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Sociedade e Cultura
Roseane de Aguiar Lisboa Narciso
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Roseane de Aguiar Lisboa Narciso
SOCIEDADE E CULTURA
Belo HorizonteNovembro de 2013
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COPYRIGHT 2014
GRUPO NIMA EDUCAOTodos os direitos reservados ao:
Grupo nima Educao
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EdioGrupo nima Educao
DiretoriaPedro Luiz Pinto da Cunha
Coordenao e Desenvolvimento de Novos Produtos EaDCludia Silveira da Cunha
Coordenao de Produo de MateriaisPatrcia Ferreira Alves
Equipe EaD
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CONHEA A AUTORA
Roseane de Aguiar Lisboa Narciso
graduada em Cincias Sociais pela
UFMG, especialista em Psicodrama pelo
Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob
Levy Moreno, mestre em Sociologia das
Organizaes pela UFMG e doutora em
Cincias Sociais pela PUC Minas.
Profissionalmente, atua h 15 anos em
vrias reas. consultora organizacional,
professora no ensino superior e
coordenadora de projetos de extenso
universitria com foco em sustentabilidade
e responsabilidade social.
Bons estudos!
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APRESENTAO DA DISCIPLINA
Estudar a sociedade em que
vivemos uma tarefa complexa,
mas, ao mesmo tempo,
encantadora. Nesta disciplina iremos
percorrer os caminhos que levaram
compreenso da vida em grupo e
analisar a vida em sociedade.
Existem formas de vida diferenciadas
na Terra, assim como diferentes formas
de interao. Uma colmia de abelhas
exemplifica uma forma de vida que,
embora seja diferente da nossa, tambm
se baseia em regularidades que ordenam
a vida em grupo. Cada espcie desenvolve
uma forma prpria de convivncia, pois
no vivemos sozinhos: precisamos do
outro para alcanar objetivos tanto de
sobrevivncia quanto de continuidade da
vida. Portanto, vivemos em sociedade!
A sociedade se transforma, se modifica
e no permanece com padres nicos de
comportamento e valores. Nesse sentido,
ns tambm mudamos e nos adaptamos
s transformaes sociais. Voc j
observou como o mundo contemporneo
passa por profundas transformaes?
E no so somente transformaes
tecnolgicas, passamos tambm por
mudanas de comportamento: os valores
se modificam e, consequentemente, a
relao entre indivduos e entre indivduo
e sociedade tambm se altera.
Torna-se imperativo refletir sobre as
consequncias dessas mudanas
na sociedade, e a Sociologia emerge
como possibilidade de aprofundar
as reflexes sobre esse contexto.
Nossa disciplina, Cultura e Sociedade,
prope conduzir essas reflexes
a partir do entendimento da vida em
sociedade e de suas formas de interao.
Voc perceber que a Sociologia
promove a formao de uma conscincia
crtica e um conhecimento mais
sistemtico a respeito dos problemas
e questes relacionados vida cotidiana.
Caminharemos em direo ao
conhecimento e ao entendimento de
conceitos sociolgicos, suas aplicaes na
vida social e nos diferentes grupos sociais.
Veremos os principais temas relacionados
ao pensamento dos clssicos da Sociologia
(Durkheim, Marx e Weber), conhece
remos o objeto e o papel da Sociologia e sua
importncia para o entendimento da vida
em sociedade.
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UNIDADE 1 003Introduo 004Das formas bsicas de sociedade sociedade ps-industrial 005O nascimento da sociologia 008O desenvolvimento do pensamento sociolgico 013A sociologia positiva de Auguste Comte 017Reviso 020
UNIDADE 2 021 mile Durkheim e a sociologia 022mile Durkheim: a especificidade do objeto sociolgico 023Solidariedade social e o indivduo sob a tica de mile Durkheim 029Diviso do trabalho, anomia, solidariedade mecnica e orgnica 030Reviso 036
UNIDADE 3 037O mtodo de anlise de Karl Marx 038O materialismo histrico 041Produo e reproduo 043Classes e estrutura social 045A revoluo marxista 047Reviso 051
UNIDADE 4 052 Max Weber: relaes sociais e dominao 053Max Weber: ao social e relao social 055Dominao e racionalidade 060Burocracia 064Reviso 069
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5678
UNIDADE 5 070Transformaes no mundo do trabalho e nas organizaes 071O trabalho na economia contempornea 073Grupos e organizaes 080Estrutura das organizaes 083Reviso 088
UNIDADE 6 089 Desigualdade Racial e tnica 090 Raa e etnia: Significados sociais 093 Padres de interao tnica e racial 098 Afrodescedncia: Aspectos da cultura brasileira 101 Reviso 104
UNIDADE 7 107 Responsabilidade social, sustentabilidade e desafios contemporneos 108Enfoque dos stakeholders, responsabilidade social e sustentabilidade 110Responsabilidade social nas organizaes 117 Reviso 121
UNIDADE 8 122 A relao indivduo-sociedade na teoria social contempornea 123 Identidade e mudanas sociais 124 Sociologia e os meios de comunicao de massa 130 Reviso 138
REFERNCIAS 140
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1UNIDADE
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unidade 1004
SOCIEDADE E CULTURA
INTRODUO CINCIA DA SOCIEDADE
Certamente voc j observou quantas mudanas tm ocorrido em nossa sociedade e como elas modificam nosso modo de viver. Mas voc j parou para pensar que essas mudanas no so de agora? So mudanas histricas que marcam nossa sociedade por conflitos, tenses e divises sociais. Ficam ento algumas perguntas:
como chegamos at aqui? Qual rumo nossa sociedade tomar?
FIGURA 1 - A evoluo das idades
Fonte: DANTAS, 2011, [Online].
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unidade 1005
SOCIEDADE E CULTURA
Como a imagem demonstra, as mudanas
ocorrem num processo histrico e
trazem consequncias diversas para o
nosso modo de viver. Ser que estamos
preparados e/ou adaptados para tantas
modificaes?
Comearemos, nesta unidade, a
abordar tais mudanas e suas
consequncias. Convido voc a
percorrer tempos e lugares distantes,
numa aventura intelectual que retoma
sociedades pr-modernas e passa
pelo desenvolvimento das formas de
agrupamento social para chegarmos
at o mundo contemporneo, com suas
transformaes e modo de vida.
Para esta viagem, coloque em sua
bagagem um pouco de imaginao:
a imaginao sociolgica, que
permite enxergar eventos diversos que
refletem questes muito amplas. Essa
imaginao definida por C. Wright
Mills como a capacidade de olhar as
coisas de uma forma diferente daquela a
que estamos acostumados. Significa ter
uma viso mais ampla, olhar por trs
dos bastidores (BERGER, 1986, p.45).
Ela nos ajudar a compreender os fatos
e acontecimentos e a perceber suas
consequncias para nossa vida prtica.
Alm disso, possibilitar novas formas
de atuao diante das mudanas pelas
quais passamos.
DAS FORMAS BSICAS DE SOCIEDADE SOCIEDADE PS-INDUSTRIAL
A sociedade passou por uma evoluo
sociocultural em que predominou a relao
do indivduo com o desenvolvimento
tecnolgico. Essa evoluo vem desde
os tipos bsicos de sociedade, que
conheceremos aqui e que nos ajudaro
a compreender a histria humana e a
evoluo da sociedade (DIAS, 2005).
As formas bsicas de sociedade existiram
antes do industrialismo moderno.
Inicialmente, havia a sociedade caadora
e coletora, que se sustentava pela caa,
pesca e coleta de plantas comestveis
disponveis na natureza. Em algumas
partes do mundo, ainda existe esse tipo
de sociedade, mas a maioria foi destruda
ou absorvida pela expanso da cultura
ocidental (GIDDENS, 2005).
FIGURA 2 - Colheita
Fonte: Acervo Institucional.
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unidade 1006
SOCIEDADE E CULTURA
Os povos caadores e coletores estabeleciam uma relao com a riqueza material muito
diferente da que ns temos: poucos se interessavam em desenvolver esse tipo de riqueza,
pois o foco se mantinha simplesmente no que necessitavam para seu sustento imediato, ou
seja, para suprir suas necessidades bsicas. Os valores religiosos eram mais importantes e,
por isso, os rituais e cerimnias ocupavam lugar de destaque em sua cultura.
Um aspecto interessante e bem diferente de nossa organizao social a diviso de
atividades e posies: quase sempre os homens eram os caadores e as mulheres cuidavam
da coleta de plantas e alimentos, alm de cuidar da esfera domstica. Os homens tambm
dominavam as posies pblicas e cerimoniais.
Fonte: Acervo Institucional
Segundo nos informa Dias (2005), at aproximadamente 10 mil anos atrs, todos os seres
humanos eram caadores e coletores, mas existem ainda hoje, por exemplo, algumas tribos
indgenas isoladas em nosso pas. Alguns grupos caadores e coletores passaram a criar
animais domsticos e cultivar terras como forma de se sustentarem. Trata-se da transio
para as sociedades pastoris e agrrias.
FIGURA 3 - Funes das mulheres na esfera domstica
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unidade 1007
SOCIEDADE E CULTURA
O homem deixa ento de ser nmade
e as primeiras aldeias aparecem com
uma estrutura social mais complexa. As
sociedades agrrias se desenvolveram
com o uso de tecnologias como o arado, a
roda, os sistemas de irrigao, a escrita, a
metalurgia e os nmeros, que significaram
uma revoluo no modo de viver.
J as sociedades pastoris surgiram
quando os primeiros homens comearam
a produzir alimento atravs do cultivo de
plantas, utilizando ferramentas de mo, e
tambm desenvolveram o pastoreio com
animais domesticados. As sociedades
agrrias so tambm conhecidas como
civilizaes no industriais ou sociedades
tradicionais e perduraram at o sculo XIX
(GIDDENS, 2005).
Eram civilizaes baseadas na agricultura,
que concentravam o comrcio e a
manufatura em algumas cidades.
FIGURA 4 - Irrigao
Fonte: Acervo Institucional
Fonte: Acervo Institucional
FIGURA 5 - Preparo da terra para o plantio
Essas sociedades, que eram fundamentadas no desenvolvimento
das cidades, revelavam desigualdades pronunciadas de riqueza e poder e
estavam associadas ao governo de reis e imperadores (GIDDENS, 2005, p.47)
Essas formas de sociedade dominaram
o mundo at dois sculos atrs. Por
meio de vrios processos histricos, foi
desenvolvida e organizada a sociedade
industrial. Com a Revoluo Industrial,
houve uma modificao na estrutura da
sociedade, e as tarefas executadas pelo
homem passaram a ser executadas por
mquinas de forma mais rpida e com
um custo menor. Como consequncia,
as mudanas aconteceram de forma
ainda mais rpida, e os valores
tradicionais, crenas e costumes foram
tambm alterados.
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unidade 1008
SOCIEDADE E CULTURA
A populao migrou para as cidades, houve
a especializao profissional e as sociedades
se tornaram mais complexas. Se nas
sociedades primitivas a famlia tinha grande
importncia, nas sociedades industriais,
ela perdeu sua importncia e apareceu sob
formas diferenciadas (DIAS, 2005).
E no parou por a! Chegamos at a
sociedade ps-industrial, que muitos
autores denominam como a sociedade
do conhecimento ou era da informao,
pois ela produto das tecnologias que tm
se desenvolvido pelo uso de dispositivos
diversos que aplicam e disseminam a
informao.
Mas por que estamos percorrendo esse
caminho? Porque nosso destino nesta
unidade conhecer e entender o surgimento
da Sociologia como forma de compreender
a vida em sociedade, e ela possui estreita
relao com essas mudanas e com a
industrializao. Vamos continuar? Agora
vamos percorrer diferentes pocas da
histria da humanidade, nas quais houve
mudanas no pensar e no agir do indivduo
em sociedade.
O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA
Vrios acontecimentos histricos
tiveram papel decisivo no processo
de desenvolvimento da sociedade. E,
historicamente, aprendemos que a partir
do sculo XV que os conceitos sobre
o mundo foram se alterando. Foram
acontecimentos que ultrapassaram sculos
e que anunciaram uma nova era na histria
da humanidade. Foram mudanas de vrias
ordens, a exemplo da expanso da atividade
martima comercial e das cidades.
Entre os sculos V e XV, na Europa,
ocorreram vrias mudanas, como a
expanso martima e comercial. Para saber
um pouco sobre elas, precisamos ir at o
perodo medieval, em que a identidade
das pessoas era baseada no cl e na
propriedade fundiria. Alm disso, eram a
nobreza e a igreja que detinham o saber
e que determinavam a forma como as
pessoas deviam viver.
Com o fim da Idade Mdia, a propriedade
fundiria acabou e, com ela, os cls, o que
modificou a identidade do sujeito social, que
passa a se identificar com a nao e a ter
uma conduta individualista. Isso significa
que as pessoas deixam de se identificar com
a propriedade ou com seu cl e passam a se
identificar com o lugar em que vivem, que
pode ser a cidade, o pas ou o territrio.
O movimento filosfico e artstico
denominado Renascimento marcou a
ruptura entre o perodo medieval e o mundo
moderno, urbano e burgus. A denominao
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unidade 1009
SOCIEDADE E CULTURA
Renascimento se deve comparao com
a Idade Mdia, considerada a idade das
trevas, pois nesse perodo as pessoas no
tinham acesso ao conhecimento.
As mudanas trazidas pelo Renascimento
proporcionaram contato com outros
povos e a proliferao de obras artsticas
e filosficas. Houve o renascer da cultura,
da erudio e a ampliao do acesso s
produes culturais.
O Homem Vitruviano, de Leonardo da
Vinci, ilustra o perodo conhecido como
Renascimento, que representou o incio da
Revoluo Cientfica, momento marcado
pelo uso da razo como meio de chegar ao
conhecimento.
FIGURA 6 - Leonardo da Vinci. O Homem Vitruviano
Fonte: MDIHAL [Online].
Antes do perodo renascentista, durante
a Idade Mdia, a razo foi auxiliar da f:
a Igreja Catlica a utilizava para manter
seu poder e divulgar sua doutrina. Apenas
ordens religiosas e elites tinham acesso ao
saber filosfico; o restante da populao
no participava desse mundo. O que a
Igreja dizia era verdade pura e absoluta.
O Renascimento alterou esse cenrio,
pois o homem comeou a compreender
atravs de diversas literaturas e escritos
dos renascentistas, que ele vivia em
sociedade e que da poderia advir diversas
questes. Fato marcante foi a crise da
Igreja que perdeu boa parte de seu poder
devido s reformas protestantes, que
questionam a atuao catlica e elaboram
novas concepes religiosas. o incio de
uma nova postura do homem diante do
conhecimento e da natureza.
Nesse momento, perceptvel o
enfraquecimento do pensamento catlico e
da tutela da Igreja, e o homem se v livre para
analisar a realidade em si mesmo e no fora
de si. Ou seja, ele se percebe como parte da
realidade. Desse modo, os acontecimentos
passam a ser responsabilidade do prprio
homem, que comea a assumir suas aes
na sociedade.
J uma grande mudana, no? Claro
que ela no se deu rapidamente, mas
custa de muitas guerras, inquisies e
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unidade 1010
SOCIEDADE E CULTURA
perseguies religiosas. Tudo se passou
num clima de fim de mundo para alguns
e de profunda transio para outros.
Todos viviam momentos de insegurana
e instabilidade: era um renascimento para
novas formas de viver e se organizar em
sociedade, trazidas pelas possibilidades
do pensar.
Ser que podemos afirmar que nesse
momento da histria a Sociologia j
despontava? De acordo com alguns
historiadores, a partir do Renascimento,
comeou a se formar uma mentalidade
mais renovadora, contrria ao misticismo
e ao conservadorismo da poca feudal
(COSTA, 2005). Nesse sentido, podemos,
sim, afirmar que a Sociologia j emergia,
mesmo que incipiente. O retorno ao saber
e o prazer pelas descobertas sobre a
sociedade foram o incio do interesse
pelas formas de convivncia social.
Na verdade, a Sociologia comea a ser
pensada, mas no se torna ainda uma
cincia. Por enquanto, ela somente
uma possibilidade de explicar fatos e
acontecimentos.
No sculo XVII a cincia progride e com
ela a relao entre as leis e as coisas,
interpretando e organizando as ideias do
ponto de vista lgico-cientfico. Como
consequncia dos acontecimentos e
aprimoramentos do Renascimento,
desencadeia-se uma preocupao com
as regras da organizao da vida social.
uma preocupao com regras observveis,
possveis de medir, comprovveis e que
do aos homens explicaes para um novo
mundo, onde imperava o racionalismo.
Aprimoram-se as tcnicas e os utenslios de medio, desenvolveram-
se as universidades e demais instituies cientificas, e tanto a imprensa como os outros meios
de comunicao espalharam o conhecimento a um nmero crescente
de pessoas (COSTA, 2005, p.18)
Imagine-se vivendo numa poca em
que os renascentistas, escritores e
pensadores comeam a elaborar novas
ideias e a provocar reflexes em quem
lia suas obras. Alm deles, havia os
pintores, que retratavam um homem
livre. Trata-se de uma forma de pensar
totalmente diferente daquela que
imperava at o sculo XV.
Posteriormente, vm os novos
conhecimentos e descobertas que
modificam a forma de agir na vida social.
As relaes deixam de ser somente
matria religiosa e do senso comum
e passam a ser interesse de obras
cientficas. Tudo isso significa uma
mudana no somente na forma de
pensar, mas tambm na maneira de agir.
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unidade 1011
SOCIEDADE E CULTURA
O perodo renascentista influenciou
aspectos variados da vida em sociedade.
Suas principais caractersticas foram:
Antropocentrismo: viso do
homem como o centro do mundo,
em oposio ao teocentrismo,
em que Deus o centro de tudo.
O antropocentrismo afirma que
o homem conduz o seu prprio
destino.
Racionalismo: decorre do
antropocentrismo por ser a
valorizao da racionalidade como
grande atributo humano, ou seja,
a busca por um saber prtico e por
explicaes lgicas.
Naturalismo: busca por leis gerais
para explicar como a natureza
funciona, tanto a natureza fsica
como a natureza humana.
Individualismo: a individualidade
passou a ser valorizada na
tradio burguesa e moderna e as
pessoas passaram a demonstrar
suas habilidades para obter
reconhecimento de outras
pessoas.
As caractersticas do perodo
renascentista no podem ser tidas
como radicalmente opostas ao perodo
medieval. (FREITAS NETO, 2006).
O Iluminismo tambm teve seu papel no
sculo XVII, enquanto movimento liderado
por intelectuais, pois concebeu novas
ideias e passou a entender a sociedade
com vida prpria, funcionando de forma
a depender de um gerenciamento, j que
agora as pessoas comeavam a ter acesso
ao saber. Os fenmenos sociais passaram
a ser identificados e o desenvolvimento
do pensamento social passou a ser
demonstrado nas mudanas econmicas,
polticas e culturais, que se aceleraram a
partir dessa poca. Entretanto, surgiram
problemas que os homens ainda no
haviam experimentado.
Os pensadores iluministas tinham
posies contrrias aos absolutistas
e, entre seus pressupostos, estava a
defesa da liberdade e do progresso. Eles
enfatizavam uma sociedade fundada na
razo e no progresso da humanidade, o que
conferia sociedade um estado cientfico.
Os indivduos passaram a ser concebidos
como dotados de razo, destinados
liberdade e igualdade social.
Por isso, deveriam se libertar dos laos
tradicionais oriundos da Idade Mdia.
Esse movimento foi fundamental para
consolidar as bases necessrias para a
Revoluo Industrial, alm da Inglesa e
Francesa. Mas nosso olhar agora vai se
direcionar para a Revoluo Industrial,
evento marcante na emergncia da
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unidade 1012
SOCIEDADE E CULTURA
Sociologia enquanto cincia que estuda a
vida em sociedade.
A Revoluo Industrial alterou o modo
de produo, estimulou e provocou a
competio por mercados internos e
externos. Surge um novo sistema, o
capitalista, baseado na acumulao e
na propriedade privada. Seus principais
atores foram a burguesia e o proletariado,
produzindo prosperidade e pobreza,
avanos e misrias. Foi uma revoluo
cientfico-tecnolgica que alterou a
estrutura social e criou novas formas de
organizao.
Nesse perodo, um conjunto de invenes e
inovaes aceleraram a produo de bens
de consumo, assegurando um crescimento
econmico independente da agricultura.
Como voc pode observar, muitas coisas
mudaram na sociedade at o momento
atual, mas as desigualdades estruturais
permaneceram, ou se agravaram. A
Revoluo Industrial significou o triunfo
da indstria capitalista, alterou a estrutura
social, criou novas formas de organizao
e modificou a cultura.
Surge a produo em larga escala, novas
formas de organizao do trabalho e
a mo de obra humana foi substituda
pelo uso das mquinas, o que provocou
tambm a diviso do trabalho: a esteira
rolante tornou-se o cone da produo em
srie. A ilustrao Tempos Modernos (FIG.
7), de Charles Chaplin, exemplifica esse
processo.
FIGURA 7 - Cena simblica do filme Tempos Modernos (1936), de Charles
Chaplin
Fonte: Ncleo de Educao a Distncia (NEaD), nima, 2013.
Tambm ocorreram mudanas culturais,
como consequncia das mudanas no
trabalho. Evidenciaram-se papis sociais
distintos: o empresrio, dono dos meios
de produo e, os operrios, que vendiam
sua fora de trabalho.
A Sociologia surge num contexto
em que os homens se viram diante
da necessidade de compreender
as profundas transformaes que
ocorriam.
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unidade 1013
SOCIEDADE E CULTURA
possvel afirmar que a Sociologia surge
num momento em que as relaes entre os
homens passam a merecer conhecimentos
traduzidos em linguagem e discurso
cientficos, que fossem prprios e que
conferissem sociedade moderna uma
explicao sobre os fenmenos sociais que
ocorriam. O desafio inicial da Sociologia foi
compreender as alteraes profundas que
marcaram as sociedades e refletir sobre o
comportamento dos indivduos diante de
tais mudanas (BOMENY; MEDEIROS, 2010).
O termo Sociologia foi criado por
Augusto Comte (1798-1857). O filsofo
considerado o pai da Sociologia.
Comte defendia a ideia de que para
uma sociedade funcionar corretamente,
precisa estar organizada. S assim
alcanaria o progresso. Ele acreditava
que o Iluminismo levaria os homens
desunio e, por isso, era preciso retomar
o equilbrio da sociedade e restabelecer
a ordem das ideias e conhecimentos.
Comte criou a filosofia positiva, corrente
com grande expresso no sculo XIX.
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO SOCIOLGICO
bem comum as pessoas ouvirem de seus
parentes mais velhos afirmaes como a
seguinte: A minha infncia foi bem melhor
que a sua. A gente brincava mais nas
ruas, praticava mais esportes e tinha mais
liberdade. Voc j se perguntou o porqu
disso, ou seja, por que nossa condio
de vida hoje parece to diferente da dos
nossos antepassados?
Voc j ficou sem respostas diante de
outras perguntas como: Por que no
podemos ter mais de um marido ou
esposa? Como vai ser a vida de meu
filho ou neto no futuro? Por que h tanta
violncia no nosso pas? Por que algumas
pessoas tm tanto dinheiro e outras
vivem na misria? Essas questes so
o principal combustvel da Sociologia,
campo de estudo que busca compreender
a vida humana, bem como a relao e o
comportamento do homem em sociedade.
Na maioria das vezes, nossa compreenso
do mundo construda a partir do que
nos familiar, ou seja, das circunstncias
pessoais a relao com a famlia, amigos,
no trabalho, no grupo religioso, no clube,
entre outros grupos e espaos de convvio
social. Nesse sentido, a Sociologia torna-
se fundamental para ampliar nossa
compreenso do comportamento do
homem na sociedade. Essa conscincia
mais ampla foi descrita pelo socilogo C.
Wright Mills como imaginao sociolgica.
A imaginao sociolgica nos permite
compreender que nem sempre nossas
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unidade 1014
SOCIEDADE E CULTURA
consideraes do que certo e errado, bom e
mal, verdadeiro e falso so como pensamos
ser. Nossas vidas so influenciadas
diretamente por fatores histricos e
processos sociais. Entender as maneiras
sutis, porm complexas e profundas, em
que nossas vidas individuais refletem os
contextos de nossa experincia social
bsico para a perspectiva sociolgica.
(GIDDENS, 2005, p.19)
A imaginao sociolgica nos projeta
para alm de nossas experincias e
observaes pessoais e nos ajuda a
compreender os assuntos e as situaes
de contexto pblico com maior amplitude.
como se observssemos o mundo
com uma lente mais potente que nosso
olhar habitual. O divrcio, por exemplo,
embora seja inicialmente visto como um
problema pessoal do indivduo que vive
essa experincia, tambm o reflexo de
um problema social mais amplo. Usando a
imaginao sociolgica podemos perceber
que o aumento do nmero de divrcios
redefine, na verdade, uma instituio
fundamental na estrutura social: a famlia.
Muitos lares hoje tm a mulher como a nica
responsvel, inclusive financeiramente,
pela criao dos filhos. Outros tm a figura
de padrastos, madrastas, meios-irmos e
pais no segundo ou terceiro casamento.
Outro exemplo o desemprego. O
que inicialmente parece uma tragdia
pessoal para quem perde o trabalho e tem
dificuldade para encontrar outro, tambm
reflexo de uma situao de incerteza e
instabilidade no cenrio econmico. Os
jornais trazem notcias sobre o aumento
do desemprego com frequncia. No Brasil,
segundo estimativas da Confederao
Nacional das Indstrias (CNI), a maior
preocupao do brasileiro est ligada
diretamente ao emprego que, muitas vezes,
a nica alternativa de renda familiar.
A falta de emprego afeta o estado, o
trabalhador e sua famlia, alm de agravar os
problemas sociais. O desemprego um dos
grandes fenmenos sociais do momento,
especialmente devido ao incremento da
globalizao. O problema deixou de ser
realidade apenas de pases ditos emergentes
e subdesenvolvidos e se alastrou em outras
naes, at mesmo na Europa.
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unidade 1015
SOCIEDADE E CULTURA
A SOCIOLOGIA POSITIVADE AUGUSTE COMTE
Como j sabemos, as sociedades
encontram-se em profundo caos social
e era necessria uma cincia que
fosse capaz de entender e reorganizar
a sociedade. Auguste Comte (1758-
1857) foi um filsofo que sistematizou
o pensamento sociolgico atravs do
Positivismo.
Comte era considerado conservador e
acreditava que o Iluminismo levaria os
homens desunio. Por isso, para retomar
o equilbrio da sociedade e restabelecer-
se a ordem das ideias e conhecimentos,
era necessrio criar um conjunto de
crenas comuns a todos os homens.. Ele
criou a filosofia positiva, uma atuao da
filosofia que pretendia auxiliar a cincia
no entendimento de seus mtodos e
resultados.
importante deixarmos bem claro que
a expresso positiva aqui no deve
ser entendida em seu sentido comum.
A palavra remete a uma forma de se
diferenciar a filosofia do sculo XVIII. O
Positivismo contestava as instituies
sociais, ou seja, o Iluminismo , to criticado
por Comte. A filosofia positiva era uma
reao ao Iluminismo e se preocupava em
reorganizar a realidade.
Nos trabalhos de Comte, a Sociedade e
o positivismo aparecem muito ligados. A
Sociologia seria o que ele denominou de
fsica social, isto , ela deveria utilizar
os mesmos procedimentos das cincias
naturais: observao, experimentao
e comparao. Ao estabelecer esses
parmetros para o desenvolvimento da
Sociologia, o Positivismo tenta oferecer
uma orientao para a formao desse
campo do conhecimento.
Um dos pontos mais altos da filosofia
positiva a tentativa de unir o processo
ordem para Comte, esses dois elementos
so necessrios mutuamente para a
construo de uma nova sociedade. Isso
nos lembra alguma coisa?
A nossa bandeira, com seu dizer: Ordem
e progresso, mostra como o Positivismo
foi aceito pelos republicanos brasileiros
no sculo XIX.
Outro aspecto importante no pensamento
de Comte foi a formulao da Lei dos Trs
Estgios. Ele identificou tries momentos
especficos do homem na busca pela
compreenso do mundo: o telogo. o
metafsico e o positico, assim definidos
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unidade 1016
SOCIEDADE E CULTURA
FIGURA 8 - AUGUSTE CANTE
Fonte: . Acesso em: 11/12/2012.
Estgio teolgico - o pensamento sobre os fenmenos ocorridos no mundo so
explicados por consideraes sobrenaturais, religiosas e por Deus.
Estgio metafsico - as explicaes sobrenaturais so substitudas pelo pensamento
filosfico sobre a essncia doas fenmenos.
Estgio positivo - a cincia, ou a observao cuidadosa dos fatos empricos,
e o teste sistemtico de teorias tornam-se modos dominantes para se acumular
conhecimento (TURNER, 1999. p. 4). Nesse estgio o conhecimento pode ser til e
melhorar a vida das pessoas
Para Comte, essa seria a ordem da evoluo do pensamento e da prpria sociedade. E,
quanto mais especializados os rgos particulares da sociedade, mais evoluda ela seria.
Por exemplo, quanto mais evoludo estiver o sistema de sade em uma sociedade, mais
harmonia social ela ter. Mas no basta somente um rgo estar harmonia, necessrio
que os outros tambm estejam. E essa a dificuldade em manter a ordem social. E, no
Positivismo, a ordem social significa uma busca pela ordem e pelo progresso.
Segundo Comte, havia um ritmo evolutivo e harmnico na sociedade que no poderia ser
http://pensadordelamancha.blogspot.com.br/2011/06/filosofia-positivista-de-augusto-comte.html -
unidade 1017
SOCIEDADE E CULTURA
alterado bruscamente atravs de uma
revoluo, como estava acontecendo
naquela poca. Lembre-se de que
estamos nos referindo a sociedade
ps-revoluo industrial! Para ele,
as revolues alteravam o ritmo da
sociedade e nem sempre as alteraes
na ordem social conduziam ao progresso.
Seu pensamento tem como fundamento
a seguinte frase: o amor por princpio,
a ordem por base, o progresso por fim
o que significa que cada coisas, em seu
devido lugar, conduzida para a perfeita
orientao tica da vida social. Assim,
Comte pode ser considerado o pai da
Sociologia.
MAISSAIBA
O nosso pas assimilou o projeto de Comte,
que pressupunha uma evoluo ordeira da
sociedade. Esse projeto era incompatvel com
revolues e mudanas bruscas e, por isso, os
ideais positivistas serviam para impulsionar a
Proclamao da Repblica.
Em verdade, a influncia positivista
resultou em pensamentos diferentes no
Brasil e tambm foi combinada com outras
ideologias. O setor que mais demonstrou
a presena da ideologia de Comte foi
as Foras Armadas de onde saiu o
movimento republicano e a ideia de adotar
o lema Ordem e Progresso. Depois,
varias medidas governamentais foram
inspiradas pelo Positivismo, a exemplo da
reforma educativa e da separao entre
Igreja e Estado, em 1891.
A filosofia de Comte tornou-se tambm um
samba de Noel Rosa e Orestes Barbosa,
intitulado Positivismo, que foi lanado
em 1933, e termina com os seguintes
versos:
O amor vem por princpio, a ordem
por base/ O progresso
que deve vir por fim/
Desprezaste esta lei de Auguste Comte/
E foste ser feliz longe de mim.
Assim, podemos ter uma noo o quanto
nosso pas foi influenciado pela filosofia
comtiana.
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unidade 1018
SOCIEDADE E CULTURA
Considere, por exemplo, por que (...) decidiu estudar Sociologia? Talvez voc seja um estudante de Sociologia relutante, que est cursando a disciplina apenas para satisfazer um requisito para uma carreira futura. Ou pode estar entusiasmado para conhecer mais sobre a sua sociedade e a disciplina da Sociologia. Seja qual for sua motivao, provvel que voc tenha muita coisa em comum, sem necessariamente saber, com outras pessoas que tambm estudam Sociologia. Sua deciso privada reflete a sua posio dentro da sociedade.
Ser que as caractersticas seguintes se aplicam a voc? Voc jovem? Branco? Tem um nvel profissional? J fez, ou ainda faz, algum trabalho espordico para complementar sua renda? Voc quer encontrar um bom emprego quando concluir sua formao, mas no se dedica especialmente a estudar? Voc no sabe exatamente o que a Sociologia, mas pensa que tem a ver com a maneira como as pessoas agem em grupos?
Mais de trs quartos das pessoas respondero sim a todas essas questes. Os estudantes universitrios no so tpicos da populao como um todo, mas tendem a ter origens sociais mais privilegiadas. E suas posturas geralmente refletem aquelas de seus amigos e conhecidos. Nossas bases sociais tm muito a ver com o tipo de deciso que consideramos apropriada.
Nenhuma ou poucas caractersticas se aplicam a voc? Talvez voc tenha vindo de um grupo de minoria ou em situao de pobreza. Talvez voc seja de meia-idade ou idoso. Da mesma forma, outras concluses provavelmente se aplicam. provvel que voc tenha tido que batalhar para chegar onde est, talvez voc tenha tido que superar reaes hostis de amigos e outras pessoas quando disse a eles que pretendia estudar na faculdade ou talvez voc esteja combinando o ensino superior com a maternidade em horrio integral. (GIDDENS, 2005, p.21)
O autor ressalta que, embora todos ns estejamos sujeitos influncia dos contextos
sociais, o comportamento de ningum totalmente determinado por esses contextos.
Temos nossa prpria identidade. Cabe Sociologia analisar o que a sociedade faz de ns e
o que fazemos de ns mesmos e da sociedade.
Na prxima unidade, continuaremos nossa viagem e teremos a oportunidade de conhecer
o primeiro dos trs principais pensadores clssicos da Sociologia e ver como suas teorias
influenciam nosso cotidiano.
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unidade 1019
SOCIEDADE E CULTURA
MAISPARA SABER
Leia o tpico Desenvolvendo uma perspectiva
sociolgica no captulo 1 do livro de
Giddens, Sociologia (2005, p.24-25), sobre
o ato de tomar uma xcara de caf e saiba a
quantidade enorme de coisas que podemos
observar, do ponto de vista sociolgico,
sobre esse comportamento aparentemente
desinteressante.
FIGURA 9 - Pessoa tomando caf
Fonte: Acervo Institucional
O consumo de caf para cada brasileiro por
ano de quase 83 litros.
O caf o alimento mais consumido
diariamente por 78% da populao acima de
10 anos.
VOC SABIA?
O consumo per capita maior na regio
Nordeste, seguido do Sudeste - 255 ml/dia ou
93 litros/dia x habitante x ano.
Fonte: ASSOCIAO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DE CAF (ABIC), 2011.
REVISO
Nesta unidade, percorremos os
seguintes aspectos ligados ao tema de
nossa disciplina:
O desenvolvimento das
sociedades e a transio da
sociedade de caadores e
coletores para as sociedades
pastoris e agrcolas, e depois para
as sociedades industriais.
Na atual sociedade ps-industrial,
os processos de mudana
tornaram-se mais rpidos do que
nos outros tipos de sociedade.
Alguns perodos histricos, como
o Renascimento, o Iluminismo e a
Revoluo Industrial, trouxeram
modificaes na forma de ser
e de estar no mundo, alteraram
a percepo do sujeito social
sobre si mesmo e sobre sua
interferncia nos acontecimentos
sociais e polticos.
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unidade 1020
SOCIEDADE E CULTURA
No contexto de inmeras alteraes
e transformaes histricas, a
Sociologia emerge como a cincia
que poder explicar e reorganizar a
convivncia entre os indivduos na
sociedade.
A imaginao sociolgica e
como ela nos ajuda a enxergar
eventos diversos num contexto
mais amplo, olhar as coisas de
uma forma diferente daquela a
que estamos acostumados do
senso comum , e ver por trs
dos bastidores.
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2UNIDADE
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unidade 2022
SOCIEDADE E CULTURA
MILE DURKHEIM E A SOCIOLOGIA
Na primeira unidade, iniciamos uma viagem que nos levou ao entendimento de como a sociedade passa por transformaes desde seu incio at a contemporaneidade. Muitos eventos marcaram esse processo e foram responsveis pela mudana em nossos
valores e comportamentos.
Diante de tantas modificaes histricas, polticas, sociais e culturais, nossos valores
tambm foram se transformando e, como consequncia, nosso relacionamento com outros
indivduos na sociedade.
Pudemos acompanhar como a Sociologia surgiu enquanto cincia para nos ajudar a
compreender as profundas alteraes que marcaram as sociedades, explicar os fenmenos
sociais e tambm propor uma reflexo sobre o comportamento dos indivduos diante de
tais mudanas.
Nesta unidade, conheceremos mile Durkheim, que figura dentre os clssicos da Sociologia.
E o que so clssicos da Sociologia? Denominamos clssicos os primeiros pensadores que
brotaram da agitao e das mudanas consequentes das Revolues anteriores.
Alm de Durkheim, Karl Marx e Max Weber tambm so autores clssicos da Sociologia.
Mas, conheceremos os dois ltimos em unidades especficas.
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unidade 2023
SOCIEDADE E CULTURA
MILE DURKHEIM: A ESPECIFICIDADE DO OBJETO SOCIOLGICO
A Sociologia se tornou campo de
conhecimento com mtodos e objetos
prprios graas aos autores clssicos e
Durkheim teve papel imprescindvel nesse
processo.
FIGURA 10 - mile Durkheim
Fonte: MDIHAL [Online]
E quem foi Durkheim?
mile Durkheim nasceu no ano de 1858
e faleceu em 1917. Sua preocupao
em relao Sociologia era torn-la
uma cincia com princpios e limites
(COSTA, 2005). Durkheim no queria que
a Sociologia ficasse relegada ao senso
comum, ou seja, que ela se restringisse aos
achismos na interpretao da realidade
social. Voc j deve ter observado como os
acontecimentos da vida social passam por
diferentes interpretaes e como as pessoas
se arriscam a dar uma opinio sobre esses
acontecimentos. Por exemplo, o escndalo
poltico do mensalo: todas as pessoas
tm uma teoria a esse respeito, sobre o
que deve ser feito ou os motivos desse fato.
Claro que todos tm o direito de opinar e
temos nossos prprios pontos de vista.
Mas, mesmo diante disso, observamos
na mdia que alguns programas
levam especialistas para analisar o
acontecimento em destaque. E, sabe
por qu? Exatamente para sair das
concepes de senso comum e articular
pensamentos e opinies fundamentadas
em anlises polticas e/ou sociolgicas.
Da diferenciarmos a opinio pblica da
opinio de especialistas.
A charge abaixo exemplifica a diversidade
de opinies e interpretaes sobre
acontecimentos sociais e polticos.
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unidade 2024
SOCIEDADE E CULTURA
FIGURA 11 - Diversidade de interpretaes
Fonte: BLOG DO MESQUITA, 2012.
Curiosamente, Durkheim no era um socilogo, e sim um filsofo que contribuiu para que
a Sociologia se tornasse uma disciplina acadmica. Graas a ele, hoje podemos estudar a
sociedade em que vivemos de uma forma ampla e consciente. Certamente voc deve ter
estranhado o fato de Durkheim ser filsofo! Sim, era formado em Filosofia, mas sua obra
inteira foi dedicada Sociologia. Nesse contexto, importante dizer que Durkheim foi o
primeiro professor universitrio de Sociologia.
Lembra-se de Auguste Comte? Apresentado na unidade anterior como o pai da Sociologia?
Durkheim sofreu influncia de seus pensamentos, pois se baseou no mtodo positivo:
a Sociologia deveria buscar a formulao de leis que pudessem estabelecer relaes
constantes entre fenmenos. Outro aspecto importante que Durkheim valorizava o dilogo
das Cincias Sociais com a Histria, Economia e Psicologia.
Na busca pelo rigor cientfico para a Sociologia, Durkheim definiu como objeto de anlise
sociolgica os fatos sociais.
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unidade 2025
SOCIEDADE E CULTURA
E o que so fatos sociais?
Quando pensamos em fatos sociais, logo imaginamos que seja qualquer fato ocorrido na
sociedade, no assim? Pois para Durkheim, era diferente. Ele conceituou e diferenciou
os fatos sociais dos acontecimentos ocorridos no contexto social.
De acordo com Durkheim, o fato social experimentado pelo indivduo como uma realidade independente e preexistente (COSTA, 2005, P. 81).
A fora coercitiva dos fatos sociais se torna evidente pelas sanes legais ou espontneas a que o indivduo est sujeito quando tenta rebelar-se contra ela. Legais so as sanes prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se define a infrao e se estabelece a penalidade correspondente. Espontnea so as que afloram como resposta a uma conduta considerada inadequada por um grupo ou por uma sociedade. Multas de trnsito, por exemplo, fazem parte das coeres legais, pois esto previstas e regulamentadas pela legislao que regula o trfego de veculos e pessoas pelas vias pblicas. J os olhares de reprovao de que somos alvo quando comparecemos a um local com roupa inadequada constituem sanes espontneas (COSTA, 2005, p. 81)
Os fatos sociais so caracterizados por serem coercitivos, gerais e com existncia prpria,
que significa serem independentes de manifestaes individuais, ou seja, exteriores aos
indivduos.
A coero social, prpria do fato social, leva os indivduos a se conformarem com as regras
da sociedade e os faz experimentar a fora dela sobre si mesmos.
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unidade 2026
SOCIEDADE E CULTURA
de generalidade porque ele se repete em
todos os indivduos ou na maioria deles.
Os acontecimentos demonstram com sua
generalidade a sua natureza coletiva, a
exemplo de acontecimentos comuns ao
grupo e/ou costumes (COSTA, 2005).
Formas de se comunicar numa sociedade
so exemplos dessa generalidade.
A terceira caracterstica, a exterioridade,
significa que eles existem e atuam
independente da vontade dos indivduos
numa sociedade.
EXEMPLO
Nascemos e somos socializados com regras
sociais, costumes e leis. No nos dada a
possibilidade de opinar ou escolher, sendo
assim independentes de ns, de nossos
desejos e vontades (COSTA, 2005, p.83).
Fatos sociais podem ser considerados
como maneiras de agir, a exemplo de
correntes de opinio. Voc j observou
na mdia como essas correntes nos
contagiam e nos levam a pensar, e at
mesmo a agir, de determinada forma?
Nesse caso, so maneiras de agir externas
que exercem uma fora muito grande
sobre cada um de ns.
Como maneiras de agir, os fatos sociais
so menos consolidados e nos levam
a tomar decises ou realizar fatos de
acordo com a poca ou momento. Essas
maneiras de agir so consideradas
cristalizadas, porque j existem e no
podem ser modificadas, por exemplo, as
formas jurdicas e os dogmas religiosos.
Para Durkheim, as maneiras de agir
so imperativas e levam os indivduos
a adotarem normas de conduta que se
encontram fora deles. Isso significa que
elas so uma realidade objetiva e possuem
ascendncia sobre os indivduos numa
sociedade. Portanto, os fatos sociais
so maneiras de agir impostas pela
sociedade para que nos comportemos de
determinada forma. Essa imposio no
percebida assim por ns, porque ela
inconsciente.
Para analisar os fatos sociais, Durkheim
props um mtodo especfico para a
Sociologia. Em sua obra As Regras do
Mtodo Sociolgico, publicada em 1895,
Durkheim props regras para que os fatos
sociais sejam analisados cientificamente.
Nessa publicao, Durkheim descreve
em cada captulo como deve ser o
procedimento de um cientista social na
observao dos fatos sociais. Tais regras
somente foram publicadas depois que ele
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unidade 2027
SOCIEDADE E CULTURA
mesmo realizou alguns estudos, portanto
o Mtodo baseado em sua prpria
prtica.
FIGURA 12 - Capa do livro As regras do mtodo sociolgico
Fonte: Site Livraria Loyola.
Lembra-se da preocupao desse clssico
em conferir rigor cientfico Sociologia
e se diferenciar do senso comum? A
partir dessa preocupao e em busca
da objetividade, Durkheim estabeleceu
um mtodo de anlise sociolgica que
trata cientificamente os fatos sociais,
procurando uma viso diferenciada deles.
O mtodo de anlise sociolgica, segundo
Durkheim, deveria se aproximar do
mtodo utilizado pelas cincias naturais.
Como h diferenas entre as duas
cincias, no seria a adoo completa do
mtodo das cincias naturais, porque os
fatos examinados pela Sociologia so do
reino social, diferenciando-se assim dos
fenmenos da natureza.
Dentre as regras propostas por
Durkheim, a que mais se destaca :
tratar os fatos sociais como coisas.
Para nosso propsito de estudo, no h
necessidade de estudarmos as outras
regras, por serem muito especficas da
Sociologia.
Considerar os fatos sociais como coisas
uma tarefa difcil, uma vez que os
socilogos lidam todo o tempo com a
sociedade da qual fazem parte e acabam
se misturando com eles.
REFLEXOPARA
Imagine uma investigao cientfica sobre
a violncia domstica. O socilogo, mesmo
que no seja uma mulher, acaba se vendo um
pouco misturado ao fato porque compe e
participa da sociedade. Seria difcil, portanto,
manter-se distante do fato social e analis-
lo com clareza e objetividade.
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unidade 2028
SOCIEDADE E CULTURA
REFLEXOPARA
Voc sabe como identificar um fato social de outro fato qualquer na sociedade?
Para que isso ocorra, segundo Durkheim, seria necessrio afastar as pr-noes, definir
as coisas pelas caractersticas que lhes sejam comuns e considera-las de maneira mais
objetiva possvel. O mtodo de Durkheim propunha analisar os fatos sociais como coisas e
v-los como uma realidade externa, evitando o envolvimento afetivo ou de qualquer outra
espcie entre o cientista e seu objeto (COSTA, 2005, p.83).
Segundo ele, ver os fatos sociais como realidade externa era enxergar os fenmenos sociais
como exteriores ao indivduo. Isso significa que os fenmenos que acontecem na sociedade
no partem da conscincia de cada indivduo, mas residem na sociedade.
FIGURA 13 - O indivduo na sociedade
Fonte: Acervo Institucional
Diante da dificuldade de se manter distante dos fatos sociais, Durkheim propunha que
o cientista exercitasse a dvida metdica, que significa se perguntar sempre sobre a
veracidade e objetividade do fato social em questo. Nesse sentido, deve-se afastar a
influncia de seus desejos, interesses e preconceitos.
Durkheim recomendava observar sua generalidade. Quer dizer, o cientista social deve buscar
fatos repetitivos e gerais com caractersticas exteriores comuns.
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unidade 2029
SOCIEDADE E CULTURA
SOLIDARIEDADE SOCIAL E O INDIVDUO SOB A TICA DE MILE DURKHEIM
A Sociologia no deveria somente analisar a sociedade. Deveria tambm encontrar e propor
solues para a vida social. Outra preocupao de Durkheim era saber por que os indivduos
se mantinham em sociedade.
Para ele, temos dois tipos de conscincia, como se existissem dois seres em cada indivduo:
a conscincia coletiva e a conscincia individual. Mas como seria isso na prtica?
A conscincia coletiva , em certo sentido, a forma moral e vigente na sociedade. Ela aparece como um conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e delimitam os atos individuais (COSTA, 2005,p.86)
FIGURA 14 - Conscincias individual e coletiva
Fonte: Acervo Institucional
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unidade 2030
SOCIEDADE E CULTURA
DIVISO DO TRABALHO, ANOMIA, SOLIDARIEDADE MECNICA E ORGNICA
Para Durkheim, a sociedade funciona como se fosse um organismo em que as diferentes
partes cumprem papis distintos e cada um existe em funo do outro. Seria como o
funcionamento do nosso corpo: cada rgo desempenha uma funo e um existe em
funo do outro para termos um perfeito estado de sade geral. Veja um exemplo dessa
interdependncia entre os indivduos.
O que liga e une os diferentes componentes numa sociedade denominado de solidariedade,
pois, segundo afirma Durkheim, essa diviso no se d por vocao ou talento individuais.
FIGURA 15 - Componentes numa sociedade
Ao comparar as sociedades primitivas com as sociedades desenvolvidas, Durkheim observa
que as sociedades primitivas so mais simples e, tambm, mais homogneas com uma
integrao equilibrada entre suas partes. Nelas as tarefas se dividem por gnero ou idade.
Exemplo: os homens caam e as mulheres plantam e colhem.
Fonte: Acervo Institucional
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unidade 2031
SOCIEDADE E CULTURA
FIGURA 16 - Diviso de tarefas
Fonte: Acervo Institucional
Esse tipo de diviso permanece mesmo quando pensamos, por exemplo, numa sociedade
feudal, em que pode haver ofcios diferentes. Nesse caso, a liga que une os homens chamada
solidariedade mecnica porque no depende de uma escolha. A coeso forte e, em geral, os
indivduos no se sentem sem direo, sem lugar no mundo. como se o coletivo definisse o
individual e o sentido do ns se tornasse mais forte que o sentido do eu (BOMENY, 2010).
por isso que nas sociedades de solidariedade mecnica qualquer crime visto como ato contra toda a sociedade. O mal feito a um atinge a todos, porque representa uma ruptura com os elos de solidariedade que to fortemente unem o grupo (...) fazer parte de um grupo, ser membro de uma corporao, pertencer a uma famlia, tudo isso mais forte do que se apresentar como algum por seu prprio destino, sua biografia. o grupo que d ao indivduo a explicao de sua prpria vida (BOMENY, 2010, p. 26)
Mas, nem sempre foi assim e nem assim em todas as sociedades: as sociedades primitivas
permitiam esse contexto por serem sociedades fechadas com pouco movimento externo e,
nesse caso, o coletivo era mais forte do que o indivduo.
No momento da Revoluo Industrial, o cenrio foi alterado: a populao aumentou, a troca de
mercadorias foi incrementada, assim como as formas de comunicao e as trocas de ideias entre
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unidade 2032
SOCIEDADE E CULTURA
as pessoas. Nesse contexto, a individualidade
prevaleceu. Os indivduos passaram a ter uma
individualidade nica, com personalidade
e caractersticas individuais e um novo
elo passou a predominar: a solidariedade
orgnica (BOMENY, 2010).
A solidariedade orgnica emerge quando
os membros de um grupo so solidrios
porque existe uma interdependncia entre
eles e cada um atua numa esfera prpria.
Nesse sentido, a diviso do trabalho
toma a conotao de responsvel pela
integrao social e organiza a sociedade.
Essa diviso do trabalho se refere
especializao, em que o processo produtivo
dividido em etapas e cada trabalhador atua
numa etapa e no em toda a produo. Ela
tambm conhecida como especializao
de funes econmicas porque extrapola o
ambiente das fbricas e chega sociedade na
diviso do trabalho em setores ou profisses.
FIGURA 17 - Diviso do trabalho
Fonte: Acervo Institucional
Tambm h a diviso relacionada
segmentao da sociedade em
diferentes esferas e ao surgimento de
novas instituies, como o Estado, a
escola e a priso (BOMENY, 2010, p.
26-27).
Lembra-se da ideia da sociedade
funcionando como um organismo vivo?
Pois , com essa especializao, os
indivduos passam a realizar tarefas
especializadas para contribuir para
o funcionamento desse organismo
social. A sobrevivncia se torna
dependente de bens e servios que
podem ser oferecidos por outros.
E isso passa a ligar os indivduos uns
aos outros com regras e princpios
que possibilitam uma durao da
sociedade.
Mas, falamos anteriormente que,
na sociedade ps-industrial, somos
diferentes uns dos outros, lembra? E
exatamente por isso que precisamos
ser solidrios. Convivemos com
regras e normas que orientam nossos
comportamentos e, quando no as
cumprimos, somos punidos.
Quando as normas de uma sociedade
se enfraquecem, ocorre o que Durkheim
chamou de anomia.
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unidade 2033
SOCIEDADE E CULTURA
CONCEITOA anomia uma desorganizao da sociedade
que enfraquece a integrao dos indivduos.
Quando as regras sociais e os valores que guiam as condutas e legitimam as aspiraes dos indivduos se tornam incertos, perdem o seu poder ou, ainda tornam-se incoerentes ou contraditrios devido s rpidas transformaes da sociedade; resulta da um quadro de desarranjo social denominado anomia (DIAS, 2005, p. 114).
EXEMPLOO crime organizado (trfico de drogas,
por exemplo) um tpico caso de anomia,
porque as leis e normas prisionais no
conseguem cont-lo mesmo quando os
traficantes esto presos.
Em geral, os indivduos adotam
condutas anmicas quando se
veem sem referncias e controles
que possam organizar e limitar seus
desejos e aspiraes. Essas condutas
so reconhecidas em nossa sociedade
como condutas marginais, geralmente
relacionadas violncia, visto que as
normas do grupo deixam de dirigir o
comportamento dos indivduos. No um
abandono total das regras da sociedade,
mas um afastamento, uma violao das
leis da sociedade.
PRTICAAPLICAO
Vamos retomar o conceito de anomia
para verific-lo na prtica? Exatamente
por se mostrar um conceito diferenciado,
importante v-lo no cotidiano para
aumentar o nosso entendimento.
Como vimos, anomia um sentimento de
ausncia de normas e regras. Mas no
podemos afirmar que seja sinnimo de
ausncia de lei mesmo quando aqueles
indivduos que demonstram uma conduta
anmica violam a lei. Por exemplo, nos
campos de concentrao nazista, podemos
afirmar que os prisioneiros viviam em
condio de anomia, [...] era como se um
indivduo anmico tivesse perdido o passado,
no previsse qualquer futuro e vivesse
somente no presente imediato, o qual parece
ser nenhum lugar (DIAS, 2005, p.114).
Vejamos o texto a seguir para ilustrar esse
exemplo dos campos de concentrao
nazista:
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unidade 2034
SOCIEDADE E CULTURA
As pessoas que sobreviveram aos campos de concentrao nazistas testemunharam que, enquanto encarceradas, elas estavam em um estado que poderia ser considerado de extrema anomia. Ao entrarem nos campos, elas mantiveram os seus valores habituais, incluindo um sentimento de ntima identificao com seus camaradas sofredores. Eles se tratavam com compaixo, cooperavam para tapear os guardas e no se roubavam uns aos outros. Pouco a pouco, porm, algumas delas mudavam. Impelidas pela privao, sade precria, tortura e ameaa de exterminao, elas passavam a violar as normas que prezavam grandemente poca da admisso. Algumas roubavam dos seus camaradas; algumas informavam sobre prisioneiros que tinham violado os regulamentos; outras buscavam privilgios especiais colaborando com os seus captores, de um modo ou de outro.
Estes desertores se afastaram dos seus colegas prisioneiros, no tanto fsica como espiritual e psiquicamente. Eles sabiam que no pertenciam quele mundo, mas no tinham nenhum outro mundo no qual participar. Eles abandonaram as normas s quais eles tinham anteriormente subscrito, mas eles no tinham nenhum sistema de normas substitutivas que fosse consistente, amplo ou conscientemente reorganizado e aceito. No mais eram compassveis em relao aos seus colegas, mas tambm no os odiavam. Eles simplesmente no tinham nenhum sentimento, assim dizendo, para com eles ou a respeito deles. O comportamento atual no era nem bom nem ruim, era simplesmente um comportamento de sobrevivncia. Simplesmente era. (DRESLLER, 1990, p.160)
Esse texto nos indica e exemplifica que a anomia significa o enfraquecimento das normas
numa sociedade. Trata-se de desorganizao da sociedade ou de um grupo social que
acaba enfraquecendo a integrao dos indivduos.
MAISPARA SABER
FATOS SOCIAIS
J falamos que Durkheim propunha um mtodo especfico para a Sociologia se tornar uma cincia
objetiva e um dos pressupostos que ele propunha era tratar os fatos sociais como coisas. Essa
a primeira e a mais importante regra que um socilogo deve seguir. Veja o que ele diz a esse
respeito em sua obra As Regras do Mtodo Sociolgico:
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unidade 2035
SOCIEDADE E CULTURA
A proposio segundo a qual os fatos sociais devem ser tratados como coisas proposio que est na base de nosso mtodo das que tm provocado mais contradio. Consideram paradoxal e escandaloso que assimilssemos s realidades do mundo exterior as do mundo social. Era equivocar-se singularmente sobre o sentido e o alcance dessa assimilao, cujo objeto no rebaixar as formas superiores do ser s formas inferiores, mas, ao contrrio, reivindicar para as primeiras um grau de realidade menos igual ao que todos reconhecem nas segundas. No dizemos, com efeito, que os fatos sociais so coisas materiais, embora de outra maneira.
O que vem a ser uma coisa? A coisa se ope ideia assim como o que se conhece a partir de fora se ope ao que se conhece a partir de dentro. coisa todo objeto do conhecimento que no naturalmente penetrvel inteligncia, tudo aquilo de que no podemos fazer uma noo adequada por um simples procedimento de anlise mental, tudo o que o esprito no pode chegar a compreender a menos que saia de si mesmo, por meio de observaes e experimentaes, passando progressivamente dos caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessveis aos menos visveis e aos mais profundos. Tratar os fatos como coisas no , portanto, classific-las nesta ou naquela categoria do real; observar diante deles uma atitude mental. abordar seu estudo tomando como princpio que se ignora absolutamente o que eles so e que suas propriedades caractersticas, bem como as causas desconhecidas de que estas dependem, no podem ser descobertas pela introspeco, mesmo a mais atenta. (DURKHEIM, 2007, p. XVII-XIX).
As proposies de Durkheim provocaram acaloradas discusses na poca e, por esse
motivo, seu esforo em explicar o que significa tratar os fatos sociais como coisas, com
o objetivo de esclarecer sua posio. Trata-se de uma atitude mental do socilogo que o
faz se comportar diante dos fatos da mesma maneira que qualquer cientista faria diante
de seu objeto de estudo. se considerar diante de objetos ignorados, assumindo um
desconhecimento sobre os fatos a serem analisados.
Como vimos, Durkheim foi um clssico da Sociologia que tentou explicar a sociedade
catica no sculo XIX, consequncia das revolues ocorridas.
A fim de verificar um pouco da teoria de Durkheim aplicada s anlises sociolgicas em
nossa sociedade, o blog Alma Prolixa uma boa indicao. Disponvel em: http://goo.gl/
cGDVor.
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unidade 2036
SOCIEDADE E CULTURA
Trata-se de um blog para publicao de
resenhas, artigos e resumos sobre vrios
temas das Cincias Sociais, Teologia,
Literatura e Arte. No artigo indicado,
abordada a perda de valores na sociedade,
que pode nos levar a retrocessos de
variadas formas. Ele tambm fala sobre a
mdia e os efeitos colaterais do excesso de
informaes que recebemos e que muitas
vezes dificultam o nosso discernimento
entre o certo e o errado.
Vale a pena a leitura. Alm desse artigo,
voc ir verificar outros com temas
interessantes e, s vezes, polmicos. No
deixe de conferir!
REVISO
Nesta unidade, estudamos:
O objeto de estudo da Sociologia
que, segundo Durkheim, so os
fatos sociais e suas caractersticas:
coercitividade, generalidade e
exterioridade.
Os fatos sociais, que devem ser
tratados como coisas e que o
socilogo deve afastar de suas
noes prvias sobre o objeto a ser
investigado.
As regras de Durkheim para a
observao dos fatos sociais,
mantendo uma postura objetiva
em relao s suas caractersticas
exteriores.
Os dois tipos de solidariedade.
Aprendemos que tanto a solidariedade
mecnica quanto a orgnica garantem a
coeso social.
O conceito de diviso do trabalho
e sua relao com a solidariedade
mecnica e orgnica.
A anomia e a importncia
das regras e normas para o
funcionamento da sociedade.
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3UNIDADE
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unidade 3038
SOCIEDADE E CULTURA
O MTODO DE ANLISE DEKARL MARXVamos comear esta Unidade observando a figura abaixo.
FIGURA 18 - O mito de Plato
Fonte: Acervo Institucional
Essa imagem ilustra a Alegoria da Caverna escrita pelo filsofo Plato em sua obra A Repblica.
Trata-se de um mito que exemplifica a possibilidade que temos de nos libertar da condio de
escurido que nos aprisiona e encontrar a luz da verdade. um convite para nossa imaginao!
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unidade 3039
SOCIEDADE E CULTURA
Ilusoriamente, ns, indivduos na
sociedade, muitas vezes nos acorrentamos
a falsas crenas e preconceitos e, com
isso, nos mantemos inertes presos a
poucas possibilidades, distantes da luz
da verdade. Isso significa que vivemos
muitas vezes alienados da realidade que
nos cerca, percebendo o mundo de forma
enganosa pelo senso comum.
Abordaremos essa alienao da realidade
nesta unidade, em que conheceremos o
pensamento de Karl Marx.
No campo cientfico, anlogo ao Mito da
Caverna de Plato, os diferentes tericos
trazem luz de forma variada sobre o
mesmo objeto, pois as teorias iluminam
peculiarmente a realidade, obtendo
diferentes resultados e a partir de modelos
tericos particulares (COSTA, 2005). Na
Unidade 1, abordamos o pensamento
positivista de Auguste Comte e, na
Unidade 2, conhecemos os pressupostos
de Durkheim sobre a anlise da sociedade.
Nesta unidade, conheceremos o clssico
da sociologia alem: Karl Marx. Suas
ideias so contrastantes com as ideias
de Durkheim e tambm com as ideias de
Auguste Comte.
Marx foi extremamente envolvido em
atividades polticas, o que o levou ao exlio
na Gr-Bretanha. L, assistiu de perto
o surgimento e aumento do nmero de
fbricas e operrios, o que intensificou
seu interesse pelo movimento operrio
europeu e pelas ideias socialistas.
Quem foi Karl Marx?
Karl Marx (1818 1883) foi filsofo
nascido na Alemanha, na cidade de Treves.
Seu pensamento sintetizou diferentes
preocupaes filosficas, polticas e
cientficas de sua poca. Seu pensamento
se expressa pela teoria do materialismo
histrico que originou uma corrente de
pensamento revolucionria do ponto de
vista terico e prtico (COSTA, 2005).
Apesar de seus escritos se concentrarem na
maior parte na economia, Marx sempre se
preocupou em relacion-los com instituies
sociais e suas obras apresentam, portanto,
grandes reflexes sociolgicas.
Iniciaremos nosso estudo a partir do seu
mtodo de abordagem da vida social: o
materialismo histrico.
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unidade 3040
SOCIEDADE E CULTURA
FIGURA 19 - Karl Marx
Fonte: . Acesso em 11/06/2013.
os fatos econmicos so a base sobre a qual se apoiavam os outros nveis
da realidade, como a poltica, a cultura, a arte e a religio. E, ainda, de que o
conhecimento da realidade social deve se converter em um instrumento
poltico, capaz de orientar os grupos e as classes sociais para a transformao da
sociedade (DIAS, 2005, p.24).
Na perspectiva marxista, a funo da
sociologia seria, portanto, contribuir
para a realizao de mudanas radicais
na sociedade. Isso difere do que os
positivistas propunham que era solucionar
os problemas sociais e restabelecer
a ordem social. Os positivistas se
preocuparam com as questes
relacionadas manuteno da ordem na
sociedade e concentram sua ateno na
estabilidade social. O marxismo via a luta
de classes como a realidade evidente na
sociedade e, portanto, responsvel pelas
alteraes sociais.
Marx estudou a sociedade capitalista desde
seus estgios iniciais de desenvolvimento
e, por isso, sua teoria fundamental para
entend-la.
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unidade 3041
SOCIEDADE E CULTURA
O MATERIALISMO HISTRICO
Para ajudar a compreenso sobre o
Materialismo Histrico, leia o exemplo
abaixo.
Certamente, voc j passou pela situao
de reencontrar algum que no via
h muitos anos. E, nesse reencontro,
voc ou a outra pessoa se observaram
e perceberam algumas mudanas um
no outro. Algumas caractersticas se
mantiveram, mas outras se alteraram.
Outra experincia observar as modificaes
em nosso corpo, por exemplo, na passagem
para a adolescncia: algumas modificaes
so imperceptveis e depois mais visveis
com o passar dos anos; outras se tornam
visveis em intervalos de tempo menores.
Tanto no primeiro quanto no segundo
exemplo, o que torna possvel tais
modificaes foi a chegada do novo
em oposio ao velho. O que chega
no inteiramente diferente do que j
estava antes. Por exemplo, o corpo de um
adolescente no totalmente diferente de
um corpo de criana. Sempre existe uma
identificao do velho com o novo mesmo
diante de importantes transformaes.
Toda essa analogia para entendermos
que Marx tambm via a sociedade desta
forma: uma composio entre o velho e o
novo. Para ele, a histria da humanidade
a histria desse embate constante entre
o velho e o novo, entre os interesses dos
que j foram e dos que ainda esto por
vir. (BOMENY; FREIRE-MEDEIROS, 2010).
Ao pensar no desenvolvimento das
sociedades, esse embate entre os
interesses dos que j foram e dos que esto
por vir, em que os fatores econmicos so
a principal fonte.
Nesse sentido, o materialismo histrico
uma abordagem metodolgica de anlise da
sociedade utilizada por Karl Marx, segundo a
qual as principais fontes de mudana social
esto nos fatores econmicos.
A teoria marxista aponta a luta de classes
como motor da histria, ou seja, o que
pode modificar a estrutura da sociedade.
Fonte: Acervo Institucional
FIGURA 20 - Burguesia e Proletariado
EXEMPLO
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unidade 3042
SOCIEDADE E CULTURA
E isso tem total relao com o materialismo histrico, pois os sistemas sociais passam de
um modo de produo a outro. Por exemplo, do modo de produo feudal a sociedade passou
para o modo de produo capitalista a partir da industrializao. Essa transio ocorre, de
acordo com Marx, atravs da revoluo, como resultado das contradies econmicas.
Fonte: Acervo Institucional
FIGURA 21 - Transio do modo de produo feudal para o capitalista
Hegel faz notar algures que todos os grandes acontecimentos e personagens histricos se repetem por assim dizer uma segunda vez. Esqueceu-se de acrescentar: da primeira
vez como tragdia, da segunda como farsa. Caussidire por Danton, Louis Blnac por Robespierre, a Montanha de 1848 a 1851 pela Montanha de 1793 a 1795, o sobrinho
pelo tio (...) Os homens fazem a sua prpria histria, mas no a fazem arbitrariamente, nas condies escolhidas por eles, mas sim nas condies diretamente determinadas
ou herdadas do passado. A tradio de todas as geraes mortas pesa inexoravelmente no crebro dos vivos. E mesmo quando estes parecem ocupados em transformar-se, a eles e as coisas, em criar algo de absolutamente novo, precisamente nessas pocas de crise revolucionria que evocam com inquietao os espritos do passado, que lhes tomam de emprstimo os seus nomes, as suas palavras de ordem, os seus costumes,
para entrarem na nova cena da histria sob esse disfarce venervel e com essas palavras emprestadas (...) (MARX, 1990, p.17)
Neste trecho da obra O 18 Brumrio de Lus Bonaparte, Karl Marx demonstra a concepo
do materialismo histrico em que as relaes materiais estabelecidas pelos homens e o
modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relaes e
constitui um modo determinado de vida, refletindo exatamente aquilo que so.
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unidade 3043
SOCIEDADE E CULTURA
Na sequncia, Marx vislumbrava a
suplantao do sistema capitalista
por uma nova ordem instalada: uma
sociedade sem diviso entre pobres e
ricos. Essa mudana s seria possvel
por uma revoluo em que a classe
trabalhadora derrubasse o capitalismo e
abrisse as portas para um novo tipo de
sociedade. Para essa revoluo, Marx
e Engels convocam os trabalhadores a
romperem com o modo capitalista, em
uma frase celebre:
Trabalhadores do mundo, uni-vos.
Isso significa que Marx vislumbrava a
possibilidade de uma sociedade que
no seria dividida entre o monoplio
do poder poltico e econmico por uma
classe e, de outro lado, uma massa
de indivduos de uma classe menos
favorecida. Assim, o sistema econmico
se assentaria na posse comum, na
igualdade, tornando a sociedade mais
evoluda e eficaz do que a sociedade
capitalista. Seria um modelo de sociedade
denominado de socialista, descrito
em sua obra O Manifesto Comunista,
escrita em conjunto com Engels.
Est claro o significado de materialismo
histrico? Por exemplo, dependendo da
forma como os homens se organizam
para produzir, o pensamento e a
conscincia so decorrncia da relao
homem/natureza. Isso significa uma
dependncia das relaes materiais
estabelecidas por eles. a relao
homem/natureza que determina a forma
como o indivduo se relaciona com a
sociedade e com outros indivduos. Ou
seja, a conscincia e o pensamento do
indivduo so determinados por sua
forma de produo.
PRODUO E REPRODUO
Outros dois conceitos importantes na
compreenso da Sociologia Marxista
so o de produo e reproduo. Esses
conceitos auxiliam no entendimento das
carncias dos indivduos na produo de
seus meios de vida, pois, para Karl Marx,
o homem sujeito que produz a si prprio
em sua vida pela produo e manuteno
de sua existncia.
Os homens produzem seus meios de
vida em busca de sua sobrevivncia
e recriam a si prprios. Alm disso,
acabam reproduzindo sua espcie numa
transformao contnua pela ao das
sucessivas geraes. Assim, os seres
humanos interagem com a natureza e
com outros indivduos dando origem
vida material (QUINTANEIRO, BARBOSA,
OLIVEIRA, 1999).
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unidade 3044
SOCIEDADE E CULTURA
CONCEITOProduo , portanto, a atividade em que os indivduos recriam a si prprios e reproduzem sua espcie
num processo transformado pela ao de suas sucessivas geraes. Marx considera que so as
foras produtivas que constituem as condies materiais de toda a produo. O homem o principal
elemento das foras produtivas, sendo responsvel por ligar a natureza, a tcnica e os instrumentos.
O desenvolvimento da produo vai determinar a combinao e o uso desses diversos elementos: recursos naturais, mo de obra disponvel, instrumentos e
tcnicas produtivas. Essas combinaes procuram atingir o mximo de produo em funo do mercado existente. A cada forma de organizao das foras produtivas
corresponde uma determinada forma de relao de produo (COSTA, 2005, p.121).
A premissa de anlise sociolgica marxista se fortalece com o conceito de produo, pois demonstra
a existncia de indivduos que interagem com a natureza e com outros indivduos, originando a vida
material. Para Marx, o primeiro fato histrico a produo dos meios que permitem a satisfao de
suas necessidades, ou seja, a produo de sua prpria vida material. Essa condio, segundo ele,
fundamental em toda a histria e deve existir a fim de manter os homens vivos.
FIGURA 22 - Produo do homem
Fonte: Acervo Institucional
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unidade 3045
SOCIEDADE E CULTURA
As formas de satisfazer as necessidades
so produes histricas que dependem
do grau de civilizao da sociedade.
Com o desenvolvimento das formas
de organizao social, os homens vo
buscando novas formas de produo,
modificando-as com o tempo. Essas
formas vo passando de gerao a gerao
e o que Marx chama de reproduo.
O processo de produo e reproduo se
do, portanto, pelo trabalho. O trabalho
para Marx a atividade humana bsica
que constitui a histria dos homens
(QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA,
1999).
CONCEITOO conceito de produo em Marx uma
forma de existncia humana na vida social.
A reproduo, que deriva da produo, se liga
mais vida social, porque est vinculada s
relaes sociais e ao desenvolvimento da
sociedade.
CLASSES E ESTRUTURA SOCIAL
Voc j observou como h desigualdade
em nossa sociedade?
Fonte: Disponvel em: . Acesso em 04/01/2013.
Isso acontece porque na sociedade
capitalista, mesmo que as pessoas
dependam umas das outras, a diviso do
trabalho leva a uma hierarquia baseada
na posse ou no dos meios de produo.
nesse ponto que a desigualdade social
ope os que tm muito e os que tm pouco.
Ento, como surgem as classes sociais?
Marx demonstra em sua teoria sociolgica
que as classes sociais surgem dessa
diviso do trabalho e esto vinculadas
circunstncias histricas especficas que
possibilitam a apropriao privada das
condies de produo (QUINTANEIRO;
BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p.40). dessa
diviso do trabalho que emerge a classe
operria (proletariado) e a classe capitalista
FIGURA 23 - Desigualdade social
http://goo.gl/8tAM6 -
unidade 3046
SOCIEDADE E CULTURA
(burguesia) que passam a protagonizar o
drama histrico do capitalismo. Desse modo, a
diviso de classes emerge a partir do processo
de produo onde os indivduos estabelecem
entre si relaes sociais para produzir e se
reproduzir (QUINTANEIRO, 2002, p. 40).
ATENO! possvel afirmar que, segundo Marx, a diviso
das classes sociais no se vincula ao nvel de
renda ou origem dos rendimentos simplesmente,
pois a renda no um fator independente da
produo, mas uma expresso da parcela
maior ou menor do produto a que um grupo
de indivduos pode ter direito em decorrncia
de sua posio na estrutura de classes
(QUINTANEIRO, 2002, p.41).
A configurao bsica de classes nos termos expostos (...) expressa-se, de maneira simplificada, num modelo dicotmico: de um lado, os proprietrios ou possuidores dos meios de produo, de outro, os que no os possuem. Historicamente, essa polaridade apresenta-se de diferentes maneiras conforme as relaes sociais e econmicas de cada formao social. Da os escravos e patrcios, servos e senhores feudais, aprendizes e mestres, trabalhadores livres e capitalistas. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p.41).
Esse modelo de diviso de classes marxista,
atualmente, insuficiente para analisar as
variaes presentes em nossa sociedade, j
que, ao observamos as desigualdades sociais
e as classes sociais existentes, veremos uma
variedade como classe A, B, C, D e por a vai.
O esquema marxista um modelo puro
de diviso de classes com consequncias
variadas para a vida em sociedade. Porm,
esse esquema pode ser muito til para
identificar a configurao bsica das classes,
sua influncia na dinmica da sociedade e
as relaes entre classes sociais.
Marx acreditava que a tendncia era a
separao entre o trabalho e os meios de
produo de forma cada vez mais intensa.
Essa separao iria concentrar e transformar
os meios de produo de forma cada vez
mais intensa em capital e o trabalho iria se
transformar em trabalho assalariado.
FIGURA 24 - Trabalho assalariado
Fonte: Acervo Institucional
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unidade 3047
SOCIEDADE E CULTURA
Para o mtodo de anlise marxista, pela
luta de classes que mudanas estruturais
principais so impulsionadas. Essa luta
de classes relacionada diretamente
superao das contradies existentes
e denominada na teoria marxista como
o motor da histria por representar a
possibilidade de mudanas.
Da a importncia de existir a conscincia
de classe: ela que conduzir formao
de associaes, de diversos tipos,
que buscam a unio solidria entre os
membros de uma mesma classe para a
defesa de seus direitos e interesses, alm
do combate aos seus opressores. Exemplo:
sindicatos, associaes, partidos, etc.
Assim, ocorrem as transformaes nas
relaes sociais.
Fonte: . Acesso em 04/01/2013.
FIGURA 25 -As classes sociais
A REVOLUO MARXISTA
ATENO!
A teoria de Marx fala muito em progresso,
pois representa o desenvolvimento da
sociedade, em que sempre h necessidade
de expanso das foras produtivas e das
estruturas econmicas. Essa expanso
pode causar desintegrao e a emergncia
de uma nova estrutura. Para Marx, isso o
incio de uma Revoluo.
O processo revolucionrio, idealizado por
Marx, previa o desaparecimento das condies
de apropriao e concentrao dos meios de
produo em mos de uma classe e o seu
surgimento sobre novas bases. Essa revoluo
no se restringe a mudar as posies, trata-
se de um processo de transio que envolve
a vida material em que os agentes de
transformao e mudana social provocam
uma reconstruo da sociedade.
Voc se recorda de que Marx pensava na
evoluo da sociedade de forma histrica?
Nesse ponto h alguns equvocos em relao
ao pensamento marxista de evoluo da
http://goo.gl/UjzqH -
unidade 3048
SOCIEDADE E CULTURA
sociedade. Algumas pessoas acreditam
que ele propunha a extino do capitalismo
simplesmente.
Para Marx, a sociedade deveria passar
por processos histricos relacionados a
cada modo de produo para super-lo, a
exemplo do aconteceu com a transio da
sociedade feudal para o capitalismo, cujo
pice foi a revoluo industrial. Assim,
a superao do capitalismo se daria por
um processo revolucionrio que levaria a
sociedade a um nvel considerado por ele
mais elevado: o comunismo.
Mas, antes de chegar ao comunismo,
teramos o socialismo, que seria a
socializao dos meios de produo,
ou seja, seria a extino da propriedade
privada. Nesse tipo de sociedade, deveria
haver um investimento do governo no
cidado que poderia seguir regras e
trabalhar para o conjunto da populao. A
diferena entre o socialismo e o comunismo
que neste ltimo no haveria a figura do
Estado. Desse modo, o socialismo seria
uma transio para o comunismo.
O modo de produo capitalista foi um
passo evolutivo em relao ao feudalismo
e ser ento um passo que ficar atrs do
comunismo.
Como seria, ento, a sociedade comunista?
A sociedade comunista seria orientada por
princpios de liberdade e no-alienao,
como forma necessria e princpio dinmico
de um futuro imediato. Mas, Marx afirmava
que o comunismo no seria a finalidade
do desenvolvimento humano. Ele seria a
possibilidade de submeter a criao dos
homens organizao dos indivduos
que estariam associados ao comunismo.
A diviso do trabalho tambm passaria a
obedecer a interesses de uma coletividade e
no somente de poucos, como no capitalismo.
Em sntese, o comunismo seria um sistema
social regulado para atender s necessidades
humanas, voltado para as potencialidades
criativas de homens livres. Seria o resultado
de uma reconstruo social que daria incio a
uma nova vida social.
No sculo XX, alguns movimentos foram
influenciados pelas ideias marxistas de
revoluo: Revoluo Russa, Revoluo
Cubana e Revoluo Chinesa. Lembrando
que, na histria da humanidade, o ideal de
comunismo almejado por Marx nunca fora
alcanado.
A teoria marxista bem ampla e complexa,
abordada em diversas reas do conhecimento,
como Economia, Filosofia, Poltica. Isso nos
mostra a relevncia de seu pensamento que,
embora no tenha sido alcanado em sua
plenitude, contemporneo em sua forma de
analisar a sociedade.
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unidade 3049
SOCIEDADE E CULTURA
PRTICAAPLICAO
Veja agora um exemplo de revoluo
comunista, que foi a Revoluo Chinesa,
influenciada pelos ideais marxistas.
Primeiro, leia o resumo sobre esse evento
histrico:
A revoluo Chinesa aconteceu entre
1949 e 1962 e foi um dos maiores
acontecimentos histricos. A Revoluo
se deu por dois movimentos: a luta dos
camponeses por terras e a luta do povo
chins pela independncia nacional.
Na poca, os socialistas assumiam o
poder, com uma China arrasada pelos
longos anos em que batalhou contra o
domnio japons, e uma longa Guerra
Civil. Na cidade, o povo passava fome, no
campo no se plantava nada por no ter
sementes.
Mao TsTung, lder chins, iniciava
a reforma agrria. Dividiu grandes
propriedades entre os camponeses, as
cooperativas substituam as grandes
propriedades. Apoiado pela Unio Sovitica,
os comunistas fizeram mudanas radicais
na economia e cultura chinesas; aboliram
o casamento, promoveram a emancipao
da mulher, igualdade entre os sexos, entre
outras medidas de grande impacto e boa
aceitao. A boa relao entre as duas
potncias socialistas s acabou com a
morte do ditador Stalin em 1953.
O principal objetivo de todas essas
mudanas era o aumento de produtividade,
ou seja, na indstria houve aumento nas
horas de trabalho e, no campo, foram
enviados reforos, desde intelectuais a
estudantes. A terra foi estatizada, e dividida
em comunas, que eram comunidades
populares, independentes, com liberdade
para cuidar de seus interesses comuns,
como pequenas cidades.
Esse grande salto foi um fracasso. Os
camponeses ficaram insatisfeitos, com a
queda das colheitas, o que gerava a fome,
e acabava em revoltas.
Em 1966, iniciou-se uma revolta cultural,
que marcou significativamente os rumos
da revoluo chinesa. O partido comunista
estava dividido, havia uma forte oposio,
mas mesmo assim Mao Tse-Tung
mantinha-se no poder.
Na realidade, a revoluo cultural foi
planejada pelo prprio Mao, com o objetivo
de mobilizar a populao pensante e
formadora de opinio da China. Os jovens,
por todo o pas criaram a jovem guarda
vermelha. Surgia tambm comits que
ameaavam autoridades, e mais uma
vez a fora foi utilizada: locais onde
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unidade 3050
SOCIEDADE E CULTURA
eram realizados cultos religiosos foram
destrudos, livros foram confiscados, as
comunas ganharam maior importncia e
Mao saiu ainda mais forte.
Mao Ts-Tung morreu em 1976 e os
moderados voltaram ao poder. Seu sucessor
foi Deng Xio-Ping que adotou uma poltica
econmica e desenvolvimentista e permitiu
a entrada de tecnologia e capital estrangeiro.
(MELLO, Mariana. In: Infoescola [Online]).
ACADMICOS DA CHINA ALERTAM SOBRE REVOLUO VIOLENTA SEM REFORMAGrupo de 73 pessoas escreveu carta aberta. Eles pedem reformas polticas de longo prazo.
Agora, veja esta reportagem que
relata um pouco sobre a atualidade do
comunismo chins:
Fonte:.
Um grupo proeminente de acadmicos da
China alertou em