UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:
UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO DE
CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
JOSEFA PATRÍCIA SÉRVULO DOS SANTOS
PATOS- PB
2015
JOSEFA PATRÍCIA SÉRVULO DOS SANTOS
EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:
UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO DE
CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Campina Grande,
Campus de Patos/PB, como parte das exigências
para a obtenção do grau de Licenciado em
Ciências Biológicas.
PATOS- PB
2015
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSRT DA UFCG
S237e
Santos, Josefa Patrícia Sérvulo dos
Edgar Morin, Bachelard e a complexidade: uma discussão sobre a
reforma do ensino e a construção de cabeças bem-feitas para a educação
brasileira / Josefa Patrícia Sérvulo dos Santos. – Patos, 2015.
36f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Ciências Biológicas) – Universidade
Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2015.
"Orientação: Profa Dra Maria de Fátima Araújo Lucena”
"Co-orientação: Prof Msc. Jair Moisés de Sousa”
Referências.
1. Epistemologia. 2. Conhecimento. 3. Complexidade. I. Título.
CDU 37.015.4
Dedico
a todos os docentes que
contribuíram imensuravelmente
à minha formação, desde as séries
iniciais, até o nível superior.
Em especial, a minha primeira e inesquecível
Professora Maria Cândido Pereira –
Escola João Cavalcanti Sula.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pela saúde de todos os dias. Pela coragem
que me foi dada para enfrentar as dificuldades diárias, pela força e disposição para as
inúmeras viagens em que fiz, pelas amizades proporcionadas, pelo dom da paciência, pela
iluminação das minhas escolhas, pela fé e esperança inabaláveis que não me permitiram
desistir em nenhum momento. E porque é Dele todo o merecimento e honrarias que devo
prestar.
A minha família, pelo apoio concedido, pelas palavras de entusiasmo e animação, à minha
mãe Cida, pelo amor e carinho em que a encontrava nas horas que retornava para casa. Ao
meu pai Neto, que mesmo com a sua simplicidade, nunca me desanimou um só momento, ao
contrário, sempre me motivando para estudar e ao meu irmão Júnior, a qual está no lado
direito do meu peito. Por meio deles, agradeço também a todos os meus familiares.
Ao meu marido Antônio Téu, pelo companheirismo, pelo apoio diário, pelas palavras
motivacionais, pelas sugestões e dicas, pela paz do seu coração, por todos os instantes que a
sua presença foi a resposta para as minhas perguntas. Por deixar de viver a sua vida, para
viver a minha e por dois anos ter omitido a sua vontade de estudar o que mais desejava, para
me acompanhar e viver o meu sonho. Por tudo que passei, inexistente foi o momento em que
não esteve comigo. Para ele, todo amor do mundo. Te amo Antônio!
Aos meus companheiros de curso, Leandro e Leonila, pelos momentos difíceis que vivemos
no decorrer desses cinco anos, pelos sacrifícios compartilhados, pelas lutas enfrentadas, pelos
desafios vencidos juntos, um pelo outro. Amizade é a palavra que tenho para vocês, podem
contar comigo sempre!
A todas as gestões municipais que forneceram ônibus para a cidade de Patos. Diante das
dificuldades, a falta de um transporte poderia ter sido um grande empecilho, não só para mim,
mas para todos os universitários que utilizavam esta maneira para estudar, pois a grande
maioria, como eu, trabalhavam em horário oposto. O dinheiro público deve sim, ser voltado
para fins como esse. E por menor que a minha cidade seja, me orgulho de ver gestores
municipais assim, que acreditam na educação e ofertam ônibus de forma gratuita para
universitários. Apreço também, por todos os motoristas.
Aos gestores escolares Janaína Alvarenga Guimarães e Edineide dos Santos Madalena pelo
apoio fornecido durante os estágios, como também aos professores Ana Angélica Pinto,
Cassiana Genuíno, Maria Livoneide Alves e Luciano de Brito Júnior pela forma como me
orientaram. O amor que possuem pela educação é motivante.
Aos meus amigos de Boa Ventura, grande gratidão que existe em meu coração por tê-los em
minha vida e poder contar sempre. Maria Emília, Sayonara, Thaís, Suzana, Joseane, Laíla,
Sara, Janaína, Elizângela, Maria do Socorro e Jaires obrigada pelo apoio e carinho
continuamente.
Aos meus orientadores Jair Moisés e Maria de Fátima, ambos foram pessoas excelentes
comigo. Nunca irei esquecer os momentos vividos com eles e o quanto contribuíram para a
profissional que estou me tornando. Em especial ao Professor Jair, pela sua paciência,
dedicação e por ter me proporcionado inúmeras descobertas. Me espelho em vocês, muito
obrigada!
A todos os Professores do Campus de Patos, pelos saberes compartilhados, pela humildade,
pela competência dos seus trabalhos. Agradecida eternamente, sentirei saudades!
“Eu tentei noventa e nove vezes e falhei.
Mas na centésima tentativa eu consegui.
Nunca desista de seus objetivos, mesmo
que esses pareçam impossíveis.
A próxima tentativa pode ser a vitoriosa.”
Albert Einstein
RESUMO
O presente artigo propõe uma discussão sobre a reforma de pensamento para os educadores
acerca do ensino, e faz ênfase a uma também reforma de instituições no Brasil. Analisa
algumas obras de Edgar Morin, filósofo, de origem francesa, formado em Sociologia,
História, Direito e Geografia, pensador que sugere muitas propostas extraordinárias para a
educação. Por meio da sua visão contemporânea de mundo e do pensamento complexo,
sugere adaptações que permeiam grandes reflexões para os educadores. Analisando obras
como o Livro “A Cabeça Bem-Feita” e “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”
propomos o que é necessário para iniciarmos esta mudança; para nós, começa com a reforma
do pensamento. Assim então, para entendermos a carência de uma reforma, busca-se aqui
demonstrar o que é a complexidade. Para este fim, abordamos inevitavelmente também o
pensamento e a obra de Gaston Bachelard. A complexidade, tema de estudos desses dois
grandes pensadores é aqui analisada com direcionamento ao modelo atual da ciência na
educação brasileira e aos conhecimentos atuais, que encontram-se divididos e fragmentados,
utilizando-se também de diversos outros autores que são a favor de uma mudança no padrão
de educação brasileira. Conhecedores da fragmentação e acumulação de saberes sem nexo, é
possível utilizar a complexidade, como instrumento de transformação desta realidade atual e,
por intermédio dela, construir a reforma do pensamento; iniciando mesmo não oficialmente,
em um trabalho coletivizado e reflexivo. Com o auxílio dos sete saberes postulados por
Morin (considerar os erros e ilusões da ciência, construir o conhecimento pertinente,
reaprender a nossa construção humana, reconhecer que somos indivíduos com identidade
terrena, enfrentar as incertezas do conhecimento, ensinar e aprender a compreensão e discutir
exercitando a ética), tem-se uma consistente “bússola pedagógica” para iniciarmos esta
mudança que o Brasil necessita na educação. Demonstrar que é possível sim interligar saberes
e avançar no conhecimento para a construção de “cabeças bem-feitas” como afirma Morin,
ainda que simplesmente, cada um comece fazendo a sua parte.
Palavras-chave: Epistemologia, Conhecimento, Complexidade
ABSTRACT
This article proposes a discussion about the reform of thought for the educators about
teaching, and is also emphasis on a reform of institutions in Brazil. Analyzes some works of
Edgar Morin, philosopher, of French origin, graduated in Sociology, History, Law and
Geography, which features many extraordinary proposals for education. Through his
contemporary vision of the world and the complex thought, suggests adjustments that
permeate large reflections for educators. Analyzing works as the Books "A Cabeça Bem-
Feita" and "Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro" propose what is needed to
begin this change; for us, begins with thought reform. Therefore, to understand the need for
reform, we seek to demonstrate what is the complexity, study theme of these two great
thinkers and compares it to the current model of science in Brazilian education and the current
knowledge, lying divided and fragmented also using up several other authors who favor a
change in the pattern of Brazilian education. Connoisseurs of fragmentation and accumulation
of knowledge without connection, you can use the complexity, such as transformation of
current reality instrument and, through it, build the thought reform; starting even unofficially,
in a collectivized and reflective work. With the help of Seven Knowledge postulated by Morin
(consider the errors and illusions of science, build relevant knowledge, relearn our human
construction, recognize that we are individuals with earthly identity, face the uncertainties of
knowledge, teaching and learning to understand and discuss exercising ethics), it has been a
consistent "pedagogical compass" to begin this change that Brazil needs in education.
Demonstrate that it is possible to link knowledge and advancing knowledge for the
construction of "well-made heads" as says Morin, even simply, each start doing their part.
Keywords: Epistemology, Knowledge, Complexity.
SUMÁRIO
Introdução Geral........................................................................................... 01
Introdução......................................................................................................03
Os Tipos de Conhecimento.......................................................................... 06
Considerações Sobre a Construção do Conhecimento................................. 09
Bachelard, Morin e a Teoria da Complexidade............................................ 12
Avaliando a atual situação dos docentes frente aos saberes e o conhecimento
...................................................................................................................... 15
Discutindo o Início de uma reforma............................................................. 20
Considerações Finais.................................................................................... 28
Referências................................................................................................... 30
Anexos.......................................................................................................... 35
1
INTRODUÇÃO GERAL
Um dos problemas atuais da educação é a maneira como o conhecimento está
posicionado na sociedade, principalmente no ensino, na visão dos discentes e também dos
educadores. Assim, as escolas estão cada vez mais formando “fábricas de trabalhadores”
(ALMEIDA, 2012) e não indivíduos aptos a se posicionarem na sociedade com suas
indagações, concepções e ideias.
Por isso, estamos prestes a um colapso de excessos e faltas, o que nos conduz a
um pensamento de reforma, que vise algo diferente dos currículos e não esteja presa a
aumento de salário. Deve ser levado em conta simplesmente a necessidade de valorização do
conhecimento e suas especificidades. Autores de trabalhos na área da educação, como Kassab
e Santana, exprimem as suas reflexões, com auxílio das ideias de Morin e Mais, sobre como
deve caminhar a sociedade com os progressos do conhecimento, visando focar em pontos
diferentes de toda a sua história.
Como proposição para começarmos uma reforma, e levando em conta a nossa
condição humana, Silva sugere (2011) que iniciemos com a construção de “cabeças-bem-
feitas”, para os alunos se tornarem completos e compreensivos. E para o professor trabalhar
para uma educação com cabeça bem-feita, tem como primordial buscar o que é relevante nas
relações entre os fenômenos naturais, políticos, sociais e culturais, e interligar todos eles.
Diante disso, conscientes da necessidade de uma reforma, também devemos
enxergar toda a educação planetária em que estamos inseridos e entender com uma visão
complexa. Para isso, o trabalho proposto é uma discussão sobre uma reforma do ensino e a
adoção do modelo de “cabeça-bem-feita” e não mais “cabeça bem-cheia”. Através desse
enfoque, tratamos a complexidade, firmada por Bachelard e Morin, como essencial para se
pensar em uma verdadeira reforma, e livros, que também podem auxiliar como um guia, “A
Cabeça Bem-Feita” e “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, ambos obras de
Edgar Morin.
2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M. C. Ciências da Complexidade e Educação: razão apaixonada
e politização do pensamento. Natal: EDUFRN, 2012.
KASSAB, P. M.; SANTANA, A. J. O exercício da sensibilidade estética na
dinâmica de construção da cabeça pensante. IX Colóquio de Pesquisa Sobre
Instituições Escolares – História e Atualidade do Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova, 2013.
SILVA, L. E. Por uma Educação para uma cabeça bem-feita. Revista
Educação-UnG, v. 6, n. 2, p. 64-73, 2011.
3
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EDGAR MORIN, BACHELARD E A COMPLEXIDADE:
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UMA DISCUSSÃO SOBRE A REFORMA DO ENSINO E A CONSTRUÇÃO
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DE CABEÇAS BEM- FEITAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
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Josefa Patrícia Sérvulo dos Santos1
Maria de Fátima de Araújo Lucena2
Jair Moisés de Sousa3
Edgar Morin, de origem francesa, antropólogo e sociólogo, graduado em
História, Geografia e Direito, possui inúmera parte de sua produção científica
acerca dos novos pensamentos e concepções sobre a educação e o ensino que
aconteceram ao longo do século XX em contexto com a Ciência da Informação
(FRANCELIN, 2003). Como Almeida (2004) simplificadamente define “É um
pensador inclassificável, múltiplo, um ‘eterno estudante’”. Morin aborda, também,
em várias de suas obras, a ciência, a epistemologia do ensino, o pensamento
complexo e a reforma das instituições e do pensamento. Por meio de sua
explanação, torna-se possível avaliar a atual situação do conhecimento frente aos
padrões da sociedade e, principalmente, entender a educação e o ensino de
maneiras diferentes.
O pensamento de Edgar Morin é, sem dúvida, fascinante e, assim
sendo, tem para nós educadores imensa contribuição, porque através de suas
conclusões podemos buscar uma reforma do ensino, nos avaliar como cidadãos e
ao mesmo tempo fazer modificações para o novo século, alterações estas
necessárias para um inédito modelo de educação voltado para a construção de
alunos e pessoas apaixonadas pelo conhecimento, e que ao mesmo tempo
possuam estes saberes interligados por intermédio de uma “cabeça bem-feita” –
modelo em que o aluno aprende para a vida inteira, porque os seus saberes são
constituídos de ligações, resultando no sentido complexo do aprendizado.
Segundo Morin, a cabeça bem-cheia deve ser eliminada de uma vez por todas,
pois é possuidora tão somente de conhecimentos estéreis, e enfatiza a importância
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4
de uma “cabeça-bem-feita”. Para que seja valorizado todo o conhecimento do aluno;
é necessária que exista, para ele, a noção de ligação dos conteúdos em sala de aula
e também que compreenda as várias versões do conhecimento e as suas
particularidades. Porque como sugere:
[...] todo acontecimento cognitivo necessita da conjunção de processos
energéticos, elétricos, químicos, fisiológicos, cerebrais, existenciais,
psicológicos, culturais, linguísticos, lógicos, ideais, individuais,
coletivos, pessoais, transpessoais e impessoais, que se encaixam uns
nos outros. O conhecimento é, portanto, um fenômeno
multidimensional, de maneira inseparável, simultaneamente físico,
biológico, cerebral, mental, psicológico, cultural, social. (MORIN, 2012,
p.18).
Com base nisso, comparando as perspectivas de Morin aos dias atuais é
perceptível a necessidade da reforma do pensamento, e construção do ensino para
formação de cabeças bem-feitas e não apenas fartas de conhecimentos
desconectados e isolados. Ele indica um auxílio para conseguirmos mudar essa
realidade. São “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”; um ótimo
caminho para que sejam dribladas dificuldades históricas e planetárias, excluindo-as
do dia-a-dia estudantil, ao mesmo tempo auxiliando na construção de indivíduos
inteligentes e proprietários dos seus conhecimentos, novos homens e novas
mulheres, cidadãos completos e complexos. Conforme Morin, o propósito dos sete
saberes é fazer revisão dos currículos; integrar as disciplinas religando os saberes;
modificar e reorganizar o pensamento; abrir outros campos de saberes; recusar
separações que não são positivas, como a razão da emoção, a ciência da arte e a
ciência do mito e por fim estimular o diálogo entre diferentes disciplinas, utilizar a
multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade.
Bachelard outro importante pensador do século XX, também introduz o
conceito de uma nova pedagogia, que chamou de pedagogia complexa ou científica,
buscando auxiliar uma nova prática científica-docente, instruindo uma prática para a
cultura científica e a aquisição de uma forma de conhecimento que, na visão dele,
acaba se traduzindo automaticamente numa reforma de espírito (FONSECA, 2008)
algo além da condição humana.
O conhecimento é de extrema valia para a vida das pessoas, simboliza
uma riqueza inestimável que nenhuma espécie de moeda pode adquirir. Grande
5
parte da sociedade, tristemente, associa o conhecimento como algo para satisfazer
exclusivamente às necessidades financeiras, para estes, o saber está relacionado
diretamente ao poder (RIBEIRO,1993) transformando-o assim simplesmente em um
mecanismo que um dia gere dinheiro, e, assim sendo, seja convertido em forma de
padrão social, produzindo lucro. Infelizmente, sendo associado a altos padrões de
vida, o conhecimento permanece, em grande parte das sociedades, preso e
enclausurado às universidades. Alguns cientistas e professores universitários
mantêm uma postura na maioria das vezes diferente do que realmente deveria ser,
pois atuam como caixas de segredos, abertas somente em território permitido. É
necessário repensar o uso do status social e científico em que se vive para que, este
seja colocado também e sempre a serviço da nação.
Nas escolas, por meio de disciplinas, a educação fica fragmentada em
tópicos isolados, nos quais o conhecimento se encaminha de toda a ordem, mas não
da desordem proporcionada pelos fragmentos (RAMOS, 2008). Este é o modelo
padrão do sistema de ensino no Brasil e na maioria dos países.
Nascimento e Carvalho (2004) ressaltam várias pesquisas de KHALICK e
LEDERMAN (2000); LEDERMAN (1992); GIL-PÉREZ et.al., (1993) na área das
ciências, sugerindo que na grande maioria os discentes possuem ou formulam
concepções inadequadas sobre a natureza do conhecimento científico. Talvez essas
concepções sejam fruto do modelo de educação em que estão inseridos. Assim, há
necessidade de uma reforma de pensamento e de instituição.
Sobre a formação docente, ela deve objetivar a constituição reflexiva,
transformadora e crítica do professor frente ao conhecimento (PIETROBON, 2006).
Bachelard enfatiza a necessidade dos docentes em valorizar os conhecimentos do
senso comum dos alunos diante do processo de ensino (ANDRADE et. al., 2000).
Porquanto as escolas apresentam, como objetivo principal, a formação do
conhecimento, uma vez que não devem apenas centrar suas expectativas na
produção do conhecimento científico. Dessa forma, é importante que o aluno
mantenha seus valores e princípios e, mais ainda, continue ligado à sociedade na
qual está inserido (LOPES, 1997), consciente de que todo o saber que traz de sua
casa, da observação de seus pais acerca da natureza, dos modos em que lidam
com os animais ou com a agricultura, tem realmente a sua lógica; e que esse
conhecimento não está pronto, pode ser aprimorado (CARVALHO FILHO &
ERNANE, 2006) e cada vez mais fazer sentido a seus olhos. Também é importante
6
que todo o saber proporcionado nas instituições seja interligado, e, nesse sentido, o
aluno possa fazer conexões entre diversas disciplinas, que até então eram
totalmente distintas para ele, antagônicas.
Pfuetzenreiter (2001, p.13) afirma que “a utilização de um modelo de
ensino que estimule os alunos a pensar de maneira não fragmentária supõe uma
profunda reflexão do papel da universidade e do tipo de profissional que se pretende
formar”. Raciocinemos sobre o nosso modelo de ensino. Será que estamos
corretos?
Com esse enfoque, o presente artigo analisa, por meio principalmente do
pensamento de Edgar Morin e de Bachelard, mas também de outros autores, a
necessidade emergente de avaliação do processo de ensino, proporcionando,
sobretudo, uma discussão sobre a reforma que não só deverá ocorrer na Educação
Básica, brasileira, mas também se expandir ao Ensino Superior. É observável
atualmente uma certa quantidade de autores que utilizam a complexidade para tratar
dessa possível reforma e para vencer os obstáculos contemporâneos, inerentes ao
conhecimento, advindos da sociedade moderna que estamos inseridos. Por este
motivo, algumas explanações sobre a proposta de complexidade serão feitas, além
de tratarmos questões sobre o conhecimento, o seu significado para os alunos antes
da reforma e hipoteticamente após a reforma. Visto que a própria sociedade clama
por um conhecimento que tenha nexo, ou podemos dizer de interpretações e
conexões.
OS TIPOS DE CONHECIMENTO
O conhecimento é o objeto de estudos da filosofia em algumas de suas
vertentes: “crítica do conhecimento”, “gnosiologia”, “epistemologia”, “teoria do
conhecimento” (MORA, 1998). Propõe que um possível resultado de tal
fenomenologia é bem nítido aos nossos olhos: conhecer é o que ocorre quando um
sujeito (possivelmente chamado “cognoscente”) apreende algo ou um objeto
(chamado “objeto de conhecimento”). E, por fim, o resultado disso não é o esperado
e nem é simplório. Ainda é citado que não só “o conhecimento da realidade sensível
está baseado em impressões”, mas também o conhecimento está nas realidades
7
nada sensíveis, como os números, figuras geométricas e ainda tudo o que é surreal
e ideias.
Podem-se definir inúmeros tipos de conhecimento: senso comum ou
saberes da tradição, científico, religioso ou teológico, filosófico, político, entre outros.
Milhares de explanações podem ser feitas sobre cada um, pois, todos são fruto da
capacidade humana.
Os Saberes da Tradição – também conhecido como saber popular se
desenvolveu no homem logo após o nascimento, a partir do instante em que o
indivíduo vem ao mundo ele constrói as suas ideias e faz isso até o dia da sua morte
(CORREIA, 2006). Um fator importante para esse conhecimento e sua disseminação
é a cultura dos povos, porque os indivíduos possuidores de saberes elaborados ao
longo de anos vão herdando e reproduzindo de geração em geração. Um exemplo
inicial e histórico são as pinturas rupestres, responsáveis por originar uma das
maiores dádivas da inteligência humana – a escrita, definindo territórios, domínios e
expressando através de signos as primeiras representações culturais formuladas por
esses povos (MOSÉ, 2013). A exemplo também do conhecimento dos indígenas,
mesmo habitando em meio as matas e afastados das cidades desenvolveram desde
muito tempo atrás diversificada alimentação, elaboração de rituais para vários fins,
medicina natural com ervas que realmente demonstram curar inúmeras
enfermidades até os dias atuais e as formas como tratam ferimentos e picadas de
animais venenosos; também os habitantes de comunidades quilombolas, povos que
são representantes vivos de escravos fugidos para o quilombo, semelhante aos
índios adquirem muitos saberes para continuarem vivendo da maneira que estão até
hoje. Ambos constroem suas ideias, seus limites e através da própria construção,
resolvem os problemas, entendem o sentido das coisas que os rodeiam, como o
passar dos dias, a chegada da lua e o pôr do sol.
Conhecimento Científico - é o tipo de conhecimento que organiza
sistematizando um saber que até antes era disperso e compartimentado (Morin,
2000). Na ciência, todas as descobertas realizadas precisam ser necessariamente
comprovadas. Para esse fim de comprovação se utiliza do método científico.
Bachelard (1996) em “O Espírito Científico” diz que quando procuramos uma
explicação lógica para o motivo do progresso da ciência, logo chegamos ao
convencimento de que é em termos de obstáculos que a problemática do
8
conhecimento científico deve ser exposta. Talvez por se valer da crítica permanente,
reavaliando-se sempre para provar a veracidade de suas teorias é que o método
crítico tem garantido ao processo cientifico a confiabilidade temporária, pois localiza
constantemente dificuldades, contradições e erros, se reformulando sempre. “Cada
nova teoria provoca uma ruptura com as teorias existentes e pode levar décadas
para se tornar a mais aceita” (JUSTINA & FERRARI, 2000, p. 129). Diferente, por
exemplo, da Filosofia, que lida com a razão, a Ciência utiliza-se da experimentação
para validar os fatos, para que sejam criadas leis e apresentadas descobertas, que,
muitas vezes, surpreendem a humanidade. Principalmente no que diz respeito à
cura de doenças, novas tecnologias, alimentos transgênicos, entre outros. Também
para Karl Pooper, filósofo (1902-1994) austríaco naturalizado britânico, que é
considerado um dos mais importantes do século XX a pesquisar e tratar da filosofia
da ciência, o pensamento é semelhante ao de Bachelard. Ambos acreditam que a
teoria científica é conjectural e provisória. Ao mesmo tempo, Bachelard acredita na
existência de uma grande quebra entre o conhecimento científico e o conhecimento
de senso comum, porque enquanto o conhecimento vulgar é formulado através de
princípios empiristas de utilidade ou alguma finalidade, o científico cada dia mais é
formulado por princípios racionais, o que o torna mais e mais teórico (ANDRADE, et.
al, 2000). Por fim, ousemos dizer que a evolução das ciências e suas descobertas,
conhecidas por nós, proporcionam a todo tempo conforto, segurança e hábitos cada
vez maiores, que nos induzem ao apego, por exemplo, a um mundo virtual, que nos
guia a uma sociedade cheia de liames ao artificial, e nada ao natural. Além de ter
permitido a realização de muitos sonhos antigos dos homens, como voar, navegar
em baixo d’água, chegar à lua, aumentar sua expectativa de vida, tudo frutos de
muito sacrifício (DIAS, 2012).
Conhecimento filosófico - o homem também faz indagações mais
profundas, racionalizações de eventos que circundam a natureza, os fenômenos
científicos e a sua vida. Este tipo de conhecimento, busca por respostas
inesperadas, que não precisam de comprovação, mas, sim, entender o indivíduo e o
mundo complexo ao seu redor. Diferente dos conhecimentos populares, o
Conhecimento Filosófico tem contribuído significativamente para a ciência. Citam-se
grandes nomes, como Aristóteles, Sócrates, Platão, dentre outros não
contemporâneos a estes célebres filósofos. Para Morin (2012) a Filosofia é, acima
de tudo, uma força de interrogação e de reflexão, dirigida para os grandes
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problemas do conhecimento e da condição humana. Sendo desta maneira, uma
forma de situar o homem na realidade da sociedade, investigando a sua posição
diante dos fatos. Chaui (1987) afirma que ainda hoje muitas pessoas se questionam
sobre a importância dessa ciência e até muitos alunos resumem seus professores
“filósofos” como pessoas distraídas e com a cabeça no mundo da lua. Mesmo diante
dessas considerações, ela diz que a filosofia continuará se questionando sobre o
homem, a razão e a sua vontade. Não poderia ser diferente, pois é um campo muito
importante, oferecendo contribuição para o estudo de várias ciências, como as
humanas e da natureza. O problema de fato, é a falta de conhecimento por parte
das pessoas. Karl Popper, o grande epistemólogo denominou a sua filosofia de
“Racionalismo Crítico” e para ele a verdade é inalcançável. Não podemos falar sobre
filosofia no século XX sem citar o seu nome.
Conhecimento Religioso ou Teológico - Desde o surgimento da geração
humana, as pessoas já possuíam suas crenças, nas mais variadas formas,
apoiando-se numa doutrina ou religião, que, atualmente, alguns ainda conservam
assim; a única diferença é, portanto, a pluralidade de manifestação de fé que
encontramos hoje. Enfim, ambas fazem parte da religiosidade humana. Acreditam
que existe um ser, que é superior a todas as forças, inclusive as da natureza. Por
meio da fé, os possuidores do conhecimento teológico, discordam de muitas
descobertas da ciência, porque se fundamentam na divindade de um Ser Supremo.
Alimentamos a nossa consciência e o nosso coração com crenças motivadas pela
nossa fé, assim, o conhecimento possuído ganha consistência e poder, (MORIN,
2003) muitas vezes ninguém consegue modificar este saber de quem o possui. Entre
a Ciência e a Religião existem conflitos que ainda resistem de muito tempo atrás. De
fato, pode-se afirmar que estes dois tipos de conhecimento mantêm uma rivalidade
que resiste após séculos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
A humanidade vivenciou muitos fatos históricos e, acontecimentos que
proporcionaram várias reflexões e diálogos, estes sempre alimentados por
perguntas, movem o ser humano, possuidor de um sentimento de curiosidade.
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Buscando entender de alguma forma os acontecimentos que o rodeia, o ser humano
constantemente anseia por respostas para os mais distintos fenômenos que ocorrem
perceptíveis ou não aos seus olhos. A ciência é uma forma particular de
conhecimento, ao passo que este não é reduzido à ciência, (ALMEIDA, 2012) sendo,
pois, pertinente a outros campos e visões que não são científicas, como visto
anteriormente.
A partir do momento em que o indivíduo, valendo-se de um mecanismo
de internalização, concentra-se em suas reflexões, ele estará sendo,
automaticamente, direcionado e transportado para um mundo sem limites e sem
desfechos. Com isso, buscando compreender as mais variadas situações que
ocorrem ao seu redor, o homem situa-se em um lugar que é só dele – sendo
eminentemente proprietário da sua consciência – a partir do qual é capaz de
encontrar de fato soluções para os seus questionamentos.
Será, portanto, possuidor de riquezas – atributos que estarão intimamente
intrínsecos e imanentes ao indivíduo – a partir do momento em que este consegue
responder as suas próprias indagações (BACHELARD, 1996). Com os olhos e a
mente centrados para enxergar o que muitos não conseguem ver, tornam-se
compreensivos os acontecimentos que surgem ao seu redor. Pode-se, pois, relatar
que, tendo o homem, então, vivenciado todo esse processo, terá ele, o prazer de
conhecer. Romão (2000), enfatiza a teoria do conhecimento, e a destaca como
sendo própria ao indivíduo, influenciando diretamente na sua escala de valores:
De fato, se cada indivíduo tem sua própria teoria do conhecimento e sua própria escala de valores, a construção da consistência científica e da ética social somente se torna possível pela coincidência entre os valores da ordem interior e hegemônicos na sociedade, objetivados numa exterioridade estranha, porque conceitos e valores dos demais também se remeteriam a uma exterioridade que tem o interior do primeiro indivíduo como parte constitutiva. Além disso, esta verdadeira migração ética para o próprio interior dificulta a objetividade das referências axiológicas, na medida em que cada indivíduo, convenientemente, pode aderir a um conjunto de valores expressos ou dominantes na sociedade, apenas quando sentir que tal adesão lhe é conveniente (ROMÃO, 2000, p.35).
O conhecimento compreende toda informação, observação, pensamento
e resultados que são encontrados nas simples e complexas reflexões, que são feitas
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em busca de respostas, para a compreensão de eventos variados que circundam a
natureza, os seres e os seus fenômenos. É algo de magnífico, que não pode e nem
deve ser comparado com certos objetos. Por certo, não pode ser um instrumento
como os outros, pois é utilizado para conhecer os outros instrumentos e a si mesmo
(MORIN, 1986).
O valor que o Conhecimento tem para a humanidade é algo inestimável,
que, embora muitos não saibam ou desconheçam essa vertente, são capazes de, na
sua simplicidade, compreender e abdicar de um momento, para fazerem uma
viagem extraordinária, não só dentro de uma escola, mas também fora dela. O que
basicamente é necessário, para conduzir sua mente a busca de saberes e
conhecimentos, é um bom livro ou um simples minuto gasto de observação ao seu
redor. Para que isso aconteça, é preciso interesse, reflexão, curiosidade -
capacidade inata que o ser humano possui. Como destacou René Descartes (1637),
em O Discurso do Método, a possibilidade de estar sozinho e bem aquecido em um
quarto, o propiciava a chance de se entreter com os seus pensamentos. Diante
disso, é possível fazer uma reflexão acerca de que não só Descartes poderia realizar
esse feito, como também qualquer outro que se mantivesse fixado e com o mesmo
intuito de buscar saberes na imensidão da infinidade dos conhecimentos.
Após refletir sobre cada conhecimento, seus detalhes, embora
conseguidos e elaborados de maneiras distintas, sempre foram frutos da consciência
humana, da curiosidade, da sua inteligência.
. Por que não? Se o homem conseguiu tantos conhecimentos, que somos
capazes de dividi-los em tipos diferentes, como demonstrado anteriormente, não
seríamos competentes o suficiente para contextualizar todos eles, integra-los a um
tecido inteiro, compreende-los em um nível mais avançado?
Morin, por sua vez, ao tratar deste assunto no livro “A Cabeça Bem-Feita”,
afirma que devemos tornar a complexidade um desafio. A complexidade podemos
dizer, que são as características existentes na nossa realidade, elaboradas a partir
das várias observações e percepções que são tidas do nosso mundo e da nossa
vida, fatos esses que costumam não dar continuidade ao que está formulado e sim
propor mudanças contínuas (MARTINAZZO, 2010). Quando os educadores no geral
compreenderem essa teoria dessa maneira, e talvez alguns poucos se tornarem
12
sensíveis a ela, poderão se dispor para reformar as suas mentes e as instituições de
ensino.
BACHELARD, MORIN E A TEORIA DA COMPLEXIDADE
“Portanto, o desafio da globalidade é também um desafio de complexidade”.
Edgar Morin
“Na realidade não há fenômenos simples; o fenômeno é um tecido de relações”.
Gaston Bachelard
Não podemos falar sobre complexidade, sem narrarmos um sucinto
discurso com nomes de autores como Bachelard e Morin. Conforme Morin cita em
suas obras, as raízes da complexidade foram firmadas por Bachelard.
Gaston Bachelard nasceu no ano de 1884 na França Campesina e
morreu em 1962 em Paris. Poeta e filósofo pretendia se formar em engenharia, ao
passo que a 1ª Guerra Mundial eclodiu, impedindo-o da realização de tal feito. Ele
vivenciou a ruptura entre os séculos XIX e XX, o campo e a cidade, elementos
inspiradores que o propiciaram várias reflexões e pensamentos (LOPES, 1996).
Quando professor lecionava as disciplinas de Física e Química e, posteriormente,
passou a lecionar Filosofia. Demonstrava-se preocupado com o ensino e também
era a favor do “Racionalismo”. Lopes (1996) afirma que Bachelard expõe a
importância de nós educadores conhecermos e valorizarmos os conhecimentos
anteriores dos alunos, isso em seu livro “A formação do Espírito Científico” (La
formation de l’espirit scientifique).
Digamos que era um autor com pensamentos muito além da sua época,
também propondo rupturas com a pedagogia atual (FONSECA, 2008); já afirmava
que no futuro, “o conhecimento seria fruto da sua própria negação”, até por este
motivo ficou conhecido como filósofo da desilusão (HALMENSCHLAGER &
13
GEHLEN, 2009), por pregar o ser como passível a erros e a retificação, que deveria
ser contínua. Dessa maneira, ele acreditava que a correção e aceitação do erro
produziam novos acertos, respectivamente conduzindo o indivíduo rumo ao
conhecimento. “O conhecimento então era um ato social, ao passo que não podia se
pensar na sua produção no isolamento” (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006).
Enfim, visto alguns momentos da vida do escritor, já que não nos cabe
aqui detalhar toda a sua trajetória, e não esquecendo a notada importância de
Bachelard como filósofo da epistemologia do conhecimento, vamos compreender a
sua significativa contribuição para a teoria da complexidade. Em suma, o que faz
Morin afirmar com plena certeza que Bachelard foi o filósofo da ciência no qual ele
iniciou suas reflexões e falas sobre a complexidade, é a independência e a relação,
o determinismo, a priori e a posteriori em suas relações e inter-relações, o infinito e a
indefinição, e o princípio da incerteza, pontos observados por Bachelard acerca do
pensamento científico; tornando-o de fato o primeiro a propor a complexidade.
(OLIVEIRA & RODRIGUES, 2008). Ou como Fonseca (2008) nos fala, o filósofo e
escritor que rompeu com as evidências cartesianas, sua forma de pensar e ver o
mundo em seus significados apontavam para ele a necessidade de reler o simples
sob o múltiplo numa visão mais complexa das coisas.
No momento, já certos da importância de Bachelard, vamos voltar a Edgar
Morin, que por muitos é considerado o pai da complexidade, mas na verdade, foi o
responsável pelo aprofundamento sobre o tema. Ambos são a favor do abandono
dos padrões em que a ciência está enquadrada, ou seja, modificar o pensamento
simplório e traduzi-lo ao complexo. É fundamental enxergar o ser por inteiro, toda a
sua magnitude, não fragmentando e dividindo. Claramente Morin define a
complexidade em seu livro “Introdução ao Pensamento Complexo”:
A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxodo uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico. Mas então a complexidade se apresenta com os traços inquietantes do emaranhado, do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza... Por isso o conhecimento necessita ordenar os fenômenos rechaçando a desordem, afastar o incerto, isto é, selecionar os elementos da ordem e da certeza, precisar, clarificar, distinguir, hierarquizar... Mas tais operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco de provocar a cegueira, se
14
elas eliminam os outros aspectos do complexus; e efetivamente, como eu o indiquei, elas nos deixaram cegos (MORIN, 2005, p.14).
Em se tratando do pensamento complexo, reafirmamos que Morin
aprofundou cada vez mais esta teoria, fazendo na maioria dos seus livros alguma
referência à complexidade, principalmente nas coleções de “O Método”. Onde o
próprio Morin afirma ser o método da complexidade, pois é a temática principal desta
obra. Como data para o surgimento oficial do então Paradigma da Complexidade é a
partir da década de 70, do século XX que é originado através de Edgar Morin
(RAMOS, 2008). Comprovamos então que a maioria dos trabalhos que se
referenciam em Bachelard, têm tratado apenas aspectos relacionados ao ensino-
aprendizagem de ciências, em especial na Química, Física e Biologia; análises das
concepções de Bachelard presentes no currículo de ciências para o ensino
fundamental e educação em saúde; e como filósofo do conhecimento cientifico,
(HALMENSCHLAGER & GEHLEN, 2009) mas infelizmente, poucos o apresentam
como iniciante na complexidade, mascarando o real surgimento desta teoria, algo
não bom para a ciência e o conhecimento.
Em tempos de tecnologia e mudanças, é fundamental e indispensável
entender a complexidade. Ainda que de forma simplória, nós educadores
precisamos ser conhecedores desse tema, pois é claro e perceptível que o modelo
atual de educação realmente tem nos tornado cegos, porque não estamos
enxergando a dinâmica das coisas, o sentido das ciências. Não é por menos, que
quando se fala em complexidade até parece que estamos tratando de algo
extraordinário e que desperta receio. O nosso conhecimento está incompleto e
fragmentado. Sendo assim, para tratarmos de uma reforma no ensino, a busca de
conhecimentos interligados e até da construção de cabeças bem-feitas se faz
necessário um pleno entendimento da teoria da complexidade, para assim
buscarmos reformar nossas mentes e instituições. Embora conhecida por poucos
educadores, atualmente a complexidade já é citada por considerável número de
escritores. Como Santos e Hammerschmidt (2012) que ressaltam em seu artigo a
inter-relação reflexiva da complexidade com a religação de saberes interdisciplinares
na Enfermagem/Saúde e descrevem o pensamento complexo:
Assim, o pensamento complexo visa mover, conjugar, articular os diversos saberes compartimentados nos mais variados campos do
15
conhecimento, sem perder a essência e a particularidade de cada fenômeno, religando matéria e espirito, natureza e cultura, sujeito e objeto, objetividade e subjetividade, arte, ciência, filosofia. Considera igualmente o pensamento racional-lógico-científico e o mítico-simbólico-mágico. O pensamento complexo se estabelece como requisito para o exercício da interdisciplinaridade (2012, p.564).
Martinazzo (2010), sintetiza o valor da complexidade para a ciência e o
conhecimento, associando a uma civilização planetária. O modo de civilização
planetária está relacionado ao modelo de sociedade em que nós estamos inseridos,
isso tudo relativo às tecnologias, às novas comunicações e aos atributos disponíveis
aos professores para o manuseio de atividades lúdicas e diferenciadas. Dessa
maneira, Martinazzo destaca a importância do pensamento complexo para essa
nova era planetária. Afirma que a escola, como instituição, ainda está muito simples
e a humanidade atual exige um conhecimento que supere o que é imposto pelas
disciplinas, e ainda religue, conecte e contextualize os saberes. Na opinião de
Nicolescu (1999) a complexidade está por todas as partes e em todas as ciências,
desde exatas a humanas, as flexíveis e mesmo as mais fechadas também
comportam a complexidade. Nos dá o exemplo da biologia e da neurociência que
demonstram novas complexidades a cada dia.
AVALIANDO A ATUAL SITUAÇÃO DOS DOCENTES FRENTE AOS SABERES E O
CONHECIMENTO
O Educador diante da construção dos conhecimentos e de suas
concepções sobre a ciência apresenta-se como um cientista. Como cientista, o seu
papel é estar ampliando os seus horizontes, pesquisando e mostrando ótimos
resultados com a investigação a qual realiza todos os dias em sala de aula e fora
dela.
No século XVI aulas eram ministradas para os nobres, pois só eles
podiam pagar pelos seus estudos, muitos até recebiam professores particulares, que
ensinavam individualmente nos cômodos da própria casa do aluno, as conhecidas
escolas domésticas. No Brasil, os colonos e escravos permaneciam “cegos” frente
ao conhecimento, não aprendiam a ler e não tinham chance de deparar-se com um
16
livro para folheá-lo, só após alguns anos passaram a ser catequizados. Podemos
afirmar que a constituição de 1934 dá os primeiros passos para estruturar a
educação no Brasil, porque estabelece o seu controle juntamente com o estado,
sistematizando as escolas públicas, privadas e laicas religiosas (RAMOS, 2008).
Distante do passado obscuro e diante do panorama educacional brasileiro
atual, podemos ressaltar que o conhecimento nos dias de hoje é parcialmente
acessível a todos àqueles que o buscam, pois nos currículos escolares e
universitários no geral, tudo é planejado, muitas vezes não sendo modificado nem
para abordar assuntos relevantes. O professor, sem dúvidas é o mediador para
conduzir o aluno à porta de entrada do novo mundo do conhecimento, embora o
indivíduo possa e deva caminhar também com suas próprias pernas. Para isso, além
de expor conteúdos, pesquisar para dar suas aulas, fazer planos e mais planos de
aula. O docente deve também ser um educador e auxiliar as crianças e os jovens a
se posicionarem na sociedade. Para Carvalho Filho e Ernane:
Educar não é, então, descarregar uma massa de conteúdos sem nexo, mas promover caminhos que facultem, ao educando, a oportunidade de superar as suas limitações e os obstáculos na aquisição de um conhecimento cada vez mais avançado. Porquanto o acúmulo de conteúdo não é garantia de aprendizagem, porque o estudante que domina uma grande quantidade de assuntos, de uma determinada ciência, pode não estar pensando de acordo com aquela área do saber e esse saber pode não ter promovido uma mudança na maneira de perceber o mundo. (2006, p.03)
Com esse enfoque, é possível classificarmos o docente como um
instigador que provoca e possibilita descobertas todos os dias, exercendo a função
de facilitar diálogos com os vários saberes, (SANTOS, 2008) respeitando acima de
tudo, o indivíduo no processo de ensino-aprendizagem. E não erradamente,
podemos afirmar que o professor também é um cientista.
Atualmente os professores estão inseridos em uma sociedade que está
mudando rapidamente e a todo o momento, a sociedade planetária a qual já foi
traduzida. Junto dela, a educação também está sendo moldada, passando por várias
situações culturais e históricas. Cada dia mais são criados novos cursos de nível
superior, incluindo inúmeros cursos técnicos, com o objetivo basicamente de
conduzir os indivíduos mais rapidamente ao mercado de trabalho. As ciências estão
sendo fragmentadas. O resultado produzido é a formação de profissionais e
17
conhecedores de uma ciência isolada, que não exercitam a interação entre as outras
ciências. Morin (2003, p.13) apresenta, em sua obra, uma citação de Lichnerowicz
que enfatiza a real situação do ensino:
Nossa Universidade atual forma, pelo mundo afora, uma proporção demasiado grande de especialistas em disciplinas predeterminadas, portanto artificialmente delimitadas, enquanto uma grande parte das atividades sociais, como o próprio desenvolvimento da ciência, exige homens capazes de um ângulo de visão muito mais amplo e, ao mesmo tempo, de um enfoque dos problemas em profundidade, além de novos progressos que transgridam as fronteiras históricas das disciplinas.
Não enfatizamos que os especialistas não sejam importantes, ou que
devam ser extintos da ciência. Claro que, com o número de descobertas e o avanço
mundial a cada dia, faz-se necessário, em todas as áreas, pessoas bem
conhecedoras de diferentes assuntos, aptas em ramos distintos da ciência, ao passo
que não é possível, de fato, ser conhecedor de todos os saberes ao mesmo tempo.
As disciplinas científicas inspiradas no modelo cartesiano de conhecimento não
ampliam os caminhos para a agregação de saberes, em contrapartida, permitem a
facilitação da assimilação de distintos conhecimentos (MARTINAZZO, 2010).
Portanto, o cabível é a existência da comunicação entre as áreas, ligação,
necessidade traduzida pelo surgimento da interdisciplinaridade e da
pluridisciplinaridade na metade do século XX (NICOLESCU, 1999). Como
importantes opções pedagógicas para o problema do isolamento das disciplinas nas
escolas, esta estratégia permite maior interação entre os professores na troca de
ideias e no trabalho coletivo.
Mosé (2013) afirma que da forma como estamos, há a produção somente
de “fragmentos desconectados” e não de pessoas, porque nos tornamos
especialistas cada vez mais desatentos da realidade, focados nos fragmentos,
afastados das grandes questões humanas, sociais, planetárias, ou seja, estamos
juntos a uma parcela tão pequena da realidade que esquecemos quem somos, o
que fazemos no mundo e o que buscamos, sendo levados por outros a qual ela
refere como “os que falam mais alto”.
De acordo com Guazelli et. al., (2005), a escola tem sido vista e tratada
como uma instituição que tem a função de estabelecer intercâmbio entre os alunos e
os saberes que são constituídos a cada dia pela sociedade, de forma que a nova
18
geração de alunos possa se apropriar desses saberes. O conhecimento que foi
produzido pelas gerações passadas deve ser valorizado pelas novas gerações. É
interessante que exista uma cultura de saberes. Os jovens necessitam passar uns
para os outros não só os conhecimentos científicos, mas também todo o
conhecimento conquistado de forma simples, embora não menos importante que a
ciência. Mas que as observações feitas por seus avôs e bisavôs tenham valor para
eles como conhecimento. Isso se faz extremante necessário.
Segundo a III Conferência Latino-Americana de Promoção de Saúde e
Educação Para a Saúde, realizada em São Paulo, no ano de 2002, estamos
convivendo com a extinção e a segregação de outros saberes que foram
acumulados pelas gerações durante toda a história. Esta crise nos conduz ao
movimento que a cada dia vem se esforçando para religar saberes, conservar
conhecimentos e formar diálogos com várias culturas, para aumentar o
conhecimento da realidade, intervindo com responsabilidade para garantir a vida
com qualidade (ERDMANN et. al., 2006). Deve acontecer uma reforma do
pensamento; esta, por seu turno, conduzirá a reforma do ensino, e a reforma do
ensino, por conseguinte, contribuirá positivamente para a valorização da reforma do
pensamento (MORIN, 2003).
Há uma nova visão sobre a maneira de ensinar, embora obscura ainda
para muitos educadores. Uma parcela dos nossos educadores têm plena
consciência de que o ensino clama por mudanças. É fato a ausência de amor pelo
aprender, por parte dos alunos; alguns estão na escola porque são cobrados,
porque ganham celulares, tabletes ou mesadas para estudar, porque precisam
passar no Enem e, consequentemente, cursarem medicina ou direito, pois são, na
realidade, os sonhos dos seus pais. Mas é lógico e, portanto, perceptível aos nossos
olhos que ainda são poucos os que possuem motivação própria para enveredar no
mundo do conhecimento. E sobre o formato da escola dos dias atuais Mosé nos diz
“Sem perspectivas diante dos inúmeros desafios do mundo atual, a escola já não
satisfaz ninguém: nem alunos, nem professores, nem gestores, nem as cidades,
nem o mercado”. (MOSÉ, 2013, p.54) É intrincado para os discentes se apaixonarem
pelo aprendizado em uma instituição que a tempos omite o que é, e não agrada nem
o mercado. Diante das dificuldades de natureza diversa que a sociedade enfrenta,
estamos sendo expostos a um padrão de vida e de educação que não desejamos.
Precisamos nos centrar em uma grande mudança; talvez seja necessário utilizar-se
19
das novas tecnologias com métodos distintos dos tradicionais (JACINSKI &
FARACO, 2002). Seria um bom começo? Achamos que tem muito a ser mudado
pela frente.
Diante disso, Almeida (2012) nos convida a perguntar sobre o nosso
papel como educadores, nos avaliar, ter atenção as nossas metodologias e nos
propor a educar para a complexidade que existe no mundo atual e a incerteza dos
conhecimentos. Além do mais, como a autora bem fala, ninguém pode fazer isso por
nós, essa tarefa é intransferível. Complementando as palavras de Almeida (2012),
Mosé (2013) nos questiona em seu livro “A Escola e os Desafios Contemporâneos”
sobre o porquê da escola preparar o aluno para o futuro, em vez de ajudá-lo e ser a
vida dele no presente? E por que a escola não é um espaço democrático onde as
crianças possam exercer sua cidadania, ao mesmo tempo em que aprendem a se
respeitar e participar da produção do conhecimento? Ela enfatiza que ao contrário
disso, a escola tem sido um presídio, um lugar onde se fornecem conhecimentos
sem sentido e fragmentados, um desrespeito aos saberes que os alunos já possuem
do seu dia a dia e levam para a escola. Sendo assim, não podem nem participar da
construção do conhecimento. O que causa desestímulo e afastamento cada vez
mais por parte dos estudantes.
Para que os alunos tenham prazer durante os estudos e sintam-se
convidados e estimulados a participar ativamente das aulas, recentes pesquisas
apontam aos professores a realização de práticas que proporcionem a construção
do conhecimento pelos alunos. E sobre a formação docente, ela deve objetivar a
constituição reflexiva, transformadora e crítica do professor frente ao conhecimento
(PIETROBON, 2006). O educador deixará a acomodação e passará a exigir dos
alunos reflexões, comentários, simplificadamente um autodidatismo será cobrado,
ainda que o professor permaneça lado a lado com os discentes. Em certo momento,
é como se não houvesse a sua presença, para que por meio da ausência inexistente
do educador, o educando possa desenvolver seu pensamento crítico.
Tudo isso é, claro, muito novo ainda para nós. É, em verdade, um desafio
que pode significar grandiosamente na mudança dos padrões da educação
brasileira. Para que o professor seja capaz de enfrentar este desafio da educação
numa realidade complexa, ele necessita desenvolver a reflexão profunda sobre sua
prática, avaliar os seus métodos, refletir sobre o seu modo de agir durante anos em
20
uma sala de aula, para que assim busque conhecer o conhecimento elaborado
historicamente e por ele mesmo, no sentido de identificar as suas incompletudes e
incertezas, assim como a responsabilidade sobre o conhecimento produzido
(MARTINELLI & BERTASSONI, 2004).
A educação em si apresenta fatores que talvez impeçam o crescimento e
o avanço do conhecimento. Existem raízes que prendem e solidificam muitos
professores. A estagnação não será jamais um ponto positivo na busca insensata e
na luta pelo saber. Por isso, compreendemos que os professores não caminham em
meio às rosas, e, devido a tudo isso, alguns autores retratam o campo pedagógico
focando seus pontos altos e baixos.
DISCUTINDO O INÍCIO DE UMA REFORMA
“Que fique bem entendido: a reforma deve originar-se dos
próprios professores e não do exterior. Pode ser estimulada por
eles”. (MORIN, 2013, p.37)
Por sugestão de Jack Lang, Ministro da educação na França, foi que
Morin iniciou em um manual para alunos e professores o projeto que deu origem ao
Livro “A Cabeça Bem-Feita” – Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento.
Embora o livro seja voltado à educação da Europa, é possível contextualiza-lo à
nossa realidade.
No livro dividido em nove capítulos e partes que são denominadas de
anexos, Morin sugere desafios, o modelo de cabeça bem-feita e a condição humana;
indica como aprender a viver e ao mesmo tempo enfrentar a incerteza, a obter a
aprendizagem cidadã, também demonstra a reforma nos três graus de ensino,
propõe a reforma do pensamento, fala sobre as contradições e o que existe além
delas. Acerca do modelo de cabeça bem-feita, Martinazzo (2010) afirma que pode
ser denominada de “cabeça culta”, o que realmente faz sentido, porque é apta a
transitar em meio a várias culturas, o modelo visa um cidadão completo e não uma
21
cabeça cheia, que ao mesmo tempo encontra-se vazia. Tanto que muitos estudantes
costumam esquecer o que aprendem com poucas semanas depois.
Com base em todos esses aspectos e também nos sete saberes
propostos por Morin em seu outro livro “Os Sete Saberes Necessários à Educação
do Futuro”, é possível trazermos a nossa realidade brasileira uma discussão sobre a
possibilidade de reforma no ensino, que conduza o humano a muito além do que é,
o torne um cidadão na mais alta complexidade. E também motivar a eliminação de
vários conhecimentos empilhados em uma cabeça bem-cheia, e sim interligá-los,
para que os alunos e a comunidade científica compreendam passo a passo todas as
ciências, os seus limites e as suas ligações. Pois atualmente a transmissão do
conhecimento tem sido simplificadora e mutilante, ao mesmo tempo em que o saber
científico está totalmente fragmentado não comunicante com os saberes do povo, “o
saber tradicional entendido como ‘popular’ tratado como filho bastardo da aventura
do conhecimento e excluído do âmbito da socialização e transmissão oficial”
(ALMEIDA, 2012, p.206) erroneamente tornando esse conhecimento como algo sem
importância e incerto por não ser comprovado cientificamente.
Sobre os desafios podemos nos deparar a todo o momento com muitos. O
saber científico ainda restrito a poucos, enquanto isso, uma expansão descontrolada
de conhecimentos surgindo, se modificando infinitamente, o que faz com que as
descobertas e a ciência nunca parem, aumentando cada vez mais o número de
saberes para serem compreendidos. Os frutos desses novos conhecimentos vão
sendo encaixados nas disciplinas, que desde o princípio nos ensinam a fragmentar,
reduzir e o nosso sistema educacional continua colaborando com esse modelo, e
Em vez de corrigir esses desenvolvimentos, nosso sistema de ensino obedece a eles. Na escola primária nos ensinam a isolar os objetos (de seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; e a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento (MORIN, 2003, p.15).
Devemos refletir sobre a maneira como estamos agindo, simplesmente
contribuindo para a formação de cabeças-cheias, empilhadas e procurar nos
aprimorar e melhorar como seres humanos (KASSAB & SANTANA, 2013). O
professor deve investir na curiosidade dos alunos, isso é natural ao indivíduo e
22
infelizmente a instituição escolar acaba atrofiando. A inteligência geral da
curiosidade para existir e o seu exercício está sempre ligado a dúvida, a partir do
momento em que o indivíduo se questiona, ele organiza todo o seu conhecimento,
que constitui uma interpretação dos fatos, uma tradução e uma resposta que pode
ocorrer de várias maneiras.
É necessário buscar compreender e ensinar o que é a condição humana,
nos ver como indivíduos plurais, culturais e biológicos, químicos, tudo isso ao
mesmo tempo. Entender a nossa complexidade para entender o mundo ao nosso
redor. Fazer com que os alunos se auto questionem. A principal missão do ensino
está ligada muito mais a aprender a religar, do que continuar aprendendo a separar
tudo, como acontece atualmente, sendo necessário aprender a problematizar
(MORIN, 2013) para então solucionar com criatividade e dar rumo ao conhecimento
pertinente.
No capitulo quatro do livro “A Cabeça Bem-Feita” Morin nos diz que
devemos aprender a viver, isso comporta toda uma informação. Resumindo, iniciar a
nossa lucidez, porque nenhum conhecimento dispensa interpretação. E a nossa
lucidez e compreensão nunca devem ser extintas. Para aprendermos a viver, de fato
devemos também aprender a ensinar e a enfrentar a incerteza, para termos sempre
a certeza de que nenhum conhecimento é certo totalmente, ou será o mesmo
sempre. Poderá mudar ou a qualquer momento ser refutado.
Para uma reforma completa de pensamento e instituição deve também
ser ensinada a aprendizagem cidadã, o indivíduo deve se entender como membro e
colaborador do planeta em que vive. Para isso,
A EDUCAÇÃO deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. [...][...]Somos verdadeiramente cidadãos, dissemos, quando nos sentimos solidários e responsáveis. Solidariedade e responsabilidade não podem advir de exortações piegas nem de discursos cívicos, mas de profundo sentimento de filiação (affiliare, de filius, filho), sentimento matripatriótico que deveria ser cultivado de modo concêntrico sobre o país, o continente, o planeta. (MORIN, 2003, p. 65, 74)
Levando em consideração a reforma nos três graus de ensino que Morin
descreve no livro para aquele país, que são eles o primário, o secundário e a
23
universidade. Trazendo essa proposição para a nossa realidade brasileira na
educação básica e o superior, que se aproximam um pouco desse formato,
avaliamos que também é possível reabilitar cada modo de ensino para o seu grau.
Na educação básica principalmente nas séries iniciais, nunca deve ser extinta a
curiosidade de um aluno, ao contrário, estimulá-lo cada dia mais para a reflexão e o
questionamento. Uma parte difícil da reforma, porém não impossível é a interligação
das disciplinas que devem ser feitas nesta fase do ensino, para os alunos iniciarem o
seu aprendizado de forma complexa. Morin na sua realidade cita o modelo:
É interrogando o ser humano que se descobriria sua dupla natureza: biológica e cultural. Por um lado, seria dado início à Biologia; daí uma vez discernido o aspecto físico e químico da organização biológica, seriam situados os domínios da Física e da Química; depois, as ciências físicas conduziriam à inserção do ser humano no cosmo. Por outro lado, seriam descobertas as dimensões psicológicas, sociais, históricas da realidade humana. Assim, desde o princípio, ciências e disciplinas estariam reunidas, ramificadas umas às outras, e o ensino poderia ser o veículo entre os conhecimentos parciais e um conhecimento do global (MORIN, 2003, p.75).
Os homens devem entender e contextualizar a sua cultura. Pois bem, a
cultura é algo diverso, que é capaz de ser ao mesmo tempo o físico, o biológico, o
psicológico, o individual e o coletivo e gira em torno da tríade indivíduo-sociedade-
espécie (ALMEIDA, 2012) sendo produzida e elaborada por meio dos sujeitos que
vivem e formulam os seus saberes. Para isso, também na educação básica, nas
séries finais os alunos deveriam ter aulas baseadas em descobertas de pessoas
comuns, de fatos inusitados, dos saberes do povo, a verdadeira cultura a que
estabelece o diálogo entre cultura das humanidades e cultura científica. A
universidade como campo de pesquisa deve estar mais próxima das pessoas e da
sociedade, abrir as portas para o conhecimento e romper as barreiras que existem
entre as ciências.
Precisamos de fato, reformar o nosso pensamento e no capitulo oito,
Morin rebate a necessidade de “substituir um pensamento que isola e separa por um
pensamento que distingue e une.” Nossas instituições e nossa mente precisam ser
mudadas, necessitamos substituir o pensamento simplório e abstrato pelo complexo,
o “tecido junto”. Morin afirma no último capítulo que existem muitas contradições e
algo além delas. Mas a motivação de um professor pela educação derruba qualquer
24
barreira. Imaginemos ainda inúmeros professores juntos com esse mesmo intuito de
reformar o ensino, de buscar a complexidade, abandonar a fragmentação e os
conceitos soltos para formação de cabeças bem-feitas. Infelizmente os que
conhecem autores como Morin e propostas como a dele, costumam ser uma
minoria, e mesmo alguns conhecedores nem se quer fazem uso de novas
metodologias, mas quem sabe um dia poderemos ser muitos.
Os sete saberes realmente podem ser auxílios no rumo de uma
esplêndida mudança. O primeiro deles é “o erro e a ilusão”, o conhecimento
comporta o erro e a ilusão e se assim não for visto, será concebido de maneira
errada. Bachelard já propunha o desafio de refletir sobre o que pensamos acerca
dos erros no processo de ensino-aprendizagem. Para ele, devem acontecer de
maneira natural e não serem encarados de forma negativa ou o contrário do
conhecimento verdadeiro, pois possuem função indispensável no processo de
aprendizagem (LOPES, 1996). Assim sendo, o papel da educação é mostrar a
possibilidade dos erros, demonstrando que existem e de fato são importantes para a
ciência e para o conhecimento. Acerca desse compromisso entre escola e
comunidade Morin vem nos dizer:
A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. [...] O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos. Daí resultam, sabemos bem, os inúmeros erros de percepção que nos vêm de nosso sentido mais confiável, o da visão. Ao erro de percepção acrescenta-se o erro intelectual. (MORIN, 2005, p.19,20)
Complementando as palavras de Morin, sem a existência dos erros e da
nossa percepção e verificação sobre eles, os conhecimentos e a ciência estariam
presos a paradigmas incertos e sem nenhuma credibilidade.
O segundo é “o conhecimento pertinente”, que deve ser construído. Esse
conhecimento destrói de vez a fragmentação, pois conduz o indivíduo a organização
de suas ideias e desse modo o desenvolvimento da inteligência geral. É importante
salientar quando falamos de conhecimento pertinente, que em nenhum momento
deve ser abandonado o conhecimento prévio do aluno. Ao contrário disso, o
professor deve fazê-lo entender que todos os conhecimentos não são prontos, nem
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tão pouco definitivos e relativizando os conhecimentos existentes, o docente poderá
auxilia-lo a assimilar os novos (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006). Os
conhecimentos precisam ser situados ao todo, a humanidade, ao indivíduo por
inteiro. Nesse sentido, o professor pode estimular o aluno a pensar, a refletir e a
contextualizar toda uma situação, porque dessa maneira, o que ele aprender será
pertinente de verdade, ou seja, possibilitará acima de tudo a construção própria do
indivíduo acerca das suas ideias. Com esse intuito, Morin nos fala:
O conhecimento, ao buscar construir-se com referência ao contexto, ao global e ao complexo, deve mobilizar o que o conhecedor sabe do mundo. [...] A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. (2005, p.39)
O terceiro é “reaprender a nossa condição humana”, a nossa unidualidade
– o humano do humano. E para isso, a educação deve colaborar para que a pessoa
assuma a sua identidade como ser, e vivendo em sociedade aja com solidariedade e
responsabilidade para si mesmo e para os outros (KASSAB & SANTANA, 2013).
Somos seres multifuncionais, biológicos, físicos e culturais. Precisamos nos
compreender, nos conhecer para poder conhecer o mundo do conhecimento. Dessa
forma devemos nos questionar a todo momento, até sobre a nossa condição como
humanos e ter respostas que podem modificar totalmente a nossa posição no
universo.
Para auxiliar o professor a tratar assuntos sobre a condição humana,
podemos nos basear mais uma vez em Bachelard que propõe uma forma diferente
de relacionamento entre professor-aluno, através do diálogo cada um exerce o seu
papel sem estar preso a ele (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006). Mesmo com
funções diferentes, um respeitando o lugar do outro podem trocar ideias e construir
um momento de compartilhamento de saberes. Assim será mais fácil o aluno se
entender como humano em uma sociedade, pois estará ligado ao seu professor e
revendo seus valores.
O quarto saber é “ensinar a nossa identidade terrena”, nos ver como
seres humanos que vivem em um planeta consumindo e utilizando com devaneios. A
observação dessa faceta nos obriga a pensar como parte integrante desse lugar, o
26
objetivo da identidade terrena é criar dentro de nós a sustentabilidade, antes que
muitas respostas da natureza comecem a surgir. Devemos então:
Discutir com os alunos, logo no início da sua formação, as diferentes formas de produzir a existência é fazer ciência, é construir o conhecimento, de modo a torná-los competentes (técnica e socialmente) para intervir na natureza e se relacionar com os outros homens (RIBEIRO, 1993, p.72).
Ao se relacionar com a natureza e os homens diretamente, haverá a
conscientização da necessidade de cuidado em sustentar a harmonia entre ambos.
O quinto saber é “conscientizar-se e pregar a incerteza”. O conhecimento
nunca nos remeterá a plena certeza. Todos os conhecimentos comportam e devem
gerar a dúvida. Pois a certeza torna o homem estagnado, como também as
instituições escolares comprometidas com o fixo. Os alunos são fãs da certeza, das
aulas que já conhecem e do mesmo modo em que o professor age todas às vezes.
Porém,
O princípio da incerteza está integrado à vida e é íntimo dos seres humanos, que o manipulam em razão da sua própria sobrevivência. A construção da certeza proporciona ao homem normalidade, no entanto, trata-se de uma normalidade em termos não absolutos, porque o seu contrário é uma presença acoplada. (SANTOS, 2008, p.78)
O sexto saber é muito importante, é “a compreensão”. Os indivíduos
devem ser compreendidos e agir com sensatez para não se tornarem
incompreensivos iguais as nossas instituições e as disciplinas como estão agora. Ao
passo que os professores compreendam os alunos, até na maneira como fazem
questões e como ensinam, procurando formas que o auxiliem na produção dos seus
conhecimentos e seus saberes (CARVALHO, 1992).
E o sétimo, não menos importante do que os outros é “promover a ética
do gênero humano”. Embora o termo seja complexo, pode ser simplificado ao ato do
humano que respeita os outros e as coisas como a ele próprio. O ensino da ética
humana – antro-poética é algo bom que pode ser pensado para introdução nas
escolas. Morin resume que:
A antropo-ética compreende, assim, a esperança na completude da humanidade, como consciência e cidadania planetária. Compreende,
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por conseguinte, como toda ética, aspiração e vontade, mas também aposta no incerto. Ela é consciência individual além da individualidade. (MORIN, 2005, p. 106)
Podemos refletir com as palavras de Maria da Conceição de Almeida,
escritora de uma bela obra sobre as Ciências da Complexidade e Educação sobre
as nossas instituições e profissionais:
Alargando as reflexões de Albert Einstein, reitero a necessidade de problematizar o papel das instituições educacionais. Elas não são fábricas de trabalhadores. Muito menos uma incubadora de técnicos e cientistas dessubjetivados e imersos no mundo da repetição maquínica, vivido por Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos”. A educação deve ser uma escola da vida, o lugar do aprendizado da condição humana, onde aprendemos as diversas formas de ver e atuar no mundo; o espaço que pode fazer emergir aptidões cognitivas mais imaginativas, mobilizadoras e dialogais; o lugar onde os estudantes se exercitem como sujeitos implicados no mundo, na teia da vida, no conjunto social, na construção mítica, nos desmandos da civilização, na poética da natureza, no destino da espécie, na servidão dos despossuídos das benesses do progresso. A escola pode facilitar uma aprendizagem mestiça, capaz de transformar experiências singulares em configurações mais híbridas, abertas, policompetentes. (ALMEIDA, 2012, p.103)
É compreensível de fato, a possibilidade de reforma, embora um pouco
distante de nós, podemos lutar como um trabalho de formiguinha. Os que estiverem
entusiasmados e se sentirem desafiados, podem ir reformando as suas mentes e
também suas metodologias. A escola cada vez mais deverá ser um lugar acolhedor,
aberto, em que os alunos sintam-se atraídos e motivados. Também lugar de cultura,
atribuir vida à instituição escolar, pois se não houver vida, por conseguinte não
haverá educação, formação e muito menos aprendizagem. A cidade deve ser
parceira da escola, investir em centros, bibliotecas, locais divertidos, ambientes
naturais, cinemas, se não teatros, mas algo parecido. (MOSÉ, 2013) O
comprometimento entre ambas deve existir para integrar, incluir e não punir alunos
com instituições que pararam no tempo.
Enfim, para que o professor ensine com base na perspectiva de
Bachelard e Morin, é fundamental que mesmo estando repleto de contaminação da
visão tradicional, deve, pois se disponibilizar a esse novo padrão, ajudando
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sobretudo os alunos a romperem os obstáculos no aprendizado dos conhecimentos
científicos (CARVALHO FILHO & ERNANE, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O proposto pelo presente artigo é uma discussão sobre uma nova
maneira para conduzir os caminhos da educação no Brasil, sobre uma possível
reforma de instituições e do pensamento, para depois modificar o ensino e a
educação. A análise aqui realizada com base nas ideias desses dois grandes
pensadores sobre a teoria da complexidade oferece o norte para a execução de
novas práticas de educar, a partir da mudança de pensamento. As áreas do
conhecimento precisam buscar a união, a interdisciplinaridade, a
multidisciplinaridade.
Na prática, podemos promover momentos para os alunos entenderem o
que é o conhecimento, compreender a sua trajetória e verificar que como eles muitos
passaram por retificações e dúvidas. Como Nascimento e Carvalho propõe:
Conhecer o passado histórico e a origem do conhecimento pode ser um fator motivante para os estudantes, pode fazer com que os estudantes percebam que a dúvida encontrada por eles para a aprendizagem de um conceito também foi encontrada, em outro momento histórico, por um cientista hoje reconhecido, ou seja, que suas dúvidas estiveram presentes em algum momento na construção de um conceito científico, assim como na sua própria construção. (NASCIMENTO & CARVALHO, 2004, p.06)
Respeitar os alunos, os seus conhecimentos, as suas concepções de vida
e a suas opiniões é outra prática a ser exercitada. Ninguém é um saco vazio, isso é
importante saber. São pessoas normais, talvez com muitos problemas, dotados de
sentimentos. E o aprendizado será melhor apreendido se este critério e a sua
inteligência for respeitada. Sobre o respeito, as palavras de Lopes (1993, p.328)
significam muito: “E para haver esse respeito ao aluno é preciso ser aluno com ele,
participar das dificuldades psicológicas pelas quais ele passa no seu processo de
mudança de cultura. Estabelecer com o aluno a vigilância mútua do saber: aluno-
mestre o mestre-aluno”.
Em contrapartida, no caso das universidades, muito também pode ser
feito para interligar os conhecimentos do senso comum aos científicos e estender as
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várias descobertas para além das paredes das faculdades, para promover uma
associação entre pesquisadores e ouvintes, professores e alunos, cientistas e
comunidade. Assim como sugere Carvalho Filho e Ernane, “O conhecimento
humano é um ato social. Não se pode pensar a produção do conhecimento no
isolamento.” (2006, p.14) O conhecimento deve ser coletivizado, todos devem
participar e entender sobre a sua reformulação.
Pelas palavras de Morin (2003, p. 104) “A reforma de pensamento é uma
necessidade histórica fundamental”. A sugestão dos sete saberes de Morin pode ser
uma grande ajuda para conduzir a reforma do ensino e atuar com a complexidade.
Somos seres complexos por natureza, como demonstrado durante o artigo, somos
capazes de encabeçar uma grande mudança.
Com a adoção destas proposições, em nossas instituições, aos poucos
seriam abolidos os conteúdos fixos e, com uma nova proposta curricular,
poderíamos conectar todos os saberes, possibilitando a assimilação dos alunos e,
mais ainda, despontando na construção de cabeças bem-feitas, ou seja, capazes de
unir os saberes conhecidos e interligar várias ciências distintas. Os sete saberes
realmente têm muito a oferecer para tornar os homens cidadãos completos, que se
conhecem, conhecem o outro, a condição humana, valorizam a natureza e são
pessoas dotadas de ética, o que os faz complexos e completos. Lamentavelmente
ainda são poucos os professores que conhecem obras com as de Morin e
pesquisadores brasileiros que utilizam as de Bachelard (JUSTINA & FERRARI,
2000).
Por fim, não nos coloquemos sempre negativos a essa mudança,
continuemos nós acreditando em um novo modelo, uma nova forma ou fórmula. A
educação precisa do nosso crédito de confiança, a partir da nossa própria mudança
de pensar e agir. Essa reforma depende principalmente de todos nós. Compreender
a teoria da complexidade é entender a necessidade dessa religação e, mesmo que
esta reforma, não seja executada inicialmente de maneira oficial pelo nosso sistema
de ensino, é possível cada um fazer a sua parte e lutar por um “ensino educativo”
exposto por Morin. Tentar ao máximo acabar com a fragmentação do conhecimento,
pregando e buscando a coletividade para reformarmos as nossas instituições.
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Anexo – Normas da Revista Educativa
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