UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC
CNPq e PIBIC UFPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: Novembro/2014 a Julho/2015
( ) PARCIAL
(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho):
Desenvolvimento de um sistema de tratamento de água para comunidades ribeirinhas da
região amazônica utilizando membranas de micro e ultrafiltração com eletrificação autônoma
através de sistemas fotovoltaicos.
Nome do Orientador: Emanuel Negrão Macedo
Titulação do Orientador: Doutor
Departamento: Instituto de Tecnologia
Unidade: Faculdade de Engenharia Química
Laboratório: Laboratório de Bioprocessos
Título do Plano de Trabalho Desenvolvimento de um sistema de membranas acoplado a
uma coluna de adsorção de carvão ativado como parte integrante de um sistema de tratamento
de água voltada às comunidades ribeirinhas amazônidas.
Nome do Bolsista: Emanuele Dutra Valente Duarte
Tipo de Bolsa : ( ) PIBIC/ CNPq
( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador
(X) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/ INTERIOR
( )PIBIC/PARD
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 2
2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 3
3 OBJETIVOS............................................................................................................ 4
3.1 Objetivo Geral.......................................................................................................... 4
3.2 Objetivos Específicos............................................................................................... 4
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 4
4.1 Polarização por concentração e fouling................................................................. 5
5 .MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................. 6
5.1 Materiais................................................................................................................... 6
5.1.1 Equipamento e membrana de microfiltração...................................................... 6
5.1.2 Fonte de alimentação............................................................................................. 7
5.2 Caracterização da membrana................................................................................ 7
5.3 Tratamento da água por membranas.................................................................... 8
5.4 Parâmetros de projeto............................................................................................. 8
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................... 9
6.1 Caracterização da membrana................................................................................ 9
6.2 Tratamento da água por membranas.................................................................... 10
6.3 Parâmetros de projeto............................................................................................. 12
7 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 13
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 14
2
1 INTRODUÇÃO
Água é um bem de consumo básico e vital para a sobrevivência de qualquer espécie.
Em relação à água potável, são cada vez mais escassas suas fontes naturais, sendo a bacia
hidrográfica do Rio Amazonas uma das maiores fontes de água nesse quesito. No entanto, ao
contrário do que se estima, a água retirada diretamente dos rios não é própria ao consumo,
apresentando desde material macroscópico de fácil filtragem (pedaços de pau, folhas, lama)
até microorganismos relacionados a doenças de veiculação hídrica (cólera, giardíase,
disenteria amebiana), levando à necessidade de tratamento da fonte.
A população ribeirinha residente no entorno dos rios são os que mais sentem a falta de
água potável. Devido sua moradia ser em locais de difícil acesso, não há fornecimento de
energia ou água encanada para essas comunidades, nem mesmo por iniciativa privada, que
consideramaltos os custos de distribuição de energia, aliados muitas vezes ao baixo consumo
por ligação em comunidades isoladas, pouco atraentes (FEDRIZZI,1997).
Diversos são os projetos que buscam dar um auxílio a tais comunidades e, de modo
barato e eficiente, implementar sistemas de tratamento de água. Segundo Veloso (2012),
unidades de tratamento de água da chuva foram construídas em algumas ilhas, como a
Ilha Grande e a Ilha Murucutu, no entanto não há dados sobre unidades de tratamento de água
do rio nas comunidades que ficam no entorno da região metropolitana de Belém.
O processo de tratamento proposto ocorre por microfiltração da água utilizando um
sistema de membranas. Os processos de separação por membranas já são reconhecidos pela
indústria como atrativos para o tratamento de água, por serem compactos e de fácil controle e
por apresentarem alta capacidade de remoção de turbide e matéria orgânica.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como foco principal desenvolver um
sistema de membranas em escala de bancada para tratar água do rio por microfiltração, de
modo a torná-la própria para o consumo. Acredita-se que a adição de uma coluna de adsorção
por carvão ativado seja necessária para pré-tratamento da água bruta.
3
2 JUSTIFICATIVA
A necessidade de água potável para as comunidades ribeirinhas da bacia do Rio
Amazonas, muitas das quais não usufruem de energia elétrica, levanta consigo a demanda por
um tratamento de água eficaz e simples, de modo que possa ser instalado nas ilhas a fim de
abastecer a população.
Os projetos que vêm sendo desenvolvidos nesta área normalmente focam no
aproveitamento de água das chuvas, devido às altas taxas pluviométricas características da
região da bacia do Amazonas, no entanto poucos consideram a utilização de água dos próprios
rios.
O tratamento de água abrange resumidamente as etapas de captação, clarificação e
desinfecção. Para este projeto buscou-se alternativas para cada estágio do tratamento, sendo
assim a captação ocorrerá por bombeamento abastecido por energia solar; a clarificação e
retirada de microorganismos será feita por separação por membranas; e a desinfecção, com
retirada dos odores, ocorrerá através da adição de uma coluna de carvão ativado feita a partir
de caroços de açaí, o qual é material residual da produção de polpa de açaí.
Para realizar a separação por membranas para tratamento de água normalmente é
recomendado processos de micro e ultrafiltração, devido o custo ser menor em relação aos
demais processos que utilizam membranas e devido realizarem uma remoção efetiva de
sólidos suspensos e microorganismos. (TEIXEIRA, 2001).
Espera-se que o protótipo final tenha capacidade de deixar a água própria para o
consumo, seguindo a resolução CONAMA nº 357/2005 e a portaria nº 2914/2011 do
Ministério da Saúde.
4
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Desenvolvimento de um protótipo experimental em escala de bancada equipado com
um sistema de membranas do tipo fibras ocas de microfiltração.
3.2 Objetivos Específicos
Desenvolvimento de um sistema de membranas para microfiltração;
Caracterização físico-química do efluente bruto e tratado, a fim de avaliar a eficiência
do processo de filtração quanto à qualidade da água tratada;
Determinação de parâmetros de processo como permeabilidade hidráulica da
membrana, polarização de concentração, biofouling, bem como suas influências no
fluxo de permeado e desgaste da membrana, consequentemente na eficiência do
processo.
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Um sistema de membrana consiste numa barreira entre fases, semelhante à membrana
de células. O transporte por membranas pode ocorrer por diferença de potencial químico ou
elétrico, sendo que a força motriz do processo pode ser um gradiente de pressão, de
concentração ou de potencial elétrico. No caso das membranas que têm por força motriz um
gradiente de pressão englobam-se as membranas de microfiltração, ultrafiltração,
nanofiltração e osmose reversa. A diferença entre cada um desses tipos de filtração por
membranas ocorre no tamanho do poro utilizado, sendo que quanto menor o poro da
membrana mais seletiva é a filtração. A Figura 1 apresenta a região de filtração de cada tipo
de processo assim como partículas que apresentam o tamanho respectivo.
Figura 1 – Filtração por membranas de gradiente de pressão e partículas de tamanho respectivo
FONTE: Baker, 2004.
5
4.1 Polarização por concentração e fouling
Em transportes de caráter seletivo, é comum a existência do fenômeno de polarização
por concentração. Este fenômeno decorre do acúmulo de soluto próximo à superfície da
membrana, de modo a influenciar o transporte difusivo deste material de volta à solução,
sendo esta ação conhecida como polarização por concentração. Como resultado, ocorre uma
queda no fluxo de permeado devido à resistência adicional à transferência de massa do
solvente através da membrana. É um processo reversível que termina ao parar o
funcionamento do sistema. A Figura 2 apresenta a formação da camada polarizada.
Figura 2 – Esquema de formação da camada polarizada
FONTE: GHIGGI, 2011.
O fouling ocorre pelo acúmulo de sólidos na superfície ou na matriz da membrana,
diminuindo a sua permeabilidade e o fluxo de permeado. Seus efeitos permanecem após
finalizar o procedimento, porém pode ser reversível ou irreversível. Se o fouling continuar
após a lavagem química da membrana ele é dito irreversível.
Figura 3 – Representação esquemática do fouling
FONTE: GHIGGI, 2011.
Marshall e Daufin (1995) indicaram que, em operações de separação por membranas
que operam a gradiente de pressão, o declínio do fluxo de permeado com o tempo em um
processo realizado a pressão transmembrana constante ocorre devido o efeito de três
fenômenos: polarização por concentração, formação da camada de fouling e consolidação
6
desta. A Figura 4 mostra a relação entre o fluxo de permeado e o tempo, apresentando os
fenômenos que ocorrem durante o processo.
Figura 4 – Fluxo de permeado versus tempo e seus fenômenos
FONTE: Marshall e Dufin (1995). (1) Solvente puro; (2) Solução; (3) Polarização por concentração; (4) fouling.
No início ocorre um rápido declínio devido à polarização por concentração, seguido
por um declive mais leve decorrente do fouling e por fim um declínio bem lento do fluxo
devido à consolidação do fouling.
5 MATERIAIS E MÉTODOS
Os experimentos ocorrem dentro do Laboratório de Bioprocessos, de modo que as
características das membranas que serão utilizadas possam ser dimensionadas, tais quais
permeabilidade hidráulica da membrana, polarização de concentração, biofouling, bem como
suas influências no fluxo de permeado e desgaste da membrana.
5.1 Materiais
5.1.1 Equipamento e membrana de microfiltração
O equipamento para os experimentos de bancada utilizado é o Sistema de bancada
para Microfiltração/Ultrafiltração/Nanofiltração da marca PAM Membranas Ltda. O módulo
de membranas utilizado é o modelo 0025 de microfiltração, também fornecido pela PAM
Membranas Ltda. Este módulo é construído em PVC soldável e possui membranas do tipo
fibra ocas feitas de poli(imida). O diâmetro externo do módulo é de 20mm e o comprimento
útil de 270mm. A área de permeação do módulo 0025 é de 0,015m² com densidade de
empacotamento de 300m²/m³. Os valores máximos de operação são de pressão de 4,0bar e
temperatura de 50,0ºC. O pH de operação é de 2,0 a 13,0. A Figura 5 apresenta o módulo e o
sistema de bancada utilizados.
7
Figura 5 – Sistema de bancada e módulo de membrana utilizados
5.1.2 Fonte de alimentação
A água utilizada para ser tratada pelo sistema de membranas foi coletada do Rio
Guamá, às margens da UFPA, em ponto posterior à foz do Igarapé do Tucunduba. As análises
das propriedades físico-químicas da água bruta e tratada foram realizadas no Laboratório
Multiusuário de Tratamento de Água e Esgoto (LAMAG), localizado na UFPA.
5.2 Caracterização da membrana
O módulo de membrana de microfiltração utilizado foi fabricado em 2009 e utilizado
em experimentos anteriores, desta forma é esperado que haja um desgaste no valor de
permeabilidade hidráulica em relação ao valor original.
A permeabilidade depende não só das características da membrana, como material e
morfologia, mas também da solução e da temperatura de operação. Quando o fluido é a água,
LP é chamada de permeabilidade hidráulica. A medida da permeabilidade hidráulica serve
para caracterizar a membrana, além de indicar o grau de integridade da mesma (Mulder,
1996). Para determinar a permeabilidade hidráulica do módulo 0025 foram realizados testes
com água destilada, variando a pressão entre 0,5 e 2,5 bar, mantendo a temperatura da solução
a 30ºC.
Quando a membrana é submetida à pressão, ocorre um decréscimo do fluxo de
permeado devido à compactação da microestrutura da membrana. Para evitar que esse fator de
compactação influencie nos resultados, foram realizados testes de compactação no módulo
0025 utilizando água destilada a uma pressão de 2,5 bar e temperatura de 30ºC, e calculado o
fator de redução para a membrana, segundo a equação [1].
8
𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑑𝑢çã𝑜(%) = (1 −𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙
𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙) ∗ 100 [1]
5.3 Tratamento da água por membranas
Foram analisados duas opções de tratamento de água do rio utilizando a membrana de
microfiltração: uma é a opção de se tratar a água do rio utilizando somente a membrana e
outra é passar a água do rio primeiramente por uma coluna de adsorção de carvão ativado
obtido a partir de caroços de açaí e posteriormente passar a água pós-adsorção na membrana.
Utilizando a água coletada do rio foram feitas análises físico-químicas da água bruta
(antes de passar pelo sistema de membranas), da água filtrada pela membrana e da água
filtrada pelo sistema carvão+membrana. Foram também realizados testes de fluxo de
permeado versus o tempo para analisar a influência de fenômenos como polarização por
concentração e fouling. Os testes de fluxo de permeado foram conduzidos durante três horas,
com uma coleta de ponto a cada dez minutos.
5.4 Parâmetros de projeto
O projeto seguirá para uma escala piloto e, para tanto, é necessário determinar a
quantidade de membranas necessária, assim como a pressão de entrada para a mesma.
O volume de água que se deseja filtrar por dia é de no mínimo 1m³, por um tempo
mínimo de 4 horas, sendo este o tempo em que se estima captação máxima dos raios solares
pelos painéis fotovoltaicos. A equação [2] pode então ser utilizada para calcular a área de
membrana necessária.
𝐽 =𝑉
𝐴 ∗ ∆𝑡 [2]
Sendo: J: fluxo de permeado; V: volume de permeado;
A: área de membrana; Δt: tempo de filtração.
A pressão transmembrana é calculada pela equação [3]. Sabendo o valor da pressão
transmembrana, é possível determinar o valor da pressão de entrada no módulo. Neste caso, o
módulo utilizado tem 270mm, portanto a diferença de pressão de entrada (Pi) e a pressão de
saída (Po) é mínima, ou seja, pode-se considerar Pi ≈ Po. O valor da pressão de permeado
normalmente é o valor da pressão atmosférica, Pp = Patm = 1,01325bar.
∆𝑃 =(𝑃𝑖 + 𝑃𝑜)
2− 𝑃𝑝 [3]
Sendo: ΔP: fluxo de permeado; Pi: pressão de entrada no módulo;
Po: pressão de saída no módulo; Pp: pressão do permeado;
9
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
6.1 Caracterização da membrana
O valor da permeabilidade hidráulica da membrana pode ser calculado pelo coeficiente
angular da reta da curva fluxo de permeado versus pressão transmembrana, apresentado na
Figura 6.
Figura 6 – Permeabilidade hidráulica do módulo 0025
Assim, o valor de permeabilidade hidráulica do módulo é de 27,73 L.m-2
.h-1
.bar-1
.
Prosseguiu-se com o teste de compactação da membrana, apresentado na Figura 7.
Figura 7 – Análise de compactação da membrana
Percebe-se que a 1,0 bar não há compactação da membrana, no entanto esse
comportamento é evidente quando a membrana é exposta a uma pressão mais elevada. Após
130min de compactação, o fluxo de permeado a 2,5bar apresentou um valor aproximadamente
constante de 85,464 L.m-2
.h-1
e o fator de redução foi de 35,92%.
y = 27,732x + 12,662
R² = 0,9685
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
Flu
xo
de
per
mea
do
[L
.m-2
.h-1
]
Pressão transmembrana [bar]
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 20 40 60 80 100 120 140
Flu
xo
de
per
mea
do
[L
.m-2
.h-1
]
Tempo [min]
2,5 bar
1,0 bar
10
6.2 Tratamento da água por membranas
Acompanhou-se o fluxo de permeado a 1,0bar de água destilada, de água do rio e de
água após passar por tratamento com carvão ativado. As curvas resultantes estão apresentadas
na Figura 8.
Figura 8 – Curvas de fluxo de permeado para água destilada, água do rio e água pós carvão
Analisando as curvas da Figura 4, o tempo de polarização por concentração da água do
rio foi de 100min, com uma redução de 29% do fluxo de permeado; já o tempo de polarização
por concentração da água pós carvão foi de 40min, com uma redução de 17% do fluxo de
permeado. Ao final de 180min de análise, tanto a água do rio quanto a água pós carvão
apresentaram valores de fluxo de permeado muito próximos, com valores no intervalo de 24,5
a 27 L.m-2
.h-1
.
As características físico-químicas da água analisadas foram condutividade, pH, cor
aparente, turbidez, demanda química de oxigênio (DQO), dureza total e sólidos totais. Os
valores para água bruta, água da membrana e água do sistema carvão+membrana estão
dispostos na Tabela 1.
Tabela 1 – Propriedades físico-químicas da água bruta e tratada
Propriedade Água bruta Água da membrana Água do sistema carvão +membrana
Condutividade (µS/cm) 63,1 68,8 162,7
pH 6,69 8,13 7,51
Cor aparente (mg Pt/L) 168,2 11,1 3,2
Turbidez (UNT) 131 2,12 0,75
DQO (mg O2/L) 17 0 <LMD*
Dureza Total (mg CaCO3/L) 6,44 3,33 1,43
Sólidos Totais (mg/L) 281 40 0
*LMD: Limite Mínimo Detectável
0
10
20
30
40
50
60
0 40 80 120 160 200
Flu
xo
de
per
mea
do
[L
.m-2
.h-1
]
Tempo [min]
Água do rio
Água destilada
Água pós carvão
11
Segundo a resolução CONAMA nº 357/2005, a água do Rio Guamá pode ser
considerada da classe 3, ou seja, águas que podem ser destinadas ao consumo humano após
tratamento convencional ou avançado. Os valores recomendados pelas resoluções CONAMA
nº 357/2005 e a portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde são apresentados na Tabela 2.
Também na Tabela 2 estão presentes os valores da água tratada pela Companhia de
Saneamento do Pará (COSANPA) no município de Augusto Corrêa, cidade de Urumajó,
segundo dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 1998).
Tabela 2 – Padrões da água classe 3 e da água tratada pela COSANPA
Propriedade Água classe 3 Água tratada pela COSANPA
Condutividade (µS/cm) 100 162,05
pH 6 - 9 5
Cor aparente (mg Pt/L) 15 <5
Turbidez (UNT) 5 1
DQO (mg O2/L) 5 10
Dureza Total (mg CaCO3/L) 500 22,6
Sólidos Totais (mg/L) 1000 123
A principal vantagem da utilização da coluna de adsorção por carvão ativado
anteriormente ao sistema de filtração por membrana é o fato de que boa parte dos sólidos
totais ficam retidos na coluna, assim ao chegar à membrana há uma redução da quantidade de
sólidos a serem filtrados. Esse pré-tratamento fornecido pela coluna de adsorção se mostra
interessante tanto pela redução na formação da camada de polarização por concentração,
apresentada na Figura 4, quanto pela análise da qualidade da água. Neste caso, a membrana
sozinha garante aproximadamente 86% da remoção de sólidos totais da água bruta, enquanto
que a utilização do sistema carvão+membrana removeu 100% dos sólidos presentes. De modo
semelhante, a utilização do sistema carvão+membrana melhorou os valores de cor aparente,
turbidez e dureza total da água tratada.
No caso dos valores de pH, o tratamento com membrana tornou a água permeada
levemente alcalina, com valor de pH igual a 8,13; a utilização do sistema carvão+membrana
uma vez mais se mostra interessante por reduzir este valor para um pH de 7,51, quase neutro.
Um valor a ser analisado com mais cautela é o de condutividade. O valor de condutividade
recomendado para águas potáveis é de 100 µS/cm, valor de acordo após o tratamento com
membrana, mas que foi excedido no tratamento de carvão+membrana.
Em comparação com a água tratada pela COSANPA, percebe-se que a utilização do
sistema carvão+água apresentou valores menores das propriedades físico-químicas analisadas,
mostrando a eficácia do tratamento em relação aos métodos convencionais. O valor da
12
condutividade da água tratada pela COSANPA é, ainda, o mesmo valor retornado pelo
sistema carvão+membrana.
A Figura 9 apresenta a água bruta e após tratamento.
Figura 9 – Água bruta e após tratamentos
a) b) a) Da esquerda para direita: água bruta, água microfiltrada pela membrana;
b) Da esquerda para direita: água bruta, água tratada pela coluna de carvão ativado, água microfiltrada pela
membrana no sistema carvão+água.
6.3 Parâmetros de projeto
O valor de fluxo de permeado da água pós-carvão e da água bruta estão no intervalo de
24,5 a 27 L.m-2
.h-1
. Sendo 1m³ a quantidade de água que deseja-se tratar no sistema de
membranas durante um tempo de 4h e utilizando o valor mínimo de fluxo de permeado, pode-
se determinar a área mínima de membrana necessária pela equação [2] (sessão 4.4).
𝐽 =𝑉
𝐴 ∗ ∆𝑡 → 𝐽 =
𝑉
𝐴 ∗ ∆𝑡 → 24,5 =
1000
𝐴 ∗ 4 ∴ 𝐴 = 10,2041𝑚²
O valor da pressão transmembrana pretendido é de 1,0bar, assim pode-se calcular a
pressão de entrada do módulo pela equação [3] (sessão 4.4).
∆𝑃 =(𝑃𝑖 + 𝑃𝑜)
2− 𝑃𝑝 → 1,0 =
(𝑃𝑖 + 𝑃𝑜)
2− 1,01325 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑖𝑑𝑒𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑃𝑖 ≈ 𝑃𝑜
1,0 =2𝑃𝑖
2− 1,01325 ∴ 𝑃𝑖 = 2,01325 ≈ 2,0𝑏𝑎𝑟
13
7 CONCLUSÃO
A análise do fluxo do permeado utilizando a membrana de microfiltração mostrou que
o permeado apresenta um decaimento na curva, o que ocorre devido aos fenômenos de
polarização por concentração e fouling que ocorrem na membrana. O mesmo ocorreu quando
se utilizou a água pós tratamento com carvão ativado, no entanto o decaimento da curva foi
menos acentuado, o que mostra uma menor formação da camada de polarização por
concentração. Isto decorre do fato de que parte dos sólidos presente na água bruta já foram
retidos na coluna de adsorção, levando o sistema carvão+membrana a reduzir a concentração
de sólidos totais na água tratada para zero.
A utilização do sistema carvão+membrana se mostrou vantajoso quando analisadas as
propriedades físico-químicas da água, sendo que a maioria encontra-se de acordo com os
padrões de potabilidade sugeridos pelas resoluções CONAMA nº 357/2005 e a portaria nº
2914/2011 do Ministério da Saúde, à exceção do valor de condutividade da água que se
tornou elevado após o tratamento. O sistema de tratamento sugerido de carvão+membrana
retornou ainda valores menores do que os da água tratada pela COSANPA, de modo que o
sistema proposto comprova ser tão eficaz quanto os métodos tradicionais de tratamento de
água utilizados.
Os valores de fluxo de permeado para quando se utiliza só a membrana no tratamento
da água e para quando se utiliza o sistema carvão+membrana mostraram-se bem próximos
após 180min de análise, com valores no intervalo de 24,5 a 27 L.m-2
.h-1
. Utilizando o valor
mínimo de fluxo de permeado, pôde-se calcular a quantidade mínima de área de membrana
necessária para a escala piloto. Assim, para a escala piloto do projeto, necessita-se de um
módulo de membrana com área de permeação mínima de 10m² para tratar 1m³ de água bruta
ou de água pós-tratamento com carvão ativado, considerando um tempo de tratamento na
membrana de 4h. Além disso, calculou-se o valor da pressão de entrada do módulo, a qual
deve ser de aproximadamente 2,0bar para uma pressão transmembrana desejada de 1,0bar.
Para a continuação do projeto recomenda-se manter a coluna de adsorção por carvão
ativado como etapa anterior ao tratamento com membrana, uma vez que este modelo se
mostrou vantajoso não só para redução do desgaste da membrana como também melhorou as
propriedades da água tratada resultante em comparação à utilização somente da membrana.
14
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKER, R. W. Membrane Technology and Applications. 2ª edição. John Wiley & Sons,
2004.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS (CPRM). Diagnóstico dos
recursos hídricos da cidade de Urumajó – Município de Augusto Corrêa. Belém, 1998.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução nº 357/2005 –
dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamentos de
efluentes, e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acessado em 09 de agosto
de 2015.
FEDRIZZI, M.C. Fornecimento de Água com Sistemas de Bombeamento Fotovoltaicos:
Dimensionamento Simplificado e Análise de Competitividade para Sistemas de Pequeno
Porte. Dissertação de Mestrado Apresentada no Programa Interunidades de Pós-Graduação
em Energia da Universidade de São Paulo, dezembro 1997.
GHIGGI, F. Tratamento de águas para consumo doméstico com membranas de
ultrafiltração. Porto Alegre, 2011.
MARSHALL, A.; DAUFIN, G. Physico-chemical aspectos of membrane fouling by dairy
fluids. IDF Special, In: Fouling and cleaning in pressure driven membrane processes.
International Dary Federation. Belgium, 1995.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 2.914/2011 – Dispõe sobre os procedimentos de
controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acessado
em 10 de fevereiro de 2015 às 23:52.
TEIXEIRA, M. M. C. G. R. Ultrafiltração no tratamento de águas para consumo
humano. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade Nova
de Lisboa, 2001.
VELOSO, N. S. L. Água da chuva e desenvolvimento local; o caso do abastecimento das
ilhas de Belém. Belém, 2012. Dissertação (Mestrado em gestão de Recursos Naturais e
Desenvolvimento Local da Amazônia), Núcleo de Meio Ambiente, Universidade Federal do
Pará, 2012.
15
PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das
atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação, se for o caso.
Tendo em vista que o projeto de pesquisa está vinculado ao edital 09/2014 – PE-
INTERDISCIPLINAS/PROPESP, manifesto parecer favorável a manutenção da bolsa até o
prazo final de vigência da bolsa, uma vez que a discente apresentou bom rendimento na
execução das atividades previstas no plano de trabalho.
DATA: Belém, PA, 10 / 08 /2015.
___________________________________________
ASSINATURA DO ALUNO
_________________________________________
ASSINATURA DO ORIENTADOR