1
Túmulo de Pentu (TA 5)
1,2 – Lintel, Pentu adora as cartelas de Aton.
Ombreiras, petições funerárias. Pl. II
3 – Espessura. Pentu entoa um hino a Aton. Pl.
III
4 – Motivo idêntico. Pl. IV
5,6 – Parte superior. A família real em adoração
diante do templo de Aton.
Pls. V-VI (dir.), XI (esq.)
7 – Parte superior: Pentu é recompensado pelo
rei, diante do Santuário Menor do templo.
Pls. VI (dir.), VII, XII /D, IX/D
8 – Parte superior: O casal régio à mesa. Em
baixo: Pentu é recompensado pelo rei, no
palácio
Pls. X, VIII (inf.)
Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada (Porter e Moss,
TBAE, vol. IV, p. 210) e a classificação de Davies, RTEA, vol. IV.
O túmulo localiza-se num declive. Aqui, a rocha forma uma saliência a cerca de 9 metros de
altura e por eliminação da falda à esquerda obteve-se facilmente uma parede vertical com cerca de
21 m de comprimento por 4,6 m de altura. Foi posteriormente transformado numa habitação
juntando-lhe grossas paredes de pedras empilhadas1.
A armação da porta destaca-se em delicado relevo da parede e está decorado da com a
figura de Pentu, em oração (Pl. II, Texto: lns. 1-25).
Fig. 2 − Pentu, em oração. Fachada, lado esquerdo e lado direito, Davies, RTEA, vol. IV, Pl. II.
1 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 1.
2
As cartelas divinas e reais da região central do lintel são ladeadas pela figura do morto e a
oração que ele profere. As ombreiras estão partidas e desgastadas pelo tempo, contêm quatro
colunas de textos de oferenda2.
A espessura da parede contém as habituais representações e orações do morto, muito
deterioradas mas susceptíveis de reconstrução a partir do túmulo de Huya. Vários grafitos gregos
foram riscados sobre a figura3.
Fig. 3 − Pentu, em oração. Espessura da parede Norte, Davies, RTEA, vol. IV, Pl. IV.
Pentu enverga o traje de cerimónia, faixa na cintura, sandálias e tem a cabeça rapada que indica
o sacerdócio (Pl. IV, Texto: lns. 26-41).
No seu interior, o túmulo tem a forma de T com um corredor cruzado na extremidade. A sala
interior serviu de câmara funerária, sendo o local exacto do enterramento constituído por um poço
protegido por um parapeito de rocha e desce até 12 m de profundidade. Descendo por ele, Davies
encontrou uma sala com um comprimento de c. 5,20 m e com uma abertura no lado S. Estava
parcialmente cheia de pedras soltas4.
2 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 1. 3 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 1. 4 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 1.
3
Para além do corredor cruzado situa-se a capela. Conteve uma estátua ou o bloco a partir do
qual ela seria esculpida mas tudo foi removido5. O tecto do corredor exterior era abobado. A
decoração do túmulo está incompleta e a cena inferior da parede S termina abruptamente a meio.
Fachada, (Pl. II)
Lintel, limite esquerda
1
rdit iAw n pA Itn anx sn tA n nTr nfr
Prestando adoração ao Aton vivo, beijando a terra ao (= diante do) deus bom,
2
in sDAwty-bity smr-wa iry rdwy n nb tAwy
pelo chanceler do rei do Baixo Egipto, amigo único, o que presta serviço junto do senhor das Duas
Terras,
3
Hsy n nTr-nfr mrrw nb.f ra-nb sS-nsw Xr(y)-tp nsw
o favorito do deus bom, todos os dias no amor seu senhor, o escriba real, o servidor do rei,
4
bAk-tpy n Itn m Hwt n Itn m Axt-Itn
o Primeiro Sacerdote de Aton no “Domínio de Aton” em Akhetaton,
5
5 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, pp. 1-2.
4
wr swnw imy-xnt PnTw mAa-xrw
o chefe dos médicos, o camareiro6Pentu, justificado
Direita
6
rdit iAw n pA Itn anx sn tA n nsw nfr
Prestando adoração a Aton vivo, beijando a terra ao (= diante do) rei perfeito
7
(in) sDAwty-bity tkn Haw nTr wr wrw r tAwy
(pelo) chanceler do rei do Baixo Egipto, que se aproxima da carne (= do corpo físico) do deus, o
mais poderoso dos poderosos, … das Duas Terras,
8
smr-tpy smrw sS-nsw Xr(y)-tp nsw
o primeiro companheiro de (entre) os companheiros, escriba real, o servidor do rei
9
bAk-tpy n Itn m Hwt n Itn m Axt-Itn
o primeiro sacerdote de Aton no “Domínio de Aton” em Akhetaton
10
wr swnw imy-xnt PnTw mAa-xrw
6 Normalmente imy-xnt, «o que está à frente».
5
o chefe dos médicos, o camareiro 7Pentu, justificado.
Umbrais da porta exterior, (Pl. II)
1ª Coluna (sentido da direita para a esquerda)
11
Htp di-nsw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Uma oferenda que o rei faz ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
m rn.f (m) Sw nty m Itn
no seu nome de “A luz que está no disco solar”,
12
di.f sSp snw :.. …
para que ele receba oferendas de alimentos … …
13
n kA n sS-nsw PnTw mAa-xrw
Pelo ka do escriba do rei, Pentu, justificado.
2ª Coluna
14
7 Normalmente imy-xnt, «o que está à frente».
6
Htp di-nsw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Uma oferenda que o rei faz ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
m rn.f (m) Sw nty m Itn
no seu nome de “A luz que está no disco solar”,
15
di.f … … …
para que ele conceda … … …
16
… … … … n kA n sS-nsw PnTw mAa-xrw
… … … … pelo ka do escriba real, Pentu, justificado.
3ª Coluna, tal como a segunda
4ª Coluna
17
Htp di-nsw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Uma oferenda que o rei faz ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
18
Axt m rn.f (m) Sw nty m Itn … … … …
7
no seu nome de “A luz que está no disco solar” … … … …
19
… … … nn ir Abw mn.s rn.f tp tA
… … … sem cessar e que o meu nome permaneça sobre a terra.
20
n kA n wr swnw imy-xnt PnTw mAa-xrw
Pelo ka do chefe dos médicos, o camareiro 8Pentu, justificado.
Umbral direito
1ª Coluna (sentido esquerda para a direita)
21
Htp di-nsw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Uma oferenda que o rei faz ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
m rn.f (m) Sw nty m Itn
no seu nome de “A luz que está no disco solar” ,
22
di.f prt-xrw kAw Apdw irp irtt imi … … … …
para que ele dê “invocações-oferendas”, consistindo em bois e aves, vinho e leite, ofe-recidas …
8 Normalmente imy-xnt, «o que está à frente».
8
23
… … … … n kA n sS-nsw PnTw mAa-xrw
… … … … pelo ka do escriba do rei, Pentu, justificado.
2ª Coluna
24
Htp di-nsw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Uma oferenda que o rei faz ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
m rn.f (m) Sw nty m Itn
no seu nome de “A luz que está no disco solar”
25
di.f prt xrw … … …
para que ele conceda invocações-oferendas … … …
O resto desta coluna e as duas seguintes são ilegíveis.
Vão norte (Pl. III). Ver Túmulo de Huya (Pl. II)
Vão sul, (Pl. IV). Ver túmulo de Huya (Pl. III)
26
Rdit iAw anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Prestando louvor ao vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
9
m rn.f (m) Sw nty m Itn di anx Dt (n)HH
no seu nome de “A luz que está no disco solar”, dotado de vida, eternamente e para sempre,
27
iiw ra-nb Dt iAw n.k Ra nb Axt
o que chega todos os dias, eternamente. Louvor a ti, Ré, senhor do horizonte!
28
wAD nb pt Hr rmT Hr.k nn Ab grH mi ra
Tu atravessas o céu, sobre os povos. Estás próximo9 sem cessar, de noite como de dia.
29
wbn m Axt iAbtt Htp m Axt imntt
Nasces no horizonte oriental e repousas no horizonte ocidental
30
Htp m anx m Aw m ib irt rmT nb m ihhyw
Repousas em vida e em alegria e os olhos de todo o povo estão em júbilo
31
grH.sn xt htp.k
(mas os olhos deles) estão nas trevas depois do teu ocaso,
9 Considerando o carácter de proximidade da preposição Hr. Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 476.
10
32
Xnm.n.k m Hr (p)t nn mAA irt sn-nwt.s
o momento em que te reuniste ao céu. Um olho não vê o outro
33
Dd ft nb(t) Hr-sA TA s-Dr
e todas as serpentes e víboras estão sobre a terra inteira.
34
sDr(w).sn Sp(w) r xpr psd.k nhs.sn
As pessoas jazem, feitas cegas10, até chegar a tua luz para acordá-las,
r mAA nfrw.k
para ver(em) a tua beleza.
35
Haai.k dggi.sn SA.(n).sn
Quando te ergues, elas vêem, tal como lhes foi predestinado,
10 No original, ir.sn sSp. Parece ter havido uma síntese entre Sp e
sSp, «luz do dia». A tradução proposta baseia-se no Grande Hino, lns. 17-18
11
di.k stwt.k sn
pois tu envias-lhes os teus raios.
36
di.k Htp st.i nt (n)HH Xnmt.i
Permite(-me) repousar no meu lugar de continuidade, o meu poço11 de eternidade.
37
pri.i aq.i Xnw Hwt.i nn xn(r) i bA(.i)
Eu saio e entro no interior da minha casa. O (meu) ba não está aprisionado e
38
mryt.f stwt rd rdi ib.i m mnw skw ir.n(.i) tp tA
os seus desejos são atingidos. Eu ando à a minha vontade no bosque que plantei sobre a terra
39
sw(r) i Hr mAa mr.i ra-nb nn Abw
e bebo água na margem do meu tanque, todos os dias sem cessar12.
40
sS-nsw bAk-tpy n Itn m Hwt pA Itn m Axt-Itn
O escriba real, o primeiro dos servidores de Aton no “Domínio de Aton” em Akhetaton,
11 No original . Confuso de ler. Seguiu-se a tradução de Davies. Ver DAVIES, op. cit., III, p. 30.
12 A forma correcta de escrever seria .
12
41
Imy xnt wr swnw PnTw mAa-xrw Dd.f
o camareiro, o chefe dos médicos, Pentu, justificado. Ele disse.
Visita régia ao Templo de Aton
Parede Norte, região superior (Pls. V,VI, VII, IX, XII). Texto: lns. 42-45. O Templo de Aton foi
estudado no Capítulo II, § 4.1.4.
Chegada ao templo do casal régio e das suas três filhas. Guardas e flabelíferos escoltam-nos. À
esquerda, os três carros aguardam sob a vigilância dos seus condutores, Os ilustres visitantes são
recebidos por Pentu, que saúda respeitosamente.
Fig. 4 − À esquerda: A família real visita o Templo de Aton. À direita: Recompensa de Pentu,.
Parede Norte, região superior. Davies, RTEA, vol. IV, Pls. V, VII.
O rei eleva as mãos numa atitude reverente. As princesas Meritaton, Maketaton e uma outra
princesa, não identificada, acompanham os pais. Cinco carros aguardam lá fora.
Pentu e um ou dois colegas de sacerdócio vêm ter com o rei ao portão. A figura sugere que este
usou desta oportunidade para lhe demonstrar o seu favor, com substanciais recompensas.
Contrariamente ao que se passa noutros túmulos, a visita régia está complementada por uma
segunda aparição do faraó e a recompensa de Pentu. De acordo com Davies, a cena inferior recorda
13
a recompensa de Pentu, enquanto chanceler, a cena semelhante abaixo (Pl.VII) a recompensa
enquanto chanceler e a da parede sul (Pl. VIII) enquanto médico chefe ou conselheiro privado13. A
ocasião é descrita como «Recompensando … o íntimo do rei». Uma inscrição mais longa daria a
razão da cerimónia mas foi removida. Os rostos do casal régio também se perderam com excepção
do queixo e do pescoço da rainha (fig. 4)14.
Protocolo de Aton
42
anx Ra-@r-Axty Hay m Axt
Viva Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte
m rn.f m Sw nty m Itn anx Dt nHH
no seu nome de «A luz que está no disco solar» vivendo eternamente, para sempre.
43
Itn anx wr imy Hbw-sd
Aton vivo que está em jubileus,
44
nb pt nb tA nb n Pr-Itn m Axt-Itn
senhor do céu, senhor da terra, senhor do templo de Aton, em Akhetaton.
Protocolo real – o habitual. Destruído em muitas zonas,
Protocolo da rainha - destruido.
13 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 3. 14 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 3.
14
Protocolo das princesas. É possível reconstituir um deles
45
sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrit-Itn msi(t) n Hmt-nsw wr(t ) mrit.f
nbt-tAwy
Filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da grande esposa real, sua amada,
senhora das Duas Terras
Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH
Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre15.
Recompensa de Pentu
Parede N, região inferior, Pls. VIII, IX. Texto: lns. 49-52.
Fig. 5 − Recompensa de Pentu. Recebe um grande número de colares no pátio do templo os quais lhe vão
sendo cingidos ao pescoço. Davies, RTEA, vol. IV, Pls. IX, VIII-A.
15 O mesmo protocolo é certamente usado para a princesa Makt-Itn, Maketaton. É possível
que nas colunas seguintes, destruídas, estivesse o protocolo de anx(s)n pA Itn,
Ankh(es)enpaaton. São as únicas princesas representadas.
15
A inscrição que acompanha a figura de Pentu perdeu-se. A família real e a sua comitiva
recebem Pentu, no pátio do templo. O texto diz o seguinte:
46
fqA … … … … … Xr(y)-tp nsw bAk-tpy n Itn
Recompensando… … o servidor do rei, o primeiro dos servidores de Aton
47
m Hwt pA Itn m Axt-Itn imy-xnt wr swnw PnTw mAa-xrw
no “Domínio de Aton” em Akhetaton, o camareiro, o chefe dos médicos,
wr swnw PnTw mAa-xrw Dd.
Pentu, justificado. (Ele diz:)
48
aSAw xt rx di.st pA Itn Hr-a (w)y m ib.f
Muitas são as coisas que Aton é capaz de conceder16 imediatamente, segundo a sua vontade17.
O discurso de Akhenaton está tão deteriorado que não é possível tentar qualquer tradução. A
resposta de Pentu é a seguinte:
49
ssnb pr-aA anx wDA snb pAy.k Sri nfr
Dá saúde ao faraó − vida, prosperidade, saúde − ao teu belo filho!
16 rdi-xt, «dar presentes». Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 448. 17 Hr-a; Hr-awy ,«imediatamente». Ver GARDINER, op. cit., p. 582; m ib.f, «segundo ele». Ver
BONNAMY et SADEK, op. cit., p. 43. Parece mais correcto traduzir como fizemos.
16
50
pA Itn im m-a iry.f pAy.k aHaw
Ó Aton deixa-o atingir o teu tempo de vida,
51
im-ma sw r nHH
deixa-o (atingir) a continuidade!
Pentu é honrado no Palácio
(Parede Sul, parte inferior, Pl. VIII)
Esta cerimónia tem lugar no Palácio. Akhenaton senta-se na sala das grandes recepções e é de
supor que Nefertiti estivesse sentada a seu lado ou atrás dele. Pentu está de pé com um ar
agradecido perante as dádivas reais que dois criados põem diante dele.
Fig. 6 − Parede Sul, região inferior. Pentu é honrado no Palácio. Recebe um grande número de colares no
pátio do templo os quais lhe vão sendo cingidos ao pescoço. Davies, RTEA, vol. IV, Pl. VIII-B.
17
Pentu é novamente representado fora de portas, recebendo as felicitações dos amigos e, como o
seu protocolo também se vê por cima de outro grupo talvez ele aí estivesse também. O seu carro
aguarda-o acompanhado por uma escolta militar. De acordo com uma inscrição meio apagada,
Pentu estava acompanhado por:
52
rmT Sna smdt nbt pr n …
O pessoal do armazém e todos os subordinados na casa de …
Parede Sul. Cenas superiores.
O rei e a rainha tomando uma refeição (Pl. X)
Restam poucos fragmentos desta pintura. Os contornos do corpo são executados a vermelho
mas o colar é azul e a taça foi deixada em branco18. O grupo está a cerca de 1,8 m da extremidade
direita. Mostra o rei e a rainha com uma princesa a seu lado, sentados em cadeiras e cada um deles,
frente a uma peça de carne. Uma mão à esquerda sugere que uma figura de igual importância está
sentada de rosto virado para o rei19.
18 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, p. 6. 19 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. IV, pp. 5-6.