìn, pode preparar uma medicina de cura, transformação ou prosperidade?

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Em uma de suas preces diárias o Olóògùn (Mago) começa saudando o Àiyé e

posteriormente algumas das energias que coexistem nessa maravilhosa dimensão:

Aiye mo júbà o! Aiye eu te saúdo! Eyin Iyami Eleye mejeje Iba o! A senhora dos pássaros eu te saúdo! Iya mi mo kan o emi ni omoaiye Iya mi eu te conheço, pois sou um omoaiye! Oso kelekeleija mo kan o, emi ni omoaiye! Feiticeiros eu vos conheço, pois sou um omoaiye! Emere mo kan wo emi ni omoaiye! Emere, eu te conheço, pois sou um omoaiye! Esu mo juba o, Esu ma se mi omo elomiran ni o se o! Iba Osanyin, Osanyin mo kan o emi ni omoaiye! Osanyin eu te saúdo, Osanyin eu te conheço pois sou um omoaiye! Kulukuluse e egungunmo kan o, egungun won a ni ki won o lo ile Osanyin! Egungun eu te conheço, todas as pessoas que vão ate a casa dos ancestrais, necessitam também ir ate Osanyin!

Logo, podemos concluir que ao possuirmos o verdadeiro conhecimento a

respeito da tradição do culto a Õsanyìn, encontraremos todas as respostas aos

nossos anseios, desejos e duvidas, dentro dessa própria tradição.

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Por Sérgio Borges - Olóògùn Oògùnladé (Bàbá Ifágbàmilà Olàifá

Odùyémi) Msn: [email protected]

Para concluir, gostaria de falar a respeito de um ìtàn (história do corpo

literário de Ifá), que é muito difundido por alguns Bàbálawo’s (Sacerdotes de

Õrúnmìlà-Ifá), ìtàn esse, que afirma ser o ÇBÔ – Sacrifício (filho de Õrúnmìlà),

muito mais eficaz que a OÒGÙN – Magia/medicina (filho de Õsanyìn). E novamente

afirmo, ao conhecermos Õsanyìn vemos que muitos tabus caem por terra, assim

como esse, defendido e muito pelos Bàbálawo’s.

Ewe ori igi koloilele! As folhas que ficam nas árvores! Bee ni tilele o lo ori igi! Tem mais utilização que as que ficam no chão! A difa fun Osaniware omo Osanyin! Foi feito a divinação a Osaniware, filho de Osanyin! Abu fun Ogunigbeyin ti nse omo Osanyin! E também a Ogunigbeyin filho de Osanyin! A difa fun Ojunmonle ti nse omo bibi inu Agbonniregun! E também foi feito uma divinação para Ojunmonle, filho de Orunmila! Ise Ari Ogunigbeyin kedere! Foi feito um Ise para Ogunigbeyin! Ari Ojumonlela iku! Ojunmole não verá mais a morte! Ari Ojunmolela iku! Ojunmole não verá mais a morte! Lailai ni isejogunlo jani ebo da!

Desde então, o Iseogunlo (trabalhos espirituais feito pelos Olóògùn’s ) se

tornaram mais eficazes que os Çbö’s (trabalhos espirituais realizados pelos Bàbálawo’s)!

E claro, jamais devemos defender a supremacia de uma divindade sobre a

outra ou de um Bàbálawo sobre um Olóògùn ou de um Olóògùn sobre um

Àwòl’òrìÿà, e sim, devemos compreender que todos os sacerdotes assim como

todas as divindades possuem importância impar dentro de nossa maravilhosa tradição.

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Folha do Mês

Òÿíbàtá - é quem supera as águas do rio e

também os inimigos

Nome Yorùbá = Òÿíbàtá. Nome Popular = Lótus, golfo, golfo de flor branca, golfo de flor

amarela, golfo de flor vermelha, golfo de flor lilás, vitória régia, rainha dos lagos, milho d’água.

Nome Científico = Nymphaea alba, Nymphaea rubra, Nymphaea caerulea, Nymphaea victoria,.

Òsíbàtá é uma folha feminina, de èrò (apaziguamento), ligada ao elemento

água, nasce na água (dentro, fundo) e se estabelece em sua superfície. É uma das folhas mais importantes e utilizadas dentro do culto (Candomblé e Culto

Africano), porém, a mesma deve sempre ser utilizada junto a Ojúoró (alface d’água, flor d’água, mururé). É ligada a Òsàlá (Obàtálá) e a todas as divindades

aquáticas, principalmente as femininas, como Òsun e Yèmowó (esposa de Òsàlá).

Existem muitas espécies de Òsíbàtá, com flores nas mais diversas cores,

mas seu significado litúrgico é o mesmo para todas as espécies...

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A mais conhecida de todas as

espécies é a Òsíbàtá—Vitória régia

(Nymphaea victoria), folha que muitos denominam Ewé Omi Ojú, mas na

verdade é uma espécie de Òsíbàtá, que é comum na região amazônica. Folha

arredondada que pode chegar a um diâmetro de até 2,5 metros e suportar

até 40 quilos sobre ela, dês de que bem

distribuídos.

Òsíbàtá é uma planta encontrada na Europa, Ásia, África e Américas.

Liturgicamente, a mesma é

utilizada em Igbèrè (ritos iniciáticos), através de Omièrò (banhos de

apaziguamento e purificação) e Àgbo (banho litúrgico composto por diversos

elementos de origem animal, vegetal e animal). É também utilizada na

sacralização de elementos utilizados nos ojúbo (assentamentos) Òrìsà. E em

magias (oògùn) para vencer inimigos.

Òsíbàtá é uma folha que apazigua Sàngó.

A de flor branca é utilizada na liturgia de Òsàlá, Yèmowó, Òsun e

Yèmoja. A de flor amarela é utilizada na

liturgia de Òsun, Olóògùn Ede e Erínlè. A de flor vermelha é utilizada na

liturgia de Oya, Obà e Ìyéwá. E a de flor lilás é utilizada na

liturgia de Nàná Bùkúù.

A verdadeira Òsíbàtá, é o Lótus (Nymphaea lotus), planta de origem

egípcia, rara e sagrada. Que na época

(do trafico escravista) da chegada dos africanos no Brasil, por esta folha ainda

não ter vindo para as Américas, foi substituída pelas espécies conhecidas

hoje...

As Òsíbàtá (Nymphaea) são folhas consideradas anafrodisíacas, ou seja,

possuem o poder de diminuir o libido sexual, esse é um dos motivos desta ser

utilizada dentro da reclusão iniciática, para tranqüilizar sexualmente o neófito

no período de reclusão. Sua raiz acalma o desejo sexual masculino e é capaz de

provocar o aborto nas mulheres. Mas a Òsíbàtá também pode ser

utilizada no combate as disenterias, diarréias e problemas de pele.

“Ojúoró ni nlékè Omi Àbá Òrìsa

Òsíbàtá ni nlékè Odò Àbá Òrìsà

Mo nlékè Òta Àbá Òrìsà

Mo nlékè segun abinuení Àbá Òrìsà

Ojúoró é quem supera a

água, Vontade de Òrìsà.

Òsíbàtá é quem supera o rio,

Vontade de Òrìsà. Eu quem supero os

Inimigos, Vontade de Òrìsà.

Eu quem vence os rivais, Vontade de Òrìsà.”

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà

T’Òsúmarè)

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Conta à história, que Zélio Fernandino de Moraes, nascido no dia 10 de abril de 1891, no distrito de São Gonçalo, RJ. Em fins de 1908, então com dezessete anos de idade, preparava-se para o ingresso na carreira militar, na Marinha do Brasil, quando foi acometido por uma inexplicável paralisia, que os médicos não conseguiam debelar. Certo dia ergueu-se no leito, declarando: "Amanhã estarei curado!”.

No dia seguinte, de fato, levantou-se normalmente e voltou a caminhar, como se nada lhe houvesse acontecido: os médicos não souberam explicar o ocorrido. Os seus tios, padres da Igreja Católica, surpreendidos, também não souberam explicar o fenômeno. Um amigo da família, então, sugeriu uma visita à Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro (então sediada em Niterói), presidida, no momento, por José

de Souza.

Aceitando o sugerido pelo amigo de sua família, Zélio dirige-se à Federação Espírita, ao chegar lá, no dia 15/11/1908, em um determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita, manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.

Devido à hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados

por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar.

No dia seguinte, dia 16 de novembro, as entidades começaram a atender na

residência de Zélio todos àqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade.

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Zélio foi o precursor de um "trabalho Umbandista Básico" (voltado à caridade assistencial, sem cobrança e sem fazer o mal e priorizando o bem), uma forma "básica de culto" (muito simples), mas aberta à junção das formas já existentes (ao próprio Candomblé dos cultos Nagôs e Bantus, que deram origem às religiões mais africanas - Umbanda Omolokô, Umbanda de Pretos-velhos; ou aquelas formas mais vinculadas à Doutrina Espírita - Umbanda Branca; ou aquelas formas oriundas da Pajelança do índio brasileiro - Umbanda de Caboclo; ou mesmo formas mescladas com o esoterismo de Papus - Gérard Anaclet Vincent Encausse, esoterismo teosófico de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), de Joseph Alexandre Saint-Yves d´Alveydre - Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática, (entre outras) que foram se mesclando e originando diversas correntes ou ramificações da Umbanda com suas próprias doutrinas, ritos, preceitos, cultura e características próprias dentro ou inerentes à prática de seus fundamentos.

Em 1918, por orientação da

mesma entidade espiritual (Caboclo das Sete Encruzilhadas), Zélio viria a fundar mais sete tendas de Umbanda.

Aos 55 anos, passou a direção da

Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade para as suas filhas Zélia de Moraes Lacerda (já falecida) e Zilméia de Moraes Cunha. Feito isso, fundou a Cabana de Pai Antônio, em Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro.

Para a tristeza de sua família e

dos vários adeptos desta recém criada religião brasileira, Zélio vem a falecer no dia 03 de outubro de 1975, aos 84 anos de idade. Mas de herança, deixa a todos nós essa MARAVILHOSA RELIGIÃO, TIPICAMENTE BRASILEIRA.

Por Hérick Lechinski

(Ejòtôlà T’Òÿúmarè)

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Saudoso Zélio Fernandino de Moraes

Entrevista do Mês

A falando de Axé deste mês, resolveu publicar esta entrevista feita com o saudoso Sr. Zélio Fernandino de Moraes — o Precursor da Umbanda, que foi realizada em Novembro de 1970 e publicada pela primeira vez como o 38º boletim da Tulef. O motivo de estarmos publicando essa entrevista, é para que os atuais Umbandistas possam fazer uma reflexão a respeito de como era a Umbanda de antes, aquela criada por Zélio e como é a de hoje e se perguntar, será que estamos no caminho certo???

Uma boa leitura e também uma ótima reflexão...

Com 82 anos de idade, este homem é considerado por um pequeno grupo de umbandistas "o fundador da Umbanda". Cabelos grisalhos, fisionomia serena e simples, Zélio de Moraes, através do seu guia espiritual, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, só sabe praticar o amor e a humildade. "- Na minha família, todos são da marinha: almirantes, comandantes, um capitão-de-mar-e-guerra... Só eu que não sou nada..." - comentava sorrindo Zélio de Moraes, aos amigos que o visitavam, nessa manhã ensolarada. E a repórter, antes mesmo de se apresentar, retrucou: "- Almirantes ilustres, capitães-de-mar-e-guerra há muitos; o médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, é um só". Levantando-se, Zélio de Moraes - magrinho, de estatura mediana, cabelos grisalhos, fisionomia serena e de uma simplicidade sem igual - acolheu-me, como se fôssemos velhos conhecidos.

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Nesse ambiente cordial, sentindo-me completamente à vontade, possuída de estranho bem-estar, esquecendo, quase, a minha função jornalística, iniciei uma palestra, que se prolongaria por várias horas, deixando-me uma impressão inesquecível. Perguntei-lhe como ocorrera a eclosão de sua mediunidade e de que forma se manifestara, pela primeira vez, o Caboclo das Sete Encruzilhadas. "- Eu estava paralítico, desenganado pelos médicos. Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse que no dia seguinte estaria curado. Isso a foi a 14 de novembro de 1908. Eu tinha 18 anos. No dia 15, amanheci bom. Meus pais eram católicos, mas, diante dessa cura inexplicável, resolveram levar-me à Federação Espírita de Niterói, cujo presidente era o Sr. José de Souza. Foi ele mesmo quem me chamou para que ocupasse um lugar à mesa de trabalhos, à sua direita. Senti-me deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores. E causei logo um pequeno tumulto. Sem saber porque em dado momento, eu disse: "Falta uma flor nesta mesa; vou buscá-la". E, apesar da advertência de que não me poderia afastar, levantei-me, fui ao jardim e voltei com uma flor que coloquei no centro da mesa. Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, verifiquei que os espíritos que se apresentavam ao videntes como índios e pretos, eram convidados a se afastar. Foi então que, impelido por uma força estranha, levantei-me outra vez e perguntei porque não se podiam manifestar esses espíritos que, embora de aspecto humilde, eram trabalhadores. Estabeleceu-se um debate e um dos videntes, tomando a palavra, indagou: - "O irmão é um padre jesuíta. Por que fala dessa maneira e qual é o seu nome?" Respondi sem querer: - "Amanhã estarei em casa deste aparelho, simbolizando a humildade e a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas". Minha família ficou apavorada. No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto, onde eu morava, no número 30. Parentes, desconhecidos, os tios, que eram sacerdotes católicos e quase todos os membros da Federação Espírita, naturalmente em busca de uma comprovação. O Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se, dando-nos a primeira sessão de Umbanda na forma em que, daí para frente, realizaria os seus trabalhos. Como primeira prova de sua presença, através do passe, curou um paralítico, entregando a conclusão da cura ao Preto Velho, Pai Antonio, que nesse mesmo dia se apresentou. Estava criada a primeira Tenda de Umbanda, com o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como a imagem de Maria ampara em seus braços o Filho, seria o amparo de todos os que a ela recorressem. O Caboclo determinou que as sessões seriam diárias; das 20 às 22 horas e o atendimento gratuito, obedecendo ao lema: "Daí de graça o que de graça recebestes". O uniforme totalmente branco e sapato tênis. Desse dia em diante, já ao amanhecer havia gente à porta, em busca de passes, cura e conselhos. Médiuns que não tinha a oportunidade de trabalhar espiritualmen¬te por só receberem entidades que se apresentavam como Caboclos e Pretos Velhos, passaram a cooperar nos trabalhos. Outros, considerados portadores de doenças mentais desconhecidas revela¬ram-se médiuns excepcionais, de incorporação e de transporte".

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Citando nomes e datas, com precisão extraordinária, Zélio de Moraes relata o que foram os primeiros anos de sua atividade mediúnica. Dez anos depois, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou a segunda fase de sua missão: a fundação de sete templos de Umbanda e, nas reuniões doutrinárias que realizava às quintas-feiras, foi destacando os médiuns que assumiriam a direção das novas tendas: a primeira, com o nome de Nossa Senhora da Conceição e, sucessivamente, Nossa Senhora da Guia, São Pedro, Santa Bárbara, São Jorge, Oxalá e São Jerônimo. "- Na época - prossegue Zélio - imperava a feitiçaria; trabalhava-se muito para o mal, através de objetos materiais, aves e animais sacrificados, tudo a preços elevadíssimos. Para combater esses trabalhos de magia negativa, o Caboclo trouxe outra entidade, o Orixá Malé, que destruía esses malefícios e curava obsedados. Ainda hoje isso existe: há quem trabalhe para fazer ou desfazer ou desmanchar feitiçarias, só para ganhar dinheiro. Mas eu digo: não há ninguém que possa contar que eu cobrei um tostão pelas curar que se realizavam em nossa casa; milhares de obsedados, encaminhados inclusive pelos médicos dos sanatórios de doentes mentais... E quando apresentavam ao Caboclo a relação desses enfermos, ele indicava os que poderiam ser curados espiritualmente; os outros dependiam de tratamentos material..." Perguntei então a Zélio, a sua opinião sobre o sacrifício de animais que alguns médiuns fazem na intenção dos Orixás. Zélio absteve-se de opinar, limitou-se a dizer: "- Os meus guias nunca mandaram sacrificar animais, nem permitiriam que se cobrasse um centavo pelos trabalhos efetuados. No Espiritismo não pode pensar em ganhar dinheiro; deve-se pensar em Deus e no preparo da vida futura." O Caboclo das Sete Encruzilhadas não adotava atabaques nem palmas para marcar o ritmo dos cânticos e nem objetos de adorno, como capacetes, cocares, etc. Quanto ao número de guias a ser usado pelo médium, Zélio opina:

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"- A guia deve ser feita de acordo com os protetores que se manifestam. Para o Preto Velho deve-se usar a guia de Preto Velho; para o Caboclo, a guia correspon¬dente ao Caboclo. É o bastante. Não há necessidade de carregar cinco ou dez guias no pescoço..." Considera o Exu um espírito trabalhador como os outros: "- O trabalho com os Exus requer muito cuidado. É fácil ao mau médium dar manifestação como Exu e ser, na realidade, um espírito atrasado, como acontece, também, na incorporação de Criança. Considero o Exu um espírito que foi despertado das trevas e, progredindo na escala evolutiva, trabalha em benefício dos necessitados. O Caboclo das Sete Encruzilhadas ensinava o que Exu é, como na polícia, o soldado. O chefe de polícia não prende o malfeitor; o delegado também não prende. Quem prende é o soldado que executa as ordens dos chefes. E o Exu é um espírito que se prontifica a fazer o bem, porque cada passo que dá em benefício de alguém é mais uma luz que adquire. Atrair o espírito atrasado que estiver obsedando e afastá-lo, é um dos seus trabalhos. E é assim que vai evoluindo. Torna-se portanto, um auxiliar do Orixá. Relembrando fatos passados em mais de meio século de atividade espiritualista, Zélio refere-se a centenas de tendas de Umbanda fundadas na Guanabara, em São Paulo, Estado do Rio, Minas, Espírito Santo, Rio Grande do Sul. A Federação de Umbanda do Brasil, hoje União Espiritista de Umbanda do Brasil, foi criada por determinação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a 26 de agosto de 1939. Da Tenda Nossa Senhora da Piedade saiam constantemente médiuns de capacidade comprovada, com a missão de dirigirem novos templos umbandistas; entre eles, José Meireles, na época deputado federal; José Álvares Pessoa, que deixou uma lembrança indelével de sua extraordinária cultura espiritualista; Martinho Mendes Ferreira, atual presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil; Carlos Monte de Almeida um dos diretores de culto da T.U.L.E.F.; João Severino Ramos, trabalhando ainda hoje, ativamente, inclusive na Assessoria de Culto do Conselho Nacional Deliberativo da Umbanda. Outros, fugindo às rígidas determinações de humildade e caridade do Caboclo das Sete Encruzilhadas, desvirtuaram normas do culto. Mas a Umbanda, preconizada através da mediunidade de Zélio de Moraes, difundiu-se extraordinariamente e hoje podemos encontrar suas características em tendas modestas e nos grandes templos, como o Caminheiros da Verdade e a Tenda Mirim, nos quais a orientação de João Carneiro de Almeida e Benjamin Figueiredo mantém elevado nível de espiritualidade, no Primado de Umbanda, uma das mais perfeitas entidades associativas da nossa Religião.

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Durante mais de cinqüenta anos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas dirigiu a Tenda Nossa Senhora da Piedade; após esse tempo, passou a direção à filha mais velha do médium, dona Zélia, aparelho do Caboclo Sete Flechas. Entretanto, Pai Antonio continua trabalhando, na cabana que tem o seu nome, localizada num sítio maravilhoso, em Cachoeiras de Macacu. O Caboclo manifesta-se ainda em datas especiais, como foi, por exemplo, o 63º aniversário daquela tenda.(nota entrevista feita em 1972) Da gravação feita durante a celebração festiva, reproduzimos para os leitores, o trecho final da mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas: "A Umbanda tem progredido e vai progredir muito ainda. É preciso haver sinceridade, amor de irmão para irmão, para que a vil moeda não venha a destruir o médium, que será mais tarde expulso, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. É preciso estar sempre de prevenção contra os obsessores, que podem atingir o médium. É preciso ter cuidado e haver moral, para que a Umbanda progrida e seja sempre uma Umbanda de humildade, amor e caridade. Essa é a nossa bandeira. Meus irmãos: sêde humildes, trazei amor no coração para que pela vossa mediunidade possa baixar um espírito superior; sempre afinados com a virtude que Jesus pregou na Terra, para que venha buscar socorro em vossas casas de caridade, todo o Brasil... Tenho uma coisa a vos pedir: "Se Jesus veio ao planeta Terra na humilde manjedoura, não foi por acaso, não. Foi o Pai que assim o determinou.Que o nascimento de Jesus, o espírito que viria traçar à humanidade o caminho de obter a paz, saúde e felicidade, a humildade em que ele baixou neste planeta, a estrela que iluminou aquele estábulo, sirva para vós, iluminando vossos espíritos, retirando os escuros da maldade por pensamento, por ações; que Deus perdoe tudo o que tiverdes feito ou as maldades que podeis haver pensado, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos espíritos que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados e a saúde para sempre em vossa matéria. Com o meu voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e serei sempre o humilde CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS" Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada - Outubro de 2008 Autor: Atila Nunes Filho Baseado em: Gira da Umbanda, ano 1 - numero 1 - 1972 Autor: Lília Ribeiro, Lucy e Creuza

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Pretos Velhos - Ancestrais que nos ensinam a

Humildade

Pai Antônio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de Umbanda,

em seu médium Zélio Fernandino de Morais, onde se esta­be­leceu a Tenda Nossa

Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta "linha" para nossa religião, introduzindo o

uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.

O "Preto-velho" está ligado à cultura religiosa Afro-Brasileira em geral e à

Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião Umbandista este termo

identifica um dos elementos for­madores de sua liturgia, representa uma "linha de

trabalho", uma "falange de espíritos", todo um grupo de mentores espirituais que se

apresentam como negros anciões, ex-escravos, conhecedores dos Orixás Africanos.

São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e coletivas,

que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja, são simplesmente

pretos e pretas velhas como Pai João e Vó Maria, por exemplo.

Milhares de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho desper­

sonalizado do elemento individual valorizando o elemento coletivo identificado pelo

termo genérico "preto-velho". Muitos até dizem "nem tão preto e nem tão velho" ainda

assim "preto velho fulano de tal". A falta de informação é a mãe do preconceito, e, no

caso do "preto-velho", muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de

origem africana desconhecem valor do "preto-velho" dentro das mesmas.

Preto é Cor e Negro é Raça, logo o ter­mo "preto-velho" torna-se característico e

com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso

amplo e irrestrito seria "Negro Velho", "Negro Ancião" ou ainda "Negro de idade

avançada" para identificar o homem da raça negra que encontra-se já na "terceira

idade" (a melhor idade). Por conta disso alguns sentem-se desconfortáveis em utilizar

um termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um amável senhor

negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de

homem sofrido, que na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a

liberdade do espírito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura

de nossos Orixás, vindo ao encontro da imagem e resignação de nosso senhor Jesus

Cristo.

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Alguns preferem chamá-los apenas de "Pais Velhos" o que é bonito ao ressaltar

a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho.

São eles que souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de

caráter, mais um motivo de orgulho em se auto-afirmar "nêgo véio" e ex-escravo;

talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos que em qualquer

situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a

oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.

O "preto-velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia

umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos se identificam e

muitos outros que não foram escravos, nesta condição, assim se apresentam também

em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no astral.

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Texto de Alexandre Cumino Jornal de Umbanda Sagrada jornalumbandasagrada.blogspot.com

No imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns formadores de opinião, a imagem do "preto-velho" pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam "com estas coisas" pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo e a humildade. Não existe uma Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim única e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é Umbanda e assim é com os "Preto-velhos", todos fazem o bem sem olhar a quem, caso con­trário não é de fato um "preto-velho", pode ser alguém disfarçado de "velho-negro", o "preto velho" trabalha única e exclusivamente para a caridade espiritual. São espíritos que se apresentam des­ta forma e que sabem que em essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o "mistério ancião", pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva. Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e "preto-velho" fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouvi-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a palavra "Atotô", saudação a Obaluayê que quer dizer exatamente isso: "silêncio". Nas culturas antigas o "velho" era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas man­têm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa história pode ir buscar, tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda. Muitos já estão fora do ciclo re-encarnatório, estão libertos do karma, já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho evolutivo. Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos es­cravos nós os saudamos: "Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluaiê, Atotô meu Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buruquê, Saluba Nanã!" Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo...

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Santo do Mês

No dia 26 de julho comemoramos Santa Ana, que no sincretismo religioso Afro-

brasileiro é considerada Nanã (Nàná Bùkúù). Mas é importante deixar claro que, Nàná é Nàná e Sant‟ana é Sant‟ana.

Santa Ana ou Sant'Ana (do latim Anna, por sua vez

do hebraico transliterado Hannah, "Graça") foi mãe de Maria, a mãe de Jesus Cristo.

Os dados biográficos que sabemos sobre os pais de Maria foram legados

pelo Proto-Evangelho de Tiago, obra citada em diversos estudos dos padres da Igreja

Oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa.

Sant'Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do

sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi. Seu

marido, São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter

filhos. Mas Sant‟Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São

Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe

apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, algum

tempo depois Sant‟Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a

esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de

Jesus.

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Eram residentes em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se

ergue a Basílica de Santana; e aí, num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-

lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa "Senhora da

Luz", passado para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de

Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.

Pelo texto Caverna dos Tesouros, atribuído a Efrém da Síria, Ana (Hannâ) era

filha de Pâkôdh e seu marido se chamava Yônâkhîr. Yônâkhîr e Jacó eram filhos

de Matã e Sabhrath. Jacó foi o pai de José, desta forma, José e Maria eram primos.

A devoção aos pais de Maria é muito antiga no Oriente, onde foram cultuados

desde os primeiros séculos de nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no

ocidente, o culto de Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710, suas

relíquias foram levadas da Terra Santa para Constantinopla, donde foram distribuídas

para muitas igrejas do ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant‟Ana,

em Düren, Renânia, Alemanha. Seu culto foi tornando-se muito popular na Idade

Média, especialmente na Alemanha. Em 1378, o Papa Urbano IV oficializou seu culto.

Em1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant‟Ana em 26 de Julho, e

o Papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja, em 1879.Em França, o culto da Mãe

de Maria teve um impulso extraordinário depois das aparições da santa em Auray,

em 1623.

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Tendo sido São Joaquim comemorado, inicialmente, em dia diverso ao de

Sant‟Ana, o Papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos

pais de Maria, mãe de Jesus.

Santa Ana é padroeira de diversos municípios do Rio Grande do Norte. E

suas festas mais conhecidas e famosas, são realizadas nas Cidades de Caicó (que

teve a Festa Religiosa em Homenagem a Santa Ana realizada todo dia 26 de julho,

tombada como patrimônio imaterial do Brasil pelo IPHAN, em 2010) e Currais

Novos.

Santa Ana também é bastante cultuada pelos Umbandistas e por uma

pequena quantidade de Candomblecistas, que a sincretizam com uma das mais

antigas e respeitadas divindades africanas – Nanã Bukú (a vovó). Por isso, todo

dia 26 de julho Nanã é cultuada nos Templos (Terreiros, Casas, Tendas) de

Umbanda. Rogando-se saúde, paz e vida longa.

“São flores Nanã, são flores;

São flores Nanã Burukê. São flores Nanã, são flores; Para o seu filho Obaluaiê. A Senhora Sant‟ana é Nanã Burukê. A Senhora Sant‟ana é Nanã Burukê.”

Salve Nossa Senhora Sant‟ana e Saravá Nanã...

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Oração à Santa Ana

Senhora Santa Ana, fostes chamada por Deus a colaborar na salvação do mundo. Seguindo os caminhos da Providência Divina, recebestes São Joaquim por esposo. Deste vosso matrimônio, vivido em santidade, nasceu Maria Santíssima, que seria a Mãe de Jesus Cristo. Formando Vós família tão santa, confiantes nós pedimos por esta nossa família. Alcançai-nos a todos as graças de Deus: aos Pais deste lar, que vivam na Santidade do matrimônio e formem seus filhos segundo o Evangelho; aos Filhos desta casa, que cresçam em sabedoria, graça e santidade e encontrem a vocação a que Deus os chamou. E a Todos nós, Pais e Filhos, alcançai-nos a alegria de viver fielmente na Igreja de Cristo, guiados sempre pelo Espírito Santo, para que um dia após as alegrias e sofrimentos desta vida, mereçamos também nós chegar à casa do Pai, onde vos possamos encontrar, para juntos sermos eternamente felizes, no Cristo, pelo Espírito Santo.

Amém.

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“Raça Negra”

Negros e afro-descendentes brasileiros comemoram todos os anos no dia 13 de maio

mais um aniversário da abolição da escravatura. Foi quando a Princesa Isabel assinou a carta da Lei Áurea, em 1.888. Mas esse é um “aniversário” a ser revisto e repensado, pois os negros brasileiros depois de sua libertação não tiveram muito o que comemorar.

Pois de início, foram cruelmente retirados de sua terra mãe, foram trazidos para um

lugar onde nunca imaginariam estar, literalmente arrastados e forçados a trabalhar. E, quando começaram a chegar os imigrantes europeus, os negros ficaram praticamente fora do mercado de trabalho por não ter mão de obra capacitada. Foram torturados, abusados,

mortos, enganados, vendidos como mercadorias nas prateleiras, suas famílias foram separadas.

Há uma lista vasta de atrocidades cometidas contra essas pessoas, contra esses seres

humanos de pele negra, que foram subjugados com todo o aval da Igreja Católica, que

muito se utilizou da mão de obra escrava, e que depois de 3 séculos escreveu uma carta com um pedido formal de desculpas, por ter permitido tantos crimes, com tantas pessoas

durante muito tempo, como se isso atenuasse alguma coisa. Pode-se dizer, que a raça negra sobreviveu e sobrevive da persistência em encarar a

vida e todos os tipos de preconceito, como o das suas religiões, suas danças, sua comida, seu cabelo, seu tom de pele, seus ritos... A persistência em querer vencer e se superar num

mundo que não se diz preconceituoso, mas que criou cotas para concursos e vestibulares. Persistência maior em mostrar sua capacidade quando não usa desses recursos para conseguir seus objetivos. Persistente em viver num mundo onde pesquisas recentes

apontam maior mortalidade de negros e afro-descendentes por causas externas, como crimes por assassinatos. E onde pesquisas também apontam salários bem menores por

causa da cor da pele.

Somos persistentes sim. Temos orgulho do que somos, por mais que sejamos quase

pretos, ou quase brancos. Somos o que somos. Negros. Pretos. Mulatos. Loiros. Não

importa.

O importante é que descendemos de uma raça, de um povo que foi trazido amarrado, viveu humilhado, morreu como indigente, mas que deu o suor, o sangue e a força de seus

músculos e muitas de suas lágrimas para erguer esse lugar que todos chamam de nação.

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Esse pode até parecer um discurso vitimalista, mas em toda a história desse

Brasil, não teve quem mais sofresse e morresse por esse país. Tomo minhas as “Palavras do Poeta Negro”, a coragem de João Cândido, o “Dragão do mar”, que mesmo depois de ter feito a revolta por não aceitar as condições que lhe eram impostas e sua classe ser

beneficiada, somente neste século foi lhe prestada uma decente homenagem. E que até esse momento, tinha por monumento, as pedras pisadas no cais.

Me aproprio também do vigor, esperança e alegria de todos os nossos

antepassados, da garra que temos hoje para ultrapassar muros virtuais que se levantam

diante de nós todos os dias, onde os tijolinhos desses muros são os olhares tortos de desconfiança e outros sentimentos que nos fariam desistir dos nossos objetivos. Fariam.

Me aposso também da ginga da capoeira para driblar todos aqueles que torcem

contra nós por racismo puro e simples. Vamos nos livrar das correntes e amarras

imaginárias que nos prendem a preconceitos próprios e alheios. Também das mordaças que nos impedem de gritar para defender nossos direitos de cidadãos e o devido respeito

a nós. Sou brasileira e não desisto nunca.

Sou negra, tenho garra, tenho força, tenho axé, tenho esperança, tenho orgulho,

sou brasileira e não desisto nunca. Nunca.

Liberdade!

Gisele Francisca Gomes, negra, mulher e professora. Paranaguá-PR.

Homenagem da Revista Falando de Axé à

Comunidade do Orkut — No Bico da Baiana Pela sua trajetória na divulgação da Religiosidade Afro-brasileira e pela sua luta

contra a falta de respeito e desvalorização dos Cultos Afro-brasileiros...

Ìyálóòrìsà Ceiça D’Oya, Bàbálóòrìsà Fernando D’Òsàlá e Bàbálóòrìsà Jògúnsílé

D’Ògún, Parabéns...

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A Ética e a Moral dentro da Cultura e

Religiosidade Africana

Ao contrário do que muitos pensam, a ética e a moral são de importância substancial no pensamento e na vida dos africanos, que são baseadas nos costumes, em leis tradicionais, tabus e tradições de cada um dos povos da África. Deus é visto como o derradeiro sancionador e sustentador da moralidade. O relacionamento humano pelo parentesco e vizinhança é extremamente importante e a ética e moral tradicionais são c o n s t r u í d a s , l a r g a m e n t e , a t r a v é s d a s r e l a ç õ e s h u m a n a s . Moralidade pode ser resumida, em Yorùbá, pela palavra Ìwà - caráter. Os Akan de Gana chamam o caráter de Suban. Caráter é a essência da ética africana e sobre ele se estabelece a vida de uma pessoa. Deus exige que o homem seja puro eticamente. Deus é o buscador de corações, que a tudo vê e sabe e cujo julgamento é correto e inevitável. Deus julga os homens por seu comportamento aqui e agora, bem como no porvir. Dessa forma a paz na vida após a morte é decidida de acordo com a moral exercida, pelo ser humano, sobre a terra. Mau comportamento pode destruir o destino de uma pessoa, enquanto bom caráter é uma armadura suficiente contra o mal e a desgraça. Os costumes regulam o que deve e o que não deve ser feito. De acordo com Mbiti: "Roubar, agredir as pessoas, mostrar desrespeito aos mais velhos, mentir, praticar feitiçaria, dormir com a mulher de alguém, matar, caluniar as pessoas e assim por diante são consideradas grandes ofensas, que podem ser severamente punidas pela sociedade através do degredo, indenização, pagamento de multas, espancamento, apedrejamento e até mesmo a morte. Por outro lado, a bondade, a cortesia, a generosidade, a hospitalidade, o respeito, a diligência, a frugalidade e o trabalho duro são aspectos da moral ensinadas às crianças em várias comunidade africanas, como princípio básico de vida." (Mbiti, John. Introduction to African Religion. London:Heinemann. Os Yorùbá e, na verdade, os africanos têm a moralidade como a essência que torna a vida alegre e agradável. Para os Yorùbá, segundo Bólájí Ìdòwú, o bom caráter (ìwà rere) deve ser a mola mestra na vida das pessoas. De fato é isso que distingue o ser humano dos animais. Quando os Yorùbá dizem de alguém = o şe Ènìyàn (os atos da pessoa), querem dizer que ela se comporta como deve, ou seja, ela mostra que sua vida e suas relações com os outros são regrados pelas suas melhores características.

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A descrição contrária = kìí şe ènìyàn, n şe lof’awon ènìyàn bora (Ele não é uma pessoa, ele assumiu a pele de uma pessoa). Isso significa que a pessoa é socialmente indigna; em conseqüência de sua característica, não está apta a ser chamada de pessoa, embora tenha a aparência de uma. Em geral, deve-se dar ênfase a que Deus, as divindades e os antepassados requerem um bom comportamento dos seres humanos. Mas podemos perguntar por que as pessoas que seguem a Religião Tradicional Africana, assim como os seguidores de outras religiões (cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo etc), praticam atos imorais? A resposta é simples: hoje, muitas pessoas professam uma determinada religião, porém deixam de agir de acordo com os princípios e os ditames dessa mesma religião, que é a principal causa para os atos de corrupção, violação dos Direitos Humanos, péssimas práticas eleitorais, etnicismo, bem como outras práticas imorais e aéticas. No entanto, esses problemas não são insuperáveis, basta que as pessoas façam valer aquilo que aprenderam e unam a religião à moralidade, que são coisas indissociáveis. Um adágio Yorùbá diz: Ìwà l’èsìn, Èsìn ni Ìwà (religião é uma exibição de moralidade, moralidade é o maior ato de adoração). Por isso é que os adeptos das diversas religiões devem saber e acatar que nossos atos de adoração só se tornarão dignos e significativos ao Criador, se eles forem acompanhados pela ética e pela moral.

Texto de Mário Filho Revisado e Adaptado por Wemerson T’Sàngó

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Carolina de Jesus

Personalidades Negras

Cidade de São Paulo. Ano de 1958. Favela do Canindé, na Marginal Tietê. Lá morava Carolina de Jesus. Negra, mãe solteira, de origem muito pobre e semi-alfabetizada ela saiu do interior de Minas (em 1947) para fazer a vida na "cidade da esperança".

Filha de negros, Carolina de Jesus

nasceu em Sacramento, Estado de Minas Gerais. De família pobre, a intelectual brasileira contou com a proteção de Maria Leite Monteiro de Barros, que patrocinou seus estudos. Célebre intérprete lírica brasileira, Carolina foi também escritora e tem em sua obra um importante referencial para os estudos culturais no Brasil e no mundo.

Por meio de sua escrita de

contestação, Carolina revela a importância do testemunho como meio de denúncia sociopolítica de uma cultura hegemônica que exclui. Sua obra mais conhecida é “Quarto de despejo”, que resgata e delata uma face da vida cultural brasileira no início da modernização da cidade de São Paulo e do surgimento de suas favelas.

Sua obra, que é considerada a

literatura das vozes subalternas, inspirou diversas expressões artísticas, como a letra do samba Quarto de despejo, de B. Lobo; o texto em debate no livro “Eu te arrespondo”, Carolina, de Herculano Neves; a adaptação teatral de Edy Lima e o filme Despertar de um sonho, realizado pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista.

Ela morreu pobre e esquecida

em 1977, com 62 anos.

PARCERIA

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Intolerância religiosa e

Homofobia podem estar levando

religiosos à morte em Manaus

A Comunidade Tradicional de Terreiro da Cidade de Manaus alerta para a possibilidade de haver uma relação entre três assassinatos, com requinte de crueldade, de três Pais-de-santo, de diferentes nações, nos últimos quatro meses em Manaus. As mortes ocorreram no período de março a junho deste ano e estão sendo atribuídas, ainda, pela Comunidade à intolerância religiosa e à homofobia. Há a preocupação de que a seqüência de ocorrências pode desencadear uma onda de a t a q u e s e h o m i c í d i o s e m s é r i e . Em um documento oficial, a Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia (CARMA) está solicitando o acompanhamento dos inquéritos e processos dos assassinatos pela Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR) e da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça. O coordenador-geral da CARMA, Alberto Jorge Rodrigues da Silva, denuncia, no documento, a crescente banalização e descaso por parte das autoridades policiais e do Judiciário, nos casos de crimes que envolvem pessoas pertencentes ao Povo Tradicional de Terreiro e a grupos homossexuais. Tais crimes, segundo Alberto, são geralmente atribuídos ao fato das vítimas pertencerem a esses dois segmentos e vistos sempre como se elas (as vítimas) estivessem sempre colhendo os frutos de suas escolhas sexuais e religiosas. Segundo o coordenador, além de protocolar o documento denunciando a situação junto ao Ministério Público Federal (MPF), as entidades que compõem a Carma, em Manaus, pretendem também agendar uma audiência com o senador Paulo Paim (PT-RS), buscando levar a público nacionalmente os casos de morte em seqüência na cidade. Ele citou o exemplo recente de uma tentativa de homicídio - no último sábado - na rua 16, na comunidade Vale do Sinai, Zona Norte. Por serem as vítimas „macumbeiras‟ e „gays‟ caem no rol do silêncio e do esquecimento como foram os casos dos assassinatos dos Babalorixás Ruy de Xangô e Navarro da Preta Mina. “Até hoje não se tem notícias dos assassinos nem dos processos”, afirmou. Alberto Jorge alerta ainda para os incentivos diretos e indiretos aos vários tipos de intolerância, tão presentes nos sermões e pregações em ambientes públicos e p r i v a d o s .

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“Exigimos respeito, atenção e medidas legais cabíveis tanto da sociedade como um todo quanto das autoridades competentes”, afirma Alberto Jorge, citando casos de programas de televisão utilizados para incitar o ódio racial e a intolerância religiosa. “Não dá para aceitar isso. Todos os dias têm relatos como esse e sabemos que o substrato da homofobia e intolerância tem um tronco religioso. Não adianta dizer que não, haja vista os casos seguidos de três pais-de-santo mortos (ver cronologia) em quatro meses e mais uma tentativa de homicídio”, afirmou. C R O N O L O G I A Março/2011 – Durante o Carnaval, o Pai-de-santo Alberto Cecigenan, 83, foi assassinado, segundo a polícia por estrangulamento. Por ter idade avançada, a vítima tinha dificuldade de locomoção. Mesmo assim, continuava fazendo só trabalhos em sua residência no Conjunto Cidadão 12 na Zona Norte Maio/2011 – O Pai-de-santo Marcelo Santos Aguiar, 44, foi executado com golpes de terçado na madrugada do domingo (1°) e, depois, enterrado no buraco da fossa da privada que existe nos fundas da casa onde morava, com cerca de um metro de profundidade. O crime ocorreu na rua 1° de Maio, bairro do Nova Vitória, Zona Leste de Manaus, local onde também funcionava o terreiro de Umbanda do Babalorixá. Junho/2011 – O Babalorixá João Gomes da Silva Neto, 48, foi encontrado morto com sinais de espancamento, dentro da casa, na rua Moisés, comunidade Alfredo Nascimento, Zona Norte. Conforme a polícia o corpo da vítima foi estava em estado avançado de decomposição. Ele pode ter sido morto no domingo. O corpo de João estava despido e com a cabeça esmagada, provavelmente, por uma pedra, além de várias perfurações no tórax e abdômen. Segundo a polícia, na casa da vítima havia sinais de ele travou luta corporal com o assassino. Junho/2011 – O terreiro Eira de Mina Nagô de Mãe Nonata Corrêa, na rua 4, casa 16, Jardim Primavera, Zona Norte de Manaus, foi assaltado por dois homens armados com revolveres, no dia de Corpus Christi, as 13 horas, deixando ferido por coronhadas Francisco Vasconcelos Filho. O detalhe mais intrigante é que os assaltantes não levaram nada de valor, mesmo tendo a vista, celulares e dinheiro. Julho/2011 – Um industriário, embriagado, entra no terreiro do Pai-de-santo Marcelo dos Reis, armado com terçado e foice, na comunidade do Vale do Sinai, Zona Norte, tendo sido preso em flagrante.

Texto de Júlio Pedrosa Jornal A Crítica

Manaus—Amazonas

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“Conheça a Umbanda -

J. Edison Orphanake. Editora Pindorama.”

Livro do Mês “Conheça a Umbanda” é uma das

magníficas obras de J. Edson Orphanake.

Autor que com maestria, dignidade e sabedoria fala sobre Umbanda. Uma

Umbanda verdadeira e não essas “novidades” que temos visto hoje em dia.

J. Edison em seu livros não tenta

codificar nada, simplesmente ensina

Umbanda como ela é, com sua simplicidade e resposta.

Um livro didático, de fácil

entendimento aos noviços e de grandes esclarecimentos aqueles que já

pertencem a está maravilhosa religião chamada Umbanda.

Este livro complementa o anterior

do autor, intitulado "A Umbanda às suas ordens", mas de modo paralelo, sem

dependência um do outro. Faz considerações sobre a Umbanda,

mediunidade, Guias, ritos, pontos,

p a s s e s , m i s t i f i c a ç ã o , doutrinação,fanatismo, crendices e muito

mais. Leia você também...

Altera a Lei no 9.394, de 20

de dezembro de 1996,

modificada pela Lei . 10.639,

de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional,

para incluir no currículo

oficial da rede de ensino a

obrigatoriedade da temática

“História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena”.

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