Richard Foxe
Verdana Verdannis
Maria Cândida Vieira
Maria Ventania
OS MAIS BELOS
DUETOS
© 2019
MAIS ARDENTE QUE AS LAVAS DO VESÚVIO
Sozinha a esperar-te nas periódicas estações
o longo inverno de frio úmido e trepidante
congelava intencionalmente minhas emoções
trazendo martírio na noite escura e dominante.
A tosca, pálida saudade entorpecia a esperança
obstinadamente a tanger em teia eletrizante
subitamente com impetuosidade minha alma lança
da alegria cósmica, a magia vermelha abrasante.
(Verdana Verdannis)
O inverno a regelar a majestade
do bem que vence o monstro do egoismo:
- secou-se o invejoso cetisismo
de quem do amor negava a divindade.
Sublime esse triunfo de magia
mais ardente que as lavas do Vesúvio:
- mondando a sua alma com o eflúvio
a mágoa maligna se esvaía.
(Richard Foxe)
DIVINAS PERSPECTIVAS
Diante de portentosa beleza
Estava eu, a vislumbrar uma obra magistral
Na qual os impressionistas captavam tão natural
A luminosidade, cor e sombra da distinta natureza
Mãos preciosas que faziam dançar o pincel
E os olhos trilhavam nas nuances cor de mel
Na mente, uma guirlanda de honorável mestre
Que na arte investe e sobretudo estarrece
A brancura dos preciosos lírios
Flutuando em águas sóbrias e claras
É uma vitória, que grita mundo afora, em delírio
Trazendo à tona um talento, com fundamento
Vertiginosa era a sensação diante das flores
E nessa clima primaveril, elegeu seu destino varonil
Monet, ascende e sua fama provocando rumores
Que a pitoresca tela dentre milhões, é a mais bela
(Verdana Verdannis)
Uma tela brilhando na memória
ofuscando do sol tanto esplendor,
e qual ninfa em vestes de vapor
até a aurora inunda com sua glória.
Suas cores parece que estão vivas,
rutilantes que nem penas de pavão:
-fica deslumbrado o aquático tritão
perante tão divinas perspectivas.
Bendito sempre seja o grande artista
que com pincel, tinta e paleta
à vida deu mais vida o seu pintar.
Ah, se o cego pudesse ter a vista
uma só olhada o tornaria poeta
e feliz mergulharia no colorido mar.
(Richard Foxe)
PRIMAVERA EM COR
Linda primavera em cor
Nesse dia aromal de belas rosas
O sol cintila como astro imperador
Espalhando pompa nas plagas virtuosas
No ruído dos pássaros, sibilante e pausado
Escorrem águas do riacho concentrado
É dia claro, repleto de campos de amor
Transbordando sinfonia e faíscas em primor
Eu me apaixono ao ver no céu a serenidade
E não me esquivo, por sentir-me desejosa
Calada dentro de um corpo, mora a saudade
Emigrada nessa alma harmoniosa
Na natureza de beleza refletida
Encontro a paz, renascendo em cada vida
No líquido extenso, de encontro ao firmamento
Mergulho os sonhos, que rebentam em sentimentos
(Verdana Verdannis)
Gorjeiam os nuelos em seus ninhos
no ar brando que enternece o coração
e entre as pétalas se mostra uma feição
de ninfa nata dos zéfiros marinhos.
Esse é o tempo melhor da nossa vida
onde o pôr-do-sol numa tardinha
se alegra com o canto da andorinha
distante muito tempo de sua ida.
Mas quando o astro-rei perder seu cetro
e a morna luz ficar mais cupa e fria
o calmo ocaso tornará-se tetro,
e a juventude que era tida eterna,
feita estrela de clara luz vazia
se mudará em velhice áspera e erma.
(Richard Foxe)
ODE AO CHOCOLATE
Transportado nos armados galeões
-mais precioso que o ouro dos Astecas-
foi à base de inúmeras criações
pra vencer a pior das enxaquecas.
Não adianta resistir à tentação
desse fruto que crescia no paraíso:
sua fragrância derrete o coração
do guloso tirando-lhe o juízo.
Ceda, então! E sem falsos pudores
a sua boca de sabor faça uma orgia
compensando desse mundo seus horrores,
mas defenda a nossa Terra do distrate
e a preserve divulgando a ecologia
pois só nela é que existe o chocolate!
(Richard Foxe)
No delírio augusto do prazer
O ouro se faz branco a derreter
O sonho de valsa ao entardecer
Aquece a alma, sem pecado perceber.
Há talento para inúmeros desejos
O seu prestígio, não se nega e se deixa conceber
Degustar apetitoso, irresistível como beijo
Chocolate quente, doce, viciante entorpecer.
Negro como a noite, sem astros definidos
É um diamante em papel laminado
Regalo para os olhos, conflagrando os sentidos
Delicia refinada, pelo mundo ofertado;
Lindas caixas embelezam essa doçura
Derretido amargo, ou adocicado
A calda pura cujo perfume é uma tortura
De tentação e sedução mesclado
(Verdana Verdannis)
ASSIM SERÁ DEPOIS DA NOSSA MORTE
Aqui não me castiga a chuva fria do inverno
e nem gritos ecoam de demônios arrogantes
cujas ordens pavorosas em hediondo caderno
são cinza de cinzas de vanglórias distantes.
Irão findar-se as eras sem meu sono turbar,
igual bonança de lago em remoto planeta
que em vão barcos estranhos cobiçam navegar
enquanto espelha a luz dum plácido cometa.
Brados e lamúrias da multidão furente,
para o meu rosto já sem vida e sem feição
nada serão se não borrasca evanescente
qual zéfiro que sopra em noite de verão.
Mais não me fere o caminhar do tempo,
mas esse corpo em pó que deixou de palpitar
preferiria sangrar até sem lenimento
se pelo menos uma vez pudesse amar.
Rogo aos amigos que ao ler esse poema
lembrem de mim com um gesto de ternura:
-ponham do sol, de seu fúlgido diadema,
uma réstia a amornar tão silente sepultura.
(Richard Foxe)
Serei alma que buscará a luz do infinito
Transitando em campos azuis, me vejo a louvar
Em túneis reluzentes nas mãos de anjos benditos
Magnânimos pensamentos irão me purificar
O quanto valerá ter tocado em solo terrestre?
Que traz na atmosfera o amargo veneno
Da maçã mordida em desejo incontido
Fragmentando inconteste, o elo prometido
Estarei do outro lado, acima das estrelas
Na leveza da poética transcendente e singela
Levando nesse espírito estilhaços da lua
Que ao avistar-me hialina, cintilará contínua
A imortalidade excelsa em mim reinará
Serei tudo, que ao nada a terra nunca ofereceu
Na concepção da dimensão desse grande apogeu
Estarei evoluída, onde a paz cobiçada nunca findará
(Verdana Verdannis)
MAR SIBILINO
O mar que aflige a alma ao marinheiro
-que relembra da família já distante-
emana da saudade um acre cheiro
quando o amado se separa de sua amante.
Não tudo é esplendoroso no oceano
e onde roçam as asas do albatroz
esconde a correnteza um triste engano:
-o da esfinge enigmista e mui feroz.
Onde foram os navios desventurados
nesta lama virente de sargaços?
e o que foi dos mil sonhos estivados
nos veleiros que viraram estilhaços?
Insepulto jaz o nobre encouraçado
atingido pelos rápidos torpedos
e seu sino que badala inda dourado
narra mesto aos navegantes seus segredos.
Lá no fundo vagam sombras de afogados
multidão que a luz no pélago perdeu:
-feito espectros vis e inconformados
clamam silentes a piedade de Morfeu.
(Richard Foxe)
Foi nas ondas da imensidão brilhante
Que considerei a realidade intrigante
Misteriosa me parecia a história
Das águas verdes intrépida na memória.
No fundo do mar de tamanho incalculável
O frio é cortante envolto em escuridão
Os segredos, eu desnudo desse reino indomável
Aventuro-me sem receios, espírito em mansidão.
Há o peixe, que também é pescador
Na fronte a luz atraindo o alimento
Habitante voraz, esse espantoso predador
Navega sozinho cobiçando seu intento.
Criaturas fantásticas, talvez surreais
Em desfile oceânico, corpo escamado
Listras azuis, lilás ou alaranjado
Olhos de cristais, parecem imortais.
Observar esse deslumbre ao entardecer
Traz uma sensação divina, de só querer viver
Fazendo poesia com rimas fulgentes
Inspirada no bailar da vagas incandescentes.
(Verdana Verdannis)
MOBY DICK
Um astro vai seguindo, com cega obstinação,
e na estiva o Pequod altivo baunilha e mirra
não carrega. O valente capitão, bravo de birra,
e seus intrépidos demônios armados com arpão,
sedentos são de óleo, sangue e aventura
(hesitantes estão perante a silente majestade
do leviatão, da sua estranha olímpica beldade).
De tarde o astro-rei vira opaca pedra obscura:
-range o forte mastro dobrado pelos ventos
enquanto a proa grava fugazes arabescos
nas tímidas maretas e fogem os grotescos
narvais soltando seus lúgubres lamentos.
Aves marinhas, com assombrosos gritos,
olham das nuvens os remadores sanguinários:
-pobres almas pressentindo os súbitos sudários...
de algas e líquens serão feitos seus vestidos.
Furiosos os blasfemos afundam gélidos punhais
lampejantes no imenso e severo símbolo divino,
mas Moby Dick, germano do albatroz e do destino,
na horrenda foz precipita os insolentes mortais.
Volta a espuma a recobrir o antigo manto arcano,
glauca alegoria da força inenarrável do Absoluto:
-não ouse profanar -o caçador perverso e bruto-
o império transcendente do místico Oceano!
(Richard Foxe)
Cortando o imenso oceano azul,
Parte o navio baleeiro, chefiado
Pelo misterioso capitão Ahab,
que quer Moby Dick enfrentar.
Todos os pobres e valentes homens
Acostumados aos perigos do mar,
Serão convencidos pelo capitão a
Uma terrível baleia branca caçar.
Ismael, Queequeg e tantos outros
Querem apenas se aventurar,
Mas desconhecem que um louco
Quer uma vingança consumar.
Quem é Moby Dick, o imponente
E terrível cachalote cuja bela
E deslumbrante cor branca
Vem nossos olhos fascinar?
Será ela o Leviatã, um demônio,
Ou a força implacável da natureza
Que ninguém deveria ousar desafiar?
Por que dela Ahab quer se vingar?
Ahab conduz os homens que, hipnotizados,
Por sua insensatez se deixam fascinar,
E não ouvem Starbuck, que tenta alertá-los
De que um maníaco os está a comandar.
(Maria Cândida Vieira)
O EGITO, BERÇO DE HIPÁCIA
Deslumbrante foi a ciência dos Egípcios
inventores da divina geometria
que as pirâmides -admiráveis edifícios-
levantaram com requintes de ousadia.
Lá Pitágoras, sedento de saber,
foi buscar solução pro seu problema
e dos sábios não foi fácil receber
o famoso -do triângulo- teorema.
Os Hebreus que no Leste se gabavam
de seus dez importantes fundamentos
com certeza da Maat inda ignoravam
os cinquenta notáveis mandamentos.
Aquenáton, renomado faraó,
ab-rogou o vazio politeísmo
dando ao povo um único xodó
mensageiro dum novo misticismo.
Mas num dia de arrogante decadência,
um prelado que bradava com falácia
tão rancor criou contra a sapiência
que a seu mando foi queimada a culta Hipácia.
(Richard Foxe)
Terra fértil à beira do Nilo
Que no tom escarlate das areias quentes
A morte tomba em escuro sigilo
Na clara riqueza das pérolas ardentes.
Faraós, divindades sem imortalidade
Reinando absolutos envoltos em conquistas
Escorre o sangue no brado da impiedade
Nasce a eminente civilização politeísta.
Cabeças de animais em corpos humanos
Assim representados os deuses adorados
Ámon deus dos deuses e não seria desumano
Deus mitológico, homem ou animal ornamentado...
Renovação em Osiris se fazia evidente
Mesclou fertilidade sem buscar eternidade
Vitima do infortúnio de um desejo latente
Maculando a honra de um próximo parente.
Egito, berço de uma grande figura
Rainha Cleópatra, entre safiras, rubis e diamantes
Mais importante do que ouro que fulgura
Não foge da cobra, de picada lancinante.
(Verdana Verdannis)
O TRÁGICO FIM DE POMPEIA E HERCULANO
Tranquilos pastores chegaram lá um dia
com flautas e armentos, e os viticultores
aos numes fizeram oblatas de flores
ignaros ainda da pérfida insídia.
Tão manso era o morro de nome Vesúvio,
agreste seara de vinhas brilhantes:
-artistas, poetas e jovens amantes
chamava -dos bosques- um plácido eflúvio.
Mui rica a cidade de nome Pompeia
tão bela de templos, de praças e ornatos,
mas poucos dão fé aos obscuros boatos
enquanto –debaixo- a lava serpeia.
Inquieto é da terra o contínuo tremor
(as fontes não jorram mais água nenhuma):
-no cume do monte aparece uma bruma
que inspira na turba um silente temor.
Se espalha o terror duma negra coluna
que imenso ciclope as nuvens alcança:
-do céu vai descendo, qual trágica dança,
de pedras a chuva, de cinzas a bruma.
Escapam os jovens das pernas esbeltas
por sendas cobertas por metros de pomes;
em vão de seus pais eles clamam os nomes:
-tragados já foram por ondas revoltas!
Os bairros noturnos são infernos dantescos
varridos sem fim pelos fluxos ardentes:
-os poucos que restam ‘tão mais do que cientes
que as rezas não passam de atos grotescos.
Aplaca-se enfim a violenta erupção...
A amorfa mortalha encobre a cidade
e aonde reinava a afabilidade
é antro pra sempre do negro escorpião.
(Richard Foxe)
Uma cidade com vestígios de natureza defensiva
Após uma vitória torna-se atraente e popular
A mitologia romana, o deus Hércules a originar
Herculano, com suas muralhas deflagra compassiva.
Situada em uma localização apaixonante
Imponente cenário entre o mar e o Vesúvio
Não distante de uma armadilha dilacerante
Enterro sem compaixão, entre cinzas sem dilúvio.
A fúria descomunal de um vulcão incandescente
Impiedosas lavas afogueadas sem deixar descendente
Traga cruelmente a lendária localidade, num rebento
Onde jaz corpos romanos, sob uma cápsula do tempo.
A mensagem de Rectina ao grande autor romano
Que o leva a zarpar sem hesitar, e tentar resgatar
Pessoas aflitas, em solo ardente, subumano
Tornando-se vítima atestada e Rectina sem proclamar.
Das cinzas renasce hoje, Erculano, lugar inviolado
Em contraste com as ruínas, casas decoradas com afrescos
Instigante e apaixonante, tornou-se lugar vivo e pitoresco
Diferentes das soturnas lembranças, de séculos passados.
(Verdana Verdannis)
A GRANDE MUDANÇA CLIMÁTICA
Quão soturnos os invernos no Norte
sem a neve alegrando a paisagem
e das plantas da negra ramagem
quase exala um presságio de morte.
Sufocante é na Europa o verão
sem aragem abrandando a quentura:
-tudo em volta expressa a tristura
de um planeta mudando a feição.
Só os otários parecem não ver
quanto o clima mudou de repente:
-nas espiras dessa rude serpente
Natureza não pode viver.
Mas se engana quem culpa o CO dois
(subproduto do metabolismo),
e é somente por ideologismo
que dá nomes errados aos bois.
Os ingênuos, tais quais marionetes,
obedecem a modas insanas
e em falanges bastante profanas
o bom senso destroem feito aríetes.
Desconhecem que em eras remotas
-sem a presença de algum poluente-
nossa Terra já foi bem mais quente
e suas causas permanecem ignotas?
(Richard Foxe)
Terra, planeta azul de atmosfera gasosa e turbulenta,
Vastas florestas onde o céu repousa em todas as estações,
Na imensidão dos verdes mares há calmaria ou tormenta
Ausência de chuvas nos desertos e escassez de vegetações.
Aumento da temperatura afeta este globo colossal
Atividades humanas provocando inaceitáveis desatinos
Desmatamentos, queimadas, poluição aceleram desgaste ambiental,
Torpe consciência degradando veloz todos os destinos.
Descontrole climático pela impactante destruição florestal
Trazendo redução de céus pluviais que amenizam o calor
Ganância, comercialização de madeira uma ação ilegal
Permeando as negociações nas chamas de um ato saqueador.
Solo, água e luz, trinômio formado ao longo do tempo,
Fonte de estudos, sobre o poder medicinal de ervas naturais
Não preservado provocará no futuro indesejável contratempo
Por atitudes indevidas que provocam efetivos danos materiais.
Desastrosas implicações envolvem negligências constantes
Águas dos oceanos elevadas. Quão grande enxurrada!
Própria para consumo, água pouco será encontrada. Haverá vida integrante?
Aridez diante do desequilíbrio ecológico, uma catástrofe disseminada.
(Verdana Verdannis)
OS MONSTROS DO SÉCULO XX
Um turvo sorriso atrás dos bigodes,
intrigas urdindo contra seus camaradas
que ignaros de tantas terríveis ciladas
ainda obedecem igual plácidos bodes.
Caem todos nas garras da polícia secreta
que os leva vendados na cupa masmorra,
ninguém sai indene da penosa Gomorra:
-a hedionda tortura seus destinos decreta.
Um anjo maligno suas asas estende
e a URSS abalada, singela e devota,
a voz do bom senso rejeita e boicota:
-de um monstro sangrento agora depende.
O Gulag engole milhões de inocentes
jogados na gélida tundra sem fim,
caindo prostrados e exangues enfim
seus corpos sem vida nas neves lucentes.
Os filhos apontam os pais como espiões
e um torpe terror pela Rússia se expande:
-a lista dos mortos se torna tão grande
que tremem de medo até os escorpiões! [1]
Pra sempre se lembrem os probos leitores
dos crimes abjetos de Stalin e Béria [2]
que desde a Polônia até a extrema Sibéria
evocam tragédias, flagelos e horrores.
(Richard Foxe)
Adolph- controverso e carismático líder,
Orador brilhante, agressivo e sagaz.
Chanceler tornou-se e depois ditador,
Seu nome maldito na história ficou!
Sonhava Hitler a primazia do Reich,
Pela "Raça Pura"- perseguição ordenou
Exterminando etnias de forma cruel.
Assassino genocida, servindo ao mal,
De judeus e ciganos -inferno real!
Holocausto, Grande Consumação.
"Porajmos" [3] Cigano, aniquilado o clã.
Minorias dizimadas, vida inumana.
Imposição absurda em perversos atos,
Pesquisa e ciência de crueldade insana:
Impetraram um fim no tempo de paz,
Repúdio do mundo: -Nazismo jamais!
Ditador odioso com hordas abjetas,
Possuía ele psicopatias secretas.
Os iguais que sumam da Terra, afinal.
Para findar sanha eterna do mal!
(Maria Ventania)
NOTAS:
[1] Os “escorpiões” eram os membros da NKDV, a polícia secreta de Stalin; eles
também sofreram expurgos sangrentos.
[2] Lavrenti Béria foi o mais temido chefe da NKDV e o autor do massacre de Katyn
no qual mais de 22 mil oficiais e intelectuais poloneses foram assassinados.
[3] Porajmos é um termo cunhado pelo povo cigano para descrever a tentativa do
regime nazista de exterminar este grupo étnico da Europa Central.
A SUBLIME ARTE DE CECÍLIA MEIRELES E DE FLORBELA ESPANCA
Quando a noite mais escura se fazia
encontrei de Cecília um lindo verso
que buscando o Absoluto no universo
transmutava o sofrimento em harmonia.
Se de Krishna –idealmente- foi uma filha
foi de Gandhi ferrenha admiradora;
do planeta cidadã e moradora,
foi mistura de pélago e de ilha.
Rosa das ondas e da fugaz espuma
cantava o mar com rimas de sereia
e lia na leveza da precária areia
a vã vaidade da volúvel pluma.
Conformada, foi na vida de passagem
atravessando a escuridade feito vento,
descobrindo seu sublime lenimento
nos livros Vedas da mística mensagem.
Cedo foi-se essa esplêndida figura
da paz amiga e dos seres diminutos:
-seus versos pelo mundo são arautos
de amor e resiliência à desventura.
(Richard Foxe)
Oh, poesia! Fascinante exaltar de pensamentos
Exultação na alma que não acalma até expressar
As alegrias finitas e os indesejados lamentos
Que machucam a essência enrubescida de tanto amar.
Nesse universo de amor, saudade, solidão e sofrimento,
Florbela Espanca viveu entre sonhos e realidade, um apogeu
A princesa do conto, a poetisa que rebuscava o entendimento
Arfante entre amores, melancolia e na dor que nem sempre doeu.
Permeados de encantamentos são seus eméritos versos
Retocados por luas presenciando uma tristeza imensa
Lastimosos seus olhos pousados nesse universo
Também vislumbraram a felicidade de paixões intensas.
No palpitar desse coração poético de imensuráveis emoções
Transbordaram inspirações vibrantes e o desejo de ser feliz
Refinava o deleite de ter o domínio em suas composições
Sobre a plácida ideia por vezes desfazer um momento infeliz.
Jovem e nostálgica ausentou-se dessa vida terrena
Deslizando entre as estrelas que figuravam em seu poetar
Imortal seu nome reflete em cada constelação serena
Venerável autora de obras poéticas, que fazem leitores devanear.
(Verdana Verdannis)
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Ninguém se esquecerá de Saraievo
quando, num brando dia de primavera,
um extremista atirando feito fera
nos chefes despertou ódio primevo.
A guerra –diziam- será gloriosa e breve:
—bandeiras coloridas, épicas batalhas
e os combatentes, cobertos de medalhas,
voltarão para suas casas antes da neve.
Mas dura foi a realdade da trincheira:
—na fria lama a esperança sucumbia
e cada peão diariamente percebia
da morte a sua presença corriqueira.
Os ataques eram só carnificina
com avanços de apenas poucos passos:
—os infantes morriam dentro dos fossos
asfixiados pelas bombas de toxina.
Quatro anos durou tanta matança
com a queda final de quatro impérios,
e no mundo que se encheu de cemitérios
a espanhola dominou, trágica herança.
(Richard Foxe)
A humanidade busca por um mundo sem conflitos,
—que trazem total destruição fome e miséria
—um sofrimento atroz difícil de ser descrito,
declínio surreal de nações, exiguidade de matéria.
Ideias revolucinárias povoam mentes inquietas
acelerando o desejo feroz de domínio absoluto,
expansionismo de regime cruel foi causa direta
da guerra deixando mais de setenta países de luto.
Números absurdos de vidas humanas perdidas,
destruição de cidades e empregos dissolvidos,
ações dilacerantes e desumanas em contrapartida,
o mundo dividido em dois grupos para os envolvidos.
Que não haja mais uma ação química ou bélica
—e o estímulo profundo por laços emocionais
reacenda a chama da paz por ora uma ideia cética
trazendo a luminosidade do céu sem vestes abissais.
Ah, natureza delire em cânticos junto à lua,
em noites trazendo dias de compaixão e leveza
ostentando a estrela Vega que no espaço flutua
refletida nas águas em ascensão de líquida pureza.
(Verdana Verdannis)
A TERRA DOS MEUS SONHOS
A luz que tanto busco nessa vida
foge de mim qual elfo despiedado
e o coração deserto e descorado
lamenta uma quimera dissolvida.
O que há além do mar tão misterioso,
dos vagalhões cavalgados pelo vento?
Tudo adormece nesse líquido elemento
e até o Eterno permanece silencioso.
Mas há uma terra que eclode quando sonho:
- uma ilha perfumada e transcendente
cuja costa vislumbro no ocidente
de um âmnio translúcido e risonho.
Beija os meus lábios a sua brisa suave
junto ao aroma que vem das laranjeiras,
e as meninas que cantam nas videiras
da eterna juventude têm a chave.
Se é na noite que meu alento ponho,
- o anseio mais profundo dessa mente -
será apenas devaneio de demente
ou sinal de que o além se vê no sonho?
(Richard Foxe)
Sob o sacro horizonte um mundo de paz,
cujo sentido da vida na luz decifrado,
vertendo em cores que a tristeza desfaz,
devastando o adverso no ar infiltrado.
O sonho em vida de claríssimas visões
da natureza divina tocando o espírito
intacta na sua beleza, liberta de vilões,
contagiando o dia com bucólicos ritos.
A humanidade livre de todos os grilhões,
em cada ser pensante a propagação do amor
numa sociedade com justíssimas percepções,
onde não haverá preconeitos, sequer uma dor.
Sorrisos em rostos — jamais contingentes,
livres de julgamentos, violência ou opressão,
que não haja desamor nem palavras descontestes:
a existência será plena de alegria e paixão.
Planejamento urbano desacelerando a rotina;
passos dados em distâncias curtas e atraentes,
da cidade ao campo um despertar de adrenalina
entre belos monumentos e jardins refulgentes.
(Verdana Verdannis)
OURO: O METAL DOS DEUSES
Não se pode expressar em pobres versos
o esplendor do metal mais cobiçado
que no tempo foi sempre acumulado
pelos homens mais nobres ou perversos.
Quem tem ouro será sempre benquisto,
bajulado pela sonsa freguesia
e cooptado pela alta burguesia
(que estimava o famoso Montecristo).
Cada canto do planeta foi explorado
da florésta até o árido deserto
e a esperança deixava boquiaberto
quem zarpava em busca do Eldorado.
Tempestades afundaram galeões
carregados com lingotes cintilantes
que perdidos pelos ásperos meliantes...
são recreio pros débeis camarões.
E de Klimt as telas deslumbrantes
são do ouro a perfeita apoteose:
- com as cores em magnífica simbiose
glorificam o triunfo dos amantes. [*]
(Richard Foxe)
Ouro metal precioso, brilho e beleza na cor,
raridade da natureza na terra em pepitas ou grãos,
na profundeza dos oceanos também há seu fulgor,
produção íntima e prazerosa em mãos de artesãos.
Há milênios, valioso elemento pelo homem descoberto
— os sarcófagos das múmias dos faraós do Egito,
exibem incríveis imagens com dourado recobertos:
barcos sagrados de ouro maciço, um politeísta rito.
Irrefutavelmente útil e naturalmente maleável
transformado em lâminas excelente condutor de calor,
as joias preciosas, pois é quimicamente estável,
são fabricadas com esmero, regalo aos olhos do comprador.
Uma aventura épica há quarenta anos em solo íntimo,
um garimpo ao ar livre à procura dessa preciosidade,
em uma década rendeu toneladas e agora nem ínfimo,
restou uma profunda cratera por mercúrio contaminada.
O metal passa a ser poético quando entra nos campos,
luminoso ouro dos girassóis, que adormece ao toque da lua,
— para despertar em fogo derretido pelo livre tempo,
quando o dia ascende com olhos vermelhos e alma nua.
(Verdana Verdannis)
[*] Alusão ao quadro "O Beijo" realizado pelo pintor simbolista austríaco Gustav
Klimt em 1907, no qual o artista utilizou tintas e ouro. "O Beijo" é tido como um dos
quadros mais valiosos do mundo.
CONTEMPLANDO O INFINITO
Nossa frágil natureza de mortais
fomentou desde sempre o pensamento
de quem -com raciocínio ou sentimento-
procurava além do fim novos portais.
Plotino, que do Uno foi ideador,
defendeu o absoluto transcedente
e com esse conceito contundente
dos teólogos antigos foi o mentor.
Ramanujan, matemático hinduísta,
desvendou do infinito seus enigmas
e com belos e ardidos paradigmas
à sabença ofereceu outra conquista.
Mais sublimes ainda nesses temas
são os grandes poetas sonhadores
aos quais somos totalmente devedores
da quietude que vem de seus poemas,
mas quando minh’alma desejo sublimar
contemplo as galáxias levitando no infinito:
- rendo-me ao espaço mágico e irrestrito
“e o naufragar me é doce nesse mar.” [*]
(Richard Foxe)
O ser humano inquieto busca incessantemente
novas sintonias, num forte desejo de percepção,
com sutis energias que agem silenciosamente,
tocando realidades alcançando etérea visão.
Impulsos divergentes afloram na mente pensante,
despertando célere para realidades que transcendem
– o espaço físico entre céu e terra ressonante,
plano evolutivo de almas que vibrações desprendem.
Nesse excêntrico universo de acordes diversos
a música da vida entra em confluência distinta,
com o silêncio recatado dos pensamentos imersos
buscando sintonia cósmica que a fantasia requinta.
Os segredos de mundos invisíveis sonhados e desejados
inflamam o espírito que acena ao cosmo com o olhar,
em busca da luz que desvenda mistérios, ricos legados
que se desfazem ao longo das reflexões a divagar.
Infinito sumo, no qual movem-se os dias em plena calma,
– faz-se-á sol dentro de cada essência deslumbrada,
pois na vida interior sempre haverá um toque que acalma,
– ou um exacerbado intuito de indagação redobrada.
(Verdana Verdannis)
[*] Verso final do poema “O Infinito” do poeta italiano Giacomo Leopardi (1798-
1837).
DA ESCRAVIDÃO À EMANCIPAÇÃO
Angustiada uma mãe lá na senzala
lastima em noite baça e tenebrosa
o filho vendido, enquanto – receosa -
outra cativa a sua criança embala.
Paz não encontra a crioula adolescente
cobiçada pelo dono de seu corpo:
- quem não cede à libido desse porco
castigada é por ele duramente.
Já cansados estão os negros da chibata,
dos arbítrios dos brancos sem piedade
e recusam essa insana propriedade
embrenhando-se em quilombos bem na mata.
Mas aos poucos vai crescendo a resistência
e são lidos os poemas do profeta
Castro Alves, queridíssimo poeta,
que em seus versos censura a prepotência.
Todo o povo aclama agora a abolição
e o ato nobre da Maçonaria (*)
que comprando cem mil cartas de alforria
antecipa o fim dessa opressão.
Sinto muito, vaidosa sinhazinha,
se ninguém vai alisar seu penteado:
- negro algum será mais chicoteado,
e a sua escrava – agora - é a sua vizinha!
(Richard Foxe)
Raça negra sofrida, apartada de sua nação...
trazia no peito o martírio da saudade sem alívio,
confessada em gritos e prantos até em oração,
um verdadeiro castigo, sem da família o convívio.
Porões de navios negreiros com cenário abissal
muitos morriam de banzo, fome ou maus-tratos
incontáveis eram vendidos para trabalho braçal
triste sina de açoites e outros impiedosos atos.
Rebelião era fato, na luta contra dor e reclusão
os dias eram tormentos, nas noites grandes lamentos;
olhares lânguidos suplicavam autonomia e proteção,
mas senhores de engenho só lhes traziam sofrimentos.
Benditas pessoas abraçaram essa grave causa...
tendo como símbolo uma singela camélia branca, (**)
o movimento abolicionista fortaleceu-se sem pausa
a sociedade em defesa da extinção dessa prática.
Longo foi o caminho para a abolição da escravatura,
mas a luta foi vitoriosa com a lei Áurea sancionada,
num ato de nobreza, princesa Isabel pôs fim à desventura
libertando um povo subjugado para uma vida imaculada.
(Verdana Verdannis)
(*) Era uma prática comum o empenho da Maçonaria junto à libertação de escravos
através da compra de alforrias; o número exato não é conhecido e cem mil é uma
licença poética.
(**) Nos grandes centros do país, a camélia branca tornou-se um símbolo de adesão
ao abolicionismo. As pessoas que cultivavam a flor em suas casas ou ainda todos que
portavam um broche de camélia branca na roupa revelavam total apoio ao
abolicionismo.